UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS CAMPUS DE BOTUCATU Helena Sanches Marcon Identificação da bactéria endossimbionte Wolbachia em populações de moscas-das-frutas do complexo Anastrepha fraterculus (Diptera: Tephritidae) Dissertação de Mestrado 2009 HELENA SANCHES MARCON Identificação da bactéria endossimbionte Wolbachia em populações de moscas-das-frutas do complexo Anastrepha fraterculus (Diptera: Tephritidae) Orientador: Prof. Dr. Celso Luis Marino Dissertação de Mestrado apresentada no Curso de Pós- graduação em Ciências Biológicas – área de concentração Genética para obtenção do título de Mestre. 2009 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: Selma Maria de Jesus Marcon, Helena Sanches. Identificação da bactéria endossimbionte Wolbachia em populações de moscas-das-frutas do complexo Anastrepha fraterculus (Díptera: Tephritidae) / Helena Sanches Marcon. – Botucatu : [s.n.], 2009. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Botucatu, 2009. Orientador: Celso Luis Marino Assunto CAPES: 21303002 1. Mosca-das-frutas 2. Bactéria CDD 595.7 Palavras-chave: Anastrepha; Gene wsp; Linhagens; Sensibilidade; Transfe- rência horizontal; Wolbachia Dedico esse trabalho a antecessora de Deus, Nossa Senhora Aparecida, pelos momentos de oração, que fizeram do meu mestrado um período de aprendizado pessoal e profissional, trazendo um final cheio de luz. Agradecimentos A Deus, pela minha saúde, pelas oportunidades, pela felicidade desta vida e pelos momentos de aprendizado. Pela minha amada família e meu querido amor. Tenho tudo o que preciso! Aos meus pais, Claudionor e Inês, que encheram minha vida de amor e apoio incondicionais. Pelo ombro “mãe-amigo”, tão necessário nos muitos momentos de dúvidas e desesperos. Pelo “paitrocínio”, que ajuda a “engordar” a bolsa. Além de tudo, pela compreensão da minha ausência, por permanecer tempos sem voltar para casa, para que o mestrado pudesse caminhar da melhor maneira possível. Amo vocês! Ao meu irmão, Marcelo, pelas conversas curtas ou longas, que passaram a ser mais maduras, mas sem deixar que as coisas de crianças se afastassem de nós, hoje somos mais que tudo “irmãos-amigos”. Ao meu amor, William, pelos tantos momentos de descobertas, que sempre afirmo nos fizeram crescer (e muito!). Por você me completar e possibilitar com que possa sonhar. Por ser meu cúmplice, desde ficar em casa vendo novela até nossas conversas filosóficas sobre a ciência e a vida. Eu te amo! Ao Zigui e a Jinnie, pela felicidade ao me verem chegando em casa para passar o final de semana, e especialmente a Nina, por encher a minha casa de alegria, além da fidelidade incondicional. Ao meu orientador, Celso, por apostar em minha capacidade e me dar a liberdade para crescer e me desenvolver intelectualmente. Pela sua amizade e conselhos nestes cinco anos de convivência no laboratório. A minha “amiga-vizinha”, Cíntia, pelas risadas nos momentos mais felizes e por me socorrer nos dias mais terríveis, obrigada amiga, nossa amizade não irá se perder. A amiga que de longe sempre esteve pronta a ajudar e apoiar, eterna Di. Aos amigos do Laboratório CAGEN: Vir, Tânia, Júlio, Vanussa, Jú, Suzan, Léo, Andréia, Aletéa, Toladinha, Maurício e Bruno (nossa que laboratório!), pelo aprendizado tanto de convivência quanto de ensinamentos. Em especial a Vir, que me ajudou muito em vários momentos, e pela compreensão do meu jeito de ser, as vezes complicado. E também a Suzana, quem sempre esteve pronta a me escutar e que nos descobrimos amigas, obrigada! Ao Laboratório BIOGEM, a todos presentes hoje: Jú, Rodrigo, Ed, Alessandra e Carol, e aos que passaram e deixaram seus ensinamentos em tantos momentos, Bonsai e Akemi. Ao pessoal da academia, as professoras Fernanda, Iris, Paula, Andréia e o professor Zuel e colegas, pelos momentos de descontração desfrutados junto com vocês. A Jan pelas conversas e risadas durante todo este tempo. A minha professora de Inglês Cris, pela conversation, e pelo help em tantos momentos, obrigada! Aos amigos da turma XXXVIII que aqui não caberiam, com os quais deixei de conviver, mas que dos meus pensamentos nunca sairão. Aos funcionários e colegas do Departamento de Genética da UNESP de Botucatu, em especial Aline e Zé, obrigada pela atenção e convivência. Aos professores do Departamento de Genética da UNESP de Botucatu, obrigada pela atenção nos momentos solicitados. A profa. Claudia, por estar sempre disponível a oferecer seu laboratório para realização das nossas análises, em especial a sua aluna Dani pela atenção e ajuda. Ao prof. Claudio e prof. Nei, obrigada pela atenção. Ao pessoal da Pós-graduação, Lú, Herivaldo, Marina Helena e Serginho, que sempre estiveram disponíveis para tirar as dúvidas e prontos para ajudar a solucioná-las. A Profa. Denise Selivon e ao Prof. André Perondini, obrigada pelo auxílio e por oferecer seu laboratório para realização de algumas análises. A FAPESP pelo apoio financeiro concedido para realização deste trabalho e minha formação profissional, obrigada! A todos os mestres que passaram por minha vida e semearam em mim o gosto pelo estudo. Espero um dia corresponder à dedicação de vocês! A vida com seus degraus, que destes muitos trazem respostas em uma forma difícil de entender, e mesmo que não tenhamos a mínina idéia do que tenha pela frente, seguimos com o desejo de que cada degrau a ser conquistado seja pela curiosidade para a elevação e passagem de espírito, somada pela idéia da conquista. O que nos torna buscadores de conhecimento insaciável e prisioneiros da ilusão da felicidade. De alguma forma levados para um degrau do merecimento, procurando algo dentro de nós. Helena S. Marcon “Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!” (William Shaskespeare) Resumo Wolbachia é uma bactéria endossimbionte comumente encontrada nos tecidos reprodutores de invertebrados, sendo herdada vertical e horizontalmente. Esta bactéria é desencadeadora de inúmeras alterações reprodutivas, dentre elas a incompatibilidade citoplasmática. Bactéria Wolbachia apresenta oito diferentes tipos de genoma, identificados de A a H. Dentre os hospedeiros da Wolbachia estão as moscas-das-frutas do gênero Anastrepha, que são um importante inseto-praga causador de inúmeras perdas na fruticultura de vários países na América. Neste estudo, foram utilizados os primers 16S rDNA, ftsZ e wsp na detecção da Wolbachia e identificação do supergrupo em três populações de Anastrepha do complexo fraterculus, de diferentes regiões do estado de São Paulo. Em todas as amostras de moscas foi detectada a presença da Wolbachia do supergrupo A, através da utilização dos primers 16S rDNA e wsp, visto que o ftsZ apresentou baixa sensibilidade na detecção desta bactéria em Anastrepha. Comparações das sequências do gene wsp dos 62 indivíduos no Genebank possibilitaram a identificação de duas linhagens de Wolbachia, uma pertencente a Anastrepha sp. 2 (wAsp2B) e a outra ao nematóide Brugia pahangi (Bp-1-1001). Com isso, sugere-se a ocorrência de transferência horizontal da linhagem Bp-1-1001 em Anastrepha através das vespas parasitas de dípteros. A partir de comparações entre as sequências geradas com o gene wsp, observou-se a ocorrência de quatro diferentes sequências pertencentes a novas linhagens de Wolbachia, denominadas wAsc, wAnc, wBjc e wBsp. Essas linhagens estão distribuídas nas diferentes populações de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha. Palavras chave: Wolbachia, gene wsp, sensibilidade, linhagens, Anastrepha, transferência horizontal. Abstract Wolbachia is a endosymbiont bacteria commonly found in reproducer tissue of invertebrates, being vertically and horizontally inherited. This bacteria cause innumerable reproductive alterations, among them a cytoplasmic incompatibility. Wolbachia have eight different types of genome, designated from A to H. Among Wolbachia host there are the fruit flies of genus Anastrepha. These arthropods are important pest insect that causes many losses in fruit production of many countries of America. In this work, were used the primers 16S rDNA, ftsZ and wsp to detect Wolbachia and to identify the supergroups of three Anastrepha populations the different regions of São Paulo state, Brazil. In all fruit flies samples, it was detected the presence of Wolbachia of the A supergroup, through the use of primers 16S rDNA and wsp, since ftsZ has low sensitivity in detecting this bacteria in Anastrepha. Comparisons of the wsp gene sequences of 62 samples in GeneBank, allowed the identification of two Wolbachia lineages, one relating to Anastrepha sp. 2 (wAsp2B) and other in Brugia pahangi nematode (Bp-1-1001). Therefore it is propose the occurrence the horizontal transference of Wolbachia lineages Bp-1- 1001 into Anastrepha through the did parasite wasps of dipterous. The comparisons among the wsp gene sequences showed the occurrence of four different sequences, possibly belonging to the news lineages of Wolbachia, which were named wAsc, wAnc, wBjc and wBsp. These lineages are distributed in different fruit flies of populations of the Anastrepha genus. Key words: Wolbachia, wsp gene, sensitivity, lineages, Anastrepha, horizontal transference LISTA DE ILUSTRAÇÕES Página Figura 1. Eletromicrografia de diferentes estágios de desenvolvimento gonadal de Anastrepha. 26 Figura 2. Diferentes fases do desenvolvimento das moscas-das-frutas Anastrepha fraterculus. 37 Figura 3. Mapa do Estado de São Paulo com as localidades de coleta dos frutos. 44 Figura Figura 4. Quantificação em gel de agarose a 0,8%. 55 Figura 5. Gel de agarose 1% com os primers 16S rDNA A e B com população de Jacareí. 56 Figura 6. Gel de agarose 1% com os primers 16S rDNA A e B com população de Caraguatatuba. 57 Figura 7. Gel de agarose 1% com os primers 16S rDNA A com indivíduos da população de Serra Negra. 57 Figura 8. Gel de agarose 1% com o primer wsp A com indivíduos da população de Jacareí. 58 Figura 9. Gel de agarose 1% com o primer wsp A com indivíduos da população de Caraguatatuba. 58 Figura 10: Gel de agarose 1% com o primer ftsZ A com indivíduos da população de Jacareí. 59 Figura 11. Porcentagem de detecção da bactéria Wolbachia nas espécies de moscas-das-frutas utilizando os primers 16S rDNA, wsp e os diferentes protocolos utilizados com o primer ftsZ. ........... 60 Figura 12. Gel de agarose 1% com indivíduos da população de Jacareí utilizando o protocolo VII com o primer ftsZ. 62 Figura 13. Identificação dos supergrupos A e B com conjuntos de primer 16S rDNA A e B, wsp A e B e ftsZ A e B. 63 Figura 14. Gel de agarose 1% com a população de Serra Negra com o primer wsp A e B. 64 Figura 15. Linhagens de Wolbachia detectadas nas populações de Anastrepha. 67 Figura 16. Árvore obtida a partir do método NJ, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as Wolbachia da população de Jacareí. 68 Figura 17. Árvore obtida a partir do método NJ, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as Wolbachia da população de Serra Negra. ........... 69 Figura 18. Árvore obtida a partir do método NJ, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as Wolbachia da população de Caraguatatuba. ........... 71 Figura 19. Árvore obtida a partir do método NJ, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as populações de moscas contendo Wolbachia. ........... 74 Figura 20. Diversidade de nucleotídeos (Pi) conforme as posições dos nucleotídeos nas diferentes linhagens de Wolbachia. 