Estudo Morfométrico Comparativo de Populações de Rotylenchulus reniformis (Nemata: Rotylenchulinae) do Brasil* Pedro L. M. Soares1, Jaime M. dos Santos2 & Paul S. Lehman3 1,2Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP, fax: (016) 3202-3641, e-mail: pedrolms@hotmail.com; 3Department of Agriculture and Consumer Services, Division of Plant Industry, Entomology Nematology, Plant Pathology. P.O. Box 147100 /1911 SW 34th Street, Gainesville, Florida 32614-7100, EUA (Aceito para publicação em 07/02/2003) Autor para correspondência: Pedro L. M. Soares SOARES, P.L.M., SANTOS, J.M. dos & LEHMAN, P.S. Estudo morfométrico comparativo de populações de Rotylenchulus reniformis (Nemata: Rotylenchulinae) do Brasil. Fitopatologia Brasileira 28:292-297. 2003. RESUMO *Parte da Dissertação do Trabalho de Graduação do primeiro autor (1999), desenvolvido com Auxílio à Pesquisa da FAPESP (Processo No. 99/ 04377-2). 1Bolsista IC-FAPESP Quarenta e oito populações de Rotylenchulus reniformis foram recuperadas de amostras de solo e raízes de diferentes culturas e inoculadas em diferentes plantas hospedeiras, mantidas em microparcelas no Departamento de Fitossanidade da UNESP/ FCAV, Campus de Jaboticabal, São Paulo. Os sintomas da doença causada pelo nematóide em algodoeiro (Gossypium hirsutum), no campo, foram documentados, bem como o hábito de parasitismo do nematóide em raízes de algodão e de mamoeiro (Carica papaya), utilizando-se de coloração in situ do nematóide com fuccina ácida. Efetuou-se a comparação morfológica de todas as populações, ao microscópio óptico composto, em montagens temporárias e, de algumas, ao microscópio eletrônico de varredura. Para as observações ao microscópio eletrônico de varredura, fêmeas adultas presas às raízes foram fixadas em glutaraldeído e pós-fixadas em tetróxido de ósmio, desidratadas em álcool etílico, secas em secador de ponto crítico, montadas, recobertas com 35 nm de ouro, observadas e elétromicrografadas em 15 kV. Os dados obtidos confirmam que R. reniformis é a única espécie do gênero distribuída nos agroecossistemas brasileiros e que a amplitude de variação de caracteres morfométricos em populações brasileiras desse nematóide, tais como comprimento do estilete, V % e forma da cauda, é maior que em populações da mesma espécie de outras regiões do mundo. Foram ilustradas fêmeas jovens de R. reniformis com a cauda bifurcada, e esse detalhe da morfologia do nematóide ainda não havia sido relatado. Palavras-chave adicionais: taxonomia, nematóide reniforme, microscopia eletrônica de varredura, morfometria. ABSTRACT Comparative morphometric study of populations of Rotylenchulus reniformis (Nemata: Rotylenchulinae) from Brazil Forty-eight populations of Rotylenchulus reniformis were obtained from soil and root samples of different crops and inoculated into various host plants grown in microplots at the Departamento de Fitossanidade of the Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal, São Paulo, Brazil. The symptoms of the disease caused by the nematode in cotton (Gossypium hirsutum) plants were documented in field and the parasitic behavior of the nematode in roots of cotton and papaya (Carica papaya) plants were investigated by in situ staining of the nematode with acid fuchsin. All populations were studied with light