NATHALIA LIMA FORNAZIERI O papel da Educação Física no desenvolvimento socioemocional: um caminho para a formação integral dos estudantes PRESIDENTE PRUDENTE - SP 2024 NATHALIA LIMA FORNAZIERI O PAPEL DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL: UM CAMINHO PARA A FORMAÇÃO INTEGRAL DOS ESTUDANTES Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – ProEF da Universidade Estadual Paulista - UNESP, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação Física. Área de Concentração: Educação Física nos anos finais do Ensino Fundamental Orientador: Prof. Dr. Augusto Cesinando de Carvalho PRESIDENTE PRUDENTE - SP 2024 Dedico esse trabalho a todos os estudantes que participaram desta pesquisa, pelo seu tempo e disposição em contribuir para o alcance dos resultados. AGRADECIMENTOS Quero agradecer à minha família, ao meu teacher Eduardo Rube, ao meu orientador Augusto e aos meus colegas mestrandos Fábio e Ana Paula. Cada um de vocês fez parte desta pesquisa, por meio de um conselho, um insight, uma troca de angústia ou inspiração. Obrigada pela paciência e incentivo. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. "Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!" (Paulo Freire) RESUMO A Educação Física Escolar (EFE) tem sido frequentemente subestimada, muitas vezes vista apenas como uma atividade voltada para o desenvolvimento físico, sem levar em conta as dimensões cognitivas e emocionais. No entanto, ao analisar as experiências dos estudantes em jogos, brincadeiras, danças, lutas, esportes e práticas corporais de aventura, revela-se o potencial dessas atividades para o desenvolvimento de habilidades fundamentais para a vida em sociedade, como liderança, determinação, resiliência e trabalho em equipe, além de promover o aprendizado sobre a cultura corporal do movimento. Este estudo teve como objetivo avaliar o impacto da associação dos objetos de estudo da EFE (esportes e jogos de invasão), presentes na matriz curricular proposta na BNCC, com a conscientização sobre as Competências Socioemocionais (CS). Foi elaborada uma sequência didática com cinco blocos de aulas, a qual foi aplicada em uma escola pública da rede estadual no município de Arujá. Participaram da pesquisa 50 alunos matriculados no nono ano do ensino fundamental. A autoavaliação socioemocional, realizada através de rubricas, foi o instrumento escolhido para medir a percepção dos alunos sobre o desenvolvimento das CS. A análise estatística revelou diferenças significativas nas CS foco, entusiasmo, tolerância à frustração e autoconfiança, indicando que as intervenções realizadas tiveram um impacto positivo e mensurável na conscientização dessas CS, segundo a perspectiva dos estudantes. Esses resultados sugerem que a integração das CS com as atividades propostas foi eficaz para o aprimoramento dessas competências. Palavras-Chave: Formação Integral; Competências Socioemocionais; Educação Física Escolar; Escola; Educação. ABSTRACT School Physical Education (SPE) has often been underestimated, frequently seen merely as an activity aimed at physical development, without taking into account cognitive and emotional dimensions. However, when analyzing students' experiences in games, playing, dancing, martial arts, sports, and adventure physical practices, the potential of these activities for developing essential life skills such as leadership, determination, resilience, and teamwork becomes evident, as well as promoting learning about the movement's body culture. This study aimed to evaluate the impact of associating SPE's objects of study (invasion sports and games), present in the curriculum matrix proposed by the BNCC, with raising awareness about Social-Emotional Competencies (SEC). A didactic sequence with five class modules was developed and applied in a public state school in the municipality of Arujá. Fifty 9th-grade students participated in the study. The social-emotional self-assessment, conducted through rubrics, was the instrument chosen to measure students' perceptions of SEC development. Statistical analysis revealed significant differences in the SEC of focus, enthusiasm, tolerance for frustration, and self-confidence, indicating that the interventions had a positive and measurable impact on students' awareness of these competencies from their perspective. These results suggest that integrating SEC with the proposed activities was effective in enhancing these competencies. Keywords: Integral Education; Social-Emotional Competencies; School Physical Education; School; Education. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – As cinco macrocompetências e as dezessete competências socioemocionais 32 Figura 2 - Socialização dos resultados da pesquisa em grupo 59 Figura 3 - Futebol americano adaptado 60 Figura 4 - Taco de hóquei adaptado 60 Figura 5 - Hóquei adaptado com cabos de vassoura 61 Figura 6 - Polo aquático em duplas 61 Figura 7 - sticks de Lacrosse confeccionados pelos estudantes 63 Figura 8 - Vivência do jogo Lacrosse 64 Figura 9 - Adaptações no equipamento 65 Figura 10 - Brainstorm 9ºA 66 Figura 11 - Brainstorm 9ºB 66 Figura 12 - Brainstorm 9ºC 67 Figura 13 - Momento de definir a estratégia 68 Figura 14 - Vivência do jogo Rouba bandeira invertido 68 Figura 15 - 9ºA Futsal 70 Figura 16 - 9ºB Futsal 70 Figura 17 - 9ºC Handebol 71 Figura 18 - Prêmios do mini torneio 72 Figura 19 - Conteúdo dos prêmios 73 Figura 20 - Aprendendo a conduzir a bola 75 Figura 21 - Vivência do jogo futebol de cegos 76 Figura 22 - Resultados da AV1 e AV2 na CS foco 81 Figura 23 - Resultados da AV1 e AV2 na CS organização 82 Figura 24 - Resultados da AV1 e AV2 na CS Imaginação criativa 83 Figura 25 - Resultados da AV1 e AV2 na CS Curiosidade para aprender 83 Figura 27 - Resultados da AV1 e AV2 na CS Entusiasmo 85 Figura 28 - Resultados da AV1 e AV2 na CS Tolerância à frustração 86 Figura 29 - Resultados da AV1 e AV2 na CS Autoconfiança 86 Figura 30 - Resultados da AV1 e AV2 na CS Empatia 87 Figura 31 - Resultados da AV1 e AV2 na CS Respeito 88 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Sexo e idade dos participantes da pesquisa 56 Tabela 2 - Desenvolvimento das CS na visão dos estudantes 78 Tabela 3 - Resultado da avaliação das atividades 78 Tabela 4 - Resultado Geral 80 LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS BNCC Base Nacional Comum Curricular CAAE Certificado de Apresentação de Apreciação Ética CS Competências Socioemocionais EF Educação Física EFE Educação Física Escolar IAS Instituto Ayrton Senna MC Macrocompetências PROEF Mestrado profissional em Educação Física SEDUC-SP Secretaria Estadual de Educação SUMÁRIO 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 16 1.1 Minha trajetória na educação física 16 1.2 Minha trajetória no proef 18 1.3 Introdução 20 2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS 25 2.1 A neurociência e o período da adolescência 25 2.2 A psicologia e a educação 27 2.3 A teoria Big Five ou Cinco Grandes Fatores da Personalidade (CGF) 29 2.4 - Componente curricular Projeto de Vida 34 2.5 - A autoavaliação socioemocional 36 2.6 - As competências socioemocionais e a Educação Física 38 3. JUSTIFICATIVA 42 4. OBJETIVO GERAL 43 4.1 - Objetivos específicos 43 5. PERCURSO INVESTIGATIVO - METODOLOGIA 43 5.1 - Universo da pesquisa 43 5.2 - Aspectos éticos 44 5.3 - Participantes 44 5.4 - Perfil das turmas 45 5.5 - Planejamento das aulas - intervenção 46 5.5.1- BLOCO 1: Autogestão 46 5.5.2- BLOCO 2: Abertura ao novo 48 5.5.3- BLOCO 3: Engajamento com os outros 50 5.5.4- BLOCO 4: Resiliência emocional 52 5.5.5- BLOCO 5: Amabilidade 53 5.6 - Avaliação das atividades 55 5.7 - Procedimentos para a análise de dados 55 5.8 - Produto educacional 56 6. RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 56 6.1 - Perfil dos participantes - caracterização da turma 56 6.2 - Aula expositiva sobre as competências socioemocionais e preenchimento da autoavaliação socioemocional (AV1) 56 6.3 - Relato de experiência sobre a intervenção 57 6.3.1 - BLOCO 1: Autogestão (CS foco e organização). 58 6.3.2 - BLOCO 2: Abertura ao novo (CS imaginação criativa e curiosidade para aprender). 62 6.3.3 - BLOCO 3: Engajamento com os outros (CS Iniciativa social e entusiasmo). 65 6.3.4 - BLOCO 4: Resiliência emocional (CS Tolerância à frustração e autoconfiança). 69 6.3.5 - BLOCO 5: Amabilidade (CS Empatia e Respeito). 74 6.4 - Resultados dos formulários 77 6.6 - Resultado da Autoavaliação socioemocional Inicial (AV1) e Final (AV2) 79 6.6.1 - Autogestão 81 6.6.2 - Abertura ao novo 82 6.6.3 - Engajamento com os outros 84 6.6.4 - Resiliência emocional 85 6.6.5 - Amabilidade 87 7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS 88 REFERÊNCIAS 92 APÊNDICE 1 97 APÊNDICE 2 98 APÊNDICE 3 99 ANEXO 1 100 ANEXO 2 101 ANEXO 3 105 ANEXO 4 107 ANEXO 5 109 ANEXO 6 119 ANEXO 7 129 ANEXO 8 132 16 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1.1 Minha trajetória na educação física Eu nunca fui muito fã das aulas de educação física, já que eu era uma aluna muito descoordenada e tímida, que não tinha muito sucesso com atividades práticas. Aos 11 anos, no caminho da escola, fui abordada por um professor, o Paulo, que me convidou para treinar voleibol. Eu nunca tinha ouvido falar desse esporte, mas o Paulo disse que eu tinha boa estatura e seria interessante tentar, então eu fui. Me apaixonei imediatamente. No fim daquele mesmo ano, fiz teste em um clube da cidade de São Paulo e passei a jogar campeonatos organizados pela Federação Paulista de Voleibol. Joguei federada até os 15, e em campeonatos estudantis. Foram dias felizes. Mas minha paixão pelo voleibol não se estendeu às aulas de educação física. Eu continuava sem interesse em praticar outros esportes oferecidos na escola. Com 16 anos comecei a trabalhar, então passei a estudar no período noturno, o que me afastou ainda mais das quadras, pois não conseguia acompanhar as aulas no contraturno. Nessa época, quando perguntavam qual profissão eu gostaria de seguir, eu respondia que não queria ser professora, de jeito nenhum! Realizei o exame do ENEM em 2008 e ganhei 100% de bolsa para começar um curso de graduação, sendo que minha primeira opção foi cursar publicidade e propaganda, mas não cheguei a assistir a nenhuma aula, pois fui questionada se era isso que eu gostava de verdade, e logo percebi que eu ainda era apaixonada por voleibol, por isso decidi trancar a matrícula, esperei o início do semestre seguinte, troquei de graduação e comecei a cursar educação física em 2009. Fiz estágios em muitas áreas, desde natação para bebês até ginastica laboral na Secretaria da Fazenda, mas não passei nem perto do voleibol. Fui pegando gosto pelas disciplinas da licenciatura, e em uma atividade, visitamos uma escola estadual próxima da faculdade e ali, considero que foi o início da minha trajetória como professora. Me senti tão bem aplicando a atividade com os estudantes, parecia que tinha nascido para fazer aquilo, foi tudo tão fácil e tranquilo que decidi que era aquilo 17 que queria fazer quando me formasse. Nos estágios, também fiquei encantada ao observar os professores experientes e receber todo o carinho dos estudantes. Passei no primeiro concurso para professor da educação básica que prestei, assim que me formei em 2013, enquanto aguardava ser convocada, trabalhei em academias e tentei atuar como professora eventual em uma escola estadual da minha cidade. Ali, todos os meus sonhos foram destruídos, pois percebi que não era tão fácil como havia pensado. Uma coisa era ser convidada, participar esporadicamente, sem muita responsabilidade, outra coisa era estar sozinha com 40 alunos que só queriam sair da sala e ir para a quadra. Fiquei muito chateada por não conseguir ministrar uma aula decente como eventual. A falta de interesse dos alunos e a indisciplina me fizeram desistir da licenciatura. Continuei