UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO
FERNANDO SHIGUERO KATAYAMA
AVALIAÇÃO LIMNOLÓGICA DE DOIS RIOS
LOCALIZADOS NA SERRA DA MANTIQUEIRA
Rio Claro
2019
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
FERNANDO SHIGUERO KATAYAMA
AVALIAÇÃO LIMNOLÓGICA DE DOIS RIOS LOCALIZADOS NA
SERRA DA MANTIQUEIRA
Orientador: Prof. Dr. Antonio Fernando Monteiro Camargo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Instituto de Biociências da Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de
Rio Claro, para obtenção do grau de bacharel em
Ciências Biológicas.
Rio Claro
2019
K19a
Katayama, Fernando Shiguero
Avaliação limnológica de dois rios localizados na
serra da Mantiqueira / Fernando Shiguero Katayama.
-- Rio Claro, 2019
26 p.
Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado -
Ciências Biológicas) - Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro
Orientador: Antonio Fernando Monteiro Camargo
1. Limnologia. 2. Água Poluição. 3. Esgotos. I.
Título.
Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp.
Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados fornecidos pelo
autor(a).
Essa ficha não pode ser modificada.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço ao pessoal do Laboratório de Ecologia Aquática por
terem me acolhido e recebido muito bem, ao professor Antonio por ter me orientado
com toda a paciência, à Laís por ter me ajudado com a confecção do trabalho, e
especialmente ao Carlinhos por ter me acompanhado em campo e fazer as análises.
Agradeço aos meus pais por me sustentarem e serem meu porto seguro,
sempre me apoiando e incentivando nessa grande, importante e difícil etapa da
minha vida que foi a faculdade.
Agradeço aos meus amigos Olicis (André, Sheeva, Bebê, Ju, Coli, Tibor,
Thiago) que desde o começo estavam comigo, mas especialmente à Bruna, que me
acompanhou e sempre me apoiou nessa reta final. Também ao pessoal da república
Makuta, por me acomodarem e me fazer dar muita risada nesses últimos tempos.
Agradeço também à Daniela Coelho, minha psicóloga, que me amparou,
guiou e me fez entender que apesar das dificuldades e dos obstáculos, conseguimos
sempre seguir em frente e trilhar nosso caminho.
A todos que conheci na faculdade e me fizeram crescer, meu muito obrigado!
“Com o primeiro elo, a corrente é forjada; O primeiro discurso censurado, o
primeiro pensamento proibido, a primeira liberdade negada, acorrenta-nos todos
irrevogavelmente. ”
Jean-Luc Picard
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo avaliar e quantificar a poluição orgânica em
rios localizados nos municípios de Campos do Jordão – SP e Santo Antônio do
Pinhal –SP, localizados na Serra da Mantiqueira. Essa avaliação foi feita utilizando
algumas variáveis físicas e químicas estabelecidas como indicadoras de qualidade
de água. A amostragem foi feita no mês de março, em treze pontos localizados em
cinco rios e córregos. Os valores obtidos de oxigênio dissolvido, turbidez,
temperatura, condutividade, salinidade, pH, alcalinidade e diferentes formas de
nitrogênio e fósforo, demonstram que mesmo com a coleta e o tratamento de
esgotos os pontos localizados dentro da área urbana e a jusante das estações de
tratamento estão poluídos. A maioria dos pontos de amostragem tem níveis muito
elevados de fósforo e nitrogênio. Nós concluímos que parte dos esgotos produzidos
na área urbana de Campos do Jordão e Santo Antônio do Pinhal são lançados nos
corpos de água "in natura".