microscopy in temporary mounts and some were also examined using scanning electron microscopy (SEM). For SEM, mature females attached to roots were fixed in buffered glutaraldehyde and post-fixed in osmium tetroxide. The samples were then dehydrated in ethanol, dried in a critical point dessicator, mounted, coated with a 35-nm layer of gold, examined and electronmicrographed at 15 kV. The data confirm that R. reniformis is the only species of the genus distributed in Brazil and based on data from the literature, the variations of the morphometric characteristics among R. reniformis Brazilian populations, such as stylet length, V % and tail shape are greater than in populations of the same species from other parts of the world. Young females with bifurcated tails were documented in R. reniformis, a morphological feature that had not been previously reported. INTRODUÇÃO O gênero de nematóides Rotylenchulus engloba dez espécies semi-endoparasitos sedentários, com ampla distribuição em países tropicais e subtropicais (Fortuner, 1987; Lehman & Inserra, 1990; Van Den Berg, 1990). Com efeito, Rotylenchulus reniformis (Linford & Oliveira) encontra-se associado a mais de 140 espécies de plantas de mais de 115 gêneros de 46 famílias botânicas. Desta ampla gama de hospedeiros, 57 espécies são culturas de importância econômica (Jatala, 1991). Essa ampla faixa de hospedeiros é um fator limitante para a utilização da rotação de culturas como medida de manejo de populações desse nematóide e, considerando sua ampla distribuição em nossos agroecossistemas, constitui, também, uma limitação para a adoção dessa medida no manejo de outros nematóides, uma vez que essa prática pode reduzir a população da espécie- alvo e aumentar a população de R. reniformis. 292 Fitopatol. bras. 28(3), maio - jun 2003 293Fitopatol. bras. 28(3), maio - jun 2003 Estudo morfométrico comparativo de populações de Rotylenchulus reniformis... Durante muitos anos, o cultivo do algodoeiro (Gossypium hirsutum L.), no Estado de São Paulo, foi restrito às variedades da série IAC, resistentes a Meloidogyne incognita (Kofoid & White) Chitwood. Essas variedades também foram largamente cultivadas em outras regiões do País, notadamente por possuírem resistência a esse nematóide. Contudo, as variedades da série IAC não são resistentes a R. reniformis. Com o passar dos anos, o rendimento da cultura do algodoeiro, no Estado de São Paulo, foi se tornando cada vez menor, até que se mudou a legislação, permitindo-se o plantio de outras cultivares a partir do final da década de 90. Com efeito, R. reniformis é um dos nematóides- chave da cultura do algodoeiro em todas as regiões produtoras do mundo (Starr & Page, 1990). Além dos danos diretos às raízes de seus hospedeiros, Rotylenchulus spp. interagem com outros patógenos, tais como Fusarium spp., Verticillium spp. e Rhizoctonia solani Kuhn, causando doenças complexas (Jatala, 1991). Com base em caracteres morfométricos de fêmeas jovens, alguns pesquisadores propuseram chaves para a identificação das espécies de Rotylenchulus (Germani, 1978; Fortuner, 1987; Robinson et al., 1997). Nos EUA, Lehman & Inserra (1990) estudaram duas populações de R. parvus Williams e nove de R. reniformis da região Sudeste e concluíram que as populações dessas duas espécies dos EUA podem ser