1
unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
Faculdade de Ciências e Letras
Campus de Araraquara - SP
Ariel Finguerut
A influência do pensamento neoconservador na
política externa de George W. Bush
Araraquara – SP
2008
Ariel Finguerut
2
A influência do pensamento neoconservador na
política externa de George W. Bush
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Sociologia da
Faculdade de Ciências e Letras da Unesp
de Araraquara como um dos requisitos para
obtenção do título de mestre em Sociologia.
Linha de pesquisa: Estado e Políticas
Públicas
Orientador : Luis Fernando Ayerbe
Bolsa: CNPq
Araraquara – SP
2008
3
Dedicado a todos aqueles que acreditaram no meu trabalho (especialmente Teresinha e
Priscila) e que me incentivaram ao longo desta jornada que – às vezes – parece não ter fim.
4
Agradecimentos
Obrigado: Colegas e amigos da turma de pós - graduação em Sociologia de 2006, dos grupos
de estudos GEICD, OREAL, IEEI e de Relações Internacionais; Luciana Carvalho, Beth
Lisboa, Guilherme Antunes, Marcelo Yokoi, Eliane d. C. Silva, Gustavo R. Tessari,Thereza
Cristina U. Alves e aos professores Marco Aurélio Nogueira, Milton Lahuerta, Raul Ficker,
Renata Medeiros Paolielo, Eliana Maria de Mello Souza, Piero de Camargo Leirner, João
Roberto Martins Filho e ao CNPq.
Muito Obrigado: Luis Fernando Ayerbe, Mário Martinez, Danilo Henrique Divardin, Jaime
e Teresinha Finguerut, Esther, Adriano, José Rodolfo, Rebecca Serf e Priscila Elisabete da
Silva (e família).
5
Ich hatte schlechte Lehrer,
Das war eine gute Schule.
Arnfrid Astel
[O sr. Keuner e a maré]
O sr. Keuner passava por um vale, quando notou de repente que seus pés estavam na
água. Então percebeu que seu vale era na realidade um braço de mar, e que o momento
da maré alta se aproximava. Imediatamente parou, buscando com os olhos uma canoa, e
enquanto desejava uma canoa ficou parado. Mas, não aparecendo nehuma canoa, ele
abandounou essa esperança e esperou que a água subisse mais. Somente quando a água
lhe atingia o queixo ele abandonou também essa esperança e nadou. Tinha percebido
que ele mesmo era uma canoa.
Historias do Sr. Keuner – Bertolt Brecht
What he's typed will be a window into his madness.
Marge Simpson
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Resumo
Com a ascensão de George W. Bush, as idéias neoconservadoras tornaram-se influentes na
Casa Branca, especialmente após os atentados de 11 de setembro de 2001, com a formulação
de uma nova doutrina de segurança nacional que substitui a dissuasão e a contenção, vigentes
durante a Guerra Fria, pela ação preventiva contra potenciais inimigos da governabilidade
global. Nessa dissertação propomos uma análise dessas idéias, seus principais representantes e
sua influência nas políticas dos Estados Unidos. Tomaremos como referência os dois
governos de George W. Bush, o primeiro mandato entre 2000 e 2005 e o segundo, em
andamento.Buscaremos mapear seus secretários, assessores e nomeados, destacando
neoconservadores ou pessoas próximas ao círculo neoconservador, mostrando assim, a
influência neoconservadora nos temas da política externa da Casa Branca durante o governo
George W. Bush.
Palavras-chave: Pensamento Neoconservador, Política Externa dos Estados Unidos,
Relações Internacionais Contemporâneas, George W. Bush, História dos Intelectuais, Think
Tanks.
7
ABSTRACT
With the rise of George W. Bush the neoconservative ideas became very influential in the
White House, especially after the 11\09\01 acts, with the formulation of a new doctrine of
national security that replaced the dissuasion and contained in force during Cold War by the
preventive action against potations enemies of the global governability. In this dissertation we
propose an analysis of those ideas, those representatives yours representatives and the
influence of those ideas in the U.S politics. We will take as reference the two George ´s W.
Bush governments, the first government form 2000 to 2005 and the second in progress. We
seek to map the Bush Cabinet looking for neoconservatives or people near by their ideas,
showing the influence of the neoconservative ideas in the U.S foreign affairs during the
George W. Bush presidency.
Keywords: Neoconservative Thinking, U. S Foreign Affairs, Contemporary International
Relations, George W. Bush, history of the Intellectuals, Think Tanks.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Think Tanks que foram financiados pela John M. Olin Foundation ______ 57
Tabela 2 - Think Tanks que foram financiados pela Bradley Foundation __________ 58
Tabela 3 - Think Tanks financiados pela Fundação Smith Richardson ____________ 59
Tabela 4 - Comparação dos gastos militares do EUA frente a outros países (dados de
2007) ___________________________________________________________________ 95
Tabelas 5 - Principais Think Tanks e seus respectivos web sites do movimento
neoconservador e da Direita Cristã __________________________________________106
Tabela 6 - Formação do gabinete do governo Bush (primeiro mandato) __________ 107
Tabela 7 - Perfil comparado quanto a gênero e cor da pele, em porcentagem, entre os
gabinetes de George H. W. Bush (1989- 1993) e os gabinetes de George W. Bush:
primeiro mandato (2001-2005) e segundo mandato iniciado em 2006 _____________ 120
Tabela 8 - Nomes importantes do governo George W. Bush que deixaram o governo
desde 2006 _____________________________________________________________ 120
Tabela 9 - Um recorte dos votos de George W. Bush (em porcentagem de votos) __ 121
Tabela 10 - A disputa de 2004 entre John Kerry (Democrata) e George W. Bush
(Republicano) __________________________________________________________ 122
Tabela 11 - Distribuição do eleitorado que votou guiado por valores em 2004 _____124
Tabela 12 - A identificação do eleitorado em 2004 ____________________________124
Tabela 13 - Maiores porcentagens de eleitores evangélicos nos EUA ____________ 126
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Comparação entre as guerras do Vietnã e do Iraque quanto às baixas
americanas em combate por mês __________________________________________ 81
Gráfico 2 – Comparação entre as guerras do Vietnã e do Iraque quanto às baixas
americanas em combate por ano __________________________________________ 82
Gráfico 3 – Os gastos militares dos EUA desde 1998 segundo o Center for Arms Control
and Non-Proliferation ___________________________________________________ 94
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Os neoconservadores na Coalition for a Democratic Majority (1972) _____ 32
Quadro 2 – Os neoconservadores no Committee on the Present Danger (1950 -) ____ 33
Quadro 3 – The Claremont Institute _________________________________________44
Quadro 4 – American Enterprise Institute ____________________________________45
Quadro 5 – RAND Corporation ____________________________________________ 46
Quadro 6 – PNAC (Project for the New American Century) _____________________47
Quadro 7 – Relação dos Think Tanks do Lobby de Israel _______________________ 50
Quadro 8 – Os principais neoconservadores ligados à discussão sobre o estado de Israel
_______________________________________________________________________ 51
Quadro 9 – JINSA (The Jewish Institute for National Security Affairs) ___________ 52
Quadro 10 – Hudson Institute _____________________________________________ 53
Quadro 11 – Hoover Institution ____________________________________________ 54
Quadro 12 – Pesquisadores visitantes do Hoover Institution ____________________ 54
Quadro 13 – Heritage Foundation _________________________________________ 55
Quadro 14 – Neoconservadores no governo George W. Bush conforme os Think Tanks
______________________________________________________________________ 56
Quadro 15 – Grande Mídia com articulistas neoconservadores _________________ 56
Quadro 16 – Principais publicações neoconservadores ________________________ 60
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADM - Armas de Destruição em Massa
AEI - American Enterprise Institute
AIDS - Acquired Immune Deficiency Syndrome
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
CDM - Coalition for a Democratic Majority
CFR - Council on Foreign Relations
CIA - Central Intelligent Agency
CNN - Cable News Network
CPD - Committee on the Present Danger
EUA - Estados Unidos da América
FMI - Fundo Monetário Internacional
GOP - Grand Old Party [Partido Republicano]
HIV – Human immunodeficiency vírus
JINSA - Jewish Insitute for National Security Affairs
LSD - Lysergic acid diethylamide
KKK - Klu Klux Klan
MBA - Master of Business Administration
NASA - National Aeronautics and Space Administration
NSSR - New School for Social Research
NY – New York
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NYT - New York Times
OMC - Organização Mundial do Comércio
ONGs - Organizações Não-Governamentais
ONU - Organização das Nações Unidas
OPEC - Organization of the Petroleum Exporting Countries
OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte
PIB - Produto Interno Bruto
PNAC - Project for the New American Century
PRF - Project for Republican Future
RAND - Research and Development
UCLA - University of California, Los Angeles
UNICEF - United Nations Children's Fund
URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
USAID - US Agency for International Development
WASHINGTON D.C. - Washington District of Columbia
W.T.C - World Trade Center
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SUMÁRIO
Introdução ____________________________________________________________ 15
Capítulo I - A trajetória dos neoconservadores ______________________________ 18
1 - Os intelectuais de Nova Yorque __________________________________ 18
2 - Leo Strauss e os círculos neoconservadores ________________________ 21
3 - Neoconservadores e o Ethos de Esquerda __________________________ 29
4 - Uma geração com novas idéias ___________________________________ 33
5 - William Kristol e John Podhoretz: filhos de radicais _________________ 35
6- O que traz de neo, os neoconservadores? __________________________ 37
Capítulo II - A organização dos neoconservadores ____________________________40
1 - Os neoconservadores e os Think Tanks ____________________________ 40
2 - Entre Nova Yorque e Washington D.C. ___________________________ 42
3 - A presença dos neoconservadores nos principais Think Tanks conservadores
dos EUA ________________________________________________________ 44
4 - Fundações e Think Tanks _______________________________________ 57
Capítulo III - A influência política dos neoconservadores _____________________ 61
1 - Ronald Reagan ________________________________________________61
2 - De pai para filho: de George H. W. Bush à George W. Bush ____________
________________________________________________________________ 63
3 - A Política Externa dos EUA ____________________________________ 64
4 - Pensamento neoconservador e Política Externa _____________________70
4.1 - O Esforço de Irving Kristol ____________________________________ 70
4.2 - A Segunda Geração: e a consolidação da política internacional mediada
pela crença no poder militar ________________________________________72
5 - O 11\09\01 ____________________________________________________ 73
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6- A Guerra do Iraque: afirmação das idéias neoconservadoras__________ 77
7 - Uma aproximação à visão de mundo neoconservadora _______________ 83
7.1 - Unipolaridade ______________________________________________ 83
7.2 – Soft e Hard Power: Europa e EUA _____________________________ 85
7.3 – A Guerra que fortalece e dá sentido _____________________________88
8 - George W. Bush e o “Novo” Militarismo Americano_________________ 90
9 - Crença no poder das armas _____________________________________ 96
Capítulo IV - O Governo George W. Bush (2000 – 2008) _____________________ 97
1 - As ações de George W. Bush. A trajetória de George W. Bush _______ 97
2 - A Base de apoio de George W. Bush ______________________________ 99
3 - George W. Bush e a Direita Cristã ______________________________ 101
3.1 - A Direita Cristã _____________________________________________ 101
3.2 Os neoconservadores e a Direita Cristã __________________________ 104
4 - Os gabinetes e o perfil dos secretários_____________________________ 107
4.1 - Primeiro Mandato (2001-2005) _________________________________107
4.2 - Gabinete do Segundo Mandato _________________________________108
5 – O Desempenho eleitoral de George W. Bush em 2004 _______________ 121
6 - O Legado de George W. Bush____________________________________126
Conclusão_____________________________________________________________ 133
Referências bibliográficas _______________________________________________ 135
15
Introdução
O desafio a que nos propomos nesta dissertação está em mostrar ao leitor a influência
do pensamento neoconservador na política externa de George W. Bush, entre 2001 e 2007.
