UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Campus Experimental de Ourinhos Maíra Prestes Margarido CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO ALTO PIRITUBA E ALTO TAQUARI MIRIM: SUBSÍDIOS PARA A CRIAÇÃO DE UMA ÁREA PROTEGIDA NA REGIÃO DE ITAPEVA-SP Ourinhos – SP 2012 I UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “Júlio de Mesquita Filho” Campus Experimental de Ourinhos CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO ALTO PIRITUBA E ALTO TAQUARI MIRIM: SUBSÍDIOS PARA A CRIAÇÃO DE UMA ÁREA PROTEGIDA NA REGIÃO DE ITAPEVA-SP Maíra Prestes Margarido Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora para obtenção do título de Bacharel em Geografia pela UNESP – Campus Experimental de Ourinhos. Orientadora:Profª.Drª. Luciene Cristina Risso Ourinhos – SP Maio/2012 II BANCA EXAMINADORA Profª. Drª Luciene Cristina Risso (Orientadora) Prof. Dr. Edson Luís Piroli Prof. Dr. Rodrigo Lilla Manzione Ourinhos, 22 de maio de 2012. III Agradecimentos Não teria concluído, mesmo com todas as suas limitações, este trabalho sem o auxilio de muitos professores, a instituição, colegas, funcionários, amigos e familiares, os quais agradeço, destacando, entre tantos outros: - a Unesp, Universidade Estadual Paulista, Campus de Ourinhos, aos professores e aos funcionários por proporcionarem um ambiente de conhecimento e enriquecimento pessoal; - a minha orientadora, Professora Luciene, pelo apoio e dedicação durante a elaboração deste trabalho; - ao Alexandre, a Claudiane e ao Professor Piroli, que, com muita paciência, foram de grande valia na elaboração dos mapas; - aos professores Rodrigo e Piroli pela disponibilidade para participar da banca e pelas contribuições para o presente trabalho; - aos colegas Laura, Fernanda, Joice e republica da Sai Loko, que foram sem duvida grandes companheiros durante a faculdade ; - aos meus pais, João e Eliana, pelo apoio constante e por me acompanharem em alguns dos trabalhos de campo realizados durante a execução deste trabalho. IV RESUMO O presente trabalho analisa a possível criação de uma área protegida na região de Itapeva, localizada a sudoeste do Estado de São Paulo, que apresenta aspectos histórico-naturais relevantes. Estão presentes a Formação Furnas e o Grupo Itaiacoca, juntamente com relevantes redutos florestais. A área ainda conta com a presença de sítios arqueológicos. Há tempos que prefeitos e estudiosos destacam intenções de um melhor aproveitamento da área, bem como sua proteção e nos últimos anos, com o crescimento do ecoturismo, a ideia surgiu com mais força. Desta forma, este TCC aborda as recomendações para a criação de áreas protegidas, com destaque às Unidades de Conservação, procurando identificar de modo integrado os principais atributos que motivariam a proteção do local. Para isso, foram feitos levantamento bibliográfico sobre Unidades de Conservação e sobre as características físicas e culturais da região de estudo, mapa de uso da terra, mapa hidrográfico, entrevistas e trabalhos de campo, procedimentos estes que subsidiaram a discussão sobre criação de uma unidade de conservação na região. Conclui-se que existe a necessidade da criação de uma área protegida, respeitando a heterogeneidade de ecossistemas, importância biológica, grande numero de nascentes e os sítios arqueológicos da região como um todo. Palavras-chave: Cânion do Itanguá; Cânion Pirituba; Unidades de Conservação; Planejamento Ambiental. Abstract This work analyze the possibility of creating a protected area in the region of Itapeva, located in the southwest of São Paulo State, which has relevant historical and natural aspects. Furnas Formation and the Itaiacoca Group are present, as well as relevant forest redoubts. The area also presence archaeological sites. Mayors and scholars have highlighted intentions for a better exploitation of the area, as well as their protection and in recent years with the growth of ecotourism, those intentions have hit harder. Thus, this work addresses recommendations for the creation of protect areas emphasizing the Protection Units, identifying in an integrated manner, the main attributes that motivate the protection of the site. Thus, literature research has been made about Protection Units on the studied region about the culture, physical area, map of land use, hydrological map, interviews and field work, these procedures that supported the discussion on the creation of unit conservation in the region. We conclude that there are a need to create a protected area, respecting the diversity of ecosystems, biological importance, a large number of springs and archeological sites of the region of whole. Keywords: Canyon Itanguá, Canyon Pirituba, Conservation Units, Environmental Planning. V SUMÁRIO I INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 8 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 9 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................................................................................... 9 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................................................ 9 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 10 1. A ÁREA DE ESTUDO ..................................................................................................... 10 1.1HISTÓRICO DE ITAPEVA....................................................................................................................................... 10 1.2 USO E OCUPAÇÃO DA TERRA EM ITAPEVA .............................................................................................................. 13 1.3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................................. 15 1.4 CLIMA ............................................................................................................................................................ 18 1.5 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ........................................................................................................................... 18 1.6 VEGETAÇÃO .................................................................................................................................................... 22 1.7 SOLO ............................................................................................................................................................. 24 1.8 HIDROGRAFIA .................................................................................................................................................. 24 1.9 IMPACTOS AMBIENTAIS ENCONTRADOS NA REGIÃO ................................................................................................. 25 1.10 LEVANTAMENTO DAS CATEGORIAS DE ÁREAS PROTEGIDAS JÁ PROPOSTAS PARA A REGIÃO DE ESTUDO .............................. 27 2. PAISAGENS, VALORES E SIGNIFICADOS ................................................................... 31 3. AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ............................................................................. 33 3.1 BREVE HISTÓRICO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ............................................................................................... 33 3.2 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL VIGENTE ........................................................................................................................ 35 3.3 CRIAÇÃO E DELIMITAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ....................................................................................... 