UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Campus de Bauru INGRID ALMEIDA PEREIRA Educação matemática indígena: um estudo bibliográfico de temáticas correlatas Bauru 2023 MATEMÁTICA – LICENCIATURA Ingrid Almeida Pereira Educação matemática indígena: um estudo bibliográfico de temáticas correlatas Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Bauru, como um dos requisitos para obtenção do grau de Licenciado em Matemática Orientadora: Profa. Assoc. Maria Edneia Martins Bauru 2023 A447e Almeida, Pereira Ingrid Educação matemática indígena : um estudo bibliográfico de temáticas correlatas / Pereira Ingrid Almeida. -- Bauru, 2023 41 f. : il. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura - Matemática) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências, Bauru Orientadora: Maria Edneia Martins 1. Educação indígena. 2. Educação matemática. 3. Pesquisa Qualitativa. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências, Bauru. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. RESUMO Esta pesquisa, de cunho qualitativo, teve como objetivo levantar, analisar e compreender elementos de estudos já realizados e divulgados no campo da educação matemática, na temática indígena, além de apreender como eles estão sendo elaborados. Para tanto, realizamos um estudo documental, a partir de um levantamento de artigos já publicados no periódico Bolema - um dos mais importantes do referido campo. Os artigos escolhidos foram analisados e como resultado destacamos que o campo da educação matemática tem feito estudos em torno da educação indígena, essas têm ocupado espaços em um importante periódico e são diversas suas problematizações. Palavras-chave: Educação indígena; Educação Matemática; Pesquisa Qualitativa. ABSTRACT This research, of qualitative nature, aimed to survey, analyze and understand elements of studies conducted and published in the field of mathematics education, on the theme of indigenous education. In addition to it, we obtained an understanding over how these researches are being developed. To this end, we worked in a documental study, based on a search of published articles in the Bolema - one of the most prominent jornals in this field. The chosen articles were analyzed and, as a result of it, we were able to highlight that the field of mathematics education has produced studies over indigenous people education, these researches have occupied spaces in an important journal and their problematizations are diverse. Keywords: Indigenous education; Mathematics Education; Qualitative research. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................... 05 2 OBJETIVOS ............................................................................... 07 3 JUSTIFICATIVA ......................................................................... 07 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/QUADRO TEÓRICO ............... 09 5 METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................... 11 6 SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE ......................... 21 6.1 TRABALHO 1 ........................................................................... 21 6.2 TRABALHO 2 ........................................................................... 23 6.3 TRABALHO 3 ........................................................................... 24 6.4 TRABALHO 4 ........................................................................... 26 6.5 TRABALHO 5 ........................................................................... 27 7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................... 29 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 36 5 1 INTRODUÇÃO Os estudos voltados à educação escolar indígena poderiam estar se intensificando diante das necessidades de melhor entendimento deste cenário, visando tanto um aprendizado mais eficiente e significativo quanto compreender elementos desta cultura. Com isso, veio como principal interesse deste projeto, entender como as pesquisas em torno deste tema estão sendo realizadas, se estão sendo elaboradas com objetivo de melhoria da educação escolar matemática nas comunidades e escolas indígenas, ou sobre a concepção dos professores, choque de culturas, se envolvem mais a etnomatemática ou história, ou então, se estão voltadas a outros fatores referentes à educação. Tivemos como objetivo analisar e compreender como a Educação Matemática tem tematizado e quais resultados têm produzido e divulgado em um importante periódico em relação ao meio escolar indígena, especificamente quanto às especificidades deste campo. Logo, buscou-se compreender e estudar, através das análises de textos já produzidos, diferentes pontos importantes e relevantes que cada um traz. Inicialmente, quando tive1 o primeiro contato com o assunto “Educação indígena”, não percebi o quanto falar sobre isso poderia englobar diferentes entendimentos sobre o que seria esta educação. Mas, após participar de uma palestra na disciplina de Prática de Ensino, do curso de Licenciatura em Matemática, com o professor José Sávio Bicho de Oliveira2, ele citou uma frase que me cativou de maneira a perceber que o melhor caminho que se deve tomar é aprofundar-se neste assunto, revelando uma das questões que pouco vi nas discussões e debates durante a graduação. A frase que ele citou era a seguinte: Jamais se deve sugerir a um indivíduo que ele deve esquecer e rejeitar suas maneiras de saber e de fazer, mas sim se deve oferecer a ele outras opções. Caberá a ele decidir. O que se tem visto é o surgimento de novas maneiras de saber e de fazer. (D’Ambrósio, 2008, p.11). 1 Usaremos a primeira pessoa do singular quando tratar-se de uma experiência da estudante-autora. 2 Docente da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Faculdade de Educação do Campo. À época realizava Pós- Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Unesp-Bauru. 6 Então, diante de todas as indagações que se fizeram presente até o momento, em mim, elaborei um estudo bibliográfico sobre como a temática indígena vem sendo estudada e divulgada, e se as formas de ensino que se usam neste meio sociocultural vêm sendo tematizadas em pesquisas acadêmicas no campo da Educação Matemática. 7 2 OBJETIVOS E QUESTÃO DE ESTUDO A pergunta da nossa pesquisa pode ser traduzida em “Como o campo da educação matemática tem tematizado e divulgado a educação escolar indígena em publicações em periódicos expoentes da área?” i) Objetivo Geral Analisar e compreender estudos realizados no entorno da Educação Matemática Indígena, observando como estes têm produzido e tematizado as problemáticas e como vêm trazendo resultados para este campo. ii) Objetivos Específicos Fazer levantamentos bibliográficos em diferentes espaços de publicação científica; Identificar as temáticas dos trabalhos; Definir as produções a serem tematizadas a partir do levantamento dos dados. 8 3 JUSTIFICATIVA/ EXEQUIBILIDADE E RELEVÂNCIA Em meio aos estudos realizados no curso de licenciatura em Matemática, esteve presente na disciplina de Prática de Ensino III o primeiro contato específico com o assunto que envolvia a Educação Escolar Indígena, em uma palestra ministrada pelo professor José Sávio Bicho de Oliveira, em uma das aulas em que o professor da disciplina - Nelson Pirola - apresentou a palestra do convidado para a turma. Nesta palestra, o professor José Sávio abordou o conceito geral de Etnomatemática e depois passou a explicar um pouco mais sobre Educação Indígena e Educação Escolar Indígena, visto que estes termos se referem a coisas distintas, mas que devem se relacionar no meio de ensino. José Sávio me instigou a procurar mais trabalhos relacionados a este tema, senti que não respeitávamos as particularidades dos indígenas e me senti no desejo de buscar mais sobre o assunto. O ponto que mais me chamou a atenção diz respeito à importância que se deve dar à identidade sociocultural dos estudantes. Tornar o conhecimento matemático, assim como disse o professor palestrante, “um conhecimento vivo vindo de experiências e vivências destes alunos”. Em meio a estas considerações, é indispensável falarmos sobre a falta de aprofundamento no processo formativo do professor para atuar num contexto em que a cultura seja diferenciada. Por que é tão pouco estudado e apresentado as formas de se educar em um espaço onde a preservação sociocultural é necessária para aquele grupo? Quais os pontos que as pesquisas estão apresentando para contribuir com o aprofundamento da Educação Escolar Indígena? Após assistir a palestra citada anteriormente, surgiu um interesse e uma certa indagação em estudar um pouco mais sobre a Educação (Matemática) Escolar Indígena e sobre como os estudos estão tratando deste tão importante assunto, uma certa vontade de dar atenção a isso e entender melhor sobre como os artigos produzidos estão dando enfoque no tema. É importante estudar e analisar sistematicamente alguns artigos resultados de pesquisas para compreender o que e como os autores e pesquisadores estão tratando este tema em seus estudos. 