II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores POTENCIALIDADES DE USO DO FACEBOOK SOB UMA PERSPECTIVA DA MÍDIA- EDUCAÇÃO Joyce Galdino Gomes, Claudia Maria De Lima, Monica Fürkotter Eixo 6 - Formação de professores para o ensino superior - Relato de Pesquisa - Apresentação Oral Diante da crescente utilização das redes sociais por crianças e adolescentes em idade escolar, é fundamental olhar a relação deles com estas novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), já que são nestes ambientes que eles buscam informações, constroem opiniões e compartilham a realidade que os cerca. Para que estes jovens consigam compreender estas novas ferramentas o campo da mídia-educação se faz presente como um caminho para contribuir neste processo de compreensão e produção de conteúdos colaborativos nas redes sociais. Dessa maneira, o presente artigo tem por objetivo refletir sobre as potencialidades de uso do Facebook, uma ferramenta colaborativa da Web 2.0, no espaço educacional, sob a perspectiva da mídia-educação, com a intenção de contribuir com futuras propostas de intervenção. 9957 1 POTENCIALIDADES DE USO DO FACEBOOK SOB UMA PERSPECTIVA DA MÍDIA- EDUCAÇÃO Joyce Galdino Gomes; Prof.ª Dr.ª Claudia Maria de Lima; Prof.ª Dr.ª Monica Fürkotter. UNESP, FCT, Campus de Presidente. INTRODUÇÃO Lançar um olhar mais atento sobre a relação de adolescentes com as novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) é fundamental, já que eles vivem imersos nestes espaços, buscando informações sobre a realidade que os cercam, construindo e compartilhando conceitos e opiniões. De acordo com Mamede-Neves e Duarte (2008) as novas tecnologias da informação e da comunicação são capazes de promover comunicação, interação, colaboração e, como consequência, construir novos conhecimentos. As crianças e jovens, conforme definido por Prensky (2001), chamados de “nativos digitais”, que chegaram após a popularização dos computadores pessoais e a criação da internet, compõem um segmento de usuários de TIC que as utilizam, bem como, antecipam o que está por vir, explorando de “forma criativa e diversificada tudo o que essas tecnologias têm a oferecer, ultrapassando, inclusive, os limites originalmente estabelecidos para o uso regular delas” (MAMEDE-NEVES e DUARTE, 2008, p.777). Hoje, há muita rapidez na transmissão de informações e a possibilidade de rompermos as barreiras geográficas e temporais com a internet. No entanto, as autoras afirmam que: Os modos de interação e de colaboração que serão estabelecidos entre essas pessoas, assim como o que elas vão fazer com essa possibilidade de contato, não são tão óbvios e não são pré-determinados ou mesmo controláveis; vão depender de quem está nos nós da rede que será tecida entre elas (MAMEDE-NEVES e DUARTE, 2008, p. 771). Dessa maneira, destacamos a necessidades de aprofundar nosso olhar sobre as novas possibilidades de interagir e aprender com as TIC, assim como envolver o campo da mídia-educação para maximizar a qualidade com que os adolescentes têm utilizado estas novas tecnologias, já que elas permitem uma participação mais ativa, possibilitando que o usuário crie, publique e compartilhe conteúdos. Assim, este artigo tem por objetivo refletir sobre as potencialidades de uso do Facebook, uma ferramenta colaborativa da Web 2.0, no espaço educacional, sob a perspectiva da mídia-educação, com intuito também de fundamentar futuras propostas de intervenções, com a utilização de redes sociais. 