Sabir Khan Sistema de Educação Feminino no Paquistão antes e pós Regime do Talibã ARARAQUARA-SP 2020 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” – UNESP Campus de Araraquara FCLAR SABIR KHAN Sistema de Educação Feminino no Paquistão antes e pós Regime do Talibã Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-graduação em Educação Escolar pela Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara, como requisito para obtenção do grau de Doutoramento em Educação Escolar. Data da defesa: 26/11/2020. Linha de Pesquisa: Sexualidade, Cultura, Educação Sexual. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Célia Regina Rossi. ARARAQUARA 2020 SABIR KHAN Sistema de Educação Feminino no Paquistão antes e pós Regime do Talibã Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-graduação em Educação Escolar pela Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara, como requisito para obtenção do grau de Doutoramento em Educação Escolar. Data da defesa: 26/11/2020. Linha de Pesquisa: Sexualidade, Cultura, Educação Sexual. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Célia Regina Rossi. Membros Componentes da Banca Examinadora ___________________________________________________________________________ Presidente e Orientador: Prof.ª Dr.ª Célia Regina Rossi Instituto de Biociências – IB – UNESP – Rio Claro – SP Profa. Dra. do Programa em Educação Escolar – FCLAr – UNESP – Araraquara - SP _______________________________________________________________________ Membro Titular: Prof. Dr. Hamilton Édio dos Santos Vieira Universidade federal de São Carlos - UFSCar / São Carlos – SP ___________________________________________________________________________ Membro Titular: Prof.ª Dr.ª Fátima Aparecida Coelho Gonini Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ituverava. Fundação Educacional de Ituverava – Ituverava - SP ___________________________________________________________________________ Membro Titular: Prof. Dr. César Donizetti Pereira Leite Instituto de Biociências – IB – UNESP – Rio Claro - SP ___________________________________________________________________________ Membro Titular: Prof.ª Dr.ª Saima Gul Islamia College University Peshawar-Pakistan ___________________________________________________________________________ Universidade Estadual Paulista “Júlio de mesquita Filho” – UNESP Programa de Pós-Graduação Em Educação Escolar Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Araraquara - SP Em nome de Deus, o mais gracioso o mais misericordioso. DEDICATÓRIA À minha família, especialmente para minha mãe e meu pai (in memorium). A Deus. AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, ALLAH, por ter me concedido a oportunidade de vir ao Brasil realizar meu doutorado. Agradeço a todos os que se envolveram, direta e indiretamente, para que este estudo fosse possível, em especial, à minha orientadora Prof.ª Drª. Célia Regina Rossi, por ter acolhido essa pesquisa, ter sido uma excelente supervisora e orientadora, por todos os seus valiosos conselhos e ensinamentos, pela paciência e grande ajuda na redação desta Tese. Ao Prof. Dr. Sebastião de Souza Lemes, que auxiliou quanto aos trâmites éticos da pesquisa; aos professores que participaram da minha banca de qualificação de área: Prof. Dr. Hamilton Édio dos Santos Vieira e Profª. Drª Fátima Aparecida Coelho Gonini. Agradeço também aos meus colegas de curso que favoreceram as minhas aprendizagens, em especial, Fernanda, Profa Dra Maria Del Pilar Taboada Sotomayor, Erica, Carlos, Edi, Evelin, Eliana, Diego, Marília, Melissa, Erick, Fernanda, Dr. Sajjad Hussain, Dr. Sardar, Shakeel, Rajab, enfim, a todos que iniciaram o curso junto a mim e que vivenciaram essa experiência tão intensa, cuja finalização culmina em um exemplar de importância aos avanços acadêmicos. Em especial, meus agradecimentos à minha família: minha mãe, meu pai (in memorium), minhas irmãs, meus irmãos, que me apoiaram e foram pacientes quanto à minha ausência em eventos importantes, tudo para que eu pudesse cumprir com os compromissos relacionados a essa Tese. Enfim, a todos/as, o meu muito obrigado. Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. Clarice Lispector RESUMO Esse estudo teve como objetivo investigar o sistema educacional oferecido as mulheres do Paquistão, e verificar suas interações, distanciamentos e avanços, tendo como foco a educacao feminina. Com a chegada do sistema político do Talibã, às escolas para mulheres sofreram grandes mudanças diante da sociedade na vida escolar, elas passaram a ficarem em casa, reclusas pelo Talibã, que proibiam às mulheres, jovens e meninas de estudarem em todos os níveis de ensino e também, circularem livremente às ruas para exercerem uma escolar, cultural e social. Sendo assim, transformando a sociedade paquisatanesa que mantinha um respeito às mulheres, que podiam exercer sua cidadania com dignidade a uma sociedade conservadora muçulmana no Paquistão, com duas visões predominantes sobre a educação feminina. Para este estudo foi realizado uma pesquisa quantitativa, utilizando um programa de estatistica, “Statistical Package for Social Sciences – SPSS” que será explicado no decorrer do texto. Observou-se por meio desta análise, que a maioria das participantes era qualificada e possuía alto grau de escolaridade. O percentual de solteiros e casados foi de 45,5 e 54,5%. As questões foram divididas em 5 seções e a média foi calculada a partir de pesquisas na escala Likert. A primeira seção identifica declarações sobre as expectativas dos pais das participantes; a segunda seção corresponde à familiaridade das estudantes com o sistema educacional e cultural; a terceira seção corresponde ao status socioeconômico e à dinâmica de gênero na família; a quarta seção corresponde à dinâmica de gênero na educação; a quinta seção aborda as estudantes que estiveram no Brasil para estudar em universidades públicas e como olham, entendem a cultura e a educação do Brasil. Nos últimos dados sobre como as estudantes paquistanesas compreendem a cultura da mulher brasileira, paquistanesas relataram atitudes muito importantes, como elogios a autonomia, a postura frente à sociedade das mulheres brasileira. De acordo com a pesquisa realizada no nordeste do Paquistao, após a entrada do sistema Talibã mais de 80% das mulheres paquistanesas que paerticiparam da pesquisa aqui no Brasil, apoiaram fortemente o sistema de ensino superior no Brasil, para todos e todas e observaram que tem muita qualidade a educação no Brasil, por esta diversidade. O estudo mostrou que as mulheres no Paquistão com a entrada do sistema autoritário, machista e violento do Talibã, perderam seu lugar, perderam suas identidades, perderam suas posições sociais, tanto na educação, na cultura, na sociedade, como no trabalho. As que chegaram ao Brasil para estudar nas universidades públicas, reconhecem que houve um retrocesso enorme para com a vida do generno feminino no Paquistão, e que o Brasil com todoas as suas desigualdades, tem mais mecanismos de cidadania para as mulheres continuarem com suas liberdades e conquistas equitativas. Palavras-chave: Educação feminina; Talibã; Paquistão. ABSTRACT This study aims to investigate the educational system of Pakistan, to verify its interactions, distances and advances, focusing on female education. With the coming of the Taliban political system, schools for women have undergone major changes in society of school life, they started to stay at home, reclusive by the Taliban, that forbade women, youth and girls to study at all levels of education and also the freely movement in the streets to exercise a school, cultural and social activities. Thus, transforming the Pakistani society that maintained a respect for women, who could exercise their citizenship with dignity to a conservative Muslim society in Pakistan, with two predominant views on female education. For this study a quantitative analysis was carried out using a statistical program, Statistical Package for Social Sciences - SPSS "that will be further explained in the course of the text. It was observed through this analysis, that most of the participants were qualified and has a high level of education. The percentage of single and married people were 45.5 and 54.5%. The questions were divided into 5 sections and the average was calculated based on surveys on the Likert scale. The first section identifies statements about the expectations of the participants' parents; the second section corresponds to the student familiarity with the educational and cultural system; the third section corresponds to the socioeconomic status and gender dynamics in the family; fourth section corresponds to gender dynamics in education and the fifth section addresses students who were in Brazil studying in the public universities and how they look the culture and education in Brazil. In the last how Pakistani students understand the culture of Brazilian women. Pakistani women report very important attitudes, such as admiration for autonomy, the attitude towards Brazilian women's society, where women are highly motivated to participate in Higher Education, but also pointed out that due to financial problems many Brazilian women do not reach the goal of university study. According to the survey conducted in northeastern Pakistan, after the entry of the Taliban system, more than 80% of Pakistani women who participated in the research here in Brazil, strongly supported the higher education system in Brazil for all and noted that there is much quality in education. The study showed that women in Pakistan with the entrance of the Taliban's authoritarian, sexist and violent system, lost their place, lost their identities, lost their social positions, both in education, in culture, as in work. Those who arrived in Brazil to study in public universities, recognize that there has been a huge setback for the life of the female gender in Pakistan, and that Brazil with all its inequalities, has more citizenship mechanisms for women to continue with their freedoms and achievements. Keywords: Female Education, Talibã and Muslim of Pakistan, methodology LISTA DE TABELAS Tabela 1. A estrutura acadêmica do sistema educacional no Paquistão 25 Tabela 2. A classificação acadêmica do sistema educacional de madrasa no Paquistão 28 Tabela 3. Descrição das entrevistadas paquistanesas no Brasil 61 Tabela 4. Estatística descritiva da idade das Mulheres. 61 Tabela 5. Análise percentual da idade de intervalos de amostra 62 Tabela 6. Descrição e análise das entrevistadas 63 Tabela 7. Descrição e análise das as expectativas dos pais 66 Tabela 8. Análise do desempenho escolar 67 Tabela 9. Análise sobre casamento 69 Tabela 10. Resultado obtido sobre pais felizes 71 Tabela 11. Resultado obtido sobre educação universitária 73 Tabela 12. Resultado obtido sobre aprender tarefas domésticas. 75 Tabela 13. Experiência com o sistema educacional e a cultura. 77 Tabela 14. Resultado obtido sobre estar confortável no sistema educacional Brasileiro 77 Tabela 15. Resultado obtido sobre cultura brasileira ou paquistanesa. 78 Tabela 16. Resultado obtido sobre conflito entre as culturas brasileira e paquistanesa. 80 Tabela 17. Resultado obtido sobre período escolar antes de entrada na faculdade 82 Tabela 18. Status socioeconômico e dinâmica de gênero na família 83 Tabela 19. Resultado obtido sobre gênero na minha família. 84 Tabela 20. Resultado obtido sobre homens e mulheres fazerem o mesmo trabalho 86 Tabela 21. Resultado obtido sobre bolsa e progamas universitário antes de entrar na faculdade 87 Tabela 22. Resultado obtido sobre trabalho e estudo durante formação universitária. 89 Tabela 23. Resultado obtido sobre família possuir mais de uma fonte de renda. 