1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA TÂMARA DE ANDRADE LINDAU “ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO PRESCHOOL LANGUAGE ASSESSMENT INSTRUMENT (PLAI-2) EM FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO COM DESENVOLVIMENTO TÍPICO DE LINGUAGEM” MARÍLIA 2014 2 TÂMARA DE ANDRADE LINDAU “ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO PRESCHOOL LANGUAGE ASSESSMENT INSTRUMENT (PLAI-2) EM FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO COM DESENVOLVIMENTO TÍPICO DE LINGUAGEM” Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, para a obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Prevenção, avaliação e terapia em Fonoaudiologia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Célia Maria Giacheti Coorientadora: Dr.ª Natalia Freitas Rossi Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP (Processo: 2012/19808-5) MARÍLIA 2014 3 Lindau, Tâmara de Andrade. L742a Adaptação transcultural do Preschool Language Assessment Instrument (PLAI-2) em falantes do português brasileiro com desenvolvimento típico de linguagem / Tâmara de Andrade Lindau – Marília, 2014. 127 f. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências, 2014. Bibliografia: f. 116-123 Orientador: Célia Maria Giacheti. Co-orientador: Natália Freitas Rossi 1. Fonoaudiologia. 2. Crianças – Linguagens - Testes. 3. Crianças – Linguagem pré-escolar. I. Título. CDD 616.8550028 4 TÂMARA DE ANDRADE LINDAU “ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO PRESCHOOL LANGUAGE ASSESSMENT INSTRUMENT (PLAI-2) EM FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO COM DESENVOLVIMENTO TÍPICO DE LINGUAGEM” Dissertação para obtenção do título de Mestre, da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, na área de concentração Prevenção, avaliação e terapia em Fonoaudiologia. BANCA EXAMINADORA Orientador: ___________________________________________________ Profª Drª Célia Maria Giacheti. Presidente e Orientadora Universidade Estadual Paulista. UNESP – FFC/Marília-SP 2º Examinador: ________________________________________________ Profª Drª Debora Maria Befi-Lopes. Examinadora Universidade de São Paulo. USP - São Paulo-SP 3º Examinador: ________________________________________________ Profª Drª Simone Aparecida Capellini. Examinadora Universidade Estadual Paulista. UNESP – FFC/Marília-SP Marília, 20 de Fevereiro de 2014. 5 À minha avó, Maria Ignez Rocha de Andrade, com amor e carinho, pelo grande exemplo de vida o qual em presente o passado se converte. DEDICO Aos meus pais, Fernando Lindau e Maria Inês Rocha de Andrade Lindau, por me conduzirem em bases de diligência, serenidade e humildade, e por confiarem em meus propósitos. Aos meus irmãos, Thiago Andrade Lindau e “Thais Cordeiro Fonseca”, e às minhas tias, Maria José, Lívia e Amarílis, pelo apoio incondicional em todos os momentos da minha vida. Ao Leandro, em especial, pelos momentos de paciência, ponderação e esmero durante essa caminhada. OFEREÇO 6 AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Célia Maria Giacheti, pela oportunidade, experiências, transmissão de conhecimento e por me formar pesquisadora. À Dr.ª Natalia Freitas Rossi, pela coorientação, apoio e dedicação nas diversas fases do trabalho. Às professoras, Drª Debora Maria Befi-Lopes e Drª Simone Aparecida Capellini, pelas orientações, valiosas sugestões, materiais cedidos, bem como pela disponibilidade para a participação na banca do Exame Geral de Qualificação. À Drª Marina Leite Puglisi, pela presteza e contribuições na análise dos dados. Ao linguista, Prof. Dr. Lourenço Chacon, pela ajuda inestimável nos ajustes necessários. Aos professores que passaram por toda a minha formação, em especial às professoras Maria da Graça Chamma Ferraz e Ferraz e Ana Cláudia Vieira Cardoso, pela atenção, amizade e estrutura oferecida nos momentos de dificuldade. Ao Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia, que proveu subsídios indispensáveis na conclusão do presente trabalho e outros realizados durante esses anos. À PROPG e à CAPES, pela concessão da bolsa de estudo durante o primeiro ano de realização desta pesquisa. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo apoio financeiro concedido durante o último ano de realização desta pesquisa (FAPESP: 2012/19808-5). À Editora PRO-ED, pela autorização concedida para a tradução e adaptação deste instrumento. 7 À Drª. Marion Blank, uma das autoras do instrumento, pela atenção dispensada e disponibilidade para esclarecimentos sobre o instrumento. Às companheiras de mestrado, Giulia Ganthous, Tamires Moreira e Gabriela Costa, pela benevolência. À minha amiga Amanda Oliveira Santos, pelos momentos de reflexão, amizade e estima. Aos meus amigos André Luiz Damião de Paula e Monique Herrera Cardoso, pelas gentilezas e ensinamentos. Ao meu amigo Fernando Del Mando Lucchesi, pelas gentilezas, tolerância e perspicácia. À minha amiga Letícia Piassa, em especial, por todo o apoio, colaboração e amizade. À minha amiga Lívia Cristina de Oliveira, pelo exemplo de dedicação, amizade e força. À minha amiga Patrícia Andrea Caldas, pelo incentivo, apoio, sensatez e amizade. A todos os meus amigos que de alguma forma contribuíram para este trabalho: Adriana Kemp, Larissa Oliveira, Felipe Marostegan, Rodrigo Guidelli e Augusto Gaia. A todos os funcionários do Centro de Estudos da Educação e da Saúde. Às diretoras, coordenadoras e professoras das escolas “Amor Perfeito”, “Sítio do Pica-pau Amarelo”, “Balão Mágico” e “Leda Casadei”, pela disponibilidade e por terem concedido a autorização para a participação nesta pesquisa. Às crianças que participaram da pesquisa e seus pais, pelo voto de confiança e disponibilidade. 8 “Não se possui o que não se compreende.” Johann Wolfgang von Goethe 9 RESUMO O Preschool Language Assessment Instrument (PLAI-2) é um instrumento norte-americano desenvolvido para avaliar a linguagem falada de crianças em idade pré-escolar, sendo composto por 70 estímulos subdivididos igualmente em itens de linguagem receptiva e expressiva em suas diferentes habilidades: escolha, análise seletiva, análise perceptual e raciocínio. Este instrumento prevê duas formas de análise: a análise formal, que fornece uma estimativa global e parcial do desenvolvimento baseado no escore bruto; e a análise informal, que fornece informações quanto à adequação de respostas e comportamentos interferentes observados durante a avaliação. No Brasil, ainda é escassa a disponibilidade de instrumentos objetivos para avaliação da linguagem falada, principalmente na população pré-escolar. Portanto, o objetivo geral deste trabalho foi realizar a tradução e a adaptação para o Português do Brasil do instrumento PLAI-2, primeira etapa deste estudo. Ressalta-se que foram mantidos todos os itens testados, porém foi necessária a modificação da ordem em um item em virtude de a tradução literal apresentar um vocabulário muito formal para o contexto da linguagem infantil utilizada no Brasil e sugerida mudança de gravura em outro item. Assim, a tradução e adaptação realizadas atenderam às equivalências teórica, semântica e cultural. A segunda etapa consistiu em aplicar o teste PLAI-2, adaptado para o Português brasileiro, em 354 participantes com desenvolvimento típico de linguagem, de ambos os gêneros, com idade cronológica entre três anos e cinco anos e 11 meses, os quais foram divididos em três grupos, segundo a faixa etária, e cada grupo formado por 118 participantes. Os dados foram analisados por meio do pacote estatístico Statistical Package for Social Sciences em sua versão 21.0. Quando realizada a comparação por pares dos grupos, deduz-se que o procedimento utilizado foi capaz de, no geral, identificar diferenças entre os três grupos etários, para a maior parte das variáveis de interesse. A diferença estatisticamente significante encontrada entre as médias dos grupos etários mostrou que os mesmos são diferentes e que o escore bruto tende a ser crescente em função da idade. Ao relacionar os itens de linguagem receptiva e expressiva, os valores destes tornam-se muito próximos conforme o aumento da idade, o que demonstra desempenho semelhante para ambas as habilidades. Em relação às comparações realizadas inter-subgrupos, para o grupo de três anos, pode-se afirmar que o instrumento discrimina o desempenho, principalmente para os subgrupos G1 e G3 em todas as variáveis de escore bruto e idade equivalente para todos os subitens estudados. Os resultados desta comparação para a faixa etária de quatro anos apresentaram diferença estatisticamente significante entre os subgrupos G4 e G6, exceto para as variáveis do subitem “Escolha”. 10 Assim, demonstra-se que não há diferença de desempenho neste item, o que ocorreu de forma inversa na comparação entre G5 e G6. No grupo de cinco anos não houve diferença estatisticamente significante quando consideradas as pontuações brutas, assim como as diferenças encontradas apresentaram maior ocorrência entre G7 e G8. Os dados de classificação do desempenho revelaram que a maioria das crianças dos três grupos etários apresentou classificação dentro da média esperada para falantes do Inglês. Como conclusão, os dados demonstraram que a versão brasileira do PLAI-2 pode ser considerada em potencial para identificar diferenças no desenvolvimento de linguagem em pré-escolares, pois permitiu discriminar o desempenho dos participantes, em todos os itens avaliados. Palavras-chave: Fonoaudiologia; Testes de Linguagem; Tradução; Adaptação; Pré-escolar. 11 ABSTRACT The Preschool Language Assessment Instrument (PLAI-2) is an American tool developed to assist the assessment of spoken language of children in preschool, comprising 70 stimuli equally subdivided into receptive and expressive language items in their different abilities: choice, selective analysis, perceptual analysis and reasoning. This instrument provides two types of assessments: the formal assessment, which provides an overall and partial estimate of the development based on a gross score; and the informal assessment, which provides information regarding the adequacy of responses and interfering behaviors during assessment. In Brazil, the availability of objective instruments to assess spoken language is scarce, particularly for preschool population. Therefore, the overall purpose of this work was to translate and adapt to Brazilian Portuguese the PLAI-2 instrument in the first stage of this study. We highlight that all tested items were maintained, but changes were required in the order of an item, since the literal translation would create a rather formal vocabulary for the children’s language context used in Brazil, and a change of picture was suggested in another item. Thus, the translation and adaptation carried out complied with the theoretical, semantic and cultural equivalences. The second stage consisted of applying the PLAI-2 test adapted to Brazilian Portuguese, to the 354 participants with typical language development, of both genders, with chronological ages between three and five years and 11 months, divided into three groups according to the age group and each group made up of 118 participants. Data were assessed through the Statistical Package for Social Sciences, version 21.0. When the comparison was made by group pairs, we deducted that the procedure used was able to identify differences between the three age groups for most part of the variables of interest. The statistically significant difference found between the age group averages showed that they are different and that the gross score tends increase according to age. When relating the receptive and expressive language items, their values became very close as age increased, which shows performance very similar to both abilities. With regard to intergroup comparisons made for the three-year-old group, it is possible to state that the instrument distinguishes the development, mainly for subgroups G1 and G3 in all variables of gross score and equivalent age for all sub-items studied. The results of this comparison for the four-year- old age group have shown statistically significant difference between subgroups G4 and G6, except for variables in the "Matching” sub-item. Therefore, no difference in performance is shown in this item, inversely to what took place in the comparison between G5 and G6. No statistically significant difference was found in the five-year-old group when considering the 12 gross score, thus, the differences found occurred more between G7 and G8. The performance classification data show that most children of the three age groups presented a classification within the average expected for English speakers. As a conclusion, the data have shown that the Brazilian version of PLAI-2 may be considered to have potential to identify differences in language development of preschool children, since it allowed the discrimination of performance of the participants in all assessed items. Keywords: Speech, Language and Hearing Sciences; Language Tests; Translating; Adaptation; Child, Preschool. 