Faculdade de Medicina de Botucatu Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" UNESP Ana Paula Corrêa Castello Branco Nappi Arruda EEfetividade dos Florais de Bach no Bem Estar Espiritual de estudantes universitários: Ensaio clínico randomizado duplo cego Botucatu 2012 Faculdade de Medicina de Botucatu Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" UNESP Ana Paula Corrêa Castello Branco Nappi Arruda EEfetividade dos Florais de Bach no Bem Estar Espiritual de estudantes universitários: Ensaio clínico randomizado duplo cego Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de Botucatu como requisito para obtenção do título de Doutor em Saúde Coletiva, área de concentração: Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Ivan Amaral Guerrini Coorientadora: Profa. Dra. Ruth Natalia Teresa Turrini (EEUSP) Botucatu 2012 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO DE AQUIS. E TRAT. DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE Arruda, Ana Paula Corrêa Castello Branco Nappi. Efetividade dos florais de Bach no bem estar espiritual de estudantes universitários: Ensaio clínico randomizado duplo cego/Ana Paula Corrêa Castello Branco Nappi Arruda.–Botucatu : [s.n.], 2012 Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista,Faculdade de Medicina de Botucatu Orientador: Ivan Amaral Guerrini Coorientadora: Ruth Natália Teresa Turrini Capes: 40602001 1. Medicamentos florais. 2. Vida espiritual. 3. Espiritualidade. 4. Pacientes – Saúde mental. Palavras-chave: Bem estar espiritual; Ensaio clínico; Florais de Bach; Prática integrativa complementar; Transtorno mental comum. DDedicatória Ao meu marido, Lucas, por ser meu maior incentivador, conselheiro, companheiro, amigo, por ter escolhido fazer parte dessa e de inúmeras jornadas comigo. E por ter me propiciado a concretização de mais uma realização pessoal, a de termos nossa primeira filha. AAgradecimentos À Deus, pela dádiva da vida e pelas inúmeras oportunidades ofertadas para meu desenvolvimento e crescimento pessoal; Aos meus Pais, pela oportunidade da vida e por todo amor e carinho que me forneceram em minha criação e educação. À minha mãe por ser uma grande incentivadora de meus estudos e de minha vida acadêmica e por compartilharmos semelhante filosofia de vida e da espiritualidade; À minha avó Margot, por sua presença invisível durante o momento da escrita de tese e em vários outros momentos de minha vida, e por servir de inspiração com seu exemplo de vida e de caráter; Aos amigos espirituais, por auxiliarem e facilitarem a concretização desse trabalho; Ao meu orientador, Prof. Ivan Guerrini, por ter me aceitado como orientada e, principalmente, ter autorizado a mudança de meu projeto de pesquisa, que culminou no presente trabalho; À minha coorientadora, Profa. Ruth Turrini da EEUSP, por ter me aceitado como orientada e por ter exercido seu papel de forma sempre presente, objetiva, importante e fundamental, desde a elaboração do projeto até a redação final; Aos vários profissionais que auxiliaram na costura dessa colcha de retalhos dos temas envolvidos nessa tese, Profa. Kika, Profa. Liciana, Profa. Niura, dentre outros; Às estagiárias voluntárias do ensaio clínico, Cláudia Pereira e Renata Rodrigues, pela disposição à doação de horas semanais para o projeto e pela amizade oferecida; À Luciana Chammas e à Healing essências florais, pela importante contribuição, com a doação do kit de florais de Bach para o projeto, sem a exigência de algo em troca; À Lucilene Cabral, secretária da pós do departamento de Saúde Pública, por todo seu auxílio durante esses três anos e meio de doutorado; À Regina Spadin e à equipe da pós-graduação da medicina, por todo o auxílio incansável nas dúvidas e nos problemas a serem resolvidos; Às amigas Marina Villardi e Bianca Paiva por suas amizades e auxílios em todos os momentos necessários e importantes do doutorado; À Univap por ter permitido que esse projeto fosse praticado em suas dependências, principalmente à Profa. Dra. Emilia Ângela LoSchiavoArisawa, diretora da Faculdade de Ciências da Saúde; Aos alunos da Univap que responderam o questionário e às participantes do ensaio clínico! RResumo Os Florais de Bach são considerados uma Prática IntegrativaComplementar (PIC) e sua fundamentação apresenta grande cunho espiritual, entendendo que as pessoas possuem uma Alma que é o seu eu real e divino, e que, através de uma relação harmoniosa entre Alma e personalidade, tem-se como resultado a saúde. Pesquisas científicas internacionais de impacto têm sugerido que o fortalecimento do bem estar espiritual pode auxiliar significativamente e positivamente na promoção da saúde mental e física.Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) referem-se aos estados de saúde envolvendo sintomas psiquiátricos não-psicóticos. Fazem parte dessa ampla categoria diagnóstica, sintomas como: de ansiedade e de depressão, dificuldade de concentração, esquecimento, insônia, fadiga, irritabilidade, sentimentos de inutilidade, queixas somáticas, dentre outros. O TMC causa um grande impacto social e apresenta alta prevalência em estudantes universitários, variando entre 34,1% e 44,6%. O presente estudo visou avaliar a relação existente entre o tratamento com Florais de Bach e o Bem Estar Espiritual de pessoas com TMC. Essa pesquisa apresentou uma metodologia experimental do tipo ensaio clínico, duplo cego. Os participantes foram os alunos da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) da cidade de São José dos Campos - SP. Dos 411 alunos que responderam os questionários, 194 se mostraram elegíveis, sendo que 70 deram início ao tratamento. Os participantes foram divididos em dois grupos, Grupo de Intervenção (GI) e Grupo Placebo (GP), por seis meses com atendimentos a cada 30 dias. Foram utilizados instrumentos validados para a avaliação do TMC (SRQ-20) e do bem estar espiritual (EBE).Na análise estatística, foram utilizados os testes do Qui-quadrado ou exato de Fisher, de acordo com a necessidade, e a regressão logística para estudar a associação entre a escala de EBE, o SRQ-20 e o uso de Florais de Bach para cada momento de avaliação (3 momentos). Para esses testes estatísticos foi adotado um nível de significância de 5% (p< 0,05).Na avaliação intragrupos do bem estar espiritual, os resultados se mostraram superiores e significantes no GI em relação ao GP, principalmente do meio para o final do tratamento, embora sem diferença estatística na avaliação entre os grupos. Na avaliação intragrupos do TMC, os resultados se mostraram superiores no GI em relação ao do GP, da primeira para a segunda avaliação, onde a taxa de redução do TMC se mostrou mais elevada, 66,7% e 57,9%, respectivamente, embora sem diferença estatística nessa avaliação e na avaliação entre os grupos. Conclui-se que apesar desses dados requererem maior corroboração de dados quantitativos e qualitativos, ainda sim, este resultado pode indicar que os remédios florais facilitam a comunicação do indivíduo com ele mesmo, sua autoconsciência e o seu processo de individuação, consequentemente melhorando a ligação do indivíduo com o Transcendente. Sugerem-se pesquisas que envolvam intervenções com as PIC na avaliação do bem estar espiritual e do TMC. Palavras-chaves: Bem Estar Espiritual; Ensaio Clínico; Florais de Bach; Prática Integrativa Complementar; Transtorno Mental Comum. AAbstract The Bach´s flowers remedies are considered a Complementary Integrative Practice (CIP) and its grounds has great spiritual nature, understanding that people have a soul that is your real and divine self, and through a harmonious relationship between soul and personality, the result is health. International scientific research has suggested that the strengthening of spiritual well-being can help significantly and positively on mental and physical health promotion. The Common Mental Disorders (CMD) refers to medical conditions involving non-psychotic psychiatric symptoms. The included symptoms are: anxiety and depressive symptoms, difficulty of concentrating, forgetfulness, insomnia, fatigue, irritability, feelings of worthlessness, somatic complaints, among others. The CMD has a big social impact and is highly prevalent among college students, ranging between 34.1% and 44.6%. This study aimed to assess the relationship between treatment with Bach´s flower remedies and spiritual well-being of people with CMD. This study presented a experimental double- blind clinical trial methodology. Participants were students of the Faculty of Health Sciences at the University of Vale do Paraíba (UNIVAP) in the city of São José dos Campos-SP. Of the 411students who answered the questionnaires, 194 were eligible, and 70 began treatment. Participants were randomized into two groups, Interventional Group (IG) and Placebo Group (PG), for six months with visits every 30 days. Validated instruments were used for the assessment of CMD(SRQ-20) and for the spiritual well-being (EBE). In statistical analysis, were used the chi-square or Fisher's exact test, as needed, and logistic regression to study the association between the scale of EBE, the SRQ-20 and the use of Bach´s Flowers Remedies for each time evaluation (3 evaluations). For these statistical tests was adopted a significance level of 5% (p <0.05). In the intragroup evaluating of spiritual well-being, the results were higher and significant at IG in relation to PG, mainly from middle to end of treatment, although no statistical difference between groups was detected. In the intragroup evaluation of CMD, the results were higher in the IG than compared to the PG, from first to second evaluation, where the rate of reduction of CMD was 66.7% and 57.9%, respectively, although no statistical difference in this assessment and in the assessment between groups was detected. It is concluded that although these results require further corroboration of quantitative and qualitative data, even so, it indicates that the flower´s remedies may improve communication of the subject with himself, the consciousness and the individuation process, consequently improving the connection of the individual with the Transcendent. Are suggested further researches involving interventions with the CIP in the assessment of spiritual well-being and the CMD. Keywords: Bach´s Flower Remedies, Complementary Integrative Practice, Spiritual Well-Being, Common Mental Disorders, Clinical Trial. SSumário 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................ 6 1.1 Naturologia Aplicada ................................................................................................... 6 2. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10 2.1 A Ciência Ocidental e a Influência da Física e da Física Quântica: Breve Histórico .. 10 2.1.1 Conceitos Levantados pela Física Quântica ......................................................... 13 2.1.2 A Física Quântica e a Teoria da Complexidade ................................................... 16 2.2 Terapia Floral ............................................................................................................ 22 2.2.1 Terapia Floral de Edward Bach ............................................................................ 27 2.2.2 Conceitos de Saúde e Doença do Dr. Bach ......................................................... 30 2.2.3 Convergências nosDiscursos de Bach e de Jung................................................. 32 2.2.4 Método de seleção das essências florais para o tratamento ................................ 35 2.2.5 Preparo e Mecanismo de Ação das Essências Florais ......................................... 37 2.3 Bem Estar Espiritual e Saúde Mental ........................................................................ 47 2.4 Saúde Mental e Transtornos Mentais Comuns .......................................................... 49 2.5 Justificativas .............................................................................................................. 