323 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.77, n.2, p.323-330, abr./jun., 2010 Avaliação do efeito de inseticidas sobre a joaninha Hippodamia convergens Guérin-Meneville (Coleoptera: Coccinellidae) em algodoeiro. AVALIAÇÃO DO EFEITO DE INSETICIDAS SOBRE A JOANINHA HIPPODAMIA CONVERGENS GUÉRIN-MENEVILLE (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) EM ALGODOEIRO J.R. Scarpellini1; D.J. de Andrade2 1Apta Regional Centro Leste, Rodovia Anel Viário, km 321, CEP 14001-970, Ribeirão Preto, SP, Brasil. E-mail: jrscarpellini@apta.sp.gov.br RESUMO A associação dos métodos químico e biológico no controle de pragas é fundamental na sustentabilidade do sistema agrícola, auxiliando a redução de químicos derivados de petróleo. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de inseticidas sobre o coccinelídeo predador Hippodamia convergens, na cultura do algodoeiro, em condições de laboratório e de campo. Foram estabele- cidos os seguintes tratamentos, expressos em g ou mL de p.c. do inseticida por hectare: flonicamida a 50, 80 e 150 g, tiametoxam a 200 g, acetamiprido a 150 g, imidacloprido a 250 mL e testemunha sem aplicação. A avaliação do efeito dos inseticidas aplicados diretamente e indiretamente (efeito de contato em resíduo seco do inseticida) sobre H. convergens, foi realizada por meio da quantificação de insetos sobreviventes após a aplicação. Com base nos resultados dos experimen- tos, pode-se concluir que dentre os inseticidas avaliados, flonicamida ocasionou a menor mortalidade de H. convergens. Os inseticidas tiametoxam, acetamiprido e imidacloprido apresen- taram comportamento semelhante, acarretando alta mortalidade de H. convergens. PALAVRAS-CHAVE: Seletividade, Gossypium hirsutum, controle biológico, inimigo natural. ABSTRACT EVALUATION OF THE EFFECT OF INSECTICIDES ON LADY BEETLES HIPPODAMIA CONVERGENS GUÉRIN-MENEVILLE (COLEOPTERA: COCCINELLIDAE) IN COTTON PLANT. The combination of chemical and biological methods to control pests is essential to ensure the sustainability of agricultural system, to reduce using of chemicals products. The objective this work was to evaluate the effects of insecticides on the coccinellid predatory Hyppodamia convergens, the cotton plant, in conditions laboratory and field. Were the following treatments established, expressed in g or mL of active ingredient of insecticide per hectare: flonicamid to 50, 80 and 150 g, thiamethoxam at 200 g to 150 g acetamiprid, imidacloprid to 250 mL and control without application. The evaluation effect of insecticides applied directly and indirectly (residual effects on leaves) on H. convergens, was performed by quantification of insects survived to 7 days after application. Based on the results of experiments, we can conclude that among the insecticides evaluated, flonicamid caused the lower mortality of H. convergens. The insecticides thiamethoxam, acetamiprid and imidacloprid showed similar behavior, causing high mortality of H. convergens. KEY WORDS: Selectivity; Gossypium hirsutum; biological control, natural enemy. 2Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, SP, Brasil. INTRODUÇÃO A preservação e manutenção dos inimigos na- turais nos sistemas agrícolas são fundamentais para estabelecimento do equilíbrio biológico po- dendo contribuir para a redução dos custos de controle de pragas e doenças, bem como, diminuir os efeitos prejudiciais ao meio ambiente (GRAVENA, 1983). Entre os inimigos naturais de diversos artrópodes- praga destacam-se as espécies da família Coccinellidae (OLKOWSKI et al., 1990). Os insetos per- tencentes a essa família são conhecidos como joaninhas que, geralmente se alimentam de outros artrópodes como pulgões, cochonilhas, ácaros, ovos e lagartas de lepidópteros (BUENO; BERTI FILHO, 1991). Segundo HODEK (1967), os coccinelídeos predadores possuem grande capacidade