ABSTRACT
This work aims to evaluate and quantify the organic pollution in rivers located
in the municipalities of Campos do Jordão - SP and Santo Antonio do Pinhal - SP,
located in Serra da Mantiqueira. This evaluation was made using some physical and
chemical variables established as indicators of water quality. The sampling was done
in March, in thirteen points located in five rivers and streams. The values obtained
from dissolved oxygen, turbidity, temperature, conductivity, salinity, pH, alkalinity and
different forms of nitrogen and phosphorus demonstrate that, even with the collection
and treatment of sewage, the points located within the urban area and downstream
of the treatment stations are polluted. Most sampling points have very high levels of
phosphorus and nitrogen. We conclude that part of the sewage produced in the
urban area of Campos do Jordão is discharged untreated into the local water bodies.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 7
2. OBJETIVO.................................................................................................. 9
3. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................... 9
3.1 Área de Estudo..................................................................................... 9
3.2 Medidas em Campo e Coleta de Amostras.......................................... 14
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 16
4.1 Análise dos Pontos de Coleta............................................................... 18
5. CONCLUSÃO............................................................................................. 20
6. REFERÊNCIAS.......................................................................................... 21
7. ANEXO(S).................................................................................................. 24
7
1. INTRODUÇÃO
O planeta Terra possui dois terços de sua superfície cobertos por água. Porém,
97,5% dessa água é salgada ou salobra e inadequada para o consumo direto e uso
na irrigação de plantações. Para os 2,5% restantes de água doce, estima-se que 69%
esteja armazenada em geleiras, sendo assim de difícil acesso, 30% em
armazenamentos subterrâneos como aquíferos e lençóis freáticos, e somente 1% em
rios (ANA, 2013). O Brasil possui uma reserva de água doce abundante,
aproximadamente 13% da reserva global. No entanto, a distribuição não é equilibrada,
pois 80% encontra-se na região Amazônica onde o difícil acesso e pequena população
faz com que a maioria desse recurso não seja direcionado para uso humano
(BRANCO, 2014). No mundo, estima-se que 768 milhões de pessoas não tem acesso
a água potável e 2.5 bilhões não possuem saneamento básico e o número de doenças
transmitidas por água está intrinsecamente ligado à essas condições (UNESCO,
2014). Com o crescimento populacional, a demanda de recursos limitados como a
água só cresce, e segundo o relatório da UNESCO sobre Desenvolvimento Mundial
de Água, em 2050 a demanda será 55% maior do que a atual e 40% da população
global viverá em regiões de severa falta d’água. Portanto, a preservação dos recursos
hídricos é imprescindível, e as políticas de desenvolvimento devem sempre buscar a
conservação das bacias hidrográficas, além de conferir um plano de ação sólido,
seguro e sustentável às sociedades relacionadas as tais bacias.
Segundo Camargo e Schiavetti (2002), o conceito de bacia hidrográfica é o
conjunto de terras drenadas por um corpo d’água principal e seus afluentes, sendo a
unidade mais apropriada para o estudo de água e fluxo de sedimentos e nutrientes. O
Brasil possui 12 grandes bacias hidrográficas estabelecidas pelo IBGE e o Conselho
Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). O estado de São Paulo está em três das
regiões hidrográficas: Paraná, Atlântico Sudeste e Atlântico Sul. No estado, o
processo administrativo de recursos hídricos é feito através de divisões regionais
denominadas Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI).
Atualmente existem 22 UGRHIs, e a bacia hidrográfica estudada neste trabalho, a da
Serra da Mantiqueira, é denominada UGRHI-01 (CBH-SM 2017).
A Serra da Mantiqueira é uma cadeia montanhosa que se estende por três
estados do sudeste brasileiro (SP, MG e RJ) de grande biodiversidade e alto nível de
endemismo. Em uma lista de 100 patrimônios naturais insubstituíveis do planeta
8
criada em 2013, a Serra da Mantiqueira ocupa o 44° lugar no ranking de espécies
gerais, 33° no ranking de anfíbios e 40° no ranking de mamíferos ameaçados de
extinção (SAOUT et al., 2013). Fazendo jus a seu nome indígena “montanha que
chora”, a serra da Mantiqueira é o ponto de origem de muitos rios importantes para a
região sudeste, sendo ponto o mais alto da Bacia do Rio Grande; que compõe as
bacias do Rio Paraná e do Rio da Prata em nível internacional (CETESB, 2017). A
UGRHI-01 é a menos populosa do estado e abrange os municípios de Campos do
Jordão, Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí, com uma área total de 677
km² e população de 67.024 habitantes (SEADE, 2019).