a trabalhar com musculação e treinamento funcional. Em busca de aperfeiçoamento, em 2018, cursei uma pós-graduação em biomecânica, prescrição de exercícios e avaliação física. Durante este curso, fui convocada para assumir o cargo efetivo no governo do estado de São Paulo, ponderei sobre a decisão, queria estabilidade, mas a experiência como professora eventual havia sido traumática. Busquei conversar com colegas que já lecionavam sobre a realidade da sala de aula e me convenci de que deveria tentar novamente. Assumi o cargo e estou na mesma unidade escolar desde então, e nunca tive tanta certeza de que fiz a escolha certa! Com a mudança no Currículo Paulista em 2021, além do componente curricular educação física, passei a ministrar aulas de Projeto de Vida. Foi quando tive contato com a formação integral e o ensino das competências socioemocionais. Na educação física tem-se a tendência de se valorizar as habilidades motoras enquanto nas demais disciplinas, as habilidades cognitivas. Já em Projeto de Vida, pude voltar o olhar para uma área, até então pouco explorada por mim, que são os próprios estudantes, seus sonhos, suas relações sociais, suas emoções e o quanto a regulação dos sentimentos na fase da puberdade, onde tudo é mais intenso, pode contribuir no processo ensino-aprendizagem. Compreendi que estava ali para fazer a diferença na vida daqueles estudantes, que mais importante do que só fazer atividade física, é entender os 18 benefícios que as práticas corporais trazem a longo prazo e que este processo pode e deve ser prazeroso. Ao contrário do que normalmente se vê nas aulas de educação física, onde se privilegia os mais habilidosos, eu procurei incentivar todos os estudantes a realizar as atividades práticas com a intenção de que isso se tornasse um hábito para além da escola, e que eles pudessem levar esse hábito para a vida. Exerço a licenciatura com muito amor e costumo dizer que optar por trilhar esse caminho me levou à minha antiga paixão pelo voleibol, motivo pelo qual comecei a estudar educação física, e que havia me afastado. Hoje eu coordeno as equipes de voleibol da escola e os acompanho nas competições estudantis. Quando comecei a ensinar o voleibol na escola, a cultura da comunidade era apenas o futebol, de forma que houve certa resistência, mas insisti e vejo que minha paixão se estendeu a eles também. 1.2 Minha trajetória no proef Eu tinha vontade de me aperfeiçoar na licenciatura, pois todos os cursos que havia realizado após a graduação foram voltados para a área fitness de musculação e treinamento funcional, com o que eu trabalhei até então. Sentia que faltava mais que apenas me inteirar dos objetos de estudos do currículo, já que eu precisava de didática para colocar em prática uma educação física diferente da que eu tive quando aluna. Eu queria que meus alunos deixassem de lado a cultura do desinvestimento pedagógico das “aulas livres” e passassem a aprender sobre o vasto mundo da cultura do movimento a respeito do qual eu lia na BNCC e Currículo Paulista. Quando soube do programa de mestrado em educação física em rede nacional (PROEF) em 2021, me motivei a me inscrever em busca desse “algo a mais” que faltava em minhas aulas. Senti-me extremamente chateada quando fiquei na lista de espera do campus de Rio Claro, perdi as esperanças de conseguir uma vaga, pois havia sido informada que dificilmente alguém desistiria do curso. Me preparava para tentar novamente no ano seguinte, quando recebi uma ligação do campus de Presidente Prudente me questionando se eu tinha interesse em assumir 19 uma vaga remanescente. Aceitei na hora com muita satisfação sem nem pensar na distância que teria que percorrer para assistir às aulas, cerca de 600 quilômetros. Tive a sorte de poder trocar experiências e compartilhar ensinamentos com turmas de campus diferentes. Realizei os trabalhos e fóruns do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) com a turma do campus da Unesp de Presidente Prudente, e os encontros presenciais acompanhei em Rio Claro (Unesp) e São Carlos (UFSCAR). Esses encontros foram riquíssimos, com discussões significativas e debates interessantíssimos sobre a realidade vivida nas escolas e em nossa atuação cotidiana. Pude aprender com os colegas do PROEF e ver o quanto temos excelentes profissionais na área da educação física escolar. Considero que toda a aprendizagem desse período foi multiplicada por três. Compreendi como a minha formação inicial foi defasada e o quanto amadureci profissionalmente durante o PROEF. No início, quando comecei a lecionar, observava outros professores e não entendia que o que eles estavam fazendo era o “rola-bola". Comparava com as aulas que tive quando aluna e acreditava ser esse o único caminho a ser seguido. Quando comecei a cursar as disciplinas do PROEF e passei a refletir sobre as problemáticas presentes na educação física escolar, entendi que havia outras formas de se aplicar a cultura corporal do movimento e assim, valorizar o componente curricular. De um modo geral, toda a experiência com o PROEF me fez reavaliar o meu desempenho como docente, pois passei a enxergar a educação física com outros olhos. Acredito que as disciplinas presenciais de férias foram as que mais me impactaram e influenciaram o meu projeto de pesquisa. A semana que passei no campus em contato com com metodologias diferentes e modernas sobre os esportes de invasão e rede, despertaram em mim o desejo de levar essas vivências para a escola, para que meus estudantes conhecessem também novas perspectivas sobre as modalidades que eles já gostam tanto. 20 1.3 Introdução A convivência com a realidade escolar tem trazido reflexões acerca das práticas educacionais que negam a educação integral, concepção de educação que se compromete com uma formação global, contextualizada, democrática, inclusiva e transformadora, e que se preocupa com a formação de sujeitos capazes de construir conhecimento e não apenas instruídos em um processo passivo de escolarização. A educação integral visa ao desenvolvimento do indivíduo em suas dimensões intelectual, física, socioemocional e cultural, de modo a elencar as competências e as habilidades essenciais para sua atuação na sociedade contemporânea cujos cenários são complexos, multifacetados e incertos (São Paulo, 2019).1 A escola, como espaço de aprendizagem e de democracia, deve se fortalecer na prática em respeito às diferenças e diversidades. A formação integral implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, de forma a romper com visões que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva (Canettieri; Paranahyba; Santos, 2021). Significa, ainda, assumir uma visão simultaneamente plural, individual e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu desenvolvimento pleno, acolhimento e reconhecimento, nas suas singularidades e diversidades. O desenvolvimento do estudante é a soma de seu próprio conteúdo interno com o ambiente em que está inserido, portanto, não é possível dissociar a criança do meio em que vive (Buuron, 2021). Embora as relações sociais promovam o surgimento de sentimentos em todas as fases da vida, no período correspondente à educação básica, infância e adolescência, essas interações e emoções não têm sido compreendidas em sua totalidade. A saúde mental dos adolescentes é uma preocupação de saúde pública, por se tratar de uma etapa da vida na qual as atividades sociais são mais intensas e as fragilidades emocionais aumentam os riscos a transtornos mentais, prejuízos como redução de chance de completar a educação básica, falta de coesão social e redução da capacidade de enfrentar as adversidades futuras (VASQUEZ et al., 2022). 1 Currículo Paulista 21 A adolescência se caracteriza por um período de muitas mudanças fisiológicas, físicas e psicológicas, sendo uma época de desenvolvimento social significativo. Além disso, as mudanças psicológicas do indivíduo afetam o seu senso de identidade, sua autoconsciência e sua relação com os outros. Esse período é um momento de desenvolvimento funcional e estrutural do cérebro, que influencia o processamento de emoções e o desenvolvimento da mentalização, e é diretamente influenciado pelo ambiente social (Pfeifer; Allen, 2021). Portanto, é possível que essas mudanças ocorridas durante a transição de infância e adolescência possam influenciar no desenvolvimento das habilidades sociais e no bem-estar psicossocial. Ademais, a adolescência é um período crítico em que, frequentemente, existe um aumento de doenças mentais, como depressão, ansiedade, transtornos alimentares e transtornos de humor, abuso de substâncias e um aumento de comportamentos antissociais (Pfeifer; Allen, 2021). Além de todos os aspectos fisiológicos de maturação cerebral típicos da puberdade, atualmente há uma preocupação quanto às consequências do isolamento social causado pela pandemia de Covid-19. O fechamento das escolas e a suspensão das aulas presenciais foram algumas das primeiras medidas adotadas para o enfrentamento do novo coronavírus em quase todos os países . Por se tratar da principal atividade da maioria dos jovens, a falta da escola afetou significativamente as relações de sociabilidade e as rotinas diárias por um longo período e de forma inédita (Vasquez et al., 2022). Diante do exposto surge a necessidade de apoiar e orientar esses estudantes, para que saibam se relacionar consigo mesmos e com os outros, comprometidos na construção de sua identidade e de uma sociedade melhor (Abed, 2016). Indubitavelmente, as instituições escolares ainda são consideradas como um dos principais pilares para a construção de uma sociedade equilibrada, justa e igualitária. Sendo assim, hoje, além de desempenhar as funções pré-estabelecidas, ela tem a incumbência de auxiliar a família e a comunidade, e incluir a educação socioemocional em seu contexto educacional, de forma clara e eficaz (Fonseca, 2019). 22 Dentre os documentos e leis que asseguram que crianças e jovens desenvolvam aspectos cognitivos, emocionais e sociais no período que permanecem na escola, está a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento de caráter normativo, que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo das etapas da Educação Básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, e aponta para a importância da aquisição das Competências Socioemocionais (CS): “É na interação com os pares e com os adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar, e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais, constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais” (Brasil, 2018). Na BNCC (Brasil, 2018), as CS estão presentes nas dez competências gerais, que se inter-relacionam e contribuem para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos: (1) conhecimento, (2) pensamento científico, crítico e criativo, (3) repertório cultural, (4) comunicação, (5) cultura digital, (6) trabalho e projeto de vida, (7) argumentação, (8) autoconhecimento e autocuidado, (9) empatia e cooperação, e (10) responsabilidade e cidadania. Entretanto, destaca-se a competência 8, na qual, espera-se que o estudante possa se conhecer, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. Tais objetivos precisam ser inseridos no processo ensino-aprendizagem, pois esta competência trata do aprendizado que crianças e jovens devem adquirir a respeito de si mesmos, sendo 23 capazes de identificar potencialidades e fragilidades, manter a saúde física e o equilíbrio emocional (Rico, 2019). A BNCC trouxe novos olhares para a educação, de forma que, para ajudar no avanço das novas propostas, a rede estadual do estado de São Paulo implantou nova matriz curricular com novos componentes que podem ser lecionados pelos docentes das diversas áreas de conhecimento. Um deles é o componente “Projeto de Vida”, que visa propor práticas pedagógicas com o objetivo