9958 2 1 SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E O AVANÇO DAS TIC Ao olhar a sociedade contemporânea percebemos que equipamentos tecnológicos estão cada vez mais presentes na vida do homem. Computadores, notebooks, celulares, tablets invadiram a vida moderna e as tecnologias têm facilitado cada vez mais o cotidiano, com informações disponíveis a todo momento, com muita facilidade e rapidez. A sociedade vive um momento de progresso das tecnologias, que por um lado tem contribuído com a democratização da informação, mas por outro, tem impulsionado também mudanças em nossas relações sociais. Conforme afirma Hall (1997, p. 20 apud FISCHER, 2002, p. 153): [...] vivemos em um tempo caracterizado por uma verdadeira revolução cultural, propiciada pelas forças que assumem no cotidiano da sociedade contemporânea, as distintas formas de comunicação e informação. Castells (2002) diz que um dos agentes responsáveis pelas mudanças na atualidade é a Internet, afirmando que ela é “o tecido das nossas vidas”. Segundo ele, a Internet começou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da era da informação, pois é por ela que a rede ganhou vida, podendo ser flexível e adaptável. A conexão dos vários “nós” de comunicação constituindo a rede de alcance mundial (World Wide Web), permitiu pela primeira vez a comunicação de muitos com muitos, em escala global, caracterizando um mundo novo de comunicação do qual Castells (2003) nomeou de Galáxia da Internet. A sociedade vive uma conexão global – é a sociedade em rede (CASTELLS, 2002), onde a informação, digitalizada, pode se reproduzir, circular, modificar e se atualizar em diferentes interfaces. Castells (2002) afirma que a Internet, como uma tecnologia da comunicação, tem transformado a maneira como nos comunicamos, já que a nossa prática é baseada na comunicação e, ao usar a Internet de várias maneiras nós a transformamos também. A Internet é uma das tecnologias mais revolucionárias da atualidade, pois com ela podemos organizar, processar e transformar as informações com muita rapidez e facilidade, aspectos que caracterizam a chamada sociedade da informação (CASTELLS, 2002). Assim como os equipamentos foram evoluindo, a Internet também progrediu como tecnologia, de Web 1.0 caminhou para Web 2.0, considerada a segunda geração de serviços online. Primo (2007, p. 1-2) refere-se à Web 2.0 como um “conjunto de novas estratégias mercadológicas a processos de comunicação mediados pelo computador, iniciando uma estrutura integrada de funcionalidades e conteúdo”. De acordo com O´Reilly (2005) a característica fundamental da Web 2.0 é a participação, de espectadores de sites estáticos os internautas passaram a protagonistas, gerando e interagindo conteúdos. A mudança significativa foi a atratividade, segundo este 9959 3 autor as repercussões sociais da Web 2.0 “potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de produção e circulação de informações, de construção social de conhecimento apoiada pela informática” (PRIMO, 2007, p. 1). Assim, a segunda geração da Web se destaca pela estrutura integrada de funcionalidade e conteúdos, reforça o trabalho coletivo, propiciando, com facilidade e agilidade, trocas de informações, tendo a informática como ponte para a construção do saber, diferente da primeira geração da Web, que trabalhava como unidades isoladas, com uma função estática e sem integração com os usuários. A Web 2.0 trouxe novas possibilidades de interação para os internautas, neste ambiente participativo, eles se mantêm informados, além de se comunicar com amigos, trocar experiências e compartilhar de informações. A difusão da Internet tem contribuído neste novo cenário, com mudanças nas relações sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outras. Estamos em uma realidade em construção, modificando-se sempre com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), compreendidas aqui como o uso da informática, do computador, da Internet, do CD-ROM, da hipermídia, da multimídia, de ferramentas para a educação a distância, como chat, grupos ou lista de discussão, correio eletrônico etc. e de outros recursos e linguagens digitais de que atualmente dispomos e que podem colaborar significativamente para tornar o processo de educação mais eficiente (MASETTO, 2010, p.140-141). A crescente utilização das TIC e as mudanças provocadas em muitas esferas na sociedade, que vive este “novo paradigma tecnológico” (CASTELLS, 2002), com o surgimento de novas formas de organização econômica, social, política e cultural, identificada na sociedade da informação levanta discussões sobre o impacto desta transformação na vida das pessoas. Assim, conforme afirma