UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA Andréa Cibele Roque Navegação de pacientes oncológicos: benefícios e desafios para a prática de enfermeiros assistenciais Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Enfermagem Orientadora: Profª Associada Regina Célia Popim Coorientadora: Profª Drª Ivana Regina Gonçalves Botucatu 2023 Andréa Cibele Roque Navegação de pacientes oncológicos: benefícios e desafios para a prática de enfermeiros assistenciais Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Enfermagem Orientadora: Profª Associada Regina Célia Popim Coorientadora: Profª Drª Ivana Regina Gonçalves Botucatu 2023 Andréa Cibele Roque Navegação de pacientes oncológicos: benefícios e desafios para a prática de enfermeiros assistenciais Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Enfermagem Orientadora: Profª Associada Regina Célia Popim Coorientadora: Profª Drª Ivana Regina Gonçalves Comissão examinadora: Profa. Dra. Regina Célia Popim Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Profa. Dra. Vera Lúcia Pamplona Tonete Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Prof(a) Dr(a) Pérola Liciana Baptista Cruz e Silva Faculdades Integradas de Jaú Botucatu, 15 de fevereiro de 2023. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Aos meus pais, Francisco (in memoriam) e Aparecida, que muitas vezes se doaram e renunciaram aos seus sonhos para que eu pudesse realizar os meus. Sempre me conduziram a agir com respeito, honestidade, dignidade, empatia e amor ao próximo. A vocês meu imensurável amor. Meu agradecimento pela estrutura sólida que me propiciaram...Obrigada! À Regina Popim, minha orientadora, que acreditou em mim e me mostrou outros tantos caminhos. Obrigada pelo apoio, atenção e principalmente pela oportunidade da realização deste trabalho. Serei eternamente grata! À Ivana Gonçalves, minha coorientadora, por acreditar em mim desde a graduação, pela ajuda fundamental no desenvolvimento desse trabalho, pelo incentivo, motivação, orientação, compreensão e, acima de tudo, por sua amizade. Muito obrigada! AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus e a Nossa Senhora por me darem a vida e me fazer ser forte mesmo diante das dificuldades, guiando e conduzindo pelo melhor caminho. Ao Reinaldo, meu eterno agradecimento e amor, por sempre acreditar e apoiar meus sonhos e objetivos. Obrigada por sempre estar ao meu lado e por nunca me desamparar. Os momentos de desânimo, angústia, cansaço, das ausências, superam esse momento. Obrigada! Te amo! À minha sobrinha Francine, por representar constante incentivo no alcance dos meus objetivos. Você é umas das razões por eu sempre querer mais... Aos meus irmãos, Leandro e Alessandra, pelo amor, amizade e carinho de sempre. À todos os funcionários do Ambulatório de Oncologia pelo apreço, profissionalismo e empatia que depositaram em mim. Meu muito obrigada! À todos meus parceiros de trabalho que entenderam minha ausência, e contribuíram para a formalização deste sonho. Obrigada! Contem sempre comigo. RESUMO ROQUE, Andréa Cibele. Navegação de pacientes oncológicos: benefícios e desafios para a prática de enfermeiros assistenciais. 2022. 70f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2022. Introdução: o primeiro programa de navegação de pacientes foi desenvolvido em 1990, no Harlem, Nova York, pelo médico estadunidense Harold Freeman, surgindo a figura do enfermeiro navegador, como profissional indicado para assegurar o continuum da assistência, junto à equipe multidisciplinar. Objetivo geral: apreender os benefícios e os desafios para a prática de enfermeiros assistenciais na navegação de pacientes oncológicos. Métodos: realizou-se, inicialmente, revisão de literatura que objetivou analisar pesquisas que adotaram como objeto de estudo os benefícios do programa navegação de pacientes e a assistência de enfermagem em serviços de oncologia, utilizando a estratégia PICO para a elaboração da pergunta a ser respondida pela literatura: “Quais benefícios a navegação de pacientes contribui para melhoria e qualidade da assistência de enfermagem abordados pela literatura científica?”. Foram buscados artigos publicados em periódicos na modalidade open acess, em periódicos incluídos nas bases de dados LILACS, Medline, IBECS, BDENF e SCIELO, entre 2015 e 2020, sendo os resultados sistematizados com o apoio do software Rayyan Systems Inc. Com base nos achados dessa revisão, foi realizado estudo de abordagem qualitativa, conduzido após aprovação por comitê de ética em pesquisa local, que contou com a participação de seis enfermeiros assistenciais atuantes em ambulatório de oncologia de um hospital público do interior paulista. A análise dos depoimentos, coletados por entrevistas semiestruturadas, foi realizada por meio de técnicas de análise de conteúdo, vertente temática, segundo Bardin, considerando os nove princípios da navegação de pacientes oncológicos de Harold Freeman. Resultados: a revisão integrativa de 11 artigos permitiu sistematizar os benefícios relativos à inserção do programa de navegação de pacientes e da enfermagem em serviços de oncologia em três categorias: reestruturação da assistência, buscando padronização e diretrizes; agilidade no tratamento; e empoderamento da família/cliente no seguimento dos processos/tratamentos. A literatura revisada mostrou promissores benefícios ao cliente/família e à instituição, além da agilidade nos processos inerentes ao tratamento. O segundo estudo, que teve como objetivo: Compreender experiências de enfermeiros assistenciais segundo os princípios da navegação de pacientes oncológicos propostos por Harold Freeman, possibilitou sistematizar cinco categorias no atendimento aos pacientes: fluidez na assistência; integração entre as equipes; vínculo com pacientes, seus familiares e os enfermeiros; delimitação de competências dos enfermeiros assistenciais na navegação de pacientes oncológicos; e valorização e facilidades no treinamento das equipes. Considerações finais: a revisão integrativa de literatura revelou a importância dos enfermeiros navegadores de paciente oncológicos, tanto para os próprios pacientes e suas famílias, quanto para a organização da assistência prestadas a eles. Em complementação, o segundo estudo permitiu considerar que, mesmo sem especialização específica e sem implantação institucional do programa de navegação de pacientes oncológicos, os enfermeiros têm seguido alguns dos princípios propostos por Harold Freeman, contribuindo para a qualificação dos cuidados prestados. Espera-se que esses estudos ressaltem a importância da atuação de enfermeiros navegadores em oncologia e estimulem esses e demais profissionais envolvidos com essa assistência, a implementarem, institucionalmente, programa de navegação de pacientes com câncer. Palavras-chave: Navegação de pacientes; Enfermagem; Oncologia; Pesquisa Qualitativa. ABSTRACT ROQUE, Andrea Cibele. Navigation of cancer patients: benefits and challenges for the practice of clinical nurses. 2022. 70f. Dissertation (Master’s in Nursing) - Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2022. Introduction: the first patient navigation program was developed in 1990, in Harlem, New York, by the American physician Harold Freeman, with the emergence of the navigator nurse as a professional indicated to ensure the continuum of care, along with the multidisciplinary team. Objective: to learn the benefits and challenges for the practice of clinical nurses in the navigation of cancer patients. Methods: First of all, a literature review was carried out with the aim of analyzing studies that adopted as an object of study the benefits of the patient navigation program and nursing care in oncology services, using the PICO strategy for the elaboration of the question to be answered by the literature: “What benefits does patient navigation contribute to the improvement and quality of nursing care addressed by the scientific literature?”. Articles published in journals in the open access modality, in journals included in the LILACS, Medline, IBECS, BDENF and SCIELO databases, between 2015 and 2020, were searched, and the results were systematized with the support of the software Rayyan Systems Inc. Based on the findings of this review, a study with a qualitative approach was carried out, conducted after approval by the local research ethics committee, with the participation of six clinical nurses working in an oncology outpatient clinic of a public hospital in the countryside of São Paulo. The analysis of the testimonies, collected through semi-structured interviews, was carried out using content analysis techniques, thematic approach, according to Bardin, considering Harold Freeman's nine principles of navigation for cancer patients. Results: the integrative review of 11 articles allowed systematizing the benefits related to the insertion of the patient and nursing navigation program in oncology services into three categories: restructuring of care, seeking standardization and guidelines; agility in the treatment; and empowerment of the family/client following the processes/treatments. The reviewed literature showed promising benefits for the client/family and the institution, and the agility in the processes inherent to the treatment as well. The second study, which aimed to: Understand the experiences of clinical nurses according to the principles of navigation for cancer patients proposed by Harold Freeman, made it possible to systematize five categories in patient care: fluidity in care; integration between teams; bond with patients, their families and nurses; delimitation of competences of clinical nurses in navigating cancer patients; and valuation and facilities in the training of teams. Final considerations: the integrative literature review revealed the importance of oncology patient navigator nurses, both for the patients themselves and their families, and for the organization of care provided to them. In addition, the second study allowed us to consider that, even without specific specialization and without institutional implementation of the navigation program for cancer patients, nurses have followed some of the principles proposed by Harold Freeman, contributing to the qualification of the care provided. It is expected d that these studies highlight the importance of the role of navigator nurses in oncology and encourage these and other professionals involved with this assistance to institutionally implement a navigation program for cancer patients. Keywords: Patient navigation; Nursing; Oncology; Qualitative research. LISTA DE QUADROS Artigo I Quadro 1 - Descrição da estratégia PICO. Botucatu - SP, 2021 .......................... 22 Quadro 2 - Descrição da estratégia de busca PICO. Botucatu – SP, 2021 .......... 22 Quadro 3 - Estratégia de busca em bases de dados. Botucatu - SP, 2021 ......... 