de evoluir a aprendizagem socioemocional e ampliar o repertório de vida dos alunos. Com a entrada deste componente nas escolas estaduais, tem surgido um interesse por parte dos professores pelas CS, de modo a se estabelecer um paralelo com suas áreas do conhecimento e assim identificar o ambiente adequado para estimular o desenvolvimento de tais habilidades nos estudantes (Silva et al., 2023). Como forma de compreender e apoiar o desenvolvimento socioemocional de cada pessoa, e buscando organizar as informações sobre esse tema com base em pesquisas, o Instituto Ayrton Senna (IAS) estabeleceu uma matriz de cinco Macrocompetências (MC), desdobradas em 17 CS fundamentais para a educação integral e o desenvolvimento pleno de crianças, jovens e educadores. São elas: (1) abertura ao novo, (2) amabilidade, (3) autogestão, (4) resiliência emocional e (5) engajamento com os outros. Essa matriz de MC harmoniza-se com os aspectos socioemocionais presentes no conjunto das dez competências gerais da BNCC, que por sua vez norteiam os currículos escolares no país a partir do compromisso com a educação integral (São Paulo, 2019). . As competências, identificadas como socioemocionais, destacam-se como as capacidades individuais que se manifestam de modo consistente em padrões de pensamentos, sentimentos e comportamentos. São aquelas que preparam os estudantes para reconhecer suas emoções e trabalhar com elas, lidar com conflitos, 24 resolver problemas, relacionar-se com outras pessoas, cultivar a empatia, estabelecer e manter relações positivas, fazer escolhas seguras e éticas, tomar decisões responsáveis, contribuir com a sociedade e estabelecer e atingir metas de vida. Pode-se observar a tendência em transformar as CS em um conjunto de tópicos específicos de uma disciplina, o Projeto de Vida. Essa metodologia oferece vantagens, tais como criar espaço e tempo para refletir e desenvolver questões relevantes às emoções e vivências dos alunos. No entanto, pode enfatizar a ideia de sujeitos fragmentados na cognição e emoção, isso porque a própria matriz curricular divide os componentes curriculares da disciplina que aborda as CS, como se na aula de conhecimentos científicos não coubessem as expressões da afetividade (Canettieri; Paranahyba; Santos, 2021). O componente curricular EF geralmente é associado apenas a atividades práticas pouco valorizadas quando se pensa no desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Porém, ao analisar as vivências dos jogos, brincadeiras, danças, lutas, esportes e práticas corporais de aventura na escola, pode-se observar o potencial desenvolvimento de habilidades essenciais que vão muito além do universo escolar, como persistência, determinação, tolerância à frustração e engajamento com os outros. Por conseguinte, o objetivo principal é a valorização do componente curricular EF, por meio da formação integral dos estudantes, além da apropriação da cultura corporal do movimento e o esclarecimento de que a EF escolar contribui para a sua formação, assim como todos os outros componentes curriculares. Considerando que um dos objetivos da educação no Brasil, segundo a BNCC (Brasil, 2018), é o pleno desenvolvimento do educando, torna-se um desafio reafirmar valores e estimular ações que contribuam para que tal objetivo seja alcançado. Para tanto, parte-se da ideia de que a presente pesquisa possa auxiliar na compreensão da importância, por parte dos docentes, de se desenvolver um tema que influencie a construção da identidade e do equilíbrio emocional, e que essa compreensão poderá, de alguma forma, refletir em sua prática pedagógica e, 25 portanto, em seus educandos, que poderão, talvez, levar esses conhecimentos adquiridos para além dos limites da escola. 2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS 2.1 A neurociência e o período da adolescência Para compreender o processo evolutivo das competências socioemocionais no contexto escolar, é imprescindível analisar os mecanismos neurológicos predominantes na faixa etária correspondente à educação básica, bem como as alterações fisiológicas, físicas e psicológicas que acompanham este estágio do desenvolvimento. A neurociência propõe que a plasticidade cerebral confere ao indivíduo a capacidade de adaptar-se ao ambiente e de adquirir habilidades que, posteriormente, se tornam essenciais. Nesse sentido, identificam-se duas fases de particular vulnerabilidade à plasticidade: a primeira infância e a adolescência. Isso ocorre porque as experiências sociais, emocionais e cognitivas têm o potencial de modificar a estrutura e a função das redes neurais (Casas, 2023). A adolescência é definida como o período de desenvolvimento que sucede a infância e precede a idade adulta, abrangendo a faixa etária dos 10 aos 24 anos. No entanto, essa delimitação é relativa, uma vez que o processo de amadurecimento e crescimento pode variar conforme o indivíduo (Sawyer et al., 2018). A Organização Mundial da Saúde (2020) esclarece que, durante o período da adolescência, os indivíduos tendem a estabelecer diretrizes comportamentais que influenciarão significativamente sua vida adulta. Essas diretrizes incluem padrões relacionados à atividade física, alimentação, uso de substâncias psicoativas e comportamentos sexuais, os quais podem resultar em hábitos benéficos ou prejudiciais à sua própria saúde e à de outros ao seu redor. Além dessas diretrizes, a adolescência é marcada pela busca de autonomia e identidade, o que envolve a separação dos cuidadores, a descoberta do próprio corpo, a inserção no meio social e as mudanças cognitivas e emocionais. Essas 26 experiências têm um impacto prolongado na saúde mental do indivíduo. Diversos transtornos mentais, como ansiedade, depressão, transtornos alimentares e de humor, abuso de substâncias e comportamentos antissociais, frequentemente emergem durante esta fase (Sawyer et al., 2018). Durante a adolescência, o cérebro passa por um processo de amadurecimento sequencial. Inicialmente, amadurecem os lobos parietais, que são responsáveis pela coordenação motora, seguidos pelas áreas envolvidas no processamento de estímulos sensoriais, como os lobos frontal e temporal. Simultaneamente, o sistema de recompensa cerebral, ou sistema límbico, que está associado à sociabilidade e à experiência de sentimentos e emoções, é ativado com maior frequência. Em contraste, o sistema de controle cognitivo, mediado pelo córtex pré-frontal, ainda está em fase de desenvolvimento. Essa discrepância pode levar a comportamentos impulsivos, decisões arriscadas e alterações de humor, características comuns da adolescência (Casas, 2023). É fundamental reconhecer que há variações individuais nos comportamentos dos adolescentes, influenciadas por fatores genéticos e/ou ambientais. Nesse contexto, a influência dos pares é particularmente significativa, especialmente entre os 12 e 14 anos. O pertencimento social é considerado especialmente importante e a exclusão social e a solidão apresentam ameaças tangíveis à saúde mental. Como resultado disso, os adolescentes tendem a tomar decisões baseadas no que é benéfico para os outros, mesmo que isso seja prejudicial para si mesmos, ressaltando a importância de incentivar o autoconhecimento e hábitos de autocuidado. (Tomova et al., 2021). Além disso, os aspectos sociais e emocionais desempenham um papel crucial, considerando tanto o relacionamento do adolescente consigo mesmo quanto com os demais. Situações de aprendizagem podem provocar sentimentos de receio, insegurança e outras manifestações emocionais que podem comprometer a concentração, a realização das atividades e o desempenho acadêmico (Valgôde, 2016). As dificuldades de aprendizagem frequentemente se correlacionam com problemas afetivo-emocionais, evidenciando a interrelação entre a dimensão socioemocional e essas dificuldades (Alvez, 2014). O ato pedagógico deve considerar os interesses e motivações dos alunos, e as atividades escolares devem 27 promover prazer e satisfação, criando um estado emocional que permita o envolvimento direto das habilidades socioemocionais dos alunos. Dessa forma, as emoções estão intrinsecamente relacionadas ao desempenho acadêmico e ao processo de ensino-aprendizagem (Bar-On, 2006). Os neurocientistas buscam integrar conhecimentos de diferentes áreas do saber, como Filosofia, Biologia, Psicologia e Pedagogia, promovendo uma visão abrangente do ser humano. No contexto educacional, as neurociências têm se mostrado grandes aliadas, ao reconhecerem cada indivíduo como único, proporcionando-lhe significado e identidade, e ao identificar padrões de desenvolvimento e tempo de aprendizagem específicos (Chedid , 2007). 2.2 A psicologia e a educação De acordo com Carrara (2006), a psicologia e a educação são conhecimentos que caminham juntos desde que o pensamento passou a ser objeto de indagação de filósofos e de outros estudiosos. Diante disto, não é incomum encontrar, entre educadores e psicólogos contemporâneos, concepções e práticas que tendem a relacionar aspectos emocionais e aprendizado escolar. Entender o processo de ensino-aprendizagem e a influência do meio em que o sujeito está inserido é parte importante da educação (Piaget, 1990), bem como compreender o processo de desenvolvimento da personalidade é parte do campo de investigações da psicologia, de modo que a união destes fatores auxilia na formação de seres humanos em sua individualidade (Bock et. Al, 2018). O objetivo deste capítulo é estabelecer um contorno teórico baseado nas pesquisas de estudiosos que contribuíram com avanços na relação entre Psicologia e Educação, a saber, Freud, Vygotsky, Piaget e Wallon, cujos trabalhos visaram explicar a conexão entre a razão, sentimentos e interação social, e a sua relevância no processo ensino-aprendizagem, e assim, promoveram o surgimento do conceito de habilidades socioemocionais. 28 Sigmund Freud (1856-1938): O neurologista e psiquiatra austríaco enfatizou a importância do entendimento das emoções e processos mentais na formação da personalidade. Suas teorias sobre o inconsciente e o papel dos desejos e motivações na psique humana fornecem um alicerce para a compreensão das emoções e da autorregulação emocional (Freud, 1920). Ao integrar esse entendimento no processo de aprendizagem, podem-se criar ambientes que promovam a expressão e a gestão saudável das emoções, de modo a desenvolver, assim, habilidades socioemocionais essenciais. Lev Semionovitch Vygotsky (1896-1934): O psicólogo russo ressaltou a importância das interações sociais no desenvolvimento cognitivo. Suas ideias sobre a aprendizagem mediada e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) indicam que as interações entre pares e com educadores são fundamentais para o crescimento emocional e cognitivo dos alunos (Vygotsky, 1978). Ao promover atividades colaborativas e oportunidades de aprendizagem conjunta, podem-se cultivar habilidades de empatia, colaboração e resolução de problemas. Jean William Fritz Piaget (1896-1980): O biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço contribuiu com uma compreensão abrangente do desenvolvimento cognitivo infantil. Suas teorias sobre os estágios de desenvolvimento fornecem um quadro valioso para a adaptação do ensino à capacidade cognitiva das crianças (Piaget, 1969). Ao levar em conta as diferentes fases de desenvolvimento, os educadores podem criar ambientes que estimulem a autonomia, a tomada de decisões e a resolução de conflitos, promovendo, assim, as competências socioemocionais, doravante chamadas “CS”. Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962): O filósofo, médico, psicólogo e político francês enfatizou a importância das emoções no desenvolvimento do sujeito. Suas teorias sobre a afetividade e a interação entre as dimensões emocionais, sociais e cognitivas destacam a 29 necessidade de considerar o aspecto emocional na educação (Wallon, 1945). Ao incorporar práticas que valorizem as emoções e promovam a inteligência emocional, podem-se cultivar habilidades de autoconhecimento, empatia e relacionamento interpessoal. Ao aplicar essas perspectivas teóricas, é possível criar ambientes educacionais mais inclusivos e personalizados, que promovam a formação integral dos alunos, de forma a prepará-los não apenas para o sucesso acadêmico, mas também para uma vida plena e bem-sucedida em sociedade. Sob a perspectiva das teorias citadas acima, ao longo do século XX, constitui-se uma concepção pedagógica que passa a evidenciar os estudantes, como sujeitos em sua constituição histórica, produtores de conhecimento e de cultura, de forma a romper com a lógica que tende a evidenciar os conteúdos e disciplinas como centrais no processo (Santos; Lins, 2021). Nas primeiras décadas dos anos 2000, a formação integral era a prioridade quando se falava em promover e auxiliar estes estudantes em sua aprendizagem. Conceitos como competências socioemocionais, habilidades do século XXI, paradigma holístico, currículo socioemocional e abordagem transversal tornaram-se recorrentes nos debates educacionais mobilizados pelos diferentes sistemas de ensino. Além das competências e habilidades específicas em determinada área do conhecimento, os estudantes contemporâneos também necessitam de habilidades transferíveis como a cooperação e a capacidade de lidar com a diversidade, aptidões para comunicação eficaz, capacidade de gerenciar emoções, habilidades de organização e execução, bem como uma mentalidade aberta, criativa e inovadora (De Fruyt, 2019). 2.3 A teoria Big Five ou Cinco Grandes Fatores da Personalidade (CGF) A teoria Big Five, também conhecida como os Cinco Grandes Fatores da Personalidade (CGF), é um dos modelos atuais mais aceitos e usados na área da psicologia para descrever a personalidade humana. Tem sua origem em um conjunto de pesquisas baseadas em teorias de fatores e de traços de personalidade. Nunes e 30 Hutz (2002) afirmam que um dos pioneiros no desenvolvimento do modelo dos CGF foi William McDougall, psicólogo inglês que, na década de 1930, propôs que analisar a linguagem de uma população ajudaria a compreender a sua personalidade, e sugeriu um modelo em que ela poderia ser analisada a partir de cinco fatores independentes. Outros cocriadores da teoria têm seus nomes encontrados na literatura como, por exemplo, Lewis Goldberg, Robert McCrae e Paul Costa, de modo que se trata de um conjunto de estudos que foram sistematizados e resultaram no modelo atual dos Cinco Grandes Fatores. A importância desse modelo se embasa notadamente no fato de, segundo McCrae e Costa (1997), ter sido aplicado em diversas amostras e culturas, por meio de múltiplas fontes de informação (incluindo autoavaliação, avaliação por pares e avaliações clínicas), o que comprovou sua adequação nos diferentes usos. Os traços de personalidade podem ser utilizados para explicar, prever e resumir o comportamento de um indivíduo, de modo a indicar que a explicação para a conduta deste será encontrada nele mesmo e não na situação, sugerindo, deste modo, algum tipo de processo ou mecanismo que produza o comportamento. São elementos mutáveis, não obstante sejam considerados constantes por representarem uma tendência, (Pacheco & Sisto, 2003). Essa visão também é compartilhada por Costa e McCrae (1998) ao afirmarem que os traços podem sofrer influência de aspectos motivacionais, afetivos, comportamentais e atitudinais. Os cinco domínios propostos nos "Big 5" são: - Openness (Abertura a experiências) Estar disposto e interessado pelas experiências: curiosidade, imaginação, criatividade, prazer pelo aprender, entre outros. - Conscientiousness (Conscienciosidade) Ser organizado, esforçado e responsável pela própria aprendizagem: perseverança, autonomia, auto regulação, controle da impulsividade, entre outros. - Extraversion (Extroversão) Orientar os interesses e energia para o mundo exterior: autoconfiança, sociabilidade, entusiasmo, entre outros. - Agreeableness (Amabilidade-Cooperatividade) 31 Atuar em grupo de forma cooperativa e colaborativa: tolerância, simpatia, altruísmo,entre outros. - Neuroticism (Estabilidade emocional) Demonstrar previsibilidade e consistência nas reações emocionais: autocontrole, calma, serenidade, entre outros. Abed (2016) ressalta o fato das iniciais em inglês das cinco categorias dos "Big 5" formarem a palavra "OCEAN”. Em sua pesquisa, menciona que o oceano é uma metáfora maravilhosa para as habilidades socioemocionais: imensidão, profundidade, mistério, às vezes uma onda reconfortante e calma, às vezes um maremoto devastador. No Brasil, os cinco fatores desse modelo têm sido chamados de Abertura à Experiência, Conscienciosidade, Extroversão, Amabilidade e Neuroticismo, embora nota-se na literatura que existe uma variedade grande quanto à nomenclatura destes fatores. Como exemplo, podemos citar os apontamentos de Urquijo (2001), ao afirmar que certos autores preferem denominar alguns desses fatores como agradabilidade, escrupulosidade e estabilidade emocional; o de McCrae (1998), ao comentar que o fator “abertura à experiência” tem sido chamado também de “intelecto”, e ainda o de Nunes, Hutz e Giacomoni (2009), ao afirmarem que o fator “socialização” também tem sido chamado de “amabilidade” e o fator “realização”, de “conscienciosidade”. É verdade que alguns fatores podem ser chamados de maneiras diferentes, mas as definições são consensuais e apontam para características semelhantes. O modelo Big Five foi usado como base para a compreensão do funcionamento das CS, que foram então organizadas em cinco macrocompetências, cada uma das quais inclui competências específicas. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Educacional (OCDE) é uma das muitas organizações internacionais que adotaram o modelo, que tem sido bem usado para organizar as CS na literatura nacional e internacional (Pancorbo et al., 2021). 32 Já o modelo organizativo adotado pelo Instituto Ayrton Senna (IAS)2 compreende 5 macrocompetências e 17 CS. As competências apresentadas no modelo foram selecionadas entre as CS por apresentarem evidências de i,pacto positivo para a aprendizagem, bem-estar, continuidade dos estudos, empregabilidade, entre outros fatores relacionados ao contexto escolar. Vale ressaltar que este modelo não delimita que existam somente estas CS, mas que estas foram priorizadas e selecionadas por demonstrarem que podem ser desenvolvidas em experiências formais dentro da escola. A Figura 1 apresenta o modelo das CS adotado pelo Instituto. Figura 1 – As cinco macrocompetências e as dezessete competências socioemocionais Fonte: Instituto Ayrton Senna (2021) Em 2021, o IAS, em parceria com a SEDUC, realizou um mapeamento socioemocional dos estudantes no âmbito do SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). O mapeamento avaliou as CS por meio da aplicação de um questionário para correlacioná-las ao desempenho, à violência e ao pertencimento escolares. Participaram da amostragem cerca de 2 O Instituto Ayrton Senna é uma organização sem fins lucrativos criada com o objetivo de estimular a educação integral. Tem atuado na produção de conhecimento com base em atividades de pesquisa, formação de gestores públicos, educadores e criação de componentes de políticas educacionais. 33 41.277 estudantes do 9º ano do ensino fundamental, vindos de 3.586 escolas (OCDE, 2021). De acordo com Primi et al. (2021), o objetivo da pesquisa não foi avaliar o desempenho socioemocional dos estudantes, mas sim analisar a percepção que eles tinham sobre si mesmos naquele momento específico de vida, bem como subsidiar o trabalho docente para aprimorar os aspectos socioemocionais em sala de aula. “O questionário SENNA foi concebido principalmente para implementação na prática educacional e na formulação de políticas, mas também deve servir a propósitos de pesquisa fundamental e aplicada. (...) O uso do inventário, de suas escalas e de seus relatórios ajudará a educação no Brasil a usar um vocabulário comum para falar sobre o desenvolvimento das competências socioemocionais entre alunos, professores, pais, diretores e formuladores de políticas. Além disso, cria uma oportunidade para desenvolver ações baseadas em evidências a serem implementadas na sala de aula, mas também para a elaboração de políticas” (Primi et al. 2021). Os resultados demonstram que as competências percebidas como menos desenvolvidas por estes estudantes são aquelas relacionadas à resiliência emocional (como autoconfiança), à autogestão (como determinação, foco e persistência) ao engajamento com os outros e à amabilidade, segundo os autores, por serem competências associadas a uma etapa marcada por muitos questionamentos e reavaliações na forma como o adolescente percebe a si e o mundo à sua volta. Ainda, de acordo Primi et al. (2021), as CS podem ser consideradas fatores protetivos, pois podem reduzir os chamados fatores de risco nos comportamentos internalizantes (ansiedade, depressão, isolamento) e nos externalizantes (agressão, violência, intolerância), de modo a contribuir com a prevenção ao bullying, com a redução da evasão escolar e com a recuperação da aprendizagem. 34 2.4 - Componente curricular Projeto de Vida A partir dos estudos realizados pelo IAS, do Instituto PROA, do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação e contando com a participação e escuta da rede de ensino paulista, uma nova política pública sobre a educação foi introduzida nas escolas públicas do Estado de São Paulo com a intenção de preparar os estudantes para o mercado de trabalho - que se encontra em constante evolução no século XXI - de forma a exigir habilidades e competências que o sistema educacional não priorizava. De acordo com as diretrizes curriculares, o componente curricular Projeto de Vida visa o engajamento dos estudantes em processos contínuos de reflexão e construção do seu projeto de vida, baseando-se nas suas características pessoais para o fortalecimento de sua capacidade de aspirar, planejar e alcançar objetivos presentes e futuros, envolvendo a continuidade dos seus estudos e inserção no mundo do trabalho. Para isso, a proposta pedagógica se vale de três eixos formativos, quais sejam: formação para a vida, excelência acadêmica e desenvolvimento de CS. Desse modo, é possível que os estudantes ampliem suas possibilidades de atuação na escola e na vida, desenvolvendo não só a excelência acadêmica, bem como sua capacidade de elaborar e executar seu projeto de vida. Para que se compreenda como essas reflexões sobre tais habilidades impactaram as novas diretrizes educacionais, é mister compreender como se deu a inserção dos novos componentes curriculares no estado de São Paulo. Essas concepções pedagógicas têm como ponto de partida o Programa Ensino Integral, o qual trabalha o Projeto de Vida como componente curricular desde 2012. Em 2019, a SEDUC-SP apresentou aos educadores da rede os novos componentes curriculares do Inova para que pudessem ser aplicados em 2020. Diante da perplexidade decorrente do massacre de Suzano3, uma das justificativas para a inserção desses componentes seria uma forma de conter a violência e o 3 Em março de 2019, dois atiradores, ex-alunos, mataram cinco estudantes e duas funcionárias na Escola Estadual Professor Raul Brasil no município de Suzano, no estado de São Paulo. Antes do ataque, num comércio próximo à escola, a dupla também matou o tio de um dos assassinos. Após o massacre, um dos atiradores matou o comparsa e em seguida cometeu suicídio. Foi a nona vez que esse tipo de crime ocorreu em escolas brasileiras. https://pt.wikipedia.org/wiki/Suzano https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo_(estado) 35 bullying dentro das escolas, de forma que passasse a existir um espaço