36 3.4 ZONEAMENTO AMBIENTAL ................................................................................................................................. 42 3.5 PLANO DE MANEJO E GESTÃO DE ÁREAS PROTEGIDAS ............................................................................................. 43 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................................ 45 ENTREVISTAS E TRABALHOS DE CAMPO ............................................................................................................ 45 DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .................................................................................................................. 45 LEVANTAMENTO CARTOGRÁFICO ..................................................................................................................... 46 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 48 6.CONCLUSÕES ................................................................................................................ 63 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 65 ANEXOS ................................................................................................................................ I VI Índice de Quadros Quadro 1: Exemplos de problemas na delimitação de APAs no Estado de São Paulo...... 37 Quadro 2: Classes de Declividade ...................................................................................... 52 Quadro 3: Prós e contras das categorias de proteção para a área de estudo.................... 59 Índice de Figuras Figura 1: Mapa de localização da área de estudo no Estado de São Paulo......................... 10 Figura 2: O escarpamento estrutural Furnas na região S-SE do Brasil................................ 20 Figura 3: Mapa Geológico da região..................................................................................... 22 Figura 4: Princípios de planejamento de áreas protegidas................................................... 41 Figura 5: Esquema de Reserva que inclui a integração homem-natureza............................ 43 Figura 7: Mapa de localização da bacia do Alto Pirituba e Alto Taquari-Mirim..................... 50 Figura 8: Abrigo Itapeva........................................................................................................ 53 Figura 9: Vista de parte das pinturas no Abrigo Itapeva........................................................ 54 Figura 10: Cachoeiras........................................................................................................... 54 Figura 11: Mapa de Classes de Declividade......................................................................... 53 Figura 12: Mapa de Uso da Terra da Bacia Alto Pirituba e Alto Taquari Mirim..................... 55 Figura 13: Uso e ocupação na área de estudo e o relevo em Bom Sucesso de Itararé....... 56 Figura 14: As escarpas em Bom Sucesso de Itararé e a ocupação da terra........................ 57 Figura 15: Mineradoras de calcário no município de Nova Campina.................................... 57 Figura 16: Cânion do Itanguá, Itapeva................................................................................. 58 Figura 17: Cânion Pirituba ................................................................................................... 58 Lista de siglas VII APA: Área de Proteção Ambiental CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente EE: Estação Ecológica EEx: Estação Experimental FF: Fundação Florestal FE: Floresta Estadual FN: Floresta Nacional GPS: Global Positioning System IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais MMA: Ministério do Meio Ambiente PE: Parque Estadual PNMA: Política Nacional do Meio Ambiente PNRH: Plano Nacional de Recursos Hídricos RDS: Reservas de Desenvolvimento Sustentável RE: Reservas Extrativistas RPPN: Reservas Particulares do Patrimônio Natural SIG: Sistema de Informações Geográficas SRTM: Shuttle Radar Topography Mission SMA: Secretaria do Meio Ambiente SNUC: Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza TCC: Trabalho de Conclusão de Curso UC: Unidade de Conservação 8 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA O marco das preocupações do homem moderno com o meio ambiente, envolvendo questões sociais, políticas, ecológicas e econômicas com o uso racional dos recursos deu-se em 1968, com o Clube de Roma. Já nos anos 70 e inicio dos anos 80, a conservação e a preservação dos recursos naturais e o papel do homem integrado no meio passaram a ter função muito importante na discussão da qualidade de vida da população. (SANTOS; 2004). Segundo Cunha e Guerra (2004) é reconhecido que o crescimento e desenvolvimento econômico alteram os sistemas naturais, embora não se possa por em risco os sistemas naturais mais importantes como atmosfera, água, solos e seres vivos, sendo que o desafio atual constitui colocar em práticas o desenvolvimento sustentável. É neste contexto que o planejamento ambiental ganha força, a medida que, segundo Santos (2004), pode ser visto como o estudo que visa adequação do uso, controle, e proteção ao ambiente, mas também esta ligado ao atendimento das aspirações sociais e governamentais expressas ou não em uma política ambiental. Atualmente a linha mestra da política ambiental no Brasil é vista a partir dos anos 1930 com a constituição do Código das Águas, do Código Florestal e da Lei de Proteção a Fauna (SANTOS; 2004). Estas leis deram base ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (LEI nº 9.985 de 2000), e buscam o ordenamento da ocupação da terra, levando em consideração as características naturais mínimas a serem preservadas para manter a qualidade do meio ambiente. Desta forma, a legislação ambiental se difere dos demais setores do direito, por tratar de interesses coletivos, e não individuais, partindo do principio que a proteção do ambiente se trata de um bem da comunidade (DIOS; MARÇAL; 2009). Um dos instrumentos para estudos de planejamento ambiental são as unidades de conservação, à medida que são espaços que buscam resguardar áreas significativas dos ecossistemas, preservar solo, água, vegetação e fauna, podendo ocupar desde pequenas a grandes extensões de terra e são fundamentais para a preservação da natureza no Brasil. No entanto, a integridade das áreas protegidas e a sua efetividade em cumprir as funções delas esperadas têm sido colocadas em risco pelas atividades econômicas, pelo uso inadequado dos recursos naturais (VITALLI; ZAKIA; DURIGAN; 2009), mas também pela delimitação inadequada das áreas protegidas, falta de fiscalização e de recursos, conflitos de interesses e problemas quanto à adequação das diversas categorias de unidades de conservação frente às características do local (SILVA; 2006; MORSELLO, 2001). 