90 Tabela 24. Dinâmica de gênero na educação 92 Tabela 25. Resultado obtido sobre a influência do gênero no desempenho na escola 93 Tabela 26. Resultado obtido sobre conflito com um instrutor do gênero masculino 95 Tabela 27. Resultado obtido sobre conflito com um instrutor do gênero feminino 96 Tabela 28. Resultado obtido sobre a influência do gênero feminino na oportunidade de fazer 98 LISTA DE FIGURAS Figura 1. A estrutura acadêmica do sistema educacional existente no Paquistão: S. Khan 2020 26 Figura 2. A estrutura acadêmica do sistema educacional madrassas no Paquistão (Chota Lahor-Swabi– 2020 Waqas Zeb) 29 Figura 3. Exames do fim do Ensino Secundário ou mesmo no fim dos Bacharelados ou Licenciaturas são, geralmente, realizados anualmente, do sistema educacional madrassas no Paquistão (Jamia darul tafseer walhadees Shahmansoor-Swabi– 2020 Waqas Zeb) 30 Figura 4. Exames do fim ano letivo realizado no sistema educacional no Paquistão 31 Figura 5. Mapa do Paquistão - Distritos 32 Figura 6. Mapa dos distritos Swat, Dir inferior, Buner e Shangla 37 Figura 7. Malala Yousafzai baleada pelo Talibã aos de 15 anos de idade 42 Figura 8. Malala Yousafzai, Vencedora do Prêmio Nobel da Paz 43 Figura 9. Ilustração esquemática de classificação de pesquisa 56 Figura 10. Ilustração esquemática de uma classificação de pesquisa técnicas de amostragem 58 Figura 11. Ilustração esquemática de uma classificação de pesquisa qualitativa 59 Figura 12. Ilustração esquemática de uma classificação de pesquisa quantativa 60 Figura 13. Gráfico de barras obtidos das entrevistadas 64 Figura 14. Histogramasdas entrevistadas 65 Figura 15. Resultado obtido sobre desempenho escolar 68 Figura 16. . Resultado obtido sabre casamento 70 Figura 17. Resultado obtido sobre pais felizes 72 Figura 18. Resultado obtido sabre educação universitária 74 Figura 19. Resultado obtido sobre tarefas domésticas 76 Figura 20. Resultado obtido sobre sistema educacional Brasileiro. 78 Figura 21. Resultado obtido sabre cultura brasileira ou paquistanesa 80 Figura 22. Resultado obtido sabre conflito entre as culturas brasileira e paquistanesa 81 Figura 23. Resultado obtido sabre período escolar antes de entrada na faculdade. 83 Figura 24. Resultado obtido sabre gênero na minha família 85 Figura 25. Resultado obtido sobre bolsa e progamas universitário antes de entrar na faculdade/Universidade 86 Figura 26. Resultado obtido sobre bolsa e progamas universitário antes de entrar na faculdade 88 Figura 27. Resultado obtido sobre trabalho e estudo durante formação universitária 89 Figura 28. Resultado obtido sobre família possuir mais de uma fonte de renda 91 Figura 29. Resultado obtido sobre influência do gêneron o desempenho na escola 93 Figura 30. Resultado obtido sobre conflito com um instrutor do gênero masculino 96 Figura 31. Resultado obtido sobre conflito com um instrutor do gênero feminino. 96 Figura 32. Resultado obtido sobre a influência do gênero feminino na oportunidade de fazer carreira 98 LISTA DE SIGLAS BBC - British Broadcasting Corporation EFA - Education for All FATA - Federal Administered Tribal Areas KPK - Khyber Pakhtunkhwa SSC - Secondary School Certificate HSSC - Higher Secondary School Certificate SPARK - Society for the Protection of the Rights of the Child UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation READ - Foundation - Rural Education and Development Foundation PIHS - Pakistan Integrated Household Survey BISE - Board of Intermediate and Secondary Education MBBS - Bachelor of Medicine and Bachelor of Surgery BA - Bachelor of Arts MA - Master of Arts FATA - Federally Administered Tribal Areas EUA - Estados Unidos BBC - British Broadcasting Corporation UNESP - Universidade Estadual Paulista MP - Member of Parliament NATO - North Atlantic Treaty Organization NGO - Non-Governmental Organization PBUH - Peace-be-upon-him TTP - Tehrik-i-Talibã Pakistan UN - United Nations UNICEF - United Nations International Children´s Emergency Fund U.S. - United States AM - Asma Rehman MA - Marriam Amin NB - Nahid Bibi RP - Rashida Prveen SM - Saima gul FR - Fozia Rehman SM - Suriyya Mnzoor SK - Sabiha Khanam ATA- Almas Taj Awan HA - Huma Asif S - Solteira C - Casada SD - Desvio padrão SPSS - Statistical Package for Social Sciences GNA - Gênero não afeta CCIM - Conflito com instrutor masculino. CCIF- Conflito com instrutor Feminino ODC - oportunidades de carreira SUMÁRIO TRAJETÓRIA DO PESQUISADOR 16 1.INTRODUÇÃO 18 2. EDUCAÇÃO NO PAQUISTÃO: ESTRUTURA, FUNDAMENTALISMO E APONTAMENTOS 22 2..1 Estrutura da Educação Formal 23 2.1.1 Pre Primary Schooling (Pré Ensino Fundamental) 23 2.1.2 Middle Schooling (Ensino Médio) 24 2.1.3 High Schooling (Ensino Secundário) 24 2.1.4 Higher Secondary Education (Ensino Secundário Superior) 24 2.1.5 Higher Education (Ensino Superior) 25 2.1.6 Universidade 25 2.1.7 Educação profissional técnica 26 2.1.8 Madrassas” (Seminários islâmicos) 26 2.1.9 Exames 29 2.2 Talibã: origem e influência na Educação do Paquistão 31 2.2.1 Perspectiva dos habitantes de SWAT sobre o Talibã 35 2.2.2 Resistência e situação atual do Talibã no Paquistão 36 3 MALALA: VISIBILIDADE PARA A LUTA DAS MULHERES PELA EDUCAÇÃO 40 3.1 Contexto 45 3.1.1 Educação e Desigualdade de Gênero 49 4 METODOLOGIA 52 4.1 Observações sobre a coleta de dados 53 5 RESULTADOS 58 5.1 Técnicas de amostragem 58 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 102 16 TRAJETÓRIA DO PESQUISADOR Nascido em 11 de julho de 1980, em Peshawar, Paquistão. Filho mais novo de Azam Khan e Safia. No mesmo país iniciou sua educação infantil (04 a 06 anos de idade) na Escola “Primary School chota Lahore”; e realizou o Ensino Fundamental e Médio (07 a 16 anos de idade) na escola “Govt High School”. Formou-se no Segundo Grau em 1999, e na Graduação em Ciência na Faculdade de Peshawar (Paquistão), em 2002. Entre 2002 e 2003 foi aprovado para estudar no Mestrado em Quimica da “University of Peshawar”, Universidade pública, onde se formou em 2006. Neste período, foram realizadas experiências utilizando espectrofotometria, potenciometria e métodos baseados em medidas com índice de refração. Avaliando as vantagens e as desvantagens, o pesquisador teve grande interesse em sair do Paquistão a fim de entrar em contato com outros modos de pesquisar, ensinar, e fazer ciência. Deste modo, em 2009 enviou os documentos necessários para realizar o exame de seleção para o Doutorado junto à Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, na cidade de Campinas – SP – Brasil, com financiamento TWAS-CNPq, sendo selecionado O pesquisador chegou ao Brasil em março do mesmo ano, e o processo de adaptação foi extremamente difícil, devido às grandes diferenças de cultura e língua diferentes, mas, apesar das dificuldades iniciais encontradas, ajustou-se ao cotidiano no país, contando com a ajuda de brasileiros e paquistaneses residentes. Nesse período, conheceu algumas linhas de pesquisa do Instituto de Química - IQ - UNICAMP, interessando-se especificamente por aquelas relacionadas à Química Analítica, área na qual se tornou aluno e orientando do Prof. Dr. Matthieu Tubino. Assim, desenvolveu a Tese de Doutorado: “Métodos simples e confiáveis para análise quantitativa de: (i) nitrito em alimentos (ii) pesticidas organofosforados; (iii) quantificação de metóxido de sódio em soluções em metanol”. Esta pesquisa gerou sua primeira publicação, em 2012, em uma revista internacional de impacto na área de Química Analítica, e dois trabalhos em congressos nacional e internacional. A Tese de Doutorado foi defendida em 18 de Fevereiro de 2013 e, em agosto do mesmo ano, foi solicitada uma bolsa de pesquisa para realizar o primeiro estágio de Pós- Doutorado, sob a supervisão da Prof.ª Dr.ª Maria Del Pilar Taboada Sotomayor. Em outubro de 2014 obteve a aprovação do financiamento do segundo Pós-Doutorado pela PNPD-Capes, 17 para o projeto de pesquisa, com duração de dois anos. Posteriormente, de outubro de 2016 até 30 de junho de 2018, realizou seu terceiro Pós-Doutorado. Em 01 de julho de 2018 obteve financiamento do CNPq para o seu quarto Pós-Doutorado. O pesquisador optou por realizar outro Doutorado, desta vez, na área de Educação, uma vez que também era formado em Pedagogia no Paquistão, ingressando no Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar, por perceber uma grande diferença entre a educação no Brasil e no Paquistão, em relação às mulheres, principalmente na Universidade, se voltou a pesquisa da educação de mulheres no Paquistão. Uma vez que no Brasil, todos e todas estudam juntos, no Paquistão isso não ocorre, portanto, há uma diferença gritante. Portanto, essa pesquisa se abre à compreensão do processo de educação no Brasil - muito diferente no Paquistão - para as mulheres. O objetivo foi lançar mão do distanciamento geográfico e perceber as diferenças entre os sistemas educacionais, a fim de provocar um outro olhar e uma nova possibilidade para as mulheres paquistanesas e também homens paquistaneses, para que no futuro o Paquistão tenha outro entendimento e atuação sobre a atuação das mulheres em várias áreas do conhecimento, com respeito às diferenças entre gêneros, sem violações de direitos das mulheres. A professora Dr.ª Célia Regina Rossi acolheu esta demanda e aceitou a orientação deste estudo. Desse modo, surgiram a ideia, o planejamento, a execução, e o resultado apresentado neste texto. Não foi fácil, não foi rápido, mas foi gratificante chegar ao final e perceber que tudo valeu a pena, que as ambições, as expectativas e a dedicação resultaram em uma das obras mais importantes da vida deste pesquisador: esta Tese, que é fruto de muita pesquisa e vivência. Ver e rever todo esse percurso gera uma alegria imensurável, para provocar mudanças na sociedade paquistanesa. 18 1 INTRODUÇÃO “Eu não me importo se eu tiver que sentar no chão na escola. Tudo que eu quero é educação. E eu não tenho medo de ninguém”. (Malala Yousafzai, 2012) Malala, uma ativista de 14 anos de idade, é uma defensora da educação das mulheres no Paquistão, em uma região controlada pelo Talibã. Como muitas outras paquistanesas, Malala se posicionou para expressar seu direito à educação contra esse movimento, que proibiu meninas de frequentarem a escola. O direito à educação, no país, não é instituído para as mulheres paquistanesas, devido a questões ligadas a tradições culturais e religiosas (SUDDUTH, 2010). O Paquistão é um país em desenvolvimento, considerado o sexto mais populoso do mundo, com uma estimativa total de 207.774 milhões de habitantes, dos quais quase cinquenta por cento, 101.314 milhões, são mulheres. O nível de escolaridade é muito baixo, muitas crianças não frequentam escolas e são incluídas no trabalho infantil (ASHRAF et al. 2015). Também há um alto índice de evasão após a matrícula no nível primário e, consequentemente, uma porcentagem muito baixa de pessoas alcança o Ensino Superior (SADAF et al., 2016). Desde o início do Paquistão, em 1947, o governo tem feito esforços contínuos para oferecer educação básica, universal e gratuita a seus cidadãos - isso é mais evidenciado por planos educacionais, políticas e reformas do setor educacional de cinco anos para cá, incluindo parcerias que produziram ganhos para os cidadãos (QURESHI and RARIEYA, 2007). Mesmo assim, o país tem uma das taxas mais baixas de alfabetização do sul da Ásia, estimada em 49,9% (LATIF, 2009), ocupando a 130ª posição, dentre 141 outros países (KHALID and MUKHTAR, 2002). Segundo a UNESCO (2012), na lista dos dez principais países com a maior porcentagem de adultos analfabetos, o Paquistão está na terceira posição, estando muito longe de atingir a meta de, pelo menos, 95% de taxa de matrícula no Ensino Fundamental (KHALID and MUKHTAR, 2002). Apesar de os dados não serem recentes, a situação atual permanece praticamente a mesma. A razão disto é o nível de