13 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Representação esquemática da relação entre a percepção e a linguagem. ............... 33 Figura 2 - Foto ilustrativa do Kit completo do PLAI-2. ........................................................... 43 Gráfico 1. Desempenho dos grupos etários em função do aumento da idade cronológica no subitem “Escolha”. ................................................................................................................... 64 Gráfico 2. Desempenho dos grupos etários em função do aumento da idade cronológica no subitem “Análise Seletiva”. ...................................................................................................... 64 Gráfico 3. Desempenho dos grupos etários em função do aumento da idade cronológica no item “Linguagem Receptiva”. .................................................................................................. 65 Gráfico 4. Desempenho dos grupos etários em função do aumento da idade cronológica no item “Linguagem Expressiva”. ................................................................................................. 65 Gráfico 5. Desempenho dos grupos etários em função do aumento da idade cronológica no item “Habilidade Comunicativa”.............................................................................................. 66 Gráfico 6. Desempenho descritivo do grupo de três anos em todos os itens e subitens analisados.................................................................................................................................. 66 Gráfico 7. Desempenho descritivo do grupo de quatro anos em todos os itens e subitens analisados.................................................................................................................................. 67 Gráfico 8. Desempenho descritivo do grupo de cinco anos em todos os itens e subitens analisados.................................................................................................................................. 67 Gráfico 9. Desempenho inter-subgrupo de três anos no subitem "Escolha". ........................... 71 Gráfico 10. Desempenho inter-subgrupo de três anos no subitem "Análise Seletiva". ............ 72 Gráfico 11. Desempenho inter-subgrupo de três anos no subitem "Análise Perceptual e Raciocínio". .............................................................................................................................. 72 Gráfico 12. Desempenho inter-subgrupo de três anos no item "Linguagem Receptiva". ........ 73 Gráfico 13. Desempenho inter-subgrupo de três anos no item "Linguagem Expressiva"........ 73 Gráfico 14. Desempenho inter-subgrupo de três anos no item "Habilidade Comunicativa". .. 74 Gráfico 15. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos no subitem "Escolha". ..................... 78 Gráfico 16. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos no subitem "Análise Seletiva". ....... 78 Gráfico 17. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos no subitem "Análise Perceptual". ... 79 Gráfico 18. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos no subitem "Raciocínio". ................ 79 Gráfico 19. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos no item "Linguagem Receptiva". .... 80 Gráfico 20. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos no item "Linguagem Expressiva". .. 80 Gráfico 21. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos no item "Habilidade Comunicativa". .................................................................................................................................................. 81 Gráfico 22. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos no subitem "Escolha". ...................... 84 Gráfico 23. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos no subitem "Análise Seletiva". ......... 84 Gráfico 24. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos no subitem "Análise Perceptual". ..... 85 Gráfico 25. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos no subitem "Raciocínio"................... 85 Gráfico 26. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos no item "Linguagem Receptiva". ..... 86 Gráfico 27. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos no subitem "Linguagem Expressiva". .................................................................................................................................................. 86 Gráfico 28. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos no item "Habilidade Comunicativa". 87 Gráfico 29. Desempenho inter-subgrupo G1 x G4 x G7 no subitem "Escolha". ..................... 91 Gráfico 30. Desempenho inter-subgrupo G1 x G4 x G7 no subitem "Análise Seletiva". ........ 91 Gráfico 31. Desempenho inter-subgrupo G1 x G4 x G7 no item "Linguagem Receptiva". .... 92 Gráfico 32. Desempenho inter-subgrupo G1 x G4 x G7 no item "Linguagem Expressiva". ... 92 Gráfico 33. Desempenho inter-subgrupo G1 x G4 x G7 no item "Habilidade Comunicativa". .................................................................................................................................................. 93 14 Gráfico 34. Desempenho inter-subgrupo G2 x G5 x G8 no subitem "Escolha". ..................... 96 Gráfico 35. Desempenho inter-subgrupo G2 x G5 x G8 no subitem "Análise Seletiva". ........ 97 Gráfico 36. Desempenho inter-subgrupo G2 x G5 x G8 no item "Linguagem Receptiva". .... 97 Gráfico 37. Desempenho inter-subgrupo G2 x G5 x G8 no item "Linguagem Expressiva". ... 98 Gráfico 38. Desempenho inter-subgrupo G2 x G5 x G8 no item "Habilidade Comunicativa". .................................................................................................................................................. 98 Gráfico 39. Desempenho inter-subgrupo G3 x G6 x G9 no subitem "Escolha". ................... 102 Gráfico 40. Desempenho inter-subgrupo G3 x G6 x G9 no subitem "Análise Seletiva". ...... 102 Gráfico 41. Desempenho inter-subgrupo G3 x G6 x G9 no item "Linguagem Receptiva". .. 103 Gráfico 42. Desempenho inter-subgrupo G3 x G6 x G9 no item "Linguagem Expressiva". . 103 Gráfico 43. Desempenho inter-subgrupo G3 x G6 x G9 no item "Habilidade Comunicativa". ................................................................................................................................................ 104 Gráfico 44. Desempenho inter-subgrupo G4 x G7 no subitem "Análise Perceptual". ........... 107 Gráfico 45. Desempenho inter-subgrupo G4 x G7 no subitem "Raciocínio". ....................... 107 Gráfico 46. Desempenho inter-subgrupo G5 x G8 no subitem "Análise Perceptual". ........... 108 Gráfico 47. Desempenho inter-subgrupo G5 x G8 no subitem "Raciocínio". ....................... 109 Gráfico 48. Desempenho inter-subgrupo G6 x G9 no subitem "Análise Perceptual". ........... 110 Gráfico 49. Desempenho inter-subgrupo G6 x G9 no subitem "Raciocínio". ....................... 110 15 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição dos participantes do grupo piloto por idade e gênero .......................... 50 Tabela 2. Distribuição dos participantes do grupo piloto por classe socioeconômica - ABEP (2011)........................................................................................................................................ 51 Tabela 3. Distribuição dos participantes do grupo amostral por idade e gênero. ..................... 58 Tabela 4. Distribuição dos participantes do grupo amostral por classe socioeconômica - ABEP (2011)........................................................................................................................................ 59 Tabela 5. Distribuição dos participantes em grupos e subgrupos etários por número e gênero. .................................................................................................................................................. 60 Tabela 6. Desempenho intragrupo nos itens e subitens da avaliação padronizada. ................. 61 Tabela 7. Comparação dos pares de grupos etários nas variáveis com diferença estatisticamente significante. .................................................................................................... 62 Tabela 8. Desempenho intergrupo nos subitens da avaliação não padronizada – adequação de respostas expressivas. ............................................................................................................... 68 Tabela 9. Desempenho intergrupo nos subitens da avaliação não padronizada – comportamentos interferentes................................................................................................... 68 Tabela 10. Desempenho intragrupo nos itens da avaliação não padronizada. ......................... 69 Tabela 11. Desempenho dos participantes inter-subgrupo de três anos nos itens e subitens da avaliação padronizada............................................................................................................... 70 Tabela 12. Comparação dos subgrupos de três anos nas variáveis que apresentaram diferença estatisticamente significante. .................................................................................................... 71 Tabela 13. Desempenho inter-subgrupo de três anos nos subitens da avaliação não padronizada – adequação de respostas expressivas. ................................................................. 74 Tabela 14. Desempenho inter-subgrupo de três anos nos subitens da avaliação não padronizada – comportamentos interferentes. .......................................................................... 75 Tabela 15. Comparação dos subgrupos de três anos nas variáveis da avaliação não padronizada que apresentaram diferença estatisticamente significante.................................... 75 Tabela 16. Desempenho dos participantes inter-subgrupo de quatro anos nos itens e subitens da avaliação padronizada. ......................................................................................................... 76 Tabela 17. Comparação dos subgrupos de quatro anos nas variáveis que apresentaram diferença estatisticamente significante. .................................................................................... 77 Tabela 18. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos nos subitens da avaliação não padronizada – adequação de respostas expressivas. ................................................................. 81 Tabela 19. Desempenho inter-subgrupo de quatro anos nos subitens da avaliação não padronizada – comportamentos interferentes. .......................................................................... 