9 É de suma importância que áreas protegidas sejam criadas e delimitadas segundo conceitos e legislação pertinente para que sejam efetivas no que se propõem. Além disso, é necessário o conhecimento aprofundado da região em que se pretende instituir uma categoria de proteção para reconhecer e englobar o maior número de atributos que necessitam de cuidados, para que seja escolhida, dentre tantas categorias de áreas protegidas, a que mais se adéqua as características da região. É preciso atentar-se aos verdadeiros interesses da criação de uma área de proteção. Este trabalho insere-se nesta temática de áreas protegidas, visto que a região, principalmente Itapeva, vem apresentando propostas de criação de uma área protegida e que alguns de seus atributos, como os sítios arqueológicos, estão se deteriorando e necessitam de mecanismos de proteção urgente. É preciso destacar que muitos municípios apresentam características peculiares que devem ser analisadas conjuntamente para que seja então, escolhida a categoria mais adequada, buscando a efetiva proteção dos atributos naturais e históricos dos municípios envolvidos. Deste modo, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) aborda a viabilidade da criação de uma área de proteção, fazendo uma análise de algumas das características físicas e culturais da área de estudo que motivaram as propostas de proteção para a área e analisa o perfil de ocupação da região frente às categorias de proteção existentes. Objetivos Objetivos Gerais A partir das considerações supracitadas, o objetivo geral deste TCC é analisar as características físicas e culturais na região dos Cânions Itanguá e Pirituba, bem como o uso e ocupação da terra, intentando-se motivar a criação de mecanismos de proteção, adequados às recomendações legais, buscando fornecer subsídios para a tomada de decisão quanto ao futuro da área. Objetivos Específicos - Elaborar um mapa de uso da terra, um mapa de declive e um mapa hidrográfico para fundamentar a discussão acerca do planejamento da área principal dos cânions em Itapeva, diagnosticando os usos e impactos e as potencialidades da região. 10 - Discutir a viabilidade da criação de uma área protegida, abordando as categorias que parecem ser mais adequadas de acordo com as características fundamentais da região. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1. A ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está inserida na Bacia do Alto Paranapanema, no sudoeste do Estado de São Paulo, e engloba parte dos municípios de Itapeva, Nova Campina e Ribeirão Branco, Bom Sucesso de Itararé e Apiaí. O acesso à região, partindo da cidade de São Paulo, pode ser feito pela rodovia Raposo Tavares, SP 270, até a cidade de Itapetininga, seguindo então pela Rodovia Francisco Alves Negrão, SP 258, sentido Capão Bonito, até Itapeva. Figura 1: Mapa de localização da área de estudo no Estado de São Paulo. 1.1Histórico de Itapeva Antes de 1500, segundo Genésio de Moura Müzel, historiador local, a área fazia parte de uma antiga rota indígena denominada Peabiru, via que cortava o sudoeste paulista desde o litoral, com varias ramificações pelo interior, inclusive pelo Paraná, até chegar a Assunção no Paraguai e nas minas em Potosi no Peru. No entanto em 1653, essa rota foi fechada por ordem de Tomé de Souza, por medo de uma invasão espanhola. 11 Em 1715, o capitão-mor Joseph de Góes Morais recebe uma carta de terras, ou sesmarias, que lhe dava poderes sobre a área, dando origem à Paragem de Itapeva da Faxina, estimulando o estabelecimento dos primeiros núcleos urbanos. Essa região servia de paragem para os vendedores de muares que iam de Sorocaba até o Sul do país. Em 1765 a rainha de Portugal, Dª Maria I ordenou a fundação de varias vilas na região, e nomeou para tal função Antonio Furquim de Xavier Pedroso. No entanto o capitão Antonio Furquim fundou a Vila de Itapeva em um sítio escolhido pelo mesmo, e não exatamente na Paragem de Itapeva. Esse ato deu origem a conflitos entre o capitão e os proprietários de terra na região, mas em 1769, se deu o Auto de fundação para a Vila de Itapeva (MUZEL1, 1992). O governador estipulou prazos para serem construídas as obras públicas necessárias, sob pena de mudança da Vila. Esses prazos não foram cumpridos e a Vila da Faxina foi transferida para a Paragem de Itapeva. Então, em 1785 a Paragem de Itapeva da Faxina passa a ser chamada oficialmente de Vila de Itapeva da Faxina2. O estabelecimento da vila e a consequente exploração da área foram marcados, em toda a região, pela exploração das matas. A forma ofensiva do Estado colonial na invasão das matas deu origem a conflitos, escravização e extermínio da população indígena, entre eles os Kaigangs. Essa guerra se estendeu até por volta de 1830. Foi a partir desses mecanismos de ocupação, juntamente com o Estado que ocorreram os primeiros processos de modificação das terras virgens do local. Esse processo se deu principalmente pelas mãos dos índios e pelos caboclos que se dirigiam à área em busca de oportunidades, mas que, no entanto, produziram um cenário pobre economicamente. Segundo Correa (1997) o caminho que ligava a capitania de São Paulo ao sul da colônia foi aberto em 1728. Foi a partir desse momento que, com a atividade de invernada de muares no sudeste paulista, a ocupação permanente se deu, principalmente ao longo das estradas. Importantes comerciantes de tropas na primeira metade do século XIX, como o Barão de Antonina e Barão de Iguape, utilizavam as fazendas em Itapeva da Faxina e Itapetininga como local de invernada. A atividade tropeirista viabilizou a instalação de pequenas vilas e o cultivo de uma agricultura de subsistência. A ocupação na região ocorreu durante todo o século XVIII, completando-se na primeira metade do século XIX. Os animais que passavam pela região se destinavam ao consumo nas áreas mineradoras em São 1 Documento disponível em: http://www.ihggi.org.br/pag.php?pag=historia1 2 Uma das interpretações possíveis ao nome Itapeva da Faxina esta, segundo Almeida (1902) apud Araujo (2006) ligada à língua tupi: yta-pé-bae-chaci-na, morro chato e enrugado. 12 Paulo e no Rio de Janeiro. O tropeirismo só entrou em decadência no final do século XIX, com o crescimento das ferrovias, especialmente com a Estrada de Ferro Sorocabana. As fazendas de invernada eram guardadas por agregados que produziam uma agricultura de subsistência, e completavam sua alimentação com a coleta na mata. Era portanto uma economia dependente da mata. Após a metade do século XIX houve maior desenvolvimento da agricultura voltada para o mercado, diminuindo aquela voltada para a subsistência. As culturas de trigo, fumo e principalmente algodão foram as que mais se desenvolveram. Segundo August de Saint-Hilaire, cientista francês, que passou pelas matas de Itapeva por volta de 1820, o distrito de Itapeva se estendia desde o Rio Paranapanema até o Rio Itararé. Saint-Hillaire destaca a pobreza da região, descrevendo Itapeva com no máximo 30 casas, sendo que a maioria estava em péssimo estado. Essas casas formavam três agrupamentos, sendo o principal construído no alto da colina, junto com a capela dedicada a Santana. Destaca também que todas as estradas no entorno de Itapeva já eram privadas em 1826, com a possibilidade de se comunicar com o litoral. Em 1820, não contava ele (o município) com mais de 2.000 habitantes, e era administrado por juízes ordinários. O número de escravos nele existentes era pouco considerável, não só porque seus habitantes eram muito pobres, mas também porque a criação de gado, de que se ocupam habitualmente, pouco trabalho exige. Itapeva fornece grande quantidade de gado bovino à cidade do Rio de Janeiro; mas parece que a maior parte das fazendas da região, as quais, de resto, são em pequeno numero, pertencem a homens ricos, que nas mesmas não residem, e que, contrariamente aos fazendeiros de Minas Gerais, dispendem suas rendas alhures (1820). Resulta disso que a região é, como se viu, muito pobre; e se na mesma circula algum dinheiro, deve-se, principalmente as caravanas vindas do sul. (SANT-HILAIRE, p. 294). Em 1893 a Vila de Itapeva da Faxina foi elevada a município. Não houve modificação significante na estrutura fundiária na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. As transformações foram adequações dos invernadores à posição de criadores de bovinos. Quanto à agricultura, o algodão foi mais expressivo na tentativa do município de se integrar no mercado externo. Milho e suínos ocupavam a região, predominantes nas zonas desmatadas, até 1930. O ciclo dos minérios, iniciado a partir dos anos 1940, teve grande influencia até aproximadamente os anos 90. O ciclo de trigo inicia-se nos anos 50 e foi marcada pela mecanização da agricultura. O ciclo do reflorestamento (pinus e eucalipto), incentivado principalmente pelo governo ditatorial nos anos 60, tem grande destaque na região até hoje. 13 Em 1991, o município de Nova Campina foi desmembrado de Itapeva (Lei nº 7.664). 