pobreza no Paquistão, pois muitos estudantes que desejam seguir sua formação não podem pagar os valores exigidos, o que resulta em desistências. A proporção de mulheres que adquirem educação é menor em relação aos homens devido, 19 principalmente, a fatores culturais e religiosos. (SADAF et al., 2016); (KHAN et. al., 2011); (ASHRAF and SHURGEEL, 2015). No sul da Ásia, o Paquistão, portanto, é o país com a maior lacuna na educação feminina devido à discriminação contra as mulheres, que persiste ao longo de suas vidas (UNESCO - Institute for Statistics, 2007) - o desequilíbrio de gênero na sociedade paquistanesa, anunciado em escala global, gera as muitas maneiras pelas quais as mulheres estão em desvantagem enquanto as leis, ineficazes, não conseguem trazer mudanças de cenário. Em muitos países emergentes, a maioria da população não é a favor da educação das mulheres, pois consideram muito inapropriado que as mesmas obtenham educação formal, sendo que as famílias as impedem de obter educação, considerando-as um fardo. As desigualdades de gênero estão mais evidenciadas nas regiões sul e oeste da Ásia (CHAUDHRY, 2007). A taxa de alfabetização feminina no Paquistão, de 35,2%, caiu para 25% do 1º ao 6º anos em áreas rurais, e a escolaridade das meninas nas áreas rurais caiu de 55% para 25% (LATIF, 2009). As estatísticas de disparidades na educação das áreas rurais são muito piores do que nas áreas urbanas, e discriminação de gênero perpassa todos os níveis de ensino - do Fundamental ao Superior. Apesar de muitos países em desenvolvimento registrarem melhorias no setor educacional e a diminuição da disparidade no acesso à educação nos distritos urbanos, o problema continua nos distritos rurais, onde os pais e o chefe da família não reconhecem a importância da educação feminina por fatores culturais extremamente enraizados (LATIF, 2009). A educação feminina, no entanto, é essencial para o desenvolvimento e apoia os recursos humanos para as progressões social e econômica. Segundo Knowles et al (2002), a educação das mulheres desempenha papel vital na redução do número de gestações, na mortalidade de recém-nascidos, e no aumento da educação familiar nos países em desenvolvimento. Os problemas da educação no Paquistão remontam ao início do país, quando o novo estado independente herdou um sistema educacional já definido. Esse sistema era fraco e mal gerenciado e não pôde ser reformado de acordo com as necessidades do povo. Devido a isso, o Paquistão ainda está lutando com a menor taxa de alfabetização do mundo, mesmo após 66 anos de existência. 20 Os onze anos de longa resistência contra os Talibãs no Afeganistão, a luta armada no Paquistão, e as atuais e frequentes mudanças de política em relação à Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN fizeram com que as escolas no Paquistão sofressem grandes mudanças. As mulheres, de integradas à sociedade e à vida escolar, passaram a ficar em casa, reclusas, obrigadas pelo Talibã, que as proibiram de estudar, em todos os níveis de ensino. Sendo assim, o Paquistão se transformou em um país conservador, radical, muçulmano extremista. Há duas perspectivas sobre a educação no Paquistão: a primeira, democrática, que iniciou antes da chegada do Talibã, que será apontada mais adiante com mais detalhes e a educação dentro de um sistema democrático, que teve atuação de mulheres em todos os campos da ciência. A segunda, depois do Talibã, fechada, sem qualquer possibilidade de educação desde a infância até a universidade para as mulheres, as quais restaram à função somente do cuidado da casa. Um grande retrocesso, portanto, ocorreu na sociedade paquistanesa. Mas, em meio a essas transformações, é importante ressaltar que as meninas, jovens e mulheres, mesmo tendo enfrentamentos diversos, têm voltado, pouco a pouco, às escolas, começando através de muitas lutas, como a da ativista Malala, a reabrir caminhos. Este estudo faz uma defesa da educação moderna, sem a qual não haveria tecnologia moderna, invenções, instalações, etc., que as mulheres no mundo todo contribuem para criar cotidianamente no campo da ciência. Nesse sentido, o foco deste estudo está na luta das mulheres paquistanesas para alcançarem o Ensino Superior, objetivando-se compreender, mais especificamente, como as desigualdades de gênero na eduação, as expectativas das famílias, as diferenças culturais, a religião, e o status socioeconômico impacta nas suas conquistas educacionais e elas percebem estes impactos, quando chegam ao Brasil, para estudar. Trata-se de responder, basicamente, a duas questões: Quais fatores influenciam a trajetória das mulheres paquistanesas em sua busca pelo Ensino Superior? Como a construção social de gênero influencia esta trajetória? Parte-se do princípio de que o empoderamento das mulheres é um aspecto vital da eqüidade de gênero - uma mulher é dita empoderada quando tem acesso a recursos materiais, à possibilidade de atuar profissionalmente, à tomada de decisões políticas, a escolhas livres, à garantia de direitos legais, a serviços de saúde e à educação de qualidade e autonomia para tomar decisões. Objetivo geral desse estudo é investigar o sistema de educação paquistanês com foco especial na educação feminina. Esse estudo aponta pontos principais que distinguem a educação do Paquistão em relação à educação no Brasil. Visto que a cultura e a religião 21 exercem sobre a educação uma influencia muito grande. E que existem certos costumes e crenças originarias do Paquistão que acabam por influenciar o próprio objetivo da educação, e a forma que isso é praticado. Há uma influencia religiosa na educação paquistanesa e mesmo que seja uma religião praticada em outros países (Islão), sejam do mundo árabe ou países que não pertence a ele, mas tem a mesma identidade islâmica, o Paquistão em especifico tem sua própria forma de praticar o islamismo, o que faz com que a educação tome determinada forma para mulheres e para homens. Esse estudo trata o que se denomina por empoderamento das mulheres especificamente, especificamente das mulheres paquistanesas, que enfrentam uma educação restrita e cheia de preconceitos em relação a serem mulheres, visto que elas têm dificuldades específicas, que são decorrentes da situação posta pelo local ao qual estão situadas. Portanto o estudo mostra estratégias as quais essas mulheres utilizam a fim de conquistarem direitos no que diz respeito à educação e outros direitos sociais. Outro ponto a ser mencionado nesse estudo é como se dá a influencia da presença das novas pesquisadoras paquistanesas que vieram ao Brasil e vivenciaram junto as estudantes brasileiras, maneiras diferentes de educação universitária. É importante destacar que desde o principio desse trabalho houve o desejo de se produzir um material que viesse a dar aos pesquisadores brasileiros em especial os que estão inseridos na educação, novas perspectivas as quais não estavam presentes no debate acadêmico do país (Brasil), o olhar sobre as estudantes paquistanesas, tão diferentes e tão distantes do Brasil. O Objetivo Específico é observar e analisar as políticas de antes e depois do Talibã no Paquistão para as mulheres, que se instauraram e modificaram os modos de vida das meninas e mulheres do Paquistão, e o quanto essas modificações trouxeram benefício ou entraves para a ciência construída por mulheres no Paquistão. 22 2 EDUCAÇÃO NO PAQUISTÃO: estrutura, fundamentalismo e apontamentos A Educação no Paquistão é supervisionada pelo Ministério da Educação, enquanto o governo federal auxilia, principalmente, no desenvolvimento curricular, crédito e financiamento de pesquisa e desenvolvimento. O Artigo 25-A da Constituição do Paquistão obriga o Estado a oferecer educação de qualidade gratuita e obrigatória para crianças da faixa etária entre 05 e 16 anos de idade. (GHAZI et al., 2010); (PARVEEN et al., 2011); (LYND, 2007) O sistema de educação no Paquistão é geralmente dividido em cinco níveis: primário (graus de um a cinco); médio (graus de seis a oito); alto (graus nove e dez, levando ao Certificado de Ensino SSC); intermédio (graus onze e doze anos, levando a um Superior Secundário (Escola) Certificado ou HSSC); e programas universitários que conduzem para a graduação e a pós-graduação (FAROOQ, et al., 2018). A taxa de alfabetização varia de 96% em Islamabad, a 28% no Distrito Kohlu. Entre 2000 e 2004, os paquistaneses entre 55 e 64 anos de idade tinham uma taxa de alfabetização de quase 38%; a faixa entre 45 e 54, uma taxa de cerca de 46%; entre 25 e 34, uma taxa de literacia (letramento) de 57%; e aqueles entre 15 e 24, uma taxa de alfabetização de 72%. As taxas de alfabetização variam regionalmente, especialmente por sexo. Em áreas tribais, para o sexo feminino, é de 9,5%. Outros dados ainda indicam que as taxas de alfabetização no Paquistão aumentaram de 45%, em 2000 (Governo do Paquistão, 2000) para 52,5% em 2005 (Government of Pakistan b). Os números gerais, em 2005, situam as taxas de alfabetização em 64% para homens e 40% para mulheres. Segundo a Society for the Protection of the Rights of Children - SPARK (2006), para as meninas, as taxas de matrícula na escola primária estão entre as 10 mais baixas do mundo, e as taxas de evasão escolar são mais altas que as dos meninos, e as disparidades de gênero são maiores no nível secundário, do que no nível primário (UNESCO Institute for Statistics, 2007). A alfabetização permanece mais alta nas áreas urbanas, onde é de 71% para homens e 44% para mulheres em áreas rurais (Government of Pakistan b). Embora as taxas de alfabetização sejam aumentando, os objetivos da educação básica universal e da paridade de gênero continuam sendo alvos distantes para os paquistaneses (FARAH, & SHERA, 2007); (Government of Pakistan, 2009); O atual ambiente político, que tenta se desvencilhar do Talibã, tem promovido oportunidades educacionais para as mulheres, mas atitudes culturais permanecem fortemente tendenciosas e praticamente inalteradas, embora governos sucessivos tenham anunciado 23 vários programas para promover a educação feminina, os mesmos foram incapazes de traduzir suas palavras em ação, devido a obstáculos políticos, sociais e culturais profundamente enraizados (UNESCO Institute for Statistics, 2007). Outra característica importante do país é a rápida propagação da língua inglesa - são 18 milhões de paquistaneses (11% da população) com o domínio deste idioma, o que o torna a terceira maior nação de língua inglesa no mundo, e o segundo maior da Ásia. Em decorrência disso, o Paquistão produz cerca de 445 mil graduados universitários, e 10.000 graduados em ciência da computação por ano. Apesar destes números, o Paquistão ainda tem um dos mais altos índices de analfabetismo do mundo, e a segunda maior de população escolar (5,1 milhões de crianças), seguido da Nigéria, segundo a READ Foundation - Rural Education and Development Foundation - (2016) (ASHRAF and ISMAT, 2016) A seguir, detalharemos os níveis de educação formal no Paquistão. 2.1 Estrutura da Educação Formal No sistema de educação formal atual do Paquistão, há uma série de estados, que são ilustrados e descritos resumidamente a seguir. 