I UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CAMPUS BOTUCATU GUIA DE PARÂMETROS ERGONÔMICOS PARA INDÚSTRIAS FABRICANTES DE EMBALAGENS PLÁSTICAS PARA AGROTÓXICOS CRISTIANE AFFONSO DE ALMEIDA ZERBETTO Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp - Campus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Agronomia (Energia na Agricultura) BOTUCATU - SP Novembro – 2007 I UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CAMPUS BOTUCATU GUIA DE PARÂMETROS ERGONÔMICOS PARA INDÚSTRIAS FABRICANTES DE EMBALAGENS PLÁSTICAS PARA AGROTÓXICOS CRISTIANE AFFONSO DE ALMEIDA ZERBETTO Orientador: PROF. DR. JOÃO EDUARDO GUARNETTI DOS SANTOS Co-Orientador: PROF. DR. NORIVAL AGNELLI Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp - Campus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Agronomia (Energia na Agricultura) BOTUCATU - SP Novembro – 2007 III Z582g Zerbetto, Cristiane Affonso de Almeida. Guia de parâmetros ergonômicos para indústrias fabricantes de emba- lagens plásticas para agrotóxicos / Cristiane Affonso de Almeida Zerbetto. – Botucatu, 2007. xv, 195f. : il. Orientador: João Eduardo Guarnetti dos Santos. Co-orientador: Norival Agnelli. Tese (Doutorado em Agronomia - Energia na Agricultura) – Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências Agronômicas, Campus de Botucatu, 2007. Bibliografia: F. 175-182. 1. Ergonomia – Embalagens plástica – Teses. 2. Design – Embala -gens plástica – Agrotóxicos – Teses. 3. Guia de parâmetros ergonômi-cos – Teses. 4. Embalagens plástica – Indústrias – Teses. I. Santos, João Eduardo Guarnetti dos. II. Agnelli, Norival. III. Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências Agronômicas. Campus de Botucatu. IV. Titulo. CDU 658.512.2:632.95 II IV AGRADECIMENTOS À força superior, Deus, pois sem ele certamente tudo teria sido bem mais difícil, agradeço não apenas o fato de ter conseguido estar neste momento apresentando parte da pesquisa, mas dele ter me dado a missão e oportunidade do conhecer e poder transmitir este conhecimento. À minha base, meus pais, a estes devo antes de qualquer coisa o meu caráter, pois sem a educação familiar de respeito, persistência e luta jamais teria chegado até esta fase da minha vida. Ao apoio de todos os momentos, meu marido, este Deus colocou em minha vida como uma luz para iluminar o meu caminho e me ajudar a alcançar todos os meus objetivos, sempre com carinho, disposição e alegria. Ao meu irmão, agradeço pela força, amizade, compreensão e todo apoio técnico nos momentos das falhas do computador. Ao amigo André, que fez parte das viagens, cansaço, trabalhos, conhecimento, formatações e, por fim, o mais importante de tudo, a amizade sem interesse. Aos amigos do Colegiado do Curso de Design Gráfico da UEL, que em momentos imprescindíveis da minha vida profissional sempre estiveram presentes e prontos a me ajudar. Aos alunos, docentes e empresas do projeto de pesquisa, que nunca mediram esforços para atender meus pedidos. Agradeço todo o conhecimento, objetividade, otimismo e amizade do meu orientador Dr. João Eduardo Guarnetti dos Santos, o qual pode contribuir imensamente para que este trabalho se configurasse desta forma. Finalmente, o muito obrigado a todos os amigos, que de uma forma ou de outra, me ajudaram a conquistar este objetivo em minha vida. V SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ VII LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. X LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .......................................................................... XII RESUMO....................................................................................................................................1 SUMMARY................................................................................................................................2 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................................3 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................................8 2.1 Ergonomia...........................................................................................................................8 2.1.1 Introdução ..................................................................................................................8 2.1.2 Manejo ...................................................................................................................11 2.1.2.1. Histórico .....................................................................................................13 2.1.2.2 Tipos............................................................................................................14 2.1.2.3 Formas .........................................................................................................16 2.1.3 Aspectos fisiológicos e anatômicos da mão ............................................................18 2.1.4 Biomecânica ............................................................................................................23 2.1.5 Antropometria ..........................................................................................................31 2.1.6 Fatores gerais que influenciam a usabilidade ..........................................................37 2.1.7 Energia na atividade humana ...................................................................................42 2.1.8 Manuseio de cargas ..................................................................................................45 2.1.8.1 Capacidade de carga máxima ....................................................................51 2.1.8.2 Traumas musculares ..................................................................................55 2.2 Embalagem plástica para agrotóxicos ..............................................................................56 2.2.1 Polietileno de alta densidade ...................................................................................58 2.2.2 Processo de fabricação.............................................................................................61 2.2.3 Transformações tecnológicas ...................................................................................62 2.2.4 Vedação ...................................................................................................................63 2.2.5 Embalagem vazia .....................................................................................................67 2.3 Agrotóxicos.......................................................................................................................71 3 PROPOSTA DO TRABALHO............................................................................................77 Página VI 4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................79 4.1 Material.............................................................................................................................79 4.1.1 Embalagens plásticas de 20 litros para agrotóxicos ................................................79 4.1.2 Sujeitos ...................................................................................................................80 4.1.3 Ambiente do teste....................................................................................................80 4.1.4 Equipamentos ..........................................................................................................81 4.2 Métodos ............................................................................................................................81 4.2.1 Ensaio ...................................................................................................................81 4.2.2 Procedimentos experimentais ..................................................................................83 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................85 5.1 Tabulação e análise ...........................................................................................................85 5.2 Produto final...................................................................................................................117 6 CONCLUSÕES...................................................................................................................172 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................175 GLOSSÁRIO..........................................................................................................................183 APÊNDICES ..........................................................................................................................186 Apêndice 1 ...............................................................................................................................187 Apêndice 2 ...............................................................................................................................188 Apêndice 3 ...............................................................................................................................190 Apêndice 4 ...............................................................................................................................192 ANEXO 1 ................................................................................................................................194 VII LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Ação de manejo de um produto ................................................................................12 Figura 2 – Exemplos de manejo fino e grosseiro e empunhaduras prismáticas e circulares.....15 Figura 3 – Alguns tipos de pega ................................................................................................16 Figura 4 – Exemplos de manejo geométrico e antropomorfo....................................................17 Figura 5 – Ossos dos membros superiores ................................................................................19 Figura 6 – Juntas da mão...........................................................................................................20 Figura 7 – Tendão e bainha sinovial..........................................................................................20 Figura 8 – Túnel do carpo ..........................................................................................................21 Figura 9 – Estrutura anatômica da mão .....................................................................................22 Figura 10 – Angulação radial entre os dedos da mão ................................................................22 Figura 11 – Representação dos principais movimentos relacionados à mão.............................24 Figura 12 – Força de preensão dos dedos, de acordo com a posição de pega ...........................26 Figura 13 – Desenhos de pegas que proporcionam uma postura neutra do punho....................29 Figura 14 – Variáveis antropométricas das mãos ......................................................................33 Figura 15 – Antropometria estática das mãos............................................................................34 Figura 16 – Medidas da mão de parte da população alemã .......................................................35 Figura 17 – Medidas dinâmicas da mão ....................................................................................37 Figura 18 – Posições do punho ..................................................................................................39 Figura 19 - Apresentação esquemática da transformação de nutrientes em calor e energia mecânica no corpo humano ....................................................................................43 Figura 20 – No início da atividade, o organismo atua em condições desfavoráveis, com um débito de oxigênio durante dois a três minutos .......................................................44 Figura 21 – A composição do consumo total de energia do homem em relação à carga de trabalho ...................................................................................................................44 Figura 22 – Carga