1.2 Uso e ocupação da terra em Itapeva Sabe-se que foi a partir da atividade de invernada de muares que se iniciou o processo de ocupação sedentária no interior de São Paulo, e se deu ao longo de todo o século XVIII. A população que se espalhava ao longo dessas estradas dedicava-se a uma agricultura de mantimentos com o excedente vendido aos tropeiros e viajantes (CORREA, 1997, p.78). Os homens donos das terras gastavam seus lucros fora dali, fato que explicava a pobreza da região. Essas fazendas eram guardadas por agregados, que se caracterizavam por produzirem uma modesta agricultura e serem dependentes da mata, na caça e coleta de palmitos, gabiroba, entre outros. A grande propriedade criatória, pouco demandava trabalhadores, as propriedades que criavam gado e plantavam gêneros, utilizavam a mão de obra familiar. Segundo Correa (1997) até 1836 a região era muito marcada pela criação de gado e foi somente na década de 1870 que a agricultura se destacou. O crescimento demográfico em Itapeva foi significativo nessa época, ocasionando a consequente ocupação das matas na primeira metade do século XIX. No entanto, Correa (op.cit) aponta que esse crescimento demográfico embora contínuo, estava abaixo da média da província e do estado ao longo da segunda metade do século XIX e início do XX. Como explicação ao fato, a autora destaca o fato de que a dinâmica de ocupação da região não foi igual às zonas cafeeiras, e consequentemente, o desenvolvimento não foi o mesmo, já que o café plantado na região era restrito ao consumo interno, pois uma plantação intensiva era inviável devido principalmente ao clima da região. Foi somente após a metade do século XIX que a agricultura começou a ter destaque em Itapeva, principalmente com a cultura do algodão. O algodão, que foi em grande parte exportado, encontrou nas indústrias de óleos e tecelagem um consumidor interno, promovendo a continuidade da lavoura de algodão na região. Segundo Souza (1915) apud Correa (1997), entre as cidades que essas indústrias se instalaram está Sorocaba, Itapeva e São Paulo. Em 1876, o município teve uma significativa produção de cana-de-açúcar, algodão e cereais, alem da criação de gado. Essa configuração de uso da terra permanece até o inicio do século XX. 14 Desde a segunda metade do século XIX, com a construção das ferrovias, o comércio de muares entrou em decadência, sendo que Itapeva e Itararé fizeram parte da rota da estrada de ferro Sorocabana. As ferrovias viabilizaram o desenvolvimento de uma agricultura de exportação, devido à maior facilidade de se alcançar o litoral. Apesar disso, o ar de pobreza destacado pelos viajantes que passavam pela região permanecia, os proprietários de terra ocupavam a área apenas para produzir, não investiam seus lucros no local. Correa (1997) aponta que a produção de algodão se destacava em Itapeva, mas era muito pequena se comparada à produção de outras localidades, como Itapetininga. A criação de bovinos agora existente, já que antes os animais apenas invernavam em Itapeva e Itararé, foi reflexo da concentração fundiária existente, com predomínio de grandes fazendas. A descoberta de jazidas minerais por volta de 1940 propiciou a cidade um novo ciclo econômico, o da mineração. No início dos anos 50, empresas como a Votorantin (cal), a Cia. De Cimento Maringá, Cobrasi (cobre), além da Lafarge, entre outras se instalaram no município (CAVANI, 2006, p. 75). Por volta de 1950, segundo Pires (1957) apud Cavani (2006), destacavam-se propriedades dedicadas a policultura (milho, batata, arroz, tomate) e à pecuária, se contabilizado, bovinos, equinos e suínos, o município contava com um rebanho de cerca de 65 mil cabeças. A indústria se ampliava, destacando-se os ramos da transformação de minerais não metálicos, alimentos, madeira, extração de produtos vegetais e artefatos de tecido. Entre as décadas de 60 e 70, o Estado promove um estímulo ao desenvolvimento, fazendo com que a cultura do reflorestamento na região se ampliasse. A região se destacou nesse cultivo, atraindo empresas de beneficiamento da celulose, como o Grupo Orsa S/A. O setor industrial da cidade se voltou às atividades voltadas à extração de beneficiamento de minerais (principalmente calcário e filito) e à extração e beneficiamento da madeira. Essas duas atividades correspondem hoje a aproximadamente 70% da atividade econômica do município. Quanto ao setor agrícola houve a expansão de produtos como feijão, milho e o trigo, e mais recentemente a soja. Apesar disso, agropecuária também tem grande destaque na região, fato esse relacionado à extensão territorial de Itapeva - a segunda maior entre os municípios do Estado de São Paulo. O setor terciário é atualmente o mais importante da arrecadação municipal, já que a cidade passou a se configurar num importante centro comercial, educacional e na saúde, frente aos municípios de entorno (CAVANI, 2006, p. 97). 15 1.3 Caracterização da área de estudo A área de estudo, como já foi especificado, engloba parte de cinco municípios Itapeva, Nova Campina, Ribeirão Branco, Bom Sucesso de Itararé e Apiaí, todos no Estado de São Paulo, e foi delimitada baseando-se em dois rios importantes, o Pirituba e o Taquari- Mirim, divisores de águas dos cânions na região. A partir desta constatação, foi delimitada uma bacia, denominada bacia Alto Rio Pirituba e Alto Taquari Mirim, sendo esta a unidade física básica deste trabalho. Em termos populacionais, Itapeva tem aproximadamente 87.700 habitantes, Bom Sucesso de Itararé 3.500, Nova Campina 8.500, Apiaí 25.200 e Ribeirão Branco 18.200 habitantes, segundo dados do IBGE de 2010. A bacia engloba parte relevante dos Cânions Itanguá e Pirituba, que apresentam características físicas e culturais que motivaram a elaboração do presente trabalho. A área faz parte da zona de Escarpamento Furnas, que engloba quatro feições geomorfológicas principais: face, sopé, reverso e frente, que são as feições mais marcantes observadas na região. A face é definida por um paredão rochoso abrupto vertical, com até 120 metros de altura. O sopé apresenta vertentes com inclinação entre 25º e 40º, são formadas por rampas e depósitos de tálus. As rampas seriam remanescentes de climas áridos e semi-áridos durante o Terciário. Os tálus são depósitos quartenários originados em condições mais úmidas, subtropicais. Já o reverso do escarpamento é representado por uma superfície de topografia suavemente colinosa, entalhadas por rios que formam canhões. A frente do escarpamento é formado por relevos residuais, os morros testemunhos e pináculos, constituídos por arenitos silicificados e pouco fraturados, e produzem formas bizarras (SOUZA; SOUZA, 2000). O cânion do Itanguá constitui Patrimônio Ecológico da Cidade, segundo Lei Orgânica do Município de Itapeva (2008). Existem diversas cachoeiras nos Cânions. As mais conhecidas estão no Cânion Pirituba, são: a cachoeira