82 Tabela 20. Desempenho dos participantes inter-subgrupo de cinco anos nos itens e subitens da avaliação padronizada............................................................................................................... 82 Tabela 21. Comparação dos subgrupos de cinco anos nas variáveis que apresentaram diferença estatisticamente significante. .................................................................................... 83 Tabela 22. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos nos subitens da avaliação não padronizada – adequação de respostas expressivas. ................................................................. 87 Tabela 23. Desempenho inter-subgrupo de cinco anos nos subitens da avaliação não padronizada – comportamentos interferentes. .......................................................................... 88 Tabela 24. Comparação dos subgrupos de cinco anos nas variáveis da avaliação não padronizada que apresentaram diferença estatisticamente significante.................................... 88 Tabela 25. Desempenho dos participantes inter-subgrupo G1 x G4 x G7 nos itens e subitens da avaliação padronizada. ......................................................................................................... 89 Tabela 26. Comparação por pares inter-subgrupo G1 x G4 x G7 nas variáveis que apresentaram diferença estatisticamente significante. .............................................................. 90 16 Tabela 27. Desempenho inter-subgrupo G1 X G4 X G7 nos subitens da avaliação não padronizada – adequação de respostas expressivas. ................................................................. 93 Tabela 28. Desempenho inter-subgrupo G1 X G4 X G7 nos subitens da avaliação não padronizada – comportamentos interferentes. .......................................................................... 93 Tabela 29. Comparação inter-subgrupo G1 X G4 X G7 nas variáveis da avaliação não padronizada que apresentaram diferença estatisticamente significante.................................... 94 Tabela 30. Desempenho dos participantes inter-subgrupo G2 x G5 x G8 nos itens e subitens da avaliação padronizada. ......................................................................................................... 94 Tabela 31. Comparação por pares inter-subgrupo G2 x G5 x G8 nas variáveis que apresentaram diferença estatisticamente significante. .............................................................. 95 Tabela 32. Desempenho inter-subgrupo G2 x G5 x G8 nos subitens da avaliação não padronizada – adequação de respostas expressivas. ................................................................. 99 Tabela 33. Desempenho inter-subgrupo G2 x G5 x G8 nos subitens da avaliação não padronizada – comportamentos interferentes. .......................................................................... 99 Tabela 34. Comparação inter-subgrupo G2 X G5 X G8 nas variáveis da avaliação não padronizada que apresentaram diferença estatisticamente significante nos itens da avaliação não padronizada. ..................................................................................................................... 100 Tabela 35. Desempenho dos participantes inter-subgrupo G3 x G6 x G9 nos itens e subitens da avaliação padronizada. ....................................................................................................... 100 Tabela 36. Comparação por pares inter-subgrupo G3 x G6 x G9 nas variáveis que apresentaram diferença estatisticamente significante. ............................................................ 101 Tabela 37. Desempenho inter-subgrupo G3 X G6 X G9 nos subitens da avaliação não padronizada – adequação de respostas expressivas. ............................................................... 104 Tabela 38. Desempenho inter-subgrupo G3 X G6 X G9 nos subitens da avaliação não padronizada – comportamentos interferentes. ........................................................................ 104 Tabela 39. Comparação inter-subgrupo G3 X G6 X G9 nas variáveis da avaliação não padronizada que apresentaram diferença estatisticamente significante nos itens da avaliação não padronizada. ..................................................................................................................... 105 Tabela 40. Desempenho dos participantes inter-subgrupo G4 x G7 nos e subitens "Análise Perceptual" e "Raciocínio". .................................................................................................... 106 Tabela 41. Desempenho dos participantes inter-subgrupo G5 x G8 nos e subitens "Análise Perceptual" e "Raciocínio". .................................................................................................... 108 Tabela 42. Desempenho dos participantes inter-subgrupo G6 x G9 nos e subitens "Análise Perceptual" e "Raciocínio". .................................................................................................... 109 17 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABEP Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa ABFW Teste de Linguagem Infantil – ABFW ASHA American Speech-Language-Hearing Association CEES Centro de Estudos da Educação e Saúde CELF-4 Clinical Evaluation of Language Functions - 4th edition CNS Conselho Nacional de Saúde EMEIs Escolas Municipais de Educação Infantil EUA Estados Unidos da América PLAI Preschool Language Assessment Instrument PLAI-2 Preschool Language Assessment Instrument – 2nd edition PODCLE-r Protocolo Observação do Desenvolvimento Cognitivo e Linguagem Expressiva - revisado PROC Protocolo de Observação Comportamental TELD Test of Early Language Development TOLD-P:3 Test of Language Development Primary: 3 TROG-2 Test for Reception of Grammar - 2 TVExp Teste de Vocabulário Auditivo Expressivo UNESP Universidade Estadual Paulista 18 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 20 1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 23 1.1.1 Linguagem e o processo de avaliação ..................................................................... 24 1.1.2 Aspectos relevantes sobre o processo de adaptação cultural de instrumentos .... 27 1.1.2.1 Procedimentos sistemáticos e formais para avaliação da linguagem falada construídos ou adaptados para o Brasil ............................................................................ 29 1.2 PRESCHOOL LANGUAGE ASSESSMENT INSTRUMENT: APRESENTAÇÃO ... 32 1.2.1 Constructo teórico do Preschool Language Assessment Instrument ....................... 33 1.2.2 Primeira versão do Preschool Language Assessment Instrument - PLAI ............... 34 1.2.3 Características da segunda versão (PLAI-2) ............................................................ 35 1.2.4 Usos do PLAI-2 ....................................................................................................... 36 1.2.5 Apresentação de estudos que utilizaram o Preschool Language Assessment Instrument – Segunda Edição ........................................................................................... 36 2 JUSTIFICATIVAS ................................................................................................................ 38 3 OBJETIVOS E HIPÓTESES ........................................................................................... 40 4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................... 42 4.1 Aspectos Éticos............................................................................................................... 43 4.2 Descrição do Procedimento PLAI-2 ......................................................................... 43 4.2.1 Avaliação Padronizada ............................................................................................ 43 4.2.1.1 Pontuação Padronizada das Respostas ............................................................. 44 4.2.1.2 Avaliação Não Padronizada.............................................................................. 45 4.2.2 Livro de Registro do PLAI-2 ................................................................................... 46 4.2.3 Aplicação Geral ....................................................................................................... 47 4.3 Etapa 1: Tradução e Adaptação para o Português do Brasil do PLAI-2 ......................... 48 4.3.1 Processo de tradução e adaptação do PLAI-2 .......................................................... 49 4.3.2 Grupo Piloto ............................................................................................................ 49 4.3.2.1 Sujeitos ............................................................................................................. 50 4.3.3 História clínica, triagem fonoaudiológica e especificação do nível socioeconômico dos participantes. .............................................................................................................. 50 4.3.4 Critério de Aplicação do PLAI-2 (Pré-Teste) .......................................................... 51 4.3.5 Resultados e Discussão ............................................................................................ 51 4.3.5.1 Tradução e Adaptação do PLAI-2 .................................................................... 51 4.3.5.2 Análise Operacional desta Etapa ...................................................................... 56 4.3.5.3 Tradução do Manual e fichas de resposta do PLAI-2 ...................................... 56 4.4 Etapa 2: Aplicação da Adaptação Brasileira do PLAI-2................................................. 57 19 4.4.1 Grupo Amostral ........................................................................................................ 58 4.4.1.1 Sujeitos ................................................................................................................. 58 4.4.1.1.1 História clínica, triagem fonoaudiológica e especificação do nível socioeconômico dos participantes. ........................................................................... 59 4.4.2 Aplicação do PLAI-2 (Grupo Amostral) ................................................................. 59 4.4.3 Análise Estatística.................................................................................................... 59 4.4.4 Resultados ................................................................................................................ 60 4.4.4.1 Parte 1: Caracterização da amostra ................................................................... 60 4.4.4.2 Parte 2: Caracterização e comparação do desempenho das crianças nos itens e subitens do PLAI-2 ....................................................................................................... 61 4.4.4.2.1 Avaliação Padronizada e Não Padronizada ............................................... 61 4.4.4.2.1.1 Comparação Intragrupo ...................................................................... 61 4.4.4.2.1.2 Comparação Inter-subgrupo ............................................................... 69 (a) Comparação inter-subgrupo de três anos - G1 x G2 x G3 ....................... 69 (b) Comparação inter-subgrupo de quatro anos – G4 x G5 x G6: ................. 76 (c) Comparação inter-subgrupo de cinco anos – G7 x G8 x G9: ................... 82 4.4.4.2.1.3 Dados Inter-subgrupo por ano ............................................................ 88 (d) Comparação inter-subgrupo ano G1 x G4 x G7 ......................................... 89 (e) Comparação inter-subgrupo ano G2 x G5 x G8.......................................... 94 (f) Comparação inter-subgrupo ano G3 x G6 x G9 ........................................ 100 4.4.4.2.1.4 Dados Inter-subgrupo quatro e cinco anos para os subitens “Análise Perceptual” e “Raciocínio” ................................................................................. 