Memorial Cíntia Duarte de Freitas Milagre Memorial apresentado ao Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Campus de Araraquara, como parte dos requisitos para o concurso de Livre Docência em Química Orgânica. Araraquara Fevereiro/2023 2 Artista: Barbara Jones Nome da obra: Mirror-image Molecules Técnica: Pintura em aquarela e gravura Descrição: As moléculas espelhadas de Barbara Jones são realizadas a partir de seu interesse pela interpretação do mundo celular e as images formadas na mente da própria artista que se inspira naquilo que somente é visível por meio de microscópios. Ela trabalhou em colaboração com a cientista Cintia Milagre, da Unesp, cujo interesse de pesquisa, na área de Química Orgânica e Biotecnologia, tem ênfase em Química Verde, Química Sustentável e Biocatálise. “O trabalho de Cintia me inspira a desenvolver minhas obras para além do evento”, revela a artista, explicando ainda um pouco de sua técnica: “Em minhas pinturas em aquarela, permito que o meio dite as formas e os efeitos criados. O comportamento das células influencia minhas composições, por exemplo, se elas se tocam, se fundem ou se dividem”. Fonte: https://pintofscience.com.br/creativebr/ 3 Sumário Da infância à pós-graduação 4 UNESP – Instituto de Biociências, Campus de Rio Claro 10 UNESP – Instituto de Química, Campus de Rio Araraquara 12 Ensino 13 Pesquisa 17 Extensão 19 Gestão 23 Reflexões e perspectivas 24 Curriculum Vitae 26 4 Da infância à pós-graduação Nasci aos 21 dias do mês de maio de 1976, na Casa de Caridade “Manoel Gonçalves de Sousa Moreira” em Itaúna – MG, no fim de tarde de uma sexta-feira fria e ensolarada, já com a unha do dedão do pé encravada e inflamada. Filha mais velha de três irmãs, cresci no interior de Minas Gerais, de um quintal com hortas de verduras, legumes e ervas medicinais, pés de frutas e galinheiros para o outro, sempre rodeada de primas e primos, amigas e vizinhas, tios e tias. Fui criada cercada por mulheres fortes, sábias e donas de seu próprio nariz. Não poderia faltar, é claro, o componente religioso com missas dominicais, procissões, coroações de Nossa Senhora, festa de reinado e visitas à gruta onde aconteceu uma suposta aparição de Nossa Senhora na década de 1950, a Nossa Senhora de Itaúna. Neste ambiente de convicções religiosas firmes e grande conhecimento sobre os benefícios da cura por plantas medicinais começaram as minhas primeiras inquietações sobre a necessidade de comprovação de evidências e que culminaram em inúmeros debates com meus pais durante o período da adolescência. Ainda bem que esses conflitos de opiniões e ideologias não impediram muitos momentos de prazer e alegria, estimulada por meus pais a sempre seguir em frente, enfrentar os desafios, seguir meus instintos e intuição. Da organização de batizados de bonecas com o meu pai caracterizado de padre usando um vestido da minha mãe e rodelas de banana como hóstia; desfiles de Miss Brasil com direito às faixas das miss feitas com papel higiênico, limão espremido nos olhos para simular o choro de emoção e minha mãe caracterizada de Hebe Camargo para entregar o prêmio (uma chave de carro!); o famoso “Barzinho da Noite” onde nos revezávamos entre as funções de chef, cantora, garçonete e cliente (ninguém queria ser a cliente) e as aulinhas com quadro verde, giz e varinha em punho dadas para todas as bonecas, foi natural que, a partir desse ambiente lúdico, eu participasse das leituras durantes as missas, apresentações teatrais, musicais, artísticas e recitação de poemas na escola. O meu poema favorito era “A Bailarina” de Cecília Meireles - “Esta menina, tão pequenina, quer ser bailarina...”. E queria a todo custo entrar na aula de balé, junto com minha prima e amigas. Mas o poema que o meu pai recitava era “O trabalho” de Olavo Bilac e, por medo de que eu não tivesse uma profissão “de verdade” e escolhesse o caminho “incerto” das artes fui matriculada numa escola de inglês e, do balé sobraram as apresentações de final de ano onde eu ficava na fila do gargarejo para aplaudir as minhas amigas; aplaudindo e vibrando em inglês, é óbvio (risos). Do inglês não trago mágoas, muito pelo contrário, amava as aulas e, ali, naquele ambiente decorado com mapas-múndi e cartazes com representações culturais e folclóricas dos países falantes da língua inglesa descobri que eu não pertencia à vida bucólica de uma cidadezinha do interior de Minas Gerais; eu queria conhecer o mundo, com toda a sua diversidade e possibilidades. Assim as minhas viagens literárias ganharam cor, forma e aromas. O hábito de leitura foi cultivado desde cedo e ainda carrego comigo. Quando estava na antiga quarta-série do primeiro grau, ganhei como prêmio um jogo “Resta Um” por ter lido todos os livros indicados no clube de leitura, os obrigatórios e não obrigatórios. Sou grata à minha mãe por ter incentivado e estimulado o hábito da leitura com o seu exemplo, sempre com um livrinho na mão à noite e pelas idas semanais de ônibus comigo à Biblioteca do Mobral, no centro da cidade, longe do nosso bairro, para pegar livros emprestados. Voltando ao meu “sonho acordada” de conhecer o mundo, e sabendo que eu só faria o que quisesse quando eu tivesse a minha casa e ganhasse o meu dinheiro, em 1994 ao finalizar o ensino médio me mudei de Itaúna para uma república com 3 amigas em Belo Horizonte, a capital, para fazer um cursinho pré-vestibular. Em Belo Horizonte conheci a liberdade mais de perto, não só na Praça da Liberdade onde pegava livros na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais e fazia caminhadas, mas também nas saídas para o Teatro Municipal onde assistia aos ensaios gratuitos das apresentações de companhias de balé e grupos teatrais e nas sessões de cinema fora dos shopping centers - espaços grandiosos 5 ainda não transformados em templos religiosos. Descobri, após ter sido aprovada na 1ª etapa e bater na trave na 2ª etapa do vestibular para Medicina (tinha pontos suficientes para ser aprovada em qualquer outro curso, quanta frustração) que existiam outras opções mais interessantes e que me atraíam mais do que os tradicionais cursos de Medicina, Engenharias e Direito. No teste vocacional do cursinho apareceu uma opção nunca antes imaginada, Farmácia. Meu Deus, como não tinha pensado em fazer Farmácia antes? E voltei às inquietações da minha infância de poder entender as plantas medicinais e comprovar (ou não) o que o conhecimento tradicional me apresentava, saber por que usar partes diferentes das plantas para propósitos diferentes, identificar quais as substâncias eram responsáveis por determinados efeitos, o céu era o limite. Fui aprovada no vestibular para Farmácia para ingresso na turma do 1º semestre de 1996. Desespero total porque queria entrar para a turma do 2º semestre de 1996. Ainda sem conhecer os meandros da graduação e numa corrida contra o tempo consegui trocar a minha vaga com a de uma caloura que havia sido aprovada para a turma do 2º semestre e assim, em março de 1996 fui passar uma temporada em Atlanta, nos Estados Unidos, antes de realmente começar a faculdade. Não foi um intercâmbio convencional, na verdade fui ajudar os meus tios recém radicados nos EUA. O trabalho do meu tio envolvia viagens frequentes e minha tia estava grávida, com uma filha de 5 anos em fase de alfabetização e finalizando a escrita de sua tese de doutorado em Ensino de Ciências com ênfase em Física, na Faculdade de Educação da USP-SP. Melhorei o meu inglês tanto quanto possível interagindo com os vizinhos do condomínio, fui voluntária durante os Jogos Olímpicos de Atlanta e, de quebra, ganhei ingressos para assistir vários jogos, inclusive o ouro brasileiro do vôlei masculino e a prata feminina no basquete, fui para a Disney. Entretanto, uma das coisas que mais me marcaram foram as idas e vindas a uma loja de reproduções e fotocópias para inserir as fotos do trabalho desenvolvido pela minha tia com os professores e alunos do ensino fundamental - o objeto de sua pesquisa - no texto da sua tese, além das transcrições de áudios de depoimentos dos alunos e professores. Este foi o meu primeiro contato direto com o que era uma pós-graduação. Sou feliz por ter feito a minha já na época dos scanners, powerpoints e não depender tanto de xerox, transparências e, muito menos, de slides e projetor de slides em carrossel. No início de agosto retornei ao Brasil para começar o curso de graduação com uma mala cheia de experiências e vivências. O campus da UFMG na Pampulha é lindo, fiquei deslumbrada! Eu não andava, flutuava de prédio em prédio, interagindo com alunos de diferentes cursos durante as calouradas, festas e em disciplinas. Foi na disciplina de Química Geral Experimental, 1º ano do curso, onde a turma era mista e as duplas de trabalho eram formadas por alunos dos cursos de Farmácia e várias Engenharias que o professor Ruben Dario Sinisterra Millan me disse que eu tinha talento para a pesquisa. Terminada a disciplina o procurei para pedir um estágio de iniciação científica, mas ele estava de saída para o seu pós-doutorado no exterior e foi assim que bati na porta da sala da profa. Jacqueline Takahashi do Departamento de Química, minha professora de Química Orgânica I e também farmacêutica onde consegui o estágio e me encantei com tantas possibilidades que se abriam. Nunca mais voltei para a Farmácia, ou melhor, continuei o curso e me formei, mantenho as amizades da turma da graduação e frequentando os nossos reencontros pós formatura, mas nunca me senti pertencendo à Faculdade de Farmácia. O meu lugar era o Departamento de Química do ICEx (Instituto de Ciências Exatas). A minha intenção era desenvolver um trabalho que hoje entendo como fitoquímica clássica, mas a profa. Jacqueline Takahashi havia acabado de retornar do seu pós-doutorado na Inglaterra com uma linha de pesquisa nova, Biotransformações de Produtos Naturais e então eu fui trabalhar com fungos filamentosos para realizar pequenas modificações estruturais de compostos extraídos de plantas, e quiçá aumentar a atividade dos compostos de partida. Esta foi uma época de grandes descobertas. Além de aprender a fazer pesquisa científica e colocar em prática os conhecimentos adquiridos nas disciplinas da graduação conheci o Humberto. Quem era aquele aluno do curso de Química que fazia 6 sua iniciação científica na físico-química e veio fazer o TCC na orgânica, no “meu lab”? Só porque era químico e estava no final do curso se achava superior às “ratas da farmácia”- termo usado pelos alunos da Química para se referir às alunas da Farmácia. Imagina como seria o ano seguinte quando ele definitivamente se mudaria para o nosso lab para fazer o mestrado? Até que foi educadinho e nos convidou para a colação de grau (não fui) e para a festa de inauguração da sua república (fui). Para a minha total surpresa ele tinha a coleção completa de CDs do Marillion, uma banda inglesa de rock neoprogressivo que eu amo e que eu havia acabado de perder um show em BH porque o meu namorado da época não curtia. Pensei: “Bom, uma pessoa que curte Marillion não pode ser tão ruim assim”. E entre trocas de CDs, ajuda para confeccionar o meu primeiro poster e organizar o ônibus para a 22ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (1999) fui conhecendo aquele sapo que virou um príncipe após o nosso primeiro beijo na praça do Palace Cassino em Poços de Caldas. Abro um parêntese para contar que, coincidência ou não, no momento que escrevo esta parte do texto relembrando meu período de IC e início de namoro com o Humberto, recebo um convite da minha orientadora de IC, a profa. Jacqueline Takahashi para participar de uma mesa redonda sobre Química Verde num congresso internacional que ela está organizando em BH. Convite aceito na hora. Imagina se vou perder a oportunidade de revê-la e visitar para o campus da UFMG! Durante os anos de graduação fiz vários minicursos extracurriculares e complementares à minha formação acadêmica, participei de manifestações políticas em Brasília em prol da profissão farmacêutica e em BH em prol da universidade pública, gratuita e de qualidade, viajei para participar de encontros estudantis e tive a oportunidade de participar de reuniões regionais e anuais da SBQ, apresentando