Literatura infantil e modernismo literário: palimpsestos e representações da consciência ficcional em textos de mulheres

Abstract

Esta tese discute a hipótese de que há uma relação simbiótica entre a literatura infantil e o que se convencionou chamar de Modernismo literário. Parte-se do pressuposto de que esta é pouco pesquisada, pois, no que se refere à tradição anglo-americana, o referido subsistema ainda é compreendido como algo à parte do sistema literário e há uma preferência, por parte de seus estudiosos, de entendê-lo a partir de gêneros literários, em vez de se realizar um percurso cronológico historiográfico (como visto por Anne Lundin, Karin Westman, entre outros), o que justifica a eleição deste tema. Para seu estudo, elegeram-se como fontes primárias obras para crianças de autoria de Gertrude Stein (1874-1946), Eleanor Farjeon (1881-1965), Virginia Woolf (1882-1941) e Sylvia Plath (1932-1963). Woolf e Stein foram escolhidas, pois compartilham a qualidade de terem tido seus textos infantis praticamente ignorados pela crítica e esquecidos pelo cânone; Farjeon, por sua vez, foi uma premiada escritora de livro infantil, que caiu em ostracismo pouco depois de sua morte e hoje lhe restam poucas linhas em compêndios específicos; Plath foi eleita para estudo para fins comparativos e essa escolha se justifica tendo em vista que ela escreveu apenas uma geração depois das grandes modernistas. Trata-se de um trabalho interdisciplinar que se utiliza de aporte teórico da crítica literária feminista (conforme Lissa Paul, Elaine Showalter, entre outras) e da crítica cognitiva (conforme Lisa Zunshine, Maria Nikolajeva, entre outros). A eleição deste aporte teórico se explica, porque busca-se apresentar possibilidades de releituras e reavaliações de volumes tidos como de menor importância na produção de grandes escritoras e, no caso de Farjeon, recuperar uma autora que foi praticamente esquecida, partindo da hipótese de que os livros de literatura infantil dessas mulheres se afirmam como expressão autoral feminina e se configuram como experimentos estéticos radicais de notável complexidade sociocognitiva.

This dissertation discusses the hypothesis that there is a symbiotic relationship between children's literature and literary Modernism. This topic receives lit tle study in the AngloAmerican tradition because children’s literature is seen as a literary subsystem and understood as something apart from the literary system (“adult” literature); and also because its scholars prefer to organize it by literary genre, instead of following a historiographical chronological course (as seen by Anne Lundin, Karin Westman, and others). To achieve our analysis we selected as primary sources children’s books by Gertrude Stein (1874 Eleanor Farjeon (1881-- 1965), Virginia Woolf (18821941), and Sylvia Plath (1932-- 1946), 1963). Woolf and Stein were chosen because they share the quality of having had their children's texts practically ignored by critics and forgotten by the canon; Farjeon, for her part, was an award winning children 's writer who was ostracized shortly after her death, and today is relegated to specific textbooks; Plath was elected for comparative purposes, an appropriate choice, considering that she wrote only a generation after the great modernists. This is an inter disciplinary dissertation that uses feminist literary criticism (Lissa Paul, Elaine Showalter, and others) and cognitive criticism (Lisa Zunshine, Maria Nikolajeva, and others) as theoretical frameworks. These were selected to present possibilities of rer eadings and revisions of volumes considered of lesser importance in the production of great female writers and, in the case of Farjeon, to recover an author who was practically forgotten. We hypothesize that the children's books by these women assert them selves as an expression of female authorship and are configured as radical aesthetic experiments of remarkable socio cognitive complexity.