0 ESTUDO DA HELMINTOFAUNA DE TARTARUGAS MARINHAS PROCEDENTES DA COSTA BRASILEIRA MAX RONDON WERNECK Tese apresentada ao Instituto de Biociências, Campus de Botucatu, UNESP, para obtenção do título de Doutor no Programa de Pós- Graduação em Biologia Geral e Aplicada, Área de concentração Biologia de parasitas e microorganismos. Reinaldo José da Silva BOTUCATU – SP 2011 Campus de Botucatu Instituto de Biociências PG-BGA 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Julio de Mesquita Filho” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS DE BOTUCATU ESTUDO DA HELMINTOFAUNA DE TARTARUGAS MARINHAS PROCEDENTES DA COSTA BRASILEIRA MAX RONDON WERNECK REINALDO JOSÉ DA SILVA Biologia de parasitas e microorganismos. Reinaldo José da Silva BOTUCATU – SP 2011 Campus de Botucatu Campus de Botucatu Instituto de Biociências PG-BGA 2 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO DE AQUIS. E TRAT. DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE Werneck, Max Rondon. Estudo da helmintofauna de tartarugas marinhas procedentes da costa brasileira / Max Rondon Werneck. - Botucatu, 2011 Tese (doutorado) - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, 2011 Orientador: Reinaldo José da Silva Capes: 21302022 1. Helmintologia. 2. Tartaruga marinha - Parasito. 3. Parasitologia. 4. Brasil. Palavras-chave: Endoparasitas; Helmintofauna; Nematoda; Tartarugas marinhas; Trematoda. Campus de Botucatu Instituto de Biociências PG-BGA 3 Dedicatória Este trabalho é inteiramente dedicado às pessoas mais importantes para mim: Paula e Isabel. Sem o apoio de vocês nada disso teria sido realizado... Sem vocês os momentos difíceis seriam piores e os alegres impossíveis. Por vocês sigo em frente a cada dia, precisando apenas de um sorriso de cada uma e mantendo um dia após o outro. Eu amo vocês! 4 AGRADECIMENTOS Ao Professor Dr. Reinaldo José da Silva, pela paciência e por mais uma vez acreditar neste projeto. À Dra. Cecília Baptisttote, obrigado pela força e ajuda nas horas mais complicadas. Aos funcionários e estagiários do Projeto Tamar que fizeram deste esforço uma realidade não somente em Ubatuba, mas também nas outras estações de trabalho. Meus pais, Eduardo e Paulina, e irmãos pelo incentivo desde pequeno. Hermes por mais esta grande aventura (e que não seja a última!!!) 5 That´s all. 6 Resumo 7 RESUMO O presente estudo teve como objetivo realizar um levantamento da fauna de helmintos parasitas de tartarugas marinhas da Costa brasileira. Foram estudados 590 quelônios pertencentes a cinco espécies: Chelonia mydas (n = 508), Caretta caretta (n = 31), Eretymochelys imbricata (n = 31), Lepidochelys olivacea (n = 12) (Cheloniidae) e Dermochelys coriacea (n = 8) (Dermochelidae). Somente animais mortos ou que vieram a óbito nos Centros de Reabilitação das Bases do Projeto Brasileiro de conservação e manejo de tartarugas marinhas (TAMAR-ICMBIO) foram incluídos no estudo. A análise parasitológica foi realizada no trato digestório, sistema circulatório e cavidade dos animais. Um total de 36.186 helmintos parasitas das classes Trematoda e Nematoda foram encontrados, sendo que a maior predominância foi observada para os trematódeos. Treze famílias, 34 gêneros e 41 espécies foram identificados. Dados sobre prevalência, riqueza, intensidade de infecção e abundância de parasitas são apresentados para cada parasita encontrado e por hospedeiro estudado. Os resultados obtidos representam uma importante contribuição para o conhecimento da fauna de helmintos parasitas de tartarugas marinhas e sobre a distribuição geográfica destes helmintos ao longo da Costa brasileira. 8 Abstract 9 Abstract The present study aimed to evaluate the helminth parasites of sea turtles from Brazilian Coast. A total of 590 chelonians from five species were studied: Chelonia mydas (n = 508), Caretta caretta (n = 31), Eretymochelys imbricata (n = 31), Lepidochelys olivacea (n = 12) (Cheloniidae) and Dermochelys coriacea (n = 8) (Dermochelidae). Only dead animals or that died in TAMAR-ICMBio Project Marine Sea Turtle Rehabilitation Center were included in the study. The parasitological analysis was performed in the animal’s digestive tract, circulatory system and cavity. A total of 36,186 helminthes of the classes Trematoda and Nematoda were found, with great predominance of the trematodes. Thirteen families, 34 genera and 41 species were identified. Data on prevalence, richness, intensity of infection and abundance of parasites are presented for every helminthes species, for each studied host. The obtained results represent an important contribution to the knowledge of helminth fauna of sea turtles and on the geographic distribution of these helminthes in the Brazilian Coast. 10 Introdução 11 Introdução As tartarugas marinhas são animais caracterizados principalmente pela grande adaptação ao ambiente aquático, através do desenvolvimento de uma carapaça hidrodinâmica e membros transformados em nadadeiras, mantendo a dependência do ambiente terrestre especialmente para sua ovoposição, principalmente nas regiões tropicais até o nível subtropical (Pritchard, 1997). Das sete espécies de tartarugas marinhas existentes no mundo, cinco ocorrem no Brasil: tartaruga de couro ou gigante (Dermochelys coriacea), tartaruga cabeçuda ou mestiça (Caretta caretta), tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea), Tartaruga de pente, verdadeira ou legítima (Eretmochelys imbricata) e tartaruga verde ou aruanã (Chelonia mydas) (Marcovaldi e Marcovaldi, 1999). Em tartarugas marinhas, muitos trematódeos e nematóides têm sido descritos na literatura mundial, sendo a maioria encontrada em trato gastrintestinal (George, 1997). Dentre os helmintos parasitos de tartarugas marinhas na Costa brasileira, apenas nematóides e trematódeos foram relatados. Entre os nematóides, três espécies foram encontradas em C. mydas: Kathlania leptura, Sulcascaris sulcata e Tonaudia freitasi Vicente e Santos, 1968 (Vicente et al., 1993). Werneck et al. (2008a) relataram a ocorrência de S. sulcata e K. leptura em indivíduos juvenis de C. caretta. Quanto aos trematódeos, há grande diversidade de parasitas e o hospedeiro mais estudado tem sido C. mydas. Outros relatos envolvendo C. caretta também foram publicados (Travassos et al.,1969). A primeira referência sobre trematódeos parasitas de C. mydas na costa brasileira data do ano de 1901. A espécie descrita (Monostoma trigonocephalum) pertencia a Pronocephalidae e este material foi identificado por Braun e depositado no Museu de Viena (Ruiz, 1946). Posteriormente, Travassos (1934) publicou o trabalho intitulado “Synopse dos Paramphistomoidea”, no qual, através de uma revisão bibliográfica, relatou as várias espécies desta superfamília (Schizamphistomum scleroporum, Schizamphistomoides spinulosum, Microscaphidium reticulare, Microscaphidium aberrans, Polyangium linguatula, Polyangyum miyajimai, Angiodictyum parallelum, Octangium sagitta, Octangium hasta, Octangium proteus e Deuterobaris proteus), porém nenhum parasito de C. mydas relatado neste trabalho tinha até o momento sido descrito em animais da costa brasileira. Freitas e Lent (1938), após exame necroscópico de um exemplar juvenil de C. mydas proveniente do Rio de Janeiro, obtiveram três exemplares de um trematódeo desconhecido, o 12 qual foi descrito como Metacetabulum invaginatum. Os autores criaram a partir desta espécie uma nova família denominada Metacetabulidae. Neste mesmo trabalho, a partir de amostras depositadas na Coleção Helmintológica do Instituto Oswaldo Cruz, os autores descreveram outras duas espécies, Orchidasma amphiorchis e P. linguatula, que até então não haviam sido relatadas para no Brasil. Ruiz (1943) identificou uma nova espécie de trematódeo, denominada como Neoctangium travassosi, proveniente de uma tartaruga marinha encontrada no litoral Sul paulista, porém o autor não relatou em qual espécie de tartaruga marinha o parasita foi coletado, provavelmente C. mydas (Muniz et al., 2009). Ruiz (1946), após revisão bibliográfica e análise de material depositado em Coleções Helmintológicas do Instituto Butantã e do Instituto Oswaldo Cruz, apresentou uma revisão sobre Pronocephalidae, descrevendo as espécies encontradas na região brasileira bem como aquelas descritas para outras regiões do mundo. Através desta análise bibliográfica o autor apresentou uma nova reorganização da família, descrevendo 28 gêneros agrupados em 7 subfamílias, entretanto, apenas cinco gêneros são descritos em C. mydas na costa brasileira, a saber: Pronocephalus, incluindo Pr. trigonocephalus e Pr. Minutus; Cricocephalus, com C. albus; Pyelosomum, com P. crassum; Pleurogonius, incluindo P. longiusculus, P. trigonocephalus, P. linearis e P. lobatus; e Metacetabulum, com M. invaginatum. Travassos et al. (1969) realizaram uma revisão sobre trematódeos de ocorrência no Brasil e registraram os seguintes parasitos em C. mydas: N. travassosi, P. linguatula, M. invaginatum, O. amphiorchis, Rhytidodes gelatinosus, P. lobatus (sinonímia de Glyphicephalus lobatus), Pronocephalus obliquus (sinonímia de Pr. trigonocephalus), C. albus, P. linearis, P. longiusculus, P. trigonocephalus, P. crassum, e apresentaram Ruicephalus minutus como nova denominação para Pr. minutus. Thatcher (1997), em uma revisão mais recente sobre trematódeos neotropicais, relatou alguns parasitos de C. mydas: O. amphiorchis, M. invaginatum, P. crassum, P. obliquus, P. longiusculus, C. albus, R. minutus, P. linguatula e N. travassosi. Matteazzi et al. (2002) relataram a ocorrência de Cricocephalus sp. e Deuterobaris sp., coletados em indivíduos juvenis de C. mydas, provenientes do Litoral Norte do Estado de São Paulo. Porém, os mesmos autores não apresentaram a identificação do material ao nível de espécie. 