78 LISTA DE TABELAS Página Tabela 1. Espécies de moscas-das-frutas, total de amostras em cada população, plantas hospedeiras e locais de coleta no estado de São de Paulo. ........... 45 Tabela 2. Sequências dos conjuntos de primers utilizados. 48 Tabela 3. Quantificação de DNA mensurada em espectrofotômetro. 56 Tabela 4. Alterações no protocolo de PCR com o primer ftsZ, identificados por I a VIII. 61 Tabela 5. Porcentagem de detecção da Wolbachia com as alterações feitas nos protocolos utilizando o primer ftsZ, indicados de I a VIII. 61 Tabela 6. Indivíduos que tiveram similaridade com outro sequência que não o gene wsp de Wolbachia. 67 Tabela 7. Linhagens de Wolbachia detectadas nas diferentes populações de Anastrepha. 66 Tabela 8.Valores de diferenciação genética calculados através do programa DnaSP Ver.5.00.05. 72 Tabela 9: Taxa diversidade de nucleotídeos (Pi) das sequências do gene wsp de Wolbachia ao se comparar as diferentes populações de moscas-das-frutas. ........... 75 Tabela 10: Média dos valores de diferenciação genética calculados através do programa DnaSP Ver.5.00.05. 76 Tabela 11: Posições de sítios polimórficos e total de indivíduos com estes polimorfismos na linhagem wAsc. 76 Tabela 12: Posições de sítios polimórficos e total de indivíduos com estes polimorfismos na linhagem wAnc. 77 Tabela 13: Posições de sítios variáveis nas linhagens de Wolbachia conforme as HVRs propostas por Baldo et al., 2005. 78 Tabela 14: Posições de sítios polimórficos e total de indivíduos com estes polimorfismos na linhagem wBsp. 80 Tabela 15: Posições de sítios polimórficos e total de indivíduos com estes polimorfismos na linhagem wBjc. 82 SUMÁRIO Resumo Página Abstract Lista de Ilustrações Lista de Tabelas 1. Introdução........................................................................................................... 20 2. Revisão Bibliográfica 24 2.1. A bactéria endossimbionte Wolbachia.......................................... 25 2.1.1. As Interações da Wolbachia com seus Hospedeiros.......... 27 2.1.2. A Transmissão da Wolbachia................................................... 31 2.1.2.1 A Transferência Horizontal da Wolbachia.................. 32 2.1.3. A Transferência de Material Genética: Wolbachia vs. Hospedeiro.............................................................................................. 33 2.1.4. Análises de populações de Hospedeiros relacionadas a presença da Wolbachia.......................................................................... 35 2.2. A relação Wolbachia e moscas-das-frutas do gênero Anastrepha.................................................................................................... 36 2.2.1. As moscas-das-frutas do gênero Anastrepha...................... 36 2.2.2. A interação entre Wolbachia e Anastrepha......................... 38 3. Objetivos 41 3.1. Geral........................................................................................................ 42 3.2. Específicos............................................................................................ 42 4. Material e Métodos 43 4.1. Coleta das moscas do gênero Anastrepha...................................... 44 4.2. Obtenção do DNA genômico a partir do abdômen de Anastrepha e Quantificação do DNA .................................................. 46 4.2.1. Extração de DNA das moscas.................................................. 46 4.2.2. Quantificação do DNA obtido................................................. 47 4.3. Reação de PCR (Reação em cadeia da polimerase) e primers empregados para a detecção da Wolbachia.......................................... 48 4.4. Purificação da reação de PCR, excisão e purificação de fragmento de gel de agarose.................................................................... 50 4.4.1. Purificação da reação de PCR................................................... 51 4.4.2. Excisão e purificação de fragmento de gel de agarose...................................................................................................... 51 4.5. Método de Clonagem........................................................................... 51 4.6. Sequenciamento................................................................................... 52 4.7. Análise das sequências....................................................................... 52 4.7.1. Análises de variações das sequências..................................... 52 5. Resultados 54 5.1. A Quantificação do DNA extraído das moscas............................ 55 5.2. Detecção da Wolbachia e Sensibilidade dos primers................. 56 5.2.1. Primer 16S rDNA......................................................................... 56 5.2.2. Primer wsp.................................................................................... 58 5.2.3. Primer ftsZ................................................................................... 59 5.2.3.1. Alterações nas reações de PCR com o primer ftsZ.. 59 5.3. Análise das populações de Anastrepha quanto aos supergrupos................................................................................................... 63 5.4. Análises das sequências..................................................................... 64 5.4.1. Amplificação de sequências não relacionadas ao gene wsp.............................................................................................................. 65 5.4.2. Análises das diferentes populações de Anastrepha quanto as linhagens de Wolbachia detectadas................................ 65 5.5. Análises das sequências da Wolbachia encontradas com relação as populações de mosca-das-frutas do gênero Anastrepha................................................................................................... .......... 67 5.5.1. Análises Intrapopulacionais....................................................... 68 5.5.2. Análises Interpopulacionais...................................................... 72 5.5.3. Análises das Sequências conforme a linhagem de Wolbachia................................................................................................. 75 5.5.3.1 Análises da Linhagem de Wolbachia caracterizada como Wolbachia de A. sp. 2 (wAsp2B)....................................... 75 5.5.3.2 Análises da Linhagem de Wolbachia caracterizada como de B. pahangi (Bp-1-1001).................................................... 79 6. Discussão ............................................................................................................. 85 7. Conclusões ........................................................................................................... 94 8. Referências Bibliográficas .............................................................................. 96 1. Introdução 21 Bactérias do gênero Wolbachia são endossimbiontes obrigatórios pertencentes a família Rickettsiaceae. Seu primeiro relato foi feito nas células do tecido reprodutivo do mosquito Culex pipiens (Hertig e Wolbach, 1924). Atualmente, se conhece sua ampla distribuição entre os invertebrados, sendo encontradas em 65% das espécies de insetos (Hilgenboecker et al., 2008), além de isópodos (Rousset et al., 1992), crustáceos (Cordaux et al., 2001) e nematóides (Sironi et al., 1995). Wolbachia foi dividida em oito supergrupos designados de A a H (Werren et al., 1995b; Lo et al., 2002; Bordenstein e Rosengaus 2005, Lo et al., 2007), baseados nos marcadores 16S rDNA (gene ribossomal) (O´Neill et al., 1992), ftsZ, (gene do ciclo celular da bactéria) (Holden et al., 1993) e o wsp, (gene de proteína de superfície de membrana) (Zhou et al., 1998). Inúmeros estudos são realizados com esta bactéria devido as alterações reprodutivas que esta pode causar em seus hospedeiros, como a incompatibilidade citoplasmática (IC) (O’ Neill, 1990), a indução de paternogênese (Stouthamer, 1990) e a feminização e morte de machos (Rousset et al., 1992). A transferência da Wolbachia ocorre verticalmente, via maternal, pelo citoplasma dos ovos (Jiggins et al., 2002), e também por transferência paterna, que é pouco frequente (Turreli et al., 1992; Turelli e Hoffmann, 1995). Além disso, pode ocorrer a transferência horizontal, onde a transmissão da bactéria é realizada entre organismos de espécies diferentes, este mecanismo é utilizado para se explicar o quanto Wolbachia é amplamente encontrada em diferentes invertebrados. O uso da Wolbachia em programas de controle biológico de seus hospedeiros tem sido muito mencionado nos últimos tempos (Zabalou et al., 2004; Bourtzis, 2008). A utilização desta bactéria constitui em se reduzir a população 22 dos insetos, sendo o mecanismo baseado na liberação de machos infectados com diferentes linhagens da bactéria, ou mesmo machos com uma única linhagem, na presença de populações não infectadas. Isto resultaria na redução ou eliminação dos machos na progênie, ocorrendo um desvio da proporção sexual na prole (Zabalou et al., 2004). Entre os hospedeiros da Wolbachia estão as moscas-das-frutas, que são classificadas como insetos praga por causarem grandes prejuízos a fruticultura mundial. Estas moscas utilizam os frutos durante o seu ciclo biológico, isto ocasiona o amadurecimento precoce dos mesmos (Salles, 2000). Nas moscas-das-frutas da família Tephritidae foi detectada a presença da Wolbachia em várias espécies de Anastrepha (Werren et al., 1995a, Selivon et al., 2002; Mascarenhas, 2007; Coscrato, 2006; et al., 2009), também em Ceratitis capitata (Lincoln et al., 2005), e algumas espécies de Bactrocera (Kittayapong et al., 2000; Jamnongluk et al., 2002; Sun et al., 2004; Liu et al., 2006) e em Rhagoletis cerase (Riegler e Stauffer, 2002). Selivon e colaboradores (1996) identificaram no vitelo e nas células polares dos embriões de Anastrepha sp. 2 uma expressiva quantidade de bactérias endossimbiontes. Posteriormente, observaram a redução na eclosão de larvas e desvios na proporção sexual na progênie das moscas, este fato foi relacionado ao fenômeno da IC devido a possível infecção pela Wolbachia (Selivon et al., 1999). Análises posteriores, detectaram a presença da Wolbachia em Anastrepha sp. 2 com a utilização do primer ftsZ (Selivon et al., 2002), e além disso já foi demonstrado que o fenômeno da IC realmente ocorre nestas moscas (Ribeiro, 2009). Estudos realizados com populações de Bactrocera dorsalis de diferentes locais da China detectaram a infecção pelos supergrupos A e B de Wolbachia, os quais possuíam sequências referentes a três linhagens da bactéria. 23 As análises subsequentes demonstraram a ocorrência de isolamento reprodutivo relacionada a presença da Wolbachia (Sun et al., 2007). Em diferentes espécies de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha detectou-se somente a infecção com o supergrupo A (Mascarenhas, 2007; Coscrato et al., 2009), e Coscrato e colaboradores (2009) encontraram diferentes linhagens de Wolbachia através de análises de um único indivíduo de cada região estudada utilizando-se o primer wsp. Este fato pode sugerir que as diferentes linhagens de bactéria se comportam de forma variável conforme o organismo que infectam. Desta forma se faz necessário uma avaliação dentro das populações de Anastrepha para entender como ocorre a distribuição da bactéria Wolbachia quanto aos diferentes supergrupos e linhagens. A partir destes resultados será possível investigar o efeito que estas linhagens da bactéria têm sobre a biologia da Anastrepha. 