Para isso, elaboraremos um mapeamento dos intelectuais, que em sua trajetória caminharam
dos chamados Intelectuais de Nova Yorque, fortemente arraigados no campo da esquerda
americana nos anos de 1930 – 1940, até os chamados neoconservadores. Estes podem ser
caracterizados como políticos, funcionários de carreira da Casa Branca e intelectuais dos
círculos dos Think Tanks1 de Washington D.C. que revolucionaram a Direita Americana
quando re-pensaram os rumos da política externa dos EUA pós-Guerra Fria e re-introduziram
na opinião pública, temas como patriotismo, valorização do poder americano e a viabilidade
da unipolaridade no Sistema Internacional. A revolução dos neoconservadores na Direita
Americana é a chave para entendermos a chamada Nova Direita por atrair o foco das ações do
governo para a política externa e para o papel dos EUA no mundo.
Procuraremos demonstrar que, os neoconservadores elaboram estratégias que
articulam tanto a opinião pública quanto posições estratégicas para atingirem o poder político
no governo da maior potência do mundo: os Estados Unidos da América. Todavia, para que
suas estratégias tenham êxito, é necessário que o contexto histórico deste país seja favorável,
isto é, que seus ideais sejam coerentes com os anseios e "medos" da sociedade estadunidense.
Para entendermos os desdobramentos do governo de George W. Bush diante da Guerra
ao Terrorismo Muçulmano e do esforço em manter a ordem internacional, pela força militar
estadunidense, que é caracterizado nos termos de Richard N. Haass2 como "xerife relutante do
mundo", percebemos que é central percorrer o caminho traçado pelos neoconservadores
dentro da Nova Direita. Os marcos da crítica neoconservadora são: o New Deal (1930), do
Fair Deal (1940) e da Great Society (1960).
É diante desse quadro que podemos pensar o que fez uma figura como a de George W.
Bush chegar à Casa Branca. Um homem antintelectual, que acredita no papel da família,
principalmente como chefe de família, o que o coloca como um defensor de posicionamentos
1 Think Tanks, como melhor apresentaremos na seção II, caracteriza-se por uma reunião de especialistas,
intelectuais ou pesquisadores de diferentes áreas, que têm como objetivo elaborar um conhecimento que muitas
vezes pode se transformar em um plano de ação política ou ainda de mobilização social para uma causa
específica, como por exemplo, um esforço para proibir a prática do aborto. Há grupos na área de segurança
ambiental, de tecnologia e de política pública. Encontra-se Think Tanks focados em países ou regiões específicas
do mundo, que ganham destaque conforme os interesses dos grupos no poder ou da ideologia vigente na Casa
Branca.
2 Pesquisador sênior e atual presidente do CFR (Council on Foreign Relations). Cf. Hass (1998).
16
das tradições e valores cristãos, elementos que criam a imagem de conservador que remete a
Reagan e que traz elementos cristãos para a formulação da política externa, uma elemento
novo. Mas que representou os anseios de uma sociedade preocupada com valores e carente de
um plano de ação, depois dos atentados de 11/09/01.
Que ligação, portanto, podemos estabelecer entre a política externa de George W. Bush
e os anseios dos neoconservadores? É possível pensar que a reação dos EUA ao terrorismo
muçulmano – na concepção de uma Guerra ao Terror, que substitui a Guerra Fria como marco
de política externa – foi pensada originalmente nos círculos desta corrente de pensamento?
Talvez o questionamento de partida para entendermos este pensamento e a política
externa dos EUA seria: quais a percepção que os EUA com o mundo? Mais do que isso, qual
é o mundo em que estamos vivendo? Uma das respostas desses políticos para estas questões é
elaborada a partir da crítica à inércia do poder americano pós-Guerra-Fria. Diante desta falta
de auto-questionamento, eles criam um plano de ação a partir deste diagnóstico, buscando
remodelar a política internacional.
Da nossa perspectiva, o desafio último desse grupo talvez não esteja em pensar os
EUA, mas sim em olhar para o mundo e pensar numa ocidentalidade judaico-cristão diante de
ameaças que, mesmo globais, atingem o conceito de Ocidente como um todo. Neste sentido,
os neoconservadores travam um diálogo com os autores que pensam na centralidade da
cultura na política internacional. Este diálogo esta nos Campi com professores da escola
realista como Samuel Huntington e a Nova Geração da Nova Direita, herdeira dos críticos do
liberalismo, como por exemplo, Francis Fukuyama e William Kristol. Este debate aparecerá
também na política, na forma ideológica do embate entre a Velha e a Nova Direita, que
conheceremos melhor neste trabalho.
Para pensar estas questões, organizamos a dissertação da seguinte forma: na primeira
seção caracterizaremos o pensamento neoconservador, a partir do mapeamento dos seus
principais atores. Falaremos da trajetória intelectual e social dos primeiros
neoconservadores. Para isso, focaremos nossa atenção nos intelectuais de Nova Yorque3
chegando até a germinação da Nova Direita4, mostrando a trajetória do pensamento
neoconservador neste processo. Na segunda seção, mostraremos como eles organizam suas
3 Os Intelectuais de Nova Yorque são intelectuais europeus refugiados ou fugitivos do nazismo na Europa que
foram assimilados pelas universidades americanas, mas principalmente de NY. Dentre elas pode-se destacar a
Universidade de Columbia, a City College e a Universidade no Exílio, que depois conhecida como a New School
for Social Research.
4 A Nova Direita diferenciou-se da tradicional Direita americana principalmente nos anos de 1970 e 1980, por
acreditar numa política externa mais expansionista e no âmbito da política doméstica e assimilar elementos do
momento histórico, servindo de base para novos atores e novas forças políticas cujo marco de partida foi o
governo Reagan e sua retórica religiosa e bélica chegando ao auge com a eleição de George W. Bush em 2000.
17
idéias através da rede de Think Tanks e de revistas como Weekly Standard e a Commentary.
Demonstraremos os objetivos da organização neoconservadora e como eles agem no campo
das idéias e da política. Na terceira seção, analisaremos a influência política dos
neoconservadores tendo como balizas os governos de Ronald Reagan (1981 – 1989) e George
W. Bush (2000 - 2008) fazendo em seguida, na quarta seção, a análise do Governo George W.
Bush, de seu gabinete, de sua política externa e de seu legado, procurando mostrar a
influência dos neoconservadores no processo decisório deste governo. Na conclusão,
buscamos sintetizar nossas idéias sobre a ascensão e influência do pensamento
neoconservador na política externa de George W. Bush.
18
Capítulo I: A trajetória dos neoconservadores
1 - Os intelectuais de Nova Yorque.
“It was the betrayal of the liberalism (as they saw it) by the left that
them turned them into neocons”.
(WOOLDRIDGE, 2004).
A trajetória do pensamento neoconservador começa nos anos de 1930 com a chegada
dos refugiados europeus, principalmente alemães, a Nova Yorque entre 1933 e 19395. Boa
parte desses refugiados, entre eles muitos intelectuais, foram financiado pela Fundação
Rockfeller, tanto no processo de migração como no remanejamento para Universidades
estadunidenses. Uma vez estabelecidos estes intelectuais buscaram, em parte, assimilar a
cultura americana criando uma intelectualidade americana com formação nas ciências sociais
européia, principalmente alemã e inglesa (KROHN 1993). Uma outra parcela ainda acreditava
voltar para a Europa após o nazismo. A maioria dos intelectuais estava inserida no universo
do socialismo europeu, porém alguns eram conservadores ] como por exemplo Leo Strauss ]
que também receberam apoio para se estabilizar nos EUA. Mesmo sendo da mesma geração,
o “grupo de Nova Yorque”, conhecido como o embrião do neoconservadorismo, formado por
intelectuais europeus assimilados principalmente no universo das ciências sociais das
Universidades de Nova Yorque, e Leo Strauss, hoje considerado a raiz intelectual e filosófica
dos neoconservadores, tiveram trajetórias distintas.
A partir da fundação da New School for Social Research (NSSR), em Nova Yorque, é
possível perceber a presença da tradição alemã nas ciências sociais. Esta escola, teve em seu
corpo docente tanto liberais como intelectuais radicais, dentre os quais podemos destacar:
Franz Boas6, Harold Laski7 e John Dewey. Foi também nos anos de 1930 que os primeiros
5 Documentos oficiais mostram dados de um universo de 12 mil intelectuais exilados. (KROHN, 1993).
6 Antropólogo, etnólogo referência da antropologia dos EUA, nasceu na Alemanha, de família judaica, trabalhou
nas universidades americanas. Viveu de 1858 a 1942.
7 Cientista político inglês, economista e teórico. Laski também lecionou em Universidades britânicas, se
destacando na London School of Ecomics Na Inglaterra teve importante papel no partido Trabalhista e na
militância socialista britânica. Viveu entre 1893 e 1950.
19
teóricos das relações internacionais se estabeleceram nos EUA, destacando-se entre eles Erich
Hula8, John Herz9 e Morgenthau10.
Em 1945, nascia a revista Commentary e em 1965, a The Public Interest. A primeira
ligava-se a Norman Podhoretz e a segunda, a Irving Kristol. Dessas duas revistas
fundamentalmente nasceu o pensamento neoconservador. Mas que definição podemos ter do
termo neoconservador ?
Os primeiros a usarem o termo “neoconservador” foram pessoas do partido Democrata
referindo-se a ex-colegas que migraram para o partido Republicano, no final da década de
1960. O termo nasce, assim, de forma pejorativa. A alcunha foi, todavia, rapidamente
ressignificada e absorvida, ganhando projeção com a definição de Irving Kristol, para o qual
os neoconservadores eram os liberais que foram assaltados pela realidade (KRISTOL, 1995).
Mais do que dar fama aos neoconservadores, Kristol mostrou que a definição do pensamento
neoconservador não se faz no âmbito doméstico dos EUA, mas na política externa. Não se
trata de buscar novos adeptos, antes, de superar o pensamento conservador marcado, na
política externa, pelo realismo e pela promoção de valores americanos, reinterpretando o
internacionalismo de Woodrow Wilson e produzindo uma postura internacional capaz de
fundir o poder americano com os princípios americanos.
A supremacia militar americana, algo inédito no mundo, criou, no plano doméstico,
uma nova identidade nacional, caracterizada por um destino messiânico, mediante o poder de
transformação e de pacificação das forças estadunidenses. Nesse sentido, o pensamento
neoconservador define-se como o detentor da solução para os problemas da política externa
dos EUA. Nos termos de Max Boot (BOOT, 2002), neoconservador colunista da Weekly
Standard11, a razão de ser dos neoconservadores é a política externa. O pensamento
neoconservador inova, ao, na política externa, transferir o foco da diplomacia para a
segurança12.
Irving Kristol, muitas vezes refletiu sobre a definição de neoconservador. Em sua obra
Neoconservatism: The Autobiography of an Idea (1995), parte da compreensão de que o
neoconservadorismo não é um movimento, mas uma persuasão, ou seja, uma questão de
8 Intelectual de origem judaica (austríaca), destacou-se na área de Relações Internacionais. Viveu entre 1900-
1984, lecionou nos EUA, fugindo do nazismo. Na NSSR lecionou disciplinas de Relações Internacionais
trabalhando posteriormente em outras universidades como Cornell e John Hopkins.
9 Viveu entre 1908 e 2006, Herz dedicou sua vida intelectual ao estudo das relações internacionais e do Direito.
10 Teórico das Relações Internacionais (1904 – 1980). Cf. Política entre as Nações. Ed. UNB, 1988.
11 Importante revista dos círculos neoconservadores, criada por William Kristol em 1995.
12 Em 2005, os EUA gastaram 35 bilhões de dólares com sua diplomacia, enquanto que para a defesa, foram
destinados mais de 500 bilhões de dólares. O que nos indica o poder de persuasão desta linha de pensamento.
20
idéias. Os neoconservadores defenderiam um Estado mais forte, porém com menos impostos;
e não seriam nostálgicos como os tradicionais conservadores. Quanto à política externa,
podemos destacar quatro pontos centrais. O primeiro consiste no patriotismo, entendido como
algo natural, saudável e peculiar aos EUA e a sua história como nação de imigrantes. O
segundo consiste na oposição a um governo mundial que produziria a tirania generalizada.
