UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE ARARAQUARA Andreza Maria Fábio Aranha POTENCIAL ANGIOGÊNICO DE CÉLULAS PULPARES HUMANAS EM HIPÓXIA Tese apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciências Odontológicas – Área de Odontopediatria, da Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual Paulista, para obtenção do título de Doutor em Odontopediatria. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto de Souza Costa ARARAQUARA 2008 2 ANDREZA MARIA FÁBIO ARANHA POTENCIAL ANGIOGÊNICO DE C�LULAS PULPARES HUMANAS EM HIPÓXIA COMISSÃO JULGADORA TESE PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR Presidente e Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto de Souza Costa 2º Examinador: Prof. Dr. Jacques Eduardo Nör 3º Examinador: Prof. Dr Flávio Fernando Demarco 4ºExaminador: Prof. Dr. Joni Cirelli 5º Examinador: Profa. Dra. Elisa Maria Aparecida Giro Araraquara, 22 de setembro de 2008. 3 Andreza Maria Fábio Aranha NASCIMENTO 19.11.76 - Bauru - SP FILIAÇÃO Antonio Carlos Bourgogne Aranha Maria Salete Fábio Aranha 1995/1998 Curso de Graduação em Odontologia Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP - Araraquara, São Paulo, Brasil. 2000/2002 Especialização em Odontopediatria. Hospital de Reabilitação de Anomalias Crâniofaciais, USP, SP, Brasil. 2002/2004 Curso de Pós-Graduação em Odontologia, Área de Odontopediatria, Nível Mestrado, na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP - Araraquara, São Paulo, Brasil. 2005/2008 Curso de Pós-Graduação em Ciências Odontológica, Área de concentração em Odontopediatria, Nível Doutorado, na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP - Araraquara, São Paulo, Brasil. 2007 Estágio de Doutorado no Exterior, na Universidade de Michigan, Faculdade de Odontologia, Laboratório de Angiogênese, Ann Arbor, Michigan, EUA 4 MESMO ASSIM AS PESSOAS SÃO IRRACIONAIS, ILÓGICAS E EGOCÊNTRICAS. AME-AS MESMO ASSIM. SE TEM SUCESSO EM SUAS REALIZAÇÕES, GANHARÁ FALSOS AMIGOS E VERDADEIROS INIMIGOS. TENHA SUCESSO MESMO ASSIM. O BEM QUE FAZ SERÁ ESQUECIDO AMANHÃ. FAÇA O BEM MESMO ASSIM. A HONESTIDADE E A FRANQUEZA O TORNAM VULNERÁVEL. SEJA HONESTO MESMO ASSIM. AQUILO QUE LEVOU ANOS PARA CONSTRUIR PODE SER DESTRUÍDO DE UM DIA PARA O OUTRO. CONSTRUA MESMO ASSIM. OS POBRES TÊM VERDADEIRAMENTE NECESSIDADE DE AJUDA, MAS ALGUNS DELES PODEM ATACÁ-LO SE VOCÊ OS AJUDAR. AJUDE-OS MESMO ASSIM. SE DER AO MUNDO E AOS OUTROS O MELHOR DE SI MESMO, CORRE O RISCO DE SE MACHUCAR. DÊ O QUE VOCÊ TEM DE MELHOR MESMO ASSIM. VEJA QUE, NO FINAL DAS CONTAS, É ENTRE VOCÊ E DEUS. NUNCA FOI ENTRE VOCÊ E OUTRAS PESSOAS. Madre Teresa de Calcutá 5 DEDICO ESTE TRABALHO... À Deus, por estar ao meu lado durante todos os momentos, iluminando meus caminhos e me guiando. Obrigada, Senhor !!! À minha querida família e em especial a meus pais, Antônio Carlos e Maria Salete, meus irmãos, Gustavo e Maíra e meu cunhado, Douglas pelo amor e apoio incondicional durante toda esta jornada. Amo vocês!!!! 6 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Ao Prof. Dr. Carlos Alberto Souza Costa, meu querido orientador, por sua confiança, apoio e fundamental contribuição para a concretização de um grande sonho. Muito obrigada por me ajudar a torná-lo realidade. A um exemplo de profissional honesto, responsável e dedicado, minha eterna admiração e gratidão!!! Ao Prof. Dr. Jacques Eduardo Nör, por sua atenção e disponibilidade durante meu estágio em Ann Arbor na Universidade de Michigan. O meu aprendizado durante sua orientação foi fundamental para meu amadurecimento profissional e para o futuro da minha carreira acadêmica. Á Profa. Dra. Josimeri Hebling, por sua total disponibilidade durante toda minha jornada acadêmica, por quem tenho grande admiração e carinho e pelo auxílio na análise estatística deste estudo. 7 AGRADECIMENTOS À Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP, nas pessoas de seu ex-diretor, Profa. Dra. Rosimary Adriana Chiérici Marcantônio, diretor, Prof. Dr. Luis Cláudio Martins Segalla e o vice- diretor, Profa. Dra. Andréia Affonso Barreto Montandon. Aos Professores da Disciplina de Odontopediatria, Josimeri Hebling, Elisa Maria Aparecida Giro, Lourdes Aparecida dos Santos-Pinto, Fábio C. Braga de Abreu e Lima, Cyneu Aguiar Pansani, Ângela Cristina Cilense Zuanon, Rita de Cássia Loiola Cordeiro, pela dedicação e por minha formação acadêmica. Aos demais professores do Programa de Doutorado em Ciências Odontológicas, área de concentração de Odontopediatria e da Pós-Graduação, pela atenção e disponibilidade. À coordenação da Pós-graduação em Ciências Odontológicas da Faculdade de Odontologia de Araraquara – UNESP, representada pela coordenadora Profa. Dra. Josimeri Hebling e pelo vice-coordenador Prof. Dr. Osmir Batista de Oliveira Junior. Aos colegas do Curso de Pós-Graduação, Érika Botelho, Fábio Scanavino, Fernanda Lessa, Hermes Pretel, Jonas Rodrigues, Júnia Ferrari, Luciana Lima, Mariana Emi Sanabi, 8 Murilo Guimarães e aos colegas de outras turmas, Ana Lúcia de Oliveira, Camila Fávero, Cármen Coldebella, Elcilaine Azevedo, Herica Ricci, Indri Nogueira, Juliana Gondim, Lícia Cavalcanti, Michele Diniz, Márcia Tanaka, Nancy Sacono e Simone di Salvo, pela convivência, alegria e companheirismo. Às minhas queridas amigas do coração e companheiras de todos os momentos, em especial, Fernanda Bello, Fernanda Lessa, Yeon Kim, Lícia Cavalcanti, Carol Pawloski, Ângela Amaral, Aline Viana, Midori Yamato, Sabrina Serra, Mylene Pasin, Myrele Pasin e Virgínia Peixoto que estiveram sempre ao meu lado durante todo este trabalho. Por todos os conselhos e sugestões, pela amizade, carinho e apoio. Amo vocês!!! Aos amigos do Laboratório de Patologia Experimental e Biomateriais, Adriano Mendonça, Ana Paula Ribeiro, Andreza Almeida, Camila Fávero de Oliveira, Carmen Coldebella, Carolina Brito, Castelo Cidade, Cláudia Huck, Daniela Cristina Barbosa, Darlon Martins, Fernanda Lessa, Fernanda Vargas, Flávia Coimbra, Flávia Trindade, Indri Nogueira, João Kina, Juliana Gondim, Juliana Pirola, Nancy, Indri, Karina Neves, Keren Jordão, Luciana Coimbra, Marcela Tagliani, Maria da Glória Celli, Nancy Sacono, Patrícia Frederico, por compartilharmos conhecimentos, pelas sugestões e pelas risadas e descontração durante as apresentações e experimentos. 9 Aos meus amigos do Laboratório de Angiogênese da Faculdade de Odontologia da Universidade de Michigan, Kathleen Neiva, Eoin Mullane, Zaocheng Zhang, Zhihong Dong, Ilan Maltz, Tatiana Botero, Naoki, Bill Love, Elliot Hill, Kristy Warner, Ben Zeitlin, Sudha Krishnamurthy, Isabel Lauxen, Paloma Telles, Flávio Demarco, Sandra Tarquin, Luciano Casagrande, Vichu, Alexandra Jakery e Marta Myiazawa e aos amigos de outros departamentos, Christopher Strayhorn, Ruth Eberhart, Renita Bellmore por terem me recebido com tanto carinho em Ann Arbor, pela atenção e disponibilidade durante a execução de meus experimentos. Aos meu companheiros e amigos eternos, Bruno Teixeira, Luciano Casagrande, Ilan Maltz, Ana Gabriela Maris, Renata Soares, Natália Branco e Keith Pertile que estiveram ao meu lado nos momentos de alegrias e dificuldades durante minha experiência no exterior. Aos funcionários do Departamento de Clínica Infantil e do Laboratório de Patologia Experimental e Biomateriais, em especial a Juliana Pirola. Aos funcionários da seção de Pós-Graduação, Rosângela, Alexandre, Flávia e em especial, Mara, pelo auxílio e dedicação. 10 Aos funcionários da biblioteca, em especial à Sílvia, Adriano e Eliane pelo bom humor e atenção. À Coordenação de Aperfeiçoameno de Pessoal de Nível Superior, Capes, pela bolsa de estudo concedida durante o Programa e pelo apoio financeiro ao meu Estágio de Doutorado no exterior . À todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. Muito Obrigada!!! 11 MY SINCERE THANKS TO … My labmates at Dr. Nör’s lab, Kathleen Neiva, Eoin Mullane, Zaocheng Zhang, Zhihong Dong, Ilan Maltz, Tatiana Botero, Naoki, Bill Love, Elliot Hill, Kristy Warner, Ben Zeitlin, Sudha Krishnamurthy, Isabel Lauxen, Paloma Telles, Flávio Demarco, Sandra Tarquin, Luciano Casagrande, Vichu, Alexandra Jakery e Marta Myiazawa, friends from other departments, Christopher Strayhorn, Ruth Eberhart, Renita Bellmore for all the support you gave me during my stay at Ann Arbor. Staying there was a huge and extremely important experience to me. Most of the things were completely new: in the personal side, arriving at a foreign country, finding a place to live, getting home furniture and equipments, learning how to get around at the city, facing the low temperature and exercising communication in a foreign language, …in the professional side, moving to a new and more specific area of knowledge, with the consequent theoretical and methodological universe to grasp, a modified research project, all this made the whole year a very challenging task. Your share of knowledge and experience with patience, kindness and caring were the tools that made it possible for me to grow and develop as a person and as a scientist. Thank you from the deep of my heart! 12 SPECIAL THANKS TO … Prof. Dr. Jacques Eduardo Nör, who permitted me to enjoy a wonderful experience when he accepted me at his laboratory, in attention to Dr. Carlos Alberto Souza Costa´s indication. Dr. Nör established the conditions for me to be introduced to a very important area of knowledge and sophisticated program, to go through a complex learning process and to get new directions to my professional life. I thank you, Dr. Nör, for your attention and availability during the time I had the honor to work with your research group. The learning you made accessible was essential for my professional development and for the future of my academic career. Kathleen, an intelligent, competent and kind person, who besides giving me all the professional support I needed to develop as a scientist, became a real friend, a very important person in my life! Your friendship, as well as your professional competence gave me support to learn, to find a direction, to move through the progressive steps of the process and finally, to reach my goals. Thank you, amore! Zhang, a deep source of knowledge, experience and competence, shared with me with grace and caring! In his humble and quiet way, he became a solid support and a good friend. You know that you 13 were the person I turned to every time I got stuck in some step of the process, and methodological procedure. And you ALWAYS were there for me! Thank you, Zhang! You were an essential part in my development process! Eoin, a steady fountain of friendship, support and caring. Your kindness was essential for me during last year in Ann Arbor. Thank you for your support, Irish!!!! 14 SUMÁRIO Resumo ..................................................................................... 17 Abstract ..................................................................................... 20 INTRODUÇÃO ........................................................................ 22 REVISÃO DA LITERATURA .................................................. 26 PROPOSIÇÃO ........................................................................... 95 MATERIAL E MÉTODO ..................................................... 96 RESULTADO .......................................................................... 108 DISCUSSÃO ............................................................................. 121 CONCLUSÃO ......................................................................... 139 REFERÊNCIAS ....................................................................... 