PAULA CHRISTINA FALCÃO PASTORE A SIMBOLOGIA DOS ANIMAIS EM EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS INGLÊS- PORTUGUÊS: UMA PROPOSTA LEXICOGRÁFICA Tese apresentada ao Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, da Universidade Estadual Paulista, Câmpus de São José do Rio Preto, para obtenção do título de Doutora em Estudos Lingüísticos (Área de Concentração: Análise Lingüística). Orientador: Profª. Drª. Claudia Zavaglia SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 2009 Pastore, Paula Christina Falcão. A simbologia dos animais em expressões idiomáticas inglês-português: uma proposta lexicográfica / Paula Christina Falcão Pastore. - São José do Rio Preto : [s.n.], 2009. 233 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Claudia Zavaglia Tese (doutorado) -Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas 1. Lexicografia. 2. Animais - Terminologia. 3. Língua inglesa - Expressões idiomáticas - Dicionários. 4. Língua portuguesa – Expressões idiomáticas - Dicionários. 5. Dicionários bilíngües. I. Zavaglia, Claudia. II. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas. III. Título. CDU - 81’374 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IBILCE Campus de São José do Rio Preto - UNESP PAULA CHRISTINA FALCÃO PASTORE A SIMBOLOGIA DOS ANIMAIS EM EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS INGLÊS- PORTUGUÊS: UMA PROPOSTA LEXICOGRÁFICA BANCA EXAMINADORA Profª. Drª. Claudia Zavaglia Professor Assistente Doutor UNESP – São José do Rio Preto Orientador Profª. Drª. Stella E. O. Tagnin Professor Doutor Universidade de São Paulo Prof. Dr. Adauri Brezolin Professor Doutor Universidade Metodista Profª. Drª. Maria Cristina Parreira da Silva Professor Assistente Doutor UNESP – São José do Rio Preto Profª. Drª. Solange Aranha Professor Assistente Doutor UNESP – São José do Rio Preto São José do Rio Preto, 30 de outubro de 2009 Ao Daniel, minha alma gêmea À minha princesa Laura, presente de Deus. AGRADECIMENTOS A Deus, pelo conforto em todas as horas. À minha orientadora Profª. Drª. Claudia Zavaglia, pela amizade, pelo apoio e auxílio constantes e por me acompanhar nesta caminhada final. À minha sempre orientadora Profª. Drª. Claudia Xatara, pela ajuda em todos os momentos e pelos anos de rica aprendizagem que me proporcionou. À Profª. Drª. Maria Cristina Parreira da Silva, pela leitura criteriosa do texto preliminar de minha pesquisa no exame de qualificação e pela participação em minha defesa. À Profª. Drª. Marilei Sabino, pelos comentários pertinentes em minha qualificação. À Profª. Drª. Stella E. O. Tagnin, fonte de inspiração, por me introduzir aos “mistérios” da Lingüística de Corpus e por aceitar participar da banca de defesa desta tese. Ao Prof. Dr. Adauri Brezolin, grande amigo e exemplo de profissional, com quem pude dividir esse momento de realização acadêmica. À Profª. Drª. Solange Aranha, por gentilmente aceitar participar de minha banca de defesa. À Profª. Drª. Alzira V. L. Allegro, amiga muito especial e suplente para a defesa deste trabalho. À Profª. Drª. Paola Baccin, por participar como suplente da banca de defesa de minha tese. Ao Prof. Dr. Douglas Altamiro Consolo, pela amizade e grande apoio no exame de qualificação especial. À Profª. Drª. Kim Lawgali, por me receber na Universidade da Califórnia e pela grande ajuda em uma etapa importante dessa pesquisa. À Profª. Drª. Gladis Barcellos, pela importante contribuição dada no debate de meu trabalho à ocasião do SeLin (2008). Aos professores e colegas do UCSD Extension e do Departamento de Lingüística da Universidade da Califórnia, pela amizade e valiosa ajuda quanto aos sentidos dos idiomatismos em inglês. À minha mãe Alzira, sempre disposta a me ajudar a concluir esse nosso sonho. Aos meus irmãos Patrícia, Adriano e Cristiano, pelo amor e amizade que nos une. Ao meu irmão Cristiano, pelo valioso auxílio quanto às questões “técnicas” de minha análise de dados. Aos queridos amigos Juliane e Gustavo e seus pimpolhos Pedro e Rafael, por sempre me acolherem com carinho em São José do Rio Preto ao longo dos quatro anos de doutorado. Aos amigos de todas as horas, Daniel, Letícia, Cassiano e Tatiana que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................12 CAPÍTULO I – As Expressões Idiomáticas..................................................................16 1. As expressões idiomáticas nos estudos fraseológicos...................................................16 2. Conceito e características...............................................................................................22 3. Criação e aquisição........................................................................................................26 4. A pesquisa de mestrado.................................................................................................28 4.1 As expressões idiomáticas nos dicionários........................................................29 4.2 O inventário inglês-português de expressões idiomáticas com nomes de animais.............................................................................................33 5. Expressões idiomáticas e Lingüística de Corpus...........................................................35 CAPÍTULO II – Metodologia.........................................................................................38 1. A Web e a pesquisa de idiomatismos............................................................................43 1.1 A Web e a busca pela freqüência das EIs..........................................................45 1.2 A Web e a busca pelos contextos.......................................................................47 2. Organização lexicográfica do Dicionário......................................................................50 CAPÍTULO III – A Simbologia dos Animais................................................................55 1. Dados simbólicos universais dos animais recorrentes nos idiomatismos......................57 CAPÍTULO IV – Análise dos dados..............................................................................94 A Simbologia dos Animais nas Expressões Idiomáticas...................................................94 1. Equivalentes em português com o mesmo animal da EI em inglês...............................94 2. Equivalentes em português com animal diferente da EI em inglês.............................107 3. O Dicionário Especial Bilíngüe...................................................................................130 CAPÍTULO V - Dicionário inglês-português de Expressões Idiomáticas com Nomes de Animais............................................................................................................................131 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................209 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................213 APÊNDICE 1..................................................................................................................219 LISTA DE FIGURAS, TABELAS E GRÁFICOS FIGURA 1 – Parte da janela de entrada do BYU corpus of American English...............40 FIGURA 2 – Janela do BYU corpus of American English apresentando a freqüência de ocorrência da EI pesquisada...............................................................................................40 FIGURA 3 – Figura 3: Linhas de concordância geradas pelo KWIC do BYU corpus of American English...............................................................................................................41 FIGURA 4 - Parte da janela do programa KWIC google.................................................48 TABELA 1 - Animais analisados e seus respectivos números de EIs.............................91 GRÁFICO 1 – Total de animais analisados simbologicamente.......................................92 GRÁFICO 2 – Conjunto total de Expressões Idiomáticas com equivalentes com nomes de animais........................................................................................................................128 GRÁFICO 3 – Conjunto total de Expressões Idiomáticas.............................................129 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS EI Expressão Idiomática UF Unidade Fraseológica LC Lingüística de Corpus v. Ver DE Dicionário Especial ULs Unidades Lexicais DGs Dicionários Gerais UCSD Universidade da Califórnia San Diego BYU Brigham Young University PMW Per Million Words KWIC Key Word in Context LAEL Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem RESUMO: A pesquisa na área da Lexicografia tem tido um grande avanço, pondo em discussão vários aspectos de suma importância para propostas mais adequadas de elaboração de dicionários, sejam monolíngües, bilíngües, de língua geral ou de línguas de especialidade. Indubitavelmente, uma das preocupações centrais na última década tem sido o reconhecimento da natureza e da constituição das unidades fraseológicas e, mais especificamente, das expressões idiomáticas, além do interesse lexicográfico despertado para a utilização de corpora ou bases textuais no levantamento de freqüências, de usos lingüísticos e de concordâncias, que passaram a embasar a seleção da nomenclatura, as atualizações das abonações, dentre tantos outros desdobramentos conquistados. Na pesquisa de mestrado desenvolvida anteriormente (FALCÃO, 2002), na qual elaborou-se um inventário inglês-português de expressões idiomáticas com nomes de animais, algo curioso foi observado – a par da acentuada freqüência de emprego de idiomatismos na comunicação cotidiana, a sistematização dos estudos relacionados a esse tipo de fraseologismo é ainda apenas incipiente e, portanto, inconsistente, visto a inexistência de um consenso sobre o próprio conceito de expressão idiomática. Desse modo, os objetivos desse estudo são: 1. Propor um tratamento semântico contrastivo dos idiomatismos em inglês e suas respectivas traduções em português, assim como uma análise simbológica dessas expressões para assim relacionar a representatividade dos animais com as expressões idiomáticas compostas por eles; 2. Organizar nosso corpus de EIs lexicograficamente propondo uma nova estruturação do inventário elaborado à ocasião do mestrado à luz da Lingüística de Corpus; 3. Contribuir para a elucidação das imagens simbológicas dos animais em idiomatismos do inglês norte-americano e as equivalências daí decorrentes em português brasileiro, chegando à elaboração de um dicionário inglês- português de expressões idiomáticas com nomes de animais. PALAVRAS-CHAVE: expressões idiomáticas; simbologia animal; dicionário especial; corpus ABSTRACT: Research in the lexicographic field has improved. That is to say that issues about several important aspects in dictionary making concerning monolingual, bilingual, general or special dictionaries have been discussed. One of the main concerns in the last decade has been the awareness about the nature and form of phraseological units, especially idioms, besides a lexicographic interest in corpora and textual bases concerning frequency search, linguistic usage, concordances which now support nomenclature elaboration, context updates, among other important issues. In a previous Master’s research (FALCÃO, 2002), in which an English-Portuguese inventory of animal-related idioms was compiled, an interesting fact was observed – despite a high frequency of idioms in everyday language, their systematization is still incipient and sometimes incoherent since there is no consensus about what would be considered as an idiom. Our main goals are, therefore: 1) Proposing a semantic analysis of English idioms and their equivalents in Portuguese, as well as a symbology study of such idioms in order to correlate animal representation with the idioms composed by them; 2) Organizing the idioms lexicographically, proposing a new structure of the previous inventory considering Corpus Linguistics; 