9 Um questionamento presente na palestra assistida, me fez refletir para que eu chegasse até aqui e quisesse me aprofundar nos estudos sobre essa Educação: “O que as pesquisas estão pensando para a Educação Escolar de um grupo, se estes estudantes indígenas têm formas próprias de aprender?” Após toda esta indagação, acho interessante citar que sempre recebi o questionamento se possuo descendência indígena, acredito que pelos traços físicos, e no primeiro momento que recebi essa pergunta, o que já faz muito tempo, recorri à minha mãe e perguntei a ela. A resposta que eu tive foi que sim, tive bisavôs indígenas, porém minha família não possui nenhum tipo de documento ou registro, o que me deixou triste no momento, pois seria muito interessante conhecer ainda mais e ainda sentir que faço parte deste meio. Mas de qualquer forma, me senti ainda mais interessada pela Educação Indígena, pois falar sobre isso dentro de casa também me trouxe alguns questionamentos, como por exemplo: “Se meus bisavôs eram indígenas, será que chegaram a ter algum acesso à Educação Matemática Escolar?”. Se isso foi difícil para meus pais que não eram do meio indígena, talvez tivesse sido ainda mais distante para meus bisavôs, que além de mais velhos, faziam parte desta população. Como não teria tempo suficiente no TCC para observar de perto e estudar a fundo a Educação de um povo indígena, por conta de todos os protocolos a serem seguidos e respeitados, optei pelo estudo bibliográfico de trabalhos que vêm trazendo esse assunto como pilar de investigação. 10 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/QUADRO TEÓRICO A Educação Escolar Indígena envolve diversos fatores que precisam ser levados em consideração. Para atuar na diversidade, em um contexto específico, é preciso observar as práticas do grupo cultural diferenciado, analisando o que fazem e o porquê eles fazem (D’Ambrósio, 2008). O contexto da realidade do sujeito é o que, para ele, faz sentido na educação matemática, ou seja, os conteúdos aprendidos que contribuem e possuem significado em seu dia a dia, são melhor aproveitados. A Educação Matemática neste meio, segundo o pensamento de Jorge Isidro Orjuela Bernal e Roger Miarka (2018) ao ler Clareto e Miarka (2015), é uma das áreas que foram aos poucos conquistadas no decorrer da história “junto à educação, à história, à filosofia, à didática, à universidade, à escola, à sociedade, a José, a Maria, à vida...” (Clareto, Miarka, 2015, p. 798). Acreditamos que isso tenha ocorrido devido aos estudos nesta área não terem ganhado seu devido reconhecimento. A Constituição de 1988 garantiu aos indígenas no Brasil o direito de preservarem sua identidade sociocultural, ou seja, de permanecerem com seus costumes, com suas línguas, culturas e tradições, por mais diversas que sejam. Com o passar do tempo, reconheceu-se que os indígenas poderiam utilizar as suas línguas maternas e os seus processos de aprendizagem na educação escolar. Então, surgiu a possibilidade de a escola indígena contribuir para o processo de preservação étnica e cultural destes povos e ser um dos meios que pode integrá-los. Com isso, é necessário que haja em nossa realidade a preservação dos valores culturais na Educação Indígena, assegurando-os de serem eles mesmos e garantindo uma educação de qualidade na concepção deles. Será que os estudos sobre a educação dos indígenas estão tratando destas questões? Se não, do que elas estão prioritariamente tratando? Nos artigos 78 e 79 do Ato das Disposições Gerais e Transitórias da Constituição de 1988, menciona-se a Educação Escolar Indígena, ressaltando o dever do Estado de oferecer uma educação bilíngue e intercultural, a fim de fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de cada povo. A reflexão que segue é, nos dias de hoje, como esses direitos estão sendo assegurados na prática pedagógica? E de que forma as pesquisas em Educação Matemática envolvem a cultura indígena? 11 O termo “Identidade” tornou-se comum nas ciências sociais na década de 1950 (Gleason, 1983; Lopes, 2002), e inicialmente, foi notado na filosofia como um princípio de unidade não contraditória. A noção de identidade origina-se da sua raiz latina idem (Gleason, 1983), que significa permanecer o mesmo e pode representar a continuidade da identidade psicológica de uma pessoa ao longo do tempo. Em relação então à Educação Escolar Indígena e à preservação da identidade sociocultural dos povos em questão, é um tema que muito nos interessa. Diversos autores contribuem para a compreensão da importância de assegurar os direitos dos indígenas de trabalharem com seus próprios costumes, línguas e tradições, não corrompendo o ser que são, garantindo ainda uma educação de qualidade e que prepare os indivíduos para o cotidiano e para melhor realização e prática de seus afazeres diante de novas possibilidades a serem apresentadas, sendo possível obter opções para o olhar matemático dentro da cultura de cada um. Após ler alguns textos para compreender os marcos da Educação Indígena, diante de alguns documentos publicados, podemos falar um pouco sobre o que foi possível aprender. É importante ressaltar alguns pontos descritos por Karina Aparecida da Silva, em sua dissertação “Primeiros cursos para Formação de Professores Indígenas no estado de São Paulo: um estudo em História da Educação Matemática”, (Silva 2019), que se remete à jornada dos cursos para uma Educação Escolar Indígena no estado de São Paulo, que possuíam o intuito principal de ampliar os conhecimentos dos professores, a fim de tornar o docente mais preparado para tal educação. Dois cursos foram elaborados e ministrados pela USP em parceria com a SEE³, o magIND⁴ e a Fispi⁵, foram de grande contribuição para tal manejo de informações e conhecimentos próprios para a Educação Escolar Indígena, onde o professor passa a se especializar em relação a este meio, podendo atuar de forma preparada e mais contextualizada. De acordo com Silva (2019, p. 175), “Com a criação do NEI a secretaria de educação passou mais de dois anos em discussão com as lideranças indígenas, no sentido de compreender as demandas educacionais dessas comunidades”. Os conhecimentos indígenas, pelas análises feitas aos artigos de apoio e referências 12 bibliográficas, entendemos que para eles uma atividade didática apenas chegará ao fim quando o objetivo principal for alcançado, sem determinar tempo para tal tarefa. Martins e Silva (2019, p. 175) nos trazem a seguinte reflexão acerca dos bastidores dos três primeiros cursos de professores indígenas: “As discussões relativas à estruturação de um curso de formação de professores indígenas no Estado de São Paulo vinham ocorrendo tanto nas reuniões do NEI quanto nos Encontros com professores”, e com isso pode-se afirmar que os cursos que foram elaborados neste meio tiveram importantes participações de professores, a fim de conceber uma grade que pudesse atender realmente a realidade indígena. Com estes conhecimentos obtidos a partir de leituras em publicações, começamos a entender resultados de pesquisas desse ramo, da Educação Escolar Indígena, como era nosso objetivo inicial nesta pesquisa. 13 5 MEDOTOLOGIA DE PESQUISA Pesquisar significa “perseguir uma interrogação (problema, pergunta) de modo rigoroso, sistemático, sempre, sempre andando em torno dela, buscando todas as dimensões... qualquer que seja a concepção de pesquisa assumida pelo pesquisador” (Bicudo, 1993, p. 18-19). Por esta definição apresentada pela autora, é possível entendermos melhor o conceito de pesquisa. Esta e outros autores, definem o termo “pesquisa” de maneira em que percebemos que este instrumento de estudo é realizado, efetivamente, a partir de compreensões acerca de um fenômeno, problema ou questão da realidade ou presente na literatura, assim como diz Fiorentini e Lorenzato (1994), no livro “Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos”. Ressaltando agora, sobre o início da pesquisa qualitativa, que surgiu no Brasil, segundo Minayo (2018), a partir de uma pesquisa que, a princípio, seria apenas de cunho quantitativo. A primeira pesquisa qualitativa fez parte do “Estudo Nacional de Despesas Familiares”, do IBGE, a qual foi realizada a partir dos cadernos de campo utilizados, a fim de deixar claro as informações anotadas pelos agentes, ou seja, a pesquisa qualitativa surgiu em meio a realização de uma pesquisa quantitativa, com anotações que iam além do previsto pelos questionários. O IBGE, juntamente com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) precisava de uma metodologia adequada para conhecer com profundidade a diversidade das formas em que as pessoas vivem. Em conjunto, estes dois grandes órgãos fizeram a primeira grande pesquisa sobre o consumo alimentar no país, foi nesta que a pesquisa qualitativa começou a aparecer, pois nesta os agentes podiam colocar em suas anotações dados que não estavam sendo pedidos, necessariamente, nos questionários definidos, obtendo então informações