Colonialidade e desastres: uma análise crítica latino-americana do discurso gerencialista em corporações extrativistas

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Data

2022-08-01

Autores

Duarte-Alves, Andreia

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Esta tese investiga a relação entre a Modernidade/Colonialidade e a produção de desastres pelo capitalismo financeiro e informacional, problematizando o papel dos altos executivos das corporações extrativistas na manutenção da dinâmica de exploração colonial de territórios, corpos e epistemes. Partimos nossas análises de dois grandes desastres recentes da mineração brasileira, o rompimento das barragens de Mariana (em 2015) e de Brumadinho (em 2019), ambos com responsabilidade direta da mineradora transnacional Vale S.A. O corpus da pesquisa foi composto por entrevistas em vídeo publicadas na plataforma online YouTube de dois diretores-presidentes, CEOs (Chief Executive Officers), que estavam à frente da mineradora na ocasião dos desastres. O objetivo foi analisar a relação entre a Modernidade/Colonialidade e o discurso gerencialista manifesto pelos representantes das corporações extrativistas produtoras de desastres a fim de compreender, desde a América Latina (ou Abya Yala, terra promissora e rica, palavra da língua do povo Kuna que vem sendo adotada pelos povos originários latino-americanos em contestação à denominação imposta pelos colonizadores), as racionalizações e modos de subjetivação que legitimam a produção de ecocídios, genocídios e epistemicídios dentro da dinâmica política e econômica global. A pesquisa foi orientada pelos pressupostos da Análise de Discurso Crítica Latino-americana (ADC-LA) e analisou dois modelos de gestão distintos, de Murilo Ferreira (2011-2017) e de Fabio Schvartsman (2017-2019). As duas presidências expressaram relação direta com os processos políticos nacionais da última década e foram influenciadas pelas políticas econômicas dos governos. O primeiro modelo analisado, período do desastre da Samarco em Mariana, a Vale legitima o desastre a partir de um discurso baseado na política neodesenvolvimentista e neoextrativista implantada na década anterior pelos governos progressistas latino-americanos e motivada pelos superávits decorrentes do superciclo das commodities. A Vale foi instrumento para o posicionamento do Brasil (prioritariamente a região centro-sul) como metrópole do Sul Global, reproduzindo um modelo colonial de exploração neoextrativista, que avançou sobre territórios com potencial minerário como a Amazônia e países da África. O segundo modelo, período do desastre em Brumadinho, a Vale reproduziu o discurso neoliberal com a adoção de práticas gestionárias autoritárias, antidemocráticas e antiestatais, tornando-se instrumento para o reposicionamento do Brasil como economia dependente, colônia de exploração extrativista e rentista na dinâmica global de acumulação de capital. Neste período, a Vale legitimou os desastres a partir do discurso financista baseado na oportunidade de rentabilidade, capitalizando os danos a partir de estratégias de alavancagem de lucros voltadas ao aumento no valor de mercado da companhia. A análise do discurso gerencialista dos presidentes da Vale possibilitou compreender como a colonialidade está presente nas racionalizações e os modos de subjetivação que naturalizam e legitimam a capitalização dos desastres pelas corporações extrativistas, tanto por correntes políticas progressistas quanto neoliberais. Os pressupostos da Modernidade/Colonialidade associada ao modelo de capitalismo financeiro e informacional têm transformado grandes corporações extrativistas em “enclaves econômicos”, que atuam de forma supraestatal para legitimar o uso do terror e da morte como instrumentos de alavancagem de lucro (necrocapitalismo). Dessa forma, os genocídios, ecocídios e epistemicídios causados pelos desastres são incorporados socialmente como rentáveis e como uma condição favorável ao desenvolvimento e ao progresso.
Esta tesis investiga la relación entre la Modernidad/Colonialidad y la producción de desastres por el capitalismo financiero y informacional problematizando el papel de los altos ejecutivos de las corporaciones extractivas en el mantenimiento de la dinámica de explotación colonial de territorios, cuerpos y epistemes. Comenzamos nuestro análisis con dos grandes desastres recientes en la minería brasileña, la ruptura de las represas de Mariana (en 2015) y Brumadinho (en 2019), ambas bajo responsabilidad directa de la transnacional minera Vale S.A. El corpus de la investigación fue compuesto por entrevistas en video publicadas en la plataforma en línea YouTube a dos directores ejecutivos, CEOs (Chief Executive Officers), quienes estaban a cargo de la empresa minera en el momento de los desastres. El objetivo fue analizar la relación entre la Modernidad/Colonialidad y el discurso gerencialista manifestado por los representantes de las corporaciones extractivas productoras de desastres a fin de comprender, desde América Latina (o Abya Yala, tierra prometedora y rica, palabra de la lengua del pueblo Kuna que viene siendo adoptada por los pueblos originarios latinoamericanos en contestación a la denominación impuesta por los colonizadores), las racionalizaciones y modos de subjetivación que legitiman la producción de ecocidios, genocidios y epistemicídios dentro de la dinámica política y económica global. La investigación fue orientada por los presupuestos del Análisis de Discurso Crítico Latinoamericano (ADC-LA) y analizó dos modelos de gestión distintos, de Murilo Ferreira (2011-2017) y de Fabio Schvartsman (2017-2019). Las dos presidencias expresaron una relación directa con los procesos políticos nacionales de la última década y estuvieron influenciadas por las políticas económicas de los gobiernos. El primer modelo analizado, el período del desastre de Samarco en Mariana, Vale legitima el desastre desde un discurso basado en la política neodesarrollista y neoextractiva implementada en la década anterior por los gobiernos progresistas