Assessoria ao MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

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Data

2001

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Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Esta iniciativa é um projeto amplo que abrange pesquisa, extensão e ensino, iniciado em 1984, quando comecei meus trabalhos a respeito da questão agrária. Desde o princípio, procurei dimensionar as pesquisas de modo a oferecer à Universidade e à população estudada, diferentes resultados da produção científica. Nesses quinze anos de trabalho, o projeto encontra-se em processo de construção. Isso porque acompanhamos um movimento social que vem se territorializando por todo o País. Trabalhamos com uma população em trânsito e em transição. Por essa razão, os desdobramentos desses movimentos no espaço e no tempo levam à gênese de novas necessidades e questões, que implicam em pesquisa para compreendermos e emergência das ações, bem como implica em atuação, para contribuirmos com conhecimentos, no sentido de agilizar o desenvolvimento dos processos construídos pelos Sem-Terra. Os principais trabalhos que desenvolvemos estão nas áreas de formação e educação. Os Sem-Terra constituem hoje um dos mais importantes movimentos sociais que lutam pela terra com o objetivo de transformar suas realidades, superando o estado de exclusão em que se encontram. Nesse sentido, constroem novos espaços políticos e conquistam frações do território, onde estabelecem comunidades. Esse processo causa transformações e impactos de diferentes extensões, desde a constituição de um ou mais assentamento rural com dezenas, centenas ou milhares de famílias, onde antes havia um latifúndio, até as mudanças socioeconômicas no município e ou na microrregião. Esse movimento exige planejamento dos setores da vida social. Implica em construção de infra-estrutura, que envolve desde o governo federal até o municipal. Nesse contexto, nós atuamos como cientistas desenvolvendo a pesquisa, a extensão e o ensino. A pesquisa é permanente pelo fato da dinâmica da realidade. É preciso pensar constantemente as novas experiências construídas pelas famílias Sem-Terra. Desde uma nova proposta curricular para as suas escolas até as distintas formas de organização do trabalho e de cooperação na agropecuária ou atividades não agrícolas. Atuamos no sentido de registrar esse processo por meio de diferentes publicações. Produzimos livros didáticos, livros acadêmicos, livretos em linguagem popular, revistas, vídeos, fotografias e mapas. Em 1997, criamos o NERA - Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária, que funciona no Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Temos duas linhas de pesquisa: Formação e Territorialização do MST e Desenvolvimento Rural, em que são desenvolvidos atualmente sete projetos. Nas pesquisas trabalhamos em equipe formada por professores, alunos da graduação e pós-graduação. No NERA funciona o DATALUTA - Banco de Dados da Luta pela Terra. Está sendo implementado em um projeto piloto na região do Pontal do Paranapanema. Nosso objetivo é implantá-lo em todo o Brasil, em conexão com as Secretarias Estaduais do MST. Os dados trabalhados são referentes as ocupações de terra, implantação de assentamentos e diversos outros temas voltados para a questão da reforma agrária. A extensão é constante porque nossa relação com o MST é de parceria. Desse modo, organizamos conjuntamente encontros, cursos, palestras, publicações, que são oferecidas para diversas comunidades e setores do MST em todo o território nacional. Contribuímos com a formação de professores, de técnicos e lideranças que atuam diretamente na organização dos acampamentos, assentamentos, secretarias, escolas e cooperativas. Essas atividades possibilitam a socialização dos conhecimentos produzidos pelas pesquisas, bem como uma melhor compreensão das realidades em que vivem. Os dados, os textos, as análises, são utilizados para a leitura , transformação e conseqüente desenvolvimento dos espaços conquistados. A atividade ensino é desenvolvida por meio da extensão e, principalmente, em nosso trabalho em sala de aula na Universidade. Desse modo, como atuamos em uma das dimensões dos problemas do campo e da cidade, ao ministramos disciplinas referentes a essas questões, temos a oportunidade de levarmos para a sala de aula as reflexões mais recentes que estamos fazendo. Essas experiências interagem pesquisa, extensão e ensino, bem como aproxima a Unesp do MST e vice-versa, possibilitando a parceria. Recentemente, viabilizamos um convênio para a criação