UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL FERNANDO DANDARO EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AO ENSINO SUPERIOR COMO FERRAMENTA PARA GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR Franca-SP 2021 FERNANDO DANDARO EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AO ENSINO SUPERIOR COMO FERRAMENTA PARA GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito para obtenção de Título de Doutor em Serviço Social. Área de Concentração: Serviço Social - Trabalho e Sociedade. Orientadora: Profa. Dra. Analúcia Bueno dos Reis Giometti Franca-SP 2021 FERNANDO DANDARO EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AO ENSINO SUPERIOR COMO FERRAMENTA PARA GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL: UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito para obtenção de Título de Doutor em Serviço Social. Área de Concentração: Serviço Social – Trabalho e Sociedade. BANCA EXAMINADORA Presidente __________________________________________________ Profa. Dra. Analúcia Bueno dos Reis Giometti 2º Examinador __________________________________________________ Profa. Dra. Maria José de Oliveira Lima 3º Examinador __________________________________________________ Profa. Dra. Andréia Aparecida Reis de Carvalho Liporoni 4º Examinador __________________________________________________ Prof. Dr. Daltro Oliveira de Carvalho 5º Examinador __________________________________________________ Profa. Dra. Rita de Cássia Lopes Oliveira Mendes Franca, 01 de setembro de 2021. DEDICATÓRIA Á meus dois filhos, Vitor e Arthur que tanto prezo pela sua formação cívica e que hoje são o principal incentivo que alimentam o nível de esforços que ativam minha motivação diária, tanto para o trabalho laboral como para a conquista deste sonho acadêmico, com intuito que esta pesquisa, seja um mecanismo para incentivar a reprodução das boas ações em relação a Educação Ambiental; Aos meus país, por toda serenidade e cuidado com minha formação, dentro de um ceio de amor e constante incentivo, o que foi crucial para alcançar essa conquista acadêmica; Á todos os profissionais da área de Gestão, na esperança de que possam reconhecer seu papel na sociedade como elemento transformador nos diversos espaços organizacionais, promovendo dessa forma, um contexto de desenvolvimento socioambiental e de reprodução contínua da sustentabilidade. AGRADECIMENTOS Aos meus país, Neuza e Renato pelo incentivo, pela confiança e por acreditar incondicionalmente na minha capacidade; A Profa. Dra. Analúcia Bueno dos Reis Giometti, por me aceitar como orientando no PPGSS, por contribuir para meu desenvolvimento como ser humano, e, principalmente, por exercer a Educação Ambiental, compreendendo de forma humilde os desafios que foram superados, motivando a cada momento, a não desistir do sonho do Doutorado, e, por disponibilizar seu vasto conhecimento na construção dessa pesquisa; Ao Prof. Dr. Daltro de Oliveira Carvalho, pela amizade, companheirismo e dedicação nesta jornada acadêmica, bem como pelos momentos fraternos e orientações diversas, que foram de grande valia para este trabalho; Aos professores membros da banca avaliadora, pela disponibilidade, participação e pelas contribuições no enriquecimento deste trabalho; A todos os colegas docentes e discentes do PPGSS que, juntos, por meio do processo de socialização, contribuiu para a evolução do meu desenvolvimento pessoal e profissional, em especial, sobre as questões socioambientais. Muito Obrigado! DANDARO, Fernando. Educação Ambiental Aplicada ao Ensino Superior como Ferramenta para Gestão do Desenvolvimento Socioambiental: Uma Proposta Interdisciplinar. 2021. 174 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Faculdades de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2021. RESUMO A Educação Ambiental é o instrumento fundamental, para garantir que as ações humanas possam estar em consonância com um futuro sustentável. Neste sentido, deve-se garantir que a educação promova competências e habilidade aos diversos agentes sociais, com destaque aos profissionais formados pelo Ensino Superior, que, são responsáveis pela utilização dos recursos organizacionais e seus impactos socioambientais. Portanto, essa pesquisa tem como objetivo analisar as formas de aplicação da Educação Ambiental nos Cursos de Graduação de Gestão na modalidade Presencial das Instituições de Ensino Superior de Sertãozinho-SP e suas contribuições na formação de profissionais que atuam como agentes de transformação, frente à oferta de projetos, programas e serviços que contribuem para o Desenvolvimento e Gestão Socioambiental do Município. Em relação aos procedimentos metodológicos, a teoria dialética hermenêutica foi utilizada como um caminho para a aplicação das técnicas das pesquisas bibliográfica, exploratória, análise de conteúdo e pesquisa de campo de caráter descritivo, com aplicação de questionários e entrevista, obtendo dados secundários e primários para uma análise, a partir das abordagens qualitativa e quantitativa. Como resultado, verificou-se um cenário educacional em processo de construção de saberes e de desenvolvimento de metodologias específicas para a aprendizagem sobre a oferta de conteúdos relacionados à Educação Ambiental, porém, identificou-se um modelo de Projeto Interdisciplinar como proposta para atender as exigência e políticas sociais, bem como garantir uma formação adequada aos alunos e futuros profissionais que estão no ensino superior. Assim, a pesquisa demonstrou que 97% dos ingressante, 98% dos formandos e 100% dos docentes entendem que o Projeto Interdisciplinar contribuiu para o conhecimento adquirido em Educação Ambiental, provendo competências e habilidades para que os profissionais estejam preparados para elaborar, implantar e atuar em Projetos de Educação Ambiental, visto que houve intervenção para o desenvolvimento sustentável em 40 empresas de 35 segmentos diferentes e diversas ações, seja por meio da sensibilização e conscientização, orientações sobre consumo, atitudes beneficentes ou programas de gerenciamento de resíduos. Palavras-Chave: Desenvolvimento Sustentável. Educação Ambiental. Ensino Superior. Gestão. Projeto Interdisciplinar. DANDARO, Fernando. Environmental Education Applied to Higher Education as a Tool for Social and Environmental Development Management: An Interdisciplinary Proposal. 2021. 174 f. Thesis (PhD in Social Work) - College of Humanities and Social Sciences, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Franca, 2021. ABSTRACT Environmental Education is the fundamental instrument to guarantee that human actions can be in line with a sustainable future. In this sense, it must be ensured that education promotes competences and skills to the various social agents, especially professionals trained in Higher Education, who are responsible for the use of organizational resources and their socio-environmental impacts. Therefore, this research aims to know the ways of applying Environmental Education in Undergraduate Management Courses in the On-Campus modality of Higher Education Institutions in Sertãozinho-SP and their contributions in the training of professionals who act as agents of change in face of the offer of projects, programs and services that contribute to the Municipality's Social and Environmental Management and Development. Regarding the methodological procedures, the hermeneutic dialectical theory was used as a way to apply the techniques of bibliographic, exploratory research, content analysis and descriptive field research, with application of questionnaires and interviews, obtaining secondary and primary data for an analysis based on qualitative and quantitative approaches. As a result, there was an educational scenario in the process of building knowledge and developing specific methodologies for learning about the provision of content related to Environmental Education, however, an Interdisciplinary Project model was identified as a proposal to meet the requirements and social policies, as well as ensuring adequate training for professionals who graduated from higher education, the survey showed that 97% of freshmen, 98% of graduates and 100% of teachers understand that the Interdisciplinary Project contributed to the knowledge acquired in Environmental Education, providing skills and abilities so that professionals are prepared to prepare, implement and act in Environmental Education Projects, as there was intervention for sustainable development in 40 companies from 35 different segments, various interventions either through awareness and awareness, guidance on consumption , charitable actions or pro grams of waste management. Keywords: Environmental Education. Interdisciplinary Management. Project. Sustainable Development. University Education. DANDARO, Fernando. La educación ambiental aplicada a la educación superior como herramienta para la gestión del desarrollo social y ambiental: una propuesta interdisciplinaria. 2021. 174 f. Tesis (Doctorado en Trabajo Social) - Facultades de Ciencias Humanas y Sociales, Universidad Estadual de São Paulo “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2021. ABSTRACTO La Educación Ambiental es el instrumento fundamental para asegurar que las acciones humanas puedan estar alineadas con un futuro sustentable. En este sentido, se debe asegurar que la educación promueva competencias y habilidades a diversos agentes sociales, especialmente a los profesionales egresados de la Educación Superior, quienes son responsables del uso de los recursos organizacionales y sus impactos socioambientales. Por lo tanto, esta investigación tiene como objetivo analizar las formas en que la Educación Ambiental puede ser aplicada en los Cursos de Gestión de Pregrado en la modalidad Presencial de las Instituciones de Educación Superior en Sertãozinho-SP y sus contribuciones a la formación de profesionales que actúan como agentes de cambio, dado la oferta de proyectos, programas y servicios que contribuyan a la Gestión y Desarrollo Social y Ambiental del Municipio. En cuanto a los procedimientos metodológicos, se utilizó la teoría hermenéutica dialéctica como forma de aplicar las técnicas de investigación bibliográfica, exploratoria, análisis de contenido e investigación de campo descriptiva, con aplicación de cuestionarios y entrevistas, obteniendo datos secundarios y primarios para un análisis basado en criterios cualitativos y enfoques cuantitativos. Como resultado, hubo un escenario educativo en el proceso de construcción de conocimiento y desarrollo de metodologías específicas para el aprendizaje sobre la provisión de contenidos relacionados con la Educación Ambiental, sin embargo, se identificó un modelo de Proyecto Interdisciplinario como una propuesta para cumplir con los requerimientos y políticas sociales, así como asegurar una adecuada formación a los estudiantes y futuros profesionales que se encuentren en la educación superior. Así, la encuesta arrojó que el 97% de los estudiantes de primer año, el 98% de los egresados y el 100% de los docentes entienden que el Proyecto Interdisciplinario contribuyó al conocimiento adquirido en Educación Ambiental, brindando habilidades y destrezas para que los profesionales estén preparados para elaborar, implementar y actuar en Proyectos de Educación Ambiental, ya que se intervino para el desarrollo sustentable en 40 empresas de 35 segmentos diferentes y diversas acciones, ya sea a través de concientización y sensibilización, orientación en consumos, actitudes benéficas o programas de manejo de residuos. Palabras Clave: Educación Ambiental. Enseñanza superior. Desarrollo Sostenible. Gestión. Proyecto interdisciplinario. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais CEA Centro de Educação Ambiental CEFET Centro Federal de Educação Técnica CEP Comitê de Ética e Pesquisa CET Centro de Educação Técnica CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CF Constituição Federal CGEA Coordenadoria Geral de Educação Ambiental CTCNSA Colégio Técnico Comercial Nossa Senhora Aparecida DEA Departamento de Educação Ambiental DNC Diretrizes Curriculares Nacionais EA Educação Ambiental FATEC Faculdade de Tecnologia FNSA Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Aparecida IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES Instituição de Ensino Superior IFSP Instituto Federal de Educação do Estado de São Paulo Kg Kilograma LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MEC Ministério da Educação MMA Ministério do Meio Ambiente NDE Núcleo Docente Estruturante ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas PDI Plano de Desenvolvimento Institucional PEEA Política Estadual de Educação Ambiental PI Projeto Interdisciplinar PIEA Programa Internacional de Educação Ambiental PMEA Política Municipal de Educação Ambiental PMGIRS Programa Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos CNE Conselho Nacional de Educação PNEA Política Nacional de Educação Ambiental PNMA Política Nacional de Meio Ambiente PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPC Projeto Pedagógico de Curso PPGSS Programa de Pós-Graduação em Serviço Social PPP Projeto Político Pedagógico ProFEA Projeto de Formação de Educadores Ambientais ProNEA Programa Nacional de Educação Ambiental SEAD Secretaria de Estado da Administração SEMAR Sociedade Educacional Marechal Rondon SESu Secretaria de Ensino Superior Sisnama Sistema Nacional de Meio Ambiente SMA Sistema de Meio Ambiente SP São Paulo TCC Trabalho de Conclusão de Curso TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNESP Universidade Estadual Paulista ÚNICA União da Indústria de Cana de Açúcar LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Contribuição do Projeto Interdisciplinar............................................ 133 Figura 2 – Proposta de Concepção do Projeto Interdisciplinar........................... 133 Figura 3 – Formulação e Implantação do Modelo de Projeto Interdisciplinar..... 134 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Conhecimento sobre o PI................................................................ 87 Gráfico 2 – Visão dos Ingressantes em relação a Educação Ambiental........................................................................................................... 88 Gráfico 3 – Conhecimento para Atuar em Projetos............................................ 89 Gráfico 4 – Competência para Implantar Projetos............................................. 89 Gráfico 5 – Nível de Conhecimento sobre Educação Ambiental........................ 90 Gráfico 6 – O PI Favoreceu a Formação no Curso de Administração................ 91 Gráfico 7 – Como o PI contribuiu para o processo de Ensino Aprendizagem dos Formandos.................................................................................................. 92 Gráfico 8 – Contribuição do PI para integração dos conteúdos nas disciplinas.. 93 Gráfico 9 – Contribuição do PI recebida na formação para a concepção de Educação Ambinetal.......................................................................................... 94 Gráfico 10 – Satisfação do PI para a Formação do Profissional em EA...................................................................................................................... 95 Gráfico 11 – Aptidão para Atuar em Projetos de EA.......................................... 95 Gráfico 12 – Conhecimento para Implantar Políticas de EA.............................. 95 Gráfico 13 – Nível de Conhecimento e Habilidades recebidos para a EA.......... 96 Gráfico 14 – Faixa Etária dos Professores Respondentes................................. 99 Gráfico 15 – Finalidade do PI na Formação Profissional................................... 100 Gráfico 16 – Como o PI contribuiu para o processo de Ensino Aprendizagem, na visão do Docentes......................................................................................... 101 Gráfico 17 – Principais Dificuldades na Aplicação do PI.................................... 101 Gráfico 18 – Características Promovidas na Proposta do PI das disciplinas...... 102 Gráfico 19 – Contribuição do PI na Formação do Administrador para EA.......... 103 Gráfico 20 – Aptidão para Atuar em Projetos de EA........................................... 104 Gráfico 21 – Conhecimento para Implantar Políticas de EA.............................. 104 Gráfico 22 – Nível de Conhecimento e Habilidades sobre EA oferecidos nas disciplinas.......................................................................................................... 105 Gráfico 23 – Característica sobre Educação Ambiental contida na proposta do PI das disciplinas........................................................................................... 105 Gráfico 24 – Aplicação da Educação Ambiental dentro da proposta do PI......... 106 Gráfico 25 – Visão do PI para Ingressantes e a Contribuição para os Formandos 114 Gráfico 26 – Contribuição do PI para o Ensino Aprendizagem........................... 115 Gráfico 27 – Contribuição do PI para a Compreensão de características sobre EA...................................................................................................................... 117 Gráfico 28 – Nível de Satisfação da Contribuição do PI para a Formação do Administrador em EA......................................................................................... 119 Gráfico 29 – Aptidão para Atuar em Projetos de EA e Competências para Implantar Políticas de EA................................................................................... 120 Gráfico 30 – Nível de Conhecimento Adquirido sobre EA.................................. 121 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Movimentos Sociais e suas Contribuições para Educação Ambiental........................................................................................................... 39 Quadro 2 – Instituições de Ensino Superior de Sertãozinho e Cursos Oferecidos.......................................................................................................... 60 Quadro 3 – Cursos Superiores de Gestão Ofertados na Cidade de Sertãozinho........................................................................................................ 62 Quadro 4 – Ações e Programas de Educação Ambiental no Município de Sertãozinho........................................................................................................ 72 Quadro 5 – Análise dos PPC’s dos Cursos de Graduação em Gestão de Sertãozinho........................................................................................................ 79 Quadro 6 –Formação Recebida pelos Formandos em Relação a Educação Ambiental........................................................................................................... 97 Quadro 7 – Concepção dos Formandos sobre Educação Ambiental................. 98 Quadro 8 – Descrição da Entrevista com o Coordenador de Curso.................. 108 Quadro 9 – Ações e Práticas de Educação Ambiental nas Organizações....... 176 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 15 1.1. Justificativa.............................................................................................. 16 1.2. Objetivos.................................................................................................. 22 1.3. Procedimentos Metodológicos................................................................. 23 2. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL............... 31 2.1. Pensamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável......................... 31 2.2. Movimentos Sociais e Políticas de Educação Ambiental no Brasil........... 37 2.3. Interdisciplinaridade e Gestão Socioambiental......................................... 50 3. O CENÁRIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE SERTÃOZINHO.............................................................................................. 57 3.1. Estrutura Educacional e os Cursos de Gestão na modalidade Presencial 57 3.2. Promoção da Educação Ambiental e Políticas Municipais...................... 63 3.3. Ações e Projetos Municipais de Educação Ambiental.............................. 71 4. PESQUISA SOBRE AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR COM FOCO NOS CURSOS DE GESTÃO NA MODALIDADE PRESENCIAL DO MUNICÍPIO DE SERTÃOZINHO............ 76 4.1. Pesquisa Documental nos PPC’s - Projetos Pedagógicos de Cursos....... 76 4.2. Contextualização da Pesquisa de Campo: Histórico da Instituição e do Curso.............................................................................................................. 81 4.3. Pesquisa de Campo e Coleta de Dados................................................... 85 4.3.1. Coleta de Dados dos Questionários................................................ 87 4.3.2. Coleta de Dados da Entrevista....................................................... 107 4.4. Análise e Interpretação dos Dados da Pesquisa de Campo.................... 112 4.5. Resultados da Pesquisa.......................................................................... 123 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 137 6. REFERÊNCIAS.......................................................................................... 144 Apêndice I – Modelo de Questionários e Roteiro de Entrevista................. 152 Apêndice II – Modelo de TCLE...................................................................... 159 Apêndice III – Declaração de Autorização para Pesquisa na FNSA.......... 161 Apêndice IV – Carta de Intenções no Processo Seletivo do PPGSS......... 163 Apêndice V – Relato de Experiência Pessoal e Profissional para Qualificação da Tese no PPGSS.................................................................. 166 Apêndice VI – Carta do Pedido de Prorrogação de Defesa da Tese do PPGSS........................................................................................................... 