PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (ÁREA DE ZOOLOGIA) TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS (CRUSTACEA: DECAPODA: ACHELATA E POLYCHELIDA) NO OCEANO ATLÂNTICO PAOLA LUPIANHES DALL´OCCO Junho - 2010 Tese apresentada ao Instituto de Biociências do Câmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Zoologia). unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO PAOLA LUPIANHES DALL’ OCCO TTAAXXOONNOOMMIIAA EE DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO DDAASS LLAAGGOOSSTTAASS ((CCRRUUSSTTAACCEEAA:: DDEECCAAPPOODDAA:: AACCHHEELLAATTAA EE PPOOLLYYCCHHEELLIIDDAA)) NNOO OOCCEEAANNOO AATTLLÂÂNNTTIICCOO Tese apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Zoologia). ORIENTADOR: Dr. Gustavo Augusto Schmidt de Melo Rio Claro 2010 Dall´Occo, Paola Lupianhes Taxonomia e Distribuição das Lagostas (Crustacea: Decapoda: Achelata e Polychelida) no Oceano Atlântico/ Paola Lupianhes Dall´Occo. Rio Claro: [s.n.], 2010. 432 f. : figs., gráfs., tabs. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro. Orientador: Gustavo Augusto Schmidt de Melo 1. Lagostas. 2. Achelata. 3. Polychelida. 4. Sistemática. 5. Biogeografia. 6. Oceano Atlântico. PAOLA LUPIANHES DALL’ OCCO TTAAXXOONNOOMMIIAA EE DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO DDAASS LLAAGGOOSSTTAASS ((CCRRUUSSTTAACCEEAA:: DDEECCAAPPOODDAA:: AACCHHEELLAATTAA EE PPOOLLYYCCHHEELLIIDDAA)) NNOO OOCCEEAANNOO AATTLLÂÂNNTTIICCOO Tese apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas (Zoologia). Comissão Examinadora Dr. Gustavo A. Schmidt de Melo Dra. Cristiana Silveira Serejo Dr. Valter José Cobo Dr. Paulo Ricardo Nucci Dra. Ana Luiza Brossi Garcia Rio Claro, 09 de junho de 2010 DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 3 Aos meus pais, Marcina e Roberto DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 4 “Isto não é o fim. Não é sequer o princípio do fim. Mas é talvez, o fim do princípio.” Winston Churchill DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 5 AGRADECIMENTOS DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 6 Ao meu orientador, Dr. Gustavo Augusto Schmidt de Melo, pela imensa generosidade em compartilhar seus conhecimentos, pelo continuado incentivo e aconselhamentos dados nesta importante etapa. Ao Prof. Dr. Gustavo Augusto Schmidt de Melo Filho, a quem devo meu ingresso na Carcinologia, por seus ensinamentos, apoio, oportunidades e confiança. Ao Dr. Shane Ahyong (National Institute of Water & Atmospheric Research) por seus esclarecimentos e gentileza no envio de trabalhos. Ao Dr. Raphael Lemaitre (National Museum of Natural History - Smithsonian), à Dra. Cristiana Serejo (Museu Nacional do Rio de Janeiro), ao Dr. Petrônio Alves Coelho Filho (Universidade Federal de Alagoas), André Moreira de Assis e Marlene Hoffmann (Museu Professor Mello Leitão) pelo empréstimo de material. A todos os que dão vida e a vida ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP): Ao Dr. Marcos Siqueira Tavares, curador do Laboratório de Carcinologia; às bibliotecárias, “Santa” Dione Seripierri a quem agradeço pela fundamental ajuda e amizade, à Marta Lúcia Zamana e Cláudia Alves de Melo pela extraordinária competência, disponibilidade e simpatia, que permitiu a obtenção das referências necessárias à realização do presente trabalho. Ao Rodrigo pelo auxílio na elaboração dos mapas distribucionais e na editoração das figuras e a todos os colegas e funcionários. Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Campus de Rio Claro que contribuiu com dedicação para minha formação. Ao incentivo financeiro oferecido pela Secretaria da Educação do Governo do Estado de São Paulo, para o Programa Bolsa Doutorado. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 7 A todos os meus colegas professores, aos que tenho o prazer da companhia diária e àqueles cujas lembranças me trazem uma imensa saudade, pelos exemplos de perseverança e amor pela profissão e aos meus alunos e ex-alunos por tornarem os dias de trabalho desafiadores e muito divertidos. Aos queridos amigos e familiares que de alguma maneira acompanharam este trabalho e souberam compreender minhas ausências, em especial a Luciane Faccini por sua incrível sensibilidade e amizade sincera. Aos meus pais pelo carinho, apoio, estímulo e ensinamentos que não podem ser encontrados em livros e para quem meus agradecimentos sempre serão poucos. Amo vocês! DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 8 RESUMO DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 9 O presente estudo aborda aspectos sistemáticos e biogeográficos das lagostas pertencentes as infraordens Achelata Scholtz & Richter, 1995 e Polychelida De Haan, 1841 que ocorrem no Oceano Atlântico. Constituindo um relevante recurso ecológico, comercial e científico, são encontradas em uma grande variedade de habitats e profundidades desde a região intertidal até a região abissal, ultrapassando os 5000m. De acordo com os dados obtidos através da literatura e da análise de exemplares provenientes de coleções carcinológicas nacionais e internacionais a fauna de lagostas (Achelata e Polychelida) do Oceano Atlântico é composta por 50 espécies, distribuídas em 3 famílias, 3 subfamílias e 18 gêneros. Para os táxons são fornecidas diagnoses e chaves de identificação, sendo que o tratamento formal de cada espécie inclui sinonímia, tipo(s), localidade-tipo, descrição, tamanho, coloração, hábitat, distribuição geográfica, observações, mapa de distribuição e ilustrações. O estudo biogeográfico realizado caracteriza e discute os padrões distribucionais encontrados, juntamente, com os fatores abióticos que influenciam na distribuição das espécies. São ainda analisados os graus de valência ecológica das espécies em relação aos tipos de substratos ocupados e gradientes batimétricos. Palavras chave: Lagostas. Crustacea. Decapoda. Achelata. Polychelida. Sistemática. Biogeografia. Oceano Atlântico. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 10 ABSTRACT DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 11 This study addresses aspects of the systematics and biogeography of lobsters belonging to the infraorders Achelata Scholtz & Richter, 1995 and Polychelida De Haan, 1841 that occur in the Atlantic Ocean. Constituting an important ecological, commercial, and scientific resource, these lobsters are found in a wide variety of habitats and depths from the intertidal zone to the abyssal zone below 5000 m. According to published information and the analysis of specimens from carcinological collections within and outside Brazil, the lobster fauna (Achelata and Polychelida) in the Atlantic Ocean is composed of 50 species, belonging to 3 families, 3 subfamilies, and 18 genera. For the taxa, diagnoses and identification keys are provided. The formal treatment of each species includes the synonymy, type(s), type-locality, description, size, coloration, habitat, geographical distribution, notes, distribution map, and illustrations. The biogeographical study conducted characterizes and discusses the distributional patterns, along with the abiotic factors that influence the distributions of the species. The degrees of ecological valence of the species in relation to the types of substrates occupied and the bathymetric gradients are also analyzed. Key words: Lobsters. Crustacea. Decapoda. Achelata. Polychelida. Systematics. Biogeography. Atlantic Ocean. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 12 SSUUMMÁÁRRIIOO INTRODUÇÃO......................................................................................................15 MATERIAL E MÉTODOS..................................................................................... 25 RESULTADOS......................................................................................................36 Chave para infraordens da subordem Pleocyemata..............................................38 Infraordem Achelata............................................................................................40 Superfamília Palinuroidea...................................................................................41 Chave para as famílias da superfamília Palinuroidea............................................41 Família Palinuridae .............................................................................................42 Chave para os gêneros da família Palinuridae......................................................43 Gênero Jasus.......................................................................................................45 Chave para as espécies do gênero Jasus.............................................................47 Jasus lalandii....................................................................................................48 Jasus tristani.....................................................................................................53 Gênero Justitia.....................................................................................................58 Justitia longimanus...........................................................................................59 Gênero Palinurellus.............................................................................................64 Palinurellus gundlachi.......................................................................................65 Gênero Palinurus.................................................................................................70 Chave para as espécies do gênero Palinurus.......................................................72 Palinurus charlestoni........................................................................................73 Palinurus elephas.............................................................................................78 Palinurus gilchristi.............................................................................................83 Palinurus mauritanicus.....................................................................................88 Gênero Palinustus...............................................................................................92 Palinustus truncatus.........................................................................................93 Gênero Panulirus.................................................................................................97 Chave para as espécies do gênero Panulirus.......................................................98 Panulirus argus................................................................................................100 Panulirus echinatus..........................................................................................106 Panulirus guttatus.............................................................................................113 Panulirus laevicauda........................................................................................118 Panulirus regius.................................................................................................124 Gênero Projasus..................................................................................................128 DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 13 Projasus parkeri.....................................................................................................130 Família Scyllaridae ..............................................................................................135 Chave para as subfamílias da família Scyllaridae.................................................136 Subfamília Arctidinae..........................................................................................137 Chave para os gêneros da subfamília Arctidinae..................................................137 Gênero Arctides...................................................................................................138 Arctides guineensis...........................................................................................139 Gênero Scyllarides...............................................................................................145 Chave para as espécies do gênero Scyllarides.....................................................145 Scyllarides aequinoctialis..................................................................................147 Scyllarides brasiliensis.....................................................................................153 Scyllarides deceptor.........................................................................................157 Scyllarides delfosi.............................................................................................162 Scyllarides herklotsii.........................................................................................166 Scyllarides latus................................................................................................170 Scyllarides nodifer............................................................................................174 Scyllarides obtusus…………………………………………........