do Centro de Documentação do MST, que funcionará no CEDEM - Centro de Documentação e Memória da Unesp, na praça da Sé, em São Paulo. Com o convênio, pretendemos, ampliar nossas parcerias. A ampliação do DATALUTA proporcionará a publicação em co-edição dos dados, em benefício de pesquisadores das diversas áreas do conhecimento. Há interesse do MST e da Unesp de constituirmos um curso de Pedagogia no município de Rosana, que atenderia professores de escolas rurais de estados das regiões Sul, Sudeste e Centro - Oeste. Estamos articulando um grupo de pesquisadores do MST e de diversas universidades brasileiras interessados em construir um novo paradigma para compreendermos as transformações recentes do campo, bem como as necessárias que precisam ocorrer para o desenvolvimento do campesinato no Brasil. Em nossas experiências temos trabalhado em várias áreas de atuação do MST. Enquanto o Movimento nos oferece algumas das condições necessárias para nossas pesquisas, como por exemplo, confiando-nos seus arquivos e oferecendo hospedagem, nós nos comprometemos com a elaboração de um livro sobre a História do MST, desde sua gênese até hoje. Com a produção de diferentes materiais, resultantes dessas pesquisas, elaboramos cursos para o membros mais jovens do MST, organizamos artigos que são publicados em livros, no Brasil e no exterior, participamos de encontros e congressos científicos divulgando os nossos trabalhos. Junto ao Setor de Educação do MST, realizamos um censo a respeito da situação educacional das famílias assentadas e acampadas. A pesquisa primária foi feita pelos professores e membros do Setor. Na Unesp, trabalhamos desde a elaboração do projeto até a sistematização e publicação dos dados. Oferecemos disciplinas para os cursos de magistério e técnico agrícola da Escola Josué de Castro que funciona no Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária, em Veranópolis - RS. Elaboramos o mapa Geografia dos Assentamentos de Reforma Agrária do Brasil e temos colaborado com o Jornal e a Revista Sem-Terra. O MST tornou-se uma organização social complexa, que administra desde estabelecimentos agropecuários, cooperativas, escolas, institutos e diferentes eventos sociais e políticos, de modo que nossos trabalhos podem ser realizados em uma comunidade assentada, com uma coordenação regional ou estadual, com coordenação de setores, ou ainda com a Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil - CONCRAB. São diferentes projetos, que são desenvolvidos de acordo com nossas potencialidades. Todo esse trabalho foi construído numa profícua relação entre a Unesp e o MST. Alguns jovens assentados chegaram à universidade e tornaram-se pesquisadores. Muitos de nossos alunos desenvolveram projetos de graduação e pós-graduação, estudando as realidades construídas pelas famílias Sem-Terra. A construção dessa relação resulta de nossa compreensão do significado de pesquisa, extensão e ensino. Concebidas como atividades interativas e voltadas para a formação intelectual e política, bem como para o desenvolvimento social e econômico. Todavia, há um conjunto de dificuldades que enfrentamos. Desde as distâncias e falta de recursos até os limites e escassez de materiais. Isso implica em superar desafios. O primeiro é aumentar o número de bolsas de iniciação científica para que possamos atender as demandas, tanto dos alunos que nos procuram para se iniciarem na vida científica, quanto dos diversos problemas que precisamos estudar e não estamos contemplando. O segundo é a ampliação do espaço e do número de pessoas envolvidas nessas iniciativas, bem como das linhas de financiamento de projetos. Desse ponto de vista, pretendemos formar profissionais que reconheçam a importância da atuação orgânica dos intelectuais junto aos movimentos sociais. Como cientistas sociais, que em suas pesquisas contribuam com o desenvolvimento sóciopolítico e econômico de determinado grupo social, em especial com os camponeses brasileiros que lutam há cinco séculos para entrar na terra. Os resultados alcançados com essa iniciativa trazem benefícios à sociedade por meio da superação, em parte, de questões sociais, onde as famílias Sem-Terra são ressocializadas e promovem o desenvolvimento local, bem como à Universidade que simultaneamente desenvolve pesquisa e extensão, contribuindo para a compreensão da questão agrária e aplica esse conhecimento tanto para a melhoria da qualidade de vida da comunidade estudada, quanto na divulgação da ciência e do papel da Universidade em uma sociedade tão desigual.

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