A crise na educação e a despolitização do espaço público à luz de Hannah Arendt

Abstract

No presente trabalho propomos demonstrar, à luz do pensamento de Arendt, que a crise na educação tem como pressuposto basilar a despolitização do espaço público, que se traduz na ausência de responsabilidade pelo mundo. Acreditamos que o desmoronamento do espaço escolar, com todas as suas incongruências, não pode ser compreendido apenas como um fenômeno estrutural e político circunscrito às instâncias dos agentes públicos que lidam diretamente com a educação. A crise na educação contemporânea dever ser compreendida à luz de uma crise maior, a saber, a partir da despolitização do homem frente a res pública. O fenômeno da privatização do espaço público levou os homens a não mais se sentirem responsáveis pela história, de modo a repetir naqueles que estão chegando ao mundo o mesmo sentimento de desinteresse quanto ao único espaço possível capaz de abrigar a vida tal como a conhecemos hoje. Atrelado a isso, assistimos ao desfalecimento do espaço privado que deixou de ser o ninho de segurança e intimidade e passou a ser o espaço puramente físico no qual habitam pais e filhos desinteressados por partilhar um mundo em comum ou até mesmo conservá-lo para futuras gerações. Sendo assim, acreditamos, na esteira de Arendt, que o retorno ao pensamento poderá nos comprometer com o sentido da educação. Cabe ao educador a conservação e valorização do arcabouço histórico e cultural produzidos pelos homens, com isso é que poderemos exercer com responsabilidade o dever de conduzir os jovens a adentrarem a este mundo, e superarem o individualismo e o egoísmo que impedem a experiência política por excelência.

In the present work, we propose to demonstrate, in light of Arendt's thought, that the crisis in education has as its fundamental presupposition the depoliticization of the public space, which translates into a lack of responsibility for the world. We believe that the collapse of the school space, with all its incongruities, cannot be understood merely as a structural and political phenomenon confined to the instances of public agents who directly deal with education. The crisis in contemporary education must be understood in the context of a larger crisis, namely, arising from the depoliticization of humanity in relation to the res publica. The phenomenon of privatizing public space has led people to no longer feel responsible for history, thereby instilling in those coming into the world the same sense of disinterest in the only possible space capable of sheltering life as we know it today. Linked to this, we witness the decline of the private sphere, which has ceased to be a nest of security and intimacy and has become purely physical space where parents and children are uninterested in sharing a common world or even preserving it for future generations. Therefore, we believe, following Arendt, that a return to thought can commit us to the purpose of education. It is up to the educator to preserve and value the historical and cultural framework produced by humanity; only then can we responsibly fulfill the duty of guiding young people into this world and overcoming the individualism and selfishness that hinder the political experience par excellence.