Os rios estudados neste trabalho são os principais corpos d’água que cortam a
área urbana dos municípios: o Rio Sapucaí-Guaçú e afluentes formadores em
Campos do Jordão e o Rio da Prata em Santo Antônio do Pinhal.
Campos do Jordão é um município localizado na região leste do estado de São
Paulo, sua população é de 49.892 habitantes (SEADE, 2019) e sua sede está
localizada a 1.639 metros acima do nível do mar, sendo a cidade mais alta do país
(IBGE, 2011). Seu clima segundo a classificação Köppen-Geiger é temperado
marítimo (Cfb), ou seja, invernos secos, chuvas abundantes e bem distribuídas ao
longo do ano e temperatura média anual abaixo dos 22°C (BECK et al., 2018). Santo
Antônio do Pinhal é um município fronteiriço e possui características físicas e
climáticas semelhantes às de Campos do Jordão, com uma população inferior de
6.612 habitantes (SEADE, 2019). Ambas cidades possuem um título especial
garantido pelo governo do estado chamado Estância Climática, e suas economias são
primariamente voltadas ao setor terciário, com destaque aos setores hoteleiro e
gastronômico. Santo Antônio do Pinhal também possui produções artesanais e
agrícolas menos significativas, tais como frutas, hortaliças e plantas ornamentais
como orquídeas e cerejeiras japonesas (ALMEIDA, 2006).
Apesar de Campos do Jordão estar dentro de diversos regimes jurídicos
sobrepostos como a APA da Mantiqueira em nível federal, APA Estadual de Campos
do Jordão, APA Municipal, e seu Parque Estadual cobrir um terço de toda a área do
município (HIRATA, 2013), o ecoturismo não é a principal fonte de renda da cidade,
mas sim o turismo convencional, o gastronômico e de luxo. A cidade recebeu 3,9
milhões de visitantes em 2016, concentrados nos meses da temporada de inverno
(FEDRIZZI et al., 2017). O Parque Estadual de Campos do Jordão teve em 2013 55%
dos visitantes do parque com uma renda mensal de 10 a mais salários mínimos e
9
estavam hospedados em hotéis ou pousadas (HIRATA, 2013). O turismo de Santo
Antônio do Pinhal está intrinsicamente ligado ao de Campos do Jordão devido à
proximidade dos dois municípios, e ao contrário de Campos do Jordão, não capitaliza
no luxo, mas enaltece a atmosfera interiorana de pequena cidade. Há um grande
número de pousadas e alojamentos, sendo popularmente dito que os turistas “dormem
na cidade, mas passam o dia em Campos” (ALMEIDA, 2006).
A poluição pode ser definida como qualquer alteração física, química ou
biológica feita pelo homem que aconteça ao ambiente natural (ARCHELA et al., 2003)
e as principais fontes de contaminação dos recursos hídricos são os lançamentos de
efluentes domésticos, industriais sem tratamento prévio, águas pluviais transportando
excesso de matéria orgânica nos períodos chuvosos, e a ocupação urbana sem
controle (TUCCI et al., 2005; BRANCO, 2014).
Segundo von Sperling (1998), as impurezas físicas são partículas ou sólidos
em suspensão na água, que afeta características como sua turbidez, as químicas são
relacionadas a matéria orgânica na água e as biológicas são apontadas pela presença
de organismos, como bactérias, animais e vegetais, protozoários e etc.
Santo Antônio do Pinhal dispõe de uma Estação de Tratamento de Esgoto
(ETE) desde 1993, mas Campos do Jordão não possuía uma ETE até 2014, e seus
efluentes eram despejados nos rios totalmente in natura, o que causava grande
impacto ambiental e prejudicava a qualidade de vida da população assim como a
atratividade turística da cidade, que depende desse setor para sua economia.