139 15 Lista de abreviações e símbolos DPSC Células-tronco de polpa de dentes permanentes humanos HDPF Fibroblastos de polpa dentária humana HDMEC Células endoteliais microvasculares da derme humana VEGF (VEGF A) Fator de crescimento endotelial vascular bFGF (FGF-2) Fator de crescimento fibroblastico basico PGF (P1GF) Fator de crescimento de placenta PDGF Fator de crescimento derivado das plaquetas IGF Fator de crescimento semelhante a insulina HGF Fator de crescimento de hepatocitos TGF Fator de crescimento de transformação EGF Fator de crescimento epidérmico VPF Fator de permeabilidade vasccular HIF-1 (HIF-1�/�) Fator de transcrição induzido pela hipoxia 1 SDS Sulfato dodecil-sodico GAPDH Gliceraldeido 3- fosfato desidrogenase DAB Tetracloreto de diaminobenzidina YC1 Inibidor de HIF-1alpha CM Meio de acondicionamento NX Normóxia HX Hipóxia CM DPSC NX ou HX Meio de acondicionamento das DPSC em normóxia ou hipóxia CM HDPF NX ou HX Meio de acondicionamento dos HDPF em normóxia ou 16 hipóxia EGM-2MV Meio de cultura para as HDMEC DMEM Dulbecco´s Modified Eagle´s Medium – meio de cultura para as células HDPF e DPSC FBS Soro fetal bovino PBS Solução Salina Fosfatada Tamponada TBS Solução Salina Tamponada Tris TBST Solução Salina Tamponada Tris + 0.1% de Tween 20 ELISA Teste de imunoensaio (Enzyme linked immunosorbent assay) WST-1 Teste colorimetrico de viabilidade celular WB Western blot Sprouts/Sprouting Estruturas semelhantes a tubos capilares / Formação de estruturas semelhantes a tubos capilares 17 Aranha AMF. Potencial angiogênico de células pulpares humanas em hipóxia [Tese de doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da UNESP; 2008. Resumo Luxações dentárias resultam em injúrias ao feixe vásculo-nervoso, o que pode causar redução significante no nível de oxigênio das polpas dentárias, ou mesmo morte deste tecido conjuntivo especializado. O conhecimento dos mecanismos envolvidos na resposta das células pulpares à hipóxia pode melhorar o prognóstico dos tratamentos das luxações dentárias. O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de células-tronco (DPSC) e de fibroblastos (HDPF) de polpas dentárias humanas em condições de hipóxia e a capacidade destas em estimular a proliferação e formação de tubos capilares por células endoteliais microvasculares dérmicas humanas (HDMEC). As análises do western blot e imunocitoquímica foram realizadas para avaliar o efeito da hipóxia na ativação do fator de transcrição induzido pela hipóxia 1 (HIF-1alfa). A expressão dos fatores de crescimento vascular endotelial (VEGF) e fibroblástico básico (bFGF) foi avaliada pelos testes de imunoensaio ELISA. O efeito do HIF-1alfa na expressão do VEGF foi avaliado pelo tratamento das células DPSC e HDPF com 40 �M YC-1, inibidor do HIF-1alfa. Para a avaliação da angiogênese in vitro, os testes de 18 proliferação celular (WST-1) e de formação de tubos capilares em gel de colágeno foram realizados após tratamento das células HDMEC com os meios de acondicionamento das células DPSC ou HDPF, em condições de normóxia ou hipóxia.. A análise dos dados obtidos foi realizada por testes estatísticos não-paramétricos com nível de significância de 5%. Aumento da atividade do HIF-1alfa e da expressão de VEGF foram observados nas células DPSC e HDPF em condições de hipóxia. Entretanto, não foram observadas alterações nos níveis de expressão de bFGF. A expressão do HIF-1alfa foi inibida por 40μM de YC-1, em ambas as linhagens celulares, reduzindo significantemente a secreção de VEGF pelas DPSCs em hipóxia. As células HDPF em hipóxia aumentaram em 50% a formação de tubos capilares quando comparadas às mesmas células em normóxia e em 30% quando comparadas às DPSC em hipóxia. O aumento da taxa de proliferação das células HDMEC foi tempo-dependente. Após 72 horas, os fibroblastos em hipóxia estimularam a proliferação das HDMECs em 30% quando comparados com as DPSCs em hipóxia. Os resultados indicaram que o HIF-1alfa é regulado pela hipóxia nas DPSCs e HDPFs e está envolvido na regulação da expressão de VEGF pelas células DPSC. Notavelmente, a hipóxia é suficiente para aumentar o potencial angiogênico das células pulpares humanas. 19 Palavras-chave: Neovascularização fisiológica; polpa dentária; anóxia; agentes moduladores da angiogênese 20 Aranha AMF. The angiogenic potential of human dental pulp cells in hypoxia [Tese de doutorado]. Araraquara: Faculdade de Odontologia da UNESP; 2008. Abstract Dental luxations can result in the severing of the dental pulp and the creation of a hypoxic environment that might lead to the death of the pulp tissue. Improved understanding of the mechanisms underlying the response of dental pulp cells to hypoxic conditions might lead to better treatment of dental luxations. The purpose of this work was to evaluate the behavior of Dental Pulp Stem Cells (DPSC) and Human Dental Pulp Fibroblasts (HDPF) under hypoxia and their ability to stimulate proliferation and sprouting of endothelial cells. Western blots and immunohistochemistry were used to evaluate the effect of hypoxia on the activation of the transcriptional factor HIF-1�. Vascular Endothelial Growth Factor (VEGF) and Basic Fibroblastic Growth Factor (bFGF) expression was evaluated by ELISA. The effect of HIF-1� on VEGF expression was evaluated by treating DPSC or HDPF with 40 �M YC-1, an inhibitor of HIF-1�. To evaluate the angiogenic potential of dental pulp cells in vitro, human dermal microvascular endothelial cells (HDMEC) were treated with conditioned medium from DPSC or HDPF in normoxia or hypoxia. Sprouting and WST-1 assays were used to 21 evaluate capillaries tubes-like formation and cell proliferation rate, respectively. The statistic analysis was performed by non-parametric tests. HIF-1� activity and VEGF expression were up-regulated in DPSC and HDPF under hypoxic conditions. However, no changes in the expression levels of bFGF were observed. YC-1 40μM was able to inhibit HIF-1alpha in both cell lines and it also reduced VEGF expression in DPSCs in hypoxia. HDPF under hypoxia increased HDMEC sprouting by 50% when compared to HDPF in normoxia, and by 30% when compared to DPSC in hypoxia. Notably, HDPF under hypoxia stimulated HDMEC proliferation by 30% when compared to DPSC in hypoxia. It was concluded that HIF-1� and VEGF are regulated by hypoxia in DPSCs and in HDPFs. HIF-1� is involved in the regulation of VEGF expression in DPSCs under hypoxia. Notably, the hypoxia is sufficient to enhance the angiogenic potential of human dental pulp cells. Key-words: Angiogenesis; dental pulp; anoxia; angiogenesis modulating agents. 22 INTRODUÇÃO Os traumas dentários ocorrem com freqüência em crianças e adolescentes em idade escolar e em fase de crescimento 3, 48. Os dentes anteriores superiores e, em especial, os incisivos centrais são os mais afetados 5 tendo como causas mais freqüentes as quedas, colisões, acidentes automobilísticos e atividades esportivas 16, 48, 49. Nos deslocamentos de dentes traumatizados, como nas luxações extrusivas parciais, luxações intrusivas e principalmente nas avulsões dentárias, redução severa do suprimento vascular sanguíneo pelo rompimento do feixe vásculo-nervoso e ruptura do ligamento periodontal, são observados 2, 4, 5, 6, 16, 48. Nos casos de avulsão dentária, o reimplante do elemento deslocado representa o tratamento de escolha, embora possam ocorrer complicações como dor, anquilose, necrose pulpar, obliteração dos canais radiculares, reabsorção radicular externa e perda óssea de sustentação 4, 5. Alguns fatores são determinantes para a revascularização, processo indicador de sucesso no tratamento de dentes reimplantados, como o estágio de formação radicular, o período de tempo entre o trauma e o tratamento, a presença de contaminação e o meio de armazenamento da estrutura dentária 5. A revascularização do tecido 23 pulpar foi observada em 34% dos dentes reimplantados com ápice aberto 4. A regulação da angiogênese, processo de neovascularização a partir de vasos sanguíneos pré-existentes, pela hipóxia, é uma estratégia importante dos mecanismos de controle homeostático que ligam o suprimento vascular de oxigênio dos sistemas cárdio-pulmonar às necessidades locais metabólicas dos tecidos 29, 38, 67. A regulação do fator de transcrição induzido pela hipóxia 1 (HIF- 1) representa o mecanismo molecular mais bem definido e responsável pela manutenção da homeostasia de oxigênio em metazoários 38. O HIF- 1, proteína heterodimérica composta por duas subunidades, uma subunidade sensível ao oxigênio (HIF-1alfa) e a outra constitutiva (HIF- 1beta), é expresso por diferentes tipos celulares 42, 89, 90. A expressão da subunidade da proteína HIF-1alfa aumenta imediatamente em condições de hipóxia e após reoxigenação, a proteína é degradada 1, 32, 72, 87, 88, 90. O fator transcricional HIF-1alfa apresenta papel crítico no processo da angiogênese pela ativação da transcrição de genes que codificam fatores de crescimento pró-angiogênicos, incluindo o fator de crescimento vascular (VEGF), fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF), angiopoetina 1 (ANG1) e 2 (ANG2), fator de crescimento da placenta (PGF) e fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGFB) 25, 32, 46, 50, 66, 84, 92. Estes fatores de crescimento são secretados por células hipóxicas, 24 as quais estimulam a reorganização estrutural de células endoteliais, aquisição de fenótipo invasivo, proliferação e formação de tubos estruturas vasculares (sprouts) 24, 76. O VEGF é considerado o principal fator de crescimento pró- angiogênico que regula processos fisiológicos e patológicos de angiogênese 22, 47, 58. A expressão de VEGF influencia a resposta angiogênica, sendo responsável pela estimulação da degradação da matriz extracelular ao redor das células endoteliais, promovendo a proliferação, migração e organização destas células em estruturas tubulares 9, 37, 56, 60. Não menos importante, o fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF) também está envolvido com a regulação da angiogênese in vitro e in vivo, induzindo proliferação e quimiotaxia de células endoteliais e produção de proteases 66, 70. Como a regulação da expressão do HIF-1alfa depende do tipo celular 46 e existem poucas evidências da resposta das células pulpares à hipóxia e dos mecanismos moleculares envolvendo a resistência destas células às condições hipóxicas, estudos são necessários para explorar o comportamento das células pulpares em hipóxia na regulação da angiogênese in vitro. A transição para a situação clínica dos eventos de sinalização envolvendo a regulação transcricional de fatores pró-angiogênicos pode futuramente representar forte impacto no tratamento das injúrias 25 traumáticas dentárias, especialmente das avulsões dentárias. Dentro deste contexto, desenvolveu-se a presente pesquisa, cujo objetivo principal foi avaliar o efeito da hipóxia no potencial angiogênico de células pulpares humanas, examinando, pela primeira vez, respostas angiogênicas de células-tronco derivadas de tecidos pulpares. 