“UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais Lucila Maria Rebello Teixeira AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO AO DESGASTE DE COMPÓSITOS POLIMÉRICOS BAURU 2012 Lucila Maria Rebello Teixeira AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO AO DESGASTE DE COMPÓSITOS POLIMÉRICOS Dissertação apresentada como requisito à obtenção do título de Mestre à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais, área de concentração em caracterização de materiais, sob a orientação do Prof. Dr. Eduardo Carlos Bianchi e co-orientação do Prof. Dr. Sandro Donnini Mancini. BAURU 2012 Teixeira, Lucila Maria Rebello. Avaliação do comportamento ao desgaste de compósitos poliméricos / Lucila Maria Rebello Teixeira, 2012 159 f. : il. Orientador: Eduardo Carlos Bianchi Co-orientador: Sandro Donnini Mancini Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2012 1. Compósitos poliméricos de engenharia. 2. Tribologia. 3. Ensaio de esfera sobre placa. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências de Bauru. II. Título. 2 “Dedico este trabalho a todos que acreditaram em mim e colaboraram de alguma maneira.” AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus por tudo, por me dar condições de concluir mais uma etapa da minha vida. Ao Prof. Dr. Eduardo Carlos Bianchi pela orientação, dedicação e confiança. Ao Prof. Dr. Sandro Donnini Mancini pelo direcionamento, apoio e pela torcida. Ao Prof. Dr. Paulo Noronha Lisboa Filho pela atenção e suporte. À Andressa Castro Talon por todo apoio. Ao Msc. Fabio Renato Camargo Sirbone, pela confiança, orientação e apoio. Ao meu chefe Luiz Antonio Segatti de Oliveira pela confiança e pelas horas despendidas do meu trabalho para realizar esta dissertação. Aos Profs. Drs. Antonio José Felix de Carvalho, Gilberto de Magalhães Bento Gonçalves, Nilson Cristino Cruz e Carlos Alberto Fortulan pela atenção e disposição. Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Casteletti e aos seus alunos por me auxiliarem com os ensaios de desgaste. Aos colegas Eduardo Murbach Júnior, Lázaro Lopes Machado Neto e Gilvan Silva pelas análises e atenção. A todos os profissionais do POSMAT, da USP de São Carlos, da UFScar de São Carlos, da Solvay e da empresa Schaeffler, que colaboraram com os ensaios e conhecimentos. Aos amigos e Mestres Fernando Martinatti e Carlos Eduardo Prazzo pela força, incentivo e troca de conhecimento. Às minhas amigas Tatiane Rabello Koga e Iracema Maria dos Santos por sempre acreditarem em mim, pelo apoio, incentivo e amizade. Ao “primo” Rodrigo Silva Santa Rita pela paciência e ajuda. Às minhas primas Carolina Rebello Pereira e Laura Rebello Pereira e a minha tia Vera Lícia Rebello por todo apoio, torcida e atenção. Aos meus pais, Verli Vieira Rebello Teixeira e José Antonio Teixeira, pelo amor incondicional, pelo carinho, dedicação e por todo o apoio dado durante toda a minha vida. A minha irmã Ana Maria Rebello Teixeira que sempre esteve ao meu lado, pela companhia, amizade, amor e carinho. Aos meus avós Lucila Vieira Rebello e Thiago Rebello pelas palavras de incentivo e carinho, pelo amor, pelas orações e pelo exemplo de vida que eles sempre me deram. “Feliz o homem que acha sabedoria e o homem que adquiri conhecimento; porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e melhor sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que pérolas e tudo o que podes desejar não é comparável a ela.“ (Provérbios 3: 13-14-15) Teixeira, L. M. R. Avaliação do Comportamento ao Desgaste de Polímeros. 2012. 159f. Dissertação (Mestre em Ciências e Tecnologia de Materiais) - UNESP, Faculdade de Ciências, Bauru, 2012. Resumo Embora os materiais poliméricos têm sido empregados na indústria como alternativa na substituição de outros materiais, por apresentarem vantagens como redução de custo e peso do produto, ainda há questões que limitam a sua utilização. Uma das principais questões enfrentadas é o comportamento tribológico destes materiais. Este trabalho visa o estudo do comportamento tribológico de desgaste dos compósitos termoplásticos de engenharia: Poli (amida-imida) com fibra de carbono e PTFE, Poli (amida-imida) com grafite e PTFE, Poli (éter éter cetona) com fibra de carbono e PTFE, Poli (aril éter cetona) com fibra de carbono e de um polímero termofixo a base de resina fenólica, com fibra de vidro e carga mineral contra o aço à seco. Para a avaliação da resistência ao desgaste foi utilizado o método de esfera sobre placa. A influência da carga aplicada e da distância de deslizamento foi avaliada. Esferas de aço SAE52100 (100Cr6) foram utilizadas como contra corpos. Antes dos ensaios a dureza, a densidade e as características térmicas dos compósitos poliméricos foram analisadas. Para avaliação do contra corpo metálico, foi realizado um ensaio metalográfico e medições de dureza. Após a elaboração dos corpos de prova, os valores de rugosidade foram obtidos para avaliar a padronização das superfícies. As dimensões das crateras após os ensaios de desgaste foram identificadas através de microscopia óptica. Os mecanismos de desgaste foram observados por meio de microscopia eletrônica de varredura e a composição química foi verificada após o ensaio tribológico por espectrometria de energia dispersiva. No geral, os resultados revelaram que os compósitos termoplásticos apresentaram melhor desempenho tribológico frente ao termofixo, com redução do volume desgastado de 60% a 99%, aproximadamente. Palavras-chaves: Compósitos poliméricos de engenharia; tribologia; ensaio de esfera sobre placa. Teixeira, L. M. R. Evaluation of Wear Behavior of Polymers. 2012. 159p. Dissertation (Master of Science and Technology of Materials) - UNESP, Bauru, 2012. Abstract While polymeric materials have been used in industry as an alternative for the substitution of other materials, because they have advantages such as cost and weight reduction of the product, there are issues that limit their use. One of the major issues facing is the tribological behavior of these materials. This dissertation aims to study the tribological behavior of engineering thermoplastics composites: Poly (amide-imide) with carbon fiber and PTFE, Poly (amide-imide) with graphite and PTFE, Poly (ether ether ketone) with carbon fiber and PTFE, Poly (aryl ether ketone) with carbon fiber and a thermosetting composite based on phenolic resin with glass fiber and mineral filler against steel in dry condition. To evaluate the wear resistance, the method used was the ball cratering. Tests were performed without the presence of lubricants. The influence of the applied load and the sliding distance was measured. In all essays steel balls of SAE52100 (100Cr6) were used as counter bodies. Before testing, the hardness, density and thermal characteristics of the polymeric composites were analyzed. For evaluate the metallic counter face, metallographic essay was carried out and hardness measurements were done. After the preparation of test specimens the surface roughness were measured, to ensure standardization of the surfaces. The size of the craters made up with the wear tests were identified by optical microscopy. The wear mechanisms were observed by scanning electron microscopy and chemical composition was observed after the tribological test by energy dispersive spectrometry. Overall, the results revealed that thermoplastic composites showed 60% to 99%, approximately on the volume removed. Keywords: Polymeric engineering composites, tribology, ball cratering test. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Representação de um sistema tribológico. .............................................. 31 Figura 2 – Estudos sobre o atrito de Leonardo da Vinci:(a)força de atrito entre planos horizontais e inclinados;(b)influência exercida pela área de contato aparente na resistência ao atrito;(c)força de atrito em um plano horizontal através de uma polia; (d)torque de atrito em uma roldana semicircular. Adaptado de Persson, 2000 33 Figura 3 – Esquema ilustrado dos princípios do modelo de Coulomb para o atrito e deslizamento. Adaptado de Stoeterau, 2004............................................................. 34 Figura 4 – Representação da área de contato entre duas superfícies exemplificando a área aparente de contato e a área real de contato.Adaptado de Stoeterau, 2004. 37 Figura 5 – Geometria de contato entre dois corpos sólidos, (a) contato do tipo conforme; (b) limiar entre o contato conforme e o não conforme; (c) contato não conforme. .................................................................................................................. 39 Adaptado de Medeiros, 2002. ................................................................................... 39 Figura 6 – Ensaios tribológicos. (a) pino-disco; (b) esfera-disco;(c) chapa-disco; (d) pino-disco na borda; (e) cilindro-disco; (f) bloco-roda (roda de borracha). ................ 43 Adaptado de Lima da Silva, 2006. ............................................................................. 43 Figura 7 – Esquema de desgaste adesivo. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 1996. ..................................................................................................................... 44 Figura 8 – Ilustração do processo de desgaste adesivo, com surgimento de debrí originado pela fratura das junções.Adaptado de Lima da Silva, 2006. ...................... 45 Figura 9 - Esquema do desgaste abrasivo entre um corpo rígido, um corpo macio e uma partícula rígida. Adaptado de Buschan e Grupta, 1997. .................................... 46 Figura 10 – Esquema do desgaste abrasivo a dois corpos. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. ..................................................................................................... 47 Figura 11 – Esquema do desgaste abrasivo a três corpos. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. ..................................................................................................... 48 Figura 12 – Principais mecanismos de desgaste por abrasão: a) formação de proa, b) sulcamento, c) fratura, d) desprendimento de grão. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. ........................................................................................................ 48 Figura 13 – Esquema da formação e propagação de uma trinca por fadiga. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. ............................................................................. 50 Figura 14 – Desgaste corrosivo. a) início de reação química entre as superfícies; b) desgaste das superfícies pelo mecanismo de corrosão. Adaptado de Buschan e Grupta, 1997. ............................................................................................................ 51 Figura 15 – Zonas onde ocorrem os mecanismos de atrito. Adaptado de Briscoe, 1981. ..................................................................................................................... 53 Figura 16 - Estrutura da unidade repetida para a poli (amida-imida) – PAI. Adaptado de Callister, 2008. ..................................................................................................... 64 Figura 17 - Estrutura da unidade repetida para a Poli (éter éter cetona). Adaptado de Callister, 2008. .......................................................................................................... 67 Figura 18 - Estrutura da unidade repetida para a PAEK. Adaptado de Qunfeng et al, 2009. ..................................................................................................................... 