facilmente separadas com base no comprimento do corpo, do estilete e da cauda de fêmeas imaturas. Com base na literatura pertinente, elabo- raram um compêndio enfocando a variabilidade intra e interespecífica e uma chave para a identificação das espécies do grupo. Embora sejam reconhecidas dez espécies válidas de Rotylenchulus (Lehman & Inserra, 1990; Van Den Berg, 1990), no Brasil, todas as populações encontradas até o presente foram referidas como pertencentes a R. reniformis. Este trabalho teve como objetivo o estudo morfo- métrico comparativo aos microscópios óptico e eletrônico de varredura de 48 populações de R. reniformis do Estado de São Paulo e de outras regiões do Brasil. MATERIAL E MÉTODOS Quarenta e oito populações de R. reniformis foram recuperadas de amostras de solo e raízes de diferentes regiões e culturas (Tabela 1) e inoculadas em diferentes plantas hospedeiras, mantidas em microparcelas do Departamento de Fitossanidade da UNESP/FCAV, Campus de Jaboticabal. Os nematóides foram extraídos das amostras de solo pelo método da flotação centrífuga em solução de sacarose (Jenkins, 1964) e inoculados em plantas de algodoeiro cv. Deltapine 61, de tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) cv. Santa Cruz Kada, de caupi (Vigna unguiculata L.) cv. Pitiúba, de mamoeiro (Carica papaya L.) cv. Formosa e de mamona (Ricinus communis L.). TABELA 1 - Identificação, procedências e hospedeiros das populações de Rotylenchulus reniformis utilizadas no estudo 1Lycopersicon esculentum Mill.,2Gossypium hirsutum L., 3Carica papaya L., 4Glycine max (L.) Merril., 5Phaseolus vulgaris L., 6Passiflora edulis Sims., 7Ananas comosus (L.) Merr. Para a inoculação de cada uma das plantas mencio- nadas, mudas foram produzidas em bandejas de poliestireno expandido de 128 células, em casa de vegetação, contendo substrato orgânico autoclavado. Uma muda de cada uma das espécies das plantas mencionadas foi transplantada para unidades de microparcelas, construídas com manilhas de cimento de 1 m de diâmetro e 1,2 m de altura, fincadas 1 m no solo a céu aberto. A cada 15 dias, 2 g da fórmula NPK14- 14-14 do fertilizante Osmocote® foram aplicados em cada Identificação da população Procedência Hospedeiro MP1 Jaboticabal, SP Tomateiro1 MP2 Jaboticabal, SP Tomateiro MP3 Miguelópolis, SP Algodoeiro2 MP4 Jaboticabal, SP Tomateiro MP5 Riolândia, SP Algodoeiro MP6 Jaboticabal, SP Mamoeiro3 MP8 Jaboticabal, SP Mamoeiro MP9 Jaboticabal, SP Mamoeiro MP10 Jaboticabal, SP Mamoeiro MP11 Miguelópolis, SP Algodoeiro MP14 Miguelópolis, SP Algodoeiro/Soja4 MP16 Ituverava, SP Algodoeiro/Soja MP17 Ituverava, SP Algodoeiro/Soja MP18 MP19 Ituverava, SP Ituverava, SP Algodoeiro/Soja Algodoeiro/Soja MP20 MP21 Ituverava, SP Guaíra, SP Algodoeiro/Soja Algodoeiro MP22 Jaboticabal, SP Algodoeiro MP23 Jaboticabal, SP Algodoeiro MP25 Riolândia, SP Algodoeiro MP26 Miguelópolis, SP Algodoeiro MP27 Miguelópolis, SP Algodoeiro MP28 MP29 MP30 MP35 MP37 MP39 MP42 MP43 MP44 MP45 MP47 MP49 MP51 MP52 MP55 MP58 MP62 MP63 MP64 MP65 MP67 MP69 MP70 MPBA MPAX MPTY Rondonópolis, MT Rondonópolis, MT Riolândia, SP Ituverava, SP Ituverava, SP Miguelópolis, SP Meridiano, SP Santa Helena, GO Mira Estrela, SP Santa Helena, GO Santa Helena, GO Itumbiara, GO Santa Helena, GO Santa Helena, GO Santa Helena, GO Santa