26 REVISÃO DE LITERATURA Para facilitar a leitura deste capítulo, a literatura científica revisada foi subdivivida em tópicos de acordo com o assunto de interesse. A. TRAUMA DENTÁRIO RELACIONADO À HIPÓXIA E À ANGIOGÊNESE Stanley et al. 78 (1978) descreveram o fenômeno do infartamento isquêmico da polpa dentária pós-trauma. Para esta finalidade, cento e cinqüenta dentes traumatizados (sub-luxados, luxados, avulsionados e reimplantados) tiveram seus tecidos pulpares extirpados e submetidos à análise histopatológica. Os autores demonstraram que alguns tipos de traumas dentários comprimiram os vasos sanguíneos no ápice radicular, tempo suficiente para romper o suprimento sanguíneo, induzindo a polpa a condição de anóxia. O grau de privação de sangue e oxigênio derivado dos episódios traumáticos determinou a rapidez com que os tecidos pulpares se converteram totalmente em uma massa homogênea vermelho-escarlate à pink, com alterações de suas características histológicas normais. Quando as artérias pulpares principais foram obstruídas, os vasos sanguíneos dos canais acessórios passaram a agir como arteríolas periféricas, permitindo a difusão de sangue. Em seguida, os capilares sofreram dilatação, congestão e 27 posterior degeneração, permitindo a difusão de eritrócitos através da polpa dentária. Com o tempo, os eritrócitos se rompem e liberam grânulos de hemoglobina na coloração vermelho-escarlate. Os autores sugeriram que a coloração pink dos dentes traumatizados indicou morte agressiva do tecido pulpar com acúmulo de células vermelhas sanguíneas em seu interior. Na ausência de macrófagos para conversão destas células em hemossiderina, a hemoglobina se rompera em partículas vermelhas, determinando a coloração pink á vermelha do tecido. Cipriano, Walton 14 (1986) examinaram a incidência e as características de infartamento isquêmico no tecido pulpar por meio de biópsias pulpares obtidas de 42 dentes traumatizados, assintomáticos, com ausência de história de patologia periapical, exposição pulpar ou sensibilidade pulpar negativa através da técnica da microscopia de luz. Apenas cinco polpas dentárias demonstraram infartamento isquêmico, que foram também avaliados com a microscopia eletrônica de transmissão. Quando comparados com polpas em condições normais, os tecidos pulpares considerados com infartamento mostraram-se marcantemente alterados. Algumas áreas indicaram inflamação, alteração nuclear, alteração de feixes nervosos e perda de colágeno. Os tecidos analisados em microscopia eletrônica mostraram evidências de necrose, padrão de degradação nuclear, avascularização relativa, degeneração de fibras nervosas e desorganização 28 de colágeno. De acordo com os resultados, pôde ser concluído que o fenômeno do infartamento isquêmico em polpas traumatizadas ocorre ocasionalmente, mas apresenta uma variedade de alterações estruturais indicando degeneração tecidual. Andreasen et al. 2 (1995) investigaram a chance de revascularização de 94 dentes reimplantados com formação incompleta da raiz no momento da injúria. A revascularização do tecido pulpar determinada pela presença de sensibilidade pulpar positiva, ocorreu em 34% dos casos. A sensililidade pulpar positiva e sinais radiográficos de obliteração do canal pulpar foram observados após 6 meses, enquanto que a necrose pulpar foi diagnosticada após 3 semanas dos reimplantes. O efeito de diversos fatores clínicos foi examinado, como gênero, idade, tipo de dente reimplantado, estágio de formação da raiz, tipo e período de tempo de armazenamento extra alveolar, contaminação clínica e procedimentos para limpeza da superfície radicular, além do tipo e período de tempo da contenção dentária e uso de antibióticos. O tamanho do forame apical e o comprimento radicular foram determinados radiograficamente no momento da injúria. Os dados obtidos revelaram que a revascularização pulpar foi mais freqüente em dentes com comprimentos radiculares mais curtos e em dentes armazenados em meio úmido (solução salina e/ou saliva) por mais de 5 minutos. O reimplante dentário imediato (menos de 5 minutos) mostrou 29 maior frequência de revascularização pulpar e embora não houve diferença estatística significante, as contenções dentárias semi-rígidas apresentaram tendência em aumentar a frequência de cura do tecido quando comparadas as contenções rígidas. Claus et al. 15 (2004) observaram as alterações pulpares em dentes unirradiculares imaturos de cães, após remoção dos tecidos pulpar e transplantes dos dentes extraídos nos lugares de seus contra-laterais. Dezesseis dentes de ápices abertos foram utilizados e nos dia 0, 9, 16 e 23, quatro dentes foram extraídos e auto-transplantados. Os dentes foram extraídos e submetidos à análise histológica após 7, 14, 21 e 30 dias. Os resultados mostraram que após 7 dias, houve crescimento de um novo tecido no interior do canal radicular na região apical em 50% dos dentes. No 14o dia, todos os dentes apresentaram formação de um novo tecido conjuntivo rico em células em � das raízes. Vinte e um dias após o auto-transplante, 75% das camadas pulpares estavam preenchidas, enquanto que aos 30 dias, reparo completo foi observado em 50% dos dentes e os vasos sanguíneos foram diferenciados em artérias e veias. Desta forma, pôde-se concluir que em dentes imaturos transplantados, após remoção dos tecidos pulpares originais, há formação de um novo tecido conjuntivo organizado e vascularizado. 30 Ritter et al. 69 (2004) investigaram o efeito tópico de antibióticos na revascularização pulpar em dentes reimplantados como controle de infecção bacteriana. Para tal finalidade, 34 dentes imaturos, com ápices abertos, foram selecionados de três cães. Radiografias iniciais e leitura do fluxo sanguíneo pelo Laser Doppler (LDF) foram utilizados para a análise. Os dentes foram extraídos e divididos aleatoriamente em quatro grupos: G1 - tratados com minociclina, G2 - tratados com doxiciclina e G3 - tratados com solução salina (controle negativo). Após tratamento, os dentes foram imediatamente reimplantados. Dentes não extraídos foram utilizados como controle (G4). Radiografias pós-operatórias e leituras de fluxo e viabilidade dos tecidos pulpares (LDF) foram realizadas após dois meses do reimplante. A revascularização pulpar ocorreu em 91%, 73% e 33% para os grupos G1, G2 e G3, respectivamente. Através dos resultados, os autores concluíram que a minociclina em forma de microesferas apresentou eficiente ação de liberação lenta do antibiótico de amplo-espectro, permitindo que a revascularização tenha ocorrido em níveis mais altos que a solução de doxiciclina em dentes imaturos reimplantados. Chappuis, von Arx 12 (2005) avaliaram 34 pacientes com 45 dentes permanentes avulsionados e reimplantados por meio de exames radiográficos, analisando alterações períodontais e pulpares por período de um ano. Todos os dentes avulsionados foram mantidos em meio de 31 armazenamento especial, contendo aminoácidos, vitaminas e glicose (Dentosafe, GmbH, Iserlohn, Germany) pelo menos por 30 minutos e então imersos em tetraciclina 5% antes do reimplante. Os dentes foram manualmente reimplantados e estabilizados por 7-10 dias. Após este período, apenas os dente com ápice fechado e aqueles com ápice aberto ou que não foram estocados de forma adequada foram submetidos ao tratamento endodôntico. A tetraciclina foi administrada sistemicamente a todos os pacientes durante 10 dias. Foi observado que dos 95,6% dos dentes reimplanados e mantidos após 1 ano de acompanhamento, 82,2% foram submetidos ao tratamento endodôntico. Não houve revascularização pulpar, mas em 57,7% dos casos houve restabelecimento periodontal normal. Dos 42,3% dos dentes que sofreram reabsorção externa, 28,9% apresentaram reabsorção por substituição. Em apenas 6,7% dos dentes ocorreu reabsorção relacionada a infecção ou reabsorção de superfície. Strobl et al. 79 (2005) determinaram se o tipo de luxação dentária seria responsável por alterações da medida do fluxo sanguíneo em dentes permanentes após trauma, reposicionamento e contenção. Em 41 pacientes, 69 incisivos centrais superiores foram analisados através de Laser Doppler para mensurar os valores do fluxo sanguíneo (unidade de perfusão- PU). As unidades de perfusão foram obtidas no dia da remoção da contenção e após 3, 6 e 12 meses. As luxações intrusivas foram associadas 32 com redução significante dos valores do fluxo sanguíneo, enquanto que as subluxações, luxações laterais e extrusivas, bem como as avulsões não mostraram diferenças entre as sessões. Os valores do fluxo sanguíneo nas avulsões dentárias foram sempre menores que os valores das subluxações e luxações laterais. Os autores sugeriram que o tipo de luxação dentária interfere na resposta pulpar em dentes traumatizados, sendo a intrusão seguida da avulsão, as injúrias com piores prognósticos. B. CÉLULAS-TRONCO PULPARES Gronthos et al. 33 (2000) identificaram e isolaram uma população de células progenitoras odontogênicas de tecidos pulpares adultos de dentes permanentes humanos (DPSCs) e as compararam com células do estroma da medula óssea humana (BMSCs). Para tal finalidade, tecidos pulpares de terceiros molares foram separados das coroas e raízes e digeridos em solução de colagenase tipo I e dispase por uma hora a 370C e suspensões de célula-única foram obtidas para avaliar a formação de colônias pelas células isoladas. As análises da imunocitoquímica, da atividade da fosfatase alcalina, RT-PCR e hibridização in situ foram realizadas para caracterização das células. As células DPSCs ou BMSCs foram misturadas com pó de hidroxiapatita/fosfato tricálcio e transplantadas no dorso de camundongos imunosuprimidos por 45 dias, quando os 33 transplantes foram removidos e preparados para análise histológica. Células DPSC isoladas apresentaram frequência de formação de colônias e de número de células proliferativas significantemente maior do que a cultura de células BMSC. Em geral, DPSCs e BMSCs apresentaram padrão de expressão semelhantes para uma variedade de marcadores associados com endotélio (CD146 e VCAM-1), musculatura lisa (�-SM actin), osso (fosfatase alcalina, colágeno tipo I, osteonectina, osteopontina e osteocalcina) e fibroblastos (colágeno tipo III e bFGF). Células DPSCs produziram nódulos densos, calcificados e esporádicos e não formaram adipócitos, enquanto que as BMSCs calcificaram através de camada de células aderentes com formação de agrupamentos de adipócitos. Quando DPSCs foram transplantadas em camundongos, houve formação de tecido semelhante à estrutura dentinária, lineada por células odontoblastóides que circundavam tecido semelhante à polpa dentária. Em contraste, BMSCs formaram osso lamelar contendo osteócitos e osteoblastos ao redor de tecido vascular fibroso com hematopoiese ativa e adipócitos. Os autores concluíram que o tecido pulpar pós-natal contém células clonogênicas altamente proliferativas e capazes de formar complexo semelhante ao dentino-pulpar. Gronthos et al. 34 (2002) caracterizaram a capacidade de auto- renovação e de diferenciação em multi-linhagens, bem como a eficiência 34 clonogênica de células-tronco de polpas dentárias humanas (DPSCs). Foi demonstrado que DPSCs são capazes de formar dentina ectópica e tecido pulpar associado in vivo. Células semelhantes àquelas presentes no estroma de transplantes de DPSCs de três meses foram re-isoladas em culturas de transplantes primários de células DPSC e, re-transplantadas em camundongos imunodeprimidos para gerar tecido semelhante ao dentino- pulpar, demonstrando sua capacidade de auto-renovação. As células DPSCs também foram capazes de se diferenciar em adipócitos e células semelhantes às células neurais. Dois terços de colônias de célula-única foram capazes de formar dentina ectópica abundante in vivo, sugerindo que as colônias derivadas de DPSCs diferem entre si em relação a taxa de odontogênese. Estes resultados demonstraram que DPSCs possuem características de células-tronco, incluindo capacidade de auto-renovação, alta taxa de proliferação e diferenciação em multi-linhagens. Desta forma, os autores sugeriram que as DPSCs podem ser utilizadas como modelo de estudo para diferenciação de células-tronco adultas in vitro e regeneração tecidual in vivo. Pierdomenico et al. 64 (2005) investigaram o fenótipo de células-tronco derivadas de polpa de dentes permanente humanos (DP- MSCs) e o compararam com as células-tronco derivadas da medula óssea (BM-MSCs). A análise da citometria de fluxo mostrou que as DP-MSCs e 35 BM-MSCs foram positivas para SH2, SH3, SH4, CD29 e CD166. A proliferação in vitro de ambas as linhagens celulares foi avaliada pela incorporação do corante 3H-timidina. A função de imunossupressão das células-tronco mesenquimais foi testada através da co-cultura das mesmas com ou sem linfócitos humanos por 3 dias. As células BM-MSC in vitro se diferenciaram em osteócitos, condrócitos e adipócitos, enquanto que as células DP-MSCs mostraram diferenciação adipogênica menos evidente e ausência de diferenciação condrogênica. Foi demonstrado que as DP-MSCs apresentam crescimento rápido in vitro entre os dias 3 e 8 de cultura, o qual diminui no 150 dia. Por outro lado, BM-MSCs proliferam de forma estável