3) Contributing to elucidate animal symbology images in North American English idioms and their equivalents in Brazilian Portuguese, in order to compile an English-Portuguese dictionary of animal-related idioms. KEYWORDS: idioms; animal symbology; special dictionary; corpus INTRODUÇÃO Propomo-nos, nesta pesquisa, a dar prosseguimento ao trabalho de mestrado realizado em 2002, no qual analisamos expressões idiomáticas (EIs) com nomes de animais e elaboramos um inventário inglês-português dessa unidade fraseológica (UF). Consideramos que essas expressões mereçam nossa atenção e devam ser integradas de modo sistemático no inventário dos elementos lexicais que constituem as estruturas semiológicas da linguagem porque são unidades de base extremamente usuais, porque podem representar uma dificuldade à compreensão - oral ou escrita - em língua estrangeira e por encerrarem uma problemática peculiar para a sua tradução. O estudo das EIs representa, pois, relevante objeto de investigação, envolvendo a maneira como um povo se expressa e também sua cultura. Assim, se estudarmos as EIs de uma língua em relação a outra, poderemos analisar e contrastar não só diferentes culturas e costumes, mas também diferentes vocabulários, estruturas e outros aspectos que são transmitidos por meio das línguas. Resolvemos, entretanto, delimitar a extensão de nossa empreitada escolhendo dentre os vários temas possíveis, como, por exemplo, o corpo humano, as cores, o vestuário etc, apenas um, os “animais”, pois, sem dúvida, trata-se de um tema bastante produtivo, tanto em inglês quanto em português, línguas que nos interessam especialmente. Esta nossa pesquisa ou quaisquer outras também constrastivas sobre os idiomatismos podem auxiliar no ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira e na prática tradutória, uma vez que as EIs empregadas normalmente no discurso dos falantes 13 nativos de uma língua, podem causar estranheza e dificuldade de entendimento aos aprendizes estrangeiros. Verificamos, ainda, que a sistematização desse tipo de fraseologismo pode contribuir para a fluência dos falantes, facilitando-lhes uma etapa da aprendizagem, pois além de conhecerem a gramática e o léxico de uma determinada língua, têm ainda que memorizar um enorme repertório de formas cristalizadas, conhecer o seu significado e saber adequá-las a contextos específicos. Além disso, como a própria tradução de EIs representa um desafio, o levantamento dos idiomatismos que propomos, acompanhado de propostas de correspondência no português, definições e exemplos de uso, pretende constituir-se em uma obra de referência bilíngue. Para a elaboração de tal obra, acreditamos que a análise de frequências de usos assume um papel de suma importância. Com efeito, saber se uma palavra ou, em nosso caso, uma expressão idiomática é frequente ou não, é informação relevante “pois não se pode obtê-la de outro modo, já que o ser humano não é cognitivamente preparado para armazenar esse tipo de informação” (Berber Sardinha 2004, p. 160). Esta afirmação corrobora o próprio conceito de EI que adotamos e sobre o qual discorreremos no capítulo seguinte: se tal expressão é ou foi cristalizada pelo uso, é sinal de que foi aceita pela comunidade e repetida até a sua fixação. Atualmente, segundo Mineiro (2003), as obras lexicográficas baseadas em corpora apresentam contextos que sinalizam um reflexo do que é natural na língua, isto é, os exemplos por elas apresentados procuram revelar o uso real e frequente das entradas contempladas no dicionário. Assim, concordamos com Matos (2005, p. 1) quando diz que 14 “uma das lições da Linguística é a de que, a rigor, uma língua só é língua quando usada em contexto(s), por usuários diversos, nativos e não-nativos”. A natureza desta pesquisa levou-nos primeiramente a estudar a simbologia dos animais presentes nas expressões que investigamos. Desse modo, um de nossos objetivos é propor uma análise semântico contrastiva de EIs em inglês que possuem traduções em português também com nomes de animais e uma análise simbológica dessas expressões com o intuito de relacionar a representatividade dos animais com as EIs compostas por eles. Nosso segundo objetivo é organizar nosso corpus de EIs lexicograficamente propondo uma nova estruturação do inventário elaborado à ocasião do mestrado, incluindo contextos e definições aos verbetes, à luz da Linguística de Corpus (LC). Finalmente, objetivamos, também, contribuir para o esclarecimento das imagens simbólicas dos animais em idiomatismos do inglês norte-americano e as equivalências decorrentes em português brasileiro, visando a elaboração de um Dicionário inglês- português de Expressões Idiomáticas com Nomes de Animais. Apresentamos no Capítulo I nossa fundamentação teórica, que permeia as expressões idiomáticas, isto é, seu conceito e características e sua criação e aquisição. Também pormenorizamos a pesquisa de mestrado que gerou a continuação da pesquisa em um trabalho de doutorado, assim como questões sobre as expressões idiomáticas e a LC. No Capítulo II, explicitamos a Metodologia que norteou nossa pesquisa quanto ao estudo da simbologia dos animais e sua análise semântica e as considerações metodológicas para a elaboração de nossa obra de referência. 15 No Capítulo III, expomos a Simbologia dos Animais propriamente dita, na qual nos baseamos para a análise das EIs, e tecemos alguns comentários sobre tal simbologia. Apresentamos, no Capítulo IV, parte da análise de nossos resultados, isto é, o resultado do estudo lexicológico de nossa pesquisa, a análise semântico-contrastiva das EIs em inglês em cojeto com as EIs em português. No Capítulo V, oferecemos o resultado lexicográfico de nosso estudo, ou seja, o próprio dicionário especial (DE) bilíngue que propomos. Passemos ao capítulo teórico de nossa pesquisa que fundamenta todo nosso trabalho, o das Expressões Idiomáticas. 16 CAPÍTULO I AS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS 1. As expressões idiomáticas nos estudos fraseológicos Nas investigações dos sistemas léxico e semântico da língua, faz-se necessário diferenciar as unidades lexicais (ULs) livres das combinações estáveis, que têm traços categoriais próprios. Bally (1951) chama atenção para certas particularidades dessas combinações léxicas, pois elas representam um tipo de expressão da sensibilidade e afetividade humanas por meio da linguagem e possuem diversos graus de coesão dentro de dois limites extremos. O primeiro deles diz respeito às combinações que, depois de serem criadas, decompõem-se e as palavras que as formam ganham de novo plena liberdade para formar novas combinações. O segundo abarca palavras que, por serem usadas constantemente em uma determinada combinação para expressar uma mesma ideia, perdem por completo sua independência e se ligam indissoluvelmente entre si, adquirindo um sentido específico somente nessa combinação. Esse último grupo transformou-se no objeto de estudo da Fraseologia. A Fraseologia, como disciplina linguística, surgiu nos anos 40 e foi objeto de estudo de vários linguistas, que procuraram explicá-la. Entre eles, podemos citar Polinánov, que, já nos anos 30, havia proposto uma definição para essa disciplina. Segundo ele, a Fraseologia é: 17 uma disciplina especial (do mesmo modo que a Fonética, a Morfologia, a Sintaxe, e o léxico) que ocupa, com relação ao léxico, a mesma posição que a Sintaxe com relação à Morfologia...1 ( POLINÁNOV, 1931, apud CARNEADO MORÉ, 1985, p. 20 ) Ortíz-Alvarez (2000) leva-nos a compreender a Fraseologia como um ramo da Linguística que tem como objeto de estudo a análise de combinações de palavras que formam novas ULs ou que têm o caráter de expressões fixas. Também podemos citar Vinográdov (1946) que, por sua vez, entende que a Fraseologia tem como objetivo: o estudo das leis que condicionam a falta de liberdade das palavras e dos significados destas para se combinarem entre si e a descrição das combinações fixas de palavras segundo seus tipos, tanto em seu estado atual como em seu desenvolvimento histórico.2 ( apud TRISTÁ PÉREZ, 1988, p. 8) Segundo Falcão (2002), as investigações de Vinográdov contribuíram muito para os estudos das combinações estáveis, sendo o primeiro a classificar sincronicamente as características fraseológicas do ponto de vista de sua função. Então, baseado no grau de coesão semântica das palavras que formam os fraseologismos, Vinográdov (1946, apud CARNEADO MORÉ, 1985) destaca três grupos: 1) o grupo das unidades fraseológicas; 2) o das combinações fraseológicas; e 3) o das aderências fraseológicas. 1 "una disciplina especial (conjuntamente con la fonética, la morfología, la sintaxis, y el léxico) que ocupa, en relación com el léxico, la misma posisión que la sintaxis en relación com la morfología..." 2 "El estudio de las leyes que condicionan la falta de libertad de las palavras y de los significados de las palabras para combinarse, y la descripción sobre esta base de las combinaciones fijas de palabras según sus tipos, tanto en su estado actual como en su desarrollo histórico". 18 O primeiro grupo, das unidades fraseológicas, refere-se a ULs semanticamente indivisíveis que expressam uma significação integral única, porém essa significação é motivada parcialmente pela significação das palavras que as compõem. O autor inclui nesta categoria os refrões, os provérbios e também os clichês. Por exemplo: “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. O segundo grupo, das combinações fraseológicas, trata das ULs semanticamente divisíveis, ou seja, aquelas nas quais um dos elementos tem um significado que se realiza sozinho, com o uso conjunto de uma palavra rigidamente determinada ou com uma série delas. Por exemplo: em “recusar categoricamente”, o segundo vocábulo acompanha quase sempre o primeiro, mas é passível de substituição sinonímica; assim, poderíamos ter “recusar terminantemente” ou “recusar definitivamente”. O terceiro grupo, das aderências fraseológicas, concerne a ULs cuja significação não é motivada pelo significado das palavras que entram na composição da expressão, isto é, não há nenhum vínculo substancial com os significados de seus componentes. Por exemplo: “chover canivetes” não pretende denotar uma chuva desses objetos. Assim como Vinográdov, outros linguistas estudaram as UFs e propuseram diferentes definições para essas combinações fixas. Casares (1950, p. 170), por exemplo, chamou esse tipo de combinação de locução e a definiu como “combinação estável de dois ou mais termos, que funciona como elemento oracional e cujo sentido unitário concebido não se justifica como a soma do significado normal dos componentes”.3 Na mesma linha de Casares, podemos citar Guiraud (1972, apud ORTÍZ-ALVAREZ, 1997, p. 193), que acredita ser esse tipo de 3 "combinación estable de dos o más términos, que funciona como elemento oracional y cuyo sentido unitario consabido no se justifica, sin más, como una suma del significado normal de los componentes". 