UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL EXIGÊNCIA DE PROTEÍNA PARA CRESCIMENTO DE CABRITOS SAANEN MACHOS E FÊMEAS Oscar Boaventura Neto Médico Veterinário JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL 2011 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CAMPUS DE JABOTICABAL EXIGÊNCIA DE PROTEÍNA PARA CRESCIMENTO DE CABRITOS SAANEN MACHOS E FÊMEAS Oscar Boaventura Neto Orientadora: Profª. Dra. Izabelle A. M. A. Teixeira Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Campus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Zootecnia (Produção Animal). JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL Fevereiro de 2011 Boaventura Neto, Oscar B662e Exigência de proteína para crescimento de cabritos Saanen machos e fêmeas / Oscar Boaventura Neto. – – Jaboticabal, 2011 ix, 63 f.; 28 cm Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2011 Orientadora: Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira Banca examinadora: Telma Teresinha Berchielli, Márcia Helena Machado da Rocha Fernandes Bibliografia 1. Caprinos. 2. Composição corporal. 3. Fase inicial. 4. Mantença. 5. Sexo. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 636.39 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. DADOS CURRICULARES DO AUTOR OSCAR BOAVENTURA NETO – filho de João Rubens Boaventura e Rosa Maria Morais de Almeida Mesquita Boaventura, nascido em Aracaju, Sergipe, no dia 17 de junho de 1983. Em agosto de 2003, iniciou o Curso de Graduação em Medicina Veterinária, na Faculdade Pio Décimo, Aracaju-SE, onde fundou o Grupo de Pesquisa e Extensão em Medicina Veterinária (GEXPE-VET), fez estágio curricular no setor de caprinocultura da Unesp/Jaboticabal, graduando-se em agosto de 2008. Em setembro de 2008, iniciou treinamento de aperfeiçoamento no setor de caprinocultura da Unesp/Jaboticabal como bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em março de 2009 iniciou o curso de Pós-Graduação em Zootecnia, em nível de Mestrado, Área de Concentração em Produção Animal, na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/Unesp - Campus de Jaboticabal sob orientação da Profª. Dra. Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira, durante o mestrado foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e fez estágio na Università Degli Studi di Sassari – Itália, sob orientação do Prof. Dr. Antonello Cannas. No final do ano de 2010 participou do processo seletivo para o curso de Doutorado na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/Unesp - Campus de Jaboticabal e na Università Degli Studi di Sassari, sendo admitido para início do curso em março de 2011, em ambas instituições. “A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.” AAlbert Einstein DDedico... Aos meus amados pais, João Rubens e Rosa Maria, AMO VOCÊS!!! Ofereço... Aos meus familiares, pelo amor, compreensão, dedicação, apoio e por tantos sacrifícios... À distância e a saudade só fizeram aumentar meu amor e admiração por vocês... AGRADECIMENTOS A Deus, pela força, coragem e principalmente paciência para enfrentar os momentos mais difíceis e continuar seguindo meu caminho. Aos amigos e ex-professores do Departamento de Medicina Veterinária da Faculdade Pio Décimo, Msc. Samuel Figueiredo de Souza, Msc. Sílvia Letícia Bonfim Barros, Bernadeth Moda e ao Msc. Pablo Leignghen por terem me proporcionado os primeiros contatos e o interesse pela pesquisa. A Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Jaboticabal, pela oportunidade de realização do curso de Mestrado. A Profª. Dra. Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira pela orientação, prestimosos ensinamentos, profissionalismo, oportunidades e por tudo que aprendi durante o curso. A Samuel Figueiredo de Souza, Daiana de Oliveira e aos estagiários pela execução da parte experimental no campo...valeu pela grande força! A Lisi e Fernanda pela ajuda indispensável nas análises laboratoriais e de dados...com certeza não chegaria ao fim sem a colaboração de vocês! VALEUUUU! A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio concedido para realização do experimento e pela bolsa de estudos. Aos Professores Dr. Kleber Tomas de Resende e Drª. Ana Cláudia Ruggieri pelas sugestões no Exame de Qualificação e no esclarecimento das dúvidas. Aos Professores do Departamento de Zootecnia da FCAV pelos ensinamentos transmitidos em suas disciplinas. Aos amigos do Laboratório de Nutrição Animal (LANA), Dra. Ana Paula Sader, Dra. Juliana, Sr. Orlando (do café) e a Dra. Roberta Canesin pela ajuda, paciência, ensinamentos e por tantas risadas que fizeram o trabalho ficar mais prazeroso. A secretária do Departamento de Zootecnia da FCAV, Adriana pela ajuda nas diversas orientações burocráticas. Aos amigos, Dr. Fernando Baldi e Dr. Normand St. Pierre, pelo auxílio nas análises estatísticas. Ao Dr. Antonello Cannas, Dra. Ana Francesconi, Dr. Kleber Tomas de Resende e a Lisi pelos ensinamentos, acolhida e vários momentos de descontração na Itália... A Dra. Karoll Alfonso pelas sugestões que chegaram em boa hora, obrigado! Aos amigos sergipanos Chiquinho Passos, Ricardo (olho de pitomba), Natália, Mariana, Izabela, Murilo, Cesar, Kleber Quintela, Brunno, Álvaro, Carlos D`Alencar, Márcio (Moral) e Ednaldo (Júnior) por toda a força e apoio dado mesmo de tão longe... Aos irmãos da República Kasa Verde (RKV), Guilherme Venturini (cabeça de cone), Marcos Buzanskas, Diego (Mingau), Edson (Mineiro), Estevão (Carcaça), Dierclês (galinha do céu), Thiago (MS), Edberto (boto), ao Celso (o velho da sala), Diego (Mingau) e a Dona Tereza, pela acolhida, amizade, companheirismo e pelas brincadeiras fazendo com que os dias fossem mais animados, valeu GALERAAAAA!!! Aos amigos da pós-graduação pelos momentos de descontração, festas, churrascos e forrós, que fizeram com que a passagem em Jaboticabal fosse mais alegre. A FAMÍLIA CABRITOLÂNDIA... Aos amigos e mestres iniciais na Zootecnia, Herymá Giovane de Oliveira Silva e Lisiane Dorneles de Lima que tiveram paciência e sabedoria para ensinar-me as primeiras lições na Zootecnia, OBRIGADO por todos os momentos... Ao Faiado (Adriano), Mel (arroz), Samuel, Alana, Andrea, Nariane, Thiago, Gabi, Nhayandra, Carla, Douglas, Amélia, Simone, Kaborja, Astrid, Carlinhos, Juninho, Juci, Nailson, Farofa, Vitor e Ian pela amizade e pelo companheirismo nos diversos churrascos e festas...Sentirei saudades!!! A galera da fábrica de ração (Dona Sandra, Sr. Osvaldo e Helinho)...abraço! Aos amigos de Sassari, Gianfranco, Maura, Elia, Natalia, Giustino (similare ma diverso), Mateus, Roberto, Alberto, Claudio, Kimala, Maria Grazia, Rossela, Oslem e Serape, agradeço a recepção e os momentos divertidos que passamos. Aos meus irmãos Diomedes Carvalho, Rosângela Boaventura e Elizângela Santana, por tantos momentos inesquecíveis que passamos juntos...AMOOOO... Aos meus tios, tias, primos e primas pela confiança e apoio sempre... A minha comadre Áurea, meu afilhado Danilo e Gabriel...obrigado! A minha sobrinha e afilhada Analice, beijão do tiooooo... Aos meus avós paternos, Oscar Boaventura dos Santos (in memorian) e Raimunda Cardoso (in memorian, Dona Mundinha), e aos avós maternos, Diomedes Carvalho (in memorian) e Waldir Morais (Dona Waldir) pelo carinho e amor, SAUDADES!!! A minha “Borrega”, Greicy Mitzi Bezerra Moreno, pelo amor, dedicação, amizade, força e principalmente paciência... Obrigado por fazer parte da minha vida, pelos conselhos e por permanecer sempre ao meu lado...PRETINHAAAA... Todos vocês foram e continuarão sendo importantes na minha vida! Muito obrigado, que Deus ilumine sempre vocês!!! 1 SUMÁRIO Página EXIGÊNCIA DE PROTEÍNA PARA CRESCIMENTO DE CABRITOS SAANEN MACHOS E FÊMEAS CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS……………………………………… 8 1. Introdução......................................................................................................... 8 2. Revisão da literatura......................................................................................... 9 2.1. Crescimento animal................................................................................... 10 2.2. Composição corporal................................................................................. 12 2.3. Exigências nutricionais.............................................................................. 13 2.4. Exigências de proteína para mantença.................................................... 14 2.5. Exigências de proteína para ganho........................................................... 15 3. Referências...................................................................................................... 18 CAPÍTULO 2 - COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM PROTEÍNA PARA CRESCIMENTO DE CABRITOS SAANEN.................... 20 RESUMO.............................................................................................................. 21 1. Introdução....................................................................................................... 22 2. Material e métodos.......................................................................................... 23 3. Resultados...................................................................................................... 32 4. Discussão........................................................................................................ 43 5. Conclusões...................................................................................................... 50 6. Referências…………………………………………………………………………. 51 2 LISTA DE ABREVIATURAS CCHOT Consumo de carboidrato total CEE Consumo de extrato etéreo CMM Consumo de matéria mineral CMO Consumo de matéria orgânica CMS Consumo de matéria seca CPB Consumo de proteína bruta CDMS Coeficiente de digestibilidade da matéria seca CDMO Coeficiente de digestibilidade da matéria orgânica CDEE Coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo CDPB Coeficiente de digestibilidade da proteína bruta CDFDN Coeficiente de digestibilidade da fibra insolúvel em detergente neutro CDFDA Coeficiente de digestibilidade da fibra insolúvel em detergente ácido CDCHOT Coeficiente de digestibilidade do carboidrato total CDCHONE Coeficiente de digestibilidade do carboidrato não estrutural EB Energia bruta ECC Escore de condição corporal EE Extrato etéreo FDA Fibra insolúvel em detergente ácido FDN Fibra insolúvel em detergente neutro GP Ganho de peso GPCV Ganho de peso de corpo vazio Log Logaritmo MM Matéria mineral MS Matéria seca N Nitrogênio Pabt Peso ao abate PB Proteína bruta 3 PC Peso corporal PCi Peso corporal inicial PCV peso de corpo vazio PCVi Peso de corpo vazio inicial PLg Proteína líquida para ganho PLm Proteína líquida para mantença PLT Proteína líquida total PMg Proteína metabolizável para ganho R2 Coeficiente de determinação RMSE Raiz quadrada do erro TGI Trato gastrintestinal 4 LISTA DE TABELAS Página CAPÍTULO 2 – COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIA NUTRICIONAL DE PROTEÍNA EM CAPRINOS SAANEN NA FASE INICIAL DE CRESCIMENTO................................................................ 