As concepções de meio ambiente e agricultura no ensino técnico e superior em ciências agrárias: a educação ambiental na extensão

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Data

2001

Autores

Caminhas, Ana Margarida Theodoro [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Desenvolvemos esta pesquisa a partir de nossa atuação em atividades de Educação Ambiental voltadas para o Colégio Técnico Agrícola "José Bonifácio" (localizada no Câmpus de Jaboticabal - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias) e para o Centro de Educação Ambiental da Prefeitura Municipal de Jaboticabal. Realizamos nosso estudo, desde maio de 1997, em função da realização de nosso relatório de regime de dedicação integral à docência e à pesquisa (R.D.I.D.P) e o período previsto para o seu término corresponde a outubro de 2000. Pretendemos identificar quais as concepções dos sujeitos aí envolvidos - professores e estudantes - sobre meio ambiente e agricultura. Somente após esta identificação - como iremos apresentar nesta exposição - propomos, como educadora e pesquisadora, alguma ação pedagógica caracterizada como extensão. Acreditamos, com isso, estar compartilhando dos objetivos da Educação Ambiental definidos pela ciência da problemática sócio-ambiental de um determinado contexto pelos indivíduos a ele pertencentes como geradora de uma ação voltada para a sua solução.(KRASILCHICK, 1986, AB'SABER, 1991). Além disso, propomos estas atividades didáticas como referenciais capazes de resgatar tais concepções, ao mesmo tempo que demonstrem a importância da história individual dos participantes no processo pedagógico-ambiental. Baseamo-nos em algumas premissas do método Paulo Freire e da metodologia da pesquisa participante, essenciais a iniciativas de Educação Ambiental vinculadas à extensão universitária como a que expomos aqui. Ou seja, a realidade do educando - do técnico agropecuário - é ponto de partida para sua compreensão como um agente ativo no contexto em que se encontram - uma região caracterizada pelo impacto da modernização da agricultura no meio ambiente (mecanização, agroquímicos, monocultura, queimadas etc). Prestamos assessoria ao Centro de Educação Ambiental da Prefeitura Municipal de Jaboticabal através de orientação teórica-metodológica no desenvolvimento de atividades didáticas pedagógico-ambientais (como palestras, cursos, dinâmicas de grupo, coleta de informações junto à população). Além disso, em parceria com o coordenador deste centro, realizamos palestras voltadas para a população e escolas de 1o.e 2o.graus locais e para a própria escola técnica, cujo tema foi a diversidade cultural e a biodiversidade; colaboramos, como parte desta assessoria, para que o colégio técnico agrícola interagisse com as demais escolas do município - convidamos dois de seus alunos (oriundos da tribo guarani buscando nesta instituição escolar aprendizado de técnicas agrícolas para introdução em sua aldeia) para expor o vínculo étnico entre a sua cultura e a natureza a outros estudantes da rede de ensino em comemoração ao "Dia do Índio" (abril de 1998). Diante destes tópicos, entendemos esta assessoria ao Centro de Educação Ambiental da Prefeitura Municipal de Jaboticabal como uma fonte de informações sobre a realidade sócio-ambiental e agrária local para a nossa atuação direcionada aos alunos da escola técnica agrícola descrita nesta iniciativa, bem como para o nosso trabalho docente na disciplina "Ciências Humanas e Sociais" ministrada ao 1o. ano dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia. Junto aos estudantes do Colégio Técnico Agrícola "José Bonifácio" participamos da "Semana de Tecnologia Agropecuária - SETA, no dia 02 de julho de 1998, quando nos foi proposto o tema "o desafio profissional do técnico agropecuário diante do meio ambiente". Utilizamos músicas voltadas para o meio ambiente e a agricultura e a partir de seu conteúdo realizamos um debate junto a estes participantes; a seguir solicitamos que se dividissem em grupos responsáveis pela realização de um painel constituido por elementos gráficos expressivos deste debate, ao qual, posteriormente foi apresentado para os presentes. Identificamos, então, algumas concepções destes alunos: a inserção do aluno da escola técnica agrícola em uma região rural comprometida pela prática da queimada (uma prática agrícola comum na região do colégio agrícola, Jaboticabal); a beleza da natureza no meio ambiente rural e o fornecimento de alimentos para o homem e para os animais x a contaminação da água por detritos de esgoto a céu aberto; degradação do solo ("voçoroca"); a fragmentação dos contextos rural e urbano (a agricultura rudimentar de pequenos agricultores x e a tecnologia na cidade); a poluição urbana (descarga de esgoto nos rios); laços afetivos ao/no meio rural; a dificuldade de produção agrícola geradora de miséria e êxodo rural; o