UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR) AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE E CARACTERIZAÇÃO DE HIDROCARBONETOS PRESENTES EM ÁGUAS DE RIOS IMPACTADOS POR EFLUENTE DE INDÚSTRIA PETROQUÍMICA MARIA TEREZA PAMPLONA SILVA Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Biologia Celular e Molecular) RIO CLARO –SP ABRIL/2013 AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE E CARACTERIZAÇÃO DE HIDROCARBONETOS PRESENTES EM ÁGUAS DE RIOS IMPACTADOS POR EFLUENTE DE INDÚSTRIA PETROQUÍMICA MARIA TEREZA PAMPLONA SILVA Orientadora: Profª Drª Maria Aparecida Marin Morales Dissertação apresentada ao I de Biociências da Univer Estadual Paulista, Campus Claro, como parte dos req para obtenção do título de em Ciências Biológicas, ár Biologia Celular e Molecular RIO CLARO –SP ABRIL/2013 i Dedico esse trabalho a Deus, meus pais Odenil e Irani e meu irmão Bruno ii “Posso, tudo posso Naquele que me fortalece. Nada e ninguém no mundo vai me fazer desistir.” (Celina Borges). v AGRADECIMENTOS À Deus, Aquele que permitiu que eu vencesse mais essa etapa, que me levantou quando eu cai, e foi a minha força quando eu não tinha mais forças, agradeço principalmente por Ele ter me fortalecido quando tive medo, e por colocar no meu caminho novos amigos ou anjos, tão especiais. Sem Ele nada disso seria possível. Aos meus pais, Odenil e Irani, que me deram a vida e todo o amor e a base, que me ensinaram a lutar pelos meus sonhos e fizeram o possível e o impossível para que eu chegasse até aqui. Agradeço a vocês por todos os sacrifícios feitos por vocês para que eu realizasse esse sonho. Vocês são meus alicerces, o amor maior que existe. Ao meu irmão, Bruno, que mesmo distante sempre torceu por mim e sempre acreditou que eu fosse capaz. A toda minha família, tios, tias e primos que torceram, acreditaram e sempre demonstraram amor, carinho e confiança em mim. Também agradeço pelos momentos de descontração em família, sempre tão importantes para o descanso da mente e o conforto do coração. Às minhas irmãs de alma, Ana Carolina, Érika e Adna, que foram minhas amigas, no sentido mais puro da palavra, estavam comigo sempre, mesmo a distância. Obrigada por me apoiarem, por me acalmarem, por me aconselharem e por me manterem com os pés no chão e a mente no céu, sempre. À minha orientadora, Profª Drª Maria Aparecida Marin Morales, por ter me acolhido e me “adotado” (hehehe...). Obrigada por me acolher nesse grupo de pesquisa maravilhoso, onde aprendi muito. Obrigada por toda a PACIÊNCIA (e que paciência!), pela dedicação, pela orientação e principalmente por ter me dado a oportunidade de aprender tanto com você. A minha “irmã gêmea ou prima” Raquel, que foi pra mim a minha família em Rio Claro, a amiga que me acalmou e que me ajudou em tudo desde o inicio. Obrigada, pelo incentivo, por ter me acolhido aqui e por todas as risadas que você sempre proporciona. Agradeço também pela ajuda nos artigo, eu sei que deu trabalho, mas agradeço a paciência! A minha outra “irmã gêmea ou prima” Marcia, por ser também a nossa segunda família, por sempre me aconselhar com toda a sua experiência (não me mata!), por ter paciência comigo, mesmo com as minhas distrações, e por estar sempre do meu lado seja para dar aquela mãozinha ou para dar broncas. Ah, v obrigada também pela parceria no artigo e nos experimentos de cultura! E lógico, por quebrar um galhão com os abstract, você é demais (hehehe...)! Aos meus amigos-irmãos, Rê e Preto, que me ouviram, me aguentaram e me aconselharam em vários momentos em que eu surtei, e principalmente, nesses momentos me fizeram rir. Às amigas “sogras”, Vane, Mayra, Camis, Miri, Silbi e Tabs, agradeço imensamente por todas as orações, pela torcida e, lógico, por todos os momentos de diversão e risadas. Às amigas da biomed, Jú, Lê, Mary, May, Rê e Tata que mesmo nos encontrando poucas vezes fizeram parte dessa conquista. Aos amigos mutagênicos, Michele, Lais, Cris, Livia, Leo, Nádia, Jaque Pira, Raquel, Matheus, Dânia, Jaque Bianchi, Marcia e Bruna, por todas as risadas, brincadeiras durante todos os momentos, principalmente durante os intermináveis cometas, em que todo o cansaço se transformava em baboseiras. Obrigada por toda a ajuda nos experimentos de cultura, discussões (sobre assuntos sérios ou não), por todo o carinho (mesmo que este fosse demonstrado por porrada e zoação), por me acolherem aqui e acima de tudo isso, obrigada a todos por essa amizade louca que surgiu tão rapidamente. Valeu galera! Ao Matheus, que mesmo tão atarefado, dispensou um tempinho nos mapas desse trabalho. Valeu, Chefe! Aos agregados, Du e Hélio (irmão Tchô), pelos momentos de descontração e diversão, que fazem tanta diferença no processo. Às amigas, Dânia e Jaque Bianchi, pela parceria no artigo de revisão. Obrigada Dânia, pela paciência em corrigir e tirar todas as minhas duvidas, valeu por aceitar entrar nesse barco tão “na louca”. Obrigada de coração, meninas! À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, pela bolsa concedida. À CAPES pelos sete meses de bolsa concedida. À Refinaria de Paulínia (REPLAN) por permitir a realização das coletas. À Profª Dejanira de Franceschi de Angelis, Dilza Nalim e ao Zito por toda ajuda e incentivo para a realização desse trabalho, todos sempre dispostos a ajudar. v A todos os professores do departamento de biologia, da biologia celular e molecular, pela transmissão de conhecimento durante o mestrado. À Profª Drª Dejanira de Franceschi de Angelis, por aceitar fazer parte da minha banca. À Profª Drª Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, por aceitar, novamente, fazer parte da minha banca. À técnica Roberta, pela ajuda nesse trabalho e pelas risadas também. Ao técnico Ger, pela ajuda, disponibilidade em ajudar sempre e por todo o bom humor que fazem toda a diferença. À secretária do departamento, Lu que sempre se mostrou muito solícita em me ajudar em tudo que estivesse ao seu alcance. A todos os colegas do departamento de biologia pelo convívio agradável de todos os dias. Espero não ter deixado ninguém de fora! Enfim, agradeço a todos que de alguma forma me ajudaram direta ou indiretamente para que eu alcançasse esse sonho... OBRIGADA A TODOS! vi Resumo A industrialização apresenta inúmeros benefícios, mas também está associada à emissão constante de substâncias tóxicas no meio ambiente. As atividades industriais lançam diversos produtos químicos que contaminam os vários meios físicos como o solo, o ar e a água. A indústria de refino de petróleo representa um importante setor da economia, mas, em contra partida, produz efluentes que podem ser ricos em metais pesados e outros compostos inorgânicos perigosos, além de uma infinidade de substâncias orgânicas com potencialidade de interagir com os organismos vivos. Dentre os contaminantes orgânicos derivados do petróleo, os mais importantes são os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA). Os HPAs são reconhecidamente estrogênicos, ou seja, possuem potenciais de ação no sistema endócrino. Dentre os efeitos causados pelas substâncias com ação semelhante à endócrina estão a diminuição da capacidade reprodutiva, inversão sexual, problemas no desenvolvimento embrionário e câncer. Devido a estes fatores, tem havido um incentivo ao desenvolvimento e aplicação de novas técnicas que possam avaliar, de maneira eficiente, os contaminantes ambientais, decorrentes das atividades humanas. Sendo assim, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a genotoxicidade, mutagenicidade de amostras de águas dos rios Jaquari, Atibaia e Piracicaba, que estão em uma região sob a influência da atividade da refinaria de Paulínia – SP. Para a avaliação das águas destes rios (realizadas com os extratos obtidos por extração de fase sólida - EFS), foram aplicadas técnicas desenvolvidas células de hepatoma humano (HepG2) mantidas em cultura. Foram desenvolvidos com este sistema teste o ensaio do cometa e o teste de micronúcleo. As análises químicas realizadas por HPLC indicaram a presença de naftaleno nas amostras de águas destes rios, bem como de outros compostos capazes de induzir danos, mesmo quando em baixas concentrações. Foi possível observar também, uma relação direta entre sazonalidade e indução de danos no DNA, influenciada pelas diferenças dos padrões de pluviosidade e temperatura. A avaliação das amostras foi realizada com o extrato bruto e diluído (obtido por meio de extração de fase sólida), por meio do ensaio do cometa e do teste do micronúcleo com cultura de células de hepatoma humano (HepG2). Para os extratos brutos das coletas de novembro de 2011, foi observada, pelo ensaio do cometa, uma alta genotoxicidade das águas do rio Jaguari e das águas do efluente lançado pela refinaria, mas uma diminuição gradativa da genotoxicidade para os pontos abaixo do lançamento do efluente. Para o extrato diluído, foi observado uma redução dos danos, quando estes resultados foram comparados com os resultados registrados para os extratos brutos. Na coleta de março de 2012, extrato bruto, foi observada uma maior genotoxicidade para as águas do rio Atibaia. Estes efeitos foram diminuídos, nos extratods diluídos. Para o mês de maio de 2012 (extrato bruto), os resultados observados indicaram maior genotoxicidade da água de captação, em relação ao efluente tratado. O rio Piracicaba apresentou uma genotoxicidade menor que a do controle negativo (CN). Já para as análises do extrato diluído, não foi observada genotoxicidade. O teste de micronúcleo, realizado com o extrato bruto de águas coletadas em novembro de 2011, indicou mutagenicidade apenas para P4. Na coleta de maio de 2012 houve um aumento na frequência de micronúcleos apenas em P1 e P2. Os extratos diluídos de maio de 2012 apresentaram uma diminuição do número de vii micronúcleos em relação ao extrato bruto. Pelos bioensaios realizados, pode- se observar que existe uma correlação direta entre as mudanças sazonais e a indução de danos no DNA. Pelas análises químicas, foi possível inferir um baixo comprometimento dessas águas por HPA. Assim sugerimos que seja realizada, nestes rios, uma avaliação mais detalhada, dos seus prováveis contaminantes e, assim, estimar os reais interferentes na qualidade de suas águas. Palavras-chave: ecotoxicologia aquática; extração de fase sólida; disruptores endócrinos; cultura de células; ensaio do cometa; micronúcleo. viii ABSTRACT Industrialization presents countless benefits, but is also associated to the constant emission of toxic substances into the environment. Industrial activities release several chemical products that contaminate the several physical media such as soil, air and water. Petroleum refinery industry represents an important sector of the economy, however, in counterpart, produces effluents that can be rich in heavy metals and other hazardous inorganic compounds, besides infinitude of organic substances with the potential to interact with living organisms. Among the organic contaminants derived from petroleum, the most important are the Polycyclic Aromatic Hydrocarbons (PHA). PHAs are known to be estrogenic, i.e., have the potential to act in the endocrine systems. Among the effects caused by endocrine substances are the decrease in the reproductive capacity, sex inversion, problems in the embryonic development and cancer. Due to these factors, there has been an incentive to the development and application of new techniques that can evaluate, efficiently, the environmental components resulted from human activities. Thus, the present study aimed to assess the genotoxicity and mutagenicity of water samples from Jaguari, Atibaia and Piracicaba rivers, which are in a region under the influence of the activity of a refinery of Paulínia – SP. For the evaluation of the waters of these rivers (performed with extracts obtained by solid phase extractions – SPE), it was applied techniques with human hepatoma cells (HepG2) maintained in culture. The comet assay and micronucleus test were developed with this test system. The chemical analyses showed the presence of naphthalene in the water samples of these rivers, as well as other compounds capable of