UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA IMPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS AUTÓLOGAS, ASSOCIADAS AO PLASMA RICO EM PLAQUETAS EM TENDINITES EXPERIMENTAIS DE EQUINOS ARMANDO DE MATTOS CARVALHO Botucatu – SP 2012 ii UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA IMPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS AUTÓLOGAS, ASSOCIADAS AO PLASMA RICO EM PLAQUETAS EM TENDINITES EXPERIMENTAIS DE EQUINOS ARMANDO DE MATTOS CARVALHO Tese apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária para obtenção do título de Doutor. Orientadora: Profa Dra Ana Liz Garcia Alves Co-orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Hussni Botucatu – SP 2012 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO DE AQUIS. E TRAT. DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE Carvalho, Armando de Mattos. Implante de células-tronco mesenquimais autólogas, associadas ao plasma rico em plaquetas em tendinites experimentais de equinos / Armando de Mattos Carvalho. – Botucatu [s.n.], 2012 Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Orientador: Ana Liz Garcia Alves Coorientador: Carlos Alberto Hussni Capes: 50501003 1. Equino – Doenças. 2. Tendões flexores – Ferimentos e lesões. 3. Claudicação em equino. 4. Células-tronco. 5. Colagenases. 6. Tecidos (Anatomia e fisiologia) – Regeneração. Palavras-chave: AdCTMs; Cavalo; Lesão tendínea; PRP; Terapia. iii Nome do autor: Armando de Mattos Carvalho Título: IMPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS AUTÓLOGAS, ASSOCIADAS AO PLASMA RICO EM PLAQUETAS EM TENDINITES EXPERIMENTAIS DE EQUINOS COMISSÃO EXAMINADORA Profa Dra Ana Liz Garcia Alves Presidente e Orientadora Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária FMVZ – UNESP-Botucatu Prof. Dr. Alexandre Secorun Borges Membro Departamento de Clínica Veterinária FMVZ – UNESP-Botucatu Profa Dra Elenice Deffune Membro Departamento de Urologia Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP-Botucatu Profa Dra Anna Paula Balesdent Barreira Membro Instituto Brasileiro de Veterinária Faculdade de Jaguariúna, IBVET Prof. Dr. Rafael Resende Faleiros Membro Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias Universidade Federal de Minas Gerais Data da defesa: 23 de novembro de 2012 iv DEDICATÓRIA Em primeiro lugar a Deus por me proporcionar saúde, paz e inteligência. Tenho plena convicção que é graças a sua vontade que continuo respirando e tendo forças para buscar a tão sonhada felicidade, tanto pessoa quanto profissional. Aos meus pais, Luis Carlos Assef Carvalho, e Luzia Albertina de Mattos Carvalho que sempre apoiaram a minha opção profissional, estimularam a dar continuidade aos estudos, me educaram, enfim me ensinaram a ser o ser humano que sou. Sou eternamente grato a vocês... A todos os meus familiares pelos ótimos momentos vivenciados juntos. A minha namorada Mel, por sua compreensão e estímulo durante o curso de doutorado. Sem dúvida alguma a sua presença em minha vida torna todos os obstáculos mais fáceis de serem superados v AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer inicialmente a Deus, por tudo de bom que ele deu em minha vida: saúde; família; paz; alegria; amizades; etc. À minha orientadora, Profa Dra Ana Liz Garcia Alves, pessoa no qual tenho grande admiração tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Muito obrigado pela confiança, amizade, me corrigir em momentos oportunos e pela oportunidade do desenvolvimento do curso de doutorado com sua orientação. Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Carlos Alberto Hussni, o qual conheci melhor durante o curso de doutorado e aprendi a admirar, muito obrigado por compartilhar todo seu conhecimento e me estimular nos momentos difíceis. À Profa Dra Elenice Deffune, pelo apoio ao desenvolvimento do experimento no laboratório de Engenharia Celular no Hemocentro da Faculdade de Medicina de Botucatu, sua ajuda e seu exemplo foram de extrema valia não só para a realização do doutorado, mas para eu tornar um cidadão cada vez melhor. À Dra Marjorie Assis Golim do laboratório de Citometria de Fluxo no Hemocentro da Faculdade de Medicina de Botucatu, por mais uma vez sua grande colaboração. Ao professor Prof. Dr. Alexandre Secorun Borges o qual tornou possível e mais acessível o conhecimento frente à biologia molecular desenvolvida no doutorado. À Profa Dra Renée Laufer Amorim, pela importante cooperação, para a realização da avaliação histopatológica e imunoistoquímica. Aos pós-graduandos Ana Lucia Miluzzi Yamada, Luis Emiliano Cisneros Álvarez, Peres Ramos Badial, Luciana Leal Jorge, Carlos Eduardo (Cadu), Luiz Henrique Lima de Mattos, Juliana de Moura Alonso, Dietrich Pizzigatti, Leandro Maia, Natália Pereira Freitas por serem sempre atenciosos e prestativos durante a realização do experimento. Não diferente, os alunos de iniciação científica Cynthia P. Vendruscolo, Mariana da Conceição, Diana Leocata Queiroz, Caio Lunes de Barros que sempre auxíliaram nos cuidados com os animais e no desenvolvimento do doutorado. vi Aos professores Dr. Celso Antonio Rodrigues, Dr. Marcos Jun Watanabe, Dr. Francisco José Teixeira Neto por sua ajuda durante todo o projeto de doutorado. Aos residentes Daniel, Camila, Marina e Pablo sempre dispostos a auxiliar no desenvolvimento do projeto. Aos funcionários Jairo e Clotilde, sempre atenciosos e dispostos a ajudar. Aos cavalos, animais pelo qual sinto intenso carinho, respeito, e admiração, muito obrigado por fazerem parte deste estudo e da minha vida. À FAPESP, pela concessão da Bolsa de Doutorado (2009/10670-8) e pelo Auxílio Pesquisa (2010/03567-3). vii LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 2 Tabela 1 - Média da expressão da superfície das AdCTMs em estudos prévios, obtidos pela expressão das proteínas na análise por citometria de fluxo.....................................................................................................29 Tabela 2 - Valor médio da expressão dos marcadores utilizados na análise da superfície das AdCTMs pela citometria de fluxo na 1ª passagem (P1), 2ª passagem P2), e 3ª passagem (P3)...............................................29 CAPÍTULO 3 Tabela 1 - Média da avaliação clínica realizada nos diferentes momentos. Resultados do teste de sensibilidade local a palpação (escore 0-3), aumento de temperatura (escore 0-3), perimetria da região médio do metacarpo (circunferência em cm) e exame de claudicação (escore 0-5)....................................................................................................40 Tabela 2 - Mediana da avaliação ultrassonográfica realizada nos diferentes momentos. Resultadoda área da lesão (AL), área do tendão (AT), porcentagem da área da lesão pela área do tendão (%AL/AT) e ecogenicidade (ECO) (escore 0-4)...................................................40 CAPÍTULO 4 Tabela 1 - Três categorias de análise e seus respectivos escores para a avaliação dos sinais do Power Doppler................................................................62 Tabela 2 - Sistema de escore histológico e imuno-histoquímico utilizado para a graduação da reparação tendínea em equinos................................63 Tabela Suplementar 2 - Mediana da expressão gênica entre os diferentes grupos relativa à expressão gênica obtida nos tendões saudáveis..................67 viii LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 2 Figura 1 - Análise imunofenotípica das CTMs derivadas do tecido adipose equino. Histograma representando a citometria de fluxo realizada nas CTMs na 1ª passagem utilizando os seguintes marcadores: CD44, CD90, CD105 e MHC Classe II....................................................................................30 Figura 2 - (a) Imagem das AdCTMs (100X), 14 dias após a diferenciação em adipócitos. As gotículas de lipídeos foram detectadas (marcação em Oil red-O). (b) Imagem das AdCTMs (20X), 14 após a diferenciação osteogênica. Depósito de cálcio corado em vermelho nas células diferenciadas (marcação em Alizarin Red). (c) Imagem das AdCTMs (10X), 21 dias após a diferenciação em condrócitos. A deposição extracelular de glicosaminoglicanos é corada em azul (marcação em Alcian Blue)...........................................................................................30 CAPÍTULO 4 Figura1 - Cronograma do tempo. US, ultrassom...................................................64 Figura 2 - Medidas ultrassonográficas. (A) Relação da área da lesão entre o grupo tratado e grupo controle entre os diferentes momentos. (B) Relação do porcentual da área da lesão na seção transversal entre os diferentes grupos entre os diferentes momentos...................................................64 Figura 3 - Imagem ultrassonográfica transversal e longitudinal. As imagens foram feitas 12 cm distal ao osso acessório do carpo, seis semanas após a terapia. A) Grupo controle: imagem de lesão tendínea com maior área de lesão se comparado ao tendão do grupo tratado (área do tendão na seção transversal = 81 mm2, área da lesão na seção transversal = 17 mm2, porcentual da área da lesão na seção transversal = 20%). B) Grupo tratado: tendinite do TFDS demonstrada pela imagem ultrassonográfica hipoecóica (área do tendão na seção transversal = 92 ix mm2, área da lesão na seção transversal = 6 mm2, porcentual da área da lesão na seção transversal = 7%)....................................................65 Figura 4 - Imagem transversal da avaliação ultrassonográfica Power Doppler transversal. As imagens foram feitas 12 cm distal ao osso acessório do carpo, seis semanas após a terapia. A) Grupo tratado: área do vaso = 3 mm2, intensidade do sinal = 2, número de vasos = 1. B) Grupo controle: área do vaso = 1 mm2, intensidade do sinal = 1, número de vasos = 1..........................................................................66 Figura 5 - Imagem histopatológica do tendão flexor digital superficial. As figuras mostram cortes histopatológicos com objetiva de 20x coradas com Hematoxilina & Eosina (H&E). A) Grupo Tratado: tendão tratado com a associação de CTMs derivadas do tecido adiposo e concentrado de plaquetas. B) Grupo Controle: tendão tratado com PBS....................66 Figura Suplementar 1 - Imagem imunoistoquímica do tendão flexor digital superficial. A) Imunoistoquímica para colágeno III, grupo tratado, objetiva 40X. B) Imunoistoquímica para colágeno tipo III, grupo controle, objetiva de 40X. C) Imunoistoquímica para fator VIII, grupo tratado, objetiva de 20X. D) Imunoistoquímica para fator VII, grupo controle, objetiva de 20X.....................................................................67 x SUMÁRIO Página RESUMO........................................................................................................ xii ABSTRACT..................................................................................................... viv CAPÍTULO 1 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 02 2 REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... 04 2.1 Estrutura e função do tendão............................................................... 