Carl Schmidt (apud KRISTOL, 1995) aponta o terceiro fator ao definir o ato de governar
como o de “distinguir amigos de inimigos”. Kristol exemplifica isso lembrando a Guerra Fria
e a necessidade de se opor em todos os sentidos ao modo de vida soviético. Por fim, o quarto
ponto seria a revalorização do interesse nacional. Este mesmo autor argumenta que, pelas
dimensões tanto econômicas e territorial quanto culturais dos EUA, a política externa deste
país deve estar atenta aos seus interesses ideológicos, o que, por exemplo, poderia explicar a
entrada dos EUA na Segunda Guerra bem como, sua atual posição em relação à defesa de
Israel.
Contudo, não há concordância sequer sobre a própria existência dos neoconservadores.
Em outro momento de sua reflexão, o próprio Kristol, em meados de 2000, questionou a
existência de tal pensamento como vigente. Seu argumento era que os neoconservadores
teriam sido assimilados pelo movimento conservador – cada vez mais estabelecido na
sociedade americana. Para o conservador e ex-Republicano Pat Buchanan13, não existiriam
neoconservadores, mas sim sionistas defensores de um Império Americano. Michael Lind,
que se declara um ex-neoconservador, não acredita em uma política externa neoconservadora;
para ele, os neoconservadores seriam apenas políticos profissionais que, pela ignorância e
inércia do presidente George W. Bush, conseguiram obter vantagens.
Já o geógrafo marxista David Harvey (2004), segue na mesma linha de relativizar a
força de uma persuasão neoconservadora, mostrando que capitalistas como Rupert Murdoch,
dono de 175 jornais ao redor do mundo, e George Soros, famoso investidor do mercado
financeiro, teriam muito mais peso na política externa dos EUA do que os neoconservadores.
Todavia, a despeito destas diferentes compreensões, podemos entender que uma
corrente de pensamento se destacou e se encere na política dos EUA. O que está em jogo no
nosso entendimento, é a intensidade dessa influência. Entendemos que refletir os
13 Pat Buchanan quando no partido Republicano trabalhou escrevendo discursos para Nixon e Reagan, nos anos
1990, defendendo o isolacionismo e as liberdades individuais foi pré-candidato a presidência pelo partido
Republicano em 1992 e 1996, ano que teve certo êxito polarizando com o então candidato George H. W. Bush e
ganhando algumas primárias importantes. Em 2000, polarizando com os neoconservadores tentou, sem obter
êxito, derrotar os Republicanos candidatando-se pelo Partido Independente de Ross Perot.
21
acontecimentos de 11/09/01, bem como a Guerra do Iraque14 pode nos trazer elementos para
compreendermos a existência deste grupo e suas ações.
2 - Leo Strauss e os círculos neoconservadores.
[Strauss] conheceu muitos homens interessantes e passou grande parte
de seu tempo conversando com estudantes, mas o cerne de seu ser era o
estudo solitário, contínuo e meticuloso das questões por ele
consideradas mais importantes. Suas conversas eram resultado de suas
atividades, sempre em movimento. A paixão pelo trabalho era
interminável, austera, mas plena de alegria; ele dizia não se sentir vivo
se não estivesse sempre pensando, e só mesmo coisas muitos graves
poderiam fazê-lo parar de refletir. Embora fosse bastante educado e
generoso com seu tempo, sempre dava a impressão de que tinha coisas
mais importantes a fazer. (BLOON, 1990, p. 260).
A população dos EUA cresceu entre 1970 e 1990 a índices próximos aos registrados
no começo do século XX.15 Nessas décadas, houve também grande efervescência cultural e
política, marcada, em parte, pela chegada ao poder, de John F. Kennedy, marco de uma
nascente geração de idealistas; pela bomba de Hiroshima; pela contracultura dos beats; bem
como pela cultura hippies (consolidada em 1967). Nesse contexto de liberdade, o LSD esteve
presente, influenciando não só os hippies como também o serviço de inteligência dos EUA16,
além de cientistas e artistas populares como Eric Clapton e Paul MacCartney. Já nas décadas
de 1960 e 1970, a sociedade estadunidense presenciou profundas transformações como o
declínio da prática de rezar nas escolas americanas e a inédita proteção constitucional a
prática do aborto e da pornografia. Mudanças estas que fomentaram reações críticas,
principalmente entre religiosos e conservadores da época. Estes grupos tentaram barrar tais
processos buscando alterar o perfil da Suprema Corte, responsável por parte destas
transformações e que é suscetível a pressões políticas.17
Em 1963, após o assassinato de Kennedy, em Dallas, organizações como a Students
for a Democratic Society e os Panteras Negras cresciam e levavam suas idéias para as ruas,
14 Cf. seções 5 e 6 do capítulo III.
15 Cf. < http://www.census.gov/Press-Release/www/2002/dp_comptables.html>. Acesso em: 10 de fev. 2008.
16 A CIA (Central Intelligent Agency) levou a sério o estudo do LSD como instrumento de interrogatório e de
guerra. (GOFFMAN; JOY, 2007).
17 Os juízes da Suprema Corte são soberanos, cabendo a eles interpretar a Constituição. Todavia , vale destacar,
que o presidente pode indicar ao Congresso nomes para compor a Suprema Corte, quando um juiz morre ou se
afasta. O poder de indicação do presidente que confere o poder de alterar o perfil e o equilíbrio ideológico
existente nesta casa.
22
para as prisões e para os Campi. Nestes, principalmente em Harvard, Chicago e no City
College, uma jovem geração de intelectuais debatia a contracultura do seu tempo e os
principais acontecimentos e desdobramentos das mudanças que acorriam na URSS e na
Europa. Stalin e Trotsky eram símbolos que dividiam estes estudantes em prós ou contras
respectivamente, e também eram os principais motivadores dos "embates intelectuais", que
marcaram a formação de intelectuais como Seymour Martin Lipset18, Daniel Bell19, Nathan
Glazer20 e Irving Kristol21, principais nomes da primeira geração de neoconservadores.
Os anos de 1960, politicamente, ganharam dois caminhos, sendo um deles o da
formação da Nova Esquerda, que chamava a atenção para as conseqüências maléficas do
"sucesso americano" e que, partindo da reflexão de intelectuais como C. Wrigh Mills, tentava
dialogar com a esquerda dos anos 30 e 40, fortemente influenciada pelas idéias socialistas. As
idéias da Nova Esquerda (inserida na contra-cultura, preocupada com as injustiças sociais e
crítica da guerra) eram expressas na revista New Yorque Review of Books. Seus militantes
escutavam Bob Dylan e tinham esperança de influenciar o Partido Democrata. Em síntese, era
uma geração que ansiava por mudanças na sociedade e tinha a seu favor, um contexto onde a
liberdade era desejada. Dentre outros nomes da Nova Esquerda, destacamos os de Abbie
Hoffman22, Jerry Rubin23 e Sidney Blumenthal24, nomes que ao mesmo tempo influenciaram
e foram influenciados pela contra-cultura.
Por outro lado, haviam aqueles que, marcados pela desilusão com o socialismo
europeu, com o liberalismo e com a contracultura, caminhavam em outra direção e se
organizavam em revistas como a Commentary (1945) e a The Public Interest (1965). Homens
como os de Irving Kristol, Nathan Glazer e Norman Podhoretz não acreditavam que uma
revolução social ou política superaria as desigualdades econômicas, como pensavam seus
colegas da Nova Esquerda.
18 Falecido em 2006, pesquisador sênior do Hoover Insitute (Cf. Capítulo II). Lipset foi um importante sociólogo
do século XX nos EUA. Lecionando em várias Universidades americanas e no exterior. Seus textos dialogavam
com autores da política, principalmente Aristóteles e Tocqueville.
19 Sociólogo, professor emérito de Harvard. Seus trabalhos ficaram marcados pela reflexão sobre a sociedade
pós-industrial em seus aspectos políticos, culturais e ideológicos. Uma de suas obras mais debatidas é O Fim da
Ideologia, escrito em 1960.
20 Sociólogo, professor da Universidade de Harvard, articulista freqüente das revistas Commentary, The Public
Interest (foi co-editor) e New Republic. Como intelectual dedicou-se a estudar e a fazer a crítica das políticas de
bem-estar social, principalmente da Great Society. Cf. The Limits of Social Policy (1989).
21 Considerado o teórico “pai” do neoconservadorismo.
22 Falecido em 1989, Hoffman escreveu sobre a contra-cultura, retratando a descoberta das drogas, o movimento
Hippie e as transgressões desta época.
23 Falecido em 1994, militante ativo nos anos de 1960, organizou grupos como “Chicago 7” , fundou o Partido
da Juventude e escreveu sobre as possibilidades de uma revolução nos EUA. Cf. Do it! Scenarios of the
Revolution (1970).
24 Sociólogo, foi assessor de Bill Clinton e escreveu um livro sobre os anos deste governo. Como articulista,
escreveu para o NYT, Washington Post e The Guardian.
23
Podemos entender que nascente neoconservadorismo buscava diferenciar-se do
conservadorismo firmado pela cruzada de William Buckley25 contra o coletivismo e o
secularismo que marcaram a fundação, em 1955, da revista National Review, por sua vez,
marco do pensamento conservador americano.
Os intelectuais tradicionais do pensamento conservador dos anos de 1950, como
Frank Meyer26, Leo Brent Bozell Jr.27 e o próprio William Buckley, não ofereciam à jovem
geração de intelectuais, uma saída para suas inquietações. É neste contexto que surgem nomes
como Milton Friedman28, Leo Strauss29, Saul Bellow30 e Leonel Trilling31 trazendo elementos
para se pensar o passado, o liberalismo, o conservadorismo, a identidade judaica e,
conseqüentemente, a estadunidense. Leonel Trilling teve um papel central na formação de
Norman Podhoretz, sendo o responsável pelo contato deste com Elliot Cohen, o primeiro
editor da revista Commentary. Trilling também se destacou como crítico do liberalismo, trilha
seguida por Allan Bloom. Nesta revista, Cohen propunha reunir intelectuais judeus com o
desafio de pensar a cultura americana. Com o mesmo propósito colaboraram: Saul Bellow,
Irving Kristol, Nathan Glazer, entre outros.
Por outra via, mas ainda pensando o liberalismo, o autor de The Road to Serfdom
(1944), Friedrich von Hayek, municiou a crítica ao liberalismo galvanizada por Milton
Friedman. Este, em Chicago, nos anos de 1970, não só apontou para as falhas do pensamento
progressista, como criou o centro intelectual da economia de livre mercado. Destacando o
mau funcionamento dos programas do governo, Friedman, admirador de Roosevelt, apontava
críticas que foram fundamentais tanto ao posicionamento de Irving Kristol e de outros jovens
intelectuais de Nova Yorque, quanto ao Estado de Bem-Estar Social. Friedman também
conseguiu trazer pragmatismo ao pensamento conservador americano, o que foi um marco
25 Sobre o tema ver: Buckley: The Right Word (1998), escrito por Samuel S. Vaughan e William F. Buckley Jr.
26 Falecido em 1972, de perfil libertário, fundou a revista National Review, a mais importante no espectro
conservador americano no século XX.
27 Falecido em 1997, articulista da National Review, na política foi um dos principais defensores e apoiadores do
Senador Joseph McCarthy e de sua cruzada contra o comunismo nos EUA. Também trabalhou para o senador
Barry Goldwater. Nos anos de 1960, fundou uma revista Católica na Espanha, chamada Triumph.
28 Economista, falecido em 2006, ganhador do prêmio Nobel de economia, pesquisador do Hoover Institution,
considerado um dos economistas mais influentes do século XX. Friedman foi uma das referências centrais
durante o governo de Ronald Reagan.
29 Conferir seção 2 deste capítulo.
30 Falecido em 2005, próximo ao círculo neoconservador, principalmente a Allan Bloom em Chicago, ganhador
do Nobel de literatura (1976). Em um de seus últimos romances, Ravelstein (2000), escreveu sobre um professor
que lembra Bloom.