que puderam ser estudadas e analisadas. Mas, por ser um método novo, não foi possível que estes dados fossem aproveitados adequadamente. Segundo Goldenberg (2004), na pesquisa de cunho qualitativo a criatividade do pesquisador precisa ser ativa, de modo que possa analisar os dados coletados de maneira íntegra e eficiente, tendo flexibilidade, tendo como aspecto principal que o método nem sempre será definido a priori do processo da pesquisa, mas esperando 14 que após a metodologia ser definida, que o restante seja coerente a ela. Isso porque, uma pesquisa qualitativa estuda diversos conceitos presentes no objeto de estudo. Em uma pesquisa, é importante falarmos sobre os dados que estão sendo, ou que serão coletados. Lüdke e Andre (2011), no livro Pesquisa em Educação - Abordagens Qualitativas, apresentam a ideia de confronto entre os dados, onde explica a necessidade deste confronto que traz benefícios para a pesquisa que está sendo realizada, pois as questões que são formadas em meio a estes confrontos, começam a ser solucionadas de maneira mais completa e compreensiva. Além disso, vemos que é indispensável o questionamento dos dados obtidos para melhor entendê- los e representá-los. E, ainda, estudar delicadamente para saber qual metodologia é melhor para o fenômeno e objetivo da pesquisa a ser realizada. O livro citado anteriormente apresenta duas metodologias importantes, a do tipo etnográfico e a do tipo de estudo de caso. A primeira pode trazer um quadro bem completo, juntamente com entrevistas ou observação direta do objeto, onde os problemas e hipóteses podem ser mudados durante o processo. Já a segunda, possui sempre uma boa definição e delimitação, sem esse tipo de mudanças durante o processo, mas que também pode trazer uma pesquisa qualitativa bem elaborada e eficiente. Neste nosso trabalho, a pesquisa foi realizada como uma pesquisa qualitativa de revisão bibliográfica, na qual os estudos “procuram inventariar, sistematizar e avaliar a produção científica numa determinada área (ou tema) de conhecimento” (Fiorentini e Lorenzato, 1994, p. 32). Inicialmente, fizemos um levantamento de teses e dissertações no banco de teses da Capes e artigos na base Scielo, visando identificar pesquisas que tematizavam, no campo da Educação Matemática, questões relativas aos povos indígenas. Ler e compreender um pouco mais de algumas das diversas culturas e como a Educação esteve para os professores nestas, permitiu entender mais para prosseguir com o cronograma da nossa pesquisa bibliográfica, levando-nos a perceber que precisávamos delimitar mais nosso objeto de estudo. Após definirmos todo o cronograma e os métodos que poderíamos utilizar para começar nosso trabalho de fato, com a orientação da professora Maria Edneia, começamos as pesquisas que nos levariam a definir quais trabalhos escolher para analisar e discutir aqui nesta pesquisa. Visando compreender o funcionamento dos sites de busca para iniciar as pesquisas e análises de publicações, juntamente com minha orientadora, fizemos 15 alguns testes sobre como o exercício de procurar pelos trabalhos que gostaríamos de analisar poderia ser feito, quais expressões ou palavras-chave, ou ainda combinações delas utilizar, filtros das áreas e períodos etc. Inicialmente, entramos na plataforma da Capes, um meio que eu já havia escutado falarem muito na sua utilidade quando o assunto é pesquisa bibliográfica. Começamos a procurar no campo de busca através da expressão “Educação Matemática Indígena”, sem usar aspas e tivemos uma quantidade considerável de resultados em publicações, para ser exata o número foi de 96. Logo percebemos que talvez não fosse a melhor escolha apenas procurar desta maneira. Então passamos a procurar pela mesma expressão, mas desta vez entre aspas e assim fizemos. Porém, o resultado não foi muito proveitoso, tivemos o total de dois trabalhos apresentados apenas. Então dessa forma também não seria o melhor a se fazer. Na plataforma da Capes existem vários campos de filtros que podem ser aplicados na diversificação de procuras, bastava então que olhássemos para estes filtros e aplicássemos a nossa expressão escolhida para que pudéssemos obter bons resultados. Diante disso, novamente escrevemos no campo de busca a expressão Educação Matemática Indígena, sem aspas e então aplicamos alguns filtros. O primeiro foi na parte de Área de Conhecimento, aplicando em Ensino de Ciências e Matemática, pois vimos que ele se encaixava bem com o que estávamos procurando. Em seguida, na aba de Área Concentração, colocamos novamente em Ensino de Ciências e Matemática, afim de selecionar os trabalhos voltados a esta área. Nisto, o resultado de pesquisas caiu de 96 para 10, já melhorando nosso desempenho na parametrização. Então, decidimos parar por aí no refinamento dos resultados obtidos neste momento. Como resultado final deste levantamento, tivemos diversificadas pesquisas sobre o que procurávamos e também outras que iríamos acabar descartando, por não atender aos critérios desta pesquisa bibliográfica. Apareceram trabalhos do ano de 2016 até o ano de 2022, o que foi interessante, essa é uma característica importante da plataforma da Capes, sendo assim possível selecionar trabalhos mais atuais ou antigos. Como o meu campo é o de Licenciatura em Matemática, consideramos ser este um critério também ao escolher os filtros que foram aplicados. 16 Após a definição da expressão a ser procurada e dos filtros a serem aplicados, obtendo o resultado final da quantidade de trabalhos, organizamos para melhor observar e analisar as escolhas. Fizemos um quadro, pois consideramos interessante parametrizar o que foi encontrado. Quadro 1 - Trabalhos selecionados para análise Título Autore s Ano De Publicação Universidade Resultado de Artes De Fazer/Modos De Usar Etnomatemática E Práticas Culturais Indígenas Nokê Koî Em Contextos Formativos Damia na Avelino De Castro 2019 Universidade Federal Do Acre Mestrado Documento Orientador Curricular Para A Cultura Mbya Guarani: Habilidades Adaptadas Para O Ensino De Ciências E Matemática Nos Anos Iniciais Miriam Dias Vargas 2022 Universidade Franciscana Mestrado Formação Inicial De Professores Indígenas Na Perspectiva Freireana: Interculturalidade Na Prática Como Componente Curricular Para A Área De Atuação Ciências Da Natureza E Matemática Eliana Ruth Silva Sousa 2020 Universidade Estadual Paulista Júlio De Mesquita Filho (Bauru) Doutorado A Etnomatemática Presente Em Artesanatos E Adereços Produzidos Por Uma Comunidade Indígena Guarani Do Oeste Do Paraná Rhuan Guilherme Tardo Ribeiro 2022 Universidade Estadual De Maringá Doutorado 17 O Ensino De Matemática Na Educação Escolar Indígena: (Im)Possibilidades De Tradução Helio Simplicio Rodrigues Monteiro 2016 Universidade Estadual De Campinas Doutorado Datas Comemorativas Ressignificadas Nos Anos Iniciais: Atividades Didáticas De Ciências E Matemática Norteadas Pela Base Nacional Comum Curricular Kate Rodrigues Zuchetto 2022 Universidade Franciscana Mestrado O Currículo De Matemática Na Perspectiva Sociocultural: Um Estudo Nos Anos Finais Do Ensino Fundamental Em Escolas Estaduais Indígenas De Roraima Luzia Voltolini 2018 Universidade Luterana Do Brasil Doutorado Usos/Significados De Materiais Manipuláveis E Do Software Geogebra Na Construção De Conceitos Na Formação Continuada Do Professor Bartor Galeno Cunha De Oliveira 2019 Universidade Federal Do Acre Mestrado Primeiros Cursos Para Formação De Professores Indígenas No Estado De São Paulo: Um Estudo Em História Da Educação Matemática Karina Aparecida Da Silva 2019 Universidade Estadual Paulista Júlio De Mesquita Filho (Bauru) Mestrado Fonte: Elaborado pela autora Após o levantamento dos dados coletados na plataforma Capes, entendemos que embora a quantidade de trabalhos encontrados fosse razoável, por serem teses e dissertações eram muito densos para uma análise dentro do TCC. 18 Assim, iniciamos uma outra parte do levantamento de trabalhos a serem vistos, desta vez utilizamos a plataforma do Scielo, na qual teríamos acesso a artigos científicos. Essa, por sua vez, como se trata de uma biblioteca virtual onde encontra- se diversos periódicos científicos e brasileiros, contribuiu para este momento do nosso trabalho de forma significante e produtiva. Queríamos verificar em nossas grandes revistas, com foco na Educação Matemática, como esse assunto estava sendo apresentado. Ao entrar na plataforma Scielo, já conseguimos visualizar alguns trabalhos ali expostos inicialmente, porém que não eram de nosso interesse no momento. O primeiro passo foi pesquisar pelo termo “Educação Matemática Indígena”, exatamente desta forma, entre aspas e aplicando o índice Título. Porém, não foram encontrados documentos desta forma. Então, resolvemos de outro modo, colocar sem as aspas e já houve uma melhora. Com isso, obtivemos apenas dois resultados, sendo um de 2012 e outro de 2014. Os dois trabalhos encontrados foram “Educação matemática na escola indígena sob uma abordagem crítica” e “A Educação Matemática no Contexto