68 Figura 19 - Estrutura da unidade repetitiva para a resina fenólica - fenol-formaldeído. Adaptado de Hong et al, 2009. .................................................................................. 69 Figura 20 - Estrutura da unidade repetida para o Politetrafluoretileno. Adaptado de Callister, 2008. .......................................................................................................... 72 Figura 21 - a) Amostra pesada no ar; b) amostra pesada submersa em água desmineralizada. ....................................................................................................... 77 Figura 22– Esquema de funcionamento do ensaio tribológico esfera sobre placa. Adaptado de Gant & Gee, 2011. ............................................................................... 85 Figura 23 – Foto do equipamento utilizado para realização do ensaio tribológico esfera sobre placa. .................................................................................................... 85 Figura 24 – Esfera (contra corpo) em contato com a amostra do compósito polimérico (corpo de prova). ...................................................................................... 86 Figura 25 – Esquema da calota formada para avaliação do volume desgastado. .... 91 Figura 26 - Curva termogravimétrica do compósito termofixo com fibra de vidro e carga mineral (RF+FV+CM) ...................................................................................... 98 Figura 27 - Curva termogravimétrica derivada do compósito termofixo com fibra de vidro e carga mineral (RF+FV+CM) .......................................................................... 99 Figura 28 - Curva termogravimétrica do compósito de PAEK com fibra de carbono (PAEK+FC) ............................................................................................................. 100 Figura 29 - Curva termogravimétrica derivada do compósito de PAEK com fibra de carbono (PAEK+FC) ................................................................................................ 101 Figura 30 - Curva termogravimétrica do compósito de PEEK com fibra de carbono e PTFE (PEEK+FC+PTFE) ........................................................................................ 102 Figura 31 - Curva termogravimétrica diferencial do compósito de PEEK com fibra de carbono e PTFE (PEEK+FC+PTFE) ....................................................................... 103 Figura 32 - Curva termogravimétrica do compósito de PAI com grafite e PTFE (PAI+G+PTFE) ........................................................................................................ 104 Figura 33 - Curva termogravimétrica derivada do compósito de PAI com grafite e PTFE (PAI+G+PTFE) .............................................................................................. 105 Figura 34 - Curva termogravimétrica do compósito de PAI com fibra de carbono e PTFE (PAI+FC+PTFE) ............................................................................................ 106 Figura 35 - Curva termogravimétrica diferencial do compósito de PAI com fibra de carbono e PTFE (PAI+FC+PTFE) ........................................................................... 107 Figura 36-Curva de calorimetria exploratória diferencial do compósito PAEK+FC . 108 Figura 37 – Temperatura de transição vítrea do compósito de PAEK. .................... 110 Figura 38 - Curva de calorimetria exploratória diferencial do compósito PEEK+FC+PTFE ..................................................................................................... 111 Figura 39 - Curva de calorimetria exploratória diferencial do compósito PEEK+FC+PTFE ..................................................................................................... 112 Figura 40- Microestrutura do aço. ........................................................................... 114 Figura 41 – (a) Microscopia óptica da superfície desgastada do compósito termofixo (RF+FV+CM) com ampliação de 250 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N gramas. .......................................................... 121 Figura 42 – (a) MEV da superfície desgastada do PAEK+FC com ampliação de 250 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N. .. 122 Figura 43 – (a) MEV da superfície desgastada do compósito PEEK+FC+PTFE com ampliação de 250 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N. .................................................................................................... 123 Figura 44 – (a) MEV da superfície desgastada do compósito PAI+G+PTFE com ampliação de 250 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N. .................................................................................................... 125 Figura 45 – (a) MEV da superfície desgastada do compósito PAI+FC+PTFE com ampliação de 250 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N. .................................................................................................... 126 Figura 46- Gráfico do desgaste volumétrico em função da distância percorrida, com 6,65 N de carga aplicada. ....................................................................................... 128 Figura 47- Gráfico do desgaste volumétrico em função da distância percorrida, com 13,49 N de carga aplicada. ..................................................................................... 129 Figura 48- Gráfico do desgaste volumétrico em função da distância percorrida, com 18,26 N de carga aplicada. ..................................................................................... 130 Figura 49 – (a) MEV da superfície desgastada do compósito termofixo (RF+FV+CM) com ampliação de 250 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N. .................................................................................................... 133 Figura 50 – Área desgastada do compósito termofixo (RF+FV+CM) com 5 minutos e carga de 6,65 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. .............................. 135 Figura 51 – Área desgastada do compósito termofixo (RF+FV+CM) com 20 minutos e carga de 18,26 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ......................... 135 Figura 52 – (a) MEV da superfície desgastada do compósito PAEK+FC com ampliação de 200 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N. .................................................................................................... 137 Figura 53 – Área desgastada do compósito PAEK com 5 minutos e carga de 6,65 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ......................................................... 138 Figura 54 – Área desgastada do compósito PAEK+FC com 20 minutos e carga de 18,26 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ........................................... 139 Figura 55 – MEV da área desgastada do compósito PAEK+FC com 20 minutos e carga de 18,26 N com ampliação de 4401 x. .......................................................... 140 Figura 56 – (a) MEV da superfície desgastada do compósito PEEK+FC+PTFE com ampliação de 200 x: (a) com 5 minutos e carga de 6,65 N; (b) com 20 minutos e carga de 18,26 N. .................................................................................................... 142 Figura 57 – Área desgastada do compósito PEEK+FC+PTFE com 5 minutos e carga de 6,65 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ........................................ 143 Figura 58 – Área desgastada do compósito PEEK+FC+PTFE com 20 minutos e carga de 18,26 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ............................ 144 Figura 59 – Área desgastada do compósito PAI+G+PTFE com 5 minutos e carga de 6,65 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ............................................. 146 Figura 60 – Área desgastada do compósito PAI+G+PTFE com 20 minutos e carga de 18,26 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ...................................... 146 Figura 61 – Área desgastada do compósito PAI+FC+PTFE com 20 minutos e carga de 18,26 N com ampliação de 250 x: (a) MEV; (b) EDS. ........................................ 149 Figura 62 – Área desgastada do compósito PAI+FC+PTFE com 5 minutos e carga de 6,65 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ........................................ 150 Figura 63 – Área desgastada do compósito PAI+FC+PTFE com 20 minutos e carga de 18,26 N com ampliação de 1000 x: (a) MEV; (b) EDS. ...................................... 150 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Propriedades mecânicas dos compósitos em estudo, segundo informações obtidas nos catálogos dos fornecedores. .............................................. 62 Tabela 2 - Dureza Shore D dos compósitos poliméricos. .......................................... 95 Tabela 3 - Densidade dos compósitos poliméricos (g/cm3). ...................................... 96 Tabela 4 - Porcentagem de redução da densidade de um produto, considerando a utilização dos compósito de matriz termoplástica em detrimento ao de matriz termofixa.................................................................................................................... 97 Tabela 5 - Temperaturas e entalpias de fusão e cristalização para o compósito polimérico PAEK+FC. .............................................................................................. 109 Tabela 6 - Temperaturas e entalpias de fusão e cristalização para o compósito polimérico PEEK+FC+PTFE. .................................................................................. 111 Tabela 7 - Dureza HRC do material metálico. ......................................................... 113 Tabela 8 - Composição química do contra corpo metálico (esfera) ........................ 115 Tabela 9 - Valores da rugosidade média, Ra (μm), dos corpos de prova dos compósitos poliméricos medidos antes dos ensaios tribológicos. ........................... 116 Tabela 10 - Valores da rugosidade de profundidade, Rz (μm), dos corpos de prova dos compósitos poliméricos medidos antes dos ensaios tribológicos. .................... 117 Tabela 11 - Valores da rugosidade média Ra (μm) e da rugosidade de profundidade Rz (μm).dos contra corpos metálicos medidos antes dos ensaios tribológicos. ...... 119 Tabela 12 - Volume de material desgastado após o ensaio tribológico do compósito polimérico termofixo (RF+FV+CM). ......................................................................... 121 Tabela 13 - Volume de material desgastado após o ensaio tribológico do compósito PAEK+FC. ............................................................................................................... 122 Tabela 14 - Volume de material desgastado após o ensaio tribológico do compósito polimérico PEEK+FC+PTFE. .................................................................................. 123 Tabela 15 - Volume de material desgastado após o ensaio tribológico do compósito polimérico PAI+G+PTFE. ........................................................................................ 124 Tabela 16 - Volume de material desgastado após o ensaio tribológico do compósito polimérico PAI+FC+PTFE. ...................................................................................... 