04 2.2 Tendinite e tratamentos gerais............................................................. 05 2.3 Células tronco ...................................................................................... 08 2.4 Células tronco mesenquimais (CTMs).................................................. 09 2.5 Células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (AdCTMs). 11 2.6 Plasma Rico em Plaquetas (PRP)......................................................... 12 2.7 Uso da AdCTMs e do PRP na terapia da tendinite equina................... 13 CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 3 Artigo Científico nas normas, submetido no periódico “Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia”: Caracterização das células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo equino.................................... Artigo Científico nas normas e a ser submetido ao periódico “Ciência Rural”: Novo modelo de indução de tendinite equina - avaliação clínica e ultrassonográfica........................................................................................... 16 32 xi CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 3 DISCUSSÃO GERAL................................................................................... 69 4 CONCLUSÕES GERAIS............................................................................. 76 5 BIBLIOGRAFIA............................................................................................ 77 Artigo Científico nas normas e a ser submetido ao periódico “Stem Cell Research & Therapy”: Terapia da tendinite equina utilizando associação das células tronco mesenquimais e concentrado de plaquetas...................... 42 xii CARVALHO, A.M. Implante de células-tronco mesenquimais autólogas, associadas ao plasma rico em plaquetas em tendinites experimentais de equinos. Botucatu, 2012, 89p. Tese (Doutorado), UNESP, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. RESUMO A lesão do tendão flexor digital superficial (TFDS) é uma importante causa de claudicação em equinos. Embora existam diversos tratamentos descritos, poucos são eficazes na melhora significativa da qualidade da matriz extracelular. Recentemente, diversos experimentos vêm focando no potencial terapêutico das células-tronco mesenquimais (CTMs) e do plasma rico em plaquetas (PRP) em casos de lesões de difícil cicatrização. O objetivo geral deste estudo foi a obtenção, cultivo e caracterização das células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (AdCTMS), a adoção de uma nova técnica de indução de lesão tendínea utilizando colagenase em gel e a avaliação da reparação tendínea após terapia com a associação terapêutica de AdCTMs e PRP através da análise clínica, ultrassonográfica, histopatológica, imunoistoquímica (colágeno tipo III e fator VIII) e da expressão gênica (COL1A1, COL3A1, TNC, TNMD, SCX). Foi possível isolar e cultivar as AdCTMs, concluir sua caracterização através da diferenciação adipogênica, osteogênica e condrogênica, além da confirmação da expressão destas células aos marcadores CD44, CD90 e CD105 na citometria de fluxo. A indução da lesão do TFDS foi realizada com sucesso, sendo observado na avaliação clínica e ultrassonográfica o desenvolvimento de tendinite focal similar a lesão de ocorrência natural. O uso das AdCTMs associadas ao PRP demonstrou ser viável e resultou na prevenção da progressão da área da lesão no grupo tratado na avaliação ultrassonográfica, maior fluxo sanguíneo do grupo tratado na avaliação com Power Doppler, e melhora da organização cicatricial, com diminuição do infiltrado inflamatório na avaliação histopatológica. Não foram observadas diferenças entre os grupos quanto à avaliação imunoistoquímica e quanto à expressão dos genes testados. Pode-se concluir baseado nos resultados observados: (1) que as AdCTMs foram adequadamente processadas e caracterizadas com as metodologias empregadas; (2) a indução da lesão tendínea com colagenase em gel resultou na formação de lesão focal similar a tendinite de ocorrência natural, sendo possível seu uso em futuros estudos sobre xiii avaliação da reparação tendínea e; (3) a associação de AdCTMs e PRP para a terapia da tendinite equina mostrou ser viável, com melhora do escore histopatológico no grupo tratado, e não progressão da área da lesão na avaliação ultrassonográfica. Mais estudos devem ser realizados na tentativa de melhorar a caracterização das AdCTMs, aprimorar as metodologias de indução da lesão tendínea, e tentar esclarecer o modo de ação da terapia adotada quanto a diminuição da inflamação, aumento da vascularização, e prevenção da progressão da área da lesão tendínea. Palavras-chave: lesão tendínea; terapia; cavalo; AdCTMs; PRP. xiv CARVALHO, A.M. Autologous implant of mesenchymal stem cells associated with platelet-rich plasma in experimental equine tendinitis. Botucatu, 2012. 89p. Thesis (Doctorate) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista. ABSTRACT Superficial digital flexor tendon (SDFT) lesion is an important cause of lameness in horses. Although there are many treatments described, few are effective in maintain the quality of the extracellular matrix. Recently several studies have focused on the therapeutic potential of mesenchymal stem cells (MSCs) and platelet-rich plasma (PRP) in some damage tissues. The aim of this study was to perform the isolation, cultivation and characterization of mesenchymal stem cells derived from adipose tissue (AdMSCs), the adoption of a new tendon lesion induction technique using collagenase in gel, and evaluation of tendon repair after treatment with the AdMSCs and PRP association by clinical, ultrasonographic, histopathological, immunohistochemical (collagen type III and factor VIII) and gene expression (COL1A1, COL3A1, TNC, TNMD, SCX) analysis. It was possible to isolate, cultivate and perform the characterization of AdMSCs by adipogenic, osteogenic, chondrogenic differentiation, and to confirm the expression of CD44, CD90 and CD105 cell markers on flow cytometry. The SDFT injury induction was successful observed in clinical and ultrasonographic evaluation, with development of focal lesion similar to naturally occurring. The use of AdMSCs and PRP association proved to be feasible and resulted in preventing the progression of the lesion area in the treated group on ultrasound evaluation, increased blood flow on the Power Doppler evaluation and decreased inflammatory infiltrate and improved the organization on histopathological evaluation. No differences were observed between the groups regarding the immunohistochemistry evaluation and the expression of the tested genes. It can be concluded based on the results observed: (1) that the AdMSCs were properly processed and characterized with the methods employed; (2) tendon injury induction with collagenase gel resulted in focal lesions similar to naturally occurring tendinitis, being possible its use on evaluation of future studies of tendon repair; (3) the AdMSCs and PRP association xv for equine tendinitis therapy proved feasible, with improvement of histopathological scores in the treated group, and no progression of the lesion area in ultrasonographic evaluation. More studies should be conducted in attempt to improve the characterization of AdMSCs, enhance methodologies for tendon injury induction, and attempt to clarify the function of adopted therapy as decreased inflammation, increased vascularity, and prevention of the progression of the area tendon injury. Key words: tendon lesion; therapy; horse; AdMSCs; PRP. Capítulo 1 2 1 Introdução A tendinite consiste em uma importante causa de claudicação e diminuição de desempenho em equinos devido a sua grande incidência, longo período de reabilitação e alta taxa de reincidência (BARREIRA et al., 2008). Existe uma ampla variação na taxa de recidiva da tendinite reportada em cavalos de corrida National Hunt, variando entre 24% (AVELLA et al., 2009) e 56% (DYSON 2004). As recidivas estão relacionadas à ausência do processo regenerativo do tecido tendíneo e à produção de uma matriz de fibras colágenas de menor diâmetro e qualidade inferior, com um reduzido número de ligações cruzadas (WOO et al., 1999). Terapias que visam à regeneração de um tecido tendíneo hígido devem proporcionar a redução das taxas de recidivas quando comparadas às técnicas empregadas para a formação do tecido de reparação (GUEST et al., 2008). As terapias comumente empregadas na tendinite equina têm como objetivo a diminuição do processo inflamatório, a melhora da qualidade do tecido de reparação e a redução do tempo de cicatrização, resultando na restauração morfológica e funcional do tendão, próximos ao original, reduzindo o índice de recidivas e diminuindo os prejuízos com essa enfermidade. A medicina regenerativa é o processo de criação de tecidos funcionais para a reparação ou substituição de um tecido lesado devido a problemas como idade, enfermidades, lesões ou doenças congênitas. Esta é amparada na utilização de três componentes básicos: células tronco, fatores de crescimento (liberados pelas células progenitoras e pelo concentrado de plaquetas quando implantados) e uma estrutura de base que promove a proteção mecânica denominada arcabouço ou ¨scaffold¨ (KOCH et al., 2009). Com o advento da medicina regenerativa, vários grupos de pesquisadores têm estudado o seu uso terapêutico em doenças ortopédicas na espécie equina, como por exemplo, tendinites, desmites, doenças articulares e fraturas. Existem descritos diversos estudos que utilizam essa nova tecnologia terapêutica na tendinite equina, como o uso de células mononucleares derivadas da medula óssea (BARREIRA et al., 2008; LACITIGNOLA et al., 2008; OLIVEIRA et al., 3 2011), células tronco mesenquimais (CTMs) derivadas da medula óssea (SMITH et al., 2003; CROVACE et al., 2007; LACITIGNOLA et al., 2008), fração das células nucleadas derivadas do tecido adiposo (NIXON et al., 2008), CTMs derivadas do tecido adiposo (DE MATTOS CARVALHO et al., 2011) e o plasma rico em plaquetas (PRP) (BOSCH et al., 2009; MAIA et al., 2009). Diversas formas de terapias para tendinite equina já estão disponíveis no mercado, mesmo sem serem completamente avaliadas quanto a sua real eficácia e segurança, em função da pressão exercida pelo marketing empresarial (NIXON et al., 2012). Para a obtenção de melhores resultados clínicos na terapia da tendinite equina envolvendo o uso de células tronco e PRP é necessário melhorar a técnica de indução de lesões tendíneas para a adequada interpretação da ação terapêutica, padronização da técnica de processamento do PRP, e maior compreensão quanto a diferenciação e caracterização das CTMs. Embora o emprego da medicina regenerativa através do uso das CTMs, PRP ou a associação de ambas já seja uma realidade, os resultados de estudos clínicos e experimentais ainda estão distantes da regeneração tendínea (DEL BUE et al., 2008; MAIA et al., 2009; DE MATTOS CARVALHO et al., 2011). Nesse contexto, o objetivo geral deste trabalho foi o isolamento, cultivo e a caracterização das células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (AdCTMs) equino, assim como a avaliação de um novo método de indução de tendinite experimental, utilizando a colagenase em gel, além de testar a eficácia da associação das AdCTMs com o PRP na terapia da tendinite experimentalmente induzida em equinos 4 2 Revisão de literatura 2.1 Estrutura e função do tendão Os tendões têm como função transferir a força biomecânica dos músculos para os ossos gerando a movimentação do esqueleto, promovendo o suporte esquelético, e aumentando a eficiência da locomoção através do armazenamento e liberação de energia (SMITH et al., 2005; DAHLGREN, 2007). O tendão é composto de um tecido conjuntivo denso fibroso caracterizado por uma precisa organização de fibroblastos esparsos, fixados em uma MEC rica em colágeno altamente organizado. A complexa hierarquia estrutural permite a sua deformação plástica em resposta à cargas de alta tensão. As fibras de colágeno são organizadas paralelamente em feixes ao longo das linhas de tensão. Fibroblastos fusiformes são organizados longitudinalmente entre os feixes de fibrilas de colágeno (DAHLGREN, 2007). Os tenócitos são uma população de células contidas no tendão. São altamente diferenciados e possuem um potencial limitado para replicação são igualmente responsáveis pela síntese e manutenção da MEC através da produção de moléculas da matriz como o colágeno, proteoglicanos e enzimas responsáveis pela degradação tendínea como as metaloproteinases.