Coll e Monereo (2010, p.16), o fenômeno da internet seria “uma manifestação a mais, e com toda certeza, não a última, do novo paradigma tecnológico e das transformações socioeconômicas e socioculturais a ele associadas.” Diante deste novo cenário social, a educação também vive um momento repleto de novas possibilidades, já que as TIC, segundo Coll e Monereo (2010, p. 17) afetam praticamente todos os âmbitos de atividade das pessoas, desde as formas e práticas de organização social, até o modo de compreender o mundo, organizar essa compreensão e de transmiti-la para outra pessoas. Desse modo, é fundamental utilizar estas tecnologias a favor da educação, já que oferecem novas possibilidades aos usuários, principalmente de produzir conteúdos, abandonando a forma passiva de se relacionar com as tecnologias. 9960 4 2 WEB 2.0 E A CRESCENTE UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK AS TIC são importantes porque estão presentes praticamente em todas as esferas da vida do homem moderno, conforme já falado, e afetam nas formas e práticas de organização social, no modo de compreender o mundo, de organizar essa compreensão e transmiti-la a outras pessoas, ou seja, elas representam e transmitem informações (COLL; MONEREO, 2010, p. 17). De acordo com os autores, as TIC têm sido instrumentos para “pensar, aprender, conhecer, representar e transmitir para outras pessoas e para outras os conhecimentos adquiridos” (COLL; MONEREO, 2010, p. 17). Contudo, as TIC apresentam diferentes possibilidades e limitações para representar e transmitir uma determinada informação, e conforme afirmam Coll e Monereo (2010), essas diferenças implicam no ponto de vista educacional, já que cada aparato tecnológico apresenta suas especificidades. Crianças e jovens que nasceram e estão crescendo rodeados pela tecnologia, os chamados “nativos digitais” (PRENSKY, 2001), vivenciam a chamada Web 2.0, interagindo na rede, conhecendo pessoas, lugares, compartilhando informações, por isso, as ferramentas que mais nos interessam, são deste momento. Várias são as ferramentas que contribuem na educação, assim, conforme afirma Coll e Monereo (2010), analisar as que são relevantes não é tarefa fácil devido ao rápido surgimento e desenvolvimento de cada uma delas. O “Diretório de Ferramentas para a Aprendizagem” elencou as 20 ferramentas em 2008, que especialistas em aprendizagem e educadores preferem, explanado por Coll e Monereo (2010), como Google Docsi, Deliciousii, Bloggeriii A Web 2.0 trouxe novas possibilidades, e por elas os jovens estão migrando da mídia impressa para a Internet, ambiente que eles acreditam que podem obter informações, além de se relacionarem com o grupo de amigos (MAMEDE-NEVES e DUARTE, 2008). O que presenciamos na atualidade é o aumento do uso da Internet no mundo inteiro, assim como o aumento de utilização as redes sociais. Segundo o IBGE , entre outros. O cenário que os autores apontam é de um momento de mobilidade, do qual a distância não é uma barreira, os problemas se minimizam porque são compartilhados, e há uma força maior para trabalhar em conjunto e resolver problemas comuns. Assim, o desafio para a educação é saber aproveitar este momento que a sociedade atual oferece para a formação de pessoas. iv (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre 2005 e 2011, o crescimento do uso da internet foi de 143,8% (77 milhões de pessoas), número que chegou a cerca de 83 milhões de pessoas no fim de 2012. Outro dado relevante é que cerca de 82 milhões de brasileiros com conexão à rede de computadores, correspondente à 90,8%, acessam as redes sociais, e gastam até 4,9 horas por mês nelas. 