2. OBJETIVO
Avaliação limnológica e de nível de poluição orgânica nos rios Sapucaí-Guaçu
e da Prata nos municípios de Campos do Jordão – SP e Santo Antônio do Pinhal –
SP utilizando variáveis físico-químicas estabelecidos como indicadores de qualidade
de água.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Área de Estudo
10
Nós escolhemos para este trabalho treze pontos de coleta localizados em cinco
principais rios que atravessam a zona urbana dos municípios de Campos do Jordão e
Santo Antônio do Pinhal, localizados na Bacia Hidrográfica da Serra da Mantiqueira,
UGRHI-01 (Figura 1).
Figura 1. Localização da UGRHI 01 no estado de São Paulo
Fonte: http://www.igc.sp.gov.br/produtos/ugrhi.html
Em Campos do Jordão escolhemos dez pontos, em quatro rios: Córrego
Piracuama (numeração 1), Córrego da Serraria (numeração 2), Ribeirão Capivari
(numeração 3) e Rio Sapucaí-Guaçú (numeração 4). Em Santo Antônio do Pinhal,
escolhemos três pontos de coleta ao longo do Rio da Prata (numeração 5) (Figura 2).
http://www.igc.sp.gov.br/produtos/ugrhi.html
11
Figura 2. Localização dos pontos de coleta em Campos do Jordão.
Ribeirão Piracuama (verde), Ribeirão Serraria (vermelho), Ribeirão Capivari (azul), Ribeirão
das Perdizes (marrom) e Rio Sapucaí-Guaçu (roxo).
O córrego Piracuama (verde) é um dos formadores do Ribeirão Capivari e sua
nascente está localizada dentro do Parque das Cerejeiras. Este rio flui por
aproximadamente 2,7 km até encontrar o córrego da Serraria (vermelho) e formar o
Ribeirão Capivari (azul). O córrego da Serraria nasce próximo da fábrica de cerveja
Baden Baden e percorre 2 km até encontrar-se com o Piracuama.
O ribeirão Capivari é o principal corpo d’água que atravessa o centro da cidade.
O ribeirão é cercado de ruas e avenidas marginais, percorrendo bairros comerciais e
residenciais, provavelmente recebe efluentes domésticos in natura. Percorre por volta
de 5,6 km até chegar no bairro Capivari, o centro turístico da cidade, e encontra-se
com o ribeirão das Perdizes (marrom) formando o rio Sapucaí-Guaçú (roxo).
O rio Sapucaí-Guaçú percorre o restante do município, e a aproximadamente
10 km do seu ponto de origem, localiza-se a ETE de Campos do Jordão. Após afastar-
se do centro urbano da cidade, as matas ciliares de suas margens são preservadas
12
devido ao Parque Estadual de Campos do Jordão, uma APA que ocupa um terço da
área total do município. Recebe este nome até cerca de 5 km antes de cruzar a
fronteira São Paulo-Minas Gerais, mudando-se então para rio Sapucaí (COPASA,
2010). O rio Sapucaí percorre 248 km da nascente até a foz, na represa de Furnas.
Figura 3. Localização dos pontos de coleta em Santo Antônio do Pinhal
Em Santo Antônio do Pinhal, o Rio da Prata é o principal rio da cidade e
percorre do começo ao fim do centro urbano, aproximadamente 3 km, e nasce próximo
da estação ferroviária Eugênio Lefévre e da rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro (SP-
123). Da nascente até a entrada da cidade, suas margens são de mata ciliar
preservada, atravessando poucas residências rurais, e após entrar no perímetro
urbano é cercado por ruas marginais e é canalizado, situação que só termina próximo
da ETE, onde as margens retornam ao estado de mata ciliar preservada. Encontra-se
com apenas um afluente dentro da cidade, o córrego do Barreiro (Figura 3).
13
Figura 4. Fotografias dos locais de coleta
14
Os pontos 1a e 2a são nascentes. O ponto 1a está localizado dentro do Parque
das Cerejeiras, um parque turístico de temática japonesa, onde a nascente é isolada
e bombeada artificialmente. O ponto 2a fica próximo à sede da cervejaria Baden
Baden no bairro Santa Cruz. Os pontos 1b e 2b convergem em frente ao hotel Vila
Dom Bosco, formando o Ribeirão Capivari, onde se coletou o ponto 3a.