pôsteres e até uma apresentação oral além dos congressos internos de IC da UFMG. Durante a IC não tínhamos acesso a cromatógrafos líquidos nem gasosos para monitorar as reações de biotransformação. Tudo era realizado por CCD e RMN. Ah, aqueles espectros de RMN de 1H cujos sinais mais intensos eram os ácidos graxos extraídos das paredes dos fungos filamentosos me deixavam intrigada; como realizar a etapa de extração sem extrair os ácidos graxos que não nos interessavam? Nesta época fui apresentada ao Rochel Monteiro Lago, recém-contratado na UFMG e professor do Humberto das disciplinas de Catálise e de Química Ambiental. Nunca fui aluna do Rochel, mas nos aproximamos por causa das caronas para a UFMG, escaladas e acampamentos aos finais de semana. Da mentoria e amizade surgiu o convite para viajarmos com ele para Campinas, sua cidade natal, e conhecermos a UNICAMP, sua universidade de origem. No Instituto de Química da UNICAMP tinha um grupo de três professores que estava iniciando a linha de pesquisa em Biocatálise no Estado de São Paulo e, de certa forma, no Brasil. A viagem para Campinas foi marcada para outubro para aproveitarmos o feriado. No caminho paramos para escalar em Varginha, cidade conhecida pela aparição de ETs e que, segundo diziam os simpatizantes de teorias da conspiração, foi a cidade onde um desses ETs foi capturado e era mantido no subsolo da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Aquele mesmo deslumbramento sentido ao entrar pela primeira vez no campus da UFMG se repetiu quando conheci a UNICAMP e o Instituto de Química, com uma infraestrutura de dar inveja a qualquer universidade do exterior! Mais tarde descobri que além da infraestrutura física eu encontraria pessoas maravilhosas dentre os professores, os funcionários e estudantes da pós- graduação dispostos a somar e dividir. Me reuni com o prof. José Augusto Rosário Rodrigues e com a profa. Anita Marsaioli, que juntamente com o prof. Paulo Moran compunham o grupo de Biocatálise e Síntese Orgânica do IQ-UNICAMP apoiado por um projeto temático da FAPESP. Optei por trabalhar com o prof. José Augusto e, apesar de não ter sido aprovada no processo seletivo para a pós- graduação, em fevereiro de 2001 o Humberto e eu nos mudamos para a casa da D. Dirce e Sr. Roger pais do Rochel e nossa família estendida em Campinas. Comecei a frequentar o laboratório do prof. José Augusto para aprender técnicas básicas de síntese orgânica e cursar algumas disciplinas da 7 graduação como ouvinte para sanar as lacunas de aprendizado em função de ter cursado graduação em Farmácia. Naquela época o processo seletivo da PG durava 4 (quatro) dias, um dia para a prova de cada uma das áreas: Química Geral e Inorgânica, Analítica, Orgânica e Físico-Química, com 10 (dez) questões em cada prova. Ouvinte na disciplina de Química Inorgânica, aprendi com o prof. Oswaldo Luiz Alves - o imortal, como ele mesmo se designava contando para a classe que após receber o convite para fazer parte da Academia Brasileira de Ciências disse para sua esposa que poderia cancelar o plano de saúde porque passaria a ser imortal – aprendi não só o conteúdo programático, mas principalmente que deveria investir em mim mesma e na minha carreira, fazer boas escolhas, ler e aproveitar as oportunidades se quisesse chegar em algum lugar. Andava pelos corredores do IQ vendo ao vivo e em cores aqueles nomes famosos que lia nos boletins da SBQ, como o Luiz Carlos Dias à época Secretário Geral da SBQ e que mais tarde se tornaria um amigo querido. Quem diria! Em julho deste ano, 2001, voltei para BH para as celebrações de formatura e casamento. Como eu já sabia que queria continuar na área de Química e após longas conversas com professores próximos e mentores (Jacqueline Takahashi, Rochel Lago, Valmir Juliano, Maria Helena Araújo, Liu Yu, dentre outros) decidi cursar “apenas” as disciplinas necessárias para me graduar como farmacêutica e não cursei as disciplinas de especialização em Alimentos, Análises Clínicas ou Indústria. A minha opção havia sido ir para Campinas para me preparar para o processo seletivo da PG que aconteceria no meio do ano. Foram duas semanas de festividades para deixar qualquer grupo cigano com inveja. Na primeira semana missa, encontro ecumênico, colação de grau e o baile de formatura. Quatro dias de reencontro com os amigos, festejos e, na semana seguinte o casório! O casamento civil foi na terça-feira, no sábado o casamento na igreja e no domingo o Humberto, eu e a D. Dirce (mãe do Rochel) voltávamos para Campinas de ônibus, como retirantes, carregando todos os presentes de casamento que conseguíamos, inclusive a TV de tubo, para montar o nosso primeiro lar em uma edícula em Barão Geraldo. Finalmente me matricularia no mestrado e começaria duas novas etapas simultaneamente, a vida de casada e de pós-graduanda. Os anos de pós-graduação no IQ-UNICAMP foram inesquecíveis, “o grande ensaio” para as atividades de pesquisa, ensino e extensão que viriam a fazer parte do meu dia a dia na carreira profissional solo como docente no IQ-UNESP. No mestrado desenvolvi um projeto que envolveu a síntese quimioenzimática racêmica de um derivado da nikkocimicina B, uma substância inibidora da enzima quitina sintase e com atividade antifúngica. Após 7 (sete) rotas sintéticas propostas pelo prof. José Augusto e desenvolvidas por outros alunos do grupo com resultados insatisfatórios e frustrantes, a rota que eu recebi funcionou maravilhosamente bem, o resultado de muito conhecimento acumulado ao longo dos anos. As etapas desta rota envolviam reações e técnicas que eu desconhecia. Para mim foi um grande desafio conciliar todo esse aprendizado e dividir o tempo entre as demais atividades da pós-graduação - disciplinas e estágio a docência - com as atividades da permanência estudantil - trabalho remunerado no arquivo Edgard Leuenroth e na Biblioteca do Instituto de Biociências - e as aulas de Química ministradas no Cursinho Alternativo (pré-vestibular) Herbert de Souza que permitiram a minha manutenção em Campinas e realizar o mestrado sem bolsa. Quantas vezes ouvi colegas da pós-graduação dizerem que eu era louca de trabalhar de graça para o prof. José Augusto. Isso nunca me abalou, eu sempre soube aonde queria chegar e encarei como um investimento em mim mesma e na minha carreira. Trabalhava de domingo a domingo porque quanto antes terminasse o mestrado mais cedo teria a possibilidade de conseguir uma bolsa de doutorado. Aprendi a administrar o meu tempo. Quem pensa que foram tempos de sofrimento se enganam. Sem me dar conta, cuidei da minha saúde mental. Com o consentimento do prof. José Augusto, o Humberto e eu éramos liberados para sair mais cedo às terças-feiras para assistir às sessões de cinema no Cine Jaraguá já que neste dia mulheres acompanhadas pagavam ½ entrada cumulativa com ½ entrada de estudante, ou seja, eu ia de graça. As aulas de Kung-fu 3x por semana no início da 8 noite no canteiro central da Praça do Ciclo Básico foram outra válvula de escape e networking com alunos de outros cursos, principalmente da Biologia. Já dizia o ditado “quem tem amigo tem tudo”, eu complementaria “quem tem contatos tem tudo”. No estágio à docência realizado não na área de Orgânica, mas na Analítica, na disciplina de Química Analítica Experimental ampliei minha rede de contatos, conheci e convivi com os professores responsáveis pela disciplina naquele semestre L. M. Aleixo, J. S. Barone, João Carlos de Andrade e M. Tubino e a outra estagiária docente, a Márcia, da área de Físico-química. Além do aprendizado, este estágio à docência me propiciou uma remuneração que foi muito bem-vinda à época, e o contato com o prof. Tubino que nos indicou para a equipe de aplicação de provas do Vestibular FUVEST, coordenada pelo prof. Pedro Volpe. Conseguindo uma graninha aqui outra ali para me manter, complementando minha formação acadêmica principalmente na área de ensino e com a barriga grudada na bancada defendi a minha dissertação de mestrado em 18 (dezoito) meses, que rendeu a apresentação de 2 (dois) trabalhos em congressos científicos (RASBQ e BMOS - Brazilian Meeting on Organic Synthesis) sendo o trabalho do BMOS premiado como melhor pôster e 2 (dois) artigos científicos, publicados após a defesa da dissertação. Defendi a dissertação numa manhã de sexta-feira e à tarde fui à seção de pós-graduação levar a documentação da defesa de mestrado e me matricular no doutorado. Na ocasião da minha entrada no doutorado, a UNICAMP estava implementando o “Programa Piloto de Bolsas para Instrutores Graduados” cujo objetivo era expandir os programas de Pós- Graduação da UNICAMP e dar oportunidade para que pós-Graduandos participassem de atividades didáticas nos cursos de graduação da Universidade, através do pagamento de bolsas de Doutorado (no valor da bolsa FAPESP) pelo período de 4 (quatro) anos. O processo seletivo usou os mesmos critérios acadêmicos aplicados na seleção para ingresso no curso da Pós-Graduação em Química, incluindo também uma avaliação do potencial para atividades didáticas através de uma prova didática avaliada por uma banca composta por 4 (quatro) membros, um professor de cada um dos departamentos - Inorgânica, Orgânica, Analítica e Físico-Química. O IQ recebeu 10 (dez) bolsas e as distribuiu ao longo de 2-3 anos. Fiquei entre os 3 (três) classificados que receberiam as 3 (três) bolsas daquela primeira rodada “teste”. Alívio, agora teria uma bolsa! Fechei o ciclo do mestrado convivendo com o Abel, o gato que já era morador da edícula e que me acompanhou durante todo este período, principalmente em seus dias finais, deitado ao meu lado nas inúmeras madrugadas durante a escrita da dissertação. Continuamos a morar praticamente na mesma rua, agora em um prédio com piscina e apartamento duplex. Uau, quanta mudança! Desta vez a moradia veio sem gatos. Para nossa surpresa ao desencaixotar a mudança recebemos a ilustre visita da Mia, a gata siamesa da nossa vizinha e que passaria a ser nossa inquilina aos finais de semana até que os nossos futuros filhotes Bruce e Tila fossem abandonados no prédio, alguns meses após a nossa mudança. A bolsa do Programa Piloto, como passou a ser chamado, incluía a dedicação integral ao curso de Doutorado e a 8 (oito) horas semanais de atividades didáticas em cursos de graduação em Unidades da UNICAMP. As atividades didáticas incluíam a docência plena em disciplinas de graduação, ministrando e planejando disciplinas e avaliando estudantes matriculados nas mesmas, com a supervisão das atividades didáticas por docentes designados pela Comissão de Graduação. A cada seis meses tinha que entregar um relatório descrevendo as atividades de pesquisa e as atividades didáticas pois uma não podia interferir negativamente na outra. O ponto fraco deste programa foi a não previsão de períodos sanduiche no exterior para os bolsistas. Nos 2 (dois) primeiros anos do doutorado fui designada para desenvolver as atividades didáticas no curso de graduação de Tecnologia em Saneamento Ambiental, no então CESET – Centro Superior de Educação Tecnológica, hoje conhecido como Faculdade de Tecnologia da Unicamp no campus de Limeira. Ali, 9 fui convidada a fazer parte do corpo docente e fiquei responsável pela disciplina Laboratório de Saneamento no Curso de Extensão Gestão de Efluentes Líquidos Industriais ministrado aos sábados, pelo período de 6 (seis) meses. Mais uma vez tive o apoio do meu orientador, o prof. José Augusto, desde que as minhas atividades do projeto do doutorado no laboratório não fossem prejudicadas. Continuei com o projeto sobre o desenvolvimento de rotas quimioenzimáticas para a síntese da Nikkomicina B, mas desta vez uma rota assimétrica. Além da rota assimétrica proposta pelo prof. José Augusto (rota A), dei minha contribuição propondo uma segunda rota assimétrica (rota B). As duas rotas foram igualmente bem-sucedidas e publicadas no Journal of Organic Chemistry, uma das revistas de maior prestígio na área de Química Orgânica. Paralelamente desenvolvi projetos laterais em colaboração com o Humberto, cujo foco principal era a imobilização dos biocatalisadores e estudo de mecanismos de reações por Espectrometria de Massas, todos resultados