de dispersão no campo IdeaPad Texto digitado DOI: 10.1590/1808-1657v77p3232010 324 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.77, n.2, p.323-330, abr./jun., 2010 J.R. Scarpellini; D.J. de Andrade e de busca da presa, sendo por isso considerado agentes importantes no controle biológico de pragas. Dentre as espécies de coccinelídeos predadores, Hippoda mia convergens é relatada como uma das joaninhas mais conhecidas e comumente encontrada em diversos agroecossistemas, inclusive a do algodo- eiro, onde se destaca pela grande voracidade no consu- mo de pulgões (HOFFMANN; FRODSHAM, 1993). De acordo com HODEK (1973), o coccinelídeo H. convergens foi uma das espécies responsáveis pela manutenção da popu- lação de pulgões abaixo do nível de ação em cultivos de alfafa (Medicago sativa L.) na Califórnia (EUA). O autor ressalta que a ocorrência natural de coccinelídeos predadores, durante a fase de infestação de pulgões, é um fator preponderante para redução dos danos cau- sados por esses insetos-praga às culturas. Na cultura do algodoeiro, as joaninhas pertencen- tes às espécies H. convergens e Cycloneda sanguinea destacam-se como importantes inimigos naturais pragas, contribuindo eficientemente no controle bio- lógico do pulgão do algodoeiro Aphis gossypii Glover. O pulgão A. gossypii é uma das pragas mais co- muns no algodoeiro, onde, além dos danos diretos causados devido a sua alimentação, podem inocular vírus causadores de doenças às plantas. Além disso, produzem uma secreção adocicada, conhecida como "honeydew", que propicia o desenvolvimento de fun- gos do gênero Capnodium, popularmente chamado de fumagina, que prejudica a realização da fotossíntese pelas folhas (MATTHEWS, 1989; BOIÇA JUNIOR et al., 2004). Entre as medidas de controle desses insetos, destaca- se o químico, mediante o emprego de produtos fitossanitários. Todavia, os produtos fitossanitários, embora de- sempenhem papel de fundamental importância no sistema de produção agrícola vigente, têm sido alvo de crescente preocupação, em virtude de seu poten- cial de risco ambiental. De acordo com CZEPAK et al. (2005), as aplicações de produtos de alta toxicidade e não seletivos aos inimigos naturais são considera- dos como a principal causa de desequilíbrios bioló- gicos nos agroecossistemas, provocando fenômenos como ressurgência de pragas, surtos de pragas se- cundárias e seleção de populações de artrópodes resistentes. GAZZONI (1994) relatou que um dos métodos que podem ser utilizados para evitar a ressurgência de pragas é a utilização de produtos seletivos aos inimi- gos naturais de pragas. Estes produtos, denominados de seletivos, são capazes de controlar a praga visada com o menor impacto possível sobre os inimigos naturais (SOARES; BUSOLI, 2000). A importância da seletividade de inseticidas na preservação e incremento das populações de artrópodes predadores, bem como na diminuição do impacto ambiental e dos custos de produção, foi constatada por vários autores (SOARES et al., 1994; BARROS et al., 2006). Diante disso, torna-se evidente que a associação dos métodos químico e biológico no controle de pragas é fundamental para garantir a sustentabilidade do sistema agrícola (CARVALHO et al., 2001). Portanto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar, efeito de inseticidas sobre o coccinelídeo predador H. convergens na cultura do algodoeiro, em condições de laboratório e de campo. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada na Estação Experimental da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) do Centro Leste, localizada no Município de Ribeirão Preto, SP, Brasil. Inicialmente, foram coletadas joaninhas da espé- cie H. convergens em área localizada na Estação Expe- rimental da APTA, contendo plantas de losna-branca (Parthenium hysterophorus) intensamente infestadas por pulgões, para início da criação-estoque de H. convergens, conforme metodologia proposta por SOA- RES; BUSOLI (2000). As joaninhas capturadas foram colocadas em tu- bos de ensaio de vidro de 2,5 cm de diâmetro por 10 cm de altura e fechados com algodão. Após as coletas, os tubos contendo as joaninhas foram encaminhados para o laboratório e dispostos em caixas porta-tubo. Diariamente, pulgões da espécie A. gossypii foram colocados no interior dos tubos para servirem de presas para as joaninhas e aos pulgões foram ofereci- das, como alimento, gotículas de mel. Foram realizados dois experimentos, sendo um em laboratório e o outro em condições de campo. Em ambos os experimentos adotou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso, onde sete tratamen- tos foram repetidos quatro vezes (Tabela 1). No experimento realizado em laboratório, utiliza- ram-se gaiolas com dimensões de 15 cm de diâmetro por 30 cm de altura, revestidas com tecido tipo voil. Foram utilizadas 10 gaiolas por repetição, totalizando 40 gaiolas por tratamento. Cada gaiola continha uma planta de algodão da cultivar ‘DeltaOpal’, com 30 dias após a germinação, plantada em vasos de 3 L de capacidade. As plantas de algodão apresentavam-se altamente infestadas pelo pulgão do algodoeiro A. gossypii. Para avaliar o efeito da exposição direta dos inse- ticidas, foram colocadas no interior de cada gaiola 4 joaninhas H. convergens procedentes da criação-esto- que, acondicionadas em saquinhos de filó (voil) devi- damente identificados. Na sequência, foi realizada a aplicação dos inseticidas, conforme os tratamentos descritos na Tabela 1. 325 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.77, n.2, p.323-330, abr./jun., 2010 Avaliação do efeito de inseticidas sobre a joaninha Hippodamia convergens Guérin-Meneville (Coleoptera: Coccinellidae) em algodoeiro. Aproximadamente 1 hora após a aplicação, co- locaram-se no interior de cada gaiola outras 4 joaninhas H. convergens, procedentes da criação- estoque, acondicionadas em saquinhos de filó (voil) com intuito de avaliar o efeito da aplicação indireta dos inseticidas. A aplicação dos produtos foi realizada com pul- verizador costal pressurizado (CO2) à pressão de 40 lb/pol², utilizando-se de ponta hidráulica modelo TLX3 e volume de calda de 200 L/ha (corrigido para uma área de 1 m2 no local da aplicação dos vasos). Após a aplicação, as gaiolas permaneceram em ban- cadas no laboratório sob condições de temperatura e umidade não controladas e, quando necessário, fo- ram oferecidas presas (pulgões) às joaninhas. Quantificou-se a mortalidade e sobrevivência de H. convergens contidas nas gaiolas 1, 2, 3, 5 e 7 dias após a aplicação dos produtos. Com relação ao experimento realizado em campo, também foram utilizadas plantas da cultivar ‘DeltaOpal’ com 30 dias após a germinação. Inicial- mente, realizou-se levantamento populacional pré- vio para determinação do nível de infestação de pul- gões A. gossypii na área demarcada para instalação do experimento. Após o levantamento, verificou-se que a infestação de pulgões encontrava-se uniforme em toda a área experimental. Como citado anteriormente, foi adotado o deli- neamento em blocos ao acaso, onde sete tratamen- tos foram repetidos quatro vezes (Tabela 1). Foram utilizadas para cada repetição parcelas de 10 por 10 m demarcadas com estacas devidamente identificadas. Em cada parcela, colocaram-se 4 saquinhos de filó (voil), contendo 4 joaninhas H. convergens cada um, procedentes da criação-estoque. Cada saquinho foi colocado no ponteiro de uma planta de algodão, de forma que o saquinho revestisse o ponteiro da planta. Os saquinhos foram amarrados para evitar a fuga das joaninhas. Logo após a colocação dos saquinhos nas parcelas procedeu-se a aplicação dos produtos. Da mesma forma, visando avaliar o efeito da apli- cação indireta dos produtos sobre H. convergens, apro- ximadamente 