19 combinação “uma expressão constituída pela união de várias palavras que formam uma unidade sintática e léxica”. Como vemos, ambos levam em conta o princípio da imprevisibilidade semântica. Com base nesses estudos, podemos, então, comentar três características que consideramos, como Tristá Pérez (1988), possuir a maioria dos fraseologismos: a pluriverbalidade, o sentido figurado e a estabilidade fraseológica. A pluriverbalidade significa que todo fraseologismo é formado por duas ou mais palavras, sendo que pelo menos uma delas deve ser uma palavra plena, ou palavra lexical (um substantivo, adjetivo ou verbo). Com relação ao sentido figurado, sabemos que os fraseologismos podem apresentar diversas figuras de estilo, como a metonímia ou a comparação. Mas, sem dúvida, é a metáfora o fator semântico que mais gera fraseologismos, ou seja, a metaforização - troca de sentido que se origina pela semelhança entre fenômenos e objetos - é o processo que mais atua na formação dessas unidades como uma grande força de enriquecimento fraseológico (TRISTÁ PÉREZ, 1988; ORTÍZ-ALVAREZ, 2000). Uma metáfora surge por um processo de denominação de novos objetos, fenômenos etc., sob a base de palavras já existentes na língua, ou por redenominação de outros objetos e fenômenos. As imagens, que são o cerne de qualquer metáfora, podem desaparecer com o tempo e o que acaba ficando na língua é um termo que ninguém mais associa com a origem real. É, pois, por meio de um processo de metaforização que uma característica ou propriedade inerente a um objeto passa a caracterizar outro, que pode pertencer a uma classe totalmente diferente. Por exemplo: em “Márcio é uma cobra” temos a imagem da 20 traição, simbologia expressa culturalmente pelo réptil “cobra”, atribuída metaforicamente a um sujeito +humano. A terceira característica que consideramos é a estabilidade fraseológica, ou seja, a capacidade que os fraseologismos possuem de serem reproduzidos integralmente. De acordo com Tristá Pérez (1988), a estabilidade fraseológica se manifesta em dois níveis: 1o) na impossibilidade de realizar certas operações gramaticais na combinação de palavras, pois não há como trocar a ordem dos componentes fraseológicos, interpolar elementos que não pertençam ao fraseologismo, substituir determinada categoria gramatical e substituir uns elementos por outros; 2o) na relação estreita entre os elementos do fraseologismo que impossibilita a dedução do significado global da expressão com base no valor semântico dos componentes. Após considerarmos essas características que são próprias dos fraseologismos, podemos fazer algumas considerações sobre suas estruturas internas. Tristá Pérez (1988) classifica-os em dois grupos, ou seja, fraseologismos que têm em sua estrutura interna um indicador mínimo (léxico, semântico ou gramatical) que marca sua condição como tal, e unidades fraseológicas em cuja estrutura interna não se encontra o elemento identificador. No primeiro grupo, encontramos combinações ilógicas de palavras que contradizem as relações reais dos objetos e fenômenos designados do mundo material e as regras sistêmicas das quais se derivam uma grande quantidade de combinações conotativas. Aqui podemos inserir alguns tipos de fraseologismos, como os que apresentam anomalias léxicas e também aqueles que possuem anomalias semânticas. Neste último caso, podemos citar como exemplo o fraseologismo “fazer das tripas coração”, cuja compreensão denotativa é impossível. 21 No segundo grupo, estão os fraseologismos nos quais não podemos encontrar em sua estrutura interna o elemento identificador. Nesses casos, os fraseologismos não apresentam nenhuma discordância léxica, semântica ou gramatical que os distinga das combinações livres próprias de uma dada língua. São, portanto, fraseologismos com uma combinação livre homônima e só podem ser identificados, portanto, de acordo com o contexto, ou seja, é ele que vai determinar se se trata de uma combinação livre ou de uma unidade fraseológica. Desse modo, a expressão “cruzar os braços” pode possuir, além de um sentido idiomático, um sentido denotativo, no caso de alguém literalmente cruzar os braços em uma sessão de fotos, por exemplo. Neste caso, não se trataria mais de um idiomatismo. Na verdade, como bem disse Tristá Pérez (apud Falcão, 2002), uma determinada combinação de palavras geralmente adquire seu sentido fraseológico apenas em um determinado contexto sociolinguístico ou em uma situação específica. O contexto para ela é, pois, um fator decisivo na determinação do significado das combinações de palavras. Existem, portanto, expressões livres e expressões fixas de palavras. Podemos diferenciá-las citando Zuluaga (1980, p. 15): as combinações livres são produzidas em cada ato de fala mediante as regras da gramática atual, são produtos de procedimentos próprios da sincronia da língua. As expressões fixas, ao contrário, são reproduzidas em bloco (...); em outras palavras, as expressões fixas são produto de processos de repetição na diacronia da língua.4 4 “Las combinaciones libres son producidas en cada acto de habla mwediante las reglas de la gramática actual, son productos de procedimientos propios de la sincronía de la lengua. Las expresiones fijas, en cambio, son reproducidas en bloque (....); en otras palabras: las expresiones fijas son producto de repetición en la diacronía de la lengua.” 22 Dentre as expressões fixas da língua, optamos por destacar as EIs que, no âmbito dos estudos fraseológicos, são consideradas um tipo de fraseologismo com anomalias semânticas, ou seja, são combinações com caráter conotativo nas quais podemos perceber a impossibilidade da realização do fato, e que também se caracterizam pela ausência de relação semântica entre o significado global do conjunto fraseológico e o significado de cada palavra da expressão considerada isoladamente (WOTJAK, 1983, apud RONCOLLATO, 2001). 2. Conceito e características Podemos citar alguns linguistas que foram pioneiros nos estudos sobre os idiomatismos: Biderman (2001), que define as EIs como combinatórias de lexemas que o uso consagrou em uma determinada sequência e cujo significado não se dá pela simples somatória das suas partes; Lyons (1979), para quem os idiomatismos são enunciados estereotipados, aprendidos como um todo analisável, isto é, indecomponível, sem perder de vista a relação que as partes mantêm entre si; e Lopes (1987), que considera os idiomatismos como sintagmas cristalizados, memorizados globalmente e utilizados automaticamente em certos pontos do discurso. Além desses estudiosos, citamos tantos outros que igualmente se dedicaram a essa UF como, por exemplo, Danlos (1981), Rwet (1983), Tagnin (1987, 1989, 2005), Gaston Gross (1996), Ranchhod & Carvalho (2003), Sinclair (1991), Mel’�uk et al. (1995), Roberts (1996), Cowie (1998), Moon (1998), Strehler (2003), �ermák (2001), Odijk (2004) e Tutin (2004). 23 Para subsidiar esta pesquisa, adotamos o conceito de EI proposto por Xatara (1998): “lexia complexa indecomponível, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradição cultural” (p. 17), em virtude de sua adequada abrangência para nosso trabalho. Assim, revisitamo-lo a seguir. As EIs, se consideradas primeiramente como lexias complexas indecomponíveis, são unidades frasais que constituem combinatória fechada, de distribuição única ou distribuição muito restrita, pois as partes que as constituem não se dissociam sem prejuízo na interpretação semântica, a qual não pode ser calculada com base nos significados individuais de seus componentes. Desse modo, substituições por associação paradigmática somente poderão ocorrer em restritas possibilidades (Xatara, 1998). Em uma EI de distribuição única, com alto grau de lexicalização ou cristalização, é impossível haver inserções, ou seja, interpolarem-se componentes que lhe são alheios e também permutas lexicais, ou seja, substituir uns elementos pelos outros. Nesse tipo de EIs, observam-se quatro aspectos convencionais: 1. seu significado, sempre conotativo – a EI “não fazer mal nem a uma mosca” pode também ser compreendida globalmente como “não ter coragem de prejudicar alguém”. Se a compreensão denotativa de seu significado prevalecesse, de acordo com o contexto no qual a EI estivesse inserida, não se trataria mais de idiomatismo; 2. a ordem fixa de ocorrência dos elementos – “tirar o cavalo da chuva” é considerada uma EI, mas “tirar da chuva o cavalo”, não; 3. as relações de similaridade baseadas na seleção da unidade lexical – “acordar com as galinhas” é uma EI, mas “acordar com as aves”, não; 24 4. as relações no sintagma – “ter olhos de águia” combina elementos em sua sequência sintagmática inaceitáveis: ninguém conseguiria literalmente ter olhos de águia. No caso das EIs de distribuição restrita, há também escalas de variabilidade que correspondem a graus diferentes de cristalização (XATARA, 1994). Portanto, essas EIs podem variar e co-ocorrer segundo: 1) o tempo verbal (“estou [estava] uma fera”); 2) a modalidade de asserção, negativa ou positiva (“[não] cutuque a onça com vara curta”); 3) o modo verbal (“ela pegou [que pegue] o touro à unha”); 4) a pessoa do verbo (“eu mexi [ele mexeu] em caixa de marimbondo”); 5) o artigo (“deixei Roberto com a [uma] pulga atrás da orelha”); 6) o possessivo (“puxou a sardinha pro meu [seu] lado”); 7) as inserções de advérbio (“acertou [de novo] na mosca”); 8) e a permuta lexical (“lobo em pele de cordeiro [ovelha]”). Observamos que, de um modo geral, só quando se detecta que determinadas sequências de palavras não trazem o sentido previsto, essas expressões, tanto de distribuição única como de distribuição restrita, passam a constituir uma unidade, uma vez que os seus componentes não podem mais ser dissociados, significando outra coisa. Nesse caso, sua interpretação semântica não pode ser calculada com base na soma dos significados de seus elementos, mas valendo-se da atribuição de uma significação segunda, que é convencional, ou seja, que é aceita de comum acordo e pelo uso e que pode ser encontrada em diversos níveis como o sintático, o semântico, o pragmático (Tagnin, 1989). 25 Com isso, para uma expressão finalmente ser considerada idiomática, ela deve ser, ou ter sido, empregada com frequência pela comunidade dos falantes, ou seja, o que realmente a cristaliza é a sua consagração pela tradição cultural. De fato, é o emprego das EIs o fator mais analisável em todos os sentidos: o levantamento estatístico das EIs em um texto e os efeitos de linguagem obtidos com o uso de idiomatismos, por exemplo. Após termos explanado nossas considerações acerca do conceito das EIs, e as características que as constituem, é importante termos em mente as evidências que contrariam o estatuto das EIs. Assim, segundo Xatara (1998), as EIs não são: 1) locuções, pois estas encerram uma forma funcional de organização dos elementos disponíveis da língua (por exemplo, “vez ou outra” ou “à medida que”) e não uma maneira de exprimir algo com a implicação de uma retórica e uma estilística e com a suposição de uma figura, como a metáfora; 2) combinatórias usuais ou colocações, pois essas são unidades linguísticas convencionais, de sentido denotativo, que se caracterizam pela co-ocorrência léxico- sintática de seus elementos, por exemplo, “diametralmente oposto”; 3) perífrases verbais, cujos argumentos não têm restrição, de mera função nominativa, que correspondem ao modelo SV + SN, sem transformação dos significados dos componentes, por exemplo, “fez um acordo (contrato)” ou “dar ajuda (apoio)”; 4) ditados, por exemplo, “achado não é roubado” que são elementos não conotados, ou provérbios, ricos em imagens, por exemplo, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. A formulação arcaizante e os enunciados concisos e fechados desses dois tipos de fraseologismos confere-lhes uma autoridade que depende da “sabedoria dos 26 antigos”, isto é, tanto ditados quanto provérbios enunciam verdades eternas na forma de simples constatações; 5) fórmulas situacionais ou sentenças usadas em situações de comunicação específicas (“Não seja infantil”!, “Você tá brincando...” [Tagnin, 1987; Xatara, 1994]); 6) Clichês ou chavões, ou seja, criações literárias que se banalizaram pelo uso como, por exemplo, “o astro do dia” ou “na primavera da vida”; 7) sintagmas terminológicos, unidades lexicais complexas que correspondem a um conceito restrito a uma determinada área científica ou técnica, por exemplo, “unidade de terapia intensiva”. Todas essas distinções, entretanto, são vistas pela autora com base no conceito de EI que estabeleceu que, como dissemos anteriormente, adotamos na presente pesquisa, porém todos reconhecemos que os limites entre essas diferentes unidades lexicais estão longe de ser consensuais. Apesar dessa constatação, concordamos com as distinções feitas pela autora, fruto de extensa pesquisa na área da fraseologia e nas quais nos baseamos em nosso trabalho. 