inducing damages, even when at low concentrations. It was also possible to observe a direct relationship between seasonality and induction of damages in the DNA, influenced by the differences in the patterns of rainfall and temperature. The evaluation of the samples was performed with the raw and diluted extract (obtained by solid phase extraction) with the comet assay and micronucleus test with cultured human hepatoma cells (HepG2). For the raw extractions collection of November 2011, it was observed, by the comet assay, a high genotoxicity of the waters from Jaquari River and the effluent discharged by the refinery, but a gradual decrease of the genotoxicity for the sites below the effluent discharge. For the diluted extract, it was observed a reduction of the damages, when these results were compared to those registered for the raw extracts. In the collection of March 2012, raw extract, it was observed a higher genotoxicity for the Atibaia River waters. In the collection of March 2012, raw extract, it was observed a higher genotoxicity for the Atibaia River waters. These effects decreased in the diluted extracts. For May 2012 (raw extract), the results showed a higher genotoxicity for the uptake water in relation to the treated effluent. The Piracicaba River presented a genotoxicity lower than the negative control (NC). For the analyses of the diluted water, it was not observed genotoxicity. The micronucleus test, performed with the raw ix extract of the waters collected in November 2011, showed mutagenicity only for P4. In the collection of May 2012 there was an increase in the frequency of micronuclei only in P1 and P2. The diluted extracts of May 2012 presented a decrease in the number of micronuclei in relation to the raw extract. From the bioassays used, it could be observed a direct correlation between the seasonal changes and induction of damages in the DNA. According to the chemical analyses, it was possible to infer a low impairment of these waters by PAH. Therefore, we suggest the fulfilment, in these rivers, of a more detailed assessment of their probable contaminants and, thus, estimate the real interfering in the quality of their waters. Key-words: aquatic ecotoxicology; solid phase extraction; endocrine disruptors; cell culture; micronucleus. x Lista de abreviaturas - OH Hidroxila ������ ������� �� APEO Alquilfenóis etoxilados APs Alquilfenóis BCRJ Banco de células do Rio de Janeiro BLYES Bioluminescent yeast estrogen assay BPA Bisfenol A CBMN Teste do micronúcleo com bloqueio de citocinese CEAPLA Centro de Analise e Planejamento Ambiental da Unesp de Rio Claro CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CHO Células de Ovário de Hamster Chinês CN Controle Negativo CONAMA Conselho nacional do meio ambiente CP Controle positivo DBP Dibutil ftalato DDT Dicloro-Difenil-Tricloroetano DE Disruptor endócrino DEHP Di-(2-etil-exil) ftalato DES Dietilestilbestrol DIBP Diisobutilftalato DMSO Dimetilsulfóxido DNA Ácido desoxirribonucleico E1 Estrona E2 Estradiol E3 Estriol EDTA Ácido Etilenodiamino tetra-acético xii EE2 Etinilestradiol EEQ Equivalente estradiol EFS Extração de fase sólida ER Estrogen receptor (Receptor de estrógeno) ETEs Estações de tratamento de esgoto FG Células de brânquias FSH Hormônio Folículo Estimulante GST Glutationa S-tranferase H Hidrogênio HepG2 Célula de hepatoma humano HPA Hidrocarboneto policíclico aromático HPLC High-Perfomance Liquid Chromatography (Cromatrogafia líquida de alta performance) HTC Células de Fígado de Rato LE Lagoa de estabilização LH Hormônio Luteinizante MCF-7 Células de câncer de mama MEHP Mono- (2- etil-exil) ftalato MELN Células MCF-7 com transfecção de regulador de estrógeno MEM Meio mínimo essencial MMS Metilmetano sulfonato MN Micronúcleo MVLN Célula MCF-7 com transcrição de estrógeno específico NaCl Cloreto de Sódio NaOH Hidróxido de sódio NP Nonilfenóis OP Octilfenóis P.A Para análise PBB Polibromobifenilo PBS Solução Salina tamponada com Fosfato PCB Bifenilas policloradas PCJ Bacia do Piracicaba, Capivari e Jundiaí xii pH Potencial Hidrogeniônico PVC Cloreto de polivinila qRT-PCR PCR de transcriptase reversa em Tempo Real Replan Refinaria do Planalto Paulista RNA Ácido ribonucleico RYA Teste da levedura recombinante S Latitude USEPA United States Environmental Protection Agency VTG Vitelogenina W Longitude YES Yeast estrogen assay xiii Sumário 1 Introdução .................................................................................................................. 14 2 Objetivos..................................................................................................................... 16 3 Revisão de Literatura................................................................................................ 17 3.1 Poluição ambiental....................................................................................... 17 3.2 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) ...................................... 18 3.3 Atividade biológica dos HPAs..................................................................... 19 3.4 Bioensaios.................................................................................................... 20 3.4.1 Cultura de células ........................................................................................ 20 3.4.2 Ensaio do Cometa ........................................................................................ 21 3.4.3 Teste do micronúcleo................................................................................... 22 3.5 Classificação das águas................................................................................ 23 4 Material e Métodos.................................................................................................... 25 4.1 Materiais ...................................................................................................... 25 4.1.1 Material de estudo........................................................................................ 25 4.1.2 Localização da área de estudo e coleta das amostras de água ..................... 25 4.1.3 Material biológico usado no bioensaio ........................................................ 27 4.2 Métodos ....................................................................................................... 27 4.2.1 Extração de fase sólida ................................................................................ 27 4.2.2 Eluição das amostras.................................................................................... 29 4.2.3 Bioensaios.................................................................................................... 30 5 Resultados .................................................................................................................. 35 ARTIGO I: Compostos estrogênicos : características químicas, métodos de detecção, efeitos biológicos e ambientais....................................................................................... 35 ARTIGO II: Avaliação da genotoxicidade e mutagenicidade das águas dos rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba na região de influência da refinaria de Paulínia............... 35 6 Considerações Finais............................................................................................... 102 7 Referências Bibliográficas ...................................................................................... 108 Introdução_______________________________________________________________14 1 Introdução As atividades humanas têm gerado uma grande quantidade de resíduos que, por descaracterizarem o ambiente, são chamadas de poluentes ambientais. Por esta razão, atualmente tem sido dado um destaque especial às consequências desta poluição, que afeta tanto o ar, como a água e o solo. As principais atividades responsáveis pela poluição ambiental, por gerarem grande quantidade de resíduos lançados no ambiente, são decorrentes da urbanização, agricultura e do setor industrial. O aumento da produção das indústrias levou também ao aumento da quantidade de efluentes lançados no ambiente. Por esta razão, existe hoje a necessidade de constante monitoramento dos locais onde seus efluentes são lançados. Dentre as indústrias com maior potencial poluidor, está a indústria do petróleo. O processo de refino de petróleo utiliza grande quantidade de água que, após a sua utilização contém resíduos que acabam sendo lançados no ambiente. Assim, grande quantidade de substâncias tóxicas geradas por este setor acaba alcançando, principalmente, os recursos hídricos, podendo então comprometer toda a biota associada a este sistema. Esse comprometimento pode acontecer mesmo após o tratamento dos resíduos de uma determinada empresa, quando esta não faz o tratamento adequado do seu efluente , levando assim a persistência de algumas substancias tóxicas, próprias das atividades desenvolvidas. Muitas das substâncias presentes no efluente podem apresentar efeitos genotóxicos e/ou mutagênicos, mesmo quando em baixas concentrações, colocando em risco os ecossistemas aquáticos e terrestres associados ao seu despejo. Entre as substâncias presentes no efluente da indústria do petróleo, destacam-se os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs), que são compostos capazes de causar danos celulares, por interagirem com as macromoléculas da célula. Diante disso, há uma necessidade eminente de estudos, geralmente desenvolvidos pela aplicação de bioensaios, que possam avaliar a presença e os efeitos desses contaminantes sob os organismos expostos. Dentre os bioensaios considerados eficientes para uma avaliação dos potenciais genotóxico e mutagênicos, estão os ensaios do cometa e o do micronúcleo (BARBEE et. al., 2008; SANCHÉZ-GUERRA et. al., 2012). Porém, Introdução_______________________________________________________________15 ainda torna-se necessário buscar novos testes e organismos sensíveis, que possam ampliar o conhecimento sobre o próprio poluente e também avaliar os possíveis impactos que este possa causar no meio e nos organismos a ele expostos. Os testes com cultura de células in vitro têm ganhado maior popularidade, principalmente por serem alternativas aos testes in vivo, mas também por serem simples e fáceis de reproduzir. Dentre os testes realizados com cultura celular, destaca-se o ensaio do cometa, por ser um teste rápido, sensível, por necessitar de pequeno número de células e por ser capaz de detectar baixos níveis de danos no DNA. Outro teste muito utilizado em cultura de células é o teste do micronúcleo com bloqueio de citocinese, modelo este muito utilizado pela facilidade de se observar micronúcleo em células binucleadas. O micronúcleo observado é decorrente da indução de quebras ou perdas cromossômicas que aconteceram em células expostas a um agente mutagênico, durante o evento de divisão celular. O Rio Jaguari, localizado na região de Paulínia – SP é fonte de captação de água da maior Refinaria de Petróleo do Brasil e pertencente ao sistema PETROBRÁS. Esta atividade industrial produz efluentes que são lançados no Rio Atibaia, que, cerca de 1 Km após o recebimento do efluente se junta com o Rio Jaguari, formando o Rio Piracicaba. O Rio Piracicaba, por sua vez, possui grande importância para a região. Assim, no presente estudo, foram realizados os testes do cometa, do micronúcleo, aplicados em cultura de células de hepatoma humano, para se avaliar o potencial genotóxico e/ou mutagênico de extratos puros e diluídos das águas dos rios do entorno da refinaria de Paulinia – SP (Atibaia, Jaguari e Piracicaba), bem como do efluente gerado pela própria refinaria de petróleo. Objetivos_________________________________________________________________16 2 Objetivos Diante do exposto acima, existe uma necessidade de se estabelecer metodologias que possam melhor avaliar os impactos sofridos por rios que recebem efluentes de atividades relacionadas com a indústria do petróleo. Desta forma, o presente projeto tem com o objetivo: - Isolar, por meio da Extração de Fase Sólida (EFS), os HPAs presentes em amostras coletadas nos Rios Jaguari, Atibaia, Piracicaba