126 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS a.C – Antes de Cristo CO – Monóxido de carbono DSC – Calorimetria exploratória diferencial EDS – Análise por energia dispersiva HDT – Temperatura de deflexão térmica [ºC] MEV – Microscopia eletrônica por varredura N2 – Nitrogênio (gás) NOx – Óxidos de nitrogênio PA – Poliamida PAEK – Poli (aril-éter-cetona) PAI – Poli (amida imida) PEEK – Poli (éter-éter-cetona) PI – Poli-imida POM – Poli (óxido de metileno) PPA – Poliftalamida PTFE – Poli (tetraflúor-etileno) PU - Poliuretano Tc – Temperatura de cristalização [ºC] Tg – Temperatura de transição vítrea [ºC] TGA – Analise termogravimétrica Tm – Temperatura de fusão cristalina [ºC] UHMWPE - Polietileno de ultra-alto peso molecular LISTA DE SÍMBOLOS b – Diâmetro da calota esférica [mm] σ* - Desvio padrão da distribuição Gaussiana da altura das asperezas D – Densidade [g/cm³] D1 – Diâmetro da esfera [m] E0, E1, E2 - Módulos de elasticidade [MPa] H – Dureza do material mais macio Hc – Entalpia de cristalização [J/g] Hf – Entalpia de fusão [J/g] h – Profundidade da calota [mm] Hz – Hertz (frequência) [s-1] K – Coeficiente de desgaste adimensional KD – Coeficiente de desgaste dimensional M/N] μ – Coeficiente de atrito Mar – Peso do corpo de prova no ar [g] MH2O – Peso do corpo de prova imerso em água desmineralizada [g] Q = Distância de deslizamento [m] R e r – Raio da esfera [mm] Ra – Rugosidade média [μm] Rz – Rugosidade de profundidade [μm] Sc – Pressão de Hertz [MPa] ν1 e ν2 – Coeficiente de Poisson Ve – Volume desgastado [mm³] W = Carga normal [N] Ψ – Índice de plasticidade SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 25 1.1 Motivação ............................................................................................................ 27 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 29 2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................... 29 2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 29 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 30 3.1 Tribologia ............................................................................................................. 30 3.2 Teorias de Atrito .................................................................................................. 31 3.3 Perfil da Superfície .............................................................................................. 34 3.4 Área de Contato entre Superfícies ...................................................................... 36 3.5 Desgaste ............................................................................................................. 40 3.5.1 Regimes de desgaste ....................................................................................... 41 3.5.2 Movimentos relativos ........................................................................................ 42 3.5.3 Mecanismos de desgaste ................................................................................. 43 3.5.3.1 Desgaste por adesão .................................................................................... 44 3.5.3.2 Desgaste por abrasão ................................................................................... 46 3.5.3.3 Desgaste por fadiga superficial ..................................................................... 49 3.5.3.4 Desgaste por reação química ........................................................................ 50 3.6 Modelagem de Desgaste..................................................................................... 51 3.7 Atrito dos Materiais Poliméricos .......................................................................... 52 3.7.1 Adesão ............................................................................................................. 54 3.7.2 Deformação ...................................................................................................... 55 3.8 Desgaste dos Materiais Poliméricos ................................................................... 56 3.8.1 Desgaste adesivo ............................................................................................. 58 3.8.2 Desgaste abrasivo ............................................................................................ 59 3.9 Parâmetros que Influenciam o Atrito e o Desgaste de Polímeros ....................... 60 3.10 Característica dos Materiais em Estudo ............................................................ 61 3.10.1 Matrizes poliméricas ....................................................................................... 63 3.10.1.1 Poli (amida-imida)........................................................................................ 63 3.10.1.2 Poli (éter éter cetona) .................................................................................. 66 3.10.1.3 Poli (aril éter cetona) ................................................................................... 67 3.10.1.4 Resina Fenólica ........................................................................................... 68 3.10.2 Demais materiais utilizados na pesquisa ........................................................ 69 3.10.2.1 Fibra de vidro .............................................................................................. 69 3.10.2.2 Fibra de Carbono ........................................................................................ 70 3.10.3 Aditivos ........................................................................................................... 71 3.10.3.1 PTFE – Poli (tetrafluor etileno) .................................................................... 71 3.10.3.2 Grafite .......................................................................................................... 72 3.10.4 Aço SAE 52100 (100 Cr6) .............................................................................. 73 4 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 75 4.1 Caracterização dos Compósitos Poliméricos ...................................................... 75 4.1.2 Ensaio de dureza Shore D ............................................................................... 75 4.1.3 Densidade ........................................................................................................ 76 4.1.4 Análise termogravimétrica (TGA) ..................................................................... 78 4.1.5 Calorimetria diferencial exploratória (DSC) ...................................................... 78 4.2 Caracterização do Material Metálico ................................................................... 79 4.2.1 Dureza .............................................................................................................. 79 4.2.2 Análise microestrutural ..................................................................................... 80 4.2.3 Composição química ........................................................................................ 80 4.3 Elaboração das Amostras ................................................................................... 81 4.4 Acabamento Superficial....................................................................................... 82 4.5 Medição da Rugosidade ...................................................................................... 83 4.6 Ensaio Tribológico ............................................................................................... 83 4.7 Microscopia Óptica .............................................................................................. 89 4.7.1 Volume desgastado .......................................................................................... 90 4.8 Microscopia Eletrônica de Varredura e Análise de Energia Dispersiva ............... 91 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 94 5.1 Compósitos Poliméricos ...................................................................................... 94 5.1.1 Dureza Shore D ................................................................................................ 94 5.1.2 Densidade ........................................................................................................ 96 5.1.3 Termogravimetria (TGA) ................................................................................... 97 5.1.4 Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC) ................................................... 108 5.2 Análise do Material Metálico .............................................................................. 113 5.2.1 Dureza HRC ................................................................................................... 113 5.2.2 Análise metalográfica ..................................................................................... 114 5.2.3 Composição química ...................................................................................... 115 5.3 Rugosidade ....................................................................................................... 116 5.3.1 Rugosidade do corpos de prova (amostras) ................................................... 116 5.3.2 Rugosidade dos contra corpos (esferas) ........................................................ 118 5.4 Microscopia Óptica e Cálculo do Volume Desgastado ...................................... 120 5.5 Desempenho Tribológico dos Compósitos Poliméricos .................................... 128 5.6 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectrometria de Energia Dispersiva (EDS) ..................................................................................................... 132 5.6.1 Compósito termofixo ...................................................................................... 132 5.6.2 Compósito PAEK ............................................................................................ 136 5.6.3 Compósito PEEK ............................................................................................ 141 5.6.4 Compósito PAI com grafite e PTFE ................................................................ 145 5.6.5 Compósito PAI com fibra de carbono e PTFE ................................................ 148 6 CONCLUSÕES .................................................................................................... 152 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 154 25 1 INTRODUÇÃO Por motivos econômicos e devido ao crescente avanço tecnológico, a competitividade global encontra-se cada vez mais acirrada. O mercado, mais exigente, vem buscando alternativas de baixo custo, melhores produtos e processos mais eficientes que não agridam o meio ambiente, preocupando-se com a escassez dos recursos naturais e a redução do consumo de energia (HEMAIS, 2003). Todas as indústrias são afetadas pela incessante busca de redução de custo e melhoria da eficiência energética. A substituição de materiais metálicos por poliméricos esta cada vez mais sendo empregada nos diversos ramos industriais e principalmente no ramo automotivo, onde já ocupam lugar de destaque. Passaram a fazer parte dos automóveis principalmente a partir do desenvolvimento de polímeros de alto desempenho que são capazes de suprir as solicitações desejadas na aplicação (MEDINA, 2002; HEMAIS, 2003). Durante a elaboração de um projeto, há duas principais características que tornam os polímeros, assim como os compósitos poliméricos, atraentes em comparação com a utilização dos materiais metálicos convencionais. Uma destas características é a capacidade de adaptação aos projetos, garantindo resistência e rigidez necessárias. A outra é a sua densidade, relativamente baixa em comparação com os metais. Além dessas características, o congregado entre custo da matéria- prima e processo de produção econômico, redução do tempo de fabricação e ganho de resistência à corrosão, também tornam estes materiais atrativos (UNAL et al, 2005). 