…………………178 Subfamília Ibacinae..............................................................................................184 Gênero Parribacus...............................................................................................185 Parribacus antarcticus......................................................................................186 Subfamília Scyllarinae.........................................................................................193 Chave para os gêneros da subfamília Scyllarinae.................................................194 Gênero Acantharctus...........................................................................................195 Acantharctus posteli…………………………..………………....……………........196 Gênero Bathyarctus.............................................................................................200 Chave para as espécies do gênero Bathyarctus....................................................200 Bathyarctus faxoni............................................................................................201 Bathyarctus ramosae........................................................................................206 Gênero Scyllarus..................................................................................................210 Chave para as espécies do gênero Scyllarus........................................................211 Scyllarus americanus........................................................................................213 Scyllarus arctus.................................................................................................219 Scyllarus caparti................................................................................................224 Scyllarus chacei................................................................................................228 DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 14 Scyllarus depressus..........................................................................................233 Scyllarus paradoxus..........................................................................................238 Scyllarus planorbis............................................................................................242 Scyllarus pygmaeus..........................................................................................247 Scyllarus subarctus...........................................................................................251 Infraordem Polychelida........................................................................................255 Superfamília Eryonoidea.....................................................................................256 Família Polychelidae ...........................................................................................257 Chave para os gêneros da família Polychelidae....................................................258 Gênero Cardus.....................................................................................................259 Cardus crucifer .................................................................................................260 Gênero Pentacheles.............................................................................................264 Chave para as espécies do gênero Pentacheles...................................................265 Pentacheles laevis ...........................................................................................266 Pentacheles snyderi .........................................................................................272 Pentacheles validus..........................................................................................275 Gênero Polycheles...............................................................................................280 Chave para as espécies do gênero Polycheles.....................................................281 Polycheles perarmatus.....................................................................................282 Polycheles typhlops..........................................................................................286 Gênero Stereomastis...........................................................................................294 Chave para as espécies do gênero Stereomastis.................................................294 Stereomastis nana............................................................................................296 Stereomastis sculpta........................................................................................301 Stereomastis suhmi..........................................................................................308 Stereomastis talismani......................................................................................312 Gênero Willemoesia.............................................................................................317 Chave para as espécies do gênero Willemoesia...................................................317 Willemoesia forceps..........................................................................................318 Willemoesia leptodactyla..................................................................................322 Willemoesia pacifica.........................................................................................327 