e no efluente da refinaria de Paulínia, durante 3 diferentes períodos sazonais distribuídos entre os anos de 2011 e 2012; - Analisar, por métodos químicos, a presença de HPAs nos extratos obtidos por meio da ESF das amostras coletadas nos Rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba, e no efluente da refinaria; - Avaliar os efeitos genotóxico dos extratos brutos e diluídos das amostras de água dos Rios Atibaia, Jaguari, Piracicaba e no efluente da refinaria, por meio do ensaio do cometa e do teste de anormalidades nucleares em células HepG2; - Avaliar os efeitos mutagênicos dos extratos brutos e diluídos de amostras de água dos Rios Atibaia, Jaguari, Piracicaba e do efluente da refinaria, por meio do teste do micronúcleo, realizados em células HepG2; - Avaliar os efeitos sinergísticos e aditivos de contaminantes presentes nos Rios Atibaia, Jaguari e Piracicaba, quando associados com os poluentes do efluente da refinaria de Paulínia; - Avaliar o comprometimento causado pela associação dos contaminantes presentes nos Rios Atibaia e Jaguari por meio de ensaios realizados com amostras de água coletadas no início do curso do rio Piracicaba. Revisão de Literatura____________________________________________________17 3 Revisão de Literatura 3.1 Poluição ambiental O termo poluição é, muitas vezes, utilizado de forma incorreta, por considerar poluição qualquer descarte de resíduo no ambiente. Porém, poluição é uma alteração ecológica provocada pelo homem, que induz um prejuízo, direto ou indireto, sob o bem-estar dos seres vivos, como, os danos nos sistemas naturais relacionados à água, ao solo e ao ar, e/ou ainda por comprometer as atividades econômicas, como a pesca e a agricultura (NASS, 2002). Segundo Fellenberg (1980), só é considerada poluição ambiental fatores que comprometam a saúde ou a sobrevivência humana. De acordo com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB (2001), um local ou área que esteja comprovadamente impactada pela introdução, acidental ou natural, de qualquer substância ou resíduo, pode ser considerada como uma área contaminada. Os poluentes ou contaminantes podem agir alterando as características naturais do local e causando impactos negativos sobre os organismos expostos. Por isso, os poluentes ambientais têm sido muito investigados quanto à sua ação, sob seres humanos e sob outras espécies, por meio de diversas avaliações, como as de teratogenicidade e carcinogenicidade (FONTENELE et al.,2010). Historicamente, sempre houve a preocupação com a poluição aquática. Inicialmente, havia apenas uma preocupação com a estética da água utilizada no a consumo humano (MORITA, 2010), mas hoje existe uma preocupação maior com relação à presença de substâncias tóxicas em recursos hídricos, até mesmo quando estes apresentam águas aparentemente limpas. O descarte indiscriminado ou a liberação acidental de compostos químicos nocivos para o meio aquático podem levar a uma perturbação tanto na estrutura como no funcionamento dos ecossistemas (VANZELLA et al., 2007). Os ambientes aquáticos vêm recebendo uma grande variedade de químicos tóxicos provenientes de escoamento de aterros sanitários, efluentes domésticos, atividades agrícolas e industriais. Segundo Deguchi et al. (2007) e Alexandre et al. (2012), como a água é extremamente importante para o desenvolvimento das atividades humanas, a presença destes químicos em ambientes aquáticos pode interferir, diretamente, na vida do homem. Como Revisão de Literatura____________________________________________________18 grande parte dos contaminantes aquáticos são substâncias potencialmente genotóxicas e carcinogênicas, a poluição da água pode se caracterizar em um grave problema para a saúde pública (OHE et al., 2004; VANZELLA et al., 2007). Os agentes carcinogênicos encontrados em ambientes aquáticos são classificados em dois grupos: os compostos persistentes, que incluem metais e HPAs, e os compostos voláteis (NAKAGAWA, 2003). As atividades industriais são as grandes responsáveis pela poluição ambiental, principalmente porque alguns processos deste setor produzem grande quantidade de efluentes ou utilizam grandes quantidades de recursos naturais durante as suas atividades. No Brasil, existem estudos que demonstram que alguns setores industriais são mais poluentes que outros, como, por exemplo, as indústrias de ferro e aço; de celulose e papel; e do setor de petróleo e gás (DASGUPTA et al., 1998; SANTOS, 2005). As atividades das refinarias de petróleo são consideradas altamente poluidoras, por exigirem uma grande quantidade de água para seu processamento e por seus efluentes possuírem diversos poluentes perigosos, como metais, fenóis, óleos e gorduras, amônia e HPAs (HOSHINA et al., 2008). Segundo Wake (2005), os efluentes das refinarias têm menos hidrocarbonetos leves do que o óleo bruto, mas possuem hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em maior quantidade. Estes HPAs apresentam maior toxicidade e persistência no ambiente. Mesmo que haja um tratamento desses efluentes, uma grande quantidade de compostos tóxicos pode persistir no efluente e, assim, comprometer o sistema receptor (AVCI et al., 2005). 3.2 Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) Os hidrocarbonetos são compostos de carbono e hidrogênio que, quando submetidos a altas temperaturas, podem sofrer processos pirolíticos e de combustão incompleta (ZANDER, 1980; LIMA, 2006). São considerados como um dos componentes mais abundantes do ambiente aquático, decorrentes da presença de material orgânico nestes ambientes (MAIOLI et al., 2010). Os HPAs são contaminantes ambientais persistentes, presentes em misturas complexas e introduzidos no ambiente por processos naturais ou por atividades antropogênicas (RAMDINE, 2012). Porém, segundo Maioli et al. Revisão de Literatura____________________________________________________19 (2010), os HPAs são originados, principalmente, de fontes antrópicas, oriundas do processo de refino do petróleo, de combustões incompletas de combustíveis e de queimadas de cana-de-açúcar e de capim. Apesar das fontes antropogênicas citadas, os HPAs também têm várias fontes naturais, como, combustão de biomassa e de transformação diagenética de rochas sedimentares. O número de anéis dos HPAs, a presença de grupos ligados ao anel e o arranjo espacial destes anéis dependem da temperatura envolvida no processo de sua formação, do tempo de reação e da matéria orgânica original. De acordo com Blumer (1976), processos lentos e desenvolvidos em baixas temperaturas, como a formação de petróleo (100 a 150°C), favorecem a formação de alquilderivados de HPAs. Já os processos decorrentes de temperaturas muito elevadas, como o coqueamento do carvão (2000°C), levam à quebra das cadeias alifáticas e favorecem à formação de HPAs não- alquilados. Em temperaturas intermediárias, como na queima de lenha (400 a 800°C), pode ocorrer a formação de ambas as espécies químicas citadas acima. Entre os HPAs, alguns deles, bem como os seus derivados, representam grande risco à saúde dos seres humanos. Este risco está vinculado à sua capacidade de interagir com o DNA e poder induzir, por exemplo, vários tipos de cânceres (BLUMER, 1976; ZANDER,1980; BAIRD, 1995; FINLAYSON-PITTS; PITTS JR.1997; PERERA, 1997; PEREIRA NETTO et al., 2000; DING et al., 2005). 3.3 Atividade biológica dos HPAs Os HPAs podem entrar em contato com os seres vivos por inalação, contato ou ingestão. Estes compostos são, como a maioria dos poluentes orgânicos, lipofílicos. Como as membranas biológicas são principalmente compostas por lípidos, a taxa de absorção destes poluentes pelas células torna-se ainda mais facilitada. Após o contato com essas substâncias, grande parte dos seres vivos pode metabolizá-las, pelo processo de biotransformação. Esse processo consiste em uma sequência de reações enzimáticas, responsáveis pela conversão das substâncias lipossolúveis em hidrossolúveis, facilitando o processo de excreção (TUVIKENE, 1995; LOPES & ANDRADE, Revisão de Literatura____________________________________________________20 1996; MARIN-MORALES et al., 2009). Entretanto, apesar do resultado esperado na biotransformação ser a desintoxicação, nem sempre o metabólito gerado é igual ou menos tóxico que o composto original. Assim, o metabólito pode apresentar uma toxicidade aumentada, por ser mais eletrolítico e mais reativo com as macromoléculas (DNA, RNA e proteínas) (TUVIKENE, 1995; MARIN-MORALES et al., 2009). Os HPAs não são, de maneira geral, agentes carcinogênicos diretos. Sua ação é atribuída às substâncias geradas pelo metabolismo, que leva a formação de compostos polares e hidrofílicos, que depois de permanecer por um período no organismo são facilmente excretados pela urina (PEREIRA- NETTO, 2000; LIMA, 2006; MAZZEO, 2009). Após a entrada do HPA no organismo ocorre a formação de um anel epóxido sobre uma ligação dupla de carbono (C=C), que, em seguida, sofre uma reação com uma molécula de água, produzindo dois grupos hidroxila, formando assim compostos poli- hidroxilados. Uma ligação dupla, que contém o grupo -OH, sofre nova epoxidação, produzindo a molécula que realmente possui potencial carcinogênico. Esta molécula pode interagir com um H+, tornando-se estável e capaz de se ligar com o DNA, induzindo mutações (LOPES E ANDRADE, 1996; LIMA, 2006; MAZZEO, 2009). 3.4 Bioensaios 3.4.1 Cultura de células Diante do controle mais rígido do uso de animais de laboratório em experimentos biológicos, tem sido cada vez mais incentivados o desenvolvimento e padronização de testes in vitro (ROGERO et al., 2003). Vários métodos in vitro, que são capazes de detectar e avaliar a toxicidade de materiais biológicos, foram padronizados com células mantidas em cultura. Os ensaios in vitro podem ser desenvolvidos com várias linhagens celulares, dentre elas as células de roedores (CHO) e humanas (metabolizadoras como HTC e HepG2) . A linhagem das células HepG2 (Human Hepatocellular Carcinoma), muito utilizada em bioensaios de avaliação ambiental, foi obtida de um hepatoblastoma humano de um menino argentino de 11 anos (VALENTIN- SEVERIN, 2003; TSUBOY,2007; MOORE, 2009). Revisão de Literatura____________________________________________________21 Durante anos, a grande limitação em se realizar testes para avaliar efeitos de drogas em cultura células ou de bactérias, foi a falta de enzimas metabolizadoras destes sistemas. Por isso, foi necessário introduzir nestas células enzimas metabolizadoras. As células HepG2, são células que já possuem a capacidade de metabolismo por enzimas, por serem hepatócitos. Essa função tem papel chave na biotransformação de xenobióticos, sendo úteis para avaliar o efeito de químicos que tem tanto ação direta (do próprio agente estudado) como indireta (de seus metabolitos) (KNASMÜLLER et. al. 1998; OLIVEIRA, 2010). Como estas células possuem essa capacidade de metabolização, acredita-se ser uma boa opção para serem usadas em testes de mutagenicidade e genotoxicidade de drogas ou de amostras ambientais contaminadas (KNASMÜLLER et al.; 2004; JIANG et al, 2007; OLIVEIRA, 2010). 