26 Para a seleção do tipo de material que será utilizado, visando melhor atender as solicitações dos clientes, alguns critérios devem ser priorizados, a saber: as especificações dimensionais, de forma e de peso, limitações do produto e da sua aplicação, as propriedades e a estrutura dos materiais, os processos e tipos de tratamentos que serão empregados, a relação custo e benefício, a disponibilidade da matéria-prima e de mão de obra qualificada e os investimentos necessários (FERRANTE, 2007). Visando a avaliação da vida útil de um produto em uma determinada aplicação que exige contato constante sob movimento, um dos fatores mais importantes e que pode atuar como um fator limitante é o seu comportamento tribológico, ou seja, como a condição de funcionamento pode ser influenciada pelo atrito e pelo desgaste (HUTCHINGS, 1992; UNAL et al, 2005). Através da temática do atrito, do desgaste e da lubrificação pode-se aplicar análises operacionais para a resolução de problemas com grande relevância econômica, como a confiabilidade de sistemas, na manutenção e avaliação de desgaste em equipamentos que envolvem desde aplicações domésticas a aplicações espaciais (SILVA, 2009). Os polímeros puros apresentam desvantagens em situações onde elevada resistência mecânica, resistência ao atrito e ao desgaste são requeridas, neste sentido os compósitos de matriz polimérica auxiliam na solução destes problemas. Atualmente, compósitos de matriz polimérica tem sido cada vez mais utilizados em aplicações tribológicas, tais como engrenagens, buchas, vedações e rolamentos. Além de melhorar o desempenho tribológico, o emprego de compósitos poliméricos em substituição a materiais metálicos proporciona uma redução de peso dos componentes (FRIEDRICH et al, 2012). 27 Compósitos são materiais multifásicos que apresentam proporção significativa das fases que o constituem, visando a obtenção de uma melhor combinação de propriedades. Alguns dos tipos de compósitos mais comuns possuem matriz (fase dispersante) polimérica reforçada com cargas (fase dispersa) e são chamados compósitos poliméricos (CALLISTER, 2008). Fibras de carbono são adicionadas para aumentar a resistência mecânica e a rigidez do polímero. Fibras longas e curtas de vidro e as de aramidas também podem ser acrescentadas para melhorar as propriedades mecânicas. Elementos lubrificantes, assim como PTFE e/ou grafite, são incorporados na sua composição para reduzir o mecanismo de adesão através da formação e transferência de filmes na face do contra corpo, agindo como elementos protetivos (FRIEDRICH et al, 2005; FERRANTE, 2007). 1.1 Motivação Com a crescente utilização de compósitos poliméricos em aplicações automotivas, existe o interesse em desenvolvimentos que envolvam este tipo de material visando avaliar o seu desempenho em relação a uma determinada aplicação. A idéia desta dissertação surgiu com a necessidade do estudo do comportamento tribológico de desgaste de compósitos poliméricos de matriz termoplástica que pudessem substituir um compósito polimérico de matriz termofixa, utilizado na fabricação de pistões que compõe o cilindro mestre de embreagens automotivas. Inicialmente foi selecionado um compósito de matriz termofixa, em razão à sua estabilidade dimensional, bom acabamento superficial e resistência à 28 altas temperaturas. Porém, algumas dificuldades, como processabilidade, desgaste do pistão possibilitando fratura e quebra e o fato de não ser um material reciclável, geraram a necessidade de se avaliar compósitos poliméricos de matriz termoplástica que apresentassem propriedades semelhantes de dureza, acabamento superficial, boa resistência mecânica e à altas temperaturas e principalmente melhor desempenho frente ao desgaste (sistemas autolubrificantes). Neste contexto, esta dissertação tem por finalidade avaliar de forma comparativa o comportamento tribológico de cinco compósitos poliméricos, sendo quatro deles de matriz termoplástica e um de matriz termofixa, em contato com um aço SAE52100 (100Cr6), por meio do ensaio tribológico de esfera sobre placa. 29 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Verificar, em comparação com um compósito termofixo (resina fenólica, com fibra de vidro e carga mineral) já utilizado em aplicações dinâmicas automotivas contra aço, se dentre quatro compósitos termoplásticos selecionados: Poli (amida- imida) com fibra de carbono e PTFE, Poli (amida-imida) com grafite e PTFE, Poli (éter éter cetona) com fibra de carbono e PTFE, Poli (aril éter cetona), haverá algum com propriedades de desgaste superiores. 2.2 Objetivos Específicos Realizar ensaios tribológicos de esfera sobre placa em cinco diferentes compósitos poliméricos, com diferentes variações de carga e distância de deslizamento. Comparar o desempenho dos compósitos quanto à carga aplicada e a distância de deslizamento, através do cálculo do volume desgastado durante os ensaios. 30 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Tribologia Tribologia é o estudo do atrito e deriva das palavras gregas tribos (atrito) e logos (estudo). É descrita como a ciência e tecnologia que trata do estudo de superfícies e da sua interação em movimento relativo, abrangendo o estudo do atrito, lubrificação e desgaste. Esta interação, sistêmica, não linear e de eminente sensibilidade, proporciona a ação do atrito. Com o passar do tempo, o atrito gera desgaste das superfícies que estão em contato entre si. A lubrificação reduz o atrito em alguns casos, propiciando uma melhoria na durabilidade das superfícies, pois pode evitar o desgaste excessivo (HUTCHINGS, 1992). Um sistema tribológico (tribossistema) é formado pelo encontro, em contato móvel, das superfícies de dois componentes e da área adjacente. A dimensão, a categoria e o progresso do desgaste são influenciados pelo tipo dos materiais e seus acabamentos superficiais, pela temperatura, pressão, umidade, presença de materiais intermediários como água, graxa, óleo, partículas e contaminantes e pelas condições de operação (carga aplicada e tipo de movimento), conforme Figura 1 (STOETERAU, 2004). 31 Figura 1 – Representação de um sistema tribológico. 3.2 Teorias de Atrito O atrito é um parâmetro importante na seleção de materiais que atuam em contato, afetando variáveis como as condições de trabalho, a formação e transferência de filmes (películas), formação de debrís e geração de calor. As forças de atrito são difíceis de prever, pois dependem das propriedades das superfícies, que podem mudar ao longo do tempo através do desgate e por mecanismos de deformação e oxidação (MENEZES, 2011). Os primeiros dispositivos tribológicos foram criados há milhares de anos, mas o ápice da história da tribologia foi a invenção da roda primitiva por volta de 3500 a.C.. O atrito contribuiu para o desenvolvimento da civilização paleolítica e os relatos mais antigos são a utilização de objetos (brocas) para produção de fogo e para realizar furações. Por volta de 2000 a.C. o desenvolvimento dos primeiros mancais 32 progrediu com o emprego de mancais de pedra polida nas rodas de oleiro (STOETERAU, 2004). Os primeiros lubrificantes foram empregados na redução do atrito em movimentos lineares por volta de 3500 a.C. Este fato foi constatado, pois uma carruagem encontrada em uma tumba do Egito antigo continha em seus mancais de rodas lubrificante de origem animal (STOETERAU, 2004). Por volta de 1100 a.C., assírios movimentaram um enorme bloco de pedra utilizando como apoio pranchas sobre roletes. Neste mesmo período, cálculos do coeficiente de atrito envolvido neste mecanismo, demonstram que ocorreu um desenvolvimento tribológico significativo marcado pela alteração do movimento de deslizamento para o de rolamento (STOETERAU, 2004). Robert Hooke, em 1684, sugeriu que no lugar de suportes de madeira com ferro, o conjunto de eixos de aço com buchas de bronze (material utilizado em sinos na época) para mancais de rodas fosse empregado. O emprego deste novo material para mancal virou patente por volta de 1840 (STOETERAU, 2004). Leonardo da Vinci (1452-1519) foi um dos precursores na investigação do atrito, que é um dos princípios fundamentais da tribologia. Em 1699, Amontons enunciou as duas primeiras leis do atrito de deslizamento, constatadas 200 anos antes por Leonardo da Vinci. Ele constatou que a força de atrito é independente da área de contato aparente e proporcional à carga normal aplicada. Amontons “redescobriu” as leis realizando investigações experimentais independentemente de Leonardo da Vinci (PERSSON, 2000). A Figura 2 mostra os estudos elaborados por Leonardo da Vinci sobre as forças de atrito entre superfícies inclinadas e horizontais e seus estudos sobre a 33 influência que a área de contato aparente exerce na resistência ao atrito (PERSSON, 2000). Figura 2 – Estudos sobre o atrito de Leonardo da Vinci: (a) força de atrito entre planos horizontais e inclinados; (b) influência exercida pela área de contato aparente na resistência ao atrito; (c) força de atrito em um plano horizontal através de uma polia; (d) torque de atrito em uma roldana semicircular. Adaptado de Persson, 2000. Em 1785, aproximadamente, Coulomb confirmou as leis de atrito enunciadas por Amonton e propôs a terceira lei, em que a força de atrito é independente da velocidade de deslizamento (HUTCHINGS, 1992). No modelo desenvolvido por Coulomb, a rugosidade é representada pela geometria de dentes de serra. Com o deslizamento do corpo da posição “A” para a posição “B” um trabalho é realizado em oposição à carga normal “L” e as superfícies encontram-se separadas. O trabalho realizado pela força de atrito (µ) contra a carga normal equivale a tg (θ). Na movimentação do corpo da posição “B” para a posição “C” a carga normal realiza uma quantidade igual de trabalho, não ocorrendo dissipação de energia durante o ciclo todo, pois toda energia armazenada no primeiro deslizamento é recuperada (HUTCHINGS, 1992). 34 Conforme Coulomb e Amontons a maior influência da força de atrito ocorre devido às interações mecânicas existentes entre as deformações elásticas ou rígidas das asperezas (rugosidade). O modelo de Coulomb está representado na Figura 3 (STOETERAU, 2004). Figura 3 – Esquema ilustrado dos princípios do modelo de Coulomb para o atrito e deslizamento. Adaptado de Stoeterau, 2004. Entre 1930 e 1970, Bowden e Tabor realizaram estudos que deram origem a maioria das teorias fluentes sobre atrito de deslizamento. Estas teorias são a base para as teorias de deslizamento atuais. O modelo de atrito de deslizamento elaborado por Bowden e Tabor supõe que a força de atrito é formada por duas componentes: uma força de adesão e uma de deformação necessária para identar as asperezas de uma superfície mais dura em uma superfície mais mole (HUTCHINGS, 1992). 