Helena, GO Santa Helena, GO Itumbiara, GO Santa Helena, GO Santa Helena, GO Ituverava, SP Miguelópolis, SP Guaíra, SP Capela A. Alegre, BA Vitória, ES Borborema, SP Algodoeiro Algodoeiro Algodoeiro Algodoeiro/Soja Algodoeiro Algodoeiro Soja Algodoeiro Algodoeiro Feijoeiro5 Algodoeiro Algodoeiro Algodoeiro Feijoeiro Soja Soja Soja Feijoeiro Algodoeiro Algodoeiro Algodoeiro Algodoeiro Algodoeiro Maracujazeiro6 Abacaxizeiro7 Tomateiro 294 Fitopatol. bras. 28(3), maio - jun 2003 P.L.M. Soares et al. microparcela, que foi irrigada em intervalos regulares de 48 h. Quando algumas das plantas hospedeiras completavam o seu ciclo, uma nova planta da mesma espécie era transplantada para a microparcela correspondente. Estudo morfométrico comparativo de 48 populações de Rotylenchulus spp. ao microscópio óptico composto Após 180 dias da inoculação, juvenis, fêmeas jovens e machos foram recuperados de uma alíquota de 100 cm3 de amostras de solo da rizosfera das plantas (Jenkins, 1964). Fêmeas jovens foram utilizadas na preparação de montagens temporárias para fotomicrografias e mensurações em um sistema de aquisição de imagens, constituído por uma câmara digital SONY Hiper HAD, montada sobre um microscópio trinocular Olympus BX50, acoplado a um computador Pentium 200. Foram medidos o comprimento dos estiletes e a posição da vulva, em percentagem do comprimento total do corpo (V %) de 10 espécimes de cada uma das 48 populações. Os valores mínimo, máximo, a média e o desvio-padrão foram determinados para cada população estudada. A média dos valores do comprimento do estilete e de V (%) de cada população foi submetida à chave dicotômica de Robinson et al. (1997). Coloração in situ de fêmeas de Rotylenchulus reniformis Raízes de algodoeiro e mamoeiro infetadas pelo nematóide foram processadas pela técnica de Byrd et al. (1983). Fêmeas adultas parcialmente imersas ou presas à superfície das raízes foram observadas e fotomicrografadas. Preparo de espécimes para a microscopia eletrônica de varredura Segmentos de raízes infetadas foram fixados em glutaraldeído a 3%, em tampão de fosfato de potássio a 0,05 M e pH 7,4 por 72 h. A seguir, foram lavados seis vezes consecutivas em solução tampão pura, em um intervalo de 15 min e pós-fixados em tetróxido de ósmio a 2%, no mesmo tampão, por cerca de 12 h. Posteriormente, foram novamente lavados como no caso anterior, desidratados em uma série gradual de álcool etílico (30, 50, 70, 80, 90, 95, 100, 100 e 100% por 20 min cada), secos em secador de ponto crítico, utilizando-se de CO2, montados, metalizados com cerca de 35 nm de ouro-paládio, observados e elétromicrografados em microscópio eletrônico de varredura JEOL JSM 5410, operado em 15 kV (Santos & Maia, 1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO Sintomas e sinais de Rotylenchulus reniformis Numa cultura de algodoeiro atacada, na região de Leme, SP, foram documentados os sintomas no campo que se apresentaram em forma de reboleira (Figura 1A), e referidos como “carijó” (Figura 1B) (Passos, 1977). O hábito semi- endoparasita sedentário de R. reniformis (Jatala, 1991; Robinson et al., 1997) está ilustrado em raízes de algodão (Figura 1C e 1D). As fêmeas jovens podem ser vistas comple- tamente imersas nas raízes (Figura 1C), enquanto as fêmeas adultas usualmente são observadas