105 (g) Comparação inter-subgrupo ano: G4 x G7 ............................................... 106 (h) Comparação inter-subgrupo ano: G5 x G8 ............................................... 107 (i) Comparação inter-subgrupo ano: G6 x G9 ................................................ 109 4.4.5 Discussão ............................................................................................................... 111 5 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 115 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 117 ANEXOS ................................................................................................................................ 125 20 1 INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ 21 A aplicação de procedimentos formais de avaliação tem se tornado cada vez mais frequente nos estudos em saúde, especialmente na Fonoaudiologia, que busca se pautar em evidências científicas, proporcionando novos subsídios para as questões relacionadas à prevenção e reabilitação, no que concerne à comunicação humana (GOULART; CHIARI, 2007). Para identificar e intervir precocemente nos problemas relacionados à linguagem falada é necessário que o profissional escolha os procedimentos de avaliação que farão parte do processo diagnóstico, a fim de permitir a investigação das habilidades específicas da linguagem e viabilizar a realização de avaliações contínuas, com intuito de verificar e estabelecer modificações necessárias à intervenção (GIACHETI; ROSSI, 2008). Desta forma, o conhecimento relativo ao padrão comportamental da linguagem em crianças deve ser obtido por meio do uso de instrumentos adequados à faixa etária e possibilidade de utilização de linguagem do sujeito avaliado (BEFI-LOPES, 2002). Portanto, é de suma importância que a avaliação da linguagem falada inclua procedimentos que permitam avaliar tanto sua compreensão quanto sua expressão (BISHOP, 1979), possibilitando diagnóstico que esclareça com fidedignidade as limitações específicas de linguagem a serem trabalhadas (GIACHETI; ROSSI, 2008). A utilização de instrumentos sistemáticos e formais de avaliação da linguagem falada tem sido realizada há mais de 20 anos, nas pesquisas dos membros do grupo de pesquisa em avaliação da linguagem, para determinar o fenótipo comportamental e de linguagem em diferentes transtornos do neurodesenvolvimento (GIACHETI, 1996; ROSSI et al., 2012; GANTHOUS, 2013). No entanto, no Brasil, ainda são poucos os instrumentos disponíveis para a avaliação da linguagem falada da criança, principalmente para a avaliação da linguagem de crianças em idade pré-escolar, sejam eles construídos ou adaptados para a nossa cultura linguística. Iniciativas de adaptação e validação de instrumentos para avaliação da linguagem falada é uma necessidade atual na área da Fonoaudiologia, no Brasil, a fim de preencher a lacuna existente quanto aos métodos objetivos de avaliação. A disponibilidade destes métodos forneceria não apenas um suporte para fonoaudiólogos clínicos, como também contribuiria para o panorama científico nacional, possibilitando a realização de estudos comparativos e transculturais, “[...] que podem trazer maiores esclarecimentos e compreensão acerca dos quadros de distúrbios da comunicação e de suas especificidades nas diferentes línguas” (GIUSTI; BEFI-LOPES, 2008, p. 208). 22 A opção por adaptar um instrumento tem como meta o aumento das possibilidades de escolha de instrumentos formais na avaliação de crianças pequenas com diferentes diagnósticos médicos e genéticos e, assim, contribuir para caracterização do quadro fonoaudiológico na avaliação e na intervenção. Dentro deste contexto, o Preschool Language Assessment Instrument - PLAI-2 (BLANK et al., 2003), que é um instrumento de investigação das habilidades comunicativas de crianças em idade pré-escolar, foi selecionado para adaptação e possibilidade de uso futuro nas pesquisas brasileiras, principalmente por responder à possibilidade de avaliar a linguagem expressiva e receptiva, e, ainda, permitir a avaliação qualitativa de um grande número de crianças. Assim sendo, o objetivo geral deste estudo foi realizar a tradução e a adaptação para o Português do Brasil do instrumento Preschool Language Assessment Instrument – PLAI-2. 23 1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ___________________________________________________________________ 24 1.1.1 Linguagem e o processo de avaliação Instrumento de precisão social, a comunicação se define como um processo simbólico pelo qual a cultura é construída e mantida (MEAD, 1934; BENVENISTE; 1988; PUYUELO, 2007), sendo a linguagem o principal veículo de expressão para a comunicação própria do homem: a comunicação verbal (TITONE; BERNARDINI, 1983). De acordo com a ASHA (1982), a linguagem pode ser caracterizada como um sistema de alta complexidade e dinâmico, constituído por símbolos convencionais empregados para expressar formas diferentes de pensamento e comunicação, que evolui em função de contextos históricos, sociais e culturais. Vista como um recurso de relação interpessoal, a linguagem é definida, segundo Bates (1976), como um conjunto de operações mentais desenvolvidas por um sujeito para a construção e o uso de sentenças dentro de um contexto. Elas se formam sobre as regras tradicionalmente abordadas nas teorias sintática, semântica e pragmática da língua. Segundo a autora, essas três teorias representam as três áreas de subdivisão da linguagem: a sintática refere-se à relação mantida entre os sinais 1 da língua; a semântica, às relações entre esses sinais e seus correspondentes reais; e a pragmática refere-se às relações entre os sinais e o uso dos falantes, sendo essas subdivisões, na maior parte do tempo, inter-relacionadas. Assim como Bates (1976), a ASHA (1982) subdivide a linguagem em três dimensões: a primeira refere-se à forma da linguagem e engloba os componentes fonológicos, morfológicos e sintáticos; a segunda, que diz respeito ao conteúdo, engloba o componente semântico; e a terceira refere-se ao uso da linguagem, ou seja, a pragmática (ACOSTA, 2006). As dimensões e os componentes da linguagem podem ser avaliados isoladamente ou concomitantemente tanto em situações típicas como em situações atípicas de desenvolvimento, em que são observados problemas de linguagem por parte do sujeito (BLOOM; LAHEY, 1978; ACOSTA, 2006; GÂNDARA; BEFI-LOPES, 2010). O desenvolvimento da comunicação está diretamente associado ao processo de aquisição da linguagem pela criança, sendo este construído em etapas decorrentes das 1 Esclarece-se que o conceito de sinal se refere ao de símbolos linguísticos, definidos como convenções sociais de significados utilizados por um sujeito no compartilhamento de sua atenção com outro e na construção de seu pensamento sobre algo do universo que o cerca (TOMASELLO, 2006). 25 interações comunicativas, experiências e relações sociais com o universo em que se insere (ASHA, 1982; KAYE, 1988; GIUSTI, 2007; PEIXOTO, 2007). O conhecimento das condições típicas de aquisição dos diferentes componentes da linguagem é de fundamental importância para o processo de avaliação, que tem por finalidade identificar a presença -ou não- de alterações em um ou mais componentes da linguagem, em nível receptivo e/ou expressivo. A alteração de linguagem está presente em diferentes condições clínicas, abrangendo os níveis receptivo e expressivo da linguagem no que se refere à forma, ou seja, fonologia, morfologia e sintaxe; ao conteúdo, nas representações léxico- semânticas; e ao uso social da linguagem falada – pragmática –, sendo tais manifestações percebidas quando há desempenho inferior ou desviado, quando comparados aos seus pares da mesma idade cronológica (BISHOP; ADAMS, 1990; GILLAM; PEARSON, 2004; ACOSTA, 2006). Segundo Soares (2005), a linguagem receptiva é composta pelo feedback auditivo e visual, sendo responsável pela capacidade de compreensão da palavra falada; enquanto a linguagem expressiva representa a capacidade de expressão – tanto verbal quanto gestual (não verbal) – que o sujeito desenvolve após passar pelo processo de compreensão de conceitos e por experiências significativas de comunicação com outras pessoas. A relação entre a recepção e expressão da linguagem tem despertado o interesse de pesquisadores da área da linguagem, incentivando a realização de vários estudos sobre o tema, sendo os apontamentos de Ingram (1974) os mais seguidos até hoje. Segundo o estudioso, a compreensão da linguagem precede sua produção, ou seja, a criança desenvolve primeiramente a capacidade de compreender o que lhe é dito e depois se torna capaz de transmitir uma mensagem por meio da fala. Tal hipótese foi sustentada por Harris et al. (1995) e Golinkoff e Hirsh-Pasek (1997), cujos estudos comprovaram que há um espaço de tempo de vários meses entre a capacidade de compreender a fala e emitir as palavras (HARRIS et al., 1995), e que a criança, no processo de compreensão, envolve o que lhe foi dito em um esquema, enquanto para a produção é necessário que ela crie um próprio esquema (GOLINKOFF;HIRSH-PASEK, 1997). Embora existam ideias contrárias – Miller e Paul (1995) afirmaram, por exemplo, que uma criança é capaz de produzir sentenças com sintaxe correta, mas pode ser incapaz de compreender as mesmas formas sintáticas quando postas em situação de teste –, é fato que esse tema tem despertado a atenção de estudiosos que investigam crianças com o diagnóstico de Distúrbio Específico de Linguagem. Em estudo de 1979, Bishop, ao avaliar crianças com Distúrbio Específico de Linguagem, afirmou que a maioria apresentava déficit de expressão, mesmo aquelas 26 classificadas apenas com distúrbios de compreensão, o mesmo não sendo percebido em situações cotidianas, chamando a atenção para a necessidade de criação de testes avaliativos que investigassem a expressão e a compreensão da linguagem falada. Rizzo e Stephens (1981) destacaram o fato de que, em geral, avaliações de crianças que apresentam Distúrbio Específico de Linguagem permitem resultados inferiores somente quanto às habilidades expressivas, sendo as habilidades receptivas consideradas normais na maioria dos casos. Por conta disso, os autores afirmaram a necessidade de utilização, por parte dos clínicos, por testes de compreensão da linguagem falada anteriormente aos testes de expressão. Por fim, Dale e Henderson (1987) afirmaram que é importante que se faça a distinção entre a linguagem receptiva e a linguagem expressiva, pois crianças que apresentam dificuldades em ambas necessitam de tratamento diferenciado daquelas que apresentam dificuldades somente quanto à expressão. Portanto, havendo alterações persistentes no âmbito receptivo e expressivo da linguagem falada, a criança se torna suscetível a dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita, conforme apontaram alguns estudos (BISHOP; ADAMS, 1990; CATTS, 1993; SNOWLING et al., 2000). Quanto mais cedo identificadas as alterações da linguagem falada, melhor prognóstico na intervenção. Vale lembrar que a criança possui a vantagem da plasticidade neural, o que potencializa a eficácia terapêutica (ASHA, 1982; BISHOP; EDMUNDSON, 1987; BISHOP; ADAMS, 1990; PEIXOTO, 2007). A identificação da causa do problema depende do histórico da criança – fornecido pelos responsáveis –, dos resultados das avaliações e da opinião de mais de um profissional, o que confirma ou afasta a hipótese da alteração. Confirmadas as causas, o profissional deve determinar os parâmetros que podem estar deficientes e o modo pelo qual as alterações se manifestam, o que auxiliará no direcionamento das condutas terapêuticas (GIACHETI; ROSSI, 2008). A intervenção com crianças que apresentam alteração de linguagem deve ser precedida, essencialmente, de