(THORPE et al., 2010). A MEC é uma rede tridimensional constituída principalmente por colágeno tipo I, tipo III e tipo V, além de proteoglicanos, elastina e fibronectina (VIOLINI et al., 2009). Existem diversos estudos que aferem a concentração destas substâncias na MEC como a: elastina, que tem pelo menos de 1% a 2% do peso seco do tendão e apresenta importante contribuição para a elasticidade desse tecido (GOODSHIP et al., 1994); proteoglicanos, que abrangem menos de 5% do peso seco do tendão, entretanto, têm um importante papel na interação célula-célula e célula-matriz extracelular, assim como o controle da produção das fibrilas de colágeno e seu diâmetro, e a homeostase tendínea (BIRCH et al., 1998). Finalmente, o colágeno compõe mais de 80% do peso seco do tendão (WOO et al., 2006), sendo que 95% desse consiste em colágeno tipo I (RILEY, 2005). 5 Dentre os diferentes tipos de colágeno, o colágeno tipo III é o segundo mais abundante e pode ser encontrado ao redor das fibras do tipo I e no endotendão. Em animais mais idosos é observado um aumento na sua quantidade, especialmente na área central do tendão, localizado no terço médio da região metacarpiana (GOODSHIP et al., 1994; SMITH et al., 2005; ALVES, 2008). Traços de colágeno do tipo II, V e VI foram detectados em tendões normais (GOODSHIP et al., 1994; SMITH et al., 2005). Os diâmetros das fibras colágenas visualizadas em cortes transversais apresentam-se uniformes durante a fase inicial de desenvolvimento, mas com o avançar da idade é notado um padrão bi ou tri-modal (GOODSHIP et al., 1994). Na tendinite, é observada a tendência ao aumento da quantidade de fibras de menor diâmetro (SMITH et al., 2005). A nutrição da estrutura tendínea é obtida por difusão, através das bainhas sinoviais e pelo afluxo sanguíneo proveniente da junção músculo-tendínea, da inserção óssea, do epitendão e endotendão. Áreas avasculares são encontradas em regiões submetidas às forças compressivas e de tensão, sendo seu aumento observado com a idade (SMITH et al., 2005). 2.2 Tendinite e tratamentos gerais A lesão tendínea possui uma alta incidência entre as enfermidades musculoesqueléticas que acometem os equinos de diferentes modalidades esportivas, entretanto os animais de corrida são os mais acometidos (THORPE et al., 2010). Alguns tendões são mais predispostos a desenvolver tendinite quando comparado à outros, e a maioria das lesões tendíneas ocorrem nos membros torácicos, acometendo o tendão flexor digital superficial (TFDS) (O’MEARA et al., 2010). Atualmente, acredita-se que a lesão tendínea seja precedida por mudanças degenerativas da matriz extracelular (MEC) e não simplesmente por um único evento de sobrecarga (BIRCH et al., 1998). A reparação tendínea é lenta e inadequada, o tecido lesado é substituído por um tecido de cicatrização mais frágil que o tecido original, por isso há uma grande taxa de recorrência. 6 Em geral, os objetivos das terapias são: diminuição da inflamação, melhora da qualidade do tecido cicatricial e redução do tempo de cicatrização, resultando na restauração da morfologia e da função tendínea mais próximos possível ao original, reduzindo o índice de recidivas e diminuindo os prejuízos. A terapia inicial para uma tendinite aguda é, frequentemente, a mesma independentemente do tipo e gravidade da lesão e visa à redução da inflamação. Embora a resposta inflamatória seja importante no processo de reparação, a diminuição de sua magnitude reduz os efeitos deletérios que a inflamação causa nas fibras colágenas e matriz adjacente. A terapia com anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) é recomendada durante os primeiros dez dias e seu uso é de extrema importância para a redução do dano tecidual. Os AINEs tópicos, como o diclofenaco sódico, podem ser úteis como adjuvantes da terapia sistêmica e reduzem os riscos dos efeitos tóxicos dos AINEs sistêmicos (DAHLGREN, 2008). A fenilbutazona é indicada até a fase subaguda. O flunixin meglumine, ou o meloxicam podem ser utilizados nos primeiros dias após a lesão, já que possuem uma ação mais rápida (GENOVESE, 1998). Apesar do benefício destes fármacos, o uso prolongado deve ser evitado, pois possuem um grande potencial na indução de úlceras gástricas, lesões renais e demais efeitos colaterais já que (HENNINGER, 1992) estes fármacos possuem ação inibidora da prostaglandina sintetase (ciclo-oxigenase). A utilização da terapia de frio deve ser realizada principalmente na fase inicial, através da aplicação tópica de gelo, ducha ou massagens frias, com o objetivo de reduzir a resposta inflamatória inicial (devido ao efeito vasoconstritor do frio) (REEF, 2001), sendo realizada diversas vezes ao dia, com duração de 20- 30 minutos cada aplicação. A área afetada deve receber uma bandagem temporária, que ao promover uma compressão uniforme, minimiza o edema, além da capacidade de diminuir ou neutralizar as forças biomecânicas da estrutura afetada (REEF, 2001). A bandagem pode ser trocada diariamente ou posteriormente à aplicação da terapia a frio (DALGREN, 2008). O uso de hialuronato de sódio e glicosaminoglicanos polisulfatados injetados no local da lesão têm sido sugeridos como um modo de promover 7 melhor reparação tendínea. No entanto, Ross e Dyson (2003) contrariam esta idéia ao mostrar que nenhum destes tratamentos traz maiores benefícios do que a abordagem conservativa. Manipulações farmacológicas empregadas durante o processo cicatricial vêm sendo testadas com o uso de fatores de crescimento e fumarato de beta- aminopropionitrila (FBAPN). Essa última substância tem como função inibir a lisil- oxidase, uma das enzimas responsáveis por promover as ligações cruzadas de colágeno. Assim, prevenindo a ocorrência dessas ligações no estágio inicial da cicatrização (30-90 dias), iriamos ter como consequência uma melhor organização da deposição do colágeno, quando empregado em conjunto com a fisioterapia. (ALVES et al., 2001). Porém, apenas 45-50% dos animais tratados com FBAPN retornam à atividade atlética de máxima intensidade (REEF et al., 2001), o que questiona a eficácia do uso de FBAPN no tratamento de tendinites em equinos. A terapia por ondas de choque extracorpóreo, “shock wave” tem demonstrado resultados positivos no tratamento da tendinite equina (KERSH et al., 2006). A maior evidência de sua ação clínica é a analgesia induzida nos nervos sensoriais. Entretanto, acredita-se que os efeitos do shock wave possam ser deletérios, não sendo apropriados para o uso na tendinite aguda (SMITH, 2008). Algumas técnicas cirúrgicas são igualmente indicadas para o tratamento de tendinites em situações específicas, como o “splitting” tendíneo, o qual promove a drenagem do hematoma intra-tendíneo e a desmotomia do anular, realizada em tendinites do TFDS, quando esta acomete o terço distal da região metacarpiana (OIKAWA et al., 2002; ALVES et al., 2002). Em 1998, Bramlage descreveu a desmotomia do acessório do TFDS, relatando o alongamento do músculo flexor digital superficial e de seu tendão, aumentando o limite elástico, com consequente aumento das taxas de retorno às corridas e diminuição de recidivas. Porém, sua eficácia é controversa, sendo relatado o possível aumento do risco da instalação de desmite do ligamento suspensor do boleto (REEF, 1998). Os tratamentos convencionais para tendinite são, em sua maior proporção, clínicos e cirúrgicos, entretanto, os animais tratados dificilmente apresentam uma cicatrização de qualidade que possibilite o retorno às competições com 8 desempenho similar ao anterior da lesão, além de resultar em alta taxa de recidiva (MARFE et al., 2012). Baseado nos resultados das terapias convencionais, novas metodologias terapêuticas são estudadas em busca de melhores resultados. O uso de células tronco, plasma rico em plaquetas (PRP) e a associação destas são os principais exemplos de abordagens terapêuticas que tem sido estudadas e aplicadas no tratamento da tendinite equina. Existem relatos de estudos clínicos que demonstraram diminuição significativa na taxa de reincidência de tendinites após períodos de pelo menos dois anos de acompanhamento de animais tratados através da terapia celular quando comparados aos tratados através de terapia convencional, com reincidência de 27% e 56% respectivamente (GODWIN et al., 2012). 