e contínua pelo mesmo período de tempo. A co-cultura da DP-MSCs ou das BM-MSCs resultou em inibição de 91% e 75% das células T, respectivamente. Os autores concluíram que o tecido pulpar é uma fonte eficiente de células-tronco mesenquimais com mecanismos e capacidade de diferenciação distintos das células isoladas da medula óssea. A capacidade de proliferação rápida e as caraterísticas imunorregulatórias das DP-MSCs indica o uso destas células para tratamento e prevenção de transplantes de órgãos alogênicos. Yamada et al. 91 (2006) investigaram os padrões de expressão gênica e as classificações funcionais de duas populações de células pré- cursoras: células-tronco de polpa dentária humana (hDPSC) e células-tronco 36 mesenquimais humanas (hMSC) por meio da análise microarray de cDNA. A expressão dos genes da fosfatase alcalina (ALP), proteína da matriz dentinária 1 (DMP-1) e da sialoproteína dentinária (DSPP) foram analisadas pela Reação em Cadeia da Polimerase pela Transcriptase Reversa em Tempo Real (qRT-PCR). As análises do padrão de expressão gênica indicaram vários genes que codificam componentes da matriz extracelular (colágeno tipo IV, XIII, XVIII, sialoproteína óssea, metaloproteinase da matriz, trombospondina), moléculas de adesão celular (integrinas � 2, 4, 7, 11, � 2), fatores de crescimento (IGF-1 e II, Interleucina 8 e 11, TNF-�, BMP-2 e 4) e reguladores transcripcionais (Msx1, Jun-B). Análises de formação de agrupamentos celulares (clusters) e análises funcionais da diferença no nível de expressão gênica das células-tronco examinadas, revelaram expressão de genes de sinalização, comunicação ou de metabolismo celular. De acordo com os resultados, os autores acreditam que ambas as linhagens de células-tronco podem ser utilizadas no futuro como recursos celulares multipotentes para a tecnologia genética e de engenharia de tecido C. HIPÓXIA Respostas celulares à hipóxia Baumgardner et al. 8 (1996) examinaram se a substância tritiato misonidazole (3H-MISO) poderia diferenciar tecidos pulpares e 37 periapicais em condições de normóxia e hipóxia. As substâncias, 3H- MISO (tritiato misonidazole), MISO (misonidazole) não marcado, ou solução salina, foram injetadas intra-peritonialmente em ratos e então divididos nos grupos normóxia e hipóxia. Os animais em condições de hipóxia foram mantidos em câmaras hipobáricas a 0.5 atm por 24 horas. A retenção de 3H-MISO foi avaliada pela análise quantitativa de auto- radiografias dos tecidos. Dentes com osso perirradicular foram removidos, fixados e submetidos ao processamento histológico. A taxa de retenção do 3H-MISO em células dos animais em normóxia mostrou pequena variação com exceção da alta retenção em ameloblastos maduros e odontoblastos imaturos em incisivos em erupção. Nos tecidos pulpares de ambos os grupos dentários (incisivos e molares), a manutenção dos animais na câmara hipobárica aumentou a retenção de 3H-MISO quando comparada com os animais em normóxia e do grupo controle. Intensa retenção de 3H-MISO de células hipóxicas foi observada no cemento, ligamento periodontal, osteócitos e ocasionalmente nos odontoblastos dos cornos pulpares de molares. Os resultados demonstraram que com técnicas padrão de auto-radiografia, o 3H-MISO pode marcar condições induzidas de hipóxia, com alteração do fluxo sanguíneo na polpa dentária e no periodonto circundante. 38 Hochachka et al. 39 (1996) propuseram uma teoria para a tolerância de alguns tipos celulares à hipóxia, na qual a resposta celular à redução dos níveis de oxigênio ocorreria em duas fases, defesa e resgate. Na primeira fase, uma série de processos moleculares de defesa como o declínio quase total da síntese protéica e a redução da permeabilidade da membrana citoplasmática economizariam grande parte da energia necessária para o metabolismo celular em condições normais, permitindo a sobrevivência das células durante um período prolongado de hipóxia ou anóxia diante dos níveis extremamente baixos do turnover de ATP. Se o período de falta de oxigênio fosse prolongado, o sistema de tolerância à hipóxia ativaria mecanismos de “resgate”, regulando a expressão de diversas proteínas. Nesta segunda fase, mecanismos de sinalização com ativação de fatores chaves de transcrição, como o fator induzido pela hipóxia 1 (HIF-1), seriam ativados e os mecanismos da demanda e suprimento de energia para o metabolismo celular seriam suprimidos durante o período hipóxico, transformando as taxas do turnover de ATP durante a normóxia, em um novo e estável estado hipometabólico. A reparação tecidual envolve a deposição de matriz de colágeno, angiogênese e crescimento de novo tecido. As atividades celulares durante o reparo estão relacionadas com os níveis de oxigênio do tecido. Diante destes dados científicos, Tompach et al. 82 (1997) 39 investigaram os efeitos do oxigênio hiperbárico (HBO) em células envolvidas na reparação. Culturas de células endoteliais de aorta bovina e fibroblastos de pele humana foram expostas ao HBO, variando-se a pressão parcial, saturação de oxigênio, duração e freqüência da exposição. A proliferação celular foi determinada pela incorporação de timidina marcada por 3H. Um aumento da pressão parcial de oxigênio no meio de cultura das células cultivadas foi observado quando expostas ao oxigênio hiperbárico, resultando em aumento da proliferação celular. A proliferação das células endoteliais aumentou após 15 minutos de exposição ao HBO, enquanto que 120 minutos de exposição foram necessários para a proliferação dos fibroblastos, que persistiu por 72 horas. O aumento na pressão de 2,4 para 4 atmosferas não potencializou a resposta proliferativa de ambas as linhagens celulares, reduziu significantemente à incorporação da timidina. Os autores sugeriram que bons resultados podem ser obtidos nos processos de reparação tecidual, incluindo a angiogênese, através do aumento dos níveis de oxigênio tecidual, utilizando tratamentos celulares e teciduais com oxigênio hiperbárico. Giaccia et al. 29 (2004) resumiram o atual conhecimento discutido no Encontro de Keystone sobre a biologia da hipóxia. Foi observado que as respostas induzidas pela hipóxia são fortemente 40 reguladas no desenvolvimento embrionário normal e podem ser desreguladas em diferentes estados das doenças. A identificação das proteínas reguladas pelo oxigênio como os fatores transcricionais da família HIF (fator induzido pela hipóxia) representa um paradigma para a percepção do oxigênio a nível molecular. Todavia, considera-se que esta família seja um dos exemplos envolvidos na regulação da expressão proteica em resposta a hipóxia. Uma variedade de organelas intracelulares também pode estar relacionada com a percepção do oxigênio como, por exemplo, os canais iônicos, mitocôndrias e retículos endoplasmáticos. O uso de organismos-modelo, incluindo camundongos transgênicos e knockout tem sido fundamentais em associar eventos moleculares na percepção do oxigênio com respostas de desenvolvimento, contribuindo para melhor visualização dos aspectos inerentes à percepção do oxigênio mantidos durante evolução. Finalmente, os pesquisadores concluíram que o conhecimento de como as células percebem e respondem a hipóxia é fundamental para entender o papel da hipóxia em doenças, bem como para aprimorar os diagnósticos e tratamentos. Swiderek et al. 81 (2008) examinaram as alterações celulares e moleculares de uma linhagem de células de mamíferos (NSO) produtoras de anticorpo quimérico de camundongos e humanos, em 41 condições de hipóxia (< de 1% de O2). Vários parâmetros celulares, tais como a viabilidade (Análise do Triplan Blue), produtividade (concentração de expressão de anticorpos - teste ELISA e análise de microarray), metabolismo (concentração de lactato e glicose), apoptose (Kit) e ciclo celular (citometria de fluxo) foram estudados. Após 12 horas de incubação, houve supressão do crescimento celular e perda significante da viabilidade celular em detrimento ao baixo teor de oxigênio. Quando as células foram expostas a 48 horas de hipóxia, morte celular foi observada. O mecanismo de produção de anticorpos foi completamente interrompido nas células em hipóxia. A análise de microarray revelou que a sobrevivência inicial das células NSO em hipóxia durante as primeiras 12 horas de incubação foi mantida pela supressão de processos consumidores de energia, tal como a síntese de RNA e DNA, e pela estimulação de mecanismos de aquisição de mais energia e de transporte de oxigênio, como o aumento da glicólise e do metabolismo de carboidratos, levando a caminhos alternativos para a produção de ATP e maior disponibilidade de oxigênio. Estes resultados sugeriram que mudanças nos mecanismos e genes foram responsáveis pela aceleração da morte celular em condições de hipóxia. 42 HIF-1alfa Semenza, Wang 72 (1992) identificaram um fator intensificador (enhancer) de 50 nucleotídeos (nt) de um gene humano da eritropoietina (EPO - sequência 3’GCCCTACGTGCTGTCTCACACA GCCTGTCTGACCTCTC GACCTACCGGCC) capaz de mediar a indução transcricional em resposta a hipóxia (1% de O2), em células de hepatoblastoma humano (Hep3B). Os estudos de mutagênese realizados revelaram duas regiões do fator intensificador induzidas pela hipóxia (50 nt), nucleotídeos 4 a 12 (site 1) e 19 a 23 (site 2), que foram essenciais para a indução da expressão gênica induzida pela hipóxia. O footprint da DNase I demonstrou a ligação com o fator nuclear constitutivo dos nucleotídeos 26 a 48 (site 3). A atividade de ligação ao DNA do fator intensificador, quando as células estavam em condições hipóxicas, foi inibida pela presença de ciclohexamidina, o que não aconteceu na região constitutiva do mesmo. Estes resultados indicaram que um fator nuclear, denominado de fator induzido pela hipóxia 1 (HIF-1), liga-se às sequências necessárias (site 1) para a ativação transcricional do gene EPO em resposta a hipóxia e, a ligação do HIF-1 depende da síntese proteica. Os autores concluíram de acordo com os resultados obtidos, que um fator intensificador induzido pela hipóxia de 50 nucleotídeos, tripartido funcionalmente (sites 1, 2 e 3), 43 se liga a diversos fatores nucleares, sendo um deles induzido pela hipóxia via síntese proteica. Wang, Semenza 87 (1993) caracterizaram o HIF-1 e a regulação de sua atividade de ligação ao DNA pela hipóxia. A indução do HIF-1 e do RNA da eritropoietina (EPO) foi inibida pelo inibidor da proteína kinase, 2-amonipurina e pela actinomicina D. A ligação do fator transcricional ao DNA foi eliminada pelo tratamento dos extratos nucleares com fosfatase. Os autores demonstraram que o mecanismo de indução do HIF-1 pela hipóxia foi paralelo ao mecanismo de indução transcricional do gene da eritropoietina. A atividade de ligação ao DNA do HIF-1 diminuiu rapidamente quando as células Hep3B foram expostas ao aumento da tensão de oxigênio. A ligação in vitro do HIF-1 ao DNA alcançou condições de equilíbrio em menos de 5 minutos, como era esperado de um regulador transcripcional fisiológico. Entretanto, a meia- vida do complexo DNA-proteína foi menor que 1 minuto. Por meio dos resultados, os autores sugeriram que o fator trascricional HIF-1 é um regulador fisiológico da expressão gênica que responde a alterações na tensão do oxigênio celular. 