13 Em 2006, foi relatada a ocorrência de um exemplar de Schizamphistomum scleroporum encontrado em intestino de um indivíduo juvenil da espécie C. mydas encontrada no litoral de São Paulo (Werneck et al., 2006a). Werneck et al. (2006b) analisaram 11 exemplares juvenis de C. mydas provenientes da região de Ubatuba, litoral Norte do Estado de São Paulo e em 6 (54,6%) foram identificados exemplares adultos do trematódeo Learedius learedi. A análise parasitológica de 62 indivíduos juvenis de C. mydas provenientes do Estado de São Paulo, revelou que trinta e três (53,2%) animais eram positivos para helmintos. As espécies encontradas foram: C. albus, Cricocephalus megastomum, P. longiusculus, P. obliquus (Pronocephalidae), D. proteus, N. travassosi, P. linguatula, Microscaphidium reticulare (Angiodictyidae) e M. invaginatum (Metacetabulidae). A prevalência variou entre 1,61% a 35,48% e N. travassosi, D. proteus e M. invaginatum apresentaram os mais elevados índices ecológicos (Werneck, 2007). A análise parasitológica de exemplares de D. coriacea ainda é escassa na literatura, porém para o Atlântico Sul Ocidental, entre os anos de 2005 e 2006, foram analisados oito exemplares desta espécie, sete encontradas no Brasil (Estados de Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo e Ceará) e um exemplar encontrado no Uruguai (San José). Em quatro tartatugas (50%) foram encontrados exemplares de Pyelosomum renicapite Leidy, 1856 e, no exemplar encontrado no Uruguai, além deste trematódeo também foi encontrado um exemplar de Calycodes anthos (Werneck et al., 2007b). Análise de doze exemplares de C. caretta provenientes da região de Ubatuba, SP, entre os anos de 2003 e 2007 revelou em cinco animais (41,7 %) estavam parasitados por trematódeos, sendo relatada a ocorrência de O. amphiorchis, P. renicapite e C. anthos. A prevalência encontrada para estas espécies foi de 33,3%, 8,3% e 8,3%, respectivamente. Em 3 hospedeiros foram identificados a infecção por nematóides: S. sulcata e K. leptura apresentando prevalência de 16,6% para cada espécie (Werneck et al., 2008a). Posteriormente, foram relatadas Monticellius indicum em coração de dois indivíduos juvenis da espécie C. mydas (prevalência de 0,83%) (Werneck et al., 2008b) e em um exemplar juvenil de E. imbricata foram relatadas Amphiorchis caborojoensis e Carettacola stunkard, sendo este último, a primeira descrição desta espécie neste hospedeiro (Werneck et al., 2008c). 14 Em uma análise de ocorrência de Spirorchiidae em 171 exemplares de juvenis de C. mydas entre os anos de 2005 e 2007, 79 (46,1%) foram positivas e L. learedi, Neospirorchis schistosomatoides e M. indicum foram encontradas. O número de parasitas por hospedeiro variou de 1 a 313, e a intensidade média foi de 13,65 ± 4,16. (Werneck et al., 2009) Em 2010, foi relatada a ocorrência de Amphiorchis indicus em exemplares de C. mydas encontradas na Região Sul Fluminense e Norte Paulista. Ao todo foram encontrados 11 trematódeos nas amostras analisadas (fígado, n = 3; e intestino delgado, n = 8). Amphiorchis indicus foi relatada apenas na descrição original da espécie em um exemplar da espécie E. imbricata, sendo este relato a primeira descrição deste helminto em C. mydas (Werneck et al., 2010a). No mesmo ano, foi relatada a ocorrência da espécie Styphlotrema solitaria em intestino delgado de E. imbricata encontrada morta após emaranhamento em rede de pesca no Litoral Norte do Estado de São Paulo (Werneck et al., 2010b). A última ocorrência de helmintos registrada na costa brasileira corresponde a espécie Amphiorchis solus encontrada em uma fêmea juvenil de C. mydas proveniente do Estado do Ceará. Este relato corresponde a terceira ocorrência deste helminto no mundo e a primeira na costa brasileira (Werneck et al., 2011). Dessa forma, apesar dos inúmeros estudos já realizados, verificamos que há ainda uma grande lacuna em relação a helmintofauna de tartarugas marinhas ao longo de toda a costa brasileira e, nesse sentido, estudo de levantamento de fauna parasitária bem como de ecologia do parasitismo são ainda de extrema relevância em nosso país, contribuindo assim para o conhecimento da biodiversidade global. Referências Bibliográficas1 FREITAS, JT. and LENT, H., 1938. Sobre alguns trematodeos parasitos de Chelone mydas (L.), principalmente Paramphistomoides. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, vol. 33, p. 79- 97. GEORGE, RH., 1997. Health problems and diseases of sea turtles. In MUSICK, JA. and LUTZ. PL. The Biology of sea turtles. New York: CRC Marine Science series. p.363-385. MARCOVALDI, MA. and MARCOVALDI, GG., 1999. Marine turtles of Brazil: The history and structure of Projeto TAMAR-IBAMA. 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Um total de 32.647 helmintos foram recolhidos, pertencentes as famílias Microscaphidiidae, Rhytidodidae, Pronocephalidae, Cladorchiidae, Brachycoeliidae, Plagiorchiidae, Telorchiidae e Spirorchiidae. A riqueza de espécies foi de 3,62 ± 2,97 (1 – 12) e a intensidade média de infecção foi de 205,27 ± 462,68 (1 – 3.407). Este trabalho demonstra ainda a nova área de ocorrência para Octangium hiphalum, Angiodictyum longum, Angiodictyum parallelum, Charaxicephaloides polyorchis, Charaxicephalus robustus, Rameshwarotrema uterocrescens, Pyelosomum choclear, Schizamphistomum scleroporum, Cymatocarpus solearis, Enodiotrema sp., Neospirorchis schistosomatoides, Amphiorchis indicus. Esta é a segunda análise ecológica de helmintos em exemplares de C. mydas e o primeiro realizado com indivíduos juvenis desta espécie. Palavras-chave: Chelonia mydas, Ecologia, Nematoda, helmintos, Trematoda. 21 Abstract This study presents the parasitological analysis of juvenile individuals of the C. mydas species found on the Brazilian coast between the years 2004 and 2011. Of the three hundred and thirty seven animals analyzed, helminths were found in 50.7% (n = 171). A total of 32,647 helminths were collected, specifically from the families Microscaphidiidae, Rhytidodidae, Pronocephalidae, Cladorchiidae, Brachycoeliidae, Plagiorchiidae, Telorchiidae and Spirorchiidae. The species richness was 3.62 ± 2.97 (1 – 12) and mean intensity was 205.27 ± 462.68 (1 – 3,407). This work shows a new area of occurrence for Octangium hiphalum, Angiodictyum longum, Angiodictyum parallelum, Charaxicephaloides polyorchis, Charaxicephalus robustus, Rameshwarotrema uterocrescens, Pyelosomum choclear, Schizamphistomum scleroporum, Cymatocarpus solearis, Enodiotrema sp., Neospirorchis schistosomatoides, and Amphiorchis indicus. This is the second ecological analysis of helmintos in C. mydas and the first in juvenile individuals of the species. Key-words: Chelonia mydas, Ecology, Nematoda, helminths, Trematoda. 22 1. Introdução Cinco das sete espécies de tartarugas marinhas são encontradas no Brasil: Dermochelys coriacea, Caretta caretta, Lepidochelys olivacea, Eretmochelys imbricata e Chelonia mydas (Marcovaldi e Marcovaldi, 1999). Chelonia mydas é a única espécie exclusivamente herbívora quando adulta e possuindo hábito onívoro quando jovem. No Brasil, ocorre também na região costeira, porém suas desovas se concentram em Ilhas Oceânicas do Atol das Rocas, no Estado do Rio Grande do Norte, Fernando de Noronha no Estado de Pernambuco e Trindade no Espírito Santo (Marcovaldi e Marcovaldi, 1999). No Brasil, é listada como vulnerável sendo protegidas por leis federais (MMA, 2003). Estudo sobre a ecologia parasitária, embora ainda raros, foram realizados para as espécies de tartarugas marinhas: L. olivacea no México (Pérez-Ponce de León et al., 1996), C. caretta no Mar Mediterrâneo (Aznar et al. 1998; Valente et al., 2009; Santoro et al., 2010) e em C. mydas no Caribe (Santoro et al., 2006). No Brasil, a análise parasitológica de tartarugas marinhas revela a ocorrência de helmintos das classes Trematoda e Nematoda. Os relatos incluem trematódeos e nematóides em C. mydas (Travassos et al., 1969; Vicente et al., 1993) e C. caretta (Travassos et al., 1969; Werneck et al., 2008a) e trematódeos em E. imbricata (Werneck et al., 2008b). Porém, não há estudos sobre ecologia parasitária em tartarugas marinhas no Brasil. O objetivo deste trabalho é relatar a comunidade de helmintos parasitas de C. mydas encontradas ao longo da Costa brasileira. 