publicados em periódicos de circulação internacional e seletiva política editorial. As participações anuais em congressos científicos nacionais e internacionais, como no Uruguai para apresentação oral de resultados do doutorado, se tornaram as nossas “viagens de férias”. Além do curso de extensão ministrado no CESET, me envolvi com as atividades extensionistas como o UPA – Unicamp de Portas Abertas – na função de monitora do IQ-UNICAMP, no laboratório didático de Orgânica realizando a visita guiada dos visitantes aos experimentos demonstrativos e com o curso de formação continuada do programa Teia do Saber, implantado em 2003 pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo com o propósito de oferecer aos professores da rede pública de ensino médio e fundamental os subsídios complementares para melhorar a qualidade do processo de ensino/aprendizagem. No segundo ano do doutorado passei a integrar a equipe da correção das provas do vestibular UNICAMP. Naquele ano fui admitida para a correção da 2ª fase Vestibular UNICAMP - 2004 e a partir do ano seguinte passei a corrigir as provas da 1ª e 2ª fase do vestibular, função que se estendeu até 2009 quando deixei a UNICAMP. Durante o período intenso de correções de provas de vestibular convivi com vários professores experientes e fui aprimorando as estratégias de formulação e correção de provas, principalmente com os profs. Pedro Faria e José Alencar Simonini - o Cajá - especialistas na área de ensino. Em meio às centenas de caixas de provas havia os momentos de descontração e mais networking com os profs. Munir Skaf, Nelson Morgon e Fernando Coelho, este último junto com a Wanda viriam a ser um dos casais de amigos mais queridos e nossos afilhados de casamento. Com o final do doutorado se aproximando as conversas com os colegas e amigos contemporâneos da pós-graduação pairavam sobre as possibilidades de pós-doutoramento e os concursos públicos em universidades que lentamente começavam a acontecer. Compartilhando os mesmos laboratórios e orientadores desde a minha Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, mas sempre em projetos distintos, o Humberto e eu nos concentramos no desenvolvimento de habilidades que nos diferenciasse, estratégia fundamental para atingirmos o nosso objetivo maior: sermos os 2 (dois) contratados na mesma Universidade. Com esse objetivo em mente, no período do pós-doutorado nos vimos em laboratórios diferentes pela primeira vez. O Humberto foi para o Departamento de Processos Biotecnológicos da Faculdade de Engenharia Química seguido pelo Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas do IQ, ambos na UNICAMP enquanto eu fui trabalhar com Ressonância Magnética Nuclear, utilizando a sequência de pulso de STD – Saturation Transfer Difference para o mapeamento de interações enzima-substrato e com o desenvolvimento de triagens enzimáticas de alta eficiência sob a supervisão da prof. Anita Marsaioli, no IQ-UNICAMP. Para quem fez o mestrado sem bolsa, no pós-doc pude escolher entre a bolsa do CNPq e a bolsa da FAPESP. Optei pela bolsa FAPESP. O início do pós-doutorado foi marcado pela entrada de mais um filhote em nossa vida, o Leo, resgatado nas imediações do nosso prédio em uma noite chuvosa do carnaval de 2008. 10 No período dos dois anos do pós-doc fui credenciada também como pesquisadora colaboradora no IQ-UNICAMP. O convívio mais próximo com a profa. Anita complementou a minha formação profissional e pessoal. Nas viagens nacionais e internacionais juntas onde quartos e confidências foram compartilhados, aprendi a fazer malas enxutas, recebi conselhos de como evitar assédios e pude entender várias atitudes da Anita como pesquisadora, orientadora, professora e gestora, algumas das quais foram fonte de inspiração para as minhas próprias decisões. Leitora voraz, o compartilhamento de livros e indicação de títulos entre nós duas continua até os dias de hoje. Substituí-la em uma conferência internacional durante o principal congresso da área - Biotrans - em Bern, na Suíça, para apresentar os resultados parciais do meu pós-doc foi uma oportunidade única e desafiadora da qual seria sempre grata. Deste período levo os dois artigos científicos publicados, um capítulo de livro, alguns congressos e a minha eterna gratidão à sua sensibilidade e assertividade no período em que minha mãe sofreu um AVC e precisei me afastar do IQ-UNICAMP e passar pouco mais de um mês em BH, durante os 20 dias em que minha mãe permaneceu em coma e nas semanas seguintes de recuperando até a tão esperada alta. O combinado foi que eu deveria me dedicar o tempo necessário à minha mãe e depois compensar o tempo ausente trabalhando no lab após a rescisão do termo de outorga da bolsa FAPESP. Justo, justíssimo. Ao retornar de BH em fevereiro de 2009 não tinha mais residência em Campinas. O Humberto havia sido convocado para assumir a 1ª vaga do concurso público para Professor Assistente Doutor no Departamento de Bioquímica e Microbiologia do Instituto de Biociências da UNESP em Rio Claro. Passei os últimos seis meses do pós-doc sob a supervisão da profa. Anita viajando diariamente de Rio Claro para Campinas e vice-versa. UNESP – Instituto de Biociências, Campus de Rio Claro Ao dirigir pelas Rodovias Dom Pedro I, Anhanguera e Washington Luiz ia passando gradativamente do movimento acelerado e caótico da macrorregião Campinas-Limeira à imensidão rubro-verdejante de canaviais em Cordeirópolis-Santa Gertrudes e ali, ouvindo músicas e com o pensamento voando solto fui planejando o futuro e estabeleci os planos A e B para a nova etapa da minha vida que se aproximava: plano A – submeter um projeto Jovem Pesquisador FAPESP tendo o IB-UNESP como instituição sede e torcer para que houvesse possibilidade de me tornar docente na UNESP em Rio Claro; plano B – abrir uma pequena empresa de base biotecnológica. Comecei pelo plano A. A consulta ao então chefe do Departamento de Bioquímica e Microbiologia, prof. José Carlos Marconato, sobre o interesse em abrigar um projeto JP foi positiva. Aliás o acolhimento do Marconato e Suzi, sua esposa e profa. do Departamento de Matemática do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, foram espetaculares e resultaram em uma amizade franca que nos empenhamos em cultivá-la reciprocamente até os dias atuais. Naquele segundo semestre de 2009 já fixada exclusivamente em Rio Claro dividi o tempo entre escrever e submeter o projeto Jovem Pesquisador para a FAPESP e ministrar a disciplina Métodos Analíticos de Macromoléculas Biológicas para o curso de graduação de Ciências Biológicas, como professora substituta aprovada em concurso público no IB-UNESP, campus de Rio Claro. Em 2010 o projeto JP foi aprovado e pude equipar o espaço de laboratório, gentilmente cedido pelo Humberto, com os instrumentos, reagentes e alunos de IC bolsistas FAPESP necessários para o desenvolvimento do mesmo. Até então, no planejamento da minha carreira, a lacuna da experiência em grupo de pesquisa internacional ainda não havia sido preenchida. Com o início da coordenação do meu primeiro projeto solo e com a responsabilidade da orientação dos alunos bolsistas de IC, não seria prudente me ausentar do país por longo período. 11 Desde a época da pós-graduação vinha acompanhando de perto os trabalhos desenvolvidos na Universidade Tecnológica de Delft – TU Delft- na Holanda, tanto do grupo de Biocatálise e Síntese Orgânica liderado pelo prof. Roger Sheldon, um ícone da Química Verde, quanto do grupo do prof. Adrie Straathoof, que visitou o laboratório do prof. José Augusto e nos deu dicas preciosas no início dos trabalhos com imobilizações de células com alginato de cálcio, durante uma de suas muitas estadias no Brasil em função da estreita parceria entre a FEQ (Faculdade de Engenharia Química) da UNICAMP e a TU Delft. Financiada com recursos do projeto JP me inscrevi no curso de especialização - Biocatalysis - com duração de uma semana, oferecido pela TU Delft e ministrado por expoentes da área de Biocatálise da academia como os prof. Roger Sheldon, Isabel Arends, Frank Hollman, Ulf Hanefeld, Uwe Bornscheuer e Adrie Straathof e pesquisadores de importantes indústrias de base biotecnológica com a DSM. Era a oportunidade de conhecer in locu a TU Delft, sua infraestrutura e decidir se seria o local apropriado para realizar um estágio de curta duração. O curso foi simplesmente sensacional. Foi a confirmação de que a disciplina de Biocatálise que eu ministrava em Rio Claro como disciplina optativa no curso de Pós-Graduação em Microbiologia Aplicada estava afinada com o estado da arte na área de Biocatálise. Além de Delft ser uma cidadezinha linda e aconchegante, o grupo de Biocatálise e Síntese Orgânica, à época coliderado pela prof. Isabel Arends e pelo prof. Sheldon (recém aposentado, mas exercendo atividades como professor voluntário e fundador da empresa CLEA Technologies incubada dentro da universidade) era realmente o que eu buscava para estabelecer o vínculo internacional que me faltava. Após regressar desta semana de curso em abril de 2011, entrei em contato com a profa. Isabel Arends e a Dr. Linda Otten, responsável pela parte de biologia molecular que me interessava, e comecei a organizar o estágio de 60 dias para outubro-dezembro daquele ano. Viajei para a Itália para apresentação de um pôster no Biotrans, o maior congresso internacional na área de Biocatálise, onde me encontrei com os profs. Isabel Arends, Frank Hollman, Ulf Hanefeld e os demais integrantes do grupo Biocatálise e Síntese Orgânica e, ao final do congresso, seguimos para Delft-Holanda onde passaria os próximos 2 meses. O tempo no grupo de Biocatálise e Síntese Orgânica da TU Delft foi curto, porém intenso. Das reuniões de grupo semanais no horário do almoço com a participação inclusive do prof. Roger Sheldon, os happy hours às sextas-feiras, a convivência com integrantes de todas as partes do mundo (os holandeses eram a minoria) e o trabalho de bancada aprendi não só as técnicas de biologia molecular que tanto buscava, mas também uma nova forma de organização de trabalho, modo de pensar não só no estado da arte em Biocatálise mas também na gestão de projetos focada em parcerias mais estreitas entre a universidade e empresas para fomento dos projetos de pesquisa. Em termos práticos não consegui resultados suficientes para publicação dos resultados obtidos na forma de artigo não só porque o tempo foi curto, mas porque, infelizmente, semanas antes da minha viagem para Delft a Dra. Linda Otten, sofreu um grave acidente que a deixou impossibilitada de frequentar a universidade pelo período de um mês em decorrência de cirurgias no quadril e pernas. Fui visitá-la no hospital e saí de lá com o empréstimo da sua bike ultrassofisticada, passei a me sentir uma holandesa P.A., e o agendamento de visitas semanais que aos poucos foram se transformando em reuniões de trabalho. Os resultados parciais foram apresentados em congressos científicos, mas, o maior fruto deste período foi a colaboração e amizade estabelecida com a profa. Isabel Arends e com o prof. Frank Hollman. De volta ao IB-UNESP, fomos contemplados em um edital interno da PROPG para a vinda de professor visitante estrangeiro e a profa Isabel Arends passou 20 dias em Rio Claro onde ministrou disciplina para o curso de Pós-graduação em Microbiologia Aplicada, proferiu palestras além das discussões científicas e convívio com os alunos do nosso grupo de pesquisa sempre bastante enriquecedoras. A profa Isabel Arends ainda nos visitaria novamente no Brasil por mais duas vezes, 12 no Instituto de Química da UNESP e, na sua terceira visita ao Brasil fui convidada por ela para fazer parte de uma mesa redonda, juntamente com o prof. Frank Hollman, em um evento científico bilateral Brasil-Holanda realizado na UNICAMP que contou inclusive com a presença da consulesa holandesa. Pouco tempo depois a profa. Isabel Arends foi convidada a se vincular à Universidade de Utrecht, também na Holanda, como diretora do Instituto de Ciências e professora de Química Orgânica Sustentável e o nosso contato passou a ser mais pessoal e menos profissional. A parceria científica continuou com o prof. Frank Hollman e tem gerado publicações