2. Revisão Bibliográfica 25 2.1. A bactéria endossimbionte Wolbachia Os endossimbiontes são organismos que vivem em simbiose no interior do corpo ou das células de um ser vivo. As relações simbiônticas são definidas como uma mistura entre o mutualismo (benéfica), o comensalismo (neutra) e o parasitismo (prejudicial) (Werren et al., 2008). As bactérias estão entre os endossimbiontes obrigatórios de diversos eucariotos, sendo que esta interação estabeleceu-se a milhões de anos (Moran e Wernegreen, 2000). A bactéria Wolbachia (figura 1) é classificada como um membro do grupo “secundário” dos simbiontes por ser intracelular obrigatória e estabelecer relações de mutualismo e parasitismo com seus hospedeiros (Siozios et al., 2008). Além disso, apresentam a peculiaridade de não sobreviver fora das células dos invertebrados. Contudo, foi observada sua sobrevivência nas células de mosquitos mortos (Fallon, 2008), e a sua resistência durante uma semana a temperatura ambiente após a retirada das células do hospedeiro (Rasgon et al., 2006). Hertig e Wolbach (1924) foram os primeiros a detectar Wolbachia em ovários do mosquito Culex pipiens. Sua caracterização como organismo ocorreu muitas décadas depois como pertencente ao filo das Proteobactérias, classe das Alphaproteobactérias, ordem Rickettsiales e família Rickettsiaceae. Os estudos realizados atualmente com a utilizam técnicas moleculares para seu diagnóstico, distinguindo os supergrupos infectantes, além das linhagens existentes. As análises a partir destes estudos em muitos dos casos auxiliam nas questões sobre alterações reprodutivas, evolucionárias, de variabilidade, entre outras. 26 Figura 1: Eletromicrografia de diferentes estágios de desenvolvimento gonadal de Anastrepha. (A) Bactéria (Bc) localizada em uma vesícula no citoplasma do hospedeiro; (B) Bactéria no pólo posterior do ovo, após a formação da célula; (C) Pólo posterior celular contendo inúmeras bactérias. Escala em bar 0,1µm; N: núcleo; M: mitocôndria; Vm: membrana vesicular; Y: centro nuclear. (Selivon et al., 2002). A utilização de oligonucleotídeos para a detecção da Wolbachia deu início aos trabalhos realizados com biologia molecular. Inicialmente, foi utilizado o gene ribossomal 16S rDNA (O´Neill et al., 1992), que continua sendo empregado devido a sua alta sensibilidade na detecção da bactéria. Contudo, não é indicado como único meio para a distinção dos supergrupos A e B da Wolbachia, pois apresenta baixa divergência nas sequências, havendo indícios de que estes supergrupos tenham provavelmente se separado a 50 milhões de anos (Werren et al., 1995a, 1997). Com isso, este primer não auxiliava nas análises evolutivas e de alteração reprodutivas acometidas pela presença da Wolbachia, somente no seu diagnóstico. 27 Outro primer empregado nos estudos com Wolbachia é o ftsZ, que foi caracterizado a partir de um gene do ciclo celular da bactéria (Holden et al., 1993). Este gene foi amplamente difundido por Werren (1995a, b). No entanto, apresenta baixa sensibilidade na detecção de Wolbachia (Werren e Windsor 2000; Jeyaprakash e Hoy, 2000, 2002; Hong et al., 2002, Coscrato, 2006). Braig e colaboradores (1998) a partir da caracterização de uma proteína específica de superfície de membrana de Wolbachia confeccionaram o oligonucleotídeo wsp. Este primer é altamente variável e vem sendo utilizado em análises populacionais e filogenéticas da bactéria (Sun et al., 2007; Coscrato et al., 2009). Estudos recentes caracterizam o wsp, demonstrando que este oligonucleotídeo apresenta quatro regiões hipervariáveis (HVRs) que se organizaram a partir de eventos combinatórios (Baldo et al., 2005). A combinação do uso dos primers mencionados, possibilitou que Wolbachia fosse dividida em oito supergrupos taxonômicos classificados de A a H. Os supergrupos A e B são comumente detectados em insetos (Werren et al., 1995a), enquanto os supergrupos C e D são encontrados em nematóides (Lo et al., 2002), o supergrupo E é característico de colembolas, assim como G somente foi detectado em aranhas australianas (Rowley et al., 2004) e o H em cupins (Bordenstein e Rosengaus, 2005). O supergrupo F é encontrado em nematóides, e recentemente foi detectado em artrópodes (Baldo et al., 2006b; Panaram e Marshall, 2007). 2.1.1. As Interações da Wolbachia com seus Hospedeiros Nas últimas décadas a bactéria Wolbachia foi amplamente encontrada infectando diferentes espécies de invertebrados, com maior número de relatos entre os artrópodes como os insetos (Werren et al., 1995b, Stouthamer et al., 1999; Jeyaprakash e Hoy, 2000), os aracnídeos (Breeuwer e Jacobs, 1996), os 28 crustáceos (Cordaux et al., 2001; Gotoh, et al., 2003) e os isópodes. Além disso, são encontradas em nematóides (Bandi et al., 1998, 2001). Análises estatísticas recentes confirmam a extensa distribuição desta bactéria entre os invertebrados, estimando encontrá-la em 65 % das espécies de insetos (Hilgenboecker et al., 2008), o que reafirma estudos que propunham sua infecção de 20 a 70 % dos insetos (Jeyaprakash e Hoy, 2000). As interações entre a bactéria e seu hospedeiro causam alterações reprodutivas, tais como: A incompatibilidade citoplasmática (IC), que é um dos tipos de alteração reprodutiva melhor caracterizada (O’ Neill et al., 1992; Rousset et al., 1992), e é comumente observada em moscas, vespas e mosquitos (Werren et al., 2008). A IC acontece a partir da incompatibilidade dos gametas masculino e feminino, levando a morte do zigoto, em espécies diplóides, ou aumento do número de machos na prole, em haplodiplóides (Stouthamer, 1999). Além disso, a incompatibilidade pode ocorrer nos cruzamentos de populações, espécies e linhagens evolutivamente próximas, podendo ser unidirecional (cruzamento compatível sendo o recíproco incompatível) ou bidirecional (cruzamentos recíprocos incompatíveis). Em decorrência deste mecanismo a prole terá um elevado número de fêmeas com Wolbachia, o que provavelmente resultará em proles infectadas que disseminarão ainda mais a bactéria. Outro mecanismo estudado é a indução a partenogênese (IP) (Stouthamer, 1990), que é menos comum que a IC. A IP ocorre através de ovos haplóides que se convertem em uma geração de fêmeas diplóides (Stouthamer, 1999). Algumas das alterações reprodutivas apresentam mecanismos pouco conhecido, como a feminização dos machos (Hiroki et al., 2002; Negri et al., 2008), acredita-se que esta ocorra a partir de machos sendo geneticamente convertidos em fêmeas (Stouthamer, 1999), e a morte de machos (Rousset, 1992). 29 Mesmo não se conhecendo completamente todos os mecanismos das alterações reprodutivas ocasionadas pela presença da Wolbachia, acredita-se que estas ocorram durante o desenvolvimento embrionário do hospedeiro. Há um consenso que no mecanismo da IC exista alguma “modificação” (sistema mod) no esperma dos machos infectados, sendo estes marcados, e o desenvolvimento de embriões normais somente ocorre se o ovo materno ao ser fecundado também esteja infectado, para que se consiga “recuperar” (sistema rescue) os cromossomos paternos, viabilizando o processo reprodutivo (Bourtzis e O’Neill, 1998). Poinsot e colaboradores (2003) propõem três modelos bioquímicos que tentam traduzir o mecanismo adequado para estes fatores de “modificação” e “resgate” que determinam a IC. Tais modelos são designados como: (i) hipótese “chave-fechadura”; (ii) hipótese “titulação-restituição”; (iii) hipótese “câmera lenta”. Porém, os mesmos pesquisadores concluem que o modelo de “chave- fechadura” é o mais parcimonioso, no entanto, os outros não são descartados, mas seriam necessários mais dados para a compreensão. A hipótese da “chave- fechadura” consiste em se ter uma função mod (modificação) representada por uma “fechadura” na bactéria, a qual se ligará ao cromossomo paterno. Com isso, a formação do zigoto somente ocorrerá se os ovos estiverem infectados com a bactéria, visto que estas apresentariam a “chave” para remoção da “fechadura” (recuperação). Além da possível atuação nos gametas dos hospedeiros da Wolbachia, foi observada sua íntima relação com os microtúbulos do fuso mitótico através de análises citológicas durante a divisão mitótica de Drosophila. Este fato possibilitou explicar sua distribuição nas regiões dos pólos das células durante a mitose. No mesmo estudo foi sugerido, que após a divisão a bactéria seria capaz de se distribuir pelo citoplasma vindo a construir domínios no interior da célula (Callaini et al., 1994; Kose e Karr, 1999). Em outras análises observou-se a 30 distribuição da Wolbachia em embriões, visualizando uma maior concentração da bactéria no pólo posterior, sendo que nesta região ocorre a formação das células germinativas, o que permitiria a transmissão vertical da bactéria a prole do hospedeiro (Hadfield e Axton, 1999; Selivon et al., 2002). As alterações reprodutivas desencadeadas pela presença da Wolbachia têm sido consideradas como uma estratégia da bactéria, sendo referida como um parasitismo reprodutivo. Além desta relação simbiôntica, o mutualismo tem sido apresentado como uma segunda forma de interação da Wolbachia com alguns de seus hospedeiros (Werren et al., 2008). Entretanto, Bordenstein e colaboradores (2009), concluíram em recente estudo que estes evolucionários relacionamentos mantidos entre a bactéria e seus hospedeiros não poderão ser realmente solucionados até que um número maior de caracterizações taxonômicas da Wolbachia sejam realizadas. As análises feitas por Bordenstein et al. (2009) indicam a presença da relação de mutualismo entre quatro linhagens diferentes da Wolbachia e nematóides hospedeiros. Neste mesmo trabalho, os invertebrados apresentaram aumento da fertilidade e da viabilidade reprodutiva com a presença da bactéria, sendo que em nematóides é amplamente difundida a questão que a presença da Wolbachia garante normal desenvolvimento e fertilidade. Estas demonstrações tiveram início a partir de estudos com tratamentos para controlar os invertebrados patogênicos, os quais observaram que os antibióticos utilizados agiam sobre a bactéria e não atacavam o nematóide, como era esperado. A Wolbachia, portanto, passou a ser encarada como a mediadora nos tratamentos contra estes parasitas patogênicos (Taylor et al., 2005). Em humanos o uso do antibiótico doxycycline causou redução maior que 95% da bactéria, demonstrado através das análises com microfilárias existentes no sangue, este fato foi acompanhado do crônico declínio da infecção com o nematóide (Hoerauf et al., 2003a). 31 Wolbachias encontradas em alguns insetos têm sido descritas como as prováveis manipuladoras do processo de apoptose celular no sistema reprodutor feminino, sua presença garante o desenvolvimento de ovos, que transmitirão o endossimbionte a próxima geração (Werren et al., 2008). Tal fato pôde ser demonstrado com estudos realizados com vespas, primeiramente Wolbachia foi removida com a ação de antibióticos e se observou a incapacidade de produção do oócito (Dedeine et al., 2001). Posteriormente, Pannebakker et al. (2007) detectou que a maturação do oócito nas mesmas vespas somente ocorre com a presença da bactéria, pois ao ser retirada resultava na morte da célula por apoptose. Zchori-fein e colaboradores (2006) encontraram semelhante manipulação no processo de oogênese em besouros ao eliminar Wolbachia. É de extrema importância ressaltar que insetos não infectados com esta bactéria apresentam normal processo de embriogênese. 