sobre a coluna vertebral na direção do eixo vertical....................................47 Figura 23 – Com o aumento da distância entre as mãos e o corpo há um aumento da tensão nas costas.......................................................................................................................47 Figura 24 – Carregamento manual de volumes muito altos ou desajeitados.............................48 Figura 25 – A influência da postura do corpo durante levantamento de cargas.. ......................49 Página VIII Figura 26 – Fatores de carga considerados na equação de NIOSH...........................................53 Figura 27 – Diferença entre uma garrafa em PEAD (esquerda) e em PEBD (direita)..............59 Figura 28 – Tipos de fios da vedação ........................................................................................65 Figura 29 – Tampa plástica screw cap (tampa rosca)...............................................................66 Figura 30 – Sistema child proof para segurança........................................................................66 Figura 31 – Sistema de destinação final das embalagens ..........................................................68 Figura 32 – Identificação das embalagens de Polietileno de Alta Densidade ...........................69 Figura 33 – Madeira plástica e embalagem para óleo lubrificante............................................70 Figura 34 – Conduíte corrugado obtido por reciclagem............................................................70 Figura 35 – Gráfico do consumo de agrotóxicos kg/ha .............................................................75 Figura 36 – Exemplos das embalagens Coex, Mauser e Retangular .........................................80 Figura 37 – Gráfico da distribuição segundo o desconforto ao pegar a embalagem .................86 Figura 38 - Pega da embalagem Mauser ....................................................................................87 Figura 39 - Alça da embalagem Coex .......................................................................................88 Figura 40 - Pega da embalagem Coex.......................................................................................88 Figura 41 - Pega da embalagem Retangular ..............................................................................89 Figura 42 – Gráfico da distribuição segundo se o vão da pega da embalagem é estreito para a mão .........................................................................................................................90 Figura 43 – Gráfico da distribuição segundo a posição da pega da embalagem.......................91 Figura 44 - Posição de pega nas embalagens Coex, Mauser e Retangular ................................92 Figura 45 – Gráfico da distribuição segundo se a embalagem já causou ferimento ..................93 Figura 46 - Sistema para o rompimento do lacre.......................................................................93 Figura 47 - Rebarba da costura da embalagem Retangular e espaço entre tampa e alça da embalagem Mauser ..................................................................................................94 Figura 48 – Gráfico da distribuição segundo a opinião sobre o peso da embalagem...............95 Figura 49 – Gráfico da distribuição segundo se tem dificuldade para levantar e tombar a embalagem..............................................................................................................96 Figura 50 - Pegas da embalagem Coex......................................................................................97 Figura 51 - Ausência de pega inferior na embalagem Retangular.............................................97 Figura 52 - Flexão do pulso e desvio ulnar ao tombar a embalagem Mauser ...........................98 Figura 53 – Gráfico da distribuição segundo se há necessidade de mais pega para verter o IX produto. ...................................................................................................................99 Figura 54 - Áreas de pega na parte inferior das embalagens ...................................................100 Figura 55 – Gráfico da distribuição segundo a opinião sobre a segurança de manusear a embalagem...........................................................................................................100 Figura 56 – Gráfico da distribuição segundo se sentiu alguma dificuldade ao abrir a tampa da embalagem............................................................................................................101 Figura 57 - Manuseio das tampas das embalagens pesquisadas ..............................................103 Figura 58 - Uso de ferramentas na abertura das tampas..........................................................103 Figura 59 – Gráfico da distribuição segundo se o sistema para o rompimento do lacre interno funciona. ...............................................................................................................103 Figura 60 - Tentativas de rompimento do lacre .......................................................................104 Figura 61 – Gráfico da distribuição segundo a força exigida para o rompimento do lacre.....105 Figura 62 - Posições do pulso inadequadas e adequada..........................................................105 Figura 63 – Gráfico da distribuição segundo o tamanho da pega da tampa desta embalagem............................................................................................................106 Figura 64 – Gráfico da distribuição segundo se já devolveu a embalagem sem a tampa por tê- la perdido ..............................................................................................................107 Figura 65 – Gráfico da distribuição segundo se considera interessante deixar a tampa unida à embalagem após seu uso.......................................................................................108 Figura 66 – Gráfico da distribuição segundo se costuma utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) ao manusear a embalagem.........................................................109 Figura 67 – Gráfico da distribuição segundo se acha interessante poder visualizar o nível do agrotóxico dentro da embalagem..........................................................................110 Figura 68 - Transferência do agrotóxico para um recipiente menor .......................................111 Figura 69 – Gráfico da distribuição segundo o tipo de embalagem preferida .........................111 Figura 70 - Detalhes formais da embalagem Coex..................................................................112 Figura 71 - Detalhes formais da embalagem Retangular .........................................................112 Figura 72 - Detalhes formais da embalagem Mauser ..............................................................113 X LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Síntese das recomendações biomecânicas para o Guia de Parâmetros Ergonômicos .................................................................................................................................30 Tabela 2 - Estimativa antropométrica das mãos.. ......................................................................32 Tabela 3 – Medidas da antropometria estática das mãos...........................................................34 Tabela 4 – Medidas da mão humana estendida. ........................................................................34 Tabela 5 – Medidas da mão da população alemã ......................................................................35 Tabela 6 – Medidas da mão direita............................................................................................35 Tabela 7 – Estimativa antropométrica das mãos dos brasileiros ...............................................36 Tabela 8 – Dimensões de pega e empunhadura .........................................................................41 Tabela 9 - Força máxima das pernas, braços e costas (população feminina e masculina) ........51 Tabela 10 - Capacidade de levantamento repetitivo de pesos (população feminina e masculina) ................................................................................................................................51 Tabela 11 - Cargas máximas permissíveis em kg em diferentes situações ...............................52 Tabela 12 - Qualidade da pega (C) e altura inicial do levantamento (V) ..................................53 Tabela 13 - Valores da frequência (F) e da altura inicial do levantamento (V) ........................54 Tabela 14 – Localização de dores no corpo provocadas por posturas inadequadas ..................56 Tabela 15 - Tipos de embalagens rígidas para produtos fitossanitários ....................................57 Tabela 16 - Classificação da toxidade de agrotóxicos de acordo com a cor do rótulo..............73 Tabela 17 - Distribuição segundo a faixa etária. .......................................................................85 Tabela 18 - Distribuição segundo a mão de preferência para pega. ..........................................86 Tabela 19 - Distribuição segundo se sentiu desconforto ao pegar a embalagem ......................86 Tabela 20 - Distribuição segundo se o vão da pega da embalagem é estreito para a mão. .......89 Tabela 21 - Distribuição segundo a opinião sobre a posição da pega da embalagem. ..............91 Tabela 22 - Distribuição segundo se a embalagem já causou ferimento nas mãos ...................92 Tabela 23 - Distribuição segundo a opinião sobre o peso da embalagem. ................................94 Tabela 24 - Distribuição segundo se tem dificuldade para levantar e tombar a embalagem.....96 Tabela 25 - Distribuição segundo se há necessidade de mais pega para verter o produto. .......98 Tabela 26 - Distribuição segundo a opinião sobre a segurança de manusear a embalagem ...100 Tabela 27 - Distribuição segundo se sentiu alguma dificuldade ao abrir a tampa. .................101 Página XI Tabela 28 - Distribuição segundo se o sistema para o rompimento do lacre funciona ...........103 Tabela 29 - Distribuição segundo a força exigida para o rompimento do lacre da tampa ......104 Tabela 30 - Distribuição segundo a opinião sobre o tamanho da pega da tampa ....................106 Tabela 31- Distribuição segundo se já devolveu a embalagem sem a tampa..........................107 Tabela 32 - Distribuição segundo se considera interessante deixar a tampa unida à embalagem após seu uso. .........................................................................................................108 Tabela 33 - Distribuição segundo se costuma utilizar equipamentos de proteção individual ao manusear a embalagem. ........................................................................................109 Tabela 34 - Distribuição segundo se acha interessante poder visualizar o nível do agrotóxico dentro da embalagem............................................................................................110 Tabela 35 - Distribuição segundo o tipo de embalagem preferida ..........................................111 Tabela 36 - Distribuição segundo sugestões com relação às embalagens. ..............................113 Tabela 37 – Distribuição segundo outras sugestões. ...............................................................114 Tabela 38 – Síntese percentual dos aspectos negativos em relação à cada embalagem..........115 Tabela 39 – Síntese dos aspectos negativos em relação às três embalagens ...........................115 Tabela 40 – Diretrizes básicas da pesquisa de campo para o Guia .........................................115 XII LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANDAV - Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários A - Ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital, em graus ANDEV - Associação Nacional de Defesa Vegetal apud - Citado por BA - Bahia C - Qualidade da pega °C - Graus Celsius cm - Centímetro CB23 - Comitê Brasileiro de Embalagem e Acondicionamento CNA - Confederação