170 15 1. INTRODUÇÃO A sociedade consumista foi concebida sem preocupações a respeito do uso adequado dos recursos naturais. Este cenário, se confirma não apenas pela alta demanda por produtos, que geralmente são descartáveis, tão pouco, frente ao descaso com os resíduos desse processo, mas sim, pela falta de formação educacional adequada. Essa formação precisa ser ofertada de tal maneira que possa transformar o cenário atual para uma sociedade mais responsável e preocupada com o futuro e, em consonância com o pensamento de Merico (2009, p. 12), onde “sustentabilidade significa tornar as coisas permanentes ou duráveis através do tempo”. Ainda, de acordo com Alencastro (2015), a humanidade está numa encruzilhada, pois, deve decidir entre permanecer atrelada ao modelo de desenvolvimento que incentiva a produção e o consumismo desenfreado ou buscar uma nova racionalidade, baseada na sustentabilidade e no respeito ao meio ambiente. Esse respeito representa uma nova ética que, ainda que bem-intencionada, não reconhece a contribuição da natureza e os serviços ecológicos como potencial associativo ao processo econômico, dentro de uma possível racionalidade produtiva alternativa (LEFF, 2006). Porém, independe da alternativa adotada, uma mudança na concepção da humanidade em relação ao meio ambiente torna-se emergente em todos os níveis educacionais e esferas sociais, para que novas políticas sejam implantadas de caráter interdisciplinar. A Educação Ambiental, por sua vez, deverá ser o princípio norteador das ações humanas e da estrutura social em todos os seus aspectos. Seguindo este pensamento Tenório et al (2006, p. 7), afirmam que os relacionamentos com os diversos públicos serão não apenas salutares ou simpáticos, mas, substancialmente comprometidos com os efeitos concretos na melhoria da qualidade de vida. Da mesma forma que o diálogo com as diversas áreas do conhecimento é essencial para uma concepção interdisciplinar de Sustentabilidade. Assim, garantir recursos para as próximas gerações é tornar o mundo sustentável, mas, a própria sociedade precisa ter consciência e atitudes favoráveis. Tal comportamento somente é promovido por meio da Educação Ambiental, porém, mais do que ofertar uma formação profissional, é preciso preparar o sujeito transformando-o em cidadão com competências e habilidades para atuar de forma sustentável em todos os ambientes e papéis sociais. 16 Neste sentido, Smith (1998, p. 130-131) afirma que: A cidadania ecológica levará a espécie humana a uma reavaliação fundamental das suas capacidades para agir sobre o meio ambiente. A complexidade, a incerteza e a interconexão crescente de todas as coisas vivas, bem como os sistemas que sustentam a vida das mesmas, tornam a reavaliação das obrigações humanas ainda mais imperativas. “Nesta visão, a Educação Ambiental se transforma num mecanismo que possibilita criar condições para que, de forma crítica, transformadora e emancipatória, o homem repense suas ações” (GIOMETTI, 2017, p. 20). Somente a partir de significativas mudanças nos princípios e valores individuais, será possível reconhecer a consciência da preservação ambiental, para que cada pessoa na qualidade de ator social torna-se um agende de transformação, sendo considerado como multiplicador de ações sustentáveis. Portanto, a Educação Ambiental é aplicada como instrumento essencial para a construção de novos valores individuais contribuindo para a evolução do desenvolvimento social. Para Zouvi e Albanus (2013), a educação tem poder de promover uma grande mudança para o futuro do planeta, tendo em vista que, a educação forma tanto o povo quanto seus líderes, assim, o homem chegará a ser agente de transformação através da reflexão sobre seu ambiente concreto e quanto mais ele reflete sobre a realidade, sobre a sua própria situação concreta, mais se torna progressivo e gradualmente consciente, comprometido a intervir na realidade para mudá-la, sendo este um dos papeis da Educação Ambiental. 1.1. Justificativa Pode-se considerar que o movimento ambiental iniciado na metade do século XX, trouxe à tona, a necessidade de um olhar mais específico sobre a relação homem e natureza, que sob o viés da sustentabilidade promova um desenvolvimento de soluções para uma harmonia entre produção, consumo e sociedade. Esse novo olha foi preciso, pois: As primeiras que surgiram em uma época em que os problemas ambientais eram de pequena expressão, em virtude das reduzidas escalas de produção e das populações comparativamente menores e pouco concentradas. As exigências ambientais eram poucas e a fumaça das chaminés era o símbolo de progresso, apregoada orgulhosamente na propaganda de diversas indústrias (DONAIRE, 2009, p. 36). De acordo com Barbieri (2011) e Giometti (2017), a partir de 1970 começaram a surgir em vários países políticas governamentais que procuravam tratar as questões 17 ambientais de modo articulado, a fim de introduzir uma abordagem preventiva. Levando em consideração esta concepção, observa-se que a preocupação com a preservação ambiental e com a Sustentabilidade atualmente é tema de grande repercussão, tanto que provocou o surgimento de diversas políticas com o objetivo de garantir a transformação de uma sociedade mais responsável com os recursos naturais. Corroborando com essa discussão Brasil (2012) apud Zouvi e Albanus (2013, p. 17) relatam que: É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos, para expandir as bases de uma opinião pública bem informada e propiciar uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades, inspirada no sentido de responsabilidade quanto à proteção e melhoria do meio em toda sua dimensão humana. Assim, mesmo frente às preocupações tardias que surgiram a partir da década de 70 sobre meio ambiente e se efetivaram em políticas no mundo todo, o processo educacional só produziu ações favoráveis nas décadas seguintes, após o surgimento de legislação específica, quando as instituições de ensino foram obrigadas a ofertar conteúdos que abordassem a Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades educacionais, como é o caso na Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999; ALMEIDA, 2009; DANDARO, 2015; GIOMETTI, 2017). A partir desse momento foi possível aprimorar os modelos educacionais, pelo menos no que diz respeito à conscientização, competências e habilidades, pois as políticas de meio ambiente, foram institucionalizadas em leis federais e estaduais propondo sua implantação nos currículos de todos os níveis de ensino. Mas, a efetividade dessa institucionalização deve ser colocada em prática de forma estratégica para contribuir com o processo de ensino aprendizagem, sem grandes alterações das propostas pedagógicas, seus objetivos e finalidades já existentes no modelo de educacional presente. Para tanto, algumas estratégias pedagógicas tornam-se essenciais para cumprir a exigência das políticas de Educação Ambiental com vistas à formação humana e profissional. Ainda, justifique-se que o interesse pelo tema da pesquisa também possui caráter pessoal e profissional, especificamente pela atuação exercida no ensino superior ao longo de quase duas décadas, servindo a educação no sentido de cumprir as políticas e exigências legais, no que tange a necessidade de atender as questões étnicas raciais, direitos humanos, inclusão e desenvolvimento sustentável nos projeto 18 pedagógicos; provocaram interesses profundos nesta pesquisa, na busca de soluções estratégicas para o atendimento efetivo, bem como, na promoção de uma reprodução prática de tais exigências nos ambientes sociais. Diante deste contexto, diversas são as possibilidades para a oferta de conteúdos sobre Educação Ambiental nos currículos, agregando processos, métodos e projetos específicos como ferramenta para potencializar o ensino e suprir a lacuna na formação profissional, esquecida durante muitos anos. Seguindo este pensamento, Carvalho et al. (2016) relatam que atualmente a Educação Ambiental deve constar nos currículos de todos os níveis de ensino e em programas direcionados à comunidade universitária, como elemento permanente e essencial da educação nacional, pois, conforme a Política de Meio Ambiente, definida por meio da Lei 6.983/81 e da Política Nacional de Educação, publicada pela Lei 9.795/99, ambas apresentam como princípios básicos da Educação Ambiental, o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. As referidas leis fomentam que a dimensão ambiental precisa ser abordada em todos os currículos e níveis de formação. Estas políticas preveem que as questões sobre meio ambiente, que tratam de Preservação de Recursos Naturais, Sustentabilidade, Educação e Gestão Ambiental sejam trabalhadas em conteúdo dentro dos currículos, a partir de disciplinas, componentes curriculares ou projetos, sendo estes ofertados das mais diversas possibilidades, porém, existem algumas dificuldades a serem vencidas. Neste sentido, Springett (2005), afirma que a introdução da Educação Ambiental nos currículos formais, como instrumento que estimule os indivíduos à reflexão e à ação acerca dos desafios da preservação e Gestão Ambiental, não tem se mostrado uma tarefa simples. Ainda, os currículos tradicionais apresentam desafios na sua estrutura em termos de organização de assuntos que possibilitem uma aprendizagem mais aprofundada, voltada também para os anseios sociais. Mas, como operacionalizar a Educação Ambiental incorporando-a ao projeto pedagógico e adequando-a a realidade local da comunidade escolar? Tal questão, deve ser encarada com a visão da complexidade do assunto sobre o aspecto ambiental, as interações entre ambiente, cultura e sociedade, o caráter crítico, político, interdisciplinar, contínuo e permanente (MELLO; TRAJBER, 2007). Porém, além 19 dessas questões, existem aspectos da educação, ou seja, algumas especificidades, que podem ser desenvolvidos em cada nível e modalidade de ensino. Nesta linha de raciocínio, entende-se que a Educação Ambiental se torna um instrumento adequado para atender as exigências políticas, vencer os desafios curriculares e garantir um processo de ensino aprendizagem satisfatório. Portanto, a discussão em torno da Educação Ambiental torna-se cada vez mais necessária na formação do indivíduo e na continuidade deste processo a fim de promover uma boa qualidade de vida para o ser humano e garantir a continuidade dos recursos naturais disponíveis (CASTRO NETO, 2011). Giometti (2017, p. 56), discorre que: Não obstante, a questão ambiental gera uma ampla discussão devido ao seu caráter dinâmico e abrangente presente nas mais diversas esferas e instituições, tanto nas matérias de educação formal quanto nos meios de comunicação em massa e em diversas organizações. Essa perspectiva abre espaço para que um diálogo interdisciplinar, multifuncional e socialmente compartilhado seja promovido, não apenas de caráter teórico, mas, sobretudo, que seja efetivado em ações práticas dentro dos ambientes de atuação de cada pessoa, tanto pessoal como profissional, promovendo um cenário de desenvolvimento socioambiental. Assim, pode-se entender que a Educação Ambiental no Brasil não restringe seu olhar apenas à proteção e uso sustentável de recursos naturais, pois esta também, assume uma perspectiva mais abrangente, incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis, abrangendo a educação em sua complexidade e plenitude (GOMES, 2016). Essa concepção está presente nas diversas leis e políticas que foram sendo elaboradas e, de forma, vagarosa está sendo colocada em prática. Destaca-se a partir da institucionalização da Educação Ambiental na Constituição Federal, novos avanços foram conquistados. Giometti (2017, p. 66) considera que: a Constituição deu o devido destaque para as questões ambientais. É uma legislação moderna e avançada em relação aos demais países, mesmo comparada aos mais desenvolvidos, pois estabelece o direito das “futuras gerações”, mostrando a responsabilidade da geração que em nossos dias ocupa o território brasileiro. A dimensão preventiva da Educação Ambiental não pode ser esquecida e deve ser adotada como importante aliada para se atingirem os objetivos da lei. A partir daí, as Constituintes Estaduais também passaram a incorporar, em seus textos, a promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. 