do Palmito Mole, a cachoeira do Meio e a das piscinas. Todas elas são pontos atualmente utilizados pelo ecoturismo, já que possuem grande beleza e são passíveis de atividades recreativas. A cachoeira Palmito Mole possui cerca de 30 metros de altura. A cachoeira do Meio e a das piscinas formam uma sequencia de quedas. Quanto à formação vegetal original, é predominantemente composta por Mata Atlântica, Cerrado e em menor área pela Mata de Araucária e campos nativos, incluindo campos rupestres. Entre as características histórico-culturais da área, estão os sítios arqueológicos3. Segundo o FUMDHAM (Fundação Museu do Homem Americano), “sítio 3 Segundo o Art. 2º da Lei Federal n° 3.924 de 1961, consideram-se monumentos arqueológicos ou pré-históricos: a) as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos da cultura dos paleoameríndios do Brasil, 16 arqueológico é um local no qual os homens que viveram antes do início de nossa civilização deixaram algum vestígio de suas atividades: uma ferramenta de pedra lascada, uma fogueira na qual assaram sua comida, uma pintura, uma sepultura, a simples marca de seus passos”. Entre os mais conhecidos esta o Abrigo Itapeva, que está inserido em um paredão com pouco mais de 20 metros de altura, inclinado para frente, servindo como refúgio de sol e chuva. Segundo Araujo (2006) o solo apresenta material lítico lascado em abundância, além de fragmentos de cerâmica lisa e fina, de cor castanho-escuro a negra, atribuível à tradição Itararé-Taquara (ARAUJO, 2001). Ainda é possível encontrar fragmentos de cerâmica e material lítico com cerca facilidade. O Abrigo Itapeva é descrito por Aytai: As inscrições cobrem a parede em 20 ms de comprimento e até 3 ms de altura, mais ou menos, sendo a concentração das figuras muito maior na região central. À primeira vista distinguimos dois tipos de inscrição: a) Sulcos de profundidade e larguras diferentes, i.e,litóglifos (classificação de E.Thurn), parcialmente pintados em diferentes cores. b) Simples desenhos em cor vermelha, na superfície natural da rocha, ou petrografias. O primeiro tipo de inscrições é dominante na rocha, havendo só poucos desenhos superficiais, sem sulcos (AYTAI, 1930, p.31 apud ARAUJO, 2006, p.11). Os símbolos são pintados principalmente nas cores vermelho e preto. Segundo Prous (1989) apud Araujo (2006), as gravações do Abrigo Itapeva referem-se à Tradição Geométrica, exceto o desenho de um cervídeo, esta classificada como Tradição Planalto. Segundo o mesmo autor, nas proximidades do município de Itapeva, na divisa com o município de Bom Sucesso de Itararé, há relatos da existência de casas subterrâneas (PROUS, 1979, p.17 apud ARAUJO, 2006). Segundo Azevedo (2004) apud Araujo (2006), o município de Itapeva foi uma área de contato entre as culturas Kaingang e Tupi, sendo que a fronteira entre as duas culturas se estabeleceu na altura da cidade de Itapeva. Ao sul e a leste, correspondente as zonas de serras, teria predominado a cultura kaingang; ao norte e oeste as aldeias de língua tupi. O arenito onde estão inseridos os desenhos esta altamente friável devido a alterações bioquímicas, já que esta exposto ao sol e chuva. A chuva, apesar de não cair diretamente sobre as pinturas, escorre pelo paredão, formando manchas devido ao carreamento de matéria orgânica do solo acima da formação. tais como sambaquis, montes artificiais ou tesos, poços sepulcrais, jazigos aterrados, estearias e quaisquer outras não especificadas aqui, mas de significado idêntico, a juízo da autoridade competente; b) os sítios nos quais se encontram vestígios positivos de ocupação pelos paleoameríndios, tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha; c) os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, estações e cerâmicas nos quais se encontram vestígios humanos de interesse arqueológico ou paleoetnográfico; d) as inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimento de utensílios e outros vestígios de atividade de paleoameríndios. 17 De forma geral, o Cânion como um todo apresenta fendas (possíveis abrigos) ainda não exploradas por pesquisadores. No entanto, existem alguns relatos de moradores da região, funcionários da Estação Ecológica, que apontam outros desenhos e assim possíveis novos sítios arqueológicos. A proximidade com o rio Taquari Guaçú, o maior rio num raio de aproximadamente 20km, com diversas pequenas cachoeiras, poços, depósitos de argila e lagoas periféricas ao longo do rio, torna o local interessante para a exploração da pesca e retirada de argila. Aliados a dezenas de abrigos ainda não explorados no Canhão são os geoindicadores presentes [...] nos taludes do Canhão Itanguá existem abrigos com características e tamanhos variáveis que podem ter sido utilizados no passado, por grupos humanos. As frestas nos paredões formam dezenas de abrigos (ARAUJO, 2006, p.49-51). O Abrigo Itapeva está inserido dentro dos limites da Fazenda Água Limpa, onde também é possível encontrar figuras no chão, num mirante, formando uma paisagem singular, já que no mesmo local encontramos uma pequena área de campo rupestre. Os possíveis desenhos indígenas estão inscritos de forma convexa no chão, na forma de sulcos, no entanto são de características diferentes das do Abrigo. A respeito dos desenhos, ainda não existe estudo publicado específico e também ainda não há comprovação de que realmente se trate de desenhos rupestres. Essa dúvida vem do fato de apresentarem características bem diferentes das do Abrigo Itapeva, sendo que se localizam relativamente próximos. Além disso, parte das ‘figuras’ estão encobertas por gramíneas, cactos e bromélias, o que dificulta uma melhor observação. De qualquer forma essa área foi cercada a fim de protegê-la do pisoteio do gado. Esta área é chamada de Sítio Tunga (ARAUJO, 2001). O Abrigo Pouso Alto e Borda, segundo Araujo (2006) possui gravuras em baixo relevo, com cultura material lítica e cerâmica kaingang. Apresenta características semelhantes ao Abrigo Itapeva e esta em péssimo estado de conservação, já que foi a pouco tempo conhecido, e segundo o autor (op. cit) foi construído uma estrada no terraço na frente do abrigo. A gravura rupestre histórica trata de um letreiro escrito provavelmente em Francês antigo. Além disso “do alto da borda se tem uma bela visão da paisagem do Cânion do Itanguá, de onde se pode observar abrigos sob rocha em diversos pontos”(ARAUJO, 2006). Existem muitos outros sítios arqueológicos na região de Itapeva, mas optou-se por descrever rapidamente os sítios acima referidos, por estarem localizados dentro do perímetro da bacia utilizada como base para o presente trabalho. 18 Segundo Kamase (2004, p.37), Astolfo Araujo (1995, 2001) identificou na Bacia do Alto Taquari, correspondente às cidades de Itapeva, Nova Campina e Bom Sucesso de Itararé, “cerca de 98 sítios, dos quais 52 líticos, 45 cerâmicos (39 Itararé, 6 Tupiguarani), 1 sítio com montículos, 4 casas subterrâneas4 com medidas em torno de 7 m de diâmetro e 1,50 m de profundidade”. 1.4 Clima Segundo a classificação de Köppen, Itapeva e Apiaí estão inseridos no clima do tipo Cfb, mesotémico úmido sem estação seca com verão brando. Nova Campina apresenta classificação Cfa, com verão quente, sem estação seca de inverno, onde a temperatura média do mês mais frio está entre 18°C e -3°C, Ribeirão Branco clima Cwa, caracterizado pelo clima tropical de altitude, com chuvas no verão e seca no inverno, com a temperatura média do mês mais quente superior a 22° e Bom Sucesso de Itararé com clima do tipo Cwb, considerado um clima característico de áreas serranas, com o verão ameno, onde a temperatura média do mês mais quente é inferior a 22°C e durante pelo menos quatro meses é superior a 10 °C (Cepagri, 2012). 