2. Material e Métodos O estudo foi realizado com indivíduos da espécie C. mydas encontrados entre setembro de 2004 e janeiro de 2011. Foram estudados 337 indivíduos provenientes de 6 Estados brasileiros: Ceará (n = 18), Bahia (n = 94), Espírito Santo (n = 34), Rio de Janeiro (n = 17), São Paulo (n = 142) e Santa Catarina (n = 32). Todos os animais analisados foram encontrados mortos em ambiente natural ou vieram a óbito em tanques de reabilitação nas bases do Projeto Tamar- ICMBio (Programa brasileiro de proteção e pesquisa de tartarugas marinhas). A média de comprimento curvilíneo de carapaça (CCC) foi de 39,01 ± 11,14 cm (12 – 104 cm) e a média de peso de 7,3 ± 12,28 kg (0,2 – 101 kg). Para análise do trato digestório os órgãos foram separados (esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso), abertos e o seu conteúdo tamisado em peneiras (mesh 50 23 e 100) e o conteúdo analisado em estereomicroscópio. Os helmintos coletados foram fixados em álcool a 70%, corados com carmim clorídrico e analisados em sistema computadorizado de imagem (QWin Lite 3.1, Leica). Do total de indivíduos deste estudo, 212 indivíduos tiveram o seu coração analisado para a detecção de Spirorchiidae. A técnica para esta coleta foi descrita por Snyder e Clopton (2005) e simplificada por Werneck et al. (2006). Prevalência, intensidade média de infecção e abundância média foram determinados por espécie, de acordo com Bush et al. (1997). Os helmintos coletados durante o estudo foram depositados na Coleção Helmintológica do Instituto de Biociências (CHIBB), Universidade Estadual Paulista, Município de Botucatu, Estado de São Paulo, Brasil. Todas as coletas foram autorizadas pelas licenças federais para atividades com finalidade científica (Sisbio no 12421-1 e 12431-2). 3. Resultados Das 337 tartarugas analisadas neste estudo, 171 tartarugas foram positivas para helmintos (prevalência = 50,7%) e um total de 32.647 helmintos foram coletado destes hospedeiros. Ao todo foram encontradas 30 espécies de trematódeos pertencentes a 8 famílias e larvas não identificadas de nematóide (Tabela 1). A riqueza de espécies encontradas neste estudo foi de 3,62 ± 2,97 (1 – 12) e a intensidade média foi de 205,27 ± 462,68 (1 – 3.407) (Tabela 2). O parasita mais prevalente foi Learedius learedi com 27,8%, seguida por Cricocephalus albus com 24,0 %, Metacetabulum invaginatum e Neoctangium travassosi, ambas com 22,5%, e Neospirorchis schistosomatoides com 18,3%. A mais abundante foi C. albus com 23,06 ± 5,64, seguida de N. travasosi 22,86 ± 6,79 e M. invaginatum 14,67± 3,67. Quanto a intensidade média de infecção, os maiores valores foram observados em N. travassosi (102,73 ± 28,80), seguida por C. albus (121,3 ± 26,41) e M. invaginatum (65,07 ± 14,91) (Tabela 1). 4. Discussão Neste estudo pode-se observar que os trematódeos são o grupo predominante nas tartarugas marinhas da Costa Brasileira. Todas as espécies identificadas foram anteriormente relatadas neste mesmo hospedeiro, contudo Octangium hiphalum, Angiodictyum longum, 24 Angiodictyum parallelum, Charaxicephaloides polyorchis, Charaxicephalus robustus, Rameshwarotrema uterocrescens, Pyelosomum choclear, Schizamphistomum scleroporum, Cymatocarpus solearis, Enodiotrema sp., N. schistosomatoides, Amphiorchis indicus, ainda não tinham sidos descritos para a região do Atlântico Sul Ocidental. Ao todo foram identificadas 30 espécies diferentes, destas, dezessete são coincidentes com estudo semelhante sobre a helmintofauna de indivíduos adultos de C. mydas na Costa Rica (Santoro et al., 2006). Santoro et al. (2006) analisando a fauna parasitária de adultos de C. mydas, relataram a ocorrência de 29 espécies de trematódeos, destes a metade era de especialistas nesta espécie (i.e. helmintos relatados em apenas uma espécie de tartarugas marinhas). No presente estudo, identificamos 30 espécies de trematódeos, e 14 espécies são de parasitas especialistas, estes dados confirmam que a helmintofauna de C. mydas, mesmo em diferentes fases de vida, apresentam um alto grau de especificidade. Neste trabalho a maioria dos helmintos encontrados é de parasitas específicos de tartarugas marinhas e esta mesma associação é notada na fauna parasitária de C. caretta (Aznar et al., 1998; Valente et al., 2009; Santoro et al., 2010) e L. olivacea (Pérez-Ponce de León et al., 1996). Estes dados reforçam a hipótese de Aznar et al. (1998), de que a comunidade de parasitas de tartarugas marinhas são compostas por helmintos, em sua maioria, específicos deste grupo de hospedeiros. Além disso, dentre as espécies encontradas por Santoro et al., (2006), 15 são de Pronocephalidae. No presente estudo, das treze espécies pertencem a esta família, nove são coincidentes com os achados de Santoro et al. (2006). Estes dados demonstram que tanto adultos quanto juvenis compartilham espécies de parasitas possivelmente se infectando com hospedeiros intermediários associados à vegetação (Pérez-Ponce de León et al., 1996) Exemplares da espécie C. mydas tanto adultas (Santoro et al., 2006) como juvenis (presente estudo) apresentam uma maior riqueza de espécies e abundância média de helmintos, quando comparados com exemplares de C. caretta (Aznar et al., 1998; Valente et al., 2009; Santoro et al., 2010) e L. olivacea (Pérez-Ponce de León et al., 1996). Alguns fatores podem influenciar na composição da fauna parasitária, como a dieta do hospedeiro, habitat, densidade populacional e movimentos sazonais (Marcogliese, 2002). O fato das espécies onívoras generalistas apresentarem menor riqueza de espécies parece estar relacionado ao hábito migratório, que em C. caretta e L. olivacea são mais intensos (Lutz e 25 Musick, 1997), o que dificultaria a dispersão de helmintos em ambientas de mar aberto pela falta de hospedeiros intermediários (Marcogliese, 2002). Outro ponto a ser observado é que as comunidades de algas servem de substrato para uma grande quantidade de espécies de organismos (Moschini-Carlos, 1999) e, assim, para possíveis hospedeiros intermediários infectados (Santoro et al., 2006). Isso poderia explicar a maior riqueza de espécies de parasitas nos hospedeiros herbívoros quando comparados com hospedeiros com hábitos carnívoros, como os hospedeiros estudados por Pérez-Ponce de León et al. (1996) e Aznar et al. (1998). Chelonia mydas apresenta uma mudança drástica na sua composição de seus itens alimentares na transição entre filhote e juvenil o que coincide com a mudança de hábitat que passa a ser mais próximo a costa (Bjorndal, 1996). Esta mudança poderia estar gerando estresse não somente pela mudança alimentar e de hábitat, mas também através do confronto com novas formas infectantes até então desconhecidas pelos animais, e isso estar diretamente relacionado a maior riqueza de parasitas observada nestes hospedeiros. Apesar da grande diferença de CCC e a distância geográfica entre os animais estudados por Santoro et al. (2006) e os hospedeiros analisados neste estudo, pode-se observar que a fauna parasitária é semelhante (grande parte das espécies são especialistas para este hospedeiro). A ocorrência de 16 espécies compartilhadas de trematódeos com os dados encontrados por Santoro et al. (2006) reforça a possibilidade de que os hábitos bentônicos e herbívoros já estejam presentes nos hospedeiros estudados neste estudo. A grande maioria das espécies encontradas neste estudo são exclusivas de tartarugas marinhas, contudo as espécies C. albus e Orchidasma amphirochis foram relatados em peixes Pomacanthus arcuatus e Coriphera hippurus (Aznar et al., 1998) e Polyangium linguatula foi descrito em aves Colymbus articus (Poche, 1925 apud Santoro et al., 2006). Além destes casos, não há indícios destes parasitas em outros hospedeiros que não sejam as tartarugas marinhas (Kohn et al., 2007; Muniz-Pereira et al., 2009). Entre os dois estudos (Santoro et al., 2006 e presente estudo) podemos identificar 16 espécies compartilhadas de trematódeos, apesar da diferença entre as fases de vida e distância entre os locais de coleta. Os indivíduos analisados por Santoro et al. (2006) apresentavam L. learedi como a mais prevalente e a segunda mais abundante. Neste estudo, notou-se que esta espécie é mais prevalente, porém não a mais abundante. Além disso, estes autores encontraram Microscaphidium reticulare como a segunda mais prevalente e a mais abundante, o que não foi encontrado neste estudo. 