9961 5 Pesquisas acadêmicas recentes também confirmam o crescimento da utilização das redes sociais, principalmente do Facebook entre os jovens, e indicam também as potencialidades destas ferramentas para a educação (PATRÍCIO, GONÇALVES, 2010; JULIANI et al,2012, PAIXÃO et al, 2012). Segundo Patrício e Gonçalves (2010, p. 593), a sociedade vive o auge das redes sociais: Estamos a viver o auge das redes sociais, impulsionado pelo carácter social e pela ideia de partilha, aliado a um ambiente informal, atractivo e catalisador, contribuindo para que cada vez mais jovens adiram a este tipo de software social e, particularmente, à rede social Facebook. Paixão et al (2012) discorrem sobre a utilização das redes sociais, mais especificamente sobre as potencialidades do Facebook do ensino superior de Matemática, e afirmam que a importância das redes sociais é indiscutível. De acordo com os dados do SocialBakersv O Facebook, de acordo com uma pesquisa realizada pela Hitwise , o Brasil é o segundo país ranking de usuários do Facebook no mundo e o primeiro em expansão, tendo crescido 22% nos três primeiros meses de 2012. De acordo com a mesma empresa, em abril, o Brasil chegou a 71 milhões de usuários ativos no Facebook, registrando neste único mês um aumento de 5% - 3,6 milhões de usuários. vi Dessa maneira, utilizar as redes sociais, definidas por Primo (2007, p.5), como um conjunto de pessoas (ou organizações ou outras entidades sociais) conectadas por relações sociais, como amizades, trabalho conjunto, ou intercâmbio de informações, é uma forma atrativa de ensinar crianças e jovens conectadas nelas diariamente. A crescente utilização pela geração atual das redes sociais, em específico, do Facebook, que aproxima relações, que facilita e agiliza a comunicação, que abre portas para a busca do conhecimento, é um incentivo para que estas ferramentas sejam utilizadas a favor do ensino. No entanto, é necessário ir além da utilização da ferramenta tecnológica apenas pela utilização, sem objetivos e conceitos bem definidos do que se deseja ensinar. , divulgada em 28 de janeiro de 2013, diz que a rede teve 63,40% de participação de visitas em dezembro de 2012, sendo mais que o dobro da participação no mesmo mês em 2011, com 31,40%. O tempo médio de visitas nesta rede por brasileiros foi de 27 minutos e 36 segundos, em dezembro de 2012, enquanto no Youtube, os usuários ficaram 23 minutos e 12 segundos de navegação em média, ficando em segundo lugar. O Orkut, com 4,21% de participação, ficou em terceiro lugar do mesmo período em 2011, quando liderava o ranking. Em quarto lugar ficou o site Ask.fm, com 2,50%, seguido do Twitter, com 2,06%. 9962 6 3 MÍDIA-EDUCAÇÃO: CAMINHOS PARA O DESAFIO DE EDUCAR As TIC, assim como a mídia, dividem hoje com a escola formas de socialização e participam como ambientes importantes de práticas socioculturais na construção de significados da nossa compreensão e relação com o mundo, sendo um desafio para a escola realizar uma educação que faça sentido a esta nova geração. Assim, é essencial que os conteúdos midiáticos sejam abordados pela escola com objetivos mais específicos, apoiando alunos e professores na construção de um conhecimento mais rico. Educar para a mídia é um caminho para gerar oportunidades e abrir portas para a construção do saber e práticas cidadãs para jovens em idade escolar. E, mesmo sabendo que as lógicas do sistema educacional são diferentes das do sistema comunicacional, havendo tensões, conflitos, resistências, riscos e equívocos na construção desse caminho, a mídia-educação pode contribuir para formação de crianças adolescentes. De acordo com Siqueira e Cerigatto (2012), pesquisas mostram que a apropriação crítica do discurso midiático em atividades educacionais não é também uma prática concretizada. As autoras citam alguns argumentos conhecidos que justificam a necessidade de incluir a educação para a mídia no currículo: 1. os meios de comunicação, em alguma de suas formas, ocupam posição central na vida pública de pessoas de todas as idades, em termos de trabalho, participação política, educação e entretenimento; 2. o teor das mensagens nunca é transparente, isto é, como em outras esferas discursivas, o conteúdo veiculado pelas mídias transmite valores e pontos de vista sectários, querendo parecer universais; 3. a participação social requer também pessoas hábeis para lidar com as mídias, que saibam, ao mesmo tempo, defender-se de efeitos nocivos e tirar proveito daquilo que lhes convém, como consumidoras e