Nacional da Agricultura COROL - Cooperativa Agroindustrial D - Deslocamento vertical, entre a origem e o destino, em cm d.p. - desvio padrão EPI - Equipamento de Proteção Individual F - Freqüência média de levantamentos em levantamentos/min Gb - Gigabyte GO - Goiás H - Distância horizontal entre o indivíduo e a carga (posição das mãos) em cm h - Hora HD - Hard Disk HDPE - High Density Polyethylene XIII IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística InpEV - Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias IPJ - Junta Interfalangeal ISO - International Standard Organization kcal - Quilocaloria kg - Quilograma kg/ha - Quilo por hectare kgf - Quilograma força kj - Quilojoule km- Quilômetro kp - Quilopondio LBDI - Laboratório Brasileiro de Desenho Industrial LEST - Laboratoire d´Économie et de Sociologie du Travail Ltda. - Limitada MbRAM - Memória RAM MG - Minas Gerais Mhz - Megahertz min. - Minuto mm - Milímetro MS - Mato Grosso do Sul MT - Mato Grosso XIV N - Newton NBR - Norma Brasileira da ABNT NIOSH - National Institute for Occupational Safety an Health NR - Norma Regulamentadora da Portaria n° 3.214 do Ministério do Trabalho OIT - Organização Internacional do Trabalho OWAS-OVAKO - Working Posture Analysing System p - Nível Descritivo PE - Polietileno PEAD - Polietileno de Alta Densidade PEAD MONO - Polietileno de Alta Densidade PET - Polietileno Tereftalado PIPJ - Junta Interfalangeal Proximal PLR - Peso Limite Recomendável PR - Paraná PVC - Policloreto Cloreto de Vinila PVOH - Álcool Polivinílico RS - Rio Grande do Sul S.A. - Sociedade Anônima s.d. - Sem data seg. - Segundo SP - São Paulo V - Distância vertical na origem da carga (posição das mãos) em cm W - Watt 1 GUIA DE PARÂMETROS ERGONÔMICOS PARA INDÚSTRIAS FABRICANTES DE EMBALAGENS PLÁSTICAS PARA AGROTÓXICOS. Botucatu, 2007. 195 p. Tese (Doutorado em Agronomia / Energia na Agricultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista. Autora: CRISTIANE AFFONSO DE ALMEIDA ZERBETTO Orientador: PROF. DR. JOÃO EDUARDO GUARNETTI DOS SANTOS RESUMO A tese apresentada tem como objetivos verificar os problemas de usabilidade encontrados durante o manuseio das embalagens plásticas de 20 litros para agrotóxicos – a Coex, a Mauser e a Retangular - fabricadas pela Cimplast Ltda. e utilizadas pela Milênia Agro Ciência S.A., e com base nos dados teóricos levantados e nos problemas de usabilidade encontrados na pesquisa de campo, elaborar um Guia de Parâmetros Ergonômicos para o Design das Embalagens Plásticas para Agrotóxicos, direcionado às indústrias destas embalagens. Para a realização desta pesquisa foi realizado um levantamento do estado da arte em publicações pertinentes ao assunto, englobando a Ergonomia, como o fio condutor da pesquisa, e dentro deste assunto maior estudou-se o manejo, os aspectos fisiológicos e anatômicos da mão, a biomecânica, a antropometria, os fatores gerais que influenciam a usabilidade, a energia humana, o manuseio de cargas, a capacidade de carga máxima, os traumas musculares, também buscou-se um maior conhecimento sobre a embalagem plástica para agrotóxicos, envolvendo o estudo sobre o polietileno de alta densidade, os processos de fabricação, as transformações tecnológicas deste tipo de embalagem, a vedação, o destino da embalagem vazia, e por fim os agrotóxicos. Após este aprofundamento teórico, defin iu-se as metodologias apropriadas para verificação dos requisitos ergonômicos de usabilidade destas embalagens e, para concluir esta etapa realizou-se um estudo estatístico onde pode-se confirmar as hipóteses. Com base em todos estes dados foi elaborado o Guia de Parâmetros Ergonômicos direcionado às indústrias fabricantes de embalagens plásticas para agrotóxicos. _________________________________________________ Palavras-chave: Ergonomia, embalagem plástica, agrotóxico. 2 ERGONOMIC PARAMETERS GUIDE FOR INDUSTRIES MANUFACTURERS OF AGRITOXIC’S PLASTIC PACKING. Botucatu, 2007. 195 p. Tese (Doutorado em Agronomia / Energia na Agricultura) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista. Author: CRISTIANE AFFONSO DE ALMEIDA ZERBETTO Adviser: PROF. DR. JOÃO EDUARDO GUARNETTI DOS SANTOS SUMMARY The present thesis has as objective to verify the found problems of usability during the manuscript of the plastic packing of 20 liters for agritoxics - the Coex, the Mauser and the Rectangular one - manufactured by Cimplast Ltda. and used by Milênia Agro Sciences, and on the basis of the raised theoretical data and in the problems of usability found in the field research, to elaborate a Ergonomic Parameters Guide for the Design of the Plastic Packing for Agritoxics, directed to the industries of these packing. For the accomplishment of this research a survey of the state of the art in pertinent publications to the subject was carried through, taking in consideration the Ergonomics, as the direction of the research, and inside of this bigger subject the handling was studied, the physiological aspects and anatomical of the hand, the biomechanics, the anthropometry, the general factors that influence the usability, the energy of the human being, the load manuscript, the maximum load capacity, the muscular traumas, also searched if a greater knowledge on the plastic packing for agritoxics, involving the study on high density’s polyethylene, the manufac ture processes, the technological transformations of this type of packing, the prohibition, the destination of the empty packing, and finally the agritoxics. After this theoretical deepening, defined the methodologies most appropriate for ergonomic requirements verification of this packing usability, and to conclude this stage was made a statistical study where the hypotheses can be confirmed. Based on all these data were elaborated the Ergonomic Parameters Guide directed to the industries manufacturers of agritoxics plastic packing. ________________________________________ Keywords: Ergonomics, plastic packing, agritoxic. 3 1 INTRODUÇÃO Dentre as ciências estudadas na atualidade está a Ergonomia, a qual tem como síntese dos seus objetivos a segurança, a satisfação e o bem-estar do usuário na realização de suas atividades, sejam no lazer ou no trabalho. Vale destacar que estas atribuições não pertencem apenas à Ergonomia, mas a diferença está na forma científica e interdisciplinar como ela trata esses assuntos, tendo para isto uma sólida base de conhecimentos e metodologias para poder interferir na estruturação e execução do projeto, buscando desta maneira resultados finais mais amigáveis junto ao ser humano. Um ponto importante em relação à Ergonomia é que a mesma deve ser considerada como o meio para se obter maior sucesso em um projeto, ela não tem a pretensão de se sobrepor às ações projetuais, mas quando utilizada o homem passa a ser o centro do processo projetual, onde todas as decisões estarão direcionadas a ele, chegando a soluções bem mais coerentes com as suas necessidades e desejos. Neste sentido pode-se dizer que quando as capacidades e os limites do usuário são respeitados, as condições de insegurança, insalubridade, stress, desconforto, fadiga e ineficiência podem ser eliminados, ou ao menos amenizados. Sintetizando, a Ergonomia pode proporcionar ao processo projetual 4 um direcionamento mais sistemático para a análise, especificação e avaliação dos requisitos de usabilidade, chegando a um resultado que permita ao ator principal, o ser humano, maior conforto, saúde, segurança, qualidade de vida e uso adequado da energia. Este uso apropriado da energia humana está totalmente vinculado à maneira de se executar uma atividade física, e isto é uma responsabilidade da Ergonomia. A produção desta energia ocorre por meio da alimentação e do ar inseridos no interior do corpo, o qual transforma estas fontes físicas, biológicas e químicas em energia térmica e mecânica, responsáveis pela sobrevivência do ser humano, mantendo seu corpo em funcionamento e permitindo ao mesmo a execução de suas tarefas de ordem física e/ou psíquica. Relacionado às tarefas de ordem física tem-se o manuseio das Embalagens Plásticas de 20 litros para Agrotóxicos fabricadas em Polietileno de Alta Densidade, objeto de investigação desta pesquisa. Quanto ao manuseio destas embalagens, a Ergonomia pode contribuir consideravelmente com as informações já disponíveis nas publicações, envolvendo o manejo, seus tipos e formas; os aspectos fisiológicos e anatômicos da mão; a biomecânica, com as posturas e forças; a antropometria; os fatores gerais que influenciam a usabilidade; o manuseio de cargas; a capacidade de carga máxima; e os traumas musculares. Estas informações, quando bem aplicadas no desenvolvimento dos projetos das embalagens, podem contribuir significativamente para o melhor desempenho das atividades com menor gasto energético, tornando a vida dos agricultores, muitas vezes desvalorizados e desmotivados, um pouco mais salutar e agradável, com um produto que realmente foi pensado com base em parâmetros humanos importantes para eles. Percebe-se no decorrer da história do design que pouco tem se aplicado os conceitos ergonômicos aos produtos de pequeno porte vinculados à agricultura, dentre estes encontram-se as embalagens plásticas de agrotóxicos disponíveis no mercado. Antes de explanar especificamente as questões funcionais destes produtos, serão vistos alguns dados importantes que justificam o direcionamento da pesquisa. 5 Primeiramente, chama-se atenção para o crescimento do uso dos materiais plásticos ou polímeros. Estes até a metade do século XX não ultrapassavam a produção industrial de 350.000 toneladas/ano, contudo este número deve atingir 200 milhões de toneladas no século XXI, podendo-se perceber um aumento significativo no seu consumo e, consequentemente, nas novas tecnologias que os acompanharão (MANO; MENDES, 2000). Entre os polímeros que se destacam neste crescimento desenfreado está o Polietileno, sendo o Polietileno de Alta Densidade a segunda resina mais reciclada no mundo (IDENTIFICAÇÃO…, 2005). Um outro dado releva nte foi apontado pelo presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, João César Rando, onde ele relata que no ano de 2005 foram comercializadas 38 mil toneladas de embalagens de agrotóxicos, sendo este um número considerável, o qual realmente justifica a realização de pesquisas que possam contribuir para o aprimoramento do desempenho destes produtos (INPEV, 2005 apud EMBALAGEM…, 2005). Entre as embalagens vazias de agrotóxicos devolvidas, o Paraná é o que aparece na frente, com um volume de 2.358 toneladas, sendo este um estado de destaque, tanto no consumo destas embalagens, como na conscientização da devolução das mesmas (DESENVOLVIMENTO…, 2005). Existem vários tipos de embalagens plásticas para agrotóxicos, porém as mais problemáticas são as de 20 litros. Este apontamento é feito com base no peso considerável destas embalagens quando já envasadas, aproximadamente 23 kg, sendo necessário no momento de verter o produto a utilização das duas mãos, porém algumas delas apresentam apenas uma pega superior dificultando muito a ação, podendo ocorrer o derramamento de um produto caro e altamente perigoso para a salubridade do usuário , ou mesmo o comprometimento dos discos intervertebrais. Sabe-se que 60% das lesões musculares têm sido ocasionadas pelo levantamento de cargas de forma indevida, seja pelo seu posicionamento em relação ao corpo, pelo excesso de peso ou mesmo devido ao design do produto a ser manuseado (BRIDGER, 6 2003 apud IIDA, 2005). Um outro dado relevante em relação a este assunto é que 20% dos afastamentos no trabalho e 50% das solicitações de aposentadoria precoce são decorrentes dos traumas nos discos intervertebrais; e entre as profissões mais suscetíveis às doenças dos discos intervertebrais, encontra-se a do agricultor (KRÄMER, 1973 apud GRANDJEAN, 1998). Além do fator peso/quantidade de pegas, deve-se destacar a grande dificuldade encontrada para romper o lacre no bocal da embalagem. Apesar de alguns modelos apresentarem uma área de corte sobre a tampa, a qual deve ser invertida e forçada para baixo para romper o lacre, isto não ocorre; além do usuário machucar sua