científicas. No início de 2012 foram publicados vários editais de concursos públicos para contratação de professor. Destes me inscrevi nos concursos do IQ-UNICAMP, porém não fui realizar o concurso pela falta de possibilidade de absorção do Humberto caso eu fosse aprovada em 1º lugar, no IQ-USP no qual fui aprovada e classificada em 2º lugar e no IQ-UNESP no qual fui aprovada e classificada em 1º lugar. UNESP – Instituto de Química, Campus de Araraquara No dia 01 de agosto de 2012 assinei o meu contrato de professora assistente doutora no IQ- UNESP e na noite deste mesmo dia entrei pela primeira vez em uma sala de aula para ministrar disciplina como professora do quadro efetivo de docentes da UNESP. Nesta ocasião o Humberto estava afastado do Brasil passando um período de dois meses como professor visitante na Universidade da Lousiana (LSU) nos EUA. O mês de agosto foi marcado novamente pelas viagens diárias intermunicipais, desta vez de Araraquara a Rio Claro pois eu precisava cuidar dos nossos filhotes felinos. Com o retorno do Humberto ao Brasil em setembro, aluguei um apartamento provisório em Araraquara e as viagens passaram a acontecer apenas aos finais de semana. Os meses seguintes seriam marcados por negociações relativas à transferência do Humberto do IB-UNESP Rio Claro para o IQ-UNESP Araraquara. A vaga do meu concurso de contratação foi fruto da transferência do prof. Wagner Vilegas para o campus da UNESP em São Vicente. Herdei sua sala e parte de seu laboratório que era compartilhado com a profa. Lourdes Campaner dos Santos. Durante os meses iniciais que seguiram à sua transferência, o prof. Wagner vinha com frequência ao IQ para ministrar disciplina na pós- graduação e finalizar a orientação de alguns alunos. Neste período pude desfrutar de sua companhia em vários almoços e cafés onde ele compartilhava seu conhecimento sobre o funcionamento da UNESP e me orientou a protocolar a solicitação de transferência do Humberto. Essa orientação foi fundamental para o desenrolar do processo que estava bastante moroso à época. Serei eternamente grata ao Vagner por isso. A transferência do Humberto finalmente se concretizou em maio de 2013 graças ao empenho dos diretores das duas unidades, o prof. Jonas Contiero - nosso colega no Departamento de Bioquímica e Microbiologia (no qual o Humberto estava lotado) e diretor do Instituto de Biociências de Rio Claro e o prof. Leonardo Pezza - nosso colega no Departamento de Química Orgânica (onde o Humberto passaria a ser lotado) e diretor do Instituto de Química. Fui muito bem acolhida no IQ-UNESP por todos, em especial pela chefia do Departamento de Química Orgânica (DQO), prof. Alberto Cavalheiro e profa. Ângela Regina Araújo, e os demais colegas/amigos docentes profs. Dulce Helena Siqueira Silva, Ian Castro-Gamboa, Lourdes Campaner dos Santos, Lúcia Xavier, Márcia Nasser, Maysa Furlan, Leonardo Pezza, Vanderlan Bolzani e o Zelão (José Eduardo de Oliveira). A profa. Isabele Nascimento só conheci meses depois quando ela retornou da licença maternidade, fomos acolhidas uma pela outra, mutuamente. A acolhida por parte dos funcionários técnico administrativos do DQO, Ângela Boldrin (secretária), Marquinhos, Márcia Lara, Albertinho, João Bronzel, Juliana, Lucinéia e Nivaldo também foi generosa. 13 Nunca esquecerei do meu primeiro “tour” pelas salas e laboratórios do DQO com o Alberto Cavalheiro então chefe do departamento, me apresentando a todos. A pergunta que mais ouvi foi “Com qual família de plantas você vai trabalhar?”. Era o início de uma nova era. Até então o DQO era conhecido e reconhecido pela maioria absoluta de docentes trabalhando na área de Produtos Naturais, cada um com sua família de plantas. As exceções eram o prof. Pezza, especialista em Química Analítica e que foi parar no Departamento de Química Orgânica por “razões do destino” e o prof. Zelão que há muitos anos se dedicava à gestão do CEMPEQ (Centro de Monitoramento e Pesquisa da Qualidade de Combustíveis, Petróleo e Derivados). Ambos não realizavam pesquisas diretamente na área de Química Orgânica. A minha chegada veio acompanhada de uma nova linha pesquisa para o departamento: Biocatálise – uma ferramenta para a Síntese Orgânica guiada pelos preceitos da Química Verde. A partir daqui, para fins de clareza, vou dividir o texto nos 4 eixos de atividades que desempenho no IQ: ensino, pesquisa, extensão e gestão. Ensino Graduação Na área de Química Orgânica, o então Departamento de Química Orgânica (DQO) e atual Departamento de Bioquímica e Química Orgânica (DBQO) oferece disciplinas para os cursos do Instituto de Química - Bacharelado em Química, Bacharelado em Química Tecnológica, Licenciatura em Química, Engenharia Química e os cursos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Farmácia e Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia. Nos meus primeiros anos fui designada a ministrar disciplinas de Química Orgânica I, II e Química Orgânica Experimental para o curso de Farmácia nos períodos integral e noturno. Ministrar aulas para o curso de Farmácia é sempre um desafio em função da heterogeneidade das turmas. Uma parte quer seguir a área da indústria farmacêutica, que precisará bastante dos conhecimentos químicos, em especial Química Orgânica e Química Analítica, e gosta da Química, porém a outra parte é mais afeita às Análises Clínicas e Assistência Farmacêutica e dependerá menos dos conhecimentos químicos para o sucesso profissional, detestando esta área e se dedicando muito pouco ou quase nada a ela. Para mim isso não é novidade, a minha turma da graduação também era assim. Relatar as minhas experiências enquanto estudante de Farmácia para os alunos do curso de Farmácia, mostrar a importância das disciplinas de Química para aquela metade que se importa e estimular a outra metade a se livrar o quanto antes desse “pesadelo”, sempre surtiu o efeito desejado de bom relacionamento com os alunos e o engajamento deles. Não à toa anualmente sou convidada a contribuir com atividades da Jornada Farmacêutica da UNESP seja sugerindo temas para as palestras convidadas, avaliando os trabalhos submetidos, a apresentação dos pôsteres e até mesmo ministrando palestras. Assim como eu fiz a minha Iniciação Científica no Departamento de Química, alguns estudantes da Farmácia me procuraram e fizeram suas Iniciação Científicas comigo, inclusive escolheram a área de Química com ênfase em Biocatálise para o seu Trabalho de Conclusão de Curso. Naturalmente passei a escolher ministrar disciplinas dos cursos do IQ para conhecer melhor a dinâmica da minha Unidade, que é diferente da FCFar (Faculdade de Ciências Farmacêuticas), e me aproximar dos alunos da Química. Os primeiros contatos foram com os alunos do curso de Licenciatura em Química, curso do período noturno. Turmas menores, alunos mais maduros – ainda que a faixa etária seja praticamente a mesma dos alunos do período integral - e com senso crítico mais aguçado. Aqui o desafio é estar, de certa forma, submetida às expectativas em termos de didática daqueles que estudam a fundo as práticas pedagógicas, nomeando-as uma a uma e seus 14 idealizadores e simpatizantes. Descobri e continuo descobrindo que de forma inconsciente e sem ter tido um estudo formal sobre diferentes metodologias e práticas pedagógicas eu as uso, sempre as usei nas minhas aulas. Agora estou aprendendo a nomeá-las (risos). Para mim a arte de ensinar é vocacional, é bom senso, é ter um profundo respeito e compaixão entre as duas vias – professor e estudante – porque o processo de ensino/aprendizagem é mútuo para ambas as partes. A primeira vez em que recebi uma honraria, fruto da minha função de professora, veio dos alunos da Licenciatura. Fui escolhida por eles para ser a professora homenageada da turma de formandos do 1º semestre de 2016. Não tenho palavras para descrever a emoção, gratidão e o reconhecimento de que estou trilhando o caminho certo. Nesta esteira vieram alunos da Licenciatura para trabalhar comigo e desenvolver projetos de Iniciação Científica, de Extensão e de Pós-graduação. Ministrar disciplinas e criar vínculos com os alunos do Bacharelado em Química e Bacharelado em Química Tecnológica também tem sido prazeroso e desafiador. As turmas são maiores assim como o número de horas/aula das disciplinas (6 horas semanais em detrimentos das 4 horas semanais da Licenciatura) e há a competição pela atenção entre a minha aula e algum assunto importante a ser resolvido no DAWS (Diretório Acadêmico Waldemar Saffiotti), grupo PET, Empresa Júnior ou grupo de teatro Alquimia. Tenho a impressão de que, nesta competição, as minhas aulas estão ganhando ou pelo menos, está empatada. Os “feedbacks” espontâneos dos alunos tem sido positivo. Não há força motriz maior que receber um e-mail, uma mensagem no Instagram ou WhatsApp, um bilhetinho em papel à moda antiga ou um abraço agradecendo o semestre letivo. O esforço investido no ensino de graduação foi novamente recompensado. Fui convidada para ser a paraninfa da 64ª turma dos formandos do IQ em 2019, escolhida pelos alunos dos cursos de BQ-BQT. Recentemente tive o enorme prazer de receber o convite para ser a Patronese da turma dos formandos do 1º semestre de 2023. Já que estamos falando de reconhecimento e homenagens, além das honrarias individuais, também as recebi, mas agora como parte do “casal Milagre”. O Humberto e eu tivemos a honraria de sermos homenageados no Dia do Químico em 2018 e na 51ª Semana da Química em 2021. Isso porque, tenho tido a oportunidade de ministrar aulas para os alunos de todos os cursos do IQ, na disciplina optativa Biocatálise: Introdução e Fundamentos de Química Verde que foi substituída pela disciplina optativa Química Sustentável, ministrada em parceria com o Humberto. Ainda não ministrei disciplinas exclusivamente para o curso de Engenharia Química. Esta situação mudará em breve já que tenho a disciplina de Química Orgânica II, 2º semestre 2023, atribuída para os futuros engenheiros. Novos desafios pela frente com um novo perfil de profissionais. Atravessar a pandemia de Covid-19 foi duro para todos, mas de grande aprendizado para aqueles que estavam dispostos a enxergar o copo meio cheio. Diferente de outras Universidades, a UNESP ofereceu excelentes cursos de capacitação docente para o novo modelo que se fez necessário – disciplinas no modo remoto emergencial – que muitos ainda insistem em nomear erroneamente de Ensino a Distância (EaD). O que executei durante a pandemia não foi o EaD que tem características próprias, mas aulas e atendimento aos alunos no formato online e em caráter emergencial. Fiz quase todos os cursos e oficinas da Nuvem Mestra e sou grata por esta oportunidade. Sou grata também aos meus alunos durante os anos de pandemia que embarcaram nesta jornada comigo, principalmente àqueles que escolheram cursar a minha disciplina quando a oferta das disciplinas ainda era opcional. Quanto aprendizado e troca de experiências que seguirão sendo colocadas em práticas nos formatos híbridos que vieram para ficar. Não posso terminar este tópico sem falar na minha formação continuada em metodologias ativas de ensino. A primeira vez que ouvi este termo foi bem antes da pandemia, ao me inscrever em atividades oferecidas pelo Centro de Estudos e Práticas Pedagógicas da UNESP, CENEPE, nas 15 atividades de celebração pelo dia do professor, em 2016. Com as discussões envolvendo as reestruturações dos cursos de Bacharelado em Química, Bacharelado em Química Tecnológica e Engenharia Química ficou muito clara a necessidade da utilização dessas metodologias ativas no dia a dia, como parte do arsenal didático dos professores, para lidar com as novas gerações de alunos e atender às demandas do mercado de trabalho. Sempre na vanguarda, a reitoria da UNESP novamente se prontificou a oferecer aos seus docentes inúmeras oficinas e workshops online de Estratégias Pedagógicas sobre cada uma das metodologias ativas diferentes. Participei dos workshops de Peer Instruction e Sala de Aula Invertida e espero continuar participando de workshops com novas temáticas porque os desafios para os próximos anos serão grandes. Pós-Graduação As atividades ordinárias dos docentes da área de Química