23 Quadro 4 -Descrição dos manuscritos selecionados conforme autor/ano, título objetivo, método e principais achados. Botucatu - SP, 2021 .............. 24 Quadro 5 -Descrição dos artigos selecionados conforme objetivo, método e resultados. Botucatu - SP, 2021 ............................................................ 25 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar CACOM Centros de Alta Complexidade em Oncologia COREQ Critérios Consolidados para Relatos de Pesquisa Qualitativa EANN Escala de Avaliação das Necessidades de Navegação FAMESP Fundação para o Desenvolvimento Médico Hospitalar FCMBB Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu HCFMB Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu HEBO Hospital Estadual Botucatu MS Ministério da Saúde NP Navegação de Pacientes OMS Organização Mundial da Saúde PCA Pesquisa Convergente Assistencial SUS Sistema Único de Saúde TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UICC União Internacional para o Controle do Câncer UNESP Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13 2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 18 3 RESULTADOS .................................................................................................... 19 3.1 ARTIGO I - Benefícios do programa de navegação de pacientes e assistência de enfermagem em oncologia: revisão integrativa ................... 20 3.2 ARTIGO II - Experiências de enfermeiros assistenciais: aproximações aos princípios da navegação de pacientes oncológicos. .................................... 34 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 55 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 56 ANEXO ................................................................................................................ 61 ANEXO 1 – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética e Pesquisa ......... 62 APÊNDICES ........................................................................................................ 67 APÊNDICE 1 – Folha de caracterização do participante ................................. 68 APÊNDICE 2 –Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................ 69 APÊNDICE 3 – Nove princípios da navegação de pacientes .......................... 70 1 INTRODUÇÃO 13 Roque AC et al 2022 1 INTRODUÇÃO O câncer é a segunda causa de morte no mundo, sendo considerado, nos países desenvolvidos, um problema de saúde pública1. No continente americano, o câncer é a segunda causa principal de mortes, estimando-se que, em 2020, aproximadamente 1,4 milhão de pessoas faleceram devido a essa doença, e quatro milhões receberam o diagnóstico. Em relação à faixa etária atingida, tanto por diagnóstico quanto por morte, respectivamente, 57% e 47% das pessoas tinham menos de 69 anos de idade2. No Brasil, houve 522.212 novos casos em 2020, com aproximadamente 206.000 mortes, e estima-se que, para as próximas décadas, o impacto dessa doença na população mundial gere um aumento de quase 47% em relação aos números de 2020. Essa projeção reflete o aumento no número de idosos, o crescimento populacional, o acentuado predomínio dos fatores de risco, o diagnóstico tardio e a dificuldade de acesso aos tratamentos3. Com uma iniciativa global da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) e o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), a data de quatro de fevereiro emerge objetivando realizar ações de combate à doença e promover conscientização, na esfera mundial, acerca do tema. Mesmo com tais medidas, para o triênio de 2020-2022 são estimados 625.000 novos casos por ano, preocupando as organizações de saúde4. Medidas para o enfrentamento dessa doença no país advêm de décadas atrás e as primeiras iniciativas do Ministério da Saúde (MS) para enfrentar, de forma organizada, a crescente demanda por tratamento de câncer no Brasil surgiram em 1993. Em 1998, a Portaria nº 3.535, da Secretaria de Assistência à Saúde, garantiu o atendimento integral às pessoas acometidas por neoplasias malignas e estabeleceu uma rede hierarquizada de Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACOM), como também atualizou os critérios para seu cadastramento. E, em 2005, surgiu a Portaria nº 2.439, que inovou a abordagem às neoplasias ao decretar o conceito do câncer como um problema de saúde púbica e ao mobilizar as bases para uma ampla Política Nacional de Atenção Oncológica5. Em 2013, o MS lançou a Portaria nº 814, que instituiu a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de 14 Roque AC et al 2022 reduzir a mortalidade e a incapacidade causadas por essa doença e, ainda, possibilitar a diminuição da incidência de alguns tipos de câncer, bem como contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos usuários com a patologia, por meio de ações de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento oportuno e cuidados paliativos6. Em seguida, em 2014, a Portaria nº 140 foi publicada e redefiniu os critérios e parâmetros para organização, planejamento, monitoramento, controle e avaliação dos estabelecimentos de saúde habilitados na atenção especializada em oncologia e definiu as condições estruturais, de funcionamento e de recursos humanos para a habilitação desses estabelecimentos no âmbito do SUS7. O projeto OncoRede foi lançado em 2016, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), visando a reorganização da rede de atenção oncológica. A proposta busca a melhoria da qualidade do cuidado em saúde, de modo a induzir a implementação de um sistema de cuidado coordenado, efetivo e resolutivo que propicie a redução do tempo médio entre o diagnóstico e o início do tratamento do paciente oncológico, a partir do diagnóstico precoce. O projeto enfatiza a necessidade de articular toda a rede de cuidados e de organizar melhor a transição entre o diagnóstico e o tratamento, colocando em debate estratégias para reorganizar essa rede de cuidado integral em oncologia e, principalmente, trazendo o paciente para o centro do sistema e do cuidado8. A implementação de programas de navegação de pacientes, com a proposição do profissional navegador de paciente, surge como uma das principais estratégias para reorganização do modelo de atenção ao câncer. O papel principal desse profissional consiste em ajudar o paciente a “navegar” pelo percurso assistencial da linha de cuidado, guiando-o e “navegando-o” durante todo o tratamento, de forma a eliminar toda e qualquer barreira que possa prejudicar o sucesso da terapia, facilitando e monitorando seu tratamento e os pontos de dificuldades8. As primeiras iniciativas com o programa Navegação de Pacientes (NP) voltaram-se a melhorar os resultados em populações vulneráveis, eliminando barreiras ao diagnóstico e tratamento oportunos para o câncer e outras doenças crônicas, auxiliando o paciente a navegar pelo sistema de saúde9. O propósito básico da “navegação” é o continuum de cuidados de saúde que representa o acompanhamento da assistência durante a prevenção, detecção, diagnóstico e tratamento da doença e, também, durante a sobrevivência do paciente até o final da vida, de forma a facilitar o acesso de todos a cuidados de qualidade, promover melhor 15 Roque AC et al 2022 adesão ao tratamento e ajudar o paciente a ter uma assistência de qualidade e de forma facilitada10. O conceito de NP foi desenvolvido a partir de achados das Audiências Nacionais da Sociedade Americana do Câncer sobre Câncer nos Pobres, realizadas em 1989, e que se embasavam nas experiências de, majoritariamente, pessoas pobres de diversos grupos étnicos que portavam a doença. Naquele mesmo ano, a American Cancer Society emitiu um “Relatório à Nação sobre o Câncer nos Pobres” com base nessas experiências, e as principais barreiras relatadas foram: pessoas pobres, muitas vezes, não tratam o câncer; pessoas pobres e suas famílias fazem sacrifícios para arcar com os custos do tratamento; o fatalismo da doença prevalece entre os mais pobres; os programas atuais de educação não sensibilizam a população9. Nessa vertente, foi desenvolvido pelo médico estadunidense Harold Freeman em conjunto com American Cancer Society National Hearings on Cancer in the Poor, o primeiro programa de NP do país, sendo concebido e iniciado em 1990, no Harlem, Nova York. Esse programa focalizou na janela crítica de oportunidade para salvar vidas do câncer, buscando eliminar as barreiras do atendimento entre o ponto de um achado suspeito e a resolução do achado por diagnóstico e tratamento adicionais. Com sua implantação, observou-se melhora na educação e no acesso ao diagnóstico e tratamento precoce, aumentando a taxa de sobrevida de pacientes com câncer de mama9. Harold Freeman descreve nove princípios da navegação de pacientes, sendo eles: ser um modelo de atendimento em que o foco é fazer com que a passagem do paciente pelo sistema de saúde ocorra de forma fluida e suave durante todo o cuidado; ser facilitador na integração de esferas fragmentadas da saúde para que o acesso do paciente à assistência seja contínuo; estabelecer uma estreita relação entre pacientes e navegador, proporcionando a eliminação das barreiras que impeçam o efetivo acesso aos cuidados da saúde; definir um escopo claro em relação às distinções de tarefas e profissionais, a fim de manter os navegadores integrados às suas funções e aos outros profissionais da assistência; entregar as tarefas de maneira a englobar o custo/efetivo e proporcional às habilidades e treinamentos necessários para efetuar a plena navegação em todas as fases da assistência; determinar qual processo deve ser feito por cada navegador a partir de seus conhecimentos e treinamentos, sejam eles leigos e/ou profissionais; especificar em qual ponto da assistência deve começar 16 Roque AC et al 2022 e terminar a navegação de pacientes; ser o facilitador na conexão de sistemas de saúde desconectados; haver uma coordenação que entenda o processo de navegação, mas que não esteja envolvida na forma de trabalho com ele9,10. Com o desenvolvimento de programas de navegação surgiu a figura do enfermeiro navegador no cenário da oncologia. Seu papel é o de oferecer um efetivo suporte aos pacientes, fornecendo informações e gerenciando a complexidade do diagnóstico e tratamento oncológico em conjunto com todos os membros da equipe multidisciplinar11. Facilitar a NP entre as etapas de descoberta e tratamento se mostra de extrema relevância, pois sabe-se que o tratamento contra o câncer ocasiona inúmeros sentimentos de incertezas. Além disso, alguns pacientes enfrentam, ainda, certas dificuldades que trazem consequências importantes ao ciclo de seu tratamento, sendo que essas barreiras ocorrem desde o rastreamento até o diagnóstico e o tratamento tardio da doença, promovendo a diminuição de chances de sobrevida e cura12. Poucos estudos já foram realizados no Brasil acerca desse tema13, contudo, destaca-se o papel do Enfermeiro Navegador na coordenação do cuidado11, e melhores resultados clínicos são evidenciados no paciente com câncer por meio da realização da navegação pelo enfermeiro em todo o processo dos cuidados à saúde, desde o diagnóstico, durante o tratamento e no fim de vida12, momentos estes em que o papel enfermeiro navegador está centrado em minimizar as barreiras de acesso ao sistema de saúde que impeçam o paciente de ter o cuidado de que ele necessita14, sendo tal atuação fundamental pra facilitar os acessos aos cuidados15. Acrescenta-se que o enfermeiro é considerado como profissional indicado para realizar a função de navegador, pois seu conhecimento na área de atuação faz com ele seja o mais adequado para atuar junto ao médico e toda a equipe multidisciplinar para identificar lacunas e remover barreiras de acesso ao sistema de saúde, gerenciando as necessidades do paciente nos cuidados oncológicos8. A implantação de programas de NP, embora incipiente, vem sendo considerada um diferencial nos serviços de oncologia do Brasil, sobretudo com atuação do Enfermeiro Navegador, especialmente por agilizar os processos inerentes ao tratamento, facilitando o acesso em todo o percurso assistencial e eliminando barreiras que dificultam o acesso ao sistema de saúde e que podem atrasar o início do tratamento11. 