21 Tabela 1 - Sistema de aleitamento adotado aos animais submetidos a 0% de restrição até os 50 dias de vida......................................................... 25 Tabela 2 - Composição química do leite e da dieta experimental na matéria seca (MS)......................................................................................... 25 Tabela 3 - Sistema de aleitamento adotado aos animais submetidos a 0% de restrição até os 50 dias de vida........................................................ 30 Tabela 4 - Idade inicial e final, dias experimentais, peso vivo e peso de corpo vazio (PCV) inicial, peso vivo e peso de corpo vazio final, escore de condição corporal (ECC) inicial e final, ganho de peso (GP) total e ganho de peso diário de cabritos Saanen em função do sexo (Média ± erro padrão)....................................................................... 33 Tabela 5 - Idade inicial e final, dias experimentais, peso vivo e peso de corpo vazio (PCV) inicial, peso vivo e peso de corpo vazio final, escore de condição corporal (ECC) inicial e final, ganho de peso (GP) total e ganho de peso diário de caprinos Saanen na fase inicial de crescimento em função da restrição alimentar (Média ± erro padrão).............................................................................................. 34 Tabela 6 - Consumo de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), proteína digestível (CPD), matéria mineral (CMM), matéria orgânica (CMO), extrato etéreo (CEE) e carboidratos totais (CCHOT) de cabritos Saanen.............................................................................................. 35 Tabela 7 - Digestibilidades de nutrientes de cabritos Saanen em função do sexo................................................................................................... 36 Tabela 8 - Digestibilidades de nutrientes de cabritos Saanen em função do nível de restrição.............................................................................. 37 Tabela 9 - Composição corporal em água, matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e matéria mineral (MM) de caprinos Saanen em função do sexo e abatidos aos 5, 10 e 15 kg de peso corporal (Média ± erro padrão).............................................................................................. 49 Tabela 10 - Composição corporal em extrato etéreo (EE) de caprinos Saanen em função do sexo e abatidos aos 5, 10 e 15 kg de peso corporal (Média ± erro padrão)....................................................................... 40 Tabela 11 - Equações de regressão para estimar o peso de corpo vazio (PCV) e a composição corporal (água, cinzas, proteína, gordura e matéria seca) de caprinos Saanen................................................. 40 5 Tabela 12 - Peso de corpo vazio (PCV) e composição corporal de cabritos Saanen em função do sexo............................................................ 41 Tabela 13 - Equação para predição e composição do ganho em peso de corpo vazio (GPCV) de proteína de caprinos Saanen na fase inicial de crescimento................................................................................... 42 Tabela 14 - Exigência de proteína líquida para ganho em peso corporal (PLg) e exigência de proteína metabolizável para ganho em peso corporal (PMg) de caprinos Saanen abatidos aos 5, 10 e 15 kg de peso corporal............................................................................. 42 Tabela 15 - Exigência de proteína líquida para caprinos Saanen na fase inicial de crescimento...................................................................... 43 6 EXIGÊNCIA DE PROTEÍNA PARA CRESCIMENTO DE CABRITOS SAANEN MACHOS E FÊMEAS RESUMO - O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do sexo na composição corporal e exigência de proteína para mantença e ganho, em caprinos Saanen na fase inicial de crescimento. Foram realizados dois experimentos, em que no primeiro utilizou- se 40 animais (14 machos não castrados, 14 machos castrados e 12 fêmeas) com peso inicial de 4,93 ± 0,1 kg de peso corporal (PC), para determinar a exigência de proteína para mantença. Os animais de cada sexo foram aleatoriamente distribuídos em 3 níveis de restrição (0, 25 e 50% de restrição). Os animais 25 e 50% de restrição foram abatidos quando os animais 0% de restrição atingiram 15 kg PC. No segundo experimento, considerou-se para a estimativa da composição do ganho os animais alimentados à vontade (abate inicial, intermediário e final - 0% restrição), em que 6 machos não castrados e 6 fêmeas foram abatidos no começo do experimento (5 kg), 6 machos não castrados, 6 machos castrados e 6 fêmeas foram abatidos com 10 kg PC (abate intermediário) e o restante foi distribuído em 3 grupos alimentados à vontade e abatido aos 15 kg PC. Foi utilizado o método direto para determinação da composição corporal e o método fatorial para estimativa das exigências de proteína. A quantidade de água, proteína e cinzas não diferiu entre os sexos e diminuiu em 1%, 62% e 17% com a mudança do PC de 5 para 15 kg respectivamente. Já em relação ao conteúdo de gordura, conforme o PC variou de 5 para 15 kg, os machos não castrados e machos castrados aumentaram de 54,6 para 88,17 g/kg PCV e as fêmeas aumentaram de 45,1 para 117,67 g/kg PCV. Não houve efeito do sexo sobre a exigência de proteína para mantença e nem para ganho de peso. A exigência de proteína líquida e metabolizável para ganho diminuiu à medida que o PC variou de 5 para 15 kg. Cabritos Saanen machos não-castrados, machos castrados e fêmeas na fase inicial de crescimento (5 a 15 kg de PC), possuem exigência nutricional em proteína para mantença e ganho similares. Palavras-Chave: caprinos, composição corporal, fase inicial, mantença, sexo 7 PROTEIN REQUIREMENT FOR GROWTH OF MALE AND FEMALE KIDS SAANEN SUMMARY - The aim of this study was to evaluate the effect of sex on body composition and nutritional requirement of protein for maintenance and gain in Saanen goats at early growth stages. There were two different experiments, the first was used 40 animals (14 non-castrated males, 14 castrated males and 12 females) with initial weight of 4.93 ± 0.1 kg body weight (BW), to determine the protein requirement for maintenance. The animals of each sex were randomly divided into three levels of restriction (0%, 25% and 50% restriction). Animals with 25% and 50% restriction were slaughtered when the animals who were feed with 0% restriction reached 15 kg BW. In the second experiment to estimate the composition of the gain was used animals feed ad libitum (initial slaughter, intermediate and final - 0% restriction), in which 6 non- castrated males and 6 females were slaughtered at the beginning of the experiment, 6 non-castrated males, 6 castrated males and 6 females were slaughtered at 10 kg BW (intermediary slaughter) and the remainder distributed in three groups feed ad libitum. Was used the comparative slaughter technique for obtaining the body composition and the factorial method for estimating protein requirements. The amount of water, protein and ash decreased by 1%, 62% and 17% with the change of PC from 5 to 15 kg and did not differ between the sexes. In relation to fat, as the PC ranged from 5 to 15 kg, non- castrated males and castrated males increased from 54.6 to 88.17 g / kg EBW and females increased from 45.1 to 117.67 g / kg EBW. No effect of sex in the protein requirement for maintenance and for gain. The net requirement for protein and metabolizable gain decreased as the PC ranged from 5 to 15 kg. Saanen goats non- castrated males, castrated males and females at early growth stages (5 to 15 kg BW), have the same nutritional requirement of protein for maintenance and gain. Keywords: body composition, early stage, gender, goats, maintenance 8 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Introdução A nutrição é um dos principais responsáveis pelo aumento da produtividade em qualquer atividade pecuária, por este motivo, para que a formulação de dietas seja ajustada de forma adequada para cada fase e objetivo de produção é imprescindível o conhecimento da composição corporal e das exigências nutricionais dos animais. Dentre os principais entraves que limitam a atividade caprina, destaca-se o inadequado manejo nutricional, acarretando em ineficiente manejo reprodutivo e sanitário. É de fundamental importância a elaboração de um plano nutricional específico para cada espécie de acordo com cada fase de vida, buscando evitar prejuízos econômicos, ambientais e o desperdício de nutrientes. A melhoria dos índices produtivos da caprinocultura, como taxa de ganho de peso e produção leiteira, pode alterar as necessidades nutricionais, principalmente com respeito à energia e proteína. Para a estimativa das exigências nutricionais é fundamental o conhecimento da composição corporal, que é definida pela quantidade de nutrientes e energia no corpo, sendo esta influenciada por diversos fatores, entre eles, sexo, idade, categoria animal, genótipo e alimentação (AFRC, 1993). Com relação aos fatores genéticos, o principal fator que influencia as exigências nutricionais é a raça, porém, não existem dados suficientes com caprinos que evidencie esta diferença para cada raça, no entanto, o NRC (2006) relata que as exigências nutricionais são diferentes para caprinos nativos e para as diferentes aptidões, seja carne, leite ou fibra. Considerando os fatores nutricionais, a alimentação prévia e a alimentação atual são fatores importantes, pois um animal submetido à severa restrição alimentar, principalmente protéica, diminui o peso à maturidade, como resultado de reduções permanentes no número e na atividade de células do trato gastrintestinal e da fibra muscular, o que não ocorre com restrição energética moderada (WIDDOWSON & LISTER, 1991). Já em relação aos fatores fisiológicos, as principais alterações na composição corporal são mediadas pelos hormônios, tanto do ponto de vista das 9 diferentes taxas de liberação quanto do perfil hormonal presente no animal. A taxa de liberação destes hormônios é influenciada tanto pelo sexo, quanto pelo grau de maturidade (WEBSTER, 1986). A composição corporal e, conseqüentemente, as exigências nutricionais sofrem alterações de acordo com o sexo dos animais, sendo que as fêmeas depositam mais tecido adiposo comparado aos machos não castrados e aos machos castrados (OWENS et al., 1993). Estudos avaliando o efeito do sexo na composição corporal e exigências nutricionais em caprinos são escassos, entretanto, essa informação é de suma importância para a adequação das formulações nutricionais dentro dos diferentes sistemas de produção. De acordo com o NRC (2000), bovinos não-castrados da raça Angus são 18% menos exigentes em energia líquida para ganho que os machos castrados, que, por sua vez, são 18% menos exigentes que fêmeas. CHIZZOTTI et al. (2008), avaliaram animais Nelore e cruzados em condições nacionais e relataram que a energia líquida para ganho de machos castrados foi 27% superior à de machos não castrados e 10% inferior à de fêmeas. As diferenças existentes entre os sexos e raças dentro do mesmo sexo demonstram a necessidade de realizar estudos com animais e condições nacionais, além disso, torna evidente a importância da determinação da composição corporal e estimativa das exigências nutricionais em animais de diferentes sexos. Dessa maneira, estudos que visem à determinação das exigências nutricionais de caprinos na fase de cria são relevantes no tocante à importância econômica desta fase de produção, considerando que é uma das fases mais onerosas da atividade e que erros de ordem nutricional, seja de sub ou superalimentação, causam efeitos deletérios e irreversíveis que podem comprometer o futuro desempenho dos animais. 