2.1.2. A Transmissão da Wolbachia A forma como a Wolbachia é herdada apresenta peculiaridades de indivíduo para indivíduo (Huigens et al., 2000). Comumente sua transmissão ocorre de forma vertical através do citoplasma dos ovos maternos infectados (Werren, 1997), o que é análogo a herança mitocondrial herdada. Frydman e colaboradores (2006) demonstraram que Wolbachia ao ser introduzida in vitro na cavidade abdominal de fêmeas de Drosophila estariam se concentrando preferencialmente nas SSCN (Somatic Stem Cell Niche), e que a bactéria estaria migrando através de três diferentes tecidos da mosca, até alcançar o ovário, estabelecendo-se 15 dias após a infecção. Wolbachia possivelmente prefere estas células por garantirem a sua transmissão vertical. Porém, este mecanismo não explica a sua ampla distribuição entre os invertebrados (Jeyaprakash e Hoy, 32 2000; Werren e Windsor 2000). A partir disto sugere-se a existência de transferência horizontal da Wolbachia entre diferentes gêneros. 2.1.2.1. A Transferência Horizontal da Wolbachia A transferência horizontal passou a ser descrita a partir de comparações entre as filogenias da bactéria e do hospedeiro, em que se observava incongruência entre os resultados, pois era esperado uma homologia nestas análises (O’ Neill et al., 19922; Stouthamer et al., 1993; Werren et al., 1995b; Vavre et al., 1999; Baldo et al., 2006b). Recentemente Baldo et al. (2008) indicaram que o movimento da Wolbachia dentro de aranhas do gênero Agelenopsis reflete o seu padrão de interação com outros hospedeiros, parasitas e predadores, vindo a aumentar a chance de ocorrência da transferência horizontal. Os autores detectaram neste aracnídeo a presença de transferência horizontal entre espécies do mesmo gênero. Em estudo realizado por Jiggins et al., (2002) demonstram que algumas linhagens de Wolbachia são comumente encontradas em espécies de hospedeiros intimamente relacionados, este padrão é explicado através de uma consequente especiação do invertebrado, sendo que a Wolbachia acompanhou este processo evolutivo estabelecendo-se nestas espécies. Dados semelhantes foram observados por Breeuwer e Werren (1990) em que identificaram a presença de incompatibilidade de vespas do gênero Nasonia que vivem em simpatria, e estudos subsequentes realizados por Bordenstein e colaboradores (2001), com o cruzamento de vespas Nasonia de espécies relacionados simpátricas observaram a geração de prole com indivíduos híbridos não férteis, pode-se então demonstrar a ocorrência de isolamento reprodutivo pós-zigótico devido a presença da Wolbachia, causadora da IC nestes insetos. 33 Raychoudhury et al. (2009) descreveram uma variedade de linhagens de Wolbachia que infectam vespas do gênero Nasonia. Neste estudo foi observada a transferência da bactéria entre gêneros diferentes de insetos, sendo adquiridas de moscas varejeiras, de Muscidifurax uniraptror (outra espécie de vespa) e de Drosophila sp. A transferência entre espécies relacionadas também foi detectada em populações de Ephestia kuehniella e seu parasitóide do gênero Trichogramma (Meer et al., 1999). Os parasitóides são um potencial meio de se transferir Wolbachia, como observado por Kondo et al. (2002), que detectaram a transferência da bactéria entre besouro e moscas- das-frutas mediada pelo vetor (parasitóide). A transmissão entre clados geneticamente diferentes foi observada no Panaram e Marshall, (2007), ao detectar a presença do supergrupo F de Wolbachia, característico de nematóide, em insetos ortópteros, sendo o modo de aquisição ainda desconhecido. Porém, os autores sugerem que esta transferência tenha acontecido recentemente, quando houve a divergência entre os grupos de artrópodes e nematóides, o que foi também observado por Casiraghi et al. (2005). Além disso, atualmente, é proposto que a transmissão horizontal da Wolbachia entre artrópodes e nematóides venha ocorrendo a cerca de 100 milhões de anos (Lo et al., 2002; Casiraghi et al., 2004). 2.1.3. A transferência de Material Genético: Wolbachia vs. Hospedeiro A caracterização dos genomas de duas linhagens de Wolbachia encontradas nos invertebrados Drosophila melanogaster e Brugia malayi, indicaram como este estava organizado (Wu et al., 2004; Foster et al., 2005). A linhagem wMel da Wolbachia identificada em D. melanogaster, apresentou ampla quantidade de elementos repetitivos e móveis, observados com maior frequência 34 nos supergrupos A e B de bactéria (Wu et al., 2004; Bordenstein e Reznikoff, 2005). A presença dos transposons nesta bactéria são um dos meios pelo qual se pode ter maior variabilidade de linhagens da Wolbachia. Os transposons são conhecidos como “genes saltadores” ou elementos transponíveis, estes são sequências de DNA que se movem pelo genoma, e são encontrados em diferentes posições de uma única célula, o que é denominado transposição. McClintock (1950) foi a pioneira na observação da presença de transposons no genoma de milho, atualmente já se sabe que 50 % do genoma deste cereal é constituído por elementos transponíveis. Em humanos há dados de mais de um milhão de cópias de um mesmo elemento e mais de 100.000 de um segundo tipo (Smit e Riggs, 1996; Kazazian e Moran, 1998 apud Kidwell e Lisch, 2001). A primeira detecção de transposons em moscas-das-frutas foi realizada em Drosphila melanogaster, em que encontraram sequências similares as de milho e a de nematóides (Jacobson et al., 1986). Estudos realizados em invertebrados, tais como besouros, encontraram em seu DNA fragmentos do genoma da Wolbachia (Kondo et al., 2002). Hotopp e colaboradores (2007), também detectaram em quatro espécies de insetos e quatro nematóides a inserção de fragmentos de praticamente todo o genoma da bactéria (maior 1 megabase), e outros menores (menor 500 pares de base). Além da transferência de fragmentos de DNA da Wolbachia para os invertebrados, o mecanismo inverso também é relatado (Masui et al., 1999). Werren e colaboradores (2008) sugerem que as inserções dos fragmentos de DNA da Wolbachia no hospedeiro podem resultar em novas funções aos genes. Além disso, indicam que aquisição destes novos genes 35 ocasionaria um rearranjo do cromossomo do invertebrado, resultando em mecanismos de isolamento reprodutivo. 2.1.4. Análises de populações de Hospedeiro relacionadas a presença da Wolbachia O início dos estudos com o gene wsp de Wolbachia foi marcado por demonstrar que invertebrados hospedeiros de um mesmo gênero, mas de espécies diferentes apresentavam grande similaridade nas sequências da proteína analisada. Contudo, algumas regiões possuíam grande variabilidade, com isso desde o principio já se enunciava que esta variabilidade refletia a diferença entre os supergrupos, e que representava a adaptação e especiação dos hospedeiros devido a íntima relação com esta bactéria intracelular (Braig et al., 1998). A partir da diferenciação dos supergrupos de Wolbachia foi possível detalhar a sua diversidade. Tagami e Miura (2004) realizaram análises em populações (do Japão), de borboleta da ordem Lepidoptera, e observaram distribuição congruente entre os supergrupos A e B da Wolbachia, os quais apresentavam sequências completamente idênticas. Outros estudos não encontram semelhantes resultados, detectando maior variabilidade entre as linhagens de Wolbachia detectadas (Braig et al., 1998; Jeyaprakash e Hoy, 2000). Behbahani e colaboradores (2005) ao estudarem uma espécie de mosquito de duas ilhas na Polinésia Francesa (ilhas Moorea e Fiji), detectaram a presença de Wolbachia do supergrupo A, mas com linhagens diferentes. Os pesquisadores sugerem que este fato ocorreu, pois uma das espécies divergiu 36 mais recentemente do que as outras linhagens deste hospedeiro. Em moscas da família Tephritidae foi realizado um trabalho com cinco populações de locais diferentes na China buscando relações com a distribuição da Wolbachia. Um dos grupos não estava infectado, porém os que apresentaram a bactéria foram divididos em quatro grupos distintos, conforme análises das sequências do gene wsp. As sequências apresentaram taxas de divergência maior que 23% a menores que 1%. Estes dados foram semelhantes aos obtidos com o gene mitocondrial COI. A partir disto, os pesquisadores propuseram que a dispersão da Wolbachia não ocorreu nos tempos atuais e concluem que houve coevolução entre a bactéria e a mosca da espécie Bactrocera dorsalis (Sun et al., 2007). Os trabalhos realizados através das comparações entre as populações de hospedeiro e a infecção com a Wolbachia possibilitaram compreender o período que os invertebrados vem sendo infectado e se houve alguma influência na sua evolução devido as alterações causadas pela presença da bactéria. 2.2. A relação Wolbachia e moscas-das-frutas do gênero Anastrepha 2.2.1. As moscas-das-frutas do gênero Anastrepha Uma grande parte das espécies de moscas-das-frutas é classificada como insetos praga por atacarem frutos de valor comercial. O ciclo de vida destas moscas (figura 2 A) é iniciado com o acasalamento, seguida por ovoposição em frutos (figura 2 B), eclosão, e desenvolvimento das larvas que irão se alimentar do fruto (figura 2 C), o qual cairá ao solo e a mosca passa pela etapa de ecdise pupal, após acontece uma metamorfose, e a saída das moscas adultas (Salles, 2000). 37 Figura 2: Diferentes fases do desenvolvimento de Anastrepha fraterculus. (A) Ciclo de vida de Anastrepha fraterculus (Salles, 2000); (B) Anastrepha fraterculus durante ovoposição (www.jardineiro.net/br/artigos/bichinho_goiaba.php); (C) Ameixas atacada por larvas de Anastrepha fraterculus (http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Ameixa/CultivodaA meixeira). O gênero Anastrepha é endêmico da América e existem cerca de 200 espécies descritas neste continente, sendo que no Brasil é encontrada em 99 localidades (Zucchi, 2007 apud Ribeiro, 2009). Uma das espécies que apresenta maior destaque na América do Sul é a Anastrepha fraterculus sensu lato (moscas-das-frutas Sul Americana) (figura 2B). Estas moscas são encontradas em mais de 90 espécies de frutos, (Malavasi et al., 2000). A espécie A. fraterculus foi dividida através de análises cromossômicas e morfométricas, inicialmente em duas novas espécies A. sp. 1 aff. fraterculus e A. sp. 2 aff. fraterculus, referidas como A. sp. 1 e A. sp. 2 (Selivon, 1996; 2005 apud Ribeiro 2009). Posteriormente, foram descritas duas outras novas espécies, sendo A. sp. 3 aff. fraterculus encontrada no litoral e nas regiões sul e sudeste do Brasil, e A. sp. 4 aff. fraterculus foi caracterizada em Guayaquil, no Equador (Selivon, 2004a e b apud Ribeiro, 2009). 38 Análises moleculares utilizando o DNA ribossomal de três espécies de moscas do complexo fraterculus brasileiras (A. sp. 1 , A. sp. 2 e A. sp. 3), que A. sp. 1 possui maior similaridade com A. sp. 2 do que ambas com A. sp. 3 (Prezotto, 2008 apud Ribeiro 2009). Em A. sp. 1 e A. sp. 2 detectou-se um mecanismo de isolamento reprodutivo pós-zigótico, que pode ser causado por uma alteração reprodutiva, a IC. Além disso, em estudos morfológicos da A. fraterculus se observou inúmeras semelhanças entre A. sp. 1 e A. sp. 2, isto pode estar relacionado ao isolamento reprodutivo, que levaria a uma especiação (Selivon et al., 2002). O combate as moscas das frutas pela fruticultura ocorre conforme as exigências dos países importadores, especialmente com relação à presença de resíduos agrotóxicos. O uso de agrotóxicos deve ser feito sob cuidados especiais, procurando-se evitar sempre que possível. Os programas de manejo de pragas têm incentivado vários métodos e táticas de controle, como os métodos culturais, uso de atrativos, resistência varietal, e principalmente o controle biológico (Carvalho et al., 2000). O controle biológico das moscas-das-frutas tem sido proposto por meio de diversos organismos como vírus, bactérias, fungos, nematóides, predadores e parasitóides (Carvalho et al., 2000). Wolbachia, tem sido estudada como um meio de controle biológico para os seus hospedeiros, por manipular a reprodução destes, o que acabaria por controlar a prole (Bourtzis, 1998; Zabalou et al., 2004). 