para o diálogo entre professores e alunos sobre as emoções. Outro motivo apresentado se referia à adaptação do currículo para abordar temas contemporâneos presentes na vida dos jovens, tais como a tecnologia, o empreendedorismo, a inteligência emocional, entre outros, e que os alunos pudessem escolher em qual área do conhecimento gostariam de se aprofundar. No entanto, há indícios de que tal iniciativa já estava se constituindo antes da tragédia, portanto, provavelmente a motivação ligada ao episódio se configurou como uma resposta rápida à sociedade, de forma que, já se falava em CS na BNCC. Ademais, o IAS já pesquisava e publicava materiais relacionados às CS desde 2014, tais como o livro “Educação em Quatro Dimensões: As competências que os estudantes devem ter para atingir o sucesso” publicado em 2015 em parceria com o Instituto Península e o artigo “Habilidades Socioemocionais e Aprendizado Escolar: evidências a partir de um estudo em larga escala”, publicado em 2017. Acredita-se, pois, que as motivações da inserção dos novos componentes estavam ligadas à formação de estudantes para o mercado de trabalho, de forma que as habilidades citadas acima possibilitam a formação de pessoas mais eficientes economicamente, pois têm efeitos diretos sobre fatores socioeconômicos, como o aumento de emprego, renda, escolaridade e a redução de riscos, como o número de gestações indesejadas e de atitudes violentas, dentre outros aspectos que trazem prejuízos ao desenvolvimento dos países. Uma crítica aos modelos curriculares convencionais, centrados em conhecimentos disciplinares, ocorre porque a sociedade espera que os jovens tenham perfis educacionais diferentes. Segundo Carvalho e Silva (2017), o governo deve estabelecer estratégias para facilitar o crescimento de indivíduos que tenham mais habilidades e sejam mais receptivos à mudança. Esses indivíduos deverão se tornar adultos produtivos, participantes do jogo do consumo e empreendedores. Em resumo, um estado deve incentivar a potencialização das CS dos estudantes para aumentar o poder produtivo da população, diminuindo assim as situações que possam resultar em despesas futuras em segurança, saúde e educação. 36 Apesar das mudanças no currículo e na inserção dos novos componentes curriculares, apenas a disciplina Projeto de Vida aborda de forma explícita e intencional as CS. No geral, esse modelo suscitou algumas críticas por parte do corpo docente e dos estudantes, pois dentre esses dois grupos há a ainda uma resistência em se enxergar as razões e motivos para se desenvolver tais habilidades, de forma que ambos tendem a considerar mais importante aprimorar os conceitos teóricos das disciplinas tradicionais, visando processos seletivos e vestibulares para ingresso em faculdades (Silva et al., 2023). 2.5 - A autoavaliação socioemocional A avaliação das CS é fundamental para apontar o progresso na conscientização socioemocional. Para tais fins, o IAS desenvolveu um instrumento de avaliação formativa nomeado Rubricas Socioemocionais (Anexo 5), utilizado no componente curricular Projeto de Vida, com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento socioemocional dos estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública (São Paulo, 2019). Rubricas são definidas como uma matriz que fornece níveis escalonados de realização ou compreensão para um conjunto de critérios ou dimensões de qualidade para um determinado tipo de desempenho. As rubricas estão sendo amplamente utilizadas para avaliar o desempenho acadêmico dos indivíduos, avaliar programas educativos, bem como melhorar o ensino em diferentes níveis de educação (Pancorbo et al, 2021). A avaliação por meio de rubricas possui afirmações dos níveis de desempenho com linguagem descritiva em vez de avaliativa. Cada frase descritiva da auto avaliação representa um degrau no desenvolvimento. O indivíduo realiza a leitura das afirmações e classifica em que degrau se encontra naquele momento. O degrau 4 representa o nível mais alto, ao passo que o degrau 1 representa o nível mais baixo de desenvolvimento do avaliado (IAS, 2018). A autoavaliação socioemocional é influenciada por diversos fatores que visam mensurar competências além das habilidades cognitivas tradicionais, contemplando 37 aspectos do desenvolvimento emocional e social dos alunos. Entre os principais fatores estão a clareza dos critérios avaliativos, que devem refletir comportamentos observáveis e mensuráveis, como empatia, colaboração, resiliência e autoconfiança. Outro fator relevante é o contexto cultural e social em que o aluno está inserido, pois experiências de vida e interações sociais moldam suas competências socioemocionais. Além disso, a consistência da aplicação das rubricas, o treinamento dos avaliadores e a inclusão de feedback construtivo são essenciais para garantir que a avaliação seja justa e eficaz. Por fim, a própria predisposição do aluno para o autoconhecimento e o desenvolvimento socioemocional também impacta os resultados, visto que a percepção pessoal e o engajamento nas atividades influenciam diretamente o processo avaliativo (IAS, 2018). Diante disso, para que a autoavaliação por meio de rubricas seja efetiva, é imprescindível considerar diversos fatores que impactam diretamente o processo avaliativo. Primeiramente, é necessário levar em conta o estágio de desenvolvimento cognitivo do estudante, pois diferentes fases de maturação intelectual influenciam a capacidade de compreensão e reflexão crítica. Além disso, os desafios e demandas emocionais enfrentados pelo aluno, como estresse ou insegurança, podem interferir na autorreflexão e na precisão da autoavaliação. Por fim, o contexto no qual o indivíduo está inserido — incluindo aspectos sociais, econômicos e familiares — desempenha um papel significativo, uma vez que esses elementos moldam tanto a percepção do aluno sobre si mesmo quanto suas interações com o ambiente escolar (Primi, 2016).. De acordo com Pancorbo et al (2021), a transparência da avaliação promove a autorreflexão e o feedback construtivo entre os pares, sendo este último, fundamental para que a autoavaliação seja efetiva dentro do processo de ensino-aprendizagem, pois a troca de informações entre aluno e professor facilitará o entendimento e a as ações de continuidade para melhorar o desempenho do aluno. 38 2.6 - As competências socioemocionais e a Educação Física Com tantas alterações na lei a partir de 2017, como a implantação da BNCC e dos currículos dos estados, pensar a (EF) como componente curricular obrigatório na educação básica e pertencente à área de linguagens (Brasil, 1996) sem analisar a história das propostas que têm norteado os currículos educacionais para a área ao longo dos tempos, é negar a existência de uma sociedade em constante transformação. As mudanças sociais, históricas, políticas e culturais têm reflexos nos espaços educacionais e, consequentemente, exigem, dos docentes e da comunidade escolar, habilidades e competências sob uma ótica multidisciplinar para enfrentar os desafios da escola contemporânea (Abed, 2016). Diante do conhecimento sobre educação integral trazido pela (BNCC), observações emergem a respeito do cenário das aulas de EF, de modo que as propostas sugeridas podem ajudar os alunos a se conhecer, a entender que as emoções surgem e precisam ser acolhidas, já que são seres integrais, cujos corpos expressam sentimentos. Ao pensar a EF no contexto escolar, na escola justa e democrática, essa se torna uma estratégia ímpar para assegurar aos alunos o direito de desenvolver plenamente seus potenciais, baseada nos quatro pilares que constam no relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que são: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a conviver e aprender a fazer (Pfeilsticker, 2020). Dentre as demandas atuais dos professores de EF na rede pública de ensino, têm-se observado as inquietações relativas à desvalorização do componente curricular EF. Dentro da hierarquia da escola, a disciplina ainda é vista como atividade prática e que pouco tem a contribuir com a formação integral dos estudantes. Tal perspectiva é herança dos tempos da metodologia higienista, que se pautava na valorização dos mais habilidosos nos esportes, e que tinha como principal objetivo manter a saúde do corpo (Krug et al., 2020). Não é raro se ouvir, no ambiente pedagógico, que professores de EF não precisam preparar avaliações, assim como seria vexatório para os alunos ficarem de recuperação na disciplina, como se não houvesse conteúdos a serem explorados ou ensinamentos a serem adquiridos por meio da apropriação da cultura corporal do movimento. 39 Parte dos estudantes compreende a aula de EF como um momento de lazer, em que se exige o rola-bola4, de modo que, quem não gosta de participar prefere ficar ocioso, conversando com outros alunos. Ainda é preciso avançar nessa concepção, que está enraizada na cultura escolar, de forma a utilizar diferentes metodologias que suplantam o fazer e promovam o saber sobre o fazer; um objetivo a ser alcançado, pois os estudantes não compreendem a importância da EF dentro da sua formação (Kawashima; Moreira, 2020). Nas atividades das aulas de EF, é possível destacar algumas das CS imprescindíveis na contemporaneidade que possam preparar os estudantes para a vida adulta em sociedade, tais como motivação, perseverança, capacidade de trabalhar em equipe e resiliência diante de situações difíceis (Abed, 2016). Esses aspectos estão sendo desenvolvidos paralelamente mesmo que os estudantes não se conscientizem, por exemplo, quando eles “rolam” a bola no futsal ou acertam seus colegas na queimada. As aprendizagens provavelmente não estão sendo absorvidas e transportadas além dos limites da quadra, pois é preciso que haja intencionalidade em desenvolver essas habilidades. Para que se atinja a conscientização e potencialização das CS, o professor-mediador precisa buscar recursos diferenciados para provocar a reciprocidade e atingir a diversidade de todos, em seus diferentes estilos cognitivo-afetivos, onde se aproxima cada vez mais das habilidades socioemocionais na aplicação dos sentimentos, promovendo a integração do ser humano nos pontos dos sentidos mais facilitadores para a aprendizagem, como a estimulação dos pontos mais frágeis no sentido de pessoas mais inteiras, mais equilibradas, e mais integradas internamente. As sugestões para atingir essa proposta são diversas, mas pensando entre essas possibilidades, o jogo apresenta-se como um recurso simples e de fácil acesso, que inclui vários aspectos que promovem o desenvolvimento motor, cognitivo, social, emocional entre outros. Em diferentes estudos é mostrada a eficácia dessa ferramenta. Quando o jogo é utilizado pelo professor, com clareza dos 4 Termo utilizado na área da EF para o desinvestimento pedagógico ou aula livre. 