3.3 Perfil da Superfície Todas as superfícies são rugosas em escala microscópica, consequentemente quando duas superfícies estão em contato, a proximidade de 35 suas asperezas gera interações químicas ou físicas ocasionando contato adesivo, ou seja, junção das asperezas. Quando as duas superfícies que estão em contato encontram-se em movimento relativo, uma força lateral, descrita como força de atrito adesiva, conduz a formação e a ruptura das junções (STACHOWIAK & BATCHELOR, 1996). Segundo STOETERAU (2004), nenhum processo de produção permite a obtenção de superfícies perfeitamente lisas, os erros induzidos pelos processos de produção refletem sob a forma de desvios dimensionais e geométricos. As superfícies dos sólidos, mesmo que pareçam perfeitamente lisas, apresentam uma variedade de defeitos e distorções que vão desde desvios de forma (volume superficial) às irregularidades microscópicas locais, da ordem de distância interatômica. Estes desvios e irregularidades exercem forte influência no atrito e no desgaste. De acordo com a norma DIN 4760, as superfícies apresentam regiões com diferentes planicidades (maiores ou menores), esta diferença é definida como rugosidade. Estes desvios encontrados nas superfícies podem ser divididos em seis ordens e apesar de possuírem características distintas, não são encontrados separadamente, eles se sobrepõe e formam o perfil completo de uma superfície. Segundo Hutchings (1992), a rugosidade superficial é formada pelo conjunto de vales e picos com amplitude micrométrica que são encontrados nas superfícies de engenharia. Conforme Gahr (1987), a textura característica de uma superfície é denominada pelo tamanho, forma e arranjo dos elementos individuais, assim como os picos e vales em uma escala microscópica (asperezas). 36 Persson (2000) supõe para corpos macroscópicos que, ao menos que a natureza das superfícies seja muito rugosa ou muito dúctil, o atrito de deslizamento é aproximadamente independente da rugosidade. No caso de asperezas muito elevadas, a rugosidade pode provocar um aumento do atrito. Para superfícies dúcteis a aderência pode ocasionar o aumento da área de contato e consequentemente aumentar o atrito. 3.4 Área de Contato entre Superfícies Do ponto de vista macroscópico, quando duas superfícies planas e paralelas são colocadas em contato, a área de uma superfície encosta na área da outra superfície por completo, esta região onde ocorre contato é denominada de área aparente de contato. Entretanto, do ponto de vista microscópico, o contato se dá inicialmente apenas em alguns pontos discretos, devido à rugosidade e esta área é denominada de área real de contato. A área real de contato é formada pela soma de todas as junções (regiões onde ocorre contato pontual). Quando se tem um aumento significativo da carga normal aplicada, ocorre uma aproximação maior das superfícies e o número de pontos em contato aumenta (HUTCHINGS, 1992; GAHR, 1987). A Figura 4 ilustra a área de contato aparente e demonstra que os contatos pontuais (junções) referentes à área de contato real são, em geral, muito menores que a área de contato aparente (macroscópica) (STOETERAU, 2004). 37 Figura 4 – Representação da área de contato entre duas superfícies exemplificando a área aparente de contato e a área real de contato.Adaptado de Stoeterau, 2004. O atrito e consequentemente o desgaste de duas superfícies sólidas que estão em contato sem lubrificação depende principalmente da rugosidade das superfícies, da dureza dos materiais e do tipo de deformação das asperezas envolvidas (GAHR, 1987). Hutchings (1992) cita a teoria de Greenwood e Williamson, mais utilizada para contatos do tipo elástico, mas que pode ser empregada também para fluidez plástica presente entre as asperezas. A teoria propõe que quando uma superfície sofre tensões e deformações de meios externos, o índice de plasticidade Ψ, descreve a transição da deformação elástica para a plástica, através da proporção de contatos necessária entre as asperezas desta superfície para que ocorra a fluidez plástica. O valor do índice de plasticidade é representado pela Equação 1: (1) 38 Onde H representa a dureza do material mais dúctil, σ* é o desvio padrão da distribuição Gaussiana da altura das asperezas, r é o raio das asperezas (considerado o mesmo para todas as asperezas). Com E1 determinado através da Equação 2: (2) E1 e E2 são os módulos de elasticidade e ν1 e ν2 são os coeficientes de Poisson de dois corpos em contato (HUTCHINGS, 1992). Se o índice de plasticidade for menor do que 0,6 (ψ < 0,6), o contato elástico predomina, porém, se o índice for maior que 1 (ψ > 1), o contato plástico prevalece. Para superfícies de material metálico, os valores do índice de plasticidade (ψ) variam entre 0,1 e 100. Geralmente, o fator E/H para materiais cerâmicos e poliméricos, é um décimo do apresentado pelos metais, isto representa uma redução no valor do índice de plasticidade (ψ). Dessa forma, para cerâmicas e polímeros, o contato elástico é mais expressivo que o plástico. (HUTCHINGS, 1992). Da Vinci definiu a concepção de contato mecânico em função da osculação do contato ou geometria da interseção entre dois corpos sólidos que estão em contato (MEDEIROS, 2000). Esta concepção de contato mecânico está exposta na Figura 5. 39 Figura 5 – Geometria de contato entre dois corpos sólidos, (a) contato do tipo conforme; (b) limiar entre o contato conforme e o não conforme; (c) contato não conforme. Adaptado de Medeiros, 2002. Durante o contato de duas superfícies sob carregamento, pode ocorrer somente uma deformação elástica ou uma deformação elástica e plástica simultaneamente. Em escala macroscópica ou microscópica (asperezas), no caso de contatos não conformes, modela-se a tensão como sendo uma de Hertz (WILLIAM, 2004). Conforme a teoria de Hertz, a compressão gerada pela aplicação de uma tensão normal resulta em um campo de pressão com uma distribuição parabólica (MEDEIROS, 2002). O cálculo da tensão máxima de contato elástico entre o corpo de prova e o contra corpo pode ser efetuado utilizando-se a equação desenvolvida por Hertz. Esta equação relaciona as características mecânicas dos dois materiais envolvidos, assim com o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson. O resultado desta equação representa a pressão no contato da superfície entre os dois corpos. A Equação 3 define a pressão de Hertz (Sc): (3) 40 Onde P corresponde à carga aplicada em N, D ao diâmetro da esfera em m, e E0 é obtido através da Equação 4: (4) Com E1 e E2 representando os módulos de elasticidade dos materiais em Pa e v1 e v2 os coeficientes de Poisson (adimensional) para os dois materiais (MEDEIROS, 2002). 3.5 Desgaste A atividade tribológica está relacionada com o atrito entre um corpo e um contra corpo e é gerada pelo contato e movimento relativo entre estes elementos. A tribologia relaciona e descreve os fenômenos que atuam na área de atrito. O desgaste é o resultado de uma atividade tribológica entre as duas superfícies e provoca remoção de material devido ao atrito ocasionado pelas asperezas das superfícies que estão em contato e em movimento (HUTCHINGS, 1992). A norma DIN 50320 define o desgaste como sendo um dano a uma superfície sólida gerando perda progressiva de material, como resultado do movimento relativo entre um corpo e um contra corpo sólido, líquido ou gasoso. 41 O desgaste pode ocasionar danos secundários como desalinhamento e vibração devido a alterações dimensionais ou danos na superfície dos componentes (GAHR, 1987). 3.5.1 Regimes de desgaste Quando superfícies deslizam entre si, o tipo de atrito encontrado varia com a natureza dos materiais em contato, com a carga aplicada, a área superficial, a rugosidade da superfície e a velocidade do deslizamento. (STOETERAU, 2004). O regime de desgaste, assim como o regime de atrito, pode ser dividido em três classes: desgaste severo, moderado ou catastrófico. O que define o tipo de regime é a variação na taxa de desgaste e esta pode ser influenciada por variações na severidade do carregamento, ou seja, da carga normal, da velocidade de deslizamento ou da temperatura superficial (LEWIS & OLOFSSON, 2004; HUTCINGS, 1992). O desgaste moderado resulta em uma superfície muito menos rugosa que a original. Produz partículas (debrís) de desgaste geralmente de 0,01 a 1 μm de diâmetro e gera mínima deformação plástica (STOETERAU, 2004). O desgaste severo, em contraste, resulta em superfícies muito mais rugosas com elevada deformação plástica e partículas de desgaste com diâmetros da ordem de 20 a 200 μm que podem ser vistas a “olho nu” (LEWIS & OLOFSSON, 2004; HUTCHINGS, 1992). 42 O desgaste catastrófico gera falhas bruscas na superfície. Cada regime pode ser identificado pela aparência das superfícies, metalografia das seções dos materiais e partículas formadas pelo desgaste. O desgaste que ocorre no regime moderado pode ser identificado por meio da oxidação superficial, já nos regimes severo e catastrófico, ocorre à formação de trincas na superfície e perda de material devido ao lascamento (LEWIS & OLOFSSON, 2004). 3.5.2 Movimentos relativos Outra classificação e a mais tradicional para definir os tipos de desgaste é baseada no tipo do mecanismo de desgaste empregado ou no tipo de movimento relativo realizado (RAMALHO & MIRANDA, 2006). Os cinco principais tipos de movimentos relativos são: deslizamento, rolamento, oscilação, impacto e fluxo (GAHR, 1987). Conforme Hutchings (1992), o deslizamento e o rolamento são os mais frequentes e de maior importância. Ele salienta que essas duas classes de movimento não ocorrem de forma isolada, ou seja, um movimento relativo de rolamento quase sempre envolve algum deslizamento. Baseados no movimento relativo, diferentes ensaios tribológicos foram desenvolvidos para simular o mecanismo de desgaste envolvido em cada caso. Várias técnicas aplicadas a ensaios de desgaste não tem especificação padrão, porém têm sido aceitas por laboratórios de todo o mundo (GAHR, 1987). A Figura 6 apresenta algumas configurações. 43 Figura 6 – Ensaios tribológicos. (a) pino-disco; (b) esfera-disco;(c) chapa-disco; (d) pino-disco na borda; (e) cilindro-disco; (f) bloco-roda (roda de borracha). Adaptado de Lima da Silva, 2006. 3.5.3 Mecanismos de desgaste Os tipos de desgaste podem ser classificados e definidos de acordo com o mecanismo que gera a remoção do material durante o processo. A norma DIN 50320 agrupa os mecanismos de desgaste em quatro tipos principais, conforme descrito a seguir: 1) Desgaste por adesão: ocorre ligação e quebra de ligação adesiva interfacial; 2) Desgaste por abrasão: ocorre a remoção de material devido ao riscamento ou scratching; 3) Desgaste por fadiga superficial: a fadiga gera formação de trinca na região superficial devido a tensões cíclicas tribológicas que resultam na separação de material; 44 4) Desgaste por corrosão: há a formação de produtos de reação química como um resultado de interações químicas entre os elementos de um sistema tribológico iniciados pela ação tribológica (GAHR, 1987). 3.5.3.1 Desgaste por adesão O desgaste adesivo ocorre quando duas superfícies em contato entre si deslizam uma contra a outra em movimento relativo e forças de atrito reagem a este movimento. Estas forças de atrito ocorrem devido à adesão entre as superfícies. A junção entre as superfícies causa fratura de material de uma ou de ambas as superfícies. Fragmentos de uma superfície aderem na outra e mais tarde esses fragmentos podem se soltar novamente e aderirem na superfície original ou também formarem partículas soltas. A figura 7 ilustra o esquema de desgaste adesivo (STACHOWIAK & BATCHELOR, 1996). Figura 7 – Esquema de desgaste adesivo. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 1996. 45 Conforme Myshkin et al. (2005), do ponto de vista microscópico, quando dois corpos estão em contato, as forças superficiais de atração e repulsão interagem entre os átomos e as moléculas de ambas as superfícies. A adesão ocorre na zona interfacial devido às forças de ligações covalente, metálica, iônica, hidrogênio e Van der Waals presentes nos materiais. A adesão é propiciada pela deformação plástica, alta pressão local e por um bom acabamento superficial. Neste mecanismo de desgaste, as asperezas das superfícies que estão em contato formam junções adesivas. Estas junções aumentam com o aumento da deformação plástica e com o movimento relativo contínuo. A ruptura das junções pode transferir material de uma superfície para outra ou gerar debrís conforme Figura 8 (GAHR, 1987). Figura 8– Ilustração do processo de desgaste adesivo, com surgimento de debrí originado pela fratura das junções.Adaptado de Lima da Silva, 2006. 