2.2.2. A interação entre Wolbachia e Anastrepha A Wolbachia foi descrita em um grande número de espécies de Anastrepha (Werren et al., 1995; Selivon et al., 2002; Mascarenhas, 2007; Coscrato et al, 2009) e também em outros gêneros de moscas-das-frutas como 39 Bactrocera ( Kittayapong et al., 2000; Jamnongluk et al., 2002; Sun et al., 2007), Rhagoletis (Riegler e Staufer, 2002) e Ceratitis capitata (Rocha et al., 2005). A primeira suposição de presença da Wolbachia em moscas-das-frutas em território nacional foi feita por Selivon e colaboradores (1999) em espécies de A. sp. 2, em que detectou-se redução na eclosão de larvas e desvios na proporção sexual da progênie adulta, sendo que estas alterações poderiam estar relacionadas a populações de bactéria que haviam sido observadas em estudos anteriores (Selivon et al., 1996). A partir destas observações foi proposta uma possível alteração no padrão reprodutivo classificada como IC, o que foi associada a presença da Wolbachia como causadora desta alteração reprodutiva. A infecção pela Wolbachia em Anastrepha foi confirmada com o auxílio do gene ftsZ e técnicas de eletromicrografia eletrônica (figura 1) por Selivon e colaboradores (2002). A IC tem sido demonstrada como um meio de alteração reprodutiva em diferentes tipos de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha, como R. cerasi e C. capitata (Riegler e Staufer, 2002; Zabalou et al., 2004). Recentemente em um estudo com o cruzamento de A. sp. 1 e A. obliqua comprovou-se a ocorrência da IC nas moscas do gênero Anastrepha (Ribeiro, 2009). Tais resultados elevam a perspectiva de ter ocorrido especiação das moscas do complexo fraterculus devido à presença da Wolbachia. As linhagens de Wolbachia encontradas em diferentes gêneros de moscas-das-frutas são em muitos dos casos semelhantes à bactéria encontradas em outros tephritideos, o que indica uma transferência horizontal entre táxons que divergiram de uma mesma família, tais como moscas que se estabeleceram em uma mesma planta, sendo que ao ocupar o mesmo ambiente há maiores chances de ocorrer a transferência da bactéria (Kittayapong et al., 2000). Outro fato observado foi em populações de Bactrocera dorsalis da China, em que se detectou similaridade com supergrupos de Wolbachia da Tailândia das mesmas 40 espécies de moscas, o que sugere uma a transferência do endossimbionte entre estes organismos (Sun et al., 2007). Em diferentes espécies de Anastrepha Coscrato e colaboradores (2009) detectaram linhagens de Wolbachia que apresentaram relações filogenéticas com o tipo wMel de D. melanogaster. Portanto, há uma grande variedade de linhagens de Wolbachia infectando as espécies de moscas-das-frutas (Kittayapong et al., 2000). 3. Objetivos 42 3.1. Objetivo Geral Detectar a presença da bactéria Wolbachia dentro de populações de três espécies de Anastrepha, coletadas de diversas regiões do Estado de São Paulo, através do uso de marcadores moleculares como o gene wsp, ftsZ e 16S rDNA da Wolbachia. 3.2. Objetivos Específicos  Detecção da presença da Wolbachia em populações de três espécies de Anastrepha do estado de São Paulo.  Caracterizar as linhagens de Wolbachia quanto aos supergrupos A e B por meio do uso dos marcadores moleculares.  Análise das sequências obtidas de Wolbachia nas diferentes populações de moscas do complexo fraterculus, utilizando os parâmetros de diversidade haplótipa, diversidade nucleotídica (Pi), entre outros que poderão ser apresentados. 4. Material e Métodos 44 4.1. Coleta das moscas do gênero Anastrepha Os exemplares de moscas do complexo fraterculus foram obtidos através de frutos coletados em campo pelos pesquisadores do Laboratório de Biologia Evolutiva e do desenvolvimento de Insetos do Instituto de Biociências (IB), da Universidade de São Paulo (USP). As coletas foram realizadas em três diferentes regiões do estado de São Paulo, (figura 3). No total, foram trabalhados com 74 indivíduos distribuídos em três populações de diferentes espécies de Anastrepha (tabela 1). Figura 3: Mapa do Estado de São Paulo com as localidades de coleta dos frutos. 45 Tabela 1: Espécies de moscas-das-frutas, total de amostras em cada população, plantas hospedeiras, locais de coleta e posição geográfica no estado de São de Paulo. Táxon Espécie N. de Indivíduos Planta hospedeira Local Coleta Posição Geográfica A. sp. 1 aff. fraterculus 11 Goiaba (Psidium guajava) Jacareí 23o 17´S; 46o 01´W fraterculus A. sp. 1 aff. fraterculus 19 Goiaba (Psidium guajava) Serra Negra 22o 35´S; 46o 50´W A. sp.2 aff. fraterculus 21 Chapéu-do-sol (Terminalia catappa) Caraguatatuba 23o 39S; 45o 25´W A. sp. 3 aff.fraterculus 24 Chapéu-do-sol (Terminalia catappa) N.: Número As coletas dos frutos contendo os ovos de moscas-das-frutas, e a estocagem foram feitas segundo o procedimento estabelecido por Selivon (1996). Os frutos infestados (tabela 1) foram coletados e armazenados em caixas com vermiculita e encaminhados para o laboratório de Biologia Evolutiva e do desenvolvimento de Insetos–IB–USP/SP, onde ocorreu o desenvolvimento das larvas até a fase de pupas. Posteriormente, a vermiculita das caixas foi peneirada, obtendo-se as pupas, que foram acondicionadas em caixas de acrílico apropriadas, para emergência e manutenção das moscas adultas. As moscas foram identificadas de acordo com a espécie, sendo selecionadas e armazenadas em álcool a concentração de 70% e a temperatura de -20oC. As amostras foram enviadas para o laboratório de Biotecnologia e Genética Molecular, do Departamento de Genética, do Instituto de Biociências da UNESP do Campus de Botucatu. Esses materiais foram acondicionados em freezer a -20ºC para posterior extração do DNA. 46 4.2. Obtenção do DNA genômico a partir do abdomen de Anastrepha e Quantificação do DNA 4.2.1. Extração de DNA das moscas O DNA foi extraído do abdômen dos adultos das moscas-das-frutas, descritas na tabela 1, utilizando o método descrito por Jowett (1986) com algumas modificações. As moscas que estavam conservadas em álcool a uma concentração de 70% foram lavadas em água miliQ autoclavada para a retirada resíduos que poderiam atrapalhar a extração. Posteriormente, os abdomens das moscas foram excisados com o auxílio de uma lâmina e transferidos para tubos de centrifuga de 1,5ml autoclavados. Em cada tubo contendo o abdômen foi adicionado 200 l de solução de homogeneização [Tris-HCl 1 mM (pH = 7, 5), NaCl 60 mM e EDTA 50 mM], sendo macerados com o auxílio de pistilos (Eppendorff), até que todo material pôde ser visivelmente dissolvido e diluído nas soluções. Após, se adicionou 200 l de solução de lise [SDS 1,25%, Tris-HCl 0,3 mM (pH = 9,0), EDTA 0,1 Mm e sacarose 5%], em seguida adicionou-se 5 l de proteinase K (Life Technologies), numa concentração final de 100 g/ml. Os tubos foram novamente homogeneizados e incubados por uma hora a 65ºC em banho-maria com agitação. Posteriormente, as amostras foram resfriadas em gelo por 5 min (minutos), adicionou-se 120 l de acetato de potássio 8 M (gelado) e voltaram para o gelo por uma hora. Após, os tubos foram centrifugados a 14000 rpm, a uma temperatura 4ºC, por um período 10 min. As amostras foram retiradas da centrífuga com devido cuidado para que as diferentes fases no tubo permanecessem separadas. O sobrenadante foi transferido para outro 47 microtubo, e em seguida dois volumes de etanol 100% foram adicionados. Os tubos foram homogeneizados levemente e descansados por 5 min. Após, as amostras foram centrifugadas por 5 min, a 25ºC e 14000 rpm, em seguida retirou-se o sobrenadante e o pellet foi mantido. O pellet foi lavado por duas vezes com etanol a 70% e centrifugado a 14000 rpm por 2 min a 25ºC. Posteriormente, o etanol foi retirado e os microtubos invertidos para a secagem do pellet de DNA, sendo levados para o Speed Vacuum. O DNA obtido foi diluído em 30 l de água miliQ autoclavada e adicionado o volume de 4 l RNAse (10 mg/ml). Em seguida, o DNA foi incubado a 37ºC em um intervalo 30 a 60 min e armazenado em freezer a - 20ºC. 4.2.2. Quantificação do DNA obtido O DNA foi quantificado utilizando-se dois métodos. O primeiro procedimento de quantificação foi realizado em gel de agarose a 0,8% com Tris- Borato-EDTA (TBE) 1 X e corado com brometo de etídio, utilizando-se 1 l de DNA e 3 l de tampão de carregamento (4 g de sacarose, 0,01 g de azul de bromofenol e 10 ml de TE). Este DNA foi comparado com padrões de peso molecular conhecido (Lambda DNA, Invitrogen). A visualização foi feita com o sistema de fotodocumentação digital Eagle Eye II (Stratagene). O segundo método de quantificação foi realizado em espectrofotômetro (NanoDrop ND-1000) obtendo-se a concentração do DNA em ng/l (tabela 2), além de mensurar a qualidade do DNA por meio de comparações de valores de absorbância e grau de pureza. 48 4.3. Reação de PCR (Reação em cadeia da polimerase) e primers empregados para a detecção da Wolbachia Para detecção da presença da Wolbachia e tipagem dos supergrupos, utilizaram-se três conjuntos de primers. Os oligonucleotídeos confeccionados referiam-se aos supergrupos A e B de Wolbachia, visto que são comumente encontrados em insetos. Assim foi usado o gene ftsZ A e B (responsável pelo ciclo celular da bactéria) descrito por Holden et al. (1993), o 16S A e B rDNA (gene ribossomal) (O´Neill et al., 1992) e o wsp A e B (gene que codifica uma proteína de superfície da membrana externa da bactéria Wolbachia) (Braig et al., 1998) (tabela 2). Tabela 2: Sequências dos conjuntos de primers utilizados. Primer Sequência Referência ftsZ A F 5’ CTC AAG CAC TAG AAA AGT CG 3’ Holden et al., 1993 ftsZ A R 5’ TTA GCT CCT TCG CTT ACC TG 3’ Holden et al., 1993 ftsZ B F 5' CCG ATG CTC AAG CGT TAG AG 3’ Holden et al., 1993 ftsZ B R 5’ CCA CTT AAC TCT TTC GTT TG 3’ Holden et al., 1993 16S A rDNA F 5’ TTC GGC CGG GTT TCA CAC AG 3’ O´Neill et al.,1992 16S A rDNA R 5’ TAA GGG ATT AGC TTA GCC TC 3’ O´Neill et al., 1992 16S B rDNA F 5’ TTC GGC CGG ATT TTA CAC AA 3’ O´Neill et al., 1992 16S B rDNA R 5’ TAG GGA TTA GCT TAG GCT TG 3’ O´Neill et al., 1992 wsp 136 A F 5´ TGA AAT TTT ACC TCT TTT C 3´ Braig et al., 1998 wsp 691 A R 5´AAA AAT TAA ACG CTA CTC CA 3’ Braig et al., 1998 wsp 81 B F 5´ TGG TCC AAT AAG TGA TGA AGA AAA C 3’ Braig et al., 1998 wsp 522 B R 5´ ACC AGC TTT TGC TTG ATA 3´ Braig et al., 1998 F: foward; R: reverse Para o conjunto de primers wsp a reação consistiu de amostras na concentração de 50 ng, 2 µl de tampão 10 X (Invitrogen), 1,0 µl de MgCl2 (50 µM), 0,4 µl de uma mistura de nucleotídeos (10 µM de cada), 0,5 µl de primer foward (F) (20 µM), 0,5 µl de primer reverse (R) (20 µM), 0,5 µl da DNA Taq polimerase (5 U/l) (Invitrogen), água destilada ou deionizada autoclavada para o volume final de 20 µl. Os ciclos de amplificação foram: um ciclo de 1 min a 94oC, 1 49 min a 58oC, 2 min a 72oC, 35 ciclos de 15 s (segundos) a 94oC, 1 min a 58oC, 2 min a 72oC e um ciclo de 15s a 94oC, 1 min a 58oC, 7 min a 72oC. O outro oligonucleotídeo empregado foi o ftsZ, a reação de PCR empregada consistiu de amostras de DNA