Alfabetização de adultos com temas de saúde

Resumo

O projeto de alfabetização de adultos com temas de saúde acontece há 9 anos e é desenvolvido em uma creche na periferia de Botucatu, direcionado para moradores dessa região. Surgiu da iniciativa de estudantes da Faculdade de Medicina de Botucatu que, motivados a vivenciar formas de interação social com a comunidade local, proferiram um ciclo de palestras sobre saúde. Porém, notou-se que o aproveitamento da comunidade era baixo devido à incompreensão da leitura e escrita. Esse fato evidenciou a problematização do analfabetismo enquanto limite para o exercício da cidadania na medida em que dificulta a apropriação de conhecimentos, o acesso à informação e às possibilidades de comunicação e expressão da população no espaço social: Inicia-se, assim, o projeto de alfabetização de adultos com temas de saúde. O trabalho em sala de aula desenvolve-se, durante a semana, no período noturno. As aulas são elaboradas com base no construtivismo e em Paulo Freire, valorizando-se o processo de construção do conhecimento pelo grupo, apoiando-se em uma concepção ética de respeito ao outro e estruturadas com atividades de leitura, interpretação e discussão de textos retirados de jornais, revistas e textos elaborados pelos alfabetizandos. Além da saúde, são trabalhados temas culturais, artísticos, sociais e políticos. Não se pede nada aos alunos que seja simples exercício de repetição e estimula-se todo tempo a auto- confiança. Para avaliar-se o progresso de cada aluno, são aplicados ditados a cada dois meses. As obrigações diárias desgastantes dificulta o aproveitamento dos alfabetizandos. O projeto já alfabetizou cerca de 72 adultos e contou com a participação de 40 estudantes em diferentes momentos. Atualmente, conta com estudantes da medicina humana e veterinária da Unesp- Botucatu. A experiência com a comunidade permitiu perceber que as relações na área da saúde, principalmente aquelas entre profissionais de saúde e paciente, se dão dentro de um contexto muitas vezes autoritário e normativo. Talvez o maior impacto do projeto, pensando sob a ótica de um curso médico, seja a possibilidade do estudante de medicina buscar outras leituras do mundo, da comunicação, da prática profissional, contribuindo para o desenvolvimento de relações mais dialógicas, desenvolvendo e despertando a sensibilidade para problemas sociais e éticos dessa população e aplicar esses conhecimentos, futuramente, na área da saúde. Para a população alfabetizada, o maior benefício revela-se na possibilidade da percepção de maior autonomia, participação e construção de conhecimentos a partir do processo de alfabetização, passando a viver com mais dignidade.

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