3.4.2 Ensaio do Cometa Ostling e Johanson (1978) desenvolveram, na década de 80, um método de analise de danos no DNA, realizado com células únicas dispostas em gel e submetida a eletroforese. Este método passou a ser chamado de ensaio do cometa, ensaio de eletroforese em gel de célula única ou eletroforese de microgel (LIAO, 2009). Nestes ensaios, as células dispostas em lâminas cobertas de agarose, são lisadas e tratadas com sal. Após esses processos, obtem-se nucleóides, que são núcleos sem envoltórios nuclear mas com proteínas que mantém a sua forma. Assim, o DNA é submetido a uma corrida eletroforética em condições neutras e corado com gel red (OSTLING & JOHANSON,1984). Depois de alguns estudos, Singh e colaboradores (1988) modificaram esta técnica, utilizando-se um tampão alcalino na corrida eletroforética, sendo esta a forma mais utilizada hoje para este ensaio. Esta técnica, considerada um “endpoint” de genotoxicidade, permite detectar os danos ao DNA em células individuais, e quantificar quebras na fita desta macromolécula, tanto induzidas por agentes físicos como químicos (BELPAEME, 1998; Di PAOLO, 2006; LIAO et al., 2009). O teste se baseia na quantificação de fragmentos de DNA, que migram para fora do nucleóide, durante a corrida de eletroforese, decorrentes tanto de danos ao DNA, como de Revisão de Literatura____________________________________________________22 processo de reparo celular feito por excisão de bases (FRENZILLI et al., 2009; LIAO et al., 2009). Por esta razão, tem crescido o interesse cientifico em utilizar o teste do cometa para avaliar as possíveis quebras no DNA induzidas por contaminantes e, portanto, para a realização de biomonitoramento ambiental e avaliação de genotoxicidade de substâncias, tanto em testes in vivo quanto in vitro (FRENZILLI et al., 2009; HARA, 2012; AZQUETA et al., 2013). O ensaio do cometa ganhou popularidade por detectar baixos níveis de danos e de reparos no DNA, além de também possuir vantagens de poder ser aplicado em diversos tecidos e diferentes tipos celulares. Esta técnica requer um pequeno número de células e não necessita que estas estejam em divisão, podendo ser aplicada em qualquer fase do ciclo celular (PAVLICA et al., 2001; SPEIT et al. ,2009; BERTHELOT-RICOU et. al., 2011; HASPLOVÁ et. al. , 2012). De acordo com He et al. (2000), parte dos danos que ocorrem nas células pode ser reparada, dependendo do estágio do ciclo celular ou do tipo do mutágeno indutor do dano pois apenas uma pequena parte dos danos não são passiveis de reparo, e portanto, podendo levar a eventos de transformação do DNA e consequentemente a uma mutação. 3.4.3 Teste do micronúcleo Micronúcleos (MN) são massas de cromatina com aparência de um pequeno núcleo, que se originam a partir de fragmentos de cromossomos ou de cromossomos inteiros que se perdem durante o processo de divisão e, portanto, não se incorporam ao núcleo principal das células-filhas, durante a divisão celular (SCHMIDT, 1976; AL-SABTI; METCALFE, 1995; FENECH, 2007). Estas perdas de material nuclear podem acontecer ou pela ausência de centrômero nas porções cromossômicas, por danos no aparelho mitótico ou por defeito na citocinese (BOLOGNESI et al., 2004; ERGENE et al., 2007). Os MN clássicos são estruturas circulares, de mesma refringência do núcleo e não ligadas a ele, que apresentam tamanhos variando de 1/3 a 1/16 do diâmetro do núcleo principal (FENECH et al., 2003). O teste do MN realizado in vitro, que se utiliza da citocalasina B (inibidor de polimerização da actina, que impede a citocinese, mas não impede a cariocinese), também é conhecido como teste micronúcleo com bloqueio de Revisão de Literatura____________________________________________________23 citocinese (CBMN). Neste teste as células passam por apenas um ciclo de divisão, ficando com dois núcleos. Só são contabilizadas as células binucleadas, o que garante que este MN apareceu em decorrência da exposição dessas células ao agente mutagênico (FENECH; KIRSCH- VOLDERS, 1997; FENECH, 2000; FENECH, 2007; ÇAVAS et. al., 2012). Diante disso, essa técnica tem sido frequentemente utilizada para detectar a potencialidade genotóxica e mutagênica de agentes diversos, pela sua capacidade de promover quebras cromossômicas (ação clastogênica) ou perdas de cromossomos inteiros (ação aneugênica) (FENECH, 2000; TILMANT et al., 2013). O teste do MN é uma das técnicas mais populares e promissoras usadas no monitoramento ambiental, por avaliar a potencialidade mutagênica de contaminantes ambientais, funcionando assim como um bom bioindicador de mutagenicidade (FENECH et al., 2003; BARSIENE et al., 2006; SOUZA; FONTANETTI, 2006). Alguns trabalhos demonstram ainda a aplicabilidade do teste em avaliar a extensão da poluição aquática, testando a genotoxicidade de poluentes, por meio de testes in vivo (AYLLON; GARCIA-VAZQUEZ, 2000; BOETTCHER et al., 2010). Estudos recentes demonstram também que esta técnica pode ser aplicada para avaliar, a presença de brotos e pontes nucleares estabelecidas entre os núcleos das células binucleadas. As pontes nucleoplasmáticas, provavelmente, são decorrentes de cromossomos dicêntricos, cujos centrômeros são tensionados para os polos opostos da célula, resultando em uma estrutura semelhante a ponte, que acaba sendo revestida pela membrana nuclear. Assim, a presença dessas pontes em células binucleadas são “endpoints” de genotoxicidade, que devem ser considerados conjuntamente com o teste de MN (FENECH, 2000; FENECH, 2007; DONMEZ-ALTUNTAS; BITGEN, 2012). 3.5 Classificação das águas Os rios Atibaia e Jaguari pertencem à bacia do rio Piracicaba, bacia esta que possuí uma área total de 8.852,97 Km². Os rios Atibaia e Jaguari Revisão de Literatura____________________________________________________24 passam pelo município de Paulínia-SP, cidade esta que abriga 107 indústrias, entre elas a Refinaria de Petróleo de Paulínia. O Rio Jaguari é utilizado como fonte de captação de água destinada às atividades desta Refinaria que gera, após tratamento, efluentes que são lançados no Rio Atibaia. O comitê das Bacias Hidrográficas do Piracicaba, Capivari e Jundiaí (comitê PCJ), em um relatório da situação dos recursos hídricos descreveu a situação atual do rio Jaguarí como rio de Classe 2 e do rio Atibaia como rio de classe 4. Esses dois rios se unem para formar o rio Piracicaba que, segundo o mesmo comitê, é caracterizado como pior que classe 4. A classificação das águas doce segue a resolução do CONAMA Nº 357/Cap II- Seção I/ Artigo 4º (2005), conforme descrito na tabela abaixo (Tabela 1): CLASSE DO RIO CARACTERIZAÇÃO DA CLASSE Classe especial Águas que podem ser utilizadas para consumo humano, com desinfecção. Classe 1 Águas que podem ser utilizadas para consumo humano após tratamento simplificado, para recreação, natação, mergulho, irrigação de hortaliças de consumo cruas ou com casca. Classe 2 Águas que podem ser utilizadas para consumo humano após tratamento convencional, para recreação de contato, natação, mergulho, pesca e para irrigação de hortaliças e arvores frutíferas. Classe 3 Podem ser utilizadas para consumo humano após tratamento convencional ou avançado, e para a irrigação de pastos, arvores e cereais, para recreação de contato secundário e para pesca amadora. Classe 4 Águas que podem ser utilizadas apenas para navegação e harmonia paisagística. Tabela 1. Classificação dos rios de água doce (CONAMA, 2005) Materiais e Métodos____________________________________________________25 4 Material e Métodos 4.1 Materiais 4.1.1 Material de estudo Foram avaliados extratos brutos e diluídos obtidos de amostras do efluente da refinaria de Paulínia e dos Rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba, coletadas em 3 períodos novembro de 2011, março de 2012 e maio 2012. 4.1.2 Localização da área de estudo e coleta das amostras de água A área de estudo está localizada no município de Paulínia-SP. As amostras de água foram coletadas em 5 (cinco) pontos distintos de três rios que sofrem influência das atividades da Refinaria de Petróleo de Paulínia-SP (Figura 2), como segue: As amostras de água foram coletadas em 5 (cinco) pontos distintos de três rios que sofrem influência das atividades da Refinaria de Petróleo de Paulínia-SP (Figura 2), como segue: FONTE: Adaptado de Comite PCJ e ANA.gov Figura 1. Mapas do Brasil e do Estado de São Paulo, indicando a localização da bacia hidrográfica do PCJ, que abriga os Rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba, avaliados neste estudo. Fonte: Adaptado de Comite PCJ e ANA.gov Materiais e Métodos____________________________________________________26 1. P1: Água de capacitação pela refinaria – Rio Jaguari; 2. P2: Saída da lagoa de estabilização – LE, (água destinada aos despejos no Rio Atibaia, município de Paulínia-SP), efluente propriamente dito; 3. P3: Água do Rio Atibaia – montante, 200 metros acima do descarte do efluente industrial tratado, proveniente da LE; 4. P4: Água do Rio Atibaia – jusante, cerca de 500 metros abaixo da descarga do efluente industrial tratado, proveniente da LE; 5. P5: Rio Piracicaba – cerca de 1500m após a confluência dos rios Jaguari e Atibaia. Figura 2. Esquema representativo dos cinco pontos de coleta na área de influência da Refinaria de Paulinia - SP Materiais e Métodos____________________________________________________27 As coletas foram realizadas em três períodos sazonais distintos, nos anos de 2011 e 2012, para contemplar as diferentes condições climáticas típicas da nossa região: novembro de 2011, março de 2012 e maio de 2012. Neste estudo, utilizou-se extratos, obtidos por extração de fase sólida, das amostras dos pontos de coleta acima citados. Estes extratos foram analisados com relação à presença e níveis de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA). 4.1.3 Material biológico usado no bioensaio Para os teste de genotoxicidade e mutagenicidade, foram utilizadas células de hepatoma humano (HepG2 – Human-derived hepatoma cell line), mantidas em cultura e adquiridas junto ao Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ). 4.2 Métodos 4.2.1 Extração de fase sólida O processo de extração de HPAs exige preparo das amostras, desde antes do momento das coletas até o processamento das mesmas. Sendo assim, antes da realização da coleta foi feita a lavagem dos frascos de vidro (4L), como segue: os galões foram deixados com água destilada e Ponto Latitude (S) Longitude (W) P1 22º 41’ 48’’ 47º 08’ 59’’ P2 22º 44’ 22’’ 47º 07’ 03’’ P3 22º 41’ 28’’ 47º 07’ 22’’ P4 22º 44’ 22,3’’ 47º 07’ 40,8’’ P5 22º 45’ 30’’ 47º 18’ 54’’ Tabela 2. Coordenadas geográficas dos pontos de coleta. Fonte: Elaborado por Hara, 2012. Materiais e Métodos____________________________________________________28 Extran® “overnight”. Posteriormente, foram lavados em água corrente, até que não houvesse mais nenhum resíduo do detergente. Os galões foram secos e, após a secagem, foi feita uma nova lavagem com água destilada. Secos novamente e submetidos a uma desinfecção com etanol. Após nova secagem, foram passados por um banho em água destilada e, depois de estarem totalmente secos, passado acetona P.A. Após todo procedimento, os galões foram levados para estufa para secagem e destinados à coleta. No momento da coleta das amostras de água, foi adicionado nos galões 8 mL de ácido acético glacial P.A., para fixação das condições da amostra e para evitar a proliferação de microorganismos. Depois de realizada a coleta, as amostras foram filtradas três vezes em sistema de filtração a vácuo, com filtro de fibra de vidro (Glass-microfibre Discs MGA 47mm – Sartorius Stedim Biotech®). Após o processo de filtração, as amostras foram subdivididas em alíquotas de 1L. Essas alíquotas passaram pelo processo de extração de fase sólida, que consiste em passar a água por cartuchos poliméricos que retém, em resinas apropriadas, apenas os HPAs presentes nas amostras. O procedimento de extração foi iniciado com o condicionamento dos cartuchos Strata-X 200mg/3mL (Phenomenex®). Esses cartuchos foram acoplados a um aparelho de Manifold (Chromabond® - Macherey Nagel), onde foi adicionado 6 mL de metanol, em cada cartucho, para a abertura das cadeias poliméricas dos mesmos. Após a passagem do metanol foi adicionado 6 mL de água milli-Q, para retirar resíduos do metanol. Após o condicionamento, os cartuchos, foram acoplados às colunas de vidro, que fazem parte de um sistema de filtração, conforme a figura 3. Materiais e Métodos____________________________________________________29 Figura 3. Sistema de filtração constituído de colunas de vidro acopladas a um Manifold associado a uma bomba a vácuo. 1. Colunas de vidro onde coloca-se as amostras 2. Cartuchos de Strata-X acoplados as colunas de vidro e ao Manifold 3. Mangueira de silicone que liga o cartucho ao Manifold 4. Manifold 5. Bomba hidrovácuo Alícotas de 1L de cada amostra foram acondicionadas em colunas de vidro (1), para serem passadas pelos cartuchos Strata-X (2). Esta passagem foi facilitada pela ação de uma bomba à vácuo (5), que permitiu que os HPAs presentes na amostra ficassem retidos nas resinas dos cartuchos. As águas isentas destes contaminantes foram levadas até o Manifold (4), por mangueiras de silicone (3) para serem descartados. Após esse procedimento, os cartuchos foram acoplados ao Manifold, para secagem e posterior armazenamento em freezer (-20 ºC). 