com a parte dilatada do corpo externa à raiz e seus sítios de alimentação no cilindro central (Figura 1D). Em mamoeiro, foram observadas fêmeas adultas completamente externas às raízes, presas apenas pela placa labial. Nesses casos, seus sítios de alimentação situam- se em células corticais (Figura 1E). De fato, Jatala (1991) fez menção a diferenças de comportamento desse nematóide em diferentes plantas hospedeiras. Uma massa de ovos de R. reniformis colorida in situ com fuccina ácida também pode ser observada (Figura 1F). Uma fêmea adulta parcialmente recoberta pela sua massa de ovos foi ilustrada em raiz de mamona (Figura 2A). Ao microscópio eletrônico de varredura, observou-se que a massa de ovos tem o formato esférico e encerra tanto a fêmea quanto os seus ovos. De acordo com Sivakumar & Seshadri (1971), a massa de ovos pode conter de 60 a 200 ovos. Fêmea com massa de ovos parcialmente removida e fêmea com massa de ovos totalmente removida (Figuras 2B e 2C) foram detectadas, possibilitando observar a inserção da região anterior do nematóide nos tecidos da raiz. Uma fêmea adulta, com a região anterior imersa nos tecidos da raiz, exibindo a vulva na região mediana da porção dilatada do corpo também foi eletromicrografada (Figura 2D). Estudo morfométrico de 48 populações de Rotylenchulus reniformis A forma de “C” característica do corpo vermiforme da fêmea jovem de R. reniformis (Figura 3A) e a posição da vulva, em relação à região labial, cuja distância em percen- tagem do comprimento total do corpo é definido como V % (Figura 3A), enquanto outros caracteres morfológicos de interesse taxonômico relevante estão também indicados (Figura 3B). A DGO, definida como a distância entre a abertura da glândula dorsal esofagiana e a base do estilete, separa Rotylenchulus de outros gêneros de tilenquídeos. Os dados relativos às mensurações do comprimento do estilete e do valor de V (%) de dez fêmeas jovens de cada uma das 48 populações estudadas foram anotados (Tabela 2). Esses dados, submetidos à chave proposta por Robinson et al. (1997), indicam que todas as populações estudadas pertencem a R. reniformis. A média geral para o valor de V % foi de 70,8 com amplitude de variação de 55,1 a 84,1. A média para o comprimento do estilete foi de 19,2 µm com amplitude de 11,6 a 27,8 (Tabela 2). O valor da média para V (%), obtido da literatura, é de 71 (67,0 - 81,0) e do comprimento do estilete é de 17,2 µm (15,0 - 21,0), conforme Lehman & Inserra (1990). Conquanto tenha havido diferenças entre os valores máximos e mínimos para essas variáveis, os valores médios estão na faixa aceitável para R. reniformis, mesmo com o valor médio para o comprimento do estilete ligeiramente maior que o valor obtido na literatura, uma vez que, das espécies válidas, apenas R. macrodoratus (Dasgupta et al.) exibe tamanho médio do estilete maior [24,0 µm (22,0 – 26,0)] que R. reniformis (Robinson et al., 1997). A forma da região labial de fêmeas jovens de R. 295Fitopatol. bras. 28(3), maio - jun 2003 Estudo morfométrico comparativo de populações de Rotylenchulus reniformis... reniformis, exibindo armadura cefálica acentuadamente esclerotizada, variou de alta, conóide e contínua com o corpo (Figura 4A) a arredondada (Figura 4B). Os nódulos basais do estilete voltados para trás (Figuras 4A, B e