53 2.6 Problema ................................................................................................................... 54 2.7 Hipótese .................................................................................................................... 54 2.8 Objetivo ..................................................................................................................... 55 3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 57 3.1 Tipo de Pesquisa ....................................................................................................... 57 3.2 Local de Pesquisa ..................................................................................................... 57 3.3 População ................................................................................................................. 57 3.4 Amostra ..................................................................................................................... 58 3.5 Grupos de Estudo ..................................................................................................... 58 3.6 Instrumentos de Coleta de Dados ............................................................................. 59 3.6.1 Self-Report Questionnaire (SRQ-20) .................................................................... 59 3.6.2 Escala de BemEstar Espiritual (EBE) ................................................................... 60 3.6.3 Procedimentos para Coleta de Dados .................................................................. 61 3.6.4 Escolha das Essências Florais Utilizadas............................................................. 63 3.6.5 Preparo dos Frascos para os Florais de Bach ...................................................... 64 3.7 Análise dos Dados .................................................................................................... 64 3.8 Considerações éticas ................................................................................................ 65 4. RESULTADOS ............................................................................................................ 67 4.1 Análise Descritiva Geral da População ...................................................................... 67 4.2 Ensaio Clínico ........................................................................................................... 68 4.2.1 Características Sociodemográficas dos Grupos deEstudo ................................... 70 4.2.2 Condições de Saúde nos Grupos de Estudo ........................................................ 73 4.2.3 Comparação entre os Grupos de Estudo ............................................................. 76 4.2.4 O Bem Estar Espiritual das Participantes do Estudo ............................................ 79 4.2.5 O Transtorno Mental Comum das Participantes do Estudo .................................. 81 4.2.6 Regressão Logística para Comparação entre Grupos em cada Momento de Avaliação ...................................................................................................................... 83 4.2.7 Florais de Bach: As Essências Escolhidas ........................................................... 84 5. DISCUSSÃO ............................................................................................................... 89 5.1 Discussão do Uso de PIC pela Amostra Geral .......................................................... 89 5.2 Efeitos Colaterais e Características Sociodemográficas ............................................ 90 5.3 O Bem Estar Espiritual das Participantes .................................................................. 93 5.4 O TMC das Participantes do Tratamento Floral ......................................................... 97 5.5 Contribuições deste estudo ..................................................................................... 100 5.6 O Tratamento Floral ................................................................................................ 101 5.7 Florais: Essências mais Escolhidas ......................................................................... 102 5.8 Limitações da Pesquisa ........................................................................................... 108 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 111 7. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 113 ANEXO I – Self-Report Questionnaire (SRQ) ................................................................ 125 ANEXO II - Escala de Bem Estar Espiritual ................................................................... 126 ANEXO III – Autorização do CEP .................................................................................. 127 APÊNDICE I –Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................ 128 APÊNDICE II – Questionário Para Levantamento dos Dados Pessoais ........................ 129 APÊNDICE III – Entrevista ............................................................................................ 130 5 CConsiderações Iniciais "...é preciso coragem para sermos o que somos,é preciso recomeçar no caminho que vai pra dentro,vencendo o medo imaginado, se sentir seguro no inesperado,confiar no invisível,desprezando o perecível na busca de si mesmo,ser o capitão da nossa nau, e no mais terrível vendaval, mergulhar bem fundo,para encontrar o nosso ser real..." (Calunga) 6 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1 Naturologia Aplicada É necessário tecer alguns comentários sobre a formação de base dessa pesquisadora, que apresenta relação direta com os temas explorados por essa tese, em virtude do fato dela ser ainda muito recente e pouco conhecida no Brasil. Sou formada como Bacharel em Naturologia Aplicada pela Universidade do Sul de Santa Catarina, no campus da grande Florianópolis, tendo me formado no ano de 2002/2, com a segunda turma desse curso. A Naturologia é uma área profissional da saúde recente, a qual utiliza métodosnaturais, tradicionais e modernos de cuidado à saúde, embasada em uma visãoampliada de saúde que preza pela qualidade de vida e a relação entre o ser humano e oambiente em que vive (RODRIGUES, D.M.O.; HELLMANN, F.; SANCHES, N.M.P., 2011). É um curso que apresenta muitas disciplinas da área biológica e das ciências humanas, justamente para cumprir o objetivo de ampliar a visão sobre o ser humano e o seu processo de saúde e doença. Portanto, o estudo dessa graduação se dá sobre as Práticas Integrativas e Complementares (PIC) – essa denominação foi elaborada pelo Ministério da Saúde do Brasil (2006) – que são mais conhecidas como terapias complementares ou alternativas. A Naturologia valoriza as Medicinas Tradicionais, ao mesmo tempo em que se utiliza dasPIC que não estãonecessariamente vinculadas às racionalidades médicas estabelecidas (como é o casoda Arte-terapia, Musicoterapia, Terapia Floral, Massoterapia, Cromoterapia,Reflexoterapia,dentre outros), mas que apresentam grande proximidade em seus princípiosnorteadores de entendimento das dimensões que envolvem o processo saúde doença. O Naturólogo atua no âmbito privado e público,e os locais de atuação desteprofissional são diversificados: spas, instâncias hidrominerais, clínicas de estética,clínicas multiprofissionais no âmbito privado, unidades básicas de saúde, centro deatenção psicossocial (CAPS), policlínicas, hospitais. Na Saúde coletiva, este profissional também trabalhacom atividades de educação em saúde e vivências relacionadas às PIC, visando àpromoção da saúde e a integração social (RODRIGUES, D.M.O.; HELLMANN, F.; SANCHES, N.M.P., 2011). 7 Uma das disciplinas ministradas no curso, e que se apresenta fundamental para o entendimento da inter-relação entre as dimensões que constituem o ser humano e sua saúde, dentro de uma visão Ocidental, foi a de Física Quântica. Além disso, no meu primeiro dia de aula da graduação foi ofertada uma palestra com um médico psiquiatra, e o tema era Física Quântica e saúde. Após a palestra me senti um tanto desnorteada e percebi que os conceitos de vida e de saúde poderiam ser muito mais dinâmicos, sistêmicos, ampliados, não lineares, equilibrados dinamicamente, sinérgicos, interativos e realimentáveis que eu supunha. Compreendi que eu realmente precisava rever muitos conceitos. A Física Quântica, também conhecida como Nova Ciência, propõe muitos modelos diferentes de como a natureza e as organizações de um modo geral funcionam (STERELNY, 2008). Essa Nova Ciência tem uma capacidade extraordinária de integrar diferentes áreas da atividade humana, inclusive a ciência e a espiritualidade. Ver a saúde e a cura mediante a visão de mundo da Física Quântica confere ao agente de cura e ao paciente o poder potencial de escolher a saúde ao invés da doença. E quando você faz esse aprendizado, você descobre por que essa cura de si mesmo é tradicionalmente chamada de cura por meio de um poder superior ou Deus: porque ela o leva de seu casulo de existência separado para um nível de ser não local e integrado (GOSWAMI, 2006). Essa informação vem a corroborar o que Dr. Edward Bach, responsável pela sistematização da terapia floral, acreditava e afirmava que a doença é o resultado do conflito entre a Alma (nosso ser real e divino) e a Mente (nossa personalidade) e para ser erradicada, seriam necessários esforços espirituais e mentais (BACH, 2006). Isso significa dizer que é fundamental uma reconexão consigo mesmo e com seus mais íntimos e verdadeiros propósitos, que estão em sintonia com a Alma de cada um, com a centelha de Deus, para assim, ter uma vida saudável e feliz. Atualmente é possível observar muitos estudos científicos relacionando a saúde à espiritualidade, principalmente na área da saúde mental e mais especificamente na área da psiquiatria. Como é possível observar preliminarmente, esses temas estão conectados entre si, são convergentes. Desde a Naturologia, passando pela Física Quântica, Espiritualidade, Florais de Bach e a Saúde Mental. Esses temas sempre me fascinaram e graças a esse projeto de doutorado foi 8 possível desenvolver uma pesquisa com os mesmos e ao mesmo tempo, definir meu real propósito profissional como pesquisadora acadêmica. Convido-os a ingressarmos juntos nessa viagem, de velhas e novas informações, onde muitos irão concordar e outros tantos discordar, mas confesso que, pessoalmente, o mais importante é que tenhamos a oportunidade de ampliarmos um pouco mais o nosso campo de conhecimento, pois como dizia minha querida e saudosa avó Margot, o segredo da vida é ser um eterno aprendiz. Mas vamos finalmente dar início a essa jornada... 