44 Com o objetivo de determinar se o HIF-1 apresenta papel na ativação hipóxica da transcrição gênica, Wang, Semenza 88 (1993) analisaram diferentes linhagens celulares de mamíferos, nas quais o gene da eritropoietina (EPO) não foi expresso. A atividade do HIF-1 esteve presente nos extratos nucleares de células em hipóxia, mas não em normóxia, em todas as linhagens. Os autores demonstraram que a atividade de ligação ao DNA pelo HIF-1 foi induzida pela hipóxia em todas as linhagens celulares testadas, nas quais o gene EPO não era transcrito (fibroblastos de camundongo Ltk-, células CHO, fibroblastos Rat1, células 293 embrionárias de fígado humano, células de carcinoma da cervical humana HeLa e mioblastos de camundongo C2C12.). A composição do complexo de ligação ao DNA pelo HIF-1, a subunidade de ligação ao DNA isolada e o mecanismo de ativação do HIF-1 foram semelhantes ou idênticos nas células produtoras ou não do gene EPO. A transcrição de genes contendo o fator intensificador do gene EPO foi induzida pela hipóxia em células não produtoras do gene EPO, sendo que mutações que eliminaram a ligação do HIF-1, inibiram sua capacidade de indução. Estes resultados forneceram evidências de que em diferentes tipos celulares, a hipóxia induz a atividade de ligação do HIF-1 ao DNA com a mesma mobilidade e especificidade de seqüência que a atividade de ligação ao DNA do HIF-1, caracterizada previamente nas células 45 Hep3B. Portanto, HIF-1 e sua seqüência de reconhecimento são elementos comuns de respostas celulares gerais de mamíferos à hipóxia. Wang, Semenza 89 (1995) investigaram as propriedades bioquímicas do HIF-1 e seu papel no mecanismo de transdução dos sinais durante hipóxia. Para tal finalidade, os genes codificadores das subunidades do HIF-1 foram clonados e as células humanas de hepatoma (Hep3B) e de carcinoma cervical (HeLa) foram tratadas com cloreto de cobalto ou submetidas à hipóxia. HIF-1 foi purificado pelo teste de troca iônica DEAE e pela cromatografia de afinidade ao DNA. Análises do HIF-1 isolado revelaram a presença de quatro poli-peptídeos, sendo que os poli-peptídeos de 91-, 93- e 94-KDa apresentaram perfis semelhantes, sugerindo que eles representavam seqüências correlacionadas, enquanto que o polipeptídeo de 120-KDa apresentou perfil diferente. As análises cross-linking UV do HIF-1 purificado indicaram que ambas as subunidades do HIF-1 interagiram diretamente com o DNA. Os autores concluíram que durante o tratamento das células HeLa com cloreto de cobalto e das células Hep3B em hipóxia, o HIF-1 foi expresso e composto por duas diferentes subunidades: HIF-1 alpha de 120-KDa e HIF-1beta de 91-94-KDa. 46 Wang et al. 90 (1995) mostraram que ambas as subunidades do HIF-1 são proteínas básicas hélice-loop-hélice (bHLH), contendo domínio PAS (Per-ARNT-AHR-Sim), bHLH-PAS, consistindo de uma subunidade HIF-1alfa com 120kDa associada com uma subunidade HIF- 1beta (ARNT- aryl hydrocarbon receptor nuclear translocator) com 91- 94 KDa. HIF-1alfa esteve mais relacionado com a proteína Sim, enquanto que o HIF-1 beta foi definido como uma série de produtos do gene ARNT que poderia heterodimerizar com o HIF-1alfa ou com a proteína AHR. As moléculas de RNA e os níveis de proteína do HIF-1alfa e do HIF-1beta (ARNT) foram induzidos em células expostas a 1% de O2, o que foi consistente com o papel do HIF-1 como mediador das respostas transcricionais a hipóxia. Os resultados forneceram evidências de que a atividade de ligação do HIF ao DNA celular é regulada pelos mecanismos transcricionais e pós-transcricionais. Jiang et al. 42 (1996) identificaram fatores estruturais da subunidade HIF-1alfa essenciais para a heterodimerização, ligação ao DNA e transativação. As subunidades HIF-1alfa e HIF-1beta (ARNT) ao serem co-imunoprecipitadas de extratos nucleares das células humanas do fígado (Hep3B) em condições de hipóxia (1% de O2) ou normóxia (20% de O2), demonstraram heterodimerização na ausência de ligação ao DNA. A translação in vitro do HIF-1alfa e HIF-1beta gerou um complexo HIF- 47 1/DNA com mobilidade eletroforética e especificidade de seqüência semelhantes ao HIF-1 presente nos extratos nucleares das células hipóxicas. A deleção do domínio básico do HIF-1alfa eliminou a união ao DNA sem afetar a heterodimerização das proteínas (HIF-1alfa e HIF- 1beta). Em contraposição, com a deleção do terminal carboxil do HIF- 1alfa, houve redução significante da habilidade do HIF-1alfa recombinante (rh- HIF-1alfa) de ativar a transcrição. Nos testes de co- transfecção, a expressão induzida de HIF-1alfa e HIF-1beta recombinantes, ativou a transcrição de genes contendo seqüência do fator intensificador EPO (gene da eritropoietina), com presença de sítios de ligação do HIF-1 intactos. A acentuada expressão de HIF-1alfa com deleções nos domínio básico e carboxil bloqueou a ativação gênica pelo HIF-1alfa endógeno em células hipóxicas. Através dos resultados, pode- se sugerir que a transativação de células submetidas a 1% de O2 foi mediada primariamente pelo domínio carboxil da estrutura do HIF-1alfa, enquanto que outro domínio, como o de transativação do ARNT, apresenta papel importante para células em normóxia (20% de O2 ). Jiang et al. 41 (1996) demonstraram que os níveis de atividade de ligação do HIF-1 ao DNA, das proteínas HIF-1� e HIF-1� são inversamente proporcionais à concentração do oxigênio celular, ou seja, aumentaram exponencialmente quando células de carcinoma 48 cervical humano (HeLa S3) foram submetidas a concentrações decrescentes de O2 (20% a 0), com resposta média entre 1.5% e 2% de O2 e resposta máxima a 0,5% de O2, na presença ou ausência de 1mM KCN (cianeto de potássio). O KCN foi utilizado para bloquear a fosforilação oxidativa, mantendo semelhantes as concentrações de O2 intracelular e extracelular, inibindo qualquer gradiente de O2 intracelular para analisar a expressão do HIF-1. Estes resultados mostraram evidências do envolvimento do HIF-1 na homeostasia de O2 e sugeriram que o sensor de O2 inicia a transdução do sinal de hipóxia, levando a expressão do HIF-1. Forsythe et al. 25 (1996) demonstraram o envolvimento da proteína heterodimérica que ativa a transcrição do gene humano da eritropoietina (EPO), fator induzido pela hipóxia (HIF-1), em células hipóxicas, com a ativação da transcrição do fator de crescimento vascular endotelial (VEGF). Pela primeira vez, foi demonstrado, através do isolamento do cDNA codificador das duas subunidades do HIF-1, que o HIF-1 interage com a seqüência 5’- do VEGF para mediar a ativação transcricional em células hipóxicas. Este resultado foi determinado pela expressão induzida do HIF-1� e HIF-1� (rHIF-1), os quais aumentaram a expressão do VEGF em células expostas a 1% ou 20% de O2 de forma dose – dependente. O mRNA do VEGF não foi induzido pela hipóxia em 49 células que não expressaram a subunidade HIF-1�, sugerindo a importância do HIF-1 na ativação da transcrição do VEGF em células hipóxicas. Chun et al. 13 (2001) testaram a possibilidade do YC1 ([3- (5’–Hydroxymethyl-2’–furyl)-1-benzyl indazole]) inibir as respostas induzidas pela hipóxia, como o óxido nítrico (NO). Células de hepatoma (Hep3B) em normóxia (20% O2) ou em hipóxia (1% O2) foram utilizadas para observar a indução do gene da eritropoietina (EPO) e do VEGF. Os efeitos do YC1 foram comparados com aqueles do óxido nítrico. Nas células submetidas à hipóxia, YC1 bloqueou a indução dos mRNAs de EPO e do VEGF, além de inibir a atividade de ligação do fator de transcrição HIF-1 ao DNA. O acúmulo, em nível protéico, do HIF-1alfa em condições de hipóxia foi suprimido, mas os níveis do mRNA não foram alterados, sugerindo que o YC1 atua bloqueando o HIF-1alfa na etapa pós-translacional. O YC1 também inibiu o acúmulo de HIF-1alfa induzido pelo cobalto e pela desferrioxamina (DFX), o qual não foi recuperado pelo tratamento das células com antioxidantes. Os resultados indicaram que os efeitos inibitórios do YC1 podem estar associados com o mecanismo das células em perceber as alterações de oxigênio relacionado a metais e não pelo mecanismo de redução celular. 50 Kelly et al. 46 (2003) demonstraram que a exposição de culturas primárias de células cardíacas e vasculares à hipóxia ou ao adenovírus, codificando constitutivamente de forma ativa o HIF-1� (AdCA5), regulou coordenadamente a expressão de genes codificadores de diversos fatores de crescimento angiogênicos críticos, fatores de crescimento endotelial vascular (VEGF) semelhantes aos da placenta (PLGF) e derivados das plaquetas (PDGFB) e angiopoietinas 1 (ANGPT1) e 2 (ANGPT2), de maneira específica para cada tipo celular. Dependendo do tipo celular, a expressão das angiopoetinas ANGPT1 e ANGPT2 foram ativadas ou reprimidas em resposta à hipóxia e ao AdCA5. Em todos os casos, houve concordância entre os resultados dos efeitos da hipóxia e do AdCA5. Para determinar se o aumento da atividade do HIF-1� seria suficiente para induzir angiogênese em tecidos não-isquêmicos in vivo, os autores analisaram o efeito da injeção sub- retinária do AdCA5 na vascularização da retina de camundongos por meio da imunohistoquímica. Os resultados indicaram que o vetor adenoviral AdCA5 foi responsável por diferentes tipos de neovascularização intraocular na ausência de hipóxia/isquemia. Adicionalmente, concentrações elevadas de um único isoforme do VEGF não foi suficiente para formação e proliferação de novos vasos. Os autores ainda sugeriram um papel proeminente na neovascularização do PLGF induzido pelo AdCA5. A análise da expressão gênica revelou 51 aumento na expressão do mRNA das ANGPT1 e ANGPT2, do PDGFB, do PLGF e do VEGF em AdCA5 injetado nos olhos dos camundongos. Yamakawa et al. 92 (2003) investigaram os eventos moleculares envolvidos na regulação da resposta angiogênica pelo fator transcricional HIF-1alfa durante hipóxia. Para isto, células endoteliais primárias humanas (HPAEC) foram submetidas à hipóxia (1% O2), tratadas com desferroxamina (DFX) ou infectadas com Ad2/HIF- 1�/VP16, vetor adenoviral codificador de forma híbrida e estável constitutiva do HIF-1�. A apoptose, a proliferação, a permeabilidade e a formação de tubos capilares in vitro pelas células HPAEC foram avaliadas após os diferentes tratamentos. Também foram analisadas a expressão gênica do VEGF e de seus receptores (VEGFR1 e VEGFR2), angiopoietinas (Ang-1, Ang-2 e Ang-4), Tie -2, PLGF e PDGF. Nível baixo de expressão dos fatores angiogênicos foi observado nas células endoteliais em normóxia. Em contraposição, a hipóxia, DFX e a infecção com Ad2/HIF-1�/VP16 estimularam a expressão de mRNA e dos níveis de proteína do VEGF, VEGFR1, P1GF, PDGF e Ang-4. Hipóxia e DFX também aumentaram os níveis de Ang-2. O tratamento das HPAEC com a proteína recombinante Ang-4 foi capaz de proteger as células endoteliais contra a apoptose induzida pela ausência de soro fetal bovino no meio de cultura, além de aumentar a migração e a formação de 52 capilares pelas células. O vetor adenoviral, assim como a hipóxia, também aumentaram a migração e a formação de capilares pelas HPAEC, a qual foi significantemente reduzida quando um inibidor dos receptores tirosina-kinase das angiopoietinas (Tie-2), foi utilizado. Através dos resultados, pode-se sugerir que o HIF-1� media a resposta angiogênica à hipóxia pela regulação de múltiplos fatores angiogênicos, especialmente do VEGF e do sistema da angiopoetinas. Há evidências de que a ativação do sistema angiopoetina/Tie-2 contribui no papel do HIF-1� em condições hipóxicas. O HIF-1alfa ativa a transcrição de genes codificadores de fatores de crescimento pró-angiogênicos, os quais são secretados por células hipóxicas e estimulam o processo de angiogênese por células endoteliais. Para determinar se o HIF-1� mediaria também resposta celular autônoma à hipóxia, Manalo et al. 50 (2005) compararam o perfil de expressão gênica em células endoteliais cultivadas em normóxia ou hipóxia e, em células em normóxia infectadas com adenovírus codificando forma constitutivamente ativa do HIF-1� (AdCA5) ou da beta-galactosidase (AdLacZ-grupo controle). A análise da expressão gênica induzida pela hipóxia e pelo AdCA5 revelou diversas categorias de produtos gênicos como óxido-redutases, colágenos, enzimas modificadoras, citocinas, fatores de crescimento, receptores, proteínas 53 sinalizadoras e fatores de transcrição. A expressão dos diferentes genes foi aumentada ou reduzida. Grande parte da categoria dos genes com expressão reduzida pela hipóxia ou AdCA5 codificou proteínas envolvidas com o crescimento e proliferação celular. Por outro lado, os genes com expressão aumentada codificaram fatores de crescimento, citocinas, receptores e outras proteínas sinalizadoras. Os fatores de transcrição do maior grupo de genes regulados pelo HIF-1�, indicaram que este fator de transcrição controla uma rede de respostas transcricionais à hipóxia em células endoteliais. A infecção das células endoteliais com o AdCA5 foi suficiente para induzir aumento da invasão da membrana basal e formação de estruturas tubulares semelhantes às respostas induzidas pela hipóxia, sugerindo que o HIF-1alfa regula ativação autônoma de células endoteliais. Greijer et al. 32 (2005) avaliaram genes induzidos pela hipóxia e dentre estes, os genes mediados pelo HIF-1 por meio de análises de expressão do microarray cDNA. Os genes regulados pela hipóxia foram identificados comparando-se fibroblastos wild-type de camundongos em normóxia e hipóxia (1% de O2) e diferenças entre duas linhagens de fibroblastos (wild-type e HIF-1� -/-) foram analisadas para estudar a importância do HIF-1 na regulação gênica em condições hipóxicas. Em geral, a hipóxia causou redução da expressão gênica em ambas as linhagens. 