2. Revisão da literatura O rebanho caprino aumentou menos de 1% (IBGE, 2008) na última década, apesar do baixo crescimento, existe uma perspectiva que essa situação alcance outras proporções em poucos anos, tendo em vista que a população humana está buscando 10 alimentos mais saudáveis, características que são intrínsecas aos produtos caprinos (carne, leite e derivados). Um fator que indica a busca pelos produtos da espécie é o crescimento das pesquisas científicas, visando responder às lacunas existentes no âmbito dos diversos segmentos da cadeia produtiva (EMBRAPA, 2010). De acordo com RESENDE et al. (2008) a capacidade produtiva dos caprinos tem aumentado nos últimos anos, em resposta à diversos fatores, dentre os quais podemos destacar, o melhoramento genético, nutrição e sanidade. Entre estas áreas, a nutrição é uma das mais estudadas, ainda assim, informações a respeito das exigências nutricionais de caprinos ainda são escassas na literatura nacional, principalmente no tocante as alterações devido ao sexo, uma vez que a maioria dos estudos na fase de crescimento apresenta dados apenas com machos não castrados. Existem alguns sistemas de alimentação que fazem recomendações quanto às exigências nutricionais dos animais. Foi publicado em 2006, um específico para pequenos ruminantes (NRC, 2006), além de outros como o sistema australiano (CSIRO) e o francês (INRA), publicados em 2007, que também fazem referência aos caprinos. Entretanto, os dados utilizados por esses sistemas de alimentação internacionais são coletados em situações diferentes das existentes no Brasil, podendo- se destacar as condições climáticas, o relevo, as raças e a alimentação. Para tentar minimizar essas diferenças, nas últimas décadas, grupos de pesquisas das universidades brasileiras vêm trabalhando no sentido de estabelecer as exigências nutricionais para caprinos em condições locais, e algumas diferenças já foram apontadas em relação aos valores estabelecidos em outros países, indicando a importância desse tipo de estudo em condições nacionais. 2.1. Crescimento animal O crescimento e o desenvolvimento são fenômenos inter-relacionados, que atuam no âmbito da produção animal. Nos últimos anos, estudos sobre fisiologia, biologia molecular de hormônios reguladores do crescimento e a busca por genes que 11 controlem aspectos quantitativos como o peso, tamanho dos componentes corporais e o aprofundamento nos estudos das relações materno-filiais durante a gestação, têm contribuído para melhorar os conhecimentos sobre o crescimento e desenvolvimento animal (LÓPEZ, 2009). De acordo com OWENS et al. (1993) o crescimento é definido como sendo a produção de novas células, e não inclui somente a multiplicação de células (hiperplasia) mas também seu alargamento (hipertrofia), a deposição de tecido adiposo e a incorporação de componentes específicos do ambiente. Existem diversos fatores que podem afetar as taxas de crescimento dos animais, entre eles, peso ao nascer, raça, sexo, tamanho à maturidade, parasitos, além de fatores nutricionais, hormonais e ambientais (OWENS et al., 1993). Com relação ao sexo, sabe-se que este exerce influência sobre as taxas de crescimento dos animais. Animais não-castrados tendem a apresentar maior taxa de crescimento, com composição do ganho caracterizada por maior teor de proteína e menos gordura, resultando em maior eficiência alimentar, quando comparados a machos castrados ou fêmeas, dentro de um mesmo grupo contemporâneo (PURCHAS, 1991). Uma possível razão para a superioridade dos machos não castrados seria o efeito anabólico do hormônio masculino testosterona sobre a proteína corporal (FLETCHER et al., 1986). De acordo com OWENS et al. (1993), hormônios específicos ou fatores de crescimento alteram a taxa de crescimento. A liberação dos hormônios e ação dos fatores de crescimento está intimamente relacionada a fatores genéticos, ambientais e, principalmente nutricionais. Segundo WILSON & OSBOURN (1960), o crescimento de um animal pode ser retardado se um nutriente qualquer da dieta faltar, principalmente se energia e proteínas estiverem limitando o ganho em peso; como o animal apresenta pequenas reservas protéicas, a restrição de proteína geralmente promove maiores danos do que a energética. Os estudos de crescimento e desenvolvimento animal devem ser avaliados entre as diferentes espécies e entre diferentes sexos, devido aos mecanismos diferenciados que influencia de forma complexa cada fase do desenvolvimento. 12 2.2. Composição corporal O conhecimento da composição corporal é de suma importância para a estimativa das exigências nutricionais, além disso, a sua determinação é essencial em estudos de nutrição para avaliar alimentos e crescimento animal. Por meio da composição corporal é possível identificar alterações na composição do ganho em função de diversos fatores como sexo, genótipo, estágio fisiológico, peso, idade, composição da dieta, entre outros. O termo composição corporal diz respeito à composição química de todo corpo animal, mas este termo também é utilizado com respeito à composição química de uma parte do corpo animal (por exemplo, a carcaça) ou ainda pode ser relacionado com a composição física do corpo dos animais (GREENHALGH, 1986). Em relação à nutrição animal, a determinação da quantidade de tecidos tem importância secundária, o que interessa realmente é definir os componentes, independentemente dos tecidos que são depositados. Desta maneira, a composição química corporal refere-se às concentrações ou quantidades de água, gordura, proteína e minerais. Os teores de carboidratos no corpo dos animais são baixos e constantes (0,7% na matéria seca), por isso não são considerados. É importante ainda salientar que a composição de todo o corpo animal é aquela relacionada à composição do corpo vazio, o qual é encontrado pela diferença entre peso vivo e conteúdos do trato gastrintestinal e da bexiga (LOFGREEN et al., 1962). A composição corporal sofre influência de fatores genéticos, fisiológicos e nutricionais (AFRC, 1993). A diferença mais óbvia entre diferentes genótipos é o tamanho à maturidade, entretanto, a diferenciada deposição tecidual também se apresenta como fator de grande efeito na composição corporal, como é o caso de raças com hipertrofia muscular, a exemplo dos animais Belgian Blue. Quanto aos fatores fisiológicos, WEBSTER (1986), cita que os hormônios são os que mais exercem influência, cujas taxas de liberação são mediadas por alguns fatores como, o sexo, grau de maturidade ou fotoperíodo. 13 Existem várias metodologias para determinação da composição corporal e em geral, elas podem ser divididas naquelas medidas no animal vivo (método indireto) e aquelas determinadas após o abate (método direto). Muitos métodos realizados no animal vivo são baseados no fato de que a composição corporal pode ser estimada com precisão quando a quantidade de água ou gordura do corpo é conhecida, uma vez que a composição do corpo vazio seco e desengordurado é praticamente constante. Todavia, HENRIQUE (2002) relatou que a afirmativa anterior somente é válida para animais mais velhos, uma vez que a quantidade de água não é constante em animais jovens. Assim, torna-se importante o conhecimento do conceito de “maturidade química”, o qual é definido como a idade a partir da qual a concentração de água, proteína e matéria mineral no corpo desengordurado torna-se praticamente constante. Em relação ao método direto, a sua principal vantagem é que é feita análise do nutriente que ficou realmente retido no corpo do animal. No entanto, para a escolha do método para predição da composição corporal devem-se considerar diversos fatores, tais como; custo, facilidade de tomada das medidas e a estabilidade da predição entre animais independente do sexo, idade ou regime de alimentação. São escassos os trabalhos que avaliaram o efeito do sexo sobre a composição corporal, especialmente em caprinos. PAULINO et al. (2009) ao estudarem a composição química de bovinos Nelore machos não-castrados, machos castrados e fêmeas, observaram que os machos não-castrados apresentaram maior conteúdo de proteína e menor de extrato etéreo no ganho de peso de corpo vazio que os machos castrados e as fêmeas. Estes mesmos autores atribuem a maior taxa de acréscimo de proteína no corpo vazio de machos não-castrados em relação aos machos castrados e às fêmeas com a secreção de testosterona (FLETCHER et al., 1986) e seu efeito anabólico sobre a proteína corporal. 2.3. Exigências nutricionais O arraçoamento com dietas balanceadas, que atendam as exigências nutricionais, pode evitar prejuízos econômicos e ambientais, reduzindo o desperdício de 14 nutrientes e minimizando a contaminação ambiental. Desta maneira, o conhecimento das exigências nutricionais é de fundamental importância para uma exploração racional, uma vez que animais alimentados adequadamente convertem de forma mais eficiente os nutrientes ingeridos em produto final (carne, leite, pele ou fibra). A grande maioria dos trabalhos que estimam ou fazem recomendações sobre exigências nutricionais de caprinos utilizam ou extrapolam dados obtidos com ovinos e/ou bovinos. Entretanto, os dados obtidos com essas espécies não devem ser utilizados para caprinos, em razão das diferenças existentes entre essas espécies, tais como: hábitos alimentares, atividades físicas, requerimentos de água, composição do leite e da carcaça, diferentes mecanismos de adaptação, entre outros (NRC, 1981). O método fatorial tem sido adotado como a mais adequada metodologia para estimativa das exigências nutricionais. Este método consiste em fracionar as exigências dos animais em seus diversos componentes de produção: exigência de mantença, exigência de ganho, exigência de gestação, exigência de lactação e exigência para produção de fibra (ARC, 1980). 2.4. Exigências de proteína para mantença A exigência de proteína para um animal em mantença é definida como a quantidade de proteína necessária para que os processos vitais do corpo permaneçam normais, incluindo a reposição das perdas endógenas e metabólicas pelas fezes, urina e pela pele, ou seja, é aquela que não permitirá perda ou ganho de peso dos animais (ARC, 1980). De acordo com TEIXEIRA (2004), embora as exigências de mantença possam ser consideradas uma condição teórica, é necessário considerá-las separadamente daquelas para produção. De acordo com o ARC (1980), são utilizados basicamente quatro métodos para estimar as exigências de proteína para mantença: balanço de nitrogênio, utilização de dietas purificadas, nitrogênio marcado e abate comparativo. Perante algumas limitações o balanço de nitrogênio passou a ser trocado pelo abate comparativo, no qual se determina a proteína retida, que será igual à exigência de proteína líquida para ganho. 