9 IIntrodução "Considera sempre que o Universo é um organismo vivo, que possui uma única substância e uma única alma; e que todas as coisas estão submetidas a uma só percepção desse modo; que tudo é movido por um único impulso e tudo toma parte em tudo o que acontece. E repara quão intricada e complexa é essa trama." (Imperador Romano Marco Aurélio; 212-180a.C.) ____________________________________________________________ 10 2. INTRODUÇÃO 2.1 A Ciência Ocidental e a Influência da Física e da Física Quântica: Breve Histórico Nesse e nos próximos tópicos, será discorrido sobre os referenciais teóricos que foram adotados como norteadores da interpretação dos resultados obtidos com a presente pesquisa, o da Física Quântica e o da Teoria da Complexidade. As raízes da Física, bem como da ciência ocidental, podem ser encontradas no período inicial da filosofia grega do século VI a. C., numa cultura onde a ciência, a filosofia e a religião não se encontravam separadas. Os sábios da escola de Mileto, não se preocupavam com essas distinções. Seus objetivos giravam em torno da descoberta da natureza essencial ou da constituição real das coisas, a que denominavam physis. O termo Física deriva dessa palavra grega e significava, originalmente, a tentativa de ver a natureza essencial de todas as coisas(CAPRA, 2000). Na primeira universidade do mundo, situada na antiga Grécia e criada pelo filósofo Pitágoras, eram desenvolvidas pesquisas nas áreas de Ciências, Medicina, Higiene, Astronomia, Astrologia, Música, Esoterismo, dentre outras, com o objetivo de desenvolver o bem estar e a evolução da Humanidade (GUERRINI, 2009). Contudo, entre os anos de 1500 e 1700 houve uma mudança drástica na maneira como as pessoas descreviam o mundo e no seu modo de pensar. Isso ocorreu devido às mudanças revolucionárias na física e na astronomia, culminando nas realizações de Copérnico, Galileu e Newton. Essa mudança que viria a ser de suprema importância para o desenvolvimento subsequente da civilização ocidental foi iniciada e completada por Descartes e Newton no século XVII. Para Descartes, o universo material era uma máquina (visão mecanicista), não havia propósito, vida ou espiritualidade na matéria. A natureza funcionava de acordo com leis mecânicas e podia ser entendida e explicada em função do movimento de suas partes. Com o firme estabelecimento da visão mecanicista no mundo durante o século XVIII, a física tornou-se naturalmente a base de todas as ciências (CAPRA, 2004). A abordagem clássica ou Newtoniana tem se apresentado como o paradigma dominante dentro do pensamento e da ciência ocidental. Isto resulta na hipótese incontestável de que existem leis físicas baseadas em simples relações 11 entre causa e efeito que comandam o comportamento de todos os sistemas naturais. A partir disto acredita-se que o conhecimento individual de todas as partes de um sistema gera a compreensão do sistema como um todo, e de acordo com sua condição inicial qualquer estado futuro é passível de previsão. Quando a abordagem clássica não pode ser aplicada, os sistemas são vistos através da exibição de um comportamento aleatório imprevisível, que pode ser descrito através de métodos estatísticos. Porém, a maioria dos sistemas apresenta estas duas características de aleatoriedade e ordem (KERNICK, 2004). René Descartes publicou seu livro, O discurso do Método, no ano de 1637 e nele apresentou uma espécie de guia ou manual para que as pessoas pudessem ascender ao conhecimento racional. Essa analítica cartesiana e suas implicações epistemológicas são bastante conhecidas pelas pessoas em geral. Dentre os temas abordados no livro, pode-se destacar (FILHO, 2009): � A objetividade – que busca conferir à ciência um caráter rigoroso, impessoal e objetivo; � A neutralidade – a observação do objeto em estudo deve ser feito de modo neutro; � A causalidade – a ciência é a busca das causas e é valorizada a produção de evidências; � A linearidade – ideia que alguns chamam de reducionismo, de que os problemas devem ser entendidos do simples ao complexo; � A simplicidade – a explicação deve se dar da forma mais simples possível e preferencialmente na linguagem matemática, que Descartes considerava como a linguagem universal da ciência; � A disciplinaridade – (principal consequência institucional do cartesianismo) conhecer é fragmentar, acumular e depois somar elementos. Na leitura dos elementos listados acima, pode-se perceber que diariamente é possível aplicar alguns desses conceitos, seja para o entendimento de novas informações, para realizar pesquisas ou para outras atividades. Com isso, observa-se que essa visão teve e continua tendo sua importância nos mais diversos 12 setores, porém, é inegável a necessidade da aplicação de outras teorias na busca pela ampliação de entendimentos e na produção de novos conhecimentos, uma vez que a visão clássica não é suficiente para explicar alguns fenômenos. Durante o século XX, a ciência passou por grandes rupturas epistemológicas, a começar pelodesenvolvimento da Física Quântica a partir das décadas de 1920 e 1930 que, de forma marcante, causou grande repercussão no desenvolvimento da ciência, a começar pela Física. O indeterminismo e as incertezas nas previsões de sistemas subatômicos provocaram o que Thomas Kuhn, físico e filósofo do século XX, chamou de ruptura da "ciência normal". Em sua essência filosófica, epistemológica e ontológica, a Física Quântica afirma que não há mais uma objetividade definida na ciência, ou seja, a Física Quântica define que em toda e em qualquer observação, há uma interação do observador com o elemento observado. Dessa forma, ocorre um rompimento com o modelo clássico de ciência que se apresentava sobre uma base de objetividade e neutralidade (GUERRINI; SPAGNUOLO, 2009). Segundo Goswami (2008), aFísica Quântica é uma ciência física descoberta para explicar a natureza e o comportamento da matéria e da energia na escala de átomos e de partículas subatômicas, mas, atualmente, acredita-se que seja aplicável à matéria como um todo. Os cientistas apenas conseguem descrever partículas subatômicas em termos de seu modo de interação. Dessa forma iniciou a Teoria Quântica, como um modo de explicar a mecânica de elementos muito pequenos. No entanto, hoje a Física Quântica também é a base para compreendermos imensos objetos, como as estrelas e galáxias, e eventos cosmológicos como o Big Bang. Para Capra (2000), a Física Quântica tem exercido uma profunda influência sobre muitos aspectos da sociedade humana. Acabou por tornar-se a base da ciência natural, e a combinação da ciência técnica e natural transformou as condições de vida das pessoas. Contudo, a influência da Física Quântica ultrapassa a tecnologia, estendendo-se ao âmbito do pensamento e da cultura, aqui, a Física Quântica gerou uma profunda revisão de concepção humana acerca do universo e do relacionamento do indivíduo com este último (CAPRA, 2000). 13 2.1.1 Conceitos Levantados pela Física Quântica O surgimento da Teoria Quântica ou Mecânica Quântica no início do século XX provocou duas consequências diretas: o da consolidação científica da nova disciplina e o da instalação de seus fundamentos filosóficos na cultura em geral. Esse duplo caminho foi muitas vezes percorrido de modo simultâneo, já que, como processo, realizou um amplo e novo desenho na cultura, provocado pela chegada do conjunto de paradigmas que constitui a Teoria Quântica. Marcou o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica, produziu novas tensões com a religião, a política, a ética, a moral e com a cultura de modo geral (BARROSO, 2011). A Teoria Quântica foi formulada durante as primeiras três décadas do século XX por um grupo internacional de físicos, entre eles Max Planck, Albert Einstein, Niels Bohr, Louis De Broglie, Erwin Schrodinger, Wolfgang Pauli, Werner Heisenberg e Paul Dirac. Depois de concluída a formulação matemática da Teoria Quântica, sua estrutura conceitual não foi facilmente aceita. A nova Física exigia profundas mudanças nos conceitos de espaço, tempo, matéria, objeto e causa e efeito; como esses conceitos são fundamentais para o modo de vivenciar o mundo, sua transformação causou um grande choque. Essa nova visão de mundo da Física Quântica apresenta relações com as concepções defendidas em tradições Orientais (CAPRA, 2004). Algumas das questões levantadas pela Física Quântica são: Incerteza /complementaridade: A investigação experimental dos átomos mostrou que esses consistem em vastas regiões de espaço onde partículas extremamente pequenas (elétrons) se movimentam ao redor do núcleo com um aspecto dual. Dependendo do modo como observamos, elas se apresentam ora como partículas, ora como ondas. Isso significa que nem o elétron nem qualquer outro objeto atômico possuem propriedades intrínsecas, independentes do seu meio ambiente. As propriedades que ele apresenta dependem exclusivamente da situação experimental vivenciada (CAPRA, 2000, 2004). Niels Bohr propôs o princípio da complementaridade paraexplicar a dualidadeonda-partícula. Em situações experimentais, uma determinadamedida só revela uma natureza ondulatória oucorpuscular de um objeto, de forma que é impossível, nomesmo experimento, mostrar sua dupla natureza.Bohr reconheceu, 14 ainda, uma analogia entre a análise dos fenômenos atômicos e aspectos da psicologia humana. Na descrição de experiências psíquicas, há uma relação de complementaridade semelhante à da descrição de experiências referentes ao comportamento dos átomos e das partículas subatômicas, obtidas em diferentes situações experimentais. A aproximação epistemológica que Bohr identificou entre ambas, sugere que o princípioda complementaridade pode ter correspondência comfenômenos biológicos, psíquicos e sociais (CZERESNIA, 2008). Probabilidade: No nível subatômico, a matéria não existe com certeza em lugares definidos, ao invés disso, mostra tendências para existir e os eventos atômicos não ocorrem com certeza em tempos definidos e de maneiras definidas, mas antes, mostram tendências para ocorrer. Essas tendências são expressas como probabilidades e todas as leis da Física atômica se expressam em termos dessas probabilidades. Não é possível predizer com certeza um evento atômico, apenas prever a probabilidade de sua ocorrência (CAPRA, 2000, 2004). Interconexões ̸ correlações: Uma análise cuidadosa do processo de observação na Física atômica mostra que essas partículas carecem de significado como entidades isoladas e somente podem ser entendidas como interconexões ou correlações entre vários processos de observação e medição. Quando penetramos na matéria, a natureza não nos mostra quaisquer elementos básicos isolados, mas apresenta-se como uma teia complicada de relações entre as várias partes de um todo unificado(CAPRA, 2000, 2004). Esse é o conceito central da teoria da Física Quântica, onde se concorda que ondas de objeto quântico são ondas de possibilidade. Cada mensuração causa uma mudança no estado da matéria, passando de uma onda de possibilidade para uma partícula real. Esta mudança é conhecida como colapso da função de onda. Simplificando, essa é a redução de todas as possibilidades do aspecto de onda em uma certeza temporária do aspecto de partícula (GOSWAMI, 2008). Nesse reino de possibilidade, o elétron não está separado do observador e da sua consciência. Quando a consciência causa o colapso da onda de possibilidade ao escolher uma dos possíveis facetas do elétron, essa faceta se torna ato, manifestação. Simultaneamente, a onda de possibilidade do detector de elétrons também sofre colapso, produzindo um sinal; e a mesma coisa acontece com a onda de possibilidade do cérebro do observador, que também registra o 15 evento (GOSWAMI, 2006). Essa questão nos leva a uma nova visão da realidade, uma visão onde a realidade subjetiva ou virtual da mente e a realidade física, exterior ou objetiva da matéria, estão inexplicavelmente interligadas e essa ligação transcende o tempo e o espaço (WOLF, 2003). Não localidade:Bohr afirmou que o sistema de duas partículas é um todo indivisível, mesmo que as partículas estejam separadas por uma grande distância; o sistema não pode ser analisado em termos de partes independentes. Mesmo separados no espaço, eles estão ligados por conexões instantâneas e não locais. O comportamento de qualquer parte é determinado por suas conexões não locais com o todo(CAPRA, 2000, 2004). A não localidade foi comprovada experimentalmente em diferentes átomos e situações por físicos nas últimas décadas, inclusive em trabalhos bem recentes publicados na revista Science (HOFMANN et al, 2012), e com isso, também foi confirmada a existência de um domínio de realidade transcendente, para além do domínio material do espaço tempo. Isso contradiz diretamente o pressuposto do realismo materialista, de um mundo material único e confirma diretamente a ideia de transcendência encontrada nas tradições espirituais (GOSWAMI, 2003). Nesses efeitos não locais, os eventos ocorrem em pontos separados em A e em B, mas estão ligados de maneira misteriosa. Essa ligação é tão sutil que não há maneira de mandar um sinal de A para B, e isso é muito importante para a consistência da Teoria Quântica com a relatividade. Esse emaranhamento quântico está em algum lugar entre objetos separados e em comunicação recíproca, é um fenômeno pertencente exclusivamente à Mecânica Quântica e não existe nenhum análogo dele na física clássica (PENROSE, 1998). VisãosistêmicaouBootstrap: A abordagem bootstrap foi proposta por Geoffrey Chew no começo dos anos de 1960. Ele e outros físicos usaram-na para desenvolver uma teoria abrangente das partículas em interação forte, em conjunto com uma filosofia mais geral da natureza. Segundo a filosofia bootstrapanaturezanãopodeserreduzida a entidadesfundamentais, mas tem de serinteiramenteentendidaatravés da autocoêrencia. Com essa filosofia, o universo é visto como uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados. Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia é fundamental; todas elas decorrem das propriedades das outras partes do todo, e a coerência total de suas inter-relações determina a estrutura da teia. No nível subatômico, as inter-relações e interações 16 entre as partes do todo são mais fundamentais do que as próprias partes (CAPRA, 2000, 2004). Descontinuidade: O elétron se apresenta em movimento contínuo em torno de seu núcleo atômico. Porém, pode acontecer do elétron saltar de uma órbita atômica para outra, e Bohr dizia, o salto é descontinuo já que o elétron não passa pelo espaço que separa as duas órbitas, ele simplesmente desaparece de uma órbita e reaparece em outra(GOSWAMI, 2006). A transição de uma dessas configurações para outra consiste num salto quântico. Se a segunda necessitar de maior energia para realizar a transição, o sistema deve ser suprido de fora, pelo menos com a diferença de energia. Para um nível inferior, ele pode mudar espontaneamente, desprendendo a energia em excesso, sob a forma de radiação (SCHRODINGER, 1997). 2.1.2 A Física Quântica e a Teoria da Complexidade Algumas décadas apóso surgimento da Física Quântica surgiu a Teoria do Caosae a Geometria Fractalb, que formaram as bases para o nascimento da Ciência da Complexidade a partir dadécada deoitenta (WALDROP, 1993; KAUFFMAN, 1995; MCDANIEL; DRIEBE, 2001; MAINZER, 2004).Essa ciência propõe diferentes modelos de como a natureza e as organizações de um modo geral funcionam, sendo amplamente utilizada atualmente (STERELNY, 2008; CALDARELLI; GARLASCHELLI, 2009). Em contraste com o modelo cartesiano de máquina, a Teoria da Complexidade sugere que as organizações, bem como a saúde, são orgânicas como sistemas vivos(CAPRA, 2002; AGOSTINHO, 2003; SCHENEIDER; BAUER, 2007). A Teoria da Complexidade traz para os fenômenos da vida cotidiana os conceitos levantados na análise da vida microscópica pela Física Quântica, com a influência da Teoria do Caos, Geometria Fractal e o Pensamento Sistêmico. Foi a partir das rupturas na ciência clássica ocorridas no século XX que alguns pesquisadores, pensadores, filósofos, educadores e outros profissionais começaram a trabalhar e a por em prática os conceitos da chamada Nova Ciência. aA Teoria do Caos surgiu na década de 1960, a partir das ciências da metereologia. b Os Fractais surgiram em 1970 e são ferramentas para se entender os padrões formados pelos sistemas naturais. 17 Assim, os fenômenos da vida tanto organizacional, educacional, relativos à saúde, ao meio ambiente, à espiritualidade, dentre outros, são vistos como complexos. Com isso, esses fenômenos passam a serem tratados a partir de teorias e conceitos que são mais compatíveis com uma realidade ampliada (GUERRINI; SPAGNUOLO, 2009). Um dos braços da Ciência da Complexidade está no conceito de rede que tem sido muito estudado nos últimos anos.As redes são especificadas pela interligação das informações de um sistema e pelo tráfego da informação pelo sistema (BARRAT, 2004). É possível verificar que o entendimento de redes experimentou uma revolução por causa da emergência de uma nova ordem de ferramentas e técnicas teóricas para o mapeamento de redes reais. Estes avanços têm incluído algumas surpresas indicando que a maioria das redes reais nos sistemas de tecnologia, sistemas sociais e biológicos apresentam desenhos em comum que são governados por princípios de organização simples e quantificáveis (BARABASI, 2003). O interesse crescente na interconectividade tem trazido a foco uma questão ignorada: as redes permeiam todos os aspectos da saúde humana (BARABASI, 2007). A Ciência da Complexidade adota um modelo que vê os fenômenos comosistemasconstituídos por uma rede de elementos que trocam informações entre si, de forma que a mudança do contexto de um elemento muda o contexto de todos os outros elementos (CILLIERS, 1998). A metáfora organizacional muda, então, da visão da máquina para a de ecossistema de elementos co-envolvidos (PALLA; BARABASI; VICSEC, 2007). O ser humano é, visto desse modo, como uma totalidade dinâmica, biológica, psicológica, social, cultural eespiritual indissociável (BARBIER, 2007). Assim, a Ciência da Complexidade vem sendo aplicada em todas as áreas do conhecimento nos últimos anos, inclusive com muita ênfase na área da saúde (MEIRELLES; ERDMANN, 2006). As características essenciais do modelo de complexidade, sob a perspectiva do cuidado em saúde, são: 1) Sistemas complexos consistem em um elevado número de elementos que interagem entre si. Estas interações são predominantemente de curto alcance com informações sendo recebidas dos vizinhos próximos. De qualquer 18 maneira, a riqueza desta rede de conexões significa que a comunicação irá atravessar o sistema, mas também será modificada no caminho (KERNICK, 2004). 2) Existe realimentação repetida nas interações da rede(não- linearidade). Os efeitos da ação de um elemento são recorrentemente realimentados ao elemento e isto, em contrapartida, afeta seu comportamento no futuro. A realimentação negativa (estável) e positiva (instável) geram o surgimento da não-linearidade a qual é a única característica que faz com que o sistema complexo seja diferente do sistema complicado. Estas instabilidades não-lineares conduzem para a novidade e para a inovação e fazem com que o comportamento futuro destes sistemas seja imprevisível, esse é o princípio do funcionamento de um fractal dinâmico natural (KERNICK, 2004). Segundo Capra(1997), isto não significa que a teoria do caos não é capaz de quaisquer previsões. Ainda podemos fazer previsões muito precisas, mas elas se referem às características qualitativas do comportamento do sistema e não aos valores precisos de suas variáveis num determinado instante. Assim, a nova matemática representa uma mudança da quantidade para a qualidade, o que é característico do pensamento sistêmico em geral. Enquanto a matemática convencional lida com quantidades e com fórmulas, a Teoria dos Sistemas Dinâmicos lida com qualidades e com padrões. Da mesma forma, os fractais tradicionais são padrões determinísticos, onde a fase final (atrator) é identificada, e os fractais naturais são dinâmicos e instáveis, sujeitos às mínimas interferências externas (Efeito borboleta). 3) Devido às características não-lineares, pequenas mudanças em uma área podem ocasionalmente provocar amplos efeitos através de todo o sistema(Efeito borboleta). Isto tem sido chamado de "Efeito Borboleta", citado no item anterior (uma borboleta batendo suas asas na floresta amazônica pode causar um tornado no Texas, segundo Lorenz, o cientista que o identificou primeiro). Um exemplo é que a alteração de uma minúscula espécie vegetal pertencente a um ecossistema pode alterar totalmente o ecossistema dentro de certo tempo(KERNICK, 2004). O advento do Efeito Borboleta, da década de 1960, é um efeito que mostra aextrema sensibilidade de sistemas abertos a perturbações externas, ou seja, àscondições externas ou iniciais. Hoje se sabe que esse efeito atua em todos ossistemas naturais e flexíveis e também naqueles que buscam a 19 eficácia natural parafuncionar, como é o caso das organizações humanas complexas e quânticas, bem como da saúde(ZOHAR, 2006). No campo dasaúde, é o Efeito Borboleta aliado a alguns fenômenos quânticos que juntos podemlançar luz, sobre o funcionamento da homeopatia, dos remédios florais e de outras práticas integrativas complementares, incluindo o papel significativo e positivo da espiritualidade(CELANO; GUERRINI, 2008). 4) O sistema é diferente das somas das partes. No esforço para entender o sistema através de sua redução em suas partes componentes, o método analítico destrói o que ele busca compreender(KERNICK, 2004). A Teoria da Complexidade propõe uma visão da relação do todo com as suas partes onde a organização do todo pode ser diferente da soma das partes econstitui um processo em que aparecem propriedades emergentes (novas, nãocontidas na história das partes) surgidas especificamente da organização do todo, com capacidade deretroalimentação do sistema.Como o todopode ser também menor que a soma das partes, isto é,pode ter qualidades inibidas na formação da totalidade, pode haver exigências aserem implantadas em circunstâncias que exigem uma mudança nas rotinaspreestabelecidas na formação do todo. Por sua vez, o todo também está contido emcada parte, concentrado e particularizado como se fosse um código que garantisseque cada uma das partes exista, se comporte e se articule com as demais comoelemento de constituição da totalidade. Este fato é chamado de princípiohologramático(MORIN, 2008). 5) O comportamento dos sistemas complexos envolve a interação de agentes em um nível local sem uma direção externa ou a presença de controle interno (emergência). Esta propriedade é conhecida como emergência e ela dá aos sistemas a flexibilidade de se adaptar e de se auto-organizar em resposta ao desafio externo. Emergência é um modelo de sistema de comportamento que não poderia ser previsível através de uma análise das partes componentes do sistema. Uma propriedade emergente surge no comportamento do sistema todo e não é redutível às partes(KERNICK, 2004).Por décadas, os cientistas que estudam os sistemas complexos têm falado sobre "emergência", o misterioso processo pelo qual o todo coletivo adquire flexibilidade, adaptabilidade e outras propriedades surpresas, mesmo que os seus componentes sejam simples. O exemplo arquetípico 20 desta propriedade é a colônia de formigas, a qual é gerenciada durante a procura inteligente por comida e organizada para a defesa coletiva com o uso das limitadas habilidades de cada formiga(BUCHANAN, 2009). 6) Os sistemas complexos frequentemente operam longe do equilíbrio e múltiplos equilíbrios são possíveis. Estados de equilíbrio estão invariavelmente abaixo do nível ótimo, de acordo com Prigogine(1996). Os Sistemas Adaptativos Complexos foram definidos inicialmente por Gell-Mann(1994) e tratados com mais detalhes em termos da compreensão do seu funcionamento quando aplicado ao ser humano por Celano e Guerrini (2008) e Guerrini e Spagnuolo(2008) ficando identificados como Sistemas Dinâmicos Complexos e Adaptativos (SDCA), em contraposição aos Sistemas Simples (SS) da Ciência clássica. De acordo com outros pesquisadores, os fenômenos da vida, incluindo a saúde dos indivíduos, podem ser entendidos como Sistemas Dinâmicos Complexos Adaptativos (SDCA) e podem existir em três estágios: estabilidade, instabilidade e caos. Sistemasestáveis estão no estado de equilíbrio, são resistentes à mudança e pequenasperturbações são debeladas rapidamente para manter o status quo. Sistemasinstáveis estão no estado de desequilíbrio, são altamente sensíveis à mudança e pequenas turbulências podem conduzi-los rapidamente à desintegração. Sistemascaóticos estão num estado longe do equilíbrio, são sensíveis a pequenasturbulências, são capazes, portanto, de promover mudanças rápidas. No entanto, ao contrário dos sistemas instáveis, sistemas caóticospodem atingir um ponto crítico em que se auto-organizam espontaneamente em umanova estrutura de complexidade ou padrão de comportamento. Portanto, no estadode caos, pequenos efeitos são requeridos para mudar o sistema. Os SDCA podem se moverde um estado para outro mediante a manipulação de seus parâmetros decontrole (ANDERSON; MCDANIEL, 1999). 