DISCUSSÃO..........................................................................................................331 CONCLUSÃO........................................................................................................355 REFERÊNCIAS.....................................................................................................357 DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 15 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 16 Encontradas em todos os oceanos, em uma grande variedade de habitats e profundidades, desde a região intertidal até a região abissal ultrapassando os 5000m, as lagostas são importantes predadoras em seu ecossistema e rentáveis presas ao ser humano, sendo utilizadas, principalmente, como alimento, mas também em estudos fisiológicos sobre crescimento, ecdise e comportamento reprodutivo e social, devido à facilidade de manutenção em condições laboratoriais, constituindo um relevante recurso ecológico, comercial e científico. Alguns dos bancos pesqueiros mais produtivos do mundo situam-se nas áreas com afloramento do Oceano Atlântico, nas quais as águas profundas ricas em nutrientes sobem para a superfície favorecendo a ocorrência de abundante fauna marinha. Sendo o segundo oceano do mundo em superfície, o Atlântico cobre aproximadamente 20% da superfície terrestre. Seu limite norte foi estabelecido com base nas cordilheiras submarinas que se estendem entre as massas de terra da ilha de Baffin, Groenlândia e Escócia, separando-o do Oceano Glacial Ártico e tendo como limite sul o Oceano Austral que banha a Antártica. Pode ser separado, a leste, do Oceano Índico pelo meridiano de 20°E, correspond ente à Cidade do Cabo (África) e a oeste do Oceano Pacífico pela linha de maior profundidade que se estende entre o Cabo Horn (Chile) e a península Antártica. Totalizando cerca de 111.866 quilômetros de linha costeira e profundidade máxima de 8605 metros na fossa de Porto Rico, o Oceano Atlântico apresenta no hemisfério norte, costas continentais muito recortadas que delimitam numerosos mares anexos (Mar do Norte, Mar Báltico, Mar Mediterrâneo, Mar de Labrador e Mar do Caribe), sendo a região costeira bem mais retilínea no hemisfério sul. As lagostas apesar de receberem essa designação comum, não constituem um grupo homogêneo, sendo morfologicamente muito distintas e divididas atualmente em 4 infraordens: Achelata, Polychelida, Astacidea e Glypheidea. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 17 As lagostas da infraordem Achelata Scholtz & Richter, 1995 diagnosticadas entre outros caracteres, pela ausência de quela nos pereiópodos 1-4 (tendo como exceção os machos dos gêneros Justitia e Palinurus que possuem o primeiro pereiópodo mais desenvolvido e subquelado) e pela larva denominada filosoma, estão inseridas na superfamília Palinuroidea Latreille, 1802, composta, de acordo com a classificação tradicional apresentada por Martin e Davis (2001), pelas famílias Palinuridae Latreille, 1802, Scyllaridae Latreille, 1825 e Synaxidae Bate, 1881. Estando entre os decápodos mais conhecidos, as espécies da família Palinuridae são popularmente denominadas lagostas espinhosas, sendo caracterizadas pelas longas e robustas antenas e pelo grande número de espinhos, que servem de proteção contra predadores; sendo divididas, pela classificação tradicional, em 10 gêneros todos com grande interesse comercial. De acordo com Parker (1884), os gêneros da família Palinuridae que possuem órgão estridulador podem ser agrupados informalmente nos Stridentes (Justitia, Linuparus, Nupalirus, Palinurus, Palinustus, Panulirus e Puerulus) e os gêneros onde este órgão está ausente nos Silentes (Jasus, Projasus e Sagmariasus). Segundo Moulton (1957), Mulligan e Fischer (1977) e Patek e Oakley (2003), a presença do órgão estridulador representa uma adaptação evolutiva utilizada para comunicação e defesa, sendo considerado um caráter sinapomórfico por Tsang et al. (2009). As lagostas de coral, pertencentes pela classificação tradicional à família Synaxidae, cujos hábitos crípticos tornam raros seus registros, diferenciam-se das demais pela presença de rostro triangular e achatado, ausência de espinhos supraorbitais, esterno torácico estreito e corpo coberto por densa setosidade; inclui 3 espécies pertencentes a 2 gêneros (Palybithus e Palinurellus). Porém, com a descoberta de Palybithus magnificus Davie, 1990 a validade taxonômica deste táxon foi questionada, pois ao contrário das demais espécies da família Synaxidae, Palybithus magnificus apresenta órgão estridulador. Como o surgimento independente desse órgão altamente desenvolvido (uma vez na linhagem Silentes e outra nos Synaxidae) é considerado improvável por Davie (1990), Patek e Oakley (2003), George (2006), Palero et al. (2009), Bracken et al. (2009) e Tsang et al. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 18 (2009), que postulam seu desenvolvimento uma única vez no ancestral dos Stridentes e sugerem a colocação da família Synaxidae na sinonímia de Palinuridae, com Palybithus incluso no grupo dos Stridentes e Palinurellus nos Silentes, o que é corroborado por De Grave et al. (2009) e seguido no presente trabalho, assim a família Palinuridae é composta atualmente por 12 gêneros viventes. As lagostas da família Scyllaridae, também conhecidas como sapateiras, apresentam o corpo dorsoventralmente achatado e antenas em forma de pá usadas para deslocar pedras na procura por alimento; constitui um táxon cujas informações disponíveis são limitadas quando comparadas com as demais. Está dividida em 4 subfamílias (Arctidinae, Ibacinae, Scyllarinae e Theninae) e 20 gêneros viventes, sendo que destes, apenas 3 (Ibacus, Scyllarides e Thenus) apresentam interesse comercial devido ao grande tamanho de seus indivíduos. Incluídas na infraordem Polychelida De Haan, 1841, as espécies viventes da superfamília Eryonoidea de Haan, 1841, estão reunidas na família Polychelidae Wood-Mason, 1874, apresentando como características diagnósticas mais evidentes a presença de quela nos pereiópodos 1-4, presença de telso pontiagudo e sua larva eryoneicus. Habitam grandes profundidades e apesar de sua ampla distribuição só foram descobertas