20 Mas é preciso articular de forma eficiente as políticas ambientais, as propostas pedagógicas e os agentes de transformação que farão parte do processo de Educação Ambiental, para que a real transformação do sujeito para o exercício da cidadania ecológica, seja praticada de forma satisfatória em prol da sustentabilidade. Diante desse contexto, esta pesquisa tem como proposta analisar a aplicação da Educação Ambiental no contexto do Ensino Superior da Cidade de Sertãozinho, especificamente, sobre os mecanismos pedagógicos utilizados pelos Cursos de Graduação na área de Gestão, buscando soluções interdisciplinares para que as questões relacionadas a preservação e conservação do meio ambiente estejam inseridas nas competências e habilidades desses profissionais, possibilitando uma aplicação prática como forma de promoção do desenvolvimento socioambiental. Para Barbieri e Silva (2011), as Instituições de Ensino Superior possuem importante responsabilidade na promoção da Educação Ambiental, pois além de promover a construção de novos conhecimentos, também estão presentes nos princípios e diretrizes do desenvolvimento sustentável, como por exemplo no Seminário de Belgrado em 1975, que recomenda o desenvolvimento de programas de EA – Educação Ambiental para alunos de nível superior; a Conferência de Tbilisi em 1977, que refere-se sobre a necessidade de formação de profissionais específicos, como engenheiros, administradores, economistas, entre outros que exercem grande influência nas atividades ao meio ambiente, e, à necessidade de criar programas pós- universitários para especialistas que atuam nas diversas áreas como gestão e educação. Pois, No contexto atual, verifica-se um posicionamento das organizações no sentido de inserção da variável ecológica em sua política de atuação, em face das pressões do mercado, provocando mudanças positivas não só no ambiente da empresa como no meio externo, afetando a comunidade, funcionários, fornecedores, etc. Expande-se a idéia de responsabilidade social da empresa e a necessidade de adequação e mudanças de valores (TEIXEIRA; TEIXEIRA, 2006, p.16). Para tanto, torna-se prioritário que a formação profissional ofertada no ensino superior garanta competências e habilidades para que os alunos, futuros gestores, possam ser multiplicadores do processo de gestão socioambiental sob o prisma da sustentabilidade. 21 Dessa forma, o estudo também pretende auferir a relação entre a informação que os estudantes possuem sobre as questões ambientais e a capacidade de as compreender como aspetos relevantes para a vida individual e seus reflexos sociais, uma vez que o gestor é detentor de recursos oriundos do ambiente natural, sendo responsável por sua vez, pelo desenvolvimento sustentável. Toda essa interrelação entre educação, políticas públicas, estratégias pedagógicas, modelos de gestão, competências e habilidades promovidas pela pesquisa, poderá elucidar novas soluções que de forma interdisciplinar, venha a contribuir para a inserção da Educação Ambiental nos Cursos de Graduação da área de Gestão. Teixeira e Teixeira (2006) argumentam que, com base nas novas exigências de profissionalização requeridas pelo mercado, percebe-se que os cursos da área de Gestão devem adotar uma nova proposta de formação profissional e de ensino- aprendizagem para a consolidação do perfil generalista, multidisciplinar e polivalente, considerando principalmente as mudanças organizacionais e ambientais. Esse diálogo com o ambiente permeia obrigatoriamente o estudo das relações sociais e suas decorrências entre o homem, a natureza e os processos produtivos e reprodutivos. Tais considerações justificam o vínculo na linha de pesquisa “Estado, Políticas Sociais e Serviço Social”, pois o trabalho pretende abordar a posição do Estado frente à concepção e promoção do desenvolvimento sustentável, das políticas de ensino e da Educação Ambiental, fazendo uma análise de como esta temática produz reflexos na sociedade. Sobre o eixo de pesquisa “Educação Ambiental, Gestão Socioambiental e Sustentabilidade Socioambiental”, entende-se que este é essencial para garantir a sustentabilidade do planeta, tem grande responsabilidade com o futuro da nação e, principalmente, com o Desenvolvimento Social. Contudo, verifica-se que a proposta de pesquisa está alinhada com as diretrizes do Programa de Doutorado em Serviço Social, e que irá contribuir para uma educação superior inovadora e uma sociedade mais consciente sobre a necessidade de preservação do meio ambiente, entendida como um processo de Gestão Socioambiental. Como resultado, espera-se encontrar um cenário educacional em processo de construção de saberes e de desenvolvimento de metodologias específicas para a aprendizagem sobre à oferta de conteúdos relacionados à Educação Ambiental, pois 22 mesmo que os Cursos de Graduação do município atendam às exigências legais e políticas vigentes, estas questões podem não estar sendo trabalhadas da forma mais adequada, frente às diversas estratégias pedagógicas e processos de aprendizagem existentes, possibilitando assim, a concepção e a utilização de propostas inovadoras. 1.2. Objetivos Com a pesquisa, pretende-se investigar algumas indagações sobre a necessidade da aplicação da Educação Ambiental como eixo formador de competências e habilidades. Mas, como operacionalizar a Educação Ambiental incorporando-a ao projeto pedagógico e adequando-a a realidade local da comunidade escolar? Assim busca- se, analisar como as questões acerca da Educação Ambiental estão inseridas nos cursos superiores de graduação presenciais na área de Gestão das Instituições de Ensino da cidade de Sertãozinho-SP e sua aplicação prática em atendimento as políticas públicas. Todo trabalho de pesquisa deve ter propostas claras e objetivas, e, estas, perfazem a meta estratégica a ser atingida, denominada como objetivo geral. Porém, gradualmente serão alcançados dados, que transformados em informações, irão gerar novos saberes dentro do contexto estratégico, obtidos por sua vez em etapas previamente definidas, conhecidas como objetivos específicos. Assim, os objetivos específicos precisam ser definidos para uma condução da pesquisa, portanto, são apresentados a seguir, uma vez que a Educação Ambiental deverá permear todos os espaços geográficos e sociais. Neste estudo, ressalta-se que a Cidade de Sertãozinho também demanda de um contexto educacional que priorize a formação de profissionais com viés para o desenvolvimento sustentável. Portanto, com um olhar mais específico sob o prisma da formação profissional na área de gestão ofertada pela Educação Superior, quais serão as ações práticas no que tange a Educação Ambiental? Tal investigação necessita de estudos que serão realizados em blocos de conhecimentos, que ao serem construídos, lapidam o saber de uma determinada ciência, aplicada em uma realidade específica. Essa busca é direcionada pelas questões definidas nos objetivos gerais e específicos do trabalho. Essa pesquisa tem como objetivo geral, conhecer e analisar as formas de aplicação da Educação Ambiental nos Cursos de Graduação na área de Gestão, 23 ofertados na modalidade presencial pelas 4 (quatro) Instituições de Ensino Superior de Sertãozinho-SP e suas contribuições na formação de profissionais, que atuam como agentes de transformação, frente à oferta de projetos, programas e serviços que contribuem para o Desenvolvimento Socioambiental do Município. A pesquisa tem com proposta investigar essa realidade no período de 2017 a 2020, obtendo assim, um espaço temporal adequado para que os objetivos específicos sejam cumpridos. Para atender essa proposta, alguns objetivos específicos serão gradualmente atingidos, a saber: - Analisar a evolução histórica e seus reflexos nas Políticas de Educação Socioambiental em relação a efetividade no contexto educacional; - Identificar o cenário da Educação Ambiental na cidade de Sertãozinho-SP com foco sobre as propostas pedagógicas, no que tange aos Cursos Superiores na área de Gestão e na modalidade presencial; - Diagnosticar como a Educação Ambiental é aplicada aos Cursos de Graduação da área de Gestão, ofertados na modalidade presencial, na cidade de Sertãozinho-SP, examinando criticamente os PPC dos Cursos que apresentaram a concepção da Educação Ambiental, Sustentabilidade ou Desenvolvimento Socioambiental; e - Apresentar uma proposta de aplicação da Educação Ambiental a partir de um modelo de Projeto Interdisciplinar. 1.3. Procedimentos Metodológicos O trabalho foi realizado a partir de levantamento bibliográfico de caráter exploratório, seguido de pesquisa documental e de campo, com aplicação de questionários e entrevistas de nível descritivo a partir da abordagem qualitativa e quantitativa. Este modelo de pesquisa, de acordo com Marconi e Lakatos (2010), reflete tanto estudos exploratórios, quanto descritivos com o objetivo descrever determinado fenômeno. Podem ser encontradas tanto descrições quantitativas e qualitativas, quanto a acumulação de informações detalhadas, bem como a descoberta de seus efeitos potenciais. No sentido de garantir esses preceitos e a veracidade da pesquisa, será utilizada para análise dos dados as abordagens quantitativa e qualitativa. Estas 24 abordagens referem-se ao conjunto de metodologias, envolvendo, eventualmente, diversas referências epistemológicas (SEVERINO, 2007), que para esta pesquisa serão norteadas por conhecimentos da área de Educação Ambiental e Gestão Socioambiental. Para Minayo (1993, p. 626), a abordagem qualitativa possibilita um estudo entre o sujeito e objeto proporcionando: [...] uma construção científica que leva, por sua vez, à necessidade de um esforço metodológico, mas que garante a objetivação, ou seja, a produção de uma análise a mais possível sistemática e aprofundada e que minimize as incursões do subjetivismo, do achismo e do espontaneísmo. A autora ainda completa que o objetivo principal da análise qualitativa é compreender no sentido de exercer a capacidade de colocar-se no lugar do outro, tendo em vista que, como seres humanos, temos condições de exercitar esse entendimento. Para compreender, é preciso levar em conta a singularidade do indivíduo, porque sua subjetividade é uma manifestação do viver total. A abordagem qualitativa gera um grande volume de dados que podem ter sidos coletados via documentos, entrevistas, relatos, observações, filmagem entre outros, que estarão no formato de textos, sons, imagens e, portanto, precisarão ser organizados e tratados de forma a gerar informações confiáveis sobre o que você pesquisou (KLEIN et al, 2015). Assim, os pesquisadores que utilizam a metodologia qualitativa entendem que seus trabalhos são pautados no estudo do comportamento humano, que é demasiadamente complexo e de caráter essencialmente interpretativo. Na pesquisa qualitativa são várias as técnicas de coleta de dados, uma delas é através de entrevistas abertas por darem total liberdade ao sujeito. Esta utiliza dados descritivos, discurso dos sujeitos, documentos pessoais, notas de campo, amostras intencionais de número reduzido e não representativas estatisticamente; a relação com os sujeitos é empática, o contato é intenso e há uma relação de confiança. Já sob o prisma da abordagem quantitativa, Chizzoti (2003, p. 222), dispõe que: [...] esta recorre à quantificação como única via de assegurar a validade de uma generalização, pressupondo um modelo único de investigação, derivado das ciências naturais, que parta de uma hipótese-guia, só admita observações externas, siga um caminho 25 indutivo para estabelecer leis, mediante verificações objetivas, amparadas em frequências estatísticas. A pesquisa quantitativa tem como objetivo encontrar fatos, descrevê-los