7) É difícil a determinação de limites de um sistema complexo. O limite dos sistemas complexos é irregular e instável(CELANO; GUERRINI, 2008), além do que é frequentemente baseado nas necessidades do observador e este interfere mais do que qualquer outra propriedade intrínseca do sistema. Por exemplo, profissionais da saúde responsáveis pelos cuidados primários encontram 21 dificuldades na definição dos limites entre saúde e cuidado social em seus trabalhos(KERNICK, 2004). 8) A História é importante em sistemas complexos. O passado influencia o comportamento presente. Por exemplo, seria imprudente planejar as novas estruturas em cuidados primários sem o reconhecimento do que já foi feito. Há sempre, num sistema complexo o chamado “efeito de memória”, ou seja, os padrões do passado sempre têm força, seja num indivíduo ou numa organização. Quanto mais perto do equilíbrio, essa força é maior, quanto mais longe do equilíbrio, mais o sistema consegue ser flexível para alterar os padrões antigos (KERNICK, 2004). A pesquisa e a prática em saúde pública têm sido orientadas por um paradigma hegemonicamente cognitivo e racional, que consequentemente, vem produzindo mudanças lineares e previsíveis. No entanto, os pressupostos conceituais e estatísticos subjacentes a esse paradigma podem se apresentar insuficientes. Em particular, essa perspectiva não considera adequadamente as influências não lineares e quânticas no comportamento humano. A mudança no comportamento da saúde pode ser melhor entendida através das lentes da teoria do caos e sistemas dinâmicos adaptativos complexos, onde os princípios relevantes incluem que a mudança de comportamento (1) é muitas vezes um evento quântico, (2) pode assemelhar-se a um processo caótico que é sensível às condições iniciais, altamente variável, e difícil de prever, e (3) ocorre dentro de um SDCA com múltiplos componentes, onde os resultados são muitas vezes maiores que a soma de suas partes (RESNICOW; PAGE, 2008). A partir das informações descritas, podemos entender a saúde como um Sistema Dinâmico Complexo Adaptativo (SDCA), que é constituída por vários elementos (espiritualidade,saúde mental, qualidade de conexão consigo mesmo, emoções positivas, capacidade de auto-observação, prática espiritual ou religiosa, dentre outros) e estes elementos se inter-relacionam continuadamente. Também podemos entender que esses temas, ou seja, o tratamento com os remédios Florais de Bach, a espiritualidade e a saúde mental acabam por gerar uma propriedade emergente chamada de “saúde integral” que pode ser muito bem utilizada numa unidade aberta de cuidado de saúde.Com isso, quando provocamos uma pequena ou sutil modificação no indivíduo, bem como no sistema de saúde envolvido em sua 22 cura, isso pode provocar ampla repercussão em todo o sistema, transformando-o completamente. 2.2 Terapia Floral O surgimento de novos modelos de cura e saúde a partir da segunda metade do século XX, sobretudo com o movimento social urbano denominado contracultura, desencadeado nos anos 60 e prolongado durante os anos 70 nos EUA e na Europa, incluiu a importação de modelos e sistemas terapêuticos distintos daqueles da racionalidade médica convencional. Além da importação de antigos sistemas médicos, como a Medicina Tradicional Chinesa e a Ayurvédica, a reabilitação das medicinas populares ou folk do país (como as xamânicas ou as ligadas às religiões afro-indígenas) foi um evento histórico que atingiu não apenas o Brasil, mas os países latino-americanos, principalmente durante a década de 80. Tal evento pode ser evidenciado pelos indícios: grande desenvolvimento nos centros urbanos de farmácias e lojas de produtos naturais tradicionais ou recentes; reaparecimento do “erveiro” (vendedor de plantas medicinais) como agente de cura, e aparecimento no noticiário da grande imprensa escrita e televisiva de reportagens frequentes sobre os efeitos curativos de terapias integrativas complementares, denotando aumento da procura das mesmas por um número significativo de pessoas (LUZ, 2005). As Medicinas Integrativas e Complementares (MIC) são muito antigas e apresentam formas muito similares de compreensão da saúde, visto que elas consideram os diversos setores da vida, buscando uma visão integral do ser humano e de sua saúde. Nessa abordagem, a pessoa é vista como sendo constituída por vários aspectos, dentre eles: aspecto físico, aspecto emocional, aspecto mental, aspecto social, aspecto espiritual. Além dessas medicinas existem as Práticas Integrativas, que não necessariamente pertencem a uma medicina específica, porém, compartilham os princípios da busca por uma visão mais ampliada de entendimento, diagnóstico e tratamento à saúde. De acordo com Scheffer (1990), os Florais de Bach são considerados uma Terapia Integrativa Complementar e são reconhecidos e recomendados desde 1974, pela Organização Mundial da Saúde. 23 As Práticas Integrativas apresentam uma forte característica em comum com o sistema de saúde público brasileiro, o enfoque à saúde integral. Sabe-se que o Sistema Único de Saúde apresenta como princípio normativo a integralidade, e, de acordo com Tesser e Luz (2008), o senso comum do uso institucional e profissional do termo deixa poucas dúvidas, objetiva-se que essa diretriz oriente, no âmbito dos serviços públicos, e da ação de seus profissionais, uma atenção à saúde de boa qualidade, que considere as múltiplas dimensões e dê conta das várias complexidades dos problemas de saúde pública e das pessoas. Espera-se que os profissionais tenham uma abordagem integral, ampla e pluridimensional da saúde individual e coletiva. Além disso, a integralidade seria um atributo, usado também no contexto da atenção à saúde especializada, qualificador de uma ação interpretativa e terapêutica, preventiva ou “curativa” a mais ampla e global possível e, ao mesmo tempo, precisa, que integra as múltiplas dimensões da vida dos doentes, tanto do ponto de vista dos pacientes como do saber especializado que orienta o profissional da saúde (TESSER; LUZ, 2008). Desde o ano de 1992, um grupo de pesquisas liderado por Madel Luz e intitulado de Grupo CNPq Racionalidades Médicas, enfoca o campo da saúde coletiva no Brasil, levando em conta a multiplicidade de saberes e práticas presentes na sociedade e nas instituições de saúde, em sua diversidade política, cultural e epistemológica. O projeto desse grupo desenvolveu-se inicialmente em torno da categoria operacional “racionalidade médica”, onde estão incluídas as medicinas e práticas integrativas complementares (LUZ, 1995; LUZ, 2000; TESSER; LUZ, 2008). Os sistemas médicos complexos (Biomedicina, Medicina Tradicional Chinesa) e as práticas integrativas (Florais de Bach, Iridiologia, Geoterapia, dentre outros) estão inseridos no conceito de racionalidade médica. Uma racionalidade médica é um conjunto integrado e estruturado de práticas e saberes composto de cinco dimensões interligadas: uma morfologia humana (anatomia, na biomedicina), uma dinâmica vital (fisiologia), um sistema de diagnose, um sistema terapêutico e uma doutrina médica (explicativa do que é a doença ou adoecimento, sua origem ou causa, sua evolução ou cura), todos embasados em uma sexta dimensão, uma cosmologia (LUZ, 1995; LUZ, 2000; TESSER; LUZ, 2008). A partir dessa delimitaçãoespecífica, pode-se distinguir entre sistemasmédicos complexos como a Biomedicina, e, as terapias oumétodos diagnósticos isolados,como por exemplo, os Florais de Bach ou a Iridologia, que proliferam atualmente (LUZ, 2005). 24 É possível observar um consistente aumento na procura das racionalidades médicas e das práticas integrativas complementares (PIC), o que torna importante para o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Saúde Coletiva o desafio da propagação da sua integralidade nos meios acadêmicos, muito restritos em nosso país, para a periferia intermediária e exotérica, representada pelos usuários dos serviços de saúde e os leigos. O SUS constitui-se em locus privilegiado de desenvolvimento da expansão dessas outras racionalidades médicas e de sua integralidade. E, recentemente, inicia-se um movimento de reconhecimento e valorização das mesmas, através da edição da primeira Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), pela Portaria 971 do Ministério da Saúde. Um investimento cuidadoso num movimento de legitimação dessas racionalidades médicas no SUS e sua oferta à população na rede básica é uma estratégia promissora de enriquecimento e ampliação do coeficiente de integralidade nas práticas do SUS. Algumas experiências pioneiras de municípios, entre os quais podemos mencionar Campinas, São Paulo, Rio de Janeiro e Volta Redonda, indicam quetais racionalidades são amplamente aceitas e alteram para melhor a prática da biomedicina, nos locais em que elas coexistem e interagem (TESSER; LUZ, 2008). O Ministério da Saúde apresentou no ano de 2006 a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, cuja implementação envolve justificativas de natureza política, técnica, econômica, social e cultural. Esta política atende, sobretudo, à necessidade de se conhecer, apoiar, incorporar e implementar experiências que já vêm sendo desenvolvidas na rede pública de muitos municípios e estados, entre as quais destacam-se aquelas no âmbito da Medicina Tradicional Chinesa-Acupuntura, da Homeopatia, da Fitoterapia, da Medicina Antroposófica e do Termalismo-Crenoterapia. No entanto, nesta política ainda não foi incluída a terapia floral. A partir das experiências existentes, esta Política Nacional define as abordagens da PNPIC no SUS, tendo em conta também a crescente legitimação destas por parte da sociedade. Um reflexo desse processo é a demanda pela sua efetiva incorporação ao SUS, conforme atestam as deliberações de algumas Conferências Nacionais (de Saúde, de Vigilância Sanitária, de assistência Farmacêutica, de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). A PNPIC contribui para o fortalecimento dos princípios fundamentais do SUS ao atuar nos campos da prevenção de agravos e da promoção, manutenção e 25 recuperação da saúde baseada em modelo de atenção humanizada e centrada na integralidade do indivíduo. Nesse sentido, o desenvolvimento desta Política Nacional deve ser entendido como mais um passo no processo de implantação do SUS.O campo da PNPIC contempla sistemas médicos complexos e práticas terapêuticas, os quais são também denominados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de Medicina Tradicional e Complementar/Alternativa (MT/MCA). No final da década de 70, a OMS criou o Programa de Medicina Tradicional, com o objetivo de formular políticas na área. Desde então, em vários comunicados e resoluções, a OMS expressa o seu compromisso em incentivar os Estados-membros a formularem e implementarem políticas públicas para o uso racional e integrado da MT/MCA nos sistemas nacionais de atenção à saúde bem como para o desenvolvimento de estudos científicos para melhor conhecimento de sua segurança, eficácia e qualidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). O relatório anual da OPAS de 2006 inclui as essências florais entre as práticas complementares com crescimento progressivo no atendimento à populações com dificuldade de acesso aos serviços de saúde (PAHO, 2006). No Brasil, a legitimação e a institucionalização dessas abordagens de atenção à saúde iniciaram-se a partir da década de 80, principalmente, após a criação do SUS. Com a descentralização e a participação popular, os estados e municípios ganharam maior autonomia na definição de suas políticas e ações em saúde, vindo a implantar as experiências pioneiras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Embora a PNPIC não seja específica em relação à Terapia Floral, essa interpretação é possível devido a abordagem da Fitoterapia nessa política, visto que esses remédios são feitos a base de flores silvestres, e essas, por sua vez, também apresentam indicação e utilização fitoterápica. Além disso, o Ministério do Trabalho reconhece aterapia floral como profissão. Ela foi inserida na classificação nacional de atividade econômica dentro das atividades de práticas integrativas ecomplementares em saúde humana, recebendo o código 8690-9/0 (CONCLA, 2012). Como exemplos de institucionalização dessas abordagens, tem-se na legislação doestado de São Paulo, a Lei nº 13.717/2004, e do Rio de Janeiro, a Lei nº 5.471/2009, que dispõem sobre a implantação das Terapias Naturais no sistema público de saúde, que incluem a terapia floral. 