3. Criação e aquisição Quanto às razões que motivam os falantes a criarem as EIs, podemos afirmar que, muitas vezes, o léxico de uma língua não dispõe, em seu acervo, de unidades lexicais apropriadas para expressar certas nuanças de sentimento, emoção, ou sutilezas de pensamento que o falante gostaria de lançar mão em uma determinada situação de comunicação. Para dar conta disso, ele precisa recorrer a enunciados eufemísticos, 27 enfáticos, irônicos etc, que são escolhidos arbitrária e subjetivamente (BORBA, 1970 refere-se a essas escolhas como um caso de nomeação subjetiva). Esse falante, então, apenas se contentará quando encontrar combinatórias inusitadas que possam manifestar valores expressivos, isto é, quando associar, pela primeira vez, duas ideias ou universos do discurso reunidos em uma nova síntese que venha exprimir uma revelação cognitiva e catarse emocional. É o que Lopes (1987) chama de “salto da imaginação criadora”. Por isso, dizemos que no primeiro momento da criação de um idiomatismo, um indivíduo seleciona combinações dentre todas as possibilidades (fonológicas, morfossintáticas e semânticas) do sistema da língua, sistema que subjaz à sua competência linguística. Assim, ele produz uma formulação idiomática no nível da fala. Essa formulação é, em um segundo momento, reproduzida no discurso coletivo, por um número significativo de indivíduos, até que, em um terceiro momento, passa a ser consagrada por toda a comunidade, ou seja, acolhida pela norma que corresponde ao conjunto das possibilidades linguísticas já selecionadas pelas tradições e valores socioculturais dos falantes da língua em questão. Observando-se, pois, os três elementos essenciais para caracterizar uma EI – unidades lexicais complexas, conotação e cristalização -, podemos dizer que ela só adquire o estatuto de idiomatismo quando passa a pertencer à norma de uma determinada comunidade linguística e é usada pelos falantes dessa comunidade. Desse modo, as EIs em língua materna são utilizadas, diariamente, como parte da linguagem comum de registro informal, tanto na modalidade oral quanto na escrita. Mas para o usuário (professores, alunos, tradutores e falantes em geral) de uma língua estrangeira, no nosso caso o inglês, as EIs apresentam grande dificuldade, seja em 28 contextos de ensino, seja em situações de comunicação, seja na prática profissional, ensino ou tradução, pois nem todos os aprendizes de uma língua têm a oportunidade de estar em contato direto e contínuo, ou mesmo indireto, mas sistemático, com a maneira de cada povo expressar-se em seu idioma. Além disso, se observarmos obras de referência bilíngues gerais ou especiais existentes em inglês, notaremos que em muitos casos eles apresentam apenas a paráfrase de uma EI, com a qual o usuário comum ou desavisado se dá por satisfeito. Mas o tradutor consciente deve se empenhar na busca de uma expressão em português tão idiomática quanto a inglesa e não apenas na busca de uma explicação do seu significado. É o que intentamos oferecer em nossa obra de referência. Discorremos a seguir sobre a pesquisa de mestrado que desenvolvemos anteriormente, investigação que impulsionou esse novo estudo. Expomos, assim, os pormenores de nossa dissertação. 4. A pesquisa de mestrado Em nosso trabalho de mestrado, estudamos, primeiramente, a abrangência do léxico, cuja compreensão é fundamental, sobretudo pela dimensão social da língua, na qual os fraseologismos, por decorrência, as EIs, estão inseridos. Abordamos também especificamente o tipo de unidade lexical analisada, ou seja, as EIs, assim como fizemos algumas considerações teóricas sobre dicionários e sua tipologia. Igualmente, resenhamos diversos dicionários para tratarmos da organização lexicográfica dos idiomatismos apresentados pelos autores e expomos algumas 29 características gerais da obra anteriormente elaborada. Explicitamos, a seguir, essa investigação nos dicionários e as particularidades de nosso inventário. 4.1 As expressões idiomáticas com nomes de animais nos dicionários Com base no conceito pré-estabelecido de expressão idiomática que descrevemos anteriormente, elaboramos um inventário inglês-português desse tipo de expressão, selecionando aquelas que traziam nomes de animais em ao menos um de seus itens lexicais constitutivos. Para tanto, investigamos, primeiramente, diversos dicionários gerais (DGs) e DEs, monolíngues e bilíngues concernentes à língua portuguesa e ao inglês, com o intuito de observarmos a organização lexicográfica das EIs selecionadas por eles. Nosso propósito foi o de procurar saber o que se havia pesquisado sobre os idiomatismos até aquele momento e como tais pesquisas apareciam refletidas na elaboração de um dicionário. Nenhum dos dicionários analisados teve como base a Linguística de Corpus. Assim, dentre as mais de 20 obras de referência analisadas detalhadamente, citamos alguns DEs bilíngues de expressões idiomáticas. O Dicionário de Expressões Idiomáticas Inglês-Português / Português-Inglês (SERPA, 1982), apresenta vários tipos de expressões convencionais. Elas aparecem em ordem alfabética pelo primeiro substantivo. Como exemplo, citamos a EI have ants in the pants e a expressão símile be as blind as a bat, que têm ant e bat como entradas respectivamente. Segundo o autor, elas podem aparecer também registradas na obra pelo primeiro verbo principal da expressão ou mesmo pela primeira palavra. 30 As entradas figuram no dicionário em negrito e em letra maiuscula; logo abaixo estão elencadas as expressões em negrito, expressões estas que aparecem com seus correspondentes em português, ora idiomáticos, ora parafrásicos. Na segunda parte do dicionário, ou seja, na direção português-inglês, as expressões estão elencadas também pelo primeiro substantivo, como no exemplo da EI “abraço de tamanduá” que têm “abraço” como entrada. No Dicionário de Expressões Idiomáticas Metafóricas Inglês-Português (CAMARGO & STEINBERG, 1987), dentre os vários tipos de expressões, mereceu a atenção dos autores a frase metafórica. Para eles, cada palavra do léxico de um idioma, ou mesmo frases inteiras, pode ser empregada figurativamente, dentro de um determinado contexto linguístico, numa determinada situação, e muitas vezes na linguagem do dia-a-dia. Os autores definem tanto uma EI como um clichê, um coloquialismo ou uma frase feita como sendo distintas denominações usadas para designar diferentes tipos de construções linguísticas, de tradução literal nem sempre possível, de uma língua para outra. Entendem, também, que os critérios para diferenciá-los não são impossíveis, mas nem sempre são evidentes. A obra oferece ao leitor expressões da língua inglesa empregadas conotativamente e as respectivas correspondências brasileiras, segundo os autores, ora idênticas, ora semelhantes, diferentes ou simples paráfrases. Cada expressão vem acompanhada de um exemplo para maior clareza e quando possui mais de um significado, tem o número correspondente de exemplos contextualizados. 31 As entradas estão organizadas em ordem alfabética, baseando-se em uma das palavras integrantes da EI e obedecendo a um critério de precedência, em ordem decrescente, das categorias gramaticais seguintes: substantivo, adjetivo, advérbio e verbo. Assim, se a expressão contém, por exemplo, um substantivo, um adjetivo e um verbo, ela estará listada a partir do substantivo, e assim por diante. O autor do dicionário Expressões Idiomáticas English-Portuguese (MORGAN, s.d.) diz, em sua introdução, que nessa obra o consulente poderá encontrar mais de 2.800 EIs rigorosamente atualizadas e corretamente utilizadas diariamente, inclusive pelos órgãos de comunicação. Afirma, em seguida, que embora exista no mercado um farto material de obras do inglês para o português, o pequeno registro de idiomatismos é uma falha que persiste, apesar de não oferecer uma definição de idiomatismo na introdução da obra. O autor esclarece, ainda, que elaborou tal dicionário tentando aproximar-se ao máximo do desprendimento e liberdade de expressão da linguagem atual. Quanto à organização lexicográfica, encontramos apenas a informação de que as EIs são diretamente apresentadas em ordem alfabética. A obra Dicionário de Locuções e Expressões Idiomáticas Inglês-Português / Português-Inglês (SCHIMIDT, 1992) reúne aproximadamente 16.000 entradas de expressões e frases coloquiais, mas não define o que considera EIs ou locuções. Na introdução, o autor esclarece que a apresentação das expressões se organiza por simples ordem alfabética, pela primeira palavra da expressão ou locução, ressaltando em negrito as dúvidas mais usuais de gramática, sem se aprofundar em longas explicações. Essa primeira palavra, sobretudo quando se trata de pronomes que podem variar, resulta na escolha pessoal do dicionarista, a qual, não sendo por acaso a mesma do 32 consulente, não o levará a alcançar o seu objetivo inicial: encontrar a expressão idiomática. Como exemplo podemos citar a EI he let the cat out of the bag - “abrir o bico” que é registrada pelo pronome he, podendo este variar para I, we etc. Consideramos, pois, que não estão claros os critérios de seleção de entradas desse dicionário, nem de sua organização lexicográfica. No caso de haver mais de um significado, em português, para a mesma expressão, pudemos perceber que ela aparece como entrada mais de uma vez, e, se há mais de uma forma da expressão em inglês, elas figuram na mesma entrada, separadas por traços. A análise completa dos dicionários realizada em pesquisa anterior (FALCÃO, 2002) nos permite fazer algumas considerações que, de certa forma, indicam o estado das pesquisas sobre os idiomatismos nas últimas décadas, na medida em que tais estudos se refletem nas obras analisadas. Alguns poucos DEs bilíngues analisados fornecem, na introdução, definições de EIs; outros mencionam apenas a presença de fraseologismos na obra, sem qualquer referência à sua apresentação, no corpo do dicionário, como é o caso da obra de SCHIMIDT (1992). Sendo assim, acabaram incluindo outros tipos de fraseologismos sob o nome de EIs, como por exemplo, provérbios, gírias, ditados populares, frases feitas e até mesmo exclamações do tipo oh, no!, que não possuem valor conotativo. No caso específico dos DEs bilíngues, apenas em alguns pudemos observar traduções na maioria das vezes também idiomáticas, como nos dicionários de Serpa (1982) e de Camargo & Steinberg (1987); nos demais, encontramos muitas explicações e paráfrases na língua de chegada da EI. Também encontramos traduções que, embora fossem idiomáticas, o autor ou autores optaram por acrescentar-lhes explicações. 33 Realizamos uma análise dos dicionários, não com a intenção de encontrar defeitos, pois somos conscientes de que nenhuma obra lexicográfica conseguirá não apresentar falhas, mas com o objetivo de investigar como a pesquisa lexicológica dos idiomatismos se reflete na elaboração de um dicionário desse tipo de fraseologismo. Pudemos observar que lacunas são frequentemente encontradas e, assim sendo, esperamos com nossa tese enriquecer os estudos sobre esse tipo de expressão. No item seguinte, pormenorizamos as características do inventário que serviu como base para a pesquisa atual. 