estatisticamente e encontrar relações entre variáveis, apresentando dados contáveis, medidos e analisados estatisticamente para comprovar a validade do estudo. As amostras amplas, estratificadas, precisas e aleatórias são delineadas para diminuir a chance de erro, a relação com os sujeitos da pesquisa é distante e de curta duração. Klain et al (2015), dizem que os dados quantitativos são aqueles que originalmente estão na forma numérica como valores monetários, taxas, quantidades em geral, etc. e também aqueles coletados por meio de questões fechadas em questionários e convertidos em dados, indicadores e índices numéricos. Dados quantitativos são analisados por meio de técnicas estatísticas que podem ser descritivas (quantidades, frequências, médias e outras), comparativas, classificatórias e outras. Enquanto o método quantitativo mensura o objeto, o método qualitativo mensura suas categorias e atributos, tais como: qualidade, relação, ação, paixão, dor, amor, hábitos, atitudes, prazer e preferências, entre outras variáveis. Assim, este método possibilita ir além da interpretação da pesquisa de cunho social, que se enquadra perfeitamente na necessidade desta pesquisa. Do ponto de vista qualitativo e quantitativo, a abordagem dialética hermenêutica atua em nível dos significados e das estruturas, entendendo estas últimas como ações humanas subjetivas, mas, com significados. Ao mesmo tempo, tenta conceber todas as etapas da investigação e da análise como parte do processo social analisado e como sua consciência crítica possível. Assim considera os instrumentos, os dados e a análise numa relação interior com o pesquisador (MINAYO, 1993). A mesma autora confirma que a hermenêutica se move entre os seguintes termos: compreensão como a categoria metodológica mais potente no movimento e na atitude de investigação; liberdade, necessidade, força, consciência histórica, todo e partes, como categorias filosóficas fundantes; e, significado, símbolo, intencionalidade e empatia como balizas do pensamento. A dialética, por sua vez, é desenvolvida por meio de termos que articulam as ideias de crítica, de negação, de oposição, de mudança, de processo, de contradição, de movimento e de transformação da natureza e da realidade social. 26 Na intenção de propor os objetivos gerais deste trabalho buscou-se, num primeiro momento, fundamentar-se no método dialético, pois “[...] para a dialética não há nada de definitivo, de absoluto, de sagrado” (ENGELS apud POLITZER, 2001, p. 202). Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de sua ação recíproca [...] é contrário a todo conhecimento rígido [...], tudo é visto em constante mudança, pois sempre há algo que nasce e se desenvolve e algo que desagrega, se transforma (ANDRADE, 1999, p. 114-115). Para tanto, a Tese de pesquisa está organizada em três etapas, a saber: - 1ª Etapa: levantamento bibliográfico exploratório utilizando livros, artigos científicos, dissertações, teses, relatórios de pesquisa, materiais didáticos especializados e documentos específicos como leis, decretos, regulamentos, entre outros, obtendo dados secundários de fontes acadêmicas e não acadêmicas; - 2ª Etapa: pesquisa documental de caráter descritivo com análise de conteúdo, do teor sobre Educação Ambiental contido nos PPC - Projetos Pedagógicos dos Cursos superiores da área de gestão, ofertados na modalidade presencial na cidade de Sertãozinho, obtendo dados secundários; - 3ª Etapa: Pesquisa de campo em forma de estudo de caso, também de nível descritivo com aplicação de questionário com questões semiabertas, junto aos professores, alunos ingressantes e formandos de um curso de graduação na modalidade presencial, de uma das Instituições de Ensino Superior do município de Sertãozinho e, entrevista semiestruturada, com o Coordenador de Curso. Para esta última etapa, a escolha se dará a partir da análise descritiva dos PPC dos Cursos, sendo identificado aquele que contenha mecanismos mais atrativos e completos no que tange a concepção da Educação Ambiental ou Desenvolvimento Socioambiental, frente aos objetivos propostos na formação de futuros profissionais. A análise descritiva: tem como principal objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre as variáveis. Uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas de coleta de dados (GIL, 2010, p. 58) A coleta de dados na pesquisa de campo, foi realizada por meio de questionários com questões fechadas e semiabertas e roteiro de entrevistas, uma vez que tais instrumentos já foram aprovados pelo CEP – Comitê de Ética e Pesquisa da 27 UNESP de Franca e disponíveis no Apêndice I. Assim, os dados coletados serão analisados com subsídio da estatística descritiva, que favorecerá a interpretação. Gil (2010), defini questionário como a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoa com a finalidade de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores e comportamentos como é o caso desta pesquisa. As questões classificadas como semiabertas, ou não limitadas, são as que permitem ao informante responder livremente, usando linguagem própria e emitir opiniões, possibilitando investigações mais profundas e precisas. Já as questões fechadas, com duas opções, também denominadas como limitadas ou alternativas fixas, são aquelas que o informante, escolhe sua resposta entre duas opções: sim e não (MARCONI; LAKATOS, 2010). Porém, no intuito de aprofundar a investigação, pretende-se realizar entrevista com o coordenador do curso, dentro do período previsto da pesquisa, para compreender sua visão sobre a EA e as expectativas depositavas do PPC do Curso sob sua coordenação. De acordo com Marconi e Lakatos (2010, p. 178) “a entrevista é um encontro de duas pessoas a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional”. Pode-se entender que a entrevista é de tal natureza, pois foca um tema específico. Assim o entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, o entrevistado esforça-se para sua retomada ao foco específico (GIL, 2010). Portanto, a entrevista terá como apoio um roteiro com tópicos relativos ao problema de pesquisa, mas, com liberdade de fazer perguntas sondando as razões do estudo, oportunizando em todas as etapas da pesquisa uma dialética reflexiva. Diniz e Silva (2008), consideram que a dialética pode orientar a reflexão crítica do mundo quando o pesquisador começa a interrogar-se sobre o que está por trás da aparência dos fenômenos. A verdade não aparece, ela está escondida nos não ditos dos interditos das relações sociais. Com esse método, a investigação da pesquisa poderá desvendar os reais axiomas frente ao objeto e o objetivo da pesquisa, proporcionando reflexões mais próximas à realidade do contexto estudado. 28 Exercitar o raciocínio dialético é procurar respostas em situações que aparecem como dadas, como naturais quando de fato foram naturalizadas por uma visão de mundo que atende aos interesses de quem domina (classe social), procurando por meio dos canais (escola, meios de comunicação, família e outros) disponibilizados na vida social imprimindo sua visão como sendo a visão do coletivo (DINIZ; SILVA, 2008, p. 11). Finalizadas as etapas de pesquisa sugeridas e com os dados coletados, será possível analisá-los sob a ótica das abordagens qualitativa e quantitativa. Sobre a análise de conteúdo, esta será aplicada aos PPC - Projetos Pedagógicos de Cursos, para identificar como as propostas pedagógicas se formalizam frente à necessidade de abordar a Educação Ambiental. Marconi e Lakatos (2010), afirmam que na pesquisa documental a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias, podendo ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois. A análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões e hipóteses de interesse, o que facilita fazer uma reflexão acerca das intencionalidades propostas em determinados documentos, pois estes servem de diretrizes para o comportamento social (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Pode-se compreender que o PPC, dispõe de políticas em forma de conteúdos que norteiam as ações das pessoas, neste caso, alunos, professores, coordenadores e a comunidade acadêmica em geral. Assim, ao analisar os PPC’s dos Cursos de Graduação ofertados na modalidade presencial, poderá ser identificado como a Educação Ambiental é concebida. Nesta perspectiva, Bardin (1977) define a análise de conteúdo como: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. A escolha deste método de análise se faz necessário pela necessidade de ultrapassar as incertezas consequentes das hipóteses e pressupostos, pela necessidade de enriquecimento da leitura por meio da compreensão das significações e pela necessidade de desvelar as relações que se estabelecem (CAVALCANTI et al, 2014). 29 Essa análise, aplicada aos PPC’s dos cursos, a partir de uma reflexão crítica, irá apontar pistas sobre a existência ou não de ações pedagógicas sobre Educação Ambiental nos referidos cursos. Oliveira (2008), afirma que a análise de conteúdo possui diferentes técnicas que podem ser abordadas pelos pesquisadores. Isto dependerá da vertente teórica seguida pelo sujeito que a aplicará. Assim podem ser sintetizadas as várias técnicas, sendo que uma opção é a análise temática ou categorial, escolhida como técnica para ser aplicada aos PPC’s. A utilização da análise categorial como técnica, está associada a abordagem hermenêutica, facilitando o processo de análise de conteúdo. Para tanto, as categorias definidas para análise dos PPC’s visão encontrar algumas políticas previstas no teor dos textos como: a) Identificar que o PPC cita as legislações pertinentes, em especial a PNEA; b) Analisar se o PPC apresenta ações de Educação Ambiental de forma interdisciplinar, transdisciplinar e/ou multidisciplinar; c) Avaliar a existência de disciplinas específicas com viés em EA e se o tema é contido em outros componentes curriculares; d) Diagnosticar se há projetos pedagógicos ou trabalhos acadêmicos com linhas de pesquisas que promovem a investigação em EA. Assim, a análise de conteúdo irá elucidar as intenções formalizadas da Educação Ambiental no PPC para que, posteriormente, possam ser confrontadas com os dados da pesquisa de campo e, também com a pesquisa bibliográfica. Os procedimentos metodológicos utilizados, complementam tanto o levantamento de dados teóricos de literaturas atuais, quanto ações práticas realizadas na temática Educacional Ambiental, passando pela coleta de dados em campo e pela análise documental, envolvendo as 4 (quatro) Instituições de Ensino de Sertãozinho- SP (sendo duas particulares e duas públicas) que ofertam cursos de graduação, na área de Gestão e na modalidade presencial. O texto foi estruturado em quatro capítulos, sendo que a Introdução é o primeiro capítulo, que aborda a contextualização e apresenta além da justificativa da pesquisa, o objetivo e os procedimentos metodológicos, com intuito de entender os caminhos percorridos com um diálogo articulado entre os autores e a pesquisa de campo. O segundo capítulo faz menção aos Fundamentos Históricos da Educação Ambiental, aborda os movimentos sociais no que tange a concepção do pensamento ambiental e o desenvolvimento sustentável, apresentando um cronograma histórico 30 dos movimentos sociais e a criação de políticas de Educação Ambiental no Brasil, seguido de propostas interdisciplinares como estratégia pedagógica para o incentivo e promoção da Gestão Socioambiental. O capítulo terceiro com o título, O Cenário da Educação Ambiental no Município de Sertãozinho, faz uma imersão sobre o cenário da Educação Ambiental no município de Sertãozinho, refletindo sobre a Estrutura Educacional e os Cursos de Gestão de Nível Superior na modalidade Presencial. Ainda, discorre sobre a articulação para a promoção das políticas municipais de Educação Ambiental, bem como destaca pontualmente as Ações e Projetos desenvolvidos junto a Secretaria Municipal de Meio Ambiente em parceria com escolas, outras cidades e órgãos específicos. O último e quarto capítulo intitulado, Pesquisa sobre as Práticas de Educação Ambiental no Ensino Superior com foco nos Cursos de Gestão Presencial do Município de Sertãozinho, trata-se de uma pesquisa de campo realizada junto a um Curso de Graduação, ofertado na modalidade presencial na área de Gestão de uma Instituição de Ensino Superior, investigando sobre a promoção de Projeto Interdisciplinar de Educação Ambiental e suas contribuições acerca do desenvolvimento de competências e habilidades aos futuros profissionais, como forma de reprodução de ações ambientais nos espaços sociais, sendo que seus resultados são registrados no item de Considerações Finais. 