C) constituem um caráter morfológico relevante para a identificação de R. reniformis (Siddiqi, 1972). A abertura da glândula dorsal esofagiana situa-se acerca de um comprimento do estilete, abaixo dos nódulos basais, conforme assinalado (seta) (Figura 4B), e essa distância entre as estruturas, referidas como DGO, separa o gênero de outros tilenquídeos. A região anterior de uma fêmea jovem com o metacorpo e a válvula esclerotizada (seta) também foi ilustrada (Figura 4C). A sobreposição ventral do esôfago sobre o intestino (setas) e a posição da abertura da glândula dorsal (seta) estão assinaladas (Figura 4D). O campo lateral de fêmeas jovens exibe quatro incisuras (Figura 4E) e, freqüentemente, são encontradas fêmeas migradoras com cutículas remanescentes de ecdises anteriores, conforme assinalado em 4F (setas). Caudas afilando-se progres- sivamente com término arredondado (Figura 4G) ou bifurcada (Figura 4H) foram observadas. O fasmídio (seta) em forma de poro (Figura 4I) está localizado na região mediana da cauda. No presente estudo, comprovou-se que R. reniformis é a única espécie do gênero amplamente disseminada no 20 µm 30 µm 100 µm 40 µm FIG. 1 - Sintomas da infecção e hábito de parasitismo de Rotylenchulus reniformis A) Reboleira resultante da infecção de R. reniformis em algodoeiro (Gossypium hirsutum); B) Sintoma “carijó” em plantas atacadas; C) Fotomicrografia de fêmeas jovens de R. reniformis imersas em raiz de algodoeiro; D) Fotomicrografia de uma fêmea adulta de R. reniformis com a região anterior no cilindro central e a porção dilatada do corpo externa à raiz; E) Fotomicrografia de uma fêmea adulta de R. reniformis externa à raiz de mamoeiro (Carica papaya) e F) Fotomicrografia de uma massa de ovos R. reniformis de clorida in situ com fuccina ácida. A B C D E F 296 Fitopatol. bras. 28(3), maio - jun 2003 P.L.M. Soares et al. Brasil. A amplitude de variação de caracteres morfométricos em populações brasileiras desse nematóide, tais como, o comprimento do estilete, V % e forma da cauda, é maior que em populações desse nematóide de outras regiões do mundo (Dasgupta et al., 1968; Lehman & Inserra, 1989). A bifurcação da cauda em fêmeas jovens de R. reniformis ainda não havia sido relatada. A FIG. 2 - Elétromicrografias de varredura de fêmeas de Rotylenchus reniformis. A) Fêmea adulta dentre da massa de ovos; B) Fêmea adulta com a região anterior imersa na raiz; C) Fêmea adulta com a região anterior imersa na raiz; D) Fêmea adulta parcialmente imersa, exibindo a vulva. B C D TABELA 2 - Dados morfométricos de dez fêmeas jovens de cada uma das 48 populações de Rotylenchulus reniformis do Brasil aMédia, bValor mínimo, cValor máximo, dDesvio-padrão Identificação da amostra V % Estilete MP1 71,2a (68,1b-73,6c) ± 1,6d 20,3 (16,9-22,5) ± 1,9 MP2 70,3 (65,4-73,3) ± 2,3 18,0 (16,8-20,0) ± 1,1 MP3 71,7 (62,9-80,3) ± 5,6 20,0 (17,9-23,9) ± 2,1 MP4 70,4 (69,3-72,7) ± 1,2 17,9 (15,8-17,9) ± 0,7 MP5 71,7 (67,0-80,2) ± 4,7 20,7 (17,3-24,9) ± 2,7 MP6 70,7 (69,3-72,7) ± 1,2 17,1 (15,8-17,9) ± 0,7 MP8 72,3 (68,1-82,1) ± 3,9 19,0 (15,8-25,00 ± 2,8 MP9 72,0 (63,7-75,9) ± 3,6 20,6 (18,5-23,8) ± 2,0 MP10 72,4 (70,5-74,1) ± 1,2 16,9 (15,6-17,8) ± 0,8 MP11 71,9 (68,4-78,4) ± 3,4 16,2 (14,4-18,2) ± 1,4 MP14 68,0 (55,1-78,1) ± 7,3 18,3 (14,0-23,0) ± 2,5 MP16 70,4 (66,2-72,1) ± 