como cidadãs (SIQUEIRA E CERIGATTO, 2012, p. 237). Na defesa pela inclusão da educação para a mídia no currículo escolar, as autoras realizam um exame na base legal da educação brasileira que sugere que a legitimação do estudo dos meios de comunicação está nos referenciais e parâmetros curriculares do Ensino Fundamental e Médio. Segundo elas, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio abordam o estudo da mídia em pelo menos duas oportunidades. Na área de Código, Linguagens e suas Tecnologias, o documento prevê, nas atividades de ensino de artes, ensinar o aluno a: Entender o impacto das tecnologias de comunicação e informação na sua vida, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social; [...] Aplicar as tecnologias de comunicação e informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para a sua vida; (BRASIL, 2000a, p. 12 apud SIQUEIRA E CERIGATTO, 2012, p. 237) 9963 7 O uso dos meios de comunicação é previsto também na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias: No contexto escolar, especificamente, a própria organização curricular sob uma orientação interdisciplinar, explícita e consciente tanto para os educadores quanto para os estudantes, constitui uma oportunidade privilegiada para o desenvolvimento de competências associadas às tecnologias das Ciências Humanas. E o mesmo se pode dizer a respeito da utilização das tecnologias de informação e comunicação para a construção de redes informatizadas interativas ou a utilização das já existentes, a fim de propiciar a troca de informações ou o gerenciamento coletivo de projetos de estudo. (BRASIL, 2000b, p.17 SIQUEIRA E CERIGATO, 2012, p. 238). Desse modo, Siqueira e Cerigatto (2012), confirmam duas habilidades básicas que devem ser desenvolvidas nas aulas: • Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa, reconhecendo o papel das diferentes linguagens, dos diferentes agentes sociais e dos diferentes contextos envolvidos em sua produção. • Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos, a partir das categorias e procedimentos próprios do discurso historiográfico. (BRASIL, 2000b, p. 28 SIQUEIRA E CERIGATTO, 2012, p. 238). Mesmo assim, a mídia-educação não é um tema frequente em sala de aula. As autoras acreditam que tal lacuna é a ausência de materiais didáticos específicos sobre o assunto, sendo um ponto de partida para o trabalho delas, que descreve a produção e o teste de um material pedagógico para ensinar a leitura crítica da mídia para alunos do Ensino Médio, usando trailers de cinema e envolvendo leitura e escrita multimodais, em sintonia com os referenciais internacionais de promoção da media literacy e com os referenciais curriculares para a área de Códigos, Linguagens e suas Tecnologias. Assim, a utilização de qualquer mídia, não deve ser pensada no contexto escolar sem objetivos específicos, conforme afirmam Fantin e Ferrari (2013, p. 147), “o desafio é pensar na possibilidade de uso das redes digitais para além da perspectiva do consumo de produtos e informações, buscando o sentido de autoria e produção coletiva”. É este o momento que as ferramentas da Web 2.0 também proporcionam, de desenvolver as habilidades individuais e coletivas, o que favorece a exploração de novos conceitos (PESCE et al., 2009),. Dessa maneira, conforme afirma Fantin e Rodrigo (2013), é necessário entender a natureza dinâmica da mídia-educação, com seus conceitos e práticas sempre em construção, mas sobretudo, pensar também esta perspectiva afinada com os desafios atuais para quem a mídia-educação: reflete a conexão entre crianças, jovens e os meios de comunicação – durante seu tempo de lazer e nas instituições educacionais – e se desenvolve na fronteira de tensão entre as práticas, os conhecimentos 9964 8 empíricos e as teorias mídia-educacionais (TUFTE E CHRISTENSEN, 2009, p.102 apud FANTIN; RODRIGO, 2013, p. 150). O Facebook se destaca atualmente na rotina de crianças e jovens em idade escolar, e apresenta potencialidades para a escola aproveitar o sucesso da ferramenta e investir em um ensino contemporâneo, desenvolvendo atividades pelas redes sociais - ambientes atrativos, pelos quais os adolescentes gostam de interagir, colaborar e desenvolver competências. 