2.3 Células tronco Também conhecidas como células mãe ou células estaminais, são células que possuem a capacidade de dividir-se, dando origem a células semelhantes as progenitoras e de diferenciar-se em outros tipos celulares. Teoricamente, estas células podem ser implantadas e então recuperadas do tecido implantado após determinado período, quando elas deverão sofrer diferenciação semelhante a do tecido alvo. Entretanto ainda não foi provado que estas células realmente sofram uma diferenciação in vivo, transformando-se em células idênticas às células do local implantado (KOCH et al., 2008). As células tronco podem ser classificadas quanto ao seu potencial de diferenciação, como por exemplo, ao número de tecidos no qual a célula pode se diferenciar. Elas são divididas em quatro categorias: totipotente, pluripotente, multipotente e unipotente (CALLIHAN et al., 2011). Células tronco totipotentes são capazes de originar todos os tecidos fetais, incluindo as membranas embrionárias (exemplo: óvulo fecundado, célula híbrida obtida por transferência de núcleo somático). Células tronco pluripotentes, também conhecidas como células embrionárias, são capazes de originar todos os tecidos de um indivíduo adulto, ou seja, originam tecidos de todos os tipos embrionários (ectoderma, mesoderma, endoderma). Células tronco multipotentes 9 são capazes de originar somente um ou mais tipos celulares da mesma linhagem germinativa (exemplo: CTMs derivadas da medula óssea podem diferenciar-se em células ósseas, adiposas e cartilagem). As células tronco unipotente são capazes de originar somente um tipo de célula. Finalmente, existem as células tronco de pluripotência induzida (semelhante à células embrionárias), que são células adultas reprogramadas geneticamente através da inserção de fragmentos de DNA capazes de ativar genes normalmente funcionais nas células embrionárias (YU et al., 2007). Vale ressaltar que a utilização das definições dos termos em debate assim como a classificação das células tronco estão evoluindo conforme a melhor compreensão da ação e funcionamento destas células (CALLIHAN et al., 2011). O conceito de plasticidade das células tronco ou habilidade de transdiferenciação celular que consiste na capacidade destas células diferenciar- se em outro tipo celular e voltar a ser uma célula indiferenciada ou então, voltar novamente a diferenciar-se em outro tipo celular é controverso, já que quando uma população de células progenitoras começa a diferenciar-se em uma linhagem celular específica, a progênie destas células torna-se unipotente, ou seja, não volta a diferenciar-se e nem a ser uma célula indiferenciada (KOCH et al., 2008). As células tronco adultas podem ser divididas baseadas em seu potencial de diferenciação em dois grandes grupos (Marion and Mao, 2006), células tronco hematopoiéticas (CTHs) e as CTMs. As CTH são as células precursoras da células da linhagem sanguinea, ou seja, diferenciam-se em linfócitos, eosinófilos, basófilos, neutrófilos e hemácias . 2.4 Células tronco mesenquimais (CTMs) As CTMs também conhecidas como células estromais multipotentes ou células progenitoras mesenquimais (DOMINICI et al., 2006) foram inicialmente descritas por Friedenstein e colaboradores (1966), a partir de células mononucleares da medula óssea de camundongos, que as denominaram de células formadoras de colônias fibroblásticas. 10 Durante os últimos anos, na medicina veterinária, houve um aumento no interesse em entender a biologia das CTMs. Esse interesse surge a partir do potencial terapêutico desse tipo celular, especialmente quanto ao reparo de feridas, engenharia tecidual. As fontes de CTMs utilizadas com finalidade terapêutica na espécie equina são a medula óssea (SMITH et al., 2003) e tecido adiposo (NIXON et al., 2008), embora também já tenha sido realizado o isolamento dessas células do sangue periférico (KOERNER et al., 2006), sangue da veia umbilical (KOCH et al., 2007) e da matriz do cordão umbilical (HOYNOWSKI et al., 2007). Enquanto o mecanismo exato que guia a distribuição das CTMs ao tecido a ser reparado é desconhecido, já é sabido que estas células secretam moléculas bioativas, as quais têm atividades regenerativas, como a secreção de fatores bioativos. Esses fatores bioativos têm a capacidade de inibir a formação de tecido cicatricial, suprimir a apoptose, estímular a angiogênese e melhorar a mitose das células progenitoras do tecido intrínseco. Esta ação “pró-regenerativa” das CTMs devido à ação de moléculas bioativas tem sido referida como “atividade trófica”, (NÖTH et al., 2010). Já existem dados científicos que confirmam que as CTMs liberam diversos fatores de crescimento no local implantado, dentre eles o VEGF (fator de crescimento vascular endotelial), HGF (fator de crescimento do hepatócito) e IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina) (WANG et al., 2006). Igualmente existe a descrição da ação imunomodulatória das CTMs, já que essas células parecem ser hipo-imunogênicas, além de exercer uma ação de supressão significante nas células T e nas células dentríticas, principalmente quanto à supressão da rejeição alogênica, e em alguns casos, na modulação do sistema imunológico (CAPPLAN & DENNIS, 2006). Na espécie equina existem estudos terapêuticos com o implante autólogo (material do próprio animal) e alogênico (material de outro animal) das CTMs derivadas da medula óssea no tendão, e demonstram que não houve reação inflamatória do animal implantado quanto às células progenitoras de outros animais (GUEST et al., 2008). Atualmente existem dificuldades para a completa caracterização das CTMs da espécie equina, embora existam trabalhos demonstrando o isolamento das 11 CTMs e cultivo destas células seguido da comprovação de seu potencial de diferenciação (VIDAL et al., 2006, MAMBELLI et al., 2009), a maioria dos marcadores de superfície utilizados na citometria de fluxo para a caracterização imunofenotípica das CTMs ainda não foi desenvolvido especificamente para a espécie equina e, há a evidência de que alguns marcadores disponíveis para outras espécies não apresentam reação cruzada com as CTMs do equino (TAYLOR et al., 2007). Um exemplo desta ausência de reação interespécies foi demonstrado em estudo realizado em 2009 por Mambelli e colaboradores, onde não houve expressão entre o marcador humano CD29 e as CTMs derivadas do tecido adiposo da espécie equina. Entretanto, de Mattos Carvalho e colaboradores (2009) realizaram a caracterização imunofenotípica das CTMs derivadas do tecido adiposo utilizando o anticorpo monoclonal mouse-anti rat CD90 e o marcador específico da espécie equina mouse-anti horse CD44, comprovando, assim, que as células progenitoras derivadas do tecido adiposo isoladas nesse experimento realmente eram CTMs. 2.5 Células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (AdCTMs) O tecido adiposo é derivado do folheto germinativo mesodermal, similar a medula óssea, e contém um estroma de suporte que pode ser facilmente isolado. Essa fração vascular estromal (FVE) do tecido adiposo ou células mononucleares do tecido adiposo consistem de uma mistura heterogênea de células, incluindo células endoteliais, células do músculo liso, CTMs, fibroblastos, mastócitos e pré- adipócitos (ZUK et al., 2001). As células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (AdCTMs) são de fácil isolamento , porém requerem procedimento cirúrgico, o qual é realizado na região da base da cauda do animal em estação. Sua principal vantagem é que a FVE apresenta maior concentração de CTMs que as células mononucleares derivadas da medula óssea, no caso do uso sem o cultivo laboratorial, entretanto, apresentam potencial reduzido de diferenciação osteogênica e condrogênica quando comparadas com as células medulares (VIDAL et al., 2007, KISIDAY et al., 2008, COLLEONI et al., 2009). 12 2.6 Plasma Rico em Plaquetas (PRP) As plaquetas ou trombócitos são pequenos fragmentos citoplasmáticos, de dois a três micrômetros de diâmetro, derivados dos megacariócitos multinucleados provindos da medula óssea. Quando presentes no sangue periférico, estas têm como principal ação a hemostasia, já que contem diversas proteínas, citocinas e outros fatores bioativos que também iniciam e regulam o aspecto básico da reparação tecidual (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). O plasma rico em plaquetas (PRP) também conhecido como concentrado de plaquetas (CP) precisa apresentar concentração mínima de 200 x 103 plaquetas/µL para receber esta denominação (BOSWELL et al., 2012). Este tem ganhado popularidade na medicina veterinária, e tem sido utilizado para a reparação em diversas enfermidades do sistema musculoesquelético, como tendinite, desmites e defeitos condrais. O CP é um exemplo de fonte autógena de fácil aquisição e de baixo custo que tem sido estudada desde 1970, se acredita que o PRP tenha atividade regenerativa devido ao aumento local da concentração de fatores de crescimento, que podem estimular o processo de cicatrização em nível celular, estimulando o recrutamento, proliferação e diferenciação das células envolvidas na regeneração tecidual. Além disso, estimulam a vascularização local aumentando o fluxo sanguíneo e consequentemente incrementando os nutrientes necessários para a reparação tecidual (BOSWELL et al., 2012) . O PRP possui o potencial de estimular a reparação devido à grande liberação de fatores de crescimento e citocinas dos grânulos α contidos nas plaquetas durante a sua ativação (degranulação dos grânulos α). As principais citocinas liberadas pelas plaquetas incluem o fator de crescimento β transformante (TGF-β), fator de crescimento derivado da plaqueta (PDGF), fator de crescimento fibroblástico (FGF), fator de crescimento epidérmico (EGF), VEGF e IGF-1. Todos estes fatores de crescimento atuam em conjunto em diferentes alvos (células ou tecidos) e resultam no recrutamento, diferenciação e migração celular, além do crescimento de novos vasos sanguíneos, estimulação da síntese de colágeno e granulação tecidual (FOSTER et al., 2009). Também existem os fatores bioativos contidos nos grânulos α das plaquetas, como a serotonina, histamina, dopamina, cálcio e adenosina. Todos estes “falsos” fatores de 13 crescimento possuem efeitos fundamentais em todo o aspecto biológico da reparação tecidual, como a serotonina e histamina que aumentam a permeabilidade capilar, o que possibilita que as células inflamatórias tenham maior acesso a área lesada, ativando os macrófagos (FOSTER et al., 2009). Para a correta liberação dos fatores de crescimento dos grânulos α, é necessária a ativação das plaquetas, que pode ser realizada através do uso trombina bovina, trombina autóloga ou então pelo colágeno tipo I (FUFA et al., 2008). Entretanto há evidências da ativação in situ das plaquetas devido ao estímulo dos componentes presentes no ambiente em que foram injetadas (BOSWELL et al., 2012), e também há o relato de melhora clínica na reparação tendínea após a terapia da tendinite equina com o PRP não ativado (BOSCH et al., 2010). Apesar da popularidade clínica do PRP, não há padronização da técnica de preparação ou administração na medicina veterinária ou na humana, por isso existem diversos métodos tanto na avaliação clínica quanto na experimental (TEXTOR et al., 2012). Inicialmente o PRP era obtido através de máquinas de plasmaferese e a trombina bovina era utilizada para sua ativação, entretanto atualmente, já existem aparelhos específicos para sua obtenção, como o SmartPReP2 System (Harvest Technologies, Plymouth, MA), que tornam simples a obtenção do PRP, porém o método ainda é oneroso (SCHNABEL et al., 2007). Existe a descrição de alguns protocolos de dupla centrifugação para a obtenção do PRP equino. Um recente estudo demonstrou a concentração de plaquetas obtidas de diferentes protocolos pré-estabelecidos para equinos, demonstrando ser possível obter PRP com concentração média de 360 x 103 plaquetas/µL (VENDRUSCULO et al., 2012). 