no final do século XIX, devido à escassez de pesquisas nas regiões profundas dos oceanos. Está dividida em 6 gêneros viventes e não apresentam interesse comercial. Na infraordem Astacidea Latreille, 1802, estão os crustáceos conhecidos como lagostas de pinças e lagostins, cujos indivíduos possuem rostro bem desenvolvido e os primeiros três pares de pereiópodos quelados, sendo o primeiro par muito robusto. É composta por 2 superfamílias de água doce (Astacoidea Latreille, 1802 e Parastacoidea Huxley, 1879) e pelas superfamílias Nephropoidea Dana, 1852 e Enoplometopoidea de Saint Laurent, 1988, ambas marinhas. Conhecida até 1975 apenas por registros fósseis e consequentemente considerada extinta a 50 milhões de anos, a superfamília Glypheoidea Winkler, 1883, foi inicialmente incluída na infraordem Palinura, posteriormente transferida para a infraordem Astacidea, sendo atualmente considerada uma infraordem DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 19 (Glypheidea) de acordo com os resultados obtidos por Dixon et al. (2003), Ahyong e O’Meally (2004) e Bracken et al. (2009). A falta de estudos sobre as relações filogenéticas da maioria dos crustáceos reptantes por décadas, mantém controversa a posição sistemática de vários táxons. De acordo com trabalhos cladísticos, a divisão dos Reptantia Boas, 1880 em Palinura, Astacura, Anomura e Brachyura, grupos tradicionais baseados em H. Milne Edwards (1834), não reflete suas relações naturais. A classificação proposta por Martin e Davis (2001), corrobora Holthuis (1991), reconhecendo a infraordem Palinura Latreille, 1802 e suas superfamílias Palinuroidea e Eryonoidea. Scholtz e Richter (1995), realizaram o primeiro estudo cladístico recente sobre os Reptantia, através da análise de caracteres morfológicos, corroborando o monofiletismo deste táxon, porém revelaram o polifiletismo da infraordem Palinura, sugerindo a exclusão da família Polychelidae, até então inserida nessa infraordem e sua inclusão no táxon Polychelida De Haan, 1841, resgatado para abrigar tanto suas espécies viventes como os táxons extintos. O termo Palinura, sugerido por Martin e Davis (2001), foi então abandonado na tentativa de desvincular a nova classificação de seu significado inicial que agrupava também os Glypheoidea e Polychelidae, sendo substituído pelo táxon Achelata, reunindo atualmente as famílias Palinuridae e Scyllaridae. Os trabalhos de Dixon et al. (2003), envolvendo análise filogenética somente com base em caracteres morfológicos, de Ahyong e O´Meally (2004), com dados moleculares e morfológicos, de Schram e Dixon (2004) com a inclusão de evidências fósseis e de Palero et al. (2009), Bracken et al. (2009) e Tsang et al. (2009) com resultados obtidos através de análise molecular corroboram a validade da proposição das infraordens Polychelida e Achelata e foram seguidos no presente estudo. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 20 Entre os autores que realizaram estudos sobre a fauna de lagostas das infraordens Achelata e Polychelida no Oceano Atlântico destacam-se: A. Milne-Edwards (1880a), Lyons (1970), Firth e Pequegnat (1971), Felder (1973), Manning (1978), Rodriguez (1980) e Takeda (1983) abrangendo as espécies do Atlântico norte. Enquanto Verrill (1922), Bouvier (1925), Williams (1965; 1984; 1986) e Abele e Kim (1986) abordaram exclusivamente as lagostas do Atlântico norte ocidental. Holthuis (1991) tratou em seu catálogo das espécies comercialmente exploradas no mundo. As lagostas do Atlântico central foram tratadas por Tavares (2003). Nobre (1936), Falcial e Minervini (1992a, b) e Calado e Narciso (2002), abordaram as espécies que ocorrem na costa européia, enquanto que as lagostas da costa atlântica da África foram objetos de estudo de Rathbun (1900b), Gruvel (1911b) e Barnard (1950). As lagostas da costa brasileira foram tratadas por Coelho e Ramos-Porto (1998), Melo (1999) e Dall´Occo (2005). Galil (2000) realizou um abrangente estudo sobre a família Polychelidae incluindo todas as espécies viventes até então conhecidas, sendo a filogenia e a sistemática do grupo revisadas por Ahyong (2009). A maioria dos trabalhos já realizados enfoca apenas algumas famílias ou aborda somente determinado aspecto (morfológico, ecológico, distribucional, fisiológico ou sistemático) das espécies de lagostas que ocorrem no Oceano Atlântico, tornando estes dados fragmentados e muitas vezes incompletos. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 21 Ciclo de vida As lagostas da infraordem Achelata eclodem dos ovos na forma de uma larva de vida curta denominada naupliosoma (com apenas os 3 primeiros apêndices cefálicos) somente em algumas espécies da família Scyllaridae, segundo Spanier e Lavalli (2006), enquanto que a maioria das espécies eclode como filosoma, uma larva planctônica de longa duração, transparente, em forma de folha e com todos os apêndices cefálicos (fig. 1A), permanecendo nesta fase por alguns meses para a maioria dos scylarídeos (ROBERTSON, 1968; ITO; LUCAS, 1990) e entre 9 e 22 meses para os palinurídeos (BOOTH; PHILLIPS, 1994); sendo o filosoma rapidamente transportado pelas correntes para longe da costa, desenvolvendo-se em águas oceânicas, onde após metamorfose transforma-se em puerulus ou nisto. O estágio de puerulus (Palinuridae) ou nisto (Scyllaridae) é nectônico e assemelha-se ao estágio juvenil na forma, mas é completamente transparente, apresentando-se como forte nadador horizontal, que ao retornar de sua fase oceânica, assenta em águas costeiras em pequenos buracos e fendas, preferencialmente no período noturno. Possui curto período de duração que pode variar de 1 a 4 semanas dependendo do gênero e espécie (BOOTH; PHILLIPS, 1994). Ao adquirir hábitos bentônicos e coloração críptica é denominado juvenil, sendo inicialmente solitário. Com o desenvolvimento para a fase adulta torna-se gregário, o que promove abrigo e proteção contra predadores, e migra para locais mais profundos, adquirindo assim hábitos semelhantes aos dos adultos. Na fase adulta, movimentos migratórios sazonais para a costa e para alto mar estão associados à ecdise e procriação. A maturidade sexual depende da