4.2 O inventário inglês-português de expressões idiomáticas com nomes de animais Baseando-nos em Haensch (1982), apresentamos algumas características gerais do inventário que confeccionamos anteriormente. Elaboramos um inventário descritivo que registra uma fatia do léxico, ou seja, um vocabulário parcial, o das EIs. Pode-se dizer, ainda, que a obra elaborada possui marcas: a) diatópicas, pois restringe-se ao inglês americano e ao português do Brasil; b) diastráticas, pois se trata de um inventário de unidades lexicais, as EIs, que fazem parte do nível coloquial de linguagem; c) sincrônicas, pois procuramos considerar EIs atuais, não relevando as literárias e arcaicas, com base nas próprias observações feitas pelos autores das obras que utilizamos para compor o dicionário. Ainda de acordo com Haensch (1982), em se tratando de DEs, como no nosso caso, pareceria fácil tentar torná-lo um inventário exaustivo, pois tratava-se de um 34 vocabulário parcial de um domínio reduzido. Embora tenhamos tentado registrar todas as EIs com nomes de animais em inglês que encontramos, essa exaustão, na verdade, é inexequível, devido à impossibilidade de se abarcar totalmente um vocabulário, mesmo parcial, em uma obra lexicográfica, uma vez que o léxico está em constante evolução. Para elaborar o inventário, elegemos 24 obras lexicográficas, material que constitui fontes escritas secundárias (Haensch, 1982). Para a composição da nomenclatura e compreensão de várias EIs, coletamos os dados manualmente em dez obras com entradas em inglês. Os dados completos de todas as obras que nos serviram de fonte encontram-se no item Obras do corpus da Bibliografia de Falcão (2002). (Apêndice I) De todas essas obras de referência, coletamos apenas expressões idiomáticas e, para tanto, tomamos o cuidado de observar constantemente o conceito de EI proposto por Xatara (1998). Assim, acabamos por excluir outros tipos de unidades fraseológicas, pois descobrimos serem eles: a) provérbios, por exemplo, One swallow doesn’t make a summer / Andorinha sozinha não faz verão; Pigs love to be together / Gambá cheira gambá b) gírias, por exemplo, have a cow / estar com um grilo; c) unidades terminológicas, isto é, da língua de especialidade. Por exemplo, congressional hawks que são os políticos ávidos por poder do Congresso americano; sacred cow que é utilizada, na maioria das vezes, na área de negócios para dizer que uma instituição é muito importante e man bites dog, usada na área de propaganda para dizer que vale a pena dar uma notícia, ou seja, quando esta é muito importante. 35 Devido à delimitação diatópica no que se refere às EIs em inglês, não selecionamos EIs britânicas e australianas, como por exemplo, send somebody away with a flea in the ear (mandar alguém embora com umas verdades) e, para nos assegurar de tal delimitação, contamos com as informações contidas nas renomadas obras de referência que utilizamos como fonte. Selecionamos ainda, além de sete obras bilíngues inglês-português e/ou português-inglês, nove obras em português, gerais e especiais, e duas obras português- francês, que da mesma maneira fizeram parte das obras consultadas para a coleta de dados, ajudando-nos na tradução dos idiomatismos, isto é, na busca pelos correspondentes. Quanto à tradução das EIs, foi também imprescindível o recurso aos informantes os mais variados possível. Para tanto, distribuímos uma lista com nossas propostas de EIs a pessoas de diferentes perfis e lhes pedimos que marcassem com um “X” as EIs por ventura conhecidas. Dentre os informantes, recorremos a pessoas de pouca instrução (funcionários de uma Faculdade de São José do Rio Preto que não haviam completado a quarta série do ensino fundamental), universitários e professores; jovens e pessoas idosas; de várias localidades no Brasil e também residentes nos EUA. Todos deram uma contribuição muito significativa para que chegássemos, de fato, às propostas de tradução. 5. Expressões idiomáticas e Linguística de Corpus Apesar de todo o rigor lexicológico e lexicográfico a que nos propusemos, nosso trabalho foi reflexo de uma “lexicografia artesanal”, ainda muito praticada no Brasil, 36 baseada apenas em fontes secundárias e em informantes, - refletida também nas obras que nos serviram de fonte de coleta de dados -, principalmente no que concerne aos DEs bilíngues. Desse modo, acabamos por recorrer, para a seleção da nomenclatura, a fontes secundárias e a nativos do inglês. Com o auxílio do Prof. Ms. Eric Case, da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD), distribuímos uma lista com as EIs em inglês que havíamos coletado a alunos do segundo ano de Letras e a 20 funcionários do Departamento de Linguística daquela instituição que não possuíam o ensino fundamental completo. Dessa maneira, como na pesquisa no Brasil, pedimos que fossem anotadas as expressões conhecidas. Até mesmo para descrever as características de nosso inventário como, por exemplo, afirmar que o mesmo possui marcas sincrônicas, tivemos como base as próprias observações feitas pelos autores das obras de referência que utilizamos. Com a presente pesquisa, intencionamos propor uma nova estruturação e atualização do inventário supracitado, dando prosseguimento à pesquisa anterior. Para tanto, fizemos uso dos conceitos e da metodologia da Linguística de Corpus para a realização de nosso estudo. A LC, segundo Berber Sardinha (2004): Ocupa-se da coleta e da exploração de corpora, ou conjuntos de dados linguísticos textuais coletados criteriosamente, com o propósito de servirem para a pesquisa de uma língua ou variedade linguística [e] dedica-se à exploração da linguagem por meio de evidências empíricas, extraídas por computador. (p. 3) e oferece, acreditamos, uma metodologia que facilita o estudo das unidades convencionais da língua usadas diariamente pelos falantes. Biber, em 1998, já apontava que uma das vantagens da pesquisa baseada em corpus é que o mesmo pode ser usado para dar a conhecer todos os contextos nos quais uma palavra, e em nosso caso, uma 37 expressão, pode ocorrer. Nessa mesma linha, Tagnin (2005) afirma que, enquanto antigamente era preciso observar a recorrência das unidades convencionais no dia-a-dia, até que seu status de unidade fixa fosse comprovado, nos dias atuais a LC favorece a observação simultânea, em um corpus eletrônico, de uma grande quantidade de dados. Até o final dos anos 50, a constituição de corpora linguísticos para obtenção de dados ainda não tinha grande impacto. É a partir dos anos 60, com o surgimento do computador, que pesquisas baseadas em corpora ganharam fôlego e se popularizaram. Desde então, os corpora têm desempenhado papel significativo em áreas da Linguística como a Semântica e a Análise Textual, mas é sem dúvida na Lexicografia que o uso dos mesmos adquiriu importância, já que passamos a uma nova concepção de dicionário e a uma nova maneira de compilá-los. Por conseguinte, podemos dizer que os dicionários baseados em corpora, além de serem um objeto cultural que apresenta o léxico de uma ou mais línguas (DUBOIS, 1986), também representam evidências reais da língua de uma dada comunidade. Além disso, se antigamente eram compilados baseados em outros dicionários e nas introspecções dos falantes nativos, atualmente baseiam-se na observação da língua em uso (SINCLAIR, 1991) por meio de corpora que, como bem dizem Verlinde e Selva 2001 (apud Grefenstette 2002, p. 201) “fornecem uma forte e necessária evidência empírica à intuição do lexicógrafo”.5 Discorremos, neste capítulo, sobre os idiomatismos e suas características, assim como sobre a pesquisa de mestrado que realizamos. Igualmente observamos a maneira como as EIs são apresentadas nos dicionários e sua estreita relação com a pesquisa em corpora. Isso posto, passemos ao capítulo de Metodologia. 5 “give a strong and necessary empirical evidence to the lexicographer’s personal intuition” 38 CAPÍTULO II METODOLOGIA Como já dissemos, a presente pesquisa é um seguimento de nosso trabalho de mestrado, A tradução para o português de expressões idiomáticas em inglês com nomes de animais, no qual elaboramos um inventário bilíngue inglês-português de EIs, com nomes de animais. Sendo assim, a busca por equivalências, também idiomáticas e com nomes de animais sempre que possível, despertou-nos o interesse pela intrigante simbologia dos seres componentes dessas expressões e alimentou a continuidade da pesquisa, com o intuito de elaborar o Dicionário inglês-português de Expressões Idiomáticas com Nomes de Animais. Dado o exposto, apresentamos, primeiramente, uma análise simbológica dos animais cujos nomes figuram nos idiomatismos, baseando-nos em TRESIDDER (2005); LURKER (2003) e CHEVALIER & GHEERBRANT (2007). Nosso estudo dispõe-se em ordem alfabética pelos nomes dos animais que constam nas EIs estudadas. Quando mais de um animal possuir a mesma simbologia ou semelhante, apresentamos a remissiva (v. “nome do animal”). Em seguida, no capítulo IV, propomos um tratamento semântico contrastivo dos idiomatismos em inglês que apresentam traduções em português também com nomes de animais, com o objetivo de relacionar a simbologia dos animais com as expressões idiomáticas compostas por eles. 39 A análise das EIs em inglês e seus equivalentes em língua portuguesa apresenta-se em português para facilitar a consulta dos possíveis consulentes e está assim organizada: 1.1 EIs em inglês que possuem equivalentes em português com nomes de animais 1.1.1 Equivalentes em português com o mesmo animal da EI em inglês 1.1.2 Equivalentes em português com animal diferente da EI em inglês Conforme dissemos no capítulo I, o inventário bilíngue, fruto de nossa dissertação de mestrado, baseou-se em fontes secundárias e em informantes para sua composição. À ocasião, procuramos apresentar equivalentes em português também idiomáticos e, quando não foi possível, traduções. Para elaborar o dicionário que propomos, partimos das EIs em inglês, inventariadas anteriormente, com o objetivo de comprovar sua frequência de uso e analisar os contextos nos quais elas figuram. Para tanto, utilizamos, primeiramente, um corpus em inglês de língua geral, o BYU (Brigham Young University) Corpus of American English6, primeiro grande corpus de inglês americano, compreendendo o período de 1990 a 2007, e que está disponível online, gratuitamente. Ele contém mais de 360 milhões de palavras e apresenta vários gêneros: falado, ficção, revistas populares, jornais e textos acadêmicos. Para trabalhar com o BYU utilizamos a própria interface do corpus, que nos permitiu buscar as EIs, assim como dispô-las em concordâncias. Para a busca dos idiomatismos, procurou-se digitar o núcleo considerado mais fixo dos mesmos, para não considerar as variações pequenas de EIs de distribuição restrita ou de EIs verbais, por vezes substituindo um termo no meio da EI por um 6 http://www.americancorpus.org 40 asterisco, como propõe Xatara (2008). Por exemplo, digitou-se ants in * pants como mostrado na Figura 1: WORD(S) ants in * pants ? CONTEXT 5 5 ? POS LIST -select- ? USER LISTS SEARCH RESET ? SECTION ? 1. IGNORE ----- SPOKEN FICTION MAGAZINE NEWSPAPER ACADEMIC ----- .2. IGNORE ----- SPOKEN FICTION MAGAZINE NEWSPAPER ACADEMIC ----- MIN FREQ 5 MIN FREQ 5 Figura 1: Parte da janela de entrada do BYU corpus of American English Obtivemos apenas 12 ocorrências, (Figura 2) e clicando nelas pudemos visualizar a expressão em contexto, ou seja, no formato de concordâncias (Figura 3): SEE CONTEXT: CLICK ON WORD OR SELECT WORDS + [CONTEXT] [HELP...] CONTEXT TOT 1 ANTS IN HIS PANTS 4 2 ANTS IN YOUR PANTS 3 3 ANTS IN THE PANTS 2 4 ANTS IN MY PANTS 2 5 ANTS IN THEIR PANTS 1 TOTAL 12 Figura 2: Janela do BYU corpus of American English apresentando a frequência de ocorrência da EI pesquisada. 