um processo de avaliação para determinar a necessidade e o planejamento da intervenção (BEFI-LOPES, 2002; GIACHETI; ROSSI, 2008). A avaliação da linguagem baseia-se na coleta de informações válidas e confiáveis que, integradas e interpretadas por um profissional, permitem um julgamento e tomada de decisão de intervenção. Para o sucesso da avaliação, é necessário seguir cinco princípios básicos: avaliação formal e informal conjugadas ao histórico do sujeito; investigar a maior parte de informações para um diagnóstico preciso; avaliar a habilidade pretendida; a avaliação deve 27 refletir as habilidades e dificuldades; os instrumentos devem ser apropriados para a idade, gênero, habilidade e cultura do sujeito (SHIPLEY; MCAFFE, 2009). É necessário, portanto, que a avaliação determine os padrões de linguagem deficientes, ou seja, que discrimine as habilidades receptivas e expressivas da criança, assim como os componentes linguísticos alterados, para melhor definição do diagnóstico (RICE, 1997; TAGER-FLUSBERG; COOPER, 1999; BEFI-LOPES, 2002). A realização de avaliações contínuas e sistemáticas para verificar o avanço do tratamento, estabelecer modificações quanto aos procedimentos de intervenção e, ainda, determinar a necessidade de encaminhamento para outros profissionais é de grande importância neste processo (GOULART; CHIARI, 2007; GIACHETI; ROSSI, 2008). Logo, o profissional da saúde segue procedimentos de avaliação que podem ser classificados da seguinte maneira: a) testes padronizados, que proporcionam uma apreciação global e fornecem um escore da linguagem; b) escalas de desenvolvimento, que visam o estudo da linguagem sob uma perspectiva maturativa; c) observação comportamental, que analisa o desempenho comunicativo da criança em situações naturais, ou seja, de forma não estruturada; d) testes não padronizados ou provas, que avaliam o desenvolvimento da linguagem, a partir de estratégias de coleta, transcrição e análise de uma amostra da linguagem da criança (ACOSTA, 2006). 1.1.2 Aspectos relevantes sobre o processo de adaptação cultural de instrumentos Com o intuito de mensurar o desempenho da criança em habilidades específicas da linguagem na prática clínica, o uso de instrumentos padronizados permite o registro das informações por meio do desempenho quantificado e, portanto, são cada vez mais utilizados para o auxílio na avaliação de diferentes aspectos da linguagem (ACOSTA, 2006; GIACHETI; ROSSI, 2008). Frequentemente, tais instrumentos oferecem a vantagem de possuir padrões de aplicação e análise, critérios para o início (base) ou para a interrupção (teto) mediante determinado número de erros apresentados e análise comparativa conforme variáveis como idade, gênero e escolaridade. Possibilitam também a delineação das habilidades e dificuldades específicas da criança no que se refere à expressão e à recepção da linguagem, além de prescreverem cuidados com a aplicação, com o manuseio e possuírem critérios de análise e interpretação padronizados dos resultados (GIACHETI; ROSSI, 2008; GURGEL et al., 2010). Tais procedimentos padronizados são, portanto, utilizados por especialistas para avaliar diretamente o desempenho da criança, oferecendo avaliação mais especializada do que 28 as observações apontadas por pais e professores (DUARTE; BORDIN, 2000). O uso de testes formais confere certas vantagens sobre os procedimentos informais, em virtude de sua objetividade, além de permitir ao avaliador delinear as habilidades e dificuldades específicas apresentadas pelo sujeito ou por um grupo (MENEZES, 1998; GIACHETI; ROSSI, 2008). A adaptação não é uma tarefa simples, deve ser precedida por etapas pré-estabelecidas para que o instrumento possa ser utilizado na língua pretendida. A equivalência entre o teste original e o teste traduzido deve ser o principal objetivo do processo de tradução e adaptação, a fim de que se evitem resultados equivocados quando aplicada em uma língua diferente, na qual foi inicialmente produzida (GUILLEMIN et al., 1993). Tal equivalência transcultural deve ser observada mediante cinco dimensões: semântica; conteúdo – itens percorrem os objetivos do teste; técnica – forma de coleta; critério – interpretação segundo dados normativos; e conceitual – o constructo teórico deve ser mantido (FLAHERTY et al., 1988). A equivalência semântica refere-se à manutenção do significado conceitual dos itens que compõem o instrumento, após sua tradução (REICHENHEIM; MORAES, 2007; CARVAJAL et al., 2011). Para isto, sugere-se que ao menos duas traduções sejam realizadas de forma independente, por tradutores juramentados e bilíngues. Ao final deste processo, deve-se chegar a uma versão única elaborada por especialistas da área na qual o instrumento se insere. A versão única deverá ser retrotraduzida por um terceiro tradutor, não conhecedor da versão original do procedimento, devendo ao final realizar-se uma comparação com a original, no intuito de verificar a equivalência semântica entre a versão retrotraduzida e a original. É importante ressaltar que, neste processo, adaptações podem ser necessárias para que seja mantida a equivalência esperada (REICHENHEIM; MORAES, 2007). Outro aspecto a ser considerado na adaptação de instrumentos é a equivalência de conteúdo, que deve ser checada após o processo de tradução e retrotradução, com o objetivo de verificar se a versão traduzida do instrumento responde aos objetivos de avaliação propostos pelo instrumento original (MENEZES, 1998; BEATON et al., 2000). Para tanto, é necessário realizar a aplicação do instrumento em um grupo piloto, respeitando as normas de aplicação prevista pela versão original, assim como o critério para a interpretação dos resultados. O treinamento e a aplicação em um grupo piloto são importantes para que vieses de informação, tanto do avaliador (a forma de registro das respostas e o conhecimento do material que será utilizado) quanto do avaliado (falta de compreensão e concentração) não estejam presentes e interfiram na proposta (GUILLEMIN et al., 1993; PASQUALI, 2003; URBINA, 2007). Dadas as devidas necessidades de adaptação, ao final do processo deve 29 ocorrer um vasto estudo estatístico para a validação deste instrumento na população estudada (SHIPLEY, MCAFFE, 2009; URBINA, 2007; CONTI et al., 2009). Por fim, a equivalência conceitual consiste no embasamento teórico utilizado na exploração do construto e dos dados aos diferentes aspectos a serem avaliados, entre eles o país e região de coleta e a população alvo (JORGE, 1998; REICHENHEIM; MORAES, 2007). Após a tradução e a adaptação de determinado teste, propõe-se a aplicação da retrotradução, processo que consiste na tradução inversa do instrumento adaptado à língua que fora criado, comparando-se, assim, as duas versões – a original e a retrotraduzida. Por fim, é necessário que o instrumento passe por processos de validade na língua à qual foi adaptado para que, após a comprovação da possibilidade de se alcançar os objetivos pretendidos, seja utilizado pelos profissionais da área (DUARTE; BORDIN, 2000). 1.1.2.1 Procedimentos sistemáticos e formais para avaliação da linguagem falada construídos ou adaptados para o Brasil No Brasil, dentre os procedimentos que seguem os princípios de protocolos para fins de organização e registro compilados a partir de avaliações com pacientes, existe o “Protocolo de Observação Comportamental” (PROC) (ZORZI; HAGE, 2004; 2012), voltado para a avaliação do desenvolvimento comunicativo e cognitivo em crianças de 12 a 48 meses, e o “Protocolo para Observação do Desenvolvimento Cognitivo e de Linguagem Expressiva”, versão revisada (PODCLE-r) (FLABIANO et al., 2009), voltado para a análise da diversidade das realizações e produções linguísticas apresentadas por crianças, desde o nascimento até os sete anos de idade. Ambos os procedimentos têm valor por possibilitarem um conjunto de informações que direcionam o olhar do avaliador para aspectos específicos, contemplados pelos protocolos, fornecendo uma análise qualitativa. Dos procedimentos brasileiros, que possibilitam tanto a análise quantitativa quanto a qualitativa, destaca-se o “Teste de Linguagem Infantil – ABFW” (ANDRADE et al., 2000; 2004), desenvolvido com base na cultura linguística do Português brasileiro, e aborda as áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática. É um instrumento indicado para crianças de dois a 12 anos de idade, e tem sido utilizado nos contextos clínico e científico, no Brasil, dado fornecer valores de referência, que permitem traçar parâmetros comparativos de um indivíduo em relação ao grupo etário de referência. Contudo, o teste não disponibiliza escore padronizado para os componentes avaliados, dificultando, assim, a identificação da posição relativa do indivíduo diante da amostra normativa. 30 Outro instrumento que segue a mesma direção é o “Teste de Vocabulário Auditivo Expressivo (TVExp)”, publicado por Capovilla et al. (2011), desenvolvido para avaliar o vocabulário expressivo de crianças, para o período de 18 meses a cinco anos. É um instrumento que permite a análise comparativa do indivíduo com o grupo etário de referência, mas não possui escore padronizado. Em âmbito nacional, há instrumentos internacionais para a avaliação da linguagem falada, que foram adaptados ou estão em processo de adaptação para a cultura linguística do Português brasileiro, dos quais se destacam: o “Teste de Vocabulário por Imagens Peabody”, traduzido, normatizado e validado por Capovilla et al. (1997), atendendo crianças com faixa etária de seis a 18 anos; o Test of Early Language Development-TELD, traduzido e adaptado por Giusti (2007), aplicado em crianças com idade entre dois e sete anos e 11 meses, para a avaliação da linguagem em âmbito receptivo e expressivo. Ressalta-se que, a partir dos resultados mediante o desempenho das crianças com desenvolvimento típico de linguagem, o instrumento é passível de utilização sem maiores adaptações culturais ou linguísticas, demonstrando ser válido – além do processo diagnóstico – para acompanhamento da evolução clínica em casos com desordens da comunicação. Nesta mesma direção, o Test of Language Development Primary: 3 (TOLD-P:3), bastante utilizado para diagnóstico de alterações de desenvolvimento da linguagem em crianças falantes do Inglês, foi adaptado e normatizado para o Português brasileiro por Broggio (2005). Esse teste abrange parte dos participantes, em idade pré-escolar, ou seja, a faixa etária de avaliação encontra-se entre quatro e oito anos de idade. O Clinical Evaluation of Language Functions - 4th edition (CELF- 4) foi traduzido e adaptado por Bento-Gaz (2013), e refere-se a um instrumento de avaliação de desordens de comunicação e linguagem, em participantes pertencentes à faixa etária de cinco a 21 anos. Embora o procedimento original englobe uma faixa etária pertencente à fase pré-escolar, neste estudo foi realizada avaliação na faixa etária compreendida entre sete e dez anos de idade, que, apesar de não ter sido realizada a caracterização dos participantes pelo nível socioeconômico, se mostrou sensível para caracterizar o desempenho da linguagem na população estudada, pertencente a escolas públicas e particulares da rede de ensino. Também pertencendo ao processo de adaptação transcultural, porém referindo-se apenas como um instrumento de avaliação da compreensão, apresenta-se o Test for Reception of Grammar - 2 (TROG-2), traduzido e adaptado para o Português brasileiro por Pereira et al. (2009), aplicado em participantes com idade entre 22 e 60 anos, apesar de o instrumento original ter sido proposto para a faixa etária de três a 90 anos. 31 Logo, apenas sete dos instrumentos citados – TVExp, ABFW, PODCLE-r, PROC, TELD, TOLD-P:3 e o TROG ─ permitiriam avaliar habilidades da linguagem falada de crianças em idade pré-escolar, apesar de os testes TELD, TOLD-P:3 e TROG estarem disponíveis somente para grupos específicos de pesquisadores que mantêm a autorização de uso, o que demonstra a carência de instrumentos construídos ou adaptados para essa faixa etária, no Brasil. Esse resultado é discrepante quando comparado ao encontrado na pesquisa realizada no site American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), obtendo-se um número aproximado de 60 instrumentos disponíveis a serem utilizados na avaliação de linguagem receptiva ou expressiva de crianças pré-escolares em língua inglesa. 