46 3.5.3.2 Desgaste por abrasão A abrasão geralmente ocorre quando superfícies duras e rugosas, ou superfícies dúcteis que contém partículas duras, deslizam sobre uma superfície mais mole, ou ocorre quando partículas duras soltas rolam ou deslizam entre duas superfícies. Neste último caso, um grão abrasivo adere temporariamente em uma das superfícies, ou é incrustado nela, e risca a superfície oposta. (STOETERAU, 2004). A Figura 9 ilustra o esquema do desgaste abrasivo. Figura 9 - Esquema do desgaste abrasivo entre um corpo rígido, um corpo macio e uma partícula rígida. Adaptado de Buschan e Grupta, 1997. O desgaste abrasivo é definido como sendo uma forma de desgaste que resulta na remoção ou deslocamento de material da superfície de um corpo deslizando em contato com um contracorpo, pela ação de partículas duras ou asperezas. Existem dois processos que ocasionam o desgaste abrasivo: o processo de desgaste abrasivo de dois corpos e de três corpos (HUTCHINGS, 1992). O desgaste do tipo dois corpos envolve apenas duas superfícies em contato, a superfície mais dura e rugosa desloca material da outra, mais mole. Já o desgaste do tipo três corpos envolve, além das duas superfícies que estão em contato, um 47 terceiro elemento (substância sólida dura) entre as duas superfícies. As taxas de desgaste devido à abrasão três corpos geralmente são menos expressivas do que as de dois corpos (HUTCHINGS, 1992). A Figura 10 exemplifica o desgaste por abrasão a dois corpos. Onde grãos ou asperezas duras estão presos rigidamente em uma das superfícies e atuam sobre a outra superfície como uma ferramenta de corte. Figura 10 – Esquema do desgaste abrasivo a dois corpos. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. A Figura 11 ilustra o desgaste por abrasão a três corpos. Neste caso, os grãos estão livres para deslizar e rolar sobre a superfície, desde que não estejam presos rigidamente em alguma das superfícies (STACHOWIAK & BATCHELOR, 2005). 48 Figura 11 – Esquema do desgaste abrasivo a três corpos. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. A Figura 12 ilustra a formação de proa e sulcamento (deformação plástica) pelo mecanismo de desgaste por abrasão bem como o surgimento da fratura frágil e desprendimento de grão. Figura 12 – Principais mecanismos de desgaste por abrasão: a) formação de proa, b) sulcamento, c) fratura, d) desprendimento de grão. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. O mecanismo de desgaste abrasivo é utilizado, em larga escala, em operações de acabamento superficial. O tipo abrasivo de dois corpos é empregado 49 em lixas, limas, rebolos, papéis e tecidos abrasivos. O desgaste do tipo três corpos é empregado para processos de lapidação e polimento (STOETERAU, 2004). 3.5.3.3 Desgaste por fadiga superficial De acordo com Buschan e Grupta (1997), o desgaste por fadiga superficial acontece quando forças cíclicas são aplicadas no material. As tensões, geradas através de partículas ou asperezas livres, ocasionam a formação de trincas superficiais, ou subsuperfíciais, gerando a formação de fragmentos. A remoção destes fragmentos gera formação de grandes crateras superficiais. Segundo Stoeterau (1994), tensões de contato surgem em superfícies que se encontram em movimento de rolamento. Conforme Hertz, estas tensões de contato, geram tensões cisalhantes cujo valor máximo ocorre na subsuperfície. A zona de contato desloca-se através do movimento de rolamento. A tensão de cisalhamento varia de um valor mínimo até um valor máximo e retorna ao valor mínimo, gerando tensões cíclicas que podem ocasionar falha por fadiga. Uma trinca que se forma abaixo da superfície e se propaga devido ao carregamento cíclico, pode chegar à superfície. Quando a trinca chega à superfície e lasca, surgi uma partícula superficial gerando a formação de uma cavidade ou pit. Conforme Gahr (1987), o desgaste por fadiga superficial pode ser descrito pelo destacamento de material e pela formação de trincas e é causado por cargas cíclicas que atuam na superfície. O deslizamento repetido de uma partícula dura sobre uma superfície sólida pode ocasionar a formação e a propagação de trincas 50 abaixo da superfície. As partículas de desgaste surgem quando uma trinca originada abaixo da superfície se propaga e atinge a superfície. A Figura 13 representa o fluxo de formação de desgaste por fadiga. A trinca primária forma-se na superfície e propaga-se em direção ao núcleo da peça. Uma trinca secundária pode desenvolver-se a partir da trinca primária. Uma partícula de desgaste é liberada quando a trinca desenvolvida encontra-se com a superfície (STACHOWIAK e BATCHELOR, 1996). Figura 13 – Esquema da formação e propagação de uma trinca por fadiga. Adaptado de Stachowiak e Batchelor, 2005. 3.5.3.4 Desgaste por reação química O desgaste corrosivo ocorre em uma vasta gama de situações. A causa fundamental desta forma de desgaste é a reação química que ocorre entre o material desgastado e um meio agressivo quimicamente, que pode ser tanto um reagente de químico, um lubrificante ou mesmo ar. Desgaste corrosivo é um termo geral relacionado com qualquer forma de desgaste dependente de um processo químico ou corrosivos. Nesta forma de desgaste a taxa de desgaste aumenta 51 enquanto o coeficiente de atrito reduz. Esta contradição que ocorre entre o atrito e o desgaste serve para identificar estes processos de desgaste (STACHOWIAK & BATCHELOR, 1996). Uma ilustração de desgaste corrosivo é apresentada na Figura 14. Figura 14 – Desgaste corrosivo. a) início de reação química entre as superfícies; b) desgaste das superfícies pelo mecanismo de corrosão. Adaptado de Buschan e Grupta, 1997. 3.6 Modelagem de Desgaste Na equação do desgaste desenvolvida por Archard e abordada por Hutchings (1992), o desgaste dos materiais pode ser determinado através de uma análise simples do desgaste que ocorre entre duas superfícies. Ele relaciona a carga normal aplicada no sistema W (N), a distância de deslizamento Q (m) e as propriedades dos materiais envolvidos como a dureza do material mais dúctil H e o coeficiente de desgaste adimensional, K. O modelo simplificado de Archard, o qual define o volume desgastado pela distância de deslizamento é expresso pela Equação 5: 52 (5) O coeficiente de desgaste dimensional Kd, é mais empregado em aplicações de engenharia e comparara a severidade dos processos de desgaste existente em diferentes sistemas. O coeficiente de desgaste adimensional equivale a K/H e representa o agrupamento de K (coeficiente de desgaste adimensional) com H (dureza). O valor obtido é o volume de material que foi removido (m3) pelo desgaste Kd, equivalendo à distância de deslizamento Q (m), por unidade de carga normal W (N) (HUTCHINGS, 1992). Portanto, a Equação 6, que define o coeficiente de desgaste dimensional, pode ser expressa por: (6) 3.7 Atrito dos Materiais Poliméricos O atrito encontrado em materiais poliméricos, quando estes sofrem a ação de um contra corpo rígido deslizando sobre a sua superfície, pode ser conferido segundo dois principais mecanismos: a adesão, que ocorre na zona interfacial e a 53 deformação que ocorre na zona coesiva (HUTCHINGS, 1992). A Figura 15 ilustra os mecanismos de adesão e deformação e as respectivas regiões onde elas ocorrem: Figura 15 – Zonas onde ocorrem os mecanismos de atrito. Adaptado de Briscoe, 1981. Quando ocorre uma interação entre um corpo metálico e um polimérico sobre o movimento de deslizamento, o comportamento do atrito é determinado pelas propriedades do corpo polimérico. Isto ocorre devido ao corpo metálico apresentar maior dureza e módulo de elasticidade (RODRIGUES, 2007). Segundo Hutchings (1992), o coeficiente de atrito de um material polimérico deslizando em contato contra um material metálico encontra-se na faixa de 0,1 a 0,5. Contatos entre metais e polímeros são geralmente contatos elásticos. O índice de plasticidade (Ψ) na região de contato é representado pela relação entre o módulo de elasticidade (E) e a dureza do material (H), conforme descrito no capítulo 3.4. Para materiais poliméricos o índice de plasticidade fica na ordem de 10 e o dos metais na ordem de 100 ou mais. Ou seja, o índice de plasticidade, para um Corpo Rígido Carga Movimento Zona Coesiva Zona Interfacial Polímero 54 mesmo padrão de rugosidade, assume valores da ordem de um décimo do valor de metais, o que representa um contato predominantemente elástico, exceto quando existir rugosidade muito alta (HUTCHINGS, 1992). 3.7.1 Adesão Segundo Stachowiak e Batchelor (1996), grande parte dos materiais poliméricos adere a outros tipos de materiais através das suas forças intermoleculares. Na maioria das circunstâncias de atrito, o mecanismo de adesão não é forte o suficiente para arrancar pedaços do material através da ruptura por contato. Uma forte adesão baseada na interação química entre um corpo polimérico e um corpo metálico constitui a base do mecanismo de desgaste do polímero sobre o metal. Quando as ligações interfaciais são mais fortes do que as forças coesivas do material mais fraco, ocorre a fratura e transferência deste material. Porém, sob determinadas condições, alguns elementos do material metálico, também podem ser transferidos para a superfície do material polimérico (MYSHKIN, et al, 2005). Segundo Hutchings (1992), quando uma superfície polimérica polida desliza sobre uma superfície metálica, também polida, a força de atrito origina-se do mecanismo de adesão. A adesão entre estas superfícies ocorre na zona interfacial, onde o contato predominante é o contato elástico. A adesão origina-se de forças de ligação fracas, assim como, a de Van der Waals ou as pontes de hidrogênio. Geralmente o mecanismo de adesão ocorre devido ao cisalhamento das junções e 55 pode ser caracterizado pela deposição do material do corpo polimérico no contra corpo metálico. 3.7.2 Deformação O atrito causado pelo mecanismo de deformação pode ser observado na zona coesiva do corpo polimérico onde ocorre a dissipação de energia na região em volta da área de contato, ocasionando uma identação, quando o contato for estático, ou um sulco (trilha), quando houver um deslizamento. O mecanismo de deformação sofre forte influência da rugosidade. (STOETERAU, 2004). Czichos (1983) estudou como a rugosidade do contra corpo metálico pode influenciar e alterar o mecanismo de deformação de um corpo polimérico durante um movimento de deslizamento. Ele constatou que inicialmente o atrito dos termoplásticos em estudo, diminuiu com o aumento da rugosidade média (Rz) do corpo ou contra corpo, porém para rugosidades mais altas o atrito aumentou. Ele explica que para menores valores de rugosidade do corpo polimérico, o processo de adesão prevalece, enquanto que para superfícies com uma rugosidade maior, o processo de abrasão predomina. Foi observado um decréscimo no coeficiente de atrito até a rugosidade média (Rz) 0,4 μm, sendo que acima deste valor foi constatado atrito por abrasão (mecanismo de deformação). O mesmo comportamento foi observado com o aumento da rugosidade superficial do contra corpo, onde para rugosidades acima de 0,8 μm e 1,0 μm foi constatado desgaste abrasivo. 