26 Das quatro espécies mais prevalentes em nossa amostra apenas a C. albus foi encontradas por Santoro et al. (2006), não sendo a mais prevalente naquela amostra. Cricocephalus albus foi anteriormente relatada no Brasil (Ruiz, 1946), Panamá, Oceano Pacífico do Norte, América Central (Caballero et al., 1955), Caribe (Gupta, 1961), Índia (Chattopadhyaya, 1972), e além disso esta espécie foi relatada também em E. imbricata (Fischthal e Acholonu, 1976). Neoctangium travassosi foi encontrada em C. mydas no Brasil (Ruiz, 1943) e E. imbricata no Panamá (Blair, 1987). Já a espécie M. invaginatum foi reportada em C. mydas no Brasil (Freitas e Lent 1938) e também em E. imbricata em Porto Rico (Fischtal e Acholonu, 1976). Entre os exemplares de Spirorchiidae, trematódeos digenéticos que habitam o sistema circulatório de quelônios (Smith, 1997), cinco espécies foram identificados neste estudo (Tabela 2). Com exceção de Amphiorchis indicus Mehrotra, 1973 e N. schistosomatoides, L. learedi (Werneck et al., 2006), M. indicum (Werneck et al., 2008c) e A. solus (Werneck et al., 2011) já tinham sido relatadas em C. mydas no Brasil. Quando comparamos apenas os indivíduos da espécie L. learedi podemos observar que esta obteve maior prevalência, intensidade média de infecção e abundância média, o que coincide com os dados encontrados por Santoro et al. (2006). Trata-se de uma espécie generalista sendo já relatada em C. mydas, E. imbricata (Glazebrook et al., 1989) e C. caretta (Wolke et al., 1982). Membros da família Spirorchiidae, que possuem quelônios marinhos como hospedeiros definitivos, ainda têm ciclo de vida não esclarecido, porém muito possivelmente utilizem moluscos e bivalves como hospedeiros intermediários (Smith, 1992), o que seria mais um indício de uma alimentação bentônica, compatível com o tamanho e proximidade da costa nos indivíduos juvenis analisados neste estudo e em adultos (Santoro et al., 2006). A ocorrência de larvas imaturas de nematóides em nossa amostra pode refletir a baixa especificidade pelo hospedeiro. Valente et al. (2009) citam a ocorrência de larvas de Anisakis simplex tipo I, em peixes do arquipélago da Madeira e que estes parasitos tem como hospedeiros definitivos mamíferos marinhos, o que refletiria a disponibilidade destas larvas infectando alimentos compartilhados entre este grupos de animais. No Brasil, segundo Muniz-Pereira et al. (2009), larvas do gênero Anisakis são encontradas em vários grupos de animais (e.g. peixes, tubarões, cetáceos e tartarugas marinhas) o que sugere que os indivíduos analisados neste trabalho possam atuar como hospedeiro paratênico para esta formas larvais. 27 Quando comparamos os indivíduos apenas de trato digestório podemos observar que o número de parasitas identificados por Santoro et al. (2006) foram proporcionalmente maior que os encontrados no presente estudo, em número de indivíduos coletados, riqueza, e abundância média, conforme demonstrado na Tabela 3. Isso pode ser explicado pelo longo ciclo de vida e que indivíduos maiores e logo, mais velhos, teriam mais chance de entrarem em contato com formas larvais presentes em hospedeiros intermediários. Este estudo apresenta a comunidade de helmintos parasitas de tartarugas marinhas juvenis de C. mydas na costa brasileira. Além disso, a análise dos dados sugere que a fase da vida em que os hospedeiros são analisados pode influencia a infracomunidade parasitária. Agradecimentos - Projeto TAMAR- ICMBio, é co-administrado pela Fundação Pró-TAMAR, e oficialmente patrocinado pela PETROBRAS. Os autores agradecem a Paula Baldassin, pela análise prévia do manuscrito. Este trabalho teve o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP (Proc. 07/59504-7). Referências Bibliográficas2 AZNAR, FJ., BADILLO, FJ. and RAGA JA., 1998. Gastrointestinal helminths of loggerhead turtles (Caretta caretta) from the western Mediterranean: constraints on community structure. Journal of Parasitology, vol. 84, p. 474-479. BJORNDAL, K., 1996. Foraging ecology and nutrition of sea turtles. In LUTZ, PL. and MUSICK, JA. The Biology of sea turtles. New York: CRC Marine Science series. p. 199-232. BLAIR, D., 1987. 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Espécies de helmintos Prevalência (%) Abundância média ± SE Intensidade de infecção Habitat Média ± SE Variação Microscaphidiidae Deuterobaris proteus 8,01 13,0 ± 8,08 16,2 ± 99,9 1 – 2560 ES, EST, ID, G,BEX Octangium hyphalum 4,45 1,2 ± 0,87 27,2 ± 19,04 1 - 289 ID,IG Neoctangium travassosi 22,25 22,86 ± 6,79 102,73 ± 28,80 1 - 1795 ES, ID, IG, BEX Microscaphidium reticulare 2,37 0,39 ± 0,20 16,75 ± 7,05 1 - 59 ID, IG Polyangium linguatula 5,93 1,56 ± 0,82 26,4 ± 12,93 1- 252 ID, IG Angiodictyum longum 0,29 0,002 ± 0,002 - 1 EST Angiodictyum parallelum 0,29 0,005 ± 0,0059 - 1 ID Rhytidodidae Rhytidodes gelatinosus 0,29 0,002 ± 0,002 - 1 ID Pronocephalidae Ruicephalus minutus 9,49 2,78 ± 1,19 33,56 ± 11,86 1 – 289 ES, EST, ID, IG Pronocephalus obliquus 14,54 5,16 ± 1,44 36,14 ± 8,87 1 – 303 ES, EST, ID, IG, FIG Charaxicephaloides polyorchis 0,29 0,005 ± 0,005 - 1 EST Charaxicephalus robustus 0,29 0,0029 ± 0,0029 - 1 EST Metacetabulum invaginatum 22,55 14,67± 3,67 65,07 ± 14,91 1 - 991 ES, EST, ID, IG Cricocephalus albus 24,03 23,06 ± 5,64 121,3 ± 26,41 1 – 1219 ES, EST, ID, IG Cricocephalus megastomum 7,12 0,99 ± 0,38 13,9 ± 4,82 1 - 90 ES, EST, ID, IG Rameshwarotrema uterocrescens 9,79 2,59 ± 0,97 26,5 ± 9,09 1 - 280 ES, EST, ID, IG Pleurogonius longiusculus 13,05 1,67 ± 0,38 12,86 ± 2,30 1 - 86 ES, EST, ID, IG 67 Legenda: ES, esôfago; EST, estômago; ID, intestino delgado; IG, intestino grosso; FIG, fígado; BEX, bexiga urinária. Pleurogonius trigonocephalus 4,45 1,26 ± 0,06 28,3 ± 17,05 1 – 255 ES, EST, ID, IG, FIG Pleurogonius lobatus 1,18 0,056 ± 0,37 4,75 ± 2,39 1 - 11 ID Pleurogonius linearis 0,89 0,15 ± 0,13 17,66 ± 9,77 1 - 45 ID, IG Pyelosomum crassum 9,49 0,75 ± 0,20 7,55 ± 1,69 1 - 47 EST, ID, IG Pyelosomum cochlear 0,29 0,002 ± 0,002 - - BEX Cladorchiidae Subfamilia Schizamphistominae Schizamphistomum scleroporum 2,37 0,12 ± 0,06 5,12 ± 2,08 1 – 15 ID, IG Brachycoeliidae Cymatocarpus solearis 0,59 0,086 ± 0,075 14,5 ± 10,53 4 – 25 ES, EST, ID Plagiorchiidae Enodiotrema sp. 0,29 0,008 ± 0,008 - 3 EST, ID Telorchiidae Orchidasma amphirochis 0,29 0,02 ± 0,02 - 7 IG Larvas não identificadas de nematóides 3,85 0,11 ± 0,006 2,92 ± 1,01 1 – 12 ES, EST, ID, IG, FIG 66 Tabela 2. Dados ecológicos da fauna parasitária de sistema circulatório de indivíduos juvenis da espécie Chelonia mydas encontradas na costa brasileira. Espécies de helmintos Prevalência (%) Abundância Média ± SE Intensidade média de infecção Média ± SE Range Learedius learedi 27,83 6,35 ± 1,63 23,10 ± 5,48 1 – 269 Neospirorchis schistosomatoides 18,39 0,18 ± 0,09 3,9 ± 0,82 1 - 17 Amphiorchis indicus 6,13 0,06 ± 0,02 1,85 ± 0,46 1 - 4 Monticellius indicum 0,94 0,009 ± 0,006 2 - Amphirochis solus 0,47 0,004 ± 0,004 1 - Tabela 3. Estatística geral de helmintos gastrointestinais de indivíduos da espécie Chelonia mydas. Santoro et al., 2006 Presente estudo Costa Rica (n= 40) Brazil (n=152) N.º Total de helmintos coletados 24.270 32.647 Diversidade de espécies 29 31 N.º de helmintos especialistas 15 14 Prevalência (%) 100 50,7 Riqueza de espécies ± SD 7,63 ± 3,5 (3 - 17) 3,62 ± 2,97 (1 – 12) Média de parasitas por hospedeiro total ± SD 606,7 ± 1.224,8 (46 – 6,614) 188,7 ± 443,25 (1 – 3,407) 66 Artigo 2. Helmintos de sistema circulatório (Digenea: Spirorchiidae) em tartaruga verde (Chelonia mydas Linnaeus 1758) no Brasil. 67 Helmintos de sistema circulatório (Digenea: Spirorchiidae) em tartaruga verde (Chelonia mydas Linnaeus 1758) no Brasil. Werneck, MR.a*, Gallo, BGa e Silva, RJ.b aFundação Pró-Tamar, Rua Antônio Athanázio da Silva N.º273, Itaguá, CEP: 11680-000, Ubatuba, São Paulo, Brasil. bDepartamento de Parasitologia, Instituto de Biociências, UNESP, Distrito de Rubião Júnior S/N, CEP: 18618-000, Botucatu, São Paulo, Brasil. *e-mail: max@tamar.org.br 68 Resumo O presente trabalho teve como objetivo avaliar a ocorrência de helmintos da família Spirorchiidae em 171 exemplares de Chelonia mydas coletados na região de Ubatuba, SP, no período entre junho de 2005 e junho de 2007. Nas tartarugas analisadas foram coletados 1082 exemplares de três espécies: Learedius learedi, Neospirorchis schistosomatoides e Monticelius indicum. O número de parasitas por hospedeiros variou de 1 a 313, a abundância média total foi de 5,99 ± 1,89 e a intensidade média foi de 13,65 ± 4,16. Os índices mais altos de prevalência, abundância média e intensidade média de infecção foram observados na espécie L. learedi, seguido de N. schistosomatoides e M. indicum. Não foi encontrada relação entre as quantidades de espirorquídeos quando comparados por trimestre (P = 0,60) e nem entre o número de parasitas e o CCC e peso (P > 0,05) ou sexo dos animais (P = 0,479). Animais com sinais clínicos de debilidade (magros, com carga maior de epibiontes e ectoparasitas e capturados após encalhe de praia e/ou capturados flutuando) apresentaram maiores taxas de infecção em relação aos animais provenientes de afogamento (P = 0,041). Nódulos de coloração negra encontrados na superfície serosa do intestino delgado e grosso foram observados em 16,45% (n = 13) dos animais estudados. Palavras-chave: Chelonia mydas, disease, Sistema circulatório, Spirorchiidae, Trematoda 69 Abstract The study aimed to evaluate the occurrence of helminths of the family Spirorchiidae in 171 specimens of Chelonia mydas from the municipality of Ubatuba, São Paulo State, Brazil, from June 2005 to July 2007. A total of 1082 helminths of three species were found: Learedius learedi, Neospirorchis schistosomatoides e Monticelius indicum. The number of parasites ranged from 1 to 313, the total mean abundance was 5.99 ± 1.89 and the mean intensity of infection was 13.65 ± 4.16. Learedius learedi was the most prevalent species, followed by N. schistosomatoides and M. indicum. No relation was observed between intensity of infection by spirorchiids and season (P = 0.60), host weight (P = 0,056) or