da Etnomatemática Indígena Xavante: um jogo de probabilidade condicional”, de 2012 e 2014 respectivamente, sendo que os dois artigos são da mesma revista, o Bolema: Boletim de Educação Matemática. Ainda neste site do qual estamos falando, foi necessário encontrar uma outra maneira de filtrarmos nossa busca, de forma que pudéssemos ter um pouco mais de resultados, o que nos permitiria a construção de um levantamento favorável ao nosso trabalho. Logo, fizemos da seguinte forma: colocamos a palavra Matemática aplicada a todos os índices e clicamos em “adicionar outro campo” e colocamos a palavra Indígena, também aplicada a todos os índices. Tivemos 14 publicações como consequência, e agora já tínhamos um número um pouco melhor para o desenvolvimento deste levantamento. Com isso, pensamos em uma forma de quantificar melhor estes documentos encontrados. Assim, construímos um gráfico quantificando e organizando os trabalhos publicados encontrados por revistas, desta forma: Figura 1- Quantidade de artigos por revista 19 Fonte: elaborado pela autora Aqui é possível ver claramente que a revista Bolema nos forneceu a maior parte das publicações encontradas na pesquisa, sendo esta então, a revista em que pudéssemos talvez focar, se estes trabalhos encontrados condissessem com o nosso objetivo. Pelo fato de terem aparecido em maior quantidade nesta revista, e desta revista ser conhecida como uma grande revista acerca de publicações em torno da Educação Matemática, escolheremos nos aprofundar nos trabalhos que a mesma nos forneceu neste momento. Criamos, então, um segundo gráfico focando apenas nos trabalhos encontrados na revista Bolema, separando por ano de publicação, assim: 2 7 2 1 1 1 Quantidade de artigos, por revista Ciência & Educação (Bauru) Bolema: Boletim de Educação Matemática Educação e Pesquisa Educação em Revista Revista de Antropologia Cadernos CEDES 20 Figura 2 - incidência de artigos na revista Bolema Fonte: Elaborado pela autora Percebemos que cada trabalho encontrado foi, praticamente, publicado em um ano diferente. Então talvez este não seja um parâmetro que faça diferença ao ser colocado. Desta forma, com esses sete trabalhos que temos até o momento, publicados pela revista Bolema, pudemos realizar um estudo inicial sobre cada um deles. Nossas análises envolveram leituras e anotações do teor e conteúdos destes trabalhos, sistematização destes dados em quadros, tabelas e textos, a partir de categorias de análises definidas posteriormente às leituras.O primeiro artigo que identificamos tem o título de “Algoritmos y sistemas de parentesco: aproximaciones etnomatemáticas en la formación de profesores indígenas” de 2020. Já podemos notar que não está em português, mas este não seria um motivo plausível para descartá-lo. Porém, deixá-lo de lado por preferir analisar algum artigo que seja em nosso idioma pela falta de experiência e dificuldade que poderia encontrar com a língua espanhola. O próximo, “Apropriação de Práticas Discursivas da Matemática Escolar: considerações a partir de uma experiência de formação intercultural de educadores indígenas” de 2017, este nos pareceu interessante, o selecionamos para futuramente em nosso processo analisá-lo de melhor maneira. Em seguida, temos “Dificultades Metodológicas en la Investigación sobre Pensamiento Matemático Indígena y su Paradójica Educación Matemática” de 2017, outro que, por sua vez, não está em português, e então, de acordo com a mesma explicação do trabalho em espanhol anterior, deixamos separado para caso não tenhamos um outro artigo, que seja em português, para 1 1 1 1 2 1 Quantidade por ano de publicação no Bolema sobre o tema Educação Matemática Indígena 2012 2014 2015 2016 2017 2020 21 analisar em seu lugar. Agora, temos um de 2016, que parece ser um pouco mais específico em seu objetivo, pois o título “Etnomatemática do Sistema de Contagem Guarani das Aldeias Itaty, do Morro dos Cavalos, e M'Biguaçu”, como podemos ver, especifica a aldeia a ser descrita em meio ao assunto a ser tratado. Também o selecionamos para uma análise mais profunda vinda depois. Depois destes, ainda restaram três trabalhos para serem vistos. Seguimos então de mesma maneira verificando os títulos e o que vem destes a partir de uma primeira impressão. O próximo que temos, é de 2015, com o título “A experiência etnográfica: sobre habitar e ser habitado pelo mundo Apyãwa”, pelo título, nossa primeira impressão é de que este não fará parte dos trabalhos que ajudarão no desenvolvimento da pesquisa, porém podemos pensar, o que “habitar e ser habitado pelo mundo Apyãwa” significa? Para descobrir melhor o objetivo deste, também vamos selecioná-lo antes de qualquer descarte. O trabalho “A Educação Matemática no Contexto da Etnomatemática Indígena Xavante: um jogo de probabilidade condicional” foi um dos trabalhos que apareceu quando fizemos a busca na plataforma Capes utilizando o termo Educação Matemática Indígena sem aspas e deixando o filtro em todos os índices. Esse trabalho como dito anteriormente, tem publicação em 2014, e num primeiro momento parece ter sentido selecioná-lo para melhor analisá- lo. E, por fim, o último que temos nos resultados, um de 2012 que também já havia surgido na busca que fizemos da forma descrita agora pouco, este tem título de “Educação matemática na escola indígena sob uma abordagem crítica” e também o selecionamos para aproveitamentos seguintes. Inicialmente, como descrito anteriormente, olhamos para os títulos dos trabalhos apresentados, afim de já possuir alguma noção sobre o que cada um poderia oferecer. Porém, não é possível decidir apenas pelo título, tendo a certeza de que não podemos trabalhar com os outros. Mas neste caso, após ler os resumos de cada um e compreender de forma mais elaborada e cooperativa para nossa pesquisa os objetivos dos diversos artigos encontrados aqui, decidimos ficar com os que não havíamos descartado incialmente. Ressaltando então, que o título não foi o único e mais importante ponto considerado. Além disso, temos dois trabalhos vistos que não estavam em Língua Portuguesa, logo, este também foi um critério analisado e considerado. 22 No total então, ficamos com apenas sete trabalhos que aparentaram terem conteúdo mais proveitoso para a nossa pesquisa ou que iremos verificar se isso ocorrerá ou não. 23 6 SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE Aqui apresentamos uma sistematização dos dados presentes nos artigos que selecionamos para analisar, sendo no total sete, como descrito anteriormente. Não seguiremos a mesma ordem que foi colocada no tópico anterior e dividiremos em tópicos os dados a serem colocados. Definimos como critérios para análise os seguintes dados: i) título, ii) autora(s)/autor(es) e uma breve biografia, iii) caracterização dos objetos ou participantes da pesquisa, iv) região do objeto ou participantes, v) metodologia de pesquisa, vi) objetivos, vii) forma de análise e principais resultados. 6.1 Trabalho 1: Apropriação de Práticas Discursivas da Matemática Escolar: considerações a partir de uma experiência de formação intercultural de educadores indígenas. ● Autor(es) e seu currículo Lates: Ruana Priscila da Silva Brito – Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (2006-2009), mestra em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010-2012) e, por último, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e inclusão social, pela Universidade de Minas Gerais (2014 – 2019). Atualmente atua como Servidora Pública na Escola de Aplicação da UFMG - Centro Pedagógico nos cargos de: chefia de setor, coordenadora de programa de formação e membro de comissão de reestruturação e ampliação das atividades do setor de formação docente profissional. Além desta escola, possuí cargo na Universidade Federal de Minas Gerais como: Professora colaboradora (disciplina “Seminário de Pesquisa 1: Análise da Prática Pedagógica - Educação Matemática”, representante titular no Colegiado de Licenciaturas, professora efetiva na escola de aplicação da UFMG, e por fim, professora formadora no Programa Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião. Sua linha de pesquisa é: Apropriação de práticas de numeramento escolar, com diversos projetos de pesquisas; Maria da Conceição Ferreira Reis Fonseca – Graduada em Matemática pela Universidade Federal de Minas Gerais (1980-1983), mestra em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho 24 (1986-1991) e doutora em Educação pela Universidade de Campinas (1997- 2001), realizou também Pós Doutorado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2012-2013) e na Universidade Estadual de Campinas (2021-2022). Atualmente atua na Universidade Federal Minas Gerais como professora titular na formação de professores, desde 1986, sócia da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, colabora como vice coordenadora no grupo de pesquisa GT 9, representante e membro do grupo de pesquisa GT 18 no comitê científico na Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação, e, por fim, bolsista de