papel do conhecimento/informação nas questões sócio-agrárias e ambientais; a dinâmica da relação homem-ambiente nos diversos ecossistemas rurais e urbanos terrestres; desconexão quanto à abordagem da temática sócio-ambiental agrária; a cooperação entre os seres humanos como uma alternativa à problemática citada. Entendemos a disciplina "Ciências Humanas e Sociais" que ministramos aos alunos do 1o.ano do curso de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia, como um espaço onde a pesquisa e a extensão estejam presentes, interagindo com o ensino. Portanto, os dados coletados em nossa atuação no Colégio Técnico Agrícola e no Centro de Educação Ambiental da Prefeitura Municipal de Jaboticabal expressos acima foram incorporados na abordagem do tema "a agricultura e o meio ambiente: uma abordagem da ciência e tecnologia e da arte?" - realizada com os alunos do 1o. ano do curso de Agronomia, em atividade extra-classe no Horto Florestal, no Museu do Campus de nossa universidade e na área reservada às culturas vegetais da escola técnica agrícola. Através da modelagem em argila proposta aos alunos e debate sobre o significado dos objetos confeccionados, tendo como referência o tema citado, identificamos as concepções aí manifestadas como: a memória lúdica (as "brincadeiras de criança"), as espécies vegetais e animais mais significativas para os mesmos, os laços afetivos, o "homem do campo", o cultivo da terra e a técnica, as fronteiras agrícolas, a estética, o artesanato, a cultura. Aí procuramos enfatizar a importância da inter-relação de todas estas representações, para a Educação Ambiental. Identificamos nesta discussão o papel da história individual como parte da História, um viés elaborado através do contato destes alunos com o "Museu do Campus", onde os dados históricos da origem e desenvolvimento do Câmpus de Jaboticabal estão registrados em fotos, desenhos, esquemas e objetos antigos. O viés da extensão neste trabalho pode ser entendido tanto na compreensão destas concepções como perspectivas de trabalho extra-curriculares com estes estudantes, como na valorização do espaço do Museu do Campus, através da visita dos mesmos ao local e da doação do material confeccionado em argila para exposição neste ambiente. No decorrer desta ação pedagógica, pretendemos retornar os dados coletados em contato com os estudantes do nível técnico e superior - as concepções expostas neste texto - para o público envolvido através da exposição dos painéis por ele confeccionado. Tomamos esta iniciativa nos orientando pelos elementos teórico-metodológicos da pesquisa participante, onde, a devolução dos dados coletados da realidade pesquisada possibilita uma análise dos mesmos pelos sujeitos que os forneceram (uma dinâmica de pesquisa retroalimentada pelas reflexões conjuntas do pesquisador e demais participantes do trabalho). Todas as informações reunidas - do levantamento das concepções a esta análise - vem formando "um banco de dados", o qual colocaremos à disposição dos participantes desta pesquisa após seu término; a este "banco" somamos um levantamento bibliográfico e videográfico pertinente à Educação Ambiental e à Agricultura, visto que entendemos essa vertente do trabalho como uma contribuição ao ensino técnico e ao superior. Incluímos no levantamento videográfico os filmes produzidos diante do registro de algumas atividades (palestras, visita ao "Museu do Campus", entrevistas). Expressamos este aprendizado vivido pelos sujeitos aí envolvidos, bem como pela pesquisadora e docente (FAZENDA, 1989; ROLNIK, s.d.). Contextualizamos este aprendizado em uma prática pedagógica definida por uma natureza de pesquisa que pode ser concebida como uma atividade de extensão. Já que desenvolvemos um projeto em uma escola técnica agrícola, onde temos a preocupação de ir além dos limites da universidade: gerando apoio a esta instituição escolar e ao mesmo tempo perfazendo um trânsito entre a sala de aula do ensino técnico e do ensino superior. Desta maneira, desejamos estabelecer um "locus" de pesquisa gerador de intercâmbio entre estes estes níveis de ensino, bem como neles difundir o aprendizado promovido nos limites rarefeitos entre a pesquisa, a extensão e o ensino (SAVIANI, 1991). Entendemos nossa atuação nesta escola, como uma contribuição a parceria entre a universidade e o colégio agrícola, definida pela ampliação dos limites do debate sobre agricultura e aspectos sócio-ambientais entre o ensino superior e o ensino técnico de segundo grau. Assim, centramos nossa reflexão na articulação de nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão inerente a este trabalho pedagógico aqui descrito. Onde temos como mediadora desta articulação a possibilidade de aglutinação de nossa formação como biológa, inserida na área de ciências sociais em um campus de Ciências Agrárias.

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