sex (P = 0,479). Animals with clinical signs of weakness (thin, with higher load of epibionts and ectoparasites and captured after stranded on the beach and / or captured floating) presented higher intensity of infection than the drowned animals (P = 0.041). Nodules of black coloration in the serosa of small and large intestine were observed in 16.45% of the studied animals. Key-words: Chelonia mydas, Disease, Circulatory system, Spirorchiidae, Trematoda 70 5. Introdução A família Spirorchiidae inclui um grupo de trematódeos que habita o sistema circulatório de tartarugas. Possui cerca de 100 espécies, agrupadas em 19 gêneros (Smith, 1997; Platt, 2002) e, destes, dez incluem trematódeos parasitas de tartarugas marinhas (Platt, 2002), descritos em exemplares de Chelonia mydas, Caretta caretta e Eretmochelys imbricata (Smith, 1997). Análises ecológicas sobre helmintos de tartarugas marinhas têm sido publicados, mas ainda são bastante raros, entre eles, podemos citar os estudos realizados com Lepidochelys olivacea no México (Pérez-Ponce De Leon et al., 1996), C. caretta no Mediterrâneo (Aznar et al., 1998), C. caretta no arquipélago da Ilha da Madeira (Valente et al., 2009) e C. mydas adultas provenientes do litoral da Costa Rica (Santoro et al., 2006). Além disso, dados sobre comunidade de parasitas da família Spirorchiidae foram apresentados apenas por Santoro et al. (2006). No presente estudo foi realizada a análise ecológica de exemplares da família Spirorchiidae, coletados em exemplares juvenis de C. mydas provenientes da Costa Brasileira. 6. Material e Métodos O estudo incluiu exemplares de C. mydas que foram necropsiadas no período entre junho de 2005 e junho de 2007. Foram estudados apenas animais provenientes da região da cidade de Ubatuba, Litoral Norte do Estado de São Paulo, Brasil (Limite Sul – Praia da Figueira 23º 35`17`` S e 45º 16`38``O e Limite Norte - Camburi 23º 22`17`` S e 44º 47`02`` O). Todos os animais foram encaminhados mortos ou vieram a óbito no Centro de Reabilitação de Tartarugas Marinhas do Projeto Tamar-ICMBio na cidade de Ubatuba. Os espirorquídeos foram coletados de acordo com a técnica proposta por Snyder e Clopton (2005) e simplificada por Werneck et al. (2006). Os helmintos coletados foram fixados entre Lâmina e lamínula usando solução de AFA (álcool-formol-ácido acético). Alguns exemplares foram corados com carmim e clarificados em eugenol para análise em sistema computadorizado de análise de imagens (QWin Lite 3.1, Leica). Para as espécies encontradas foi determinada a prevalência, intensidade média de infecção e abundância média de acordo com Bush et al. (1997). O número de parasitas coletados nas diferentes estações do ano foi comparado através do método não paramétrico do Kruskall-Wallis. Para a comparação entre o número de parasitas entre os animais debilitados e afogados empregou-se o teste de Mann-Whitney. A correlação entre o número de parasitas e dados de biometria 71 (comprimento curvilíneo de carapaça e peso) foi realizada pelo teste de correlação de Spearman. O nível de significância adotado em todos os testes estatísticos foi de 5%. Os exemplares coletados foram depositados na Coleção Helmintológica do Instituto de Biociências (CHIBB), Universidade Estadual Paulista, Botucatu, São Paulo, Brasil. Todas as coletas foram autorizadas pelas licenças federais para atividades com finalidade científica (Sisbio no 12421-1 e 12431-2). 7. Resultados Os animais estudados apresentaram média de comprimento curvilíneo de carapaça (CCC) de 37,6 ± 4,9 cm (variação de 33,83 a 40,98 cm) e média de peso de 6,1 ± 2,8 Kg (variação de 4,11 a 7,75 kg) ao todo foram analisados 171 exemplares e destes 79 tartarugas (46,1 %) foram positivas para exemplares de espirorquídeos. Nas tartarugas analisadas foram coletados 1082 exemplares de três espécies: Learedius learedi, Neospirorchis schistosomatoides e Monticelius indicum. O número de parasitas por hospedeiros variou de 1 a 313, a abundância média total foi de 5,99 ± 1,89 e a intensidade média foi de 13,65 ± 4,16. Os índices mais altos de prevalência, abundância média e intensidade média de infecção foram observados na espécie L. learedi, seguido de N. schistosomatoides e M. indicum (Tabela 1). Na análise dos dados por trimestres observou-se que existiu uma pequena queda na prevalência no segundo trimestre além de uma tendência de aumento nos índices de abundância média, intensidade média de infecção, variação e números de parasitas recuperados, porém também não foi observada diferença estatisticamente significativa na comparação entre os trimestres (P > 0,05). Nota-se ainda a pouca variação de CCC e peso na população de hospedeiros estudados (Tabela 2). Estatisticamente não foi encontrada relação entre as quantidades de espirorquídeos quando comparados por trimestre (P = 0,60) e nem entre o número de parasitas e o CCC e peso (P > 0,05) ou sexo dos animais (P = 0,479). Porém quando comparamos os quadros clínicos, nota-se que aqueles animais que apresentam quadros de debilidade (magros, com carga maior de epibiontes e ectoparasitas e capturados após encalhe de praia e/ou capturados flutuando) apresentaram diferença estatística significativa (P = 0,041) em relação aos animais provenientes de afogamento. 72 Além disso, foi observado a presença de nódulos de coloração negra encontrados na superfície serosa do intestino delgado e grosso em 16,45% (n = 13) dos animais estudados. 8. Discussão A família Spirorchiidae é constituída por um grupo de trematódeos parasitas de quelônios terrestres de água doce e marinhos, contudo pouco se sabe sobre o ciclo de vida destes helmintos em ambientes marinhos (Smith, 1972; Platt, 2002). No presente estudo foi avaliada a presença de espirorquídeos apenas em exemplares juvenis de C. mydas, pois a região de Ubatuba é reconhecida como uma importante área de alimentação de indivíduos juvenis desta espécie (Gallo et al., 2006). Na região brasileira, a ocorrência de animais adultos desta espécie tem sido registrada em sítios de desova e alimentação em regiões como Atol das Rocas, Fernando de Noronha e na Ilha de Trindade (Marcovaldi e Marcovaldi 1999), porém poucos animais são analisados para esta helmintose. Assim como relatado por Santoro et al. (2006), a espécie mais prevalente e com maior abundância média em nossa amostragem foi L. learedi. Santoro et al. (2006) analisaram não somente essa família de parasitas, entretanto quando levamos em consideração apenas os exemplares de espirorquídeos, nota-se semelhança entre os índices ecológicos entre as duas populações estudadas, sendo facilmente observado o predomínio absoluto da espécie L. learedi em ambos os trabalhos. A baixa riqueza de espécie de helmintos encontrada nos hospedeiros estudados pode estar relacionada à vários fatores, entre eles, a ausência dos possíveis hospedeiros intermediários, a baixa freqüência de encontro dos hospedeiros com as formas infectantes dos parasitas, pois esta espécie de hospedeiro apresenta grande mudança de ambiente e hábitos alimentares no início da fase juvenil, antes pelágico e onívoro e, posteriormente, hábitos alimentares herbívoros, ainda que parte do ciclo de vida anterior deste hospedeiro é desenvolvida em ambientes pelágicos o que poderia reduzir a possibilidade de transmissão de trematódeos (Marcogliese, 2002). Somente quatro espécies de espirorquídeos foram relatadas no Brasil: Learedius learedi (Werneck et al., 2006) e Monticellius indicum (Werneck et al., 2008a) em C. mydas; e Carettacola stunkard e Amphiorchis caborojoensis em E.imbricata (Werneck et al., 2008b). Em alguns casos, foi constatado nas necropsias a presença de numerosos nódulos de coloração escura, com 1-2 mm de diâmetro, na superfície serosa do intestino delgado, mesentério, 73 pâncreas, cérebro e glândula de sal. Macroscopicamente estas lesões coincidem com o mesmo padrão encontrado por Gordon et al. (1998) e correspondem a lesões por deposição de ovos de espirorquídeos na corrente sanguínea. Segundo dados de literatura, pode existir infecção secundária associada a estes nódulos (Raidal et al., 1998), porém esses aspectos não foram avaliados em nosso estudo. Foi observado diferença entre o número de parasitas de animais com quadros de emaciação, onde os animais apresentavam-se em precário estado corporal, em relação aos animais mortos por afogamento, sendo maior a intensidade média de infecção nos indivíduos emaciados. É difícil determinar se o animal adquiriu mais parasitas por estar debilitado ou se o parasita seria a causa primária da debilidade. Klingenberg (1993) relata que os parasitas podem afetar os répteis de várias maneiras, entre elas, por espoliação sanguínea, por se alimentarem em tecidos sólidos, competição pela alimentação do hospedeiro, destruição de células do hospedeiro, obstrução de canais alimentares, produção de toxinas e indução de reações alérgicas. Contudo é possível que o parasitismo possa ser a causa do óbito nestes animais não só pela deposição de ovos e suas conseqüências como também infecções secundárias (Glazebrook et al., 1989; Gordon et al., 1998; Raidal et al., 1998). Referências Bibliográficas AZNAR, FJ., BADILLO, FJ. and RAGA, JA., 1998. Gastrointestinal helminthes of loggerhead turtles (Caretta caretta) from the western Mediterranean: constraints on community structure. Journal of Parasitology, vol.84, p. 474-479. BUSH, AO., LAFFERTY, KD., LOTZ, JM. and SHOSTAK, AW., 1997. Parasitology meets ecology on its own terms: Margolis et al. revisited. Journal of Parasitology, vol.83, p. 575-583. 