15 Utilizando equação de regressão linear entre a proteína retida e a ingerida pode-se obter a eficiência de utilização da proteína ingerida para a proteína líquida, a qual será igual à inclinação da reta obtida por esta regressão. A exigência de proteína líquida para mantença (perdas endógenas e metabólicas, secreção da pele) será igual à retenção negativa de proteína quando a ingestão de proteína for extrapolada para zero (TEIXEIRA, 2004). Estudos foram realizados no Brasil com o objetivo de estimar a exigência de proteína líquida para mantença em caprinos (RESENDE, 1989; TEIXEIRA, 2004; FERNANDES et al., 2007; ALVES et al., 2008), entretanto, nenhum desses estudos avaliaram o efeito do sexo sobre a composição corporal e exigências nutricionais. Segundo o NRC (2006), os efeitos do sexo sobre os requerimentos de proteína metabolizável parecem estar relacionados com a composição de proteína nos tecidos em crescimento e em mantença, como reflexo do estágio de maturidade e taxa de crescimento animal. Além disso, o NRC (2006) afirma também que a influência do sexo sobre as diferenças nos requerimentos de proteína para mantença ainda não foram devidamente estudados. Provavelmente esta escassez de dados seja responsável pelo fato de que apenas três sistemas de alimentação consideram os efeitos do sexo sobre as exigências de mantença, são eles, o EEZ (Estación Experimental del Zaidin, Granada, Espanha), o IGR (Institute for Goat Research, Langston University, Estados Unidos) e o NRC que preconizam maiores exigências para machos não castrados e animais em crescimento (CANNAS et al., 2008). 2.5. Exigências de proteína para ganho Para a determinação das exigências para ganho utiliza-se a técnica do abate comparativo (LOFGREEN & GARRET, 1968), no qual é possível determinar a retenção de um determinado nutriente ou energia no corpo dos animais por um dado período de tempo. Portanto, é necessário o conhecimento da composição corporal dos animais, a qual é estimada a partir da equação alométrica logaritmizada (Log da quantidade de 16 nutriente no corpo vazio = a + b log de peso de corpo vazio). A partir da derivada desta equação é possível encontrar a exigência líquida para ganho em peso de corpo vazio. Alguns estudos foram realizados no Brasil com o objetivo de determinar a exigência de proteína líquida para caprinos na fase inicial de crescimento. Dentre eles, RESENDE (1989) obteve valores variando de 147 a 172 mg/g de proteína para ganho peso corporal (PC) em cabritos machos não castrados pesando entre 5 e 25 kg. MEDEIROS (2001) obteve valores variando de 181 mg/g a 184 mg/g de proteína para ganho em PC em cabritos Saanen, machos não castrados, pesando entre 5 e 20 kg, respectivamente. Derivando-se a equação alométrica logaritmizada para estimativa da composição corporal (Log Y = a + b log X), encontra-se a seguinte equação Y’ = b 10a X(b-1). A partir desta equação é possível então encontrar a exigência líquida para ganho em peso. Y' = exigência líquida de ganho do nutriente (g); a = intercepto da equação de predição do conteúdo corporal do nutriente; b = coeficiente de regressão da equação de predição do conteúdo corporal do nutriente; X = PCV (kg). Fatores como o sexo podem alterar significativamente as exigências de proteína para ganho, no entanto, na literatura mundial e nacional, a maioria dos estudos de determinação de exigências na fase inicial de crescimento utilizou apenas animais machos não castrados, sendo escassos os estudos com fêmeas e mais escassos ainda quando se compara os diferentes sexos em um mesmo estudo. Alguns trabalhos que avaliaram o efeito sexo na determinação das exigências de proteína foram realizados em bovinos, sendo que dados com caprinos são inexistentes. MARCONDES et al. (2009) estudaram as exigências de proteína para ganho em peso de bovinos machos não castrados, machos castrados e fêmeas da raça Nelore e não observaram diferenças para os sexos, sendo que a concentração de proteína no corpo vazio dos animais das três classes sexuais diminuiu conforme o peso de corpo vazio aumentou, uma conseqüência da maior deposição de gordura nas fases mais 17 tardias de crescimento dos animais, fazendo com que a exigência de proteína líquida para ganho também diminuísse à medida que os animais ficassem mais pesados. Comparando bovinos machos não castrados e machos castrados em crescimento, GEAY (1984) relatou que a exigência de proteína líquida é maior para animais não-castrados e, dentro de um mesmo sexo, é maior para animais de maturidade tardia que para os de maturidade precoce, em decorrência do maior potencial para crescimento muscular de animais não-castrados e/ou de maturidade tardia. ROBELIN & DAENICKE (1980) avaliaram o efeito do sexo sobre a composição corporal de bovinos e observaram que a porcentagem de proteína no peso de corpo vazio de novilhos e novilhas foi 10% menor do que em touros, apesar dos animais apresentarem peso corporal semelhante. As diferenças na composição química do corpo, provavelmente devido ao diferentes graus de maturidade, podem ter afetado a composição do ganho e as exigências de proteína (OWENS et al., 1995). O uso da maturidade relativa também permite contabilizar o efeito do sexo sobre as exigências de ganho. Dentro de uma mesma raça, os machos não castrados têm maior peso à maturidade do que as fêmeas, assim, se os machos não castrados e fêmeas de um mesmo peso corporal e mesma raça são comparados, a maturidade relativa e, consequentemente, as exigências de ganho serão menores para os machos não castrados que para as fêmeas (CANNAS et al., 2008). Uma parte da grande variabilidade observada na comparação das exigências de ganho também pode ser devido ao fato de que, para mesmos pesos corporais, as exigências são diferentes dependendo do sexo considerado (CANNAS et al., 2008). Este fato, plenamente coerente com a biologia do crescimento, tem sido negligenciado pelos sistemas de alimentação, o que demonstra a necessidade de mais pesquisas que avaliem diferenças entre os sexos em caprinos. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do sexo na composição corporal e exigência nutricional de proteína em caprinos Saanen machos não castrados, machos castrados e fêmeas na fase inicial de crescimento. 18 3. REFERÊNCIAS AGRICULTURAL AND FOOD RESEARCH COUNCIL - AFRC. Energy and protein requirements of ruminant. Wallingford: Cab International, 1993. 159 p. AGRICULTURAL RESEARCH COUNCIL - ARC. The nutrient requirements of farm livestock. London: Gresham Press, 1980. 351 p. ALVES, K.S.; CARVALHO, F.F.R.; VÉRAS, A.S.C. et. al. 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No segundo experimento, considerou-se para a estimativa da composição do ganho os animais alimentados à vontade (abate inicial, intermediário e final - 0% restrição), em que 6 machos não castrados e 6 fêmeas foram abatidos no começo do experimento (5 kg), 6 machos não castrados, 6 machos castrados e 6 fêmeas foram abatidos com 10 kg PC (abate intermediário) e o restante foi distribuído em 3 grupos alimentados à vontade e abatido aos 15 kg PC. Foi utilizado o método direto para determinação da composição corporal e o método fatorial para estimativa das exigências de proteína. A quantidade de água, proteína e cinzas não diferiu entre os sexos e diminuiu em 1%, 62% e 17% com a mudança do PC de 5 para 15 kg respectivamente. Já em relação ao conteúdo de gordura, conforme o PC variou de 5 para 15 kg, os machos não castrados e machos castrados aumentaram de 54,6 para 88,17 g/kg PCV e as fêmeas aumentaram de 45,1 para 117,67 g/kg PCV. Não houve efeito do sexo sobre a exigência de proteína para mantença e nem para ganho de peso. A exigência de proteína líquida e metabolizável para ganho diminuiu à medida que o PC variou de 5 para 15 kg. Cabritos Saanen machos não-castrados, machos castrados e fêmeas na fase inicial de crescimento (5 a 15 kg de PC), possuem exigência nutricional em proteína para mantença e ganho similares. Palavras-chave: caprinos, composição corporal, fase inicial, mantença, sexo 22 1. Introdução A pesquisa científica mundial em nutrição animal tem definido, há mais de um século, os nutrientes requeridos pelos animais (PRESTON, 2006). Entre os principais nutrientes estudados está a proteína, haja vista que, participa de diversas funções no organismo dos seres vivos, tais como: crescimento e reparação de tecidos, transporte e armazenamento de substâncias, geração e transmissão de impulsos nervosos, controle do metabolismo, entre outros. Assim, adequar a nutrição protéica aos ruminantes significa provê-los de um nutriente essencial para manutenção da homeostase (VALADARES FILHO & CHIZZOTTI, 2010). O manejo nutricional inadequado é, sem dúvida, um dos principais responsáveis pela baixa eficiência produtiva da caprinocultura. Os dados utilizados na formulação de dietas para caprinos no Brasil são na maioria das vezes extrapolados dos dados de bovinos e ovinos criados em países de clima temperado, em conseqüência disso, existe a probabilidade dos caprinos criados em condições brasileiras não serem nutridos de forma adequada, o que ocasiona prejuízo econômico e ambiental, uma vez que, os animais estariam sub ou super nutridos. O princípio básico para a estimativa da exigência líquida é a determinação da composição corporal, que é definida pela quantidade de nutriente depositada no corpo do animal. Porém, existem inúmeros fatores que influenciam na composição corporal, como: fatores genéticos, nutricionais e fisiológicos (AFRC, 1993), cada um influenciando de forma diferenciada na deposição dos nutrientes. Com relação aos fatores genéticos, o principal fator que influencia as exigências nutricionais é a raça, uma vez que a deposição tecidual é diferente, por exemplo, em animais produtores de leite e de carne. Porém, não existem dados suficientes com caprinos que mostre essa diferença para cada raça específica, no entanto, o NRC (2006) relatou que as exigências nutricionais são diferentes para caprinos nativos e para diferentes aptidões: carne, leite e fibra. Com respeito aos fatores nutricionais, a alimentação prévia e a alimentação atual são fatores importantes, porque um animal submetido à severa restrição alimentar apresentará alterações na deposição tecidual, e 23 o seu desenvolvimento será afetado mesmo após a realimentação. Quanto aos fatores fisiológicos, as principais alterações na composição corporal são mediadas pelos hormônios, tanto do ponto de vista da taxa de liberação dos diferentes hormônios, quanto do perfil hormonal presente no animal. A taxa de liberação destes hormônios é influenciada tanto pelo sexo quanto pelo grau de maturidade (WEBSTER, 1986). Estudos avaliando o efeito do sexo na composição corporal e nas exigências nutricionais em caprinos são escassos, entretanto essa informação é de suma importância, porque as fêmeas depositam mais tecido adiposo comparado aos machos (OWENS et al., 1993). Sendo assim, torna-se evidente a importância da avaliação das exigências nutricionais em caprinos da raça Saanen na fase inicial de crescimento entre os diferentes sexos. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do sexo (machos não castrados, machos castrados e fêmeas) na composição corporal e exigências nutricionais de proteína para manutenção e para ganho em peso de cabritos Saanen na fase inicial de crescimento em condições brasileiras. 2. Material e métodos O experimento foi conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista, Câmpus de Jaboticabal - São Paulo, Brasil, localizada a “21º 15’ 22” S e “48º 18’ 58” W, altitude de 595 m, entre o período de fevereiro de 2008 a junho de 2009, com média de temperatura (ºc) máxima de 31,6 e mínima de 24,5 e umidade relativa (%) máxima de 68,2 e mínima de 21,5. Neste período, foram desenvolvidos dois estudos, um para estimativa da exigência de proteína para mantença e outro para determinação da composição corporal e estimativa da exigência de proteína para ganho em peso. A composição corporal (concentração do nutriente) foi determinada por meio do método direto, em que se utilizou a moagem de todo o corpo do animal. Para estimativa da exigência nutricional de proteína para ganho em peso e para mantença utilizou-se o método fatorial. Ao longo do texto, os machos não castrados serão chamados apenas de machos, os machos castrados serão chamados 24 apenas de castrados. Os castrados foram submetidos ao procedimento cirúrgico com 7 dias de vida. Os animais tiveram média de 4,0±0,24 kg de PC ao nascimento, sem diferença entre machos e fêmeas. Os estudos foram aprovados pela Comissão de Ética no uso de animais (CEBEA), protocolo nº 008919-08. 2.1. Estimativa da exigência nutricional de proteína para mantença No estudo da estimativa da exigência de proteína para mantença foi planejado trabalhar com 54 animais da raça Saanen divididos em, 18 machos, 18 castrados e 18 fêmeas. Porém, houve morte de 4 machos, 4 castrados e 6 fêmeas durante o experimento, as mortes foram em decorrência de diarréia. Portanto, foram utilizados 40 animais no total, sendo 14 machos, 14 castrados e 12 fêmeas com idade média de 22 ± 2,0 dias e peso inicial de 4,93 ± 0,1 kg de PC. Para estimativa do peso de corpo vazio inicial (PCVi) e da composição corporal inicial em proteína, foram utilizados 12 animais, 6 machos e 6 fêmeas. Os animais de cada sexo foram aleatoriamente distribuídos em 3 níveis de restrição (0, 25 e 50% de restrição). Ao final do experimento, no nível de restrição de 0% havia 5 machos, 4 castrados e 5 fêmeas, no nível de 25% de restrição havia 6 machos, 4 castrados e 5 fêmeas, e no nível de 50% de restrição havia 3 machos, 6 castrados e 2 fêmeas. Os animais submetidos a 25 e 50% de restrição foi oferecido quantidade de alimento em função do consumo dos animais alimentados com 0% de restrição. Os animais foram alojados em gaiolas suspensas com cocho individual para alimentos sólidos e cocho de água para cada dois animais. Ao ingressarem no experimento os animais foram pesados semanalmente, sempre antes do fornecimento da alimentação matinal. No período pré-experimental, os animais recém-nascidos receberam colostro e leite da espécie caprina, adotando como medida sanitária preventiva o tratamento térmico (60 minutos a 56ºC) seguido de armazenamento a -20ºC e fornecido à temperatura entre 35º e 38ºC. O colostro foi fornecido nos dois primeiros dias de vida, a partir do terceiro dia foi seguido o programa de aleitamento apresentado na Tabela 1. A 25 alimentação foi feita em duas refeições, às 07h e às 17h. O alimento sólido foi ofertado a partir do 7º dia de vida e sempre com disponibilidade irrestrita de água. Tabela 1 - Sistema de aleitamento adotado aos animais submetidos a 0% de restrição até os 50 dias de vida Idade (dias) Manhã Tarde Total 00 a 02 Colostro Colostro Livre 03 a 33 750 ml 750 ml 1.500 ml 34 a 38 500 ml 1000 ml 1.500 ml 39 a 43 0 ml 1500 ml 1.500 ml 44 a 50 0 ml 750 ml 750 ml >50 FORNECIDO APENAS ALIMENTOS SÓLIDOS A dieta foi balanceada para atender as exigências nutricionais de animais em fase de crescimento, de acordo com o NRC (2006), para ganho de 150 g por dia. O alimento sólido foi oferecido sob forma de ração completa (Tabela 2), onde o volumoso usado foi o feno da planta de milho (milho no ponto de silagem, colhido, fenado e triturado) e o concentrado a base de milho triturado, melaço, farelo de soja e mistura mineral, em relação volumoso/concentrado de 50:50 (na matéria seca). Os animais submetidos a 0% de restrição receberam o alimento de forma a garantir 20% de sobras. Tabela 2 - Composição química do leite e da dieta experimental na matéria seca (MS) Ingrediente Percentual % MS %* % MS EB³ PB EE FDN FDA MM Feno de milho¹ 46,88 86,91 4143,08 8,85 1,62 51,00 26,32 3,71 Farelo de soja 19,32 87,74 4521,70 50,57 2,07 23,50 12,40 6,42 Milho 25,91 86,09 4179,74 9,52 4,56 15,21 4,05 1,26 Melaço 4,29 91,89 3212,49 3,45 0,06 - - 22,66 Óleo de soja 0,81 100,00 9700,00 - - - - - Núcleo mineral 1,99 94,60 - 0,11 - - - 89,73 Calcário 0,80 99,79 - 0,10 - - - 99,69 Leite 11,60 - 28,36 32,24 - - 6,12 Dieta total 100,00 87,43 3513,50 14,44 2,03 28,15 13,73 6,26 *Participação na dieta em percentual na matéria natural ¹Planta inteira do milho sem a raiz, colhida no ponto para ensilar com secagem ao sol 26 ³EB (Kcal/kg MS) MS = matéria seca, MM = matéria mineral, PB = proteína bruta, EE = extrato etéreo, FDN = fibra insolúvel em detergente neutro, FDA = fibra insolúvel em detergente ácido. O feno de milho foi utilizado porque é um alimento com bom valor nutricional e que sofre poucas alterações no valor nutritivo quando armazenado por longos períodos, além disso, é o alimento que tem sido utilizado nas pesquisas nos últimos anos no setor de Caprinocultura da Unesp, possibilitando comparações entre experimentos. Os animais dos três níveis de restrição (0, 25 e 50%) foram submetidos a três ensaios de metabolismo, com colheita total de fezes. O primeiro iniciou quando os animais alimentados à vontade atingiram em média 8,10±0,17 kg de PC, ao redor dos 30±4,43 dias de vida e o consumo de alimento sólido ainda não tinha iniciado efetivamente, o segundo, quando os animais alimentados à vontade atingiram em média 10,17±0,13 kg de PC, ao redor dos 42±2,60 dias de vida, e alimentavam-se com leite e sólidos (fase de transição) e o terceiro, quando os animais alimentados à vontade atingiram em média 12,12±0,44 kg de PC, com 56±3,75 dias de vida e alimentavam-se apenas com alimentos sólidos. Os animais foram individualmente alojados em gaiolas para estudos de metabolismo, providas de comedouro, bebedouro e coletores de fezes. O controle da ingestão de alimento (oferta e sobras) e excreção de fezes foi realizado durante cinco dias consecutivos, após dois dias de adaptação às gaiolas. A pesagem das sobras de alimento e fezes foram realizadas diariamente antes do fornecimento da refeição matinal. Foi coletado diariamente todo o conteúdo de fezes produzido e posteriormente congelados a -20ºC, para formação de uma amostra composta por animal no final do ensaio de digestibilidade. As amostras de alimento, sobras e fezes foram pré-secas em estufa com circulação forçada de ar a 55ºC até peso constante, moídas a um mm em moinho tipo Willey para posteriores análises químicas. As análises foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal – LANA, pertencente ao Departamento de Zootecnia da Unesp - Câmpus de Jaboticabal, SP. Nas amostras dos ingredientes da ração, sobras e fezes foram determinados os teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), extrato etéreo (EE) e proteína bruta (PB) 27 (nitrogênio total pelo método de combustão de Dumas utilizando um analisador tipo LECO FP-528LC), de acordo com AOAC (2007), fibra em detergente neutro (com α amilase termo estável) de acordo com VAN SOEST et al. (1991) e fibra em detergente ácido conforme GOERING & VAN SOEST (1970) utilizando o analisador de fibra ANKOM200 da Ankom Technology Corporation. Para a fibra em detergente neutro das fezes foi utilizado o sulfito de sódio. A energia bruta (EB) da dieta foi determinada usando uma bomba calorimétrica tipo Parr. Os carboidratos totais (CHOT) foram calculados pela equação: CHOT = 100 – (%PB + %EE + %MM), enquanto os carboidratos não fibrosos (CNF), pela diferença entre CHOT e FDNcp, propostas por SNIFFEN et al. (1992). Os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes foram obtidos através da diferença entre o ingerido e o excretado nas fezes. Os animais 25 e 50% de restrição foram abatidos quando os animais 0% de restrição atingiram 15 kg PC. Os animais foram pesados imediatamente antes do abate. Os abates foram realizados mediante insensibilização e em seguida, foram sacrificados por hipovolemia através da sangria por secção das veias jugulares e artérias carótidas. O sangue foi coletado e pesado. O trato gastrintestinal (TGI) foi removido, pesado antes e após a retirada do conteúdo. Este peso foi utilizado para determinar o peso do corpo vazio (PCV), o qual foi encontrado subtraindo do peso ao abate, o peso do conteúdo do trato gastrintestinal e da bexiga. Todo o corpo do animal (sangue, vísceras, cabeça, patas, pele e carcaça) foi triturado, homogeneizado e retiradas três amostras de 50 g aproximadamente, as quais foram liofilizadas por 72 horas para determinação da matéria pré-seca e posteriormente moídas em moinho de bola e acondicionadas em recipientes de plástico hermeticamente fechados para posteriores determinações de matéria seca, extrato etéreo, cinzas e proteína bruta. O conteúdo de matéria seca (MS) das amostras de corpo foi determinado pela secagem em estufa a 105º C até atingirem peso constante; o conteúdo de cinzas pela queima das amostras a 550ºC por três horas; o extrato etéreo (EE) por meio da extração contínua com éter de petróleo durante 6 horas utilizando extrator de Soxhelt e a proteína bruta (PB) foi analisada pelo método de combustão de Dumas utilizando analisador tipo LECO FP-528LC. 28 Para estimativa do peso de corpo vazio inicial (PCVi) dos animais nos diferentes sexos, fez-se uma regressão do PCV (kg) em relação ao peso de abate (Pabt) (kg), utilizou-se o procedimento PROC MIXED do SAS (2002) sendo utilizado o sexo como variável classificatória, as soluções dos coeficientes de regressão do PCV sobre o peso de abate para cada sexo foram obtidas por meio da opção ESTIMATE. Para testar a diferença entre os coeficientes de regressão para cada sexo foi utilizado uma análise de contraste ortogonal (Opção CONTRAST). Os coeficientes de regressão gerados para machos e fêmeas foram diferentes, sendo assim, para as fêmeas foi utilizada a equação 1, abaixo apresentada. E a equação dos machos e castrados como não foi significativa (P>0,7047), utilizou-se a relação entre o PCV e o Pabt (0,84). PCVi = - 2,07±0,77 + 1,23±0,15 * PCi, P=0,0011 e R2 = 0,95 [Eq. 1] Para estimativa da