17 Roque AC et al 2022 Tendo em vista a relevância das potencialidades dos programas de NP para superar as dificuldades enfrentadas pelo paciente que convive com o câncer, este estudo buscou mapear as produções de pesquisas que adotaram como objeto de estudo os benefícios de programas com enfermeiros navegadores em serviços de oncologia, assim como procurou compreender as experiências de enfermeiros assistenciais, segundo os princípios da NP oncológicos propostos por Harold Freeman. Dessa forma, esta Dissertação de Mestrado compõe-se da apresentação de dois estudos complementares, conduzidos para a obtenção de uma análise compreensiva da questão central de nosso interesse: apreender os benefícios e os desafios para a prática de enfermeiros assistenciais na navegação de pacientes oncológicos. Nesse sentido, os dois estudos servem como ponto de partida para as análises sequenciais necessárias ao aprofundamento da compreensão da referida prática. 2 OBJETIVOS 18 Roque AC et al 2022 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral ➢ Apreender os benefícios e os desafios para a prática de enfermeiros assistenciais na navegação de pacientes oncológicos. 2.2 Objetivos específicos ➢ Analisar pesquisas que adotaram como objeto de estudo os benefícios do programa navegação de pacientes e a assistência de enfermagem. ➢ Compreender experiências de enfermeiros oncológicos assistenciais segundo os princípios de navegação de pacientes de Harold Freeman. Os objetivos supramencionados foram alcançados por meio de dois estudos, que resultaram nos artigos a seguir apresentados. Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 19 Roque AC et al 2022 3 RESULTADOS Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 20 Roque AC et al 2022 3.1 ARTIGO I - Benefícios do programa de navegação de pacientes e assistência de enfermagem em oncologia: revisão integrativa RESUMO Objetivo: Analisar pesquisas que adotaram como objeto os benefícios do programa navegação de pacientes e a assistência de enfermagem. Método: Trata-se de uma revisão integrativa utilizando a estratégia PICO (Paciente, Intervenção, Comparação e Desfecho). Bases de dados selecionadas: LILACS, Medline, IBECS, BDENF e SCIELO, entre 2015 e 2020. Descritores de busca: Enfermagem; Navegação de pacientes; Oncologia; Assistência. Resultados: Foram analisados 11 artigos, nos quais pode-se verificar que os benefícios relativos à inserção do programa de navegação de pacientes e da enfermagem dentro dos serviços de oncologia foram: reestruturação de ambos buscando a padronização e diretrizes; agilidade no tratamento; além do empoderamento da família/cliente no seguimento dos processos/tratamentos. Conclusões: No Brasil, há poucos estudos relacionados à implementação do programa de navegação a da assistência em enfermagem na oncologia. Porém, a literatura existente trouxe como promissores os benefícios ao cliente/família e à instituição, além da agilidade nos processos inerentes ao tratamento. Descritores: Enfermagem; Navegação de Pacientes; Assistência; Oncologia. Descriptors: Nursing; Patient Navigator; Assistance; Oncology. INTRODUÇÃO De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que haverá 27 milhões de novos casos de pessoas acometidas pelo câncer em 2030, além de 17 milhões de mortes pela doença e 75 milhões de indivíduos convivendo com tal enfermidade1. Neste contexto, em meados de 1990, um médico Americano Harold Freeman elaborou um programa intitulado: “Navegação de paciente", o programa é construído com o intuito de trazer benefícios, tendo como objetivo a preservação da vida do paciente com câncer proporcionando a eliminação das barreiras que permeiam a prevenção, descoberta da doença, diagnóstico, tratamento e sobrevivência até o final da vida em todo sistema de saúde, além de reduzir gastos hospitalares2,3. Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 21 Roque AC et al 2022 O programa avalia e se preocupa com o estado psicossocial do paciente, entendendo que sua angústia também pode não ajudar no seu tratamento. Dessa forma, o profissional que atua com o programa “navegação de paciente" deve ser bem treinado e capacitado para conduzir os cuidados de qualidade e satisfação do paciente, atingindo melhores resultados3. Dentre os profissionais que atuam com o programa de navegação de pacientes, o enfermeiro atua como facilitador na assistência, eliminando barreiras, integrando setores e funções com outros profissionais da assistência, bem como tarefas de maneira a englobar custo-efetivo, devido ao papel fundamental que os enfermeiros exercem no cuidado do paciente com câncer4. Dessa forma, objetivando remodelar a rede de atenção ao câncer, a Agência Nacional de Saúde Suplementar lançou em 2016 o Projeto OncoRede como proposta de modelo de atenção ao câncer, no qual descreve a implantação de programas de navegação de pacientes em oncologia como sendo um dos pilares na atenção ao câncer. Há o destaque do enfermeiro como responsável por navegar no cuidado do paciente, por ser o profissional de conhecimento e formação na área de atuação5. O enfermeiro navegador possui competência e habilidades voltadas para a ciência do cuidar. Dentro desse universo, o enfermeiro estabelece dimensões voltadas para o acompanhamento integral de pacientes, proporcionando segurança e qualidade na assistência em esfera preventiva, curativa, na reabilitação ou promoção de saúde e no acompanhamento do paciente oncológico6. Em suma, o surgimento de novas técnicas para o tratamento oncológico é beneficiador para o paciente e para toda a equipe multidisciplinar7. Nessa perspectiva, este estudo tem como objetivo analisar as produções de pesquisas que adotaram como objeto os benefícios do programa navegação de pacientes e a assistência de enfermagem em serviços de oncologia. MÉTODO Trata-se de uma revisão integrativa. A revisão integrativa contempla, portanto, a busca sistemática e organizada de fontes científicas disponíveis na literatura. Esse método tem repercutido na enfermagem a fim de compreender problemas que impactam na assistência, gerência e ensino de enfermagem, transformando esses cenários por meio da comprovação baseada em evidência8. Nesse contexto, este estudo contemplou quatro passos: (1) formulação do problema de pesquisa; (2) Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 22 Roque AC et al 2022 seleção de descritores; (3) análise de manuscritos selecionados; (4) elaboração de quadros após análise e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Foi utilizada na primeira etapa a formulação da pergunta norteadora da pesquisa com auxílio da ferramenta de pesquisa, a estratégia PICO (Paciente, Intervenção, Comparação e Desfecho). A estratégia PICO proporciona ao pesquisador na elaboração e construção da pergunta de pesquisa, assim como na busca bibliográfica de forma sistemática (Quadro 1)8. Quadro 1 - Descrição da estratégia PICO. Botucatu - SP, 2021 Acrônimo Definição Descrição P Paciente Pessoas em tratamento oncológico no cenário da assistência de enfermagem I Intervenção Programa Navegação de pacientes C Comparação Uso da ferramenta Navegação de pacientes no cenário da assistência de enfermagem em oncologia O Desfecho Benefícios em relação ao uso da ferramenta Navegação de pacientes no cenário da assistência de enfermagem e oncologia Fonte: Santos, 2007 A estratégia PICO8 (Quadro 2) foi utilizada como método de busca em bases de dados, a fim de identificar na literatura a seguinte questão que norteadora: Quais benefícios a navegação de pacientes contribui para melhoria e qualidade da assistência de enfermagem abordados pela literatura científica? Quadro 2 - Descrição da estratégia de busca PICO. Botucatu - SP. 2021 P and/or I and/or Co Oncologia Navegação de pacientes Enfermagem Fonte: Dados do próprio autor, 2021 Organizou-se na segunda etapa a seleção da amostra por acesso às bases de dados: LILACS, Medline, IBECS, BDENF e SCIELO. Foi utilizado como estratégia de busca os descritores: Enfermagem; Navegação de pacientes; Oncologia; Assistência (Quadro 3). Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 23 Roque AC et al 2022 Quadro 3 - Estratégia de busca em bases de dados. Botucatu - SP, 2021 1o Navegação de pacientes 2o Navegação de pacientes and Oncologia Navegação de pacientes and Oncologia and assistência 3o Navegação de pacientes and Enfermagem Navegação de pacientes and Oncologia and assistência 4o Navegação de pacientes and assistência 5o Navegação de pacientes and Enfermagem and Oncologia and assistência Fonte: Dados do próprio autor, 2021 Os critérios de inclusão elencados neste estudo foram baseados em publicações com menos de cinco anos na modalidade open acess. Após realização de busca nas bases de dados, os resultados foram analisados por meio de software Rayyan Systems Inc. Foram excluídos os manuscritos que não contemplaram o tema do estudo e aqueles que possuíssem duplicação entre as bases selecionadas. Os artigos selecionados foram distribuídos em quadros contemplando a interpretação e análise do estudo. RESULTADOS Foram encontrados 777 manuscritos publicados com a busca no período de 2015 a 2020. Na primeira análise, foram selecionados 101 artigos e, após conferência de duplicidade e publicações com abordagens que não contemplam o tema deste estudo, sendo a amostra final composta por 11 artigos. Os manuscritos encontram-se nas revistas: Clin J Oncol Nurs, Am J Manag Care, Can Oncol Nurs J, Acta Oncol, Fórum Oncol Nurs, Rev. latinoam. enferm. e Suporte Care Câncer. Vale destacar que dez dos manuscritos estão indexados na PUBMED e um na SCIELO (Quadros 4 e 5). Quadro 4 - Descrição dos manuscritos selecionados conforme autor/ano, título objetivo, método e principais achados. Botucatu - SP, 2021 Continua Autor/ano Título Revista Pautasso et al., 20209 Nurse Navigator: development of a program for Brazil Rev. latinoam. enferm. (Online) Cantril et al., 201910 Padronizando funções: avaliando a clareza do Nurse Navigator, preparação educacional e escopo de trabalho em dois sistemas de saúde Clin J Oncol Nurs Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 24 Roque AC et al 2022 Quadro 4 - Descrição dos manuscritos selecionados conforme autor/ano, título objetivo, método e principais achados. Botucatu - SP, 2021 Conclusão Autor/ano Título Revista Rohsig et al., 201911 Nurse Navigation Program: Outcomes From a Breast Cancer Center in Brazil Clin J Oncol Nurs Yackzan et al., 201912 Avaliação do resultado: pontuação de satisfação do paciente e contato com enfermeiros de oncologia Clin J Oncol Nurs Peckham; Mott-Coles, 201813 Conselho Interprofissional de Tumor de Câncer de Pulmão: O Papel do Enfermeiro Navegador de Oncologia na Melhoria da Adesão às Diretrizes Nacionais e na Racionalização do Atendimento ao Paciente Clin J Oncol Nurs Munoz et al., 201814 Modelo multidisciplinar de tratamento do câncer: uma associação positiva entre a navegação do enfermeiro oncológico e melhores resultados para pacientes com câncer Clin J Oncol Nurs Miller 201815 Navegação da enfermeira em neuro- oncologia: desenvolvendo o papel de uma população única de pacientes Clin J Oncol Nurs Gordils-Perez et al., 201716 Navegação do Enfermeiro Oncológico: Desenvolvimento e Implantação de Programa em Centro Integral do Câncer Clin J Oncol Nurs Yatim et al., 201717 Análise das atividades de enfermeiras navegadoras na coordenação de alta hospitalar: um estudo de método misto para o caso de pacientes com câncer Support Care Cancer Jeyathevan et al., 201718 O papel dos navegadores de enfermagem oncológica no aumento da capacitação do paciente na fase de diagnóstico para pacientes adultos com câncer de pulmão Can Oncol Nurs J Mertz et al., 201719 Os efeitos da navegação da enfermeira adaptada individualmente para pacientes com câncer de mama recém- diagnosticado: um estudo piloto randomizado Acta Oncol Fonte: Dados do próprio autor, 2021 Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 25 Roque AC et al 2022 Quadro 5 - Descrição dos artigos selecionados conforme objetivo, método e resultados. Botucatu - SP, 2021 Continua Objetivo Método Principais achados 9Desenvolver um Programa de Navegação para pacientes oncológicos, fundamentado no modelo proposto pelo The GW Cancer Institute da George Washington University, adaptado à realidade de um Centro de Alta Complexidade em Oncologia brasileiro. Pesquisa convergente assistencial O desenvolvimento do Programa de de Navegação para pacientes com câncer e criação da Escala de Avaliação das Necessidades de Navegação (EANN) proporcionou na estruturação de um modelo de programa adequado às necessidades dos pacientes e na operação de um serviço de referência em oncologia brasileira. 10With a goal of systemwide understanding of navigation services, two healthcare institutions examined the educational preparation, responsibilities, and understanding of the ONN role. Duas enfermeiras líderes em navegação usaram simultaneamente pesquisas, grupos de foco e discussões interprofissionais para avaliar o estado atual da navegação em suas organizações comparáveis. Identificaram variação das funções do enfermeiro navegador, o que mostra que é preciso uniformizar, em uma linguagem universal, exatamente qual é o papel e as ações que esse profissional deve exercer. Vendo essa necessidade, desenvolveram recomendações pra contornar as dificuldades e conseguir definir essa padronização de funções. 11Descrever os resultados de um programa de navegação de enfermagem pioneiro estabelecido em um centro de câncer de mama em um hospital privado sem fins lucrativos em Porto Alegre, Brasil Estudo transversal, retrospectivo e descritivo baseado em prontuários eletrônicos Houve uma redução no tempo decorrido desde o diagnóstico até o início do tratamento de 24 dias em 2014 para 18 dias em 2017. Além disso, 97% (153) dos pacientes declaram satisfeitos ou muito satisfeitos com o atendimento prestado pelo enfermeiro navegador. 12Avaliar o efeito do contato com um ONN na satisfação do paciente Revisão retrospectiva das pesquisas de satisfação ambulatorial Press Ganey em oncologia Perceberam que, os pacientes que tiveram contato com os enfermeiros navegadores obtiveram maior satisfação. Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 26 Roque AC et al 2022 Quadro 5 - Descrição dos artigos selecionados conforme objetivo, método e resultados. Botucatu - SP, 2021 Continuação Objetivo Método Principais achados 13Determinar as contribuições de um enfermeiro navegador oncológico (ONN) relacionado à adesão do médico às diretrizes e agilização do atendimento ao paciente em um conselho interprofissional de tumor de câncer de pulmão Revisão retrospectiva de prontuários Perceberam que o enfermeiro navegador foi fundamental na criação das diretrizes padronizadas na instalação hospitalar além de ajudar a melhorar a comunicação entre membros da equipe de atendimento ao paciente e é uma fonte de informação e educação ao paciente, que ajuda a coordenar melhor o cuidado. 14Determinar se a inclusão de um enfermeiro navegador oncológico gastrointestinal (GI) (ONN) na equipe multidisciplinar de atendimento oncológico está associada à melhoria da qualidade do atendimento aos pacientes Estudo retrospectivo Foi descoberto que os pacientes acompanhados pelo enfermeiro navegador tiveram um tempo mais curto entre o diagnóstico e o início do tratamento 15Descrever as necessidades únicas dessa População e o efeito da navegação do enfermeiro Estudo descritivo Foram traçadas estratégias de navegação para ambientes oncológicos especializados como para a neuro-oncologia e perceberam uma melhoria atenção ao paciente oncológico. 16Avaliar o efeito da navegação do enfermeiro oncológico no acesso ao atendimento, na satisfação do paciente e do provedor e na inscrição para o ensaio clínico de pacientes com neoplasias hematológicas ou ginecológicas Estudo de coorte descritivo com controle histórico O estudo forneceu com sucesso uma avaliação de linha de base desses intervalos de tempo para usar como referência para melhorias futuras. Pacientes e os fornecedores ficaram muito satisfeitos com função de navegador 17Identificar e quantificar as categorias de atividades desempenhadas por enfermeiras navegadoras para a coordenação de alta hospitalar. Estudo quantitativo qualitativo Foi percebido que, entre as categorias analisadas, estão relacionadas a questões organizacionais, navegação, falta de informação, compromissos. O treinamento e a qualificação de enfermeiros navegadores devem, portanto, combinar habilidades clínicas e gerenciais Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 27 Roque AC et al 2022 Quadro 5 - Descrição dos artigos selecionados conforme objetivo, método e resultados. Botucatu - SP, 2021 Conclusão Objetivo Método Principais achados 18Explorar o papel dos navegadores de enfermagem oncológica (ONN) no aumento da Capacitação do paciente para pacientes adultos com câncer de pulmão durante a fase de diagnóstico do tratamento do câncer Desenho descritivo qualitativo ONNs estão em uma posição- chave para adaptar sua prática às necessidades emocionais e de suporte necessárias para promover o empoderamento do paciente e da família 19Determinar a viabilidade e eficácia de uma intervenção enfermeira-navegador individual para aliviar o sofrimento, ansiedade, depressão e qualidade de vida relacionada à saúde em mulheres que foram tratadas para câncer de mama (CM) e estão experimentando moderada a graves sintomas psicológicos e físicos Estudo piloto randomizado O estudo mostra a viabilidade promissora da intervenção de enfermagem de navegação individualizada e, embora nenhum efeito significativo tenha sido observado após 6 meses, encontramos efeitos estatisticamente significativos sobre angústia, ansiedade e depressão 12 meses após o diagnóstico. Fonte: Dados do próprio autor, 2021 DISCUSSÃO Foi percebido neste estudo que, nos locais em que foram implementados o programa de enfermeiro navegador, o resultado foi promissor, além de promover adequações em serviços oncológicos especializados. Nesse contexto, é importante ressaltar a contribuição deste profissional em relação aos cuidados prestados, destacando o potencial em se comunicar com a equipe e família, desenvolvendo habilidades que promovem a segurança e qualidade do cuidado assistencial. Além disso, o investimento no enfermeiro navegador promove satisfação para os pacientes/familiares e para a instituição. O “Estudo sobre Enfermeira Oncológica Navegação: Expansão da função de navegador por meio da telessaúde”, identificou que o enfermeiro navegador é encarregado de importantes funções na equipe interprofissional, ele trabalha em colaboração com os pacientes e seus familiares e serve como um recurso virtual, além de fornecer comunicação clínica entre gestores e equipe de apoio e contribuir por meio da saúde digital aos familiares22. Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 28 Roque AC et al 2022 Ademais, estudos sobre satisfação perceberam que os pacientes que obtiveram atendimento e acompanhamento pelo enfermeiro navegador apresentaram maior satisfação. Os pesquisadores destacaram, no estudo, que o Enfermeiro Navegador ajuda o paciente que perdeu a confiança no sistema de saúde a se reconectar com sua equipe interdisciplinar de saúde promovendo qualidade e melhoria durante todo o estágio da doença23. Além disso, foi aplicado um questionário de satisfação entre os gestores de um serviço de saúde em oncologia e esses provedores avaliaram o enfermeiro navegador em um alto nível de satisfação, destacando a função desses navegadores na coordenação de cuidados, educação do paciente, recurso de suporte ao paciente, apoio psicossocial e encaminhamentos, educação da comunidade e aconselhamento financeiro dentro da instituição10. A implementação do Programa de Navegação para pacientes oncológicos na realidade brasileira foi foco de estudo de um grupo de pesquisadores, desenvolvendo a metodologia de Pesquisa Convergente do Sul do país. Os estudiosos desenvolveram a metodologia de Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) seguindo os passos: a concepção, a instrumentação, a perscrutação, a análise e a interpretação. O estudo foi desenvolvido conforme a realidade brasileira de acordo com as necessidades especificas do paciente, dessa forma, foi necessário a criação de uma Escala de Avaliação de Necessidades de Navegação (EANN). Além disso, os pesquisadores disponibilizaram e proporcionaram que a escala seja reproduzida no país de forma que atendam aos pacientes atendidos no SUS9 . Em estudo analisando o papel dos navegadores de enfermagem