26 No estado de São Paulo, o Poder Executivo Municipal ficou incumbido da implantação das Terapias Naturais para o atendimento da população do Município de São Paulo. Entendem-se como Terapias Naturais todas as práticas de promoção de saúde e prevenção de doenças que utilizem basicamente recursos naturais, destacando-seas modalidades: Massoterapia, Fitoterapia, Terapia Floral, Acupuntura, Hidroterapia, Cromoterapia, Aromaterapia, Geoterapia, Quiropraxia, Terapias de Respiração, dentre outros (SÃO PAULO, 2004). No estado do Rio de Janeiro,foi criado o Programa de Terapia Natural para o atendimento da população do Estado com vistas ao seu bem estar e a melhoria da qualidade de vida. Alguns dos objetivos desse Programa são a promoção da saúde e a prevenção de doenças através de práticas que utilizam basicamente recursos naturais; e a implantação da Terapia Natural junto às unidades de saúde e hospitais públicos do Estado, tais como: Massoterapia, Fitoterapia, Terapia Floral, Acupuntura, Hidroterapia, Cromoterapia, Aromaterapia, Oligoterapia, Geoterapia, Naturologia, Ortomolecular, Terapias da Respiração, dentre outras (RIO DE JANEIRO, 2009). O lado positivo dessas iniciativas é que elas representam um primeiro e importante passo na universalização do acesso às práticas integrativas, porém, infelizmente, essas ainda são iniciativas isoladas. Acredita-se que com o crescimento da quantidade de estudos envolvendo esses temas; a ampliação e divulgação dessas abordagens em saúde para outros profissionais e pesquisadores; em conjunto com uma iniciativa política mais prática e menos teórica, seja realmente possível que as práticas integrativas se tornem cada vez mais acessíveis à população em geral, principalmente à população mais carente. As essências florais são remédios, na sua maioria, extraídos de flores silvestres, que foram especialmente selecionadas e que apresentam a propriedade de atuar sobre os estados emocional, espiritual, físico e mental das pessoas. Esse conhecimento foi sistematizado por um médico inglês chamado Dr.Edward Bach, que, ao publicar seu método de preparo das essências florais, estimulou a criação de outros sistemas florais, uma vez que se tornou possível fazer testes com flores de outros biomas para avaliação de seus efeitos. O sistema de remédios florais de Bach é o mais conhecido e vendido no mundo, mas existem atualmente outras centenas, inclusive sistemas brasileiros. Outros sistemas florais que são bem conhecidos são os Californianos e os Florais Australianos (VALVERDE, 2000). 27 O sistema de remédios florais de Bach é constituído por 38 essências mais um remédio emergencial, o rescue remedy, que é constituído por cinco dessas essências e serve para situações pontuais e de emergência. Cada uma dessas essências atua em estados emocionais e mentais específicos, sendo que 37 são extraídas de flores silvestres ou de árvores e apenas uma é extraída a partir de água de uma fonte natural que apresenta propriedades curativas (VALVERDE, 2000; BACH, 2006). 2.2.1 Terapia Floral de Edward Bach As essências florais não são remédios recentes, as diferentes culturas de povos ancestrais já as utilizavam para aliviar seus males, inclusive no antigo Egito, onde eles foram muito populares. No século XV, Paracelso escreveu como recolher o orvalho das plantas em floração e como diluí-las para tratar os desequilíbrios emocionais. Os aborígenes australianos também costumavam utilizar esses remédios para alcançar o equilíbrio emocional. No Peru, que foi o berço de uma das civilizações que alcançou um alto nível de desenvolvimento na cultura médica, eles também foram utilizados (VALVERDE, 2000). O conhecimento, a sistematização e a divulgação dos remédios florais se devem a um pesquisador do século XIX, Dr. Edward Bach, que é o responsável pela forma como essa terapia é conhecida atualmente. Segundo Valverde (2000) eScheffer (1997), Bach nasceu no dia 24 de setembro de 1886 em Moseley, na Inglaterra e desde criança mostrou muita intuição e sensibilidade. Em 1912 se formou em medicina, tendo se especializado em Bacteriologia, Imunologia e Saúde Pública. Durante a I Guerra Mundial trabalhou intensamente, sendo responsável por 400 leitos de feridos de guerra. Nessa época ele pode observar como os pacientes reagiam diante das enfermidades e como essa reação influía no curso delas. Pode perceber que o mesmo tratamento aplicado a pessoas diferentes nem sempre curava a mesma enfermidade e que pacientes similares em temperamento melhoravam com o mesmo remédio. Tornou-se evidente para ele que, no tratamento das enfermidades, o temperamento do paciente tinha mais importância que a enfermidade física. Dr. Bach trabalhou em um Hospital homeopático de Londres nos anos de 1919 a 1922. Nesse período ficou muito interessado nos trabalhos de Samuel 28 Hahnemann, o fundador da Homeopatia, que já reconhecia a importância do temperamento na enfermidade. Combinando estes princípios com a Medicina convencional, ele desenvolveu os Sete Nosódios de Bach, que eram vacinas extraídas de bactérias intestinais, as quais purificavam o trato intestinal com notáveis benefícios à saúde geral dos pacientes e em enfermidades crônicas, como por exemplo, a artrite (VALVERDE, 2000). No uso prático dos sete Nosódios ficou cada vez mais claro, que todos os pacientes que sofriam das mesmas dificuldades emocionais e psíquicas, também reagiam aos mesmos nosódios, mesmo sem levar em conta a enfermidade física. A partir desse momento, Dr. Bach só prescrevia seus nosódios depois da análise cuidadosa da estrutura da personalidade do paciente e dos resultantes estados emocionais agudos. Com isso, a experiência lhe deu razão e assim se firmou nele a convicção de que as doenças físicas tinham sua origem na psique humana. No sintoma da doença ele reconhecia nas pessoas a "consolidação de uma determinada postura psíquica". Apesar de seu grande sucesso e de sua fama crescente, ele sentia que ainda não havia encontrado a medicina ideal, pois se sentia cada vez mais afastado das bactérias e atraído para as forças curativas da natureza. A cada oportunidade ele deixava o laboratório por algumas horas ou passava um dia no campo ou junto ao mar, e com sua intuição procurava plantas e ervas que, com suas forças curativas naturais, podiam substituir os sete nosódios bacterianos (SCHEFFER, 1997; VALVERDE, 2000; SCHEFFER, 2005). Durante um jantar em 1928, ele teve um insight. Ao observar os convidados, lhe ocorreu que toda a humanidade poderia ser dividida em uma quantidade definida de tipos de temperamentos. Bach se dedicou a observar durante o resto da noite como as pessoas comiam, sorriam, como se movimentavam, suas expressões faciais e o tom de voz que usavam. Percebeu que algumas pessoas eram tão semelhantes entre si que pareciam da mesma família, sem na realidade o serem. Com isso, pode concluir que os indivíduos de cada grupo não sofreriam das mesmas enfermidades, mas reagiriam da mesma maneira frente às enfermidades. No outono desse ano, visitou o País de Gales e trouxe com ele duas plantas, Mimulus e Impatiens, preparou-as como vacinas orais e receitou-as de acordo com o temperamento do doente, com resultados positivos e imediatos. Mais tarde adicionou a planta Clematis. A partir dessas três plantas ele desenvolveu todo um novo sistema terapêutico (VALVERDE, 2000). 29 Em 1930, ele desistiu do consultório particular e do seu trabalho científico em Londres para se mudar para o campo, no País de Gales. Ali, em meio à natureza ele se dedicou exclusivamente à busca das mais eficazes flores silvestres. Enquanto caminhava pela manhã no campo, observando o orvalho, compreendeu subitamente que cada gota de orvalho que era aquecida pelo sol, poderia adquirir as propriedades curativas da planta no qual se encontrava depositada. Assim Dr. Bach descobriu seu famoso método solar com o qual, através dos raios solares diretos, conseguiu passar a força vital curativa das flores silvestres diretamente para a água fresca da fonte, sem adição de substâncias. Para as flores silvestres das árvores, ele usava o método da fervura com o mesmo objetivo (método da cocção) (SCHEFFER, 2005). Nesse trabalho continuado, sua intuição e sensibilidade foram muito estimuladas a ponto de ao tocar em uma flor ou ao colocar uma flor em seus lábios fechados, podia imediatamente sentir quais eram seus efeitos curativos. Nesse mesmo ano escreveu um livro chamado "Cura-te a Ti mesmo". Nele é explicada a teoria de que a enfermidade física é o resultado do conflito da Alma com a personalidade. Esse livro foi publicado em 1931 e continua a ser reeditado desde então (SCHEFFER, 1997; VALVERDE, 2000). Interessante verificar que as conclusões do trabalho do Dr. Bach aconteceram na mesma época da revolução causada pela Física Quântica, dentro do pensamento científico. O Dr. Bach não cobrava pelas suas consultas e seus recursos financeiros foram se extinguindo. Em 1934, mudou-se para Mount Vernon em uma pequena casa onde ainda hoje funciona como Centro do Dr. Edward Bach. Ele continuou a trabalhar, escrevendo, formando assistentes e atendendo pacientes, prosseguindo com a sua busca por outros florais. Durante essa fase, sofreu consideravelmente tanto mental quanto fisicamente, até conseguir encontrar as plantas que aliviassem seus sintomas. Assim que finalizoua criação de seu sistema terapêutico, viu que não eram necessários mais florais, pois esses, na sua percepção, cobriam todos os aspectos da natureza humana e assim todos os estados emocionais negativos subjacentes às enfermidades.Assim, no período entre 1928 e 1935 ele descobriu os 38 remédios florais e escreveu os fundamentos da sua nova medicina (SCHEFFER, 1997; VALVERDE, 2000). 