mão durante esta tarefa, acaba entrando em contato direto com o agrotóxico, pois muitas vezes usa o dedo para efetuar a ação. É interessante ressaltar que no rótulo vem indicado o uso de luvas descartáveis, porém este é um produto manuseado normalmente pelo empregado agrícola, pessoas estas com um baixo nível de instrução, muitos até analfabetos, os quais normalmente não usam os Equipamentos de Proteção Individual, não estão preparados para a manipulação de produtos tóxicos e nem recebem as instruções sobre os perigos a que se expõe. Eles não acreditam que os agrotóxicos, em contato com a pele, sem queimá-la ou irritá- la, possam ser absorvidos em quantidades mortais, ou causar sérios danos de ordem respiratória, neurológica e/ou cancerígena; neste sentido as intoxicações são muito freqüentes. A faixa etária com maior incidência de problemas decorrentes do uso indevido de agrotóxicos está entre os 20 e 29 anos, com cerca de 35 % do total, atingindo na maioria homens, com mais de 80 % das notificações. Dentre as incidências, quase 75 % estão relacionadas a intoxicação pelo exercício da atividade profissional ou por acidente no manuseio do produto (AGROTÓXICO…, 2005). Um outro problema nestas embalagens são algumas dimensões inadequadas para a mão do usuário, causando incômodo a este e prejudicando o desempenho do mesmo na sua atividade. A solda a quente localizada próxima a pega principal da embalagem, também pode se tornar um sério problema, se por ventura ocasionar ferimento na mão do 7 agricultor, considerando a toxidade destes produtos e a normal ausência do uso de EPI, neste caso a luva. Com base nestes problemas indicados, percebe-se que as indústrias fabricantes deste tipo de embalagem pouco tem aplicado os parâmetros ergonômicos, os quais são indispensáveis para o aprimoramento das questões de usabilidade destes produtos. Vale salientar que muitas vezes o designer destas empresas tem um tempo muito exíguo para o desenvolvimento dos projetos das embalagens, não conseguindo buscar todas as informações ergonômicas necessárias para a concepção das mesmas. Fundamentado nestas observações, o objetivo geral desta pesquisa é verificar os problemas de usabilidade encontrados durante o manuseio das embalagens plásticas de 20 litros para agrotóxicos – a Coex, a Mauser e a Retangular - fabricadas pela empresa Cimplast Ltda. e utilizadas pela indústria Milênia Agro Ciência S.A., e com base nos dados teóricos levantados e nos problemas de usabilidade encontrados na pesquisa de campo, elaborar um Guia de Parâmetros Ergonômicos para o Design ou Redesign das Embalagens Plástica para Agrotóxicos, direcionado às indústrias destas embalagens. Como objetivos específicos pretende-se verificar e analisar os modelos das embalagens plásticas de 20 litros para agrotóxicos junto à empresa Cimplast Ltda.; averiguar se os modelos de embalagens selecionadas apresentam a quantidade e o design da pega adequados para o seu manuseio; apontar os problemas de usabilidade apresentados durante o manuseio destas embalagens; propor um documento com os parâmetros ergonômicos levantados; contribuir de forma prática e efetiva com o desenvolvimento de embalagens para agrotóxicos ergonomicamente corretas. 8 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Ergonomia 2.1.1 Introdução Neste tópico são abordadas algumas definições e conceitos básicos sobre a Ergonomia, os quais dão suporte para o trabalho como um todo. A Ergonomia é considerada por Iida (2005) como uma ciência que tem como objetivo estudar o relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente e, particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desta relação. De acordo com Pheasant (1988), a Ergonomia tem por objetivo adaptar o trabalho ao trabalhador e o produto ao usuário. Percebe-se que de forma geral esta ciência tem o homem como foco principal, e os demais elementos devendo funcionar em relação ao mesmo, jamais o inverso. 9 Considerando as definições que cercam a Ergonomia, existem alguns termos que merecem uma melhor elucidação, como por exemplo, a “máquina” refere-se a todos aqueles aparatos físicos utilizados durante o trabalho e o lazer, o termo “trabalho” está relacionado com as atividades, remuneradas ou não, as quais são desempenhadas pelo homem para atingir um objetivo, utilizando-se de um sistema manual, mecânico ou informatizado, dentro de certo ambiente e, por fim, o termo “homem” engloba as características fisiológicas, anatômicas, biomecânicas, psicológicas e cognitivas do usuário envolvido na tarefa (FRISONI; MORAES, 2000). Segundo Meister e Enderwick (2002), o “homem” ou “usuário” pode ser classificado em vários tipos, tais como: adulto, criança, idoso, normal e deficiente. Também é possível caracterizá-lo pela idade, gênero, capacidade (exemplo: nível de inteligência), recursos econômicos (renda) e interesses (exemplo: automóveis). Os objetivos práticos da Ergonomia de uma forma geral são a segurança, a satisfação e o bem-estar do ser humano na execução de suas tarefas, buscando ao máximo a redução dos problemas causados por estas atividades. É importante ressaltar que estes objetivos não são méritos somente da Ergonomia, mas a diferença se dá na forma científica e interdisciplinar como esta trata esses assuntos, tendo para isto uma sólida base de conhecimentos e metodologias para poder interferir na execução do projeto, como na sua operação, obtendo desta forma resultados finais satisfatórios (DUL; WEERDMEESTER, 1995; IIDA, 2005). É interessante destacar que a Ergonomia tem utilizado de maneira enfática a metodologia da análise da tarefa, tendo como foco principal o homem manuseando os produtos, a fim de poder criar um quadro-diagnóstico dos pontos críticos que envolvem a situação de trabalho abordada, e a partir deste poder fazer as recomendações necessárias para se obter maior conforto e satisfação do usuário e, consequentemente, um aumento da produtividade e redução dos acidentes e doenças ocupacionais. Com estas informações fica evidente que vale dispensar maior atenção à integração da Ergonomia ao desenvolvimento de produtos. Contudo, deve-se observar as colocações de Righi et al. (2005, p. 3), onde aponta-se para o fato de que a Ergonomia não é 10 uma atividade de índole executiva, a mesma busca estabelecer parâmetros para os projetos, onde serão solucionados os problemas detectados por ela. Enfim, esta ciência é considerada “…uma ‘atividade-meio’ que não se contrapõe, mas que também não se sobrepõe às atividades executivas e/ou projetuais. Seu melhor papel é o de contribuir para que o ser humano (com suas particularidades) seja considerado como ator nas decisões a serem tomadas no processo de projeto.” A Ergonomia pode oferecer ao processo de projeto um enfoque mais sistemático para a análise, especificação e avaliação dos requisitos de usabilidade. Os dados fornecidos por esta ciência são capazes de conferir maiores e melhores condições ao designer na concepção de interfaces bem sucedidas com o usuário (MORAES, 1993). Entende-se pelo termo usabilidade “...a capacidade em atender as necessidades apresentadas pelos usuários desse produto, através de um processo de avaliação específico” (BUTTI, 1995 apud ALMEIDA; NAVEIRO, 1998, p. 375). Para Han et al. (2001), a usabilidade envolve além do grau de eficiência e facilidade de uso do produto, os fatores emocionais e comportamentais ligados à atratividade deste, ou seja, os aspectos subjetivos passaram a ser considerados. Ao relacionar a ergonomia com o design é importante se pensar de um modo mais global segundo Benktzon (1993), ou seja, no design universal, o qual está preocupado com um número mais abrangente de usuários, pois é preciso lembrar que nem todos têm uma condição operacional saudável, e que estas pessoas também merecem atenção no desenvolvimento dos produtos. Pece (1995) chama atenção para um detalhe essencial que diz respeito ao produto considerado correto; para o autor este não deve simplesmente ser adequado para a tarefa em questão, mas deve principalmente ser julgado correto pelo usuário em termos de peso, formas, vantagens mecânicas, sensibilidade ao contato e modo de utilização, reduzindo assim o processo de fadiga e tensão física ao final de seu uso. Na concepção de Dul e Weerdmeester (1995), todas as condições de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência podem ser eliminadas, quando as capacidades e limitações do homem são respeitadas. 11 De acordo com Putz-Anderson (1992), o desenvolvimento ergonômico de um produto, que tem por objetivo a prevenção das lesões por traumas cumulativos, deve considerar os seguintes fundamentos: evitar altas forças de contato e carregamento estático; evitar posições extremas ou inadequadas das articulações; evitar ação repetitiva dos dedos; evitar vibrações. Para que isto seja possível é preciso que fatores ergonômicos como o formato, dimensões, estratégia de utilização, aspectos biomecânicos, fisiológicos e anatômicos das partes do corpo envolvidas, sejam observados e aplicados com seriedade, proporcionando desta maneira uma relação amigável entre produto e usuário. Pheasant (1988) sintetiza o enfoque ergonômico do design dizendo que se um objeto, um sistema ou um ambiente é elaborado para o ho mem, seu design deve estar embasado nas características físicas e mentais deste, chegando a um resultado que permita ao mesmo facilidade de uso, conforto, saúde, segurança e qualidade de vida. Por fim, pode-se dizer que não adiantaria a existência da Ergonomia e dos Ergonomistas, se efetivamente não ocorressem as Ações Ergonômicas, as quais proporcionam as melhorias necessárias ao homem no campo de trabalho. A seguir se pode conhecer o elemento ergonômico principal desta pesquisa, o manejo. 2.1.2 Manejo Neste tópico e seus sub-tópicos são apresentados um breve histórico sobre o manejo, seus tipos e formas. Dentre os conhecimentos que a Ergonomia detém está o manejo, o qual é considerado como a forma de contato estabelecida entre o homem e o produto, por 12 meio dos membros superiores ou inferiores, executando assim a ação de comando para a realização da tarefa (IIDA, 2005). A ação de manejo é definida por Gomes Filho (1995, p. 92) como sendo “o ato de pegar, movimentar e/ou por em funcionamento, manter em funcionamento ou fazer cessar o funcionamento de um produto de uso. Através de ações de simples pega ou empunhadura, e ainda, por meio do acionamento de elementos...” (Figura 1). Figura 1 – Ação de manejo de um produto Fonte: (DUL; WEERDMEESTER, 1995) Bullinger e Solt (1979 apud PASCHOARELLI; COURY, 2000), revelam um taxonomia das formas de pega, dividindo-as em: contato: se dá pelo toque ou aperto com os dedos e /ou palma da mão; pega: se dá pelo envolvimento dos extremos dos dedos em redor dos componentes dos equipamentos; empunhadura: se dá pelo envolvimento palmar ao redor dos equipamentos. A abordagem desta pesquisa esta direcionada para o manejo com os membros superiores, por se tratar da tarefa de manusear com as mãos as embalagens plásticas (bombonas) de 20 litros para agrotóxicos. Acredita-se que a mão humana é uma parte fundamental do corpo, e talvez a mais usada, permitindo uma enorme mobilidade de movimentos com aplicação de força, velocidade e precisão variadas de acordo com as características do homem e dos 13 manejos (MURALIDHAR; HALLBECK, 1999). A partir desta colocação fica clara a importância da relação que deve ser estabelecida entre o design da empunhadura do produto e a anatomia, fisiologia, biomecânica e antropometria da mão dos usuários que irão utilizá- lo. O manejo dos produtos tanto pode aumentar a capacidade manipulativa do homem, quanto causar problemas de indisposições crônicas ou de ordem clínica ao usuário, dependendo da qualidade ergonômica da forma de engate (MCCORMICK, 1980; PECE, 1995). Características do manejo, como textura, tamanho, diâmetro, vibrações, luvas, ou mesmo a presença de uma substância tóxica, como no caso das embalagens de agrotóxicos, todos estes itens irão alterar o resultado da interface mão/produto, dependendo da maneira que forem tratados (FREIVALDS, 1996 apud MCGORRY, 2000). Conclui-se, portanto, que o manejo é parte integrante e fundamental para o bom desempenho de um produto, por conseguinte, as pesquisas realizadas sobre o assunto serão essenciais para o desenvolvimento de novos produtos, atendendo cada vez melhor as necessidades e características dos usuários. Para melhor compreensão do tópico descrito acima, será apresentado um pouco da história do manejo. 