2.1.1 Pre Primary Schooling (Pré Ensino Fundamental) A Educação pré-primária é gerida em escolas de todo o país; as escolas públicas a oferecem como parte do processo de socialização das crianças entre 3 e 5 anos de idade, e os alunos que a frequentam são chamados Kachi. A Política de Plano de Ação Nacional de Educação - EFA foi consolidada no período de 1998 a 2010, e fornece reconhecimento à classe Kachi como sendo a educação infantil. Desde a independência do Paquistão, as decisões políticas educacionais tornaram a educação primária gratuita e obrigatória. De acordo com o governo, segundo o Inquérito Domiciliar (Integrated PIHS) entre 1998 e 1999, a taxa de participação bruta passou dee 71 a 80% para o sexo masculino, de 61% para 92% para o sexo feminino da zona urbana, de 50% para o sexo feminino da zona rural. Há uma taxa de participação mais baixa observada para as mulheres da zona rural na província de Sindh, que foi para 33%. A taxa de escolarização líquida foi de 42 % para o sexo masculino, de 47% para as nulheres na zona urbana, e de 37% para as mulheres na zona rural. Atualmente, este nível conta com 34% do total de estudantes 24 (ASHRAF and SHURGEEL, 2015); (ARIF, SYED MUBASHIR ALI, ZAFAR MUEEN NASIR 2001); (MEMON, 2007); (SHAMAILA; SHARF, 2020) 2.1.2 Middle Schooling (Ensino Médio) A escolaridade do Ensino Fundamental ou Ensino Médio é de três anos de duração, composta das classes VI, VII e VIII, e contempla a faixa etária entre 6 e 13 anos. A taxa de participação total neste nível foi de cerca de 34% em 2000-2001 - 36% para o sexo masculino, e 33% para o sexo feminino. Este nível acomoda 25% do total dos estudantes do país. (Lynd, 2007); (G. M. ARIF, SYED MUBASHIR ALI, ZAFAR MUEEN NASIR, 2001); (MEMON, 2007); (SHAMAILA; SHARF, 2020). 2.1.3 High Schooling (Ensino Secundário) Os estudantes da escola secundária ficam por dois anos nos graus IX e X. O Conselho do Intermediário e Secundário realiza o exame, e um certificado do ensino secundário é concedido aos candidatos aprovados. Entre 2000 e 2001, a taxa geral de participação no Ensino Secundário foi de cerca de 22%, dos quais 24% eram do sexo masculino, e 20%, do sexo feminino. Este nível pode acomodar cerca de 20% do total dos estudantes. (Lynd, 2007) 2.1.4 Higher Secondary Education (Ensino Secundário Superior) O Ensino Secundário Superior também é chamado de “fase intermédia”, é considerada uma parte da educação universitária, consistindo nos graus XI e XII. Durante dois anos, permanece neste ciclo do ensino o aluno com a idade de 16 anos que, neste estágio, pode optar por: Ensino Geral; Educação Profissional; Ensino Técnico. O Conselho de Educação do curso Intermediário e Secundário (BISE) realiza o exame e concede um Certificado de Ensino Secundário de Escola Superior (HSSC). O Ensino Técnico tem duração de 3 anos para a obtenção do diploma de politécnico. Para a Educação Profissonal, existem variedades de trabalhos no comércio oferecidos aos alunos e, após a conclusão do curso, eles conseguem empregos como carpinteiros, pedreiros, mecânicos, soldadores, eletricistas, etc. Entre 2001 e 2011 foram contabilizadas 498 instituições de formação profissional do governo, com taxas de matrícula de aproximadamente 88 mil alunos (SHAMAILA; SHARF, 2020). 25 De acordo com a Política de Educação Pública de 1979, todas as escolas deveriam passar a serem escolas secundárias mais elevadas. As escolas Primárias (que designam Ensino Fundamental) e secundárias pertenciam às mesmas seções - este sistema teve sucesso limitado e alguns problemas foram experimentados. (LYND, 2007); (ARIF ET ALL, 2001); (MEMON, 2007); (SHAMAILA & SHARF, 2020). 2.1.5 Higher Education (Ensino Superior) Para obter um diploma de 4 anos de Ensino Superior, após 10 anos de escolaridades primária e secundária, os alunos que obtiverem aprovação na fase de Primeiro Grau são premiados com um diploma de Bacharelado em Artes ou Ciências, normalmente com a idade de 19 anos. A fim de concluir um curso de honras em nível de Bacharelado, também é necessário um estudo de um ano adicional. Além disso, um curso de dois anos é necessário para conclusão do Mestrado para aqueles que tenham concluído Graduação. O grau de Doutor requer, normalmente, quatro anos de estudo após a conclusão do curso de Mestrado (SHAMAILA; SHARF, 2020). 2.1.6 Universidade Para obter um diploma de bacharel em Medicina - MBBS é preciso concluir o Secundário e estudar 5 anos, após a fase intermédia (12 anos de escolaridade básica). Da mesma forma, um curso de Bacharelado tanto em Engenharia como em Medicina Veterinária tem duração de 4 anos após o exame intermédio, no fim do Secundário. Os exames são conduzidos pelas respectivas autoridades universitárias. Este nível acomoda 0,6% do total dos estudantes (SHAMAILA; SHARF, 2020). A seguir a Tabela 1 e Figura 1 sintetiza a estrutura acadêmica do sistema educacional no Paquistão: Tabela 1. A estrutura acadêmica do sistema educacional no Paquistão Número Sub-sector/level Grade/class Years/duration Age group A Educação Primária I-V 5 6-10 B Educação Secundário. IV-X 5 11-15 C Ensino Secundário Superior XI-XII 2 16-17 D Educação Graduação XIII-XIIII 2 18-19 E Educação universitária XV-XVI 2 20-21 Fonte: (SHAMAILA; SHARF, 2020). 26 Figura 1. A estrutura acadêmica do sistema educacional existente no Paquistão: S. Khan - 2020 2.1.7 Educação profissional técnica Quem desejar dar continuidade e ir no fim do ensino secudário para o ensino técnico terá uma variação grande, a depender da escolha do curso técnico, em geral o diploma politécnico é um curso de três anos. Um diploma de bacharel em medicina - MBBS, para atuar como profissional de medicina, será preciso terminar o secundário e estudar 5 anos, após a fase intermédia (12 anos de escolaridade básica). Da mesma forma, um curso de bacharelado tanto em engenharia e medicina veterinária são de duração de 4 anos após o exame intermédio, no fim do secundário. Os exames são conduzidos pelas respectivas autoridades universitárias. Este nível acomoda 0,6% do total dos estudantes. 2.1.8 “Madrassas” (Seminários islâmicos) O termo “madrassa” é de origem árabe, e significa escola, sendo que seu plural é “madaris”, o qual corresponde ao terceiro nível de escolaridade no Paquistão. Na atualidade ele é utilizado no Sul da Ásia, exclusivamente para instituições voltadas para a aprendizagem 27 de assuntos religiosos islâmicos, e que se distingue de uma “escola alcorânica” ou “maktab”, pois esta refere-se a um lugar onde as crianças muçulmanas leem e recitam o Alcorão somente em um nível muito elementar. No caso da “madrassa” há uma estrutura institucional mais organizada e há diferentes níveis acadêmicos de estudos religiosos. No presente estudo, o termo ”madrassa” sera utilizado principalmente para designar instituições de educação religiosa que apresentam níveis avançados de estudos. A maior parte das “madrassas” paquistanesas segue uma das cinco escolas islâmicas, ou “waqaf”: três delas são sunitas (“Deobandi”, “Barelvi” e “Ahl-e-Hadith”), há escola shiita, e uma do movimento “Jamaat-e-Islami” (JI). A grande parte das “madrassas” possui registro governamental como “instituições de caridade”, e como tal, não são tributadas, e também é administrada pelo setor privado, enquanto que uma parte é sustentada principalmente por comunidades através de: contribuições, tais como: empréstimos, doações e “zakat” (tribute islâmico obrigatório). Há, também, algumas “madrassas” que são administradas pelo governo provincial (“Auqaf”). Os níveis educacionais em uma “madrassa” são divididos em: elementar (“ibtedai”), intermediário (“vustani”), e avançado (“fauqani”). Nos níveis mais baixos são formados os “Hafiz-e-Quran” (indivíduos que memorizaram todo o Alcorão) e “Qari” (indivíduos que podem recitar o Alcorão com boa pronúnica e de maneira melodiosa) Tabela 2. Já nos níveis mais elevados, forma-se “Alim” - indivíduo cuja habilitação corresponde a um mestre em Artes, no grau de Estudos Islâmicos ou de Árabe, equivalente a uma universidade regular. A opção para se especializar em “ahadith” (tradições islâmicas), “tafsir” (exegese do Alcorão) ou “fiq” (jurisprudência islâmica), está disponível em algumas “madrassas”. Um nível mais elevado de “madrassa” é chamado de “darul ulum” (“casa do conhecimento”) ou “jami’a” (o equivalente de universidade). No entanto, poucas “madrassas” têm a facilidade de ensinar todos os assuntos e/ou graus, sendo que a maioria dis livros-texto usados no currículo está bastante desatualizada – alguns destes livros datam do século VII d. C. Nelson (2008a) afirma que a maioria das pessoas no Paquistão enseja educação islâmica. Tentativas de secularização levaram a uma privatização artificial da religião, o que é problemático nessa sociedade. As “madrassas”, dessa forma, enfrentam uma dominação ideological de instituições seculares que veem a educação como um sistema verticalmente organizado, com fontes de conhecimento segmentadas e relativamente autônomas, e de experiência de vida (RIAZ, 2008: 10). 28 Atualmente, a educação em “madrassas” demonstra a existência de uma estagnação do intelecto, cujas razões ainda vêm sendo debatidas. Nessas instituições a ênfase está em aspectos ritualísticos da fé, na oratória, visando a proteger a fé contra hereges e blasfemadores. No entanto, as “madrassas” têm emergido rapidamente como um paralelo, mas não equivalente ao sistema de educação formal, haja vista que a sociedade paquistanesa tem negligenciado persistentemente a educação de suas crianças, e onde investimento de tempo e trabalho em escolas não asseguram a sobrevivência de seus jovens. As “madrassas” também vêm gerando importantes intectuais em termos dos conhecimentos islâmicos, de forma que o escopo da educação nessas instituições vem sendo reduzindo progressivamente à mera preservação de doutrinas específicas. A educação em “madrassas” será discutida em detalhes no capítulo seguinte. Abaixo está representada uma tabela com estatísticas para ilustrar as participações respectivas de cada um das principais escolas no Paquistão, dentre os anos 2005 a 2006 e Figura 2 mostrando algumas fotos. Tabela 2. A classificação acadêmica do sistema educacional de madrasa no Paquistão Nivel ou “Darja” Duração/ anos Certificado (“sanad”) Equivalência “Ibtedai” 4-5 “shahadadul Tehfeez ul Quran” Primário (5° grau) “Mutavasatta” 3 “Shahadadul Mutavasatta” “Mediano” (8° grau) “Sanviya Amma” 2 “Shahadadul Sanviya Amma” “Mátrico” (10° grau) “Sanvita Khasa” 2 “Shahadadul Sanvita Khasa” Intermediário “Aliya” 2 “Shahadadul Aliya” BA “Alamiya” 2 “Shahadadul Alamiya” MA Fonte: (CHOTA LAHOR-SWABI – 2020 WAQAS ZEB) 29 Figura 2. A estrutura acadêmica do sistema educacional madrassas no Paquistão (CHOTA LAHOR-SWABI– 2020 WAQAS ZEB) 2.1.9 Exames Os exames do fim do Ensino Secundário ou mesmo no fim dos Bacharelados ou Licenciaturas são, geralmente, realizados anualmente, e constituem o principal critério para promover os alunos para classes mais altas, ou retê-los na mesma classe. No entanto, 30 recentemente, um sistema de promoção automática chamado de “up-to-grau III” foi introduzido em algumas escolas. Nas classes primárias, os exames são realizados pelas respectivas escolas. No entanto, no final do quinto ano do estágio primário, um concurso público é realizado pelo departamento de educação para a promoção à classe seguinte. Outro exame é realizado para os alunos pendentes para concorrerem ao prêmio de bolsas de mérito. Da mesma forma, o exame na Escola Média é realizado pelas escolas individuais, mas há um concurso público no final do grau VIII, conduzido pelo Departamento de Educação, para a concessão de bolsas de estudo para auxílio dos estudantes na permanência das atividades. O Conselho de Intermediário e Secundário (BISE) realiza os exames de Secundário e Superior Secundário. Os exames de nível de grau são conduzidos pelas respectivas Universidades Figura 3 e Figura 4. Figura 3. Exames do fim do Ensino Secundário ou mesmo no fim dos Bacharelados ou Licenciaturas são, geralmente, realizados anualmente, do sistema educacional madrassas no Paquistão (Jamia darul tafseer walhadees Shahmansoor-Swabi– 2020 Waqas Zeb) 31 Figura 4. Exames do fim ano letivo realizado no sistema educacional no Paquistão (GDC LAHOR 2018 JOHAR ALI) 2.2 Talibã: origem e influência na Educação do Paquistão Em resposta a um ataque soviético ao vizinho Afeganistão em 1979, o Paquistão abriu sua fronteira ocidental para receber mujahideen1 afegãos, guerrilheiros e refugiados, que se concentraram em acampamentos localizados, em grande parte, na North-West Frontier Province – KPK, Província da Fronteira Noroeste (GHUFRAN, 2009). Foi dentro destes acampamentos que o principal clero islâmico cria redes de madrassa2para recrutar jovens combatentes para o movimento de resistência, e que foram amplamente vistas como a única “instituição educacional de larga escala que dava abrigo, comida e educação” aos órfãos refugiados (AKHTAR AND METRAUX, 2013). 