31 Falecido em 1976, dentro do Grupo de NY escrevia para a Partisan Review fazendo crítica literária. Foi uma
referência importante na formação dos neoconservadores.
24
para a transformação da Direita nos EUA, que começava a mudar no jogo político quando
Barry Goldwater, então senador pelo Estado do Arizona, lançou-se à Casa Branca, em 1964.32
A candidatura Goldwater criou uma nova base para o Partido Republicano e mostrou a
possibilidade de consolidar um novo conservadorismo político nos EUA. Goldwater ajudou
também a divulgar uma visão que não era do establishment, semente da Nova Direita,
criticando projetos de bem-estar social como o New Deal e o Fair Deal33.
Segundo Diamond (1995), o eco gerado pela candidatura Goldwater foi um grande
incentivo para Irving Kristol fundar a revista The Public Interest em 1965 e para Think Tanks,
não liberais como o Heritage Foudation e o American Enterprise Institute34 semearem suas
doutrinas de conservadorismo moderno revigorando e lapidando suas idéias, escrevendo,
debatendo e organizando seminários. Nestes Think Tanks, nomes como os de Milton
Friedman, Irving Kristol, Jeane Kirkpatrick35, Michael Novak36, Robert Bork e Laurence
Silberman37, desencantados com o Partido Republico pós-Goldwater, encontraram um
importante e decisivo espaço para reflexão. Financiados por famílias milionárias como os
32 Nos anos de l960, a Velha Direita também teve uma sobrevida, marcada na eleição de 1968, pelas
representativas candidaturas de George Wallace e do General Curtis LeMay, com apoio da John Birch Society
(grupo ainda ativo que acreditava que os comunistas da URSS estavam infiltrados no governo dos EUA, fundado
em 1958) e do KKK (grupo de cunho racista e extremista que chegou a 4 milhões de associados em l958).
Wallace, como um líder popular, principalmente no final dos anos de 1950 e começo dos anos 1960, foi
governador pelo Partido Democrata do Estado do Alabama em 1962, 1970, 1974 e 1982 e candidato à
presidência em 1964, 1968, 1972 e 1976, era racista e anti-semita, mas bom comunicador; manteve-se como uma
referência para a Velha Direita e influenciou nomes como David Duke e Pat Buchanan. O primeiro chegou a
obter 39% de votos (55% entre os homens) na eleição para o governo da Louisiana; o segundo foi um
republicano tradicional, escrevia discursos para Nixon e Reagan, concorrente surpresa dentre os Republicanos
(ao estilo Robertson em 1988) nas primárias republicanas de 1992 quando foi decisivo para a aceitação da
Direita Cristã no Partido Republicano e em 1998, quando buscando os votos dos descontentes, frisou um
discurso nacionalista, isolacionista,e anti-Israel e (anti- neoconservadores) afirmando-se como o candidato mais
conservador e mais preocupado com os temas e questões morais. Em 2000, saiu do Partido Republicano e perdeu
força política.
33 Goldwater, principal incentivo para Ronald Reagan (motivado por Goldwater, Reagan buscou a Casa Branca
20 anos depois), perdeu para Lyndon Johnson (democrata do Texas que obteve 61% dos votos).
34 Durante esta experiência no AEI, alguns livros importantes para a época foram escritos, tais como: The Spirit
of Democratic Capitalism, de Michael Novak; Capitalismo e Liberdade, de Milton Friedman e The way the
world works, de Midge Decter.
35 Falecida em 2006, foi professora de Ciência Política em várias Universidades, destacando-se em Georgetown.
Foi embaixadora dos EUA na ONU durante a primeira gestão de Ronald Reagan, seguindo por vários cargos na
Casa Branca na área de Defesa e Política Externa. Pesquisadora influente, transita entre os seguintes Think
Tanks : AEI, JINSA, PNAC, CFR, Center for Security Policy, Committee for the Liberation of Iraq, Ethics and
Public Policy Center, Foundation for the Defense of Democracies, Freedom House e International Republican
Institute.
36 Novak, teólogo, intelectual e professor com passagem por várias Universidades. Foi um importante debatedor
das idéias de Leo Strauss numa perspectiva católica, discutindo também em seus textos a relação entre
capitalismo e democracia e entre cultura e religião. Pesquisador do AEI. Cf. http://www.michaelnovak.net.
Acessado em 03/03/08.
37 Juiz, foi próximo ao governo Reagan, trabalhou na pesquisa independente sobre a situação do Iraque em 2003
e via Clarence Thomas (juiz da Suprema Corte) aproximou-se de George W. Bush. Membro da Sociedade
Federalista.
25
Richardson, Coors, Schaife e Rockefeller38 estes jovens intelectuais tiveram a tranqüilidade
necessária para desenvolver suas idéias e projetos. Irving Kristol escolheu o Estado de Bem-
Estar Social e o liberalismo39, como alvo de suas críticas; Norman Podhoretz escolheu a Nova
Esquerda como alvo, e outros como Leo Strauss, James Q. Wilson (advogando pela
regeneração moral da sociedade) e Gertrude Himmelfarb40, centravam-se na crítica à Nova
Era, enquanto Alan Bloom fazia a crítica à Universidade, num contexto marcado pela onda
Black Power e pela discussão do multiculturalismo.
Um dos grandes nomes desta geração que formou a primeira geração dos
neoconservadores foi Leo Strauss. Sua trajetória começou na New School for Social Research
(NSSR), onde lecionou entre 1938 e 1943. Posteriormente muda-se para Chicago e trabalha
na Universidade de mesmo nome, entre 1949 e 1967. Este período pode ser considerado o
mais fértil de seus trabalhos. Strauss ainda passou pela escola Claremont Men´s College
(1968-1969) e pela Saint John´s College (1970). Se por um lado, o “Grupo de Nova Yorque”
caminhava para o jornalismo político sem perder o gosto literário e filosófico, por outro, Leo
Strauss buscava um diagnóstico para a crise do Ocidente e da modernidade41. Para ele, a crise
do Ocidente era também a crise da filosofia política. Entendia que era necessário desprender-
se das certezas e para explorar as dificuldades teóricas. Acreditava ser preciso elaborar uma
história da filosofia política.42
Como podemos perceber, a raiz acadêmica dos neoconservadores esteve em Nova
Yorque, germinada na fundação da University in Exile, em 1933, que depois mudou seu nome
para New School for Social Research. Nela estiveram intelectuais exilados principalmente da
Alemanha nazista. O movimento neoconservador, em sua origem, seguiu as trilhas de Strauss,
por isso, encontrou na Universidade de Chicago um abrigo.43 Foi nesta universidade, que este
38 Ver tabelas 1, 2 e 3, capítulo II.
39 A crítica ao liberalismo é feita dentro da tradição straussiana, cuja teoria política liberal, por focar no
indivíduo e em sua liberdade, subestima a moral e rejeita as “leis naturais” (entendidas por Strauss como aquelas
que o homem semeia, mas cujo poder (das leis naturais) encontra-se exterior a ele), levando, inevitavelmente, ao
niilismo. Em outras palavras, a sociedade liberal se desenvolve necessariamente num vácuo moral. Não por
menos, a crítica ao liberalismo foi lapidada quando, nos anos de 1960, ao lado de nomes como Milton
Himmelfarb, Daniel Bell e Nathan Glazer, os neoconservadores foram estudar a filosofia de Maimônides, um
dos principais teóricos para Leo Strauss.
40 Historiadora, PhD pela Universidade de Chicago, pesquisadora do AEI, casada com Irving Kristol, destacou-
se estudando a moralidade na Sociedade Vitoriana bem como, por seus ensaios sobre a cultura e os valores
modernos.
41 É importante frisarmos que há grande diferenças entre os chamados “Straussianos” e os neoconservadores;
uma delas é apontada, por exemplo, por Daniel W. Drezner: “Os neoconservadores são fundamentalmente
otimistas sobre o futuro, os Straussianos não.” (DREZNER, 2003)
42 No esforço para sistematizar a filosofia política, Strauss teve como principais parceiros: Joseph Cropsey e
Harry V. Jaffa.
43 Em 1944, Strauss consegue a cidadania estadunidense, e entre 1949 e 1969, leciona filosofia política nessa
Universidade.
26
intelectual formou seus famosos círculos de estudantes, de onde sairiam os principais
neoconservadores. Dentre os neoconservadores mais acadêmicos que tiveram contato direto
com Leo Strauss e depois continuaram a estudar seus temas ou seu próprio pensamento,
destacamos: Walter Berns44, Allan Bloom45, Joseph Cropsey46, Martin Diamond, Paul
Eidelberg, Harry Jaffa47, Ralph Lerner48, Harvey Mansfield49, Roger Masters50 e Herbert
Storing51.
Conceituar os neoconservadores, como vimos, não é uma tarefa fácil já que não
estamos lidando com um grupo homogêneo ou partidário. Algumas vezes, nomes que são
colocados dentro do quadro de neoconservadores não se reconhecem como tais. Para alguns
autores (MEIER, 2006 e DRURY, 2006), seriam neoconservadores aqueles que se guiam
pelas idéias de Leo Strauss. O que lhes confeririam uma imagem de elitistas que, quando no
poder, mostrar-se-iam hostis à democracia. No pensamento straussiano a elite, quando bem
preparada seria capacitada para reconhecer o melhor caminho e, por isso, deveria guiar a
sociedade.
Leo Strauss, foi a principal referência para Allan Bloom, que por sua vez, é uma figura
importante na continuidade dos estudos de Strauss e pivô do círculo dos neoconservadores da
Universidade de Chicago. Bloom (1987), estudando a cultura e a história dos Estados Unidos,
entende que a liberdade advinda da democracia liberal abria caminho para o que entendia ser
os problemas centrais da sociedade moderna: a crise do liberalismo e seus riscos de niilismo e
de totalitarismo. Dentre os primeiros discípulos do círculo formado em torno de Leo Strauss
que saíram da academia e foram para a política e, posteriormente, ajudaram a formar o
movimento neoconservador, quem se destaca é Harry Jaffe, que trabalhou na campanha de
Barry Goldwater em 1964. 52
44 Autor de livros sobre a Constituição Americana e sobre o patriotismo e perspectiva filosófica, Berns é
pesquisador do Think Tank American Enterprise Institute.
45 Tornou-se professor em Chicago formando outros intelectuais neoconservadores.
46 Importante parceiro intelectual de Leo Strauss, organizou com ele o Dicionário de Filosofia Política em
meados dos anos de 1960.
47 Neoconservador com trânsito nos principais Think Tanks de sustentação de George W. Bush. Cf. capítulo II
desta dissertação.
48 Professor da Universidade de Chicago, Lerner teve contato com Strauss na pós-graduação quando estudou os
hebreus na Idade Média.
49 Professor de Harvard. Teve papel importante na formação da segunda geração de neoconservadores.
50 Formado em Harvard, estudou Rousseau no doutorado, em Chicago onde teve contato com Strauss e com
Cropsey. Atualmente é professor em Dartmouth College onde dedica-se ao estudo do comportamento humano.
Oferece disciplinas centradas em Rousseau e Maquiavel.
51 Falecido em 1997, dedicou-se ao estudo dos Federalistas destancando-se ao trabalhar com os anti-federalistas
(publicou 7 volumes reunindo e analisando este movimento), estudou em Chicago e depois lecionou na
Universidade de Virginia.
52 Goldwater, nesta eleição, perdeu para Lyndon Johnson.
27
O olhar de Leo Strauss sobre os EUA era imbuído por sua experiência pessoal com o
nazismo. Por entender que a democracia, em nome da massa, foi o sustentáculo de um regime
avassalador como o nazismo, ele não encarava a ideologia democrática liberal dos EUA como
o caminho mais certo para a política. Compartilhando dessa visão negativa, mas buscando a
transformação, a primeira geração do círculo de estudiosos formada por Strauss, composta por
Irving Kristol, Daniel Bell, Seymour Martin Lipset e Nathan Glazer, caminhou para a política
formando, a exemplo de seu mestre, outros círculos de reflexão sobre os caminhos para a
sociedade estadunidense. Revistas como a Commetary, The Public Interest e da Time, onde
Daniel Bell foi editor foram os resultados destas reflexões.