2.1.2.1.Histórico Desde a pré-história o homem já se preocupava com uma melhor adaptação do instrumento a sua mão, o qual seria usado para a execução da tarefa. Esta colocação fica evidente, quando Iida (2005) exemplifica dizendo que o homem pré-histórico já escolhia a pedra cujo formato melhor se adaptasse à forma e movimentos de sua mão, para usá-la como arma; outro exemplo fornecido por Moraes e Mont’Alvão (2000), são as empunhaduras de foices, com data de séculos passados, onde estas já demonstravam uma preocupação em adequar o formato da pega às características das mãos dos usuários, de forma a propiciar maior conforto na sua usabilidade. 14 Dentro desta evolução histórica sócio -tecnológica a Revolução Industrial foi primordial para alavancar uma série de desenvolvimentos, entre eles os sistemas de manuseio dos produtos. Pode-se dizer que nos últimos 150 anos, com as transformações nos processos industriais, houveram consideráveis evoluções nas pegas e empunhaduras, entre elas destaca-se a “Empunhadura Lamb”, criada em 1941 por Thomas Lamb, conhecida como o “...primeiro design de empunhaduras cientificamente ergonômico”, por advir de diversos estudos, registros e referências teórico-práticas (GANTZ, 1996 apud PASCHOARELLI; COURY, 2000, p. 82). Apesar de todas as evoluções ocorridas desde os primórdios até os nossos dias, ainda podem ser melhorados muitos manejos, considerando tanto a forma da pega, como a usabilidade dos produtos. 2.1.2.2.Tipos A seguir são apontados alguns tipos de manejo e empunhaduras, de acordo com as referências bibliográficas pesquisadas. Segundo Iida (2005), os manejos se classificam em manejo fino e manejo grosseiro. manejo fino: é aquele executado pelas pontas dos dedos, fornecendo grande precisão e velocidade aos movimentos, com pouca força transmitida. Este tipo de manejo é indicado para as tarefas mais delicadas que exigem maior precisão (Figura 2). manejo grosseiro: é aquele onde os dedos apenas seguram o objeto, enquanto o movimento é executado pelo punho e braço. Este tipo de manejo é indicado quando se necessita de grande força, com velocidade e precisão reduzidas (Figura 2). Para confirmar estes apontamentos, Grandjean (1998) diz que o movimento da mão é mais rápido e preciso quando este é executado pelo antebraço, já a utilização do braço no movimento retarda a velocidade e reduz a precisão. 15 Figura 2 – Exemplos de manejo fino e grosseiro e empunhaduras prismáticas e circulares Fonte: (IIDA,2005) Cutkosky e Wright (1986 apud KINOSHITA et al., 1996), dividiram o manejo realizado por pressão com múltiplos dedos em duas grandes categorias, a empunhadura circular e a prismática. empunhadura circular: envolve discos, esferas e modelos de pega com o mínimo de três dedos (tripé), onde o dedo polegar e os outros dedos são dispostos radialmente em torno do objeto (Figura 2). empunhadura prismática: são as pegas onde o dedo polegar opõe-se aos demais ao segurar objetos planos (Figura 2). Ao considerar as referências de Putz-Anderson (s.d. apud RIO; PIRES, 2001), os tipos de pegas podem estar divididos da seguinte maneira (Figura 3). 16 Figura 3 – Alguns tipos de pega Fonte: (PUTZ-ANDERSON, s.d. apud RIO; PIRES, 2001) Sapién (1996) faz uma colocação interessante com relação a estes tipos de pega, dizendo que a pega medial irá proporcionar força ao usuário, enquanto que a pega em pinça lateral e pulpar irá transmitir maior precisão à ação executada pelo mesmo. Ele diz ainda que o uso repetitivo da pega em pinça acaba criando uma fricção nos tendões que movimentam o dedo polegar, e se esta pega exigir a flexão do pulso a tarefa pode se tornar extremamente fadigante. Percebe-se que de uma forma geral os tipos de manejo estão muito inter-relacionados com força e precisão, sendo estas as variáveis principais que direcionam a maioria das suas classificações. Além dos tipos diferentes de manejo, existem também particularidades formais entre os mesmos, as quais serão abordadas logo abaixo. 2.1.2.3.Formas 17 Segundo Iida (2005), existem basicamente dois tipos de desenhos de manejo, o geométrico e o antropomorfo. manejo geométrico: este se assemelha a uma figura geométrica regular, proporcionando uma menor superfície de contato com as mãos. Como vantagem permite maiores variações de pega e sem sofrer demasiadamente as conseqüências das variações individuais das medidas antropométricas. Como desvantagem ocasiona alguns pontos de tensão na mão e transmite menos força (Figura 4). manejo antropomorfo: este caracteriza-se por apresentar uma superfície irregular, a qual irá se conformar com a parte do corpo em contato com o mesmo. Tem como vantagem maior superfície de contato, maior firmeza de pega, transmite maiores forças, com menor concentração de tensões em relação ao manejo anterior. Por desvantagem limita a pega a uma ou duas posições, podendo gerar fadiga para um trabalho prolongado, exigindo apenas uma pequena variação das medidas antropométricas dos usuários envolvidos (Figura 4). Alguns autores recomendam a pega antropomorfa apenas quando o uso do equipamento for para um perfil de usuários que não apresenta discrepância nas medidas antropométricas. Caso contrário, este formato de pega pode prejudicar o controle da ação desenvolvida, reduzindo a força quando os dedos ficam afastados, ou se estes forem maiores do que o espaço destinado a eles, podendo sofrer força compressiva nas suas laterais, por onde passam inúmeros nervos e veias, causando fadiga ao usuário (LEWIS; NARAYAN, 1993; PECE, 1995). Figura 4 – Exemplos de manejo geométrico e antropomorfo Fonte: (IIDA, 2005) 18 Após a identificação dos tipos e formas dos manejos, serão verificados alguns aspectos fundamentais para a análise e desenvolvimento da pega de um produto. 2.1.3 Aspectos fisiológicos e anatômicos da mão Este tópico trata dos aspectos anatômicos e fisiológicos das mãos, ou seja, como estas são constituídas e o seu funcionamento. São inúmeros os fatores ergonômicos que irão exercer influência sobre o manejo e a usabilidade dos equipamentos, dispositivos e ferramentas manuais, entre estes destacam-se os aspectos fisiológicos e anatômicos das mãos dos indivíduos, a biomecânica, a antropometria, entre outros (PASCHOARELLI; COURY, 2000). O fato de se conhecer alguns detalhes sobre a mão torna-se fundamental quando o assunto tratado é o manuseio de um produto. De acordo com Iida (2005), a mão humana pode ser considerada como uma das “ferramentas” mais complexas, versáteis e sensíveis do ser humano. É através da sua mobilidade que o homem torna-se capaz de manusear os produtos ao seu redor. Esta parte do membro superior é formada por pele, tendões, veias, artérias, nervos, músculos e ossos, sendo que as características anatômicas, fisiológicas, biomecânicas e antropométricas irão permitir, e ao mesmo tempo restringir, certas ações de manejo ao usuário. Quanto à parte anatômica e fisiológica da mão, Moraes e Pequini (2000) relatam que a sua formação se dá pelos ossos carpianos, metacarpianos e falanges (Figura 5). A irrigação ocorre através das artérias radial e ulnar, e participam das inervações os nervos mediano, radial e ulnar. 19 Figura 5 – Ossos dos membros superiores Fonte: (GRANT, 1965 apud SAPIÉN, 1996) De acordo com Paschoarelli e Coury (2000, p. 88), os ossos da mão são divididos em três porções, somando um total de vinte nove, são eles: “ossos do carpo, constituindo um conjunto proximal de quatro ossos – escafóide, semilunar, piramidal e pisiforme – e outro conjunto distal também com quatro ossos – trapézio, trapezóide, capitato e ulnato; ossos do metacarpo, caracterizado por cinco ossos denominados metacarpos – um para cada dedo; e associado ao metacarpo do polegar, dois pequenos ossos denominados sesamóides; falanges, caracterizados por duas falanges no polegar – proximal e distal; e três falanges em cada um dos demais dedos (proximal, média e distal)”. Com relação às juntas entre os ossos da mão têm-se os seguintes tipos: juntas planas: aquelas cujas superfícies opostas são praticamente planas, como dos ossos carpianos (Figura 6); juntas uniaxiais: são juntas dobráveis, onde uma superfície é côncava e a outra convexa, e o movimento se dá em um eixo horizontal, como nas falanges (Figura 6). 20 Figura 6 – Juntas da mão Fonte: (CROUCH, 1965 apud SAPIÉN, 1996) A musculatura que participa da movimentação da mão se conecta com os ossos por meio dos tendões (Figura 7). Estes são considerados feixes fibrosos ligados paralelamente entre si; quando eles passam por pontos de angulação, proeminências ósseas, fáscias (bainhas que protegem os músculos), túneis ostrofibrinosos ou faixas formadas por ligamentos, são revestidos completa ou parcialmente por uma bainha, chamada de bainha sinovial, a qual promove a lubrificação dos tendões facilitando a livre movimentação dos mesmos (SAPIÉN, 1996; MORAES; PEQUINI, 2000). Figura 7 – Tendão e bainha sinovial Fonte: (PUTZ - ANDERSON, 1988 apud MORAES; PEQUINI, 2000) A bainha sinovial é composta de duas camadas separadas por um líquido, uma das camadas é rica em células e está aderida à superfície do tendão (camada visceral) e a outra é composta por fibras, estando aderida ao tecido circunjacente (camada parietal ou vagina). O local onde ocorre a comunicação da visceral com a parietal é conhecido 21 como mesotendão, e é neste ponto onde os vasos sangüíneos e linfáticos e os nervos entram no tendão. Esta bainha reveste os tendões em quase todo seu trajeto, por existirem vários pontos de acidentes e túneis ósteofibrinosos, como por exemplo, o túnel do carpo (Figura 8). Figura 8 – Túnel do carpo Fonte: (HAMILL; KNUTZEN, 1999) A flexão dos dedos ocorre por meio dos músculos do antebraço. Os tendões que atravessam o canal do pulso fazem a ligação entre os músculos do antebraço e os dedos. Os ossos do dorso da mão, por um lado (dorsal), e os ligamentos transversos do carpo (flexor retinaculum) por outro lado (palmar), formam o canal do pulso – o túnel do carpo. Atravessam esse túnel uma série de estruturas anatômicas vulneráveis, inclusive a artéria radial e o nervo mediano. Por fora do ligamento transverso do carpo, têm-se a artéria ulnar e o nervo ulnar (Figura 9). Os ossos do punho conectam-se ao cotovelo por meio dos dois ossos do antebraço – a ulna e o rádio. O rádio liga-se ao lado do polegar, e a ulna ao lado do dedo mínimo. Estes dois longos ossos estão conectados ao úmero através das estruturas periarticulares do cotovelo. É interessante ressaltar que, de acordo com os movimentos desempenhados pelo braço, a ulna e o rádio assumem posições distintas, sendo que quando o braço está em supinação estes ossos estão paralelos, e quando em posição de pronação , eles estão cruzados. Por fim, as articulações do punho permitem a movimentação da mão apenas em dois planos ortogonais, flexão dorsal / palmar e desvio ulnar / radial (MORAES; PEQUINI, 2000; PASCHOARELLI; COURY, 2000). 