produtividade em Pesquisa no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Suas linhas de pesquisa são: O evocativo na Matemática, Educação Matemática de Jovens e Adultos, Formação de educadoras e educadores de pessoas jovens e adultas, Discurso, memória e inclusão, Estratégias de negociação de significado em situação de ensino aprendizagem escolar, Alfabetização e letramento (contribuições da Matemática) e Fundamentos e Metodologias para o Ensino de Matemática nos ciclos iniciais do Ensino Fundamental; ● Participantes: Turma da Licenciatura em Matemática, constituída por três etnias: Pataxó, Xakriabá e Tupiniquim e também, uma aluna não indígena; ● Região dos participantes: Xakriabá - aldeias do norte de Minas Gerais, Pataxó - aldeias do sul da Bahia, Tupiniquim - aldeias localizadas no Espírito Santo; ● Metodologia: Foi realizado um estudo feito com os licenciandos em trabalho de campo realizado durante algumas aulas que os alunos tinham, colhendo alguns dos comentários que os estudantes faziam durante a aula, que poderiam instruir a pesquisa, além de comentários dos alunos também foram colocados discursos de professores, os interdiscursos ecoando nas enunciações que confrontam as práticas discursivas de e sobre a matemática. As informações colhidas foram o conteúdo que deu origem a um Diário de Narrativas, onde foram descritos as interações colhidas por meio de gravação em áudio e vídeo. Neste trabalho, os autores não dizem se o trabalho se trata de um estudo etnográfico. ● Análises: a partir destas aulas descritas, nas quais era observado também as atividades propostas aos licenciandos e a forma em que resolviam os problemas e exercícios; quais referências usaram para a análise? 25 ● Objetivo: Ressaltar como o confronto entre práticas discursivas, solidárias ou conflitantes, de diferentes tendências do campo da Educação Matemática e da Educação Escolar Indígena, constitui os modos como esses licenciandos indígenas concebem o ensino da matemática na escola indígena, e como a gestão desse confronto pelos sujeitos que se apropriam de tais discursos contorna possibilidades de inserção desses educadores nos contextos das matemáticas escolares, estruturando as propostas pedagógicas que elaboram ou defendem nas interações do curso de Licenciatura. ● Resultados: Os processos de apropriação das práticas escolares em relação à matemática e o caráter dinâmico deles, são complexos e necessitam sempre de novas relações, novos modos de participação dos licenciandos e professores e de novas práticas. Vão existir discursos que aproximam ou que afastam as culturas entre os licenciandos e esse é um movimento constitutivo dos processos de apropriação da formação destes. E além disso, a forma como cada um se apropria da matemática na prática, diz muito sobre suas especificidades, seu contexto de uso e aos significados que a prática oferece no seu mundo. 6.2 Trabalho 2: Etnomatemática do Sistema de Contagem Guarani das Aldeias Itaty, do Morro dos Cavalos, e M'Biguaçu. ● Autor(es) e seu currículo Lates: Sérgio Florentino da Silva – Graduado em Matemática pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999-2003), Mestre (2009-2011) e Doutor (2014- 2018) em Educação Científica e Tecnológica também pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente atua no Instituto Federal de Santa Catarina como professor. Sua linha de pesquisa é voltada para Teoria dos Registros de Representações Semióticas; Modelagem Matemática e Etnomatemática. Ademir Donizeti Caldeira – Graduado em matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1982 – 1987), passou por diversos aperfeiçoamentos na área da Educação Matemática na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Centro de Vivência e Dinâmica Alternativa, Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo e Universidade Federal do Paraná, e além disso possui uma especialização 26 (1988) e mestrado (1990-1992) na mesma área também pela UNESP. Dentre isso, também doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1994-1998). Alguns aperfeiçoamentos foram durante a graduação, após, e alguns foram após o mestrado e após o doutorado. Realizou seu pós doutoramento na Universidade Nova de Lisboa/Portugal (2022-2023). Atualmente atua como professor na Universidade Federal de São Carlos. Sua linha de pesquisa é voltada para Ensino de Ciências e Matemática, Educação Matemática e Processos de Aprendizagem Escolar, educação, cultura e sociedade e Práticas Docentes; ● Objetos/Participantes: Sistema de contagem Guarani nas Aldeias Itaty do Morro dos Cavalos e M’Biguaçu; ● Região do objeto/participantes: Aldeias Itaty do Morro dos Cavalos localizada no municípios de Palhoça e M’Biguaçu em Biguaçu, no estado de Santa Catarina ─ Brasil;  Metodologia: Estudo de caso do tipo etnográfico, onde foi realizada uma interlocução com os líderes indígenas dessas duas aldeias. Análise através de quadros com símbolos que representam os números da contagem, onde acontece discussões acerca do entendimento da lógica utilizada pelos indígenas e o que aqueles símbolos representavam para eles. ● Objetivo: analisar e verificar o sistema de contagem, ou forma de contagem Guarani e alguns símbolos gráficos das Aldeias em questão, levando em conta que estes sistemas foram ditos inferiores quando os povos passaram pela colonização. ● Resultados: Como resultado da pesquisa realizada, os pesquisadores após suas análises e discussões sobre o sistema de contagem Guarani, concluem que estes procedimentos estudados não estão dissociados da cultura Guarani, e além disso, que esse meio de contagem cumpre com o objetivo principal que é exatamente contar de maneira adequada e significativo, atendendo a função de quantificação e qualitativa. 6.3 Trabalho 3: A experiência etnográfica: sobre habitar e ser habitado pelo mundo Apyãwa. ● Autor(es) e seu currículo Lates: João Severino Filho – Graduado em matemática e especializado em História da Matemática pela Universidade do 27 Estado de Mato Grosso, além de possuir Mestrado em Ciências Ambientais na mesma universidade e Doutorado em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho. Atua hoje em dia como professor titular na Universidade do Estado de Mato Grosso. Sua linha de pesquisa se refere ao processo histórico da formação inicial e continuada do educador matemático e aos Aspectos da arte e da técnica desenvolvidas nos diferentes espaços socioeducativos, frequentados por alunos da Educação Básica; ● Participantes: Povo Apyãwa; ● Região dos participantes: é um povo Tupi-Guarani que habitam duas Áreas Indígenas situadas na Região do Médio Araguaia, Estado de Mato Grosso: Área Indígena Tapirapé/Karajá, onde coabitam as comunidades Tapirapé e Karajá, localizada na desembocadura do rio Tapirapé, quando deságua no Rio Araguai e a Área Indígena Urubu Branco; ● Metodologia: Foram realizadas discussões no Grupo de Estudos e Pesquisa em Etnomatemática (GEPEtno) que o pesquisador participa, sobre o campo e reflexões voltadas para a pesquisa etnográfica, retratando o contexto em que ele teve como olhar e se aproximar submetendo-se a observar os diferentes indígenas da comunidade através e interações com o grupo social que pertencem e dando significados às percepções levando à construção do olhar sobre a comunidade social do povo Apyãwa; ● Objetivo: constituir um conjunto de estudos, análises e reflexões sobre os conhecimentos de povos indígenas que foram estudados juntamente com suas epistemologias, percebidos pela descrição de significados dos fenômenos marcadores de tempos, identificados e observados pelo povo Apyãwa, a partir das explicações presentes nas narrativas da comunidade, sobre as cosmologias e ritos e das relações que estabelecem com as atividades cotidianas; ● Resultados: a experiência junto ao povo Apyãwa que se obteve, pode oferecer elementos suficientes para refletir, analisar, verificar e propor eventuais ajustes, além de rever equívocos e apontar possíveis direções a serem consideradas numa pesquisa em Etnomatemática com povos culturalmente distintos. 