De uma maneira até contraditória, o intelectual e reconhecido professor Leo Strauss,
ao mesmo tempo em que partia da racionalidade dentro da discussão sobre a filosofia e o
papel da sociedade, em seus círculos de reflexão, trabalhava a valorização da fé e dos dogmas,
no limite, apresentava uma discussão entre o caráter e a virtude. O cerne das preocupações de
Leo Strauss está na problemática teológico-política da filosofia, que na modernidade seria
agravada pelos riscos do niilismo e do hedonismo (MEIER, 2006; DRURY, 2006). Pelos
círculos de Strauss passaram nomes como Harvey Mansfield (posteriormente professor em
Harvard) e Allan Bloom (posteriormente professor em Chicago). Já na chamada segunda
geração, ou seja, aquela cujos professores foram alunos de Strauss, Mansfield foi professor de
William Kristol, Francis Fukuyama, Jeremy Rabkin, Arthur M. Melzer, Alan Keyer e Robert
P. Kraynak. Já com Bloom, em Chicago, estiveram Saul Bellow e Francis Fukuyama.
É possível dizer que os straussianos acreditam no poder das idéias, na capacidade de
persuasão de seus argumentos e de seu raciocínio. Olham para o capitalismo dentro do
problema da modernidade53 e discutem, entre outros temas, a relação entre a razão e a
revelação (da moral religiosa) e entre a sociedade e a justiça. São questões filosóficas,
acadêmicas que motivaram estes intelectuais, que, conseqüentemente, nutriram um grupo (os
neoconservadores) com arcabouço teórico decisivo para pensar o poder e a sociedade, mas
fundamentalmente, os inspiraram a transformar o status quo dos EUA, entendido como
predominantemente liberal, estadista e influenciado pela contra-cultura.
Straussianos, neoconservadores, novos Republicanos, Republicanos tradicionais
(como o próprio clã Bush) e a última peça da Nova Direita, a Direita Cristã, podem ser
pensados por esta perspectiva anti-estabishment, anti-status quo, mesmo que, as vezes, ainda
se mostrem elitistas e conservadores.
53 Problemas que vão da democracia ao niilismo.
28
Para melhor visualização da expansão e organização dos círculos neoconservadores,
vejamos o organograma abaixo.
Organograma 1: Os círculos neoconservadores.
Albert
Wohlstetter
Richard
Perle
Allan Bloom
Douglas
Feith
Norman
Podhoretz
Leo
Strauss
Paul
Wolfowitz
Harry Jaffa
A. Sullivan
W. Kristol
I. Kristol
Abram
Shulsky
Saul
Bellow
H. Mansfield
F. Fukuyama William
Bennett
Daniel Bell
29
3 - Neoconservadores e o Ethos de Esquerda54
Um dos pontos mais alaridos quando discutimos o pensamento neoconservador e sua
trajetória, é a polêmica sobre sua origem no campo da esquerda. Neoconservadores, como
Irving Kristol, reconhecem esta origem, mas isto ainda não é um ponto de consenso. Contudo,
como tentaremos mostrar nesta seção, está é uma discussão importante para um grupo que
está no centro das discussões, mais que isto, na própria edificação da Nova Direita americana.
Entender este processo significa perceber a origem das idéias que norteiam as ações dos
neoconservadores.
Desde os tempos da City College em Nova Yorque, nos anos de 1940, alguns nomes
importantes do neoconservadorismo e do chamado Grupo de Nova Yorque travavam estreito
contato e debate com os socialistas, principalmente trotskistas europeus ou imigrantes recém-
chegados aos EUA. Irving Kristol, Daniel Bell e Nathan Glazer, que nesta época tinham sua
imagem construída como “radicais”, foram os que mais se destacaram nesse sentido.
Em 1950, acontece o Congress for Cultural Freedom cuja principal bandeira era
combater o totalitarismo tanto de esquerda quando de direita. Este Congresso contava com a
participação de Raymond Aron55, John Dewey56 e Karl Jaspers57, intelectuais de vários países,
além de Daniel Bell, Sidney Hook58 e outros nomes do Grupo de NY. Uma das principais
publicações deste Congresso: a revista Encounter ficou a cargo de Irving Kristol. O evento
chamou atenção da Central Intelligent Agency (CIA) que entendia que ali pudesse haver
apoiadores do regime soviético. A CIA investigou a Encounter e a Quadrant, outra revista
ligada ao grupo e publicada na Austrália. Não apresentou maiores conclusões sobre a
veracidade desta hipótese.
Se considerarmos o momento político dos anos de 1970, a aproximação do Grupo de
NY com o partido Democrata já era grande. Esse partido estava à esquerda do espectro
político tradicional americano. Em 1972, muitos dos que depois seriam chamados de
54 O que entendemos por Ethos diz respeito a um modo de ser, um “espírito”, uma disposição interior de cunho
moral e emocional que caracteriza sentimentos e atitudes.
55 Sociólogo, cientista político, intelectual com importantes contribuições para a Teoria de Relações
Internacionais, para a Ciência Política e para a Sociologia.
56 Importante filósofo (1859 – 1952), uma das referências do pragmatismo americano.
57 Filósofo alemão (1883 – 1969), teve importante papel na Alemanha escrevendo sobre as condições de governo
num contexto de nação dividida.
58 Filósofo, falecido em 1989, um dos intelectuais de NY, dedicou-se ao estudo de Marx, e a militância
socialista. Visitou a URSS e fez contato com Trotsky. Nos anos de 1930, rompeu com a militância socialista e
engajou-se no Committee for Cultural Freedom, passando a ter uma postura crítica em relação a nascente Nova
Esquerda americana.
30
neoconservadores estavam engajados na campanha Democrata de George McGovern,
juntamente com outros nomes ligados à esquerda, como por exemplo, Gloria Steinem59, Gore
Vidal60, Howard Zinn61 e Dick Gregory62. McGovern era um senador que trabalhava também
na ONU e mostrava-se contrário à guerra do Vietnã. Como estratégia de campanha formou-se
a Coalition for a Democratic Majority (CDM) que, de certa forma, acabou dividindo e
mudando os rumos do partido Democrata e dos neoconservadores. Um dos principais
articuladores políticos, o senador Henry “Scoop” Jackson (1912-1983) e seu assessor Ben
Wattenberg63, atraiu o Grupo de NY para uma postura mais crítica em relação à política
externa dos EUA, propunha uma política mais dura em relação à URSS. Dentre os principais
nomes da CDM destacamos Bayard Rustin (militante dos direitos humanos), Midge Decter
(co-editora da revista Commentary), Jeane Kirkpatrick, Richard Pipes, Seymour Lipset,
Samuel Huntington e Nathan Glazer.
A participação na Coalition for a Democratic Majority (CDM) e, principalmente o
contato com o senador Henry “Scoop” Jackson, incentivaram os neoconservadores a
trabalharem junto à opinião pública contra a estratégia da Detenté que, apoiada por Nixon,
mudava os rumos da Guerra Fria, ao defender a criação do estado de Israel. Assim, os
neoconservadores apoiaram a criação do Committee on the Present Danger (CPD)64, de cunho
bipartidário, militarista e anticomunista, que foi muito atuante durante o governo Jimmy
Carter e, posteriormente, serviu de base para a formação do gabinete de Ronald Reagan para a
área de segurança65. Em 1976, estavam à frente do CPD Eugene Rostow (1913-2002), um
Democrata, Paul Nitze (1907-1994) e Charles Tyroler II, este por sua vez, ligado a George H.
W. Bush e aos Republicanos. Autorizado por Ronald Reagan, George H. W. Bush, então na
CIA, montou o famoso “Team B”, para estudar a Guerra Fria e as estratégias de segurança
59 Ícone do movimento feminista americano. Fundadora da revista Ms. Militou contra a pornografia nos anos de
1970. Cf. http://www.swapcampaign.co.uk/. Acessado em 03/03/08.
60 Autor de muitas obras, Gore Vital mantém uma postura de crítica e de reflexão em relação a sociedade
americana e sua projeção de poder.
61 Historiador, militante dos direitos civis, seus textos discutem teorias de esquerda como o marxismo e o
anarquismo. Zinn foi uma referência importante para o movimento contra as guerras nos anos de 1960. Cf. A
People's History of the United States (2003).
62 Como ator negro, atuava como uma forma de militar pelos direitos civis. Gregory foi pioneiro como ator e
comediante negro, fazendo sucesso em nível nacional. Cf. http://www.dickgregory.com/. Acessado em 03/03/08.
63 Na política começou trabalhando com Lyndon Jonshon, depois se juntou ao senador Jackson. Foi um dos
fundadores da Coalition for a Democratic Majority, pesquisador da AEI, articulista de revistas e jornais.
64 Foi criado nos anos de 1950, e ainda existe, mas ao longo deste tempo alternou momentos mais ativos e
momentos reclusos. Os picos de atividade foram: a década de 1950, o final da década de 1970 (com Ronald
Reagan entre seus membros) e a partir de 2004.
65 Alguns casos: Kenneth L Adelman tornou-se o representante dos EUA na ONU; John F. Lehman, secretário
da Marinha; Michael Novak, comissão de direitos humanos da ONU, e Richard Perle, assistente na secretaria de
Defesa.
31
para os EUA. Richard Pipes e Paul Nitze lideraram o time de Bush que foi decisivo no
governo Reagan.
Nessa trajetória do Congress for Cultural Freedom aos cargos liderados pelo Team B
no governo Reagan, os neoconservadores mantiveram suas críticas em relação ao Estado de
Bem-Estar Social e às políticas afirmativas feitas principalmente nas revistas Commentary e
The Public Interest66. Perceberam, porém, que para derrotar o totalitarismo soviético, era
preciso também derrotar o liberalismo que, por sua vez, tornava-se cada vez mais sedutor para
os Democratas. A partir disso, entenderam que o caminho tinha que ser com os Republicanos
e a estratégia do governo não poderia ser passiva, deveria ser centrada em três pilares:
renovação e revalorização da força militar, conservadorismo social e cortes na economia.
Pilares esses identificados em Reagan e na Nova Direita nascente, organizada na órbita do
partido Republicano. Ao contrário do que previa Jeane Kirkpatrick quando liderou a CDM,
com o governo Reagan emergiu uma nova maioria republicana que, entre os
neoconservadores, representou novas e distintas formas de organização e de pensar o poder.
Uma dessas novas formas de organização foi liderada por Midge Decter no Committe for the
Free World, contando com nomes como Donald Rumsfeld, William Berrett, Jeane
Kirkpatrick, Irving Kristol, Seymour Martin Lipset e Richard Allen. A outra, na Hoover
Institution67, em 1981, contava com William Bennett, Sidney Hook, Michael Ledeen, Josua
Muravick e Norman Podhoretz.
A origem na esquerda, de alguns nomes tidos como neoconservadores não se separa de
um perfil não igualitário68, raiz da crítica do grupo ao Estado de Bem-Estar Social. Trata-se de
ser pró-direitos civis, mas contra políticas afirmativas; com este perfil e trajetória ou em
diálogo com a esquerda, destacamos Irving Kristol, James Q. Wilson69, Nathan Glazer, Daniel
Bell, Michael Novak e Sidney Hook.
66 Para os neoconservadores, o Estado deve ser forte, um Estado de Bem-Estar Social é forte, mas não no sentido
moral. Dar subsídio às pessoas, segundo entende os neoconservadores, justifica-se em momentos de crise, como
foi, por exemplo, na década de 1930, mas não deveria ser a política permanente do Estado.
67 Para Easton (2000), os oito anos que Kristol passou em Londres foram decisivos para sua guinada, estudando
principalmente intelectuais conservadores. Foi nesse período que Kristol amadureceu algumas de suas teses
sobre o poder e sobre o papel do intelectual na sociedade americana.
