Treino de habilidades sociais através do movimento e da dança

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Data

2001

Autores

Calais, Sandra Leal [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Este trabalho teve por objetivo treinar habilidades sociais em crianças oriundas da periferia da cidade de Bauru-SP através do movimento e da dança, além de canalizar a energia corporal para atividades físicas aperfeiçoando a coordenação motora e a percepção do corpo. Foi realizado durante doze meses, de abril de 1997 a agosto de 1998 (considerando as férias letivas), em uma instituição beneficente destinada a crianças daquela comunidade. Esta instituição funciona em regime de semi-internato para onde as crianças se encaminham no período da manhã, tomam café; participam de reforço escolar com uma professora contratada pela instituição; realizam atividades diversificadas com voluntários como artesanato, espanhol, computação e orientação sexual; tomam banho; almoçam; e são levadas à escola por um ônibus especial, retornando a suas casas ao final do período escolar. A instituição agrega cinqüenta crianças na faixa etária de quatro a quatorze anos, de ambos os sexos, com prevalência masculina. A condição para que as crianças freqüentem a casa é estarem matriculadas na escola ou pré-escola. As crianças que freqüentam esta instituição vivem em ambientes carentes de oportunidades que estimulem e possibilitem seu desenvolvimento do ponto de vista psico-sócio-motor, apresentam dificuldades de percepção corporal e coordenação motora em diferentes níveis, podendo se estender para o âmbito da habilidade social, apresentando comportamentos de agressividade, falhas na comunicação, dificuldades em acatar limites e regras (desobediência) e problemas em relações interpessoais. O projeto foi oferecido a todas as crianças participantes da instituição sendo que trinta crianças na faixa de cinco a doze anos, sendo vinte do sexo feminino e dez do sexo masculino escolheram participar. Foram divididas em duas turmas por sexo, tendo uma hora de atividade semanal ministradas por uma estagiária do terceiro ano (ano que freqüentava ao finalizar o trabalho) integral do curso de Psicologia da Unesp-Bauru. As atividades eram desenvolvidas em uma sala de aproximadamente 10 x 4 metros, com o chão revestido de ladrilho e três pequenos vitrôs que permitiam uma restrita ventilação. A roupa que as crianças usavam nas aulas e apresentações foram doadas pela comunidade, o som, comprado pela instituição beneficente e as fitas e Cds utilizados, eram emprestados pela própria estagiária. Os primeiros contatos com as crianças para o estabelecimento de vínculo foi feito partindo-se do repertório musical deste ("dança da bundinha", entre outras), indo aos poucos para repertórios musicais menos sensuais e vulgares, com músicas mais lentas e relaxantes, até chegar à música clássica. Neste momento também foram criadas conjuntamente as regras para o andamento das aulas como horários, atribuições e roupas que deveriam ser usadas durante as atividades. Visando os objetivos do projeto e o cuidado com as questões físicas, as aulas seguiam uma seqüência, compreendida enquanto mais apropriada para a idade das crianças como: alongamento, aquecimento, exercícios em posições básicas de balé e ginástica de solo, danças típicas como capoeira, quadrilha, samba e relaxamento. Concomitantemente, eram dadas regras de convivência (comportamentos pró-sociais) como esperar a vez, seguir a ordem, ouvir quando o outro fala, falar quando solicitado, organizar o ambiente antes e após a atividade. Foi combinado com as crianças que após três faltas sem justificativa perderiam a oportunidade da atividade. No entanto, essa regra teve que ser abolida pois algumas vezes os pais impediam seus filhos de irem à instituição para tomarem conta de irmãos menores, irem ao supermercado, limparem a casa ou ainda, acompanharem os pais a vários lugares. Esta questão foi solucionada quando os pais assistiram às apresentações públicas como no Dia das Mães, Dia da Criança, Natal, Festa Junina. Essas apresentações serviram também de oportunidade ao treino de habilidade quando os colegas precisavam auxiliar um ao outro com troca de fantasia, maquiagem, além de precisarem acatar as regras como, permanecerem quietos e em seus lugares. Ao ser iniciado o projeto foi feita uma visita à escola onde as crianças estudavam e recolhidas as queixas de seus professores e da direção. Durante a vigência do projeto essas visitas foram regulares sempre enfocando as categorias de comportamento citadas inicialmente pela escola. Dentro da instituição as mesmas queixas que corroboravam às da escola também foram avaliadas e quantificadas as suspensões dadas no período (uma regra da instituição para determinados eventos comportamentais). Houveram também mudanças na coordenação motora e na percepção corporal quando comparadas, em observação, com o nível inicial e o relato das próprias crianças de que eram agora capazes de executar. Este trabalho realizado com crianças com grandes dificuldades sociais e o movimento e a dança pode ser observado em algumas organizações não governamentais ou instituições voluntárias, mas não se tem referência de tal trabalho ligado à IES e tão pouco associado à Psicologia numa abordagem comportamental. Seria de interesse que novos trabalhos surgissem para dar oportunidades às classes menos favorecidas e fazer a ponte entre os avanços da ciência e a sua aplicação prática em benefício da humanidade, que é o seu fim primeiro.

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