40 objetivos e ações intencionalmente planejadas, seu poder na relação pedagógica cresce exponencialmente (Abed, 2016). O jogo, além de ser uma ferramenta lúdica, simula situações do contexto da vida cotidiana, assim como evidencia as habilidades cognitivas que estão interligadas às habilidades socioemocionais. No contexto do jogo com as regras, contribui para os processos internos e externos intensos, quando vivenciados, manifestam-se e determinam a forma como jogamos. Com isso, oferece suporte na mediação do professor no funcionamento da ação de cada aluno, ajudando a se conhecer, compreender como se posicionar em relação ao jogo, ao outro e à vida. A dor de perder, a excitação da vitória; o desejo de "arrasar o adversário", o medo de ser destruído por ele; as angústias, as dúvidas, as frustrações, os conflitos... tudo é vivido no jogo e através do jogo de forma muito séria! E ao mesmo tempo a "folga" garante a segurança de se poder passar por todas as vivências de confronto de forma amplamente aceita: faz parte do jogo! Acerto e erro, ganhar e perder, sentir coisas, competir: jogar é tudo isso (Abed, 2014). A EF tem muito a contribuir com o desenvolvimento das CS, desde que a intencionalidade em fomentar tais aspectos nos estudantes seja adicionada. Os objetos de estudo do componente curricular, por sua vez, favorecem o debate acerca destas habilidades, e é na quadra da escola onde há socialização, emoções geradas pelas interações dos estudantes, e conflitos oriundos de jogos, brincadeiras, esportes, danças e lutas. Contudo, pouco vem sendo feito durante as aulas para que haja um espaço de debate sobre as relações interpessoais, o afeto, o autocuidado e o impacto delas na vida dos estudantes. Para mudar essa realidade, deve-se começar do micro, no chão da quadra, mudando a percepção que os estudantes possuem da EF, quebrando a cultura do desinvestimento pedagógico, elaborando atividades que contribuam com o desenvolvimento pleno desses estudantes, e ensinando habilidades para a vida por meio dos esportes, danças, lutas, ginásticas, práticas corporais de aventura, jogos e brincadeiras. Um dos pilares da mudança tem sido pautado no ajuste da visão das equipes pedagógicas para que estejam consoantes à real importância do componente 41 curricular, de modo a facilitar a atuação dos professores no sentido de ter uma gestão que apoie e compreenda o trabalho que é realizado. Porém, para isso, além de cumprir com todas as atribuições que se esperam de um docente, é mister participar ativamente das decisões, reuniões, eventos e projetos da unidade escolar. O professor de EF precisa estar a par das demandas da comunidade e ajustar suas aulas a essa realidade, com o intuito de fortalecer a formação integral dos estudantes por meio da cultura corporal do movimento. Acredita-se que a valorização do componente curricular EF poderá acontecer caso haja o esclarecimento de que ela contribui para a formação integral dos estudantes, assim como todos os outros componentes curriculares. Sabe-se que a prática de esportes coletivos ou individuais promovem o desenvolvimento dos praticantes, além da sua forma física, o desempenho cognitivo e emocional. É por meio das práticas corporais que se pode vivenciar CS como liderança, trabalho em equipe, persistência e determinação, entre outras, tão importantes e necessárias para a formação dos indivíduos como cidadãos (Cronin, 2022). Alguns estudiosos já demonstraram interesse pelo desenvolvimento dessas habilidades no esporte, principalmente em jovens (por exemplo, Goudas, 2010; Holt, Sehn, Spence, Newton e Ball, 2012; Jenny e Rhodes, 2017). Concluiu-se que, por meio da intencionalidade e do diálogo consegue-se desenvolvê-las e transportá-las para além dos momentos esportivos. As CS, então, devem ser transferíveis entre os domínios da vida como, por exemplo, trabalho escolar, vida doméstica e relacionamentos (Ciampolini et al, 2020). O termo utilizado nestes estudos é Life skills, cuja tradução para o português é “habilidades para a vida”, definidas como “habilidades funcionais que os indivíduos desenvolvem em um contexto (como casa, escola, esporte, comunidade, local de trabalho) e que também são usadas de forma eficaz em outros contextos além daquele em que foram aprendidos” (Williams et al., 2020). Alguns exemplos de habilidades para a vida são: liderança, resolução de problemas, gerenciamento de tempo e habilidades de comunicação (Cronin, 2022). 42 Pode-se observar uma semelhança entre as habilidades para a vida e as CS, de modo que estas últimas auxiliam na autogestão, regulação emocional e socialização. Estes estudos já visualizavam o potencial da EF em desenvolver estes aspectos por meio das práticas corporais, porém, eles estão, em sua maioria, ambientados em modalidades esportivas e competições, mas não na área escolar, onde acredita-se que um número maior de jovens será atingido, já que todos têm o direito à educação básica. Sendo a EFE um componente curricular obrigatório nas etapas dos Ensinos Fundamental e Médio, e considerando que ainda há questionamentos sobre a sua importância nessas etapas, deve-se argumentar que essa disciplina prepara os indivíduos para a vida em sociedade, e não só para conhecer e vivenciar modalidades esportivas dentro da quadra da escola, portanto, desenvolver tais habilidades nestes estudantes é contribuir para uma sociedade mais justa e democrática pela via da conscientização socioemocional. 3. JUSTIFICATIVA Diante do exposto, para que a EFE seja valorizada como componente curricular obrigatório da Educação Básica, assegurada por lei, é preciso considerar a formação integral e promover uma aprendizagem que contemple habilidades para a vida dos estudantes por meio das CS. Cabe retomar que as CS já estão contempladas na BNCC (Brasil, 2018) e no Currículo Paulista (São Paulo, 2020), dentro do componente curricular Projeto de Vida, nos ensinos fundamental e médio. Sendo assim, o presente projeto de pesquisa investigou, a partir da perspectiva do estudante, o desenvolvimento das CS relacionados aos objetos de estudo Esportes de Invasão nas aulas de EFE, bem como tentar responder a algumas questões como: Como os estudantes lidam com as emoções geradas nas aulas de EFE? As atividades propostas potencializam as CS sugeridas? A proposta é colaborar para uma EF que aproxime o desenvolvimento físico, do cognitivo e do emocional, para que os estudantes tenham acesso a uma formação global que, por sua vez, os enxergue como seres completos, pertencentes 43 a uma faixa etária na qual se necessita de assistência para lidar com todas as transformações que ocorrem em seu corpo e em sua mente. E que o papel do docente é muito mais que só repassar a cultura corporal do movimento, mas preparar esses alunos para viverem bem em sociedade. 4. OBJETIVO GERAL ● Desenvolver e avaliar uma sequência didática para as aulas de educação física que estimule as competências socioemocionais. 4.1 - Objetivos específicos ● Incentivar a conscientização do uso das competências socioemocionais nas aulas de Educação Física, de forma a promover o seu aperfeiçoamento. ● Criar atividades e estratégias que estimulem o estudante de forma global, considerando aspectos cognitivos, emocionais, sociais e físicos. ● Analisar a sequência didática proposta visando a melhoria das competências socioemocionais de acordo com a perspectiva dos estudantes. 5. PERCURSO INVESTIGATIVO - METODOLOGIA 5.1 - Universo da pesquisa A pesquisa foi realizada em uma escola estadual localizada no município de Arujá, estado de São Paulo, pertencente à Diretoria de Ensino da Região de Jacareí, sendo esta Diretoria Regional composta por 54 escolas públicas e 84 escolas particulares distribuídas por 6 municípios. Para realização desta pesquisa, a Diretoria de Ensino e a Direção da Unidade Escolar foram informadas acerca dos objetivos e metodologia, e autorizaram a realização da pesquisa (Anexo 1). 44 5.2 - Aspectos éticos A pesquisa, com Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) número 72919023.1.0000.5402 (Anexo 2), foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, Campus Presidente Prudente, parecer número 6.595.466. Após a aprovação do Comitê de Ética, Diretoria de Ensino e Direção Escolar, o projeto de pesquisa foi apresentado aos responsáveis em uma reunião na unidade escolar e posteriormente foi enviado uma carta por meio dos estudantes, juntamente com o TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 3) para assinatura. Aos participantes da referida pesquisa garantiu-se total liberdade de participação, podendo estes desistir ou solicitar a sua retirada do estudo, a qualquer momento sem qualquer prejuízo. Foi assegurado também o respeito à sua integridade, ocorrendo a preservação dos dados que poderiam de alguma forma identificá-los, garantindo-lhes especialmente, privacidade, sigilo e confidencialidade. Durante uma aula foi feita uma leitura compartilhada do Termo de Assentimento (Anexo 4) onde os estudantes puderam se inteirar de seus direitos e deveres dentro da pesquisa 5.3 - Participantes A pesquisa foi realizada numa Unidade Escolar da Rede Pública Estadual de São Paulo, EE Ana Maria de Carvalho Pereira, pertencente à Diretoria de Ensino da região de Jacareí, que atende 675 estudantes dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e Ensino Médio (1ª a 3ª série). O presente estudo foi realizado com os estudantes, de ambos os sexos, matriculados no Ensino Fundamental, especificamente no 9º ano, totalizando 50 estudantes. Especificamente foram escolhidos os estudantes dos 9º ano A, B e C, pois são as turmas em que ministro as aulas. 45 A pesquisa aconteceu em quatro etapas: (1) Perfil das turmas; (2) Planejamento das aulas; (3) Intervenção (aplicação das aulas); (4) Avaliação das atividades. 5.4 - Perfil das turmas Nessa etapa, foram traçados o perfil do estudante e a caracterização da turma, considerando o nível de compreensão sobre as CS. A professora pesquisadora realizou uma aula expositiva sobre o conceito de cada CS e abriu espaço para os estudantes sanarem possíveis dúvidas. Para a aula de apresentação da CS, foi elaborada uma apresentação de slides com os conceitos, exemplos e classificação conforme a organização adotada pelo IAS. Realizou-se uma leitura compartilhada deste material, e os alunos citaram exemplos de momentos ou situações nas aulas de EF em que as CS estão sendo desenvolvidas. Em seguida, os alunos receberam orientação quanto ao preenchimento correto das rubricas e preencheram a uma autoavaliação socioemocional inicial denominada de AV1 (Anexo 5), que já vem sendo utilizada na rede de ensino do estado de São Paulo durante as aulas do componente Projeto de Vida, e que tem como objetivo mapear as CS dos estudantes e avaliar os aspectos que necessitam de intervenções. Ao final da sequência didática, os alunos serão submetidos à mesma autoavaliação socioemocional, denominada de AV2, e então os dados serão comparados. Para responder ao formulário, os estudantes utilizaram tablets/notebooks e a rede de Wifi disponibilizada pela escola. O formulário pode ser acessado por meio do link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd3Ul78fl-7Q8QWw6Cc4GfbNAQTW2PD 00zkX3QPq5iMIPxPuQ/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd3Ul78fl-7Q8QWw6Cc4GfbNAQTW2PD00zkX3QPq5iMIPxPuQ/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd3Ul78fl-7Q8QWw6Cc4GfbNAQTW2PD00zkX3QPq5iMIPxPuQ/viewform 46 5.5 - Planejamento das aulas - intervenção Após o levantamento do perfil da turma, foi realizado o planejamento da sequência didática com a elaboração do plano de aula detalhado de cada aula que integrou a intervenção. Ao todo são doze aulas, divididas em cinco blocos, cada bloco compreendendo uma MC e duas CS a serem trabalhadas. O objeto de estudo que será associado ao desenvolvimento das CS serão os esportes de invasão, que no nono ano do ensino fundamental aparecem em destaque nas habilidades propostas pela BNCC. 5.5.1- BLOCO 1: Autogestão Aulas 1, 2, 3 e 4 - Neste bloco serão desenvolvidas a MC autogestão, e as CS foco e organização. Considerações A MC Autogestão está relacionada à capacidade de persistir, de comprometer-se com responsabilidade e de se organizar para gerenciar compromissos, tarefas e objetivos estabelecidos para a própria vida ou a serem cumpridos no dia a dia. A CS Foco é uma atenção seletiva, que permite escolher uma entre várias atividades, à qual deve-se destinar toda a energia, enquanto a CS Organização é a utilização eficiente dos recursos que se possuem, de modo a usar o tempo disponível da melhor forma possível, a fim de se realizar uma tarefa. Objetivo: O objetivo deste bloco de aulas é que os estudantes se organizem de modo que cada integrante fique responsável por uma tarefa da pesquisa e juntos consigam apresentar para toda a turma os resultados encontrados. Habilidade: (EF09EF04) Identificar os elementos técnicos ou técnico-táticos individuais, combinações táticas, sistemas de jogo e regras das modalidades esportivas 47 praticadas, bem como diferenciar as modalidades esportivas com base nos critérios da lógica interna das categorias de esporte: rede/parede, campo e taco, invasão e combate. Atividades: Na primeira aula, foram apresentadas aos estudantes as CS propostas neste bloco de aulas. Era importante que todos se recordassem do conceito das CS para que houvesse intencionalidade em desenvolvê-las durante as atividades. Na sala de aula, houve uma análise do conhecimento prévio dos estudantes sobre a classificação dos esportes de acordo com as suas características, com foco nos esportes de invasão. Foram abordadas questões sobre como é a classificação dos esportes coletivos e individuais, quais as semelhanças e diferenças entre as modalidades, etc. Em seguida, uma enquete foi realizada com a turma para identificar os esportes de invasão conhecidos, já praticados ou assistidos. Na segunda aula, os alunos foram organizados em grupos para fazer uma pesquisa, no laboratório de informática, sobre as características, principais regras, técnica e táticas das modalidades que não foram citadas na enquete. Os estudantes tiveram autonomia para se organizarem em grupos de acordo com seus relacionamentos próximos e as modalidades foram distribuídas para cada grupo por meio de sorteio. Escreveu-se o nome das modalidades escolhidas anteriormente em pedaços de papéis, que foram dobrados e misturados dentro de um recipiente. Cada aluno representante retirou um papel para definir a modalidade que seria alvo da pesquisa de cada grupo. A aula teórica no componente curricular EF é, por diversas vezes, criticada pelos estudantes, eles se mostram descontentes, reclamam e querem realizar as atividades rapidamente para utilizar o tempo que sobra da aula na quadra. Todo este movimento é trabalhoso, requer paciência e pode desanimar o docente, mas é uma etapa que precisa ser concluída para que os estudantes utilizem as CS propostas. Algumas vezes é necessário negociar com os estudantes para que as tarefas sejam realizadas de maneira comprometida e eficiente. Geralmente, uso um jogo ou atividade que eles gostam bastante como recompensa por um trabalho de pesquisa bem elaborado. Os 48 estudantes ficam mais motivados a desenvolver uma boa atividade teórica sabendo que terão a atividade prática depois. Nas duas aulas subsequentes, os grupos apresentaram para os colegas da turma os resultados da pesquisa e a vivência prática que elaboraram para que os colegas vivenciem a modalidade, experimentando movimentos através de mini jogos. Ao final das socializações, em roda de conversa na quadra, os estudantes foram estimulados a compartilhar suas impressões sobre a atividade, as situações em que ficou evidente as CS propostas e receberam orientação para o preenchimento do formulário online. Formulário de avaliação: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd5eqR1l5kv1oUq5vRXhPf9yQ5BMeF1dx gi8fpJDYprnRzFVw/viewform 5.5.2- BLOCO 2: Abertura ao novo Aulas 5 e 6 - Neste bloco serão desenvolvidas a MC abertura ao novo, e as CS imaginação criativa e curiosidade para aprender. Considerações MC Abertura ao novo - É estar disponível para conhecer novas ideias, olhando para o desconhecido e buscando o que é diferente daquilo a que se está acostumado. CS Imaginação criativa é gerar ideias novas e interessantes, criando formas de fazer e pensar sobre as coisas por meio da tentativa e erro, fazendo ajustes quando necessário, aprendendo com as falhas, combinando conhecimentos e ideias. A CS Curiosidade para aprender é a paixão pela aprendizagem e exploração intelectual, relacionada também à investigação, à pesquisa, ao pensamento crítico e à resolução de problemas. https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd5eqR1l5kv1oUq5vRXhPf9yQ5BMeF1dxgi8fpJDYprnRzFVw/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd5eqR1l5kv1oUq5vRXhPf9yQ5BMeF1dxgi8fpJDYprnRzFVw/viewform 49 Objetivo: O objetivo desse bloco de aulas é que os estudantes utilizem as CS propostas para criar alternativas para que seja possível praticar o esporte de invasão Lacrosse na escola, sem espaço e materiais específicos da modalidade. Habilidade: (EF09EF02) Praticar um ou mais esportes de rede/parede, campo e taco, invasão e combate oferecidos pela escola, usando habilidades técnico-táticas básicas. Atividades: No início da aula, a professora irá apresentar aos estudantes as CS que serão desenvolvidas neste bloco de aulas. É importante que todos relembrem o conceito das CS para que haja intencionalidade em desenvolvê-las durante as atividades. Os estudantes terão sido orientados previamente a se reunir em trios para confeccionar com materiais alternativos ou recicláveis como garrafas pet, papelão e isopor, para confeccionar e trazer para a aula o Stick, taco utilizado na prática do Lacrosse, que possui uma rede na ponta. Os jogadores usam a cabeça do taco de lacrosse para carregar, passar, pegar e atirar a bola para o gol. Os tacos serão distribuídos e compartilhados para que todos vivenciem a modalidade. Em seguida, haverá a prática do jogo com os implementos produzidos. Os alunos foram divididos em times e simularam uma partida de lacrosse na quadra. O lacrosse é um esporte coletivo por isso, a estratégia é fundamental.. O principal objetivo é simples: fazer com que a bola atravesse as traves do adversário, caracterizando o gol. O espaço do jogo e a bola serão adaptados, e para que a atividade seja mais dinâmica, o tempo das partidas será reduzido. As regras serão combinadas de acordo com a turma antes das partidas. Após a prática, os alunos serão organizados em roda para fazer reflexões sobre a atividade, as dificuldades para criar os implementos e compartilhar com os colegas as ideias e soluções encontradas por eles. Por fim, refletirão sobre a experiência de praticar o esporte lacrosse, de modo a adaptar o taco e o espaço. 50 Formulário de avaliação: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfH1WqLWnbM3gtR6uksyBLGAqr-4UX4d EKTv6_mE5iYS4M8bQ/viewform 5.5.3- BLOCO 3: Engajamento com os outros Aulas 7 e 8 - Neste bloco serão desenvolvidos a MC Engajamento com os outros e as CS Iniciativa social e Entusiasmo. Considerações: A MC Engajamento com os outros diz respeito à motivação e à abertura para interações sociais e ao direcionamento de interesse e energia ao mundo externo, pessoas e coisas. A CS Iniciativa social é a habilidade de aproximar-se dos outros e relacionar-se com eles. Envolve iniciar, manter e apreciar o contato social. O Entusiasmo refere-se ao envolvimento com as situações do dia a dia e com os outros de forma positiva, alegre e afirmativa. Objetivo: O objetivo desse bloco de aulas é estreitar as relações entre os estudantes por meio da prática de um jogo que estimula o trabalho colaborativo, comunicação e toque físico. Habilidade: (EF09EF03) Formular e utilizar estratégias para solucionar os desafios técnicos e táticos, tanto nos esportes de campo e taco, rede/parede, invasão e combate como nas modalidades esportivas escolhidas para praticar de forma específica. https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfH1WqLWnbM3gtR6uksyBLGAqr-4UX4dEKTv6_mE5iYS4M8bQ/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfH1WqLWnbM3gtR6uksyBLGAqr-4UX4dEKTv6_mE5iYS4M8bQ/viewform 51 Atividades: No início da aula, a professora irá apresentar aos estudantes as CS que serão desenvolvidas neste bloco de aulas. É importante que todos relembrem o conceito das CS para que haja intencionalidade em desenvolvê-las durante as atividades. Após, será feito um brainstorm (chuva de ideias) com a palavra “estratégia” para levantar o conhecimento prévio da turma sobre as táticas de jogo. Haverá um diálogo sobre a importância da coletividade e do uso de estratégias e táticas para cumprir os objetivos dos esportes de invasão. Em seguida, serão sorteados os times para que, na segunda aula, os grupos possam praticar o jogo “Rouba-bandeira invertido” e experimentar traçar táticas e estratégias na prática e em grupos para alcançar o objetivo. Este jogo se assemelha à lógica interna dos esportes de invasão, com os times atacando e defendendo ao mesmo tempo. Sendo assim, terão que traçar estratégias ofensivas e defensivas, distribuindo funções a todos os jogadores da equipe. No jogo rouba-bandeira- invertido é necessário atravessar o campo adversário carregando sua bandeira sem ser tocado pelos integrantes do outro time. Caso isso aconteça, ele precisará ser resgatado pelos seus companheiros e ficará livre para voltar ao seu campo ao ser tocado por um deles. Ao invés de resgatar a bandeira no campo adversário e trazê-la para o seu campo, como acontece no jogo rouba-bandeira tradicional, os estudantes terão que atravessar e fincar sua bandeira no campo adversário. Após a prática, os alunos serão organizados em roda para fazer reflexões sobre a atividade, falar sobre as dificuldades encontradas, as estratégias para atingir o objetivo, as atitudes e o engajamento na atividade proposta, e por fim, discutirão sobre a importância do trabalho em equipe, das tomadas de decisão e da interação com os colegas. Formulário de avaliação: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe7PzEEo51gC8K0VLl4pOhtiGjzp7jhUJ0- 5Cj_Thz_3_WvMw/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe7PzEEo51gC8K0VLl4pOhtiGjzp7jhUJ0-5Cj_Thz_3_WvMw/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe7PzEEo51gC8K0VLl4pOhtiGjzp7jhUJ0-5Cj_Thz_3_WvMw/viewform 52 5.5.4- BLOCO 4: Resiliência emocional Aulas 9 e 10 - Neste bloco serão desenvolvidas a MC Resiliência Emocional e as CS Tolerância à frustração e Autoconfiança. Considerações: A MC Resiliência emocional está relacionada à capacidade de lidar com as próprias emoções, demonstrando equilíbrio e controle sobre suas reações, como por exemplo raiva, insegurança e ansiedade, sem apresentar mudanças bruscas. A CS Tolerância à frustração está ligada à capacidade de desenvolver estratégias eficazes para regular a raiva ou a irritação e manter a tranquilidade, o equilíbrio e a serenidade diante das situações que podem trazer frustrações. A CS Autoconfiança refere-se a acreditar em si mesmo e a seguir adiante, mesmo quando as coisas parecem difíceis ou não estão indo tão bem. Quando as pessoas se valorizam e se sentem realizadas, são capazes de pensar de forma mais realista frente aos seus desafios. Assim, acabam por ajudar a fazer as coisas acontecerem. Objetivo: O objetivo desse bloco de aulas é despertar emoções e sentimentos por meio da competição, de forma que a regulação dessas emoções interfere nas ações do jogo e podem determinar os vencedores. Habilidade: (EF09EF01) Experimentar diferentes papéis (jogador, árbitro e técnico) e fruir os esportes de rede/parede, campo e taco, valorizando o trabalho coletivo e o protagonismo. Atividades: Para iniciar, a professora irá apresentar aos estudantes as CS que serão desenvolvidas neste bloco de aulas. É importante que todos relembrem o conceito das CS para que haja intencionalidade em desenvolvê-las durante as atividades. Após este diálogo, haverá uma enquete para a escolha da modalidade esportiva que 53 será praticada na aula. Feito a escolha, os estudantes irão relembrar as características principais deste esporte e regras principais. Após esta etapa, os alunos terão de organizar um mini torneio deste esporte na aula. As equipes e a arbitragem serão definidas pelos próprios estudantes, assim como as leis do jogo e o tempo de cada partida. É importante ressaltar que haverá uma premiação para os vencedores. O prêmio será uma quantidade de pirulitos suficiente para se dividir com toda a turma, de modo que ficará a cargo da equipe vencedora se fará a divisão do prêmio com a outra equipe ou não. Durante