2.7 Uso da AdCTMs e do PRP na terapia da tendinite equina Existem poucos estudos relatando o uso das AdCTMs na terapia da tendinite equina, e, entre estes, há descrição da aplicação das células 14 mononucleares derivadas do tecido adiposo para o tratamento da tendinite experimental com evidente melhora histopatológica da organização tendínea (NIXON et al., 2008). De Mattos Carvalho e colaboradores (2011) fizeram o uso das AdCTMs para o tratamento da tendinite experimental equina e observaram a melhora histológica da organização tendínea e aumento da velocidade da reparação tecidual. Diversos estudos já foram realizados utilizando o PRP para a terapia da tendinite equina com resultados favoráveis (SCHNABEL et al., 2007, ARGUELLES et al., 2008, CARMONA et al., 2009, MAIA et al., 2009, BOSCH et al., 2010, BOSCH et al., 2011), entretanto os protocolos de obtenção do CP são distintos, e consequentemente acarretam na diferente concentração de plaquetas e de fatores de crescimento dificultando a correta compreensão quanto a efetividade e o mecanismo de ação da terapia instituída. Há apenas a descrição de um estudo demonstrando a associação terapêutica das AdCTMs alogênicas com o PRP autólogo (DEL BUE et al., 2008), que evidencia melhora de 14 dos 16 animais tratados, com completa recuperação clínica e retorno a atividade física normal. Capítulo 2 16 Artigo Científico submetido ao periódico “Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia” (sob as normas vigentes) Caracterização das células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo equino Characterization of mesenchymal stem cells derived from equine adipose tissue A.M. Carvalho1,*, A.L.M. Yamada1, M.A. Golim2, L.E.C. Álvarez2, L.L. Jorge1, M.L. Conceição1, E. Deffune3, C.A. Hussni1, A.L.G. Alves1 1Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu. 2Hemocentro, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Botucatu. 3Departamento de Radiologia e Reprodução Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu. *E-mail: armandodvm@gmail.com Resumo O uso das células tronco tem demonstrado resultados promissores quando utilizados no tratamento da tendinite e da osteoartrite dos equínos. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi caracterizar as células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (AdCTMs) em cavalos, através da: (1) Avaliação da capacidade das células progenitoras para realizar a diferenciação adipogênica, osteogênica e condrogênica; e (2) Análise por citometria de fluxo, utilizando os marcadores stemness relacionados: CD44, CD90, CD105 e MHC de Classe II. Cinco cavalos sem raça definida, de dois a quatro anos de idade foram utilizados para a coleta de tecido adiposo da base da cauda. Após o isolamento e cultivo 17 das AdCTMs, a caracterização imunofenotípica foi realizada através da citometria de fluxo. Houve alta expressão dos marcadores CD44, CD90 e CD105, e não houve expressão do MHC Classe II. A diferenciação foi confirmada pela coloração específica: adipogênica (Oil Red O), osteogênico (Alizarin Red), e condrogênico (Alcian Blue). As AdCTMs são células progenitoras adultas que apresentam um emprego promissor para a engenharia tecidual na medicina veterinária. Palavras-chave: caracterização imunofenotípica, diferenciação, equino, tecido adiposo, célula tronco mesenquimal. Abstract Stem cell therapy has shown promising results in tendinitis and osteoarthritis in equine medicine. The purposes of this work was to characterize the adipose-derived mesenchymal stem cells (AdMSCs) in horses through (1) assessment of the capacity of progenitor cells to perform adipogenic, osteogenic and chondrogenic differentiation; and (2) through flow cytometry analysis using the stemness related markers: CD44, CD90, CD105 and MHC Class II. Five mixed-breed horses, aged 2-4 year-old were used to collect adipose tissue from the base of the tail. After isolation and culture of AdMSCs, immunophenotypic characterization was performed by flow cytometry. There were a high expression of CD44, CD90 and CD105, and no expression of MHC Class II markers. The tri-lineage differentiation was confirmed by specific staining: adipogenic (Oil Red O), osteogenic (Alizarin Red), and chondrogenic (Alcian Blue). The equine AdMSCs are a promising type of adult progenitor cells for tissue engineering in veterinary medicine. Keywords: immunophenotypic characterization, differentiation, equine, adipose tissue, mesenchymal stem cell. 18 Introdução O uso clinico da terapia celular e da engenharia tecidual tem se desenvolvido rapidamente na medicina veterinária. A relativa abundância e a facilidade de acessar o tecido adiposo tem despertado um grande interesse por parte dos pesquisadores na utilização deste tecido como fonte de células tronco mesenquimais (CTMs). São observados resultados positivos envolvendo a utilização das células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (AdCTMs) em desordens como a tendinite (Del Bue et al., 2008; De Mattos Carvalho et al., 2011). Tradicionalmente o processo de isolamento da fração das células nucleares do tecido adiposo é baseado na digestão pela colagenase, seguida de uma série de centrifugações para o isolamento das células específicas. Esta fração celular é chamada de fração vascular estromal (FVE). A FVE é uma população celular heterogênea que inclui as células endoteliais e epiteliais, fibroblastos, mastócitos, pré-adipócitos e CTMs (Zuk et al., 2001). A quantidade de CTMs presentes na FVE parece estar relacionada com a quantidade de tecido coletado. Entretanto, há uma considerável variação de animal para animal (Vidal and Lopez, 2011). A separação do AdCTMs equino a partir da FVE é baseada no princípio da adesão que estas células tem ao plástico, permitindo assim o isolamento e caracterização de uma população celular homogênea para posterior utilização terapêutica (Pascucci et al., 2011). Diversos estudos tem reportado a caracterização das AdCTMs de cavalos por diversos métodos, sendo os mais comuns a diferenciação osteogênica, adipogênica e condrogênica das células progenitoras (Vidal et al., 2007, 2008; Kisiday et al., 2008; Mambelli et al., 2009; Colleoni et al., 2009; Toupadakis et al., 2010; Ahern et al., 2011; Schwarz et al., 2011, 2011). Apenas cinco dos estudos recentes tem reportado a análise da superfície dos antígenos das AdCTMs pela citometria (de Mattos Carvalho et al., 2009; 19 Braun et al., 2010; Pascucci et al., 2011; Raabe et al., 2011; Ranera et al., 2011). Os resultados destes estudos estão demonstrados na Tabela 01. As avaliações dos resultados destes estudos prévios demonstram que o marcador CD90 é o único utilizado em todos os experimentos, desconsiderando o uso de outros marcadores. Também foi demonstrado que o marcador CD90 é expresso em mais de 90% das AdCTMs de equinos. Entretanto, apesar destas vantagens, não há anticorpo CD90 espécie específico para uso em cavalos. Além disso, CD90 também é expresso em fibroblastos (Sorrel and Caplan, 2009), que possui características morfológicas semelhantes as das células tronco quando mantido em cultura. Ao contrário do antigeno CD34, que é utilizado como marcador único na imunosseleção das células tronco hematopoiéticas (Krause et al., 1996), um único anticorpo para a caracterização positiva das CTMs ainda não foi desenvolvido. Por isso, é interessante utilizar a associação de múltiplos marcadores para realizar a análise pela citometria de fluxo e proceder a diferenciação em trilinhagem, caracterizando as AdCTMs. No entanto, a identificação de um ou mais marcadores que identificam positivamente as CTMs tem se mostrado desafiador por duas razões principais: (1) porque há diferenças na expressão dos marcadores de superfície interespécies; e (2) porque há mudança da imunofenotipagem putativa das CTMs com o passar do tempo (Stewart and Stewart, 2011). De Schauwer e colaboradores (2011) propuseram a padronização de um protocolo para assegurar a correta caracterização das CTMs de equinos. As células isoladas devem ser aderentes ao plástico quando mantidas em condições padrões de cultura. A diferenciação em trilinhagem in vitro deve ser confirmada utilizando as condições de cultivo padrão. Somado a isso, as CTMs de equinos devem expressar CD29, CD44 e CD90 e não devem expressar CD14, CD79 e MHC-II. 20 Baseado neste novo contexto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar as AdCTMs em cavalos através da: (1) confirmação da capacidade das células progenitoras em realizar a diferenciação adipogênica, osteogênica e condrogênica; e (2) através da análise em citometria de fluxo utilizando os marcadores stemness relacionados: CD44, CD90, CD105 e MHC-II. Materiais e Métodos O protocolo experimental foi aprovado pelo comitê de ética e comportamento animal da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade Estadual Paulista, Brasil, e foi conduzida conforme o guia internacional de uso e cuidado de animais experimentais. Cinco equinos (um macho e quatro fêmeas) sem raça definida, com idade entre dois a quatro anos, foram utilizados. Para a coleta do tecido adiposo, os equinos foram sedados com xilazina (0.7 mg/kg, i.v.) e submetidos à anestesia local com cloridrato de lidocaína a 2% associado à epinefrina. Uma incisão de aproximadamente 8 cm de extensão foi realizada paralela e a aproximadamente 15 cm lateral à linha da coluna. Aproximadamente 2 gramas de tecido adiposo foram coletados e armazenados em um tubo tipo Falcon de 50 mL estéril com meio RPMI-1640 (Sigma Chemical Co., St. Louis, MO, USA). A pele foi suturada com fio de nylon usando um padrão de sutura simples separado. Para realizar o isolamento da FVE, o tecido adiposo foi submetido a sucessivas lavagens com PBS seguido da separação mecânica utilizando lamina de bisturi no. 15 e a ação enzimáticada solução de colagenase tipo I a 0.02% (Gibco, Grand Island, NY, USA) em meio RPMI-1640, permanecendo em estufa umidificada a 37°C, 5% CO2 durante 12 horas. A solução resultante foi neutralizada com meio Knockout DMEM (Dulbecco’s modified Eagle’s medium, Gibco, Grand Island, NY, USA) contendo 10% Soro Fetal 21 Bovino (SFB), seguido da centrifugação a 260 g, durante 10 minutos. O sobrenadante foi completamente aspirado, então adicionou-se novamente PBS para homogeneização e nova centrifugação. A FVE foi depositada em duas placas de cultivo celular de 75 cm2 que foram mantidas em incubadora a 37ºC e 5.0% CO2, usando o meio Knockout DMEM com 10% SFB. O meio foi substituído a cada dois dias até que ocorresse a confluência mínima de 70% na placa de cultura. Então, a tripsinização foi realizada. Cinquenta microlitros foram coletados e transferidos para um tubo de hemólise para a contagem celular. As células foram quantificadas em hemocitômetro, para o cálculo da viabilidade celular utilizando o teste de exclusão com Azul de Trypan (Gibco, Grand Island, NY, USA). O volume remanescente foi transferido em igual volume para duas placas de cultura de 75 cm2 que foram incubadas em estufa a 37ºC e 5.0% CO2. A cultura celular foi mantida até a terceira passagem para amostras de dois equinos e até segunda passagem para os outros animais momento em que a caracterização das CTMs foi realizada. As células progenitoras foram diferenciadas nas linhagens adipogênicas, osteogêicas e condrogênica demonstrando sua muntipotencialidade. Foram seguidas as recomendações necessárias para garantir a correta caracterização das CTMs de equinos (De Schauwer et al., 2011). Todas as diferenciações foram realizadas em triplicata para cada animal, sendo que