1 hora após a aplicação, foram coloca- dos outros 4 saquinhos de filó (voil) por parcela, com cores diferentes daqueles utilizados na avaliação do efeito direto, sendo que, cada saquinho continha 4 joaninhas H. convergens procedentes da criação-esto- que. A aplicação dos produtos foi realizada com pulve- rizador costal pressurizado (CO2) à pressão de 40 lb/ pol², utilizando-se de ponta hidráulica modelo TLX3 e volume de calda de 200 L/ha. As avaliações de mortalidade e sobrevivência das joaninhas H. convergens contidas nos saquinhos de filó foram realizadas 1, 3, 5, e 7 dias após a aplicação. Avaliou-se a eficiência dos produtos sobre o pulgão A. gossypii, realizando-se a contagem de pulgões vi- vos presentes em 25 plantas inteiras por parcela, 1, 4 e 7 dias após a aplicação dos produtos. Os dados obtidos em ambos os experimentos fo- ram submetidos à análise de variância com auxílio do programa computacional Estat da FCAV/UNESP (ESTAT, 1994). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e, para calcular a porcentagem de redução de joaninhas e de pulgões, utilizou-se a fórmula proposta por HENDERSON; TILTON (1955). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2 são apresentados os resultados do número médio de joaninhas H. convergens sobreviven- tes no experimento realizado em laboratório. Obser- vou-se que 1 dia após a aplicação, não ocorreram diferenças estatísticas entre os tratamentos e a teste- munha com relação ao efeito direto dos produtos sobre H. convergens. Na avaliação realizada aos 2 dias após a aplicação, pode-se observar que apenas o tratamento tiametoxan diferiu estatisticamente da testemunha. Tabela 1 - Relação dos tratamentos utilizados nos experimentos de avaliação do efeito de inseticidas sobre H. convergens, por ação direta e indireta (efeito do resíduo seco). Tratamentos Ingrediente ativo Nome comercial Dosagens g. ou mL i.a./ha g. ou mL p.c./ha 1 flonicamida Turbine 500 WG 25 50 2 flonicamida Turbine 500 WG 40 80 3 flonicamida Turbine 500 WG 75 150 4 tiametoxam Actara 250 WG 50 200 5 acetamiprido Saurus 200 PS 30 150 6 imidacloprido Provado 200 SC 50 250 7 testemunha - - - 326 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.77, n.2, p.323-330, abr./jun., 2010 J.R. Scarpellini; D.J. de Andrade Assim como os demais inseticidas do grupo dos neonicotinoides, o thiamethoxam tem ação sistêmica e age no receptor da acetilcolinesterase, enquanto a flonicamida tende a ter modo de ação diferente. De acordo com GALLO et al. (2002), o grupo dos neonicotinoides, também denominados de nitroguanidinas, é um grupo de inseticidas descober- tos a partir da molécula de nicotina. Os neonicotinoides atuam como acetilcolina, ou seja, estes se ligam aos receptores nicotínicos da acetilcolina localizados no neurônio pós-sináptico. Ao contrário da acetilcolina, que é hidrolisada pela enzima acetilcolinesterase, os neonicotinoides não são degradados imediatamente. Portanto, os impulsos nervosos são transmitidos con- tinuamente, levando à hiperexcitação do sistema nervoso. SCARPELLINI (2008) avaliou a seletividade fisiológi- ca de inseticidas em algodoeiro e constatou que, em- bora o inseticida thiamethoxan reduza a população de joaninhas C. sanguinea, este apresentou maior seletividade que os inseticidas carbosulfano e imidacloprido. De acordo com o autor, essa maior seletividade pode facilitar a recuperação da popula- ção de C. sanguinea, que são importantes agentes de controle biológico em algodoeiro. Aos 3 e 5 dias após a aplicação, flonicamida em todas as dosagens testadas apresentaram-se seme- lhantes estatisticamente à testemunha, porém, não diferiram dos demais tratamentos com relação ao efeito direto sobre H. convergens. A partir da avaliação realizada aos 3 dias após a aplicação, os tratamentos thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido apre- sentaram comportamento semelhante, pois diferiram estatisticamente da testemunha, mas não entre si. Constatou-se que, 7 dias após a aplicação, somen- te flonicamida a 50 g de p.c./ha não diferiu da teste- munha. Resultados semelhantes foram obtidos por NOGUEIRA et al. (2007) que avaliaram a seletividade de diversos inseticidas aos principais inimigos naturais de pragas do algodoeiro em condições de campo e concluíram que, dentre os inseticidas utilizados, o flonicamida apresentou a menor mortalidade de coccinelídeos, sendo considerado pelos autores como seletivo aos inimigos naturais. Segundo CASIDA; QUISTAD (1998), o inseticida flonicamida aparente- mente é capaz de atuar por um novo mecanismo de ação sobre o sistema nervoso dos insetos, que ainda não foi totalmente elucidado. Com relação ao efeito indireto dos produtos sobre H. convergens (efeito residual nas folhas – resíduo seco), houve resultados semelhantes aos anteriores, na primeira avaliação realizada 1 dia após a aplica- ção não foram observadas diferenças entre os trata- mentos e a testemunha. Pode-se observar que, nas avaliações realizadas 2, 3 e 5 dias após a aplicação, todos os tratamentos à base de flonicamida não diferiram estatisticamente da testemunha, pois apresentaram o maior número de joaninhas sobreviventes. Em contra, partida, os tratamentos thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido diferiram da testemunha, mas não entre si. Na Figura 1 são apresentados os resultados rela- tivos às porcentagens de redução de H. convergens nos diferentes tratamentos por efeito direto e indireto. De maneira geral, pode-se observar que os percentuais de redução de H. convergens, após a aplicação, aumenta- ram gradativamente em todos os tratamentos. Tabela 2 - Número médio de joaninhas H. convergens sobreviventes, relativo às avaliações realizadas 1, 2, 3, 5 e 7 dias após a aplicação no experimento realizado em laboratório. Tratamentos Dosagens Efeito direto1 Efeito indireto2 Dias após a aplicação Dias após a aplicação g ou mL p.c./ha 1 2 3 5 7 1 2 3 5 7 flonicamida 50 8 a 8 a 5 ab 3 ab 2 ab 14 a 11 a 10 a 9 a 6 b flonicamida 80 8 a 8 a 4 ab 2 ab 0 b 3 b 3 b 7 a 7 a 4 b acetamiprido 150 5 a 3 ab 2 b 1 b 0 b 10 a 6 b 5 b 1 b 0 c imidacloprido 250 4 a 3 ab 0 b 0 b 0 b 10 a 4 b 3 b 1 b 0 c testemunha - 14 a 11 a 10 a 10 a 10 a 16 a 15 a 14 a 14 a 13 a C.V. (%) 30,54 22,99 25,19 29,46 26,19 21,46 18,55 24,41 27,61 26,03 Teste F 1,89ns 4,68** 5,86** 6,22** 2,08ns 2,68ns 6,79** 7,89** 9,78** 11,45** 1Joaninhas H. convergens acondicionadas em saquinhos de filó e colocadas nas gaiolas antes da aplicação dos produtos. 2Joaninhas H. convergens acondicionadas em saquinhos de filó e colocadas nas gaiolas após a aplicação dos produtos. Médias seguidas por letras iguais na mesma coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. **Significativo pelo teste F a 5% de probabilidade. ns – não significativo. 327 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.77, n.2, p.323-330, abr./jun., 2010 Avaliação do efeito de inseticidas sobre a joaninha Hippodamia convergens Guérin-Meneville (Coleoptera: Coccinellidae) em algodoeiro. Os tratamentos thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido, na avaliação realizada 1 dia após a aplicação, apresentaram as maiores mortalidades de joaninhas por efeito direto, com percentuais de redu- ção de 79, 64 e 71%, respectivamente. Em contrapartida, os tratamentos com flonicamida obtiveram os meno- res percentuais de redução que variaram de 43 a 50%, 1 dia após a aplicação. Analisando os resultados obtidos aos 3 e 5 dias após a aplicação, referentes à porcentagem de redu- ção por efeito direto, pode-se inferir que flonicamida em todas as dosagens avaliadas foram menos tóxicas a H. convergens que os inseticidas thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido. Todavia, aos 7 