28 6.4 Trabalho 4: A Educação Matemática no Contexto da Etnomatemática Indígena Xavante: um jogo de probabilidade condicional. ● Autor(es) e seu currículo Lates: Bruno José Ferreira da Costa – Graduado em Matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001 – 2007). Não possuí muitas outras informações em seu currículo Lattes que seja interessante ressaltarmos aqui, porém no próprio trabalho temos que o autor é especialista em Novas Tecnologias no Ensino da Matemática pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e atualmente atua como professor da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro; Thaís Tenório – não foi possível encontrar o currículo Lattes da pesquisadora em questão, mas assim como o Bruno, em seu próprio trabalho temos algumas informações sobre ela. A autora é doutora em Química pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), e além disso colaboradora do Laboratório de Novas Tecnologias da Universidade Federal Fluminense; André Tenório – Assim como os outros, não foram encontradas informações no currículo Lattes, não possui o próprio. Em seu trabalho temos que o autor se trata de um doutor em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e também colaborador do Laboratório de Novas Tecnologias da Universidade Federal Fluminense e do Mestrado Profissional em Ensino de Física da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, além de ser professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro; ● Objetos/Participantes: Proposta de recurso didático tecnológico no contexto da etnomatemática xavante, este recurso sendo um jogo sobre probabilidade condicional chamado “Adivinhe o número xavante”; ● Região do objeto/participantes: Xavante é um povo indígena que vive em áreas distribuídas dentro de estado de Mato Grosso, na Região Centro Oeste do Brasil, na chamada Amazônia Legal; ● Metodologia: Estudo das propostas matemáticas culturais existentes para inserir no meio educacional, analise de estratégias matemáticas que variam entre os povos, até mesmo entre índios de uma mesma comunidade. Estudo bibliográfico de pesquisas já feitas por outros atores sobre o assunto. Enfoque no grupo Xavante, estudando as influências que esse povo teve durante a história, e o sistema numérico utilizado por ele, surgimento e 29 dificuldades. Por fim, a apresentação do jogo “Adivinhe o número xavante” que poderá ser utilizado para o ensino obrigatório da história e da cultura indígena. ● Objetivo: Apresentar um recurso fundamentado na cultura indígena, afim de mostrar que existem objetos culturalmente indígenas que podem ser inseridos no currículo da Educação Básica brasileira de maneira mais provedora e trazendo a aprendizagem significativa, minimizando os conflitos entre a Matemática institucionalizada e a Matemática xavante, o que não acontece com propostas existentes que são escassas em relação a essa inclusão; ● Resultados: O ensino da história e da cultura indígena é obrigatório e por isso o estudo em torno deste jogo proposto se torna útil para a Educação Básica brasileira. Este, pode trazer interesse para alunos indígenas ou não indígenas, já que o conhecimento matemático não pode ser feito apenas através de livros e materiais didáticos tradicionais, os jogos podem despertar curiosidade nos alunos e contribuir assim para a melhoria do aprendizado. 6.5 Trabalho 5: Educação matemática na escola indígena sob uma abordagem crítica. ● Autor(es) e seu currículo Lates: Luci Teresinha Marchiori dos Santos Bernardi – Graduada em Licenciatura plena em Matemática pela Universidade de Passo Fundo (1982-1984), com duas especializações, sendo uma em Computação Aplicada Ao Ensino (1985- 1986) e a outra em Educação Matemática (1994-1995). Mestra em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Educação Cientifica e Tecnológica pela mesma universidade em que adquiriu o seu mestrado. Atualmente atua profissionalmente como professora de graduação e pós-graduação na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões e faz parte do conselho do Programa de Pós-graduação em Educação desta universidade. Sua linha de pesquisa é voltada para temas como: Etnoconhecimentos e Processos Educativos, Formação de Professores, Saberes e Práticas Educativas e Processos de Docência e Emancipação; Ademir Donizeti Caldeira – Graduado em matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1982-1987), em sua graduação e após ela passou por alguns aperfeiçoamentos como em Ensino de Matemática 30 (1986) na UNESP, Projeto de Educação Ambiental (1987) no Centro de Vivência e Dinâmica Alternativa e Formação de Professores de Matemática (2003) na Universidade Federal do Paraná. Mestre também pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em Educação Matemática e doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente atua como professor na Universidade Federal de São Carlos em níveis de graduação e pós-graduação. Sua linha de pesquisa é voltada para Práticas Docentes, Educação, cultura e sociedade, Educação Matemática e Processos de Aprendizagem Escolar e Ensino de Ciências e Matemática; ● Objetos/participantes: desafios da Educação Matemática Indígena tendo como referência o povo Kaingang; ● Região do objeto/participantes: Terra Indígena Xapecó em Ipuaçu (SC); ● Metodologia: Verificação histórica sobre os sujeitos da pesquisa, voltada a sua cultura e dificuldades encontradas e estudo da Educação Matemática dentre os sujeitos, juntamente com citações e estudos já feitos por outros autores, analisando três questões: o quadro sociopolítico da educação matemática, as competências pensando a Educação Matemática indígena em seu contexto particular e por fim, a questão dos estudantes, pensando na educação matemática que confere atenção a diversidade cultural dos sujeitos, investigando o processo de exclusão associados com o ensino da matemática neste meio; ● Objetivo: Promover uma reflexão acerca dos desafios da Educação Matemática na Escola Indígena a fim de compreender, que em todas as culturas possuem práticas e produções de conhecimentos matemáticos diversos; • Resultados: Para que seja possível contribuir para uma determinada comunidade indígena em relação à Educação Matemática, é necessário conhecer a cultura e seus significados diante das práticas matemáticas, para que assim seja talvez possível saber o que pode de fato contribuir para estes sujeitos, de forma que possam garantir o seu espaço na sociedade sem abrir mão de seus costumes, cultura, tradições, conhecimentos e valores próprios. 7. Discussão dos resultados 31 Pode-se notar que a maioria dos trabalhos aqui analisados foram escritos em conjunto por dois ou três pesquisadores, tendo que somente o trabalho 3 foi escrito individualmente. Os autores são, no geral, atualmente professores de ensino superior em universidades como Universidade Federal de São Carlos e Universidade Federal Minas Gerais, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Universidade do Estado de Mato Grosso e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul ou então coordenadores de cursos nestas. Inicialmente em suas vidas acadêmicas, iniciaram na área de Educação como Pedagogia e Licenciatura em Matemática, e posteriormente especializações, pós e programas de mestrado e doutorado. Sobre todos os autores presentes nestes trabalhos, temos que suas graduações aconteceram de forma diversificada, tendo dois deles formados na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e o restante em universidades distintas uma da outra, sendo na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade do Estado de Mato Grosso e Universidade Federal Minas Gerais. No trabalho 1, temos duas autoras, sendo uma doutoranda, a Ruana Priscila da Silva Brito e uma já doutora, a Maria da Conceição Ferreira Reis Fonseca, o que acredito ser orientadora da primeira. Conclui-se que esta pesquisa é resultado de uma defesa de doutorado. Já no segundo trabalho, temos a mesma situação, sendo o Sérgio Florentino da Silva doutorando e Ademir Donizeti Caldeira o doutor orientador. O trabalho 3, como já visto, possui apenas um autor, este já era doutor quando concluiu o estudo analisado, então não se pode dizer que este é uma pesquisa resultante de mestrado ou doutorado. Já no quarto estudo, temos três autores, nenhum doutorando ou mestrando, Bruno José Ferreira da Costa, Thaís Tenório e André Tenório já eram especialista, doutora e doutor, respectivamente, quando concluíram esta pesquisa. Também não é um estudo resultante de doutorado ou mestrado. A última pesquisa vista, apresenta estudos realizados por dois autores, sendo a doutoranda Luci dos Santos Bernardi e o doutor Ademir Donizeti Caldeira. No próprio trabalho, os autores ressaltam no rodapé que se trata de um artigo que faz parte de 32 uma pesquisa de doutorado em desenvolvimento, o que não ocorre nos artigos anteriores. Destes autores, pode-se perceber que temos quatro mulheres e cinco homens, um número equilibrado dentre estas pesquisas. Uma outra observação é a presença do doutor Ademir Donizeti Caldeira como orientador e autor no trabalho 2 e 5. Nestes cinco trabalhos analisados, nos deparamos inicialmente, assim como em qualquer pesquisa, com seus títulos. Então podemos perguntar, ao que seus títulos se remetem? Vamos verificar da forma mais cuidadosa possível o objetivo do(s) autor(es) ao escolher(em) estes nomes, sabendo que é o primeiro contato que o leitor tem, porém ressaltando que o teor dos trabalhos pode dizer o que realmente o que foi feito e retratado. Temos em primeiro momento o título e subtítulo do primeiro documento analisado, sendo ele “Apropriação de Práticas Discursivas da Matemática Escolar: considerações a partir de uma experiência de formação intercultural de educadores indígenas”. Podemos considerar que não é um nome que exige muita interpretação, ou que nos deixa muitos questionamentos. É breve e descreve exatamente o que o(s) autor(es) gostariam de apresentar em seu trabalho. Neste, é mostrado