latinoamericanos y motivada por los excedentes provenientes del superciclo de las commodities. Vale jugó um papel decisivo en el posicionamiento de Brasil (principalmente la región centro-sur) como una metrópoli del Sur Global, reproduciendo un modelo colonial de exploración neo-extractiva, que avanzó hacia territorios con potencial minero como la Amazonía y los países africanos. En el segundo modelo, el período del desastre de Brumadinho, Vale reprodujo el discurso neoliberal con la adopción de prácticas de gestión autoritarias, antidemocráticas y antiestatales, convirtiéndose en un instrumento para el reposicionamiento de Brasil como economía dependiente, colonia de Explotación extractiva y rentista en la dinámica global de acumulación de capital. Durante este período, Vale legitimó los desastres desde el discurso financiero basado en la oportunidad de rentabilidad, capitalizando los daños a partir de estrategias de apalancamiento de ganancias destinadas a aumentar el valor de mercado de la empresa. El análisis del discurso gerencial de los presidentes de Vale permitió comprender cómo la colonialidad está presente en las racionalizaciones y modos de subjetivación que naturalizan y legitiman la capitalización de los desastres por parte de las corporaciones extractivas, tanto por corrientes políticas progresistas como neoliberales. Los presupuestos de la Modernidad/Colonialidad asociados al modelo de capitalismo financeiro y informacional han convertido a las grandes corporaciones extractivas en "enclaves económicos", que actúan de forma supraestatal para legitimar el uso del terror y de la muerte como instrumentos de apalancamiento de ganacias (necrocapitalismo). De esta forma, los genocidios, ecocidios y epistemicidios provocados por desastres son incorporados socialmente como rentables y como condición favorable para el desarrollo y el progreso.
This thesis investigates the relation between Modernity/Coloniality and the production of disasters by financial and informational capitalism, discussing the role of senior executives of extractive corporations in maintaining the dynamics of colonial exploitation of territories, bodies, and epistemes. We begin our analysis with two recent major disasters in Brazilian mining, the rupture of the Mariana (in 2015) and Brumadinho (in 2019) dams, both under the direct responsibility of the mining transnational Vale S.A. The corpus of the investigation was made up of video interviews published on the online platform YouTube with two executive directors, CEOs (Chief Executive Officers), who were in charge of the mining company at the time of the disasters. The objective was to analyze the relationship between Modernity/Coloniality, and the managerial discourse manifested by the representatives of the extractive corporations that produce disasters to understand, from Latin America (or Abya Yala, good and prosperous land, word of the language of the people Kuna that has been adopted by the original Latin American people for the denomination imposed by the colonizers), the rationalizations and modes of subjectivation that legitimize the production of ecocides, genocides, and epistemicides within the global political and economic dynamics. The research was guided by the assumptions of the Latin American Critical Discourse Analysis (ADC-LA) and analyzed two different management models, Murilo Ferreira (2011-2017) and Fabio Schvartsman (2017-2019). The two presidencies expressed a direct connection with the national political processes of the last decade and were influenced by the economic policies of the governments. The first model analyzed, the period of the Samarco disaster in Mariana, Vale legitimizes the disaster from a discourse based on the neo-developmentalist and neo-extractive policy implemented in the previous decade by the progressive Latin American governments and motivated by the surpluses coming from the super cycle of commodities. Vale played a decisive role in placing Brazil (mainly the center-south region) as a metropolis of the Global South, reproducing a colonial model of neo-extractive exploration, which advanced towards territories with mining potentials such as the Amazon and countries in Africa. In the second model, the period of the Brumadinho disaster, Vale reproduced the neoliberal discourse with the adoption of authoritarian, anti-democratic, and anti-state management practices, becoming an instrument for the repositioning of Brazil as a dependent economy, a colony of extractive exploitation and rentier in the global dynamics of capital accumulation. During this period, Vale legitimized the disasters from the financial discourse based on the opportunity for profitability, capitalizing on the damage from profit leverage strategies aimed at increasing the company's market value. The analysis of the managerial discourse of the presidents of Vale allowed us to understand how coloniality is present in the rationalizations and modes of subjectivation that naturalize and legitimize the capitalization of disasters by extractive corporations, both by progressive political currents and by right-wing and neoliberal. The presuppositions of Modernity/Coloniality associated with the financial and informational capitalism model have turned the large extractive corporations into “economic enclaves”, which act in a supra-state manner to legitimize the use of terror and death as instruments of profit leverage (necrocapitalism). In this way, genocides, ecocides and epistemicides caused by disasters are socially incorporated as profitable and as a favorable condition for development and progress.

Descrição

Palavras-chave

Modernidade e Colonialidade, Modernidad y Colonialidad, Modernity and Coloniality, Desastres Socioambientais, Desastres Sociales y Ambientales, Social and Environmental Disasters, Análise Crítica do Discurso, Análisis Crítico del Discurso., Critical Discourse Analysis, Pós-Colonialismo, Poscolonialismo, Post-Colonialism, América Latina, Latin America

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