1.5 Geologia e Geomorfologia Segundo Ross (2006) o território brasileiro é formado por estruturas geológicas antigas, com exceção do pantanal mato-grossense, a bacia Amazônica ocidental e trechos do litoral que são do Cenozóico. A maior parte do território tem idade geológica que vão do Paleozóico ao Mesozóico, para as grandes bacias, e ao Pré-Cambriano, para terrenos cristalinos. A região de estudo do presente trabalho está inserida na transição do Planalto e Serras do Atlântico leste-sudeste e a Depressão Periférica da borda leste da bacia do Paraná. O Planalto tem sua gênese e vincula-se a vários ciclos de dobramentos, acompanhados de metamorfismo regional, falhamentos e intrusões. A Depressão foi formada no período paleomesozóico, apresenta formas diversas e o relevo é caracterizado por amplas colinas de topos convexos, com variados tipos de solos (ROSS, 2006, p.79). Itapeva por estar na transição entre o Planalto e a Depressão, fica encaixada na Zona do Paranapanema (Depressão) e o Planalto de Guapiara. A Zona do Paranapanema, dentro da Depressão Periférica, segundo Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo (1981), apresenta relevo de colinas paralelas e morros alongados, com exposição de camadas 4 O termo casa subterrânea tem sido utilizado na Arqueologia brasileira para designar sítios arqueológicos contendo depressões circulares ou esféricas abertas no solo utilizados para múltiplas funções, e não somente para habitação.(KAMASE, 2004, p.16). 19 devonianas (Formação Furnas) e carboníferas (Grupo Tubarão), com drenagem de padrão paralelo. O Planalto de Guapiara, onde esta inserida a maior extensão da área de estudo deste trabalho, é representado por serras alongadas e morros com serras restritas, que configuram o teto do planalto (superfície de Itanguá), que perde altura em direção à Depressão Periférica. O limite entre a Depressão Periférica e o Planalto nessa região é bem caracterizado pelas escarpas devonianas. Entre Apiaí e Ribeirão Branco é observada a superfície do Japi, com característicos espigões graníticos, com altitudes acima dos 1000 metros. Ao sul da área de estudo encontra-se a Serra de Paranapiacaba, divisa entre a Província Costeira e o Planalto Atlântico. Segundo Petri e Fúlvaro (1988) no município de Itapeva podemos encontrar dois tipos geológicos principais: Grupo Tubarão, Formação Itararé e a Formação Furnas. O Grupo Tubarão constitui parte da Bacia do Paraná formada no período neopaleozóico. É constituído por associações diferentes de rochas, com litologias essencialmente clástica: arenitos, siltitos, argilitos, ritmitos, diamictitos e conglomerados com varias sucessões, tanto lateralmente e verticalmente. Folhelhos carbonosos e carvões ocorrem em áreas isoladas. A Formação Itararé constitui-se basicamente por arenitos de coloração clara, com granulometria variada, e atinge espessura que pode chegar a 1.300 metros no Estado de São Paulo. Essa formação corresponde a ambientes que no passado (cerca de 15 milhões de anos) foram cobertos por mar e/ou sofreram influencia glacial (PETRI; FÚLVARO, 1988, p.118-120). Essa formação ocorre em grandes boa parte da área de estudo. Correspondem ao período carbonífero, as formações rochosas formadas por arenito fluvio-glacial encontradas na região de estudo, que se assemelham às encontradas em no Parque Estadual Vila Velha, no Paraná. A Formação Furnas aflora nos Estados do Paraná e São Paulo, margem sul- oriental da Bacia do Paraná, formando um crescente que se inicia no vale do Rio Iguaçu, perto de Campo Largo, no Paraná, e daí dirigindo-se para nordeste, até as proximidades de Itapeva, no Estado de São Paulo. O arenito pode formar canhões, com solos pouco espessos (PETRI; FÚLVARO, 1988, p.76). Segundo G. Souza; P. Souza (2000) constitui um sítio geomorfológico raro no Brasil, e se estende por cerca de 260 km entre os Estados de São Paulo e Paraná e apresentam altitudes medias em torno de 1.100-1.200 metros. Fornece importantes informações paleoambientais sobre a sua evolução. O seu desenvolvimento esta associado à ruptura de Gondwana (Jurássico) e a climas áridos e quentes ocorridos durante o Cretáceo superior e o Terciário. A Formação Furnas é constituída por arenitos esbranquiçados de granulação grossa a média, mal a moderadamente selecionados, intercalados com camadas e lentes de arenitos médios e finos, níveis de cascalheira e conglomerados, alem de níveis mais sílticos com bolsões, 20 pelotas e ate pequenas lentes de argila branca. Quartzo, feldspatos e muscovitas são os minerais predominantes nessas rochas. As estruturas sedimentares são abundantes e variam de pequenos a grande porte, ocorrendo laminação plano-paralelas subhorizontais, estratificações cruzadas tabulares angulares e tangenciais, acanaladas até festonadas, alem de marcas onduladas de corrente e de onda e estruturas de corte e preenchimento.( SOUZA; SOUZA, 2000, p.304) Figura 2: O escarpamento estrutural Furnas na região S-SE do Brasil. Fonte: Souza,C.R.G.;Souza,A.P. 2000. In: Schobbenhaus,C.; Campos,D.A.; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Acessado em 20 de dez. de 2010 http://www.unb.br/ig/sigep/sitio080/sitio080.htm Este sítio expõe feições importantes como relevo ruiniforme, pedimentos, morros testemunhos, cânions, cachoeiras, grutas e pequenas cavernas. Segundo Souza e Souza (2000) a face é caracterizada por paredões abruptos, em torno de 120 metros de altura; o sopé é formado por rampas de pedimentos e depósitos de tálus, com inclinação entre 25º e 40º; o reverso com relevo com colinas arredondadas, ligeiramente inclinadas para o interior, com grande presença de nascentes; e a frente do escarpamento é formado pelos morros testemunhos, constituídos por arenitos silicificados, formando formas bizarras isoladas. Alguns outros tipos geológicos também são encontrados na região, embora em menor escala que as outras formações, como o Grupo Itaiacoca e o Grupo Açungui. Segundo Sallun Filho (1999) e Hiruma et al. (2007) Itapeva e Nova Campina apresentam http://www.unb.br/ig/sigep/sitio080/sitio080.htm 21 áreas pertencentes ao Grupo Itaiacoca, e se caracteriza pela predominância de rochas carbonáticas, vulcanosedimentar, formadas no final do período Mesoproterozóico. Estende- se de NW-SW desde a região de Guapiara e Itapeva (SP) até Itaiacoca (PR), com cerca de 200 km de extensão e média de 20 km de largura. São característicos dessa formação os estromatólitos, que são originados pela ação de microorganismos, como cianobactérias, que aprisionam e fixam sedimentos. A forma dos estromatólitos é condicionada por diversos fatores externos como grau de agitação das águas, correntes, salinidade, luminosidade entre outros.Os sedimentos paleozóicos da Formação Furnas e Itararé recobrem os extremos do Grupo, principalmente no Estado de São Paulo. O Grupo Itaiacoca (considerado uma superfície de característica cárstica5) ocupa uma porção deprimida - 800 a 1000 m - em relação as escarpas do arenito Furnas a noroeste e as serras quartziticas de Itapirapua e Bom Sucesso. Sendo que, segundo Sallum Filho e Fairchild (2004) o Grupo Itaiacoca aflora na faixa de dobramentos homômina que se estende NE-SW, desde a região de Guapiara e Itapeva em São Paulo, até Itaiacoca no Paraná. Segundo Sallun Filho et al os estromatólitos que ocorrem na região de Nova Campina e Itapeva são considerados os fósseis mais antigos do Estado de São