composição corporal inicial de proteína (aos 5 kg) dos animais que foram abatidos, foi utilizada a composição corporal dos animais referência de 5 kg de PC (12 animais, sendo 6 machos e 6 fêmeas). Para este procedimento, fez-se uma regressão da quantidade de proteína (g) em relação ao PCV (kg), foi utilizado o procedimento PROC MIXED do SAS (2002) e utilizou-se o sexo como variável classificatória, as soluções dos coeficientes de regressão da quantidade de proteína sobre o PCV para cada sexo foram obtidas por meio da opção ESTIMATE. Para testar a diferença entre os coeficientes de regressão para cada sexo foi utilizado uma análise de contraste ortogonal (Opção CONTRAST). Os coeficientes de regressão gerados para machos e fêmeas foram semelhantes (P=0,1278), sendo assim, utilizou-se a mesma equação (Eq. 2 ) para os diferentes sexos. Proteínai(g) = 577,82±292,17 + 122,68±65,84*PCVi, P=0,0920 e R2=0,26 [Eq. 2] As exigências de proteína para mantença foram estimadas utilizando a equação de regressão da retenção de nitrogênio (y) em função da ingestão de nitrogênio da dieta (x), conforme o ARC (1980). As exigências dietéticas de nitrogênio para mantença 29 foram estimadas como sendo a quantidade de nitrogênio ingerido quando extrapolada a retenção de nitrogênio para zero; e as perdas endógenas, metabólicas e secreções da pele foram estimadas como sendo a quantidade de nitrogênio retido quando a ingestão de nitrogênio foi extrapolada para zero. Para encontrar a exigência de proteína líquida para mantença, foi multiplicado o valor das perdas endógenas e metabólicas por 6,25. E para a conversão da exigência de proteína líquida para mantença em exigência de proteína metabolizável para mantença foi utilizado a eficiência de utilização de 1,0 preconizada pelo AFRC (1998). Os dados de digestibilidade foram submetidos à análise de variância e comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de significância, por meio do procedimento PROC MIXED do SAS (2002) utilizando-se o sexo e a restrição como variável classificatória. Para este estudo foi utilizado o delineamento em bloco casualizado, em esquema fatorial 3 x 3 (3 sexos e 3 níveis de restrição), conforme o modelo estatístico: Yijkl = μ + Ri(1,2,3) + Sj(1,2,3) + Bk(1,2,3) + RSij + Є(ijkl); μ = média geral; Ri = efeito do i-ésimo nível de restrição; Sj = efeito do j-ésimo sexo; Bk = efeito do k-ésimo bloco; RSij = efeito da interação restrição x sexo; Є(ijkl) = erro experimental aleatório. Para a realização das análises estatísticas foi aplicada a metodologia dos modelos lineares mistos, com máxima verossimilhança restrita, por meio do procedimento PROC MIXED do SAS (2002) utilizando-se o sexo como variável classificatória. As soluções dos coeficientes de regressão da retenção de proteína sobre o consumo de PB para cada sexo foram obtidas através da opção ESTIMATE. Para testar a diferença entre os coeficientes de regressão para cada sexo foi utilizado uma análise de contraste ortogonal (Opção CONTRAST). 2.2. Composição corporal e estimativa da exigência nutricional de proteína para ganho em peso No estudo da determinação da composição corporal e estimativa da exigência de proteína para ganho em peso foi planejado trabalhar com 54 animais da raça Saanen divididos em 18 machos, 18 castrados e 18 fêmeas. Porém, durante o experimento 30 perderam-se dois castrados decorrente de diarréia. Por isso, utilizaram-se 52 animais, sendo 18 machos, 16 castrados e 18 fêmeas. Os animais foram alojados em gaiolas individuais suspensas, com cocho individual para alimentos sólidos e um cocho com água a cada duas gaiolas. Os animais foram pesados semanalmente sempre antes do fornecimento da alimentação matinal. Seis machos e seis fêmeas (21±2,9 dias de idade) foram abatidos no início do experimento, com peso corporal (PC) médio de 5,2±0,61 kg. Não houve abate de castrados de 5 kg porque a castração dos animais ocorreu na segunda semana de vida dos mesmos, assim, eles foram castrados poucos dias antes do início do experimento, o que não proporcionaria efeito da castração na composição corporal. Seis animais de cada sexo foram alimentados à vontade e abatidos com PC médio de 9,9±1,65 kg, com 58±2,70 dias de idade. O resto dos animais foram também alimentado à vontade e abatidos com PC médio de 15,2±1,04 kg e 111±15,21 dias de idade. No período pré-experimental, os cabritos recém-nascidos receberam colostro e leite da espécie caprina, adotando como medida sanitária preventiva o tratamento térmico (60 minutos a 56ºC) seguido de armazenamento a -20ºC e fornecido à temperatura entre 35º e 38ºC. O colostro foi fornecido nos dois primeiros dias de vida, a partir do terceiro dia foi seguido o programa de aleitamento apresentado na Tabela 3. A alimentação foi feita em duas refeições, às 07h e às 17h. O alimento sólido foi ofertado a partir do 7º dia de vida e sempre com disponibilidade irrestrita de água. Tabela 3 - Sistema de aleitamento adotado aos animais submetidos a 0% de restrição até os 50 dias de vida Idade (dias) Manhã Tarde Total 00 a 02 Colostro Colostro Livre 03 a 33 750 ml 750 ml 1.500 ml 34 a 38 500 ml 1000 ml 1.500 ml 39 a 43 0 ml 1500 ml 1.500 ml 44 a 50 0 ml 750 ml 750 ml Após 50 FORNECIDO APENAS ALIMENTO SÓLIDO 31 A dieta foi balanceada para atender as exigências nutricionais de animais em fase de crescimento, de acordo com o NRC (2006), para ganho de 150 g por dia. O alimento sólido foi oferecido sob forma de ração completa (Tabela 2), onde o volumoso usado foi o feno da planta de milho (milho no ponto de silagem, colhido, fenado e triturado) e o concentrado a base de milho triturado, melaço, farelo de soja e mistura mineral, em relação volumoso/concentrado de 50:50 (na matéria seca). Os animais receberam o alimento de forma a garantir 20% de sobras. Os procedimentos de abate, obtenção de amostras de corpo e análises químicas (MS, PB, EE e MM) foram idênticos aos do estudo anterior. As equações de predição da quantidade dos nutrientes por kg de corpo vazio foram obtidas por meio da equação alométrica logarítmica da quantidade do nutriente presente no corpo vazio, em função do PCV (ARC, 1980): Log y = a + b* log PCV, Eq. 3 em que: Log y = logaritmo na base 10 do conteúdo total do nutriente no corpo vazio (g); a = intercepto; b = coeficiente de regressão; log PCV = logaritmo na base 10 do PCV (kg). A composição do ganho em peso de proteína foi estimada por meio da derivação da equação de regressão do conteúdo corporal de proteína, em função do logaritmo do PCV, obtendo-se a equação: Proteína (g/kg de PCV ganho) = b*10a*PCV(b-1), Eq. 4 em que: Y` = composição do ganho em peso de proteína (g/kg PCV ganho); a = intercepto da equação de predição do conteúdo corporal de proteína; b = coeficiente de regressão da equação de predição do conteúdo corporal de proteína; X = PCV (kg). 32 Para conversão da exigência de proteína líquida para ganho de PCV em exigência de proteína líquida para ganho de PC, utilizou-se o fator de correção gerado a partir da relação do PC em função PCV. E para a conversão da exigência de proteína líquida para ganho de PC em exigência de proteína metabolizável para ganho de PC foi utilizado a eficiência de utilização de 0,59 preconizada pelo AFRC (1998). Neste estudo da composição corporal foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 3 (3 pesos de abate e 3 sexos), conforme o modelo estatístico: Yijk = μ + b Ri(1,2,3) + Sj(1,2,3) + RSij + Є(ijk); em que Yijk = composição corporal, μ = média geral; b= coeficiente de regressão da composição corporal sobre o peso de abate Ri = efeito do i-ésimo peso de abate; Sj = efeito do j-ésimo sexo; RSij = interação peso de abate x sexo; Є(ijk) = erro aleatório. Para a realização das análises estatísticas foi empregado a metodologia dos modelos lineares mistos, com máxima verossimilhança restrita, por meio do procedimento PROC MIXED do SAS (2002) sendo utilizado o sexo como variável classificatória, com 38 graus de liberdade no resíduo. As soluções dos coeficientes de regressão da composição corporal sobre o peso de abate para cada sexo foram obtidas através da opção ESTIMATE. Para testar a diferença entre os coeficientes de regressão para cada sexo foi utilizado uma análise de contraste ortogonal (Opção CONTRAST). 3. Resultados 3.1. Exigência de proteína para mantença Nas Tabelas 4 e 5 são apresentados os dados gerais do experimento, em função do sexo (macho, castrado, fêmea) e do nível de restrição alimentar (0, 25, 50%), respectivamente. Não houve efeito significativo da interação entre os fatores sexo e nível de restrição (P>0,05) e do efeito principal do sexo (P>0,05) sobre nenhuma das variáveis avaliadas. 33 Tabela 4 - Idade inicial e final, dias experimentais, peso vivo e peso de corpo vazio (PCV) inicial, peso vivo e peso de corpo vazio final, escore de condição corporal (ECC) inicial e final, ganho de peso (GP) total e ganho de peso diário de cabritos Saanen em função do sexo (Média ± erro padrão) Variável Sexo Machos Castrados Fêmeas P Idade inicial (dia) 24±1,9 22±2,1 22±2,4 0,7513 Idade final (dia) 102±4,0 113±4,6 101±5,3 0,1673 Dias experimentais 79±3,8 90±4,3 80±4,9 0,0970 Peso vivo inicial (kg) 5,0±0,1 5,0±0,1 4,8±0,1 0,4170 Peso vivo final (kg) 11,4±0,4 12,2±0,4 12,0±0,4 0,4288 PCV inicial (kg) 4,2±0,1 4,2±0,1 4,0±0,1 0,2248 PCV final (kg) 8,9±0,3 9,5±0,4 9,1±0,4 0,5135 ECC inicial (1-5) 2,4±0,1 2,5±0,1 2,3±0,1 0,5563 ECC final (1-5) 2,1±0,1 2,3±0,1 2,2±0,1 0,5085 GP total (kg) 7,3±0,4 6,7±0,5 7,2±0,5 0,6305 GP diário (g/dia) 90±0,1 70±0,1 90±0,1 0,1118 Observou-se que o peso vivo (PV), PCV final, ECC final, GP total e GP diário tiveram efeito significativo (P<0,0001) em função do nível de restrição. À medida que aumentou o nível de restrição, houve diminuição do PV final, PCV final, o ECC e GP diário (Tabela 5). 34 Tabela 5 - Idade inicial e final, dias experimentais, peso vivo e peso de corpo vazio (PCV) inicial, peso vivo e peso de corpo vazio final, escore de condição corporal (ECC) inicial e final, ganho de peso (GP) total e ganho de peso diário de caprinos Saanen na fase inicial de crescimento em função da restrição alimentar (Média ± erro padrão) Variável Nível de restrição (%) 0 25 50 P Idade inicial (dia) 21±2,0 21±2,0 25±2,4 0,3051 Idade final (dia) 106±4,3 104±4,3 106±5,2 0,8977 Dias experimentais 86±4,0 83±4,0 81±5,0 0,7374 Peso vivo inicial (kg) 5,0±0,1 4,9±0,1 4,9±0,1 0,5193 Peso vivo final (kg) 14,9±0,4 11,2±0,4 9,4±0,5 0,0001 PCV inicial (kg) 4,2±0,1 4,1±0,1 4,1±0,1 0,5182 PCV final (kg) 12,1±0,3 8,5±0,4 6,9±0,4 0,0001 ECC inicial (1-5) 2,5±0,1 2,4±0,1 2,4±0,1 0,8545 ECC final (1-5) 3,2±0,1 2,2±0,1 1,2±0,1 0,0001 GP total (kg) 10,1±0,4 6,4±0,4 4,7±0,5 0,0001 GP diário (g/dia) 120±0,1 80±0,1 60±0,1 0,0001 Não houve efeito significativo da interação entre sexo e restrição alimentar (P>0,05) para consumo de nutrientes (Tabela 6). Em relação ao sexo, não houve diferença (P>0,05) no consumo de nenhum dos nutrientes avaliados. Porém, em relação ao nível de restrição, houve diferença (P<0,05) no consumo de todos os nutrientes, sendo que os consumos foram diminuídos à medida que o nível de restrição aumentou de 0 para 50%. 