na concentração de 50 ng, 2 l de tampão 10 X (Invitrogen), 0,6 l de MgCl2 (50 M), 0,4 l de uma mistura de nucleotídeos (10 M de cada), 0,5 l de primer F a 10 M, 0,5 l de primer R a 10M, 0,5 l de DNA Taq polimerase (Invitrogen) (5 U/l), água destilada ou deionizada autoclavada adicionada para um volume final de 20 l. A amplificação para este primer ocorreu com uma desnaturação inicial de 4 min a 94ºC, um ciclo de 1 min a 58ºC e 2 min a 72ºC, 38 ciclos de 15 s a 94ºC, 1 min a 58ºC e 2 min a 72ºC, e outro ciclo de 15 s a 94ºC, 1 min a 58ºC, com uma extensão final de 7 min a 72ºC. Para o primer 16S rDNA, a reação consistiu em amostras de DNA na concentração de 50 ng, 2,5 l de tampão 10X (Invitrogen), 0,75 l de MgCl2 (50M), 0,5 l de mistura de nucleotídeos (10mM de cada), 0,35 l de primer F (20M), 0,35 l de primer R (20 M), 0,25 l de DNA Taq polimerase (Invitrogen) (5 U/l), água destilada ou deionizada autoclavada para um volume final de 25 l. O programa de amplificação consiste em uma desnaturação inicial de 2 min a 95ºC, 35 ciclos de 30 s a 95ºC, 1 min a 55ºC e 1 min a 72ºC, com extensão de 3 min a 72ºC. Os produtos da amplificação foram detectados por eletroforese, na corrente constante de 110 mA, por aproximadamente duas horas. Em cada canaleta do gel foram adicionados 5 l de cada amostra, juntamente com de 3 l de TC, em um gel de agarose 1%, com tampão Tris-Borato EDTA (TBE 1X). O gel foi corado com brometo de etídio 1%. A visualização foi feita com o sistema de fotodocumentação digital Eagle Eye II (Stratagene). Os fragmentos observados tiveram tamanho de 1043-1055 pb (pares de base) para o primer ftsZ A, 259 pb para o 16S A rDNA e em torno de 600 bp para o wsp A. 50 4.4. Purificação da reação de PCR, excisão e purificação de fragmento de gel de agarose 4.4.1. Purificação da reação de PCR As purificações das reações de PCR foram realizadas com o primer wsp quando se visualizou um único fragmento no gel de agarose com tamanho em torno de 600 bp. Para esta purificação foi utilizada 2 µl da enzima Exosap (GE) e 8 µl da reação de PCR. Posteriormente, foram levados ao banho maria a 37oC por 33 min, e após este período a outro banho maria a 85oC por 15 min. Após a purificação, as amostras foram avaliadas quanto a sua concentração em espectrofotômetro (NanoDrop ND-1000). 4.4.2. Excisão e purificação de fragmento de gel de agarose Ao se visualizar e detectar a presença de mais um fragmento, quando houve inespecificidade da reação, foi realizado a excisão da banda do gel e transferida para tubos de 1,5 ml. Após, foram submetidas a purificação com o kit GFXTM PCR DNA and Gel Band Purification da Amersham Pharmacia Biotech, de acordo com a metodologia do fabricante. 4.5. Método de Clonagem Para realização da clonagem o DNA foi ligado ao vetor pGEM-T (Promega) utilizando-se diferentes volumes DNA conforme a sua concentração. Adicionou-se 1,0 l da enzima T4 ligase, 3,5 l tampão e 0,5 l do vetor para o volume final de 7,0 l. Estes valores foram otimizados a partir do protocolo original fornecido pelo fabricante, sendo mantida a 16ºC por 16 horas. 51 Após este período, os 7,0 l da ligação foram adicionados em 50 l de células competentes DH5- de Escherichia coli, preparadas no próprio laboratório e transformadas após choque térmico. Posteriormente, adicionou-se volume de 600 l de meio CG (Circle Grow/Bio 101, Inc.) as amostras foram transformadas, e colocadas em um agitador a 37ºC por uma hora. As amostras que cresceram foram plaqueadas em meio CG contendo ágar, ampicilina (50 mg/ml) e os marcadores X-GAL e IPTG. Após este procedimento, foram estocadas em estufa a 37ºC overnight. No outro dia, as colônias brancas, que se esperou conter o insert, foram selecionadas com ponteiras estéreis, mergulhadas em um mix, previamente preparado com o primer M13 F e M13 R, e riscadas em outra placa com CG e ágar para produção de colônias permanentes. A reação de PCR com o primer M13 foi otimizada utilizando-se 2,5 l de tampão 10 X (Invitrogen), 1,25 l de MgCl2 (50 M), 1,25 l de mistura de nucleotídeos (10 mM de cada), 1,25 l de primer F (20 M), 1,25 l de primer R (20 M), 0,10 l de DNA Taq polimerase (5 U/l) e água destilada ou deionizada autoclavada para o volume final de 25 l. O programa de amplificação consistiu em uma desnaturação inicial de 3 min a 95ºC, 35 ciclos de 45 s a 95ºC, 45 s a 55º C e 1 min a 72ºC, com extensão de 5 min a 72ºC. A confirmação da presença do insert foi realizada através de visualização em gel de agarose a 1%. Os produtos de PCR que continham o fragmento de DNA de interesse amplificaram bandas com tamanho em torno de 600 bp para wsp A mais uma região do plasmídeo, em torno de 280 bp. Posteriormente a reações de PCR positivas foram purificados utilizando a enzima Exosap (GE). Em seguida as amostras foram quantificadas em espectrofotômetro (NanoDrop ND-1000). 52 4.6. Sequenciamento Duas reações foram realizadas, uma para o primer F e outra o primer R, com um volume de DNA na concentração de 100 ng/l de acordo com o tamanho do fragmento. Adicionou-se 1,0 l de Tampão de Sequenciamento (Tris- HCl 1M pH 9.0 e MgCl2 50mM), 2,0 l Big Dye e 1,00 l de primer (5 pmol/l), água destilada ou deionizada autoclavada para o volume final de 10 l. O programa de amplificação consistiu em desnaturação inicial de 1 min a 96ºC, 35 ciclos de 10 s a 96ºC, 5 s a 50ºC e 4 min a 60ºC, permanecendo a 10ºC. As seqüências foram obtidas a partir do sequenciador automático modelo 3100 Genetic Analyzer (Applied Biosystems). 4.7. Análise das sequências Os consensos dos reads de cada clone foram montados através dos programas phred Phrap/consed versão (ver.) 14.0 (Gordon et al., 1998). Após, foram retirados os fragmentos do vetor das sequências com o auxílio da ferramenta vecscreen encontrada no banco de dados NCBI (National Center for Biotechnology Information), http://www.ncbi.nlm.nih.gov e foram inseridas na ferramenta “blastn” (Altschul et al., 1990) do NCBI para se buscar homologia com Wolbachia. 4.7.1. Análises de variações das sequências Com a confirmação da presença da Wolbachia, as sequências foram alinhadas no programa ClustaX ver. 1.81 para PC (Thompson et al., 1997) e quando necessário foi realizada a formatação manual no programa BIOEDIT (www. mbio.ncsu.edu/BioEdit/bioedit.html), com o auxílio do programa Chromas 1.45 53 (1996-1998, Connor McCarthy) (http://www.technelysium.com.au/chromas.hlp). Em seguida as análises de distância genética intra e interpopulacionais foram determinadas através do modelo de Kimura 2 parâmetros (Kimura, 1980) em que se excluíram os alinhamentos em gap. As matrizes de distância foram calculadas para a construção de dendograma com o algoritmo Neighbor-joining (NJ) (Saitou e Nei, 1986), realizando análises de bootstrap com 10000 réplicas através do software MEGA ver. 4.0.2 (Kumar et al., 2008). Com o software DnaSP ver. 5.00.05 (Librado e Rozas, 2009) foram feitas análises de número de haplótipos (h), diversidade haplotípica (Hd), a diversidade de nucleotídeos dentro e entre as populações (Pi), e por fim a taxa de diversidade de nucleotídeos conforme as substituições sinonímias (SS). 5. Resultados 55 5.1. A Quantificação do DNA extraído das moscas-das-frutas Dois métodos de quantificação de DNA foram utilizados após a extração do DNA dos exemplares de Anastrepha. Um desses realizado em gel de agarose 0,8%, contudo, os valores obtidos não foram confiáveis, pois se basearam na visualização e comparação com padrões de peso molecular conhecido (figura 4). Figura 4: Quantificação em gel de agarose a 0,8%. 1,2 e 3: marcadores com peso molecular de 50, 100 e 150 ng/µl, respectivamente; 4 a 14: DNA de Wolbachia extraída de A. sp. 1. A análise realizada através do espectrofotômetro apresentou valores precisos, além de fornecer dados sobre a qualidade do DNA. As amostras que apresentaram valor de absorbância próximo a dois foram utilizadas nas reações de PCR, pois este é o grau indicado para uma boa qualidade do DNA. As médias dos valores de concentração de DNA e absorbância das amostras de cada região estudada podem ser observadas na tabela 3. 56 Tabela 3: Quantificação do DNA de Anastrepha spp. mensurada em espectrofotômetro com média das concentrações de DNA e dos valores da relação 260/280, de acordo com a região estudada. População Amostras Concentração DNA (ng/ul) Relação 260/280 Jacareí A. sp. 1 559,66 2,05 Serra Negra A. sp. 1 578,82 1,88 Caraguatatuba A. sp. 2 317,23 1,70 A. sp. 3 673,92 1,94 5.2. Detecção da Wolbachia e Sensibilidade dos primers Os testes realizados com os primers 16S rDNA, wsp e ftsZ são apresentados a seguir: 5.2.1. Primer 16S rDNA As amostras das três regiões estudadas foram testadas com o primer 16S rDNA, onde se detectou a presença da bactéria Wolbachia gerando fragmentos em torno de 259 bp (figuras 5, 6 e 7). Figura 5: Gel de agarose 1% com indivíduos da população de Jacareí. (A) Primer 16S A rDNA. (B) Primer 16S B rDNA. 1: Ladder 100bp; 2 a 13: indivíduos A. sp. 1. 57 Figura 6: Gel de agarose 1% com indivíduos da população de Caraguatatuba. (A) Primer 16S A rDNA. (B) Primer 16S B rDNA. 1: Ladder 100bp; 2 a 5: indivíduos A. sp.2 , 6 a 10: indivíduos A. sp.3; 12: Controle positivo com o primer 16SA e B rDNA; 13: Controle negativo. Figura 7: Gel de agarose 1% com o primer 16S A rDNA com os indivíduos da população de Serra Negra. 1: Ladder 100bp; 2 a 6: indivíduos A. sp.1; 7: Controle negativo. 58 5.2.2. Primer wsp Com a utilização do oligonucleotídeo wsp também foram detectadas a presença da Wolbachia nas 74 amostras (figuras 8 e 9), assim como observado com o primer 16S rDNA. Figura 8: Gel de agarose 1% com o primer wsp A com indivíduos da população de Jacareí. 1: Ladder 100bp; 2 a 11: indivíduos A. sp.1, 12: Controle negativo. Figura 9: Gel de agarose 1% com o primer wsp A com indivíduos da população de Caraguatatuba; 1: Ladder 100bp; 2 a 5: indivíduos A. sp.2; 6 a 13: indivíduos A. sp.3; 14: Controle negativo. 59 5.2.3. Primer ftsZ As primeiras amostras a serem testadas com o primer ftsZ foram da população de Jacareí da espécie A. sp. 1 (figura 10). Figura 10: Gel de agarose 1% com o primer ftsZ A com indivíduos da população de Jacareí. 1: Ladder 100bp; 2 a 9: indivíduos A. sp.1. Setas indicam a presença de fragmento. Os testes posteriores realizados com o primer ftsZ passaram por diversas alterações nos protocolos de PCR, e serão apresentadas a seguir: 5.2.3.1. Alterações nas reações de PCR com o primer ftsZ O primer ftsZ é amplamente estudado em Wolbachia, e devido a sua baixa sensibilidade na detecção da bactéria em Anastrepha, neste trabalho procurou-se otimizar o protocolo de PCR, fazendo alterações nas concentrações de DNA, MgCl2, dNTPs, primers, DNA Taq polimerase e qualidade do DNA utilizado, na tentativa de redução dos falsos negativos. 60 As mudanças realizadas na reação de PCR com o primer ftsZ são apresentadas na tabela 4. Inicialmente alterou-se o volume de DNA, utilizando diferentes valores a partir dos 5 l (50ng/l) empregados anteriormente. No entanto, foi detectada Wolbachia em 27% das amostras da população de Jacareí com um volume de 3 l de DNA (50ng/l) (tabela 5). Com a obtenção destes resultados adotou-se o volume de 3 l (50ng/l) nas reações em seguida propostas. Os protocolos de II a VIII (tabela 4) não permitiram a detecção de Wolbachia (figura 11), demonstrando a ineficiência destas alterações. Figura 11: Porcentagem de detecção da bactéria Wolbachia nas espécies de moscas-das- frutas utilizando os primers 16S rDNA, wsp e os diferentes protocolos utilizados com o primer ftsZ (indicados de I a VIII). 