UNESP em parceria com as administrações públicas: município de Ocauçu

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Data

2001

Autores

Mendonça, Sueli Guadelupe de Lima [UNESP]
Silva, Vandeí Pinto da [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

A realidade brasileira, repleta de problemas estruturais, principalmente na área social - envolvendo saúde, educação, transporte, habitação - requer da universidade uma contribuição mais direta na busca de soluções para esses problemas. Partindo do princípio da indissociabilidade entre ensino/pesquisa/extensão, entendemos que a universidade deva investir mais diretamente em projetos que atendam às demandas vindas das regiões onde está inserida, acompanhando-as mais proximamente e criando um espaço efetivo de interação com a comunidade. A Universidade Estadual Paulista - UNESP - possui uma característica muito peculiar que representa a sua potencialidade, a saber, a descentralização dos câmpus. Esse fato possibilita à UNESP um contato direto com a comunidade local/regional, facilitando assim um trabalho de parcerias com órgãos públicos (prefeituras, secretarias, governos, autarquias, programas específicos, etc.). Nesse contexto, o projeto de extensão universitária, "UNESP em pareceria com as administrações municipais", emergiu, no ano de 1987, do interesse da direção, de docentes e alunos da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP - Câmpus de Marília, de estabelecer parcerias com prefeituras da região. Surpreendentemente, mais de quarenta municípios se apresentaram em encontro programado para a discussão de possibilidades de parcerias diversas com a universidade. O objetivo era aproximar mais os municípios da região da universidade e vice-versa. Nesse sentido, outros encontros com os municípios foram programados, realizadas visitas "in loco" e estudos para o conhecimento da realidade em que a FFC encontra-se inserida. Cumpre destacar, que além dos seus resultados políticos, o projeto facilitou o intercâmbio cultural da UNESP com vários municípios, os quais intensificaram sua participação em eventos acadêmicos, sociais e culturais promovidos pela UNESP e/ou outras instituições, tais como, debates, jornadas e encontros. No ano de 1998, em continuidade ao projeto, estabelecemos parceria com a Prefeitura de Ocauçu, município localizado a quarenta quilômetros de Marília. A escolha desse município, dentre os demais da região, deveu-se aos seguintes fatores: segundo dados do IBGE, Ocauçu inclui-se entre os municípios mais carentes do Estado de São Paulo, participa, inclusive, do programa Comunidade Solidária através de concessão de cestas básicas; a prefeitura mostrou-se interessada em firmar convênio com a UNESP para um trabalho em parceria; foi constatada a existência de uma grande carência de assessoria nas áreas de educação e cultura em Ocauçu, o que tem gerado o agravamento de problemas sociais, tais como analfabetismo adulto, crianças fora da escola, alcoolismo, envolvimento da juventude com drogas e freqüência desnecessária ao Posto de Saúde. Nos contatos iniciais com o município contamos com o apoio do Escritório Regional de Planejamento - ERPLAN, que dentre outras atividades, coordena o programa Comunidade Solidária na região. Esse órgão estadual, através de seus diretores, mediou as relações da UNESP com o município e integrou-se ao projeto. As reuniões feitas com lideranças do município permitiram o aprimoramento do diagnóstico inicialmente realizado e a construção do projeto em continuidade denominado, "UNESP em parceria com as administrações públicas: município de Ocauçu", posteriormente apresentado à Pró-Reitoria de Extensão Universitária e Assuntos Comunitários (PROEX) e por ela aprovado. O cronograma de ação, dadas as disponibilidades do município, dos estagiários e dos docentes participantes do projeto, deveria iniciar nos meses de janeiro e fevereiro de 1999, de uma forma intensiva. Nesses moldes, permaneceram no município, pelo período de quinze dias ininterruptos, treze alunos estagiários ou bolsistas do projeto e a coordenação. Os demais assessores se deslocaram diariamente ao município para o desenvolvimento das atividades programadas. Como contrapartida da parceria, a prefeitura arcou com as despesas de alojamento, refeição e translado de toda equipe dentro do território do município. Cumpre esclarecer que as ações planejadas para a etapa inicial objetivaram atender apenas parte das demandas: tratava-se também de aprimorar o diagnóstico da realidade e de preparar, com a comunidade local, uma ação mais integrada. Uma das ações da etapa inicial foi a voltada para a educação infantil. O município mantém duas creches, sendo uma delas situada na cidade