32 1.2 PRESCHOOL LANGUAGE ASSESSMENT INSTRUMENT: APRESENTAÇÃO __________________________________________________________________ 33 1.2.1 Constructo teórico do Preschool Language Assessment Instrument O PLAI foi desenvolvido a partir do modelo teórico de representação dos processos comunicativos, proposto por Moffet (1968), com o objetivo de subsidiar a avaliação da linguagem falada, bem como do processo de intervenção das alterações na linguagem. Esse modelo parte da existência de elementos essenciais, os quais são considerados relevantes para a comunicação: a díade falante-ouvinte, o tema e o nível de discussão, sendo que o foco do PLAI-2 recai sobre o terceiro componente. A explanação em torno do terceiro componente apresenta como justificativa a maneira como é formulada a linguagem. Neste sentido, foram elaboradas demandas de abstração em uma escala que contém quatro níveis principais. No mais baixo nível de abstração há uma distância mínima entre a linguagem e a percepção, assim sendo conforme a demanda por abstração aumenta a distância entre os dois componentes aumenta, de modo que no nível mais alto é necessário que as crianças avaliem suas percepções e cheguem a níveis de julgamento e raciocínio baseados na informação específica disponível no momento (Figura 1) (BLANK et al, 1978a). Figura 1 - Representação esquemática da relação entre a percepção e a linguagem. Fonte: Adaptado de Blank et al., 1978a - Manual do Aplicador (PLAI-2) Os níveis de abstração são classificados em: Escolha, Análise seletiva, Análise Perceptual, e Raciocínio (MOFFET, 1968; BLANK et al., 1978a), e serão discorridos a seguir. Muitas perguntas tipicamente colocadas às crianças na pré-escola são basicamente do primeiro nível de abstração, ou seja, de Escolha. Perguntas ou diretivas, tais como “o que é isso” ou “encontre um...” ou “o que você vê”, exigem maior entrelaçamento entre linguagem 34 e percepção, em que a criança deve mapear a sua linguagem na percepção do que está capturando ou capturou (BLANK et al, 1978a). O segundo nível de abstração – Análise Seletiva – tem o propósito de representar demandas que exigem que as crianças resistam a suas atrações com relação às percepções globais e, ao invés disso, respondam seletivamente a diferentes aspectos ou características de uma situação. Algumas das demandas típicas que podem ser impostas sobre as crianças neste nível são para que elas atendam a atributos (e.g. “que cor é essa”, ou “que formato é esse”). Dessa forma, esse nível exige que as crianças participem de uma forma mais controlada e detalhada. No entanto, essas exigências não permitem inferências além da informação perceptual que é ou que tenha sido disponibilizada (BLANK et al., 1978a). O terceiro nível de abstração – Análise Perceptual – exige que a criança rejeite a caracterização da percepção ou ação característica apresentadas a ela, e manipule internamente ou refaça suas experiências para que estas estejam de acordo com as demandas verbais da tarefa (e.g. “mostre a parte do ovo que nós não comemos”). Já o quarto e último nível de abstração, o Raciocínio, lida com as demandas que levam a crianças a pensar sobre o que pode, poderia ou iria acontecer (e.g. “Como você sabe que o garoto está infeliz?”; “O que vai acontecer com os biscoitos se forem colocados no forno?”). 1.2.2 Primeira versão do Preschool Language Assessment Instrument - PLAI O Preschool Language Assessment Instrument – PLAI é um teste internacional e reconhecido, construído nos Estados Unidos da América (EUA), para avaliar habilidades da linguagem falada de participantes em idade pré-escolar. A primeira versão – de Blank, Rose e Berlin – foi criada em 1978, e considerada, pelos autores, como um teste experimental pelo fato de não ter sido padronizado para a população dos EUA. O objetivo do PLAI é investigar habilidades relevantes da linguagem, de modo a contemplar, em um mesmo instrumento, aspectos pragmáticos, conceituais e linguísticos da comunicação, em idade pré-escolar (HAYNES, 1985) e, consequentemente, identificar o mais cedo possível as crianças com dificuldades de linguagem. Os estímulos para essa versão estavam dispostos em um caderno com 60 itens. O livro de figuras era composto, em sua maioria, de desenhos em preto e branco, representando objetos, pessoas e situações. O avaliador apresentava o desenho mais apropriado para a criança e fazia perguntas do tipo “o que”, “quando” e “por que”, e lhe apresentava sentenças abertas, como “me explique”. Alguns dos itens não possuíam desenhos relacionados, dessa forma, o avaliador pedia à criança que fornecesse palavras apropriadas para completar uma 35 frase ou responder a uma pergunta sobre alguma experiência de conhecimento geral (BLANK et al., 1978b). Na época em que foi publicado, o PLAI representava uma síntese da pesquisa inicial, de autores que afirmavam que as crianças usavam a linguagem na resolução de problemas, mais cedo do que se havia presumido anteriormente. Com a finalidade de investigar as habilidades de resolução de problemas, os autores propuseram um modelo de comunicação focado na troca comunicativa professor-criança, o qual foi adaptado para a população pré- escolar de um modelo pré-existente, proposto por Moffet, em 1968. O instrumento foi, então, baseado em avaliações da capacidade de uma criança para responder a diferentes níveis de habilidade comunicativa, diferenciando esse instrumento de avaliação dos outros disponíveis naquele momento. Embora o PLAI – primeira versão - tenha sido publicado em 1978 (Blank; Rose; Berlin), estudos atuais ainda são publicados com esse instrumento (PLESSOW-WOLFSON; EPSTEIN, 2005; MORDESON et al., 2013), na área da Fonoaudiologia e educação infantil. Com o objetivo de melhorar e atualizar esse instrumento, foi publicada a segunda versão, o Preschool Language Assessment Instrument (PLAI-2), pelos mesmos autores (Blank; Rose; Berlin), em 2003. 1.2.3 Características da segunda versão (PLAI-2) O PLAI-2 foi padronizado a partir de uma amostra estratificada de 463 crianças, de 16 estados norte-americanos, entre três anos e cinco anos e 11 meses de idade. As modificações e melhorias realizadas para essa versão são: 1. Apresentação de fatores socioeconômicos, gênero e outras variáveis da amostra normativa. 2. A informação normativa foi estratificada por idade. 3. Coeficientes de confiabilidade são fornecidos para os subgrupos, bem como para a amostra normativa por inteiro. 4. Muitos estudos de validação foram realizados: o teste é válido para uma grande variedade de subgrupos, bem como para a população em geral. 5. Os desenhos originais em preto e branco da primeira versão foram substituídos por ilustrações coloridas nesta versão. 6. Cada item do teste foi reavaliado para encontrar e eliminar itens potencialmente tendenciosos. 7. Acrescentaram-se duas classificações de resposta: linguagem receptiva e expressiva. 36 8. O Subteste Receptivo é abrangente e confiável para avaliar crianças com fala limitada. 9. Escalas pragmáticas foram adicionadas para permitir que avaliadores obtenham uma compreensão mais completa do desempenho de uma criança. 1.2.4 Usos do PLAI-2 O PLAI -2 possui seis principais objetivos: 1. Identificar as crianças que estão significativamente abaixo dos seus pares na linguagem falada; 2. Delinear os pontos fortes e fracos das crianças em resposta a diferentes níveis de habilidade comunicativa; 3. Documentar o progresso no desenvolvimento da linguagem em programas especiais de intervenção; 4. Determinar as diferenças entre as habilidades de linguagem receptiva e expressiva; 5. Avaliar as habilidades receptivas em crianças que não utilizam a linguagem expressiva; 6. Medir as habilidades da linguagem falada para estudos e pesquisas. 1.2.5 Apresentação de estudos que utilizaram o Preschool Language Assessment Instrument – Segunda Edição Várias pesquisas internacionais têm sido realizadas com o PLAI-2, cuja aplicação contempla propósitos distintos. Dentre eles, destaca-se o intuito do controle de programas de intervenção de linguagem em pré-escolares, como exemplificam alguns estudos. Newel et al. (2005) utilizou, junto a outros instrumentos, o PLAI-2 como controle evolutivo dos aspectos da linguagem de pré-escolares com desenvolvimento típico de linguagem, visando auxiliar na identificação dos fatores que têm impacto sobre a capacidade das crianças de aprender a interagir socialmente, antes de entrarem no Jardim da Infância. Hay et al. (2007) comparou dois grupos de pré-escolares que apresentavam riscos para dificuldades de aprendizagem, mostrando que a intervenção estruturada com base nas habilidades de linguagem falada contempladas pelo PLAI-2 reflete no aprendizado da leitura e da escrita, e que a intervenção direcionada para os aspectos de decodificação fonema-grafema interfere no processo de aprendizagem da escrita, assim como enfatizou a importância de programas de intervenção multidimensionais. O PLAI-2 também tem sido aplicado em estudos envolvendo crianças com problemas neurodesenvolvimentais. O estudo de Neufeld et al. (2008), por exemplo, demonstrou que 37 crianças submetidas à interrupção do funcionamento arterial, para correção de transposição de grandes artérias, apresentam alterações de linguagem quando comparadas ao seu grupo etário de referência, além de manifestarem alterações cognitivas, tanto nas habilidades motoras quanto nos desempenhos acadêmico e comportamental. Boit (2010) comparou o desempenho da linguagem de pré-escolares de baixa renda submetidos a dois diferentes programas de intervenção, aplicados durante oito semanas, mostrando que os resultados da intervenção com o modelo dialógico – do PLAI-2 – trouxeram melhorias significativas no desempenho da linguagem. O estudo de Kinsey (2010) trouxe uma reflexão sobre as características psicométricas de 15 instrumentos norma-referenciados, incluindo dentre eles o PLAI-2. O estudo utilizou 11 critérios relacionados à documentação do Manual do instrumento, tais como confiabilidade e validade na revisão. Como resultado, o estudo identificou que o PLAI-2 apresentou descrição da amostra padronizada, validade de conteúdo, média e desvio padrão, descrição dos procedimentos do teste, descrição sobre as qualificações do examinador e validade de constructo, aspectos esses relevantes na avaliação do instrumento, caracterizando-o como adequado para uso. O estudo de Robinson (2011) apresentou dados de participantes com desenvolvimento típico de linguagem que participaram de outros estudos em que foi utilizado o PLAI-2. Os autores analisaram dados de 40 participantes, 24 do gênero masculino e 16 do gênero feminino, com idades variando entre cinco anos e cinco meses a cinco anos e 11 meses. O resultado do estudo mostrou que tanto o desempenho no subteste de análise perceptual quanto o de raciocínio estavam prejudicados para crianças de cinco anos de idade, sendo justificado pelo autor como sendo decorrente de diferenças na pré-escola ou nos sistemas de ensino. Outro estudo recente, com o objetivo de desenvolver um instrumento para avaliar as habilidades do vocabulário receptivo de crianças na Turquia (BERUMENTE, 2013), citou o PLAI-2 como um dos procedimentos relevantes para esse objetivo, não sendo realizada análise específica sobre o instrumento ou sua utilização em processos diagnósticos. 