4.2.2 Eluição das amostras Para a eluição das amostras, os cartuchos foram retirados do congelador e acoplados ao Manifold, para a retirada do excesso de água. Uma vez secos, os cartuchos foram presos a um vidro de aproximadamente 15 mL, onde foram passados 10 mL de metanol, em sequências de 2 em 2 mL. Depois Materiais e Métodos____________________________________________________30 *Extrato bruto: o extrato obtido pelo carreamento dos compostos adsorvidos na resina do cartucho StractaX por metanol P.A (99,9% de pureza). ** Extrato diluído: diluição do extrato bruto (ou eluído), para se obter compostos nas concentrações encontradas nas amostras de água dos diversos pontos coletados (diluição de 1:1000mL de extrato bruto em água destilada) de passados os 10 mL de metanol, as amostras foram secas com nitrogênio gasoso, até restar apenas um pequeno resíduo no fundo do frasco. Esse resíduo foi retirado pela lavagem realizada com 1,5 mL de metanol, para ser transferido para um “vial” de 2 mL. O conteúdo do vial (1,5 mL) onde foi seco até alcançar um volume de 1 mL. Este extrato foi mantido em geladeira, para posterior uso nos experimentos. Para os experimentos com cultura de células, foi utilizado o extrato bruto* (para a verificação dos efeitos potenciais dos HPAs presentes nas amostras) e o extrato diluído** (diluição de 1000 vezes com água destilada, para simular a concentração destes compostos nas águas amostradas). 4.2.3 Bioensaios 4.2.3.1 Cultura de células HepG2 As células HepG2 são armazenadas em tubos criogênicos contendo solução de congelamento [DMSO (Dimetilsulfóxido) + soro bovino fetal] e mantidas congeladas em nitrogênio líquido. Para o início dos experimentos, as células foram descongeladas. O conteúdo do tubo criogênico foi vertido em um tubo Falcon® estéril contendo 10 mL de meio MEM (EARLE), preparado com antibiótico/antimicótico suplementado com 10%de soro bovino fetal (Cultilab) a 37 ºC. As células foram ressuspendidas no meio de cultura e, posteriormente, levadas para centrífuga, por 10 minutos a 1500 rpm. Em seguida, o sobrenadante foi removido e o pellet ressuspendido em 1 mL de meio de cultura. O material foi, então, transferido para um frasco de cultura com 9 mL de meio MEM suplementado com soro bovino fetal (meio completo). O frasco foi levado para a estufa com CO2 (5%), onde foi mantido a 37 ºC até que as células atingissem 80% de confluência. Nestas condições, o ciclo celular desta linhagem é de aproximadamente 24 horas. Materiais e Métodos____________________________________________________31 ***Tripsina: é uma enzima proteolítica inespecífica mais utilizada na cultura celular, que hidrolisa cadeias polipeptídicas nos radicais lisil-arginil formando terminações de clivagem, éster e amida. Essa reação desestrutura a matriz, impossibilitando a ligação dos receptores da superfície celular, ligados ao citoesqueleto e à matriz, obrigando as células a rearrajarem seu citoesqueleto. É utilizada para se obter células individualizadas. 4.2.3.2 Repique e preparo de pré-frascos Após atingir 80% de confluência, os frascos de cultura foram retirados da estufa, o meio foi descartado, e os frascos lavados com PBS (Phosphate Buffered Saline – Tampão Fosfato-salino) por 2 vezes. Na sequência, foi removido o excesso de PBS e adicionado ao frasco 500 μL de tripsina 0,5%. Esses frascos foram levados para a estufa a 37 ºC por 5 minutos. Após esse período a tripsina foi inativada com 4,5 mL de meio MEM completo e o conteúdo do frasco, passado por uma seringa de 1 mL, para obtenção de células isoladas. Foi retirada uma alíquota 20 μL da suspensão celular, para ser realizada a contagem das células em câmara de Neubauer. Após a contagem, foram realizados cálculos para que a quantidade de 5x105 células fosse semeada em cada frasco. Os frascos de cultura, contendo 5 mL de meio completo, foram então levados para estufa de CO2 por 24 horas, para estabilização. 4.2.3.3 Exposição aos tratamentos Para expor as células aos tratamentos, os extratos eluídos (extrato bruto) foram retirados da geladeira, para alcançarem a temperatura ambiente. O experimento realizado com o extrato diluído foi feito após diluição do extrato bruto: 50 μL em água destilada em 50 mL H2O milli- Q. Passado o período de estabilização das células mantidas em cultura, foram transferidos 50 μL da amostra (extrato bruto ou diluído) para os frascos de cultura. Estes foram levados para estufa de CO2 por um período de 3h. Após esse período de tratamento, foram realizados o ensaio do cometa e o teste do micronúcleo. Como controle positivo (CP) foi utilizado Metilmetano sulfonato (MMS), na concentração de 4x10-2M. Para o controle negativo (CN) foi utilizado o PBS. Materiais e Métodos____________________________________________________32 4.2.3.4 Teste de viabilidade com Azul de Trypan Para o ensaio de viabilidade celular com azul de trypan foi, primeiramente, realizado a colheita das células, desprezando-se o meio dos frascos e lavando-os com PBS por duas vezes. Foi retirado o excesso de PBSe, então, colocado 500 μL de tripsina*** 0,5%, por 5 minutos sob condições de estufa a 37ºC. Após este tempo, os frascos foram retirados da estufa, submetidos a leves batidas para soltar as células. A seguir, a tripsina foi inativada com 5 mL de meio MEM completo e o conteúdo passado por seringa, para ser transferido pra tubos Falcon® centrifugado por 5 minutos a 1500rpm. Após a centrifugação, o sobrenadante foi retirado, deixando no frasco 0,5 mL, de onde as células foram ressuspendidas, obtendo-se, assim, a suspensão celular. Antes da realização do teste do cometa, foi necessário verificar se a viabilidade celular era de pelo menos 80%. A avaliação da viabilidade celular foi realizado pelo teste do Azul de Trypan. Esse teste consistiu em retirar 5 μL da suspensão celular e homogeneizar com 5 μL do azul de Trypan, para análise em lâmina de vidro de 100 células por lâmina, para a identificação das células brancas (células viáveis) e das azuis (não viáveis). 4.2.3.5 Teste do cometa Para o ensaio do cometa, foram montadas lâminas previamente cobertas com agarose comum, com 20 μL da suspensão celular + 120 μL de agarose de baixo ponto de fusão, a 37ºC. Posteriormente, as lâminas foram submetidas à solução de lise (1 mL de Triton X-100, 10 mL de DMSO e 89 mL de solução de lise estoque - NaCl 2,5 M, EDTA 100 mM , Tris10 mM, pH 10, aproximadamente 8g de NaOH sólido para 1 L), pH 10, no escuro, em geladeira a 6º C, por 1 hora. Após este procedimento, as lâminas foram colocadas em uma cuba de eletroforese, contendo o tampão de corrida eletroforética (NaOH 300mM + EDTA 1mM, com pH>13), por 20 minutos, para a denaturação do DNA. A eletroforese foi realizada por 20 minutos a 39 V e 300 mA (~ 0,8 V/cm). Em seguida, as lâminas foram neutralizadas, com 3 banhos de 5 minutos cada, em tampão de neutralização (pH 7,2). Após neutralização, as lâminas foram fixadas, por 10 min, em etanol absoluto. Materiais e Métodos____________________________________________________33 ��� ���� �� ��� ����� ������������ ���� ����� ���� �� ��������� de GelRed 10.000X em água, 5 mL de NaCl a 1M, e 45 mL de água destilada) e analisadas imediatamente após a sua coloração. Foram analisados em microscopia de epifluorescência Leica, objetiva de 40x, filtro B - 34 (excitação: i=420 n - 490 nM, barreira: I=520 nM) 100 nucleóides por lâmina, totalizando 300 nucleóides por tratamento. Os nucleóides foram classificados, visualmente, de acordo com a migração dos fragmentos em classe 0 – nucleóide sem danos e que não apresenta cauda; classe 1: nucleóide com cauda menor que o seu diâmetro; classe 2: nucleóide com cauda de tamanho entre 1 a 2 vezes do seu diâmetro; classe 3: nucleóide com cauda 2 vezes maior que o seu diâmetro (SPEIT et al., 1996). Os escores de cada tratamento foram submetidos ao teste estatístico ANOVA, critério/Dunnett (p<0,05), para comparação dos resultados dos tratamentos com o do controle negativo. 4.2.3.6 Ensaio do micronúcleo Após a exposição das células aos tratamentos, o meio de cultura foi trocado por um novo meio e neste foi adicionado "��#$��� ������� ��� �'�?��� frasco, onde as culturas permaneceram, por 28 horas, para obtenção de células binucleadas. Passado este tempo de exposição à citocalasina, foi realizada a coleta das células. O meio de cultura foi reservado em tubos Falcon® e os frascos foram lavados 2x com 5 mL de PBS e tripsinizados. Para inativar a tripsina, foram utilizados os mesmos meios de cultura anteriormente reservados. Após o desprendimento das células, todo o conteúdo do frasco foi transferido, novamente, para os tubos Falcon®, onde foi adicionada 1 gota de formol 40%. Os tubos foram homogeneizados suavemente e centrifugados a 1500 rpm por 5 minutos. Em seguida, foi retirado o sobrenadante, adicionado 5 mL de solução hipotônica de citrato de sódio 1%, seguido de homogeneização. Novamente, os tubos foram centrifugados a 1500 rpm por 5 minutos e o sobrenadante descartado. Por fim, o material foi fixado com solução fixadora Carnoy (3 etanol: 1 ácido acético) e armazenado em geladeira. Para a confecção das lâminas, o material foi centrifugado por 5 minutos a 1000 rpm, e o sobrenadante descartado. Foi adicionado 0,5 mL de fixador Materiais e Métodos____________________________________________________34 novo ao tubo. Em seguida, essa suspensão celular foi gotejada em uma lâmina pré-lavada e coberta com um filme de água destilada a 4ºC. As lâminas foram coradas com Giemsa 5% por, aproximadamente, 10 minutos. Foram contadas 1.000 células binucleadas com membrana nuclear e citoplasmática íntegras, núcleos de tamanhos similares não sobrepostos e com o mesmo padrão e intensidade de coloração, por réplica, totalizando 3.000 células por tratamento. Foram contabilizadas células binucleadas normais e células binucleadas portadoras de micronúcleos, ponte nucleoplasmáticas e/ou brotos nucleares (FENECH et al., 2003). A análise de significância dos resultados foi feita pelo teste estatístico ANOVA: critério/Dunnett (p<0,05). Resultados_______________________________________________________________35 5 Resultados ARTIGO I: Compostos estrogênicos : características químicas, métodos de detecção, efeitos biológicos e ambientais. Maria Tereza Pamplona Silva, Dânia Elisa Mazzeo, Jaqueline Bianchi, Maria Aparecida Marin-Morales ARTIGO II: Avaliação da genotoxicidade e mutagenicidade das águas dos rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba na região de influência da refinaria de Paulínia. Maria Tereza Pamplona Silva, Marcia Miyuki Hoshina, Raquel Vaz Hara, Maria Aparecida Marin-Morales Artigo I__________________________________________________________________36 COMPOSTOS ESTROGÊNICOS: CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS, MÉTODOS DE DETECÇÃO, EFEITOS BIOLÓGICOS E AMBIENTAIS Maria Tereza Pamplona Silva¹, Dânia Elisa Mazzeo¹, Jaqueline Bianchi1, Maria Aparecida Marin-Morales¹ ¹Departamento de Biologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Av. 24-A, 1515, 13.506-900, Rio Claro, SP, Brasil. Artigo I__________________________________________________________________37 RESUMO Muitos compostos químicos, utilizados em atividades humanas, vêm sendo estudados quanto suas capacidades de causarem desequilíbrios nos mais diversos sistemas. Alguns desses compostos são capazes de afetar o sistema endócrino, sendo conhecidos como disruptores endócrinos. Dentre estas substâncias, destacam-se os ftalatos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, bisfenol A, agrotóxicos, alquilfenóis, além dos hormônios estrogênicos sintéticos e naturais. Muitos efeitos negativos podem ser induzidos nos organismos, por ação desses químicos, destacando-se a capacidade de causar diminuição na taxa de fecundidade, inversão sexual, problemas de desenvolvimento embrionário e até câncer em humanos. Esses efeitos são decorrentes da ação destes agentes químicos, pela capacidade de agir por mimetização, bloqueio, estimulação, aceleração