Paulo, datados do Éon Proterozoico (entre 2,5 bilhões e 542 milhões de anos atrás), e foram os primeiros estromatólitos descritos na América do Sul. As maiores concentrações de depressões fechadas ocorrem próximas as áreas urbanas de Nova Campina e de Bom Sucesso de Itararé. Podem ser encontrados, segundo Hiruma et al. (2007) feições cársticas em superfície como sumidouros, cones cársticos, próximas às áreas urbanas de Nova Campina e de Bom Sucesso de Itararé. A área de abrangência das depressões fechadas do carste da Faixa Itaiacoca não esta protegida por instrumentos legais, ao contrario do que ocorre na região do Alto Ribeira, onde a maior parte das feições cársticas conhecidas esta inserida em unidades de conservação (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira - PETAR e Intervales (HIRUMA et al. 2007). O Grupo Açungui também é encontrado na forma de manchas próximas a Formação Furnas e ao Grupo Itaiacoca (RIBEIRO, 2009, p.3). É representado por filitos, calcários, quartizitos e metabasitos. Os granitos também são abundantes (MAPA GEOMORFOLÓGICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1981, p.45). É também marcado por feições cársticas. 5Ambientes de carste são caracterizados como locais com rochas suscetíveis à solubilização de algum elemento químico relativamente abundante em sua composição, geralmente carbonato de cálcio, e estes ambientes também estão condicionados a características bioclimáticas e estruturais e/ou tectônicas. O ambiente cárstico apresenta feições superficiais e subterrâneas, e foram gerados em sua maioria durante o Quartenário (SOUZA et al., 2005). 22 Figura 3: Mapa Geológico da região. Adaptado de KARMANN, (1994) apud HIRUMA et al. (2007). Segundo Christofoletti (1980) as formas cársticas são variadas, sendo que as mais comuns são as lapies, dolinas, poljé, cones cársticos, e as cavernas. As dolinas, são depressões de forma oval e são consideradas a forma fundamental do relevo cárstico, foram identificadas na região de Itapeva, Nova Campina e Bom Sucesso de Itararé por Kamase (2004). Segundo Sallum Filho (2009, p.108) a cidade de Nova Campina esta “totalmente dentro de uma depressão de grandes dimensões, desenvolvida em arenitos sobre carste subjacente” e em Itapeva foi registrado a ocorrência de uma grande dolina de colapso6 em arenitos. 1.6 Vegetação O Domínio Tropical Atlântico, segundo Ab’Saber (2005), se estende de norte ao sul no país. No Estado de São Paulo, as matas atlânticas penetram pelos planaltos interiores, com fortes irregularidades, com cerrados e matões. O município de Itapeva e região se caracterizam por Florestas semideciduais do Atlântico, com intrusões de Matas de Araucárias e manchas de cerrado. A Mata Atlântica que ocupa o interior do Estado é descrita pelo IBGE (1992) como Floresta Estacional Semidecidual. Tem como características que de 20 a 50% das 6 Segundo Kamase (2004, p.33), dolinas de colapso são provocadas por: 1.processos de dissolução que começa na superfície e atinge uma caverna, provocando a queda do teto; 2.colapso do teto de uma cavidade que se inicia na parte interna; 3.rebaixamento do lençol freático. 23 árvores perdem suas folhas devido ou a seca ou a um inverno rigoroso, com temperaturas médias de 15°C. As Matas de Araucárias ou Floresta Aciculifoliada, segundo Dora Romariz (1996) tem sua distribuição ligada ao clima, este com intima ligação com o relevo e a altitude. Em São Paulo ocorrem em cotas acima de 800 metros. As matas de araucária se caracterizam por formarem manchas à medida que a latitude diminui. É uma formação heterogênea, apresentando diversas formações latifoliadas, formando diversos estratos. Os pinheiros (Araucaria angustifolia) se destacam nessa formação e chegam a ter 30 metros de altura. Esta formação florestal foi amplamente destruída em todas suas localidades e em Itapeva, apenas é possível encontrar alguns poucos exemplares nativos do pinheiro. Em Bom Sucesso de Itararé e Ribeirão Branco ainda podem ser encontradas matas de nativas de araucárias. Seus frutos, os pinhões, são importante fonte de alimento para algumas aves e roedores, alem de ser utilizado pela população local. A Araucária vem sendo reflorestada na Estação Experimental de Itapeva. As manchas de Cerrado ocorrem principalmente em Itapeva e Nova Campina. Essa formação é dividida segundo o Manual Técnico da Vegetação do IBGE (1992) em diversas categorias, sendo as principais: Cerradão (Savana Florestada), Cerrado (Savana), Campo-Cerrado (Savana arborizada). Em Itapeva, na Estação Ecológica de Itapeva podemos encontrar uma pequena área de Cerrado, sendo que na região como um todo a formação Campo-Cerrado tem maior extensão. Segundo Kamase (2004) na região algumas áreas de cerrado estão associadas à vegetação rasteira e arbustiva. As matas da região, assim como em todo o estado de São Paulo, foram em grande parte devastadas, principalmente a Mata de Araucária e o Cerrado, sendo este ainda encontrado na forma de manchas em toda a área de estudo, mas a maioria encontra-se modificado ou com a presença de árvores exóticas, principalmente o Pinus e o Eucalipto, que são plantados em extensas áreas do município. Os Cânions abrigam a maior área nativa da Mata Atlântica e de Cerrado, alem de exemplares da fauna brasileira. Segundo Durigan et al. (2006) se for analisada a rede de unidades de conservação no Estado de São Paulo, do ponto de vista da representatividade dos diferentes tipos de vegetação nas áreas protegidas, percebe-se que apenas cerca de 0,5% da área original coberta por vegetação de cerrado e zonas de tensão ecológica encontram- se protegidos, 1,0% da floresta estacional semidecidual e 8,5% das floresta do tipo ombrófila e formações costeiras são protegidos em unidades de conservação. 24 1.7 Solo Segundo o mapa pedológico do Estado de São Paulo – legenda expandida Embrapa (1999) – em Itapeva há o predomínio do latossolo vermelho (LV1-LV79), latossolo roxo e latossolo vermelho escuro. Nesse tipo de solo as argilas predominantes são do tipo caulinita, revestidas por oxido de ferro, responsáveis pela típica cor vermelha. A transição entre os horizontes é gradual. A textura é uniforme, sendo inexistente o horizonte B textural. (LEPSCH, 2002, p.89). Esse tipo de solo ocorre principalmente no Grupo Tubarão.Segundo Novais (2009), no Grupo Tubarão também são encontradas áreas expressivas de argissolo amarelo. Sabe-se que a distribuição dos solos esta intimamente relacionada com o relevo. A Formação Itararé, apresenta declividades não muito grandes no topo e no seu entorno, em torno de 3 a 6%, com litologia formada principalmente por arenitos, onde predominam os latossolos. No terço inferior, com declive inferior a 12% predominam o Argissolo amarelo. As áreas onde o solo é constantemente alagado predominam os Gleissolos, que são solos hidromórficos (NOVAIS, et al., 2009, p. 219). Em áreas com maior declividade os Neossolos estão presentes. Na região de Nova Campina predominam os Cambissolos Halicos associados aos Latossolos Vermelho-Amarelos e subordinadamente Latossolos Vermelho-Amarelos, ambos com textura argilosa, enquanto que na região de Bom Sucesso de Itararé, a faixa carbonática é recoberta pelos Argissolos Vermelhos de textura argilosa; em seu entorno predominam os Neossolos Litólitos de textura arenosa (OLIVEIRA, et al., 1999 apud HIRUMA, et al., 2007). 