1,8 16,6 (11,6-20,6) ± 2,6 MP17 71,8 (64,7-74,7) ± 2,8 17,6 (15,6-25,0) ± 2,9 MP18 71,2 (62,3-74,9) ± 3,8 20,6 (15,0-23,8) ± 2,8 MP19 73,2 (66,0-84,1) ± 5,2 17,1 (13,4-19,6) ± 1,6 MP20 71,0 (65,3-75,2) ± 2,7 18,1 (15,2-23,5) ± 2,4 MP21 70,6 (59,9-79,0) ± 5,7 20,4 (17,9-22,5) ± 1,6 MP22 67,3 (56,0-70,4) ± 4,4 20,5 (17,5-23,6) ± 2,0 MP23 71,7 (68,2-76,0) ± 2,8 18,9 (16,6-22,8) ± 2,2 MP25 68,7 (62,7-73,3) ± 3,3 20,5 (16,7-25,0) ± 3,1 MP26 72,0 (61,1-78,4) ± 5,0 21,3 (17,5-24,8) ± 2,8 MP27 69,7 (63,2-73,4) ± 2,8 18,0 (17,0-20,0) ± 1,0 MP28 71,0 (69,0-74,0) ± 1,7 20,7 (16,9-23,8) ± 2,4 MP29 72,3 (67,2-79,5) ± 4,0 21,1 (17,3-25,0) ± 2,5 MP30 72,4 (69,3-75,6) ± 2,6 20,5 (17,3-24,4) ± 2,3 MP35 67,5 (57,9-74,7) ± 5,6 20,1 (15,3-25,0) ± 3,3 MP37 71,8 (67,0-80,6) ± 3,7 20,4 (13,4-25,0) ± 3,3 MP39 73,3 (66,3-83,7) ± 5,7 17,8 (14,0-23,1) ± 2,9 MP42 69,4 (57,0-81,0) ± 8,1 18,7 (13,8-23,8) ± 2,8 MP43 69,0 (58,9-72,8) ± 4,8 17,4 (16,0-18,8) ± 0,9 MP44 71,0 (66,5-75,2) ± 3,1 20,0 (14,1-22,5) ± 2,7 MP45 70,9 (67,4-74,0) ± 2,1 18,8,(17,3-21,9) ± 1,7 MP47 71,1 (68,1-74,6) ± 1,7 18,2 (15,6-21,1) ± 1,7 MP49 70,7 (67,9-75,2) ± 2,3 20,6 (18,6-25,4) ± 2,3 MP51 70,0 (68,7-72,9) ± 1,3 17,2 (15,2-18,7) ± 0,9 MP52 69,1 (64,0-75,7) ± 3,9 20,8 (17,9-23,8) ± 2,2 MP55 70,8 (68,2-77,3) ± 2,8 20,6 (16,9-27,8) ± 3,1 MP58 68,6 (58,7-75,4) ± 5,3 20,6 (15,6-25,0) ± 3,0 MP62 69,8 (66,8-73,5) ± 1,8 20,4 (15,0-23,0) ± 1,8 MP63 72,4 (59,6-80,3) ± 6,5 20,5 (16,3-23,5) ± 2,6 MP64 70,0 (64,0-74,2) ± 3,0 19,9 (16,7-22,9) ± 2,6 MP65 71,9 (68,8-74,4) ± 1,7 17,5 (16,4-18,8) ± 0,7 MP67 71,2 (67,3-73,6) ± 2,1 18,1 (16,9-19,4) ± 1,0 MP69 70,9 (66,0-75,2) ± 3,4 19,5 (16,4-22,5) ± 2,0 MP70 71,0 (63,4-78,5) ± 4,0 17,9 (16,7-18,9) ± 0,8 MPBA 68,9 (59,5-74,0) ± 5,1 21,0 (17,5-25,0) ± 2,7 MPAX 71,1 (66,6-74,8) ± 2,4 19,3 (16,0-23.1) ± 2,2 MPTY 71,0 (68,6-74,6) ± 2,1 19,7 (16,5-23,8) ± 2,4 297Fitopatol. bras. 28(3), maio - jun 2003 Estudo morfométrico comparativo de populações de Rotylenchulus reniformis... 20 µm Vulva Cauda Região labial estriada Estilete Abertura da glândula dorsal esofagiana DGO A B 5 µm 20 µm Vulva Cauda Região labial estriada Estilete Abertura da glândula dorsal esofagiana DGO A B 5 µm FIG. 3 - Fotomicrografias de fêmea vermiforme de Rotylenchulus reniformis. A) Fêmea inteira e B) Região anterior, mostrando estruturas de importância taxonômica. FIG. 4 - Fotomicrografias de fêmeas jovens de Rotylenchulus reniformis A) Região labial cônica. B) Região labial arredondada e abertura da glândula dorsal esofagiana (seta). C) Metacorpo com válvula esclerotizada (seta). D) Sobreposição ventral do esôfago sobre o intestino (setas) e abertura da glândula dorsal esofagiana (seta). E) Campo lateral com quatro incisuras (seta). F) Cutículas remanescentes de duas ecdises anteriores (setas). G e H) Variações na forma da cauda. I) Fasmídio (seta). E 20 µm F 20 µm A 20 µm B 20 µm C 20 µm G 20 µm H 20 µm I 20 µm D 30 µm REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BYRD, D.W.J.R., KIRKPATRICK, J. & BARKER, K.R. An improved technique for clearing and staining plant tissues for detection of nematodes. Journal of Nematology 15:131-147. 1983. DASGUPTA, D.R., RASKI, D.J. & SHER, S.A. A revision of the genus Rotylenchulus Linford & Oliveira, 1949. 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