uma amostra adicional por animal foi mantida em meio de cultura basal durante 14 dias (como controle da diferenciação adipogênica e osteogênica) e por 21 dias (como controle da diferenciação condrogênica). Para a diferenciação adipogênica, as células provenientes da segunda passagem foram incubadas a uma densidade de 20.000 cells/cm2 em uma placa de cultura de 24 poços e cultivadas em meio de cultura adipogênico durante 14 dias. O meio de cultura (STEMPRO®, Gibco, Grand Island, NY, USA) foi trocado a cada três dias. Posteriormente 22 as células foram fixadas com solução de formaldeído a 10% durante 10 minutos, seguido de lavagens com PBS sendo coradas com Oil Red O (Gibco, Grand Island, NY, USA). Para realizar a caracterização osteogênica das AdCTMs, as células progenitoras da segunda passagem foram incubadas a uma densidade de 20,000 cells/cm2 em placa de cultura de 24 poços e mantidas em condições osteogênicas durante 14 dias, o meio (STEMPRO®, Gibco, Grand Island, NY, USA) foi trocado a cada três dias. As células foram fixadas em solução de formaldeído 10% durante 10 minutos, seguido de lavagens com água estéril sendo corada com Alizarin Red (Gibco, Grand Island, NY, USA). A condrogênese foi induzida em um pellet de micromassa preparado com 1 × 106 células alocadas em um tubo cônico de 15 mL de polipropileno. O pellet foi cultivado a 37°C com 5% CO2 em 2 mL de meio de cultivo condrogênico (STEMPRO®, Gibco, Grand Island, NY, USA), o meio foi trocado a cada três dias. Após o período de três semanas de incubação, o pellet foi fixado em solução de formaldeído 10% durante 24 horas a temperatura ambiente, este foi parafinizado e posteriormente cortado em seções de 5 μm, sendo corado com hematoxilina para a histologia geral e com Alcian blue para detectar os proteoglicanos sulfatados. A seleção dos anticorpos foi parcialmente baseado em estudo prévio sobre o conhecimento das pesquisas em CTMs de equinos. As células progenitoras devem expressar os marcadosres CD29, CD44, e CD90 e não expressar os marcadores CD14, CD79, e MHC-II (De Schauwer et al., 2011). A citometria de fluxo foi realizada no aparelho FACSCalibur (BD, San Jose, CA, USA), da primeira até a terceira passagem, utilizando o anticorpo monoclonal mouse anti-rat CD90-FITC (Caltag Laboratories, Burlingame, CA, USA) e mouse anti-human CD105-FITC mAb (AbD Serotec, Kidlington, Oxford, UK) para avaliar a expressão interespécies. O anticorpo monoclonal específico 23 mouse anti-horse CD44 (AbD Serotec, Kidlington, Oxford, UK) e mouse anti-horse MHC Class II (AbD Serotec, Kidlington, Oxford, UK), foram marcados com o anticorpo monoclonal secundário goat anti-mouse IgG-FITC (Molecular Probes, Eugene, OR, USA) (Fig. 1.). Resultados Em média, 2 gramas de tecido adiposo foram coletados para o isolamento das AdCTMs. A incisão de pele cicatrizou sem complicações. As colônias das células semelhantes a fibroblastos forma observadas em todos os cultivos após um dia do isolamento e plaqueamento. O cultivo celular foi mantido até a terceira passagem utilizando amostras de dois animais e até segunda passagem dos outros animais. A capacidade das AdCTMs de diferenciação em trilinhagem foi confirmada utilizando os meios de diferenciação comercial para humanos (Gibco, Grand Island, NY, USA) (Fig. 2). A coloração com Oil red O marcou as gotículas de lipídeos dentro das células sobre o meio de indução adipogênico. A diferenciação osteogênica foi confirmada com a coloração em Alizarin Red das células diferenciadas, onde o depósito de cálcio formado durante a diferenciação osteogênica foi corado em vermelho. As culturas controles não exibiram diferenciação. O potencial condrogênico foi avaliado utilizando o sistema de cultura em forma de pellet. As células submetidas à diferenciação condrogênica monstraram-se coradas em azul após marcação com Alcian blue devido a presença dos proteoglicanos sulfatados produzidos na matriz extracelular condral durante a diferenciação em cartilagem. A análise pela citometria de fluxo revelou a expressão pelo CD90 e CD105 em todas as passagens testadas (1ª a 3ª passagens), determinando a reação cruzada interespécie entre o rato e o equino, e entre humano e equino, respectivamente. O CD44 também reagiu 24 com as CTMs em todas as passagens. Como esperado, não houve reação do marcador MHC Classe II nas CTMs (Tab. 2). Discussão A técnica de recuperação da FVE do tecido adiposo seguido do isolamento e expansão das CTMs em cultura em nosso estudo foi similar à técnica descrita anteriormente (Vidal et al., 2007). Nossos resultados confirmaram a aderência das CTMs em cultura em menos de 48 horas (Schäffler and Büchler, 2007). O potencial de diferenciação dentro das várias linhagens mesenquimais é um componente integral do fenótipo das CTMs. A capacidade de diferenciação na trilinhagem é possível devido à adequada caracterização in vitro e dos ensaios fenotípicos apropriados para a diferenciação osteogênica, condrogênica e adipogênica (Stewart and Stewart, 2011). A inequívoca imunofenotipagem das CTMs de equinos é impedida pela ausência de um marcador específico e pela limitada disponibilidade de anticorpos monoclonais específicos de equinos. Até o momento existem apenas os seguintes anticorpos específicos para equinos: CD13; CD44; e MHC-II (De Schauwer et al., 2011). Por isso realizamos a caracterização imunofenotípica das células isoladas utilizando os marcadores espécie específico CD44 e MHC Class II assim como os marcadores de outras espécies como CD90 e CD105. Nós não utilizamos os marcador horse anti-mouse CD13, devido à falta da expressão desses pelas AdCTMs equinas, descrita em trabalhos prévios (de Mattos Carvalho et al., 2009 and Radcliffe et al., 2010). Os dados de nosso experimento demonstraram compatibilidade com os resultados de outros estudos (Tab. 1), confirmando os requerimentos propostos por De Schauwer e colaboradores (2011) para a apropriada caracterização das CTMs de equinos. Entretanto, apesar de nossos resultados e dos resultados de outros autores (Braun et al., 2010; Pascucci 25 et al., 2011; Raabe et al., 2011; Ranera et al., 2011), novas pesquisas sobre o assunto devem ser conduzidas, em busca de novos marcadores, a fim de aprimorar os protocolos para a caracterização das CTMs de equinos. Também é importante determinar se há algum imunofenótipo destas células que resultem na aplicação clínica, com resultados superiores, para que estes possam ser utilizados na seleção de uma população celular desejada (Stewart e Stewart, 2011). Conclusão O presente estudo demonstrou a diferenciação em trilinhagem e a caracterização imunofenotípica de superfície das AdCTMs de equinos utilizando os marcadores CD44, CD90, CD105 e MHC Classe II, classificando estas células como um grupo promissor de células progenitoras, que podem ser utilizadas na terapia celular em equinos. Estes achados também irão aperfeiçoar a definição do fenótipo das AdCTMs em futuros estudos relacionados à caracterização destas células. Agradecimentos Este trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) processo 2009/10670-8 e 2010/03567-3. Referencias AHERN, B.J.; SCHAER, T.P.; TERKHORN, S.P. et al. 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Média da expressão da superfície das AdCTMs em estudos prévios, obtidos pela expressão das proteínas na análise por citometria de fluxo Autor Marcador CD13 CD14 CD29 CD34 CD44 CD45 CD73 CD90 CD105 CD164 STRO-1 de Mattos Carvalho et al., 2009 6.31% Brahun et al., 2010* + - ± - + + - Pascucci et al., 2011 79% 93.5% 24.75% Raabe et al., 2011 99% Ranera et al., 2011 97.22% 3.07% 0.07% 95.12% * Dados mostrando somente expressão evidente (+), expressão fraca (±), e ausência de expressão (-). Table 2. Valor médio da expressão dos marcadores utilizados na análise da superfície das AdCTMs pela citometria de fluxo na 1ª passagem (P1), 2ª passagem (P2), e 3ª passagem (P3) P1 P2 P3 CD44 64.3% ± 17.56 62.29% ± 12.48 41.43% ± 7.17 CD90 90.49% ± 5.01 90.49% ± 5.02 89.29% ± 6.10 CD105 45.85% ± 19.99 46.56% ± 35.30 47.59% ± 18.01 MHC Classe II 1.00% ±3.43 2.40% ± 1.88 2.87% ± 0.43 30 Figura 1. Análise imunofenotípica das CTMs derivadas do tecido adipose equino. Histograma representando a citometria de fluxo realizada nas CTMs na 1ª passagem utilizando os seguintes marcadores: CD44, CD90, CD105 e MHC Classe II. a) b) c) Figura 2. (a) Imagem das AdCTMs (100X), 14 dias após a diferenciação em adipócitos. As gotículas de lipídeos foram detectadas (marcação em Oil red-O). (b) Imagem das AdCTMs (20X), 14 após a diferenciação osteogênica. Depósito de cálcio corado em vermelho nas células diferenciadas (marcação em Alizarin Red). (c) Imagem das AdCTMs (10X), 21 dias após a diferenciação em condrócitos. A deposição extracelular de glicosaminoglicanos é corada em azul (marcação em Alcian Blue). Capítulo 3 32 Artigo Científico a ser submetido ao periódico “Ciência Rural” (sob as normas vigentes) Novo modelo de indução de tendinite equina - avaliação clínica e ultrassonográfica New model of equine tendinitis induction - clinical and ultrasound evaluation Ana Liz Garcia AlvesI, 1, Armando de Mattos CarvalhoI, Ana Lucia Miluzzi YamadaI, Luis Emiliano Cisneros ÁlvarezI, Luciana Leal JorgeI, Mariana Lopes da ConceiçãoI, Luiz Henrique MattosI, Carlos Alberto HussniI -NOTA- RESUMO - O objetivo deste estudo foi realizar a avaliação clínica e ultrassonográfica de uma metodologia de indução de tendinite do tendão flexor digital superficial (TFDS) em equinos. Foram utilizados oito equinos adultos, hígidos submetidos a indução de uma lesão realizada com suspensão de colagenase em gel, que foi administrada na região central média do TFDS com o auxílio do aparelho de ultrassom. Os animais foram acompanhados durante 15 dias pós-indução, onde foram realizados exames clínicos e ultrassonográficos. Foi evidenciada claudicação em todos os animais. Na avaliação ultrassonográfica pode ser confirmada a tendinite do TFDS. A técnica adotada para a indução experimental da tendinite em equinos demonstrou ser efetiva e poderá ser utilizada para aperfeiçoar a execução de novos estudos envolvendo o tratamento de tendinites experimentais induzidas. Palavras-chave: colagenase, gel, lesão, tendão, cavalo. 33 ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate clinically and ultrasonography a tendinitis new induction methodology of superficial digital flexor tendon (SDFT) in horses. Eight adult horses clinically healthy were used. The injury induction was performed with a collagenase suspension in gel, which was administered at the central SDFT medium with the use of ultrasound. The animals were followed for 15 days post- induction, where physical and ultrasound examinations were performed. Lameness was also evidenced in all animals and SFDT lesion could be confirmed by ultrasound analysis. The technique adopted for the experimental induction of tendinitis in horses proved to be effective and may be used to improve the implementation of new studies involving the treatment of experimentally induced tendinitis. Key words: collagenase, gel, lesion, tendon, horse. A lesão tendínea ocorre com frequência em cavalos que desenvolvem atividades esportivas diversas, sendo a tendinite do flexor digital superficial (TFDS) dos membros torácicos a enfermidade musculoesquelética mais comum em cavalos de corrida. A dificuldade em obter um método de indução de lesão tendínea similar à tendinite de ocorrência natural deve-se ao fato de que as lesões tendíneas são frequentemente precedidas por mudanças degenerativas na matriz extracelular, e não o resultado de um único evento de sobrecarga. Esta dificuldade metodológica, muitas vezes dificulta a interpretação das evidências experimentais em relação à eficácia do tratamento (WATTS et al., 2012), necessitando o aperfeiçoamento de tecnologias a fim de se otimizar a execução de experimentos que envolvem o tratamento de tendinites induzidas experimentalmente. 