31 2. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL O elemento central desse contexto, sem dúvida, é o meio ambiente, que durante muitos anos ficou esquecido para que o desenvolvimento econômico, norteado pela produção de bens e serviços pudesse ser prioridade em uma sociedade com poucas perspectivas futuras. Assim, este capítulo faz uma retomada histórica sobre a evolução do pensamento ambiental no mundo, com destaque na concepção das políticas públicas concebidas no Brasil, bem como aborda a interdisciplinaridade como estratégia para a promoção da Educação Ambiental. 2.1. Pensamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável A sociedade moderna, não buscou em sua base histórica, política e social, princípios fundamentais de como garantir um equilíbrio entre o homem e a natureza, como pode-se verificar em algumas literaturas. Percebe-se que alguns textos clássicos, contribuíram para a construção de conhecimento acerca do pensamento ambiental, trazendo à tona em um cenário histórico contemporâneo sobre a relação do homem - natureza, demonstrando sua ação e seus reflexos ao ambiente. Assim, as obras de Chauí (1995; 2003), Espinosa (1957), Kant (1980; 1995; 2003; 2005) e Leff (2001; 2003; 2006), contribuem para tecer uma percepção frente aos desafios atuais, possibilitando uma análise do contexto político, econômico e social. Para tanto, Forrest (1997), afirma que muitas das políticas ocorridas no passado, ainda apresentam impactos na atualidade, e no caso da Educação Ambiental, percebe-se que este pensamento é efetivado por meio das relações econômicas, seja pela extração de recursos ou pela força humana utilizada no trabalho, oriundo de um processo capitalista que se encontra vigente. Tanto a manipulação de recursos como do trabalho operário, ambos estão interligados de forma a produzir reflexos negativos para a sociedade, uma vez que esta não dispõe de políticas equitativas para manter uma harmonia civilizatória e uma distribuição adequada, pois o capitalismo é a corrente condutora da formação da nação. De acordo com Généreux (1998), o progresso tecnológico foi concebido a partir da integração do trabalho assalariado e produção industrial em alta escala, mas, esse processo está longe de suprir a demanda por emprego e, principalmente, a 32 necessidade de inclusão da Educação Ambiental nas ações humanas, visto que houve a ausência de valores éticos sociais para com o meio ambiente. A literatura clássica apontada anteriormente irá corroborar para esta análise, permitindo uma investigação sobre os efeitos ambientais e suas decorrências, desvendando que o cenário político econômico tem sua parcela de responsabilidade. A falta de emprego hoje não é mais o objeto de uma marginalização provisória, ocasional que atinge apenas alguns setores, mas, é um fenômeno ocorrido em todas as sociedades. Pois, pior que a exploração do trabalho é a ausência do próprio trabalho, que torna o homem inútil. Sob este pensamento, Forrester (1997, p. 17) diz que: Não podemos ignorar que ao horror nada é impossível, que não há limites para as decisões humanas. Da exploração a exclusão, da exclusão a eliminação, ou até mesmo a algumas inéditas explorações desastrosas, será que essa consequência é impensável? Tal indagação poderá ser compreendida pelos autores clássicos, sob uma a perspectiva de Généreux (1998), onde a falta de políticas permite que uma sociedade seja injusta, a ponto de desfavorecer a maioria da população. Assim, Forrest (1997), indica que as consequências desastrosas vinculadas à exploração econômica não foram previstas, porém, Généreux (1998) afirma o contrário, alegando que de fato a pobreza, o desemprego e a exclusão social não constam nas leis da economia, mas sim, nas leis dos homens em forma de políticas, tanto pela estratégia de poder dos governos em parceria com as grandes corporações como pela aceitação dos cidadãos, pelo silêncio, pela incapacidade de reação, de se fazer outras escolhas. Espinosa (1957), precursor da ética e da Educação Ambiental, junto com outros autores clássicos, desafiou as pressuposições ortodoxias do seu tempo com um pensamento holista, preocupado, sobretudo com a denúncia da servidão e a proposição de uma ética baseada na liberdade e na alegria, tomada como potência do ser. Seu pensamento renovador o torna muito próximo dos problemas ecológicos contemporâneos, contribuindo com pistas importantes para uma ética ambiental que seja também a libertação de todas as tiranias entre os humanos e na relação dos humanos e a natureza. O Autor entende que o sujeito humano se submete à servidão porque é triste, o que o deixa vulnerável à tirania do outro, em quem ele deposita a 33 esperança de felicidade. Com essa convicção, denuncia a utilização política das paixões tristes pelos tiranos, especialmente a esperança, a humilhação e o medo. Pode-se entender, que essa reflexão está em consonância com o apresentado pelos autores Forrest e Généreux, no que diz respeito ao estado de servidão imposto à natureza pelos homens, o que está gerando a degradação de ambos, decorre de nossa própria condição de passividade e de submissão do qual a sociedade precisa sair para promover boas relações com o homem e o meio ambiente. Para melhor elucidar toda essa transformação social, faz-se necessário perfazer os conceitos teóricos de impactos ambientais, o desenvolvimento do papel da sociedade por meio do relacionamento individual e coletivo, sustentado pela educação. Essa perspectiva é abordada pelos autores modernos como Sánchez (2008), que perfaz este cenário de forma a elencar os tipos de impactos que o meio ambiente sofreu. Já Alencastro (2015), aborda a ética como valorização do homem e do meio ambiente para a sustentabilidade; seguido de Barbieri (2005; 2011; 2012) e Tachizawa (2010 e 2012), que tratam da responsabilidade dos indivíduos e das organizações a partir da educação e formação profissional adequada, em consonância com as recomendações éticas de Alencastro (2009), e complementado por Almeida (2009), que discorre sobre os desafios da sustentabilidade. Porém, ainda, como complemento desse processo histórico sobre o ambiente, adota-se Kant como outro autor clássico, cujo seu pensamento apresenta profundas implicações para a Ética Ambiental e a Educação Ambiental, afirmando que há duas espécies de juízos reflexivos: 1) os juízos de gosto; 2) os juízos teleológicos voltados, principalmente, para organismos biológicos. Os dois juízos (de gosto e teleológico) são importantes para a Educação Ambiental, pois ambos são animados pelo sentimento de vida. Esta percepção é responsável pelos sentimentos do prazer ou desprazer. Toda a Crítica do Juízo está “centrada no princípio de vida como ideia articuladora de um organismo”. A Crítica do Juízo é fundamental para compreendermos como podemos chegar a uma apreciação estética da natureza e, é justamente através do juízo do gosto, no sentido de que os seres humanos aprendem a “amar a natureza e a vida e, portanto, a cuidar dela”. Através do prazer estético o ser humano sente-se bem no mundo e isso faz com que ele cuide da natureza. Este conhecimento é importante no contexto da Educação Ambiental brasileira, pois temos visto que o valor econômico do ambiente quase sempre se impõe sobre outros valores, como, por exemplo, o estético. Uma apreciação estética e moral da 34 natureza descentra o eixo econômico como único valor de “apreciação” da natureza, corroborando mais uma vez com o proposto por Forrest e Généreux. Forrester (1997), expõe sua indignação ao constatar que em verdade, o grande privilegiado nessa busca é o lucro, ainda que veladamente, ainda que mantido em segredo, sob a égide da invisibilidade. Pois, a proeminência da esfera econômica na composição social, pressupõe o assentamento e as interações sociais a partir do trabalho e do emprego, e hoje, para existir na sua forma capitalista, a economia descola-se do social, de sua base produtiva, mas tenta enfeitiçar aqueles que mantêm ligação com os elos do mercado, seus fiéis agentes consumidores. Nesse mesmo estado de impotência, as políticas entram em pane com demasiada frequência, provando mais uma vez que a crise não apenas da economia, mas sobretudo, da vontade política, da coragem política, do debate político, da informação política, do compromisso político, da luta política, ou seja, uma crise democrática (GÉNÉREUX, 1998). Como caminho solucionador, verifica-se que a política é a culpada dessa evolução baseada na exploração de recursos alicerçado na busca do lucro, pois não há manifesto espaço para o diálogo democrático, apenas um maior poder aos governantes sob a formulação de novas regras que protegem a elite dominante. Neste sentido, mais uma vez a economia desenfreada e a política passiva são vistos como condutores que canalizam todos os efeitos decorrentes ao ambiente, trazendo à tona um questionamento sobre quais os mecanismos que serão necessários para combater essa crise, e manter um ambiente saudável sob o prisma da busca por um desenvolvimento socioambiental satisfatório? Assim, no que tange os objetivos da economia, Forrest (1997), afirma que a prioridade vai então para o lucro, e, só depois de garantida a deduzida parte dos negócios (exigidos pela regra do mercado) é que são levados em conta outros setores, entre os quais o bem-estar social. Essa superposição econômica não pode prevalecer quando se busca um cenário socioambiental, o que remete e induz a educação ao papel primordial de ser o melhor caminho para inverter a priorização de valores éticos sociais. O resgate da educação como mecanismo solucionador estará fundamentado por autores modernos como Springett (2005), Martins (2011), Costa-Pinto (2012), (Barbieri, 2012), Zouvi e Albanus (2013), Saviani (2005; 2014), Arruda et al (2016), Loureiro e Silva Neto (2016), Oliveira (2016), Batista (2017), entre outros. 