1 “No fim do século XX, a palavra se popularizou através dos mass-media, aplicando-se quase exclusivamente a combatentes armados que se inspiram no fundamentalismo islâmico. Entretanto, mujahid nem sempre tem significado religioso, podendo designar também aquele que combate pela pátria, por seu povo, por seu Estado, por sua família ou pelo bem da coletividade, com um sentido laico e nacionalista”. (SILVA, 2014, p.17). no caso do texto, mujahideen eram guerrilheiros afegãos resistentes aos ataques russos ao país. 2 Palavra em árabe que, originalmente designava qualquer tipo de escola. (O autor) https://en.wikipedia.org/wiki/North-West_Frontier_Province https://en.wikipedia.org/wiki/North-West_Frontier_Province https://pt.wikipedia.org/wiki/S#%20culo_XX https://pt.wikipedia.org/wiki/S#%20culo_XX https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunica https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunica https://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo_isl#mico https://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo_isl#mico https://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo_isl#mico https://pt.wikipedia.org/wiki/Fundamentalismo_isl#mico https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado https://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Nacionalismo 32 As madrassas socializavam os jovens em sua doutrina religiosa conservadora, segundo a qual havia “[...] o aprendizado por rotina e os alunos não deveriam questionar os professores” (YOUSAFZAI, 2013). Em uma cultura com instituições autoritárias que enfatizam fortemente a obediência e o respeito à autoridade, “É menos provável que indivíduos se oponham a líderes que advogam a violência” (STAUB, 1989). Essa educação autoritária formou um grupo de estudiosos fundamentalistas religiosos chamado de Talibã (estudantes), que derrotou os mujahideen no Afeganistão em 1996, com o apoio do Afeganistão e de outros países (GHUFRAN, 2009), se impondo em sua ideologia extremista. O governo paquistanês continuou a oferecer reconhecimento diplomático, enquanto o Talibã afegão acessava as redes de madrassas e mesquitas no Paquistão para treinar combatentes e arrecadar fundos (AKHTAR AND METRAUX, 2013). Por fim, esse apoio às forças do Talibã afegão permitiu que o mesmo ganhasse apoio no KPK, o que aumentou o extremismo islâmico na região. O Talibã efetivamente espalhou sua influência nas áreas em que o governo paquistanês negligenciou a implementação de reformas políticas e administrativas, especificamente em áreas tribais, como as antigas KPK Federally Administered Tribal Areas - FATA (Território Federal das Áreas Tribais)3 . À medida que o Talibã paquistanês se expandiu por toda essa área, se constituiu como líder das tribos tradicionais (Figura 5). Figura 5. Mapa do Paquistão - Distritos Fonte: Amir Jamal 2016(1-14) 3 KPK e FATA fazem parte, atualmente, de Khyber Pakhtunkhwa, a menor das quatro províncias em que se subdivide o Paquistão. https://en.wikipedia.org/wiki/North-West_Frontier_Province https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search https://www.google.com.br/search 33 Entre 1995 e 2001, a agência militar paquistanesa Inter-Services Intelligence foi amplamente responsabilizada pela comunidade internacional pela prestação de apoio ao Talibã. Muitos funcionários internacionais acusaram o Paquistão de continuar a apoiar o Talibã ainda hoje, mas o país nega essa acusação e afirma que deixou de dar o apoio para o grupo desde 09 de novembro de 2001, quando os Estados Unidos começaram a guerra no Afeganistão, e o Paquistão se tornou um aliado de linha de frente dos Estados Unidos. O Talibã se constituiu, portanto, como uma força militar que governou o Afeganistão entre 1996 e 2001. Sobre a situação das mulheres em relação à sua segurança e aos seus direitos humanos no Afeganistão, Cortright e Persinger (2009) afirmam que, quando o Talibã assumiu o controle do governo, foi imposta uma interpretação estrita da lei islâmica e do direito consuetudinário Pashtun, que é conhecido como Pashtunwali. A partir dessa interpretação, foi tornado obrigatório, para os homens, deixar a barba crescer e, para as mulheres, usar véus - as mesmas passaram a não ter permissão para trabalhar fora de casa, e nem sequer tinham autorização para sairem de suas casas sem um membro masculino da família. A polícia religiosa do Talibã era usada para dar punição severa para quem desobedecesse às ordens morais, incluindo execuções públicas, apedrejamento e amputação (CORTRIGHT AND PERSINGER, 2009). Quando os Estados Unidos derrubaram seu governo após o ataque às Torres Gêmeas (11 de setembro de 2001), o Talibã começou com uma resistência militar dentro do Afeganistão e, mais tarde, expandiu suas atividades militares ao Paquistão, principalmente em áreas tribais tradicionais, como será descrito adiante. Nesse período, segundo a agência A global Terrorism Database, da Universidade de Maryland, mais de 860 escolas foram atacadas por grupos islâmicos radicais entre os anos de 2007 e 2015, na maior parte das vezes, porque as escolas ensinavam Ciências, ou aceitavam meninas. Outro recorte, feito pela ONG CARE, de janeiro de 2006 a dezembro de 2008 houve 1.145 ataques a instituições educacionais paquistanesas, incluindo um incêndio criminoso, um assassinato de professores, e ataques com ácido contra estudantes femininas. Em 2008, os Talibãs tomaram o total controle militar no distrito de SWAT (em amarelo, na Figura 2), sendo totalmente contrários à educação feminina. Ordenaram em mesquitas e através de estações de rádio ilegais4, o fechamento de todas as escolas femininas 4 Para expandir a sua influência em SWAT, o método mais eficaz utilizado pelo Talibã, foi a utilização do rádio FM, tendo em vista que as pessoas ali tinham o hábito de ouvir rádio, uma fonte barata de entretenimento. Foi utilizada uma estação de rádio ilegal que ia ao ar com sermões religiosos. O líder que se tornou famoso por fazer sermões religiosos desta forma foi Maulana Fazlullah, também conhecido como 'FM Mullah', Shah Dauran, e Muslim Khan (O autor). 34 e fixaram o prazo até 15 de janeiro de 2009 para que a determinação fosse seguida. Caso contrário, as escolas seriam explodidas, e se qualquer menina saisse de casa para frequentar a escola, ela seria atacada com ácido, como no Afeganistão (O'MALLEY, 2010); (KHAN, 2015). Em junho de 2009, o Ministério da Educação do Paquistão informou que 695 escolas foram fechadas em todo o país, o que afetou mais de 340 mil alunos. As escolas femininas foram atacadas em uma taxa desproporcional em comparação com as escolas masculinas. (CORTRIGHT E PERSINGER, 2009). Durante a presença do talibã em SWAT, as instituições de educação e saúde foram fechadas, e as crianças e mulheres foram confinadas em suas casas. Eles destruíram CDs de música e lojas, delegacias de polícia e também barbearias que se recusaram a obedecer a ordem de não raspar a barba. Também mataram muitas cantoras e dançarinas na capital do distrito de Mingora City. A infraestrutura educacional foi severamente destruída e, inclusive, edifícios escolares de meninos foram destruídos. Em SWAT, as pessoas eram a favor de véus, pois é uma parte obrigatória do Pashtunwali, sua tradição, e também mantinham mneninos e menicas separados na escola, então, a princípio, não havia qualquer problema quanto aos modos de se vestir ou comportar em geral. O problema surgiu quando o Talibã começou a seguir a forma cultural do Islã - o Talibã era da opinião de que a educação feminina é contra a lei do Islã e, portanto, as mulheres não estariam autorizadas a receber educação; as mulheres, segundo ditado, seriam “para a casa ou para o túmulo”. De acordo com um relatório publicado na “The Guardian” (2011), durante seu governo no distrito, o Talibã destruiu ou danificou 401 escolas, das quais 70% eram escolas femininas. Segundo os talebans, a educação moderna da mulher traz a consciência sobre os seus direitos (ou seja, postos de trabalho, seleção de companheiro, direito de herança em bens, etc.), coisas consideradas um mal na sociedade Pakhtoon5. Diante do exposto, a perseguição às mulheres em relação à educação encontra explicação, mas não justificativa, no fato do Talibã ter uma visão clara sobre a educação e o papel das mulheres: de acordo com um comunicado, Muslim Khan, porta-voz do Talibã no vale do Swat, afirmou, na ocasião: Nós somos muçulmanos. Se não tivesse havido um sistema islâmico de educação e currículo, em seguida, ele teria sido tudo bem importado num sistema de ensino que pertence a outros. Mas, felizmente, o Islã oferece o seu próprio sistema de educação, política, economia e justiça... Se o Islã é 5 Trata-se de um código de leis conservador e oligárquico, que impõe muitas restrições às mulheres. 35 um código completo de vida, então qual é a necessidade de importação de educação do Reino Unido? (SHEHZAD, 2009, p.574-602). Essa afirmação indica claramente a ideologia do Talibã, ao que se acrescenta nas palavras de Muslim Khan: As mulheres são a chave para o estabelecimento de khilafa (Califado). Se nossas mulheres não são educadas na Deen (religião), mas sim na educação ocidental (sozinha), elas vão transmitir informações falsas para seus filhos, ou elas podem criar seus filhos para odiar jihad (guerra santa), para perseguir uma educação para a causa de uma educação, para obter um trabalho de pagamento elevado e não em qualquer interesse com espalhar a Deen de Allah. Se perdermos nossas mães, perdemos a tarbiya Islâmica (formação) das crianças, o que significa que temos crianças que ou não se importam ou são ignorantes sobre o Islã, o que significa que não temos uma forte geração de jovens que são o combustível desta ummah (nação) e este jihad, o que significa que, potencialmente, não tem uma khilafa islâmico. (UMAR, 2009, p 1-6) Estas informações indicam que o Talibã não reconhece e luta contra a educação moderna de ambos os sexos, com ênfase nas mulheres. 