61 Tabela 4: Alterações no protocolo de PCR com o primer ftsZ, identificados por I a VIII. Reação de PCR Reagentes Concentração Volume (l) I DNA 50 ng/l 3,00 II MgCl2 50 mM 0,50 DNA 50 ng/l 3,00 Primer F 8 M 0,50 III Primer R 8 M 0,50 DNA 50 ng/l 3,00 IV MgCl2 50 mM 0,50 Primer F 8 M 0,50 Primer R 8 M 0,50 DNA 50 ng/l 3,00 DNTP 10 mM 0,50 V MgCl2 50 mM 0,50 DNA 50 ng/l 3,00 DNTP 10 mM 0,50 MgCl2 50 mM 0,50 VI Primer F 8 M 0,50 Primer R 8 M 0,50 DNA 50 ng/l 3,00 VII DNA Taq polimerase 1 unidade 0,25 DNA 50 ng/l 3,00 VIII DNA fresco 50ng/l 5,00 Tabela 5: Porcentagem de detecção da Wolbachia com as alterações feitas nos protocolos utilizando o primer ftsZ, indicados de I a VIII. Protocolos Populações Total Jacareí Serra Negra Caraguatatuba I 27% - - 4% II - - - - III - - - - IV - - - - V - - - - VI - - - - VII 63,33% 42,10% 42,50% 44,90% VIII - 55% n 20,16% (-): 100% de ausência de fragmento; (n): amostras não testadas com protocolo. 62 Com a modificação do volume da enzima DNA Taq polimerase e do número de ciclos da reação de PCR, de 35 para 40 (para aumentar o número de fragmentos de DNA gerados), diagnosticou-se Wolbachia em 44,90% das amostras (tabela 5 e figura 11). Porém, este protocolo, ao ser utilizado com os mesmos indivíduos em reações diferentes não apresentou repetição de resultados (figura 12A e B). Figura 12: Gel de agarose 1% com exemplares de A. sp. 1 da população de Jacareí utilizando o protocolo VI com o primer ftsZ. (A) 2 a 5: A. sp.1; (B) 2 a 13: A. sp.1; interrogação (?): baixa repetibilidade dos dados, com ausência de fragmento que era observado na figura A, no mesmo indivíduo. 1: Ladder 100bp; Setas: presença de fragmento. A qualidade do DNA foi testada com material fresco, utilizado um dia após a extração, com as amostras de Jacareí e Serra Negra (tabela 4). Nas reações anteriores estava-se empregando DNA armazenado por um período maior que sete dias a uma temperatura de -20o C, o que poderia prejudicar a qualidade deste DNA. Um total de 20,16% de presença da Wolbachia foi observado na reação de PCR com o primer ftsZ nas amostras de DNA fresco (tabela 5). 63 5.3. Análise das populações de Anastrepha quanto aos supergrupos A três populações de moscas-das-frutas apresentaram infecção com Wolbachia como observado anteriormente. Além disso, foram analisadas quanto ao supergrupo A e B da bactéria com conjuntos de primers wsp A e B, 16S A e B rDNA e ftsZ A e B. Na figura 13, observa-se que os primers 16S A e B rDNA e os primers ftsZ A e B detectaram somente infecção com o supergrupo A. Porém, o primer wsp indicou também a presença do supegrupo B de Wolbachia (Figura 14B), mas estes dados não foram considerados, pois o oligonucleotídeo wsp apresenta reação cruzada, isto é o marcador wsp B apresenta região homologa ao do wsp A. Somente se consideraria estes resultados se os outros primers empregados também detectassem o mesmo tipo de supergrupo nas amostras estudadas. Figura 13: Identificação dos supergrupos A e B de Wolbachia com conjuntos de primers 16S A e B rDNA, wsp A e B e ftsZ A e B, nas Anastrepha spp. populações estudadas. 64 Figura 14: Gel de agarose 1% com a população de A. sp. 1 de Serra Negra. (A) primer wsp A. (B) primer wsp B. 1: Ladder 100bp; 2 a 6: indivíduos A. sp.1. 5.4. Análises das sequências Os fragmentos gerados com a utilização do primer wsp A nas 74 amostras de Anastrepha foram clonados, sequenciados e submetidos ao GeneBank, o que permitiu confirmar a correspondência destes fragmentos como sendo de Wolbachia. Além disso, estes resultados foram utilizados para avaliar os polimorfismos das diferentes sequências de DNA amplificadas nas populações estudadas. Seis sequências apresentaram baixa homologia com o genoma da Wolbachia devido o cromatograma ter apresentado uma grande quantidade de picos sobrepostos, dificultando a análise dos dados. Estes resultados persistiram mesmo após diferentes alterações nos protocolos de PCR, clonagem e sequenciamento. 65 5.4.1. Amplificação de sequências não relacionadas ao gene wsp Os fragmentos gerados com o primer wsp das 68 amostras foram comparados no banco de dados NCBI, e observou-se que seis destas sequências não foram homologas ao gene wsp. Das seis sequências, três obtidas de indivíduos da população Jacareí e duas da população de Caraguatatuba das moscas da espécie A. sp. 3, apresentaram similaridade com sequências de transposon tipo mariner de Bactrocera tryoni, acesso AF349132. Uma amostra da população Caraguatatuba (A. sp. 2) teve similaridade com sequência de transposon tipo mariner em Ceratitis rosa, com acesso AY426626 (tabela 6). Tabela 6: Indivíduos que tiveram similaridade com outra sequência que não o gene wsp de Wolbachia. População Espécie N. ind. Supergrupo* Similaridade Acesso Jacareí A. sp. 1 3 A Transposon mariner de Bactrocera tryoni AF349132 Caraguatatuba A. sp. 2 1 A Transposon mariner de Ceratitis rosa AY426626 A. sp. 3 2 A Transposon mariner de Bactrocera tryoni AF349132 N.: número, ind.: indivíduos, *: Referente a análises realizadas via PCR. 5.4.2. Análise das diferentes populações de Anastrepha quanto as linhagens de Wolbachia detectadas Na tabela 7 estão representadas as diferentes linhagens de Wolbachia encontrada nas populações estudadas. 66 Tabela 7: Linhagens de Wolbachia detectadas nas diferentes populações de Anastrepha. População Espécie Linhagem ACESSO Similaridade Total Jacareí A. sp. 1 B. pahangi (Bp-1-1001) AY527208.1 96% 100% Serra Negra A. sp. 1 B. pahangi (Bp-1-1001) AY527208.1 96% 21,05% A. sp. 2 (wAsp2B) EU116316.1 99% 78,95% Caraguatatuba A. sp. 2, B. pahangi (Bp-1-1001) AY527208.1 96% 61,1% A. sp. 3 A. sp. 2 (wAsp2B) EU116316.1 98% 38,9% De 10 indivíduos, sete (70%) das sequências geradas a partir das bactérias encontradas nas moscas da população de Jacareí, apresentaram similaridade com uma única linhagem da bactéria presente no hospedeiro nematóide Brugia pahangi (Bp-1-1001) (tabela 7 e figura 15), e 30% apresentaram altos valores de similaridade com elementos transponíveis A população de Serra Negra apresentou duas diferentes linhagens de Wolbachia (tabela 7). Destas, 78,95% apresentaram similaridade de 99% com Wolbachia encontradas em Anastrepha sp. 2 (wAsp2B), e 21,05% apresentaram similaridade de 96% com Wolbachia de Brugia pahangi (Bp-1-1001). A população de Caraguatatuba apresentou duas linhagens de Wolbachia, uma pertencente a Brugia pahangi (Bp-1-1001) e outra a A. sp. 2 (wAsp2B), com valores de similaridade 96% e 98%, respectivamente (tabela 7). As amostras estudadas apresentaram maior grau de infecção com a linhagem de Wolbachia Bp-1-1001, e 46% das amostras apresentaram linhagem de Wolbachia wAsp2B (figura 15). 67 Figura 15: Linhagens de Wolbachia detectadas nas populações de Anastrepha. 5.5. Análises das sequências das Wolbachia encontradas nas Populações de mosca-das-frutas do gênero Anastrepha Os dados apresentados foram realizados com 62 amostras, uma vez que foram excluídas 12 amostras referentes as sequências de baixa qualidade para análise, e sequências que apresentaram homologia com transposon. As análises de distância genética foram realizadas no software MEGA ver. 4.0.2 utilizando como parâmetro o algoritmo de Kimura (Kimura 2- parâmetros), que considera a ocorrência de transições e transversões, dando pesos diferentes para estas duas modificações. Para a construção dos dendograma foi utilizado o método de NJ. O software DnaSP ver. 5.00.05 foi utilizado para se estimar o número de haplótipos encontrados (h), diversidade haplotípica (Hd), a taxa de diversidade de nucleotídeos (Pi) e a diversidade de nucleotídeos de acordo com as substituições sinônimas (SS) através das análises inter e intrapopulacionais demonstradas a seguir. 68 5.5.1. Análises Intrapopulacionais Com as comparações realizadas entre as sequências da Wolbachia encontradas nas populações de Anastrepha, pode-se observar como estavam distribuídos as linhagens de Wolbachia em cada população. A população de Jacareí teve média dos valores de distância de 0, 298 (figura 16), e o indivíduo JAsp1-4 apresentou menor similaridade com as sequências desta população. Figura 16: Árvore obtida a partir do método NJ com bootstrap de 10000 repetições, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as Wolbachia da população de Jacareí (A. sp. 1-2, 3, 4, 5, 6, 8 e 11). Os valores de bootstrap são indicados antes de cada nó. A população de Serra Negra já havia sido diagnosticada com as duas linhagens de Wolbachia. As análises com o método de Kimura detectaram altos valores de distância (média de 0, 895), visto que as sequências são distintas entre si. Na figura 17 pode-se observar a formação de dois grupos, um no ramo inferior com quatro indivíduos infectados com a linhagem de Wolbachia de nematóide (Bp-1-1001) (identificados como “Bru”), e outro no ramo superior com a linhagem de Wolbachia de A. sp. 2 (wAsp2B) (indicados por “Mos”). 69 Ao analisar a subpopulação “Bru” foi encontrado altos valores de distância relacionados ao individuo Asp1-10, os outros indivíduos apresentaram alta similaridade de 99%. Já no subgrupo “Mos” houve homologia das sequências de 50,5%, isto se deve ao fato da formação de dois grupos, um no ramo superior com similaridade de 99,3% e distância média de 0,007, e outro no ramo inferior com similaridade de 99,7% e distância média de 0,003 (figura 17). Figura 17: Árvore obtida a partir do método NJ com bootstrap de 10000 repetições, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as Wolbachia da população de Serra Negra (A. sp. 1- 1 a 19). “Mos”: grupo ramos superior; “Bru”: grupo ramo inferior. Os valores de bootstrap são indicados antes de cada nó. 70 Na figura 18 observa-se que na população de Caraguatatuba formaram- se dois grupos distintos. Um no ramo superior, em que se observou íntima relação entre os indivíduos infectados com linhagem de Wolbachia de nematóide (Bp-1- 1001) (indicado como “Nem”), e no ramo inferior há um grupo formado com as sequências das Wolbachia com a linhagem de A. sp.2 (wAsp2B) (indicados como “Fly”). Na subpopulação “Nem” a similaridade das sequências foi de 63,2%, com distância entre a linhagem de Wolbachia encontrada de 0, 368, estes valores estão relacionados as ramificações observadas na figura 18, que se formaram devido a diferença entre as sequências das linhagens de Wolbachia de nematóide. Os indivíduos do ramo superior apresentaram distância média de 0,014, com similaridade de 98,6%, e na outra bifurcação a similaridade foi de 98,4% com distância média de 0,016. Na subpopulação “Fly” a similaridade foi de 72%, com distância média de 0,280, e do mesmo modo que a subpopulação “Nem”, foram observadas ramificações conforme o tipo de sequência encontrada na linhagem Wolbachia referente a mosca (wAsp2B). Entre os indivíduos Asp3-18 e 19 houve similaridade de 99%, com distância média de 0, 010, já no ramo inferior a similaridade teve valores correspondentes a 100%. 