68 Podemos entender o termo igualitarismo como “uma doutrina, atitude daqueles que visam estabelecer a
igualdade absoluta em matéria política, social, cívica; teoria que sustenta a igualdade absoluta dos homens.”
(HOUAISS, 2006).
69 Intelectual importante do espectro conservador americano, professor emérito da UCLA, desde dos anos de
1970. Transitou entre vários postos da Casa Branca sendo condecorado por George W. Bush com o Medal of
Freedom (principal condecoração dada a civis , criada em 1945 pelo governo Truman), pesquisador da RAND,
AEI e CFR.
32
No quadro abaixo temos a sistematização dos neoconservadores e democratas que
formaram a Colition for a Democratic Majority, momento central na trajetória dos
neoconservadores que, em seguida, caminhariam para o Partido Republicano.
Quadro 1: Os Neoconservadores na Coalition for a Democratic Majority (1972)
No próximo quadro, temos os neoconservadores e os políticos que participaram ou que
ainda participam do Committee on the Present Danger, organização que foi importante na
trajetória dos neoconservadores na área de Segurança e Defesa. Este Comitê teve destaque no
governo Reagan, nos desdobramentos da Guerra Fria e voltou a ganhar importância após os
atentados de 11/09/01.
Coalition for a Democratic Majority
Midge Decter
Henry “ Scoop” Jackson
Jeane Kirkpatrick
Irving Kristol
Daniel Patrick Moynihan
Ben J Wattenberg
James Woolsey
33
Quadro 2 – Os neoconservadores no Committee on the Present Danger (1950 - )
4 - Uma Geração com novas idéias.
“A nação indispensável tem a missão de tornar o mundo semelhante à
América para a segurança da América” (LEO, 2006, p.43).
Os neoconservadores são um dos pilares tanto do que denominamos como Nova
Direita, quanto da ascensão de George W. Bush. Independentemente do partido político que
está no poder, esse grupo formula sua visão de mundo70, sem necessariamente, buscar
popularidade ou seguidores para suas idéias.
A trajetória dos neoconservadores divide-se em dois momentos. O primeiro é marcado
principalmente pelos nomes de Irving Kristol, Allan Bloom, Albert Wohlstetter, Norman
Podhoretz que, como imigrantes, ou filhos destes, pensaram os contextos que levaram a
ascensão do nazi-fascismo e à Segunda Guerra Mundial, vivenciaram o New Deal, fundaram
seus espaços de debate e discussão – como, por exemplo, a revista The Public Interest em
1965 – e caminharam para a Universidade, como foi o caso de Bloom (Universidade de
Chicago); para a área de segurança, como Wohlstetter, de influência decisiva no projeto
70 Cf. Seção 7 capítulo III.
Committee on the Present Danger
Kenneth L. Adelman
Richard Vincent Allen
William Joseph Casey
Midge Decter
Frank J. Gaffney, Jr.
Victor Davis Hanson
Jeane Kirkpatrick
John F. Lehman, Jr.
Paul Henry Nitze
Richard Norman Perle
Norman Podhoretz
Eugene Victor Debs Rostow
Richard Mellon Scaife
Donald Henry Rumsfeld
Robert James Woolsey, Jr.
34
Guerra nas Estrelas do Pentágono; ou ainda para o debate público, como Podhoretz na revista
Commentary; e Kristol em The Public Interest.
Num segundo momento, temos uma nova geração, conhecida como Baby-Boom71,
que dentro dos principais Campi americanos nos anos de 1960 e 1970, realizaram grandes
embates teóricos, caminhando muitos deles posteriormente para a política, entre os quais
William Kristol, filho de Irving Kristol, um dos co-fundadores do PNAC (Project for the New
American Century), Grover Glenn Norquist, que desde seus tempos como universitário em
Harvard, até os dias atuais, como congressista lidera uma cruzada anti-impostos, David
McIntosh hoje também congressista, formado em Yale, e por fim, Paul Wolfowitz, peça
central na política externa do primeiro mandato de George W. Bush.
Outros nomes da nova geração seriam: Francis Fukuyama72, Ralph Reed73, Stephen
Rosen74, Jeremy Rabkin75 e Arthur Melzer76, David McIntosh77, Groover Norquist78 e Clint
Bolick79.
Esta Nova Geração voltou-se nos anos de 1970 contra o stablishment liberal que
classifica os conservadores como egoístas, racistas, elitistas quando não fascistas. Com uma
postura crítica e, ao mesmo tempo com uma formação elitista, os jovens conservadores desta
época conseguiram primeiro conquistar espaço nas Universidades, para depois, a partir dos
anos de 1980 e 1990, avançaram vencendo a esquerda liberal no campo em que ela era mais
forte, na mídia, nos Think Tanks e nas eleições. A Nova Direita que se concretizou com
George W. Bush soube derrotar o stablishment da contra-cultura e criar um novo mainstream
71 Denominação que caracteriza a geração nascida pós-II Guerra, período marcado pela prosperidade econômica
e por grandes mudanças culturais nos EUA.
72 Nasceu em Chicago, estudou em Cornell e em Harvard onde teve contato com professores como Harvey
Mansfield, Samuel Huntington e Allan Bloom. Entre os colegas destacamos: Paul Wolfowitz, Steven Weinberg e
Douglas Feith. Fukuyama participou da PNAC e do governo George W. Bush. Tentou se diferenciar dos
neoconservadores em suas produções mais recentes. Fukuyama atualmente é professor da Universidade John
Hopkins em Washington D.C.
73 Articulador político, foi uma das peças mais importante na articulação entre a Direita Cristã e o Partido
Republicano.
74 Professor em Harvard, pesquisador da área militar, fez parte da articulação da PNAC.
75 Professor em Cornell, pesquisador da AEI, Rabkin destaca-se como crítica das organizações e dos tratados
internacionais.
76 Professor na Universidade de Michigan, seu tema de pesquisa dos últimos anos tem sido a democracia
moderna, seus descontes e seus conflitos. Seu doutorado em Harvard teve orientação de Mansfield.
77 Em Yale, David McIntosh liderou alguns colegas para, como conservadores, deixarem de ser segregados nos
debates. Para isso fundou, com Steven G. Calabresi, Peter D. Keisler e Lee Liberman, a Sociedade Federalista,
que rapidamente se expandiu para Chicago e Harvard, formando uma resistência ao liberalismo, principalmente
nos cursos de direito.
78 Norquist representa a nova geração de libertários dentro do Partido Republicano. Defensor do direito a posse
de armas, se destacou defendendo em escala nacional uma política de corte de impostos. Trabalhou próximo ao
governo W. Bush, articulando com os governadores formas de cortar impostos.
79 Também de perspectiva libertaria, Bolick como advogado militou contra as ações afirmativas e fez carreira
defendendo crianças sem aceso a educação, seus críticos, porém o acusam de lutar pelo fim da escola pública. E
pesquisador do Hoover Institute.
35
conservador. Neste sentido George W. Bush era um verdadeiro conservador (como veremos
no capítulo IV) disposto a cortar impostos, a retornar a vertente linha dura na política externa,
repensando uma sistema de defesa anti-mísseis, com coragem para dizer não à organizações e
acordos internacionais como a ONU e ao Protocolo de Kyoto, bem como capaz de colocar em
seus gabinetes políticos de vertente libertária80, cristã e neoconservadora.
5 - William Kristol e John Podhoretz: filhos de radicais
William Kristol, filho de Irving Kristol e Gertrude Himmelfarb, estudou em Harvard
entre 1973 e 1978, onde um de seus principais professores, Harvey C. Mansfield. Kristol,
trabalhando com seu pai no Institute for Educational Affair, aproxima-se da Sociedade
Federalista81, tendo ambos em mente que 40% do eleitorado americano poderia ser
conservador.
Buscando este eleitorado,em 1993, William Kristol liderou, em pareceria com David
Tell e Daniel Casse, o Project for Republican Future (PRF)82, que buscava resgatar a nação
de uma elite liberal liderada por William Clinton e Al Gore. Em 1997, William Kristol funda
o PNAC (Project for the New American Century) e David MacIntosh aproxima-se do Hudson
Institute, ambos figuras centrais na “Revolução Republicana”, que levou George W. Bush ao
poder e os Republicanos de volta ao controle das duas casas do Congresso.
Se a geração de Irving Kristol, Daniel Bell e Nathan Glazer viram os liberais
influenciarem a Guerra Fria e tentaram, pela ação do Estado, formar uma nova classe média,
seus filhos viram os Republicanos, que com Reagan se reagruparam e se fortaleceram,
sucumbirem novamente aos liberais, os quais nos Campi nos anos de 1960, eram majoritários
80O termo libertário, como utilizo refere-se a vertente tradicional política dos EUA pautada pela defesa das
liberdades individuais, militância contra impostos, defesa do livre-mercado e da livre-iniciativa e desconfiança
por principio de toda autoridade ou governo. Os Libertários são uma corrente do Partido Republicano bem como
um Partido político independente. Cf. http://www.lp.org/, acessado em 09/03/08. Cf. também DOHERTY, Brian.
Radicals for Capitalism: A Freewheeling History of the Modern American Libertarian Movement. Public
Affairs, 2001.
81 A Sociedade Federalista foi criada nas escolas de direito de Yale e Harvard e Chicago nos anos de 1980 com o
objetivo de fazer frente à tradição liberal do direito presente nestas escolas. As idéias, inicialmente restrita ao
universo acadêmico, avançaram para o campo político recrutando juízes que defendem a leitura literal das leis
em detrimento daqueles que “interpretam a lei”. Três membros da Suprema Corte são ligados a Sociedade
Federalista: Clarence Thomas, Samuel Alito e Antonin Scalia. Cf. http://www.fed-soc.org/. Acessado em
05/05/08
82 O PRF foi também decisivo para Kristol liderar um movimento pró-Impeachment a partir do escândalo
Mônica Lewinsky, que abalou a segunda gestão de Clinton.
36
nas organizações estudantis, e tinham voltado ao poder com William Clinton. Irving Kristol
em seu tempo estudou os clássicos conservadores na Hoover Institution e fortaleceu a revista
The Public Interest; William Kristol, na nova geração, passou pela fundação do PNAC e da
revista The Weekly Standard. Irving Kristol foi forte apoiador de Ronald Reagan, William de
George W. Bush.
Outro exemplo de família neoconservadora encontramos nos Podhoretz. John
Podhoretz, filho do casal Norman Podhoretz e Midge Decter, ambos ligados aos
neoconservadores. Midge Decter é pesquisadora do PNAC e da Heritage Foudation. Norman
Podhoretz é um dos intelectuais do Grupo de NY, pesquisador do CFR (Council on Foreign
Relations), da Hudson Institution e do PNAC, por muitos anos editor da Revista Commentary
(1960-1995) e peça central na área de segurança do governo Reagan. Neste governo,
organizou e trabalhou no Comitte for the Present Danger e entre 1981 e 1987 foi assessor
especial da Agência de Informação do Pentágono. Norman Podhoretz alavancou uma nova
maioria republicana ao colaborar na guinada militar dos EUA nos anos de 1980 e deu novo
fôlego aos Think Tanks conservadores de Nova Yorque e Washington D.C.
Já Midge Decter, por sua vez, dirigia com Donald Rumsfeld o Committee for the Free
World, também de viés anticomunista e que reuniu, entre outros nomes, William Bennett,
Sidney Hook, Michael Ledeen e Joshua Muravck. Tanto Norman Podhoretz como Midge
Decter foram importantes nos anos de 1980 por liderarem um debate diferenciando os
neoconservadores e os paleoconservadores83. O embate ocorreu principalmente pela
Commentary, no campo neoconservador, e pela Chronicles, por parte de intelectuais como
Russell Kirk84 e outros principalmente ligados ao Cato Institute85. Por parte dos
neoconservadores, foram também atuantes William Bennettt, Irving Kristol e Elliott Abrams.