41 Figura 3: Linhas de concordância geradas pelo KWIC do BYU corpus of American English. Em nosso percurso, tivemos a oportunidade de estagiar no campus de San Diego, da Universidade da Califórnia, em 2006, sob a supervisão da Profª. Drª. Kim Lawgali. Aos alunos da Universidade é disponibilizado todo o acervo do conjunto de bibliotecas que a instituição possui. Fizemos uso, pois, do acervo de dicionários em versão digital da Universidade, o ROGER.7 Por meio dele, pudemos consultar simultaneamente toda a coleção dos dicionários Webster e Longman, que estavam disponíveis gratuitamente apenas para alunos da Universidade. As obras de referência em questão estão em contínua atualização e baseiam-se em corpora. Neste caso, a pesquisa deu-se pelo nome do animal e, assim, deparamos com novas EIs, como, por exemplo, a whole team and the dog under the wagon (“um time inteiro”), be a cross bear (“espumar de raiva”), old goat (“papa anjo”) e road hog (“navalha”), que não faziam parte do inventário elaborado anteriormente. Por conseguinte, incluímo-nas em nosso rol de idiomatismos a serem atestados como frequentes, apesar de constarem de dicionários baseados em corpora e serem tidas como tal pois, quando do contrário, traziam a informação “arcaica”. A consulta a todos esses dicionários auxiliou-nos sobremaneira não apenas na busca das EIs, mas em especial na elaboração das definições de nossa obra, pois pudemos 7 http://roger.ucsd.edu/ 42 evidenciar e esclarecer os significados dos idiomatismos por meio dessas obras monolíngues. Como se pôde perceber, poucas ocorrências das unidades fraseológicas em inglês foram encontradas no corpus fechado consultado. Claro figura que dificilmente encontramos evidências para palavras que são consideradas raras, para sentidos raros de palavras comuns e para combinações de palavras (KILGARRIFF & GREFENSTETTE, 2003), no caso de nosso estudo, para EIs, em corpora fechados. Para a análise das EIs em português, partimos das inventariadas em nossa pesquisa de mestrado, assim como fizemos com as EIs em inglês. Para tanto, observamos, primeiramente, os resultados da pesquisa de Xatara (2007), obra na qual nos baseamos para compor a nomenclatura em português de nosso dicionário, cujas entradas já são todas idiomatismos atestados como frequentes. Contrastamos, pois, as EIs que compõem essa obra com as que coletamos à ocasião do mestrado, com o intuito de verificarmos a frequência ou não das mesmas. No estudo supracitado, Xatara realizou uma pesquisa de frequências das EIs em português do Brasil na Web. Para tanto, utilizou a ferramenta de busca Google. A pesquisadora determinou que as EIs consideradas frequentes pelos falantes do português do Brasil seriam as que ocorressem a cada milhão de palavras, em consonância com os estudos de Colson (2003). Quando não encontramos os equivalentes em português, na obra em questão, realizamos a busca na Web, da maneira como demonstraremos no item 1.1 da seção seguinte. Na análise dos equivalentes em português para a inclusão em nossa obra, percebemos que, para algumas poucas EIs há, num mesmo paradigma, mais de um tipo 43 de relação lógica, ou seja, mais de uma unidade léxica possível (Strehler, 2003), como por exemplo em “ser um ovo (buraco)”, para denominar uma cidade pequena. Observamos, também, que existem EIs sinônimas, entre as quais não verificamos qualquer relação formal (Strehler, 2003), como verificamos em “nascer virado pra lua” e “ter estrela”, ambos equivalentes da EI em inglês be a lucky dog. Notamos porém que, em alguns casos, o idiomatismo em inglês encerra mais de um significado possível, como a EI cut out the bull, que pode significar “deixar de rodeios” ou “pôr a boca no trombone”. Houve casos, igualmente, em que duas EIs em inglês - a título de exemplo one horse affair e one horse race - possuem o mesmo equivalente em português, no caso, “corrida de um cavalo só”. Por vezes conferimos que certas EIs em inglês não possuem equivalentes idiomáticos em português e, nesses momentos, propomos traduções. As mesmas estão devidamente marcadas por um asterisco em nossos verbetes, como exemplificado na letra “d)” do item 4 deste capítulo. Após o exposto, relatamos, na seção seguinte, a pertinência da Web para nossa pesquisa. 1. A Web e a pesquisa de idiomatismos No que concerne a Web como base de dados para pesquisas de EIs, parece-nos pertinente utilizá-la tanto para verificar a frequência do tipo de fraseologismo que analisamos como para observar seus contextos, já que mais facilmente podemos encontrar as expressões que intencionamos localizar (Keller & Lapata, 2003), ao contrário do que verificamos no corpus fechado que utilizamos, pois a Web pode ser 44 considerada um repositório de dados da língua, constituindo-se uma grande coletânea de material em formato eletrônico (Berber Sardinha, 2003). A Web pode ser vista como uma fonte de material, o que implicaria na coleta de textos para compilação de corpora tradicionais. Em nossa pesquisa, entretanto, a Web é utilizada como corpus, o que significa dizer que a utilizamos como se fosse um corpus tradicional. Apesar de muitas informações encontradas na Web não serem consideradas confiáveis e de haver ainda muita controvérsia sobre a utilização desse veículo como base textual, não se pode ignorar sua relevância nas pesquisas linguísticas, tampouco na pesquisa lexicográfica de idiomatismos, elementos muitas vezes não encontrados em corpora gerais (XATARA et al, 2006). Além disso, podemos observar padrões recorrentes na língua, que aparecem em ambientes próprios da Web como blogs, chats e emails, veículos nos quais os fraseologismos são encontrados em abundância. De acordo com Kilgarriff & Grefenstette (2003), os textos da Web são realmente produzidos por muitos autores, muitas vezes sem preocupação com correção. Dessa maneira, claramente existem formas erradas nesse ambiente, caracterizando a Web como “corpus sujo”, mas os autores relativizam essa desvantagem quando dizem que: “a Web é um corpus sujo, mas o resultado esperado é muito mais frequente do que o que poderia ser considerado como ruído”.8 (KILGARRIFF & GREFENSTETTE, 2003, p. 9) Como afirma Grefenstette (2002), apesar de corpora gerais serem realmente grandes e terem a vantagem de ser balanceados e compilados a partir de fontes conhecidas, a Web é o único corpus linguístico no qual podemos aplicar o padrão por 8 “the web is a dirty corpus, but expected usage is much more frequent than what might be considered as noise” 45 milhão de palavras (per million words - PMW) para mensurar a frequência das EIs (COLSON, 2003), questão sobre a qual discorremos a seguir. 1.1 A Web e a busca pela frequência das EIs Algumas ferramentas podem viabilizar as pesquisas na Web, como o Google9, por exemplo. Privilegiaremos este mecanismo de busca pela abrangência desse buscador, atualização, diversificação e rapidez (Berber Sardinha, 2003). Para atestar a frequência das EIs na Web, levamos em consideração o padrão adotado atualmente para se determinar a frequência das lexias complexas, ou seja, uma ocorrência PMW (por milhão de palavras), segundo Colson (2003), já que podemos supor que cada resultado, apresentado nas buscas pelas EIs no Google, corresponda a pelo menos uma ocorrência dessa EI no conjunto de textos da página. Consideramos que o tamanho da Web indexada pelo Google seja estimado em 25 bilhões de páginas em 200710 e que em torno de 45% dela seja em inglês (Spink & XU, 2000; Grefenstette & Nioche, 2000; Bar-Ilan & Gutman, 2003), de acordo com dados de 2006 do Observatorio de diversidad linguistica y cultural en la Internet da União Latina.11 Consideramos também os dados apresentados no Caslon Analyses Net Metrics Statistics Guide, que indica que a Web tenha cerca de 80% de seu conteúdo em inglês americano devido ao fornecimento de informações para a web ser predominantemente oriundo de entidades dos Estados Unidos. Sendo assim, observamos em nosso estudo a porcentagem de 36% em relação aos 45% citados acima. Multiplicamos, então, 36% de 9 http://www.google.com 10 http://www.etudes-francaises.net/dossiers/mutations.htm 11 http://funredes.org/lc/espanol/medidas/sintesis.htm 46 inglês americano por 25 bilhões de páginas e dividimos por 100. Assim, obtivemos 930 milhões de páginas em inglês americano na Web, portanto nossas EIs em inglês serão consideradas frequentes quando o google nos retornar 930 resultados diferentes para tais expressões. No buscador Google, fizemos então a escolha por país, ou seja, Estados Unidos, já que nos interessaram apenas EIs do inglês americano. Refinamos nossa busca utilizando o item “pesquisa avançada”. Logo, em idioma, escolhemos o inglês e digitamos a EI entre aspas para delimitá-la, às vezes intercalando um asterisco para ampliarmos a pesquisa. Desse modo, obtivemos para a EI shaggy dog story (“conversa pra boi dormir”), um total de 60.400 ocorrências; a EI beat a dead horse (“chutar cachorro morto”; “bater em cavalo morto”) apresentou 148.000 ocorrências; get goose bumps (“ficar de pelo em pé”) teve 1.790.000 ocorrências, a EI take the bull by the horns (“pegar o touro à unha”; “pegar o boi pelo chifre”), 72.400 e a EI bear garden (“saco de gatos”), 62.600, para dar apenas alguns exemplos de EIs frequentes que encontramos e incluímos em nossa obra considerando a metodologia acima apresentada. Quando o resultado aproximava-se muito do limiar de frequência que adotamos, tomamos o cuidado de verificar uma a uma as páginas retornadas pelo Google para excluir resultados repetidos. No caso de EIs com mais de 1000 ocorrências, verificamos por amostragem essa repetição a cada 10, 20 páginas. Com base nos estudos de Grefenstette & Nioche 2000; Evans et al., 2004 e dados da União Latina obtidos em 2006, estima-se que a porcentagem de português do Brasil na internet seja de 1,41% e que, dessa maneira, cerca de 56 milhões de páginas estejam em 47 português brasileiro. Sendo assim, considerando que normalmente cada EI ocorre uma vez em cada página da Web, definiu-se o limiar de frequência em 56 ocorrências diferentes para esta língua, como propõe Xatara em seus estudos. Esta análise também foi feita quando não encontramos a EI buscada nos resultados de Xatara. Neste caso, igualmente refinamos nossa pesquisa colocando em idioma o português e digitando a EI entre aspas para delimitá-la, intercalando um asterisco para não restringirmos a busca. Em domínio, escolhemos .br, para selecionarmos apenas o português do Brasil. Encontramos, pois, para a EI “conversa pra boi dormir”, um total de 9.750 ocorrências, para “ser o rei da cocada preta”, 1.550; “tomar chá de sumiço”, 1.060; “cortar o mal pela raiz”, 1.110 e para a EI “fazer tempestade num copo d’água”, 1.830. 1.2 A Web e a busca pelos contextos Com relação ao uso das EIs, foram analisados os contextos em que apareceram as ocorrências, descartando aqueles que apresentavam uma sequência homônima em sentido denotativo e escolhendo o contexto-exemplo que mais adequadamente ilustrasse o uso das expressões idiomáticas. Para tanto, com o intuito de formatar as ocorrências do Google em concordâncias, foi usada a ferramenta Key Word in Context (KWIC) Google, formatador de resultados do buscador Google disponível no site do Programa de Pós Graduação de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL).12 Essa ferramenta permite que as ocorrências sejam disponibilizadas na horizontal, cinco palavras à esquerda e cinco à direita, com a palavra nódulo, em nosso caso a 12 http://www2.lael.pucsp.br/corpora/google/index.html. 48 expressão, centralizada, ou seja, no formato de concordância, facilitando sobremaneira a análise e escolha dos contextos. Assim, deve-se copiar e colar os resultados obtidos no Google, digitar a palavra no espaço disponível (em nosso caso digitamos apenas o nome do animal) e informar em que língua está o contexto. Abaixo um exemplo da EI frequente ants in * pants: Nódulo (digite apenas uma palavra): ants Horizonte (esquerda e à direita, para cálculo dos colocados): 5 Língua em que foram apresentados os resultados pelo Google: Inglês Página de resultados do Google Cole abaixo: Amazon.com: Ants in His Pants: Absurdities and Realities of ...Amazon.co w w w .amazon.com/Ants-His-Pants-Absurdities-Realities/dp/1890455423 James Brow n Lyrics, I Got Ants in My Pants Lyrics >>Got ants in my pant w w w .stlyrics.com/lyrics/40yearoldvirgin/igotantsinmypants.htm - 14k - C Ants in His Pants (1939)Directed by William Freshman. With Will Mahoney w w w .imdb.com/title/tt0032213/ - 41k - Cached - Similar pages Ants in Their PantsWhy w ait impatiently for other programs to f inish w hen Fazer (clique uma vez apenas) Reset Figura 4: Parte da janela do programa KWIC google. No inventário elaborado anteriormente, cuja metodologia não contou com o auxílio da LC, pudemos observar que o recurso aos falantes nativos e não