em um meio culturalmente indígena como as apropriações dos licenciandos em matemática de um curso vêm acontecendo, então, é possível considerar que pelo título o leitor já possa ter uma grande ideia do que será lido por ele. Em seguida, nos deparamos com “Etnomatemática do Sistema de Contagem Guarani das Aldeias Itaty, do Morro dos Cavalos, e M’Biguaçu”. Este, por sua vez, pode deixar alguns questionamentos, talvez objetivamente para que o leitor, ao longo da leitura, possa deixar mais claro. Mas, inevitavelmente, é possível saber que nesta pesquisa encontraríamos um conteúdo relacionado a uma Etnomatemática mais especifica, ou seja, voltada para um só objeto, no caso o Sistema de Contagem Guarani. Em terceiro, temos o seguinte título e subtítulo: “A experiência etnográfica: sobre habitar e ser habitado pelo mundo Apyãwa”. Este foi escrito e trabalho apenas por um autor, que remete ao nome de sua pesquisa um sentido de inserção no meio cultural 33 Apyãwa. Se o leitor não conhece antes de ler, como no meu caso, o povo Apyãwa, o título não ajudaria muito em saber o que o autor gostaria de transmitir com a frase “habitar e ser habitado pelo mundo Apyãwa”. Porém, mesmo sem conhecer o povo, é possível perceber que neste trabalho encontraríamos a cultura dos mesmos e como será a experiência do autor ao conhecer ainda mais os costumes, valores e práticas dos Apyãwa. Vamos olhar agora para o próximo título e subtítulo, sendo ele “A Educação Matemática no Contexto da Etnomatemática Indígena Xavante: um jogo de probabilidade condicional”. Este podemos dizer que é um nome bem objetivo e direto, que não deixa muitas inquietações ao interpretá-lo, assim como no trabalho 1. É possível saber que nesta pesquisa, teremos em seu desenvolvimento a análise de uma prática Xavante, sendo esta um jogo voltado para a Educação Matemática contextualizada de acordo com a cultura. Por fim, temos o último e quinto trabalho analisado, seu título é dado por “Educação Matemática na Escola Indígena sob uma Abordagem Crítica”. Já no primeiro momento, ao se deparar com este nome, podemos concluir que o trabalho é voltado para uma análise crítica realizada em torno na Educação Matemática Indígena. Inicialmente, não é possível saber se os autores utilizariam algum povo, tribo ou aldeia como referência, e nem a maneira ou objeto que iriam utilizar para tal análise crítica. Estes diferentes artigos, possuem objetivos distintos e estudos diversificados diante da Educação Matemática Indígena. Pudemos notar nos modos em que cada autor conduziu o seu trabalho que seus objetivos eram voltados para entendimentos educacionais e culturais, no geral. Dentre estes trabalhos, não houve entre eles a repetição de mesmo povo como foco de estudo, ou de mesmo objeto não sendo especificamente um grupo indígena. Com isso conseguimos acrescentar em nossos conhecimentos alguns novos nomes de tribos e povos indígenas, dentre eles temos as aldeias Itaty do Morro dos Cavalos e M’Biguaçu, que faz parte do povo Guarani. No trabalho 2 analisado, o autor nos traz importantes detalhes históricos sobre estes povos, dentre eles ressalta que os saberes e os conhecimentos destes foram considerados como inferiores aos dos colonizadores, portanto o autor ressalta a necessidade de analisar o sistema de contagem e os símbolos gráficos das aldeias 34 em questão na pesquisa, a fim de mostrar que o aprendizado através deste sistema e símbolos traz consigo a função qualitativa, ou seja, além de aprender a prática da contagem, contribui para a cultura e suas práticas. Já no trabalho 3, também analisado, conhecemos também o povo Apyãwa. Este por sua vez, faz parte do povo Tupi-Guarani e segundo o que o autor nos traz em sua pesquisa, habitam duas Áreas Indígenas situadas na Região do Médio Araguaia, Estado de Mato Grosso, sendo elas: A Área Indígena Tapirapé/Karajá, localizada na desembocadura do rio Tapirapé e a área Indígena Urubu Branco, sendo esta o território tradicional do povo. Este autor também traz traços historicamente importantes, assim como o autor do trabalho 2. No trabalho 4, o autor também trabalha com um povo, sendo este diferente dos já vistos até o momento. Na verdade, trabalha com um jogo dentro do contexto de um determinado povo, os Xavantes. Assim como nos dois trabalhos anteriores, o autor expõe um pouco sobre eles, a fim de que possamos conhecer melhor a cultura na qual efetivou a pesquisa. Os Xavantes vivem em terras indígenas no Mato Grosso, e com o passar do tempo sua população teve aumento na quantificação e também o aumento de território. Outro ponto importante citado pelo autor, é a influência dos salesianos desde os anos cinquenta na educação escolar deste povo, acarretando desde então em mudanças na matemática “original” que utilizavam, na parte escolar e na praticidade do dia a dia. Os salesianos, para quem desconhece, são uma congregação religiosa derivada da Igreja Católica. A partir do conhecimento do autor sobre a história dos Xavantes e o entendimento sobre a importância da inserção de tecnologias didáticas no meio de ensino, escolhe apresentar uma proposta que enquadra os dois, sendo um jogo desenvolvido na plataforma Scratch, concebida pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), apontando seus benefícios no meio inserido. Por mais que o objeto de estudo nesta pesquisa não tenha sido o povo em si, foi preciso que o autor conhecesse sua cultura para abordar os caminhos escolhidos ao apresentar o jogo no contexto dos Xavantes e apontar os pontos positivos deste meio tecnológico. No último trabalho analisado, o autor procura enfatizar os desafios da educação matemática indígena, e escolhe um povo como referência, sendo este o povo Kaingang da Terra Indígena Xapecó, em Ipuaçu (SC). Nesta pesquisa, mostra-se a visão deste povo em relação à Educação e que para eles a mesma pode ser um instrumento de fortalecimento das culturas e identidades indígenas. Historicamente, o 35 pesquisador apresenta dados em relação às dificuldades encontradas pelos Kaingang, que vai além de questões sobre recuperação de terras, engloba também o desejo de preservação de cultura, valores e costumes. Nos trabalhos 3, e 4 acima citados, nós podemos conhecer um pouco mais da diversidade de povos indígenas, mesmo que a metodologia utilizada por cada autor seja diferente, juntamente com seus objetivos, pode-se ver que no geral, procuram encarar e analisar o efeito que alguma prática tem sobre estes, seja o sistema de contagem e símbolos, ou um jogo do meio tecnológico. Já no trabalho 2, o autor tem como indagação o seu olhar para a sociedade Apyãwa, o meio em que vivem, como se relacionam e se constituem, e não especificamente sobre algum objeto educacional inserido a eles. E no trabalho 5, a pesquisa apresenta criticamente as dificuldades encontradas na prática de educação matemática indígena utilizando um povo como referência. Este pensa na construção histórica juntamente com a escola deste meio, englobando os diferentes pontos da inserção de discussões na sala de aula da sociedade indígena, relacionadas aos papéis que a matemática exerce para o povo. O trabalho 1, apresenta uma outra proposta, onde seu enfoque é sobre uma turma de Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas, focalizando no modo em que os licenciandos em matemática deste curso, sendo eles homens e mulheres da etnia Pataxó, da aldeia de Barra Velha, localizada ao sul da Bahia, Xakriabá – aldeias do norte de Minas e Tupiniquim – aldeias localizadas no Espírito Santo, apoderam-se de práticas discursivas da matemática escolar, quando levam isto para uma escola da aldeia. Então, vê-se que aqui a preocupação é em torno das diversas maneiras de apropriações das práticas matemáticas no curso de formação em questão, buscando entender como os alunos presentes neste meio utilizaram das práticas ao querer inseri-las educacionalmente no modo de vida da aldeia. Abaixo, apresento um mapa sinalizando onde os povos indígenas citados se encontram, sendo a aldeia vista no trabalho 1, da etnia Pataxó localizada ao sul da Bahia em azul, Xakriabá, do norte de Minas em roxo e Tupiniquim no Espírito Santo em verde escuro, o povo Apyãwa do estudo 3 da Região do Médio Araguaia, Estado de Mato Grosso em vermelho, já referente ao trabalho 2, temos as aldeias Itaty do Morro dos Cavalos e M’Biguaçu em amarelo, sendo na região sul de Santa Catarina, temos em verde claro a região dos Xavantes, no Mato Grosso que aparece no estudo 36 4, e por fim, em rosa claro a região do Kaingang da Terra Indígena Xapecó, em Ipuaçu (SC). Pode-se ver então, que dentre estes povos e etnias que aparecem nos artigos analisados, dois são da região do Mato Grosso, dois de Santa Catarina, um da Bahia, um da região de Espírito Santo e um de Minas Gerais. Além disto, podemos levantar a questão: “os autores são da mesma região que os povos ou etnias abordados em suas pesquisas?”