54 O fator transcricional HIF-1alfa foi responsável pela regulação de 89% dos genes que tiveram sua expressão aumentada e apenas 17% dos genes com expressão reduzida. Todas as enzimas glicolíticas sofreram forte aumento na expressão durante hipóxia de forma dependente do HIF-1. Adicionalmente, vários genes novos regulados pelo HIF-1 foram identificados, incluindo os genes envolvidos no metabolismo celular (adenilato kinase 4, galactokinase), na apoptose (galectina 3 e gelsolina) e na invasão celular (RhoA). Os genes de expressão reduzida pela hipóxia foram aqueles envolvidos com a manutenção do citoesqueleto (Rho Kinase), o processamento do mRNA (ribonucleoproteína nuclear heterogênea H1 e fator de splicing) e com o reparo do DNA (REV 3). De acordo com os dados científicos obtidos, os autores sugeriram que o HIF-1 parece ter importância no aumento da expressão gênica necessária para suportar o stress causado pela hipóxia e subsequentemente, para a sobrevivência celular. Dai et al. 17 (2007) examinaram a secreção e a regulação do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) pelo fator de transcrição HIF-1alfa em infartamento miocárdico por células-tronco da medula óssea (BMSCs). As BMSC foram obtidas de camundongos transgênicos sobre- expressando proteína verde fluorescente (GFP) e co-cultivadas com cardiomiócitos em condições de hipóxia (1% de O2) ou anóxia. As análises da liberação de desidrogenase lática (LDH), do teste de viabilidade celular 55 do MTT (metiltetrazolium), da fragmentação do DNA e da marcaçãoda de apoptose por anexiva V foram utilizadas para identificação de danificação celular. Os níveis de expressão do HIF-1alfa e do VEGF pelo teste ELISA também foram examinados. A expressão de HIF-1alfa e do VEGF nas BMSCs foi analisada por meio do PCR quantitativo e imunihistoquímica para localização celular. Após 24 horas de hipóxia, houve aumento da liberação de LDH e redução da viabilidade celular, o que foi prevenida pela co-cultura dos cardiomiócitos com as BMSCs. A secreção do VEGF pelas células-tronco foi significantemente aumentada juntamente com a expressão do HIF-1alfa após hipóxia e anóxia de forma tempo-dependente. Embora não tenha ocorrido aumento dos níveis de mRNA do HIF-1alfa, sua concentração proteica foi marcantemente aumentada, juntamente com a translocação nuclear. Ao utilizarem inibidor de HIF-1alfa, a proteção dos cardiomiócitos pelas BMSCs e a expressão do VEGF foram inibidas. Por estes resultados, os autores demonstrarm que as células-tronco de medula óssea foram capazes de proteger os cardiomiócitos pelo aumento da expressão do VEGF regulada pelo HIF-1alfa. Com o objetivo de identificar as moléculas e os mecanismos envolvidos com a troca do fenótipo angiogênico durante a progressão tumoral, Fang et al. 21 (2008) desenvolveram um modelo de condrosarcoma in vivo. O papel do VEGF e do bFGF e do fator transcricional HIF-1alfa foi 56 examinado nas fases de crescimento avascular e vascular do tumor. Os autores observaram aumento significante dos níveis de expressão proteica do VEGF em nódulos avasculares do tumor quando comparado aos nódulos vasculares. Quando os nódulos avasculares se vascularizaram, houve redução da expressão do VEGF. Contrariamente, a concentração de bFGF não foi aumentada nos nódulos avasculares, mas foi duas vezes maior nos nódulos vasculares. Como a expressão do VEGF foi regulada transcripcionalmente pelo HIF-1alfa, análises da imunohistoquímica dos nódulos do condrosarcoma revelaram que a translocação nuclear do HIF- 1alfa foi detectada exclusivamente em nódulos do tumor avascular. Estes resultados indicaram que o aumento da expressão do VEGF foi mediada pelo fator de transcrição HIF-1alfa, o que não ocorreu para o bFGF na troca do fenótipo angiogênico durante o desenvolvimento tumoral. Células pulpares reguladas pela hipóxia Amemiya et al. 1 (2003) investigaram a resposta de células pulpares durante a hipóxia e a reoxigenação. Tecidos pulpares obtidos de trinta e dois pré-molares de cães foram cultivados em meio de cultura �- MEM suplementado com 10% de soro fetal bovino e antibiótico. No grupo controle, as células foram incubadas em atmosfera umidificada em condições normais de oxigênio (20% O2, 5% CO2, 75% N2 a 37oC), durante 1-4 dias. Para o grupo da hipóxia, as células pulpares foram 57 mantidas pelo mesmo período em incubadora umidificada com 2% O2 a 37oC. No grupo da reoxigenação, as células foram primeiramente mantidas sobre condições de hipóxia durante 24 horas e em seguida, foram transferidas para condições de normóxia por mais 1-3 dias. A viabilidade celular (Tryplan Blue), a taxa de metabolismo celular (Teste do MTT), a proliferação celular e a atividade da fosfatase alcalina foram avaliadas. A expressão de HSP-70 (proteína de choque térmico) e do VEGF foi examinada através da análise do Western blot. Para a avaliação da expressão do HIF-1� pelas células pulpares foi utilizado a análise do RT-PCR. A taxa de crescimento celular e a atividade da fosfatase alcalina no grupo das células submetidas a hipóxia foram significantemente mais altas do que as do grupo controle. Entretanto, após reoxigenação, a proliferação celular e a atividade da fosfatase alcalina reduziram ao nível das células do grupo controle, enquanto que houve um aumento da expressão das HSP-70. A expressão do mRNA do HIF-1� pelas células pulpares foi observada e a expressão do VEGF regulada pelo HIF-1� aumentou sob as condições de hipóxia. Os resultados indicaram que as células pulpares apresentam resposta dinâmica sob condições de hipóxia e de reoxigenação. 58 D. FATORES PRO-ANGIOGÊNICOS Tran-Huang et al. 84 (2008) quantificaram a secreção de fatores de crescimento angiogênicos por células pulpares mecanicamente danificadas. As células pulpares obtidas de terceiros molares humanos foram submetidas ao trauma mecânico realizado com espátula, rompendo a monocamada celular. O meio de acondicionamento obtido após contato por 5 horas, 1, 2 ou 3 dias com as células danificadas ou intactas, foi utilizado para quantificação dos fatores de crescimento pelos testes ELISA. As células pulpares quando traumatizadas aumentaram significantemente o nível de expressão do PDGF-AB, do VEGF e do bFGF, em 150,59%, 20,6% e 23,35%, respectivamente. A concentração destes fatores angiogênicos aumentou apenas nas primeiras 5 horas após injúria e então, retornou aos valores iniciais após 24 horas. Os resultados indicaram que as células pulpares secretam fatores de crescimento que apresentam papel fundamental na angiogênese. O fator PDGF-AB parece ser o principal responsável pela reparação do complexo dentino-pulpar por ter sido mais secretado por células mecanicamente danificadas. VEGF Senger et al. 73 (1986) examinaram a secreção do fator de permeabilidade vascular (VPF), proteína isolada em células tumorais de roedores com peso molecular entre 34-42 KDa, por sete linhagens de células 59 tumorais humanas. O teste de permeabilidade de Miles foi utilizado para mensurar, quantitativamente, o aumento da permeabilidade vascular em cobaias em resposta a injeção intra-dérmica das células tumorais em cultura ou, das células associadas a imunoglobulina de coelhos (controle), ou das células associadas a IgG de coelhos após injeção intra-dérmica de VPF (antígeno). A secreção de VPF foi observada em cinco das sete linhagens de células de sarcoma e carcinomas avaliadas. O anticorpo IgG obtido pela presença do antígeno VPF neutralizou a permeabilidade vascular em 90% nos animais que foram tratados com as linhagens celulares secretoras do VPF. Estes resultados suportaram a hipótese de que o fator de permeabilidade vascular é responsável por grande parte do aumento da permeabilidade vascular e do acúmulo de fluído, que são associados com doenças neoplásicas. Desta forma, os autores sugeriram que a expressão desta proteína por células tumorais e o conseqüente aumento da permeabilidade vascular possa ser fundamental para o crescimento tumoral. Ferrara, Henzel 23 (1989) identificaram fator de crescimento de células endoteliais vasculares no meio de acondicionamento de células foliculares pituitárias de bovinos, o qual foi purificado e homogeneizado. O fator de crescimento era uma proteína catiônica, estável ao calor, relativamente estável em meio ácido e com peso molecular de aproximadamente 45 KDa em condições não redutoras e cerca de 23 KDa 60 em condições redutoras. A proteína purificada apresentou efeito mitogênico máximo na concentração de 1-1,2 ng/mL em células endoteliais de capilares derivadas do córtex adrenal. A caracterização da bioatividade do fator de crescimento revelou que a proteína também apresentou atividade mitogênica em células endoteliais vasculares isoladas de outros locais, células epiteliais do cristalino ocular, células endoteliais da córnea, fibroblastos BHK-21 ou keratinócitos, indicando que a especificidade das células-alvo deste fator de crescimento foi diferente de qualquer outro fator de crescimento previamente caracterizado. Adicionalmente, a análise da micro-sequência molecular relevou uma seqüência única N-amino-terminal da proteína. Com base na aparente seletividade das células-alvo, os autores propuseram para a proteína caracterizada o nome de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). Tisher et al. 81 (1991) examinaram e caracterizaram diferentes isoformes do VEGF. A secreção de VEGF por células da musculatura lisa vascular em cultura foi observada por meio de análises protéicas e do Northern blot. Análises de bibliotecas de cDNA destas células pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) e da clonagem de cDNA revelaram três formas diferentes da região codificadora do VEGF, contendo 189, 165 e 121 aminoácidos no comprimento da cadeia protéica. A comparação da seqüência de nucleotídeos do cDNA com seqüências 61 derivadas de clone genômico do VEGF humano indicou que o gene VEGF é dividido em oito éxons (unidade codificadora do DNA) e que as diversas formas da região codificadora do VEGF são provenientes deste gene submetido a splicing alternativos (ausência de um ou mais éxons). Os resultados indicaram que os diferentes isoformes do VEGF podem determinar diferentes propriedades e funções. Peters et al. 63 (1993) investigaram a expressão do fms-receptor tirosina kinase (flt-VEGFR1), receptor para o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), em órgãos de camundongos adultos, em embriões e em feridas de pele de camundongos. A análise de hibridização in situ demonstrou a expressão do VEGF no endotélio de tecidos de camundongos adultos, sugerindo que o receptor flt possa mediar às respostas endoteliais ao VEGF in vivo. A expressão do receptor flt em estruturas embrionárias de onde as células endoteliais são diferenciadas e no endotélio de vasos embrionários em desenvolvimento indicaram que o VEGF apresenta efeitos na diferenciação endotelial e no crescimento vascular embrionário. Adicionalmente, a expressão do receptor flt no endotélio de tecidos adultos sugeriu papel do VEGF na regulação da permeabilidade vascular e no reparo e manutenção vascular. 