35 Tabela 6 – Consumo de matéria seca (CMS), matéria orgânica (CMO), carboidratos totais (CCHOT), proteína bruta (CPB), matéria mineral (CMM) e extrato etéreo (CEE) de cabritos Saanen Nutriente (g/dia) Sexo P Machos Castrados Fêmeas CMS 265,38±17,48 242,52±15,88 270,04±17,02 0,4540 CMO 212,20±12,05 185,62±11,28 224,11±12,05 0,0742 CCHOT 153,83±9,61 136,86±9,84 156,80±8,97 0,3045 CPB 41,25±2,22 39,16±2,17 44,94±2,52 0,2350 CMM 15,71±0,94 15,09±0,92 16,85±1,06 0,4627 CEE 17,11±1,12 16,35±1,02 18,73±1,15 0,3106 Nível de restrição (%) 0 25 50 CMS 339,37±14,46 249,17±15,87 189,39±19,64 0,0001 CMO 265,21±10,94 202,58±10,94 154,12±13,35 0,0001 CCHOT 188,42±8,10 147,01±9,62 112,06±10,57 0,0001 CPB 55,47±2,14 39,90±2,09 29,98±2,66 0,0001 CMM 21,05±0,90 14,95±0,88 11,64±1,12 0,0001 CEE 21,75±0,10 18,50±1,02 11,94±1,26 0,0001 Não houve diferença e nem interação (P>0,05) entre sexo e nível de restrição alimentar (0, 25 e 50%) para a digestibilidade de nenhum dos nutrientes avaliados (Tabela 7 e 8), respectivamente. 36 Tabela 7 – Digestibilidade de nutrientes de cabritos Saanen em função do sexo Variável (%) Sexo P Machos Castrados Fêmeas 1ª Digestibilidadea CDMS 94,07±0,96 94,88±1,13 95,06±1,18 0,7749 CDMO 94,35±0,95 95,33±1,13 95,21±1,18 0,7673 CDEE 99,33±0,11 99,46±0,14 99,33±0,14 0,7483 CDPB 93,88±1,05 93,74±1,23 94,02±1,29 0,9876 CDCHOT 91,54±1,49 93,87±1,75 93,64±1,84 0,5416 2ª Digestibilidadeb CDMS 93,04±0,97 92,32±1,13 93,11±0,98 0,8520 CDMO 93,14±1,10 92,26±1,28 93,18±1,11 0,8366 CDEE 99,31±0,16 99,26±0,18 99,25±0,16 0,9607 CDPB 92,47±1,17 90,53±1,36 92,27±1,19 0,5258 CDFDN 66,66±7,11 74,05±6,33 67,81±5,51 0,6883 CDFDA 52,60±10,68 62,00±10,22 54,11±9,99 0,7920 CDCHOT 90,98±1,34 90,64±1,56 91,14±1,36 0,9712 CDCHONE 89,31±12,95 82,69±11,52 72,16±10,03 0,5680 3ª Digestibilidadec CDMS 78,52±1,80 73,42±2,70 79,93±1,90 0,1589 CDMO 74,12±2,63 69,94±3,95 76,93±2,78 0,3629 CDEE 89,30±1,25 85,86±1,88 89,67±1,33 0,2414 CDPB 66,50±3,03 60,99±4,56 71,21±3,21 0,1991 CDFDN 62,05±4,62 47,77±6,57 60,93±4,62 0,1945 CDFDA 45,59±5,86 34,55±8,33 51,44±6,73 0,3077 CDCHOT 75,69±2,64 71,45±3,97 77,82±2,79 0,4355 CDCHONE 88,37±1,32 88,74±1,98 89,75±1,39 0,7696 aanimais alimentados somente com leite; banimais alimentados com leite e sólidos; canimais alimentados somente com alimento sólido 37 Tabela 8 – Digestibilidade de nutrientes de cabritos Saanen em função do nível de restrição Variável (%) Nível de restrição (%) P 0 25 50 1ª Digestibilidadea CDMS 95,37±1,18 95,53±0,88 93,11±1,18 0,2680 CDMO 95,59±1,18 95,78±0,88 93,52±1,18 0,3131 CDEE 99,40±0,14 99,40±0,10 99,34±0,14 0,9594 CDPB 95,57±1,29 94,76±0,97 91,33±1,29 0,0760 CDCHOT 93,06±1,84 94,27±1,38 91,72±1,84 0,5511 2ª Digestibilidadeb CDMS 93,85±0,97 93,24±0,93 91,37±1,17 0,2784 CDMO 93,86±1,10 93,35±1,06 91,37±1,32 0,3522 CDEE 99,45±0,16 99,27±0,15 99,09±0,19 0,3720 CDPB 93,52±1,17 92,56±1,13 89,20±1,41 0,0834 CDFDN 68,01±6,81 67,70±5,62 72,81±6,56 0,8206 CDFDA 56,02±11,54 51,53±9,25 61,17±9,99 0,7836 CDCHOT 91,73±1,34 91,23±1,29 89,80±1,62 0,6543 CDCHONE 79,42±9,18 87,29±7,83 84,15±8,84 0,8111 3ª Digestibilidadec CDMS 79,44±1,86 76,71±2,00 75,72±2,59 0,4398 CDMO 74,80±2,72 73,40±2,92 72,79±3,78 0,8941 CDEE 89,56±1,29 88,23±1,39 87,03±1,80 0,5158 CDPB 66,31±3,14 68,14±3,37 64,24±4,37 0,7786 CDFDN 61,82±4,77 54,63±4,86 54,30±6,29 0,5006 CDFDA 51,28±6,34 38,20±6,73 42,09±7,97 0,3667 CDCHOT 76,53±2,73 74,10±2,93 74,32±3,80 0,8082 CDCHONE 89,30±1,36 88,27±1,47 89,29±1,90 0,8554 aanimais alimentados somente com leite; banimais alimentados com leite e sólidos; canimais alimentados somente com alimento sólido 38 Como não houve diferença entre os sexos na exigência de proteína líquida para mantença, foi determinada uma única equação de regressão entre a quantidade de nitrogênio (N) retido (g/PCV0,75/dia) e a quantidade de N ingerido (g/PCV0,75/dia). Ret. Ptn= - 0,27±0,84 + 0,31±0,08*ConsPB / R2: 0,33 RMSE: 1,03; P>0,0005 Eq.[5] Com base na equação 5, a exigência de mantença em nitrogênio total foi estimada em 0,87 g N/ kg PCV0,75/dia. As perdas endógenas e metabólicas estimadas a partir desta equação foram de 270 mg N/ kg0,75/dia. A exigência de proteína líquida para mantença e a exigência de proteína metabolizável para mantença encontrada, foi de 1,69 g PB/ kg0,75/dia. 3.2. Exigências de proteína para ganho Os dados apresentados na Tabela 9 são relativos ao percentual (%) da composição corporal dos machos, castrados e fêmeas abatidos aos 5, 10 e 15 kg de PC. Houve efeito significativo da interação sexo e peso ao abate somente na composição corporal em gordura (P<0,05; Tabela - 10). Observou-se que o percentual médio de água, MS e MM foi de 63, 37 e 5% para cabritos Saanen, com peso corporal entre 5 e 15 kg, independente do sexo. A PB diminuiu 4,45% à medida que o peso variou de 5 para 15 kg, passando de 25,86 para 21,41% respectivamente, representando um decréscimo de 4,45%. 39 Tabela 9 - Composição corporal em água, matéria seca (MS), proteína bruta (PB) e matéria mineral (MM) de caprinos Saanen em função do sexo e abatidos aos 5, 10 e 15 kg de peso corporal (Média ± erro padrão) Variável (%) Sexo Machos Castrados Fêmeas Água 63,05±0,90 63,76±0,97 63,34±0,90 MS 37,14±0,83 36,42±0,89 36,66±0,83 PB 24,56±0,77 23,66±0,83 23,00±0,77 MM 5,31±0,18 5,10±0,19 5,07±0,18 Peso corporal (kg) 5 10 15 Água 61,31±0,90 63,29±0,90 63,55±0,97 MS 37,06±0,83 36,70±0,83 36,45±0,89 PB 25,86±0,77a 23,95±0,77b 21,41±0,83c MM 5,46±0,18 5,10±0,18 4,93±0,19 Médias seguidas por letra diferente na linha diferem pelo Teste de Tukey (P>0,05). Os dados apresentados na Tabela 10 são relativos ao percentual de EE da composição corporal dos machos, castrados e fêmeas alimentados à vontade e abatidos aos 5, 10 e 15 kg de PC. De maneira geral, verificou-se que à medida que o PC aumentou de 5 para 15 kg houve aumento do percentual de EE. Em relação à gordura, a interação observada na Tabela 10 demonstrou que este nutriente aumentou independente do sexo à medida que o PC variou de 5 para 15 kg, além disso, observou-se que não houve diferença no percentual de gordura entre sexos quando os animais tinham 5 e 10 kg de PC, porém, quando os animais tinham 15 kg de PC o percentual de gordura foi semelhante para machos (9,32%) e castrados (9,62%) e maior para fêmeas (11,73%). Este comportamento indica que a deposição diferenciada de gordura entre os sexos para caprinos Saanen na fase inicial de crescimento, iniciou- se no intervalo de 10 a 15 kg de PC. 40 Tabela 10 - Composição corporal em gordura de caprinos Saanen em função do sexo e abatidos aos 5, 10 e 15 kg de peso corporal (Média ± erro padrão) Peso corporal (kg) Sexo Machos Castrados Fêmeas 5 5,63±0,53Ac 5,63±0,53Ac 4,79±0,53Ac 10 7,35±0,53Ab 7,94±0,53Ab 7,38±0,53Ab 15 9,32±0,53Aa 9,62±0,65Aa 11,73±0,53Ba Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e mesma letra minúscula na coluna não diferem pelo Teste de Tukey (P>0,05). As equações alométricas logaritmizadas apresentadas na Tabela 11 foram feitas utilizando-se os machos, castrados e fêmeas alimentados à vontade e abatidos aos 5, 10 e 15 kg de PC. Os coeficientes de determinação (R2) e a raiz quadrada do erro (RMSE) obtidos demonstram baixa dispersão dos dados avaliados. Dentre as equações para predição da composição corporal apresentadas na Tabela 11 a única equação que diferiu entre os sexos foi a de gordura, obtendo-se uma única equação para machos e castrados e outra para fêmeas. Tabela 11 - Equações de regressão para estimar o peso de corpo vazio (PCV) e a composição corporal (água, cinzas, proteína, gordura e matéria seca) de caprinos Saanen Variável Equações alométricas logaritmizadas R2* RMSE** PCV (kg) PCV, kg=0,49±0,22 + 0,76±0,02 x PC1, Kg 0,96 0,62 Cinzas (g/kg PCV) Logcinzas, g=2,16±0,02 + 0,05±0,003 x LogPCV, kg 0,88 0,06 Proteína (g/kg PCV) Logproteína, g=2,52±0,03 + 0,82 ± 0,04 x LogPCV, kg 0,90 0,05 Água (g/kg PCV) Logágua, g=2,80±0,02 + 0,99±0,02 x LogPCV, kg 0,98 0,02 Matéria seca (g/kg PCV) Logmatéria seca, g=2,58±0,02 + 0,98±0,03 x LogPCV, kg 0,96 0,04 2Gordura (g/kg PCV) Macho e castrado Loggordura, g=1,44±0,04+1,47±0,05 x LogPCV, kg 0,96 0,06 Fêmea Loggordura, g=1,06±0,06+1,94±0,07 x LogPCV, kg 0,98 0,06 1PC: peso corporal 2Gordura: equação diferiu entre os sexos Todas as equações foram significativas a P<0.0001 *R2: coeficiente de determinação, **RMSE: raiz quadrada do erro 41 O PCV e os nutrientes apresentados na Tabela 12 foram estimados a partir das equações de regressão da Tabela 11. A quantidade de água, proteína e cinzas diminuíram com a mudança do PC de 5 para 15 kg e não diferiram entre os sexos. Já em relação à gordura, conforme o PC variou de 5 para 15 kg, os machos e castrados passaram de 54,6 para 88,17 g/kg PCV e as fêmeas passaram de 45,1 para 117,67 g/kg PCV. A quantidade de água, cinzas e proteína diminuíram em 1%, 62% e 17% respectivamente, sem haver diferenças entre os sexos. Tabela 12 - Peso de corpo vazio (PCV) e composição corporal de cabritos Saanen em função do sexo Variável Peso corporal (kg) 5 10 15 PCV (kg) 4,29 8,09 11,89 Água (g/kg PCV) 621,84 617,90 615,53 Proteína (g/kg PCV) 254,78 227,28 212,06 Cinzas (g/kg PCV) 36,24 19,84 13,76 Gordura (g/kg PCV) 1 Macho e castrado 54,61 73,58 88,17 Fêmea 45,13 81,94 117,67 Valores estimados utilizando-se as equações de regressão apresentadas na Tabela 11 1Gordura: composição corporal diferiu entre os sexos A composição do ganho em peso de proteína (Tabela 13) foi obtida por meio da derivação da equação alométrica logaritmizada apresentada na Tabela 11. Os resultados indicam que quando os animais passam dos 5 para os 15 kg de PC, a composição do ganho em peso variou de 208,9 para 173,9 g/kgGPCV, respectivamente. Portanto, à medida que o PC aumenta, a exigência de proteína diminui haja vista que os animais necessitam menor quantidade de proteína para ganhar 1 kg de PCV. 42 Tabela 13 - Equação para predição e composição do ganho em peso de corpo vazio (GPCV) de proteína de caprinos Saanen na fase inicial de crescimento Variável Peso corporal (kg) Equação para predição da exigência líquida de ganho 5 10 15 1PCV (kg) 4,29 8,09 11,89 Proteína (g/kg GPCV) 208,92 186,37 173,89 2Proteína = 271,53 x PCV-0,18 1Valor estimado pela equação alométrica PCV, kg=0,49 + 0,76 x PC, Kg 2Equação obtida pela derivação da equação da Tabela 11 Na Tabela 14 estão apresentados os dados de exigência líquida de proteína para ganho em PC, que foi encontrada dividindo a composição do ganho em peso pelos fatores obtidos a partir da relação PC/PCV, os quais foram 1,17, 1,24 e 1,26 para cabritos pesando 5, 10 e 15 kg, respectivamente. A exigência de proteína líquida e metabolizável para ganho diminuiu à medida que o PC variou de 5 para 15 kg. Tabela 14 - Exigência de proteína líquida para ganho em peso corporal (PLg) e exigência de proteína metabolizável para ganho em peso corporal (PMg) de caprinos Saanen abatidos aos 5, 10 e 15 kg de peso corporal Peso corporal (kg) PLg1 (g/kg GPC) PMg2 (g/kg GPC) 5 179,25 303,81 10 150,78 255,55 15 137,84 233,63 PC = peso corporal; GPC = ganho em peso corporal 1PLg = 271,53*PCV-0,18 ; 2Kf = 0,59 (AFRC, 1998) 3.3. Exigência total de proteína Na Tabela 15 verifica-se a compilação dos resultados obtidos neste estudo, com o intuito de proporcionar a visualização dos dados necessários para formulação de dietas balanceadas. A exigência de proteína líquida para mantença variou de 5,04, 8,11 e 10,82 quando o PC variou de 5, 10 e 15 kg respectivamente. A exigência de proteína líquida para ganho diminuiu à medida que o PC aumentou de 5 para 15 kg. 43 Tabela 15 - Exigências de proteína líquida para cabritos Saanen na fase inicial de crescimento Peso corporal (kg) Ganho diário (g) PLm PLg PLT 5 100 5,04 17,93 22,96 150 5,04 26,89 31,93 200 5,04 35,85 40,89 250 5,04 44,81 49,85 10 100 8,11 15,08 23,18 150 8,11 22,62 30,72 200 8,11 30,16 38,26 250 8,11 37,70 45,80 15 100 10,82 13,78 24,61 150 10,82 20,68 31,50 200 10,82 27,57 38,39 250 10,82 34,46 45,28 PLm = Proteína líquida para mantença PLg = Proteína líquida para ganho PLT = Proteína líquida total 4. Discussão As equações das exigências de proteína para mantença não diferiram entre machos, fêmeas e castrados, provavelmente porque os animais alimentaram-se com dieta única e mesma proporção volumoso:concentrado, fato que influenciou ao consumo de nutrientes não ter havido diferença (P>0,05) entre os sexos (Tabela 6), haja vista que alimentação diferente, gera tamanho e taxa metabólica diferenciada entre os órgãos viscerais. As perdas endógenas e metabólicas (270 mg de N/kg0,75/dia) e a exigência de proteína líquida para mantença (1,69 g PB/ kg0,75/dia) encontradas neste estudo, se 44 aproximaram bastante dos valores encontrados por MEDEIROS (2001) que ao também avaliar caprinos machos na fase inicial de crescimento (5 à 20 kg de PC) encontrou valores de 0,211 mg de N/kg0,75/dia para perdas endógenas e metabólicas e 1,32 gPB/ kg0,75/dia para exigência de proteína líquida para mantença, a semelhança desses resultados poderia ser explicada pela utilização da mesma raça e fase de vida. No entanto, existem algumas pesquisas nacionais, como por exemplo, FERNANDES et al. (2007) que avaliaram caprinos machos cruzados ¾ Boer e ¼ Saanen com variação de peso entre 20 e 35 kg de PC e encontraram perdas endógenas de 0,391 mg de N/kgPCV0,75 e exigência de proteína líquida para mantença de 2,44 gPB/kgPCV0,75, e também TEIXEIRA (2004), que avaliou caprinos machos F1 Boer X Saanen de 5 a 15 kg de PC e encontrou perdas endógenas e metabólicas de 0,395 mg de N/kg0,75/dia, com exigência de proteína líquida para mantença de 2,46 gPB/ kg0,75/dia que justificam as diferenças existentes entre raças e cruzamentos, uma vez que, animais com aptidão para produção de carne depositam mais tecido muscular que animais leiteiros, tendendo a exigirem maior quantidade de proteína. Diferenças nos coeficientes de digestibilidade de nutrientes para os diferentes sexos e níveis de restrição não foram observadas (Tabelas 7 e 8), provavelmente pelo fato de os animais serem alimentados com a mesma dieta, já que alterações na composição bromatológica, relação volumoso:concentrado e consumo voluntário são os fatores que exercem maior influência na digestibilidade dos nutrientes. Considerando que os animais ainda estavam consumindo leite na primeira e segunda digestibilidade, e que o leite é um alimento altamente digestível, o mesmo pode ter contribuído para os altos coeficientes de digestibilidade (especialmente para MS, MO, EE, PB e CHOT) observados e ainda não permitir que houvesse diferenças entre os sexos e níveis de restrição. Os percentuais de água, MS, PB e MM não diferiram entre os sexos, demonstrando que na fase inicial de vida (até 105 dias de idade) os caprinos possuem mesma composição corporal, independente do sexo (Tabela 9), com exceção da gordura (Tabela 10). 45 Normalmente, animais castrados depositam mais gordura que os machos e são semelhantes às fêmeas, entretanto, na fase de vida avaliada neste estudo (5 a 15 kg de PC), machos e castrados tiveram a mesma composição em gordura, o que pode ser explicado pelo pouco espaço de tempo entre a castração e o abate dos animais, uma vez que, animais castrados somente depositam gordura de forma pronunciada à medida que ficam mais pesados (MARCONDES et al., 2009). A relação entre aumento de peso e deposição de gordura pode ser atribuída às modificações hormonais que ocorrem especialmente na puberdade. Segundo LAWRENCE & FOWLER (2002), os hormônios esteróides gonadais (testosterona e estrógeno) são agentes anabolizantes e estão envolvidos diretamente na estimulação do crescimento quando os animais estão na fase de puberdade. Embora os animais ainda não estivessem iniciado a fase de puberdade, as diferenças observadas para deposição de gordura indicam que já pode existir efeitos desses hormônios já na fase inicial de crescimento. De acordo com SANZ SAMPELAYO et al. (2003), o tecido adiposo é o mais variável na composição corporal de caprinos. Quando o peso aumentou de 5 para 15 kg, houve aumento da quantidade de gordura corporal em 61% para machos e castrados e 160% para fêmeas (Tabela 12). O estrógeno regula a quantidade e distribuição da gordura corporal e, como esse hormônio tem maior concentração em fêmeas, sua ação é mais acentuada neste sexo que em machos e castrados (HOSSNER, 2005). Ainda segundo este autor, as fêmeas geralmente têm menor tamanho corporal, menos massa muscular e maior proporção de gordura corporal quando comparadas aos machos, o que pode explicar os resultados obtidos neste estudo. Além do estrógeno, a insulina, produzida pelo pâncreas, pode estimular a deposição de gordura, por meio do aumento da permeabilidade das membranas dos adipócitos à glicose (PRIOR & SMITH, 1982). Maior peso de pâncreas foi observado nas fêmeas deste estudo por MENDONÇA et al. (2010), que relataram diferenças apenas entre fêmeas (2,63 g/kg PCV) e machos (2,11 g/kg PCV). O maior peso de pâncreas das fêmeas pode estar relacionado à maior produção de insulina e, consequentemente, aumento na deposição de gordura. 46 YÁNEZ et al. (2007) avaliaram caprinos Saanen com peso corporal entre 5 e 35 kg e descreveram que a taxa de crescimento do tecido muscular é constante durante o desenvolvimento do animal, e que o tecido adiposo passa a ter maior crescimento a partir dos 21 kg de PC. No entanto, os resultados encontrados neste estudo mostraram que o tecido adiposo teve um crescimento acentuado (160%) entre os 5 e 15 kg de PC, principalmente para as fêmeas, numa fase de vida ainda muito jovem. Ao estudarem a composição corporal de cordeiros pesando aproximadamente 14 kg de PC e de diferentes sexos, SEARLE & GRIFFITHS (1976) também observaram efeito do sexo sobre o conteúdo de gordura corporal. As fêmeas, por serem de maturidade mais precoce, atingem esse tempo de maior ímpeto de deposição de gordura mais cedo que os machos (PAULINO et al., 2009). Estes resultados se assemelham aos reportados por MARCONDES et al. (2009) que, ao estudarem bovinos das três classes sexuais, observaram aumento nos conteúdos corporais de gordura à medida que o peso vivo aumentou de 300 para 450 kg e que os conteúdos de gordura foram numericamente superiores nas fêmeas em relação aos machos castrados, que por sua vez, foram superiores aos dos machos não-castrados. Um dos fatores que poderiam ocasionar a deposição de tecido adiposo precocemente seria a alimentação com alto teor de energia, no entanto, apesar de no presente trabalho ter-se utilizado uma alimentação energética, provavelmente não deve ter sido este o fator que ocasionou a deposição precoce de gordura nas fêmeas, tendo em vista que machos, castrados e fêmeas foram igualmente alimentados. É possível que já exista ação dos hormônios relacionados ao metabolismo energético que influenciem a deposição da gordura em animais jovens, mesmo que estes ainda não tenham atingido a puberdade, período em que a taxa de deposição de massa muscular supera o ritmo de acúmulo de gordura (PEREIRA FILHO et al., 2008). Outros hormônios como o T3 (tri-iodotironina) e T4 (tetra-iodotironina) têm função anabolizante nas células de praticamente todos os tecidos, regulando o consumo de oxigênio, síntese e metabolismo de lipídeos, proteína e carboidratos (LAWRENCE & FOWLER (2002), podendo contribuir com o crescimento e deposição de gordura. Os pesos de alguns órgãos dos animais deste trabalho foram publicados por MENDONÇA et al. 47 (2010) e observou-se maior peso de tireóide nas fêmeas (2,70 g/kg PCV) em comparação aos machos (1,93 g/kg PCV) e castrados (2,17 g/kg PCV). Maior peso de tireóide pode estar relacionado a maior atividade metabólica desta glândula, e este, por sua vez, com maior produção dos hormônios tireoidianos (T3 e T4), o que pode ter ocorrido com as fêmeas que apresentam maior deposição de tecido adiposo. MARCATO et al. (2010) afirma que o aumento do tamanho do fígado, principal órgão metabólico do corpo, acarreta em maior atividade metabólica e esta afirmação pode ser adotada para outros órgãos e glândulas metabólicas, como tireóide, pâncreas e baço. Além disso, segundo CUNNINGHAM (2004), a tireóide é a glândula endócrina mais importante para a regulação metabólica. De acordo com ALMEIDA et al. (2001) as variações nas quantidades de água, cinzas, proteína e gordura depositadas no corpo estão associadas a diferentes padrões de crescimento dos tecidos corporais, com taxas de crescimento inerentes às distintas fases da vida do animal. A pequena variação na quantidade de água (Tabela 8), provavelmente é por conta dos animais ainda serem muito jovens. Não houve efeito do sexo sobre a quantidade de proteína do PCV (Tabela 8), provavelmente, devido aos animais ainda não terem atingido a puberdade, fase de maior liberação de testosterona, hormônio que ocasiona maior taxa de acréscimo de proteína no corpo vazio de machos não castrados em relação aos castrados e às fêmeas (FLETCHER et al., 1986). Este hormônio possui efeito anabólico sobre a proteína corporal provavelmente expresso pela redução na degradação protéica nos músculos (LOBLEY et. al., 1990; MORGAN et. al., 1993) e, menos intensamente, pelo aumento na taxa de síntese protéica (MARTINEZ et. al., 1984). De acordo com o ARC (1980), à medida que a idade e o PC aumentam, eleva-se o conteúdo de gordura e diminui o de proteína no corpo e no ganho em peso dos bovinos e ovinos, este fato também ocorreu neste estudo, quando os cabritos aumentaram de 5 para 15 kg de PC (Tabela 8). O aumento na proporção de gordura e a diminuição da proporção de água, cinzas e proteína do corpo com o aumento do PCV foi coerente com a curva de crescimento animal onde o tecido adiposo tem crescimento tardio em relação ao crescimento do corpo, aumentando a sua taxa de deposição 48 quando a de outros tecidos está na fase descendente (LAWRENCE & FOWLER, 2002). Porém, o conteúdo protéico decresceu ainda em plena fase de desenvolvimento corporal, haja vista que os animais não atingiram a puberdade fisiológica. CARVALHO et al. (2000) observaram que o conteúdo corporal de proteína não diferiu entre os sexos e elevou-se com o aumento do PCV de 5 para 15 kg, variando de 153,40 a 167,02 g de proteína/kgPCV, diferindo dos