30 2.2.2 Conceitos de Saúde e Doença do Dr. Bach Para entender a relação existente entre os temas do bem estar espiritual e os Florais de Bach, é importante observar os postulados elaborados peloDr. Bach a respeito da manifestação dos estados de saúde e doença. Esses postulados foram publicados em sua obra principal, Cura-te a ti mesmo. Segundo Bach(2006)a doença nãopode ser curada nem erradicada por métodos materialistas, pelo fato de que, em sua origem, ela não é material. O que se conhece como doença seria o derradeiro efeito produzido no corpo, o produto final de forças profundas desde há muito em atividade e, mesmo quando o tratamento material sozinho parece bem sucedido, ele age apenas como um paliativo, a menos que a causa real tenha sido eliminada. Em essência, a doença seria o resultado do conflito entre a Alma e a Mente, e ela sópoderia ser erradicada por meio de esforços mentais e espirituais do próprio indivíduo. Uma das exceções para o método de tratamento materialista seria a do método de Hahnemann, o fundador da homeopatia, pois o mesmo estudava a atitude mental de seus pacientes diante da vida, do meio ambiente e de suas próprias doenças. Ele buscava nas ervas do campo e nos domínios da natureza o remédio que haveria de curar os corpos enfermos e, ao mesmo tempo, elevaria a perspectiva mental do paciente. Em um primeiro momento a doença pode parecer cruel, porém na verdade, ela pode ser benéfica. Se interpretada da maneira correta, ela poderia servir de guia na direção dos principais defeitos individuais (BACH, 2006). Para Bach (VALVERDE, 2000; BACH, 2006), ao procurar entender a natureza da doença seria necessário reconhecer certas verdades fundamentais, que são: 1. As pessoas possuem uma Alma que é o seu eu real, um ser divino, que é uma centelha do Todo Poderoso, portanto imortal; 2. As pessoas tem a missão de alcançar todo o conhecimento e toda a experiência que possam ser adquiridos, com o objetivo de avançar em direção à perfeição de suas naturezas; 3. Deve-se compreender que a vida é apenas um breve instante no curso da evolução individual; 31 4. Se a pessoa apresentar uma relação harmoniosa entre sua Alma e personalidade, tudo é paz e alegria, felicidade e saúde. O conflito aparece quando as personalidades são atraídas para fora da senda traçada pela própria Alma, por obra de desejos terrenos ou pela persuasão dos outros; 5. Existe uma unidade em todas as coisas, o criador de tudo o que existe é o amor e, tudo aquilo de que temos consciência, em seu infinito número de formas, é manifestação desse amor. Com isso, é possível incorrer em dois erros básicos, o primeiro é a dissociação entre a Alma e a personalidade, e o segundo seria a crueldade ou a falta para com os outros, visto que são pecados que se cometem contra a Unidade. Qualquer um desses gera conflito que conduz à doença. A percepção a respeito do tipo de erro que se comete e o esforço sincero para corrigí-lo, conduzirá não apenas a uma vida de alegria e paz, mas também à saúde (BACH, 2006). A doença pode ser dividida em grupos principais que correspondem às suas causas específicas. A real natureza de uma enfermidade seria um guia eficaz para que se identifique o tipo de ação que se está praticando contra a Unidade. As doenças reais e básicas das pessoas seriam certos defeitos como o orgulho, a crueldade, o ódio, o egoísmo, a ignorância, a instabilidade e a ambição, visto que, todas essas características são contrárias à Unidade. Esses defeitos constituem a verdadeira doença e na perseverança dessas atitudes os resultados serão vistos e sentidos no corpo, na materialização da enfermidade (BACH, 2006). A prevenção e a cura acontecem quando é possível identificar o erro dentro de si mesmo e suprimí-lo por meio do cuidadoso aprimoramento da virtude que o destruirá, exatamente a virtude oposta. Certos males podem ser causados por meios físicos diretos, tais como os associados à ingestão de substâncias tóxicas, acidentes, ferimentos e excessos cometidos; mas, em geral, a doença se deve a algum erro básico em nosso temperamento, como nos exemplos já citados (BACH, 2006). Segundo Bach (2006)a melhor forma de ajudar a si mesmos é o pensamento sereno, a meditação, e colocar-se numa tal atmosfera de paz que a alma seja capaz de falar através da consciência e da intuição. Se puder fazer do recolhimento uma atitude diária, por um breve momento, completamente a sós e num lugar o mais tranquilo possível, sentado ou deitado tranquilamente, sem pensar 32 em nada ou pensando calmamente em sua missão de vida, poderão ser observados lampejos de conhecimento e de orientação. Durante esse processo, os pontos fracos podem ser descobertos e o remédio não consiste na luta contra eles, mas no firme desenvolvimento da virtude oposta. Combater um defeito aumenta o poder dele, mantém a atenção fixa na sua presença, e conduz a uma verdadeira batalha; o maior êxito que se pode esperar num caso desses é o da vitória através da supressão, o que deixa muito a desejar, dado que o inimigo permanece presente e pode, num momento de fraqueza, ressurgir com forças renovadas. Nessa perspectiva, o estado de saúde depende principalmente dos seguintes fatores (BACH, 2006): 1. Da compreensão da divindade que existe dentro de cada um; 2. Do conhecimento de que a causa básica da doença deve- se à desarmonia entre a personalidade e a Alma; 3. Da boa vontade e da habilidade para se descobrir a falta que está causando tal conflito; 4. Da remoção do defeito, desenvolvendo a virtude oposta. Dr. Bach (2006) vislumbrava que o médico do futuro teria dois objetivos principais, o primeiro, o de ajudar o paciente a alcançar um conhecimento de si mesmo e apontar-lhe os pontos fracos de sua natureza para sua autocorreção com a substituição por virtudes correspondentes e o segundo, o de ministrar os remédios que ajudem o corpo físico a recobrar a força, auxiliando a mente a serenar e ampliar sua percepção, trazendo assim a paz e a harmonia para a personalidade. Tais remédios existem disponíveis na natureza para a cura e o conforto da humanidade. Baseado nesses conceitos é possível entender que um problema espiritual poderia desencadear um sofrimento mental, emocional ou físico qualquer, em virtude de que na ótica do Dr. Bach, um problema espiritual nada mais é do que um problema de comunicação, um desentendimento entre a Alma e a personalidade de um indivíduo. 2.2.3 Convergências nosDiscursos de Bach e de Jung Um dos vetores do saber psíquico e comportamental é a Psicologia Humanista, na qual Jung faz parte. Nesse campo do saber, são importantes as inter- 33 relações e as informações que o sujeito estabelece com ele mesmo, com seu corpo, com seu meio e com sua espiritualidade (JACOEL, 2006). Carl Gustav Jung nasceu em 1875, na Suíça, em uma família voltada para a religião. Seu pai e vários outros parentes eram pastores luteranos, o que explica, em parte, desde a mais tenra idade, seu interesse por filosofia, questões espirituais e pelo papel da religião no processo de maturação psíquica das pessoas, povos e civilizações. Formou-se em medicina e se especializou em psiquiatria. É considerado um dos grandes pensadores do século XX, tendo criado a psicologia analítica, conhecida também como psicologia junguiana (GUIMARÃES, 2004). Alguns autores fazem uma análise comparativa do trabalho de Bach e outras escolas, onde enfatizam o pensamento analítico de Jung, uma vez que ambos concebem o homem como um ser em constante processo de individuação, que Bach chama de processo de evolução, cuja concretização é a realização (VALVERDE, 2000). Para Jung (2011), individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por individualidade entendermos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio "si-mesmo". A individuação significa um processo de desenvolvimento psicológico que faculte a realização das qualidades individuais dadas; em outras palavras, é um processo mediante o qual a pessoa se torna o ser único que de fato é. Com isso, ela não se torna egoísta, no sentido usual da palavra, mas procura realizar a peculiaridade do seu ser. A meta da individuação não é outra senão a de despojar o "si-mesmo" dos invólucros falsos da persona (máscara – complexo funcional a que se chegou por motivos de adaptação ou necessária comodidade) assim como do poder sugestivo das imagens primordiais (inconsciente coletivo). Jung e Bach entendiam e enalteciam a necessidade do ser humano em dar ouvidos à sua essência, seu ser verdadeiro, que coabita com o divino. Isso seria elemento primordial tanto para a manifestação do estado de saúde bem como para a autorrealização como ser humano. Os florais de Bach são conhecidos como uma ferramenta de autoconhecimento, onde, durante seu uso, podem ocorrer insights sobre questões emocionais e comportamentais a respeito de si mesmo, ao mesmo tempo em que podem catalisar o processo de evolução ou individuação, desde que o indivíduo esteja disposto e aberto a isso. Da mesma forma que Bach, Jung (2008) acreditava que o processo de cura começava com o autoconhecimentode cada indivíduo, que é a volta do ser 34 humano às suas origens, ao seu próprio ser e à sua verdade individual e social. As pessoas, quando educadas para enxergarem claramente o lado sombrio de sua própria natureza, aprendem ao mesmo tempo a compreender e amar seus semelhantes. Uma diminuição da hipocrisia e um aumento do autoconhecimento só podem resultar numa maior consideração para com o próximo, pois somos facilmente levados a transferir para nossos semelhantes a falta de respeito e a violência que praticamos contra a nossa própria natureza. Jung (2011) também dizia que a construção de uma persona coletivamente adequada significa uma considerável concessão ao mundo exterior, um verdadeiro autossacrifício que força o eu a identificar-se com a persona. Isso conduz algumas pessoas a acreditarem que são o que imaginam ser. Essas identificações com o papel social são fontes abundantes de neuroses. O sujeito jamais conseguirá desembaraçar-se de si mesmo, em benefício de uma personalidade artificial. A simples tentativa de fazê-lo desencadeia, em todos os casos habituais, reações inconscientes como caprichos, angústias, ideias obsessivas, fraquezas, vícios, entre outros. Para Jung (2011), atingir a meta da individuação significa que o indivíduo deve aprender a distinguir entre o que parece ser para si mesmo e o que é para os outros. É igualmente necessário que conscientize seu invisível sistema de relações com o inconsciente, a fim de poder diferenciar-se dele. No entanto, é impossível que alguém se diferencie de algo que não conheça. Os fatores inconscientes são realidades determinantes, do mesmo modo que os fatores que regem a vida da sociedade. Ambos apresentam um caráter coletivo. Assim, é possível distinguir entre o que eu quero e o que o inconsciente me impõe, como perceber o que meu cargo exige de mim e o que eu desejo. É esse o processo energético da vida, a tensão de opostos indispensável para a autorregulação. Mesmo diferentes em aparência e propósitos, esses poderes antagônicos, significam a vida do indivíduo. E justamente porque se relacionam entre si, tendem a unificar- se num sentido mediador. Com isso, é possível perceber um sentimento íntimo do que deveria ser e do que pode ser. Desviar-se de tal pressentimento significa extravio, erro e doença. Segundo Jung (2011), a individuação não só é desejável, mas absolutamente necessária. Caso contrário, sua fusão com os outros o levaria a situações e ações que o poriam em desarmonia consigo mesmo. A individuação não significa uma simples necessidade terapêutica, mas representa um alto ideal, uma 35 ideia do que podemos fazer de melhor. É oportuno acrescentar que isso equivale ao ideal cristão do Reino do Céu que está dentro de nós. A ideia básica desse ideal é que a ação correta provém do pensamento correto, e que não há possibilidade de cura ou de melhoria do mundo que não comece pelo próprio indivíduo. A respeito do que Bach afirmava sobre a ineficiência de se eliminar defeitos pessoais com sua supressão, Jung (2011) concordava e afirmava que a consciência se volta principalmente para fora, deixando as coisas interiores mergulhadas na obscuridade, sendo essa a postura fortificada pela cultura Ocidental. Essa dificuldade pode ser facilmente superada, se for considerada com espirito crítico e com toda concentração o material psíquico da vida particular e não apenas os acontecimentos exteriores. Infelizmente, é hábito o fato de silenciar pudicamente esse lado interior, já que o único método educativo consiste na supressão ou repressão das fraquezas, ou a exigência que as esconda do público. É bom acrescentar que isso não adianta coisa alguma. Como se pode observar, tanto Bach como Jung apresentam pontos de vista em comuns relacionados à saúde, cada um com seus termos particulares. Resumindo, eles entendiam que o autoconhecimento é peça fundamental e é o que conduz o indivíduo para a saúde, o bem estar espiritual e à autorrealização por meio da individuação. Esses dois médicos usavam tratamentos específicos para o mesmo fim. 2.2.4 Método de seleção das essências florais para o tratamento Essa forma de seleção pode entrar em contato com questões conscientes e inconscientes do indivíduo, como objetivo de realizar um trabalho gradual e suave em direção à individuação. Em relação aos materiais inconscientes, baseado em Jung, pode-se entender que eles se manifestam, dentre outras formas, por meio de dois caminhos, o da intuição e o da autonomia do inconsciente. Para Jung (2000), a intuição é a função psicológica que se ocupa de transmitir percepções através do