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Espécies Prevalência (%) Abundância média ± SE Intensidade média de infecção ± SE Variação Número total de helmintos Learedius learedi CHIBB 4061-4101, 4103-4111, 4113-4128 41.5 6.14 ± 1.89 14.28 ± 4.37 1 - 313 1071 Monticelius indicum CHIBB 2008, 2528 1.2 0.016 ± 0.117 1.5 ± 0.50 1 - 2 3 Neospirorchis schistosomatoides CHIBB 2009, 2011-2013 2.3 0.044 ± 0.023 2 ± 0.408 1-3 8 CHIBB – número de acesso na Coleção Helmintológica do Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, São Paulo, Brasil; SE – erro padrão. Tabela 2. Variação sazonal da prevalência, abundância media, intensidade media de infecção e biometria de juvenis de Chelonia mydas infectados por Learedius learedi em Ubatuba, São Paulo, Brasil . Data Verão Outono Inverno Primavera Prevalencia (%) 45,7 27,3 53 47,3 Abudância média ± SE 3,8 ± 1,7 12,9 ± 9,5 5,2 ± 1,7 4 ± 1,4 Intensidade média de infecção ± SE 8,3 ± 3,5 47,4 ± 33,4 11,8 ± 3 8,5 ± 2,7 Variação 1 - 89 1 - 313 1 - 54 1 - 40 Número de Hospedeiros 55 33 45 38 Número total de helmintos 208 427 284 154 Comprimento curvilíneo média da carapaça ± SD (cm) 38,8 ± 6,5 36 ± 3,5 37,3 ± 4,3 37,5 ± 3,4 Peso médio ± SD (g) 7,0 ± 4,2 5,2 ± 1,5 5,8 ± 2,3 6,1 ± 1,7 SE – erro padrão; SD – desvio padrão. 77 Artigo 3. Helmintos parasitas de tartarugas cabeçudas Caretta caretta (Linnaeus 1758) (TESTUDINES, CHELONIDAE) encontrados na costa brasileira. 78 Helmintos parasitas de tartarugas cabeçudas Caretta caretta (Linnaeus 1758) (TESTUDINES, CHELONIDAE) encontrados na costa brasileira. Werneck, M R.a* e Silva, RJ.b aFundação Pró-Tamar, Rua Antônio Athanázio da Silva N.º273, Itaguá, CEP: 11680-000, Ubatuba, São Paulo, Brasil. bDepartamento de Parasitologia, Instituto de Biociências, UNESP, Distrito de Rubião Júnior S/N, CEP: 18618-000, Botucatu, São Paulo, Brasil. *e-mail: max@tamar.org.br 79 Resumo O objetivo do presente estudo foi avaliar a helmintofauna de Caretta caretta procedentes da Costa Brasileira. Foram utilizados 31 exemplares C. caretta encontrados entre os anos de 2003 e 2010, destes foram recolhidos 2.044 espécimes, a riqueza de espécies foi de 1,69 ± 0,92 (1 - 4) e a intensidade média foi de 85,07 ± 165,28 (1 – 732) por hospedeiro. Foram identificadas dez espécies de helmintos, sendo quatro taxa da classe Nematoda: Kathlania leptura, Sulcascaris sulcata, Tonaudia freitasi e larvas não identificadas, e seis da classe Trematoda: Rhytidodes gelatinosus, Orchidasma amphiorchis, Pyelosomum renicapite, Calycodes anthos, Plesiochorus cymbiformis, Diaschistorchis pandus, os dois últimos representam uma nova ocorrência geográfica dos helmintos para este hospedeiro. Palavras-chave: Caretta caretta, Ecologia, Helmintos, Nematoda, Trematoda. 80 Abstract This study aimed to evaluate the helminth fauna of Caretta caretta Brazilian Coast. Thirty- one specimens were found from 2003 to 2010 and a total of 2,044 helminths was collected. The richness was 1,69 ± 0,92 (1 - 4) and the mean intensity was 85.07 ± 165.28 (1 – 732). Ten helminth species were identified, with four of the class Nematoda: Kathlania leptura, Sulcascaris sulcata, Tonaudia freitasi and no identified larva; and six of the class Trematoda: Rhytidodes gelatinosus, Orchidasma amphiorchis, Pyelosomum renicapite, Calycodes anthos, Plesiochorus cymbiformis, and Diaschistorchis pandus. Brazilian Coast was a new geographical occurrence was reported for P. cymbiformis and D. pandus. Key-words: Caretta caretta, Ecology, Helminths, Nematoda, Trematoda. 81 1. Introdução A tartaruga marinha cabeçuda, Caretta caretta, possui hábito alimentar onívoro, alimentando-se principalmente de peixes, moluscos e crustáceos (Lutz e Musick, 1997). No Brasil, são encontradas ao longo de toda a costa e utiliza a região Sudeste e Nordeste como sítio de desova (Marcovaldi e Marcovaldi, 1999) e atualmente estão classificadas como em perigo (IUCN, 2010). Estudos sobre ecologia parasitária tem sido realizados com tartarugas marinhas, mas ainda são muito escassos, entre eles, podemos citar o de Lepidochelys olivacea no México (Pérez-Ponce de León et al., 1996), Chelonia mydas na Costa Rica (Santoro et al., 2006) e C. caretta no Mediterrâneo (Aznar et al., 1998; Santoro et al., 2010) e Arquipélago da Madeira (Valente et al., 2009). No Brasil, os relatos correspondentes a helmintos de tartarugas marinhas são mais frequentemente encontrados para C. mydas (Muniz-Pereira et al., 2009), contudo alguns trabalhos relatam a ocorrência de trematódeos e nematóides em C. caretta no litoral do Estado do Rio de Janeiro e São Paulo (Travassos et al., 1969; Werneck et al., 2008a). O objetivo deste estudo é relatar a ocorrência de helmintos em C. caretta encontradas na costa brasileira descrevendo os dados ecológicos da comunidade parasitária. 2. Material e Métodos O estudo foi realizado de 2003 a 2010 e incluiu 31 exemplares de C. caretta provenientes dos Estados da Bahia (n=6), São Paulo (n=13), Rio Grande do Sul (n=9) e 3 capturados em espinhel pelágico de superfície em mar aberto. Todos os animais analisados foram encontrados mortos em ambiente natural ou vieram a óbito em tanques de reabilitação nas bases do Projeto Tamar- ICMBio (Programa brasileiro de proteção manejo e pesquisa de tartarugas marinhas). A média de comprimento curvilíneo de carapaça (CCC) foi de 76,25 ± 15,34 cm (44,5 - 105 cm). Para análise do trato digestório os órgãos foram separados (esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso), abertos e o seu conteúdo foi tamisado e peneiras (mesh 50 e 100) e posteriormente analisado em estereomicroscópio. Os trematódeos coletados foram fixados com álcool a 70%, corados com carmim clorídrico os nematóides foi clarificados com lactofenol e todos analisados com sistema computadorizado de imagem (QWin Lite 3.1, Leica). 82 Todos os animais necropsiados tiveram o seu coração analisado para a detecção de parasitos da família Spirorchiidae. A técnica para esta coleta foi descrita por Snyder e Clopton (2001) e simplificada por Werneck et al. (2006). Prevalência, intensidade media de infecção e abundância média foram determinados por espécie, de acordo com Bush et al. (1997). Os espécimes coletados durante o estudo foram depositados na Coleção Helmintológica do Instituto de Biociências (CHIBB), Universidade Estadual Paulista, município de Botucatu, Estado de São Paulo, Brasil. Todas as coletas foram autorizadas pelas licenças federais para atividades com finalidade científica (Sisbio no 12421-1 e 12431-2). 3. Resultados Dos animais analisados, 77,4% (n = 24) estavam infectados por pelo menos uma espécie de helminto. Seis espécies de trematódeos e três de nematóides foram coletados dos animais analisados. Ao todo foram recolhidos 2.044 espécimes, a riqueza de espécies foi de 1,69 ± 0,92 (1 - 4) e a intensidade média foi de 85,07 ± 165,28 (1 – 732) por hospedeiro. Foram identificadas dez espécies de helmintos, sendo quatro da classe Nematoda e seis da classe Trematoda. Orchidasma. amphiorchis e Sulcascaris sulcata apresentaram as maiores prevalências (38,7% e 45,16%, respectivamente) (Tabela 1) Dentre os animais positivos (excluído o único hospedeiros infectados apenas por larvas), nove (37,5%) hospedeiros apresentavam somente infecção por trematódeos, oito (33,3%) somente por nematóides e seis (25 %) apresentavam infecção mista (Tabela 2). Em nenhum hospedeiro necropsiado foi encontrados exemplares da família Spirorchiidae. Dentre os sete animais negativos, três (55,16 ± 12,5; amplitude de 44,5 – 69 cm) foram encontrados após captura em espinel pelágico e quatro (88,8 ± 10,1; amplitude de 78 – 97,5 cm) após encalhe de praia. 