35 Tais autores, oportunizam para um pensamento mais abrangente, encaminhando a discussão para a necessidade de fortalecimento de políticas públicas como garantidoras de uma formação profissional adequada, nos diversos níveis e modalidade da educação brasileira. Esse olhar político é fundamental e imprescindível, pois não basta somente sanar a lacuna da falha econômica, é preciso ainda, buscar recursos para enfrentar as demandas sociais a partir de uma efetivação política, pois a responsabilidade com a Educação Ambiental é de todos. Mas, paradoxalmente, os governos são submetidos aos desejos da maioria, ou seja, da classe dominante; impedindo a ação rápida e adequada aos problemas sociais. Généreux (1998, p. 24) diz que “podíamos ter agido de outra forma, mas não agimos, apenas porque isso não interessava à maioria protegida da crise” Esse é o horror político, que precisa urgentemente ser combatido, pois o bem estar social é parte do meio ambiente, portanto, da Educação Ambiental. Assim, necessita-se de políticas que promovam um processo educacional democrático para a formação de cidadãos e profissionais dotados de valores éticos, competências e habilidades em prol do desenvolvimento sustentável. Assim, entende-se que este pensamento ambiental, que de forma tímida está contida na literatura clássica, bem como todos os impactos causados pelo processo produtivo descontrolado, demandou do surgimento de diversos movimentos sociais, que posteriormente, foram concebidas em políticas públicas de âmbito global, no que tange o desenvolvimento sustentável. Sob esta perspectiva, Veiga (2006, p.31) afirma que: Desenvolvimento deve ser compreendido com um processo de transformação da sociedade, não só em relação aos meios, mas em relação aos fins, o que implica em uma visão qualitativa e valorativa do desenvolvimento em detrimento a uma visão material e econômica do tema. O processo de desenvolvimento está vinculado ao comportamento humano, uma vez que ele não existe se não der capacidade para as pessoas de mudar e escolher seu futuro. É neste sentido que a Educação Ambiental, torna-se prioridade para a garantia de um desenvolvimento equitativo e sustentável, pois Carvalho (2011, p. 1) compreende que: A Educação Ambiental (EA) é um fenômeno que não pode ser pensado fora do contexto de formação de um campo de relações sociais que se constitui 36 em torno da preocupação com o meio ambiente e que poderíamos chamar de campo ambiental. Este se configura necessariamente engajado na disputa pelo poder simbólico de nomear e atribuir sentido ao que seria a conduta humana desejável e um meio ambiente ideal. Da forma como o autor apresenta a Educação Ambiental, percebe-se a necessidade de colocá-la em prática em todos os contextos sociais, como forma de potencializar o diálogo entre as diversas área de conhecimento para garantir o desenvolvimento humano. Além do mais, as pesquisas em Educação Ambiental são relevantes, devido o importante papel formador de pensamentos e atitudes consideradas sustentáveis, que podem contribuir para a melhoria na qualidade de vida da sociedade. Além disso, a Educação Ambiental pode fundamentar a formação de um ser social crítico e participativo as transformações do mundo em relação ao seu ambiente, a sua realidade (RIBEIRO; SILVA, 2012). Layrargues (2004), comenta que a Educação Ambiental é um vocábulo composto por um substantivo e um adjetivo, que envolvem, respectivamente, o campo da Educação e o campo Ambiental a ser abordados simultaneamente. Enquanto o substantivo Educação confere a essência do vocábulo “Educação Ambiental”, definindo os próprios fazeres pedagógicos necessários a esta prática educativa, o adjetivo Ambiental anuncia o contexto desta prática educativa, ou seja, o enquadramento motivador da ação pedagógica. Educação Ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico- linear, não-dialético, que separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção, etc. (LOUREIRO, 2004, p. 66). Sem dúvidas, a aplicação da Educação Ambiental torna-se essencial na busca de melhor compreender os conceitos relacionados com o meio ambiente, sustentabilidade, preservação, conservação e outras esferas sociais e da natureza, funcionando como mecanismo de desenvolvimento. Roos e Becker (2012), também contribuem com este pensamento, pois os autores entendem a Educação Ambiental como componente essencial no processo de formação e educação permanente, com uma abordagem direcionada para a 37 resolução de problemas, que coopera para o envolvimento do público, tornando o sistema educativo mais relevante e mais realista, estabelecendo uma maior interdependência entre estes sistemas e o ambiente natural e social, com o objetivo de um crescente bem estar das comunidades humanas “O interessante é que mais do que por sua abrangência, essa convocação atualiza o desafio paradigmático da Educação Ambiental quando a nomeia como Educação para o Desenvolvimento Sustentável” (LAYRARGUES, 2004, p; 5). Em um contexto altamente político e ideológico, a Educação Ambiental surgiu como proposta ao enfrentamento de crises através da articulação entre as dimensões social e ambiental, assim, Ribeiro e Silva (2021, p. 131), discorrem que “o papel da Educação Ambiental advém da urgente necessidade de reverter o quadro de deterioração ambiental em que vivemos, com efetivação de práticas de desenvolvimento sustentável e qualidade de vida para todos”. Nesta percepção, o desenvolvimento sustentável procura incluir em seu arcabouço aspectos vinculados a justiça social, respeito ambiental, aceitação a cultura e viabilidade econômica, etc. (PENÃFIEL; RODOMSKY, 2013). Portanto, a busca pelo desenvolvimento sustentável exige maior articulação entre economias, países, políticas globais e o fortalecimento de uma corrente de pensamento equitativa entre as sociedades modernas, sobre a necessidade da promoção da Educação Ambiental. Esse diálogo unilateral somente tornou-se presente, a partir de movimentos sociais isolados, que gradativamente multiplicou-se a ponto de vislumbrar-se de uma definição sobre sustentabilidade e definir ações e responsabilidades em prol do bem comum. 2.2. Movimentos Sociais e Políticas de Educação Ambiental no Brasil A relação homem e natureza constitui-se de um processo necessário e contínuo na evolução das sociedades. Porém, o equilíbrio dessa articulação deve ser garantido em prol de um futuro próspero, mas que nem sempre foi priorizado. Para Giometti (2017, p. 29): Essa evolução dos modos de vida e comportamentos fez com que, no decorrer dos anos, o ser humano passasse a criar para si uma quantidade ilimitada de necessidades a serem satisfeitas, além das básicas. Enquanto o consumo se constitui numa necessidade individual de sobrevivência, o consumismo cria novas necessidades, que, embora supérfluas, parecem indispensáveis, principalmente com o apoio de distorcidas estratégias de marketing. Dessa forma, o meio ambiente vem sofrendo gigantescas 38 agressões, na medida em que dele se extraem todos os recursos e matérias- primas. Neste contexto, visualiza-se que o meio ambiente, composto pela esfera natural e social tem servido ao capital de forma contínua e sem preocupar-se com suas limitações. Porém, diante das ações produtivas e reprodutivas, verificou-se impactos negativos na própria estrutura do capital, oriundo tanto da humanidade como dos recursos utilizados. Para Mészáros (2011, p. 216): Todo sistema de reprodução sociometabólica tem seus limites intrínsecos ou absolutos, que não podem ser transcendidos sem que o modo de controle prevalecente mude para um modo qualitativamente diferente. Quando esses limites são alcançados no desenvolvimento histórico, é forçoso transformar os parâmetros estruturais da ordem estabelecida – em outras palavras, as “premissas” objetivas de sua prática – que normalmente circunscrevem a margem global de ajuste das práticas reprodutivas viáveis sob as circunstâncias existentes. Tais parâmetros foram rompidos em seus dois extremos do capital: o trabalho e a sociedade. Assim, a partir da década de 70, a crise do capital é confundida com a crise estrutural, pois a guerra mundial elucidou um espaço para o crescimento do capital, elevando para um nível planetário, o que se aproximou-se da crise estrutural do capital. Colaborando com esse pensamento, considerar-se que a exploração industrial do meio ambiente se manteve sem contestação durante todo o século XIX e a maior parte do século XX, dentro de uma visão equivocada de que os recursos naturais eram ilimitados e estavam à disposição do homem. Tal crença rompeu-se somente quando começou a ser questionada e exigiu maior reflexão da humanidade antes mesmo da década dos anos 70, quando os processos de deterioração ambiental e a possibilidade de esgotamento de determinados recursos naturais se tornaram evidentes (DIAS, 2011). Dentro desse cenário, diversos movimentos contribuíram e ainda continuam a contribuir para o surgimento e desenvolvimento da Educação Ambiental efetivadas por diversos mecanismos, tornando-se essencial fazer uma reflexão sobre a contribuição de alguns acontecimentos que arquitetaram a atual concepção de desenvolvimento sustentável ou gestão socioambiental. 39 Para facilitar essa compreensão, pode-se visualizar no Quadro 1, o processo de construção da dinamização destas ações por datas mais significativas, que possibilitaram elencar as contribuições dos movimentos sociais em âmbito global. Quadro 1 – Movimentos Sociais e suas Contribuições para a Educação Ambiental Ano Contribuições para a Concepção de Educação Ambiental 1962 O “ Primavera Silenciosa” de Rachel Carson - alertava sobre os efeitos danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, como por exemplo o uso de pesticidas. 1968 Nasce o Conselho para Educação Ambiental, no Reino Unido e surge o Clube de Roma que em 1972, que produz o relatório “Os Limites do Crescimento Econômico” que estudou ações para se obter no mundo um equilíbrio global como a redução do consumo tendo em vista determinadas prioridades sociais. 1970 Entidade relacionada à revista britânica The Ecologist elabora o “Manifesto para Sobrevivência” onde insistiam que um aumento indefinido de demanda não pode ser sustentado por recursos finitos. 1972 É realizada a Conferência das Nações sobre o Ambiente Humano em Estocolmo, cujos principais resultados formais do encontro constituíram a Declaração sobre o Ambiente Humano ou Declaração de Estocolmo que expressa a convicção de que “tanto as gerações presentes como as futuras, tenham reconhecidas como direito fundamental, a vida num ambiente sadio e não degradado” (Tamanes - 1977). Ainda como resultado da Conferência de Estocolmo, neste mesmo ano a ONU criou um organismo denominado Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA, sediado em Nairobi. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou o primeiro curso de pós-graduação em Ecologia do país. 1975 Em resposta às recomendações da Conferência de Estocolmo, A UNESCO promoveu em Belgrado (Iugoslávia) um Encontro Internacional em Educação Ambiental onde criou o Programa Internacional de Educação Ambiental - PIEA que formulou os seguintes princípios orientadores: a Educação Ambiental deve ser continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais. 1977 É realizada a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental em Tbilisi (exURSS) organizada pela UNESCO com a colaboração do PNUMA. Foi o ponto culminante da primeira fase do Programa Internacional de Educação Ambiental, iniciado em 1975. Definiu-se os objetivos, as características da EA, assim como as estratégias pertinentes no plano nacional e internacional. No Brasil, o Conselho Federal de Educação tornou obrigatória a disciplina Ciências Ambientais em cursos universitários de Engenharia. 1979 É promovido o Seminário de Educação Ambiental para América Latina realizado pela UNESCO e PNUMA na Costa Rica. O departamento do Ensino Médio/MEC e a CETESB publicam o documento “Ecologia - Uma proposta para o Ensino de 1º e 2º graus”. 