endócrina, ação enzimática e destruição. Esses contaminantes podem ser encontrados nos mais diversos ambientes, nas águas subterrâneas, nos sedimentos, nas águas residuais, em lodos e até mesmo na água potável. Desse modo, muitos estudos têm sido desenvolvidos para verificar a presença e a ação destes contaminantes, nos organismos. Diversos ensaios vêm sendo desenvolvidos para esse fim, entre eles, técnicas com leveduras recombinantes, com células geneticamente modificadas e técnicas de dosagem de vitelogenina em peixes. Os estudos apresentados nessa revisão demonstram a eficácia destas técnicas no monitoramento ambiental. Diante dos dados encontrados, observa-se a necessidade de desenvolver mais estudos e aprimorar técnicas para que se possa conhecer, efetivamente, os mecanismos de ação desses contaminantes e, assim, estabelecer estratégias apropriadas para a sua remoção do ambiente e diminuição das suas ações sobre os seres vivos. Palavras-chave: estrogenicidade ambiental; ensaio com levedura recombinante; disruptores endócrinos; hormônios estrogênicos. Artigo I__________________________________________________________________38 ABSTRACT Several chemical compounds, used in human activities, are being studied for their capacities of causing imbalances in several systems. Some of these compounds are able to affect the endocrine system and are known as endocrine disruptors. Among these substances, it is highlighted the phthalates, polycyclic aromatic hydrocarbons, bisphenol A, agrochemicals, alkylphenols, besides the synthetic and natural estrogenic hormones. Many negative effects can be induced in the organisms, by the action of these chemicals, highlighting the capacity of causing decrease in the fertility rate, sex inversion, problems in the embryonic development and even cancer in humans. These effects are resulted from the action of these chemical agents, due to the capacity of acting by mimicking, blocking, stimulation, endocrine acceleration, enzymatic action and destruction. These contaminants can be found in many different environments, in groundwaters, sediments, residual waters, sludges and even in drinking water. Thus, several studies have been conducted to verify the presence and the action of these contaminants in the organisms. Several assays have been developed with this purpose, among them, techniques with recombinant yeasts, genetically modified cells and techniques of dosing vitellogenin in fishes. The studies presented in this review show the efficiency of these techniques in the environmental monitoring. According to the data found, it is observed a need to develop more studies and improve the techniques in order to know, effectively, the mechanism of action of these contaminants and, thus, establish appropriate strategies for their removal from the environment and reduction of their actions on living beings. Key-words: environmental estrogenicity; recombinant yeast assay; endocrine disruptors; estrogenic hormones Artigo I__________________________________________________________________39 1. INTRODUÇÃO A grande variedade de compostos químicos encontrados no ambiente, além de poderem induzir diversos problemas de caráter genético e até mesmo herdáveis nos organismos vivos em decorrência de sua interação com o DNA, podem também causar a indução de respostas hormonais, semelhantes àquelas produzidas naturalmente pelo organismo. Muitos compostos naturais e sintéticos possuem a capacidade de se ligar a receptores estrogênicos, interferir no sistema endócrino, bem como causar alterações hormonais (RAISER et al., 2006). Diversos poluentes ambientais como as drogas farmacêuticas, os agrotóxicos, misturas complexas derivadas de efluentes, alguns compostos industriais, além de diversos metais, são conhecidos por sua capacidade de desregular o sistema endócrino dos organismos (GIESY et al., 2002). Nestes casos, os poluentes não estão interagindo diretamente com o DNA dos animais expostos, mas interferindo na síntese, secreção, transporte, ligação, ação ou eliminação dos hormônios naturais, prejudicando a homeostase celular, os processos reprodutivos, comportamentais e de desenvolvimento. Estes compostos são denominados de disruptores endócrinos (DEs) (USEPA, 1997). Em um trabalho de revisão realizado por Campbell et al. (2006), os autores compilaram diversos trabalhos que exemplificam alguns compostos naturais e sintéticos que atuam como DEs, entre eles os agrotóxicos (atrazina, dieldrin e toxafeno), surfactantes (alquilfenóis etoxilados - APEO), hormônios naturai�� ����-estradiol – ���@\^� ������ � – E1 e estriol – E3), hormônios ����_���������`-etinilestradiol – ��`@@\^� ���� ���� {����� �- DES) e fitoestrógenos (isoflavonóides e coumestrol). Além destes, compostos industriais como bisfenol A (BPA), dioxina (2,3,7,8-TCDD), nonilfenóis (NP), octilfenóis (OP), ftalatos, estirenos, polibromobifenilo (PBB), bifenilas policloradas (PCB) (COLBORN et al., 1993) e metais como cádmio, lítio, bário, cromo e antimônio também são indutores de alterações no sistema endócrino (CHOE et al., 2003). Segundo Snyder et al. (2003), os DEs podem ser separados em três classes: a dos compostos estrogênicos, que mimetizam ou bloqueiam o estrógeno natural; a dos compostos androgênicos, que mimetizam ou Artigo I__________________________________________________________________40 bloqueiam a testosterona natural e os compostos tireoidais, que causam efeitos diretos ou indiretos na glândula tireóide. Nesta revisão, serão abordados apenas os DEs estrogênicos. As substâncias estrogênicas são aquelas que se comportam como hormônios, se ligando ao receptor de estrogênio. Estes compostos, apesar de nem sempre ?����|���� �������� � }�|��� � ���� � ���� � �� ���@\� �?�����? � �����#���� natural produzido pelos ovários), causam respostas agônicas e antagônicas, possivelmente, por meio de mecanismos que ocorrem via receptores hormonais. A identificação destas substâncias se dá por sua capacidade de se ligar ao receptor de estrogênio e induzir ou atenuar uma resposta hormonal (ZACHAREWSKI, 1997). 2. PRINCIPAIS AGENTES ESTROGÊNICOS 2.1. Ftalatos Os ftalatos são diésteres do ácido ftálico muito utilizados na produção de materiais poliméricos como, por exemplo, o cloreto de polivinila (PVC), por conceder flexibilidade e facilitar a manipulação do material desde o processo de produção até o produto final. Este químico também tem sido utilizado, em menor escala, em tintas, cosméticos e repelentes (FATOKI; VERNON, 1990; HARRIS et al. 1997). Não existem restrições quanto à presença de ftalatos em efluentes industriais e, por isso, grandes quantidades deles são lançadas no ambiente, causando efeitos prejudicais significativos aos ecossistemas (AUTIAN, 1973). Dentre os ftalatos, o DEHP (di-(2-etil-exil) ftalato) é um dos mais encontrados no ambiente, em especial na água e no ar, podendo também estar presente nos alimentos. Dessa forma, os organismos podem entrar em contato com esse contaminante a partir de diferentes fontes. Após exposição oral, o processo de metabolização deste composto, inicia-se no intestino, onde é hidrolisado pelas lipases intestinais, sendo absorvido, em sua maior parte, na forma de MEHP (mono- (2- etil-exil) ftalato), que é o seu metabólito ativo (ALBRO; MOORE, 1974; ALBRO et al.,1973; WHITE, et al. 1980). Artigo I__________________________________________________________________41 Segundo Harris et al. (1997), embora os ftalatos sejam considerados um grupo único, eles podem atuar de formas diferentes, sendo que alguns já são considerados estrogênicos e outros ainda não têm essa ação comprovada. De acordo com os mesmos autores, a ação estrogênica dos ftalatos parece estar diretamente ligada com a sua massa molecular, onde quanto maior for a massa molecular maior a sua atividade estrogênica, porém o caminho metabólico seguido por este contaminante não é totalmente conhecido. 2.2. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) Os HPAs são compostos gerados a partir de atividades antrópicas decorrentes da combustão incompleta de combustíveis e de algumas atividades industriais ou ainda a partir de fontes naturais, como por exemplo, a formação de rochas sedimentares (HARVEY, 1981; LOPES; ANDRADE, 1996). Estes compostos são considerados altamente tóxicos, principalmente devido às suas características físico-químicas. São compostos lipofílicos que, para serem eliminados do corpo humano, necessitam ser metabolizados em metabólitos hidrofílicos. Porém, o metabólito gerado geralmente é mais tóxico que o próprio componente (BAEK et al., 1991; TUVIKENE; 1995; LOPES; ANDRADE, 1996). De um modo geral, as atividades estrogênicas ocorrem por meio da ativação do fator de transcrição, o receptor de estrógeno (ER – estrogen receptor), que interage com genes de resposta sensíveis a hormônios. Apenas alguns HPAs e seus derivados hidróxidos foram estudados, quanto à capacidade de interagir com o ER, por possuírem estruturas semelhantes ao estrogênio (NESARETNAM; DARBRE, 1997; FONTENELLE et al., 2010). Existem discussões sobre algumas possibilidades da forma como os HPAs agem como substâncias estrogênicas: agem da mesma maneira que os hormônios estrogênicos, duplicando o efeito fisiológico; agem competindo com os hormônios, inibindo assim os seus efeitos e atuam indiretamente modificando a disponibilidade do estrogênio em tecidos alvos (SANTODONATO, 1997). 2.3. Bisfenol A (BPA) O BPA possui uma estrutura química de difenil alcano hidroxilado, que contém dois anéis aromáticos unidos por uma ligação de carbono. Em Artigo I__________________________________________________________________42 temperatura ambiente, caracteriza-se por ser um composto sólido em forma de flocos, cristais ou pérolas. Sua ação desreguladora endócrina é observada até mesmo em concentrações muito baixas (KRISCHNAN et al., 1993; STAPLES et al., 1998). Esta substância é gerada pela condensação do fenol com a acetona, em pH ácido e em alta temperatura. Na presença de catalisadores, é destilado e, após ser filtrado e seco, utilizado como monômero na produção de plásticos e policarbonatos, usados na fabricação de garrafas plásticas, os CDs e DVDs (STAPLES et al., 1998; KAWAHATA, 2004; VOGEL, 2009; CHEN et al., 2010). Diversos estudos constataram a capacidade do BPA em reduzir a esteroideogênese, ou seja, a síntese dos hormônios esteroides (progesterona, testosterona e E2) pelo córtex da glândula adrenal (MANDICH et al., 2007). O BPA age principalmente interagindo com os receptores de estrogênio, mimetizando e impedindo a atividade dos hormônios estrogênicos naturais da célula (BERGERON et al. ,1999; LEVY et al., 2004; LETCHER et al., 2005). 2.4. Agrotóxicos Os agrotóxicos podem ser subdivididos quimicamente em dois grupos principais, orgânicos e inorgânicos. Estes últimos, que têm como base o chumbo, arsênio e mercúrio, foram muito utilizados no passado, porém substituídos pelos orgânicos, por estes serem biodegradáveis. Dentre os orgânicos, estão: os de origem animal com base de óleos animais; os de origem petrolífera, que compreendem os óleos mineirais; os de origem vegetal (oléos vegetais, nicotina, piretrinas); e os organo-sintéticos (clorados, fosforados, piretróides, etc.), os quais são muito persistentes no ambiente e causam danos severos à saúde humana (ETO,1974). Embora os agrotóxicos sejam amplamente utilizados no controle de pragas agrícolas ou domésticas, muitos deles possuem uma comprovada atividade estrogênica. Como este grupo abrange uma grande variedade de compostos químicos, os mecanismos de ação de interferência endócrina são bastante diversos (WALTERS et al., 1993; OSTBY,1999; ANDERSEN et al., 2002; CHEN et al., 2002). Alguns agrotóxicos podem atuar interagindo com os receptores hormonais, outros podem inibir a atividade das enzimas Artigo I__________________________________________________________________43 responsáveis pela síntese de hormônios esteroides ou ainda induzir as enzimas responsáveis por este processo, causando aumentos ou diminuição dos níveis de hormônios. Essas interações podem levar também à formação de produtos metabólicos interferentes endócrinos mais potentes que os compostos originais (ANDERSEN et al. 1999; ANDERSEN et al. 2002). 