dias após a aplicação, todos os tratamentos apresentaram percentuais de redução de 100%, com exceção de flonicamida a 50 g.p.c./ha que apresentou percentual de 80%. SCARPELLINI et al. (2005) avaliaram a seletividade de inseticidas na cultura do algodoeiro aos inimigos naturais de pragas e verificaram uma seletividade satisfatória do flonicamida a joaninha C. sanguinea quando comparada aos inseticidas carbosulfano e imidacloprido. Por efeito indireto (efeito do resíduo seco), verifi- cou-se que os resultados das avaliações realizadas após a aplicação (2, 3 e 5 dias), relativo à porcentagem de redução de H. convergens, foram semelhantes aos obtidos por efeito direto, ou seja, os menores percentuais de redução foram conseguidos com os tratamentos à base de flonicamida e os maiores com thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido. De maneira geral, a porcentagem de redução au- mentou à medida que aumentou o tempo de exposição das joaninhas ao resíduo dos produtos. Na avaliação realizada aos 7 dias após a aplicação, os tratamentos que empregaram o flonicamida apresentaram percentuais de redução que variaram de 54 a 57%, os demais tratamentos apresentaram percentuais de redução de 100%. A respeito do efeito dos produtos sobre H. convergens, avaliado em condições de campo, pode-se observar na Tabela 3 que, de maneira geral, os resul- tados concordaram com aqueles obtidos em laborató- rio. Por efeito direto e indireto, merecem destaque os tratamentos à base de flonicamida que se mostraram menos tóxicos às joaninhas em relação aos demais inseticidas. Fig. 1 - Porcentagem de redução de joaninhas H. convergens nos diferentes tratamentos expressos em g ou mL de p.c./ ha, nas avaliações realizadas 1, 2, 3, 5 e 7 dias após as aplicações (DAA) no experimento realizado em laboratório. (A) efeito direto; (B) efeito indireto. 328 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.77, n.2, p.323-330, abr./jun., 2010 J.R. Scarpellini; D.J. de Andrade Tabela 3 - Número médio de joaninhas H. convergens sobreviventes relativo às avaliações realizadas 1, 3, 5 e 7 dias após as aplicações dos produtos nos experimento realizado em campo. Tratamentos Dosagens Efeito direto1 Efeito indireto2 Dias após a aplicação Dias após a aplicação g ou mL p.c./ha 1 3 5 7 1 3 5 7 flonicamida 50 10 a 6 ab 3 b 0 b 10 a 5 b 4 b 3 b flonicamida 80 9 a 6 ab 2 b 0 b 10 a 4 b 4 b 3 b flonicamida 150 8 a 6 ab 2 b 0 b 9 a 4 b 3 b 2 b thiamethoxam 200 7 a 3 b 0 b 0 b 9 a 4 b 1 c 0 c acetamiprido 150 8 a 2 b 0 b 0 b 9 a 5 b 1 c 0 c imidacloprido 250 7 a 1 b 0 b 0 b 9 a 4 b 1 c 0 c testemunha - 12 a 10 a 8 a 6 a 13 a 10 a 8 a 8 a C.V. (%) 21,52 20,64 22,71 19,54 16,64 17,55 16,54 21,43 Teste F 1,62ns 5,76** 7,66** 10,56** 1,75ns 10,44 ** 9,07** 7,13 ** 1Joaninhas H. convergens acondicionadas em saquinhos de filó e colocadas nas parcelas antes da aplicação dos produtos. 2Joaninhas H. convergens acondicionadas em saquinhos de filó e colocadas nas parcelas após a aplicação dos produtos. Médias seguidas por letras iguais na mesma coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. **Significativo pelo teste F a 5% de probabilidade. ns – não significativo. No experimento de aplicação direta, observou-se que, na primeira avaliação, realizada 1 dia após a aplicação, não houve diferenças entre os tratamen- tos e a testemunha. Contudo, na avaliação realizada aos 3 dias os tratamentos thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido diferiram estatistica- mente da testemunha. SCARPELLINI et al. (2003), avaliando a seletividade fisiológica de diversos inseticidas sobre o comple- xo de inimigos naturais de pragas do algodoeiro, verificaram que, para diversas espécies de joaninhas, entre elas H. convergens, os inseticidas thiamethoxam e acetamiprido não apresentaram diferenças significativas entre si, e reduziram par- cialmente a