62 Gerber et al. 28 (1998) examinaram o papel do VEGF em prevenir a apoptose em células primárias endoteliais da veia umbilical humana (HUVEC). As células HUVEC foram tratadas ou não com VEGF e submetidas ou não a ausência de soro fetal bovino (FBS). A análise do RT- PCR em tempo real (qRT-PCR) foi utilizada para determinar a expressão de genes envolvidos em atividades anti-apoptóticas como Bcl-2, A1, Bcl-XL ou genes indutores da apoptose como o Bax, pela células HUVEC. O VEGF foi capaz de prevenir apoptose induzida pela ausência de FBS nas concentrações de 10 a 100 ng/mL. A adição de VEGF (100 ng/mL) na cultura das células HUVEC sem FBS levou a indução de 5,2 vezes e de 2,4 vezes da expressão de Bcl-2 após 36 horas de incubação e de A1 após 7 horas de incubação, respectivamente. Os autores encontraram correlação direta entre os níveis de mRNA e de proteína dos genes Bcl-2 e A1 nas células HUVEC em resposta a estimulação do VEGF. Estes resultados indicaram que o VEGF exerce sua atividade de estimulação dos genes anti- apoptóticos, Bcl-2 e A1 primariamente a nível transcricional. Adicionalmente, a sobre-expressão de Bcl-2 através de experimentos de transfecção das células endoteliais foi suficiente para prevenir a morte celular por apoptose na ausência de VEGF, indicando a importância do gene Bcl-2 em mediar a atividade de sobrevivência das células endoteliais pelo VEGF. 63 FGF Schweigerer et al. 70 (1987) examinaram a expressão do gene do fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF), mRNA e proteína, em células endoteliais de capilares do cérebro ou do córtex adrenal de bovinos. Os resultados demonstraram que o fator bFGF foi expresso pelas células endoteliais e secretado para o meio extracelular e o gene foi capaz de estimular a proliferação das células endoteliais capilares. Os autores concluíram que o bFGF poderia agir como fator de crescimento auto- estimulador para células endoteliais capilares e possivelmente a formação de novos capilares seria induzida pelas próprias células endoteliais dos capilares pré-existentes. Moscatelli et al. 53 (1988) isolaram um fator angiogênico da placenta humana e células de hepatoma humano. Este fator foi capaz de estimular a produção de protease em cultura de células endoteliais capilares e quando purificado também estimulou a síntese de DNA, a migração das células e induziu a angiogênese in vivo. Dados da seqüência de aminoácidos revelaram que o fator analisado correspondia ao fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF). Os bFGFs que foram isolados de diferentes tecidos e seqüenciados, mostraram variabilidade no N-terminal. Os autores sugeriram que estas diferenças estruturais poderiam ocorrer em função de processos naturais ou geradas pela liberação de proteases durante o processo 64 de isolamento do fator angiogênico. Um isoforme do bFGF , Mr 25.000 (25KDa), foi isolado e apresentou as mesmas atividades biológicas e a mesma afinidade pelo receptor do bFGF que a forma típica, Mr 18.000 (18KDa). A conversão do bFGF de 25KDa em bFGF de 18KDa ocorreu pelo tratamento com baixas concentrações de tripsina, sugerindo que esta forma poderia ser precursora do bFGF Mr 18.000. Gualandris et al. 35 (1996) investigaram as conseqüências biológicas da ativação de células endoteliais pelo fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF) endógeno em linhagem de células endoteliais da aorta de camundongos que foram transfectadas com vetor de expressão retroviral infectado com cDNA de bFGF (pZipbFGF). Os resultados mostraram que os transfectantes expressando alta concentração de bFGF in vitro apresentaram comportamento invasivo e formação de tubos capilares (sprouts) sobre géis de fibrina tri-dimensionais e formaram rede complexa de estruturas semelhantes a cordas em conexão com células infiltradas quando cultivados sobre matriz de matrigel. O comportamento morfogenético e invasivo das células transfectadas foi prevenido pelo uso de anticorpo anti-bFGF, revelando padrão autócrino do processo. As conseqüências biológicas desta ativação autócrina foram examinadas in vivo. As células endoteliais sobre-expressando o fator bFGF estimularam a formação de lesões altamente vascularizadas semelhantes ao sarcoma de 65 Kaposi quando injetadas em camundongos e induziram angiogênese em córneas avascularizadas de coelhos. Quando injetadas no saco alantóide de embrião de galinhas, as células transfectadas causaram aumento na densidade vascular e formação de hemangiomas nas membranas cório- alantóideas. De acordo com os resultados, os autores concluíram que as células endoteliais codificadoras de bFGF ao ativarem um programa autócrino in vitro, afetam a proliferação celular, o comportamento invasivo e o potencial morfogênico, além de adquirir fenótipo angiogênico e recrutar o endotélio quiescente, originando lesões auto-proliferativas in vivo. Shi et al. 74 (2007) examinaram o efeito do fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF) na indução hipóxica da expressão do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) por células de câncer de mama humano e investigaram os possíveis mecanismos envolvidos. A hipóxia (1% O2) induziu a expressão de HIF-1alfa (fator de transcrição induzido pela hipóxia), a transatividade de HIF-1 e a secreção de VEGF, enquanto que o fator bFGF (10ng/mL) potencializou estas induções hipóxicas. O mecanismo do PI3K/Akt foi requerido para estes processos como demonstrado pela aplicação de um inibidor de PI3Kinase. Por outro lado, embora o fator bFGF tenha ativado o mecanismo MEK1/ERK em condições de hipóxia, apenas a transativação de HIF-1 foi regulada por este mecanismo, sendo que a expressão do HIF-1alfa e a secreção do fator VEGF 66 não foram afetadas. Os autores concluíram que o fator angiogênico bFGF cooperou com a indução da secreção do VEGF em condições hipóxicas, principalmente pelo mecanismo PI3K e parcialmente pela atividade do HIF-1 E. ANGIOGÊNESE Nicosia et al. 55 (1994) avaliaram a resposta angiogênica in vitro de diversos fatores de crescimento, utilizando o modelo de anéis de aortas de ratos com 2 a 3 meses de idade. Estes anéis foram embebidos em géis de colágeno com ausência de soro fetal bovino, na presença ou ausência dos fatores de crescimento (concentrações de 0,1 a 50 ng/mL), fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), fator de crescimento derivados das plaquetas natural (PDGF) e recombinantes (PDGF-AA, PDGF-BB), fator de crescimento semelhante a insulina-1 (IGF-1), fator de crescimento de transformação-� (TGF-�), fator de crescimento de transformação-�1 (TGF- �1), fator de crescimento epidérmico (EGF), interleucina-1� (IL-1�) ou fator de crescimento de hepatocitos (HGF). A resposta angiogênica da aorta de ratos foi estimulada pelo VEGF, PDGF, PDGF-AA, PDGF-BB e IGF-1, sendo os efeitos indutores máximos obtidos pelo VEGF e PDGF-BB. Contrariamente, TGF-�1 e IL-1� apresentaram atividade inibitória. Os fatores de crescimento TGF-�, EGF e HGF não apresentaram efeitos significantes. O crescimento vascular das culturas estimuladas pelo VEGF 67 foi primariamente composto por microvasos, enquanto que nas culturas estimuladas pelo PDGF- e IGF-1, houve aumento do número de células semelhantes aos fibroblastos. A incapacidade dos fatores TGF-�, EGF, HGF TGF-�1 e IL-1� de estimularem angiogênese em aorta de ratos parece ter ocorrido pelo fato destes fatores requererem atividade mediada por células acessórias que não estão presentes no modelo de aorta de ratos ou pela heterogeneidade de vasos sanguíneos na capacidade de respostas a diferentes fatores de crescimento. Para estudar a diferenciação de células endoteliais em estruturas vasculares, Kanda et al. 44 (1996) isolaram uma linhagem de células endoteliais capilares de cérebro de camundongos transgênicos. Estas células mostraram caracteres específicos das células endoteliais, como a expressão do fator de von Willebrand (Fator VIII), a presença de sites de ligação para lectina BS-1 e receptores para Ac-LDL. Os efeitos de vários fatores de crescimento nas respostas celulares foram avaliados. Alguns fatores falharam na indução de respostas biológicas como o fator de crescimento de hepatócitos (HGF), fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) e fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF-AA). Por outro lado, os fatores PDGF-BB, fator de crescimento epidérmico (EGF) e os fatores de crescimento fibroblásticos ácidos (aFGF) e básicos (bFGF) estimularam a proliferação celular. A diferenciação das células endoteliais 68 em estruturas semelhantes a tubos capilares, em géis de colágeno tridimensionais, ocorreu apenas na presença dos fatores aFGF e bFGF. Os fatores de crescimento também foram analisados quanto à indução do ativador de plasminogênio (PA-atividade de proteases) e migração celular. Receptores funcionais para os diferentes fatores de crescimento foram testados nas células endoteliais, as quais expressaram apenas os receptores EGFR, PDGFR-�, FGFR-1 e c-met/HGFR. Para identificar os receptores capazes de transduzir as respostas biológicas induzidas pelo bFGF, um receptor quimérico, composto pelo domínio extracelular e transmembrana do receptor do PDGF-� e o domínio intracelular do FGFR-1, foi construído e transfectado nas células endoteliais. As células transfectadas responderam ao tratamento com PDGF-AA, indução da atividade de proteases, migração, proliferação e formação de estruturas vasculares em colágeno. Estes resultados indicaram que o FGFR-1 respondeu ao mecanismo de transdução de sinal, levando a diferenciação das células endoteliais. Durante uma revisão da literatura, Risau 68 (1997) discutiu os mecanismos do processo da angiogênese. O plexo vascular inicial é derivado da mesoderme pela diferenciação de angioblastos, células endoteliais que ainda não se diferenciaram formando um lúmen, células pelas quais geram vasos sanguíneos primitivos. Fatores indutores da mesoderme da família dos fatores de crescimento fibroblásticos (FGF) 69 são fundamentais para a formação dos angioblastos e das células hematopoiéticas. O VEGF parece ser necessário para manter a diferenciação dos angioblastos por meio de mecanismo parócrino. Após o embrião ter formado este plexo vascular primário, processo conhecido como vasculogênese, vasos sanguíneos são gerados por dois processos diferentes de angiogênese, formação de tubos capilares de longa extensão (sprouting) e pelo processo de divisão de vasos pré-existentes por pilares trans-capilares ou matriz extracelular (no-sprouting). Assim, os vasos sanguíneos passam a ser progressivamente remodelados em um sistema circulatório adulto funcional. Em ambos os processos de vascularização, vasculogênese e angiogênese, mais estudos são necessários para elucidar os diferentes mecanismos moleculares envolvidos, além do papel de fatores de crescimento angiogênicos. Benjamin et al. 9 (1998) examinaram a remodelação do plexo endotelial inicial em uma rede vascular madura e funcional, observando a remodelação da vasculatura da retina pós-natal de ratos. Os autores mostraram a importância do recrutamento de pericitos, células de arteríolas positivas para a proteína actina de músculo liso-� e, do recobrimento do plexo primário de células endoteliais pré-organizadas. O período anterior a migração dos pericitos definido como estágio de transição da imaturidade vascular, mostrou-se essencial para a 70 plasticidade da rede vascular, determinando o desenvolvimento da vasculatura de acordo com a necessidade nutricional da retina. A remodelação da vasculatura demonstrou representar uma resposta de feedback a alterações do nível de oxigênio disponível no tecido, indicando que o processo vascular representaria um ajuste ao suprimento de oxigênio. Desta