56 3.8 Desgaste dos Materiais Poliméricos O atrito e o desgaste de polímeros são extremamente complexos e dependem das propriedades dos materiais e do tipo da aplicação. Embora o atrito e o desgaste de materiais não metálicos exibam aspectos fundamentais semelhantes ao dos materiais metálicos, existem também diferenças significativas no nível em que o atrito e o desgaste ocorrem, assim como nos mecanismos de desgaste envolvidos. Essas diferenças podem ser investigadas para a produção de novos materiais, aperfeiçoando o desempenho tribológico do sistema (STACHOWIAK e BATCHELOR, 1996). A maioria dos materiais poliméricos não é indicada para ser utilizada em aplicações que requeiram resistência ao desgaste e, de fato, esses materiais são, geralmente, inadequados para estas aplicações. Algumas classes de polímeros, no entanto, têm excelentes propriedades tribológicas e diversos estudos são realizados com estas classes relativamente limitadas (STACHOWIAK e BATCHELOR, 1996). Alguns dos polímeros que apresentam maior potencial tribológico, devido as suas características são: Poli (tetrafluor-etileno) ou (PTFE), poliamidas (PA), poli (amida-imidas) ou (PAI), poli (óxido de metileno) ou poliacetal (POM), polietileno de ultra alto peso molecular (UHMWPE), poliuretanos (PU), poli imidas (PI), resinas fenólicas e resinas epóxi. Segundo Briscoe (1981), os materiais poliméricos podem apresentar dois principais tipos de desgaste: o desgaste do tipo coesivo, que envolve os mecanismos de abrasão e fadiga superficial e o desgaste do tipo interfacial, que envolve o mecanismo de adesão e de reação triboquímica. 57 Conforme Lancaster (1969), o processo de desgaste de polímeros pode ser afetado pelas suas propriedades mecânicas e pela topografia do contracorpo. O mecanismo de corte (cutting) é observado em polímeros mais rígidos e a fadiga, em polímeros mais elásticos. Durante ciclos de deslizamento, uma modificação na superfície do contracorpo, pode influenciar o processo de desgaste, tanto pela transferência de material, como por acentuar o desgaste. Neste contexto, as fibras de reforço e as cargas incorporadas em um polímero, desempenham um papel importante. Menezes (2011) observou a relação entre a textura superficial e as propriedades de atrito e comportamento ao desgaste do polipropileno em contato com o aço. Ele constatou que durante o contato do metal com o polímero sob movimento de deslizamento, a textura superficial do material polimérico influenciou menos o atrito do que a do material metálico. Nos ensaios de desgaste realizados com corpos poliméricos, o mecanismo de desgaste predominante depende fortemente dos movimentos realizados pelas partículas na área de contato, do movimento rolante, da natureza da partícula abrasiva e dos materiais do contra corpo e da amostra (REINICKE; HAUPERT & FRIEDRICH, 1998). De acordo com Anderson (1982), parâmetros como temperatura, pressão e velocidade de deslizamento podem influenciar a taxa de desgaste. Outros fatores também podem influenciar a taxa de desgaste assim como o tipo da carga e do movimento e a rugosidade do contra corpo. O mecanismo de desgaste em qualquer polímero é fortemente influenciado pela condição superficial da contra face, ou seja, pela sua rugosidade, dureza e energia superficial. A energia superficial destina-se a definir a diferença entre duas 58 superfícies de dureza e rugosidade semelhantes. Esta propriedade pode ser definida como o potencial químico do material (STACHOWIAK &BATCHELOR, 1996). 3.8.1 Desgaste adesivo Uma das particularidades do desgaste adesivo é o mecanismo de transferência de material, que se origina do crescimento das junções de atrito e sua posterior fratura, resultando no cisalhamento das junções (MYSHKIN et al, 2005). O mecanismo de transferência de material em um tribossistema envolvendo um corpo polimérico e um metálico pode ocorrer das seguintes maneiras: pela formação de um filme polimérico na superfície do corpo metálico, pela fusão do material polimérico, por meio de transferência lamelar e por transferência de fragmentos (SILVA, 2003). A formação do filme polimérico ocorre quando as asperezas do corpo metálico cisalham e removem uma fração de material da superfície do corpo polimérico. O material removido adere na superfície metálica, formando um filme com espessura homogênea que permanece aderido a esta superfície durante vários ciclos de deslizamento (SILVA, 2003). A transferência de material por fusão origina-se quando a temperatura na interface das superfícies que estão em contato deslizante, ultrapassa os valores da temperatura de transição vítrea do corpo polimérico (SILVA, 2003). 59 O mecanismo de transferência lamelar está presente somente quando o corpo polimérico é constituído de polímeros com perfil molecular plano ou liso (SILVA, 2003). Quando ocorre a transferência de material polimérico através do mecanismo de transferência de fragmentos, o filme formado apresenta espessura irregular. Neste caso um fragmento de material polimérico é transferido para o corpo metálico sem que haja rompimento significativo das cadeias poliméricas e nem degradação química. Os fragmentos poliméricos não aderem completamente ao corpo metálico e permanecem em sua superfície por apenas alguns ciclos e são removidos pelo próprio movimento de deslizamento (RODRIGUES, 2007). 3.8.2 Desgaste abrasivo Gahr (1987) cita que as principais características do desgaste abrasivo são o sulcamento e a penetração de asperezas ou partículas de elevada dureza na superfície. Ou seja, podem ocorrer dois mecanismos distintos de deformação quando as partículas ou asperezas entram em contato com o corpo polimérico: corte ou cutting, onde há remoção de material em forma de microlascas e sulco ou entalhe plástico, onde não há remoção de material da superfície. Segundo Yousif e Tayeb (2010), o mecanismo de desgaste abrasivo surge quando um corpo sólido sofre carregamento e desliza contra partículas de outro corpo com dureza semelhante ou mais elevada. Este tipo de mecanismo pode aparecer de três principais formas: em forma de micro cortes, sulcamento ou 60 lascamento. Alguns dos principais fatores que controlam o grau de desgaste abrasivo são: as condições da aplicação, as características do material e suas propriedades abrasivas. 3.9 Parâmetros que Influenciam o Atrito e o Desgaste de Polímeros O coeficiente de atrito em materiais poliméricos é diferente do de materiais metálicos, e esta diferença é explicada pelo comportamento viscoelástico dos polímeros. Suas características de deformação, assim como suas propriedades relacionadas ao atrito, são dependentes da carga aplicada, da temperatura e da velocidade de deslizamento (ASM HANDBOOK,1992). Hutchings (1992), cita a dependência das características mecânicas dos polímeros com o tempo, como um outro fator que influência o atrito em polímeros e que também ocorre devido a sua viscoelasticidade. Em um sistema tribológico, os materiais poliméricos apresentam melhor performance quando deslizam em contato com contra corpos metálicos do que quando deslizam em contato com contra corpos poliméricos, justamente por conta dessa viscoelasticidade. Um fator que influencia fortemente a tribologia de polímeros em contato com metais é a formação e posterior transferência de um filme polimérico para o corpo metálico mais duro, como abordado no item 3.8.1 (STACHOWIAK & BATCHELOR, 1996). O coeficiente de atrito para materiais poliméricos pode variar de acordo com a temperatura, a carga aplicada e a velocidade de deslizamento, assim como para 61 materiais metálicos. A influência destes fatores é mais acentuada para os polímeros, devido à sua estrutura e comportamento viscoelástico (REINICKE; HAUPERT & FRIEDRICH, 1998). 3.10 Característica dos Materiais em Estudo A seleção das matérias-primas foi feita de acordo com um estudo realizado dentre os materiais poliméricos presentes no mercado e que apresentam as melhores propriedades frente ao desgaste e ao coeficiente de atrito. Porém, estudos realizados sobre as interações e a composição destas matérias-primas e seu efeito no coeficiente de atrito e desgaste, são raramente encontrados (RODRIGUES, 2007). Segundo Bekhet (1999), existe uma grande dificuldade em se obter informações sobre a taxa de desgaste para materiais poliméricos, pois existe mais do que uma variável que pode influenciar o seu comportamento frente ao desgaste. Algumas destas variáveis são a natureza complicada dos mecanismos de atrito e desgaste e a geração de calor no ponto de contato entre as superfícies. As matérias-primas empregadas na composição de materiais resistentes ao atrito e desgaste são: cargas (abrasivos, lubrificantes, modificadores de atrito e cargas de enchimento), fibras de reforço e matriz polimérica (RODRIGUES, 2007). Para este trabalho foram selecionados os seguintes compósitos para serem utilizados como corpos-de-prova, enquanto o aço SAE52100 (100Cr6) foi utilizado na confecção dos contra corpos: 62 Poli (amida-imida) com grafite e PTFE; Poli (amida-imida) com fibra de carbono e PTFE; Poli (éter éter cetona) com fibra de carbono e PTFE; Poli (aril éter cetona) com fibra de carbono; Resina Fenólica com fibra de vidro e carga mineral. A Tabela 1 apresenta as propriedades mecânicas dos compósitos em estudo, segundo informações obtidas nos catálogos dos fornecedores. Tabela 1 - Propriedades mecânicas dos compósitos em estudo, segundo informações obtidas nos catálogos dos fornecedores. Propriedades PAEK+FC PAI+FC+ PTFE RF+FV+C M PAI+G+ PTFE PEEK+FC+ PTFE Módulo de elasticidade (MPa) 17200 18600 28000 8830 15000 Tensão de ruptura (MPa) 181 114 85 117 180 Alongamento na ruptura (%) 2,2 0,8 0,4 2,6 1,8 Módulo de flexão (MPa) 15200 12400 24000 7310 14500 Tensão de flexão 276 154 180 208 270 63 3.10.1 Matrizes poliméricas As principais funções da matriz polimérica são: unir as fibras, atuar como meio de propagação e distribuição da tensão aplicada nas fibras, preservar as fibras dos danos que podem ser causados na superfície em por meio do mecanismo de abrasão ou através de reações químicas com o ambiente e separar as fibras, prevenindo a propagação de trincas de uma fibra para a outra (CALLISTER, 2008). 3.10.1.1 Poli (amida-imida) A resina poli imida começou a ser comercializada devido a seu excelente desempenho em altas temperaturas. As poli imidas apresentam uma ótima estabilidade dimensional e térmica, resistência química, tenacidade e resistência à oxidação. Além destas propriedades, apresentam também, uma ótima resistência ao desgaste (RODRIGUES, 2007). A poli (amida imida) foi elaborada a partir da poli imida para suprir as necessidades de alta resistência térmica em aplicações aeroespaciais. Altas proporções de carga podem ser incorporadas a PAI, sem causar perda de suas propriedades (RODRIGUES, 2007). A PAI é um polímero termoplástico e amorfo. O grupo amida garante a elongação e a flexibilidade, enquanto o grupo aromático em combinação com o grupo imida garante a estabilidade térmica deste material em altas temperaturas. A 64 excelente estabilidade dimensional é atribuída a sua estrutura amorfa e também por apresentar temperatura de transição vítrea de aproximadamente 275ºC, maior do que a temperatura de utilização convencional. A sua estrutura química pode ser observada na Figura 16. Figura 16 - Estrutura da unidade repetida para a poli (amida-imida) – PAI. Adaptado de Callister, 2008. Poli (amida-imida) com grafite e PTFE Este compósito pertence a uma classe que apresenta excelente resistência ao desgaste e excelentes propriedades mecânicas, bem como alto módulo de resistência à tração, baixo coeficiente de fricção e excepcional resistência ao desgaste tanto em condições de altas velocidades, quanto em condições de elevada pressão (TORLON, 2012). Este material é composto por PAI com de grafite e PTFE (lubrificante). É um polímero alto lubrificante utilizado em aplicações onde resistência mecânica a altas 65 temperaturas (200ºC) e resistência ao desgaste são de extrema importância (WIEBECK & HARADA, 2005). Este compósito possui a maior resistência e rigidez dentre todos os termoplásticos até 275º C. Tem excelente resistência ao desgaste, às deformações e a agentes químicos (TORLON, 2012). São aplicados na fabricação de alguns produtos que requerem elevada resistência à altas temperaturas e resistência ao desgaste, assim como: anéis de encosto, assento de válvulas, engrenagens, buchas, rolamentos, anéis de desgaste, entre outros (TORLON, 2012). Poli (amida-imida) com fibra de carbono e PTFE Este material apresenta, assim como o descrito anteriormente, excelente resistência ao desgaste e excelentes propriedades mecânicas, além do alto módulo de resistência a tração e baixo coeficiente de fricção até 275º C (TORLON, 2012). Também é um compósito auto lubrificante empregado em situações que requeiram elevada resistência ao desgaste e lubrificação, além de elevadas propriedades mecânicas (dureza) (TORLON, 2012). São utilizados na fabricação de alguns produtos, como: anéis de encosto, anéis de vedação, palhetas deslizantes, bobinas, buchas, cilindros de embreagem e pistões (TORLON, 2012). 