John Podhoretz formou-se em Chicago e, como William Kristol, entrou logo na
política. Desde os anos de 1980, escreve sobre cinema e cultura em publicações
conservadoras como The Weekly Standard. Especializou-se na elaboração de discursos para
presidentes e organizou a White House Writers Group, para todos os escritores de discurso da
Casa Branca. John Podhoretz escreveu discursos para Ronald Reagan, George H. W. Bush e
foi assistente especial de William Bennett. Durante o governo de William Clinton, escreveu o
83 Denominação dada ao conservadorismo mais antigo, isolacionista e contra o Estado.
84 Kirk, falecido em 1994, foi uma referência importante para os conservadores dos EUA, articulista da National
Review, nos anos de 1950, escreveu The Conservative Mind, obra considerada um marco para o pensamento
conservador.
85 Think Tank libertário com sede em Washington D.C, foi fundado com dinheiro da fortuna da família Bradley
por Edward H. Crane e Charles De Ganahl Koch, conta entre seus membros ilustres, Rupert Murdoch. Cf.
http://www.cato.org/. Acessado em 03/03/08.
37
livro Hell of a Ride que pretende ser uma história dos bastidores do poder entre 1989 e 1993.
No governo George W. Bush, John Podhoretz escreveu o livro Bush Country: How George
W. Bush Became the First Great Leader of the 21st Century - While Driving Liberals Insane,
em que não faltam elogios aos conservadores e críticas aos liberais86. Nessa mesma trilha
lançou, em 2006, o livro Can She Be Stopped?, no qual prevê um embate entre Hillary
Clinton e Rudy Giuliani pela sucessão de George W. Bush, com vitória de Hillary.
William Kristol e John Podhoretz dentro da trajetória política dos neoconservadores
estiveram para George W. Bush tal como Norman Podhoretz e Iving Kristol estiveram para
Ronald Reagan.
6- O que traz de neo, os neoconservadores ?
Partindo da reflexão de Edmund Burke (1982), podemos entender o clássico
pensamento conservador como sendo elitista, suspeito em relação ao Estado, como aquele que
valoriza mais a liberdade do que a eqüidade com doses generosas de patriotismo, hierarquia e
ceticismo em relação ao progresso. Avançando, podemos entender que a concepção clássica
de “direita” está relacionada ao conjunto de forças que valoriza a ordem em detrimento da
justiça social, que aceita, e às vezes defende, o capitalismo. Portanto, como podemos pensar
os neoconservadores inseridos no que já definimos como “Nova Direita” ?
Tentaremos nesta seção diferenciar os neoconservadores – que foram e são decisivos
como força política e como arcabouço de idéias para as mudanças trazidas por George W.
Bush, principalmente na política externa – de outras correntes políticas, filosóficas dos EUA
como os conservadores, liberais, neoliberais, nacionalistas e realistas.
O pensamento liberal de Hayek, Friedman e o pensamento conservador de William F.
Buckley foram dominantes nos EUA, tendo seu marco nos anos de 1960, no governo de
Lyndon Johnson e na Universidade de Harvard como centro intelectual. Com a Grande
Depressão dos anos de 1940 e posterior chegada de Ronald Reagan ao poder, os valores
conservadores passaram a ser dominantes na política e na sociedade dos EUA. O
86 Liberais e Conservadores aqui, como ao longo de todo texto, referem-se a denominação aplicada no jogo
político dos EUA, que associa os Democratas aos liberais e os Republicanos aos Conservadores. Os liberais são
defensores do livre-mercado, das saídas multilaterais da não intervenção e preocupados com os investimentos em
educação e saúde. Já os conservadores tradicionalmente defendem as tradições e o status quo e seriam
isolacionista, preocupados com a Defesa e com a Moralidade.
38
conservadorismo ascendente somado à proliferação de Think Tanks87, formou um exército de
intelectuais conservadores, criando as condições necessárias para um movimento de direita,
que presa valores conservadores, influenciou tanto membros do partido Democrata como do
Republicano. Neste sentido , podemos entender que este campo de forças foi vitorioso nas
últimas nove eleições nos EUA.
O pensamento conservador americano tinha como principal referência a revista
editada por William F. Buckley – National Review – organizava-se em grupos como a John
Birch Society88, dialogava com grupos católicos e protestantes e tinha em Barry Goldwater89
um ícone que seria um divisor de águas para a Direita americana. A defesa do isolacionismo
da política externa, desconfiança e enfrentamento quanto ao tamanho do Estado e quanto a
carga tributária, bem como a defesa de uma sociedade com papéis e classes bem definidas
(como defendida por grupos como o KKK90 e o Eagle Forum 91) caracterizava, em linhas
gerais, os conservadores nos EUA.
A associação imediata dos neoconservadores com a idéia clássica de conservadorismo
não é adequada. Os neoconservadores partem da tese de que é preciso uma postura
internacional ofensiva, mudando assim, os rumos da política internacional; reconhecem que a
direita americana não é mais a mesma, ou seja, o status quo hoje não é mais o mesmo de vinte
anos atrás. Tenta-se também sistematizar esta relação dos neoconservadores com o
conservadorismo numa espécie de síntese entre o realismo da teoria das relações
internacionais, na forma de olhar para as coisas, e o idealismo, da tradição americana que
estaria presente sob a forma de ação.
Os neoconservadores são internacionalistas, unilateralistas se necessário, buscam
organizarem-se para influenciar e fazer parte do governo. Dialogam estrategicamente com
grupos evangélicos e cristãos pró-Israel (como, por exemplo, Pat Robertson92 e os grupos
87 Cf. Capítulo II.
88 Grupo fundado em 1958, popular durante a Guerra Fria. Ainda vigente, hoje com pouca força. Eles
acreditavam que os soviéticos estavam infiltrados no governo americano. Cf. www.jbs.org . Acessado em
03/03/2008.
89 Foi candidato pelo Partido Republicano em 1964, faleceu em 1998, aos 89 anos. Sua candidatura uniu , até
então de forma inédita os conservadores e depois dela , os conservadores cresceram em mobilização política e
social.
90 Ku Klux Klan, grupo hoje considerado de extrema direita, mas que no passado teve milhares de membros.
Trata-se de uma organização de cunho semi-secreto, que defende a supremacia dos brancos e ódio aos não
brancos. Cf. www.kkk.com/. Acessado em 03/03/08.
91 Grupo fundado por Phyllis Schlafly, um dos pioneiros na mobilização popular contra o aborto e contra a
Emenda dos Direitos Iguais. Cf. www.eagleforum.org/. Acessado em 03/03/08.
92 Pat Robertson foi um pastor evangélico importante principalmente nos anos de 1980 , pioneiro como tele-
evangelista. Candidatou-se a presidência perdendo para George H. W. Bush nas primarias, mas conseguindo
levar ao Partido Republicano uma agenda conservadora e religiosa que ficou conhecida como Direita Cristã,
influente até os dias de hoje.
39
remanescentes da Maioria Moral organizados por Jerry Falwell (falecido em 2007) e tem seus
próprios Think Tanks e revistas, como veremos mais detalhadamente no capítulo II desta
dissertação. Os neoconservadores não são neoliberais por identificarem justamente o
liberalismo como principal problema a ser enfrentado na sociedade americana e também não
se enquadram num classificação de “nacionalismo93” pois tem como foco a política externa e
por pensarem no papel dos EUA no Sistema Internacional e na sua transformação.
No partido Republicano, onde tudo começou com Harry V. Jaffa94, os já assim
conhecidos “neocons” aceitaram trabalhar no governo Ronald Reagan, onde encontram apoio
nos Republicanos que trabalhavam na Defesa entre os quais destacamos George H. W Bush,
Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz. Em posições estratégicas e de decisão dentro do governo,
os neoconservadores passaram a pensar dois temas centrais: a segurança internacional e a
política externa dos EUA95, diferenciando-se assim dos conservadores, mais preocupados com
a política doméstica e dos neoliberais, focados na economia.
A experiência de governo desse grupo, nos anos de 1980, durante a gestão Reagan, os
colocou em posição privilegiada de tomada de decisão e conseguiu construir redes entre o
grupo e as instituições, permitindo-lhe acesso a relatórios e a informações privilegiadas bem
como ao conhecimento dos círculos mais poderosos da política. Isso lhe possibilitou, além de
montar uma vasta rede de revistas e jornais, organizar Think Tanks96 na capital dos EUA e
principalmente em Nova Yorque afirmando-se como alternativa ideológica e política. Dentre
os Think Tanks impulsionados pela experiência dos neoconservadores em Washington nos
anos de 1980, destacamos: Institute for Educational Affairs e The Project for the New
American Century (PNAC); outros já estabelecidos ganharam força, como o American
Entepise Institute (AEI), Hudson Institute, Claremont Institute, Heritage Foundation e
Hoover Institution. Esta organização diferencia-se ao combater e dialogar com a mídia dos
Think Tanks conservadores liberais e defensores de uma política externa realista, como por
exemplo: Cato Institute, Brookings Institute, Commonwealth Institute97 e Carnegie
Endowment for International Peace98.
93 JUDIS (2004), classifica Condolezza Rice, Dick Cheney e Donald Rumsfeld como as influências nacionalistas
de George W. Bush em seu primeiro mandato.
94 Pesquisador do Claremont Institute, trabalhou com Barry Goldwater, estudou com Leo Strauss na NSS. Como
acadêmico especializou-se em História americana, ganhando destaque com suas reflexões sobre Abraham
Lincoln. Entre os neoconservadores de perfil straussiano, Jaffa foi o primeiro a transitar pelo partido
Republicano. Cf. http://www.claremont.org/. Acessado em 03/03/08.
95 Cf. conferir seção 10, capítulo III.
96 Cf. Capítulo II.
97 Cf. http://www.comw.org/. Acessado em 03/04/07
98 Cf. http://www.carnegieendowment.org/. Acessado em 8/02/08.
40
Capítulo II - A organização dos neoconservadores
1- Os neoconservadores e os Think Tanks.
“A Think Tank is like a University without students.”
(KIRKPATRICK apud MURRAY, 2006).
Os Think Tanks hoje entendidos como um braço político das diferentes correntes
ideológicas presentes no jogo político estadunidense, são muito populares e influentes,
tiveram uma trajetória de ascensão rápida e uma forma de organização nova e eficiente. Os
Think Tanks se projetam num vácuo deixado dentro do processo decisório. Por falta de
conhecimento específico sobre certos temas de valor nacional e pela exigência por operações
em vários cenários diferentes, os governos recorrem a especialistas que, transitam entre
diferentes grupos de interesses e de força política.
Esses grupos não são homogêneos; há aqueles de perfil mais elitista e seleto como, por
exemplo, o Council on Foreign Relations (CFR) fundado em 1921, em Nova Yorque, e muito
próximo ao poder desde então; por outro lado, há grupos com foco mais social e acadêmico
como o The Brookings Institution99, de 1917, ou o Hoover Institution, ligado à Universidade
de Stanford. Outros Think Tanks apresentam preocupações e vínculos restritos como a RAND
(1947), ligada às forças armadas, ou a JINSA (1976), cujo foco está nas relações EUA -
Israel.
Os Think Tanks ganharam impulso com a ascensão de nomes como John M. Olin e
Smith Richardson (conferir Tabela 1, 2 e 3 deste capítulo), que nos primeiros decênios do
século XX, depois de um enriquecimento meteórico com empresas de petróleo e da
construção civil, criaram suas fundações e por elas, financiaram os primeiros Think Tanks100.
A Relação entre os Think Tanks e o poder mostrou-se sempre muito eficiente; a CFR, uma das
primeiras, desde os anos de 1960, mostra-se influente no processo decisório. Fato evidente
quando notamos que quase cem por cento dos secretários: Tesouro, Defesa, Estado e os
99 Think Tank tradicional e influencia de Washington D.C, considerado de centro – esquerda ou liberal na
denominação americana. Cf.. Acessado em 03/03/08.
100 Cf.: . Acessado em 03/03/08.
41
diretores da CIA são ligados ao grupo. Há casos também em que o próprio presidente é
membro desses grupos – como, por exemplo, Nixon e Clinton101.