22 Figura 9 – Estrutura anatômica da mão Fonte: (PUTZ - ANDERSON, 1988 apud MORAES; PEQUINI, 2000) Toda esta constituição referente à mão é de suma importância, principalmente os túneis, pois dependendo do design da pega, esta poderá proporcionar um manuseio forçado, comprometendo as estruturas que passam por eles, podendo muitas vezes causar lesões irreversíveis ao usuário. Por fim, serão apresentados os ângulos radiais formados entre os dedos da mão ao segurar um objeto cilíndrico (KINOSHITA et al., 1996) (Figura 10). Figura 10 – Angulação radial entre os dedos da mão Fonte: (KINOSHITA et al., 1996) 23 Além dos fatores fisiológicos e anatômicos da mão, a biomecânica, assunto este que será visto a seguir, trata-se de uma parte da Ergonomia primordial para o objeto de estudo abordado nesta tese. 2.1.4 Biomecânica Neste tópico podem ser observadas questões relacionadas à força e posturas da mão/antebraço. A biomecânica, segundo Iida (2005), trata da relação do homem em seu trabalho, relacionando os movimentos dos músculos-esqueléticos envolvidos e suas conseqüências. Neste sentido, as posturas assumidas e as forças despendidas durante a execução da tarefa ficarão sob a responsabilidade desta área do conhecimento. Para que uma pessoa se posicione ou movimente-se são acionados diversos músculos, ligamentos e articulações. Os músculos irão contribuir com a força para esta ação, os ligamentos desempenham uma função auxiliar, enquanto as articulações permitirão a movimentação das partes do corpo. Sendo assim, pode-se dizer que posturas ou movimentos inadequados provocarão tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações, ocasionando dores ou, até mesmo, traumas nas partes envolvidas (DUL; WEERDMEESTER, 1995). Dentre os parâmetros biomecânicos relacionados à mão estão as posturas assumidas entre esta, o punho e o antebraço (PASCHOARELLI; COURY, 2000). Alguns destes movimentos do antebraço / mão, do punho / mão e dedos / mão, foram citados por Panero e Zelnik (1987), como sendo respectivamente, pronação e supinação (antebraço); flexão dorsal e flexão palmar, desvio radial e desvio ulnar (punho); e por último tem-se a hiperextensão, abdução, oposição e flexão dos dedos (Figura 11). 24 Figura 11 – Representação dos principais movimentos relacionados à mão Fonte: (PANERO; ZELNIK, 1987) 25 Além das posturas, também fazem parte da biomecânica as relações de força exercida ao realizar uma atividade. Estas relações são influenciadas por diversos fatores de acordo com Jung e Hallbeck (2001) e Damon et al. (1966 apud SAPIÉN, 1996), sendo eles: fatores biológicos como gênero, idade, raça, posição corpórea, tipo de luva, etc; fatores ambientais como altitude, etc; fatores psicológicos como motivação, estado emocional, etc; e por fim, os fatores ocupacionais como vestuário, equipamentos pessoais, equipamentos do posto de trabalho, etc. Para exemplificar a diferença existente em um dos itens apontados anteriormente, Konz (1979 apud PASCHOARELLI; COURY, 2000) relata que a força de aperto das mulheres é apenas dois terços da dos homens, ou 30% como descreve Grandjean (1998), porém ao considerar as colocações de Lehmkuhl e Smith (1987 apud PASCHOARELLI; COURY, 2000), esta diferença pode chegar ao dobro na faixa etária dos 20 aos 30 anos, tendo as mulheres uma força de preensão próxima a 24,57 kgf e os homens 48,68 kgf. Este apontamento se confirma quando Sperling et al. (1993) diz que ao se comparar mulheres mais velhas com pequenas dimensões corpóreas, com homens mais novos que possuem grandes dimensões, a diferença da força de preensão fica entre 100 a 150%. Estas diferenças ocorrem basicamente devido à força estar relacionada, em primeira instância, à secção transversal do músculo, e como as mulheres com o mesmo condicionamento físico de um homem possuem esta secção menor, a redução da força se dá como conseqüência (GRANDJEAN, 1998). O ponto máximo da força muscular dos homens e mulheres ocorre na faixa etária dos 25 aos 35 anos, e quando estas pessoas chegam na faixa dos 50 até os 60 anos, a perda da força máxima original alcança os 25% (GRANDJEAN, 1998). Já para Daams (1994 apud VOORBIJ; STEENBEKKERS, 2005) a força física máxima é conseguida entre os 20 e 30 anos, e para Asmussen e Nielsen (1962 apud VOORBIJ; STEENBEKKERS, 2005) o valor máximo para força de mão e braço ocorre por volta dos 22 anos. Na Figura 12, pode ser visto como a força de preensão em relação ao objeto se altera consideravelmente, dependendo da forma como se segura o mesmo. 26 Figura 12 – Força de preensão dos dedos, de acordo com a posição de pega Fonte: (GRANDJEAN, 1998) Ainda em relação à força, Kinoshita et al. (1996) chegaram a algumas indicações a partir de um experimento realizado com 26 indivíduos, dentre os quais 15 eram homens e 11 mulheres, todos saudáveis e sem histórico de deficiência das extremidades superiores. Pôde-se observar através deste teste que a força total de pega cresceu linearmente conforme o peso do objeto; este dado é importante, pois na medida em que se trabalha com produtos mais pesados, o desenho da pega deste pode contribuir para amenizar a força exercida. Por exemplo, ao se utilizar um produto que apresente uma pega antropomorfa, um manejo grosseiro, textura na área de pega e um material com um coeficiente de fricção mais elevado, consequentemente, este exigirá uma menor força das musculaturas envolvidas na ação. De acordo com algumas pesquisas mensuradas por Kinoshita et al. (1996), é necessária uma maior força para as pegas prismáticas do que para as pegas circulares; a explicação deste apontamento talvez esteja no fato de que nas pegas prismáticas está envolvida apenas a área da polpa da falange distal, enquanto para a pega circular estão envolvidas a área da polpa da falange distal e a área da polpa da falange média, aumentando, portanto a área de contato de pega. É sabido que quanto maior a área de contato entre a mão e o produto, maior a fricção entre eles. No teste foi observada uma maior força despendida para os objetos de diâmetros de 10,0 cm e 5,0 cm. A maioria dos usuários envolvidos no experimento, reportou que a pega com 5 dedos no objeto de diâmetro 7,5 cm foi a mais natural de todas. posição na ponta dos dedos posição lateral posição de garra 7-14Kgf (70-140N) 7-14Kgf (70-140N) 30-54Kgf (300-540N) 27 Lembrando-se aqui que estes foram os diâmetros verificados. Os resultados demonstraram que os dedos indicador e médio têm maior capacidade para força de pinçamento, do que os dedos anular e mínimo. Isto se confirmou nas experimentações com pegas prismáticas. A força do dedo polegar, do médio e do anular aumentou conforme o acréscimo do peso. Um outro ponto importante a ser destacado é que quanto menor a dimensão da mão, assim como, quanto mais fraca a força de aperto, mais o polegar e o dedo mínimo contribuíram para a força total de pega. Percebeu-se através dos estudos realizados que as pessoas devem usar a pega com 5 ou 4 dedos para não fatigar os dedos anular e mínimo, já que estes são fracos na geração de força de pinçamento. Além disto, sabe-se que quanto mais dedos usados, menos extenuante torna-se a tarefa, o que por sua vez pode reduzir a probabilidade de queda inesperada dos objetos. Outro fator é que o coeficiente de fricção dos dedos em relação ao tipo de material varia consideravelmente, influenciando na força despendida para se segurar um objeto, portanto, esta variável deve ser considerada semp re que se estiver desenvolvendo um produto. Um dado fundamental fornecido por esta pesquisa foi que as forças individuais dos dedos não são uniformes em ações de empunhadura humana. Na pega circular, os dedos polegar, anular e mínimo fazem a maior parte do trabalho na geração de força, contabilizando cerca de 80% da força total de pega. Na pega prismática, o polegar, indicador e dedo médio dividem mais ou menos a mesma força. Para Mcgorry (2000), em uma pega circular a distribuição de força ocorre de forma mais radial. Em uma pega elíptica ou retangular seccionado em cruz, podem- se esperar maiores forças ao longo do eixo da pega. Ao comparar a pega em cruz com uma pega com três hastes, esta última produz melhores resultados quanto à transmissão de força. A seguir serão relatados alguns dados de uma pesquisa realizada por 28 Kong e Lowe (2005), com 24 indivíduos entre homens e mulheres, com idade que varia de 20 a 43 anos, todos com as funções motoras normais e sem apresentar deficiência nas extremidades superiores. Foram avaliados 6 diâmetros de pega (25 mm, 30 mm, 35 mm, 40 mm, 45 mm e 50 mm). Primeiramente, percebeu-se uma redução da força total dos dedos conforme se aumentava o diâmetro da pega. A redução da força do diâmetro de 25 mm para 30mm foi 11,6%, já com do diâmetro de 40 mm para 45 mm foi 23,5%. Um outro dado relevante foi que a falange da ponta dos dedos sempre exercia e mantinha maior força que as outras falanges para todos os diâmetros testados. Este fato é interessante para a distribuição das áreas de textura de uma pega. Por fim, a última consideração desta pesquisa válida para o trabalho aqui apresentado, é que o dedo indicador exerceu maior força no diâmetro de 30 mm, já os outros dedos exerceram maior força com o diâmetro de 25 mm. Isto pode se r aplicado ao diferenciar-se o diâmetro em uma mesma pega. Segundo Jung e Hallbeck (2001), a força da mão em flexão é maior do que em extensão. A força máxima conseguida com as mãos, segundo os autores, é quando a mesma se mantém entre 30° de flexão e 15° de extensão. É interessante ressaltar que esta parte da biomecânica (força máxima) pode ser útil em várias situações, como por exemplo, na pega de alças cilíndricas, abertura de tampas circulares, movimentação de discos, manipulação de botões de máquinas, desenvolvimento de próteses, mãos robóticas, enfim, em vários produtos. Considerando que a musculatura dos dedos das mãos é pequena e relativamente fraca, qualquer esforço demasiado para a mesma poderá causar sérios problemas, não só físicos como também funcionais na relação com o produto, portanto, todos os relatos feitos anteriormente sobre este tema devem ser cuidadosamente analisados e aplicados no desenvolvimento de produtos. Um outro fator da biomecânica que não poderia deixar de ser mensurado, é a manutenção da posição neutra das articulações durante a execução de uma tarefa (Figura 13). Deve-se sempre que possível manter esta postura, pois assim os músculos 29 serão capazes de liberar a força máxima, além destes, os ligamentos que passam pelas articulações permanecerão tensionados ao mínimo, sem grandes prejuízos da destreza na ação. Segundo Pheasant (1988), dependendo do plano da bancada, os movimentos de punho prejudiciais são a flexão palmar / dorsal e os desvios ulnar / radial, aconselhando-se manter um ângulo de 100º à 110º entre a pega/empunhadura com o antebraço. Figura 13 – Desenhos de pegas que proporcionam uma postura neutra do punho Fonte: (DUL; WEERDMEESTER, 1995) Ainda com relação a este assunto, Sperling et al. (1996) relata que uma posição ótima (confortável) para o pulso, além da neutra, é quando o mesmo assume uma postura com 30º de extensão, 10º de desvio ulnar e uma semipronação. Para Sapién (1996) o desvio ulnar pode prejudicar a força de pega em 25%, e o desvio radial pode estar associado a uma perda de 20%. Em relação à posição neutra do pulso, a flexão deste pode reduzir a força de pega em 40-50% de acordo com Mogk e Keir (2003). Com relação às posturas assumidas para execução de uma tarefa, Dul e Weerdmeester (1995) observam que a postura das mãos e cotovelos acima do nível dos ombros deve ser evitada, caso isto não seja possível, a duração desta tarefa deve ser breve para que não cause fadiga às musculaturas envolvidas. Iida (2005) lembra que os mo vimentos curvos são mais fáceis de serem executados pelo ser humano, pelo fato do mesmo ser constituído de alavancas que se movimentam através das articulações. Ao se desenvolver um produto, este ponto deve ser aplicado na definição de certos detalhes do mesmo, buscando desta forma facilitar a atividade do usuário. ERRADO CORRETO 30 Segundo Laville (1977 apud GOMES FILHO, 1995), existem alguns dados que indicam as amplitudes máximas de movimentos articulares, os quais estão vinculados à idade e grau de treinamento, porém ele ressalta que ao fazer uso dos mesmos, deve-se lembrar que as pessoas não agüentariam chegar ao seu limite máximo e permanecer nesta situação por longo período, pois isto levaria à fadiga múltipla das partes do corpo envolvidas. Concluindo, é possível afirmar diante de todas as colocações anteriores, que o desempenho biomecânico do ser humano está diretamente relacionado à morfologia do produto e à maneira como estes são manuseados. A seguir pede ser observado na Tabela 1 uma síntese das recomendações Biomecânicas para o Guia de Parâmetros Ergonômicos. Tabela 1 – Síntese das recomendações biomecânicas para o Guia de Parâmetros Ergonômicos FATORES BIOMECÂNICOS CONSIDERAÇÕES Posturas Mão e Antebraço - flexão dorsal e palmar, e desvio radial e ulnar (punho) (PANERO; ZELNIK, 1987) Da mulher é: - 2/3 da dos homens (KONZ, 1979 apud PASCHOARELLI; COURY, 2000); - 30% da dos homens (GRANDJEAN, 1998); - 50% da dos homens na faixa etária dos 20 aos 30 anos (LEHMKUHL; SMITH, 1987 apud PASCHOARELLI; COURY, 2000). Entre os 20 e 30 anos a força de preensão (aperto) das mulheres é 24,57 kgf e a dos homens é 48,68 kgf (LEHMKUHL; SMITH, 1987 apud PASCHOARELLI; COURY, 2000). Força de preensão A diferença desta força entre mulheres idosas e homens jovens fica entre 100 à 150% (SPERLING et al., 1993). Força máxima Esta força dos homens e das mulheres ocorre entre os 25 e 35 anos (GRANDJEAN, 1998). Entre os 50 e 60 anos a perda desta força pode chegar aos 25% (GRANDJEAN, 1998). 