O ponto 3b se localiza no centro da área urbana da cidade, no bairro Jaguaribe,
onde não há qualquer mata ciliar. Este ponto fica a jusante de um córrego afluente de
águas turvas de cor acinzentada. Os pontos 3c e 4a se localizam na principal zona
turística da cidade, o bairro Capivari, onde há muitos comércios e hotéis. A jusante do
ponto 3c, o ribeirão Capivari se encontra com o ribeirão das Perdizes, formando então
o rio Sapucaí-Guaçú.
Os pontos 4b e 4c estão a aproximadamente 8 km do ponto 4a, a montante e
a jusante da ETE de Campos do Jordão respectivamente. Estão distantes do centro
urbano da cidade, em locais onde há mata ciliar relativamente preservada devido à
proximidade com o Parque Estadual de Campos do Jordão.
O ponto 5a está a montante da entrada principal de Santo Antônio do Pinhal,
em um local de mata ciliar preservada, marginal a uma ciclovia. Neste local há uma
pequena praça com uma pequena fonte potável. O ponto 5b está no centro da cidade,
enquanto o 5c está a jusante da ETE de Santo Antônio do Pinhal.
3.2 Coleta de dados em campo e análises de laboratório
A coleta de dados em campo foi realizada no dia 13 de março de 2019 entre 12
e 15 horas. O critério para a escolha dos pontos foram a localização à montante, meio
e jusante da área urbana dos dois municípios e a facilidade de acesso.
15
Os valores de temperatura, pH, condutividade elétrica, turbidez, salinidade e
oxigênio da água foram obtidos através de sonda multiparâmetro marca Horiba
modelo U-50 e um GPS para marcar as coordenadas dos pontos de amostragens. As
amostras de água foram coletadas na superfície e armazenadas em frascos de
polietileno. As amostras foram levadas ao Laboratório de Ecologia Aquática no
Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências (IB) da UNESP de Rio Claro
para a determinação das diferentes formas de nitrogênio e fósforo.
Em laboratório, determinamos as concentrações de nitrito, nitrato e nitrogênio
total (Mackereth et al. 1976), nitrogênio amoniacal (Koroleff, 1976), fósforo total,
fósforo dissolvido, ortofosfatos (Golterman et al. 1978), a alcalinidade o método
titulométrico descrito por Boyd (1981) e valor de sólidos suspensos foram
determinados de acordo com Mudroch e Macknight (1991).
O nitrogênio está presente nos ambientes aquáticos em várias formas, sendo
as principais o nitrato, nitrito, amônia e íon amônio (ESTEVES, 1998). O nitrato,
produto final do processo de nitrificação, ocorre normalmente em pequenas
quantidades no ambiente, e sua presença em um corpo d’agua pode indicar a
presença de efluentes de esgotos sanitários (ANA, 2013).
Assim como o nitrogênio, o fósforo é um importante nutriente para processos
biológicos (é parte da própria estrutura da membrana celular), encontrado na forma
de fosfato na água. Ele tem origem natural, como processos de decomposição de
rochas e matéria orgânica, e artificial como matéria fecal e detergentes
superfosfatados de esgotos domésticos (GUIDOLINI et al., 2010). A dinâmica do
fósforo está ligada diretamente aos sedimentos aquáticos, e o uso agrícola dos solos
de bacias hidrográficas altera a quantidade e características dos sedimentos
carregados pelo escoamento superficial natural, podendo ser um potencializador do
processo de eutrofização do corpo d’água (ANA, 2013). Os dados obtidos de fósforo,
turbidez e clorofila são importantes para determinar o estado trófico da água.
16
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos mostram a grande diferença entre os pontos de
amostragem. Os pontos 5a e 5b, localizados mais próximos a cabeceira do rio da
Prata em Santo Antônio do Pinhal foram aqueles com as águas mais limpas e com
maiores concentrações de oxigênio (tabela 1 e figura 5). Por outro lado, os pontos
de amostragem localizados nos rios de Campos do Jordão apresentaram águas com
concentrações de oxigênio menores e elevados valores de P-total, turbidez e N-total.