2.2.1 Perspectiva dos habitantes de SWAT sobre o Talibã Estas informações foram recolhidas junto ao artigo de Ali (2012) - o autor fez uma pesquisa junto aos habitantes de Swat sobre a presença do Talibã no distrito e sua influência sobre a educação, suas perspectivas políticas e religiosas. Segundo o artigo, as pessoas que tinham recebido educação moderna formal não eram a favor do que estava acontecendo; por outro lado, o estudo concluiu que as pessoas sem educação formal (quase 67% da população total), não tinham a consciência da situação. Segundo o autor, essas pessoas, especialmente mulheres, apoiaram o Talibã, inclusive doando uma enorme quantidade de dinheiro, incluindo objetos pessoais de valor, como jóias. O autor ainda afirma que, com base em sua experiência, as pessoas em SWAT são ‘inocentes’, de mentalidade religiosa, mas que sequer possuem bom conhecimento religioso. Sobre religião, o fato é que os moradores teriam chegado a pedir a Shariah, lei islâmica no distrito, por considerarem o Talibã como uma fonte para a implementação da lei Shariah no distrito porque, no início, os Talibãs apenas falavam sobre religião, sem terem envolvimento em qualquer atividade terrorista ou militante. Em relação à política, assim como em outras áreas pobres do Paquistão, as pessoas em SWAT relataram que foram afetadas positivamente pelo Talibã porque o mesmo teria agido 36 contra os criminosos de forma eficaz. Nesse sentido, segundo a pesquisa, as pessoas pensavam que o Talibã poderia ser uma alternativa para as agências de aplicação da lei do governo para protegê-las. As pessoas também estavam cansadas do sistema judiciário existente - casos pendentes em tribunais durante décadas sem qualquer resultado foram resolvidos quando o Talibã tomou o controle da região. Por fim, a totalidade das pessoas entrevistadas na pesquisa de Ali (2012) perceberam, mais tarde que, depois de tomar o controle da área, o Talibã mudou de posicionamento, pois já havia se estabelecido, graças ao apoio inicial dos habitantes. Uma vez que adquiriram o apoio popular, os Talibãs a criticar as agências de governo abertamente. Centenas de militantes assumiram as delegacias de polícia nessas cidades e estabelecido seus próprios postos de controle. (The Economic Times, 2007). Assim, o Talibã se expandiu, o que afetou negativamente a vida social e econômica dos moradores da área. As instituições de educação e saúde foram fechadas e as crianças e mulheres foram confinadas em suas casas. Eles destruíram CDs de música e lojas, delegacias de polícia e também barbearias que se recusaram a obedecer a ordem de não raspar a barba, também mataram muitas cantoras e dançarinas na capital do distrito de Mingora City (ALI, 2012). Todos os entrevistados concordaram que os Talibãs eram contra a educação feminina e masculina, mas o nível de oposição era diferente, pois não estavam a favor da educação dos meninos porque se tratava de um “sistema de ensino Inglês”, não islâmico. No entanto, o Talibã nunca se opôs à educação dos meninos, até que o governo iniciou uma operação militar contra eles; depois disso, houve destruição de edifícios escolares de meninos. 2.2.2 Resistência e situação atual do Talibã no Paquistão Os combates contra o Talibã no Paquistão começaram em 2004, quando o exército do Paquistão entrou no Waziristão do Sul, onde o Al Qaeda (Organização fundamentalista islâmica fundada por Osama Bin Laden) e os combatentes do Talibã tinham uma base para ataques contra forças americanas e aliadas no Afeganistão. As forças paquistanesas sofreram baixas quase diárias devido a bombas e emboscadas na estrada. O Talibã iniciou uma guerra de pleno direito com o exército paquistanês e se espalhou da FATA para outras áreas em Khyber Pukhtoonkhwa (área próxima), assumindo o controle nos distritos Swat, Dir inferior, Buner e Shangla Figura 6. 37 Figura 6. Mapa dos distritos Swat, Dir inferior, Buner e Shangla6 O exército paquistanês retomou o controle do Talibã após difíceis operações militares. O Talibã afetou severamente essas áreas durante seu controle, matando muitas pessoas, destruindo a infraestrutura educacional, explodindo escritórios do governo, hospitais, delegacias etc. Eles destruíram a economia do país em grande parte. No começo, parecia que a influência do Talibã estava se espalhando para outras áreas da FATA, mas a operação militar do Paquistão as limitou a algumas partes da FATA. Atualmente, o Talibã não tem controle prático de nenhuma área no Paquistão, exceto o Waziristão do Norte, onde acredita-se que a rede Haqqani (grupo guerrilheiro resistente à OTAN, aliado ao Talibã) tenha fortes raízes na área. Os Talibãs ainda estão envolvidos em atividades extremistas no Paquistão e, embora não haja nenhuma guerra direta com o exército, estão realizando ataques suicidas e explosões em várias cidades. A situação no Waziristão do Norte é muito complexa. A rede Haqqani tem influência no Waziristão do Norte, que se acredita ser apoiado pelas agências de inteligência do Paquistão. Os EUA e o governo afegão 6 Khan et all 2015 p 193 38 acreditam que a rede Haqqani está envolvida em várias atividades terroristas no Afeganistão. De acordo com o jornal Dawn, o secretário de imprensa da Defesa dos EUA, George Little, referiu, na época, um ataque em Cabul, Afeganistão, que durou 18 horas: “[...] indicações iniciais são de que a rede Haqqani estava envolvida nesse conjunto de ataques que ocorreram ontem em Cabul.” (DAWN, 2012,). U.S. tem exigido do governo do Paquistão uma operação militar no Waziristão do Norte, mas o governo do Paquistão usa táticas atrasadas. O exército do Paquistão esteve, desde então, envolvido em operações militares de resistência na FATA, que estão responde com ataques suicidas, explosões de bombas, atividades nas cidades para pressionar o governo, etc. Mas, ao contrário do que acontece no Afeganistão, os Talibãs não tiveram tanta influência no Paquistão, exceto na FATA onde, no Waziristão do Sul, o exército do Paquistão fez várias operações militares contra eles. No Waziristão do Norte, o governo do Paquistão se recusou a iniciar uma operação militar, o que criou divergências na relação entre o Paquistão e os EUA (HUSSAIN, 2012). Atualmente, o distrito de SWAT é um lugar muito tranquilo no Paquistão. O exército paquistanês tomou o controle do Talibã e vem fazendo operações de busca em várias ocasiões, sempre que recebem qualquer pista dos Talibãs, terminar qualquer possibilidade de o mesmo voltar ao poder mais uma vez. O cenário da educação no país vem mudando. Uma vez que o ensino é deficiente em escolas públicas, muitas famílias se uniram e começaram a matricular os filhos nas escolas privadas que custam pouco, fazendo com que o número destas escolas crescesse - em Punjab, o número dessas escolas aumentou de 32 mil em 1990, para 60 mil em 2016. As políticas públicas educacionais do país vêm, gradativamente, oferencendo bolsas de estudo e financiamentos, gerando o maior sistema de ensino tercerizado do mundo, com financiamento do groverno. Há mais escolas privadas cuidando do Ensino Básico em Punjab, do que o total de colégios públicos e privados da Califórnia, EUA. Outras cidades do Paquistão estão fazendo reforma semelhante, mas é importante destacar que Punjab tem cerca de 50% da população do país. Existem vários apontamentos, como o do Banco Mundial (2018), a respeito dos resultados serem promissores, uma vez que a parceria entre os setores públicos e o privado está funcionando para os alunos paquistaneses. Mas há também controvérsias, pois, o Estado não assume a educação integral dos alunos, que é o dever de uma política pública educacional. No entanto, há uma amostragem do Banco Mundial (2018) que demonstra que os subsídios oferecidos pela educação pública a empresários locais para abrir escolas em 199 39 vilarejos resultou em um aumento de 30% no ingresso de crianças de seis a dez anos no sistema de ensino. Isto resultou na melhora dos resultados dos exames nacionais, mudando a percepção das famílias, que passam a ver a importância de buscar uma formação mais avançada para seus filhos, como Medicina e Engenharia, para que os mesmos não se limitem a trabalhar apenas como vigilantes, pedreiros, pintores, etc. Em relação às meninas, a expectativa é que se tornem professoras em vez de, somente, donas de casa. Percebe-se que a mulher ainda é colocada em segunda classe, mas há uma evidência de que as famílias querem que elas saiam de casa7. O Primeiro Ministro do Paquistão, Muhammad Nawaz Sharif, já em 2015, deu uma entrevista para a Project Syndicate, sobre a importância da educação - e especialmente da escolaridade - no seu país, e disse que ela não pode ser apagada, não pode ser entendida como uma ação pequena, sendo fundamental. Segundo ele, a educação básica está ligada à aceleração do crescimento econômico, à erradicacação da pobreza, e à mudança no que tange à equidade e à igualdade de gênero. Nas suas palavras, com a transformação da educação para todos o país poderá ter um “[...] enriquecimento social e inclusão, melhoria do capital humano, maiores oportunidades e maior liberdade e bem-estar” (PROJECT SYNDICATE, 2015). Na visão atual do Primeiro Ministro, as escolas de Ensino Básico devem ser protegidas dos terroristas e oferecerem uma educação de muita qualidade, assim, elas poderão conter o terrorismo no fututro. Para ele, só a educação poderá trazer mudanças ao país, pois quanto mais pobreza, mais ignorância e mais violência, mais meninos são levados ao terrorismo8. 7 Dados disponíveis em: Acesso em: 24 junh. de 2019. 8 Disponível na integra em Acesso em 24 junh. de 2019. https://www.economist.com/news/leaders/21734000-what-worlds-sixth-most-populous-state-can-teach-other-developing-countries-pakistans-lessons http://www.project-syndicate.org/ http://www.project-syndicate.org/ 40 3 MALALA: visibilidade para a luta das mulheres pela educação Malala uma ativista paquistanesa, luta pelas mulheres no mundo, pela equidade e igualdade de oportunidades. Ela trás em seus discursos e sua luta pelas mulheres que sofrem diariamente violência de gênero. Afirma sempre, que cada um (a) de nós é uma pessoa única, que, porém tem características comuns a toda a humanidade. Elas nos identificam com alguns e nos tornam diferentes de outros, como a região em que nascemos e crescemos nossa etnia, classe social, se temos ou não uma religião, idade, nossas habilidades físicas, entre outras que marcam a diversidade humana. (SHAUKAT E COLAB., 2014) (OHCHR, 2017). A discriminação de gênero nas áreas dominadas pelos pashtuns 9 em relação à educação, e a desigualdade na educação pode ser uma das principais causas de desigualdade na capacidade e possibilidades das pessoas; limitando as capacidades das mulheres, mantendo-as afastadas da educação, suas possibilidades de vida assim, foram reduzidas de forma drástica - durante o tempo que os talibãs estiveram no poder, não permitiram, por exemplo, que médicos do sexo masculino tratassem pacientes do sexo feminino. Segundo Cole (2003), para os Talibãs, “[...] se uma mulher estava doente era melhor ela morrer do que ser tratada por um homem. Se ela se recusasse a deixar um médico tocá-la, ela estaria certa de ir para o céu. Se ela se deixasse tratar por ele, seria condenada ao inferno” (p. 56). Nesse sentido, é muito importante que a igualdade de gênero seja parte em todas as etapas da vida, desde a educação infantil até a universidade, onde é o espaço adequado e o mais importante, pois a educação abre possibilidades de igualdade e equidade para todos e todas, viverem com direitos e dignidade na sociedade. No Paquistão, o baixo progresso educacional, a dificuldade de a mulher ir para escola, pelo regime do Talibã e a alta taxa de evasão, são o resultado do baixo nível de escolaridade das mulheres. O sistema educacional do Paquistão após 65 anos de independência ainda está pouco desenvolvido. Os indicadores mostram um desempenho desanimador do setor da educação: níveis extremamente atordoantes de articulação adulta, menos admissão e enormes taxas de evasão no ensino fundamental, altas proporções aluno-instrutor, amplas disparidades de gênero e províncias com baixos níveis de instituições públicas, como é o caso de escolas. No Paquistão, a discriminação de gênero é evidente em todo o país. Apenas 10% das 9 Os pashtuns (também chamados de Pushtan, Paktun ou Pathan) são o maior grupo étnico do Afeganistão. Embora seus números exatos sejam incertos e, como em outras comunidades, sejam contestados, estimativas anteriores sugeriram que eles compõem cerca de 42% da população. Eles vivem principalmente no sul e no leste do país. Eles têm uma língua distinta chamada pashto (uma língua oficial desde 1936), mas também falam Pakhto, que são dialetos iranianos que se enquadram no grupo indo-europeu de línguas. (Disponível em: Acesso em 19/08/ 2020, 14:00 h.) http://../Downloads/Dispon%C3%ADvel%20em:%20%3chttps:/minorityrights.org/%3e%20Acesso%20em%2019/08/%202020,%2014:00%20h.) http://../Downloads/Dispon%C3%ADvel%20em:%20%3chttps:/minorityrights.org/%3e%20Acesso%20em%2019/08/%202020,%2014:00%20h.) 