31 Força entre pegas prismáticas e circulares É necessário mais força para as pegas prismáticas do que para as circulares (KINOSHITA et al., 1996). Pega Circular: os dedos polegar, anular e mínimo somam 80% da força total (KINOSHITA et al., 1996). Pega Prismática: os dedos polegar, indicador e médio fazem a maior parte do trabalho na geração de força (KINOSHITA et al., 1996). Força da mão em flexão e extensão A mão exerce maior força em flexão do que em extensão (JUNG; HALLBECK, 2005). Na seqüência será abordada a antropometria, por se tratar de um fator ergonômico de extrema relevância para definição das dimensões da pega de uma embalagem. 2.1.5 Antropometria Neste tópico é apresentada uma série de tabelas com medidas relacionadas às mãos. Considerando a definição de Iida (2005, p. 97) “a antropometria trata de medidas físicas do corpo humano”, buscando definir dimensões que sejam estatisticamente representativas das comunidades humanas. Estes dados são fundamentais para a adequação dimensional dos equipamentos e produtos que estabelecem uma interface usual com o homem. Segundo Paschoarelli e Coury (2000), estas informações são utilizadas levando em consideração as características físicas individuais (biotipos, gênero, idade), populacionais (origem, etnia, época) e os elementos humanos desta interface, observando as atividades desenvolvidas pelos mesmos. Roebuck (1995) refere-se à antropometria como sendo uma ciência da arte da aplicação das medidas, a qual estabelece uma relação entre a geometria física e as propriedades de massa do ser humano. O autor ainda faz uma importante colocação ao se considerar o foco principal desta tese, relatando que as principais questões antropométricas relacionadas aos produtos que sofrem empunhadura são: forma, tamanho e as capacidades dimensionais dos dedos, palma da mão e pulso. Relacionado a este ponto, Eksioglu (2004) 32 chama atenção que para determinar a capacidade de força de pega, para projetar produtos que proporcionem maior eficiência no uso das mãos e braços, para reduzir as lesões, é fundamental conhecer as dimensões das mãos da população. Pheasant (1988) define a antropometria como um ramo da ciência, que além de se preocupar com as medidas do ser humano, também observa as formas, resistências e capacidades de trabalho das partes do corpo envolvidas na tarefa. Dentro do campo da antropometria existem três tipos distintos de informações, aquelas com base na antropometria estática (medidas do corpo parado ou com movimentos mínimos), na antropometria dinâmica (medidas dos limites de alcances da parte do corpo envolvido) e por último, na antropometria funcional (medidas dos alcances considerando o movimento das várias partes do corpo para executar aquela ação). A literatura dispõe de um maior número de dados da antropometria estática, do que da dinâmica e da funcional (IIDA, 2005; RIO; PIRES, 2001). A seguir, serão disponibilizadas algumas das dimensões antropométricas das mãos obtidas no decorrer da pesquisa. A Tabela 2 e a Figura 14 referem-se aos dados da população adulta inglesa, apresentada por Pheasant (1988). Tabela 2- Estimativa antropométrica das mãos Dados antropométricos em mm HOMENS MULHERES VARIÁVEIS 5% 50% 95% d.p. 5% 50% 95% d.p. 1. Comprimento da mão 173 189 205 10 159 174 189 9 2.Comprimento da palma 98 107 116 6 89 97 105 5 3. Comprimento do polegar 44 51 58 4 40 47 53 4 4. Comprimento do indicador 64 72 79 5 60 67 74 4 5. Comprimento do médio 76 83 90 5 69 77 84 5 6. Comprimento do anular 65 72 80 4 59 66 73 4 7. Comprimento do mínimo 48 55 63 4 43 50 57 4 8. Largura do polegar (IPJ) A 20 23 26 2 17 19 21 2 9. Espessura do polegar (IPJ) 19 22 24 2 15 18 20 2 10. Largura do dedo indicador (PIPJ) B 19 21 23 1 16 18 20 1 11. Espessura do dedo indicador (PIPJ) 17 19 21 1 14 16 18 1 33 12. Largura da mão (metacarpal) 78 87 95 5 69 76 83 4 13. Largura da mão (no polegar) 97 105 114 5 84 92 99 5 14. Largura da mão (no mínimo) C 71 81 91 6 63 71 79 5 15. Espessura da mão (metacarpal) 27 33 38 3 24 28 33 3 16. Espessura da mão (com o polegar) 44 51 58 4 40 45 50 3 17. Diâmetro máximo da pega D 45 52 59 4 43 48 53 3 18. Abertura máxima 178 206 234 17 165 190 215 15 19. Abertura funcional máxima E 122 142 162 12 109 127 145 11 20. Mínimo quadro de acesso F 56 66 76 6 50 58 67 5 Fonte: (PHEASANT, 1988) Notas: A – IPJ é a junta interfalangeal, i.e . a articulação entre os dois dedos do polegar; B – PIPJ é a junta interfalangeal proximal; C - como a dimensão 12, exceto quando a palma da mão é contraída ao mínimo; D – medida do movimento da mão sobre um cone graduado unindo pelo toque o polegar com o dedo médio; E – medida ao apertar um plano de madeira em cunha com a extremidade final dos segmentos do polegar e toque dos dedos; F – o lado da menor abertura equivalente através da qual a mão pode passar. Figura 14 – Variáveis antropométricas das mãos Fonte: (PHEASANT, 1988) Iida (1998) mostra na Tabela 3 e Figura 15 as dimensões da antropometria estática das mãos, segundo a norma alemã DIN 33402 de 1981. 34 Tabela 3 – Medidas da antropometria estática das mãos Mulheres HomensMEDIDAS DE ANTROPOMETRIA ESTÁTICA (cm) 5% 50% 95% 5% 50% 95% 1. Comprimento da mão 15,9 17,4 19,0 17,0 18,6 20,1 2. Largura da mão 8,2 9,2 10,1 9,8 10,7 11,6 3. Comprimento da palma da mão 9,1 10,0 10,8 10,1 10,9 11,7 4. Largura da palma da mão 7,2 8,0 8,5 7,8 8,5 9,3 5. Circunferência da palma 17,6 19,2 20,7 19,5 21,0 22,9 6. Circunferência do pulso 14,6 16,0 17,7 16,1 17,6 18,9 7. Cilindro de pega máxima (φ) 10,8 13,0 15,7 11,9 13,8 15,4 Fonte: (IIDA, 1998, p. 117) Figura 15 – Antropometria estática das mãos Fonte: (IIDA, 1998) Os dados disponíveis na Tabela 4 tratam da dimensão da mão estendida (início do pulso à ponta do dedo médio) de homens e mulheres. Tabela 4 – Medidas da mão humana estendida Tamanho da mão Percentil Mulher (mm) Homem (mm) Pequena 5–30 160,0–159,8 175,0–186,0 Média 30–70 169,8–180,3 186,0–196,3 Grande 70–95 180,3–190,0 196,3–205,0 Fonte: (KONG; LOWE, 2005) A Tabela 5 e a Figura 16 apresentam as medidas antropométricas da mão segundo Jürgens (1973 apud GRANDJEAN, 1998), as quais representam o universo de 8.000 homens de 20 anos e mulheres que foram selecionadas ao acaso para as medições. 35 Tabela 5 – Medidas da mão da população alemã Homens MulheresNúmero Medida Medida Antropométrica Média LC 90% Média LC 90% 1 Perímetro da mão 21,1 19,3-23,0 18,7 17,5-20,1 2 Largura da mão 10,6 9,8-11,1 - - 3 Perímetro do punho 17,1 15,5-18,8 16,1 14,3-17,9 4 Perímetro de “pega” (anel formado pelo polegar e indicador) 13,4 12,0-15,3 - - Fonte: (GRANDJEAN, 1998) Figura 16 – Medidas da mão de parte da população alemã Fonte:(GRANDJEAN, 1998) Tabela 6 – Medidas da mão direita Mulheres (n = 33) Média ± SD (Min–Máx) Homens (n = 17) Média ± SD (Min–Máx) Largura da palma (cm)a 7,8 ± 0,4 (6,8–8,8) 8,9 ± 0,6 (7,2–10,0) Comprimento da palma (cm)a 10,1 ± 0,5 (9,2–11,2) 11,0 ± 0,5 (9,9–12,2) Comprimento do dedo (cm)a 7,1 ± 0,5 (5,7–8,5) 7,4 ± 0,5 (6,6–8,3) Fonte: (NICOLAY; WALKER, 2005) Nota-se que as medidas apresentadas até o momento têm como referência a população estrangeira, devido ao fato de praticamente não existirem dados antropométricos das mãos da população brasileira nas literaturas. Contudo, este não seria um grande problema para o pré-dimensionamento de um produto, pois segundo Iida (2005) as dimensões brasileiras não apresentam grandes discrepâncias em relação às estrangeiras, principalmente se comparadas às dos povos europeus mediterrâneos (portugueses, espanhóis, franceses, italianos e gregos). Rio e Pires (2001) chamam a atenção para a dificuldade em se desenvolver uma pesquisa antropométrica no Brasil devido à composição étnica variada, aos 36 grandes desníveis sócio-econômicos, os quais influenciam significantemente nas medidas corpóreas, além da falta de incentivo financeiro à pesquisa em nosso país. Mesmo com estas dificuldades, o Laboratório Brasileiro de Desenho Industrial (LBDI) (s.d. apud GRANDJEAN, 1998) em parceria com a Copersucar, realizou um levantamento antropométrico da mão de homens e mulheres brasileiros que trabalhavam no meio rural. Estes dados podem ser observados na Tabela 7. Tabela 7 – Estimativa antropométrica das mãos dos brasileiros Dados antropométricos em mm Dados gerais Variáveis 5% 50% 95% d.p. 1. comprimento do centro da base palmar à base do mínimo 81 91 100 - 2. comprimento do centro da base palmar à base do anular 89 99 110 - 3. comprimento do centro da base palmar à base do médio 93 104 115 - 4. comprimento do centro da base palmar à base do indicador 95 105 117 - 5. comprimento do centro da base palmar à base do polegar 69 77 87 - 6. comprimento do centro da base palmar ao extremo do polegar 116 130 144 - 7. comprimento do mínimo 50 58 66 - 8. comprimento da primeira e segunda falange do mínimo 27 33 39 - 9. comprimento da primeira falange do mínimo 14 18 22 - 10. comprimento do anular 63 72 81 - 11. comprimento do médio 67 76 86 - 12. comprimento da primeira e segunda falange do médio 42 49 57 - 13. comprimento da primeira falange do médio 21 25 30 - 14. comprimento do indicador 61 69 78 - 15. comprimento entre base do indicador e base do polegar 33 39 48 - 16. comprimento do polegar 55 62 71 - 17. comprimento da primeira falange do polegar 25 31 38 - 18. largura na articulação entre a primeira e a segunda falange do mínimo 14 16 19 - 19. largura na articulação entre a primeira e a segunda falange do anular 16 18 21 - 20. largura na articulação entre a primeira e a segunda falange do médio 17 20 23 - 21. largura na articulação entre a segunda e a terceira falange do médio 15 17 20 - 22. largura na articulação entre a primeira e a segunda falange do indicador 17 20 22 - 23. largura da palma na base dos ossos da primeira falange dos dedos 75 85 94 - 24. largura do punho 52 59 66 - 25. altura (maior) da mão entre a face palmar e a dorsal 41 50 59 - 26. altura da articulação entre a primeira e a segunda falange do polegar 16 19 22 - 27. altura da articulação entre a primeira e a segunda falange do médio 16 10 22 - 28. altura da articulação na primeira falange do médio 25 30 35 - 29. largura na articulação entre a primeira e a segunda falange do polegar 20 23 27 - 30. comprimento da articulação (dorsal) à extremidade do médio a 90º 97 108 120 - 31. comprimento do dorso da mão (médio a 90º) 76 88 102 - 32. diâmetro da empunhadura, com o toque do polegar com indicador 34 39 43 - Fonte: (STIER; MEYER, s.d. apud GRANDJEAN, 1998) 37 Além das dimensões estáticas apresentadas até o momento, existem algumas medidas dinâmicas que poderão ser vistas na Figura 17. Figura 17 – Medidas dinâmicas da mão Fonte: (STIER; MEYER, s.d. apud GRANDJEAN, 1998) O estudo e a aplicação da antropometria das mãos estão vinculados à preocupação de se projetar adequadamente, proporcionando maior conforto e segurança aos usuários. Neste sentido faz-se necessário o desenvolvimento de novas pesquisas nesta área do conhecimento, podendo contribuir para o sucesso dos novos produtos e sistemas gerados. Não obstante a todos os aspectos ergonômicos abordados até então, serão apresentados em seqüência alguns fatores que influenciam consideravelmente a usabilidade dos produtos. 