4 POTENCIALIDADES DE USO DO FACEBOOK PARA O ENSINO Criado em 2004 pelo americano Mark Zuckerberg e por alguns colegas universitários de Harvard, o Facebook tinha o objetivo inicial de comunicação entre os alunos da Universidade de Harvard, com possibilidades de compartilhamento de informações acadêmicas, envio de mensagens e publicação de fotos (FERNANDES, 2011). Posteriormente a rede foi aberta a outras universidades e, em 2006, a rede social foi aberta a todos os internautas, período que houve uma grande expansão de usuários. Hoje, qualquer cidadão pode participar da rede social, que oferece várias ferramentas e aplicações de comunicação e compartilhamento de informação, como fotos, vídeos, comentários, mensagens, integração com outros sites e celulares, aplicações de e-mail, RSS feedsvii O Facebook tem atraído jovens pelas possibilidades de interação com amigos, de participação de grupos de discussão, de aplicações e jogos, sendo um espaço de encontro, de compartilhamento de fotos, ideias, opiniões, etc. O Facebook além de ser um canal de comunicação é uma plataforma para pessoas que têm interesse em procurar, partilhar ou aprender determinado assunto. É uma ferramenta popular, fácil de usar e que permita a integração de diversos recursos, como já dito (RSS feeds, blogs, Twitter, entre outros). Há a possibilidade de criação de grupos, seja de trabalho ou estudo, com ferramentas que possuem potencialidade para ensino, como o envio e recepção de mensagens ou notícias sobre qualquer assunto, como o compartilhamento de websites educativos; a criação de enquetes; carregamentos de arquivos, com a permissão de adicionar textos que podem ser comentados; criação de eventos; aniversariantes, compartilhamento de fotos e criação de álbuns; carregamentos de vídeos; além do bate-papo, que é uma comunicação em tempo real e a própria linha do tempo pode ser utilizada para o ensino. Há também a possibilidade de utilizar outras ferramentas como Youtube, que é uma ferramenta para partilhar e publicar vídeos; My Delicious, ferramenta para armazenar, organizar, catalogar e partilhar os endereços Web , além de oferecer segurança ao participante da rede, com a possibilidade de controlar quem pode ter acesso a informações específicas (EDUCAUSE, 2007). 9965 9 favoritos; Twitter, ferramenta de serviço de microbloging para partilhar o momento, entre outros. De acordo com o estudo de caso realizado por Patrício e Gonçalves (2010) sobre a utilização do Facebook no processo de ensino e aprendizagem de uma turma de 1º ano do curso de licenciatura em Educação Básica, é possível criar um ambiente de aprendizagem cooperativo e colaborativo e o Facebook, que é um espaço informal, foi se organizando como um “espaço de integração comunicação, partilha e colaboração entre alunos e professora, tornando-se num ambiente de aprendizagem efetivo, eficaz e envolvente” (PATRÍCIO; GONÇALVES, 2010, p. 598). Minhoto (2012) também destacou que ao utilizar as redes sociais durante a disciplina de biologia, há uma familiaridade dos alunos com o Facebook, possibilitando uma construção ativa do conhecimento. Zancanaro et al (2012) também apresentam que as facilidades da rede social Facebook geram motivação e agregam valor para os estudantes. Assim, o Facebook pode ser utilizado como uma ferramenta pedagógica, principalmente porque promove a colaboração no processo educativo (FERNANDES, 2011 apud JULIANI et al, 2012). No entanto, é necessário desenvolver metodologias para estimular o interesse dos alunos a participar de forma crítica e ativa nas redes sociais, conforme diz Seabra (2010), é fundamental que os alunos caminhem além do acesso às informações para que as ferramentas tecnológicas sejam significativas, os alunos precisam saber utilizá-las: O uso das redes sociais no processo educativo deve ser feito de maneira bem pensada, pois corre o risco de ser apenas uma distração, gerando mais ruído do que ajudando no processo de