41 mulheres paquistanesas receberam 10 anos ou mais de escolaridade. As mulheres paquistanesas geralmente não têm acesso à educação básica. A taxa de alfabetização feminina é de cerca de 41%, em comparação com a taxa de alfabetização masculina de 69% (PSLM 2012-13) (AHMAD RAZA AND HASAN MURAD). O baixo nível de alfabetização das mulheres se deve a vários motivos, famílias com uma renda mais baixa e um maior número de filhos, então os pais acabam por educar o homem, pois ele é considerado o mantenedor de sua família. O acesso das meninas à educação no Paquistão foi e segue limitado, apesar das melhorias nos últimos 20 anos, fatores subjacentes ainda tornam o sistema de educação estadual improdutivo e devem ser tratados para que o acesso das meninas à educação seja garantido. A proporção atual de alfabetização de homens para mulheres ainda é de 65:40 (http://www.eldis.org/). No Paquistão, os principais fatores responsáveis pela educação precária das mulheres é a falta de instalações educacionais. Além disso, as questões que dificultam as taxas de matrícula de mulheres jovens incluem pobreza, restrições culturais, analfabetismo dos progenitores e preocupações dos pais quanto à segurança e mobilidade de suas filhas, para irem às escolas. A ênfase da sociedade na modéstia, segurança e casamentos prematuros das meninas pode limitar a vontade da família de mandá-las para a escola. A maioria das meninas paquistanesas continuam analfabetas devido à privação de oportunidades de escolarização fundamentais. Nas sociedades tradicionais, as mulheres são desencorajadas a buscar educação pelos pais / idosos porque, mulheres são consideradas adequadas, apenas para as responsabilidades domésticas e para cuidar dos filhos mais jovens. A educação feminina foi e ainda é privada devido a normas antigas; rituais, classificação de status, sociedade rural e informações piedosas erroneamente implicadas. O baixo valor da instrução feminina é percebido por seus procriadores porque as posições cruciais de supervisão na vida provincial e nacional são restritas apenas aos homens. A maioria das famílias proíbe o envio de suas meninas para institutos de educação de estudos superiores também. Embora muitas mulheres tenham adquirido o ensino superior, a admissão geral de jovens do sexo feminino em instituições primárias e secundárias é menor do que a dos adolescentes do sexo masculino. Malala vivia inserida num ambiente com essas condições apontadas, mas como lutava para frequentar a escola, fez com que ela sofresse violência de gênero por lutar por igualdade de oportunidade, isto é, ir a escola, como os meninos iam, lutava por igualdade e equidade de gênero (Shaheen Irum 2013) (ASHRAF ET ALL 2015,(UZMA SHAUKAT 2004) . http://www.eldis.org/ 42 Malala foi alvo dos Talibãs devido ao seu importante papel na política paquistanesa - desde muito jovem, advogava por direitos à educação, especialmente para meninas. Em 2009, quando tinha apenas onze anos, começou a publicar um blog anônimo para a British Broadcasting Corporation (BBC), detalhando seus medos e lutas diárias em um país dominado pelo Talibã (SADAF, 2017 APUD YOUSAFZAI AND LAMB, 2015). Na manhã de 09 de outubro de 2012, Malala Yousafzai, de 15 anos, foi baleada pelo Talibã Figura 7: Figura 7. Malala Yousafzai baleada pelo Talibã aos de 15 anos de idade Edition: 1Publisher: www.lbp.world, LuLu Publication, United States.Editor: AshokISBN: 978-1- 67813-162-3 Sentada em um ônibus indo para casa da escola, Malala estava conversando com suas amigas sobre trabalhos escolares. Isto parecia ser como qualquer outro dia. Naquela manhã, no entanto, um membro do Talibã embarcou no ônibus, perguntou por Malala pelo nome e disparou três tiros nela. Uma das balas entrou na testa dela, viajou por debaixo do rosto, e alojou-se firmemente no ombro. Nesse mesmo dia, ela foi levada do Paquistão para uma unidade de terapia intensiva na Inglaterra. Tem sido muito perigoso para ela voltar ao seu país de origem. (SADAF, 2017, p 855-871 apud Yousafzai and LAMB, 2015, p.. 1-77 Tradução do autor). A história de Malala é muito significativa porque ela é um modelo internacional de resistência corajosa por colocar conscientemente em risco sua vida, “[...] a fim de tornar a 43 educação uma possibilidade e uma realidade para as meninas em seu país” (RYDER 2015 APUD YOUSAFZAI AND LAMB, 2015, P.1-77 ) Figura 8. Malala Yousafzai, Vencedora do Prêmio Nobel da Paz - Edition: 1Publisher: www.lbp.world, LuLu Publication, United States.Editor: AshokISBN: 978-1-67813-162- Além disso, o tiroteio de Malala causou uma onda de indignação e preocupação internacional, o que levou a uma maior conscientização sobre os abusos dos direitos humanos no Paquistão e instituições de ensino internacionais a prestarem mais atenção ao status educacional no Paquistão. Atualmente residindo em Birmingham, Inglaterra, Malala é uma defensora ativo da educação como um direito social e econômico fundamental. Na presença de muitos espectadores passivos, Malala é admirável por sua resistência às descrevendo, por exemplo, como Maulana Fazlullah, líder de um grupo fundamentalista islâmico e aliado do Talibã paquistanês ganhou poder através do aumento dos níveis de hostilidades e violência. Apesar das difíceis condições de vida e do medo de consequências, ela interrompeu o ciclo do 44 silêncio, e suas ações lembram aos indivíduos de sua capacidade de pressionar as autoridades sobre o respeito aos direitos humanos. No entanto, é importante explicar que as pré-condições, o contexto e a rede permitiram que Malala resistisse (KHOJA-MOOLJI, 2015 APUD YOUSAFZAI AND LAMB, 2015). Ela cresceu em um conjunto único de condições, comparado à maioria das meninas no Paquistão. O pai e a comunidade de Malala valorizavam a educação, incluindo a educação para mulheres, e ela aprendeu o valor da resistência de seu pai, que a encorajou a ser sincera sobre o sistema educacional injusto no Paquistão e a aceitar a responsabilidade de instituir mudanças. Além de seu pai, a comunidade em que Malala nasceu moldou seus pontos de vista sobre educação - no vale do Swat, que se orgulhava de ser chamada de “a Suíça do Paquistão”, por causa de suas belas paisagens, que lembram os Alpes Suíços. (HUSAIN, 2013). Quando ela nasceu, em 1997, o vale, que fica na parte noroeste do Paquistão, ainda era pacífico. Historicamente, a região noroeste tem sido uma das regiões menos desenvolvidas do Paquistão, mas Swat, curiosamente, tem sido um ponto brilhante em termos de educação. Até 1969, era um principado semiautônomo liderado por uma dinastia chamada Wali. O líder da dinastia foi chamado de Wali de Swat. O primeiro Wali chegou ao poder em 1915 e, embora sem instrução, ele estabeleceu as bases de uma rede de escolas no vale em que a primeira escola primária dos meninos foi construída em 1922, seguida por alguns poucos anos pela primeira escola de meninas no Swat Valley. Quando seu filho chegou ao poder, o foco na educação continuou. O neto do primeiro Wali de Swat, Adnan Aurangzeb, diz: “Teria sido incomum em qualquer outro lugar da fronteira [noroeste] naquela época, mas em Swat as meninas estavam indo para a escola”. Logo, Swat Valley ficou conhecido em todo o Paquistão pelo número de profissionais que estava produzindo, especialmente médicos e professores. Uma maneira de identificar um Swati fora de Swat era que ele sempre tinha uma caneta no bolso do peito, e isso significava que ele era alfabetizado. (SIDDIQI, 2014, p.27-30 Tradução do autor.) As mulheres em Swat Valley entendem que a educação lhes dá mais opções. Enquanto meninos com baixa escolaridade podem esperar encontrar emprego como trabalhadores não qualificados, as mulheres terão seu poder aquisitivo restrito ao que eles podem fazer dentro das quatro paredes de sua casa: 45 ‘Para meus irmãos, foi fácil pensar no futuro’, disse Malala, ‘eles podem ser o que quiserem. Mas para mim foi difícil e por esse motivo eu queria me tornar educada e me capacitar com conhecimento’. Malala entendeu que, se não fosse educada, sua única opção era encontrar um marido e passar a vida cuidando da casa dele. Por isso foi encorajada a resistir. ‘Eu queria defender meus direitos’, diz ela, ‘e também não queria em meu futuro estar sentada em uma sala e ser presa em minhas quatro paredes, apenas cozinhando e dando à luz filhos. Eu não queria ver minha vida dessa maneira. (WALTERS, 2017, p.23-38, Tradução do autor.). No entanto, a insurgência dos Talibãs no Paquistão continua desafiando o sonho de Malala e reforçando suas opiniões extremistas sobre ela e outras mulheres. As raízes profundas do Talibã e sua ideologia, usada para oprimir a educação das mulheres, criam um contexto político e social muito específico. Ao crescer, Malala viu o Talibã fechar as escolas em todo o Paquistão. Em 2013, as autoridades governamentais no noroeste do Paquistão relataram que mais de 800 escolas para meninas foram atacadas desde 2009. O Talibã acredita que a educação das meninas é um símbolo de “decadência e autoridade governamental” e, depois de atirar em Malala, o Talibã emitiu uma declaração que dizia: “Malala foi alvo por causa de seu papel pioneiro na pregação do secularismo” (SIDDIQUI AND WALSH, 2013, P.4). Segundo os opositores, Malala estava promovendo a cultura ocidental nas áreas pashtun, e foi vista como uma ameaça ao nacionalismo paquistanês e à ideologia islâmica - o Talibã paquistanês prega para pais que a educação das meninas é “não islâmica”, e os incentiva a rejeitar a educação para reafirmar seu compromisso com o Islã. (TAHA AND DECLAN, 2013); (YOUSAFZAI, 2013); (GHUFRAN, 2009). 3.1 Contexto Como observado, o fundamentalismo religioso tem um enorme impacto do Paquistão, especialmente entre meninas. Muitos líderes religiosos antifeministas justificam a opressão das mulheres em nome do Islã. Segundo Nasreen Akhtar, estudioso de relações internacionais e professor de Ciências Políticas em uma universidade no país: “Muitas vezes, são clérigos paquistaneses equivocados, promovendo práticas sociais pré-islâmicas e desumanas, práticas, às quais foi permitido definir o papel da mulher na sociedade”. (AKHTAR AND METRAUX, 2013). Para milhões de paquistaneses, o clero religioso se torna a única fonte de informação; como a população do Paquistão está concentrada nas áreas rurais, onde 65% da população é 46 analfabeta, “[...] as interpretações do Islã variam e geralmente se limitam a ouvir e acreditar no conhecimento promulgado por estudiosos religiosos” (LATIF, 2009, P. 424-439). Assim, as pessoas tendem a sustentar que o Islã restringe as mulheres às quatro paredes do lar. As áreas rurais do Paquistão, que consistem na maioria da população, têm papéis predefinidos para as mulheres, como cuidar de crianças, cozinhar, lavar roupas, limpar a casa, etc. As pessoas racionalizam que, para que as mulheres sejam confinadas em quatro paredes, a sociedade não deve assumir o ônus financeiro de educá-las. Costumes existentes e tradições defendidas pelo clero religioso levam a restrições familiares que, muitas vezes, impedem as meninas de frequentar escolas. Segundo, ainda, Latif (2009), embora os clérigos religiosos justos justifiquem a opressão que sofrem as mulheres que seguem o Islã, como religião, eles também fornecem proteção e segurança completas para essas mulheres, devido ao advento do islã no século vii: “Após o advento do Islã na Península Arábica, no século VII, as mulheres receberam muito, incluindo o direito de buscar uma educação, ter uma herança, possuir uma empresa/comércio e propriedade e rejeitar uma proposta de casamento, entre outros direitos” (LATIF, 2009, p.1). A constituição paquistanesa, que é influenciada pelo Alcorão (o livro sagrado do Islã), garante respeito, segurança e direitos iguais para as mulheres. No entanto, costumes e tradições da sociedade que restringem os direitos das mulheres, advindos do sistema imposto pelo talibã, retirando o direito à educação, ofuscaram os ensinamentos fundamentais do Islã. Apesar dos esforços governamentais para diminuir a distância entre homens e mulheres, o Paquistão ainda continua a ser uma sociedade onde as mulheres lutam por seus direitos básicos: “Assassinatos de honra, casamento forçado e violência contra mulheres são comuns em muitas áreas” (AKHTAR and METRAUX, 2013, p. 35-70). A estrutura societária patriarcal limita o acesso à educação para meninas - os homens ainda esperam que as mulheres realizem tarefas domésticas e, como resultado, as meninas são forçadas a ficarem sem irem à escola, para ajudarem suas mães nas tarefas domésticas, enquanto os meninos vão para a escola. Algumas líderes políticas femininas que tiveram a coragem de defender direitos educacionais para meninas, muitas vezes foram confrontadas com a humilhação de seus colegas do sexo masculino. Muitos homens no Paquistão são intolerantes com as mulheres que lutam por oportunidades iguais de educação para as meninas. Assim, o estado educacional sombrio e as normas sociais rudimentares no Paquistão influenciaram Malala e outras mulheres a lutarem por justiça e igualdade para as mulheres. 