e a outra no distrito de Nova Colúmbia. Na cidade foi construído recentemente um outro prédio para atender as crianças em idade pré-escolar que já freqüentam a creche. Assim, o início das atividades com a pré-escola estava previsto para o início de 1999. Tendo presente as necessidades colocadas pelo segmento da educação infantil, antes do início do ano letivo, todos os funcionários da creche (professoras, pajens, merendeiras, serventes e assistente social), foram convocados para, durante uma semana, sob a orientação de especialistas na área, refletirem sobre o significado do próprio trabalho. As discussões foram avaliadas como muito profícuas pelo conjunto dos funcionários e muitas alternativas criadas no sentido de elevar o atendimento assistencial prestado às crianças ao âmbito educacional. A assessoria à educação infantil continua sendo realizada por meio de encontros mensais com todos os funcionários das creches e da pré-escola, com a presença de especialista e de bolsista e estagiários do projeto. Destacamos também as diversas atividades culturais realizadas pelos alunos de graduação dos cursos de Biblioteconomia, Ciências Sociais, Filosofia e Pedagogia, da FFC, dentre elas, a "Tela da Noite", que proporcionou a centenas de crianças, jovens e adultos, o contato com gêneros cinematográficos diversos e a sua discussão; os "Jogos e as Atividades Lúdicas" propiciados especialmente às crianças mais carentes que achavam-se em férias e praticamente sem nenhuma opção de lazer. As atividades culturais ensejaram oportunidade ímpar para integração social entre graduandos e a comunidade, com especial enriquecimento para a formação de ambos. Outra área que ainda precisa ser enfrentada é a da questão da saúde da população. Dentre as atividades programadas e realizadas na fase inicial do projeto, discutiu-se com lideranças da comunidade, com apoio da Câmara Municipal de vereadores e assessoria especializada, a questão da coleta seletiva e reciclagem de lixo. Desse encontro resultou a câmara técnica encarregada de encaminhar a questão e que já iniciou, juntamente com estudos de viabilidade do projeto, a educação em escolas acerca da questão ambiental. Docentes do Departamento de Fonoaudiologia da FFC e funcionários da Secretaria Estadual de Saúde - Regional Marília estão integrando-se ao projeto. Ante ao consumo exagerado de álcool nas várias faixas etárias e ao consumo indiscriminado de psicotrópicos, a meta inicial e prioritária será a da educação preventiva. Permanece como desafio a questão dos altos índices de analfabetismo adulto entre os habitantes do município. Constatamos que as propostas de alfabetização de adultos apresentadas por integrantes da própria comunidade não surtiram os efeitos desejados. Ao contrário, aumentaram as resistências por parte dos adultos analfabetos: em geral, evitam expor a situação em que se encontram e tentam dissimular o problema; impera, pois, a descrença no próprio potencial e, conseqüentemente, na possibilidade de sua melhor inserção social via alfabetização. Esta demanda, está, portanto, a merecer um enfrentamento sistemático. Com o objetivo de levantar cientificamente o perfil sócio-econômico da população do município foi elaborado, por cientistas sociais da FFC e técnicos do ERPLAN, um questionário que, após teste, foi aplicado em toda a extensão do município. Os resultados dessa pesquisa, além de corroborar demandas percebidas empiricamente e já apresentadas pelas lideranças da comunidade e constatadas pelos integrantes do projeto, apresentou outras questões importantes e que deverão ser analisadas e consideradas na política municipal, na construção dos projetos pedagógicos das escolas de ensino básico, nos empreendimentos das diversas instituições e organizações comunitárias e, mesmo, na avaliação e direcionamento do projeto de extensão em tela. Além dos setores já contemplados pelo projeto e diretamente vinculados à parceria com a prefeitura, firmamos também convênio com a Delegacia de Ensino de Marília para assessorar as Escolas Estaduais do Município de Ocauçu e melhor integrá-las aos projetos coletivos do município. Enfim, julgamos estar contribuindo para que a universidade cumpra o seu papel de elaborar programas de extensão, tendo como meta orientar a formulação e a concretização de políticas públicas, num país tão carente de soluções para problemas, muitas vezes elementares. A ação extensionista, entretanto, deve estar articulada com as atividades de pesquisa e ensino, concretizando assim o princípio da indissociabilidade destas três frentes de trabalho acadêmico, princípio este tão alardeado na teoria e tão ausente no cotidiano universitário.

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