2.5. Alquilfenóis (APs) Os APs são compostos de origem antropogênica constituintes dos antioxidantes, poliestireno modificado, surfactantes e cloreto de polivinila (PVC), estando geralmente presentes em lançamentos de efluentes. Essas substâncias são formadas por grupos alquilas de diferentes tamanhos, ligados a um anel aromático que contém uma ligação hidroxila. Quanto maior a parte lipofílica deste composto, maior o seu efeito tóxico. Já a estrogenicidade dessas substâncias está ligada a diminuição do tamanho da cadeia alquílica, ou seja, quanto menor a cadeia, maior a estrogenicidade. Sendo assim, o composto que apresenta maior estrogenicidade é o Nonil fenol (NP), que é formado por um fenol e uma cadeia de nove carbonos (WHITE, et al., 1994; SERVOS, 1999; OLIVEIRA et al., 2007; USEPA, 2010) Devido a sua reconhecida atividade estrogênica, os APs e seus derivados, como os APEO, são capazes de afetar a reprodução pela sua capacidade de mimetizar os hormônios estrogênicos responsáveis pelo desenvolvimento e comportamentos sexuais. Essa capacidade de imitar os estrogênios leva a ligação dessas substâncias aos receptores de estrógenos, diminuindo a atividade dos hormônios e causando a perturbação do sistema hormonal (COX, 1996; SONNENSCHEIN; SOTO, 1998). 2.6. Hormônios estrogênicos naturais e sintéticos Os hormônios são definidos como substâncias químicas sintetizadas pelas glândulas endócrinas, os quais, ao serem lançados na corrente sanguínea, mantém um equilíbrio no funcionamento de todo o organismo (SHIMADA et al., 2001; DÌAZ-CRUZ et al.,2003; BILA; DEZZOTI, 2007; GHISELI; JARDIM, 2007). Dentre os hormônios, os androgênios, corticóides, progestagênios e estrogênios compõem um grupo conhecido como hormônios esteroides (GHISELI; JARDIM, 2007). Os principais hormônios estrogênicos naturais s�������`@\^�@�^�@"��������@\��@��������������� ?������ ������� � Artigo I__________________________________________________________________44 estrutura um grupo fenólico e, em alguns casos, um grupo hidroxila alifático. Entre os sintéticos destacam-se, principalmente, o levonorgestrel ������`@@\^� que correspondem ao hormônios sintéticos frequentemente presente em pílulas contraceptivas. Os estrógenos não naturais são sintetizados a partir de reações de metilação e etilação ou por esterificação dos hormônios naturais (SHIMADA et al., 2001; LINTELMANN et al., 2003; GHISELI; JARDIM, 2007). Dentre os efeitos ocasionados pela exposição a esses compostos destacam-se as alterações na saúde reprodutiva, como infertilidade, irregularidades menstruais, abortos espontâneos e câncer de mama. Nos ecossistemas, podem causar reversão sexual em peixes e em outros animais (BHATT, 2000). Os hormônios naturais e sintéticos sofrem biotransformação antes de serem excretados pelo organismo pelas fezes ou urina. O hormônio sintético ��`@@\� ���� ^� ?��� ����� �� �� �� ���� ������� ^� �� � #� � �� � ��� �� �� metabólitos metilados e hidroxilados. Sabe-se que cerca de 60% desses fármacos são excretados pela urina por meio de conjugados e por vários metabólitos polares. As vias de disseminação mais comuns desses hormônios são os efluentes domésticos descartados em rios e mares, pela deficiência na infraestrutura de saneamento ou pela ineficiência do tratamento destes efluentes, acarretando em uma grande contaminação ambiental por estes hormônios (ERICKSON, 2002; GILMAN et al. 2003). 3. EFEITOS INDUZIDOS PELOS AGENTES ESTROGÊNICOS E MECANISMO DE AÇÃO Os compostos estrogênicos podem se acumular nos organismos por serem bioativos e persistentes no solo e nos recursos hídricos. Por esta razão podem interferir nos ecossistemas aquático e terrestre e, assim, afetar toda a cadeia trófica (HALLING-SORENSEN et al., 1998; MEYER et al., 1999). De acordo com Guillette Jr. et al. (1994), a exposição aos compostos estrogênicos pode causar alterações sexuais no desenvolvimento embrionário e, consequentemente, insucesso reprodutivo, tanto em decorrência da mortalidade dos indivíduos quanto pela modificação da capacidade estrogênica das gônadas. Além disso, quando estas substâncias entram em contato com o organismo das fêmeas, as consequências podem ser ainda piores, uma vez Artigo I__________________________________________________________________45 que tais substâncias podem ser transmitidas aos descendentes por meio dos ovos, placenta ou leite materno, podendo causar problemas no seu desenvolvimento (BILA; DEZOTTI, 2007). Muitos autores (FRY; TOONE, 1981; BERGERON et al., 1994; GUILLETTE Jr. et al., 1999; KNORR; BRAUNBECK, 2002; BLAISE et al., 2003) têm demonstrado que os DEs causam uma redução nas taxas de fecundidade, mudanças de sexo, problemas no desenvolvimento de embriões humanos e não-humanos, além de induzir processos carcinogênicos em humanos (COLBORN et al., 1993; GIWERCMAN et al., 1993; SHAPE; SKAKKEBAEK, 1993; TOPPARI et al., 1996). Segundo Snyder et al. (2003), os efeitos dos estrógenos presentes na água sobre os organismos dependem do seu tempo de exposição. Os peixes, por exemplo, são mais afetados por estes hormônios do que os seres humanos, porque são organismos que estão constantemente em contato com a água. No entanto, segundo Bila e Dezotti (2007), a exposição aos DEs em baixos níveis pode afetar também os organismos que se encontram no topo da cadeia alimentar, em decorrência do caráter bioacumulativo destas substâncias. Em peixes fêmeas, a presença de estrogênio na água pode ser identificada por meio da vitelogênese prematura (JONES et al., 2000) ou por meio de alteração dos níveis plasmáticos de vitelogenina (proteína precursora do vitelo, cuja produção no fígado é estimulada pelo estrógeno). Tanto os peixes machos quanto as fêmeas e os indivíduos jovens possuem receptores estrogênicos, mas, somente as fêmeas estão normalmente expostas ao estrógeno natural. Desta forma, quando são encontrados peixes machos e peixes fêmeas não vitelogênicas que produzem vitelogenina, há indícios da presença de estrógenos no meio ambiente (KIME et al., 1999). A indução de vitelogenina em peixes machos está relacionada com o decréscimo da testosterona plasmática, anormalidades gonadais (HASHIMOTO et al., 2000; MILLS et al., 2001), patologia renal e gonadal e presença de folículos ovarianos nos testículos (SIMPSON et al., 2000). Segundo Okoumassoun et al. (2002) e Anderson et al. (2003), estas alterações, decorrentes da presença de vitelogenina em peixes machos, podem levar a problemas reprodutivos como redução da fertilidade e interferência na população de peixes dos rios. Artigo I__________________________________________________________________46 Outro parâmetro indicativo da existência de compostos com atividade estrogênica no ambiente é a presença de animais que apresentam intersexualidade (LINEY et al., 2006), ou seja, indivíduos dióicos que apresentam características sexuais de macho e de fêmea simultaneamente (KELLY et al, 2004). De acordo com Jobling et al. (2002), a ocorrência de intersexo pode diminuir a fertilidade de peixes machos da espécie Rutilus rutilus e interferir na sua reprodução, por apresentarem gametas com baixa motilidade e, consequentemente, baixa habilidade de fertilização e de produção de descendentes viáveis. Carpas (Cyprinus carpio) coletadas em rios da Espanha, poluídos com compostos estrogênicos, apresentaram distúrbios hormonais de estrógeno e testosterona e, consequente aumento de vitelogenina no plasma. Como não foram observados aumentos significativos de estrógeno plasmático em peixes machos, a produção de vitelogenina foi atribuída aos efeitos de contaminantes que mimetizam o estrógeno ou causam diminuição dos níveis de testosterona. Além disso, os efeitos da poluição também induziram o aparecimento de oócitos nos testículos de peixes machos. No entanto, estas alterações, aparentemente, não afetaram a espermatogênese (SOLÉ et al., 2003). Exemplares de salmonete-da-vasa (Mullus barbatus) expostos às águas do noroeste do Mediterrâneo, impactadas por efluentes de estações de tratamento de esgoto (ETEs), apresentaram altas concentrações de NP (média de 0,34 a 28,31 ug/g) e OP (0,03 a 0,25 ug/g) na bile. Estes indivíduos também apresentaram alterações gonadais como hipertrofia do tecido conectivo, fibrose, necrose, intersexualidade e atraso nos processos de maturação de gametas (MARTIN-SKILTON et al., 2006). Vários autores tem relacionado a presença de altos níveis de NP na água com a intersexualidade e a indução de vitelogenina em peixes machos (JOBLING et al., 1998; LAVADO et al., 2004). No entanto, algumas alterações gonadais observadas por Martin-Skilton et al. (2006) não eram decorrentes apenas da presença dos polifenóis, mas provavelmente de uma mistura de contaminantes urbanos e industriais, incluindo os PCB, que segundo Jansen et al. (1993) e Krishnan e Safe (1993), possuem a capacidade de se ligar a receptores de estrógeno e produzir efeitos estrogênicos e antiestrogênicos. Artigo I__________________________________________________________________47 Peixes de várias espécies, incluindo Cyprinus carpio, Micropterus spp. e Ictalurus punctatus, que foram coletados em diferentes pontos do rio Colorado, nos EUA, apresentaram desordens reprodutivas como intersexo (machos com oócitos testiculares e fêmeas com espermatozóides nos ovários), alterações de vitelogenina plasmática em machos e fêmeas e gônadas pouco desenvolvidas em machos. Em uma região do rio Colorado, a porcentagem de machos apresentando intersexualidade chegou a 70% (HINCK et al., 2007). De acordo com os autores, vários trabalhos têm relatado a presença de elevadas concentrações de metais e pesticidas organoclorados, como o DDT e seus metabólitos, na água, no sedimento e na biota associada à bacia do rio Colorado. A estrogenicidade de agrotóxicos organoclorados, como o lindano, o dieldrin e o heptacloro, foi confirmada por Okoumassoun et al. (2002), que verificarem a produção de vitelogenina em peixes machos da espécie Sarotherodon melanotheron que vivem no rio Ouémé, na República de Benin, na África, contaminado com estes poluentes. Em regiões do Mar Mediterrâneo nas proximidades da Espanha e do Golfo de Taranto (Mar Jônico), onde há intensa atividade comercial, De Metrio et al. (2003) coletaram espécimes de peixe-espada (Xiphias gladius) e verificaram que 25% dos indivíduos analisados apresentavam intersexualidade, com presença de oócitos nos testículos. Além disso, a análise do fígado revelou ainda a produção de vitelogenina, tanto nos peixes machos quanto nos intersexo. Estudos realizados por Guillette Jr. et al. (1994), registraram uma diminuição populacional de jacarés em um lago na Flórida, entre os anos 1980 e 1987. Este declínio populacional, segundo os autores, ocorreu, provavelmente, em decorrência dos efeitos estrogênicos de poluentes como o dicofol, o DDT e de despejos domésticos da cidade de Winter Garden realizados ao redor do lago. De acordo com McLachlan et al. (1992), o dicofol, o DDT e seus metabólitos possuem a capacidade de induzir efeitos estrogênicos, por meio da sua ligação com os receptores de estrógeno. Alterações gonadais, como presença de folículos poliovulares e oócitos polinucleados em fêmeas e túbulos seminíferos pobremente organizados em machos, provavelmente estão ligadas a alterações nas concentrações dos hormônios testosterona e E2, como visto nos jacarés estudados por Guillette jr. Artigo I__________________________________________________________________48 et al. (1994). De acordo com Reeder et al. (2005), substâncias como os PCB e o inseticida DDT também podem ter sido os responsáveis pelo desenvolvimento de gônadas intersexo em sapos Acris crepitans e seu consequente declínio populacional. O desenvolvimento de leiomiomas e a diminuição da atividade reprodutiva de animais como a foca cinza, por exemplo, podem também estar relacionados à presença de pesticidas organoclorados nas águas do mar (BÄCKLIN et al., 2003). A relação entre a saúde humana e os DEs presentes no meio ambiente se dá, principalmente, por meio do consumo de animais aquáticos que podem ter bioacumulado os