Programa de atuação fonoaudiológica com idosos institucionalizados

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Data

2001

Autores

Giacheti, Célia Maria [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

A Organização das Nações Unidas (ONU) considera o período de 1975 a 2025 como a "era do envelhecimento". O aumento na expectativa de vida tem desencadeado, principalmente nas áreas da saúde, a preocupação de desenvolver programas de atuação junto á população idosa. O envelhecimento normal, devido a fatores biológicos, compromete várias funções do corpo humano e ocasiona, freqüentemente, distúrbios na comunicação. Este quadro se agrava quando consideramos os fatores psico-sociais que influenciam a dinâmica comunicativa de idosos institucionalizados. A dinâmica comunicativa do sujeito decorre da interação com o outro e da apropriação da experiência social vinculada pela linguagem. Com o envelhecimento, é freqüente que os idosos desenvolvam distúrbios da comunicação em conseqüência da redução dos níveis de consciência, atenção seletiva, função sensorial e motora, memória, raciocínio, resolução de problemas e uso limitado da linguagem oral e escrita. Esta problemática se amplia em decorrência da política de assistência ao idoso no Brasil que privilegia os atendimentos de urgência, assistindo-os nas necessidades de subsistência (alimentação, higiene, abrigo e cuidados médicos básicos), ignorando o desenvolvimento da potencialidade global desses idosos. A falta de recursos na maioria das instituições que assistem essa população contribui para que esse quadro se torne mais caótico. Desta forma, o projeto de extensão de atuação fonoaudiológica com idosos institucionalizados desenvolve a ação reflexiva sobre a linguagem por meio de práticas discursivas orais e de leitura e escrita, resgatando nesses idosos a funcionalidade da comunicação. Este programa de intervenção fonoaudiológica é realizado no Lar São Vicente de Paulo, na cidade de Marília-SP, desde o ano de 1993. Desde o seu início, conta com a coordenação de um docente fonoaudiólogo, a participação de docentes supervisores e de alunos do 4o ano do curso de Fonoaudiologia. É uma atividade voluntária e extra-curricular, e atualmente, conta com a participação de uma aluna do 4o ano bolsista / PROEX/99 e de alunos do 2o e 3o ano do Curso de Fonoaudiologia. O projeto foi proposto por entender que a vivência fonoaudiológica em instituições para idosos permite o conhecimento da problemática clínica e social desse grupo etário. Participam, anualmente dos programas propostos, cerca de 80 idosos, de ambos os sexos, com diferentes níveis de escolaridade, na faixa etária de 65 à 92 anos. O programa de atuação fonoaudiológica tem por objetivos desenvolver as potencialidades dos idosos institucionalizados, visando minimizar suas dificuldades de comunicação e memória; contribuir para o ajustamento psico-sócio-emocional desses idosos, proporcionando-lhe meios para manifestar de forma funcional sua linguagem receptiva e expressiva oral e escrita. Tem por objetivo ainda realizar orientações aos funcionários sobre o seu papel enquanto estimulador e facilitador das situações de comunicação interpessoal e também sobre as características alimentares individuais dos idosos com quadros disfágicos e seqüelas de doenças neurológicas vasculares e progressivas. Considerando que as instituições que atendem à população de idosos apresentam variações quanto à sua filosofia, finalidade, estruturação e características sócio-econômicas, como etapa inicial do programa de atuação fonoaudiológica, foi realizado por meio de entrevistas com a administração e com os funcionários o levantamento das informações sobre a instituição e os idosos, possibilitando assim, a caracterização da população envolvida e do espaço físico disponível para a realização dos programas de intervenção fonoaudiológica. Este criterioso levantamento de informações, forneceu subsídios para a atuação. A atuação fonoaudiológica vem sendo desenvolvida nas seguintes etapas: realização de anamnese, avaliação fonoaudiológica formal e informal, avaliação otorrinolaringológica, avaliação audiológica, avaliação neurológica e definição da conduta. A anamnese contêm questões sobre a queixa e a duração, a história da queixa e as informações complementares. A avaliação fonoaudiológica consta de um roteiro, elaborado pela equipe, e de provas específicas. Constam desse roteiro os seguintes tópicos: identificação, habilidades comunicativas, funções cognitivas, linguagem oral e escrita. Na avaliação formal utiliza-se o teste token, o mini-mental e o Teste de Desempenho Escolar (TDE - Aritmética). Além das etapas descritas os idosos são submetidos às avaliações otorrinolaringológica, audiológica, neurológica e complementares, para diagnóstico, conduta e acompanhamento. Os procedimentos utilizados durante o processo diagnóstico fonoaudiológico tem proporcionado a caracterização sintomatológica e etiológica que determinam o diagnóstico e a seleção dos idosos para os diferentes programas de intervenção fonoaudiológica desenvolvidos na Instituição: programa de habilidades comunicativas, laboratório de memória, oficina de leitura e escrita, desordens da deglutição e acompanhamento auditivo. Após o processo diagnóstico fonoaudiológico, caracterização do quadro e definição das condutas, os idosos são selecionados para os diferentes programas de intervenção citados anteriormente. Esses programas são desenvolvidos, semanalmente, por estagiários, do curso de Fonoaudiologia UNESP/Campus de Marília e supervisionados diretamente por docentes fonoaudiólogos do Departamento de Fonoaudiologia da UNESP/Campus de Marília. No programa de habilidades comunicativas são realizadas atividades pragmáticas, destacando a funcionalidade da linguagem oral por meio de diversos recursos, maximizando as trocas comunicativas entre os institucionalizados. O Laboratório de memória incentiva o gerenciamento e o treino da habilidade para reter as informações vivenciadas na Instituição e do conhecimento anteriormente adquirido. As oficinas de leitura e escrita proporcionam o acesso às informações externas e valorizam a manutenção da linguagem escrita como atividade reflexiva do sujeito com os próprios institucionalizados e com a sociedade. No decorrer da implementação do programa na Instituição de idosos deparamo-nos com situações adversas, acarretando dificuldades no andamento e exeqüibilidade da atuação fonoaudiológica. Os problemas envolviam principalmente os seguintes aspectos: heterogeneidade da população (idosos saudáveis, população neurológica e psiquiátrica); visão assistencialista de substituição do lar, oferecendo aos idosos somente as necessidades básicas de sobrevivência (alimentação, moradia e higiene); descredibilidade do potencial ainda existente no idoso, impossibilidade de contratação de recursos humanos para acompanhamento dos programas desenvolvidos; falta de recursos financeiros para adequação de dieta, acompanhamento médico (neurológico e oftalmológico) e afins (dentário, nutricional, medicamentos) e construção de espaço físico para desenvolvimento dos programas. Esses programas tem, ao longo de 6 anos, evidenciado a importância da intervenção fonoaudiológica na manutenção da independência comunicativa oral e escrita desses idosos institucionalizados. Além disso, o programa contribui para minimizar os comprometimentos bio-psico-sociais decorrentes do processo de envelhecimento e maximizar a potencialidade da dinâmica comunicativa dos idosos que participam das atividades propostas deste projeto de extensão. Essa atividade de extensão tem permitido o enfoque interdisciplinar e complementar na formação do aluno no Curso de Fonoaudiologia da UNESP, pois tem possibilitado que os mesmos vivenciem a problemática da saúde e da dinâmica social do idoso na instituição e sinaliza para a prática fonoaudiológica social em associação a atuação fonoaudiológica clínica assistencial.

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