47 Além desse contexto político e social restritivo, Malala também teve acesso a uma rede de modelos políticos e líderes que a inspiraram a se tornar uma resistente corajosa ativista e combatente da desigualdade de gênero. Benazir Bhutto, a primeira primeira-ministra do mundo islâmico, é um exemplo de mulher que deu a Malala esperança para seu país e inspiração para sua própria vida na política: “Foi por causa de Benazir, que meninas como eu, pode pensar em nos manifestar e nos tornar políticas, diz Malala. Ela era o nosso modelo. Ela simbolizava o fim da ditadura e o começo da democracia, além de enviar uma mensagem de esperança e força ao resto do mundo”.(YOUSAFZAI, 2013, p.35-40). Muitas paquistanesas procuram em Malala ou mesmo em Benazir orientação para suas lutas. Quando Benazir foi eleita para ser a primeiro-ministro, Malala disse: “De repente, houve muito otimismo em relação ao futuro”. Quando Benazir foi assassinada, Malala disse: “Parecia que meu país estava ficando sem esperança”. Benazir era uma mulher que teve um amplo impacto nas atitudes de muitos paquistaneses. Seu papel na política deu a Malala a inspiração e a estrutura política necessárias para implementar a mudança. (YOUSAFZAI, 2013,p.35-40) O pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, também teve uma influência significativa em suas motivações para se tornar uma ativista social e política, pois dele recebeu incentivo, orientação e inspiração. Quando Malala nasceu, seu pai havia realizado o sonho de fundar sua própria escola, que começou com apenas uns poucos alunos, mas logo floresceu em um estabelecimento que educava mais de 1.000 meninas e meninos. Malala cresceu com um pai que era educado e acreditava que as mulheres deveriam ser educadas. A resposta global ao ataque a Malala foi amplamente positiva no mundo ocidental. Em seu aniversário de 16 anos, em 12 de julho de 2013, ela foi convidada a falar Nas Nações Unidas em sua primeira aparição pública após o incidente. Este discurso fez parte do evento do Dia de Malala, que foi organizado em grande parte por Gordon Brown, ex-primeiro- ministro britânico e nomeado recentemente para as Nações Unidas. Enviado Especial para a Educação Global. O objetivo do Dia da Malala era lançar a campanha “Eu sou Malala”, de Brown, em um esforço para aumentar o impacto na luta pelos direitos da educação das mulheres em todo o mundo (YOUSAFZAI and LAMB, 2015). Tudo foi muito divulgado pela mídia ocidental e a mensagem de Malala foi reforçada na mídia de vários países e até compartilhada em seu livro de memórias “Eu sou Malala: a garota que defendeu a educação e foi baleada pelos Talibãs”. Por essa fama global, ela recebeu o Prêmio Mundial da Criança, semelhante ao Prêmio Nobel da Paz, prêmio dado por 48 adultos, que visa reconhecer crianças que servem de exemplo para seus pares e também fazer suas vozes serem ouvidas na luta pelos direitos das crianças em todo o mundo”. (BROWN, n.d.). A resposta à publicidade de Malala em SWAT sua terra natal, no entanto, foi mista. A maioria das pessoas sabia de Malala e estavam cientes de seu ataque. Muitos também tinham a consciência de que a razão do ataque foi que Malala e sua família eram muito conhecidas como combatentes pelos direitos à educação de meninas. Como resultado do tiroteio, no entanto, a fama de Malala aumentou o que gerou uma reputação negativa entre algumas pessoas da região de Swat. Alguns passaram a vê-la como uma figura em busca de atenção para si mesma, em vez de direcionar a atenção para sua causa. Outros temeram que os extremistas voltassem ao poder na área, e que qualquer sinal de apoio pudesse levar a ataques ao partido e sua família. Outros até questionaram se o evento foi relacionado à luta de Malala pela educação. Begum, o oficial de educação distrital de Swat afirmou, na época, que muitos defensores dos direitos das mulheres na educação desejavam que Malala voltasse para sua casa para ser mais ativa com as pessoas de lá (WALSH, n.d.). O que alguns não percebiam, era o perigo que a esperava em SWAT. No geral, o Paquistão sofreu um continuum de destruição, uma vez que os direitos humanos foram negados seguidos anos, com a insurgência dos Talibãs na região. Eles oprimiram as mulheres por meio de leis que regiam as roupas que elas podiam usar músicas que podiam ouvir e lugares para onde ir, assim como coisas que podiam fazer. Além disso, esperava-se que as mulheres fossem totalmente submissas e subservientes aos homens. Em uma longa história de opressão, Malala considerou a negação da educação para meninas como a gota d'água que exigia oposição. Por isso, quando Malala se posicionou, pessoas de seu país e de todo o mundo perceberam e, segundo disse Staub (1989), “[...] os espectadores podem exercer uma influência poderosa. Eles podem definir o significado dos eventos e levar os outros a empatia ou indiferença” (p.11-17). Como resistente ativa, Malala desempenhou um papel crucial ao guiar os indivíduos da ignorância e indiferença à compaixão e à preocupação - ela tinha apenas onze anos quando começou a escrever na BBC como escritora anônima, e passou progressivamente para os holofotes internacionais, trazendo visibilidade à situação das mulheres não somente no Paquistão, mas em muitos outros lugares do mundo. Hoje sua entrada como ativista e defensora da educação de meninas e mulheres esta em todos os países que tratam as mulheres 49 como indivíduos de segunda classe, aumentando o número de mulheres defensoras da equidade e igualdade de gênero e educação para meninos e meninas com dignidade. 3.1.1 Educação e Desigualdade de Gênero Ao falar sobre o acesso das mulheres ao Ensino Superior no Paquistão, é importante lembrar que a classe social determina, em geral, o acesso de meninas e mulheres à educação, juntamente com o tipo de educação que receberam. É comum ver mulheres pertencentes à classe alta atingirem este nível de ensino, no entanto, culturalmente, os pais preferem investir na educação dos filhos homens, se tiverem recursos limitados, pois entendem que a segurança da velhice está ligada à renda de seus filhos. O investimento dos pais em relação às meninas consiste em coletar um bom dote para o casamento (NOUREEN, G., & AWAN 2011); (MUSTAFA; KHAN, 2016); (UNICEF 2005). Os pais consideram o casamento como o objetivo final da vida das meninas, portanto, a educação das mulheres no Paquistão está interligada e fundamentada na perspectiva predominante de que as meninas devem trabalhar em casa para aprenderem as tarefas domésticas, e não desperdiçarem seu tempo com educação. Além disso, as mulheres no Paquistão não formam um grupo homogêneo e suas oportunidades de educação variam muito, dependendo do sistema social do qual fazem PARTE (KHAN, 2007); (JAYAWEERA, 1997). Nesse sentido, nas áreas rurais, as estruturas patriarcais e a pobreza reduzem consideravelmente as oportunidades educacionais para meninas (FARAH & BACCHUS, 1999); por outro lado, meninas e mulheres jovens pertencentes às classes alta e média nas áreas urbanas têm cada vez mais acesso à educação e a oportunidades de emprego (KHAN, 2007) - assim, de certa forma, o papel do Ensino Superior como um instrumento poderoso e mediador da mudança social no Paquistão foi destacado por Herz e Sperling (2004). No entanto, as matrículas no Ensino Superior no Paquistão estão entre as mais baixas do mundo; em 2005, esta taxa era de apenas 2,9% da população entre as idades de 17 e 23 anos - em outros países em desenvolvimento como, por exemplo, a Índia, a taxa está em 10% e, na Coréia, em 68% (Government of Pakistan, 2005b); (Governo do Paquistão, 2005b), o Brasil em 2017, possuía uma taxa bruta de matrículas da Educação Superior de 36,9% na mesma faixa etária10 (Agência Brasil, 2019). Uma das principais razões para estes índices está 10 https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2019-06/brasil-tem-baixa-taxa-de-escolarizacao- superior-diz-sindicato (17/09/2020 – 17:00 h) https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2019-06/brasil-tem-baixa-taxa-de-escolarizacao-superior-diz-sindicato https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2019-06/brasil-tem-baixa-taxa-de-escolarizacao-superior-diz-sindicato 50 no fato de que, entre 2006 e2007, o Paquistão gastou apenas 2,5% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em educação, o que está consideravelmente abaixo da média regional da Ásia do Sul e da recomendação da UNESCO, de 4% (Governo do Paquistão, 2009). Voltando à questão da inserção educacional feminina, a lacuna aumenta à medida que as meninas avançam do Ensino Fundamental para o Secundário, e aos níveis mais avançados, pois as mulheres estão menos propensas a obterem acesso na educação básica ou adquirirem a educação necessária para se prepararem para o Ensino Superior (Instituto de Estatística da UNESCO, 2007). Outras razões para esta situação educacional das mulheres no país incluem o aumento do custo da educação e as altas taxas de crescimento populacional, nesse sentido, vários fatores políticos, sociais e econômicos desempenham um papel enorme na criação de um ambiente educacional desigual para as mulheres no Paquistão. A discriminação de gênero no Ensino Superior não pode, portanto, ser sanada sem um discurso sobre a eqüidade de gênero na sociedade em nível nacional. As mulheres no Paquistão, como outras mulheres no mundo, sempre estiveram cientes das desigualdades de gênero. No entanto, o surgimento do movimento feminista no país ocorreu tardiamente devido a uma complexa relação entre as demandas das mulheres por direitos iguais e o movimento nacionalista. Leila Ahmed, uma feminista muçulmana, descreve o movimento feminista em países islâmicos (como Paquistão, Irã, Arábia Saudita) como um desafio para as mulheres que estavam colocando sua fé contra sua identidade e gênero muçulmanos (MIR, 2009). É difícil categorizar as vozes feministas emergentes no Islã, pois elas refletem a diversidade de posições e a abordagem das visões feministas. Todas as feministas buscam justiça de gênero e igualdade para as mulheres, embora elas não concordem com o que constitui justiça ou igualdade com base nos princípios islâmicos. Um problema fundamental é a falta de conscientização das mulheres sobre os direitos que lhes são conferidos pela lei paquistanesa. Assim, uma pesquisa realizada pela Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (Governo do Paquistão, 2005c) estabeleceu que, em uma amostra populacional