DEs, bem como pela ingestão de água potável proveniente de rios que recebem resíduos químicos que mimetizam os efeitos do estrógeno (MAURICIO et al., 2006). Embora o homem ocupe o topo da cadeia alimentar, podendo ingerir grandes quantidades de compostos estrogênicos que se bioacumulam nos organismos, os efeitos estrogênicos a que estão sujeitos dependem das propriedades toxicológicas dos contaminantes, de seus efeitos sinergísticos ou antagonísticos in vivo, da sua concentração e da taxa de consumo de organismos diretamente expostos, como por exemplo, os peixes (PINTO et al., 2008). Nos seres humanos, os principais efeitos dos compostos estrogênicos incluem a redução da quantidade de esperma, o aumento da incidência de câncer de mama, testículo e próstata e a endometriose (BILA; DEZOTTI, 2007). De acordo com Müller (2004), receptores de estrógeno no corpo humano podem ser expressos no sistema reprodutor, nas glândulas mamárias, nos rins, fígado, ossos, tecido adiposo, sistema imune, cardiovascular, cérebro e nos pulmões. Embora a exposição humana aos estrógenos sintéticos geralmente ocorra em baixos níveis, estes compostos tendem a se acumular no tecido adiposo do organismo, em decorrência de seu caráter lipofílico e de sua não metabolização imediata. Dessa forma, células da mama, que estão localizadas em região gordurosa, tornam-se alvos para o desenvolvimento de câncer (DARBRE, 1998). Apesar de muitos estudos terem detectado a presença de estrógenos sintéticos em tecido adiposo de células mamárias e no leite Artigo I__________________________________________________________________49 humano (HOLFORD et al., 2000; MUSCAT et al., 2003; PETREAS et al., 2003; PETREAS et al., 2004; IBARLUZEA et al., 2004; SONAWANE, 1995), ainda não há dados consistentes que relacionem a presença destes compostos e a incidência de câncer de mama. Segundo Rasier et al. (2006), a extrapolação de dados obtidos em laboratório sobre os efeitos de substâncias químicas nos seres humanos tem sido bastante controversa. Tais resultados geralmente não apresentam as doses e o tempo de exposição reais a que o homem se expõe durante sua vida. No entanto, quando populações humanas estão expostas às mesmas substâncias testadas, o risco potencial de desenvolvimento de certas doenças, como evidenciado em estudos laboratoriais, como a dosagem de FSH (Hormônio Folículo Estimulante) e LH (Hormônio Luteinizante) em mulheres, deve ser levado em consideração. Embora seja conhecido que os efeitos induzidos pelos compostos estrogênicos ocorram por meio da sua ligação direta com os receptores hormonais (ZACHAREWSKI, 1997), os mecanismos específicos pelos quais a desregulação endócrina ocorre ainda são desconhecidos (CRAIN et al., 1997). A ação dos DEs por xenobióticos pode ser mediada por meio de receptores. Estes receptores estrogênicos são grandes moléculas de proteínas que possuem sítios de ligação específicos para estrógenos. Quando esse receptor interage com o estrogênio, um sinal é enviado para o núcleo da célula, que estimula a síntese de proteínas específicas (HARVEY; JOHNSON, 2002; SHAW; MCCULLY, 2002). Esses sítios podem ser ocupados por xenobióticos que possuem características químicas semelhantes a dos estrógenos, agindo assim por mimetização ou bloqueio dos hormônios naturais, ligando-se aos sítios específicos causando respostas indevidas, como o excesso ou a falta de certas proteínas (JACOBS, 2001; SHAW; MCCULLY, 2002). Outra forma de ação dos DE é a interferência na sequência enzimática, que leva a eliminação prematura dos hormônios, desativação de enzimas de degradação ou incapacitação (por destruição ou inativação) da execução das funções das atividades hormonais (HARVEY; JOHNSON, 2002; SHAW; MCCULLY, 2002; JANOSEK et al., 2006). Artigo I__________________________________________________________________50 4. ESTUDOS PARA DETECÇÃO DE ESTROGENICIDADE EM AMOSTRAS AMBIENTAIS Assim como muitos contaminantes químicos, os compostos estrogênicos muitas vezes alcançam o meio ambiente, podendo ser encontrados nas águas superficiais (PENG et al., 2008; MIÈGE et al., 2009), nas águas subterrâneas (BENNIE, 1999; CAMPBELL et al., 2006), nos sedimentos (MURK et al., 2002; FENET et al., 2003; LEGER et al., 2003), nas águas residuais (MA et al., 2007, MIÈGE et al., 2009), em lodos (LORENZEN et al., 2004; GIUDICE; YOUNG, 2011) e até mesmo na água potável (KUCH; BALLSCHMITER, 2001). Os rios, e consequentemente seus sedimentos, são um dos principais reservatórios dos interferentes endócrinos, sendo responsáveis por muitas alterações nos ecossistemas aquáticos, pois agem desestabilizando as funções normais dos organismos. Diversos estudos comprovam que esses contaminantes têm sido amplamente encontrados nas águas superficiais de rios, nas águas subterrâneas e em sedimentos (MEYBECK; HELMER, 1992; PETERS; MEYBECK, 2000; MEYBECK, 2003; WANG et al., 2011; ZHAO et al., 2011). Diante disso, muitas pesquisas vêm sendo realizadas para identificar e avaliar a presença desses interferentes. Amostras de águas superficiais e subterrâneas de dois aqüíferos na Espanha, localizados em áreas de produção agrícola e de alta atividade industrial, foram analisadas por Latorre et al. (2003). Os autores encontraram altos índices de NP, seguidos de índices menores de OP e BPA em todas as amostras, indicando que as águas subterrâneas podem constituir grandes reservatórios de poluentes orgânicos e, devido à alta persistência de tais poluentes, eles representarem um perigo para a qualidade das águas. Os APEO e seus derivados NP e OP podem alcançar as águas subterrâneas por meio da lixiviação ou pela sua difusão e transporte ao longo do aquífero. A presença de APEO, NP e OP no ambiente está relacionada ao seu intenso uso como ingredientes inertes de pesticidas (LABEL REVIEW MANUAL, 1996), enquanto que o BPA é usado como intermediário na produção industrial de resinas epóxi e plásticos do tipo policarbonato (FÜRHACKER et al., 2000). Em Guangzhou, na China, Peng et al. (2008) verificaram que as águas superficiais do rio Major Pearl, localizado em área urbanizada, estão contaminadas com compostos estrogênicos provavelmente originados de Artigo I__________________________________________________________________51 despejos esporádicos de efluentes domésticos e industriais. De acordo com os autores, em 60% das amostras de água analisadas havia presença de E1 em concentrações que variaram de 8 a 65 ng/L, além de NP, BPA, triclosan, 2- fenilfenol, metilparabeno e propilparabeno em altas concentrações. Segundo Krishnan et al. (1993), apesar do BPA possuir capacidade de se ligar ao receptor de estrógeno, sua afinidade a este receptor é mais fraca que a do estrógeno natural (KWON et al., 2000). Além da presença de compostos estrogênicos na água, alguns lagos de regiões subtropicais da China apresentaram também APs nos sedimentos (WU et al., 2007). Mais recentemente, Zhao et al. (2011) relataram múltiplas atividades hormonais, dentre elas a atividade estrogênica para água de superfície e para sedimentos da bacia do rio Pearl (rios Liuxi, Zhujiang e Shijing) no sul da China. Os autores encontraram níveis de atividade estrogênica que variaram entre 0,23 a 324 ng/L EEQ em águas superficiais e 0 a 101 ng/g EEQ em sedimentos. O rio Shijing apresentou níveis mais altos de atividades hormonais que os rios Zhujiang e Liuxi, indicando que aquele rio tem recebido grande influência de produtos químicos com ação de DEs. As concentrações de EEQ observadas neste estudo são maiores que as observadas na literatura e que são consideradas responsáveis por efeitos adversos sobre organismos aquáticos. Compostos como NP, OP, E1, E2 e BPA também foram encontrados no rio Tama, em Tóquio. Este rio recebe efluentes de ETEs que recebe predominantemente compostos de origem doméstica. A estrogenicidade destes compostos foi medida pelo ensaio de MVLN com transcrição estrógeno- específico, que utiliza a linhagem de célula MVLN (derivada da célula MCF-7), como gene repórter, produzindo luciferase na presença de estrógeno. As quantidades detectadas de NP (51,6 a 147 ng/L) e OP (6,9 a 81,9 ng/L) foram muito baixas para induzir estrogenicidade nas células testadas. Por outro lado, as quantidades de E1 (6,4 a 85,6 ng/L), E2 (0,5 a 12,3 ng/L) e BPA (4,8 a 76,3 ng/L) foram suficientes para induzir resposta estrogênica nos ensaios realizados (FURUICHI et al., 2004). De acordo com Fenet et al. (2003), baixas concentrações de APs em amostras de água não excluem seu potencial estrogênico, uma vez que estes compostos podem se bioacumular em organismos aquáticos, mesmo em baixas concentrações. Artigo I__________________________________________________________________52 As águas superficiais e os sedimentos do rio Amarelo, na China, foram coletadas em 15 pontos e analisadas por Wang et al. (2011) quanto à estrogenicidade por meio do teste in vitro com levedura recombinante (YES). Os resultados encontrados pelos autores indicam os maiores índices de estrogenicidade nas águas superficiais do ponto Y4 (ponto referente à coleta realizada no rio Amarelo – Yellow) na estação seca (EEQ = 9,44 ng/L) e em sedimento no ponto Y7 na estação úmida (EEQ = 1,29 ng/g). Em uma visão geral, os compostos estrogênicos das águas e dos sedimentos do rio Amarelo apresentaram-se em baixos níveis, mostrando assim baixo potencial estrogênico, exceto para o ponto ao leste de Lanzhou, que apresentaram com altos níveis estrogênicos. Gagné et al. (2012) avaliaram a estrogenicidade dos extratos das águas de rio, lago e de areias betuminosas encontradas na região do rio Atabasca em cultura primária de hepatócitos de truta arco-íris. Os autores investigaram as alterações causadas na expressão dos genes receptor de ���� �� ��\� �@��� �� ���� �#���� � �������@ ��� �{���� � �� }��� ���?������� ��� amostras de rio e lago ocasionou a maior expressão de ambos os genes, sendo que o que apresentou maior expressão foi o VTG. Garcia-Reyero et al. (2005) avaliaram extratos de amostras de sedimentos de 83 lagos de montanhas europeias, quanto à atividade estrogênica. Os autores utilizaram o ensaio de levedura recombinante com Saccharomyces cerevisiae (RYA – Recombinant Yeast Assay). Dentre todas as amostras avaliadas pelos autores, vinte e seis não apresentaram potencial estrogênico, pois estiveram abaixo do limite de detecção do teste (1 pg/g EEQ), enquanto 13 amostras apresentaram níveis muito elevados de estrogenicidade, alcançando 350 ng/g EEQ. A análise química realizada pelos autores revelou uma grande correlação entre a atividade estrogênica e a presença de contaminantes de origem antropogênica. A análise dos sedimentos da bacia de Tokyo , que recebe despejos de efluentes de ETE, revelou a presença de elevados níveis de NP nas amostras (142 a 20.700 ng/g peso seco). Além de apresentar atividade estrogênica, como constatada pelo bioensaio com sistema de duplo-híbrido em levedura (Saccharomyces cerevisiae Y190 com receptor de estrógeno humano - @�`��� um coativador - TIF2), o NP também foi o principal responsável (mais de 90%) Artigo I__________________________________________________________________53 pela indução de vitelogenina plasmática em peixes machos da espécie Fundulus heteroclitus (KURIHARA et al., 2007). Louiz et al. (2008) coletaram amostras dos sedimentos da lagoa Bezerta, lagoa na Tunísia e da lagoa Ghar el Melh, mas foram nas estações de verão e inverno. Os extratos desses sedimentos foram avaliados quanto ao potencial estrogênico utilizando-se a linhagem celular MELN (células MCF-7 com transfecção do plasmídeo ERE-�� �{-Luc-SVNeo), modificadas com gene da enzima luciferase regulador de estrogênio. Este ensaio permite a detecção da atividade estrogênica em relação a todos os poluentes, por meio da detecção da atividade da luciferase, verificada com auxilio de um luminômetro. Os autores encontraram atividade estrogênica apenas na amostra do ponto MB (Menzel Bourguiba, área de influência urbana, de atividades metalúrgicas, construção naval e aterros de resíduos sólidos) tanto no inverno quanto no verão (0,22 e 0,29 ng EEQ/g, respectivamente). Todas as outras amostras apresentaram valores ab