oncológica na melhoria capacitação do paciente na fase de diagnóstico para pacientes adultos com câncer de pulmão, foi observado um consenso entre os pacientes e participantes identificando que o enfermeiro navegador desempenha um papel significativo na identificação de necessidades dos pacientes e suas famílias durante todo o processo de diagnóstico, além da comunicação efetiva com todos os setores do hospital. O estudo analisou ainda as funções clínicas essenciais deste enfermeiro: empoderamento como defensor do paciente, habilidades educacionais que fornecem suporte durante o tratamento, gerenciamento e recursos de navegação18. As atividades organizacionais durante o processo de alta hospitalar foram analisadas em estudo com pontuação significativa durante a análise do estudo de método misto para o caso de pacientes com câncer. Os enfermeiros navegadores Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 29 Roque AC et al 2022 desempenham importante papel atendendo às necessidades de pacientes e sendo prestadores de cuidados primários após a alta do paciente, como por meio de monitoramento na clínica, no gerenciamento de alertas clínicos e emergências, suporte por ligação e em problemas técnicos, explicação dos protocolos de atendimento, além da coleta e transmissão de dados do paciente17. Em uma avaliação sobre a implementação de um programa de navegação para enfermeiros de oncologia da National Cancer, foi percebido uma enorme satisfação do paciente e do provedor, revelando uma diminuição nos dias a partir da ligação inicial do paciente/provedor de referência para a consulta inicial ao médico até o início da terapia, garantindo o cuidado eficiente e centrado no paciente. Os pacientes declararam muita satisfação com os cuidados recebidos16. O papel do enfermeiro navegador oncológico na melhoria da adesão às diretrizes nacionais e simplificando o atendimento ao paciente foi constatado como primordial em relação a melhora da qualidade geral do atendimento prestado aos pacientes. Foi percebido que o plano de cuidados discutido e coordenado com o conselho seguiu as diretrizes de prática e o enfermeiro navegador foi essencial na criação das diretrizes padronizadas da instalação. Dessa forma, é possível identificar a necessidade de ter o enfermeiro navegador como aliado na criação e implementação deste programa nos serviços de oncologia., além da implementação, faz-se necessário ter o enfermeiro como autor na elaboração das diretrizes que irão implementar o programa de navegação13. Um estudo realizado sobre o impacto de um programa inovador de navegador de pacientes internados na duração da internação e readmissão de 30 dias identificaram uma redução no tempo de permanência, sem um aumento na readmissão de 30 dias após implementação do programa20. É importante destacar que, para a efetivação da implementação, faz-se necessário reconhecer oito importantes fatores que foram destacados por pesquisadores em uma revisão de escopo que inclui estudos do Canada, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Europa. O primeiro fator está relacionado as características do paciente, os demais seguem sendo a seleção e treinamento dos futuros navegadores, informação com precisão sobre o papel que o navegador irá desenvolver, operacionalização dos processos, recursos humanos e financeiros, relacionamento eficaz dentro e fora da instituição, disponibilidade de serviços e comunicação efetiva com os gestores21. Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 30 Roque AC et al 2022 Em uma análise onde houve a associação entre a navegação da enfermeira oncológica e a melhoria nos resultados para pacientes com câncer, foi constatado que a inclusão desse profissional reduz significativamente o prazo do diagnóstico ao tratamento. Foi percebido que, no grupo onde o enfermeiro navegador não atuou, o estadiamento do câncer necessário e o exame clínico não foram acelerados, uma vez que esses atrasos no tratamento subsequentemente levam a um aumento no tempo do diagnóstico ao tratamento. O enfermeiro navegador tem a capacidade de orientar os pacientes por meio de um minucioso plano de cuidados de tratamento, eliminando as consequências que podem levar o paciente ao atendimento na emergência, proporcionando consultas para manutenção de rotina da saúde oncológica, cuidados multidisciplinares e holísticos para pacientes e familiares14. Foi analisado em outro estudo os efeitos de satisfação do paciente que tiveram contato com um enfermeiro navegador em uma revisão retrospectiva, os pesquisadores encontraram diferenças significativas na satisfação do paciente comparados a pacientes que não foram cuidados por navegados. Foi avaliado que a qualidade da prestação de cuidados de saúde e cuidados centrados no paciente aumentaram, obtendo ainda bons resultados em relação aos padrões de acreditação de programas de câncer12. Em um centro de câncer de mama no Brasil, foi analisado o tempo decorrido desde o diagnóstico até o início do tratamento para cada ano, de janeiro de 2014 a julho de 2017. Os dados encontrados revelaram diminuição no período entre o diagnóstico para tratamento, além da taxa geral de satisfação dos pacientes serem de muito satisfeito ou satisfeito. Foi evidenciado que, os programas de navegação proporcionam aos pacientes a superação das barreiras nos serviços de saúde, garantindo o acesso e a prevenção de atrasos desde o início do tratamento até após o diagnóstico11. CONCLUSÃO No Brasil, há poucos estudos em relação a implementação do programa de navegação a assistência em enfermagem dos benefícios em oncologia. Pode-se verificar que a literatura existente trouxe como promissores os benefícios ao cliente/família e à instituição, além da agilidade nos processos inerentes ao tratamento. Artigo publicado na Revista Nursing. DOI: https://doi.org/10.36489/nursing.2022v25i285p7235-7250 31 Roque AC et al 2022 Dentre as principais características e funções do enfermeiro navegador, a gestão e a sistematização do ambiente de trabalho foram fatores primordiais, constatados nesta revisão. Portanto pode-se concluir que os benefícios que envolvem a implementação desse programa são destacados neste estudo como fontes de satisfação, dessa forma, reforça-se a importância de as instituições articularem ações que promovam a sua adoção, a fim de diminuir custos e alcançar a qualidade e segurança na prestação do cuidado, assim como promover um cuidado humanizado e centrado na satisfação do paciente. REFERÊNCIAS 1- Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). 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Método: Estudo com análise qualitativa de dados, do qual participaram seis enfermeiros que foram entrevistados em dezembro de 2021, acerca do atendimento ao paciente oncológico e familiares e cujos depoimentos foram submetidos à análise de conteúdo, vertente temática. Resultados: As experiências analisadas compuseram cinco categorias temáticas sobre o atendimento de enfermagem aos pacientes oncológicos: fluidez na assistência; integração entre as equipes; vínculo com pacientes e familiares e os enfermeiros; competências dos enfermeiros assistenciais na navegação de pacientes oncológicos; valorização e facilidades no treinamento das equipes. Considerações finais: Considera-se que, mesmo sem especialização específica e sem implantação institucional do programa de navegação de pacientes oncológicos, os enfermeiros têm seguido alguns dos princípios propostos por Harold Freeman, como: assistência sistematizada, integração entre a equipe e os diferentes setores, treinamento e a valorização do trabalho em equipes interprofissionais junto aos pacientes oncológicos e familiares, contribuindo assim para a qualificação dos cuidados prestados. Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 35 Roque AC et al 2022 Palavras-chave: Navegação de Pacientes. Enfermagem. Oncologia. Assistência. Pesquisa Qualitativa. ABSTRACT Objective: To understand the experiences of clinical nurses according to the principles of navigation for cancer patients proposed by Harold Freeman. Method: Study with qualitative data analysis, in which six nurses participated who were interviewed in December 2021, about the care of cancer patients and their families and whose testimonies were submitted to content analysis, thematic aspect. Results: The experiences analyzed comprised five thematic categories on nursing care for cancer patients: fluidity in care; integration between teams; bond with patients and family members and nurses; skills of clinical nurses in navigating cancer patients; valuation and facilities in the training of teams. Final considerations: It is considered that, even without specific specialization and without institutional implementation of the navigation program for cancer patients, nurses have followed some of the principles proposed by Harold Freeman, such as: systematized assistance, integration between the team and the different sectors, training and appreciation of work in inter-professional teams with cancer patients and their families, thus contributing to the qualification of the care provided. Keywords: Patient Navigation; Nursing; Oncology; Assistance; Qualitative research. RESUMEN Objetivo: Comprender las experiencias de enfermeros clínicos según los principios de navegación para pacientes oncológicos propuestos por Harold Freeman. Método: Estudio con análisis cualitativo de datos, en el que participaron seis enfermeros que fueron entrevistados en diciembre de 2021, sobre el cuidado de pacientes con cáncer y sus familias y cuyos testimonios fueron sometidos a análisis de contenido, aspecto temático. Resultados: Las experiencias analizadas comprendieron cinco categorías temáticas sobre el cuidado de enfermería al paciente oncológico: fluidez en el cuidado; integración entre equipos; vínculo con pacientes y familiares y enfermeras; habilidades de las enfermeras clínicas para orientar a los pacientes con cáncer; valoración y facilidades en la formación de equipos. Consideraciones finales: Se considera que, aún sin especialización específica y sin implementación institucional del programa de navegación para pacientes oncológicos, los enfermeros han seguido algunos de los Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 36 Roque AC et al 2022 principios propuestos por Harold Freeman, tales como: asistencia sistematizada, integración entre el equipo y los diferentes sectores , formación y valorización del trabajo en equipos interprofesionales con pacientes oncológicos y sus familias, contribuyendo así a la cualificación de la atención prestada. Palabras clave: Navegación del paciente. Enfermería. Oncología. Asistencia. Investigación Cualitativa. INTRODUÇÃO No ano de 2012, o Ministério da Saúde do Brasil decretou, por meio da Lei nº 12.732, que todos os pacientes com neoplasia maligna receberão, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os tratamentos necessários, sendo garantido a eles o direito de se submeterem ao primeiro tratamento no prazo de até 60 dias, contados a partir do dia em que receberam o diagnóstico1. A Oncologia é considerada uma especialidade de alta complexidade, sendo que pacientes oncológicos precisam passar por diferentes tipos de tratamento, requerendo várias idas e vindas do hospital, assim como coletas de exames laboratoriais que podem ocorrer semanalmente2,3. Diante desse cenário, os pacientes na rede de serviços públicos podem encontrar fragilidades e dificuldades em seus percursos, as quais se configuram em barreiras que aparecem desde os primeiros sintomas, no diagnóstico e na busca e realização do tratamento4. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com o propósito de facilitar o acesso desses pacientes ao SUS, lançou, no ano de 2016, o projeto OncoRede, visando a reorganização da rede de atenção oncológica. A proposta possui como premissa a melhoria da qualidade do cuidado em saúde, de modo a induzir a implementação de um sistema de cuidado coordenado, efetivo e resolutivo que propicie a redução do tempo médio entre o diagnóstico e o início do tratamento. Além disso, uma das estratégias de reorganização dessa rede é baseada na implementação de programas de navegação de pacientes com vistas a facilitar o acesso dos pacientes oncológicos ao sistema de saúde, ajudando-os a superar as barreiras institucionais, socioeconômicas e pessoais5,6. O primeiro programa de navegação de pacientes foi desenvolvido em 1990, no Harlem, em Nova York, pelo médico estadunidense Harold Freeman7, que descreveu nove princípios básicos para a navegação de pacientes, sendo eles: ser um modelo Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 37 Roque AC et al 2022 de atendimento em que o foco seja fazer com que a passagem do paciente pelo sistema de saúde ocorra de forma fluida e suave durante todo o cuidado; ser facilitador na integração de esferas fragmentadas da saúde para que o acesso do paciente à assistência seja contínuo; estabelecer uma estreita relação entre pacientes e navegadores, proporcionando a eliminação das barreiras que impeçam o efetivo acesso aos cuidados da saúde; definir um escopo claro em relação às distinções de tarefas e profissionais, a fim de manter os navegadores integrados às suas funções e aos outros profissionais da assistência; entregar as tarefas de maneira a englobar o custo efetivo e proporcional às habilidades e treinamentos necessários para efetuar a plena navegação em todas as fases da assistência; determinar qual processo deve ser feito por cada navegador, a partir de seus conhecimentos e treinamentos, sejam eles leigos ou profissionais; especificar em qual ponto da assistência deve começar e terminar a navegação de pacientes; ser o facilitador na conexão de sistemas de saúde desconectados; haver uma coordenação que entenda o processo de navegação, mas não esteja envolvida na sua forma de trabalho3,7. No Brasil, o projeto OncoRede é composto por colaboradores que atuam como navegadores, sendo esses, profissionais de saúde, estudantes e leigos voluntários, a quem são atribuídas funções conforme seu nível de escolaridade, categoria profissional, especialidade e experiência clínica. Espera-se que no programa de navegação profissional de enfermagem assista ao paciente desde a detecção até o final do tratamento, procurando oferecer um efetivo suporte aos pacientes, fornecer informações, gerenciar a complexidade do diagnóstico e do tratamento oncológico, em conjunto com todos os membros da equipe multidisciplinar8. Estudo de revisão integrativa de literatura publicada em 2015 revelou melhores resultados clínicos com o programa de navegação quando realizado por enfermeiros9. Outrossim, os pacientes, quando acompanhados pelo enfermeiro navegador, sentem- se mais protegidos e empoderados em seu tratamento, logo, mais bem preparados por obterem conhecimento da forma como a doença pode afetar suas vidas9,10. Também, são promissores os benefícios ao cliente/família e à instituição, além da agilidade nos processos inerentes ao tratamento11. Quando realizada por esse profissional, a estratégia de navegação demonstra-se eficaz para melhorar os padrões dos cuidados na oncologia12. Diante do exposto, o presente estudo teve a principal questão norteadora: quais são as dificuldades enfrentadas pelos pacientes e famílias que convivem com o câncer Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 38 Roque AC et al 2022 e as possíveis contribuições de enfermeiros na navegação de pacientes oncológicos? Assim, o objetivo desse estudo foi compreender experiências de enfermeiros assistenciais segundo os princípios da navegação de pacientes oncológicos propostos por Harold Freeman. Método Trata-se de estudo de cunho qualitativo, conduzido após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Paulista - UNESP, sob o número CAAE: 52624421.4.0000.5411, sendo a elaboração deste artigo foi norteada pela ferramenta COREQ (Critérios Consolidados para Relatos de Pesquisa Qualitativa)13. A pesquisa foi realizada em uma cidade localizada no interior do estado de São Paulo, em um hospital público estadual com foco em ensino, pesquisa e extensão, o qual atende pacientes de 68 municípios vizinhos14,15. Esse hospital é classificado como unidade de alta complexidade em oncologia (UNACON), que presta assistência especializada de alta complexidade em ambulatórios e unidades de pronto atendimento e de internação, contando com serviços de radioterapia, hematologia e oncologia clínica e pediátrica14. O Ambulatório de Oncologia foi escolhido para realização desta pesquisa por ser um setor com maior concentração de enfermeiros com grande proximidade com os pacientes oncológicos e suas famílias, onde os pacientes iniciam o tratamento, realizam as consultas de rotina e obtêm planos de cuidados. Foram incluídos como participantes desta pesquisa todos os enfermeiros que atuavam diretamente com os pacientes usuários do Ambulatório de Oncologia, os quais foram convidados por intermédio da responsável técnica do setor. Os participantes convidados foram orientados sobre o desenvolvimento do projeto em questão, sendo explicada sua finalidade. As tratativas para coleta de dados foram iniciadas em junho de 2021, por meio de uma reunião com a Gerente de Enfermagem do hospital estudado, a fim de apresentar o projeto de pesquisa e obter autorização para realização do estudo. Em seguida, após a liberação pela responsável técnica do setor, foi disponibilizada uma lista em formato eletrônico com os nomes dos enfermeiros que possuíam experiência em oncologia, contendo os seguintes dados: nome e número do contato telefônico dos enfermeiros. Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 39 Roque AC et al 2022 Para realizar a coleta de dados de forma presencial e sequencial, a responsável técnica viabilizou, de forma voluntária, o convite aos enfermeiros do setor, tendo como critério o respeito à escala de trabalho e à organização das atividades do dia. Portanto, foram agendados dias e horários específicos com os enfermeiros que aceitaram participar do estudo. As entrevistas foram realizadas durante a pandemia de COVID- 19 e, dessa forma, foram respeitadas as normas vigentes dentro da instituição hospitalar em estudo, preservando o distanciamento social, mantendo a segurança dos enfermeiros e pesquisadores. A sala disponibilizada para a coleta dos dados era arejada e as janelas ficaram abertas durante a entrevista. Além disso, todos os envolvidos usaram máscara N95, conforme as recomendações vigentes. Dessa forma, participaram do estudo seis enfermeiras que atuavam diretamente na atenção à saúde do paciente oncológico. Foram entrevistadas todas as enfermeiras que estavam atuando no Ambulatório de Oncologia, entre 03 a 17 de dezembro de 2021, sendo que nenhuma dessas enfermeiras recusou o convite para participar do estudo. Antes de iniciar a entrevista, foi pedido que o participante lesse e, concordando, assinasse o TCLE. Ressalta-se que o termo foi impresso em duas vias, ambas devidamente assinadas e entregues na data da entrevista; uma permaneceu em posse da pesquisadora e a outra, do participante. Todas as entrevistas foram audiogravadas por meio de mecanismos digitais (programa de gravador do telefone celular), com consentimento dos entrevistados, para posterior transcrição e análise dos dados. As entrevistas duraram, em média, de 20 a 40 minutos e, após sua transcrição, foram deletadas. Não houve necessidade de repetir entrevista com o mesmo participante e o conteúdo não retornou para que os participantes pudessem validar ou emitir opiniões sobre os achados. Os participantes do estudo tiveram suas identidades preservadas e foram identificados por letras do alfabeto. Assim, foram identificados como: A, B, C, D, E e F. Os dados coletados durante as entrevistas tiveram o auxílio de dois instrumentos: um de caracterização sociodemográfica e histórico profissional, contendo informações sobre a idade, o tempo de formação, o tempo de trabalho no ambulatório de oncologia e a realização de curso de especialização; e outro instrumento representado por uma entrevista semiestruturada, contendo quatro questões norteadoras, elaboradas a partir do referencial teórico dos noves princípios da navegação de pacientes de Harold Freeman: conte-me como o paciente oncológico é assistido neste hospital; como você vê a integração entre os setores para assistência Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 40 Roque AC et al 2022 oncológica; como são o treinamento e facilidades mediante a demanda dos pacientes oncológicos; para você, quais estratégias são importantes e potencializam o atendimento adequado do paciente oncológico. As entrevistas foram conduzidas por duas pesquisadoras, uma pós-graduada e com experiência em oncologia, e outra com experiência em pesquisa qualitativa. Para tratamento e análise dos dados coletados por roteiro semiestruturado foi utilizado o referencial da Análise de Conteúdo de Lawrence Bardin16, na vertente temática, seguindo as três etapas propostas por essa autora: Fase I: pré-análise (fase da organização do material e sistematização das ideias, objetivando a formulação das hipóteses e a elaboração de indicadores que orientem a interpretação fina); Fase II: exploração do material (compreendendo a categorização dos dados, que visa alcançar o núcleo de compreensão do texto e em que realiza-se a escolha das unidades de significação e a categorização); Fase III: tratamento dos dados: inferência e interpretação (fase em que os resultados brutos são tratados de maneira a torná-los significativos e válidos, e o pesquisador pode propor temas e realizar interpretações direcionadas aos objetivos do estudo. A análise das entrevistas foi feita num processo de codificação, com a fala do entrevistado sendo reproduzida de modo a tornar mais clara sua intenção ao descrever e contar determinadas situações. Após, foi realizada a separação dos códigos em categorias analíticas norteadas pelos princípios propostos por Harold Freeman que, ao final da análise, constituíram a síntese das experiências estudadas16. Resultados Com relação à caracterização dos participantes foi observado que, entre os seis participantes entrevistados, houve uma predominância do sexo feminino, com idade variando de 35 a 45 anos, com tempo de graduação em enfermagem entre 11 e 21 anos, tendo três profissionais concluído pós-graduação latu sensu e stricto sensu, sendo duas em nível de mestrado e uma de doutorado. Com relação ao tempo de atuação no setor de oncologia, este variou de seis a dezesseis anos. Após a codificação e análise dos dados, emergiram cinco categorias, compilando as experiências dos enfermeiros atuantes na assistência ao paciente oncológico. Ressalta-se que as categorias foram construídas a partir do referencial Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 41 Roque AC et al 2022 teórico: os noves princípios da Navegação de Pacientes oncológicos proposto por Harold Freeman. Suavidade e fluidez na assistência ao paciente oncológico Os enfermeiros, ao discorrerem sobre aspectos de qualidade do trabalho desenvolvido no Ambulatório de Oncologia, incluíram aspectos de suavidade e fluidez na assistência prestada, destacando o atendimento humanizado e multidisciplinar oferecido desde a entrada do paciente e durante seu trajeto pelo hospital, inclusive citando a legislação que estabelece que o primeiro atendimento deva ser no prazo máximo de 60 dias. Acredito que, de maneira geral, com os recursos que a gente tem, pelo menos eu acredito que o paciente é bem assistido (A) Acho que o paciente é bem acolhido, desde o momento em que ele chega na recepção do hospital [...]. Tem um trajeto bem legal, eu acho que é bom. (C) Aqui dentro da estrutura do hospital estadual, do Ambulatório de Oncologia, eles [pacientes] passam com a gente aqui da enfermagem, passam na odonto, com a nutri e com a psicóloga, ...a gente tem a lei dos 60 dias, que a partir do momento em que você tem o diagnóstico, seja por biopsia ou por o que for, você tem 60 dias para o paciente começar a fazer o tratamento [...], mas precisa chegar para a gente primeiro. Então, a partir do momento em que entra aqui [Ambulatório de Oncologia], o negócio flui mais rápido. (D) Em contraponto, foram relatadas fragilidades do referido serviço de saúde, tais como ser um hospital com várias especialidades de atendimento, não possuindo toda a estrutura voltada somente para o atendimento oncológico. Elas entendem que a fragmentação da assistência, acaba gerando barreiras no fluxo e encaminhamento, no que tange à assistência multidisciplinar. Eu só queria um hospital todinho para oncologia. (B) Facilitaria bastante se, no pronto socorro, tivessem pessoas mais específicas ou lugares específicos para estar atendendo pacientes oncológicos [...] um serviço só para a oncologia. (E) Fluxo, encaminhamentos e integração entre as equipes/serviços Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 42 Roque AC et al 2022 Houve o reconhecimento de facilidades entre as equipes que prestam a assistência ao paciente oncológico. Além da boa integração entre os enfermeiros que prestam assistência ao paciente, foi citada a boa integração com a equipe multiprofissional. É muito fácil [integração entre equipes]; a gente tem um diálogo muito importante com a equipe médica, com a equipe nutricional, com a equipe da psicologia, assistente social; então, eu acho que a gente é muito integrado um com o outro, funciona muito bem. (B) Nós, enfermeiros, conseguimos ter uma integração boa com alguns setores [...] com a equipe multiprofissional, a relação é muito boa, nutrição, dentista, a relação é facilitada. (D) Eu acredito que, aqui dentro, no Ambulatório de Oncologia, a equipe é bem integrada. (F) Para elas, a maior dificuldade relacionada à integração ocorre quando há necessidade de internação, entre a alta demanda do hospital e o local para onde os pacientes são encaminhados. Outros profissionais apontam dificuldades nos setores de imagem e em algumas especialidades por conta da fila da integração, além da demora no atendimento, dificultando o processo. Eu acho que a nossa dificuldade são as internações. É a parte que mais pega para a gente. Por conta da demanda do hospital para onde os pacientes são encaminhados, a integração não é facilitada. (A) [...]o setor de radioterapia, na minha opinião, eu acho que, para o paciente, principalmente os pacientes de fora, é um transtorno sair daqui do Ambulatório de Oncologia, depois ir para a radiologia lá no hospital de maior complexidade. Nas internações, complica um pouco, porque é lá no hospital de maior complexidade; tem que esperar vaga sair para o paciente ser transferido; às vezes, fica grande parte do tempo aqui no ambulatório, muitas horas esperando essa vaga. (C) [...] o que às vezes dá uma resistência é a tomografia, por conta da fila... setores de imagem é mais difícil porque, por conta da fila mesmo, não por falta de receptividade ou falta de comunicação (D) Assim, os relatos evidenciaram barreiras na passagem do paciente oncológico na instituição, especialmente, pelo distanciamento geográfico para atendimentos com Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 43 Roque AC et al 2022 outras especialidades, por serem realizados fora da estrutura do ambulatório de oncologia. O problema é quando precisa de outras especialidades, um atendimento da urologia, por exemplo, ele tem que sair daqui do ambulatório de oncologia e tem que ir lá para hospital de maior complexidade. Acho que esse fluxo ele é demorado, estressante para o paciente e prejudica muito a assistência. (B) O que às vezes complica um pouquinho é porque a gente não tem um pronto atendimento e acaba encaminhando esses pacientes para o pronto socorro referenciado, o hospital de maior complexidade ou lá para o municipal. Nesses lugares, a gente já acaba tendo um pouquinho mais de dificuldade, porque, às vezes, demora para serem assistidos. (E) Fora do Ambulatório de Oncologia têm algumas barreiras, algumas dificuldades, demora um pouco para o atendimento. Nós enfermeiros, temos um pouco de dificuldade quando esse paciente precisa ser referenciado para outras especialidades [...] porque se tivesse um pronto atendimento oncológico, internação oncológica, quimioterapia no mesmo prédio, pediatria no mesmo prédio, eu acho que isso faria diferença para melhorar o fluxo do paciente. (F) Vínculo entre pacientes e familiares com os enfermeiros Para os participantes, o papel do enfermeiro vai muito além de apenas estar presente com o paciente, relatando que esse profissional oferece apoio e permanece ao lado da família, reconhecendo suas dificuldades e planejando estratégias para minimizar o sofrimento de todos. A gente tenta fazer o máximo para facilitar para os paciente e família, porque é um momento delicado que estão passando ... e todos estamos sujeitos; essa que é a verdade; não tem ninguém que está livre disso [câncer] na vida... então, a gente tenta facilitar o máximo para o paciente e para a família, porque atendimento familiar também é importante. (C) Fazemos contato direto com as mães para informar que o exame está bom e não precisa do retorno ao hospital... nem todos os setores têm esse contato íntimo; isso acaba humanizando mais o atendimento. Tem paciente que vem duas vezes por semana aqui no ambulatório; poderia estar na escola, mas ele vem tomar a quimio. Nós [enfermeiros] fazemos festa de aniversário para eles; tentamos amenizar seu sofrimento. (E) Delimitação de competências e papéis dos enfermeiros assistenciais na navegação de pacientes oncológicos Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 44 Roque AC et al 2022 Os participantes destacaram o papel fundamental e diferenciado realizado pelo enfermeiro no atendimento aos pacientes oncológicos. Dessa forma, uma das estratégias planejadas para melhorar o fluxo do paciente oncológico diz respeito à consulta de enfermagem. Uma consulta de enfermagem ajudaria bem; a gente tem esse plano aqui, tem o planejamento, mas por conta dos recursos humanos, acaba não conseguindo colocar em prática. (A) [...] precisaria da consulta do enfermeiro, que faz aquele atendimento primário. (B) [...] uma vontade nossa há muito tempo já, de instituir a consulta de enfermagem [...] então, o paciente sairia lá do consultório [médico] e ele já receberia essa consulta [de enfermagem] para a orientação. (C) [...] eu acho que seria bom implementar a consulta [de enfermagem]. (F) Assim, os relatos evidenciaram os benefícios de contar com um enfermeiro navegador no hospital. Também demonstraram uma valorização à formação do profissional enfermeiro para navegar nos cuidados do paciente oncológico, a fim de facilitar seu trajeto e o de sua família durante todo o fluxo hospitalar. [...] eu acho muito legal a gente conseguir um dia pelo menos implantar a navegação de paciente no hospital. (A) [...] acredito que o enfermeiro navegador iria auxiliar muito paciente. (B) Eu acho que a formação do enfermeiro navegador mesmo... as estratégias seriam basicamente a partir do enfermeiro navegador; a gente [enfermeiros] saber qual é a necessidade do paciente. (D) Valorização e facilidades relacionadas aos treinamentos de equipes Segundo os participantes, a coordenação da equipe de enfermagem facilita e fornece treinamentos de equipes com planejamentos anuais a fim de melhorar a assistência prestada. Assim, de acordo com as necessidades e as demandas que são apresentadas pelos profissionais, eles acabam sendo incluídos na programação. Ademais, atestaram que se encontram sempre engajados em discussões de casos e na busca de novos conhecimentos. Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 45 Roque AC et al 2022 A gente [enfermeiros] tem uma liberdade muito grande com a coordenadora; então, ela dá liberdade para a gente mostrar os problemas, e ela mesma fala, você tem alguma ideia, alguma solução? [...] então, vamos fazer um treinamento quanto a isso. Mediante aos problemas que a gente vê, os próprios enfermeiros que estão aqui já vão se ajustando para dar as aulas e capacitar. (B) [...] então, conforme vai tendo essa necessidade a gente vai direcionando isso para minha chefe imediata e ela vê essa necessidade de treinamento. (C) Treinamento da equipe é tranquilo; a gente [enfermeiros] faz um planejamento todo ano do que a gente quer o ano inteirinho [...] outras demandas vão entrando ao longo do ano e nós vamos fazendo, [...] a gente vai até os alunos, vai até os funcionários, então a gente tem uma programação de treinamentos. (D) [...] a gente [enfermeiros] desenvolve projetos e discussões de casos ... todo caso novo a gente discute. (E) O treinamento é feito conforme necessidade e algumas programadas durante o ano. (F) Ao mesmo tempo, sentem dificuldades devido a centralidade dos treinamentos estar direcionada para outra estrutura geográfica além daquela em que os enfermeiros atuam. Por outro lado, ressalta-se a relação facilitada quando o treinamento é realizado no mesmo local onde trabalham, ou seja, no próprio Ambulatório de Oncologia. A coordenadora do setor dá muita aula para gente, mas agora é tudo pelo núcleo de educação, fora da estrutura do ambulatório de oncologia, [...] é um processo que, às vezes, acaba, não atrapalhando, mas acaba não tendo como a gente gostaria. Então, se o treinamento fosse feito todo aqui, a gente conseguiria ter muito mais acesso. (A) Discussão Harold Freeman descreve os nove princípios que caracterizam a navegação de pacientes oncológicos. Este estudo buscou inter-relacionar as categorias temáticas obtidas por meio dos depoimentos dos enfermeiros do ambulatório de oncologia, o cenário do estudo, em conformidade com os princípios propostos por aquele autor. A suavidade e fluidez na assistência ao paciente oncológico foram destacadas neste estudo pela existência de uma estrutura física que vem favorecendo o Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 46 Roque AC et al 2022 acolhimento ao paciente, pelo trabalho multiprofissional, assim como pela a execução da Lei nº 12.732, que estabelece o início do tratamento em até 60 dias, no máximo1. Os enfermeiros entrevistados nesse estudo relataram que, a partir do momento em que os pacientes chegam no hospital e recebem o diagnóstico, os processos são articulados para que seu tratamento tenha início o quanto antes, sem encontrar dificuldades. Além disso, o atendimento é fluído e suave desde a entrada do paciente, e seu trajeto pelo hospital é facilitado pela equipe multidisciplinar, que segue rigorosamente a Lei dos 60 dias. A Lei nº 12.732 de 2012 do SUS, que assegura o tratamento ao paciente oncológico, foi relatada neste estudo, sendo uma das estratégias da instituição1. No entanto, um estudo conduzido em um Centro Estadual de Diagnóstico e Imagem realizou uma análise da predição de atendimento à Lei dos 60 dias dentro do programa de navegação de pacientes com câncer de mama no Rio de Janeiro, identificando que seu cumprimento da Lei dos 60 dias atingiu pouco mais de 50%17. Neste estudo, o cuidado prestado pelos profissionais tem sido destacado como referência no cumprimento da lei, visto que os depoimentos mostraram segurança para o paciente iniciar seu tratamento o mais rapidamente possível, antes dos 60 dias. Conforme o princípio de Freeman sobre a passagem do paciente pelo sistema de saúde, os profissionais devem estar atentos às barreiras que impedem a fluidez do cuidado, a fim de facilitar o processo e todo paciente, quando for diagnosticado, deverá iniciar imediatamente a navegação para facilitar seu percurso pelo hospital3. Silva, Silva e Pereira18 declaram que, para obtenção dos cuidados de qualidade, é necessário possuir estrutura física e material, além dos serviços especializados prestados pela equipe multiprofissional, para que o atendimento seja integral18. Embora os enfermeiros deste estudo tenham revelado algumas dificuldades resultantes do distanciamento geográfico para assistência com outras especialidades, ainda assim, tal distanciamento não é impeditivo da assistência qualificada, destacando-se as facilidades na relação com toda equipe envolvida na assistência do paciente oncológico. Para que o acesso do paciente à assistência seja contínuo e integrado entre os serviços, os profissionais devem ser os facilitadores na conexão de sistemas de saúde3. Observou-se, nesse estudo, a estreita relação entre pacientes e enfermeiros, e os participantes da pesquisa demonstraram, em seus discursos, a importância da integração entres as equipes assistenciais, além de serem os facilitadores nessa Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 47 Roque AC et al 2022 conexão. Ainda, destaca-se o papel importante do enfermeiro na coordenação do cuidado dos pacientes oncológicos, por ser esse profissional o responsável por coordenar, orientar e supervisionar as atividades desenvolvidas no setor. Muños et al.19 ressaltaram, em um estudo sobre o modelo multidisciplinar de atenção ao câncer, uma associação positiva entre a navegação da enfermeira oncológica e melhores resultados para pacientes com câncer e que a integração do enfermeiro navegador nos cuidados em oncologia reduz significativamente o intervalo entre o diagnóstico e o início de tratamento, fornecendo suporte adequado na coordenação dos cuidados oncológicos19. Rodrigues et al.10 evidenciaram melhores resultados no desfecho do paciente oncológico quando realizada a navegação de pacientes por enfermeiro em todo o continuum de assistência e saúde. Foram esclarecidos aspectos relevantes em todo o processo de cuidado, desde o diagnóstico e início do tratamento até o suporte final da vida10. A assistência ofertada pelas enfermeiras no local do estudo revelou importantes fortalezas para um desfecho favorável, facilitando o continuum da assistência ao paciente oncológico. Além disso, para Freeman, a navegação de pacientes é uma intervenção cujo principal objetivo é a eliminação de barreiras que podem ocorrer durante todo o continuum de cuidados ao paciente com câncer8. O programa de navegação possui grande importância para os pacientes e familiares, ou seja, ao ser diagnosticado, na aceitação da doença, nos procedimentos, ao receber o tratamento adequado, ao vivenciar possíveis reações adversas, durante os cuidados domiciliares, consultas e exames e no acompanhamento aos familiares20. Todavia, algumas dificuldades foram relatadas pelas enfermeiras quando os pacientes necessitam de internação. Mencionaram, ainda, que, nos setores de imagem, a relação não é facilitada devido à alta demanda do hospital referenciado para onde o paciente é encaminhado. Segundo Mota et al.4, em estudo realizado com pacientes com câncer de pulmão, os pacientes na rede de serviços públicos encontram fragilidades e dificuldades que permeiam seus percursos, sendo estas barreiras que aparecem desde os primeiros sintomas, diagnóstico e durante a busca pelo tratamento. Foi percebido ainda, que as principais barreiras encontradas durante o percurso assistencial são as dificuldades de acesso a medicamentos e exames, as filas longas de espera por atendimento, a demora no diagnóstico, a fragmentação da assistência nos diferentes níveis de atenção, a desumanização dos ambientes de Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 48 Roque AC et al 2022 cuidado e a falha na comunicação para esclarecimento dos pacientes sobre direitos legalmente instituídos relativos ao acesso a saúde4. Em relação à segurança do paciente, os enfermeiros relataram a boa qualidade no atendimento e salientaram o cumprimento do protocolo de administração segura dos quimioterápicos, seguindo as recomendações vigentes estabelecidas pela instituição. O conceito de segurança do paciente, segundo a Organização Mundial da Saúde21, refere-se à redução dos riscos de danos desnecessários, associados à assistência em saúde, até um mínimo aceitável. Destaca-se que esse assunto tem sido muito explorado nos últimos anos e, desde então, vem se tornando prioridade, motivando as instituições de saúde a criar estratégias com o objetivo de reduzir riscos evitáveis22. Neste estudo, foi observado que os enfermeiros seguem os protocolos de segurança ancorados na educação permanente da equipe, além de diversos treinamentos de acordo com as necessidades que surgem no setor, a fim de favorecer a segurança dos pacientes oncológicos. Para isso, é fundamental que os cuidados sejam prestados por uma equipe capacitada, com competências necessárias para conduzir todo o continuum de cuidados3. A quimioterapia não significa apenas uma aplicação de medicação em dias programados, mas também a necessidade de várias idas e vindas do hospital, além das coletas de exames laboratoriais, que podem ocorrer semanalmente. É de fundamental importância a necessidade de que o profissional estabeleça estreita relação com pacientes e familiares. Este estudo revelou um verdadeiro elo entre os enfermeiros, pacientes e familiares e, por meio da entrevista, os profissionais manifestaram a compreensão do trajeto doloroso que o paciente e a família percorrem durante todo o seu processo em busca da cura3. É importante destacar a importância de estabelecer estratégias educativas que favoreçam, por meio de competências oferecidas aos navegadores, maiores habilidades no atendimento ao paciente oncológico3. Os enfermeiros relataram haver treinamentos suficientes com a equipe e informaram compreender os benefícios do programa de navegação de pacientes. Goia et al.17 descreveram, em estudo em um Centro Diagnóstico que atende aproximadamente 4.000 mamografias por mês, de mulheres oriundas de 92 municípios do estado do Rio de Janeiro, que a falta de estrutura física, recursos humanos e suprimentos médicos são importantes barreiras que impedem a efetivação do programa de navegação. Tal fato foi observado neste Artigo submetido à Revista Texto e Contexto Enfermagem no dia 25/01/2023 49 Roque AC et al 2022 estudo, devido à distância entre os complexos hospitalares de atendimento ao paciente oncológico17. Relataram, ainda, que a coordenação do cuidado no processo assistencial é compreendida dentro do escopo das atribuições e tarefas profissionais, cujo processo é realizado de acordo com a categoria profissional e por meio de treinamentos3. No presente estudo observou-se que as enfermeiras definem a consulta de enfermagem como uma estratégia eficaz que facilita o fluxo do paciente oncológico. Neiva et al.23 avaliaram o ponto de vista dos usuários sobre o cuidado integral ao paciente oncológico e identificaram a importância da consulta de enfermagem como um instrumento norteador para orientação e formação de vínculo afetivo, sendo esta um importante espaço para pacientes e familiares sanarem dúvidas e tensões sobre o processo de cuidados e autocuidados22. A reflexão sobre os depoimentos das enfermeiras demonstrou que existe a valorização do enfermeiro para a navegação de pacientes oncológicos e que, por meio do atendimento desse profissional, existe a facilitação durante o trajeto do paciente e de sua família no complexo hospitalar. A atuação do enfermeiro navegador na oncologia proporciona grandes benefícios aos pacientes, tendo desfechos favoráveis na qualidade do tratamento24. No Canadá, o enfermeiro navegador é reconhecido como um componente chave dentro do sistema de saúde, no tratamento do câncer, contribuindo significativamente para a prestação de cuidados ao paciente oncológico25. Nesta pesquisa foi possível observar a existência da valorização do profissional navegador. Embora participantes não possuíssem formação e conhecimentos avançados para a prática de navegação, eles relataram a importância da implementação desse progra