. Sobre o primeiro trabalho, já podemos dizer que sim, pois as duas autoras atualmente estão na região de Minas Gerais, além de já terem passado pela Universidade de Minas Gerais. A aldeia de povos de etnia Pataxó é desta região, e, além disso, o curso sobre o qual escrevem é realizado pela Universidade do mesmo estado. Já no segundo, o autor doutorando passou pela Universidade de Santa Catarina, ou seja, pode pertencer a este estado que é o mesmo do povo das aldeias Itaty do Morro dos Cavalos e M’Biguaçu presentes em seu trabalho. Porém, é difícil dizer se o autor doutor orientador também faz parte da região. No artigo 4, também analisado, não conseguimos concluir se os autores são da mesma região do povo indígena citado por eles, já que não há muitas informações nos currículos, portanto fica em aberto o questionamento aqui neste. Assim como no primeiro e segundo artigo, o terceiro e quinto também possui ligação entre os ou um dos autores e o estado a que pertence as comunidades que aparecem 37 nas pesquisas. No terceiro, um dos autores pela Universidade do Mato Grosso, estado onde o povo Apyãwa pertence. E, por fim, no quinto artigo acontece o mesmo, porém referente ao estado de Santa Catarina, onde habitam os Kaingang da Terra Indígena Xapecó. Os temas abarcados nestes trabalhos, foram temas correspondentes com o que gostaríamos de ver, voltados para a Educação Matemática Indígena. Como já dito, cada um abordou de diferentes formas sobre um objeto de estudo e com seus próprios objetivos, objetivos estes que, no último trabalho, fazem o leitor refletir acerca de dificuldades e desafios enfrentados da Educação Matemática na Escola Indígena. Além disso, nos trabalhos 2 e 4, podem designar ao público que o lê, a análise de alguns objetos e seus efeitos na Educação Cultural, como o sistema de contagem Guarani e o jogo de probabilidade condicional Xavante. Os dados produzidos por cada trabalho, como esperado, foi de acordo com o objetivo e metodologia de cada um. No primeiro analisado, os autores ressaltam a individualidade a autonomia de cada educador no momento em que exercem seus posicionamentos na aula de matemática, buscando realizar de melhor forma a apropriação das práticas discursivas. Já no segundo trabalho, obtém-se que a Matemática, assim como descrevem os autores, é uma maneira ou técnica de explicar, entender e lidar com diferentes contextos naturais, ou seja, os símbolos analisados e discutidos no artigo trazem significados de elementos da cultura Guarani, e com isso, conclui-se que neste meio, a explicação matemática não se desprende da cultura. A importância do educador matemático entender sobre os costumes e práticas exercidas pelos índios presentes neste trabalho, é imprescindível, para que não corra o risco de infringir os símbolos ali apresentados em seu sistema de contagem. Nestes dois primeiros documentos, pode-se ver que os autores buscam destacar a transcendência da cultura nos conhecimentos dos educadores para que seja possível exercer sua função sem profanar a cultura indígena. No terceiro documento produzido, aqui analisado, o autor utiliza um interessante termo, sendo ele “teia cultural”. Como sua experiência foi voltada para a etnografia, diferente dos outros trabalhos que focaram especificamente em elementos educacionais do aprendizado indígena, utilizou deste termo para descrever a construção de uma cultura a partir de seus traços, como o modo de agir com o outro, 38 de se relacionar, suas práticas e objetos que utilizam em seu cotidiano, ressaltando ainda mais a constância cultural presente no meio, como os desenhos repetitivos, pintura corpórea e objetos cerimoniais. O autor ressalta a diversidade de utensílios construídos a partir de diferentes objetos naturais que dão origem a peças que indiciam a personalidade do povo Apyãwa. Diferente do trabalho acima comentado, a pesquisa 4 e 5 trazem outros tipos de dados produzidos, como o jogo apresentado referente a cultura Xavante, e os seus resultados na prática, onde é possível que o aluno desenvolva inicialmente noções intuitivas de probabilidade, dando significado ao seu aprendizado juntamente com a cultura Xavante. O jogo, além de exigir que o estudante reconheça os conceitos de maior e menor, pois se tentar adivinhar o número e errar, o jogo mostra se o número correto é maior ou menor ao escolhido, faz com que avalie suas possibilidades de respostas e chances de acertos, levando às noções intuitivas de probabilidade, e também exige um conhecimento sobre a cultura Xavante, para determinar a solução correta de representação de número dentre estes elementos culturais. Aqui a matemática probabilística anda de mãos dadas com a cultura deste povo. No segundo trabalho aqui citado, temos dados críticos produzidos, onde a Educação Matemática Indígena ganha foco. Ressalta a importância de se pensar numa educação matemática diversificada culturalmente, a fim de o indígena desenvolver suas habilidades para lidar com situações e noções matemáticas. Aqui, os autores se preocupam com a forma em que a educação acontece no meio indígena e salientam que todos os que estão inseridos e fazem parte do papel de transmissão de aprendizado, devem, de alguma forma, trabalhar para que haja mudanças e melhorias no sistema educacional da comunidade indígena. Nestes trabalhos, olhamos também sobre como cada um trata da Educação Indígena, que como dito inicialmente na justificativa deste trabalho, difere-se da Educação Escolar Indígena. No primeiro trabalho analisado, o foco é para como os professores se apropriam de discursos em práticas pedagógicas no meio educacional indígena, ou seja, não possui pontos específicos que tratam da Educação Indígena, sobre os seus costumes ou culturas. Já no segundo artigo, é explicitado sobre o Sistema de Contagem Guarani do povo das Aldeias Itaty, mas não apenas dentro da Educação Escolar, mas sim como esse sistema foi pensado na Educação Indígena, 39 em meio ao cotidianos dos membros e sua utilização em tarefas distintas. Em terceiro, temos a Educação Indígena sendo retratada desde o início, pois o autor busca se aprofundar na cultura da sociedade Apyãwa, conhecendo este povo em meio a seus costumes, jeito de interagir com o outro e o meio em que se vive. No quarto artigo analisado, vemos que a preocupação do autor era utilizar no meio educacional algo que trouxesse a cultura Xavante, um pouco de seus conhecimentos, ou seja, o foco não está na Educação Indígena deste povo, mas no jogo Xavante ela está presente. E, por fim, temos em quinto o trabalho que traz como objetivo principal retratar a Educação Matemática na Escola Indígena de forma crítica, retrata a importância de se caminhar junto à Educação Indígena, mas não focaliza na mesma. Portanto pode ser visto que os trabalhos retratam da Educação Indígena quando precisam reforçar a importância de se considerar esta, afim de chegar na Educação Matemática Indígena e aqui trabalhar o objetivo de cada autor. 40 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, diante de todos estes documentos prontos, identificamos em meio às análises e estudos realizados quais as temáticas no Ensino da Matemática na cultura indígena que estão sendo retratadas nas pesquisas, verificando que nestas, foi levado em consideração os interesses próprios dos indígenas, suas culturas, seus costumes, práticas do cotidiano e a diversidade de cada povo, e até mesmo os objetos que utilizam diante de suas necessidades. Além disso, observa-se as melhorias adequadas que estes estudos podem aplicar no ensino dos conteúdos diante do contexto em questão, já que os estudos e trabalhos realizados identificam as importância de ressaltar no ensino da matemática indígena os conceitos e hábitos que estes executam em seu dia a dia. O caminho traçado entre a Educação Matemática e a cultura indígena, segundo estes autores, deve ser interligado por meio de práticas apropriadas às diversidades culturais. Com o estudo realizado, pode-se ver que as pesquisas vêm trabalhando os pilares da Educação Matemática Indígena através de práticas exercidas em aldeias, povos e tribos e seus efeitos sobre as comunidades. O campo de pesquisa vem fazendo estes apontamentos por meio de estudos realizados sobre um determinado povo indígena e algumas de suas práticas, realizando a ligação com a matemática educacional a fim de entender o que ali deve ser levado em consideração para que não seja excluída a identidade sociocultural dos estudantes, preservando seus valores e ressaltando a importância do conhecimento da cultura. REFERÊNCIAS Bernardi, L. dos S., & Caldeira, A. D.. (2012). Educação matemática na escola indígena sob uma abordagem crítica. Bolema: Boletim De Educação Matemática, 26(42b), 409–432. BICUDO, M. A. V. Pesquisa em educação matemática. Pré-posições, v. 4, n. 1, p. 18 – 19, 1993. Brito, R. P. da S., & Fonseca, M. da C. F. R.. (2017). Apropriação de Práticas Discursivas da Matemática Escolar: considerações a partir de uma experiência de 41 formação intercultural de educadores indígenas. Bolema: Boletim De Educação Matemática, 31(58), 542–563. Costa, B. J. 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