Toda decisão passa por um cálculo quanto a finalidades e quanto a causalidades. Nos
termos de Duroselle (2000), decidir é em parte, moldar o futuro; e quando pensamos numa
equipe decisória, inevitavelmente caímos no campo dos peritos. Pensando dessa forma,
podemos entender como em momentos decisivos da política externa dos EUA no século XX,
Think Tanks como a CFR, o Hoover Institution e a PNAC foram tão presentes. Há alguns
marcos na relação entre a Casa Branca e os Think Tanks que devemos destacar: o governo
Ronald Reagan (1981-1989), Bill Clinton (1993-2001) e George W. Bush (2000- 2008).
No governo Reagan (1981–1989) destaca-se a participação do Hoover Institution,
Think Tanks fundado em 1919 por Herbert Hoover, inserido na discussão sobre o
neoliberalismo (com a decisiva presença do economista Milton Friedman) e o comunismo.
Outro Think Tanks de destaque neste governo foi a Heritage Foudation, grupo fundado em
1973, defendendo bandeiras que posteriormente foram abraçadas pelo governo Reagan como:
governo limitado, valorização da livre iniciativa, e atenção aos valores tradicionais
americanos e da necessidade de um projeto nacional forte de defesa102. Dentre os dois
gabinetes de Reagan e estes dois Think Tanks podemos destacar como peças centrais do
governo: James A. Baker III (secretário do Tesouro), William F. Smith (advogado geral da
União), Edwin Meese III (advogado geral), Caspar W. Weinberger (Secretário de defesa) e
William J. Bennett (Secretário da Educação) e Richard V. Allen (assessor de Segurança).
No governo Clinton destacamos a atuação novamente do CFR, que entre o primeiro e
o segundo escalão colocou cerca de 100 nomes no quadro deste governo, dentre os quais
destacamos: Warren M. Cristopher (secretário de Estado), Madeleine Albright (secretária de
Estado), Lawrence H. Summers (secretário do Tesouro), Les Aspin (secretário de Defesa),
William S. Cohen (secretário de Defesa) Ronald H Brown (falecido em 1996, secretário de
Comércio), William M. Daley (secretário de Comércio), Donna E. Shalala (Secretária da
Saúde), Togo D. West Jr (secretário para assuntos ligados aos Veteranos).
No governo George W. Bush, destacamos a presença de Think Tanks conservadores,
cristãos, e aqueles mais próximos às idéias neoconservadoras. O PNAC (Project for the New
American Century), criado em 1996, e que teve um papel crítico durante o governo Clinton,
destacou-se com apontamentos sobre o Oriente Médio e mais especificamente sobre o Iraque,
101 Cf. SALBUCHI (2003).
102 A Heritage Foudation, antes da posse de Reagan, entregou-lhe um documento elaborado por 200
pesquisadores, intitulado Mandate for Leadership. Que pretendia ser uma referência política para o governo.
42
que foram de extrema relevância para a resposta de George W. Bush ao 11\09\01. Dentre os
grupos conservadores destacamos o AEI (American Enterprise Institute), fundado em 1943,
do qual participam o vice-presidente Richard Cheney, o assessor de segurança Richard Perle,
John Bolton (ONU), Eliot Cohen e dez outros assessores da Casa Branca.
Nesse capítulo conheceremos como alguns pesquisadores desses Think Tanks
transitam entre esses grupos e, mais especificamente, veremos como os neoconservadores
projetam, através dessas instituições, suas idéias para os EUA e, conseqüentemente, para o
mundo.
2 - Entre Nova Yorque e Washington D.C.
Em Nova Yorque – centro de efervescência cultural e intelectual na primeira metade
do século XX – misturavam-se libertários, moralistas tradicionais, socialistas europeus e
anticomunistas.
Nos anos de 1980, durante a administração Reagan, os neoconservadores deixam o
campo da discussão e das opiniões políticas para adotarem uma postura mais ativa
politicamente e internacionalista. É neste momento que novos Think Tanks são criados, e
políticos próximos aos neoconservadores e ao partido Republicano passam a figurar entre os
principais Think Tanks da capital administrativa dos EUA. Os primeiros nomes a percorrem a
ponte entre a opinião pública e a política partidária e de governo foram: Irving Kristol, Daniel
Bell, Nathan Glazer e Seymour Martin Lipset. Em Nova Yorque esses intelectuais eram os
editores e os principais colaboradores das revistas The Public Interest e Commentary, cujas
principais preocupações giravam na órbita da análise e crítica ao Estado de Bem-Estar Social,
do nascimento da “Nova Esquerda” e das insatisfações com as gestões Democratas na Casa
Branca.
Irving Kristol reforçou o American Enterprise Institute, Daniel Bell que já era da CFR
passou a lecionar na Universidade de Columbia e associou-se ao Hoover Institution; Lipset
reforçou também o Hoover Institution, Francis Fukuyama, aluno de Bloom, que já participava
da RAND e da CFR, também mudou-se para Washington; e Norman Podhoretz, um dos
editores da revista Commentary, passa a reforçar os quadros do Hudson Institution (1961).
Neste primeiro momento os neoconservadores entravam em contato com o mundo da política
de Washington D.C, em parte pelos Think Tanks e em parte como assessores do Democrata
Henry “Scoop” Jackson (senador entre 1953 e 1983).
43
Paralelamente a ascensão política dos neoconservadores com o governo Reagan,
Irving Kristol, guiado por preocupações econômicas, funda em Nova Yorque o Institute for
Educational Affairs (1978) e Norman Podhoretz termina de escrever o livro The Present
Danger (1980), que foi uma influência decisiva para a política de segurança deste governo,
como também, influenciou toda uma geração de políticos e intelectuais na órbita do poder.
Os neoconservadores nessa época transitaram entre Nova Yorque e Washington D.C. e
foram decisivos para o crescimento e consolidação dos Think Tanks como o American
Enterprise Institution (que na década de 1970 viu seu quadro de pesquisadores saltar de 200
para 600 membros e seu orçamento dobrar, chegando a 10 milhões de dólares em dez anos) e
o Hoover Institution que, reforçados por nomes como os de William Bennett, Sidney Hook,
Michael Ledden, Joshua Muravchik (também pesquisador do AEI) e Norman Podhoretz,
serviram de base para a formação da política externa e da política econômica do governo
Reagan.
Após o governo Reagan (1981 – 1989) e a Guerra Fria (1944-1991) a Direita nos EUA
é reorganizada, os neoconservadores – peça central neste processo – passam a década de
noventa buscando soluções e cenários para um novo século que poderia ser marcado pela
consolidação do poder americano. Foi nesses termos que nasceu o PNAC, financiado pelo
bilionário Richard Scaife e fundado em 1992 por dois jovens conservadores: Robert Kagan e
William Kristol (filho de Irving Kristol). O PNAC dinamizou o mundo dos Think Tanks por
conseguir, ao mesmo tempo, re-organizar os Republicanos e concentrar boa parte dos
neoconservadores, formando a base do que seria o primeiro gabinete do governo George W.
Bush.
Nos anos de 1990, estavam no PNAC e depois entraram para o governo de George W.
Bush: Elliott Abrams (assessor do departamento de Estado do primeiro governo W. Bush),
John Bolton (ONU), Francis Fukuyama (Conselho de Bioética), Lewis Libby (assessor de
Cheney), Richard Perle (assessor de segurança), Paul Wolfowitz (Banco Mundial, até 2007) e
Robert Zoellick (Secretário de Estado); dentre os Republicanos destacamos: Jeb Bush (irmão
de George W. Bush e governador da Florida), Dick Cheney (vice-presidente), Donald
Rumsfeld (secretário de Defesa até 2006), Gary Bauer (parlamentar ligado também à Direita
Cristã) e Richard Armitage (ocupou o segundo posto na hierarquia do Departamento de
Estado até 2005).
44
3 - A presença dos neoconservadores nos principais Think Tanks conservadores dos
EUA.
Os centros analisados a seguir foram selecionados pela sua influência no governo de
George W. Bush e pelo trânsito de intelectuais, políticos e pesquisadores ligados – direta ou
indiretamente – aos neoconservadores. Traçaremos um breve perfil de cada um deles.
The Claremont Institute
Fundado em 1979, com a preocupação de pensar o futuro dos EUA, tendo como foco a
fundação deste país, este Think Tanks, conta com a presença de alguns políticos de seu estado
de origem, a Califórnia. Encontramos Tom McClintock, amigo de juventude de William
Kristol e famoso pela sua “jornada anti-impostos”, e alguns neoconservadores tradicionais
como William Bennett. O Claremont Institute tem nos últimos anos se aproximado do
Heritage Foundation. Think Tank que conheceremos melhor neste capítulo.
Quadro 3: The Claremont Institute
The Claremont Institute – Principais Pesquisadores
John Eastman
Mark Helprin
William Voegeli
Brian T. Kennedy
American Enterprise Institute (AEI)
Fundado em 1943, com forte teor anti-socialista, foi no decênio 1970-1980, que este
Think Tank cresceu tanto em número como em importância. O AEI foi o abrigo de
neoconservadores importantes como: Gertrude Himmelfarb (esposa de Irving Kristol e
historiadora especialista no período vitoriano), do próprio Irving Kristol, Jeane Kirkpatrick
(que por muito anos trabalhou na ONU e uma das responsáveis pela transição dos
neoconservadores do partido Democrata para o Republicano), Joshua Muravchik (um dos
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pioneiros a trocar os círculos intelectuais de Nova Yorque pelos círculos políticos de
Washington D.C.), Michael Novak (considerado um dos mais sérios estudiosos de Leo
Strauss, discutindo teologia, filosofia política e política partidária), Richard Perle (sempre
próximo aos neoconservadores e figura presente na área de segurança dos EUA).
Quadro 4: American Enterprise Institute
Financiadores Pesquisadores
James Q. Wilson
Irving Kristol
Lynne Cheney
Fundação Microsoft Mark Falcoff
Fundação Coors David Frum
Bradley Foundation Newt Gingrich
Smith Richardson Foundation Frederick Kagan
Charles Murray
Jeane Kirkpatrick
Joshua Muravchik
Michael Ledeen
Richard Perle
Ben Wattenberg
RAND Corporation
Fundada em 1948 e sediada na Califórnia, a RAND103 tem uma longa história com a
segurança e as forças armadas dos EUA. Essa história envolve projetos como o “Guerra nas
Estrelas” do governo Reagan e o desenvolvimento da própria Internet. A relação da RAND
com os neoconservadores tem sua raiz nos estudos de Albert Wohlstetter que, como
matemático, teve uma função decisiva durante a Guerra Fria ao estudar as possibilidades e as
estratégias para uma guerra nuclear. Hoje, a RAND é o abrigo para nomes importantes do
cenário político contemporâneo, como Francis Fukuyama, Condoleeza Rice e Alan Greenspan
(também ligado ao Hoover Institution).
103 RAND significa Research And Development ou em português: Pesquisa e Desenvolvimento.
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Quadro 5 – RAND Corporation
Principais Pesquisadores da RAND
Harold Brown
Robert E. Hunter
Alan Greenspan
Paul O'Neill
Condoleezza Rice
Donald Rumsfeld
Albert Wohlstetter
PNAC: Project for the New American Century
Em 1992, Paul Wolfowitz, que na época estava no Pentágono, William Kristol,
naquele momento assessor da Casa Branca, e outros neoconservadores apoiaram as tendências
apontadas pelo Defense Plan Guidance104, que em linhas gerais preocupava-se com o papel
dos EUA na ordem internacional pós-Guerra Fria e falava de forma objetiva sobre a
necessidade dos EUA agirem de forma preventiva e preemptiva, evitando a emergência de
novos rivais.
A PNAC passou então a pressionar o governo e a defender de forma aberta uma
correspondência entre os gastos militares dos EUA e as novas realidades do mundo pós-
Guerra Fria. A bandeira da mudança de regime também é clara e atrelada à necessidade de
espalhar e de levar os valores da democracia e da li