as partidas, é importante relembrar as CS propostas neste bloco de aulas, assim como as habilidades que foram desenvolvidas ao longo da sequência didática, como a estratégia e tática de jogo, função de cada jogador em quadra, de modo que cada time se organize em busca de atingir o objetivo do jogo e a vitória. Após a prática, organizar uma roda de conversa para expor as impressões sobre a atividade, os desafios encontrados, as emoções e os sentimentos suscitados relacionar com as CS propostas na atividade e por fim, discutir sobre a atitude da equipe vencedora em dividir ou não o prêmio com a outra equipe e com a arbitragem. Formulário de avaliação: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe5oqznK-CNeAYGVJtz4M1PbClxASiJch KhN23mi3gtQLnahA/viewform 5.5.5- BLOCO 5: Amabilidade Aulas 11 e 12 - Neste bloco serão desenvolvidos a MC Amabilidade e as CS Empatia e Respeito. Considerações A MC Amabilidade é a capacidade de se interessar e de compreender as outras pessoas, colocando-se no lugar delas, confiando, respeitando-as e tratando-as com afeto e responsabilidade. https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe5oqznK-CNeAYGVJtz4M1PbClxASiJchKhN23mi3gtQLnahA/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe5oqznK-CNeAYGVJtz4M1PbClxASiJchKhN23mi3gtQLnahA/viewform 54 A CS Empatia consiste em colocar-se no lugar do outro, oferecendo a ele apoio e considerando suas necessidades e sentimentos. A CS Respeito é aceitar, compreender e acolher sentimentos, desejos, direitos, crenças e tradições alheias. Objetivo: O objetivo desse bloco de aulas é vivenciar um esporte adaptado para deficientes, colocando-se no lugar do outro e refletindo sobre as dificuldades encontradas por estas pessoas. Habilidades: (EF09EF05) Identificar as transformações históricas do fenômeno esportivo e discutir alguns de seus problemas (doping, corrupção, violência etc.) e a forma como as mídias os apresentam. Atividades: Para iniciar a professora irá apresentar aos estudantes as CS que serão desenvolvidas neste bloco de aulas. É importante que todos relembrem o conceito das CS para que haja intencionalidade em desenvolvê-las durante as atividades. Após, haverá um diálogo sobre os benefícios dos esportes adaptados para pessoas com deficiência e as características do Futebol de cegos, modalidade esportiva para deficientes visuais. Na segunda aula haverá a prática do jogo, os alunos serão vendados e a bola de futsal será encapada com sacolas plásticas, para emitir sons e assim ser facilmente encontrada por meio da audição. Para que isso aconteça, os alunos serão orientados a permanecer em silêncio durante toda a atividade. A princípio, os estudantes vendados, vivenciarão a condução da bola, para isso, pedaços de barbante, corda ou elástico serão amarrados de um lado a outro da quadra por toda sua extensão, para que sirvam de guias. A quadra se tornará um espaço semelhante a uma mesa de pebolim, e os estudantes estarão em duplas, um com venda conduzindo a bola e guiando-se por meio das cordas, e o outro sem venda, auxiliando o primeiro. Depois invertem-se esses papeis, para que todos possam vivenciar a experiência. Após os exercícios de condução e domínio de bola, os estudantes serão divididos em times e 55 serão posicionados cada um em uma área da quadra, limitada pelas cordas, para que não haja choque entre eles. O tempo das partidas será reduzido para que todos possam vivenciar o jogo. Após a prática, os alunos se organizarão em roda para socializar as impressões sobre a atividade, as dificuldades encontradas, as estratégias de comunicação para atingir o objetivo, as atitudes e o engajamento na atividade proposta, e por fim, discutirão sobre a deficiência física e sua relação com o esporte e a mídia. Formulário de avaliação: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfnerPDUf_ed7DRg3KVz2p7XoK-ougW3x Lp0Q2yDRvZysx5vg/viewform 5.6 - Avaliação das atividades Ao final de cada bloco de aulas, foi disponibilizado aos estudantes, por meio de grupos do mídia de comunicação, um formulário eletrônico (Anexo 6) com questões relativas à percepção dos estudantes quanto ao desenvolvimento das CS propostas, as emoções geradas durante as atividades e se foram agradáveis ou não. Ao final da sequência didática ( 12 aulas ), preencherão novamente a autoavaliação socioemocional (Anexo 5) para fins de comparações (AV1 x AV2). 5.7 - Procedimentos para a análise de dados Os dados obtidos, por meio dos formulários eletrônicos, foram inseridos e tabulados em um editor de planilhas (Microsoft Excel) e apresentados em tabelas e gráficos para análises e comparações. Estatísticas descritivas foram utilizadas para a caracterização da amostra nos degraus na AV1 e AV2. O teste de Shapiro-wilk foi empregado para verificar a normalidade dos dados. A análise inferencial foi realizada através do teste de Wilcoxon para amostras não paramétricas. A significância foi estabelecida em p<0,05 e os dados foram analisados utilizando o programa IBM SPSS versão 28. https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfnerPDUf_ed7DRg3KVz2p7XoK-ougW3xLp0Q2yDRvZysx5vg/viewform https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfnerPDUf_ed7DRg3KVz2p7XoK-ougW3xLp0Q2yDRvZysx5vg/viewform 56 . 5.8 - Produto educacional Foi desenvolvida a unidade didática “Ensinando Jogos de invasão e competências socioemocionais”, que detalha as atividades aplicadas durante a fase de intervenção da pesquisa e as possibilidades de conscientização e aprimoramento das competências socioemocionais na Educação Física Escolar. 6. RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 6.1 - Perfil dos participantes - caracterização da turma Participaram da pesquisa 50 alunos, matriculados no 9º ano A, B e C da Escola Estadual Ana Maria de Carvalho Pereira, município de Arujá-SP, dos quais 30 do sexo feminino (60%) e 20 do sexo masculino (40%) com idade média de 14,03 anos. Tabela 1 - Sexo e idade dos participantes da pesquisa Participantes N % Média Idade (anos) Feminino 30 60 13,8 Masculino 20 40 14,2 Total 50 100 13,9 6.2 - Aula expositiva sobre as competências socioemocionais e preenchimento da autoavaliação socioemocional (AV1) A intervenção foi iniciada com uma aula sobre as CS com o objetivo de apresentar às turmas os conceitos e exemplificar as ações efetivas para o desenvolvimento socioemocional associadas aos objetos de estudo da EFE. 57 Concomitantemente à leitura compartilhada do material elaborado (Anexo 7), os estudantes foram questionados quanto aos momentos em que as CS são determinantes nos jogos, brincadeiras e esportes, e muitos exemplos surgiram, tais como: não desistir quando há uma derrota (tolerância à frustração, persistência, autoconfiança), usar estratégias para vencer (organização, foco, determinação), respeitar as regras e o adversário (respeito, empatia, responsabilidade). Utilizar estes exemplos que fazem parte do dia a dia das aulas de EF facilitou a compreensão dos estudantes quanto às CS e atribuiu importância ao seu aprimoramento. Para medir a percepção dos estudantes quanto ao desenvolvimento das CS foi utilizado a ferramenta de autoavaliação socioemocional por meio de rúbricas. Os participantes responderam às questões relacionadas ao seu nível de desenvolvimento atual das CS classificando-as em degraus, onde o degrau 1 representa um nível mais baixo de desenvolvimento, até o degrau 4 que representa o nível mais alto de desenvolvimento. A AV1 foi respondida na escola, durante o horário da aula de Educação Física e com a presença da professora pesquisadora. O formulário, disponibilizado aos alunos por meio de um link, foi lido e explicado para todos. Durante o preenchimento,, além da leitura, sanaram-se as dúvidas que surgiram. O objetivo da AV1 foi que, ao final da sequência didática, uma nova autoavaliação socioemocional (AV2) será aplicada para que possam se comparar os resultados obtidos quanto a percepção dos estudantes ao desenvolvimento das CS, porquanto espera-se que os estudantes utilizem as CS sugeridas nas aulas e avaliem as respectivas em degraus mais altos. Os resultados da AV1 e AV2 serão apresentados na seção 6.6. 6.3 - Relato de experiência sobre a intervenção Nesta seção, serão descritos o processo de intervenção, as observações feitas durante as aulas planejadas e os resultados dos formulários de avaliação preenchidos pelos alunos. 58 6.3.1 - BLOCO 1: Autogestão (CS foco e organização). Nas duas primeiras aulas, foi realizada uma enquete para identificar os esportes de invasão menos conhecidos pelos estudantes. Os resultados foram: Futebol Americano, Rugby, Hóquei e Polo Aquático. Em seguida, os alunos foram organizados em grupos, e cada grupo sorteou uma das modalidades citadas para realizar uma pesquisa e uma vivência prática na quadra. Nesta etapa, os estudantes precisaram usar a CS organização para distribuir funções e tarefas, e a CS foco para realizar a pesquisa, considerando que a internet oferece várias distrações, como redes sociais e jogos online. Ao iniciar a apresentação dos resultados da pesquisa e das vivências nas aulas seguintes, percebi a necessidade de algumas adaptações. A socialização das atividades desenvolvidas pelos alunos exigiu mais tempo do que o planejado. Inicialmente, houve dificuldades dos estudantes em compreender os jogos elaborados pelos grupos, o que atrasava o progresso da atividade e demandava várias explicações. Foi necessário realizar uma intervenção e retomar as CS de organização e foco. Solicitei aos estudantes que relembrassem as CS propostas: o grupo que estava apresentando deveria organizar melhor os resultados da pesquisa, e os colegas precisavam prestar atenção quando o grupo explicava a vivência. A partir desse momento, a atividade fluiu com mais facilidade. No entanto, duas aulas não foram suficientes para que todos os grupos se apresentassem, sendo necessário um total de seis aulas para concluir o Bloco 1. No início de cada apresentação, o grupo explicava para a turma como funcionava o esporte de invasão pesquisado, incluindo o processo histórico, características, principais regras e dinâmica do jogo. Em seguida, apresentavam a vivência prática adaptada que haviam elaborado. A figura 2 ilustra o momento das apresentações das modalidades, destacando a importância de trabalhar o foco dos estudantes, evitando distrações e voltando a atenção para o grupo que estava socializando os resultados da pesquisa e a dinâmica do jogo a ser praticado pela turma. 59 Figura 2 - Socialização dos resultados da pesquisa em grupo Fonte: Elaborado pela autora (2024) Os jogos e vivências das modalidades esportivas foram elaborados pelos estudantes, com minha ajuda para adaptar algumas regras, tornando os jogos mais seguros e dinâmicos. Durante a prática, o grupo responsável pela atividade desempenhava o papel de arbitragem, utilizando as competências socioemocionais (CS) de foco e organização para assegurar o cumprimento das regras. Por outro lado, o restante da turma, ao praticar o jogo, empregava as CS de foco e organização para trabalhar em equipe e atingir os objetivos do jogo. Na figura 3, estão visíveis as adaptações feitas pelos estudantes para vivenciar o futebol americano na escola. Utilizou-se uma bola de basquete murcha para criar um formato ovalado. Em vez de derrubar o adversário com a posse de bola, foi permitido apenas um toque no ombro para interromper a jogada de ataque. 60 Figura 3 - Futebol americano adaptado Fonte: Elaborado pela autora (2024) Pode-se observar na figura 4, que o grupo confeccionou um taco de hóquei com cabo de vassoura, papelão e fita, e elaborou um exercício de condução utilizando o taco e uma bolinha de plástico. Figura 4 - Taco de hóquei adaptado Fonte: Elaborado pela autora (2024) Outro grupo que foi sorteado para pesquisar sobre o hóquei, elaborou um jogo adaptado utilizando cabos de vasso