38 2 JUSTIFICATIVAS ___________________________________________________________________________ 39 Conforme mencionado, o contexto nacional ainda apresenta carência de instrumentos formais para avaliação da linguagem falada de crianças em idade pré-escolar, disponíveis, comercialmente construídos ou adaptados para nossa cultura linguística, seja no contexto clínico ou científico. O PLAI-2 é um instrumento utilizado e reconhecido internacionalmente por fonoaudiólogos e profissionais que atuam na área da comunicação humana e seus distúrbios, e permite investigar aspectos importantes dos primeiros intercâmbios comunicativos, ou seja, demonstra como uma criança integra os componentes cognitivos, linguísticos e a pragmática para atender à demanda da troca comunicativa entre adulto e criança. Logo, seus objetivos contemplam os seguintes pontos: identificar as crianças que estão significativamente abaixo de seus pares na linguagem pré-escolar; delinear os pontos fortes e fracos das crianças, em resposta a diferentes habilidades, seja em nível receptivo ou expressivo; documentar o progresso no desenvolvimento da linguagem, como consequência de programas especiais de intervenção; determinar as diferenças entre as habilidades de linguagem receptiva e expressiva; avaliar as habilidades receptivas em crianças que não utilizam a linguagem expressiva; e medir habilidades comunicativas para pesquisas. Dentre as facilidades de uso e suas vantagens, seja no contexto clínico ou de pesquisa em linguagem falada, pode-se citar o fato de que o PLAI-2 é composto de estímulos verbais curtos, dados em voz alta pelo examinador. Requer respostas verbais curtas por parte da criança, que, por sua vez, favorece rápida aplicação, o que auxilia nas atividades de pesquisa com o teste. Outra vantagem é que o teste não se restringe a avaliar somente as respostas verbais, mas, também, a expressão facial, gestual ou linguagem corporal, fornecendo informações extralinguísticas, relevantes no processo de comunicação. A primeira versão – PLAI – foi amplamente utilizada com falantes do Inglês (nos Estados Unidos e no Canadá) e com falantes do Espanhol (na Espanha). Mais recentemente, o uso da segunda versão – PLAI-2 – tem apresentado resultados significativos em pesquisas publicadas em revistas internacionais reconhecidas na área da linguagem, por pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá. A maioria dos trabalhos que o utilizam como instrumento de avaliação e intervenção tem sido direcionada para a identificação de problemas relacionados à linguagem falada e sua possível relação com dificuldades escolares. Justifica- se, assim, o interesse em adaptar o PLAI-2 para os pré-escolares, falantes do Português do Brasil, para aplicação nos estudos fonoaudiológicos brasileiros. Para isto, a tradução, a retrotradução e a adaptação são as etapas inicias para que essa meta seja atingida. 40 3 OBJETIVOS E HIPÓTESES ___________________________________________________________________________ 41 O objetivo geral deste estudo foi realizar a tradução e a adaptação para o Português do Brasil do instrumento Preschool Language Assessment Instrument –PLAI-2. Por questões metodológicas, este estudo foi dividido em duas etapas, pautadas por seus objetivos específicos e hipóteses, apresentadas a seguir. ETAPA 1 Objetivo específico: Realizar a tradução e a adaptação do PLAI-2 para o Português do Brasil. Hipótese: A versão traduzida e adaptada para o Português do Brasil poderia ser realizada somente com poucos ajustes em relação à versão original em inglês. ETAPA 2 Objetivo específico: Aplicar a versão adaptada do procedimento com o intuito de investigar o perfil dos participantes, de acordo com o propósito do PLAI-2. Hipótese: A versão adaptada manteria as características do procedimento original e identificaria o perfil das habilidades comunicativas dos participantes. 42 4 MATERIAL E MÉTODOS ___________________________________________________________________ 43 4.1 Aspectos Éticos Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília (Parecer do projeto nº0595/2012) (Anexo A). Todos os participantes obtiveram o consentimento dos pais mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido elaborado para fins específicos desta pesquisa, segundo resolução do Conselho Nacional de Saúde - CNS/196 sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos e recomendações do Comitê de Ética em Pesquisa da UNESP-Marília. 4.2 Descrição do Procedimento PLAI-2 O PLAI-2 é uma ferramenta administrada individualmente, formado por 70 estímulos, possuindo dois tipos de avaliação: a avaliação padronizada, ou seja, a norma referenciada, que apresenta resultados em termos de pontuação padrão para os subtestes (chamada de pontuações em escala) e uma pontuação geral (chamada de Índice de capacidade da linguagem); a avaliação não padronizada, ou seja, informal, útil para caracterizar os comportamentos de uma criança em relação à linguagem pragmática. O PLAI-2 é composto por um manual, um álbum de figuras e dois formulários de resposta, ilustrados na Figura 2. Figura 2 - Foto ilustrativa do Kit completo do PLAI-2. Fonte: GanderPublishing 4.2.1 Avaliação Padronizada Seis subtestes foram desenvolvidos, conforme citado anteriormente, para avaliar as habilidades comunicativas de uma criança, envolvendo quatro diferentes níveis de habilidade comunicativa e dois modos de resposta: 44 a. Escolha: refere-se a características estritamente ligadas aos objetos, devendo ser realizada pela criança a nomeação de objetos, entidades ou ações selecionados, ou executar imitação; b. Análise seletiva: avalia a capacidade de uma criança para responder a perguntas sobre atributos específicos de objetos e integrar diversos elementos em uma ideia unificada; c. Análise perceptual: é a capacidade da criança de se desfazer dos impulsos perceptuais e se adequar à ordem, ou seja, nomear ou selecionar aspectos perceptivamente sutis, mas significantes, de objetos, entidades e ações com base em restrições linguísticas; d. Raciocínio: a criança deverá nomear ou selecionar objetos, características, funções e classificações para prever resultados e justificar as respostas. Tais níveis refletem sobre a linguagem falada em sala de aula, onde os vários níveis constantemente se entrelaçam. A aplicação do teste também é recomendada para as crianças que não apresentam linguagem expressiva, administrando-se somente o nível receptivo. No entanto, conforme exposto nos critérios de inclusão deste estudo, a aplicação foi realizada somente em crianças com desenvolvimento típico de linguagem. Ainda neste aspecto relacionado à avaliação padronizada, existem subtestes distribuídos proporcionalmente entre os itens de linguagem receptiva e expressiva. O item Linguagem Receptiva refere-se à capacidade da criança em atender a tarefas que exigem uma resposta não verbal, e a Linguagem Expressiva refere-se à capacidade da criança para responder a tarefas que exigem uma resposta verbal. 4.2.1.1 Pontuação Padronizada das Respostas Critérios específicos de pontuação e exemplos de respostas são listados ao lado de cada item no Livro Ilustrado. Deve-se, portanto, marcar 1 para cada resposta correta e 0 para cada resposta incorreta ao lado do item no livro de registros. Cerca da metade dos itens do teste exige apenas respostas não verbais, ou seja, habilidade receptiva, como apontar para uma imagem, seguir as instruções e imitar determinadas ações. Além dos itens que requerem apenas uma resposta não verbal, o PLAI-2 contém itens que requerem uma resposta verbal. Para esses itens, também, usa-se critérios padronizados de pontuação e exemplos listados ao lado do item no Livro Ilustrado. Após a conclusão do teste e marcação de todos os itens, as pontuações brutas dos itens devem ser computadas antes que as pontuações padronizadas dos subtestes possam ser determinadas, as quais serão usadas para formar a pontuação em escala, ranks percentuais e equivalentes de idade, utilizando-se as tabelas anexas no manual do avaliador. 45 Em síntese, sobre a análise formal, constata-se que o PLAI-2 permite gerar quatro tipos de pontuações normativo-referenciadas: pontuação em escala, pontuação da habilidade de linguagem, rankings percentuais e idade equivalente. (1) Pontuações padronizadas fornecem o desempenho da criança nos subtestes, sendo intituladas pontuações em escala. As pontuações brutas são convertidas em pontuações em escala, assim como essas são transformadas em classificações descritivas por meio de tabelas. (2) A pontuação mais confiável, segundo os autores, para o PLAI-2 é o valor da habilidade comunicativa. Tal pontuação é obtida por meio da soma das pontuações em escala dos itens receptivo e expressivo. (3) Rankings percentuais são pontuações indicativas da porcentagem de pontuações normativas de um determinado resultado bruto. (4) Na pontuação nomeada por idade equivalente, para o PLAI-2, são consideradas "idades da habilidade de linguagem", "idades de linguagem receptiva" ou "idades de linguagem expressiva", e são apresentadas em termos de anos e meses. Porém, não é disponibilizada essa pontuação para a “habilidade comunicativa”. Já para a classificação descritiva do desempenho ─ muito pobre, pobre, abaixo da média, média, acima da média, superior e muito superior ─ é realizada a conversão da pontuação em escala e escore da habilidade comunicativa em classificações descritivas. 4.2.1.2 Avaliação Não Padronizada O teste contempla, ainda, duas análises suplementares fornecidas como acompanhamento para os subtestes do PLAI-2, envolvendo adequações de resposta e comportamentos interferentes. O avaliador ganha informações adicionais a partir dessas análises, que irão melhorar a interpretação do desempenho da criança no teste e ajudar a formular um plano de intervenção de linguagem. Essas análises são brevemente descritas a seguir. a. Adequação de resposta: avalia a qualidade do desempenho uma criança em cada item expressivo de acordo com uma escala de quatro categorias: Totalmente adequada, Aceitável, Ambígua ou Inadequada. b. Comportamentos interferentes: avalia os comportamentos interferentes de uma criança, que ocorrem enquanto esta responde à administração de um item. Três comportamentos são classificados como apáticos: não responder a pergunta, atrasos na resposta e resposta através de sussurros; e três comportamentos são classificados como 46 impetuosos: realizar ações desnecessárias, usar de uma linguagem excessiva, responder em voz alta. Para a análise informal, deve-se realizar o percentil referenciado nos critérios gerais do instrumento original. 