nativos, no que concerne a essas EIs testadas, provou ser de extrema valia para a elaboração de nossa nomenclatura e tradução dos idiomatismos para o português. Contudo, com base na 49 pequena amostra do parágrafo anterior, já se constata a necessidade e importância da LC em nossa pesquisa lexicográfica, visto a eficiência e rapidez para o levantamento das frequências e contextos. Além disso, quanto maior for o número de EIs encontradas, mais se torna fundamental o recurso à metodologia fornecida pela LC. Percebemos, portanto, que a alta frequência das EIs (281.000 ocorrências para be a dead horse, por exemplo) é fator determinante para que elas figurem em nossa obra. Explicitamos, a seguir, alguns exemplos de contextos que, acreditamos, refletem pertinentemente o uso das EIs que foram incluídas em nossa obra de referência. Assim, para a EI frequente “conversa pra boi dormir”, encontramos o contexto “A Williams achou o maior ‘papo furado’ a história de que Nick Heidfeld teria machucado o ombro depois de cair da bicicleta, isso é conversa pra boi dormir”, extraído do site . Para seu correspondente em inglês shaggy dog story, apresentamos o seguinte contexto: Most will groan with a flood of outrage when they get the shaggy dog story about the Nissan and the Karmann-Ghia that sail over the edge of the world. . Outro exemplo de contexto, para a EI be a dead horse é Such work is a dead horse, because you can get no more out of it, disponível no site . Também podemos citar o exemplo “Dizem que ela é um caso perdido. Dizem que ela tem amores demais. Mas quando passa e sorri parece tão sozinha.”, para a EI correspondente “ser um caso perdido” < http://letras.terra.com.br/paulinho-da-viola/278752> 50 Ocasionalmente, inserimos contextos para EIs em inglês do corpus fechado que utilizamos, com o intuito de expormos abonações de diversas fontes de pesquisa. Isso deu-se quando a EI, já comprovadamente frequente pela utilização da Web, apresentou um significado revelado pelo contexto do corpus fechado compatível com o averiguado na WWW. Expomos, a seguir, a organização lexicográfica de nosso dicionário. 2. Organização lexicográfica do Dicionário Nosso DE bilíngue, que possui 392 EIs, apresenta as seguintes macro e microestruturas: Os verbetes estão organizados em fonte arial 10 e espaçamento simples. a) Os animais que constam de todas as EIs inventariadas em inglês vêm listados como palavras-chave, em negrito, sublinhados e em redondo; e acompanhados de sua tradução em português também em redondo. Calf - Bezerro [expressões idiomáticas] Camel - Camelo [expressões idiomáticas] b) Logo abaixo de cada lexia referente a um animal, elencamos a(s) EI(s) em inglês relativa(s) a esse animal, em itálico, e as agrupamos em ordem alfabética. Por exemplo: Cat - Gato cat got it cat got your tongue? 51 c) A(s) equivalência(s) em português de EI de uma só acepção – sempre idiomáticas, se possível, senão, traduções por nós propostas – segue(m) em redondo, com ponto-e- vírgula entre mais de uma possibilidade de equivalências. Por exemplo: Butterfly – Borboleta have butterflies (in one’s stomach) - ter frio na barriga; ter borboletas no estômago d) O asterisco ao lado de certas EIs em português representa que as mesmas são traduções por nós propostas. Por exemplo: Fish – Peixe fish eye - olhar de superioridade*: Olhar de quem se acha melhor que outras pessoas. e) As equivalências em português de EI com mais de uma acepção, seguem em redondo e numeradas. Por exemplo: Bat – Morcego play a straight bat - 1. dar uma de joão sem braço: Evitar responder às perguntas de alguém ou dar informação que alguém quer. 2. ser correto*: Ser honesto e ter crenças e ideias conservadoras. f) As definições vêm em redondo, após os dois-pontos que seguem cada equivalência. Por exemplo: Bat – Morcego play a straight bat - 1. dar uma de joão sem braço: Evitar responder às perguntas de alguém ou dar informação que alguém. g) Os exemplos em inglês seguem em itálico, com o endereço web entre parênteses. Por exemplo: 52 “I always have butterflies in my stomach when I have to cope with a new situation such as a job interview”. (http://www.123oye.com/job-articles/interview-tips/you-and-your-interview.htm)” h) Os exemplos em português seguem em redondo, com o endereço web entre parênteses. Por exemplo: “E hoje, finalmente eu começo a ter borboletas no estomago por conta das provas da UFMG e UEMG q já estão muito próximas!; Mas antes do beijo, do xaveco ou da paquera, o frio na barriga é inevitável. Aí, é só curtir a sensação. (HYPERLINK “http://doidamesmo.vox.com” http://doidamesmo.vox.com)” i) Quando há EIs que contêm mais de um animal, elas são inseridas nas entradas concernentes a cada um deles. Por exemplo cock and bull story figura em cock e em bull. j) Os parênteses significam outras opções paradigmáticas dentro da expressão. Normalmente, trata-se de EIs de distribuição restrita, mas não única. Por exemplo: Horse - Cavalo one horse town – ovo (buraco) k) Os colchetes representam especificações contextuais ou marcas de uso. Por exemplo: Dog - Cachorro dog ear - orelha* [de caderno] l) As remissivas, indicadas por “v.”, abreviação de “ver”, fazem referência a outras entradas que possuem o mesmo significado. Por exemplo: Bull - Touro take the bull by the horns (v. get a tiger by the tail) Apresentamos abaixo três verbetes-modelo que exemplificam todas as informações incluídas na macro e microestrutura que propomos: 53 Exemplo 1: Cat – Gato be a cool cat (v. be the cat’s meow; be a whale of something) - ser o máximo: Uma pessoa ou algo excelente. He is a cool cat, Mr. Tronsrue says. He keeps his head. He's always thinking several steps ahead of the competition. (http://sanjose.bizjournals.com/sanjose/stories/2001/08/27/smallb1.html) O nadador Thiago Pereira é o máximo! Já conquistou cinco medalhas de ouro e ainda tem mais três provas para disputar. (http://fotolog.terra.com.br/fernanda_venturini:8) Exemplo 2: be an alley cat - 1. ser alguém que roda bolsinha: Alguém que se prostitui em troca de dinheiro. 2. ser desonesto (a)*: Ser pessoa de caráter duvidoso. 1. Anna Lucasta is a prostitute banished from her home by her father. In this film, Kitt is actually an alley cat. (“http://www.imdb.com/title/tt0051362/usercomments” www.imdb.com/title/tt0051362/usercomments) A menina que roda bolsinha e o cara que tem que pagar?, questiona Agnaldo, sobre prostituição.(“http://render.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowAudios.action?destaq ue.idGuidSelect”render.estadao.com.br/interatividade/Multimidia/ShowAudios.action?destaque. idGuidSelect) 2. He is an alley cat with no morals. Why can't he spend the rest of his life behind bars where he belongs? (“http:// www.topix.com/forum/news/joey-buttafuoco/TUA2IFBRN8U8FU5B5” www.topix.com/forum/news/joey-buttafuoco/TUA2IFBRN8U8FU5B5) Quando o prefeito é desonesto, a população sofre duas vezes: tem o dinheiro público desviado e perde a ajuda dos programas sociais federais. (“http://rjtv.globo.com/Jornalismo/RJTV/0,,MUL116310-9106-14,00-VERBAS+PUBLICAS.html” rjtv.globo.com/Jornalismo/RJTV/0,,MUL116310-9106-14,00-VERBAS+PUBLICAS.html) Exemplo 3: Horse – Cavalo one horse town - ovo (buraco) [cidadezinha]: Cidade muito pequena. I mean, would you want to live in a small, one horse town for your whole life? (“http://www.americancorpus.org/” www.americancorpus.org/) Rancharia é um ovo, a menor cidade do Brasil na minha modesta opinião. (“http:// forum.cifraclub.terra.com.br/forum/11/127384” forum.cifraclub.terra.com.br/forum/11/127384) 54 Após relatarmos a metodologia que rege toda nossa pesquisa, passemos ao III capítulo de nosso estudo, no qual examinamos a simbologia dos animais que compõem as EIs que analisamos. 55 CAPÍTULO III A SIMBOLOGIA DOS ANIMAIS Um símbolo é a imagem de um objeto ou de um ser vivo constituído para representar um conceito ou qualidade (TRESIDDER, 2005). A simbologia dos animais é rica e variada, pois são considerados símbolos tradicionais e, devido a este fato, a representação desses animais vai além de seu lugar de origem, ou seja, com frequência culturas diferentes acabam muitas vezes escolhendo o mesmo objeto para simbolizar a mesma coisa. Quando há diferenças, o contexto cultural parece ser um fator importante. Sendo assim, nossa pesquisa revelou que, apesar de inicialmente considerarmos haver uma delimitação bem definida entre a simbologia dos animais nos Estados Unidos e no Brasil, essa simbologia pode, por vezes, ser a mesma, mesclar-se ou até mesmo apresentar influência de países outros, devido à tradicionalidade, ao redor do mundo, dos símbolos relacionados aos animais (LURKER, 2003). Logo, há, às vezes, uma tendência de os costumes de povos diferentes mesclarem- se e assim gerarem expressões híbridas, isto é, suas culturas se entrelaçam, resultando em novas expressões de manifestação popular. A cultura Norte-Americana e consequentemente sua tradição folclórica e simbológica, apesar de reunir muito da tradição dos índios nativos americanos, assim como dos afro-americanos, representa, em grande parte, imigrantes de várias localidades, suas crenças, tradições e influências culturais outras. 56 O folclore do Brasil é igualmente variado e, para sua formação, colaboraram principalmente, além do índio, o português e o africano. Esses três povos constituíram, podemos dizer, as raízes de nossa cultura. Posteriormente, imigrantes de outros países deram sua contribuição ao nosso folclore, tornando-o mais complexo. Muitas culturas concebem os animais como símbolos, em virtude de suas habilidades físicas e sensoriais. Os animais também são vistos como precursores ou criadores dos seres humanos, em especial nas culturas estudadas nesta pesquisa; desse modo, podemos perceber que há uma estreita relação homem-animal ao observarmos a cultura de diversos povos. No folclore das diferentes culturas, encontramos referência a um tempo em que pessoas e animais não se distinguiam, assumindo, assim, as formas uns dos outros. A relação homem-animal está presente na maioria das culturas (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2007), seja simbolizando uma relação pacífica e harmoniosa ou de hostilidade e turbulência. Aos animais foi atribuído um vasto simbolismo moral, instintivo, da libido, do subconsciente e das emoções, por meio de metáforas, analogias ou intuições psíquicas. Expomos, a seguir, um estudo dos significados simbológicos que consideramos mais relevantes, com base em Tresidder (2005), Lurker (2003) e Chevalier & Gheerbrant (2007), dos animais integrantes das expressões idiomáticas em inglês, as quais possuem traduções em português também com nomes de animais. Nesse sentido, este estudo procurou dar uma pequena contribuição lexicológica a essa fatia do vocabulário, pois não foi nosso objetivo realizar um estudo abarcando a totalidade da simbologia dos animais. 57 Apresentamos a tradução para o inglês dos animais integrantes das EIs; no entanto, para alguns animais, não explicitamos a tradução, pois constam apenas em EIs em português. 1. Dados simbólicos universais dos animais recorrentes nos idiomatismos Abelha - Bee Dentre as várias qualidades atribuídas a este animal estão diligência, habilidades de organização e técnica, sociabilidade, pureza, limpeza, espiritualidade, sabedoria, fertilidade (referência à deusa Demeter), coragem, abstinência, criatividade, eloquência e agitação. A abelha pode ser vista como símbolo de castidade e virgindade, já que no Cristianismo representa a Virgem Maria, que deu à luz sendo dita casta. No Egito, acredita-se que as abelhas não gostem de mau cheiro e sujeira, baseando-se no fato de que o mel de abelhas era um ingrediente importante dos cosméticos egípcios. No islamismo, acredita-se que elas obedeçam a seus superiores e não tolerem indiscrição, dúvida e luxúria. Ao contrário do que comumente dito, as abelhas podem representar não uma forte dor, mas uma dor suave para os gregos. Dessa maneira, elas são representadas por um arco feito de açúcar do deus do amor Kama, e pela corda do arco feita de abelhas que o segue em suas costas. Na Índia, elas representam devoção fanática e na China, um homem apaixonado. Na cultura Celta, o aparecimento de uma abelha pode significar a chegada de um estranho. 