71 Figura 18: Árvore obtida a partir do método NJ com bootstrap de 10000 repetições, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as Wolbachia da população de Caraguatatuba (A. sp. 2 e A. sp. 3). “Nem”: grupo do ramo superior; “Fly”: grupo do ramo inferior. Os valores de bootstrap são indicados antes de cada nó. 72 Através das análises intrapopulacionais, observou-se que as populações de Serra Negra e Caraguatatuba apresentaram altos níveis de diversidade de nucleotídeos (Pi) e de substituições sinonímias (SS) entre as sequências do gene wsp de Wolbachia analisadas (tabela 8). Cada uma destas populações é constituída por duas linhagens diferentes de Wolbachia (wAsp2B e Bp-1-1001), o que aumenta sua diferença conforme Pi e SS. Ao avaliar suas subpopulações houve destaque de uma em cada população, a “Mos” e a “Nem”. Os valores de Pi e de SS observados foram semelhantes, com exceção da população de Serra Negra e de Caraguatatuba, devido as diferentes linhagens de Wolbachia existentes nestas populações (tabela 8). Estes valores serão melhores explorados ao se analisar os diferentes padrões de sequências referentes as linhagens de Wolbachia encontradas. Tabela 8: Valores de diferenciação genética calculados através do programa DnaSP Ver.5.00.05. Jacareí Serra Negra “Bru” “Mos” Caraguatatuba “Nem” “Fly” Diversidade de nucleotídeos (Pi) 0,165 0,418 0,278 0,281 0,413 0,203 0,153 Diversidade de nucleotídeos(Pi) conforme SS 0,168 0,464 0,291 0,330 0,450 0,207 0,179 5.5.2. Análises Interpopulacionais As análises a seguir foram realizadas através de comparações das populações estudadas. A partir da comparação das sequências de Wolbachia das populações, foi construído um dendograma representado na figura 19, e formaram-se dois grupos distintos com altos valores de distância entre estes. Estes grupos organizaram-se conforme a linhagem da Wolbachia, um observado no ramo 73 superior, constituído somente por moscas que apresentaram a mesma linhagem de Wolbachia Bp-1-1001 (nematóide) (indicado por “Bgi”). O segundo grupo, no ramo inferior (indicado por “Asp”), foi composto por linhagens de Wolbachia pertencentes A. sp. 2 (wAsp2B). As médias das distâncias dentro dos grupos “Bgi” e “Asp” foram de 0, 348 e 0, 493 respectivamente. Além disso, observou-se que toda a população de Jacareí está agrupada em “Bgi”, juntamente com as outras linhagens de Wolbachia referente a B. pahangi (Bp-1-1001) das populações de Serra Negra e Caraguatatuba. Com isso, o grupo “Asp” foi constituído pelas populações de Serra Negra e Caraguatatuba. O subgrupo “Bgi” formou dois ramos, o inferior teve 98,5% de similaridade; o indivíduo Asp3-13 apresentou as maiores distâncias de 0, 014 a 0,019. A bifurcação superior apresentou distância média de 0, 014, com similaridade de 98,6%. Portanto, ao se subdividir o grupo “Bgi” e analisá-lo conforme as divisões observadas a similaridade foi maior que a apresentada no grupo maior, que foi de 65,2%. A similaridade observada no grupo “Asp” foi de 50,8%, e também houve distribuição em dois grupos como em “Bgi” (figura 19). No ramo inferior a similaridade foi de 99,4%, sendo que os indivíduos reunidos na parte superior deste agrupamento foram idênticos entre si, assim como os indivíduos Asp1-2, 8, 11, 14 e 19. Dentro deste mesmo subgrupo, o indivíduo Asp1-13 apresentou os maiores valores de distâncias médias de 0, 003 a 0, 014 comparado com os outros indivíduos. 74 Figura 19: Árvore obtida a partir do método NJ com bootstrap de 10000 repetições, baseada no gene wsp, demonstrando a distância entre as populações de moscas contendo Wolbachia. Jacareí: JAsp1; Serra Negra: Asp1; Caraguatatuba: Asp2 e Asp 3; “Asp”: subgrupo superior; “Bgi”: subgrupo inferior, wBjc, wBsp, wAnc e wAsc: agrupamentos que deram origem as novas linhagens. Os valores de bootstrap são indicados antes de cada nó. 75 Na tabela 9 estão indicadas as taxas de diversidade de nucleotídeos (Pi) das sequências do gene wsp de Wolbachia, ao se comparar as populações estudadas. Os valores de Pi entre Jacaréi e Caraguatatuba foram menores comparando-se Jacareí e Caraguatutaba a Serra Negra, demonstrado as sequências mais similares. Tabela 9: Taxa diversidade de nucleotídeos (Pi) das sequências do gene wsp de Wolbachia ao se comparar as diferentes populações de moscas-das-frutas. Jacareí “Bru” “Mos” “Nem” “Fly” Serra Negra Caraguatatuba Jacareí - 0, 187 0, 448 0, 190 0, 397 0, 462 0, 389 Bru 0, 187 - 0, 418 0, 204 0, 352 - 0, 403 Mos 0, 448 0, 418 - 0, 442 0, 272 - 0, 456 Nem 0, 190 0, 204 0, 442 - 0, 413 0, 431 - Fly 0, 397 0, 352 0, 272 0, 413 - 0, 358 - 5.5.3. Análises das Sequências conforme a linhagem de Wolbachia Ao comparar as duas linhagens de Wolbachia das três populações de Anastrepha foi observado um total de 42 haplótipos com altas taxas de diversidade haplotípica (tabela 4). Estas linhagens de Wolbachia encontradas apresentaram dois tipos de sequências para cada uma, o que gerou altas taxas de diversidade, e a partir disso, foram realizadas análises conforme o tipo de sequência. 5.5.3.1. Análises da Linhagem de Wolbachia caracterizada como Wolbachia de A. sp. 2 (wAsp2B) Dois tipos de sequências foram encontrados na linhagem de Wolbachia caracterizada como de A. sp. 2 (wAsp2B), as quais foram denominadas wAsc e wAnc. 76 A linhagem wAsc foi correspondente aos indivíduos encontrados no ramo inferior do grupo “Asp”, e wAnc a ramificação superior do grupo “Asp” (figura 19). Ambas as linhagens apresentaram grande similaridade das suas sequências ao serem avaliados separadamente, conforme já observado. Ao observar uma frequência relativa maior que 1,00% de uma sequência com diferentes mutações, pode-se considerar diferentes haplótipos nas linhagens de Wolbachia encontradas. Um total de três haplótipos foram encontrados na linhagem wAsc, e baixo valor Pi (tabela 10). Além disso, foram identificadas duas substituições sinônimas (SS) e seis substituições não sinônimas (NSS) (tabela 11), sendo que os indivíduos que possuíram maior número de mutações foram Asp1-2, 8, 11, 14, 19, pertencentes população de Jacareí. Tabela 10: Média dos valores de diversidade genética calculados através do programa DnaSP Ver.5.00.05. wAsc wAnc wBsp wBjc Node haplótipos (h) 3 8 7 25 Diversidade Haplótipica (Hd) 0,522 0,945 1 0,994 Diversidade de nucleotídeos (Pi) 0,006 0,007 0,014 0,013 Diversidade de Nucleotídeos (Pi) conforme SS 0,008 0,012 0,025 0,017 Tabela 11: Posições de sítios polimórficos e total de indivíduos com estes polimorfismos na linhagem wAsc. Haplótipos Total de Indivíduos FR* 1 A C A G A T G A 11 64,7% 2 G T G A C A A T 5 29,4% 3 · T G . . . . . 1 5,9% Posição dos sítios variáveis 55 165 255 281 286 292 296 316 *FR: Frequência relativa dos haplótipos observados na linhagem indicada. 77 A linhagem wAnc apresentou oito tipos de haplótipos e valor de Pi semelhante a wAsc (tabela 10), gerando um total de quatro SS e oito NSS (tabela 12), e os indivíduos que apresentaram maior número de substituições foram Asp1-12 e 16. Tabela 12: Posições de sítios polimórficos e total de indivíduos com estes polimorfismos na linhagem wAnc. Haplótipos Total de Indivíduos FR* 1 A A A C T T T C T A T 1 9% 2 G . . . . . C T A G C 1 9% 3 . T C T . . . . . . C 1 9% 4 . . . . G . C T A . C 2 18,3% 5 . . . . . A C T A . C 2 18,3% 6 . . . . . . C T A G C 1 9% 7 . . . . . . . . . G C 1 9% 8 . . . . . . . . . . C 2 18,3% Posição dos sítios variáveis 153 167 202 203 218 263 282 283 290 516 523 *FR: Frequência relativa dos haplótipos observados na linhagem indicada. Na tabela 13 podem ser observadas a quantidade de posições de sítios variáveis comparando-as as regiões hipervariáveis (HVRs), propostas por Baldo et al. (2005) nas linhagens wAsc e wAnc. Somente a linhagem wAnc apresentou maior similaridade entre as suas posições de sítios variáveis e as HVRs (figura 20B), e três mutações não se encontravam nas regiões analisadas (263, 282 e 283), assim como em wAsc (255, 281 e 286). 78 Tabela 13: Posições de sítios variáveis nas linhagens de Wolbachia conforme as HVRs propostas por Baldo et al. (2005). HVRs N. de posições de sítios variáveis nas Linhagens Wolbachia wAsc wAnc wBjc wBsp HVR I (0 – 90 bp) 1 - 12 4 HVR II (150 – 225 bp) 1 5 11 6 HVR III (300 – 375 bp) 3 1 9 5 HVR IV (450 – 540 bp) - 2 12 11 HVRs: Regiões hipervariáveis; N.: número Figura 20: Diversidade de nucleotídeos (Pi) conforme as posições dos nucleotídeos nas diferentes linhagens de Wolbachia. (A) Pi conforme posição dos nucleotídeos em wAsc. (B) Pi conforme posição dos nucleotídeos em wAnc. (C) Pi conforme posição dos nucleotídeos em wBjc. (D) Pi conforme posição dos nucleotídeos em wBsp. 79 5.5.3.2. Análises da Linhagem de Wolbachia caracterizada como de B. pahangi (Bp-1-1001) As sequências referentes ao gene wsp homólogas a linhagem de Wolbachia encontrada no nematóide B. pahangi (Bp-1-1001) apresentaram dois tipos de sequências diferentes, e foram denominadas wBsp e wBjc. A linhagem wBsp representa os indivíduos da ramificação inferior do grupo de “Bgi”, e wBjc os indivíduos do ramo superior do grupo “Bgi” (figura 19). Estas linhagens foram analisadas separadamente anteriormente e apresentaram grande similaridade nas suas sequências. Observou-se 25 haplótipos em wBjc e sete em wBsp, porém os valores de Pi foram semelhantes entre as duas linhagens (tabela 10). Em wBsp observou- se 22 NSS e sete SS representadas no tabela 14, conforme distribuição nos respectivos haplótipos. Já em wBjc apresentou 23 SS e grande número de NSS (tabela 15). As análises comparativas das posições de sítios variáveis das linhagens de Wolbachia wBsp e wBjc e as HVRs, apresentaram maior quantidade de mutações (tabela 13 e figura 20C e D). Três mutações da linhagem wBsp (247, 398 e 421) e 21 mutações da linhagem wBjc (111, 116, 134, 241, 252, 254, 260, 264, 266, 271, 273, 276, 278, 281, 391, 395, 397, 404, 405, 411, 428), não se encontraram nas regiões hipervariáveis analisadas. 80 Ta be la 1 4: P os iç õe s de s ít io s po lim ór fi co s e to ta l d e in di ví du os c om e st es p ol im or fi sm os n a lin ha ge m w Bs p. H ap ló ti po s 1 A C C T A A G A A A T C T G T G A G C G 2 G . T . . . . . . . . . A A . . . . . . 3 . T T . . . . . . G . . . A . . . . . . 4 . . T C G . . . . . C . A A . . . . . A 5 . . T . . G A G . . . . A A . . . . . . 6 . . T . . . . . G . . T A A A . . A . . 7 . . T . . . . . . . . . A A . A G . . . Po si çã o do s sí ti os va ri áv ei s 36 37 71 87 14 5 14 7 14 8 15 4 17 6 23 6 24 7 29 5 32 0 32 6 34 8 36 2 39 8 42 1 45 4 45 5 81 Ta be la 1 4: P os iç õe s de s ít io s po lim ór fi co s e to ta l d e in di ví du os c om e st es p ol im or fi sm os n a lin ha ge m w Bs p. Co nt in ua çã o H ap ló ti po s To ta l d e In di ví du os FR * 1 G T T C A G A A A 1 14 ,3 % 2 . . C . . . . . . 1 14 ,3 % 3 . . . . . C . G . 1 14 ,3 % 4 . C . T . . . . . 1 14 ,3 % 5 T . . . C . . . . 1 14 ,3 % 6 . . . . . . . . G 1 14 ,3 % 7 . . . . . . G . . 1 14 ,3 % Po si çã o do s sí ti os va ri áv ei s 48 6 49 4 51 2 53 7 53 9 54 4 54 7 55 2 56 1 *F R: F re qu ên ci a re la ti va d os h ap ló ti po s ob se rv ad os n a lin ha ge m in di ca da . 82 Ta be la 1 5: P os iç õe s de s ít io s po lim ór fi co s e to ta l d e in di ví du os c om e st es p ol im or fi sm os n a lin ha ge m w Bj c. H ap ló ti po s 1 T T T T T C T A G T A A C A C A T A A T T T T C G G G A 2 C . . A . . . . . . . G T . . . . . . . . . . . . . . . 3 . C . A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 . . C . . . . . . . . . . G . . . . . . . . . . . . . . 5 . . . A C . . . . . G . . . . . A . . . . . . . . . . . 6 . . . . . T . . . . . . . . . . . G . . . . . . . . C . 7 . . . . . . A . . . . . . G . . . . . . . . . . . C . . 8 . . . . . . . G . . . . . . . . . . . . A . . . . . . . 9 . . . . . . . . A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 . . . . . . . . . C G . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 . . . A . . . . . . . . . . . G . . . . . . C . . . . . 12 . . . A . . . . . . . . . . . . . . G . . . . . A . . . 13 .