Orgânica no PPG-Química (Programa de Pós-graduação em Química) se concentram no oferecimento de disciplinas, participação nas bancas dos Seminários Gerais, no processo seletivo de ingresso dos alunos de mestrado e doutorado e, por vezes, nas bancas para seleção dos bolsistas PDSE da Capes e fixação de pós-doutorandos bolsistas da reitoria; além da orientação de alunos em nível de PG nos projetos de pesquisa e nos estágios à docência. No mesmo semestre da minha contratação entrei com a solicitação de credenciamento como docente no programa de Pós-graduação em Química e fui credenciada ainda em 2012, antes da aplicação do regime de RDIDP. Comecei minhas atividades na PG ministrando a disciplina Química Orgânica Avançada, no 1º semestre de 2013, em parceria com a profa. Ângela Araújo e sigo até hoje, porém por vezes individualmente e em outras em parceria com os profs. Humberto e Ian. Além desta disciplina ofereci e ministrei as disciplinas Tópicos Especiais em Biocatálise, Metodologias Modernas aplicadas à Síntese Orgânica em parceria com o prof. Rafael Mafra, Biocatálise e TE Engenharia de Proteínas. Voltando um pouquinho no tempo, em 2011 quando eu ainda estava vinculada ao IB em Rio Claro, a reitoria da UNESP criou um programa visando fortalecer a internacionalização da universidade através da capacitação voluntária do quadro docente e oferecimento de disciplinas em inglês. Me inscrevi para as atividades de capacitação como o curso sobre o Sistema de Créditos ECTS (European Credit Transfer and Accumulation System) e participei de alguns fóruns de internacionalização. Já no Instituto de Química, quando o oferecimento de disciplinas em inglês foi implementado, ofereci e ministrei as disciplinas Biocatalysts for biofuel production, Biocatalysis: nature insights into sustainable technologies em nível de pós-graduação. Por muitas vezes, as atividades de ensino da pós-graduação e graduação se sobrepõem, o que é bastante saudável, no meu ponto de vista. Supervisionar os alunos da pós-graduação que se matriculam como estagiários docentes nas disciplinas da graduação nas quais sou docente responsável dá mais trabalho, demanda um tempo extra a ser investido nestes estudantes de PG, mas é igualmente enriquecedor. Um dos pontos ainda nevrálgicos do PPG-Química tem sido, a meu ver, a participação dos discentes como ministrantes de Seminários Gerais, momento este que tem abalado a saúde mental de vários deles. Tanto os discentes quanto os docentes têm inúmeras reclamações relativas a estes seminários, uns julgam que o nível de exigência é exacerbado enquanto outros pensam o contrário; alguns julgam que o tema escolhido deveria ser mais próximo do tema da tese do discente enquanto para outros os temas escolhidos pelos alunos têm sido próximos demais às suas teses. Temas escolhidos pelos alunos. Sim, esta é outra discussão, o tema deveria ser escolhido pelos próprios alunos que ministrarão o seminário ou pelo Conselho de Pós-graduação? E se os próprios alunos têm 16 a liberdade de escolher o tema do seu seminário a cobrança não deveria ser maior? Voltamos à estaca zero. Qual o papel dos orientadores nos Seminários: simples expectadores que não deveriam responder sequer às perguntas ou fazer comentários ao final da apresentação de sessão de discussão ou deveriam sim participar ativamente como muitos o fazem. Enfim, este é ainda um caminho sinuoso, para cada dois passos a frente um passo é dado para trás, avançando e recuando sempre que necessário temos evoluído pouco a pouco tentando chegar a um consenso que satisfaça aos docentes e discentes. Por estes motivos de todas as atividades da PG, para mim a participação como banca nos Seminários Gerais é a menos atrativa. Prefiro ministrar disciplinas e prefiro mais ainda me envolver em atividades novas, como foi o caso da 1ª Escola de Verão do Instituto de Química da UNESP e que infelizmente não saiu de sua 1ª edição a despeito de grande procura por parte dos alunos para que existissem edições seguintes. Fui convidada pela Coordenação do Conselho de PG a participar da organização da 1ª Edição da Escola de Verão. Como quem está na chuva é para se molhar, ofereci em parceria com o Humberto, um minicurso teórico-prático de uma semana, realizado nas dependências do Milagre Lab, com envolvimento dos nossos alunos de pós-graduação como auxiliares docentes. O nosso minicurso teve alta procura e contou com a participação de alunos que estavam terminando os seus cursos de graduação na UFSCar, na UFPE e alunos do IQ. Naquele momento o objetivo da Escola de Verão era atrair e fixar alunos de PG vindos de outras universidades além dos egressos do IQ-UNESP. Acredito que nos dias de hoje, com a participação do PPG-Química no processo seletivo unificado de PG promovido pela SBQ este objetivo será alcançado com maior fluidez como acontece com o processo seletivo em nível de graduação do ENEM. O PPG-Química tem conseguido manter a sua excelência conquista há anos, fruto do trabalho árduo e dedicação docente, discente e técnico-administrativo. O olhar para frente, em busca da internacionalização em parceria com países cuja pesquisa está em nível igual ou mais avançado que o nosso foi sempre estimulado. Neste contexto, como mencionado anteriormente, o Humberto e eu havíamos sido contemplados em um edital para vinda de professor visitante do exterior, e trouxemos a profa. Isabel Arends, da TU Delft, quando estávamos vinculados ao PPG-Microbiologia Aplicada em Rio Claro. Agora no Instituto de Química fomos agraciados novamente com a aprovação em edital para a vinda de professor visitante do exterior, e desta vez, trouxemos o prof. Romas Kazlauskas da Universidade de Minnesota – EUA, ícone na área de Biocatálise e criador da famosa e tão utilizada “regra de Kazlauskas”. Durante os 20 dias em que permaneceu no IQ-UNESP, o professor Kazlauskas ministrou a disciplina TE- Protein Engineering, proferiu um Seminário para a Pós-graduação aberto a toda comunidade e conviveu de perto com o nosso grupo de pesquisa, participando da rotina do laboratório, interagindo com os alunos os estimulando à proatividade e participando de discussões dos nossos resultados de pesquisa que contribuíram e lapidaram a escrita de alguns manuscritos e que certamente facilitaram a sua aprovação. O olhar para frente buscando parcerias com que está mais avançado é importante sim, mas não podemos nos esquecer daqueles que estão um pouco atrás. Foi assim que me voluntariei e fui selecionada junto com alguns outros docentes do PPG-Química IQ-UNESP a ministrar um minicurso presencial para o curso de PPG-Química da UFMA, à época nota 3 na CAPES, como parte das iniciativas de solidariedade e impulsionamento realizados pelos PPG-Química, nota 7 na Capes, em relação aos cursos de PPG em fase de consolidação. Ministrei o minicurso Biocatálise e Química Verde e pude observar de perto as assimetrias dos nossos cursos de PPG e dar a minha pequena parcela de contribuição para que as mudanças aconteçam. 17 Pesquisa Ah, a pesquisa! Desconheço alguém que tenha batalhado para entrar na universidade pública como docente e não tenha na pesquisa um dos alicerces mais sólidos quando pensamos no quadripé ensino-pesquisa-extensão-gestão. Muitos têm um amor exclusivo por ela, outros vão se desencantando com o passar do tempo e descobrindo novas paixões. Uma coisa é certa, ela foi escolhida pelo sistema como principal indicador do sucesso. Não importa se você é um professor brilhante, se se dedica à extensão ou se é um excelente gestor; se a sua pesquisa não vai bem você certamente será penalizado. Triste constatação, mas é a realidade atual, nua e crua. A sobrevivência no sistema depende da pesquisa. Mas o que é a pesquisa? “Pesquisa é ver o que todo mundo viu e pensar o que ninguém pensou; é curiosidade formalizada, é cutucar e bisbilhotar com um propósito; se soubéssemos de antemão o resultado do que estamos fazendo não seria chamado de pesquisa”. Vivemos de formular perguntas e buscar respondê-las baseadas em evidências, de preferência mensuráveis. É o método científico. Sou simpatizante da hipótese de Gaia desde jovem, mesmo antes de saber que aquilo que pensava era uma hipótese formulada por cientistas. A pergunta que sempre me fiz é “O que ou como fazer para conviver neste planeta em harmonia com os demais seres vivos?”. Cada grande área do conhecimento tem seus meios e formas para buscar responder a esta pergunta. Escolhi as ciências exatas e, dentre elas, a Química. Logo a Química, tão criticada pela poluição ambiental, desastres, envenenamentos. Chegamos a tal ponto que a palavra química é associada a coisas ruins, antinaturais. A má fama não veio à toa e uma vez já apaixonada pela Química tinha que defendê-la de alguma forma. Uma nova pergunta veio à tona: É possível fazer Química de um jeito bom, sem agredir os seres vivos e o planeta? E descobri que sim, é possível. Alívio. Há luz no fim do túnel. No início da minha IC fui trabalhar com os fungos filamentosos buscando a biotransformação de produtos naturais com atividade farmacológica potencializada. O princípio muito bom, os métodos de execução nem tanto. Durante o mestrado, doutorado e pós-doutorado os objetivos gerais iam na mesma linha, obter compostos de relevância industrial do ponto de vista farmacológico, mas agora não mais através do extrativismo e sim usando a síntese como estratégia. A síntese orgânica famosa pelo uso de reagentes e solventes tóxicos, mutagênicos, carcinogênicos, com geração de quantidades consideráveis de resíduos químicos de difícil tratamento. A escolha pela Biocatálise como ferramenta para as rotas de síntese quimioenzimática foi um caminho óbvio. Mas se engana quem pensa que a Biocatálise é verde o suficiente e que basta per si. Dependendo das condições ela pode ser muito mais vilã do que mocinha. Na época da minha pós-graduação, a Química Verde, dentro da Química Orgânica, era um parâmetro qualitativo. Porém, no tempo que passei na TU Delft, um dos países mais engajados com as questões de sustentabilidade ambiental em virtude de sua fragilidade geográfica, as discussões que se colocavam à mesa eram quantitativas. Como determinar e medir se os processos biocatalíticos eram realmente ambientalmente amigáveis como aparecia em 99% das introduções dos artigos e textos científicos da área? O prof. Sheldon criou a métrica Fator E, “E” de ambiental, do inglês Environmental. O fator E mede o quanto de resíduo, em Kg, é formado para cada Kg do composto desejado produzido no processo. No mundo ideal o fator E deveria ser igual a zero. Muitas outras métricas foram e têm sido criadas e adotadas pela indústria farmacêutica e química de especialidades, não por acaso as que utilizam processos com os fatores E mais elevados. A partir daí tive um despertar para o olhar mais crítico sobre os processos químicos, os enzimáticos e não enzimáticos. 