4. Discussão Todos as espécies encontradas neste estudo foram anteriormente descritas em exemplares de C. caretta (Aznar et al., 1998; Valente et al., 2009; Santoro et al., 2010), porém para a região brasileira apenas Rhytidodes gelatinosus (Travassos et al., 1969), O. amphiorchis, Pyelosomum renicapite, Calycodes anthos, S. sulcata e Kathlania leptura já tinham sido descritas para este hospedeiro (Werneck et al., 2008a). Sendo assim, a costa 83 brasileira é registrada como nova ocorrência geográfica para Tonaudia freitasi, Plesiochorus cymbiformis e Diaschistorchis pandus. As espécies identificadas neste estudo são compostas por trematódeos e nematóides e foram relatadas em outros hospedeiros, a saber: C. anthos (Caballero et al., 1955), D. pandus (Mehrotra e Gupta 1976.), O. amphiorchis (Caballero, 1962; Travassos et al., 1969), K. leptura (Lane, 1914; Travassos, 1918; Vicente et al., 1993), S. sulcata (Freitas e Lent, 1946; Sprent 1977) e T. freitasi (Vicente et al., 1993) são descritos em C. mydas; R. gelatinosus, D. pandus, O. amphiorchis, P. cymbiformis em Eretmochelys imbricata (Dyer et al., 1995); C. anthos, P. renicapite, O. Amphiorchis (Pérez-Ponce de León et al., 1996), P. cymbiformis (Santoro e Morales 2007) e K. leptura (Brooks e Frazier, 1980) em L. olivacea; e P. renicapite (Manfredi et al., 1996) em Dermochelys coriacea Vandelli, 1761. Neste estudo encontramos seis espécies de trematódeos e três espécies de nematóides. Todos os helmintos, exceto O. amphiorchis (ver Aznar et al., 1998) são parasitos exclusivos de quelônios marinhos. Observa-se assim que a infracomunidade de helmintos encontrados em C. caretta na costa brasileira é formado por espécies generalistas, conforme hipóteses proposta por Aznar et al. (1998) Espécies generalistas de parasitos, que compartilham duas ou mais espécies de tartarugas marinhas como hospedeiros (Santoro et al., 2006), são a maioria nos estudos em C. caretta (Aznar et al., 1998; Valente et al., 2009; Santoro et al., 2010) e L. olivacea (Pérez- Ponce de León et al., 1996) e na metade dos helmintos observado em C. mydas (Santoro et al., 2006). Lepidochelys olivacea e C. caretta apresentam menor riqueza de espécies e abundância quando comparados com C. mydas (ver Santoro et al., 2006), informação posteriormente confirmado em Valente et al. (2009), Santoro et al. (2010) e no presente estudo. Alguns fatores podem explicar esta diferença: (i) estágio de vida: Santoro et al. (2006) analisaram fêmeas adultas de C. mydas (e.g. com maior tempo de exposição a possíveis hospedeiros intermediários), enquanto Aznar et al. (1998), Valente et al. (2009) e Santoro et al. (2010) analisaram indivíduos juvenis de C. caretta, assim como Pérez-Ponce de León et al. (1996), que estudaram juvenis de L. olivacea; (ii) hábito alimentar dos hospedeiros (i.e. L. olivacea e C. caretta sendo espécies carnívoras e C. mydas herbívora, quando adulta); (iii) deslocamento dos hospedeiros: L. olivacea e C. caretta são espécies com hábito migratório pelágico, quando comparados com exemplares adultos de C. mydas (Lutz e Musick, 1997). 84 Santoro et al. (2006) relacionam as diferenças entre os valores ecológicos de helmintos e os hospedeiros aos hábitos alimentares entre as espécies, além disso os movimentos migratórios podem influenciar a riqueza parasitária uma vez que podem dificultar a dispersão de helmintos devido à escassez de possíveis hospedeiros intermediários o que pode explicar a diferença entre os valores ecológicos de riqueza, intensidade e abundância média de parasitos (Marcogliese, 2002). Os hospedeiros analisados neste trabalho são maiores que os espécimes encontrados por Aznar et al.(1998), Valente et al.( 2009) e Santoro et al.( 2010). Isso pode revelar infracomunidade parasitária de hospedeiros mais velhos e mais costeiros com hábitos neríticos e bentônicos. Esta hipótese é sustentada não só pelo tamanho dos animais como também pela maior prevalência da espécie S. sulcata, uma vez que estágios larvais destes nematóides são reconhecidos por parasitar bivalves e gastrópodes bentônicos particularmente em ambientes mais próximos da costa (Berry e Cannon, 1981; Santoro et al., 2010). A análise da Tabela 2 revela que indivíduos parasitados concomitantemente por helmintos das classes Nematoda e Trematoda apresentam maiores médias de CCC, riqueza e abundância média. Estes dados reforçam as hipóteses anteriores e demonstram semelhança com dos dados encontrados nos animais de maior tamanho de carapaça estudados por Santoro et al. (2010). Neste estudo, foram encontrados estágios larvais de nematóides e a baixa prevalência sugere que trata-se de uma infecção acidental e que C. caretta pode estar atuando como um possível hospedeiro paratênico, assim como relatado por Santoro et al. (2010). Outra opção levantada por Valente et al. (2009) é que a ocorrência destas larvas possa refletir a baixa especificidade destes helmintos pelos hospedeiros. A espécie mais prevalente em nosso estudo foi S. sulcata seguido de O. amphiorchis e P. renicapite. Porém, as maiores intensidades de infecção foram observadas nas espécies K. leptura e O. amphirochis (Tabela 1). Esses dados se assemelham com os dados encontrados para os mesmo hospedeiros na costa brasileira (Werneck et al., 2008a). Cinco gêneros de Spirorchiidae são descritos como parasitas de C. caretta (Smith, 1997). Neste estudo não foram observados helmintos desta família, apesar de já terem sido relatados em exemplares de C. mydas (Werneck et al., 2006; Werneck et al., 2008b; Werneck et al., 2011) e E. imbricata (Werneck et al., 2008c) na costa brasileira. Apesar do ciclo de vida destes trematódeos, de ambientes marinhos, não ser ainda esclarecido, há a possibilidade de moluscos e bivalves estarem sendo recrutados como hospedeiros intermediários e, neste 85 caso, os hábitos alimentares e ontogenéticos podem influenciar a fauna parasitária e logo a sua ocorrência na espécie (Smith, 1992). Werneck et al. (2008a) analisaram 12 exemplares de C. caretta proveniente do litoral Sudeste do Brasil e encontraram cinco espécies de helmintos (três trematódeos e dois nematóides); Santoro et al. (2010) analisaram 182 espécimes de C. caretta provenientes do Mar Mediterrâneo e encontraram 15 espécies de helmintos (1 acantocéfalo, 4 nematóides e 10 trematódeos); Valente et al. (2009) analisaram 57 espécimes de C. caretta provenientes do Arquipélogo de Madeira e encontraram nove espécies de helmintos (dois nematóides, quatro trematódeos, dois acantocéfalo e um cestóide). De todos os helmintos analisados acima apenas C. anthos coincide em todos os trabalhos, inclusive no presente estudo. Santoro et al. (2010) descrevem a ocorrência de C. anthos em todos os locais de amostrados e a prevalência encontrada variou de 15,2% a 81,9%. Porém, os maiores índices foram encontrados em animais com menor CCC (prevalência variando entre 23,7% e 81,9%). Uma hipótese para este fato está na possibilidade de que a espécie C. anthos possa explorar hospedeiros paratênicos tanto bentônicos quanto pelágicos, o que explicaria a ocorrência em todos os animais independentemente do tamanho de CCC ou seu ciclo ser predominantemente pelágico, o que poderia explicar sua ampla distribuição neste hospedeiro. Este trabalho apresenta a primeira análise ecológica de helmintos em tartarugas marinhas da espécie C. caretta encontradas na costa brasileira. Agradecimentos - Projeto TAMAR- ICMBio, é co-administrado pela Fundação Pró-TAMAR, e oficialmente patrocinado pela PETROBRAS. Os autores agradecem a Paula Baldassin, pela análise prévia do manuscrito. Este trabalho teve o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP (Proc. 07/59504-7). Referências Bibliográficas3 AZNAR, FJ., BADILLO, FJ. and RAGA JA., 1998. Gastrointestinal helminths of loggerhead turtles (Caretta caretta) from the western Mediterranean: constraints on community structure. Journal of Parasitology, vol. 84, p. 474-479. 3 Referências bibliográficas segundo normas da Brazilian Journal of Biology. 86 BERRY, GN. and CANNON, RG., 1981. The life history of Sulcascaris sulcata (Nematoda: ascaridoidea), a parasite of marine mollusks and turtles. International Journal for parasitology, vol. 11, p. 43-54. BROOKS, DR. and FRAZIER, J., 1980. New host and locality for Kathlania leptura (Rudolphi) (Nematoda: Oxyurata: Kathlanidae). Proceedings of the Helminthological Society of Washington, vol. 47, p. 267-268. BUSH, A.O., LAFFERTY, KD., LOTZ, JM. and SHOSTAK, AW., 1997. 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Pan-American Journal of Aquatic Sciences, vol. 3, p. 351-354. 90 Tabela 1. Prevalência, abundância média e intensidade média de 31 exemplares de Caretta caretta provenientes da costa brasileira Legendas: SI, sítio de infecção; N, número total de helmintos coletados; P, prevalência; AM, abundância média; IMI, intensidade média de infecção; EST, estômago; ID, intestino delgado; IG, intestino grosso; BEX, bexiga urinária. Tabela 2. Estatística por grupos de hospedeiros e classe de helmintos parasitas em exemplares da espécie Caretta caretta provenientes da costa brasileira. Variáveis Positivos para trematódeos Positivos para nematóides Positivos para nematóides e trematódeos N 9 8 6 Média de CCC ± SD 72,0 ± 15,6 74,0 ± 9,7 86,1 ± 13,2 (Variação) (61 – 93) (59 – 90) (71 – 105) Riqueza de espécies ± SE (Variação) 1,6 ± 0,23 (1 - 3) 1,12 ± 0,12 (1 - 2) 2,4 ± 0,78 (2 - 2) Parasitas por hospedeiro± SE (Variação) 25,4 ± 15,3 (2 – 118) 76 ± 45,6 (1 - 343) 172,4 ± 12,9 (4 - 723) Parasitos N P AM ± SE IMI SI Média ± SE Variação Trematoda Calycodes anthos 17 6,45 0,54 ± 0,50 8,5 ± 7,51 1 - 16 EST, ID Rhytidodes gelatinosus 104 6,45 3,35 ± 3,15 52 ± 49,14 3 - 101 ESO, ID Diaschistorchis pandus 10 6,45 0,32± 0,28 5 ± 4,0 1 - 9 ID Pyelosomum renicapite 125 12,9 0,61 ± 0,37 6,33 ± 2,32 2 - 10 IG Orchidasma amphiorchis 780 38,7 24,03 ± 13,40 67,7 ± 36,3 1 - 313 EST, ID Plesiochorus cymbiformis 5 6,45 0,16 ± 0,15 - 5 BEX Nematoda Kathlania leptura 780 9,06 25,16 ± 15,88 260 ± 105,10 57 – 408 ID/IG Sulcascaris sulcata 332 45,16 10,61 ± 6,53 25,3 ± 14,9 1 - 209 ESO, EST, ID Tonaudia freitasi 3 3,22 0,096 ± 0,093 - 3 ID Larvas não identificadas 32 3,22 1,03 ± 1,00 - 32 ID 91 Artigo 4. Helmintos parasitas de Eretmochelys imbricata Linnaeus, 1758 (TESTUDINES, CHELONIDAE) no Brasil. 