2.1.6 Fatores gerais que influenciam a usabilidade Este tópico trata de aspectos que podem interferir diretamente na usabilidade dos produtos, tais como: incapacidade, posicionamento das articulações, acidentes, texturas, canto vivo, destro e canhoto, diferenças sexuais, dimensões de pega, idade e esteriótipo popular. Toda análise e projeto ergonômico deveriam ter por base os princípios da usabilidade, os quais caracterizam-se pela “...efetividade, eficiência e satisfação com a qual usuários específicos alcançam metas específicas em ambientes particulares” (ISO - DIS 38 9241-11 apud SILVA et al., 2005, p. 2). Segundo Rio e Pires (2001) existem algumas perguntas que auxiliam a análise da usabilidade de um objeto, sendo elas: quais são as posturas assumidas pelos usuários durante o uso do produto? que movimentos são executados durante o seu manuseio? o desenho do produto exige muita força? são muito pesados? existem cantos vivos na superfície da pega que possam comprimir algum dos segmentos do corpo? Diante destas questões é possível perceber o quão complexo é a questão da usabilidade de um produto. Abaixo serão apresentados alguns destes fatores que devem ser observados pelo designer ao projetar um produto. incapacidade: entre as pessoas que apresentam incapacidades físicas, estão aquelas com força e mobilidade comprometidas, como por exemplo, os indivíduos com artrite. Quando o design do produto atende este público, certamente estará cumprindo de forma mais eficiente e abrangente a sua função. Não se pode esquecer que a função do designer não é apenas projetar, mais sim tornar possível aos indivíduos uma vida ativa e independente tanto quanto possível, mesmo que estes apresentem certas enfermidades que seguem o processo de envelhecimento ou incapacidades causadas por outras razões (BENKTZON, 1993); posicionamento das articulações: as posições extremas das articulações podem causar indisposições ocupacionais ao usuário muitas vezes irreversíveis; com relação ao pulso, este deve ser mantido na posição neutra (alinhado com o antebraço) (Figura 18), evitando flexões, extensões e/ou desvios ulnar / radial extremos, pois os músculos responsáveis pela movimentação dos dedos estão localizados no antebraço, e estes conectam-se aos mesmos através de longos tendões que passam pelo pulso, portanto a capacidade de empunhadura está totalmente vinculada à posição assumida pelo pulso. Considerando o cotovelo e o ombro, os quais estão relacionados com a mão, estes devem evitar, respectivamente, a flexão extrema e a abdução, reduzindo o tensionamento dos tendões e nervos da mão. O resultado deste 39 sistema irá depender do desenho da pega do produto, o qual deve proporcionar mínima tensão, e consequentemente, conforto e bem estar ao ser humano durante o seu manuseio (DUL; WEERDMEESTER, 1995; LEWIS; NARAYAN, 1993; PECE, 1995; RIO; PIRES, 2001; SPERLING et al., 1993); Figura 18 – Posições do punho Fonte: (PUTZ-ANDERSON, s.d. apud RIO; PIRES, 2001) risco de acidentes: o uso de ferramentas manuais pode resultar em dois tipos gerais de acidentes, sendo classificado como trauma de efeito cumulativo e trauma de um único acidente. Quanto ao primeiro, o dano ocorre progressivamente nas partes do corpo envolvidas na tarefa, pelo uso inadequado por longo período; já no segundo ocorre por uma única e inesperada distorção excessiva. Ao abordar este assunto fica evidente o quanto o design do produto, a definição de materiais e os sistemas funcionais poderão contribuir para se evitar vários tipos de acidentes (EKSIOGLU, 2004; MITAL; SANGHAVI, 1986 apud LEWIS; NARAYAN, 1993; WOODSON, 1981 apud LEWIS; NARAYAN, 1993); texturas: a presença das texturas na área de pega dos objetos pode reduzir a força de preensão em torno da pega ou empunhadura dos mesmos, esta não deve ser utilizada apenas como elemento estético, mas sim para aumentar a fricção entre o produto e a mão. Contudo, dependendo da textura e de onde o equipamento é utilizado, esta poderá ser um local de acúmulo de sujeiras prejudicando a higiene do produto, portanto a sua escolha deve ser feita com o máximo de critério (LEWIS; NARAYAN, 1993; PASCHOARELLI; COURY, 2000); canto vivo: ao se projetar a pega de um produto, esta não deve possuir cantos vivos, pois eles 40 irão causar pressões sobre a palma da mão, prejudicando desta forma o desempenho do operador ao manusear o equipamento (LEWIS; NARAYAN, 1993; SAPIÉN, 1996); destro e canhoto (ou sinistro): um produto que tenha embutido os padrões de simetria poderá atender tanto destros quanto canhotos (9% da população mundial), ampliando seu raio mercadológico por tornar-se mais atrativo aos usuários, considerando a relação custo/benefício, como por exemplo, a possibilidade de evitar-se fadiga na mão de preferência pela facilidade em trocar a mão operante. Além disto, sabe-se que a mão dominante produz mais força do que a outra (SAPIÉN, 1996; NICOLAY; WALKER, 2005; PECE, 1995); diferenças sexuais: estas devem ser necessariamente observadas na concepção de um produto, levando em conta que a população feminina perfaz hoje cerca de 50% da população mundial. As diferenças entre os gêneros estão presentes tanto na antropometria, com relação às proporções dimensionais, quanto na biomecânica, considerando a amplitude dos movimentos e força (PASCHOARELLI; COURY, 2000; PECE, 1995); dimensões: serão apresentadas a seguir algumas considerações com relação às dimensões das pegas e empunhaduras. Sabe-se que o tamanho da ferramenta ou produto não tem uma ligação diretamente proporcional ao dimensionamento da pega ou empunhadura do mesmo, mas sim com as medidas antropométricas do público alvo que este irá atingir. A dimensão da pega entre outros fatores do design, tem sido considerada como um ponto crítico no produto, pois influencia diretamente nas lesões que podem ocorrer ao usuário e na performance durante o uso. De uma forma geral, o comprimento de uma pega ou empunhadura não deve ser inferior a 100 mm, pois caso isto não seja respeitado, haverá redução do número de dedos para segurar o objeto, diminuindo a segurança no manuseio e podendo resultar na compressão da região central da palma da mão, causando isquemia. Se possível, a área de pega deve ser distribuída para as regiões tenar e hipotenar (extremos inferiores da palma da mão). Com relação ao diâmetro da pega, este deveria ter entre 30,0 mm e 50,8 mm num contexto mais amplo, caso seja uma pega que necessite força para seu manuseio o diâmetro poderia ficar entre 31,7 mm e 50,8 mm, já numa pega que exige precisão este poderia apresentar 7,6 mm a 15,2 mm. Sendo que para os ho mens a medida de maior conforto é aproximadamente de 40,0 mm e para as mulheres 35,0 mm. Na Tabela 8, podem ser observadas algumas dimensões específicas relacionadas à seção circular de tipos diferentes de pega / empunhadura. Para o 41 diâmetro da passagem do dedo indicador, este deve ter 35 mm de espaço livre, possibilitando assim a inserção, rotação e extração do dedo (SAPIÉN, 1996; GRANDJEAN, 1998; IIDA, 2005; KONG; LOWE, 2005; LEWIS; NARAYAN, 1993; PECE, 1995; PHEASANT, 1988); Tabela 8 – Dimensões de pega e empunhadura Tipo de pega / empunhadura Ação φ Seção Circular em mm Cilíndrica Movimento Axial 30 / 50 Cilíndrica Movimento Rotacional 50 / 65 Esférica Movimento Rotacional 65 / 75 Disco Movimento Rotacional 90 / 130 Fonte: (PHEASANT, 1988) idade: este é um fator que irá influenciar diretamente na usabilidade dos produtos. Com o passar dos anos as pessoas vão perdendo a agilidade, a flexibilidade, os alcances, enfim as habilidades funcionais dependentes da mobilidade das articulações. A força está totalmente vinculada a este item, principalmente após os 40 anos, quando o ser humano tem seu tônus muscular reduzido, como já foi visto anteriormente. Porém, estes indivíduos não podem ser excluídos do raio mercadológico dos produtos, pois eles não estão inabilitados para o trabalho. Além do mais, é importante considerar o fato de que este público vem crescendo a cada ano, tornando-se uma fatia potencial de mercado (BOOM et al., 2003; CERSOSIMO et al., 2003; GOMES FILHO, 1995; IIDA, 2005); esteriótipo popular: refere-se ao modo como a maioria das pessoas está habituada a executar uma ação, por exemplo, girar o botão para a direita para ligar um aparelho, e girá- lo para a esquerda para desligar. No desenvolvimento de um produto isto deve ser observado, pois dependendo da forma como se configuraram certos detalhes, pode tornar-se um problema durante o manuseio (IIDA, 2005). Como pode ser visto, são inúmeros os fatores que irão interferir direta ou indiretamente na usabilidade dos produtos, neste sentido os designers precisam ter domínio pleno sobre estes itens para poder aplicá- los da melhor forma possível, durante a concepção de um projeto, respeitando os limites humanos. Dando continuidade às referências bibliográficas que fundamentarão 42 esta pesquisa, será visto em seqüência o Manuseio de Cargas, considerando que o produto estudado apresenta um peso considerável. 2.1.7 Energia na atividade humana Neste tópico pode ser observado o metabolismo humano, envolvendo a produção e consumo de energia com o corpo em repouso ou executando uma atividade. Segundo Rio e Pires (2001), o conhecimento do ergonomista em relação aos processos energéticos do homem e aos princípios básicos do metabolismo é essencial devido a sua aplicação direta na biomecânica, mais especificamente no sistema músculo-esquelético. Tomando por base a fisiologia, o trabalho está totalmente relacionado à geração de energia pelo homem. Isto ocorre através da alimentação e do ar inseridos no interior do corpo humano, os quais irão transformá- los em energia que será gasta na execução de atividades físicas e mentais, a todo este processo dá-se o nome de metabolismo. Portanto, o metabolismo humano consiste na transformação das fontes físicas, biológicas e químicas obtidas por meio da respiração e alimentação, em energia térmica e mecânica, responsáveis pela sobrevivência do ser humano na sua vida diária, mantendo seu organismo em funcionamento e permitindo que o mesmo execute as tarefas de ordem física e/ou pisíquica (GRANDJEAN, 1998; RIO; PIRES, 2001) (Figura 19). 43 Figura 19 - Apresentação esquemática da transformação de nutrientes em calor e energia mecânica no corpo humano Fonte: (GRANDJEAN, 1998) Vale ressaltar de acordo com os autores acima, que mesmo quando o homem permanece em repouso (deitado sem sobrecarga dos órgãos da digestão), o seu corpo está produzindo e consumindo energia para se manter, isto corresponde ao metabolismo basal do organismo humano, o qual equivale de acordo com Dul e Weedmeester (1995), a aproximadamente 80 W, e segundo Grandjean (1998) a 7.000 kJ por 24 horas para um homem de 70 kg e 5.900 kJ por 24 horas para uma mulher de 60 kg. Sá e Fonseca (2005) ressaltam que o ser humano tem duas capacidades básicas para ampliar o seu metabolismo, sendo: a capacidade aeróbica e a capacidade anaeróbica (Figura 20). capacidade aeróbica: corresponde ao valor máximo de quilocalorias por minuto que o homem produz usando apenas a quebra de alimentos por mecanismo aeróbico; capacidade anaeróbica: corresponde ao máximo de aumento que o homem “é capaz de instituir à energética de sua máquina utilizando tanto o metabolismo aeróbico, quanto metabolismo anaeróbico”. 44 Figura 20 – No início da atividade, o organismo atua em condições desfavoráveis, com um débito de oxigênio durante dois a três minutos Fonte: (IIDA, 2005) O gasto energético do ser humano é influenciado por diversos fatores, sendo eles: a base genética, o condicionamento físico, treinamento, a carga de trabalho físico, a carga de trabalho mental, o estresse e o estado de saúde (Figura 21). Figura 21 – A composição do consumo total de energia do homem em relação à carga de trabalho Fonte: (GRANDJEAN, 1998) 45 Conforme Rio e Pires (2001, p. 56), esta energia consumida pode ser medida em quilojoules (kJ), unidade mais recente segundo Grandjean (1998), ou quilocalorias (kcal), sendo que 1 caloria equivale a 4,187 joules, isto “corresponde à quantidade de energia que deve ser fornecida a um litro de água para que ele passe de 14,5°C para 15,5°C”. Para Dul e Weedmeester (1995) pode-se usar ainda a unidade Watts, sendo que 1 W = 0,06 kJ/min = 0,0143 kcal/min Este consumo ainda pode ser indiretamente medido pelo consumo de oxigênio (a queima de 1 litro de oxigênio equivale a