18 Apesar da Biocatálise ser considerada qualitativamente “mais verde” e figurar entre os livros de bolso e panfletos da ACS (American Chemical Society) como uma metodologia verde, durante muito tempo a Biocatálise foi considerada o patinho feio da área de catálise orgânica. As enzimas sempre foram consideradas os catalisadores perfeitos da Natureza, mas como dominá-las a favor dos químicos, principalmente se elas estivessem dentro de células microbianas que deveriam ser manejadas por químicos que não tinham formação alguma em microbiologia? Morando no Brasil, um dos países detentores da maior biodiversidade do planeta, o meu primeiro projeto de pesquisa solo, aquele que submeti à FAPESP na linha Jovem Pesquisador, teve por objetivo fazer uma prospecção de enzimas originárias da biodiversidade brasileira e aplicá-las em duas frentes – na biodegradação de herbicidas recalcitrantes e na síntese de compostos com atividade farmacológica. Se na área de Produtos Naturais, de forma geral, cada pesquisador tem a sua família de plantas, inicialmente na área de Biocatálise no Brasil, cada pesquisador tinha a sua enzima de estimação e ai de quem se atrevesse a trabalhar com elas e invadir o espaço alheio. Felizmente esse cenário mudou. Escolher a classe de enzimas com a qual trabalharia na minha carreira solo não foi fácil. Tinha que fugir das oxidorredutases, se não quisesse receber o rótulo de continuar trabalhando na linha do meu orientador de mestrado e doutorado. As monooxigenases e epóxido hidrolases eram território da minha supervisora do pós-doutorado. Outros grupos de biocatálise trabalhavam com hidrolases (lipases, esterases e nitrilases), oxidases como as lacases, e eis que constato que não tinha ninguém no Brasil trabalhando as nitrila hidratases. Justo as nitrila hidratases, um dos maiores exemplos de sucesso de utilização de processos biocatalíticos na indústria de commodities para a produção do monômero acrilamida na ordem de milhares de toneladas/ano. Durante a vigência do projeto JP 2011-2014 esta foi a enzima alvo e objeto principal dos meus estudos. Posteriormente expandi os horizontes para as transaminases no desenvolvimento do projeto bilateral Brasil-Alemanha, as oxidorredutases – mas para fins de reações de oxidação e não as reduções realizadas durante a minha pós-graduação e recentemente as hidrolases, em especial as PETases e cutinases. A captação de recursos financeiros no projeto JP me permitiu montar a estrutura básica do laboratório com a aquisição de um cromatógrafo gasoso com detector de ionização de chamas, autoclave, capela de fluxo laminar, shaker, câmara de germinação, balanças, pHmetros, rotaevaporador, centrífuga, pistola de ar quente, vidrarias e reagentes além de 2 (duas) bolsas de IC e posteriormente, vinculada ao projeto JP, 1 bolsa de mestrado. Na reta final de vigência do projeto JP fui convidada para participar de 2 (dois) grandes projetos em rede – o projeto bilateral iniciativa pública e privada, FAPESP-GSK, na linha Centros de Pesquisa em Engenharia, o CERSusChem (Centro de Excelência em Pesquisa em Química Sustentável) coordenado pela profa. Arlene G. Correa da UFSCar com vigência 2016-2022 e o projeto financiado pelo CNPq e FAPESP INCTBioNat (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biodiversidade e Produtos Naturais) coordenado pela profa. Vanderlan Bolzani do IQ-UNESP do qual participei no período 2016-2023. Além destes, participei da equipe do projeto bilateral Brasil-Alemanha financiado pelo CNPq e coordenado pelos profs. Rodrigo O. A. M. Souza da UFRJ e Uwe T. Bornscheuer da University of Greifswald - Alemanha com vigência 2014-2016. Durante a vigência deste projeto tive a oportunidade de passar 20 dias no grupo de Biotecnologia e Catálise Enzimática liderado pelo prof. Uwe na Alemanha, conhecer a startup spin- off de base biotecnológica Enzymicals que produz e comercializa enzimas, e da qual o prof. Uwe é sócio fundador. No campo da internacionalização, além das parcerias estabelecidas com o grupo de pesquisa de Biocatálise na Holanda e Alemanha, foi estabelecida uma importante parceria com os nossos vizinhos uruguaios, o grupo de Biocatalysis y Biotransformaciones da Universidad de la Republica (UDELAR) em Montevideo liderado pela profa. Sonia Rodriguez Giordano. Esta parceria resultou no intercâmbio de dois alunos de pós-graduação sob minha orientação, um mestrando e um 19 doutorando, para desenvolver parte de seus projetos no Uruguai sob a coorientação da profa. Sonia. Além disso, pudemos estreitar nossas parcerias através do CABBIO (Centro Latino-Americano de Biotecnologia) no qual ministrando o curso “Reações hidrolíticas mediadas por enzimas: fundamentos e aplicações em sínteses quimionzimáticas” nas edições 2018 (presencial) e 2021 (virtual). Em geral, temos a tendência de relatar apenas os casos de sucesso, os projetos que foram aprovados. Entretanto algumas experiências que não se concretizam na forma de projeto aprovado podem render frutos importantes como foi o caso da submissão de proposta ao NSF (National Science Foundation) dos EUA em parceria com o prof. Romas Kazlauskas, em 2020. Após a permanência em nosso grupo de pesquisa como professor visitante submetemos uma proposta conjunta que foi bem avaliada, mas sem classificação suficiente para receber recursos financeiros. Neste projeto o objetivo era o desenvolvimento de biocatalisadores (enzimas) que degradassem polímeros, em especial o PET. Em 2022, submetemos uma proposta dentro da Chamada CNPq/MCTI-FNDCT CT-Petro No 43/2022 - Combate à poluição no mar e ambientes marinhos causada pelo plástico e seus subprodutos, cujo objetivo maior são os estudos envolvendo a degradação enzimática de plásticos, micro e macro, que poluem os oceanos. Esta proposta coordenada pelo prof. Rodrigo Souza da UFRJ, nosso colaborador científico e amigo, foi aprovada com vigência 2023-2028, na qual o Humberto e eu somos participantes da equipe com objetivos e funções distintas. A captação de recursos financeiros ininterrupta, mesmo antes da minha contratação no IQ- UNESP, tem permitido a manutenção e expansão da infraestrutura do Milagre Lab bem como a possibilidade de oferecer as condições necessárias de trabalho aos alunos de pós-graduação e graduação que desenvolvem seus projetos de pesquisa sob a minha orientação. Ao longo dos anos tive o privilégio de orientar vários alunos de iniciação científica brasileiros, alunos de iniciação científica de curta duração de intercâmbio internacional IAESTE originários da Espanha, Polônia e Portugal, alunos de mestrado brasileiros, 01 coorientação de doutorado pelo período de 1 ano de aluna espanhola do programa SANTANDER, alunos de doutorado e pós-doutorandos. Todos os egressos da pós-graduação estão inseridos no mercado de trabalho como docentes de Institutos Federais (IFSP e IFPI), professores em escolas de ensino médio ministrando disciplinas e exercendo funções na área de Química, profissionais em indústrias químicas ou pesquisadores em programas de pós-graduação. A passagem de cada um desses orientandos pelo Milagre Lab marcou a minha vida profissional e pessoal, cada um à sua maneira. Seres humanos distintos, com formações, ambições, convicções e sonhos diferentes. Um grupo heterogêneo no gênero, na cor, na classe social e na orientação sexual que me ensinaram e ensinam, como líder, a tentar extrair o que cada um tem de melhor a oferecer, individualmente, e não tratar a todos de forma igualitária. Lição aprendida com o grande navegador inglês Shackleton. Extensão Há quem diga que a extensão deixará de ser o patinho feio das atividades universitárias e passará a ser valorizada. A confirmar! Desejo realmente que a valorização da extensão não fique apenas no discurso. Uma boa parte do baixo interesse e adesão dos docentes pelas atividades de extensão se deve à sua pouca ou nenhuma valorização. É claro que existem as questões de falta de perfil ou aptidão, mas com o estímulo adequado muitos docentes passariam a se envolver de forma espontânea e não 20 compulsória, como acredito que acontecerá a partir da implementação da curricularização da extensão prevista na carga horária dos cursos de graduação. Não há como exigir que a sociedade externa aos muros das universidades entenda o papel da universidade pública gratuita, saiba que tipo de conhecimento está sendo gerado e como ele pode (ou não) ser revertido em forma de tecnologias, produtos e capacitações de recursos humanos se não houver interação entre esses universos. A universidade é pública e gratuita porque temos uma sociedade inteira que paga impostos que serão parcialmente destinados à manutenção das universidades e agências estaduais e federais de fomento à pesquisa. Será que nós, comunidade universitária, devemos cruzar os muros e divulgar o que está sendo realizado aqui dentro ou é a comunidade não universitária que tem que nos procurar? Sou adepta à primeira opção e, desde o período da pós-graduação, estive envolvida em atividades de extensão porque acredito ser nossa obrigação devolver à sociedade a sua contribuição financeira. Mas isso toma tempo. Fomos treinados a dar aulas nos estágios à docência, a fazer pesquisa na IC e pós-graduação, mas não recebemos uma formação na arte de fazer extensão. Aliás, o significado do termo extensão ainda é pouco familiar ou concebido de forma equivocada por muitos colegas professores universitários. As minhas atividades de extensão no IQ-UNESP começaram a partir do meu envolvimento com o Centro de Ciências de Araraquara (CCA) como membro do conselho deliberativo. Aquelas reuniões no CCA, a princípio com caráter apenas administrativo, catalisou o meu interesse em colaborar direta ou indiretamente. A partir daí comecei a submeter projetos de extensão para a PROEC, como a “Trilha Sensorial – despertando a consciência com ciência” que está abrigada no CCA. Todo o esforço é recompensado quando vemos o brilho nos olhos de crianças, adolescentes, adultos e idosos ao entrar em contato com o mundo científico e entender como as coisas funcionam. As visitas guiadas aos sábados foi uma demanda da sociedade. As crianças e adolescentes que visitavam o CCA durante a semana com a turma da escola queriam mostrar para seus familiares e amigos tudo aquilo que eles estavam vendo. E o CCA vai até a sociedade também. Levar parte do acervo para exposição na FACIRA (Feira Agrocomercial e Industrial da Região de Araraquara) é uma trabalheira danada. Montar, desmontar, remontar. Cuidar para que nada seja danificado. Mas vale a pena. Das vezes que participei como monitora na FACIRA o stand do CCA era sempre o mais visitado. E não era apena fluxo de pessoas não. Elas queriam ouvir as explicações, faziam perguntas intrigantes, contavam suas experiências. Prova viva de que a sociedade brasileira gosta de ciência sim e tem sede de saber mais. Já dizia Milton Nascimento “Todo artista deve ir aonde o povo está”. Os cientistas passaram a ir aos bailes da vida, bares e restaurantes para divulgar de forma descontraída e descomplicada o que estavam fazendo. Assim nascia o Festival Internacional de Divulgação Científica Pint of Science na Inglaterra, em 2012. A sua primeira edição no Brasil, em 2015, aconteceu exclusivamente na cidade de São Carlos na forma de um piloto e em 2016 expandiu para 7 cidades - Belo Horizonte, Campinas, Dourados, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, São Paulo e São Carlos. Quem vive em Araraquara ou São Carlos sabe bem da rivalidade entre as duas cidades que, na verdade, fazem parte da região metropolitana de Ibaté (risos). Brincadeiras à parte, mesmo sendo nova em Araraquara fui mordida pela mosquinha da competição e, quando vi o anúncio daquele evento superinteressante na contracapa de uma revista FAPESP o primeiro pensamento que me veio à mente foi: Por que não tem Pint of Science em Araraquara se tem em São Carlos, Ribeirão Preto e Campinas? O Humberto e eu resolvemos alugar uma van e irmos com os alunos do nosso grupo de pesquisa e agregados conferir in locu como era o evento e se valeria a pena trazer para Araraquara, caso isso fosse possível. Foi amor à primeira vista, estar em um ambiente descontraído falando de ciência e, melhor ainda, sobre assuntos de áreas diferentes daquelas que trabalhamos porque geralmente frequentamos eventos científicos da nossa área de interesse. Entre 2017-2018 coordenei o Pint of Science 21 Araraquara, em 2019 dividi a coordenação regional do Estado de São Paulo com o Luiz Almeida e de 2020 a 2022 assumi a coordenação de todo o Estado de São Paulo enquanto o Luiz passou a assumir a coordenação nacional. As chamas que consumiram o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, no dia 2 de setembro de 2018, acenderam uma luz de alerta na comunidade que busca divulgar a ciência no Brasil. Foi quando surgiu a ideia de mobilizar uma rede de voluntários para organizar o evento Um Brinde ao Museu para celebrar o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, que é comemorado em 10 de novembro, data estabelecida pela UNESCO em 2001 para sublinhar o papel da ciência na construção de um mundo melhor. Fruto do Pint of Science ou por causa do Pint of Science, organizei o evento “Um brinde ao Museus” em Araraquara, nas dependências do CCA, com direito a reportagem na EPTV divulgando do CCA. Já o Creative Reactions, um festival promovido pelo Pint of Science no mundo todo, tem como objetivo unir arte e ciência, ao apresentar obras de arte criadas em conjunto pelos artistas com cientistas. A minha participação