Os pontos mais poluídos são 1b, 3b, 3c e 4a. Nestes pontos observamos altas
concentrações de P-total, N-total e altos valores de turbidez, indicando a entrada de
esgotos urbanos. De fato, estes pontos estão localizados em locais envolvidos pela
área urbana do município de Campos do Jordão. Como esperado e descrito por
vários estudos como König (2008), os pontos dentro da área urbana são mais
poluídos.
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Tabela 1. Valores obtidos pelas análises laboratoriais e pela sonda em campo (azul: menor valor, vermelho: maior valor).
Pontos 1a 1b 2a 2b 3a 3b 3c 4a 4b 4c 5a 5b 5c
Temperatura (°C) 18,6 20,6 20,3 20,2 20,4 21,6 21,7 21 19,9 19,5 19,6 19,8 20
pH 6,22 6,3 6,15 6,24 6,25 6,75 6,86 6,93 7,05 6,95 6,3 6,36 6,5
Condutividade (µS/cm) 0,07 0,09 0,04 0,07 0,07 0,09 0,08 0,07 0,05 0,07 0,03 0,04 0,06
Salinidade (g/L) 0,05 0,06 0,03 0,04 0,05 0,06 0,05 0,05 0,03 0,04 0,02 0,02 0,04
Turbidez (UNT) 6,4 7,8 0 22,4 14,6 11 15,5 18 8 15,3 0,5 4,5 21
Oxigênio (mg/L) 5,75 5,32 6 6,42 5,5 5,09 6,6 7,9 6 7,2 9,6 8,6 6,73
Oxigênio (%) 62,6 60 68 72 63 59 77 90 67 81 106 97 76
Amônia (µg/L) 92,8 116 53,2 114 119 148 134 93,4 38,4 80,7 16,1 7,64 54,7
Nitrito (µg/L) 12,4 109 8,84 59,3 68,7 94,9 110 91,6 31,8 37,6 4,03 7,39 31
Nitrato (µg/L) 476 1062 427 366 455 880 588 840 805 1010 110 134 335
Nitrogênio Total (mg/L) 0,98 1,09 0,58 0,84 0,81 0,89 0,83 0,76 0,33 0,44 0,26 0,33 0,46
Fosfatos (µg/L) 17,8 13,9 1,54 20 8,05 80,6 38,1 14,7 5,43 106 2,25 4,91 126
Ortofosfatos (µg/L) 61,4 48,5 17 39,4 28,6 160 91,6 57,3 28,5 133 17,7 20,5 141
Fósforo Total (µg/L) 103 86,9 46,4 70,2 63,5 139 151 147 51,3 192 18,1 21,3 126
Alcalinidade (mEq/L) 0,6 1,25 0,35 0,45 0,5 0,5 0,55 0,45 0,32 0,32 0,32 0,35 0,51
Sólidos em Suspensão (mg/L) 0,07 1,46 1,63 1,23 1,49 1,6 2,26 0,84 0,58 1,04 0,92 0,47 1
18
Figura 5. Análise de Componentes Principais (PCA) dos pontos de coleta
Legenda: OD: Oxigênio Dissolvido, Alc: Alcalinidade, T: Temperatura, Turb: Turbidez, Cond:
Condutividade, SS: Sólidos em Suspensão, NH3: Nitrogênio amoniacal, NO2: Nitrito, NO3: Nitrato,
NT: Nitrogênio Total, PD: Fosfatos, OrtoP: Ortofosfatos, PT: Fósforo Total.
A Análise de Componentes Principais ordena os pontos segundo a variação
de suas características, ou seja, mostra a correlação entre eles. Os pontos mais à
direita do gráfico são os locais onde o rio está mais próximo de suas características
naturais, e os pontos à esquerda são os mais poluídos, como indica a seta. Nota-se
que os pontos 5a e 5b estão ordenados a direita, seguidos pelos pontos 2a e 4b. Os
pontos 4c e 5c, ambos a jusante de ETEs, tem características semelhantes, e os
pontos 3b, 3c e 1b são os mais à esquerda da figura, e, portanto, os mais poluídos
(figura 5).