forma, os resultados indicaram que os pericitos influenciaram a maturação e a remodelação dos vasos da retina, não apresentando papel na formação inicial dos vasos sanguíneos. Para fundamentar que a associação da rede vascular com os pericitos estabilizaria a vasculatura, estas associações foram rompidas pela injeção de PDGF-BB que separou os receptores do PDGF-� dos vasos recém- recobertos pelos pericitos, resultando em regressão excessiva da rede vascular e remodelação anormal. Em contraposição, a injeção intraocular de VEGF acelerou a cobertura do plexo endothelial recém-formado pelos pericitos, revelando nova função deste fator de crescimento, além da proliferação e migração de células endoteliais e, manutenção da viabilidade de vasos sanguíneos imaturos. Para definir os mecanismos pelos quais o VEGF promove a angiogênese e a significância do aumento da sobrevivência das células endoteliais neste processo, Nör et al. 58 (1999) examinaram os efeitos do VEGF na expressão de diversos membros da família Bcl-2 durante o 71 desenvolvimento de respostas angiogênicas in vitro e in vivo. Quando o VEGF foi adicionado à cultura de células endoteliais microvasculares dérmica humanas (HDMECs), implantadas em géis de colágeno tipo I, houve redução de 75% na proporção de células apoptóticas, dados observados pelas análises de fluxo e de fragmentação do DNA e, pelo teste de coloração de TUNEL. O aumento da sobrevivência das HDMECs foi associado ao aumento da expressão do Bcl-2 de forma dose- dependente e com a redução da expressão da enzima, cisteína protease caspase-3. Culturas de HDMECs transduzidas com Bcl-2 e com ausência de fatores de crescimento mostraram proteção contra a apoptose e aumentaram duas vezes o número de sprouts. Células HDMEC sobre- expressando Bcl-2 foram incorporadas às matrizes de ácido poli-L-lático (PLLA) e em seguida, implantadas em camundongos imunodeprimidos. Um aumento de cinco vezes no número de microvasos e a redução de quatro vezes do número de células apoptóticas foram observados nos dias 7 e 14 após os implantes. Estes resultados indicaram que a atividade mitogênica do VEGF deve ser atribuída em parte pela habilidade de aumentar a sobrevivência de células endoteliais pela indução da expressão de Bcl-2. Nör et al. 59 (2001) caracterizaram o desenvolvimento de um modelo novo para angiogênese humana fisiológica e patológica em 72 camundongos imunodeficientes (SCID). Matrizes altamente porosas de ácido poli-L-lático (PLLA) utilizadas como arcabouços para células endoteliais microvasculares dérminas humanas (HDMEC) foram implantadas bilateralmente no tecido subcutâneo do dorso de camundongos SCID. As células HDMEC se diferenciaram em microvasos humanos funcionais, que sofreram anastomoses com a vaculatura dos animais. Para confirmar a origem humana dos microvasos, as células HDMECs foram transduzidas com epítopos Flag ou com fosfatase alcalina. No dia seguinte ao transplante, as células endoteliais apareceram dispersas nas esponjas, enquanto que por volta do quinto dia, tornaram se organizadas em estruturas tubulares vazias e se diferenciaram em microvasos funcionais após 7 a 10 dias. Os microvasos humanos nos camundongos SCID expressaram marcadores fisiológicos da angiogênese, CD31, CD34, molécula de adesão celular vascular 1 (VCAM-1) e molécula de adesão inter-celular 1 (ICAM1). As células HDMEC foram revestidas por células de camundongos expressando moléculas de �-actina de músculo liso perivascular após 21 dias do transplante. O modelo de angiogênese humana utilizando camundongos imunodeprimidos foi proposto para o estudo do desenvolvimento de vasculatura fisiológica e de respostas de neovascularização patológica como em angiogênese tumoral e para o desenvolvimento e investigação 73 de estratégias delineadas para potencializar a neovascularização na engenharia de tecidos e órgãos humanos. Haspel et al. 37 (2002) examinaram o papel da atividade de receptores tirosina-kinase associados ao VEGF (VEGF RTK) na angiogênese in vitro. Células endoteliais microvasculares cardíacas derivadas de camundongos foram embebidas em matriz de colágeno tipo I e avaliadas quanto a agregação e organização em núcleos esferóides e formação de estruturas tubulares (sprouting), utilizando o inibidor tirosina- kinase, SU5416, que demonstrou previamente inibir a atividade do sistema VEGF RTK e a angiogênese in vivo. A formação de esferóides e sprouts foi observada pelas células endoteliais entretanto, o SU5416 inibiu cerca de 50% da síntese de DNA basal e de DNA estimulado pelo VEGF nas culturas de células em monocamadas. O inibidor não interferiu na agregação, nem na organização esferóide das células, mas eliminou completamente a formação espontânea de tubos capilares e a formação estimulada pelo VEGF. Estes resultados indicaram que a organização e a diferenciação das sélulas endoteliais são independentes da sinalização pelos receptores tirosina-kinase associados ao VEGF. Contrariamente, a atividade do sistema VEGF RTK mostrou ser essencial para a formação de estruturas capilares pelas células endoteliais cardíacas de camundongos. 74 Yamamoto et al. 93 (2003) analisaram os efeitos do stress de deformação na atividade mitogênica de células progenitoras endoteliais derivadas da medula óssea (EPCs). Quando as EPCs foram submetidas ao stress gerado pelo fluxo sanguíneo ou pelo fluxo de fluído tissular (aparato de rotação que induz movimento do meio de cultura em círculos concêntricos) exibiram alterações morfológicas, as células se alongaram e se orientaram em direção ao fluxo. A densidade das EPCs expostas ao stress foi maior e as análises da citometria de fluxo mostraram que grande parte das células estavam na fase G2-M do ciclo celular, quando comparadas com as células cultivadas em condições normais, indicando a estimulação da proliferação celular. O stress aumentou intensamente a expressão pelas células EPCs de dois receptores do fator de crescimento endotelial vascular, KDR (VEGFR2-kinase insert domain-containing receptor) e Flt-1 (VEGFR1-fms-like tyrosine kinase-1) e moléculas de adesão intercelular, VE-cadherin (caderina vascular endotelial), em ambos os níveis, proteína e mRNA. Análises para formação de tubos foram realizadas, cultivando as EPCs submetidas ao stress de deformação sobre gel de colágeno tipo I. As EPCs pós-stress formaram estruturas semelhantes a tubos capilares e desenvolveram extensa rede tubular mais rápida do que as células em condições normais. Os autores sugeriram de acordo com os resultados que as células progenitoras endoteliais 75 derivadas da medula óssea são sensíveis ao stress de deformação, o qual e capaz de modular as atividades vasculogênicas das mesmas. Oishi et al. 61 (2004) investigaram o potencial de desenvolvimento de células-tronco neurais (NSCs) como células progenitoras vasculares. As células NSCs foram isoladas do córtex de camundongos no período embrionário e cultivadas em meio de cultura livre de soro fetal bovino (FBS), na presença de fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF), para formação de neuroesferas. Estas foram dissociadas mecanicamente em suspensões de células-únicas que se diferenciaram em células neurais após cultivo em meio sem bFGF. As células dferenciadas foram inoculadas em géis de colágeno com 10% de FBS e bFGF e então, incubadas por 10 dias. Houve formação de estruturas tubulares semelhantes a vasos sanguíneos compostas por células imuno-reativas aos marcadores fenotípicos endoteliais, PECAM-1 e VE-caderina, processo de angiogênese idêntico ao desenvolvimento vascular cerebral in vivo. A análise do RT-PCR mostrou que as células NSCs foram capazes de expressar marcadores endoteliais como o PECAM-1, VE-caderina e Flk-1 (VEGFR2), além de desenvolverem morfologia das células endoteliais, comprovando a diferenciação celular. A formação de estruturas tubulares também foi observada quando as células endoteliais diferenciadas foram implantadas em gel de colágeno e 76 incubadas por 5 dias. Estes resultados sugeriram que as NSCs podem se diferenciar in vitro em dois tipos de células vasculares, células endoteliais e murais, as quais são capazes de formar tubos vasculares. McCloskey et al. 52 (2005) testaram a capacidade de uma população proliferativa de células endoteliais purificadas e isoladas de células-tronco embrionárias de camundongos, em formar estruturas vasculares tri-dimensionais in vitro. As células endoteliais derivadas das células-tronco foram embebidas em gel de colágeno tipo I (106 células/mL de gel). Os géis foram observados diariamente por meio de microscópio de contraste de fase para avaliar o tempo para a organização das células endoteliais. Os primeiros vasos foram observados entre os dias 3 e 5 após a construção do gel e após este período, foi observado aumento do número e da complexidade das estruturas, atingindo um número máximo, antes de começarem a regredir. Por volta da segunda semana, todos as estruturas vasculares tinham regredido a células unitárias. Imagens da histologia e do teste de fluorescência das estruturas vasculares mostraram que as estruturas tubulares eram multi-celulares e foram capazes de desenvolver lúmens intra e inter-celulares. Os autores mostraram que as células entoteliais derivadas das células embrionárias, purificadas e expandidas in vitro, apresentaram habilidade de suportar a vasculogênese em gel de colágeno, indicando que estas células poderiam ser úteis em aplicações médicas de regeneração. 77 Goldstein et al. 30 (2005) examinaram o efeito de culturas primárias de fibroblastos dérmicos humanos no processo de angiogênese em células de melanoma. Os autores testaram a capacidade de 12 linhagens de melanoma para induzir a invasão e migração de células endoteliais microvasculares dérmicas humanas (HMVECs) em gel de colágeno tipo I e de formar rede capilar. Geis de colágeno tri-dimensionais sobre monocamadas de células HMVEC foram embebidos com células de melanoma, fibroblastos ou uma combinação de ambas as linhagens. Após 5 dias, os géis foram removidos, fixados e submetidos a análise de imunofluorescência para o Fator von Willebrand. A influência de fatores solúveis na invasão/migração de células HMVEC no colágeno foi avaliada através do tratamento do colágeno sobre as monocamadas de HMVECs com os meios de acondicionamento derivados de culturas de células de melanoma, de fibroblastos ou da combinação das duas linhagens celulares. A expressão de vinte fatores de crescimento angiogênicos diferentes também foi analisada. A associação das células de melanoma com os fibroblastos aumentou significantemente as respostas angiogênicas das células HMVEC. Os meios de acondicionamento das células de melanoma ou das células de melanoma associadas a fibroblastos reduziram a invasão/migração das HMVECs no colágeno quando comparados ao meio de acondicionamento apenas dos fibroblastos. Nas culturas onde as células de melanoma foram associadas aos fibroblastos, interleucina 8 (IL8), 78 proteína quimiotáxica de monócitos-1 (MCP-1) e o inibidor tecidual de metaloproteínase-2 (TIMP-2) foram identificados nos meios de cultura em concentrações significantemente superiores quando comparadas com as culturas de tipos celulares separados. Os autores demonstraram pela primeira vez que a angiogênese em melanomas em colágeno foi mais fortemente influenciada por fibroblastos derivados de pele normal do que pelos diferentes tipos de melanoma. Koch et al. 47 (2006) investigaram a possibilidade de aumentar as propriedades angiogênicas de matrizes de colágeno pela incorporação covalente do VEGF. O VEGF foi incorporado ao colágeno através do cross- linker SS-PEG-SS, formando um conjugado. A atividade biológica do conjugado foi investigada pela exposição de células endoteliais umbilicais (HUVECs) ao VEGF misturado ou ao VEGF conjugado ao cross-linker. O conjugado apresentou efeito limitado na atividade mitogênica do VEGF. A reação cross-linking foi aplicad