92 Helmintos parasitas de Eretmochelys imbricata Linnaeus, 1758 (TESTUDINES, CHELONIDAE) no Brasil. Werneck, M R.a* e Silva, RJ.b aFundação Pró-Tamar, Rua Antônio Athanázio da Silva N.º273, Itaguá, CEP: 11680-000, Ubatuba, São Paulo, Brasil. bDepartamento de Parasitologia, Instituto de Biociências, UNESP, Distrito de Rubião Júnior S/N, CEP: 18618-000, Botucatu, São Paulo, Brasil. *e-mail: max@tamar.org.br 93 Resumo Neste estudo foram analisados 31 indivíduos juvenis de Eretmochelys imbricata procedentes da costa brasileira. Dezessete exemplares foram positivas para helmintos (Prevalência = 54,8%). Ao todo foram encontradas nove espécies de trematódeos: Diaschistorchis pandus, Cricocephalus albus, Metacetabulum invaginatum, e Pronocephalus obliquus (Pronocephalidae); Cymatocarpus solearis (Brachycoeliidae); Styphlotrema solitaria (Styphlotrematidae); Carettacola stunkardi e Amphirochis caborojoensis (Spirorchiidae); e Orchidasma amphiorchis (Telorchiidae); além de larvas de nematóide Anisakis tipo I. A riqueza de espécies encontradas foi de 1,5 ± 0,20 (1 – 3) e a intensidade média foi de 29,35 ± 10,72 (1 – 134). Este relato corresponde a primeira análise ecológica nesta espécie de hospedeiros. Palavras-chave: Eretmochelys imbricata, Ecologia, Helmintofauna, Nematoda, Trematoda 94 Abstract The helminth fauna of 31 juvenile specimens of Eretmochelys imbricata from the Brazilian coast was evaluated. Seventeen specimens were infected with helmints (prevalence = 54,8%). Nine trematode species were found: Diaschisorchis pandus, Cricocephalus albus, Metacetabulum invaginatum, Pronocephalus obliquus (Pronocephaliudae); Cymatocarpus solearis (Brachycoeliidae); Styphlotrema solitaria (Styphlotrematidae); Carettacola stunkardi e Amphirochis caborojoensis (Spirorchiidae); and Orchidasma amphiorchis (Telorchiidae); besides the larvae of nematode type I Anisakis. The richness of the species found was 1,5 ± 0,20 (1 – 3) and the mean intensity was 29,35 ± 10,72 (1 – 134). This report corresponds to the first ecological analysis of this host species. Key-words: Eretmochelys imbricata, Ecology, Helminth fauna, Nematoda, Trematoda 95 1. Introdução A tartaruga marinha Eretmochelys imbricata possui distribuição mundial e utiliza as águas costeiras tropicais e subtropicais como área de alimentação e desova (Spotila, 2004). É classificada atualmente como criticamente ameaçada (IUCN, 2010) e no Brasil está inserida na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2003), sendo protegida por leis federais. No Brasil é frequentemente observada ao longo da costa (Gallo et al., 2006), utiliza os Estados da Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte, como área de desova (Marcovaldi et al. 2007). Cerca de 50 espécies de helmintos distribuídos em 10 famílias são reconhecidas como parasitas de E. imbricata (Dyer et al., 1995), contudo pouco se sabe sobre a diversidade helmintológica desta espécie no litoral brasileiro, onde são relatadas apenas as espécies Cricocephalus albus (Travassos et al. 1969), Amphiorchis caborojoensis e Carettacola stunkardi (Werneck et al., 2008a). O objetivo deste trabalho é relatar a composição da fauna parasitária de E. imbricata procedentes da costa brasileira. 2. Material e Métodos O estudo foi realizado com indivíduos juvenis de E. imbricata (n = 31) entre os anos de 2005 a 2010. Os indivíduos foram provenientes dos Estados do Ceará (n = 2), Bahia (n = 12) e São Paulo (n = 17). Todos os animais analisados foram encontrados mortos em ambiente natural ou vieram a óbito em tanques de reabilitação nas bases do Projeto Tamar- ICMBio (Programa Brasileiro de Proteção e Pesquisa de Tartarugas Marinhas). A média de comprimento curvilíneo de carapaça foi de 40,61 ± 8,76 cm (30,5 – 65,5 cm) e a média de peso de 6,75 ± 5 kg (2 – 25 kg). Para análise do trato digestório, os órgãos foram separados (esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso), abertos, seu conteúdo separado com peneiras (mesh 50 e 100) e então analisado em estereomicroscópio. Para a detecção de helmintos da família Spirorchiidae foi utilizado a técnica descrita por Snyder e Clopton (2001) e simplificada por Werneck et al. (2006). Os trematódeos coletados foram fixados com álcool a 70%, corados com carmim clorídrico, diafanizados em eugenol os nematóides foi clarificados com 96 lactofenol e todos analisados com sistema computadorizado de imagem (QWin Lite 3.1, Leica). Prevalência, intensidade media de infecção e abundância média foram determinados por espécie de acordo com Bush et al. (1997). Os helmintos coletados durante o estudo foram depositados na Coleção Helmintológica do Instituto de Biociências (CHIBB), Universidade Estadual Paulista, Município de Botucatu, Estado de São Paulo, Brasil.Todas as coletas foram autorizadas pelas licenças federais para atividades com finalidade científica (Sisbio n.º 12421- 1 e 12431-2). 3. Resultados Das 31 tartarugas analisadas neste estudo, 17 foram positivas para helmintos (prevalência = 54,8%). Nestes hospedeiros foram coletados um total de 464 helmintos. Ao todo foram encontradas nove espécies de trematódeos representando cinco famílias e um nematóide (Tabela 1). A riqueza de espécies encontradas foi de 1,5 ± 0,20 (1 – 3) e a intensidade média foi de 29,35 ± 10,72 (1 – 134). O helminto mais prevalente foi C. albus com 19,3%, seguida das espécies Diaschistorchis pandus, Orchidasma amphiorchis e Anisakis tipo I todas com 9,67 %. O mais abundante foi C. albus com 6,96 ± 4,05, seguida de Styphlotrema solitaria com 3,25 ± 2,37, e O. amphiorchis, com 2,03 ± 1,61. A maior intensidade de infecção obervada foi para S. solitaria, com 50,5 ± 15,54, seguida por C. albus (36 ± 17,36) e O. amphiorchis (21 ± 14,31) (Tabela 1) 4. Discussão Entre os helmintos estudados apenas a espécie P. obliquus não tinha sido relatada parasitando E. imbricata, as espécies C. albus, C. stunkardi e A. caborojoensis já tinham sido relatadas neste hospedeiros na costa brasileira (Travassos et al., 1969; Werneck et al., 2008a), todas as outras espécies encontradas representam a primeira ocorrência destes helmintos em E. imbricata no Atlântico Sul Ocidental. Os estudos sobre a ecologia parasitária envolvendo tartarugas marinhas, embora ainda raros, tem sido conduzidos com Lepidochelys olivacea no México (Pérez-Ponce de León et al., 1996), Caretta caretta no Mar Mediterrâneo (Aznar et al. 1998; Valente et al., 2009; Santoro et al., 2010) e em Chelonia mydas no Caribe (Santoro et al., 2006). 97 Nota-se que os indivíduos da espécie E. imbricata apresenta menor riqueza e abundância de helmintos quando comparados com exemplares de C. mydas (Santoro et al., 2006) e C. caretta (Aznar et al., 1998) e L. olivacea (Pérez-Ponce de León et al., 1996). É conhecido que a dieta, habitat, densidade populacional, migrações podem influenciar a fauna parasitária dos hospedeiros (Marcogliese, 2002). Chelonia mydas são onívoras quando jovens e gradativamente se tornam herbívoras. Caretta caretta e L. olivacea são onívoras generalistas especializadas em peixes, crustáceos e moluscos (Bjorndal, 1996) Dois fatores poderiam explicar a baixa riqueza e abundância neste estudo: 1. A dispersão de larvas de helmintos poderia ser dificultada pela restrita e especializada alimentação do hospedeiro, uma vez que E. imbricata alimenta-se principalmente de invertebrados e esponjas, mas também plantas marinhas, como relatado em conteúdos intestinais na Região do Atlântico (Bjorndal, 1996). 2. Os ambientes de mar aberto podem dificultar também a dispersão de helmintos devido à falta de hospedeiros intermediários (Marcogliese, 2002). Neste estudo, os hospedeiros analisados são considerados juvenis (devido ao pequeno comprimento e peso dos indivíduos analisados) e, assim, recentemente recrutados de ambientes de mar aberto (Spotila, 2009). As larvas de Anisakis tipo I são frequentemente relatados em invertebrados marinhos e tem como hospedeiro definitivo os cetáceos (Valente et al., 2009). Na região Brasileira Anisakis spp. são encontrados em peixes, cetáceos e tartarugas marinhas (Muniz-Pereira et al., 2009). Esta grande variabilidade pode refletir, além da disponibilidade destes helmintos em diferentes hospedeiros intermediários, uma dieta inespecífica por parte dos hospedeiros analisados. A ocorrência de larvas de nematóides em três indivíduos sugere tratar-se de uma infecção acidental e, nesse caso, os hospedeiros analisados estariam atuando como hospedeiros paratênicos, fato já levantado por Santoro et al. (2010) em C. caretta no Mediterrâneo. Além disso, a ocorrência destas larvas pode refletir a baixa especificidade deste helminto pelos hospedeiros, como já discutido por Valente et al. (2009). Em E. imbricata são relatados exemplares de Spirorchiidae dos gêneros Amphiorchis, Hapalotrema e Learedius (Smith, 1997). Neste estudo, encontramos apenas duas espécies 98 desta família, em apenas um animal analisado, C. stunkard, que também é relatado em C. mydas nos Estados Unidos (Martin e Bamberge