19
4.1 Análise dos pontos de coleta
O ponto 1a, apesar de ser uma nascente, apresentou níveis muito altos de
fósforo e compostos nitrogenados. Em sua proximidade há um lago artificial de
carpas, assim, há uma provável contaminação da nascente pela água do lago, o que
explicaria os níveis mais altos de todos os parâmetros químicos em relação a outra
nascente, o ponto 2a. De fato, viveiros de criação de organismos aquáticos tem
águas com grandes concentrações de nitrogênio e fósforo devido a ração não
consumida e fezes excretadas pelos peixes (CAMARGO et al., 2010)
Os pontos 3a a 4a são de locais altamente urbanizados, onde o rio é cercado
por avenidas marginais, residências e comércios, e a falta de mata ciliar faz com que
a temperatura seja maior devido a radiação solar. Provavelmente há o despejo
irregular de esgoto doméstico neste trecho devido à altas concentrações das
diferentes formas de fósforo e N-nitrato na água coletada.
O ponto 4b possui valores menores de nutrientes em relação ao 4a,
provavelmente devido ao processo de autodepuração natural do rio, já que eles
estão 8 km distantes entre si. No entanto, as concentrações de nutrientes voltam a
aumentar no ponto 4c (o valor de N-amoniacal é duas vezes maior e o P-total
aumenta em 375%). Isto ocorre provavelmente devido o lançamento dos efluentes
da ETE. De fato, poucas são as ETEs no Brasil que tem tratamento terciário e a
ausência desta etapa não remove grande parte dos íons do esgoto. Além disso,
notamos também um forte odor no local do efluente da ETE. Talvez a estação não
esteja sendo operada de forma adequada.
O ponto 5a, no rio da Prata é o mais distante de áreas urbanas e é aquele
que há a menor concentração de compostos nitrogenados e das diferentes formas
de fósforo de todos os pontos analisados, além de conter 106% de saturação de
oxigênio. No ponto 5b observamos características semelhantes ao 5a, mas no ponto
5c localizado a jusante da ETE Santo Antônio do Pinhal, observamos maior
concentração de fosfatos, que provavelmente são oriundas do efluente da ETE.
Os pontos 4c e 5c, ambos a jusante de ETEs, revelam o aumento de todos as
concentrações de nutrientes: N-amoniacal, N-nitrito, N-nitrato, N-total, P-fosfato,
Orto-P e P-total em relação ao ponto anterior. Isso implica na falta de tratamento
terciário das estações, e assim a ausência da remoção desses nutrientes que são
posteriormente lançados ao rio. Além disso, segundo o Relatório de Qualidade das
20
Águas Interiores no Estado de São Paulo da CETESB (2017), as porcentagens de
coleta e tratamento de água dos municípios estudados são de 51% de coleta em
Campos do Jordão e 45% em Santo Antônio, e deste esgoto coletado, 99% é
tratado, ou seja, metade do esgoto produzido é lançado sem tratamento (não é
sequer coletado), o que explica a baixa qualidade de água da maioria dos pontos
estudados.
5. CONCLUSÃO
Apesar da presença de estações de tratamento de esgoto em ambos os
municípios, e sua eficiência de tratamento de 99%, ainda há um grande aporte de
nutrientes nos rios estudados, causado provavelmente por efluentes domésticos.
Como a serra da Mantiqueira possui uma grande importância turística e ecológica
(biodiversidade, endemismo, contribuição dos rios para grande bacias), e os dados
levantados apresentam baixa qualidade da água em diversos pontos, conclui-se que
se a situação atual não for remediada, poderá ocorrer uma perda da biodiversidade
local.
21
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Unidade – 3, Monitoramento da qualidade
da água em rios e reservatórios. Brasília – DF. 2013. Disponível em:
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ANEXO 1
Porcentagens de Coleta e Tratamento por UGRHI e por Município – CETESB 2017
25
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Orientador: Prof. Dr. Antonio Fernando Monteiro Camargo
Aluno: Fernando Shiguero Katayama