4.2.2 Livro de Registro do PLAI-2 O Desempenho individual do teste de uma criança é preenchido e arquivado no livro de registros do PLAI-2. Vale ressaltar que o PLAI-2 possui dois diferentes livros de registro, cujo uso é determinado pela idade da criança, ou seja, um folheto é para uso com crianças de três anos de idade e outro folheto é para uso com crianças entre quatro e cinco anos de idade. Embora cada livro de registros contenha os mesmos itens na mesma ordem, pelo fato de crianças de três anos de idade possuírem habilidades limitadas nos dois níveis mais altos de habilidade comunicativa, os itens desses dois subtestes são combinados para formar uma Análise Perceptual e Raciocínio. Ambos os livros fazem uso dos mesmos itens para formar os subtestes Receptivo e Expressivo. Cada livro é composto por sete seções: - A Seção I fornece espaço para o preenchimento de dados relevantes sobre a criança e o avaliador. Essas informações incluem o nome da criança, gênero, idade, escola e nome dos pais, bem como o nome e título do avaliador, e motivo de encaminhamento. - Na Seção II o avaliador registra os subtestes e compõe os escores por meio da pontuação bruta da criança, pontuação em escala, ranking percentual, análise descritiva e equivalente de idade para cada subteste. - A Seção III permite o registro de informações que possam afetar significativamente os resultados do teste (e.g. local de testagem, nível de ruído, interrupções, distrações, luz, temperatura e outras considerações). - A seção IV apresenta o perfil dos Escores Padronizados, ou seja, há um espaço para que sejam exibidos graficamente os resultados do PLAI-2. Um “X” é colocado no ponto que corresponde à pontuação padronizada dos subtestes e da habilidade de linguagem da criança. Ao se verificar o perfil, os avaliadores podem obter uma estimativa aproximada dos pontos fortes e fracos da criança nos subtestes. - A seção V permite o registro de desempenho dos itens. - A seção VI apresenta o local para compor o escore bruto da avaliação padronizada. - A seção VII apresenta o resumo dos procedimentos não padronizados (e.g. resumo da adequação expressiva das respostas e resumo dos comportamentos interferentes) 47 4.2.3 Aplicação Geral Não há limite de tempo para aplicação do teste, porém, independentemente da idade, o teste deve ser iniciado com o primeiro item e finalizado quando o último item for administrado. Todos os itens devem ser aplicados, pois não são organizados em ordem de fácil a difícil. Deve, ainda, ser evitada a repetição da ordem correspondente aos itens. 48 4.3 Etapa 1: Tradução e Adaptação para o Português do Brasil do PLAI-2 ___________________________________________________________________ 49 4.3.1 Processo de tradução e adaptação do PLAI-2 O processo de tradução e adaptação do PLAI-2 para o Português do Brasil foi realizado mediante autorização da Editora Norte-Americana PRO-ED, obtida em Julho de 2012. A partir da autorização, foi iniciado o processo de tradução e adaptação do instrumento, realizado nas seguintes etapas consideradas fundamentais, conforme sugeridas pelos estudos de adaptação e validação de instrumentos (GUILLEMIN et al., 1993; HERDMAN et al., 1998; BEATON et al., 2000; WANG et al., 2006; REICHENHEIM; MORAES, 2007; GJERSING et al., 2010): (1) Tradução da versão original (inglês) para o Português do Brasil, realizada por dois tradutores independentes, bilíngues e juramentados, os quais foram orientados quanto ao objetivo da pesquisa. (2) Comparação das duas versões traduzidas em que foram analisados, comparados e sintetizados os resultados das traduções, buscando as disparidades e resolvendo-as por meio de discussão entre fonoaudiólogos especialistas na área, com base na avaliação da equivalência conceitual sobre a exploração e correspondência de conceitos em ambas as culturas, levando-se em consideração a população envolvida. (3) A retrotradução da versão síntese foi realizada por outros dois tradutores juramentados, que não tiveram acesso à versão original do procedimento e realizaram a tradução para a língua original (Inglês), a partir da versão final em Português. (4) Revisão e adaptação da versão traduzida para o Português, realizada por profissionais (Fonoaudiólogos) com conhecimento no uso de testes de linguagem infantil, com o intuito de garantir as equivalências semântica, idiomática e conceitual, resultando na versão adaptada pré-final do PLAI-2. (5) O teste da versão pré-final constituiu-se da aplicação da versão pré-final do instrumento, em um grupo piloto de 30 participantes selecionados a partir dos mesmos critérios, a serem apresentados a seguir, do grupo amostral, com o propósito de verificar as equivalências técnica (forma de coleta) e de critério (interpretação normativa), além de detectar possíveis incoerências entre a versão original e a versão alvo. 4.3.2 Grupo Piloto Como referido anteriormente, a seleção do grupo piloto seguiu os mesmos critérios estabelecidos para o grupo amostral, ou seja, os participantes foram selecionados em EMEIs- 50 Creches no Município de Marília, após a autorização obtida da Secretaria de Educação do Município e posterior apresentação do projeto e discussão com os diretores responsáveis pelas instituições. As EMEI-s Creches foram selecionadas após análise dos diversos locais do município, para que as diferentes classes sociais fossem representadas na amostra. Os critérios de inclusão para esta pesquisa foram: autorização dos responsáveis mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; história negativa de alteração sensorial, visual e auditiva, alteração neuropsicomotora; ausência de alterações de linguagem, confirmadas pelo desempenho na avaliação fonoaudiológica clínica; investigação dos níveis mínimos de respostas auditivas verificadas por meio de triagem com o Audiômetro Pediátrico. 4.3.2.1 Sujeitos Participaram do grupo piloto 30 participantes para a aplicação do pré-teste os quais foram subdivididos em três grupos de 10, a partir da faixa etária, assim como proposto na versão original apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Distribuição dos participantes do grupo piloto por idade e gênero Grupos Idade Número de participantes Masculino Feminino N N N GI 3 anos a 3 anos e 11 meses 10 10 10 6 7 4 4 3 6 GII 4 anos a 4 anos e 11 meses GIII 5 anos a 5 anos e 11 meses 4.3.3 História clínica, triagem fonoaudiológica e especificação do nível socioeconômico dos participantes. A coleta de dados foi precedida pela aplicação de dois questionários: um para obter informações sobre a história clínica dos participantes; e outro sobre Critério de Classificação Econômica Brasil, da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2011), para obter a classificação socioeconômica dos participantes e caracterização da amostra. O questionário sobre a história clínica foi utilizado para o levantamento de possíveis queixas ou história pregressa de intervenção decorrente de alterações de fala e linguagem, dificuldades no desenvolvimento neuropsicomotor, história clínica de alterações neurológicas e/ou sensoriais, sendo utilizado para fins de inclusão ou exclusão do participante na casuística. 51 A classificação socioeconômica dos participantes variou dos níveis A2 a D, ficando excluídas as classes A1 e E. A Tabela 2 apresenta a distribuição dos três grupos por classe socioeconômica. Tabela 2. Distribuição dos participantes do grupo piloto por classe socioeconômica - ABEP (2011) Grupos Classificação Socioeconômica A1 A2 B1 B2 C1 C2 D E N N N N N N N N GI - 1 - - - 1 1 1 1 2 1 2 2 2 4 3 5 3 2 - - - GII - GIII - 4.3.4 Critério de Aplicação do PLAI-2 (Pré-Teste) Todos os 70 estímulos do teste foram aplicados nos participantes, independentemente da idade (três, quatro e cinco anos), segundo recomendações da versão original, em que o tempo estimado de aplicação foi de aproximadamente 40 minutos. 4.3.5 Resultados e Discussão 4.3.5.1 Tradução e Adaptação do PLAI-2 O processo de adaptação do PLAI-2 foi realizado seguindo etapas consideradas fundamentais, conforme sugeridas pelos estudos de adaptação e validação de instrumentos (GUILLEMIN et al., 1993; HERDMAN et al., 1998; BEATON et al., 2000; REICHENHEIM et al., 2007). A tradução da versão original (Inglês) para o Português do Brasil foi realizada por dois tradutores independentes e bilíngues, orientados quanto ao objetivo da pesquisa, levando em consideração os fatores socioculturais e a linguagem utilizada no instrumento. Após esse processo, foi elaborada uma síntese das traduções, considerando-se a tradução que melhor atendia ao vocabulário das crianças em idade pré-escolar, a partir da discussão entre a pesquisadora, coorientadora e orientadora, e ponderação do vocabulário de procedimentos construídos no Brasil (e.g. ABFW e TVExp), resultando em uma versão de consenso. Posto isso, foi realizada a retrotradução, a partir da versão de consenso, por um terceiro tradutor não conhecedor da versão original e que não participou da etapa de tradução da versão original (Inglês) para o Português. 52 Como resultado, obteve-se a versão retrotraduzida para que pudesse ser comparada à versão original do procedimento, com o intuito de garantir as equivalências semântica, de conteúdo e conceitual, resultando na versão pré-final do PLAI-2. Ressalta-se que os itens traduzidos, principalmente aqueles que apresentaram maior dificuldade para transposição para a língua alvo, foram analisados também com o auxílio de um linguista. A Hipótese de que a versão traduzida e adaptada para o Português do Brasil pudesse ser realizada com pequenos ajustes no procedimento, em relação à versão original em Inglês, foi confirmada, conforme apresentação dos resultados a seguir. A presente adaptação apresentou um nível bastante satisfatório de equivalência semântica, entretanto foram necessárias adaptações pertinentes durante o processo, com o intuito de adequar as ordens em âmbito tanto gramatical – por causa das expressões formais não utilizadas para o vocabulário infantil – quanto idiomático – quando não há a possibilidade de palavras ou expressões serem transpostas de uma língua para outra pelo fato de a frequência de uso da expressão ser baixa, remeter apenas a usos mais formais da linguagem ou não fazer sentido –, respeitando-se as regras gramaticais do Português Brasileiro e atentando-se aos fatores socioculturais e faixa etária para que fossem facilmente compreendidas pelos participantes. Tais modificações serão listadas a seguir. Item 9: “Which of these could we use to correct the glass so the juice would stay in.” Modificação: “... nós podemos usar... para o suco não cair”. Nota: O tempo e o modo verbais foram adequados à ordem em relação à frequência de apresentação destes itens para a idade pré-escolar, no Brasil. A modificação semântica na frase foi necessária porque a tradução resultou em expressões bastante formais para o vocabulário infantil. Item 11: “This pot gets very hot and the lady doesn´t like to use it. One of these would be better for her to use. Show me which one that would be” Modificação: “... Mostre para mim qual delas é.” Nota: Neste caso, ambas as traduções “Mostre-me”, “Mostre para mim” ou “Me mostre” estão adequadas, porém optou-se pela segunda opção em decorrência da frequência de exposição à sentença, que representa o registro mais informal de uso da linguagem. Item 15: “I want you to find something we could cut with.” Modificação: “Encontre alguma coisa que nós podemos usar para cortar.” 53 Nota: Neste caso, foi realizada uma modificação na estruturação sintática da frase, adequando-a da maneira como normalmente são feitas as solicitações para crianças em contexto informal. Item 16: “A man had trouble with his car. He brought it to the garage and said to a man in the garage…” Modificação: Houve a modificação semântica de “...man in the garage...” para “...mecânico...”. Nota: Optou-se por essa modificação dado o contexto sociocultural no qual nem sempre existe a diferença entre ser recepcionista/administrador e ser mecânico. Esse item foi aplicado no grupo piloto em suas duas formas, ou seja, utilizando ambas as expressões, com intuito de verificar o desempenho dos participantes mediante ao uso de uma ou outra expressão, sendo possível observar que, quando utilizada a expressão “mecânico”, houve melhor índice de acertos. Item 26: “The lady wants to carry all these things into the next room at the same time. Show me all the things she could use to do that.” Modificação: “... Mostre para mim todas as coisas que ela pode usar para fazer isso.” Nota: O tempo verbal foi adequado à ordem em relação à frequência de apresentação destes itens para a idade pré-escolar, no Brasil. Item 67: “This is a raincoat. Its name is made up of two words: rain and coat. This is a cupcake. Its name is made up of two words: cup and cake. This is a starfish. Its name is made up of two words: star and fish.” “Now listen. Tell me what two words toothbrush is made us of.” FONTE: Ilustração original – Livro Ilustra