ensino e aprendizagem (SEABRA, 2010, p. 20). Entre estas fronteiras entre práticas, conhecimentos e teorias, percebe-se as potencialidades das redes sociais, em especial do Facebook para a educação, e também a mídia-educação como um caminho para a busca e construção do conhecimento. CONCLUSÕES Unir os atrativos das ferramentas da Web 2.0 com os objetivos da mídia-educação pode colaborar para a “escola ser um ponto de virada importante na transformação cultural e desenvolver uma função diferente de seu papel em relação às mídias”, além de assumir outra “disponibilidade para com a cultura da comunicação explorando formas e conteúdos que ainda são vistos apenas como entretenimento” (FANTIN, 2012, p.38). Já a escola necessita pensar na potencialidade das mídias a seu favor, já que elas além de assegurarem formas de socialização e transmissão de símbolos, participam 9966 10 também como elementos importantes da nossa prática social e cultural na construção de nossa compreensão do mundo (FANTIN, 2011). De acordo com Pischetola (2013, p.387), o maior desafio da escola hoje é utilizar “mídia e tecnologia de forma inteligente e eficiente na produção do conhecimento, não só utilizando a tecnologia como uma ferramenta a mais, mas gerando processos de aprendizagem efetivos”. Assim, as potencialidades das ferramentas da Web 2.0 e das redes sociais, em especial do Facebook, são notórias e estão em todos os setores da sociedade, especialmente na rotina dos jovens. É o que Fantin (2011) alerta, que as mediações escolares devem capacitar alunos a desenvolverem atitudes ativas que colaborem em um posicionamento mais crítico sobre o conteúdo que assistem, acessam, interagem, produzem e compartilham. A questão é aproveitar a facilidade que os alunos possuem de utilização dessas ferramentas em benefícios de sua aprendizagem. É utilizar da perspectiva da mídia- educação para inserir os jovens de forma crítica e cidadã na sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio): Parte II - Códigos, Linguagens e suas Tecnologias. Brasília: 2000a. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio): Parte IV - Ciências Humanas e suas Tecnologias. 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Acesso em: 30 out. 2012. i Google Docs: aplicativo do Google que permite aos usuários criar e editar documentos online ao mesmo tempo colaborando em tempo real com outros usuários. ii Delicious: é um serviço on-line, que permite adicionar e pesquisar bookmarks sobre qualquer assunto. iii Blogger: serviço do Google, que oferece ferramentas para edição e gerenciamento de blogs. iv Dados do suplemento Acesso à Internet e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso pessoal do IBGE, divulgado neste ano, entre 2005 e 2011. O suplemento pode ser acessado no site: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000012962305122013234016242127.pdf v SocialBakers: empresa especializada em análise de mídia social, a ferramenta da Socialbakers elabora análises com base nas informações disponibilizadas pela rede social e atualizadas diariamente, mais informações no site: http://www.socialbakers.com/facebook-statistics/ vi Hitwise: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/01/facebook-foi-rede-social-mais-acessada-do-brasil- em-dezembro.html vii RSS Feeds: é padrão baseado na linguagem XML que informa os leitores sobre as novidades dos sites de seu interesse, sem ter que entrar no endereço do site para ter acesso às informações. É usado principalmente em sites de notícias e blogs. 9969 http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000012962305122013234016242127.pdf� http://www.socialbakers.com/facebook-statistics/� http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/01/facebook-foi-rede-social-mais-acessada-do-brasil-em-dezembro.html� http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/01/facebook-foi-rede-social-mais-acessada-do-brasil-em-dezembro.html� Trabalho Completo: Button5: Ficha Catalográfica: Abertura: Boas Vindas: Tema do Congresso: Comissões: Sessões de Apresentação: Programação: Áreas: Títulos: