unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ENGENHARIA DE ILHA SOLTEIRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA MODELAGEM DO ESCOAMENTO AO LONGO DE EVAPORADORES DE SERPENTINA COM TUBOS ALETADOS Sandhoerts Said Bueno Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica Orientador: Prof. Dr. André Luiz Seixlack Ilha Solteira, maio de 2004. “MODELAGEM DO ESCOAMENTO AO LONGO DE EVAPORADORES DE SERPENTINA COM TUBOS ALETADOS.” SANDHOERTS SAID BUENO Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA na área de concentração CIÊNCIAS TÉRMICAS e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica __________________________________________ Prof. Dr. João Antônio Pereira – Coordenador. COMISSÃO EXAMINADORA: Prof. Dr. André Luiz Seixlack – Orientador. Prof. Dr. Marco Antonio Soares de Paiva Prof. Dr. Sérgio Said Mansur Dedico esta dissertação de mestrado aos meus pais, Manuel e Rosa, meus grandes mestres na escola da vida e à minha noiva Ana Cristina, pelo apoio, força e inspiração para a realização desta etapa. AAggrraaddeecciimmeennttooss Agradeço a Jesus Cristo por ter me dado a vida, forças para realizar este trabalho e uma esperança para o futuro. Ao meu orientador Prof. Dr. André Luiz Seixlack pela excelente orientação, discussões enriquecedoras, consideração, paciência, apoio em todas as situações e a amizade construída durante a realização deste trabalho. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, pela bolsa de estudo concedida. Aos professores João Batista Aparecido, João Batista Campos Silva e Emanuel Rocha Woiski pelos ensinamentos. Aos meus amigos e companheiros de república Adriano, Gilson, Maricato e Rogério pela ajuda atribuída sempre que necessário e pelos momentos de descontração. A todos os colegas, professores e funcionários do programa de pós-graduação em Engenharia Mecânica do Campus de Ilha Solteira pela amizade. Em especial, aos meus pais Manuel Bueno Lopes e Rosa Said Bueno e a minha noiva Ana Cristina, pelo amor, apoio, compreensão e por tudo que fizeram para que este trabalho chegasse ao final. E a todos que de alguma forma contribuíram para que este trabalho acontecesse. Muito Obrigado. Sandhoerts Said Bueno, maio de 2004. “ Feliz o homem que encontrou a sabedoria e alcançou o entendimento, porque a sabedoria vale mais do que a prata, e dá mais lucro que o ouro.” Provérbios, Cap. 3, vers. 13-15. SSuummáárriioo Lista de Figuras xv Lista de Tabelas xix Lista de Símbolos xxi Resumo xxvii Abstract xxix Capítulo 1 1 Introdução.........................................................................................................................1 1.1 Generalidades sobre Evaporadores ............................................................................................3 1.2 Revisão Bibliográfica ..............................................................................................................11 1.3 Objetivos da Dissertação .........................................................................................................15 1.4 Esboço da Dissertação .............................................................................................................16 Capítulo 2 19 Fundamentos dos Escoamentos Bifásicos.....................................................................19 2.1 Introdução ................................................................................................................................19 2.2 Classificação Geral ..................................................................................................................20 2.3 Parâmetros Básicos ..................................................................................................................21 2.4 Regimes do Escoamento Bifásico em Tubos Horizontais .......................................................23 2.5 Transferência de Calor em Ebulição Convectiva ....................................................................25 2.6 Modelos de Análise .................................................................................................................28 Capítulo 3 35 Formulação do Problema...............................................................................................35 3.1 Introdução ................................................................................................................................35 3.2 Equações Governantes .............................................................................................................36 Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados xii 3.3 Condições Iniciais....................................................................................................................42 3.4 Equações Constitutivas ............................................................................................................42 3.4.1 Força de Atrito .................................................................................................................42 3.4.2 Coeficientes de Transferência de Calor – Fluido Refrigerante........................................46 3.4.3 Coeficientes de Transferência de Calor – Ar...................................................................53 3.4.4 Razão de Deslizamento (S)..............................................................................................56 Capítulo 4 59 Metodologia de Solução.................................................................................................59 4.1 Introdução ................................................................................................................................59 4.2 Discretização das Equações Governantes................................................................................60 4.3 Procedimento de Solução ........................................................................................................63 4.3.1 Problema Direto...............................................................................................................64 4.3.2 Problema Inverso.............................................................................................................66 Capítulo 5 67 Resultados e Discussão.................................................................................................67 5.1 Introdução................................................................................................................................67 5.2 Definição do Modelo ...............................................................................................................70 5.3 Análise das Equações Constitutivas - Regime Permanente.....................................................71 5.3.1 Influência do Modelo de Cálculo da Força de Atrito, zF ...............................................71 5.3.2 Influência do Coeficiente de Transferência de Calor Bifásico. .......................................74 5.3.3 Influência do Coeficiente de Transferência de Calor do Ar ............................................76 5.3.4 Influência dos Modelos de Cálculo da Razão de Deslizamento......................................77 5.4 Comparações dos Resultados – Regime Permanente ..............................................................80 5.5 Comparações com Resultados Experimentais – Regime Transiente.......................................84 5.6 Análise de Circuitos de Refrigerante .......................................................................................90 Capítulo 6 97 Conclusões.....................................................................................................................97 Referências Bibliográficas 101 Sumário xiii Apêndice A 107 Equações Constitutivas................................................................................................107 A.1 Propriedades Termofísicas....................................................................................................107 Apêndice B 117 Parâmetros Geométricos do Evaporador.....................................................................117 Apêndice C 121 Método de Newton-Raphson........................................................................................121 Apêndice D 125 Método de Levenberg-Marquardt.................................................................................125 Apêndice E 127 Fluxograma do Algoritimo Numérico............................................................................127 LLiissttaa ddee FFiigguurraass Figura 1.1 – Esquema de um evaporador inundado, com recirculação por gravidade. ...................4 Figura 1.2 – Esquema de um evaporador de expansão seca de superfície primária........................5 Figura 1.3 – Esquema de um evaporador de expansão seca de superfície aletada. .........................5 Figura 1.4 – Evaporadores de superfície aletada. ............................................................................6 Figura 1.5 – Distribuição esquemática de temperatura do refrigerante e do ar ao longo de um evaporador de serpentina com tubos aletados. ................................................................................8 Figura 1.6 – Esquemas de circuitos de refrigerantes. ......................................................................9 Figura 1.7 - Evaporadores de placas conformadas. .......................................................................10 Figura 2.1 - Modelo idealizado para escoamento bifásico líquido-vapor em um tubo inclinado (Carey, 1992). ................................................................................................................................21 Figura 2.2 - Representação esquemática dos regimes observados em escoamentos horizontais líquido-gás. ....................................................................................................................................24 Figura 2.3 - Mapa de regimes de escoamentos horizontais líquido-gás ........................................25 Figura 2.4 - Representação esquemática: (a) da seqüênc ia de regimes do escoamento;...............27 Figura 3.1 - Parâmetros geométricos do evaporador. ....................................................................35 Figura 3.2 – Volume de controle para o balanço de energia para o ar. .........................................39 Figura 3.3 – Volume de controle para o balanço de energia para a parede do tubo. .....................40 Figura 3.4 – Volume de controle para o balanço de umidade do ar. .............................................41 Figura 4.1 – Representação esquemática de configurações da serpentina: (a) uma fileira com oito tubos e (b) três fileiras com oito tubos cada. .................................................................................59 Figura 4.2 – (a) Volume de controle para o cálculo das variáveis, com exceção das velocidades, (b) Volume de controle para o cálculo das velocidades; (c) volume de controle para o ar. ..........61 Figura 4.3 – Divisão de uma fileira do evaporador para a solução numérica. ..............................64 Figura 5.1 – Distribuições da força zF ao longo da serpentina. ...................................................72 Figura 5.2 – Distribuições de pressão do refrigerante ao longo da serpentina. .............................73 Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados xvi Figura 5.3 – Efeito do modelo de cálculo de zF sobre a temperatura do refrigerante. .................73 Figura 5.4 – Efeito do modelo de cálculo de zF sobre a temperatura do ar. ................................74 Figura 5.5 – Distribuições do coeficiente de transferência de calor no lado do refrigerante. .......75 Figura 5.6 – Efeito do coeficiente de transferência de calor bifásico sobre a distribuição de temperatura do refrigerante ao longo da serpentina. .....................................................................75 Figura 5.7 – Efeito do CTC do ar sobre a distribuição de temperatura do ar. ...............................77 Figura 5.8 – Efeito da razão de deslizamento sobre a temperatura do refrigerante ao longo da serpentina. ......................................................................................................................................78 Figura 5.9 – Efeito da razão de deslizamento sobre a temperatura da parede do tubo..................78 Figura 5.10 – Efeito da razão de deslizamento sobre a temperatura do ar ao longo da serpentina. .......................................................................................................................................................79 Figura 5.11 – Razão de deslizamento entre as fases ao longo da serpentina.................................79 Figura 5.12 – Comparação entre os perfis de temperatura do ar, do refrigerante e da parede do tubo para UR=30 %. ......................................................................................................................80 Figura 5.13 – Comparação entre os perfis de temperatura do ar, do refrigerante e da parede do tubo para UR=60 %. ......................................................................................................................81 Figura 5.14 – Comparação entre os perfis de temperatura do ar, do refrigerante e da parede do tubo para UR=90 %. ......................................................................................................................81 Figura 5.15 – Vazão em massa de refrigerante em função da umidade relativa do ar na entrada do evaporador. ....................................................................................................................................82 Figura 5.16 – Vazão em massa de refrigerante em função da temperatura de evaporação e da temperatura do ar na entrada do evaporador..................................................................................83 Figura 5.17 - Função )t(p r ajustada aos dados experimentais de Jia et al. (1995). .....................85 Figura 5.18 – Comparação entre os graus de superaquecimento calculado e medido (Jia et al. ,1995): influência das correlações da força de atrito, zF . .............................................86 Figura 5.19 – Comparações entre as temperaturas de saída do ar do evaporador calculada e medida (Jia et al. 1995): influência das correlações da força de atrito, zF ...................................87 Figura 5.20 – Comparação entre os graus de superaquecimento calculado e medido (Jia et al. ,1995, 1999): influência das correlações do CTC do ar.................................................88 Figura 5.21 – Comparação entre as temperaturas de saída do ar do evaporador calculada e medida (Jia et al. 1995, 1999): influência das correlações do CTC do ar. ....................................88 Lista de Figuras xvii Figura 5.22 – Comparação entre os graus de superaquecimento calculado e medido (Jia et al. ,1995): influência das correlações da razão de deslizamento. .......................................89 Figura 5.23 – Comparação entre as temperaturas de saída do ar do evaporador calculada e medida (Jia et al. 1995): influência das correlações da razão de deslizamento. ...........................90 Figura 5.24 – Esquemas de serpentinas com duas fileiras de tubos e quatro tubos por fileira......91 Figura 5.25 – Distribuições de temperatura do ar, da parede do tubo e do refrigerante ao longo das serpentinas (A) a (F). ...............................................................................................................92 Figura 5.26 – Distribuições de temperatura do ar, da parede do tubo e do refrigerante ao longo da serpentina (F): m& =15x10-3 kg/s.....................................................................................................93 Figura 5.27 – Distribuição da umidade absoluta do ar ao longo do evaporador (A).....................94 Figura 5.28 – Potência de refrigeração em função do fluxo de massa para diferentes configurações de circuitos de refrigerantes. ..................................................................................94 Figura 5.29 – Fluxo de calor médio em função do fluxo de massa para diferentes configurações de circuitos de refrigerante. ...........................................................................................................95 Figura A1 – Pressão do refrigerante em função da massa específica e entalpia. ........................108 Figura A2 – Calor específico à pressão constante do ar em função da temperatura. ..................109 Figura A3 – Viciosidade dinâmica do ar em função da temperatura. .........................................109 Figura A4 – Viciosidade cinemática do ar em função da temperatura. .......................................110 Figura A5 – Condutividade térmica do ar em função da temperatura.........................................110 Figura A6 –Coeficiente de difusividade de massa água-ar em função da temperatura. ..............111 Figura A7 – Calor específico à pressão constante do cobre puro em função da temperatura. ....112 Figura A8 - Condutividade térmica do cobre puro em função da temperatura. ..........................112 Figura A9 - Condutividade térmica do alumínio puro em função da temperatura. .....................113 Figura A10 – Calor específico à pressão constante do alumínio puro em função da temperatura. .....................................................................................................................................................113 Figura A11 –Calor latente de vaporização da água em função da temperatura. .........................114 Figura A12 –Entalpia da água líquida saturada em função da temperatura. ...............................114 Figura B1 – Parâmetros geométricos do evaporador...................................................................117 Figura B2 – (a) Disposição retangular de tubos; (b) Esquema de uma aleta de seção transversal uniforme.......................................................................................................................................119 LLiissttaa ddee TTaabbeellaass Tabela 3.1 – Dependência da razão de deslizamento, S (Whalley, 1987) .....................................57 Tabela 5.1 – Parâmetros geométricos do evaporador testado por Jia et al. (1995). ......................68 Tabela 5.2 – Condições de operação usadas por Jia et al. (1995). ................................................68 Tabela 5.3 – Parâmetros geométricos do evaporador testado por Liang et al. (1999). .................69 Tabela 5.4 – Parâmetros geométricos do evaporador simulado por Liang et al. (1999). ..............70 Tabela 5.5 – Condições de operação usadas por Liang et al. (1999): problema direto. ................70 Tabela 5.6 – Condições de operação usadas por Liang et al. (1999): problema inverso. .............70 Tabela A1 – Valores utilizados na determinação dos coeficientes na (McLinden et al. 1998). 108 Tabela C1 – Vantagens e desvantagens do método de Newton-Raphson para sistemas de equações não- lineares. .................................................................................................................123 LLiissttaa ddee SSíímmbboollooss A Área , 2m tfA Área do tubo não coberta pelas aletas, 2m pA Área do tubo sem as aletas, 2m oA Área total de transferência de calor, 2m iA Área interna do tubo por unidade de comprimento, m eA Área externa do tubo por unidade de comprimento, m rA Área do tubo não coberta pelas aletas por unidade de comprimento, m fA Área da aleta por unidade de comprimento, m tA Área total de transferência de calor por unidade de comprimento, m pc Calor específico à pressão constante, Kkg/J wfc Calor específico á pressão constante médio da parede do tubo e aletas, Kkg/J abD Difusividade de massa da água e ar, s/m2 hD Diâmetro hidráulico do evaporador, m d Diâmetro do tubo, m iF Vetor das funções para o método de Newton-Raphson spf Fator de atrito monofásico F Força de atrito / Fator de intensificação G Fluxo de massa, kg/m2s g Aceleração da gravidade, s/m 2 h Entalpia específica, kg/J evapH Altura do evaporador, m Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados xxii mH Coeficiente de transferência de massa, Ksm/kg 2 H Coeficiente de transferência de calor, Km/W 2 saH Coeficiente de transferência de calor na ebulição em piscina de Stephan & Abdelsalam (1980), Km/W 2 ECH Coeficiente de transferência de calor para convecção forçada, Km/W 2 ENCH Coeficiente de transferência de calor em ebulição nucleada de Forster & Zuber (1955), Km/W 2 i Índice de colunas da malha computacional j Índice de linhas da malha computacional ijJ Matriz jacobiano lj Fluxo superficial de líquido, s/m vj Fluxo superficial de vapor, s/m k Condutividade térmica, Km/W evapL Comprimento do evaporador, m MT Número total de células da malha computacional MI Número de colunas da malha computacional MJ Número de linhas da malha computacional fm Parâmetro da aleta m& Vazão em massa, s/kg tubosM Massa do tubos do evaporador, kg finsM Massa das aletas, kg wM Massa do tubo por unidade de comprimento, m/kg fM Massa das aletas por unidade de comprimento, m/kg wfM′ Massa do tubo e aletas por unidade de comprimento, m/kg Lista de Símbolos xxiii rN Número de circuitos do evaporador trN Número de passes por circuito tN Número total de tubos do evaporador p Pressão, Pa q ′′ Fluxo de calor, 2m/W er Raio externo do tubo, m eR Raio externo da aleta circular equivalente, m fS Espaçamento da aletas, m S Fator de supressão / Razão de deslizamento t Tempo, s T Temperatura, C,K o u Velocidade, s/m aV Velocidade do ar, s/m ax Espaçamento dos tubos do evaporador na direção y (vide Fig. B1), m bx Espaçamento dos tubos do evaporador na direção z (vide Fig. B1), m *x Fração de massa novox Vetor das variáveis corrigidos pelo método de Newton-Raphson velhox Vetor das variáveis não corrigidos pelo método de Newton-Raphson ox Estimativa inicial para o método de Newton-Raphson *x Vetor solução do sistema de equações x Título fY Espessura da aleta, m y Coordenada na direção y, m evapW Largura do evaporador, m z Coordenada na direção z, m Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados xxiv Símbolos Gregos α Fração de vazio β Ângulo de contato, rad ∆ Variação, m λ Calor latente, kg/J ρ Massa específica, 3m/kg xδ Perturbação da função σ Tensão superficial, m/N µ Viscosidade dinâmica, s.Pa ν Viscosidade cinemática, s.m2 Ω Ângulo de inclinação do tubo, graus 2φ Multiplicador bifásico ω Umidade absoluta do ar, osecarv kg/kg lvλ Entalpia de evaporação γ Título volumétrico fη Eficiência da aleta ℜ Conjunto dos números reais Subscritos a Refere-se ao ar a,sat Ar saturado na temperatura da parede do tubo E Vizinho localizado a esquerda do ponto P (do lado leste) e Refere-se ao lado externo Face do volume de controle entre P e E Lista de Símbolos xxv f Refere-se à aleta fins Refere-se ao conjunto das aletas i Refere-se ao lado interno Interface k Indica a iteração l Refere-se à fase de líquido lo Indica o gradiente de pressão devido ao atrito, que resultaria se o escoamento fosse somente de líquido à vazão em massa total n Face do volume de controle entre P e N N Vizinho localizado acima do ponto P (do lado norte) P Ponto central da malha considerado no cálculo das variáveis r Refrigerante sat Saturação s Face do volume de controle entre P e E S Vizinho localizado abaixo do ponto P (do lado sul) tot Total tt Regime turbulento v Refere-se à fase de vapor vo Indica o gradiente de pressão devido ao atrito, que resultaria se o escoamento fosse somente de vapor à vazão em massa total w Parede do tubo Face do volume de controle entre P e W W Vizinho localizado à direita do ponto P (do lado oeste) wr Parede do tubo e refrigerante wf Parede do tubo e aleta Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados xxvi Sobrescritos ~ Mistura o Passo de tempo anterior Números Adimensionais λ = G q Bo & Número de Ebulição dg G Fr 2 l 2 ρ = Número de Froude abpDc k Le ρ = Número de Lewis k dH Nu = Número de Nusselt k c Pr pµ = Número de Prandlt µ = Gd Re Número de Reynolds abD Sc ν = Número de Schimidt σρ = ~ dG We 2 Número de Weber Bueno, S. S., 2004, Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados. Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Ilha Solteira, SP, Brasil. RReessuummoo Neste trabalho, apresenta-se um modelo numérico distribuído para a simulação dos escoamentos do fluido refrigerante e do ar, no regime transiente, em evaporadores de expansão seca de serpentina com tubos aletados, comuns em sistemas de refrigeração e ar condicionado. No modelo proposto, o escoamento do fluido refrigerante no interior dos tubos é dividido em duas regiões: uma de escoamento bifásico líquido-vapor e uma de escoamento de vapor superaquecido. Considera-se a queda de pressão no interior dos tubos e a condensação do vapor d’água do ar que escoa em fluxo cruzado na parte externa dos tubos. O escoamento bifásico do fluido refrigerante é simplificado como um escoamento unidimensional, considerando o deslizamento entre as fases de líquido e de vapor. Para o escoamento do refrigerante, resolvem- se as equações de conservação da massa, da quantidade de movimento e de conservação da energia. Para o escoamento de ar, são resolvidas as equações de conservação da energia e de conservação da massa (umidade). Resolve-se, também, a equação da conservação da energia para a parede do tubo, para se obter a sua temperatura. O método de volumes finitos é utilizado na discretização das equações governantes e o método de Newton-Raphson é utilizado para a solução do sistema de equações resultante. Inicialmente, condições de regime permanente são assumidas e, posteriormente, para avaliar o comportamento transiente do evaporador, uma variação em degrau da vazão em massa de refrigerante é imposta em sua entrada. O modelo permite o cálculo da vazão de refrigerante, conhecidas as condições de operação e os parâmetros geométricos, usando-se o processo de estimativa de parâmetros, com o método de minimização de Levenberg-Marquardt. Além disso, o modelo permite a análise de algumas configurações de serpentinas de evaporadores com diferentes circuitos de refrigerante. Os resultados obtidos são comparados com dados experimentais e numéricos disponíveis na literatura e com os resultados obtidos pelo modelo homogêneo, para a vazão em massa de refrigerante, para os perfis de Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados xxviii temperatura do ar, para a temperatura do refrigerante e para a temperatura da parede do tubo. Apresenta-se, também, uma análise da influência de algumas configurações de circuitos de refrigerante sobre o desempenho do evaporador. Palavras chave: evaporador, serpentina com tubos aletados, escoamento bifásico, estimativa de parâmetros não lineares, circuitos de fluidos refrigerantes. Bueno, S. S., 2004, Modeling of Flow Through Finned Tube Coil Evaporators. Master Thesis, Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Ilha Solteira, SP, Brasil. AAbbssttrraacctt This work presents a numerical model to simulate the unsteady refrigerant fluid flow and air flow in dry-expansion finned-tube coil evaporators, the kind widely used in air conditioning and refrigeration systems. The model considers the refrigerant flow inside the tubes divided in a region of two-phase flow and a single-phase region, where the refrigerant is in the superheated state. The refrigerant pressure drop and the moisture condensation on the air flow crossing the outside of the tubes are also taking into account. The refrigerant two-phase flow is taken as one- dimensional and the slip between the liquid and vapor phases is considered. For the refrigerant flow, mass, momentum and energy conservation equations are solved in order to evaluate the specific mass, velocity, and temperature of the refrigerant fluid, respectively. For the air flow, energy and mass (humidity) conservation equations are solved, to obtain, respectively, the temperature and absolute humidity of the air crossing the evaporator. Also, the solution of energy conservation equation for the tube wall is used to determine the wall temperature distribution. Finite Volume Method is used all over to discretize the governing equations and a Newton-Raphson Scheme is utilized for the solution of the resulting system of equations. To analyze the evaporator unsteady behavior, the steady conditions are obtained initially and later a step change in the mass flow rate is imposed at the tube inlet. Obtained results such as superheating degree along the coil and air temperature at the outlet are compared to experimental data available in the open literature. From the model the refrigerant mass flow rate can be determined, from a known operating conditions and geometry parameters, using the process of parameter estimation with the method of Levenberg-Marquardt minimization. Moreover, the model allows the analysis of some configurations of coil evaporators with different refrigerant circuits. Results, such as air and refrigerant temperatures and tube-wall temperature distribution Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados xxx along the coil, are compared to data available in the open literature. Additionally, the influence of some configurations of refrigerant circuits on the performance of the evaporator is analyzed. Keywords: evaporator, finned tube coil, two-phase flow, non-linear parameter estimation, refrigerant circuitry. Capítulo 1 IInnttrroodduuççããoo A preocupação com o meio ambiente, principalmente no que se refere à camada de ozônio estratosférica e ao efeito estufa, ganha a cada dia novas proporções. A camada de ozônio que envolve a atmosfera terrestre filtra os raios solares, diminuindo ou quase eliminando raios com freqüências prejudiciais à vida terrestre. O problema detectado é a redução dessa camada que vem ocorrendo principalmente em razão da emissão de compostos artificiais na atmosfera. O grande desenvolvimento da indústria da refrigeração deveu-se, principalmente, à utilização dos fluidos refrigerantes halogenados, em particular os clorofluorcarbonos, também conhecidos como CFC’s em alusão à sua constituição química: cloro, flúor e carbono. Esses refrigerantes possuem propriedades excepcionais para uso em sistemas de refrigeração, pois são quimicamente muitos estáveis e não reagem com a maioria dos materiais, incluindo os óleos lubrificantes. Além disso, não são inflamáveis nem explosivos, apresentam uma toxicidade muito baixa e possuem características térmicas e termodinâmicas muito boas. Em razão de suas propriedades químicas favoráveis, os CFC's não se restringiram à indústria de refrigeração e passaram a ser usados, dentre outras aplicações, como propelentes para aerossóis, como agentes para a produção de espumas, como solventes, como agentes de limpeza para circuitos eletrônicos e outros. Na área de refrigeração, em virtude de suas características de segurança, deram o impulso necessário para a popularização de pequenas unidades frigoríficas comerciais e residenciais. Em resumo, propiciaram à sociedade como um todo, uma grande melhoria nos níveis de conforto e satisfação de necessidades básicas. No entanto, os CFC’s contribuem com a destruição da camada de ozônio da estratosfera e em razão de uma maior conscientização da população a respeito da necessidade de se preservar o meio ambiente, a produção desses fluidos deverá ser encerrada em um prazo de tempo relativamente curto. Além da necessidade de fontes energéticas não poluentes, a melhoria do desempenho termodinâmico de alguns componentes nos sistemas de refrigeração também tem motivado a realização de inúmeras pesquisas e grandes investimentos, voltados para a utilização de fluidos refrigerantes alternativos aos CFC’s. A comunidade científica tem buscado soluções que amenizem a ação nociva desses fluidos refrigerantes sobre a atmosfera. Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 2 Para isso, em 1987 foi estabelecido o Protocolo de Montreal, assinado por vários países e substancialmente revisto em 1990 e 1992, que estabelece a redução progressiva, até a eliminação total, da produção e uso de substâncias que afetam a camada de ozônio, entre elas os CFC's e os hidrofluorcarbonos, também conhecidos como HFC’s. Mais tarde, muitos outros países aderiram ao Protocolo, inclusive o Brasil. Os CFC’s, com produção proibida desde 1996 nos países desenvolvidos e com permissão de produção até 2010 em países em desenvolvimento, são considerados os principais responsáveis pela destruição da camada de ozônio. Em 1997 foi assinado o Protocolo de Kioto por 160 nações, limitando a emissão de seis gases e estabelecendo um cronograma para que alguns países industrializados reduzam a emissão de HFC’s, mas continuem emitindo CO2 e outros países continuem emitindo HFC’s, mas reduzam a emissão de CO2, com o objetivo de controlar o efeito estufa. A comunidade científica vem realizando nos últimos quinze anos um grande esforço, objetivando a substituição dos CFC’s e mais recentemente, também dos hidroclorofluorcarbonos, conhecidos como HCFC’s, em especial o HCFC-22, ou R-22, o mais usado nas instalações brasileiras, segundo Pinheiro (2001). Várias alternativas têm surgido, a maioria da família dos hidrocarbonetos halogenados, tanto como substâncias puras ou como misturas binárias ou ternárias. No grupo dos halogenados HFC’s, que não contêm cloro, citam-se o R-134a, o R- 404A, o R-402B, o R-407C e o R-417A. Além disso, com o aumento da preocupação em relação ao efeito estufa, os refrigerantes naturais, tais como o dióxido de carbono, CO2, a amônia, NH3 e alguns hidrocarbonetos têm sido cogitados. A substituição dos CFC’s, entretanto, envolve outros aspectos além dos fluidos em si, como a adaptação dos equipamentos do sistema de refrigeração projetados para a operação sob determinadas condições e com fluidos específicos. Em virtude das diferenças entre as propriedades termodinâmicas e de transporte dos CFC’s e aquelas dos fluidos alternativos, torna- se necessário o conhecimento das características do escoamento desses novos refrigerantes ao longo de cada um dos componentes do sistema de refrigeração, visando a otimização dos desempenhos desses componentes. Outro motivo que tem levado a se investir muito no setor de refrigeração é a preocupação atual com a economia de energia. O consumo de energia de um sistema de refrigeração depende do desempenho de cada um de seus componentes, da carga de refrigerante e das condições dos ambientes interno e externo. Esse consumo deve-se às irreversibilidades termodinâmicas inerentes aos processos de transferência de calor e do escoamento do fluido refrigerante no interior dos componentes do sistema de refrigeração. Dentre esses componentes, os Introdução 3 compressores, os trocadores de calor, os evaporadores e os condensadores, e os dispositivos de expansão, em particular os tubos capilares, têm sido extensivamente analisados nos últimos anos. A principal motivação do presente trabalho é a análise de um desses componentes: os evaporadores do tipo serpentina com tubos aletados, comuns em aplicações relacionadas com os sistemas de refrigeração e ar condicionado. 1.1 Generalidades sobre Evaporadores Um evaporador é qualquer superfície de transferência de calor na qual o líquido volátil é vaporizado com o objetivo de remover calor de um espaço ou produto. A eficiência do evaporador em um sistema de refrigeração depende de dois requisitos principais, que devem ser considerados em seu projeto e seleção: (i) possuir uma superfície suficiente para absorver a carga térmica necessária, sem uma diferença de temperatura excessiva entre o refrigerante e a substância a resfriar; (ii) apresentar um volume adequado para o fluido refrigerante e evitar queda de pressão excessiva entre a sua entrada e sua saída. A análise do escoamento do fluido refrigerante no interior dos tubos do evaporador e do escoamento do ar do lado externo é importante, tanto para o projeto quanto para o controle do sistema como um todo. Na prática, a carga de refrigerante no evaporador deve ser tal que refrigerante no estado líquido não deixe o evaporador, o que poderia danificar o compressor do sistema de refrigeração. Por outro lado, o ponto em que todo o refrigerante líquido torna-se vapor deve ser mantido o mais próximo possível da saída do evaporador, para que sua máxima eficiência seja alcançada. Esses dois pontos contraditórios requerem um controle apropriado do sistema e um entendimento do comportamento dinâmico do evaporador. O comportamento dinâmico de um evaporador pode resultar da variação da vazão de fluido refrigerante causada pela necessidade em manter as condições preestabelecidas pelos controles de capacidade do sistema. As capacidades térmicas dos tubos e do refrigerante, que atuam como reservatórios de energia térmica, determinam a extensão do escoamento bifásico ao longo dos tubos do evaporador e, por isso, são fatores importantes no comportamento transiente e na eficiência desses trocadores de calor. Dessa forma, o sucesso do modelo dinâmico para evaporadores de serpentina com tubos aletados depende do grau de entendimento do escoamento bifásico. Os vários estudos realizados sobre evaporadores, geralmente, objetivam: (i) o levantamento de parâmetros de operação desses trocadores de calor, tais como, coeficientes de transferência de Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 4 calor, queda de pressão e capacidade de resfriamento; (ii) o desenvolvimento de novos evaporadores, adaptados ao uso de refrigerantes alternativos; (iii) o desenvolvimento e caracterização do desempenho de novos tipos geométricos de aletas e promotores de turbulência para intensificação da transferência de calor. O estudo de evaporadores é bastante complexo em razão de inúmeros fatores. Um desses é a mudança de fase do refrigerante no interior dos tubos, resultando em variações significativas na transferência de calor e nas características do escoamento do fluido do lado externo dos tubos. Outro fator é a possibilidade de numerosos arranjos de circuitos de refrigerante para uma serpentina. Em função das diferentes aplicações na refrigeração mecânica, os evaporadores são fabricados em uma grande variedade de tipos, tamanhos, formas e projetos, podendo ser classificados segundo o tipo de construção, o método de alimentação do líquido, a superfície de transferência de calor, a condição de operação, o método de circulação do ar ou do líquido, o tipo de controle da vazão de refrigerante e a aplicação. Segundo o tipo de alimentação do líquido, os evaporadores são divididos em evaporadores inundados e de expansão seca. O evaporador inundado é disposto com um separador de líquido localizado acima da serpentina, de modo que o interior do evaporador permaneça inundado com refrigerante. Pode apresentar ainda duas configurações de acordo com a recirculação do refrigerante por gravidade, mostrado na Fig. 1.1, ou por bomba. Figura 1.1 – Esquema de um evaporador inundado, com recirculação por gravidade. No evaporador de expansão seca, mostrado esquematicamente na Fig. 1.2, o controle da vazão de fluido refrigerante é realizado por uma válvula de expansão termostática, ou por um Introdução 5 tubo capilar no caso de sistemas de refrigeração de pequeno porte, permitindo a entrada de uma quantidade de líquido suficiente para ser totalmente evaporado antes de atingir a saída da serpentina. Válvula de expansão termostática Serpentina do evaporador Tubulação de líquido do receptor Bulbo Sucção para o compressor Figura 1.2 – Esquema de um evaporador de expansão seca de superfície primária. Segundo a superfície de transferência de calor, os evaporadores são classificados em evaporadores de superfície primária e de superfície aletada ou estendida. Os evaporadores de superfície primária são compostos apenas por tubos lisos, vide Fig. 1.2, e os evaporadores de superfície estendida possuem tubos aletados, como mostrado nas Figs. 1.3 e 1.4. As aletas constituem-se de chapas, placas metálicas ou ondulações fundidas ou usinadas na superfície da tubulação. Bulbo Evaporador de superfície aletada Válvula de expansão termostática Figura 1.3 – Esquema de um evaporador de expansão seca de superfície aletada. A tubulação dos evaporadores de tubo liso, geralmente, são de aço ou de cobre. A tubulação Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 6 de aço é usada para evaporadores de grande porte e para evaporadores que trabalham com amônia, enquanto que tubulações de cobre são empregadas em evaporadores menores, usados em refrigeradores. Serpentinas de tubos lisos são construídas em vários tamanhos, formas e projetos e, geralmente, para aplicações específicas. As formas comuns para serpentinas de tubos lisos são: planas, em zigue-zague, em forma de trombone oval e em espiral. Essa última forma, muitas vezes é empregada para o resfriamento de líquidos. Figura 1.4 – Evaporadores de superfície aletada. Serpentinas de tubos lisos, empregando circulação de ar por convecção natural, são também usadas em câmaras frigoríficas e em refrigeradores de armazenamento, nos quais é necessária a circulação de grande vazão de ar a baixa velocidade. São usadas ainda, ou como serpentinas de expansão seca ou inundadas, em conjunto com ventiladores centrífugos, para fornecer ar resfriado a alta velocidade para operações de congelamento. Os evaporadores de superfície aletada possuem uma superfície de transferência de calor muito maior do que aquela dos evaporadores de tubos lisos e são utilizados geralmente para o resfriamento de ar ou outros gases. As aletas têm a finalidade de aumentar a área de transferência de calor em contato com o ar, pois desse lado dos tubos o coeficiente de transferência de calor por convecção pode ser de 10 a 50 vezes menor do que no interior dos tubos. Nos evaporadores de tubo liso, grande parte do ar que circula pela serpentina flui através dos espaços abertos entre os tubos e não entra em contato com a superfície da serpentina. Quando as aletas são adicionadas a uma serpentina, elas são dispostas nos espaços entre os tubos e removem o calor da porção de ar que não entraria em contato com a superfície primária. As aletas devem ser unidas à tubulação de tal maneira que assegure um bom contato térmico para serem eficazes. Em alguns casos, as aletas são soldadas diretamente à tubulação e em Introdução 7 outros, são colocadas na tubulação, que é expandida por pressão ou algum meio semelhante, de modo que as aletas penetrem na superfície do tubo e estabeleçam um bom contato térmico. Uma variação desse último método é alargar ligeiramente a abertura da aleta permitindo sua entrada no tubo e em seguida, o alargamento é estreitado fixando-a no tubo. A dimensão, o espaçamento e o formato das aletas dependem em parte da aplicação da serpentina. A dimensão do tubo determina a dimensão da aleta e a densidade linear de aletas, que devem estar na faixa entre 39 a 550 aletas/m dependendo, principalmente, da temperatura de operação da serpentina. O acúmulo de gelo nas serpentinas de resfriamento de ar, operando a temperaturas baixas, é inevitável e tende a restringir as passagens de ar entre as aletas e a retardar a circulação de ar através da serpentina. Dessa forma, os evaporadores que se destinam a aplicações de baixas temperaturas devem ter um espaçamento entre as aletas adequado, usando 79 ou 118 aletas/m para minimizar o perigo de limitar a circulação de ar. Por outro lado, as serpentinas destinadas ao condicionamento de ar e outras instalações que operam a temperaturas elevadas, podem ter aproximadamente 550 aletas/m. Quando a circulação de ar sobre as serpentinas aletadas é natural, é importante que a serpentina ofereça menor resistência possível ao fluxo de ar e por isso, geralmente, a distância entre as aletas deve ser maior para serpentinas de convecção natural do que para serpentinas de convecção forçada. Existe uma relação definida entre as superfícies interna e externa de um evaporador. Uma vez que a aleta externa afeta somente a superfície externa, a adição de aletas acima de um certo limite, não aumentará consideravelmente a capacidade do evaporador. De fato, em algumas circunstâncias, um número alto de aletas pode reduzir tal capacidade, restringindo a circulação do ar sobre a serpentina sem necessidade. Uma vez que a sua capacidade é afetada pelo acúmulo de gelo, as serpentinas aletadas são apropriadas para aplicações de resfriamento de ar nas quais a temperatura é mantida acima de 1°C. Quando as serpentinas aletadas são usadas para operação em baixas temperaturas, devem ser providenciados alguns modos de degelo em intervalos regulares. Os evaporadores de expansão seca de serpentina com tubos aletados geralmente são constituídos de uma série de fileiras paralelas de tubos. A distribuição esquemática de temperatura do fluido refrigerante – linha 1-1’-4 - e do ar – linha 1-2-3 - ao longo de uma fileira desse tipo de evaporador é mostrada na Fig. 1.5. Nessa figura, observa-se que o escoamento do refrigerante é dividido em duas regiões: uma de escoamento bifásico, na qual a temperatura do Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 8 refrigerante permanece aproximadamente constante – trecho 4-1’ – e outra de escoamento de vapor superaquecido, na qual ocorre um aumento da temperatura do refrigerante – trecho 1’-1. O ar, que escoa em fluxo cruzado do lado externo dos tubos, tem a sua temperatura reduzida ao longo da serpentina. Figura 1.5 – Distribuição esquemática de temperatura do refrigerante e do ar ao longo de um evaporador de serpentina com tubos aletados. O escoamento do fluido refrigerante no interior dos tubos de um evaporador de expansão seca é bastante complexo, identificando-se duas regiões: uma de escoamento bifásico líquido- vapor e uma de escoamento de vapor superaquecido (vide Fig. 1.5). Além disso, durante a operação do sistema de refrigeração, grandes períodos transientes podem surgir como conseqüência, por exemplo, do início do funcionamento do sistema, dos ciclos de parada e acionamento do compressor ou da variação das condições de operação do sistema. Durante tais períodos, as regiões líquida, bifásica ou de vapor podem se formar ou desaparecer, dificultando ainda mais a modelagem do escoamento. Outro fator importante é o padrão complexo do escoamento do ar sobre as superfícies externas dos tubos e aletas, uma vez que as possibilidades de arranjos de circuitos de refrigerantes são numerosos. A combinação entre os processos de transferência de calor, transferência de massa (condensação do vapor d’água do ar) e transferência de quantidade de movimento complicam a análise, tornando necessário recorrer-se a trabalhos experimentais para a obtenção de dados empíricos a serem usados em modelos teóricos. Introdução 9 Esse grande número de fenômenos mostra que os sistemas de refrigeração e condicionamento de ar operam sob condições variáveis e, assim, uma condição única de regime permanente não existe, especialmente se os controles de capacidade do sistema estiverem ajustados para uma dada situação. Portanto, as investigações não devem se restringir à análise do regime permanente, mas também, incluir o regime transiente ou a análise dinâmica. Usualmente, o processo de transferência de calor entre o refrigerante e o ar em um evaporador de serpentina com tubos aletados ocorre em escoamento de fluxo cruzado, como mostrado nas Figs. 1.5 e 1.6. A fim de melhorar a eficiência de transferência de calor ou buscar as condições ideais de funcionamento, várias configurações de tubos são empregadas, vide Fig. 1.6, e vários métodos para se escolher o melhor circuito são utilizados. Na Figura 1.6 são mostrados, esquematicamente, quatro possibilidades de serpentinas com diferentes circuitos de refrigerante. As serpentinas 1 e 2 compõem-se de um circuito de refrigerante simples, sem ramificações, respectivamente, contendo três e quatro fileiras de tubos, com oito tubos em cada fileira. As serpentinas 3 e 4 compõem-se de circuitos complexos de refrigerante e possuem o mesmo número de tubos do que a serpentina 1, mas com ramificações e junções em diferentes pontos ao longo da trajetória do escoamento. A serpentina 3, por exemplo, possui uma ramificação com 10 tubos, duas ramificações com 6 tubos e uma ramificação com 2 tubos. Figura 1.6 – Esquemas de circuitos de refrigerantes. Essa diversidade de configurações de circuitos torna a modelagem do escoamento ainda mais complexa, fazendo com que os modelos que usam a formulação distribuída, conhecidos Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 10 como modelos distribuídos, sejam cada vez mais utilizados em razão da flexibilidade e aplicabilidade em descrever, além do comportamento dinâmico, a diversidade geométrica dos evaporadores de serpentina com tubos aletados. Além dos tipos anteriores, há também os evaporadores de placa mostrados na Fig. 1.7, geralmente construídos de duas chapas lisas de metal soldadas, com relevo tal que permita um trajeto para o fluxo de refrigerante entre as duas chapas. Esse tipo particular de evaporador, também chamado de roll bound, é muito utilizado em refrigeradores domésticos, pois é de fácil limpeza, de fabricação econômica e pode ser prontamente moldado em várias formas. Outro tipo de evaporador de placa é constituído de uma tubulação instalada entre duas placas de metal que são soldadas juntas nas bordas. A fim de garantir o bom contato térmico entre as placas e o tubo, o espaço entre as placas é preenchido com uma solução eutética ou é evacuado, de modo que a pressão atmosférica exercida na superfície externa das placas fixe-as firmemente contra o tubo. Aqueles que contém a solução eutética são usados especialmente quando é requerida uma capacidade excedente. Muitos são usados em caminhões refrigerados, sendo que a temperatura das placas é controlada pelo ponto de fusão da solução eutética. Figura 1.7 - Evaporadores de placas conformadas. Os evaporadores de placa proporcionam excelentes prateleiras em câmaras frigoríficas e aplicações similares. Eles também são muito usados como divisões em frigoríficos, caixas de exposição de alimentos congelados e câmaras de sorvetes. Os evaporadores de placa são usados especialmente para instalações de resfriamento de líquido, nas quais condições de carga máxima não são encontradas periodicamente. Os evaporadores de serpentinas aletadas podem ser compactos, pois têm maior área de superfície por unidade de comprimento do que os evaporadores de superfície primária. Introdução 11 Geralmente, uma serpentina aletada ocupará menos espaço do que um evaporador de tubo liso ou do que um evaporador de placa de mesma capacidade. Isso assegura uma economia considerável de espaço e torna as serpentinas aletadas as mais indicadas para o uso com ventiladores, em unidades de convecção forçada. 1.2 Revisão Bibliográfica Vários estudos experimentais e/ou teóricos, sobre evaporadores têm sido documentados na literatura. A maioria das pesquisas apresentadas referem-se a trocadores de calor usados em sistema de refrigeração comerciais e em aplicações de ar-condicionado. Em função do grande número de fenômenos envolvidos no funcionamento dos evaporadores, diferentes aspectos têm sido analisados, tais como: efeitos da distribuição de ar no desempenho do evaporador; influência da configuração dos circuitos dos tubos do evaporador; efeito do tipo de aleta; estudo do comportamento dinâmico do evaporador quando submetido a variações das condições de operação e outros. Wang e Touber (1991) forneceram uma boa revisão bibliográfica dos modelos de análise do desempenho de evaporadores, e os classificaram em quatro grupos: modelos de “caixa preta”, de uma-zona, de duas–zonas e distribuídos. Dentre esses, os que fornecem melhores resultados do comportamento dinâmico do evaporador são os modelos distribuídos. Entretanto, um de seus problemas principais é a descrição da fração de vazio e do escoamento bifásico. A transferência de quantidade de movimento entre as fases líquida e de vapor causa o efeito de deslizamento, que influencia a distribuição de massa do refrigerante. Dessa forma, a fração de vazio deve ser adequadamente descrita para tornar o modelo distribuído mais realista. Wang e Touber (1991), apresentaram também um modelo distribuído que leva em conta o efeito do escorregamento entre as fases líquido-vapor no escoamento evaporativo, usando uma equação simplificada de propagação da fração de vazio para descrever o fenômeno de transporte de massa ocorrendo na região de escoamento bifásico. Nessa análise, a temperatura do refrigerante foi considerada constante na região bifásica uma vez que a equação da energia foi integrada e a perda de carga foi considerada apenas no final da região bifásica. Sendo o modelo distribuído, a hipótese de temperatura constante, pode resultar em erros na obtenção da temperatura do ar e de outros parâmetros. Jia et al. (1995) realizaram um trabalho experimental e também apresentaram um modelo distribuído para analisar o escoamento nos regimes permanente e transiente no interior de um evaporador de expansão seca. O modelo permite o cálculo de distribuições de velocidade e de Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 12 temperatura do refrigerante, da fração de vazio, da temperatura da parede do tubo, da temperatura e umidade do ar. Jia et al. (1995) assumem que a vazão em massa de refrigerante é uniforme em cada circuito, que o escoamento evaporativo bifásico no interior dos tubos é unidimensional e homogêneo, que a variação da energia potencial e a condução de calor axial na parede do tubo são desprezíveis e que não ocorre formação de gelo na superfície externa dos tubos. Os resultados foram comparados com resultados experimentais obtidos em evaporadores comerciais operando com o refrigerante HFC-134a e indicaram que o modelo fornece uma estimativa razoável da resposta dinâmica do evaporador, a uma variação da vazão do refrigerante em sua entrada. Bensafi et al. (1997) analisaram o desempenho de trocadores de calor do tipo serpentina com tubo aletado, utilizando um modelo computacional, conhecido como CYRANO, desenvolvido para o projeto de evaporadores e condensadores, que considera uma variedade de fluidos puros, incluindo água e vapor. Circuitos complexos e não uniformes de distribuição de ar também podem ser considerados. O programa discretiza trocadores de calor em elementos de tubos, nos quais as equações governantes são resolvidas usando valores locais de temperatura, pressão, propriedades físicas e coeficientes de transferência de calor. Os dados obtidos pelo código computacional em serpentinas aletadas usando fluidos puros foram comparados com resultados experimentais e mostram erros menores do que 5% na taxa de transferência de calor e de 30% na queda de pressão de refrigerante. Um estudo experimental e teórico do desempenho de evaporadores de serpentina aletadas resfriados a ar foi realizado por Horuz et al. (1998). Nesse trabalho, analisaram-se alguns parâmetros tais como: a velocidade do ar, o diâmetro dos tubos, a temperatura do evaporador, tipos de refrigerantes, a formação de gelo e o coeficiente global de transferência de calor. Verificou-se que os valores do coeficiente global de transferência de calor apresentados em alguns catálogos industriais são em média de 15 a 30% maiores do que alguns valores experimentais. Utilizando um modelo distribuído, Jia et al. (1999), avaliaram a influência do modelo do escoamento bifásico na resposta transiente de um evaporador de expansão seca. Foram utilizados para o escoamento bifásico o modelo homogêneo e o modelo de escoamentos separados. Três modelos para a razão de deslizamento foram analisados e os resultados foram comparados com dados experimentais obtidos em evaporadores comerciais operando com o refrigerante HFC-134a. Verificou-se que os modelos de fluxo com escorregamento forneceram predições satisfatórias do desempenho de evaporadores comparados com dados experimentais. Comparado Introdução 13 com os modelos de fluxo com escorregamento, o modelo homogêneo subestimou o grau de superaquecimento do refrigerante ao longo da serpentina e antecipou a resposta transiente quando o evaporador foi submetido a uma variação em degrau da vazão em massa de refrigerante em sua entrada. Friedel (1982), comparou as correlações para a fração de vazio e para a razão de deslizamento, disponíveis na época, e mostrou que esses parâmetros dependem da direção do escoamento. Sob as mesmas condições de teste Friedel (1982) mostrou que a razão de deslizamento é maior no escoamento vertical ascendente do que no escoamento vertical descendente e varia entre esses dois valores limites no escoamento horizontal. A fração de vazio, entretanto, é menor em escoamentos verticais ascendentes do que em escoamentos descendentes ficando, novamente, entre esses dois valores, nos escoamentos horizontais. Tais diferenças são menores, quando o escoamento bifásico é considerado homogêneo. Um estudo recente para analisar o efeito dos modelos de fração de vazio na simulação numérica de evaporadores e condensadores, foi apresentado por Hermes et al. (2001). Nesse trabalho, Hermes et al. (2001) apresentam um modelo distribuído unidimensional a partir do qual pode-se obter as distribuições de pressão, entalpia e massa específica ao longo do trocador de calor na condição de regime permanente e estimar a massa total de refrigerante, a taxa global de transferência de calor e a queda de pressão. Além disso, o modelo permite que se analise tanto o efeito local da fração de vazio no escoamento como a sua influência no desempenho global do trocador de calor. Foram realizadas comparações entre diferentes modelos de fração de vazio encontrados na literatura, tais como: Zivi (1964), Smith (1969), Premoli et al. (1970), Newell et al. (2001) e outros. Os resultados mostram que o grupo de modelos baseados na razão de deslizamento tendem a subestimar a massa de refrigerante no trocador de calor, já que apresentam valores elevados para a fração de vazio, embora apresentem resultados mais realistas para a queda de pressão. Liang et al. (1999) utilizaram um modelo distribuído para predizer o desempenho de um evaporador de expansão seca operando em regime permanente. O modelo numérico calcula a vazão em massa ou o comprimento da serpentina do evaporador, considera a queda de pressão do refrigerante e as aletas parcialmente ou totalmente molhadas. Os resultados simulados são comparados com resultados experimentais de um evaporador operando com o refrigerante HFC-134a. Liang et al. (1999) também analisaram o efeito da umidade do ar e da substituição do HFC-134a pelo CFC-12 no desempenho do evaporador. As taxas de transferência de calor obtidas pelo modelo possuem uma incerteza de 10% em relação aos valores medidos, Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 14 considerando diferentes condições do escoamento de ar. Os resultados obtidos por Liang et al. (1999) revelaram que a umidade do ar tem grande influência no desempenho do evaporador, sendo que um maior consumo de energia é requerido, à medida que a umidade relativa do ar aumenta. Na substituição do HFC-134a pelo CFC-12 ocorreu um ligeiro aumento da taxa de condensação do ar e do efeito de refrigeração, uma diminuição da vazão em massa de refrigerante, permanecendo a temperatura de saída do ar aproximadamente constante. A área total de transferência de calor para o HFC-134a, para o mesmo efeito de refrigeração, é 7% menor em relação àquela requerida para o CFC-12 em razão do maior coeficiente de transferência de calor do HFC-134a. Liang et al. (1999) verificaram também que a perda de pressão foi mais acentuada quando o HFC-134a foi utilizado e analisando os resultados obtidos, concluíram que o modelo elaborado é útil para prever o desempenho de evaporadores de expansão seca. Barbieri (2001) analisou a resposta dinâmica de evaporadores de serpentina com tubos aletados, apresentando um modelo numérico distribuído e considerando o escoamento bifásico como homogêneo. Conhecidos os dados geométricos e as condições de operação na entrada da serpentina e na entrada do ar o modelo permite uma análise do desempenho do evaporador, ou seja, calcula a taxa de transferência de calor e as temperaturas de saída do refrigerante e do ar. Os resultados obtidos por Barbieri (2001) indicaram que o modelo fornece uma estimativa satisfatória da resposta transiente de um evaporador, submetido a uma variação em degrau da vazão em massa de refrigerante em sua entrada. Liang et al. (2001) desenvolveram um modelo numérico distribuído para a análise do desempenho, no regime permanente, de evaporadores de serpentina aletados de expansão direta, com circuitos complexos de refrigerante. Os resultados calculados foram comparados com os dados experimentais obtidos em evaporadores, usando o refrigerante HFC-134a. Quatro serpentinas sujeitas a diferentes condições do escoamento de ar, foram testadas e suas capacidades de refrigeração, ou capacidades frigoríficas, analisadas pelo modelo, desviam-se em 5% dos respectivos valores medidos. Os valores de queda de pressão preditos pelo modelo desviam-se em 25% em relação aos valores medidos. Nesse trabalho, Liang et al. (2001) mostraram que, para serpentinas com circuitos simples de refrigerante, sem ramificações, a forma das distribuições do gradiente de pressão e do coeficiente de transferência de calor do lado do refrigerante são similares. Tanto o gradiente de pressão como o coeficiente de transferência de calor possuem valores relativamente reduzidos na região bifásica de título reduzido, e valores muito maiores na região bifásica de título elevado. Introdução 15 Dessa forma, a variação da vazão de refrigerante em diferentes regiões, pode ser uma maneira razoável de balancear o coeficiente de transferência de calor e a queda de pressão ao longo da serpentina. Uma forma conveniente de variar a vazão de refrigerante ao longo da trajetória do escoamento é a junção ou a ramificação dos circuitos de refrigerante. A partir dos resultados obtidos, mostrou-se que, usando um circuito complexo no qual os circuitos individuais são unidos ou ramificados, a área de transferência de calor pode ser reduzida em 5 %, em relação a uma serpentina com um circuito simples. Para simular uma serpentina com um circuito de refrigerante complexo, Liang et al. (2001) propõem uma abordagem que permite a ligação de todos os volumes de controle para a realização dos cálculos. Dessa forma, o escoamento ao longo da serpentina pode ser simulado realizando-se balanços de conservação em volumes de controles. Inicialmente é necessário gerar um diagrama que estabelece a configuração da serpentina, identificando-se as ramificações e as junções do circuito do escoamento do refrigerante. Embora o circuito de refrigerante seja complexo, o diagrama gerado é usualmente simples e a serpentina é considerada como um conjunto de várias ramificações. Observa-se que nos trabalhos experimentais encontrados na literatura, muitas vezes, os dados obtidos não são apresentados de forma organizada e completa, dificultando a validação de modelos numéricos. Além disso, embora sejam encontrados na literatura vários estudos, tanto experimentais quanto computacionais, sobre evaporadores de serpentina com tubos aletados, os modelos que analisam o comportamento transiente desse tipo de evaporador são poucos e bastante recentes. Nota-se que vários parâmetros e efeitos ainda precisam ser analisados, para melhorar o entendimento e a modelagem dos fenômenos complexos envolvidos neste tipo de problema. 1.3 Objetivos da Dissertação No presente trabalho, apresenta-se um modelo numérico distribuído para a simulação do desempenho e da resposta transiente de evaporadores de expansão seca de serpentina com tubos aletados, comuns em sistemas de refrigeração e ar condicionado. O escoamento do fluido refrigerante no interior dos tubos é dividido em duas regiões: uma de escoamento bifásico líquido-vapor e uma de escoamento de vapor superaquecido. Considera-se a queda de pressão no interior dos tubos e a condensação do vapor d’água do ar que escoa em fluxo cruzado na parte externa dos tubos. Na região bifásica, considera-se o deslizamento entre as fases, procurando-se Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 16 reproduzir melhor os resultados experimentais e também o melhor entendimento dos fenômenos complexos envolvidos nesse tipo de escoamento. O modelo permite o cálculo, nos regimes permanente e transiente, da vazão em massa de fluido refrigerante, das distribuições locais de temperatura do refrigerante, temperatura da parede do tubo e temperatura do ar, da velocidade do refrigerante e da umidade do ar, conhecidos os parâmetros geométricos do evaporador e as condições de operação. Além disso, o modelo permite a análise de algumas configurações de serpentinas de evaporadores com diferentes circuitos dos tubos. O método de volumes finitos é usado na discretização das equações governantes e o método de Newton-Raphson é utilizado para a solução do sistema de equações resultante. A vazão em massa de refrigerante ao longo da serpentina é calculada por um procedimento iterativo, usando- se o método de minimização de Levenberg-Marquardt. Para validar o modelo desenvolvido, os resultados obtidos são comparados com resultados experimentais e numéricos disponíveis na literatura. Além disso, os resultados calculados são comparados com aqueles obtidos pelo modelo que considera o escoamento bifásico como homogêneo. 1.4 Esboço da Dissertação Este texto está dividido em seis capítulos e cinco apêndices, cujos assuntos são resumidos a seguir. Capítulo 2. Fundamentos dos Escoamentos Bifásicos. Neste capítulo são apresentados alguns fundamentos dos escoamentos bifásicos, a classificação geral e as suas diferentes aplicações tecnológicas. Além disso, apresentam-se importantes aspectos qualitativos desses escoamentos e alguns fundamentos sobre a transferência de calor em ebulição convectiva, os parâmetros básicos e os métodos de análise dos escoamentos bifásicos. Capítulo 3. Formulação do Problema. Neste capítulo apresenta-se o modelo proposto neste trabalho, incluindo as hipóteses simplificativas consideradas, as equações governantes para a análise do escoamento ao longo de evaporadores de expansão seca do tipo serpentina com tubos aletados e as condições iniciais do problema. Apresentam também, as equações constitutivas para o cálculo da força de atrito, dos coeficientes de transferência de calor e da razão de deslizamento, necessárias para se obter a solução do sistema de equações governantes. Introdução 17 Capítulo 4. Metodologia de Solução. Neste capítulo são apresentados a metodologia usada na solução das equações governantes do problema e as configurações das serpentinas analisadas. As equações são discretizadas usando-se o método de volumes finitos e o sistema de equações algébricas resultante é solucionado pelo método de Newton-Raphson. O método de estimativa de parâmetros não-lineares de Levenberg-Marquardt é usado para o cálculo da vazão em massa de refrigerante. Capítulo 5. Resultados e Discussão. Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos para os regimes permanente e transiente e também, os resultados computacionais relativos à análise da influência da disposição de alguns tipos de circuitos de refrigerante sobre o desempenho de evaporadores de serpentina com tubos aletados. Tais resultados são comparados com dados disponíveis na literatura, tanto para o problema direto como para o problema inverso. Capítulo 6. Conclusões. Neste capítulo são apresentados as conclusões do trabalho desenvolvido e algumas sugestões para trabalhos futuros. Apêndice A. Equações Constitutivas. Neste apêndice são apresentadas as equações para o cálculo das propriedades termofísicas do refrigerante, do ar, da água, do material da parede do tubo e das aletas. Apêndice B. Parâmetros Geométricos do Evaporador. Neste apêndice são apresentados os parâmetros geométricos do evaporador analisado e as equações para o cálculo das diferentes áreas usadas na solução das equações governantes do problema. Apêndice C. Método de Newton-Raphson. Neste apêndice é apresentado o método de Newton- Raphson usado para a solução do sistema de equações algébricas. Apêndice D. Estimativa de Parâmetros Não-Lineares: Método de Levenberg-Marquardt. Neste apêndice é apresentado o método de estimativa de parâmetros não-lineares de Levenberg- Marquardt usado para o cálculo da vazão em massa de refrigerante. Apêndice E. Fluxograma do Algoritmo Numérico. Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 18 Capítulo 2 FFuunnddaammeennttooss ddooss EEssccooaammeennttooss BBiiffáássiiccooss Neste capítulo apresentam-se alguns fundamentos dos escoamentos bifásicos, uma vez que a análise de evaporadores de serpentina com tubos aletados requer uma modelagem adequada do escoamento bifásico envolvido. Além das diferentes aplicações tecnológicas, apresentam-se a classificação geral e importantes aspectos qualitativos desses escoamentos. Apresentam-se, também, alguns fundamentos sobre a transferência de calor em ebulição convectiva, os parâmetros básicos e os métodos de análise dos escoamentos bifásicos. 2.1 Introdução Os escoamentos bifásicos ou multifásicos estão presentes em uma grande variedade de problemas de engenharia e possuem uma importância fundamental, tanto na determinação das condições ótimas de projeto de um sistema, quanto na preocupação com as suas condições de operação. Além disso, esse tipo de escoamento apresenta-se em uma grande variedade de fenômenos naturais, que precisam ser melhor entendidos. Algumas aplicações importantes são (Ishii, 1975): (i) Sistemas de geração de potência: reatores nucleares, motores de combustão interna, motores a jato, propelentes líquidos ou sólidos para foguetes; (ii) Sistemas de transferência de calor: sistemas de refrigeração e ar-condicionado, evaporadores, condensadores, torres de resfriamento e secadores; (iii) Sistemas de lubrificação e canalizações para o transporte de misturas de gases e óleos, de fibras e de partículas sólidas pulverizadas; (iv) Fenômenos geo-meteorológicos tais como: sedimentação, erosão de solos, formação de dunas, formação e movimento de gotas de chuva e formação de gelo. A vaporização de um líquido escoando ao longo de um tubo e originando um escoamento bifásico líquido-vapor, pode ocorrer em razão da adição de calor ou como resultado da redução de pressão desse líquido. Salienta-se que em muitas aplicações esses dois processos podem ocorrer simultaneamente. No escoamento bifásico, tanto a adição ou a remoção de calor, quanto a redução de pressão do fluido, causam variações na quantidade e na distribuição espacial de cada fase, alterando o Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 20 padrão ou a topologia do escoamento. Em virtude dessas variações e das mudanças contínuas nas propriedades do fluido ao longo do tubo, o escoamento não se torna plenamente desenvolvido. Em adição a essa situação de não-equilíbrio local, algumas situações envolvem propriedades que variam com o tempo e o não-equilíbrio termodinâmico. Além das forças relacionadas com os efeitos de inércia, efeitos viscosos e de pressão, presentes no escoamento monofásico, os escoamentos bifásicos são afetados pela força de tensão interfacial, pelas características de molhamento do líquido sobre a parede do tubo e pela transferência de massa, quantidade de movimento e calor entre as fases. Observa-se, com isso, a complexidade dos fenômenos presentes nos escoamentos bifásicos. 2.2 Classificação Geral A característica singular dos escoamentos bifásicos é a presença de uma ou várias interfaces separando as fases, o que introduz grandes dificuldades nas formulações matemática e física do problema. Tais escoamentos são classificados de acordo com a combinação entre as fases (Ishii, 1975), em: (i) mistura gás-sólido; (ii) mistura gás-líquido; (iii) mistura líquido-sólido; (iv) mistura de dois líquidos imiscíveis. Outra forma de classificação baseia-se na estrutura das interfaces e na distribuição topográfica de cada fase e é mais complexa, uma vez que esses dois parâmetros variam continuamente. Considerando tais parâmetros, Ishii (1975) classificou os escoamentos bifásicos em: dispersos, mistos ou de transição e separados. Os escoamentos dispersos ainda podem ser subdivididos segundo a fase dispersa, em: bolhas, gotas e partículas sólidas. A fase dispersa pode ter diferentes geometrias, desde a esférica ou elíptica até geometrias completamente arbitrárias. A classe de escoamentos separados, dependendo do tipo de interface, é subdividida em: (i) escoamentos planos, que incluem escoamentos em películas e escoamentos estratificados; (ii) escoamentos quase-axissimétricos, que envolvem escoamentos em jatos e os escoamentos em regime anular. A classe dos escoamentos mistos ou de transição é caracterizada pela presença tanto dos escoamentos dispersos quanto dos separados. Essa classe apresenta-se com freqüência nos escoamentos de misturas de líquido-vapor com mudança de fase ocorrendo progressivamente ao longo de um tubo. Nesse caso, o escoamento é também subdividido de acordo com a fase dispersa, podendo-se distinguir os regimes: agitante, anular-bolhas e anular-gotas. Fundamentos dos Escoamentos Bifásicos 21 2.3 Parâmetros Básicos Considerando o escoamento bifásico líquido-vapor, mostrado esquematicamente na Fig. 2.1, a vazão em massa total ao longo do tubo, m& , é igual à soma das vazões em massa do vapor, vm& , e do líquido, lm& , ou seja, lv mmm &&& += (2.1) A razão entre a vazão em massa de vapor e a vazão em massa total, ∗x , m m x v & & =∗ (2.2) é freqüentemente denominada de fração de secagem (dryness fraction) ou de título, pois geralmente, é assumida ser igual ao título termodinâmico (razão entre a massa de vapor e a massa total) nos processos de evaporação e condensação convectivos (Carey, 1992). Da mesma forma o termo )m/m()x1( l &&=− ∗ , é conhecido como fração de umidade (wetness fraction). Salienta-se que, as definições de fração de secagem e de título termodinâmico são coincidentes somente quando há equilíbrio termodinâmico, ou seja, as fases de líquido e vapor estão na mesma temperatura de saturação, em uma dada pressão. Figura 2.1 - Modelo idealizado para escoamento bifásico líquido-vapor em um tubo inclinado (Carey, 1992). Na figura 2.1, Ω e g são, respectivamente, o ângulo de inclinação do tubo e a aceleração da Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 22 gravidade local. Para um tubo com área de seção transversal A, o fluxo de massa G, é definido como, A m G & = (2.3) A fração de vazio, ou fração de vapor, α , é definida como a razão entre a área da seção transversal do escoamento ocupada pelo vapor, vA , e a área total da seção transversal, A, ou seja, A Av=α (2.4) na qual )AA(A lv += e lA é a área da seção transversal ocupada pelo líquido. Segue-se da Eq. (2.4) que a fração de líquido é dada por: A A 1 l l =α−=α (2.5) Usando-se as Eqs. (2.2) e (2.4) as vazões em massa de líquido e de vapor, são, respectivamente, dadas por, m)x1(Au)1(m * lll && −=ρα−= (2.6) mxAum * vvv && =αρ= (2.7) Dividindo-se as Eqs. (2.6) e (2.7) pela área A da seção transversal do tubo e usando-se a Eq. (2.3), obtém-se, respectivamente, para as fases líquida e vapor, ll * u)1(G)x1( ρα−=− (2.8) vv * uGx αρ= (2.9) nas quais u é a velocidade média da fase, ρ é a massa específica e os subíndices l e v indicam respectivamente, as fases líquida e de vapor. No estudo dos escoamentos bifásicos é útil a definição dos fluxos superficiais de vapor, jv, e Fundamentos dos Escoamentos Bifásicos 23 de líquido, jl, respectivamente, dados por, v vv Gx u j ρ =α= ∗ (2.10) l ll )x1(G u )-(1j ρ − =α= ∗ (2.11) Os fluxos superficiais possuem unidades de velocidade, mas podem também ser interpretados como fluxos volumétricos de cada fase ao longo de um duto. O valor numérico de cada um deles é igual à velocidade que resultaria se cada fase escoasse sozinha ao longo do tubo, em sua própria vazão. 2.4 Regimes do Escoamento Bifásico em Tubos Horizontais A disposição entre as fases mostrada esquematicamente na Fig. 2.1, é bastante simples. Nos casos reais, entretanto, a morfologia dos escoamentos bifásicos pode ser muito complexa e pode mudar, dependendo das propriedades do fluido e das condições do escoamento. De forma geral, diferenças nos padrões dos escoamento bifásicos podem ser encontradas dependendo da posição do tubo, se vertical ou horizontal. Uma das diferenças principais entre esses dois casos é a freqüente tendência à estratificação que ocorre nos escoamentos horizontais, em função da influência da força gravitacional. O vapor tende a migrar para a parte superior do tubo, enquanto que a maior parcela de líquido escoa na parte inferior. Para o escoamento bifásico em tubos horizontais, os regimes usualmente encontrados são mostrados na Fig. 2.2. Nas regiões em que o título da mistura é muito reduzido, o escoamento no regime de bolhas (bubbly flow) é usualmente encontrado. Este tipo de regime é caracterizado por bolhas discretas de vapor dispersas na fase líquida. O tamanho médio dessas bolhas é, geralmente, pequeno comparado com o diâmetro do tubo. Observa-se que as bolhas tendem a se aglomerar na porção superior do tubo. Com o aumento do título no regime em bolhas, a coalescência de pequenas bolhas dá origem a bolhas maiores, semelhantes a tampões, que ocupam a porção superior do tubo. O escoamento resultante é denominado escoamento pistonado (plug flow). Em escoamentos com vazões muito reduzidas e títulos razoavelmente altos, observa-se o regime estratificado (stratified flow). Nesse caso, o líquido escoa pela parte inferior do tubo e o Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 24 vapor escoa na parte superior, existindo uma interface relativamente uniforme. Bolhas Pistonado Estratificado Ondas Agregado Anular Figura 2.2 - Representação esquemática dos regimes observados em escoamentos horizontais líquido-gás. À medida que as vazões de cada fase e/ou o título são aumentados no regime estratificado, eventualmente, a interface torna-se instável e ondulada, originando o escoamento conhecido como escoamento em ondas (wavy flow). O forte cisalhamento na interface e a formação e ruptura de ondas, pode arrastar gotículas de líquido para o interior do núcleo de vapor. Em vazões de líquido elevadas, a amplitude das ondas pode aumentar de tal forma que a ruptura poderá atingir o topo do tubo, formando grandes bolhas. Este tipo de regime é então conhecido como escoamento agregado (slug flow). Devido à força de empuxo, tais bolhas tendem a escoar na porção superior do tubo, presas à sua superfície. Em vazões de líquido moderadas, com altas velocidades de vapor e títulos elevados aparece o escoamento anular (anular flow). Nesse caso um filme de líquido forma-se nas paredes do tubo e a fase de vapor escoa no interior desse filme. Quando a velocidade do escoamento do vapor é alta, a interface do filme de líquido torna-se instável, ocasionando a formação de ondas na interface. Os efeitos da força de empuxo tendem a reduzir a espessura do filme de líquido na porção superior do tubo e a aumentá-la na porção inferior, conforme se observa na Fig. 2.2. O Fundamentos dos Escoamentos Bifásicos 25 forte cisalhamento pode propiciar um arraste significativo de líquido para o núcleo de vapor. Os regimes de escoamentos bifásicos descritos anteriormente e a transição entre eles podem ser representados em mapas de regimes de escoamento. Nesses mapas os regimes são representados por áreas em um gráfico, cujas coordenadas são os fluxos superficiais de cada fase, ou são parâmetros contendo esses fluxos. Um desses mapas, obtido por Taitel e Dukler (1976) é apresentado na Fig. 2.3. 0,03 0,1 304,8 jV, m/s 0,003 0,01 0,1 30,5 j L, m /s Anular Bolhas Ondulado Estratificado Intermitente (pistonado/agregado)1 10 1 10 100 Figura 2.3 - Mapa de regimes de escoamentos horizontais líquido-gás (Taitel e Dukler, 1976). 2.5 Transferência de Calor em Ebulição Convectiva Quando uma mudança de fase ocorre em um escoamento bifásico ao longo de um duto, vários regimes de escoamento podem ser encontrados em diferentes posições ao longo do comprimento. A seqüência de regimes depende basicamente da vazão, orientação do duto e do sentido do fluxo de calor. Na Fig. 2.4 é mostrada, esquematicamente, a seqüência de regimes de escoamento e a variação do coeficiente de transferência de calor ao longo de dutos horizontais durante o processo de vaporização. A ebulição convectiva em tubos ou canais é possivelmente o mais complexo processo de Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 26 mudança de fase encontrado em evaporadores e caldeiras. Na Fig. 2.4 observa-se, esquematicamente, um típico processo de vaporização que ocorre no interior de tubos, em que o fluido entra como líquido sub-resfriado e sai como vapor superaquecido. À medida que o processo de vaporização acontece a quantidade de vapor aumenta e, para manter o fluxo de massa do escoamento constante, a densidade média do escoamento diminui e a velocidade média aumenta. Como os regimes de escoamentos bifásicos são fortemente dependentes da velocidade relativa das fases, a aceleração do escoamento produz uma seqüência de mudanças nesses regimes. No momento em que o processo de ebulição tem início, o regime de escoamento é o de bolhas (vide Fig. 2.4). Em seguida, observam-se, na seqüência os regimes pistonado, agregado, ondas, anular e misto disperso. Juntamente com as mudanças do regime de escoamento, ocorre a mudança do mecanismo de vaporização. Como indicado na Fig. 2.4, a ebulição nucleada é, geralmente, o mecanismo de vaporização dominante durante o estabelecimento de bolhas. À medida que mais vapor é gerado a fração de vazio aumenta e o escoamento atinge o regime anular, tornando o processo de evaporação na interface líquido-vapor importante. Em títulos moderados ambos os mecanismos são importantes. À medida que a espessura do filme de líquido sobre a parede diminui, o processo de evaporação na interface torna-se o mecanismo de vaporização dominante. Em alguns casos a ebulição nucleada pode ser completamente suprimida, considerando-se apenas o mecanismo de evaporação em filme. A aceleração do núcleo de vapor durante o regime de escoamento anular, no processo de vaporização, produz desprendimento – entrainment - de gotas da película de líquido. Esse efeito e a vaporização do filme de líquido reduzem a espessura do filme que pode, eventualmente, desaparecer em alguns pontos do tubo, causando o efeito de secagem (dryout). Em tubos horizontais, devido ao efeito da gravidade, os pontos de secagem são primeiramente observados na porção superior do tubo, permanecendo a porção inferior com o filme de líquido. Próximo do estabelecimento dos pontos de secagem, a transferência de calor através do filme de líquido torna-se mais eficiente devido á diminuição de sua espessura. Como conseqüência o coeficiente de transferência de calor aumenta significativamente, como mostrado na Fig. 2.4. Quando a parede do tubo está parcialmente seca, a transferência de calor das porções secas pode ser desconsiderada em comparação àquela das porções molhadas, nas quais ocorre o mecanismo de evaporação em película. Á medida que as porções molhadas são eliminadas, o Fundamentos dos Escoamentos Bifásicos 27 coeficiente de transferência de calor diminui progressivamente. Mesmo após o completo desaparecimento do filme de líquido, em muitos casos verifica-se a presença de gotas no escoamento, caracterizando o regime disperso. Como a vaporização continua, há transferência de calor da parede do tubo para as gotas, que pode ser acompanhada pela combinação de mecanismos de convecção através do gás, radiação, colisões entre as gotas e entre essas e a parede do tubo. Tal combinação não é muito efetiva e o coeficiente de transferência de calor associado é significativamente menor do que os valores associados com a ebulição nucleada e/ou evaporação em filme. No processo de evaporação em regime de escoamento disperso o coeficiente de transferência de calor diminui à medida que o título aumenta, até que o escoamento monofásico de vapor se estabeleça. Figura 2.4 - Representação esquemática: (a) da seqüência de regimes do escoamento; (b) do coeficiente de transferência de calor, CTC, ao longo de dutos horizontais durante o processo de vaporização. Diante do que foi descrito, observa-se que o processo de vaporização de um fluido em tubos horizontais é bastante complexo e depende profundamente das características do escoamento e Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 28 do tubo, dificultando ainda mais a obtenção de correlações para o cálculo do coeficiente de transferência de calor. Nos últimos 40 anos, a comunidade científica tem se dedicado à determinação de correlações para o coeficiente de transferência de calor para a ebulição convectiva de fluidos refrigerantes. Inicialmente, os estudos buscavam o desenvolvimento de correlações para a transferência de calor e para a queda de pressão baseadas em dados empíricos, mas pouco progresso foi obtido devido à limitada quantidade de dados experimentais disponíveis. Durante os anos 60, procurou-se melhorar o entendimento dos mecanismos físicos, o que foi comprovado pelo aumento das publicações nesse período. Durante os anos 70 e parte dos anos 80 houve grandes realizações no campo da ebulição convectiva. Na metade dos anos 80, observou-se um crescimento das pesquisas no campo da ebulição convectiva, iniciado pelo surgimento do Protocolo de Montreal que, com o objetivo de controlar a destruição da camada de ozônio, impôs a substituição dos tradicionais CFCs, por refrigerantes ecologicamente seguros. Com a necessidade de substituir os fluidos refrigerantes, a indústria de refrigeração estava diante de um novo cenário, no qual os novos equipamentos teriam que se adequar às novas características termofísicas desses novos fluidos. Com isso a determinação de correlações para o coeficiente de transferência calor em ebulição convectiva tornou-se de fundamental importância para a otimização dos componentes, principalmente, os trocadores de calor, evaporadores e condensadores. Em relação ao progresso conquistado, as correlações atualmente disponíveis, para o coeficiente de transferência de calor são ainda dependentes, até certo grau, das condições de operação e do fluido refrigerante. Por exemplo, em evaporadores de expansão seca predominam os regimes de escoamento anular, para vazões elevadas e estratificado, para vazões relativamente baixas. 2.6 Modelos de Análise O método usado para análise dos escoamentos bifásicos é uma extensão do método amplamente usado para os escoamentos monofásicos. As equações que governam os princípios básicos de conservação de massa, de quantidade de movimento e de conservação de energia são obtidas e solucionadas usando-se hipóteses simplificativas. Apesar das dificuldades na formulação matemática, a modelagem dos escoamentos bifásicos líquido-vapor apresentou um avanço significativo nas últimas décadas (Lahey e Drew, 1990). Os Fundamentos dos Escoamentos Bifásicos 29 primeiros estudos do escoamento e da transferência de calor em domínios bifásicos foram tratados de forma empírica. Atualmente existe uma tentativa de desenvolvimento de modelos teóricos mecanicistas, mas ainda resta muito a ser feito antes que esses modelos tornem-se completamente realistas. Os principais modelos de análise dos escoamentos bifásicos são: (i) Modelo Homogêneo O modelo homogêneo é a técnica mais simples para a análise de escoamentos bifásicos. Nesse modelo o deslizamento entre as fases é desconsiderado e a mistura bifásica é tratada como um pseudofluido que obedece as equações usuais dos escoamentos monofásicos, com propriedades obtidas por uma média ponderada das propriedades das fases individuais. Dessa forma as fases são consideradas em equilíbrio, com as mesmas pressões, velocidades e temperaturas e o método de análise padrão, da mecânica dos fluidos e da transferência de calor pode, então, ser aplicado. Whalley (1987) salienta que os resultados obtidos com o modelo homogêneo representam uma boa estimativa dos resultados experimentais do gradiente de pressão no escoamento ao longo de um tubo. A fração de vazio calculada pelo modelo homogêneo é uma boa estimativa de valor real se: )/( vl ρρ < 10 ou se G > 2000 kg/m2s (cf. Whalley, 1987). Caso essas condições não sejam atendidas, o modelo homogêneo pode subestimar o valor da massa específica da mistura por um valor de 5 a 10 %. (ii) Modelo de Escoamento Separado Nesta abordagem considera-se que as fases sejam artificialmente segregadas, isto é, que tenham propriedades e velocidades diferentes e o modelo pode ser desenvolvido com vários graus de complexidade. Na versão mais simples, permite-se que somente as velocidades das fases sejam diferentes e as equações governantes são combinadas. Na versão mais sofisticada, dois conjuntos de equações de conservação de massa, quantidade de movimento e conservação de energia são escritas, um para cada fase e essas seis equações são resolvidas simultaneamente, em conjunto com as equações que descrevem a interação das fases entre si e com as paredes do tubo. Em ambos os casos, devem ser fornecidas informações sobre a área da seção do duto ocupada por cada fase, ou alternativamente, sobre a velocidade de cada uma delas, e sobre o atrito com a parede do tubo. Na versão mais sofisticada, são requeridas informações adicionais sobre o atrito entre as fases. Tais informações são inseridas nas equações básicas, ou por meio de Modelagem do Escoamento ao Longo de Evaporadores de Serpentina com Tubos Aletados 30 modelos simplificados do escoamento ou mediante correlações empíricas, nas quais a fração de vazio e a tensão de cisalhamento na parede são relacionadas com variáveis primárias. O modelo de fluxo com escorregamento, drift flux, desenvolvido por Wallis (1969), é essencialmente um modelo de escoamentos separados, no qual a atenção é voltada para o movimento relativo entre as fases e não para os seus movimentos individuais. O modelo drift flux (Whalley, 1987), é mais adequado para escoamentos em que a velocidade da fase gasosa é bem definida, como nos regimes de escoamento em bolhas e no escoamento pistonado. Entretanto, esse modelo é pouco adequado para o escoamento anular, no qual há duas velocidades características para uma fase: a velocidade da película de líquido e a velocidade das gotas de líquido dispersas no núcleo de vapor. (iii) Modelo de Dois Fluidos Durante a década de 70, com o significativo crescimento da indústria nuclear, análises mais preciosas sobre as condições de segurança dos reatores nucleares tornaram-se prioridade. Em conseqüência, durante essa década iniciou-se o desenvolvimento do modelo de dois fluidos, a princípio para uma abordagem unidimensional e posteriormente para uma abordagem tridimensional (Lahey e Drew, 1990). Nesse modelo, o escoamento é representado por uma seqüência de padrões, como aqueles encontrados quando um vapor e um líquido escoam juntos ao longo de um tubo. Um conjunto de equações que governam os balanços de massa, de quantidade de movimento e de energia, é escrito para cada fase. Para aplicar esse modelo, é necessário estabelecer os padrões de escoamento a serem considerados e usar critérios capazes de predizer as transições entre esses padrões. Usando-se técnicas apropriadas, obtém-se equações médias no espaço ou no tempo, nas quais aparecem os termos que representam o transporte de massa, de quantidade de movimento e de energia de cada fase através das interfaces. O modelo de dois fluidos, necessita também de informações sobre o atrito e a transferência de calor entre cada fase e as paredes do tubo. Conforme mostrado em estudos prévios (Ishii e Mishima, 1980), tais informações, em conjunto com as equações constitutivas dos termos de transferência interfacial devem ser suficientemente precisas. Caso contrário os