1.8 Hidrografia A área de estudo se localiza na Bacia do Alto Paranapanema, que possui uma área de 22.550 km² e engloba 36 municípios (GUIA DO SISTEMA PAULISTA DE RECURSOS HIDRICOS, 2008). Segundo o Mapa de Domínios/subdomínios Hidrogeológicos do Brasil (CPRM,2004) parte da região constitui-se por uma bacia sedimentar, metasedimentos/metavulcânicos e cristalino, que formam aquíferos de diferentes características. A Bacia Sedimentar tem como característica formar aquíferos do tipo poroso, favorável para o armazenamento subterrâneo, e constituem os mais importantes reservatórios, em decorrência da grande espessura de sedimentos e alta porosidade/permeabilidade. O Domínio de Metasedimentos/metavulcânicos esta relacionado ao aquífero fissural e têm como litologias principais os xistos, filitos, metarenitos, 25 metassiltitos, quartzitos, metavulcânicas diversas, entre outras. A porosidade primária nessas rochas é muito pequena, sendo que a água subterrânea se dá através das fendas e fissuras (porosidade secundária) e se formam de forma descontinua, aleatória e de pequena extensão. O Domínio Cristalino também constitui um aquífero do tipo fissural e possui menor capacidade de armazenamento de água subterrânea. Entre esses três domínios, o da bacia sedimentar possui maior área no município. O setor da Bacia do Paraná que possui muito alta à média favorabilidade hidrogeológica, corresponde a Formação Furnas. Já a Formação Itararé em geral possui baixa favorabilidade hidrogeológica. Os principais rios da região de estudo são o Taquari e o Pirituba, sendo o primeiro protegido segundo a Lei Orgânica do Município de Itapeva (2008) como Patrimônio Ecológico da Cidade. 1.9 Impactos ambientais encontrados na região De acordo com a literatura, os impactos ambientais na região estudada estão relacionados com as atividades de reflorestamento, pecuária, mineração e agricultura. Com relação ao impacto do reflorestamento, a maneira como é feito o manejo das florestas plantadas é fator de analise fundamental para entender os efeitos nos recursos hídricos, solo e biodiversidade de uma região (LIMA, 1990). Os impactos sobre a biodiversidade local dependem do bioma e da condição prévia da região onde a floresta será implantada. Implantadas em áreas de florestas nativas, as plantações acarretam redução da biodiversidade. Implantada, por outro lado, numa região que anteriormente era coberta com mata, mas que foi desmatada, a floresta exótica pode inclusive acarretar aumento da biodiversidade local. Com relação ao impacto sobre os lençóis freáticos, o autor (op. cit) afirma que depende da localização das plantações em relação à bacia hidrográfica. Se as plantações estão situadas em locais de maior altitude, as raízes dos eucaliptos, por não ultrapassarem 2,5 m, não alcançariam os lençóis subterrâneos. Se, entretanto, as florestas forem plantadas próximas de lençóis freáticos, os eucaliptos passam a consumir mais água, crescem mais rapidamente e podem gerar impactos sobre os lençóis freáticos tanto localmente como a jusante. Quanto à intercalação de florestas plantadas e áreas de mata nativa, é uma alternativa viável já que podem funcionar como corredores ecológicos, onde é possível observar mobilidade de espécies. Com relação à proteção do solo, a plantação de eucalipto possui menor Índice de Área Foliar (IAF) se comparado à mata atlântica, por exemplo, podendo então, aumentar a probabilidade de erosão no local. Se comparado a outras culturas, pode proteger a solo, principalmente considerando a formação de serapilheira. No entanto, os efeitos no solo assim como os efeitos da plantação de 26 florestas exóticas, devem ser observados caso a caso e devem considerar diversos fatores de uma região (VITAL, 2007). Quanto à pecuária, os efeitos mais comuns dessa atividade são a redução na capacidade de infiltração da água no solo devido à compactação por pisoteio, a degradação da vegetação e compactação dos solos e a contaminação das fontes d’ água e assoreamento dos recursos hídricos. Segundo Freire (2006), o superpisoteio do gado é uma condição que predispõe o solo à erosão. A mineração é uma das atividades mais antigas no mundo, sendo considerada como referência de desenvolvimento econômico. O calcário, principal minério extraído na região, é utilizado principalmente na indústria de cimento e como corretivos agrícolas. Segundo Farias (2002) a mineração pode causar poluição da água, poluição do ar, poluição sonora e subsidência do terreno, em se tratando da extração de calcário, existe a possibilidade de impacto em áreas cársticas, com danos ao patrimônio espeleológico. Além disso, a atividade mineradora, tão comum em áreas cársticas, “pode desencadear subsidência, pelo rebaixamento do nível d’água e devido ao desmonte de rochas com a utilização de explosivos” (SALLUM FILHO, 2009). Segundo Sallum Filho (2009) Pode-se dizer que toda intervenção e ocupação humana em áreas cársticas é sujeita ao risco de subsidência e colapso, se não forem tomadas as medidas necessárias de contenção destes processos (...) O carste é naturalmente mais vulnerável que outras regiões, devendo assim ser estudado ou até mesmo evitado, quando da escolha para instalação de empreendimentos potencialmente geradores de riscos a contaminação (água, solo) ou a aceleração do risco a afundamento (p.104-109). Segundo Cunha e Guerra (2004) desmatamentos ou crescimento de áreas urbanas nas encostas reduzem a capacidade de infiltração, aumentam o escoamento superficial, promovendo erosão hídrica, favorecendo o maior aporte de sedimentos para a calha fluvial, o que pode causar assoreamento do leito e enchentes na planície de inundação. Portanto, a análise de uma bacia hidrográfica podem demonstrar alterações na dinâmica fluvial por razões como mudanças no uso e ocupação do solo. Mas não são apenas condições antrópicas que podem acelerar a degradação, áreas como em que ocorrem “chuvas concentradas, encostas desprotegidas de vegetação, contato solo-rocha abrupto, descontinuidades litológicas e pedológicas, encostas íngremes são algumas condições naturais que podem acelerar os processos” (CUNHA, GUERRA, 2004, p.347). Segundo Kertzman et al. (1995) cerca de 80% do Estado de São Paulo apresenta índices de erosão acima do aceitável sendo que, partes dos sedimentos provenientes da erosão depositam-se em vertentes, onde podem afetar solos férteis e quando atingem o fundo dos vales, provocam assoreamento de cursos d’água. O 27 assoreamento é um dos mais graves impactos da erosão, pois desequilibram as condições hidráulicas da área atingida, promovendo enchentes, perda da capacidade de armazenamento, incrementos de poluentes químicos. 1.10 Levantamento das categorias de áreas protegidas já propostas para a região de estudo O reconhecimento da área dos cânions Pirituba e Itanguá como de importância regional vem sendo realizado há tempos. Desde prefeitos a estudiosos já apontaram que existe a necessidade da criação de uma área de protegida nos cânions Itanguá e Pirituba, reconhecendo sua beleza, importância histórica e biológica. No decorrer do trabalho, foram explicitadas as características físicas peculiares que motivaram alguns estudiosos e autoridades políticas a buscarem a proteção e uma melhor utilização desses recursos. Segundo informações no portal do Ministério do Turismo, “Itapeva tem como principais atrativos os Cânions Pirituba e Itanguá, que é considerado o oitavo maior do mundo em extensão. Conta com 45 cachoeiras, cinco cavernas e oito sítios arqueológicos, dentre eles alguns com inscrições rupestres, além de importantes sítios históricos como a Fazenda Pilão d’Água, Catedral de Santana, Capela do Carmo, Estação Ramos de Azevedo e Quilombo do Jaó.” No mesmo site, o Abrigo Itapeva é denominado Parque Rupestre Água Limpa (