66 3.10.1.2 Poli (éter éter cetona) O PEEK foi sintetizado pela primeira vez em 1977 pela ICI. Em 1983 O PEEK foi lançado como um novo material de engenharia pelas empresas Bayer e ICI (WIEBECK & HARADA, 2005). O PEEK faz parte do grupo das policetonas, resinas termoplásticas, assim como a poliétercetona (PEK). É um polímero de estrutura cristalina, apresenta alta resistência à temperatura, na faixa de 240º C. Possui um custo elevado, mas este pode ser justificado em muitas aplicações na indústria de eletrônicos, aeroespacial e em instalações de redes elétricas (WIEBECK & HARADA, 2005). As poliacetonas em geral, possuem um elevado limite operacional em altas temperaturas, acima de 260º C, excelentes propriedades mecânicas, alta resistência ao desgaste, à fadiga e a fricção e excelente resistência química. As resinas podem ser naturais, com fibras de vidro, de carbono ou possuir cargas minerais. Este tipo de material é apropriado para aplicações que sofrem alta tensão de contato (STACHOWIAK e BATCHELOR, 1996). A Figura 17 apresenta a estrutura de uma molécula de PEEK. 67 Figura 17 - Estrutura da unidade repetida para a Poli (éter éter cetona). Adaptado de Callister, 2008. Poli (éter éter cetona) com fibra de carbono e PTFE Este compósito apresenta excelentes propriedades tribológicas, ótima resistência ao desgaste, baixo coeficiente de atrito e de expansão térmica e boa resistência química em ambientes agressivos. É empregado na fabricação de produtos para aplicações tribológicas que requerem elevada resistência em geometrias com seções finas ou longas (VICTREX, 2009). 3.10.1.3 Poli (aril éter cetona) O PEAK reforçado com fibra de carbono oferece melhor estabilidade dimensional e resistência a deformações que o PEEK reforçado com a mesma quantidade de fibra de carbono. Apresenta alta rigidez e elevada resistência mecânica. Além disso, essa resina possui os atributos das fibras de carbono 68 incluindo resistência química, resistência à fadiga e longo prazo de estabilidade oxidativa térmica (AVASPIRE, 2010). Suas excelentes propriedades fazem com que este tipo de polímero seja empregado em diversos ramos industriais, como indústrias de transporte, de assistência médica, eletrônica e de processamento químico (AVASPIRE, 2010). A Figura 18 apresenta a estrutura de uma molécula de PAEK. Figura 18 - Estrutura da unidade repetida para a PAEK. Adaptado de Qunfeng et al, 2009. 3.10.1.4 Resina Fenólica O compósito polimérico termofixo estudado consiste de uma resina fenólica preenchida com carga mineral e fibra de vidro. As resinas fenólicas são utilizadas como agentes ligantes em materiais compósitos. A Figura 19 mostra a unidade de repetição de uma resina de fenol-formaldeído. São líquidas à temperatura ambiente e, após processadas no formato da peça são submetidas à cura, ou seja, formação 69 de ligações covalentes trifuncionais entre as cadeias poliméricas, adquirindo consistência de sólido. Figura 19 - Estrutura da unidade repetitiva para a resina fenólica - fenol-formaldeído. Adaptado de Hong et al, 2009. 3.10.2 Demais materiais utilizados na pesquisa A seguir será feita a apresentação de outros materiais utilizados no presente trabalho, para a elaboração dos compósitos poliméricos. 3.10.2.1 Fibra de vidro Os estudos sobre a utilização de fibras de vidro como reforço para resinas poliméricas teve início no século XIX. Porém só começaram a ser comercializadas a 70 partir de 1939, como reforço de compósitos e na fabricação de produtos isolantes térmicos (WIEBECK & HARADA, 2005). Atualmente as fibras de vidro são os reforços mais empregados na formação de compósitos de matriz polimérica, por apresentarem além do baixo custo, excelentes propriedades em diversas aplicações. As principais vantagens dos materiais compósitos com fibra de vidro são: boa resistência ao impacto, flexibilidade de conformação e manutenção, baixo coeficiente de dilatação térmica e alta resistência à tração (WIEBECK & HARADA, 2005). 3.10.2.2 Fibra de Carbono Esta classe de fibras é a que apresenta simultaneamente as melhores características de rigidez (módulo de elasticidade), resistência mecânica e baixa densidade, porém possui os menores alongamentos e custos superiores aos da fibra de vidro (WIEBECK & HARADA, 2005). A designação fibra de carbono engloba geralmente uma gama de elementos filamentares que tem em sua composição mais de 90 % de carbono. Estas fibras foram os primeiros tipos de reforços empregados na elaboração de compósitos, para elevar a dureza, o módulo de elasticidade e a resistência de materiais utilizados na fabricação de aeronaves e em aplicações industriais (WIEBECK & HARADA, 2005). Quando comparadas com alguns materiais de engenharia, as fibras de carbono apresentam elevado módulo de resistência. Por esta razão, quando uma 71 determinada aplicação requer altas propriedades mecânicas em condições críticas e com cargas elevadas, o emprego deste tipo de material predomina. 3.10.3 Aditivos 3.10.3.1 PTFE (politetrafluoretileno) O PTFE é um polímero que pode ser empregado como um aditivo, visando melhorar as propriedades lubrificantes de materiais poliméricos termoplásticos em casos onde a condutividade elétrica não é desejável. Geralmente, o PTFE é adicionado após a granulação do material e localiza-se na camada superficial, reduzindo o coeficiente de atrito (WIEBECK & HARADA, 2005). O politetrafluoroetileno pode fornecer um coeficiente de atrito baixo mesmo na ausência completa de qualquer lubrificante. (STACHOWIAK e BATCHELOR, 1996). A Figura 20 apresenta a estrutura da molécula do PTFE. 72 Figura 20 - Estrutura da unidade repetida para o Politetrafluoretileno. Adaptado de Callister, 2008. Segundo Unal et al (2004), o PTFE apesar de possuir baixo coeficiente de atrito, apresenta também baixa resistência ao desgaste e abrasão. Geralmente estas propriedades podem ser melhoradas com a incorporação de grafite (lubrificante sólido) e fibras de vidro, carbono e aramida. 3.10.3.2 Grafite O elemento grafite é formado por átomos de carbono, apresentando coloração preta ou cinza escuro. É um elemento de estrutura lamelar de placas que deslizam umas sobre as outras. Pode ser utilizado como lubrificante sólido, reduzindo o atrito entre superfícies em contato. Quanto maior o teor de carbono, melhor a lubricidade e resistência à oxidação (WIEBECK & HARADA, 2005). O grafite é um agente modificador empregado também como aditivo visando melhorar as propriedades lubrificantes dos materiais poliméricos termoplásticos. Ele pode ser acrescentado à massa, ou após a granulação do material. No segundo 73 caso, ele possui ação prolongada proporcionando uma redução no coeficiente de atrito (WIEBECK & HARADA, 2005). O grafite melhora a propriedade elétrica do termoplástico, aumentando sua condutividade. Ainda melhora tanto a lubrificação do material em trabalhos a seco, quanto à estabilidade dimensional e também reduz o teor de água absorvido. É muito utilizado em aplicações onde se tem materiais movimentando-se em contato constante, como em rolamentos, roldanas, mancais, engrenagens e buchas (WIEBECK & HARADA, 2005). 3.10.4 Aço SAE 52100 (100 Cr6) Segundo Chiaverini (1986), o aço é uma liga composta, principalmente com os elementos químicos ferro e carbono com a proporção de carbono variando de aproximadamente 0,008% até 2,11%. Além disso, pode ocorrer a presença de outros elementos químicos residuais, provenientes da sua fabricação. A norma ISO 863-17 (1999), engloba as características dos aços utilizados na fabricação de rolamentos de esfera e de rolos, a sua microestrutura, dureza e composição química, além das condições do produto (qualidade da superfície, forma, dimensões e tolerâncias). O aço utilizado na fabricação das esferas foi o aço SAE52100 (100 Cr6), classificado como aço liga com alto teor de carbono, 1% aproximadamente, com teor de cromo de variando entre 1,30 e 1,60%. Este aço é amplamente empregado nas 74 indústrias, por apresentar excelentes propriedades mecânicas, além de elevada dureza, devido ao alto teor de carbono (CHIAVERINI, 1986). 75 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Caracterização dos Compósitos Poliméricos Os compósitos poliméricos foram caracterizados através de medições de dureza Shore D e densidade e por meio das análises térmicas de Termogravimetria (TGA) e Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC). 4.1.2 Ensaio de dureza Shore D Para a caracterização da dureza dos compósitos poliméricos, utilizou-se o ensaio de dureza tipo Shore D. Os ensaios de dureza foram realizados de acordo com a norma ASTM D 2240 (2005). Neste ensaio, uma agulha normalizada é pressionada com tensão pré-definida contra a amostra. O tempo de exposição ao penetrador é de 15 segundos. Foi utilizado um Durômetro Digital, da marca Zwick, previamente calibrado, que se encontra no Laboratório de Polímeros da Schaeffler. Foram realizadas dez medições de dureza em cada um dos compósitos termoplásticos e no termofixo (resina fenólica). As medições de dureza foram realizadas para efeito comparativo entre os compósitos poliméricos termoplásticos e o termofixo (resina fenólica). A norma ASTM D 2240 (2005) define uma escala para cada classe de medição que varia entre 0 e 100 Shore D. Neste contexto, todos os compósitos 76 poliméricos analisados apresentaram elevados valores de dureza para esta classe de medição. Recomenda-se que, para valores encontrados abaixo de 20 ou acima de 90 Shore D, uma classe de medição inferior ou superior seja empregada. Porém, para padronizar os valores de dureza, foi utilizada a mesma classe de medição para todos os compósitos. 4.1.3 Densidade A norma ASTM D792 (2008) descreve os métodos dos ensaios para a determinação da densidade de plásticos sólidos. Esta norma define a densidade relativa, como sendo a razão entre a massa de um determinado volume da porção do material em uma atmosfera gasosa e submersa em água destilada ou desmineralizada. Este método relaciona a massa e o volume da espécie a ser avaliada (gravidade específica ou densidade relativa). As massas dos corpos de prova dos compósitos foram avaliadas por meio de uma balança