40 1987 Surge a Estratégia Internacional de ação em matéria de educação e formação ambiental para o decênio de 90 - documento final do Congresso Internacional sobre Educação e Formação Relativas ao Meio-ambiente, realizado em 1987 em Moscou, Rússia, promovido pela UNESCO. Ressalta a importância da formação de recursos humanos nas áreas formais e não formais da EA e na inclusão da dimensão ambiental nos currículos de todos os níveis. A UNESCO/PNUMA realizou em Moscou o Congresso Nacional sobre Educação e Formação Ambiental - UNESCO/PNUMA onde foram analisadas as conquistas e dificuldades na área de EA desde a conferência de Tbilisi e discutido uma estratégia internacional de ação em educação e formação ambientais para a década de 90. 1990 A Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, aprovada na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada Jontien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990, reitera: “confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herança cultural, lingüística e espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio ambiente” 1992 Houve neste ano a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, RIO-92. O MEC promoveu em Jacarepaguá um workshop com o objetivo de socializar os resultados das experiências nacionais e internacionais de EA, discutir metodologias e currículos. Do encontro resultou a Carta Brasileira para a Educação Ambiental. 1997 Promove-se a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade em Thessaloniki, onde houve o reconhecimento que, passados cinco anos da Conferência Rio-92, o desenvolvimento da EA foi insuficiente. Entretanto esse encontro foi beneficiado pelos numerosos encontros internacionais realizados em 1997, na Índia, Tailândia, México, Cuba, Brasil, Grécia entre outras. 2002 Em Johanesburgo, na África do Sul, reuniu-se a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que foi convocada pela Resolução 55/199 da Assembleia Geral da ONU e contou com a participação de mais de 150 países, com o objetivo de analisar os avanços da Agenda 21 e estabelecer instrumentos para a realização de medidas efetivas para as questões econômicas, da pobreza e da globalização, fazendo menção a outros movimentos, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e o Protocolo de Kyoto. 2012 A Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, denominada Rio+20, aconteceu no Rio de Janeiro e foi organizada segundo a Resolução n. 64/236 da Assembleia Geral da ONU. Esta contou com um processo de preparação que envolveu três reuniões do Comitê Preparatório: a primeira em 2010, a segunda em 2011 e a terceira às vésperas da própria Conferência em 2012, no Rio de Janeiro. Considerada a maior conferência já realizada pela ONU, a Rio+20 reuniu mais de 100 chefes de Estado e de governo. Além de reafirmar compromissos estabelecidos anteriormente à ECO-92, a Rio+20 propôs estabelecer uma estrutura institucional para o desenvolvimento 41 sustentável, colocar a erradicação da pobreza como meta prioritária e consolidar a importância da transição rumo a uma economia mais verde em escala global. 2015 Em Paris, no ano de 2015, aconteceu a Cop21, que reuniu mais de 195 nações para discutir e adotar medidas de combate ao aquecimento global, sendo considerada a maior Conferência Climática já realizada. Nesta conferência foram acertados objetivos que possibilitam estabelecer medidas para conter as mudanças climáticas. Dentre estes, manter o aumento da temperatura média do planeta em 2º C, acima dos níveis pré-industriais, até o final do século, e estabelecer, a partir de 2020, planos quinquenais que irão avaliar o cumprimento dos objetivos assumidos. Fonte: Adaptado de MEC (2021) e Giometti (2017) A partir dos movimentos históricos apresentado no Quadro 1, tem-se como base que o conceito de desenvolvimento sustentável, surgiu no final do século XX, pela constatação de que o desenvolvimento econômico precisava levar em conta também o equilíbrio ecológico e a preservação da qualidade de vida das populações humanas em nível global, assim, este é um projeto de sociedade alicerçada na consciência crítica (DANDARO, 2015). Dessa forma, a sustentabilidade apresenta a necessidade de uma proposta equilibrada entre o fator econômico, representado pelo capital e o fator social, resultando na gestão socioambiental. Seguindo este mesmo pensamento, Jacobi (2003, p. 193) diz que: A problemática da sustentabilidade assume neste novo século um papel central na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela que o impacto dos humanos sobre o meio ambiente tem tido consequências cada vez mais complexas, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Evidenciava-se, dessa maneira, que o modelo hegemônico de desenvolvimento capitalista globalizado, o qual reduz o desenvolvimento humano ao crescimento econômico e polariza o poder e os recursos, tem como resultado o fomento das desigualdades de toda ordem e, consequentemente, a destruição do meio ambiente (GADOTTI, 2000). Esta relação entre natureza e homem tem preocupado cada vez mais a sociedade em geral. De acordo com Oliveira (2002, p. 1): a sociedade contemporânea tem vivenciado uma série de problemas que envolvem o seu modo de relacionar-se com a natureza no processo de produção e reprodução do espaço geográfico, colocando em questão o 42 conceito de natureza em vigor, o qual perpassa pelo modo de vida dessa sociedade, as sensações, o pensamento e as ações Essa individualidade, de soberania do homem sobre a natureza, por meio do trabalho, também é enfatizada por Hegel, uma vez que impõe limites negativos e fundamentalmente insuperáveis até mesmo à maior das gigantescas corporações monopolistas (ou semimonopolistas) e também aos Estados nacionais mais poderosos. Portanto, não há saída possível dessas restrições estruturalmente limitadoras na base material do capital, uma vez que as estruturas de produção material do capital não podem ser reproduzidas na escala expandida necessária, sem a perpetuação do antagonismo entre trabalho e capital e suas decorrências aos recursos naturais, ou seja, ao meio ambiente (MÉSZAROS, 2011). Por essa questão, é preciso que haja uma hegemonia entre capital e trabalho, no sentido de que a relação entre a produção e o meio ambiente tenha novos modelos reprodutivos, por meio da própria estrutura de produção. A noção de hegemonia propõe uma nova relação entre estrutura e superestrutura e tenta se distanciar da determinação da primeira sobre a segunda, mostrando a centralidade das superestruturas na análise das sociedades avançadas. Nesse contexto, a sociedade civil adquire um papel central, bem como a ideologia, que aparece como constitutiva das relações sociais. Deste modo, uma possível tomada do poder e construção de um novo bloco histórico passa pela consideração da centralidade dessas categorias que, até então, eram ignoradas (ALVES, 2010, p. 1). O processo de desenvolvimento pautado no capitalismo, decorreu de grandes transformações do meio ambiente, em especial, a relação homem natureza. Deste modo, questões como produção e consumo sustentável têm se apresentado corriqueiramente no cenário mundial e nacional. No Brasil, pode-se dizer que houve um grande avanço na concepção de políticas de Educação Ambiental, presente em diversos espaços, seja por meio da Constituição Federal, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ou por outras legislações específicas. De acordo com Lacerda e Lima (2011, p. 2), partir desse momento: a gestão das políticas sociais públicas na contemporaneidade vem registrando profundas mudanças de ordem jurídico-legal e político- administrativa. Neste contexto, a relação entre Estado e Sociedade tem sofrido novos contornos com a emergência de novos paradigmas de gestão redimensionando as políticas públicas e, particularmente, as educacionais. 43 Pois, levando em consideração que o objeto de pesquisa é a Educação Ambiental, pode-se verificar que a Constituição Federal de 1988, no seu Artigo 5, prevê a liberdade, igualdade e segurança em âmbito geral e, também, em relação as ações populares para o bem do meio ambiente, BRASIL (1988, p. 13): Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Este texto proporciona uma reflexão sobre a necessidade de ter liberdade no sentido de assumir a responsabilidade para buscar igualdade nas questões relacionadas ao meio ambiente, para tanto, pode-se constituir grupos populares como forma de garantir um cenário democrático e harmônico, garantindo assim, espaços públicos para concepção de políticas ambientais. Também, no artigo 129, a Constituição Federal remete a necessidade de realizar inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Ainda, o Artigo 170 apresenta um texto que defende a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, o meio ambiente (BRASIL,1988). Percebe-se que os artigos supracitados, tem por finalidade garantir a preservação do meio ambiente, quando esta possa estar ameaçada por questões sociais ou econômicas, com foco específico na valorização do trabalhado e outras ações pertinentes, que permitem realizar a investigação e criar meios de controle social para a garantia da integridade de patrimônio público e, de forma específica, o meio ambiente como espaço coletivo considerado como de interesse comum. No Artigo 205, pode-se constatar a prerrogativa que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, sendo esta promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 123). Tal texto induz a entender que as finalidades do sistema educacional brasileiro são distribuídas igualmente a todos; em termos de acesso, qualidade e intencionalidades; e, se assim fosse, esta permitiria uma evolução de grande desenvolvimento em diversos aspectos, seja humano ou social. Ainda, somado a este 44 cenário haveria espaços para discussões mais profundas com reflexos práticos nas questões de interesse geral, principalmente, quando se trata do meio ambiente que é compartilhado por todos. Também, como complemento a este espaço de formação cidadão, a família recebe grande responsabilidade no processo educacional, pressupondo que este dever não é exclusivo do Estado, deixando a família como extensão obrigatória. Já na LDB, Lei nº 9694/1999, pode-se verificar a promoção do ensino como foco para a formação de um cidadão preocupado com o ambiente natural e social, como forma de conscientização para controlar as ações humanas futuras. É notória a preocupação de oferecer uma educação que forneça conceitos amplos sobre o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social, política do ambiente escolar e do trabalho (BRASIL, 1996). Tratando-se especialmente do Ensino Superior, a LDB apresenta no Artigo 43, que a educação tem por finalidade: I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II – formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III – incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV – promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V – suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII – promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição; VIII – atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização de pesquisas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que aproximem os dois níveis escolares (BRASIL, 1996, p. 32-33). Portanto, a Constituição Federal e a LDB foram concebidas com espaço para acolher a Política Nacional de Educação Ambiental, publicada em 1999. Essa p