34 Existem diversos modelos experimentais para a indução da lesão tendínea em equinos, incluindo a remoção cirúrgica de um fragmento central do tendão (SCHRAMME et al., 2010), injeção de colagenase (YAMADA et al., 2008) e injeção de gel colagenase (WATTS et al., 2012). A procura de uma técnica que seja mais próxima da lesão tendínea de ocorrência natural motiva o aperfeiçoamento constante dos modelos experimentais já existentes. Embora o modelo da colagenase apresente vantagens como o desenvolvimento de hipercelularidade, perda da organização da matriz extracelular, aumento da vascularização e ausência de inflamação mediada por células inflamatórias no tendão induzido (DIRKS & WARDEN, 2011), esse modelo também apresenta desvantagens como o fato de as lesões enzimáticas serem muito extensas e irregulares, continuarem expandindo, envolver a superfície do tendão e, ocasionalmente, fracassarem no seu desenvolvimento (BIRCH et al., 1998). O objetivo deste estudo foi descrever uma metodologia de indução de tendinite equina com a suspensão da colagenase em gel que resultasse em lesões do TFDS mais organizadas e uniformes, compatíveis com a tendinite de ocorrência natural. Foram utilizados oito equinos (um macho e sete fêmeas) de raça indefinida, idade entre dois e quatro anos, peso médio de 325 Kg, sem evidências de lesões através de exames de claudicação, palpação dos tendões e avaliação ultrassonográfica. Para a produção do gel foi necessário a obtenção do plasma rico em fibrinogênio (PRF). Para isto, aproximadamente 400 ml de sangue periférico da veia jugular de um dos cavalos utilizados foram coletados assepticamente em bolsa de coleta de amostra (Comploflex®, Fresenius HemoCare Brasil LTDA, Itapecerica da Serra, SP, Brasil). Esta foi centrifugada a 4°C, a 1200 RPM por 20 minutos, obtendo células vermelhas no 35 precipitado e no sobrenadante, o plasma. O plasma foi imediatamente congelado a -60o C e mantido durante 24 horas. Posteriormente foi descongelado e mantido a 4o C e centrifugado a 1200 RPM por 20 minutos. Após está etapa, o sobrenadante obtido foi descartado e a amostra do precipitado remanescente contendo o PRF foi obtida, com concentração de fibrinogênio de 198ng/dl, tal amostra foi congelada a -20°C para uso subsequente. A indução das lesões foi realizada na região central do TFDS em um membro torácico selecionado aleatoriamente, usando colagenase (Collagenase Type I, Gibco, USA). As injeções foram realizadas com os cavalos sob sedação com 1.0 mg/kg xilazina (Sedazine, Fort Dodge Saúde Animal, Brasil) e anestesia local com lidocaína 2% (Xylestesin, Cristália, Brasil), perineural, circundando os nervos mediano e ulnar (10 ml por local). Também foi realizado um botão anestésico na pele com lidocaína 2% (1.0 ml por local) no local de aplicação da colagenase. A fim de aperfeiçoar a administração de colagenase, nós angulamos manualmente a agulha do cateter 16G (Catéter Intravenoso, BD Angiocath, Brasil) em 45° e, assim, um defeito colunar das fibras colágenas foi criado ao colocar a agulha modificada longitudinalmente, com auxílio do ultrassom. A agulha foi inserida a partir da superfície palmar do membro através da pele e dos tecidos subcutâneos para o centro do TFDS, iniciando 10 cm distal ao osso acessório do carpo (DOAC) e então avançando distalmente seguindo o eixo longo do centro do TFDS até que a ponta da agulha estivesse em 12 cm DOAC, sendo o gel implantado entre 10-12 cm do DOAC na região média do metacarpiano do TFDS. Para a preparação do gel foi realizado a suspensão da colagenase tipo I (1000 unidades) em 900 μL do PRF previamente obtido, sendo esta solução somente adicionada aos 100 μL de trombina bovina (Thrombin from bovine plasma, Sigma-Aldrich, USA) no momento da indução da lesão. 36 Logo após o procedimento foram realizadas bandagens nos membros torácicos induzidos e estas foram trocadas diariamente durante os cinco primeiros dias. Também utilizamos fenilbutazona (Equipalazone, Vitalfarma Ltda, Brasil) na dosagem 4.4 mg/kg i.v. no primeiro dia, seguido de administração do medicamento na dose de 2.2 mg/kg por mais cinco dias. Os cavalos tiveram acompanhamento diário por 15 dias após a indução da lesão. Exames de sensibilidade local à palpação e calor foram classificados e pontuados como: 0: ausência; 1: leve; 2: moderado; 3: severa. Foi realizada a perimetria na porção média do metacarpiano do TFDS. Exames de claudicação foram realizados diariamente e graduados de 0 a 5, segundo STASHAK (2002). Análises ultrassonográficas foram realizadas antes, durante a após a administração do gel de colagenase nos dias 0, 7, 10 e 14. Os seguintes parâmetros foram mensurados: área da lesão (AL); área do tendão (AT); porcentagem da área lesada no interior do tendão (%AL/AT); ecogenicidade (ECO), graduada de 0 a 4 (GENOVESE et al., 1986). Para a análise estatística foi realizado o teste de Wilcoxon pareado comparando os diferentes escores entre os diversos momentos. Todos os membros desenvolveram aumento de volume leve e difuso no local, e aumento de temperatura na região palmar média do metacarpo após a indução da lesão tendínea que se resolveram ao longo dos primeiros cinco dias. Nos dias restantes (6-15 dias), havia sensibilidade leve na palpação, porém os membros afetados ainda apresentavam um aumento de volume e calor menos evidentes (Tabela 1). Ao longo das 24h iniciais após a injeção do gel de colagenase, todos os cavalos desenvolveram claudicação variando entre os escores 1-3 (Tabela 1). Houve diferença estatística significativa no escore de claudicação entre os diferentes momentos. Nenhum 37 cavalo apresentou sinais de desconforto fisiológico ou claudicação com escore maior que quatro. Estes resultados são compatíveis com os dados relatados após a indução da lesão tendínea utilizando colagenase (YAMADA et al., 2008; WATTS et al., 2012). A avaliação ultrassonográfica demonstrou a formação de lesões delimitadas e hipoecóicas e mínima reação na região do epitendão. Também houve aumento gradativo estatisticamente significativo da %AL/AT (Tabela 2). A combinação dos dados clínicos e ultrassonográficos demonstram que a metodologia empregada leva ao desenvolvimento de uma lesão focal aguda similar a tendinite de ocorrência natural. Este dado é compatível com o descrito previamente por ALVES (1998), que após a indução da tendinite utilizando colagenase descreveram a formação de lesão compatível às lesões tendíneas provocadas por excesso de exercício. A análise da avaliação clínica demonstrou evolução progressiva até o décimo dia do experimento, com posterior melhora de todos os sinais clínicos, exceto da perimetria que continuou aumentando. Já a avaliação ultrassonográfica mostrou maior severidade das lesões no décimo quinto dia do experimento, evidenciando a não constante correlação da gravidade da lesão obtida pela avaliação ultrassonográfica com a análise clínica. Este também foi obtido por YAMADA et al. (2009), que demonstrou as vantagens da avaliação tendínea pela ultrassonografia devido a não correlação dos sinais clínicos com a gravidade da lesão. Acreditamos que as principais vantagens do emprego intratendíneo da colagenase suspensa em gel seja a facilidade de sua administração sem a necessidade da anestesia geral, a criação de lesões tendíneas consistentes e o menor extravasamento da enzima no epitendão, resultando em menor reação inflamatória no peritendão e consequentemente menor probabilidade de formação de aderências. As possíveis explicações para a 38 manutenção do produto no local são o fato da colagenase estar suspensa em gel, e a diminuição da pressão resultante do defeito físico pela inserção da agulha ao longo das fibras tendíneas onde se pretende causar a lesão. A menor pressão no local possibilita que a colagenase permaneça confinada dentro da lesão criada após a retirada da agulha, ao invés de ser forçada a expandir para todas as direções ao longo do endotendão e percorrer o caminho da agulha, evitando assim a formação de reação inflamatória no epitendão (WATTS et al., 2012). A avaliação clínica e ultrassonográfica realizada no presente experimento confirmaram que a metodologia descrita para a indução de tendinite do TFDS utilizando colagenase suspensa em gel resultou em lesão focal similar a de ocorrência natural com menor comprometimento do epitendão. Agradecimentos Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo 2010/035673. Comitê de ética e biossegurança Aprovado pela Câmara de Ética em Experimentação Animal da FMVZ, UNESP, protocolo número 213/2008. Referências ALVES, A.L.G. Influência da beta-aminopropionitrila associada à atividade física na reparação tendínea de eqüinos após agressão pela colagenase. Análise 39 ultrassonográfica e morfológica. 1998. 92f. Tese (Doutorado em Patologia) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP. BIRCH, H.L. et al. 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Resultados do teste de sensibilidade local a palpação (escore 0-3), aumento de temperatura (escore 0-3), perimetria da região médio do metacarpo (circunferência em cm) e exame de claudicação (escore 0-5). Momento 0 1 2 3 4 5 7 10 15 Sensibilidade (0-3) 0 0,5 1 1 2 2 2 2 1 Temperatura (0-3) 0 1 1 1 1 2 2 1,5 1 Perimetria (cm) 17,5 17,8 17,8 17,8 18 18,1 18,4 18,6 18,4 Claudicação (0-5) 0 1 1,5 2 3 3 3 2,5 2,5 Tabela 2. Mediana da avaliação ultrassonográfica realizada nos diferentes momentos. Resultado da área da lesão (AL), área do tendão (AT), porcentagem da área da lesão pela área do tendão (%AL/AT) e ecogenicidade (ECO) (escore 0-4). Momento AL(mm2) AT (mm2) % AL/AT ECO (0-4) 7 5,5 76,5 7* 2 10 8,5 80 10,5* 2 15 9,5 81 12* 3 * Indica que houve diferença estatística significativa em nível de 5% (P<0,05) na coluna entre os diferentes momentos. Capítulo 4 42 Artigo Científico a ser submetido ao periódico “Stem Cell Research & Therapy” (sob as normas vigentes) Terapia da tendinite equina utilizando associação das células tronco mesenquimais e concentrado de plaquetas Armando de Mattos Carvalho. E-mail: armandodvm@gmail.com. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade Estadual Paulista (UNESP). Peres Ramos Badial. E-mail: peres@fmvz.unesp.br. Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP. Luis Emiliano Cisneros Álvarez. E-mail: ventus80@gmail.com. Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP. Ana Lucia Miluzzi Yamada. E-mail: anamyamada@fmvz.unesp.br. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP. Alexandre Secorun Borges. E-mail: asborges@fmvz.unesp.br. Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP. Elenice Deffune. E-mail: ed12@fmb.unesp.br. Hemocentro, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP. Carlos Alberto Hussni. E-mail: cahussni@fmvz.unesp.br. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP. Ana Liz Garcia Alves*. Autor para correspondência: anaalves@fmvz.unesp.br. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP. Rubião Junior, Botucatu 560, São Paulo, Brasil. 43 Resumo Introdução: A lesão tendínea é uma importante causa de claudicação e diminuição de desempenho em equinos atletas. Existe a descrição de várias terapias para a tendinite, entretanto nenhuma resulta na completa regeneração tecidual, mesmo após longos períodos de recuperação envolvendo repouso e fisioterapia, a taxa de recidiva é alta. Métodos: Foi realizada a indução da lesão no tendão flexor digital superficial com gel de colagenase na região média do metacarpo de oito equinos sem raça definida. As lesões foram tratadas após duas semanas com administração intralesional de células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (adCTMs) suspensas em concentrado de plaquetas (CP) no grupo tratado e com PBS no grupo controle. Análises ultrassonográficas seriadas foram realizadas a cada duas semanas. Após 16 semanas da terapia, foi realizada biópsia para análise histopatológica, imunoistoquímica e de expressão gênica (COL1A1, COL3A1, TNC, TNMD, SCX). Resultados: Houve diferença entre grupos quanto a análise ultrassonográfica e histopatológica, com melhores resultados no grupo tratado com as adCTMs suspensas no CP. Não houve diferença da expressão gênica dos genes testados entre os diferentes tratamentos. Os principais resultados observados no grupo tratado foram a prevenção da evolução da lesão, maior organização das fibras colágenas e diminuição do infiltrado inflamatório na avaliação histopatológica. Não progressão da área da lesão e da porcentagem da área da lesão na ultrassonografia e aumento do fluxo sanguíneo mensurado pelo Power Doppler. Conclusão: O uso das adCTMs associadas ao CP para a terapia da tendinite experimentalmente induzida neste estudo resultou na ação preventiva quanto a progressão da lesão tendínea na análise ultrassonográfica e em maior organização e diminuição da inflamação na avaliação histopatológica. Estes dados demonstram o potencial terapêutico da terapia utilizada na tendinite equina. 44 Introdução A lesão tendínea é uma importante causa de claudicação e de diminuição do desempenho dos cavalos atletas, podendo culminar no término precoce da carreira dos animais [1]. As estruturas tendíneas são pouco vascularizadas, relativamente acelulares e têm potencial limitado de regeneração, uma vez que a reparação tendínea é prolongada e resulta na formação de tecido cicatricial biomecanicamente inferior, o tornando mais apto a recorrência da lesão [2]. Normalmente a lesão tendínea requer um considerável período de repouso (seis meses a mais de um ano) para permitir a adequada reparação tecidual. Os tratamentos convencionais para tendinite são basicamente clínicos e cirúrgicos. Entretanto os animais dificilmente apresentam cicatrização com qualidade que possibilite seu retorno as competições com desempenho similar a quando eram saudáveis [3]. A medicina regenerativa vem evoluindo significativamente e já foram descritos anteriormente o uso das células tronco mesenquimais (CTMs) e do implante do concentrado de plaquetas (CP) na terapia da tendinite equina [4-14]. Resultados de estudos clínicos demonstraram diminuição significativa da taxa de reincidência de tendinite após períodos de pelo menos dois anos de acompanhamento de animais tratados com terapia celular quando comparados aos tratados com terapia convencional, com reincidência de 27% e 56% respectivamente [15]. São várias as fontes de CTMs disponíveis, como a medula óssea; tecido adiposo; sangue periférico; sangue e matriz do cordão umbilical; tendão [16]. Dentre as possíveis fontes das CTMs, a medula óssea vem sendo considerada como a mais importante, todavia outras fontes como, por exemplo, o tecido adiposo apresenta características interessantes como maior número de CTMs viáveis com altas taxas de migração e diferenciação celular, tornando-o assim uma conveniente fonte de células progenitoras [17]. O CP é um produto biológico autólogo utilizado na medicina esportiva equina com eficácia clínica aparente. As vantagens desta terapia incluem a coleta minimamente invasiva, processamento rápido, fácil e de baixo custo. A sua eficácia terapêutica é atribuída à liberação de diversos fatores de crescimento diretamente no local injetado [18]. Já há descrição de estudos que demonstram seu potencial na terapia da tendinite equina, como a melhora do escore na avaliação ultrassonográfica de casos clínicos [14], aumento da vascularização local [19] e aumento da atividade metabólica resultando na maturação da reparação tecidual [12]. A suspensão das CTMs ao CP tem sido utilizada com resultados promissores na reparação óssea [20-22]. Há apenas um estudo clínico em equinos, demonstrando que a terapia da tendinite utilizando CTMs suspensas no CP [11], com retorno a atividade atlética de 14 dos 16 animais submetidos à terapia do tendão flexor digital superficial (TFDS). O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito das células tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo (adCTMs) autólogo associado ao CP autólogo na terapia da tendinite induzida experimentalmente utilizando as análises ultrassonográfica, histopatológica, imunoistoquímica e de expressão gênica. 45 Material e Métodos Animais Foram utilizados oito equinos (sete fêmeas e um macho) sem raça definida, com idade variando entre três a quatro anos e meio. Os animais foram examinados clinicamente e ultrassonograficamente antes do início do experimento para assegurar a não presença de lesão tendínea. Também foi realizado o hemograma completo para a certificação do estado de saúde geral. Todos os animais foram alocados em baias individuais e adaptados com manejo diário durante 21 dias antes do início do experimento. O protocolo foi aprovado pelo comitê de ética em experimentação animal da universidade (número: 213/2008). Além dos oito equinos utilizados no experimento, foram utilizados mais quatro equinos (dois machos e duas fêmeas, sem raça definida, idade entre três a oito anos) que foram submetidos a eutanásia devido a complicações durante procedimentos cirúrgicos diversos que não comprometessem o TFDS. As amostras foram utilizadas para análise da reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa em tempo real (RTPCR). Também foi realizada a pesquisa quanto ao histórico de tendinites prévias destes animais, a fim de certificar que os fragmentos que foram coletados vieram de tendões saudáveis. Delineamento do estudo O estudo foi constituído de dois grupos escolhidos aleatoriamente, grupo tratado (GT) (tendão tratado com adCTMs, n=4) e grupo controle (GC) (tendão tratado com PBS, n=4). A coleta do tecido adiposo foi realizada três semanas antes da instituição da terapia (semana -3), seguida da indução da lesão tendínea que foi realizada duas semanas antes da instituição do tratamento (semana -2). Foram realizados exames ultrassonográficos a cada duas semanas até o término do experimento. Após 16 semanas da terapia, realizou-se a biópsia do TFDS para a avaliação histopatológica, imunoistoquímica e de expressão gênica (semana 16). Todos os exames realizados no experimento foram executados por avaliadores cegos quanto aos diferentes grupos (Figura 1). Também foram utilizadas amostras do TFDS de quatros equinos sem histórico de tendinite, grupo saudável (GS) (tendão sem histórico de tendinite, n=4) para a avaliação da expressão gênica entre os GT e GC. Isolamento e cultivo das células tronco Para a coleta do tecido adiposo, foi realizada a sedação dos animais com xilazina (0.7mg/kg, i.v.) seguido da tricotomia, antissepsia e injeção subcutânea de 20 mL de cloridrato de lidocaína 2% utilizando um bloqueio anestésico em L invertido. Foi realizada uma incisão de aproximadamente oito cm de comprimento paralelo e aproximadamente 15 cm abaxial à coluna vertebral, possibilitando a visualização de uma camada de gordura entre a pele e a musculatura. Foram coletados cerca de dois gramas de tecido adiposo por animal, o qual foi imediatamente acondicionado em um tubo de 50 mL contendo meio DMEM Knockout. 46 O tecido adiposo foi lavado com PBS, a fim de remover a contaminação com sangue total, seguido de delicada separação mecânica utilizando bisturi e pinça anatômica. Se adicionaram três mL de solução de colagenase tipo I diluída em meio DMEM Knockout, 2mg/mL e esta foi mantida durante 12 horas em estufa umidificada a 37°C com 5% de CO2 para a digestão enzimática do tecido adiposo. Após este período, foi adicionado igual volume de DMEM Knockout contendo 10% de SFB para a neutralização da ação enzimática seguida de lavagens com PBS. O pellet celular obtido de cada animal foi diluído em meio DMEM Knockout contendo 10% SFB e transferido para placas de cultivo de 75cm2 acondicionadas em estufa. O meio de cultivo foi trocado a cada 48 horas até confluência de 70% da placa de cultivo, onde foi realizada a tripsinização das células seguido do teste de viabilidade celular pela metodologia de exclusão por azul de Trypan e manutenção de seu cultivo até o momento da terapia celular. Antes do implante celular, foi coletada uma alíquota das células (P1) para a realização da caracterização imunofenotípica das células cultivadas. Os marcadores utilizados foram: CD44; CD90; CD105; e MHC Class II de modo semelhante ao previamente descrito [23]. Também foi realizada a diferenciação adipogênica, condrogênica e osteogênica, comprovando o potencial multipotente das células utilizadas (dados não mostrados). Indução da lesão tendínea A lesão tendínea foi criada na região média do metacarpo, na porção central do TFDS em um dos membros torácicos do equino que foi escolhido aleatoriamente utilizando colagenase tipo I filtrada estéril (Sigma, St. Louis, MO, EUA). Mil unidades de colagenase foram injetadas em forma de gel em um defeito em forma de coluna de aproximadamente dois cm de comprimento no centro da região de tensão do TFDS, 10 – 12 cm distal ao osso acessório do carpo (DOAC). Para a correta indução da lesão o implante foi guiado por aparelho de ultrassom (My Lab 70 Vet, Esaote, Genova, Itália) utilizando agulha de cateter 16G manualmente curvada de modo estéril em ângulo de 45°, metodologia modificada [24]. Após a indução da lesão foi realizada a bandagem do membro selecionado, que foi mantida por uma semana. Terapia celular Duas semanas após a indução da lesão (T= semana 0), as lesões tendíneas foram tratadas conforme seu respectivo grupo com a injeção intra-lesional guiada por ultrasso