no Creative Reactions se deu de duas formas: (i) organizando em parceria com a direção do IQ a obra de arte “60 anos – IQ UNESP” em exposição permanente na forma de mural, criada e executada pelo artista Sniffo (Luís Henrique Sniffo), egresso do IQ-UNESP e (ii) tendo a Biocatálise, objeto de minhas pesquisas, sendo traduzida em 2 (duas) obras de arte criadas e executadas pelas artistas britânicas Amy Bonsor e Barbara Jones. A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão fica evidente no meu cotidiano quanto o assunto são os resíduos. Do meu interesse pela Química Verde que preconiza fundamentalmente a diminuição da geração de resíduos; associado às 2 (duas) gestões não consecutivas como presidente da CEA (Comissão de Ética Ambiental) cuja atribuição primária é normatizar os procedimentos internos do IQ quanto ao gerenciamento de Resíduos Químicos e Resíduos contendo micro-organismos e a implementação do Plano de Gestão Ambiental Integrada surgiu o projeto de extensão Flores da Acácia – gestão de resíduos sólidos no IQ e FCL. Este projeto idealizado e executado em parceria com a Cooperativa Acácia de Catadores de Material Reciclável de Araraquara teve início durante da pandemia de Covid-19 e foi continuado no ano seguinte (2021-2022). Do convívio próximo aos catadores de material reciclável e visitas constantes à usina de reciclagem nasceu o desejo de contribuir com a minha área de especialidade e desenvolver biocatalisadores robustos capazes de degradar polímeros componentes dos plásticos que, em última instância, vão parar nos oceanos formando ilhas gigantescas de plástico. Ilhas e caminhos de plásticos, como a “Grande Mancha de Lixo do Pacífico” que uso como exemplo nas aulas da disciplina de Química Sustentável. Como contei anteriormente, o projeto vigente que sustenta o Milagre Lab atualmente está focado nisso, desenvolver enzimas e processos para a biodegradação de PET. Extensão, Pesquisa e Ensino indissociáveis conforme previsto no artigo 207 da Constituição brasileira. Tenho convicção de que o sucesso do projeto Flores da Acácia se deveu principalmente porque a sua concepção foi realizada de forma conjunta entre nós da universidade e as catadoras. No primeiro momento apresentamos algumas propostas que foram lapidadas e adequadas para a realidade do dia a dia dos catadores e da usina de reciclagem e, outros objetivos que sequer havíamos pensado foram incluídos no projeto final como parte das demandas apresentadas por eles. No ano de 2022 a PROEC (Pró-reitoria de Extensão Universitária e Cultura) propôs a criação de redes temáticas de extensão na perspectiva de contribuir para articular docentes e discentes das diversas Unidades da UNESP com outros setores da sociedade no enfrentamento de problemas sociais relevantes, fomentando a proposição e ampliação das atividades de extensão universitária e contribuindo para a curricularização da extensão nos cursos de graduação da UNESP. Assim foi criada a REALSSAM – Rede Temática de Extensão em Resíduos Sólidos, Soberania Alimentar e Sustentabilidade Socioambiental que conta com a participação de 15 (quinze) Unidades da UNESP, 22 dentre elas o IQ. As redes temáticas, ao contrário dos projetos de extensão que são de curta duração (até 2 anos), têm duração de médio e longo prazo e assim, num processo de evolução natural o projeto Flores da Acácia foi “fagocitado” pela REALSSAM e tem a sua continuidade garantida através da rede. Do trabalho conjunto realizado com os membros da REALSSAM de outras Unidades da UNESP fui convidada a integrar a equipe do Grupo de Trabalho de Economia Social e Solidária da PROEC que está iniciando suas atividades. A reclusão física durante a pandemia de Covid-19 não foi motivo para isolamento além do presencial, para nós que temos o privilégio das conexões de Internet rápida e aparelhos eletrônicos adequados. Penso que nunca estivemos tão conectados e interligados. Durante a pandemia de Covid- 19 participei de várias reuniões científicas virtuais, dentre elas a da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e me inscrevi no curso de Divulgação Científica. Neste curso, além de aprimorar conhecimentos fundamentais para as atividades que já vinha realizando como as do Pint of Science, tive contato com conteúdos que posteriormente foram colocados em prática nas propostas para a curricularização da extensão no curso de Bacharelado em Química e Bacharelado em Química Tecnológica. Ainda neste curso promovido pela SBPC e ministrado pela Rede Mineira de Comunicação Cientifica foi apresentado um projeto de extensão maravilhoso idealizado e executado no CEFET-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), o projeto “A Escrita de Si Como Instrumento de Visibilidade para os Terceirizados do CEFET-MG” que tinha, dentre outras atividades, a oferta de curso de letramento aos seus funcionários terceirizados. Fiquei apaixonada por este projeto e comecei a envidar esforços para implementar algo semelhante na UNESP. A Dra. Janaína Fonseca, minha grande e primordial parceira no projeto Flores da Acácia se sensibilizou e se disponibilizou a fazer parte da equipe. Nos reunimos virtualmente com os coordenadores do projeto A Escrita de Si que foram supergenerosos em compartilhar suas experiências, apontar os pontos fortes e fracos e nos orientar para não cairmos em algumas armadilhas. Aprendi com o projeto de extensão Flores da Acácia que, para ser extensão “de verdade”, “o créme de la créme”, é preciso que a construção seja bipartite e igualitária entre a comunidade universitária e a comunidade alvo do projeto. Assim, fizemos uma reunião com a Sra. Marli, líder da equipe do serviço terceirizado de limpeza no IQ, para consultá-la sobre se haveria interesse das “meninas” em participar do projeto e quais seriam as demandas. Sim, elas tinham o maior interesse e estavam emocionadas por estamos olhando para elas, tirando os seus mantos da invisibilidade. O perfil das nossas servidoras terceirizadas era diferente do perfil dos servidores terceirizados do CEFET e assim ajustamos os objetivos e incluímos demandas apresentadas pelas meninas ao projeto. Como eu já coordenava o projeto Flores da Acácia não poderia assumir a coordenação de mais um projeto de extensão segundo as normas da PROEC vigentes à época. Naquela época os funcionários técnico-administrativos não poderiam coordenar projetos de extensão, ou seja, a Janaína também não poderia ser a coordenadora, situação que felizmente foi alterada. Assim, fomos à caça de um(a) coordenador(a) para o projeto que no IQ recebeu o nome de “Experivivência”. A profa. Denise Bevilaqua, vice- diretora do IQ, se prontificou a coordenar “à distância”. Quantas mudanças positivas para todos os envolvidos com o projeto ao longo deste primeiro ano. No Experivivência senti mais de perto que estamos realmente fazendo a diferença, talvez em função da proximidade com as meninas da limpeza, o convívio diário e os feedbacks mais frequentes. A exemplo do Flores da Acácia, o Experivivência será renovado por mais um ano, desta vez sob a coordenação da profa. Erica Regina Filletti Nascimento que participa da equipe desde a nossa primeira reunião com o pessoal do CEFET. Vislumbro uma nova fagocitose, desta vez do Experivivência à rede temática de letramento científico da UNESP que está sendo idealizada. Cenas para os próximos capítulos. 23 Gestão Muito se fala sobre o tripé ensino-pesquisa-extensão que sustenta a universidade pública nas atividades docente. Entretanto existe um quarto pé, a gestão, da qual também faz parte de nossas atribuições como docente e que, em alguns casos, pode demandar mais tempo e atenção do que o inicialmente previsto. Desde o primeiro semestre da minha contratação venho participando de diferentes órgãos colegiados e comissões assessoras que contribuíram e contribuem para o meu conhecimento acerca do funcionamento da universidade como um todo. Tive a “sorte” ou melhor, o privilégio de trabalhar com membros do IQ-UNESP em diversos conselhos e comissões dispostos a ouvirem minhas sugestões e/ou críticas e agirmos em conjunto para que as transformações suscitadas acontecessem. Diferentemente do que aconteceu com vários dos meus contemporâneos e agora docentes em outras universidades que não tiveram muito espaço e voz nos períodos iniciais de suas contratações, o terreno fértil que encontrei por vezes demandou em demasia – aquele que apresenta as ideias é o escolhido para a liderança na sua execução delas. Sempre que entro para algum conselho ou comissão me pergunto de que forma poderei contribuir e fazer a diferença para que as mudanças e avanços necessários aconteçam. Não suporto quando ouço dizerem “Isso sempre foi assim” diante de situações que exigem, no mínimo, atualizações para o contexto presente. No primeiro semestre de contratação, entrei para o Conselho do Departamento de Química Orgânica como membro titular e como membro suplente na CIPA – aqui no IQ-UNESP é quase um trote, os docentes recém-contratados sempre se deparam com a CIPA no começo da carreira. No final daquele primeiro semestre fui acionada para substituir o prof. Ian Castro-Gamboa como banca do processo seletivo da pós-graduação e na sequência fui eleita como membro suplente representantes do DQO no Conselho de Pós-graduação. Naquela ocasião a profa. Dulce assumiu a coordenação do PPG-Química e me orientou a participar das reuniões do Conselho mesmo quando ela, a representante titular para a qual eu era a suplente, estivesse presente pois eu teria muito a aprender e a contribuir. E assim, lá estava eu presente em todas as reuniões do PPG-Química e nas reuniões da CIPA mesmo sendo o membro suplente. A Dulce estava coberta de razão, aprendi muito participando dessas reuniões, convivendo com docentes em diferentes estágios da carreira, dispostos a compartilharem suas vivências e a ouvir as minhas sugestões. Trago de cada comissão e conselho lembranças felizes de mudanças que foram conquistadas. Nem todas as mudanças aconteceram no período da gestão que as concebeu pois algumas requeriam tempo e esforços de outras instâncias, mas isso não importa. Só de saber que estava presente quando aquelas sementinhas foram plantadas e hoje geram flores e frutos que beneficiam a comunidade como um todo é gratificante. Vou destacar algumas das minhas contribuições na gestão que mais me orgulham, seja pelo benefício gerado ou pelo grau de dificuldade para que acontecessem. Do Conselho de Pós-graduação em Química trago a implementação das defesas de exames de qualificação de mestrado e doutorado em sessões públicas. Pasmem, mas até 2014 estas defesas aconteciam em sessões fechadas entre a banca e o candidato, mesmo que não houvesse questões de propriedade intelectual em jogo. Da Comissão de Biblioteca trago a implementação da sala 24 horas na Biblioteca. É impressionante, mas até hoje todas as vezes que vejo a sala 24 horas sendo usada me dá um arrepio de satisfação, e olha que ela é super usada. Da Comissão de Ética Ambiental trago a atualização das normas de gerenciamento de resíduos que se arrastava há algumas gestões e a implementação do Plano de Gestão Ambiental Integrada do IQ, idealizado e proposto pela Dra. Janaína Conrado Lyra Fonseca. O Plano de Gestão 24 Ambiental Integrada nem era uma das atribuições da CEA. Mas seria atribuição de quem? O ideal é que existe uma Sessão de Segurança Química no IQ, mas enquanto isso não acontece, emprestei meu status de docente e presidente da CEA para dar voz à proposta da Dra. Janaína e, com o consentimento dos demais membros daquela gestão da CEA, juntas apresentamos a proposta à direção do IQ que a acolheu prontamente. Atualmente o Plano de Gestão Ambiental Integrada está de acontecendo de vento em popa, sob a coordenação da Dra. Janaína. Do Conselho de Graduação da Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia trago as alterações no plano de ensino da disciplina Química Orgânica cabíveis fora do período de reestruturação de curso. A disciplina de Química Orgânica representava à época o gargalo do curso, era a disciplina com maior índice de retenção, superior inclusive aos Cálculos. Faço parte novamente do Conselho de Graduação da Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia e vejo como aquelas alterações foram importantes para a maior fluidez do curso e engajamento dos alunos. Do Conselho de Graduação em Química, do qual fui vice coordenadora na gestão 2021-2022, trago os desafios das alterações que se fizeram necessárias durante o período de ensino emergencial remoto, a finalização da reestruturação dos cursos de Bacharelado em Química e Bacharelado em Química Tecnológica que se estendiam há quase 3 (três) gestões e a inclusão das propostas para a curricularização da extensão. Sou grata à profa Hebe de las Mercedes Villullas, coordenadora do Conselho de Graduação em Química, por compartilhar comigo esta coordenação me dando espaço, vez e voz, numa gestão pouco centralizadora de poderes. O meu aprendizado foi enorme. Estar no Conselho de Graduação em Química me deu a oportunidade de participar das atividades de idealização e submissão das propostas no âmbito dos Editais UNESP Presente, em especial aos Editais para a Graduação e Acessibilidade e Inclusão, em 2022 e que propiciarão mudanças estruturais e substanciais no IQ-UNESP que começarão a acontecer, na prática, a partir de 2023. Das participações como membro do Conselho departamental ou nas duas vice-chefias (uma no extinto DQO e atualmente no DBQO) são inúmeros os acontecimentos já que esta é a célula embrionária da universidade. Aqui destaco o aprendizado na gestão de conflitos e os planejamentos estratégicos. Não tenho dúvidas de que as principais amarrações e decisões acontecem, invariavelmente, pelos corredores ou entre um cafezinho e outro. Para cada aprovação em reunião ordinária ou extraordinária há sempre um trabalho intenso nos bastidores. Aqueles que não o fazem estão fadados a verem os seus interesses relegados para o segundo plano. Reflexões e perspectivas É difícil colocar cada atividade em uma caixinha única pois muitas se sobrepõem e são transversais ao quadripé ensino-pesquisa-extensão-gestão como, por exemplo, as atuações na função de membro de sociedades científicas e de órgãos não governamentais. Sou sócia ativa e de forma ininterrupta da Sociedade Brasileira de Química desde 1998, quando ainda estava na graduação. Me associei à American Chemical Society em 2012 por indicação do Humberto. Esta indicação rendeu ao Humberto um belíssimo tapete com a estampa da Tabela Periódica e o ano 2012. O tapete que decora a minha sala e faz o maior sucesso, presente do Humberto para celebrar o ano da minha contratação no IQ-UNESP. Assumi comigo mesma o compromisso de disseminar a Química Verde e Sustentável para além da área de pesquisa em Biocatálise ou nas disciplinas que ofereço. Assim, me tornei uma embaixadora no programa My Green Lab Ambassador promovido pela organização norte americana My Green Lab. Trouxe para o Brasil a primeira adesão ao programa Green Chemistry Commitment 25 promovido pela organização Beyond Benign. Sim, o IQ-UNESP foi o primeiro Instituto de Química brasileiro a aderir em 2019 e felizmente este número está aumentando. Por incrível que pareça, ainda hoje a Química Verde é confundida com a Química Ambiental e desconhecida por muitos químicos e profissionais afins. Há muito trabalho pela frente para a sensibilização da comunidade química sobre a necessidade da mudança de paradigma e ações imediatas alinhadas com os princípios da Química Verde e Sustentável. Às vezes gostaria de ser um polvo, com oito braços fortes e ventosas, para dar conta dos 4 (quatro) eixos das atividades docentes na universidade da forma como gostaria. Ou então de transitar livremente entre universos paralelos, se é que eles existem, e fazer render as 24 horas do dia. Mas não sou um polvo, não transito entre universos paralelos e as 24 horas do meu dia não são, ou não deveriam ser, exclusividade do meu ofício. E ainda existe o vírus do empreendedorismo latente, como o vírus herpes humano que de tempos em tempos pode se manifestar. Acho que fui infectada pelo vírus do empreendedorismo ao conviver com o prof. José Augusto, meu ex-orientador, e ouvir as histórias dos seus tempos de trabalho na Nestlé e empreitadas na planta piloto do IQ-UNICAMP, depois vieram as reuniões com empresas privadas quando estava na TU Delft, o planejamento do meu plano B de abrir uma empresa de base biotecnológica caso não conseguisse uma vaga como professora universitária e, mais recentemente, as conversas informais e formais com a Maria, ora minha sobrinha ora expoente jovem da área de empreendedorismo e sócia fundadora do Escalab. Não poderia terminar estas memórias sem falar da nova geração de felinos, os araraquarenses da família. O Fredy é entendido de Livre-Docência, chegou em nossas vidas por causa da Livre-Docência da nossa amiga Wanda Almeida. A Luli e Mia, as “meninas da Vila”, vieram para fazer companhia para o Fredy já que os irmãos campineiros estavam muito velhinhos e não tinham pique para brincar com ele. O isolamento social durante a pandemia de Covid-19 não impediu que a família aumentasse. Os meus alunos da graduação deste período puderam acompanhar a chegada do Zeca e da Cissa nas aulas online. Realmente gato é um esquema de pirâmide. Os gateiros de plantão que me desmintam. O preparo do material para este concurso de Livre Docência foi intenso, cansativo. Ao mesmo tempo foi prazeroso revisitar momentos importantes e decisivos. De certa forma aconteceu uma catarse. Ficam os aprendizados desses primeiros onze anos de dedicação, uma clareza maior das escolhas que precisam ser feitas para os próximos anos de atividade como docente e os sonhos para a fase fora da Universidade, quando me aposentar. Fim. 26 Cintia Duarte de Freitas Milagre Curriculum Vitae Fevereiro/2023 27 Cintia Duarte de Freitas Milagre Curriculum Vitae _________________________________________________________________________________ Formação acadêmica/titulação 2003 - 2007 Doutorado em Química (Doc 01) Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, Brasil Título: Estudos visando a síntese enantio e diastereosseletiva de um análogo do resíduo N-terminal da nikkomicina B Ano de obtenção: 2007 Orientador: José Augusto Rosário Rodrigues Bolsista do(a): Fundação de Desenvolvimento da UNICAMP 2001 - 2003 Mestrado em Química (Doc 02) Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, Brasil Título: Estudo Quimioenzimático da Síntese do Resíduo N-Terminal de Nikkomicinas Ano de obtenção: 2003 Orientador: José Augusto Rosário Rodrigues 1996 - 2001 Graduação em Farmácia (Doc 03) Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, Brasil _________________________________________________________________________________ Pós-doutorado 2011 - 2011 Pós-Doutorado (Doc 04) Delft University of Technology, TU DELFT, Delft, Holanda Bolsista do(a): Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo 2007 - 2009 Pós-Doutorado (Doc 05) Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, Brasil Bolsista do(a): Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo _________________________________________________________________________________ Formação complementar 2022 - 2022 Curso de curta duração em Peer Instruction UNESP (Doc 06) Carga horária: 4h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2022 - 2022 Curso de curta duração em Sala de Aula Invertida na UNESP (Doc 07) Carga horária: 4h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2022 - 2022 Curso de curta duração em Gestão Administrativa e Orçamento Público na UNESP (Doc 08) Carga horária: 4h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2021 - 2021 Curso de curta duração em Divulgação científica: o desafio de incluir diferentes públicos (Doc 09) Carga horária: 8h Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - São Paulo, SBPC, Sao Paulo, Brasil 28 2020 - 2021 Curso de curta duração em Introdução à Divulgação científica (Doc 10) Carga horária: 30h Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Rio De Janeiro, Brasil 2021 - 2021 Curso de curta duração em Acessibilidade em espaços públicos no Brasil. Carga horária: 20h (Doc 11) Escola Nacional de Administração Pública, ENAP, Brasília, Brasil 2020 - 2020 Curso de curta duração em My Green Lab Ambassador (Doc 12) Carga horária: 6h My Green Lab, MY GREEN LAB, Estados Unidos 2020 - 2020 Curso de curta duração em UNESP - FORMAÇÃO INOVAGRAD (Doc 13) Carga horária: 8h Nuvem Mestra, NUVEM MESTRA, Brasil 2019 - 2019 Curso de curta duração em Green Chemistry Train-the-facilitators (Doc 14) Carga horária: 40h Yale University, YALE, New Haven, Estados Unidos 2019 - 2019 Como divulger a nossa ciência? Técnicas de Comunicação para Traduzir a Linguagem Científica (Doc 15) Carga horária: 8h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2018 - 2018 Pré-Curso de Nivelamento em Biologia Molecular (Doc 16) Carga horária: 15h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2018 - 2018 Oficina sobre o cadastro no SISGEN (Doc 17) Carga horária: 4h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2017 - 2017 Curso de curta duração em Asymmetric synthesis of bioactive compounds (Doc 18) Carga horária: 9h Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR, Sao Carlos, Brasil 2016 - 2016 Curso de curta duração em Treinamento em práticas analíticas: Sequenciador HiSeq 1000 (ILLUMINA) (Doc 19) Carga horária: 16h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2016 - 2016 Curso de curta duração em Continuous-flow microreactors – a new enabling technology for chemists (Doc 20) Carga horária: 6h Sociedade Brasileira de Química, SBQ, Sao Paulo, Brasil 2016 - 2016 Curso de curta duração em Inovação no Ensino (Doc 21) Carga horária: 8h Centro de Estudos e Práticas Pedagógicas da UNESP, CENEPE, Brasil 2015 - 2015 I Fórum sobre Disciplinas em Inglês na UNESP (Doc 22) Carga horária: 8h 2014 - 2014 Curso de curta duração em Protein structural analysis by mass spectrometry (Doc 23) Carga horária: 12h American Society for Mass Spectrometry, ASMS, Estados Unidos 29 2013 - 2013 Curso de curta duração em Curso de Prevenção de Acidentes (Doc 24) Carga horária: 20h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2013 - 2013 Curso de curta duração em Bioinformatics for protein identification (Doc 25) Carga horária: 12h American Society for Mass Spectrometry, ASMS, Estados Unidos 2012 - 2012 Curso de curta duração em Sistema de Créditos ECTS (European Credit Transfer and Accumulation System) (Doc 26) Carga horária: 24h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2012 - 2012 V Forum de Internacionalização da UNESP (European Credit Transfer and Accumulation System) (Doc 27) Carga horária: 13,5h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2011 - 2011 Curso de curta duração em Advanced Course on Biocatalysis (Doc 28) Carga horária: 28h Delft University of Technology, TU DELFT, Delft, Holanda 2011 - 2011 Curso de curta duração em Operação e instalação básica no Cromatógrafo Gasoso modelo GC-2010 Plus – marca Shimadzu (Doc 29) Carga horária: 21h SINC do Brasil 2010 - 2010 Oficina do gerenciador de referências EndNote Web (Doc 30) Carga horária: 1h Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Sao Paulo, Brasil 2009 - 2009 Curso de curta duração em Intermolecular Interactions by NMR (Doc 31) Carga horária: 16h Associação de Usuários de Ressonância Magnética Nuclear, AUREMN, Rio De Janeiro, Brasil 2007 - 2007 Curso de curta duração em Mecanismos de Fragmentação de Produtos Naturais (Doc 32) Carga horária: 6h Sociedade Brasileira de Espectrometria de Massas, BRMASS, Brasil 2002 - 2002 Curso de curta duração em Introdução a Práticas de Microbiologia (Doc 33) Carga horária: 32h Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, Brasil 1999 - 1999 Curso de curta duração em Fitoterápicos (Doc 34) Carga horária: 12h Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil 1999 - 1999 Curso de curta duração em I Curso de Antibióticos do Serviço de Infectologia (Doc 35) Carga horária: 12h Hospital Mater Dei, HMD, Brasil 1998 - 1998 Curso de curta duração em Fitoterápicos Análise da Qualidade de Matérias Prima (Doc 36) Carga horária: 16h Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, Brasil 30 1998 - 1998 Curso de curta duração em Aplicações de Técnicas de RMN na Elucidação Estrutural (Doc 37)