58 Águia - Eagle A águia é considerada um símbolo universal, podendo denotar rapidez, poder e percepção do mundo animal. Na América do Norte configura-se um símbolo forte, representando dominação, vitória, contemplação, altura, inspiração e visão certeira. Quando associada ao touro ou ao leão, a águia é sempre vitoriosa, representando o triunfo do espírito ou do intelecto sobre o físico. Na China, é símbolo de coragem, tenacidade e rapidez de percepção. Asno (v. Burro) - Ass Barata A simbologia deste inseto quase não é estudada, as poucas referências com as quais deparamos o vinculam à esperança, já que se acredita que a barata possa sobreviver a qualquer catástrofe natural. Outras menções, principalmente no Brasil, são relativas às características físicas da barata, fazendo-as símbolo de sujeira e pestilência. Sua movimentação desordenada, especialmente quando está ameaçada ou para morrer, faz com que ela seja símbolo de desorientação ou insensatez. Besouro - Beetle O besouro simboliza o poder auto-criador e assim o deus da criação para os egípcios. Ele representa ressurreição, imortalidade, divina sabedoria, regulamentação e providência dos poderes da natureza. 59 De acordo com a crença de que os animais desta espécie sejam apenas machos, o besouro pode representar virilidade e poder gerador da vida. Na África, é símbolo de eterna renovação e, com as asas abertas, representa os planos material, psíquico e divino. Bezerro - Calf O bezerro simboliza pureza e principalmente prosperidade. Ele também pode significar sacrifício voluntário. O episódio bíblico do “bezerrro de ouro” se tornou símbolo de devoção aos valores materiais, em detrimento dos valores espirituais. Igualmente, algumas características físicas do bezerro, como os olhos grandes, “inocentes” e que parecem sempre estar pedindo leite, conferiram-lhe uma simbologia relacionada a pessoas que querem conquistar algo ou que estão enamoradas. Bicho-Carpinteiro O folclore brasileiro apresenta este nome para os insetos coleópteros que corroem a madeira. Vulgarmente conhecido como bicho-carpinteiro, este inseto representa inquietude ou traquinagem, obrigando o indívíduo que possivelmente o possui a se mexer constantemente. Apesar de este animal ser encontrado na madeira, é ao ânus que se faz referência quando se diz que uma pessoa está afetada por este inseto e por isso apresenta movimentos frenéticos. Bode - Goat Com um simbolismo ambíguo, o bode macho pode significar tanto virilidade e potência, como destruição e estupidez, já a fêmea representa fecundidade e cuidado para 60 com os outros; este último simbolismo está relacionado ao benefício que traz o leite de cabra aos bebês. No cristianismo, o bode pode ser visto como personificação da impureza e luxúria, relacionando este animal aos pecadores e aos descrentes do Juízo Final, quando, acredita-se, Cristo separará estes animais das ovelhas. O bode é considerado um animal sagrado, pois, crê-se que ele tenha sido sacrificado para Deus e, sendo o animal sacrificado, carrega os pecados da comunidade. Boi O boi é um símbolo universalmente benevolente, podendo representar força, paciência, submissão e sacrifício, assim como riqueza e trabalho incessante, entretanto quando simbolizado com chifres grandes, significa perigo. Esse animal era considerado valioso, especialmente em rituais associados à fertilidade, em um período que precedia a colheita, mas também considerado submisso como animal de carga. No budismo, um boi branco alado simboliza sabedoria. Atualmente, principalmente nas culturas americana e brasileira, o boi é relacionado à força bruta sem inteligência e, devido a isso, seu simbolismo denota pessoas fortes, porém supostamente não inteligentes, assim como pessoas desajeitadas, atrapalhadas ou grosseiras. Borboleta - Butterfly A borboleta, em especial a branca, é símbolo de alma e imortalidade. Devido à transformação de casulo em borboleta, algumas culturas atribuíram a esse animal o 61 simbolismo de renascimento e ressurreição. Elas também representam lazer abundante, alegria e vaidade feminina, no Japão. A borboleta, associada à flor crisântemo, simboliza beleza e longevidade na terceira idade. Na China, um par de borboletas representa felicidade conjugal. No México, elas representam as almas de guerreiros mortos e, ainda quando casulos, simbolizam perigo. Para os Celtas, as mulheres engravidavam quando engoliam borboletas que, para os mesmos, continham a alma de outra pessoa. Burro (v. Asno; Mula) O burro, o asno e a mula sempre foram considerados animais inferiores ao cavalo, já que são menores, difíceis de serem controlados e têm, como função primeira, carregar cargas. Essa função ajudou a lhes conferir uma simbologia quase sempre associada ao papel passivo e sofredor desses animais. Desse modo, eles são símbolo de estupidez, lentidão, teimosia e burrice, porém, assumem no cristianismo, por exemplo, um simbolismo diferente vinculado à humildade, paciência, luz, obstinação e pobreza, pois são tidos como os animais escolhidos para conduzir Cristo a Jerusalém. Por causa de seu relinchar estridente e considerado por muitos desagradável, o burro e o asno são tidos como “desafinados”, uma referência à mitologia grega, na qual Apolo deu a Midas orelhas de burro como punição por Midas preferir a música do deus grego Pan à dele. Ainda na Grécia, eram associados à luxúria ou estupidez cômica. 62 O burro e a mula também são conhecidos, na cultura brasileira e em regiões dos Estados Unidos, por sua prudência e consequente “teimosia”, já que empacam antes de atoleiros, evitando também precipícios e outros perigos. Cachorro - Dog Lealdade, fidelidade, nobreza, devoção, impureza - para os islâmicos -, submissão e vigilância protetora são algumas das muitas significações atribuídas ao cachorro. Antigamente, o cachorro como guardião era associado quase que universalmente ao mundo dos mortos agindo, ao mesmo tempo, como guia e guardião de passagens. Apesar de o cachorro estar associado a sacrifícios, como na Grécia, e a escuridão e medo na Escandinávia, o simbolismo relacionando cachorros à morte é, em geral, positivo. Sua devoção ao dono em vida, também trazendo-lhe sorte, e seu suposto conhecimento do mundo espiritual, sugeriam que eles fossem guias para a vida após a morte e por isso eram sacrificados quando da morte de seu dono, sendo levados até o mesmo para acompanhar o funeral. Os cachorros figuram com esse simbolismo em mitos Maias e no Egito. Os cachorros são também símbolos de ofensa, indelicadeza, avareza e luxúria e cachorros pretos são símbolos de poderes diabólicos e bruxaria. Um cachorro preto e branco pode simbolizar a ordem dos Dominicanos no cristianismo. No Congo, eles são representados com dois pares de olhos, um para vigiar este mundo e outro para avistar o mundo espiritual. No Egito, era visto como o guia para o deus solar com cabeça de falcão e para a deusa Hecate representavam guerra. Os Celtas associavam os cachorros aos guerreiros, 63 caçadores e curandeiros. São guardiões no Japão e na China, apesar de terem significados negativos: como guardiães da noite simbolizam destruição (também para os egípcios), catástrofe e são considerados causadores de eclipses. Em lendas norte-americanas, a inteligência do cachorro o fez símbolo de invenção criativa, de onde tudo se origina ou inventor do fogo e da água. Representando essa última característica, pode estar associado ao poder sexual e a pessoas experientes. Esse animal também pode ser considerado, nessa cultura, mensageiro e herói, pois quando vê seu dono em apuros tenta salvá-lo, mesmo que exija do animal um grande esforço. Em corridas de cachorros, simbolizam malícia e também perigo moral, pois a pessoa que perde está sujeita a riscos decorrentes de uma eventual perda financeira. Acreditava-se também, na cultura americana, que o pelo de um cachorro com a doença “raiva” poderia servir como remédio para sua mordida. Cães e gatos juntos eram vistos como animais de bruxas e, por isso, representavam-nas como invocadores de chuva. O cachorro como o último signo do zodíaco mexicano, representa um período sem fim ou caos. Camundongo - Mouse Este animal está relacionado à timidez, um simbolismo ancestral vindo do legendário insulto do rei Egípcio Tachos a um aliado de Sparta, dizendo que o mesmo (chamando-o de ratinho) fugiu. Os ataques secretos dos camundongos os fizeram símbolo de hipocrisia e duplicidade e, para os cristãos, de mal e destruição moral. Na tradição 64 popular, os camundongos eram almas que saíam da boca dos mortos, ao contrário das andorinhas e pombas que saiam da boca dos santos, quando estes morriam. O camundongo também simboliza agitação, movimentação incessante e turbulência. Carneiro (v. Ovelha) Castor - Beaver A vida agitada do castor, sempre preocupado em construir sua “casa”, o transformou em um símbolo de indústria, trabalho e perseverança. No cristianismo, ele representa castidade, assim como inteligência e razão, em oposição ao instinto em outras culturas, pois acreditava-se que ele próprio se castrava quando era perseguido por caçadores em busca de sua genitália, assim evitando sua própria morte, pois a mesma era trocada por comida, sendo, por isso, considerada valiosa. O castor pode também representar eterna vigilância e paz. Cavalo (v. Égua) - Horse Símbolo arquétipo de vitalidade, velocidade e beleza animal, o cavalo em várias civilizações representava poder e era com frequência vinculado a poderes elementares como água, fogo, ar, vento e tempestade. De todos os animais, seu simbolismo é o mais variado, isto é, vai de símbolo de escuridão a luz, céu a terra, vida a morte. Eles eram sacrificados e seus rabos guardados durante o inverno como símbolo de fertilidade. Antigamente, acreditava-se que os cavalos conheciam os segredos da vida após a morte e 65 por isso eram utilizados em rituais funestos. Mesmo nos dias atuais, cavalos são usados como símbolo de forte tristeza em funerais militares na América do Norte. A morte, e consequentemente o azar, são frequentemente representados por um cavalo preto. No cristianismo, os cavalos em geral simbolizam vitória, ascensão, perseverança, coragem e generosidade, porém os cavalos do apocalípse representam guerra, morte, fome e peste. Há também uma simbologia de destruição remetendo ao cavalo de Troia da história grega, usado para atacar soldados e destruir a cidade de Troia. Além do simbolismo supracitado, o cavalo possui um simbolismo cômico devido a algumas características físicas, quando comparados com humanos. Seu “sorriso largo”, por exemplo, simboliza vergonha e seu relincho considerado estridente, por vezes simboliza uma gargalhada engraçada de humanos. Os cavalos no islamismo, especialmente brancos, são símbolos de felicidade e riqueza. Além disso, podem ser vistos, juntamente com o touro, como animais de sacrifício. Para os Celtas, os cavalos eram símbolos reais, obtendo o status do leão em outras culturas. O cavalo alado ou unicórnio é um símbolo solar, espiritual e guia a carruagem do sol na mitologia clássica, indiana e nórdica. Por guiar carruagens à época dos gregos, também simboliza tudo o que é antigo. Apesar de predominantemente associados a poderes essenciais e instintivos, os cavalos podem representar a velocidade do pensamento e, em consequência, a virtude da clarividência. Eles também estão relacionados a energia sexual e desejo incontrolável, assim como podem simbolizar o intelecto, sabedoria, razão, luz, nobreza e rapidez. A égua possui, grosso modo, o mesmo simbolismo, entretanto quando comparada ao seu parceiro simboliza poder, devido ao fato de lendas gregas