inconsciente. Tudo pode ser objeto dessas percepções, tanto os objetos interiores como os exteriores e suas respectivas conexões. A intuição apresenta como peculiaridade o fato de não ser percepção sensorial, nem sentimento, nem conclusão intelectual se bem que possa se apresentar sob essas formas. Na intuição, os conteúdos nos são apresentados 36 como um todo coeso, sem que sejamos capazes de dizer ou averiguar, de imediato, como eles teriam se formado, ela é uma função perceptiva irracional. As pessoas apresentam duas camadas no inconsciente: um é o inconsciente pessoal e o outro é o inconsciente impessoal ou coletivo. O inconsciente coletivo é desligado do inconsciente pessoal, é totalmente universal; e seus conteúdos podem ser encontrados em toda parte, o que não é o caso dos conteúdos pessoais. O inconsciente pessoal contém lembranças perdidas, reprimidas (propositalmente esquecidas), evocações dolorosas, percepções que, por assim dizer, não ultrapassam o limiar da consciência (subliminais), isto é, percepções dos sentidos que por falta de intensidade não atingiram a consciência e conteúdos que ainda não amadureceram para a consciência. Corresponde à figura da sombra, que frequentemente aparece nos sonhos (JUNG, 2008). A respeito da sombra, Jung (2008) afirma que a energia tem o inconveniente de exigir um fluxo adequado para se produzir, caso contrário, fica represada e torna-se destrutiva. Mas nenhuma energia é produzida onde não houver tensão entre contrários, por isso, é preciso encontrar o oposto da atitude consciente,para que ocorra essa compensação de opostos. Ainda segundo Jung, como exemplo, o contrário do amor é o ódio, mas psicologicamente é a vontade de poder, portanto, onde impera o amor, não existe vontade de poder, e onde o poder tem precedência, ai falta o amor. Um é a sombra do outro. Observando do ponto de vista unilateral da atitude consciente, a sombra é uma parte inferior da personalidade, que devido a uma intensa resistência, é reprimida.O que é reprimido tem que se tornar consciente para que se produza a tensão entre os contrários, sem o que a continuação do movimento é impossível. Pode-se dizer que a consciência está em cima e a sombra em baixo, e como o que está em cima tende para baixo, e o quente para o frio, assim todo consciente procura, talvez sem perceber, o seu oposto inconsciente, sem o qual está condenado à estagnação, à obstrução ou à petrificação. É no oposto que se acende a chama da vida (JUNG, 2008). Em relação ao fenômeno da autonomia do inconsciente, Jung afirma que é bem provável que a tendência à autonomia seja uma peculiaridade mais ou menos geral do inconsciente. Essa tendência à autonomia é denunciada em primeiro lugar por estados afetivos que também ocorrem em pessoas normais e para tanto, não é preciso muito, como o amor e o ódio,muitas vezes a alegria e a tristeza bastam para acarretar uma troca entre o eu e o inconsciente. A autonomia do 37 inconsciente começa onde se originam as emoções. Essas trocas podem acontecer diariamente durante as atividades rotineiras. Estas são reações instintivas, involuntárias que perturbam a ordem racional da consciência com suas irrupções elementares. Os afetos não são "feitos" através da vontade, mas acontecem. A consciência sucumbe facilmente às influências inconscientes e estas são muitas vezes mais verdadeiras e lúcidas do que o pensar consciente (JUNG, 2000). 2.2.5 Preparo e Mecanismo de Ação das Essências Florais As essências florais são basicamente extratos líquidos cuja preparação exige um controle cuidadoso. A preparação deve ser realizada, preferencialmente in situ, ou seja, no lugar onde cresce a planta. As flores necessitam ser colhidas no momento do preparo e os utensílios a serem usados devem ser os mais naturais possíveis. A água deve ser a mais pura possível, ainda melhor se for de um manancial próximo ao habitat das flores. O conservante utilizado para proteger essa preparação, denominada tintura mãe, normalmente é o conhaque. Utilizando uma vasilha de cristal cheia de água, cobre-se a superfície com as flores, sem que elas se amontoem umas sobre as outras. Depois se deixa a vasilha exposta à luz direta do sol até que as flores comecem a murchar. Essa espera pode levar de 2 a 7 horas, dependendo da flor e da força do sol. Posteriormente, se retiram as flores com cuidado e despeja-se essa água em vidros, até a metade, na outra metade se insere o conhaque. A maioria das essências foi preparada dessa forma pelo Dr. Bach, outras poucas foram preparadas através da fervura (VALVERDE, 2000). Os florais, tais como algumas práticas integrativas, exercem o seu efeito tratando o indivíduo e não a doença ou seus sintomas. Atuam diretamente no aspecto emocional e mental. São remédios individualizados, e por mais que duas pessoas tenham o mesmo problema de saúde, por exemplo, hipertensão, as essências florais indicadas não serão necessariamente as mesmas. O efeito dos florais não é a supressão dos aspectos mentais emocionais negativos, mas a sua transformação em aspectos positivos (VALVERDE, 2000). Numerosas abordagens integrativas e complementares de saúde compartilham uma crença na existência de níveis de "energias sutis ou vitais" e vêem as doenças como resultantes de mudanças nesses níveis. Embora essa medicina energética envolva uma variedade de técnicas, acredita-se que todas elas 38 influenciam o organismo num nível mais fundamental. Essa concepção é muito semelhante a da tradição médica chinesa, e o mesmo pode ser dito de numerosos conceitos tradicionalmente aceitos. Por exemplo, quando os homeopatas falam de "força vital", ou os terapeutas reichianos, de "bioenergia", utilizam esses termos num sentido semelhante ao conceito chinês de chi. A principal finalidade dessas terminologias é descrever os padrões de fluxo e flutuação de energia no organismo humano (CAPRA, 2004). Cada uma das flores utilizadas pelo Dr. Bach encarna uma qualidade da alma, ou em termos energéticos, tem um comprimento determinado de ondas de energia. Cada uma dessas qualidades está em harmonia com certa qualidade da alma da pessoa, ou seja, com certa frequência no seu campo humano de energia. A alma humana contém todas as 38 qualidades da alma das flores de Bach, como potencialidades de energia, virtudes. Em outras palavras, ele atua como uma forma de catalisador, restabelecendo o contato entre alma e personalidade no ponto em que foi bloqueada. O equilíbrio se reestabelece na área onde a desarmonia e a rigidez haviam se instalado, em outras palavras, no bloqueio de energia. Ou como Dr. Bach dizia, o ser humano volta a ser ele mesmo no ponto em que o deixou de ser (SCHEFFER, 2005). Segundo Valverde (2000) a ação das essências florais é de natureza bioenergética. No preparo das tinturas ocorre a extração das energias sutis das flores, captando, dessa forma, uma informação eletromagnética definida. Isso ocorre devido ao procedimento de preparação especial, ao qual é submetida, onde se transfere as propriedades eletromagnéticas inerentes de cada flor, com todo seu padrão arquetípico e de vida, e onde se captura a frequência vibracional ou de ressonância que supostamente causa uma reestruturação da cadeia de hidrogênio da água da solução, convertendo a tintura a um padrão de informação definido, com possibilidades de atuar sobre determinados campos bioenergéticos específicos dos seres vivos. Esses campos bioenergéticos contém a informação energética vibracional, e no caso dos homens, de seu estado mental emocional atual, produzindo uma interação dessas energias pelo fenômeno da ressonância, atingindo dessa forma o efeito desejado de regulação bioenergética, que por sua vez, influirá para favorecer uma disposição mental emocional mais positiva. A terapia floral (VALVERDE, 2000) teve algumas raízes na homeopatia e isso se evidencia nas preparações das essências, não na sua metodologia, mas 39 no conteúdo estrutural da fórmula, pois buscou um método de potenciação homeopático diferente para as flores. O procedimento de preparação é bastante semelhante, pois a Física moderna explica, a água pura apresenta uma excelente capacidade para capturar a informação eletromagnética. Por essa razão se evidencia que o processo de potenciação da prática homeopática ou o método solar de Bach, estruturam a água para levar o padrão oscilatório (a ressonância ou frequência vibracional) da substância que se prepara. Isso ocorre pelo fenômeno de agrupamento molecular causado pela reestruturação da cadeia de hidrogênio. Como se sabe, se um processo de diluição é contínuo, a um determinado nível de diluição 1/ 1024 (ou uma potência de 24X ou 12C)c se chega ao limite de avogrado e a substância molecular ou a presença física não existirá. No entanto, a frequência média de ressonância da substância, permanecerá capturada na água. Pelo procedimento solar e posterior diluição, os frascos de tintura mãe (ou stock) das essências florais apresentam um equivalente de diluição de 1C ou 5X. Em um artigo sobre homeopatia, Teixeira (2006) apresenta possíveis explicações para essa informação eletromagnética passada para a água. Na busca pela explicação racional e científica para o fenômeno da transmissão da “informação” dos efeitos primários das substâncias, encontram-se hipóteses fundamentadas em modelos físicoquímicos. Dentre elas, experimentos desenvolvidos no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas(PORTO, 1998), evidenciaram a ação de campos magnéticos na transmissão da “informação” de soluções padrões à água pura deionizada, produzindo “soluções imagem” que reproduzem, parcialmente, os efeitos farmacológicos esperados para as soluções utilizadas como referência. Os estudos realizados com soluções imagem indicam que a presença da solução de referência dentro do campo magnético induz, de alguma maneira, um novo comportamento da água. Considerando-se a ausência de soluto na solução imagem, a explicação mais plausível para este tipo de comportamento é supor uma reestruturação das moléculas de água durante o processo de magnetização. Apesar da ausência de mecanismos que expliquem tais processos, as propriedades físico-químicas estudadas nestes trabalhos compõem um conjunto de evidências experimentais que mostram, de modo inequívoco, alterações no comportamento da água, quando cAs diluições Homeopáticas são obtidas em três escalas, as Hahnemanianas que são: centesimal (C ou CH) e cinqüenta milesimal (LM) e as de Hering:decimal (D, X ou DH). 40 tratadas sob a ação de campos magnéticos na presença de uma solução de referência. O Dr. Bach agrupou suas 38 essências de acordo com o estado mental de cada indivíduo, dividindo-as em sete emoções básicas que correspondem aossete grupos emocionais, e essas cobririam toda a complexidade do mundo emocional, cada uma com sua especificidade (SCHEFFER, 1990;VALVERDE, 2000; BACH, 2006). Resumidamente, os sete grupos e suas essências estão descritos no Quadro 1: Quadro1. Essências florais, seus grupos de atuação e seus efeitos. 1. Para os que sentem medo Aspen Para medos e apreensões indefinidos e desconhecidos Cherry Plum Para o medo de perder o controle Mimulus Para medos definidos e conhecidos Redchestnut Para os medos de que algo de ruim possa acontecer às pessoas queridas Rock rose Para situações de terror e pânico 2. Para os que sofrem de indecisão Cerato Para a falta de confiança em si para tomar as próprias decisões Gentian Para os que desanimam facilmente diante do menor entrave ou dificuldade Gorse Para situações de desesperança, quando se perde a fé de que algo possa ser feito a seu favor. Hornbeam Para os que sentem que não tem força suficiente, física ou mental, para cumprir suas obrigações. 41 continuação Quadro 1 Scleranthus Para os que são incapazes de decidir entre duas coisas, inclinando-se ora em direção de uma, ora a outra. Wild Oat Para os indecisos em relação a que ocupação desejam se entregar 3. Para a falta de interesse pelas circunstâncias atuais ChestnutBud Para a di