população destes predadores. Contu- do, os autores verificaram que 7 dias após a aplica- ção dos inseticidas thiamethoxam e acetamiprido ocorreu o restabelecimento da população de joaninhas no mesmo nível dos tratamentos sem aplicação de inseticidas. MOURA et al. (2005) ressaltaram que os inseticidas neonicotinoides, além de terem eficácia biológica com- provada contra diversas pragas, podem apresentar outras características favoráveis como reduzida toxicidade a mamíferos, modo de ação diferenciado dos inseticidas piretroides, fosforados e carbamatos, e período de carência relativamente curto, que os tornam ferramentas importantes a serem empregadas no Manejo Integrado de Pragas (MIP). Os tratamentos à base de flonicamida, aos 3 dias após a aplicação dos produtos no experimento de efeito direto, não diferiram testemunha em relação à sobrevivência de joaninhas, no entanto, também não diferiram estatisticamente dos demais tratamentos (thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido). Res- salta-se que, nas avaliações realizadas aos 5 e 7 dias para verificar o efeito da aplicação direta dos produ- tos e aos 3; 5 e 7 dias para o efeito indireto (resíduo seco), todos os tratamentos apresentaram elevada mortalidade de joaninhas H. convergens e diferiram estatisticamente da testemunha. A porcentagem de redução de H. convergens devido à aplicação direta e indireta no experimento de campo está expressa na Figura 2. De acordo com os resulta- dos, pode-se observar que a aplicação direta dos inseticidas causou maior mortalidade de joaninhas do que a aplicação indireta. Este fato evidencia que quando possível deve-se optar pelo uso de inseticidas de forma seletiva (seletividade ecológica) de modo a minimizar a exposição direta dos inimigos naturais aos inseticidas (BACCI et al., 2006). Observou-se que aos 7 dias após a aplicação, todos os tratamentos atingiram 100% de mortalidade, tanto por efeito direto como indireto, com exceção dos tra- tamentos à base de flonicamida por efeito indireto, que obtiveram percentuais de redução que variaram de 63 a 75%. Desta forma, torna-se evidente que para implementação adequada do MIP na cultura do algo- doeiro é imprescindível a escolha adequada dos pro- dutos fitossanitários, dando-se preferência por aque- les mais seletivos, de forma a preservar e incrementar a densidade populacional de inimigos naturais de artrópodes-pragas. 329 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.77, n.2, p.323-330, abr./jun., 2010 Avaliação do efeito de inseticidas sobre a joaninha Hippodamia convergens Guérin-Meneville (Coleoptera: Coccinellidae) em algodoeiro. CONCLUSÕES Dentre os inseticidas avaliados, flonicamida oca- sionou a menor mortalidade da joaninha predadora H. convergens, em condições de laboratório e de campo. Os inseticidas thiamethoxam, acetamiprido e imidacloprido apresentaram comportamento seme- lhante, acarretando alta mortalidade de H. convergens. REFERÊNCIAS BACCI, L.; PEREIRA, E.J.G.; FERNANDES, F.L.; PICANÇO, M.C.; CRESPO, A.L.B.; CAMPOS, M.R. Seletividade Fisiológica de Inseticidas a Vespas Predadoras (Hymenoptera: Vespidae) de Leucoptera coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae). Revista Bioassay, v.10, p.1-7, 2006. 1CDROM. BARROS, R.; DEGRANDE, P.E.; RIBEIRO, J.F.; RODRIGUES, A.L.L.; NOGUEIRA, R.F.; FERNANDES, M.G. Flutuação populacional de insetos predadores associados a pragas do algodoeiro. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.73, n.1, p.57-64, 2006. BOIÇA JUNIOR, A.L.; SANTOS, T.M.; KURANISHI, A.K. Desenvolvimento larval e capacidade predatória de Cycloneda sanguinea (L.) e Hippodamia convergens Guerin-Men. alimentadas com Aphis gossypii Glover sobre cultivares de algodoeiro. Acta Scientiarum Agronomy, v.26, p.239-244, 2004. BUENO, V.H.P.; BERTI FILHO, E. 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