espécie e da temperatura da localidade que habita. O acasalamento ocorre, geralmente, em locais profundos e afastados da costa, após a ecdise da fêmea. A fertilização externa ocorre após a deposição do espermatóforo do macho no esterno da fêmea, que começa a se desintegrar ou é rompido com o auxílio da quela presente no quinto pereiópodo. Ocorre a liberação dos ovos, sua fecundação e fixação nos pleópodos, onde serão incubados por período variável (dependendo da espécie e temperatura), sendo as larvas liberadas longe da costa. A não observação de espermatóforos no esterno das fêmeas, antes da liberação dos ovos, em algumas DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 22 espécies de scylarídeos, sugere a ocorrência de fecundação interna o que caracteriza o emprego de diferentes estratégias de fertilização nos Achelata (SPANIER; LAVALLI, 2006). Segundo Andrews (1911), a transferência do espermatóforo no gênero Polycheles é realizada através de sua deposição na região distal da superfície ventral do esterno da fêmea, podendo ser apenas colocado sobre o esterno, depositado em estruturas formadas por modificações no esternito (espermateca ou receptáculo seminal) ou ainda introduzido diretamente nos ovidutos. Durante muito tempo os estágios larvais da família Polychelidae (fig. 1B) foram considerados um tipo de lagosta pelágica e descritos sob o nome genérico de Eryoneicus, pelo seu relativamente grande tamanho e pela presença de estruturas reprodutivas masculinas desenvolvidas (BOUVIER, 1905c; BERNARD, 1953). Em seus estágios planctônicos apresenta carapaça inflada, quase esférica, abdome muito pequeno e com espínulos, provavelmente, para aumentar a flutuabilidade pelo aumento da área superficial (FELDER et al., 1985). Figura 1. Larvas. A. Infraordem Achelata. B. Infraordem Polychelida (fonte: CORBIS IMAGES, 2007). AAssppeeccttooss CCoommeerrcciiaaiiss A questão pesqueira muitas vezes está relacionada com a problemática sócio- ambiental ligada ao sustento de muitas famílias e à pressão exercida pelo mercado consumidor, que contribui para a necessidade da adoção de medidas que venham favorecer a sustentabilidade deste recurso natural, como: a limitação da eficiência A B DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 23 dos aparelhos de pesca; o controle do acesso à pesca (limitação do esforço de pesca); o fechamento de estações de pesca (defeso); a restrição sobre aparelhos de pesca; a proteção de reprodutores e o estabelecimento de limite de comprimento e peso (tamanho mínimo de captura), sendo que estas últimas medidas só se justificam se os indivíduos em reprodução ou de menor tamanho, depois de capturados, apresentarem boas chances de sobrevivência, quando devolvidos ao seu ambiente. O decréscimo do estoque reprodutor, com a consequente redução do recrutamento pode levar uma população ao desequilíbrio de sua estrutura etária e até à sua extinção, caso não sejam tomadas medidas adequadas de controle ou estas não sejam cumpridas, prejudicando assim o equilíbrio sustentável da pesca da lagosta, nos aspectos biológico, econômico e social. Iniciativas para o cultivo da lagosta decorreram do contínuo decréscimo da produção lagosteira, ocasionados pela sobrepesca e pesca predatória. Durante muitos anos foram consideradas impróprias para a aquicultura, por causa do seu longo e complexo período larval, porém pesquisas demonstram a possibilidade de cultivo em confinamento de puerulus ou juvenis capturados em seu hábitat (este último quando a proibição da captura de lagostas abaixo do tamanho mínimo não é prevista por lei), o que pode reduzir pela metade o tempo necessário para a lagosta atingir o tamanho comercial na natureza, sendo que devido a diferenças na duração do período larval, algumas espécies podem ser mais promissoras para a aquicultura (IGARASHI, 2007). Assim, a ampliação do apoio às pesquisas para o estabelecimento de metodologias de cultivo em escala comercial é fundamental para que se encontrem soluções viáveis para os altos investimentos e à modesta lucratividade atuais, decorrentes do amplo período exigido pela engorda da lagosta. OObbjjeettiivvooss Por se tratar de uma parcela importante da fauna marinha, contribuir para o equilíbrio desse ecossistema e ser um expressivo recurso pesqueiro, a relevância deste estudo deve-se à carência de trabalhos que tratem da totalidade do grupo no Oceano Atlântico e se propõe a alcançar os seguintes objetivos: DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 24 1 - Saber quais espécies compõem a fauna marinha de lagostas (Achelata e Polychelida) do Oceano Atlântico. 2 - Esclarecer, quando possível, os problemas sistemáticos e nomenclaturais relacionados ao grupo. 3 - Delinear os padrões distribucionais apresentados pelas diferentes espécies que ocorrem no Oceano Atlântico. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 25 MATERIAL E MÉTODOS DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 26 O material examinado encontra-se depositado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), contando, também, com exemplares procedentes das seguintes instituições: Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (DOCEAN); Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ), Museu Professor Mello Leitão (MML), Muséum National d’Histoire Naturelle, Paris (MNHN) e National Museum of Natural History, Smithsonian Institution, Washington, DC (USNM). O tratamento sistemático relativo a cada táxon consiste de: Infraordens: sinonímia, diagnose e observações. Superfamílias: sinonímia, diagnose e chave para as famílias. Famílias: sinonímia, diagnose, gênero-tipo, elenco de subfamílias ou gêneros, observações e chave para as subfamílias ou gêneros. Subfamílias: sinonímia, diagnose, observações e chave para os gêneros. Gêneros: sinonímia, diagnose, espécie-tipo, elenco de espécies, observações e chave para as espécies. Espécies: sinonímia, tipo(s), localidade-tipo, descrição, tamanho, cor, hábitat, material examinado, distribuição geográfica, observações, mapa de distribuição e ilustrações. SSIINNOONNÍÍMMIIAA:: a mais completa possível, revelando a história de cada táxon. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 27 DDIIAAGGNNOOSSEE:: elaborada de forma a ressaltar os caracteres diferenciais, utilizando as principais características morfológicas. EELLEENNCCOO DDEE EESSPPÉÉCCIIEESS:: apresentado em ordem alfabética, constituído por todas as espécies conhecidas, sendo as espécies que ocorrem no Oceano Atlântico indicadas em negrito. OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: tem como objetivo elucidar os problemas distribucionais, ecológicos, nomenclaturais e, principalmente, sistemáticos de cada espécie. CCHHAAVVEESS DDEE IIDDEENNTTIIFFIICCAAÇÇÃÃOO:: dicotômicas, elaboradas com base em caracteres de fácil e rápida visualização. TTIIPPOO((SS)):: considerado o material-tipo, além do sexo, coleção onde está depositado e número de registro. LLOOCCAALLIIDDAADDEE--TTIIPPOO:: apresenta o registro geográfico do local de coleta do exemplar(es)-tipo da espécie. DDEESSCCRRIIÇÇÕÕEESS:: elaboradas com base nas observações obtidas do material examinado e dados presentes na literatura. Os principais caracteres morfológicos utilizados estão citados a seguir, sendo os principais ilustrados nas figuras 2-7: Rostro (formato, espinulação); carapaça (formato, espinulação, sulcos e elevações); epístoma (espinulação); olhos (tamanho, pigmentação e pedúnculo); antênulas (comprimento); antenas (espinulação, formato e tamanho do pedúnculo, segmentos e flagelos); maxilípodos (comprimento, flagelo, palpo, segmentos); esternitos torácicos (formato e espinulação); pereiópodos (comprimento e espinulação); somitos abdominais (espinulação, carenas, sulcos e pleuras); pleópodos (formato, comprimento e espinulação); telso (formato e espinulação) e esternitos abdominais (espinulação). TTAAMMAANNHHOO:: a medida dos exemplares, quando disponível, foi obtida através do maior comprimento da carapaça ou do comprimento total e apresentada em milímetros. As medidas referem-se ao maior macho, maior fêmea e menor fêmea DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 28 ovígera. A medida da menor fêmea ovígera indica, aproximadamente, o tamanho da espécie ao atingir a maturidade sexual. Discrepâncias entre as maturidades estimadas podem ser explicadas pela variação geográfica na taxa de crescimento que depende da oferta e qualidade do alimento, densidade populacional, pressão predatória e temperatura da água. Além disso, as estimativas na literatura variam como resultado do período de amostragem, número e gradiente morfométrico dos espécimes e critério usado por diferentes autores (presença de ovos, maturidade gonadal, entre outros). CCOORR:: sua descrição baseia-se, principalmente, em dados da literatura e quando possível proveniente de exemplares recém-coletados. HHAABBIITTAATT:: reúne informações e dados sobre batimetria, tipos de fundo e hábitos de vida da espécie estudada. MMAATTEERRIIAALL EEXXAAMMIINNAADDOO:: organizado em ordem geográfica no sentido norte-sul, apresentando sua localidade, data de coleta, número de indivíduos, sexo, coleção depositária e número de registro, quando existentes. DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA:: inclui todas as ocorrências verificadas na literatura, acrescidas daquelas do material examinado nas coleções. As localidades registradas estão organizadas por oceanos e em ordem geográfica norte-sul. MMAAPPAASS DDEE DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO:: acompanha cada espécie para melhor visualização da distribuição geográfica. IILLUUSSTTRRAAÇÇÕÕEESS:: realizadas com o auxílio de câmera fotográfica digital e quando não disponíveis foram utilizados desenhos. As discussões biogeográficas e ecológicas com base nos padrões distribucionais propostos por Melo (1985) foram tratadas na discussão geral, uma vez que as discussões taxonômicas foram elaboradas no item observações de cada táxon. O significado das abreviações e siglas utilizadas são apresentados no quadro 1. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 29 c.c. comprimento da carapaça c.t. comprimento total DOCEAN Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco est. estação (s) fig. (s) figura (s) GEDIP Projeto Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria da Pesca do Governo do Rio Grande do Sul IRScNB Institut royal des Sciences naturelles de Belgique (Bruxelas) m metro (s) MBT Projeto Mini Biological Trawl MCZ Museum of Comparative Zoology (Harvard) mm milímetro (s) MML Museu Professor Mello Leitão (Espírito Santo) MNHN Muséum National d’Histoire Naturelle (Paris) MNRJ Museu Nacional do Rio de Janeiro MT Det Kongelige Norske Videnskabers Selskabs Museum (Noruega) MZUSP Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo NHM The Natural History Museum (Londres) NHMW Naturhistorisches Hofmuseum (Áustria) ov. ovígera (s) PADCT Projeto importância e caracterização de quebra da plataforma continental para recursos vivos e não vivos Proj. Projeto (s) REVIZEE Programa de Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva RMNH Rijksmuseum van Natuurlijke Historie (Leiden) SAM South African Museum (Cidade do Cabo) SOL Projeto Sardinhas, Ovos e Larvas TAAF Projeto Terres Australes et Antarctiques Françaises UFPA Universidade Federal do Pará UMML Institute of Marine and Atmospheric Science, University of Miami (Flórida) USNM National Museum of Natural History (Washington) UZM Universitetets Zoologiske Museum (Copenhagem) ZMB Zoologisches Museum der Humboldt-Universitat (Berlim) Quadro 1. Lista de abreviações e siglas utilizadas. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 30 Figura 2. Principais caracteres morfológicos da família Palinuridae. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 31 Figura 3. Desenho esquemático destacando os principais caracteres morfológicos da família Palinuridae (modificado de Holthuis, 1991). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 32 Figura 4. Principais caracteres morfológicos da família Scyllaridae. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 33 Figura 5. Desenho esquemático destacando os principais caracteres morfológicos da família Scyllaridae (modificado de Holthuis, 1985). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 34 Figura 6. Principais caracteres morfológicos da família Polychelidae. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 35 Figura 7. Desenho esquemático destacando os principais caracteres morfológicos da família Polychelidae (modificado de Poore, 2004). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 36 RREESSUULLTTAADDOOSS DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 37 A classificação adotada foi modificada de Scholtz e Richter (1995), Martin e Davis (2001) e De Grave et al. (2009). Subfilo Crustacea Br�nnich, 1772 Classe Malacostraca Latreille, 1802 Subclasse Eumalacostraca Gröbben, 1892 Ordem Decapoda Latreille, 1802 Subordem Pleocyemata Burkenroad, 1963 Infraordem Achelata Scholtz & Richter, 1995 Superfamília Palinuroidea Latreille, 1802 Família Palinuridae Latreille, 1802 Família Scyllaridae Latreille, 1825 Infraordem Polychelida De Haan, 1841 Superfamília Eryonoidea de Haan, 1841 Família Polychelidae Wood-Mason, 1874 DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 38 CCHHAAVVEE PPAARRAA IINNFFRRAAOORRDDEENNSS DDAA SSUUBBOORRDDEEMM PPLLEEOOCCYYEEMMAATTAA 1. Corpo geralmente comprimido lateralmente. Escafocerito desenvolvido. Antênula com estilocerito. Pleópodos bem desenvolvidos com função natatória...............2 1´. Corpo comprimido dorsoventralmente. Escafocerito pouco desenvolvido ou ausente. Antênula sem estilocerito. Pleópodos pequenos sem função natatória...............................................................................................................4 2. Terceiro par de pereiópodos quelado. Pleura do segundo somito abdominal com porção anterior recoberta pela pleura do primeiro somito....................................3 2´. Terceiro par de pereiópodos simples. Pleura do segundo somito abdominal recobre a porção posterior da pleura do primeiro somito.......................CARIDEA 3. Terceiro par de pereiópodos pouco maior do que o segundo par. Carpo e própodo dos pereiópodos 4 e 5 não segmentados. Primeiro pleópodo do macho modificado em petasma.....................................................................PENAEIDEA 3´. Terceiro par de pereiópodos muito mais robusto do que o segundo par. Carpo e própodo dos pereiópodos 4 e 5 segmentados. Primeiro pleópodo do macho não modificado.................................................................................STENOPODIDEA 4. Abdome assimétrico não dobrado ventralmente. Quinto par de pereiópodos muito modificado e diferente dos pares anteriores..............................ANOMURA 4´. Abdome simétrico. Quinto par de pereiópodos semelhante aos pares anteriores .............................................................................................................................5 5. Abdome curto e dobrado sobre sua ampla região esternal. Sem urópodos (exceto em Dromiidae)....................................................................BRACHYURA 5´. Abdome grande e estendido. Presença de urópodos...........................................6 6. Pleuras abdominais muito reduzidas, que não se encaixam quando o abdome se dobra ventralmente...............................................................THALASSINIDEA DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 39 6´. Pleuras abdominais bem desenvolvidas, que se encaixam quando o abdome se dobra ventralmente.............................................................................................7 7. Rostro muito desenvolvido e pontiagudo. Primeiros 3 pares de pereiópodos quelados, sendo o primeiro par muito mais robusto..........................ASTACIDEA 7´. Rostro pouco desenvolvido ou ausente...............................................................8 8. Ausência de quela nos pereiópodos 1-4............................................ACHELATA 8´. Presença de quela nos pereiópodos 1-4.......................................POLYCHELIDA DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 40 IInnffrraaoorrddeemm AAcchheellaattaa Scholtz & Richter, 1995 Palinurini Latreille, 1802: 31. Palinura Borradaile, 1907: 473; Barnard, 1950: 535; Williams, 1984: 170; Burukovskii, 1985: 133; Holthuis, 1985b: 5; D’Incao, 1999: 336; Martin & Davis, 2001: 47; Dall´Occo, 2005: 50. Palinuridea Rodriguez, 1980: 193; Holthuis, 1991: 87; Hendrickx, 1995: 385; Coelho & Ramos-Porto, 1998: 387; Melo, 1999: 424; Calado & Narciso, 2002: 181. Achelata Scholtz & Richter, 1995: 298; Dixon et al., 2003: 964; Ahyong; O´Meally, 2004: 680; Schram; Dixon, 2004: 1; Poore, 2004: 197; De Grave et al., 2009: 22. DDIIAAGGNNOOSSEE:: Corpo subcilíndrico ou achatado dorsoventralmente. Presença de rostro pouco desenvolvido ou ausente. Antenas longas, cilíndricas, robustas e delgadas ou curtas e fortemente achatadas dorsoventralmente. Olhos móveis e pigmentados. Pereiópodos 1-4 não quelados, podendo estar presente aparente subquela no primeiro pereiópodo dos machos em alguns gêneros. Abdome desenvolvido e simétrico. Pleuras abdominais proeminentes. Telso arredondado. Presença de urópodos. OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: Estudos filogenéticos realizados por autores como Dixon et al. (2003), Ahyong e O´Meally (2004), Schram e Dixon (2004), Palero et al. (2009) e Tsang et al. (2009) corroboram a exclusão, proposta por Scholtz e Richter (1995), da família Polychelidae da infraordem Palinura e a substituição do nome desta infraordem para Achelata com o objetivo de desvincular a nova classificação de seu significado inicial. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 41 SSuuppeerrffaammíílliiaa PPaalliinnuurrooiiddeeaa Latreille, 1802 Palinurini Latreille, 1802: 31. Palinuroidea Holthuis, 1991: 90; Melo, 1999: 425; Dall´Occo, 2005: 51. DDIIAAGGNNOOSSEE:: Corpo subcilíndrico ou achatado dorsoventralmente. Presença de rostro pouco desenvolvido ou ausente. Antenas longas, cilíndricas, robustas e delgadas ou curtas e fortemente achatadas dorsoventralmente. Olhos móveis e pigmentados. Pereiópodos 1-4 não quelados, podendo estar presente aparente subquela no primeiro pereiópodo dos machos em alguns gêneros. Abdome desenvolvido e simétrico. Pleuras abdominais proeminentes. Telso arredondado. Presença de urópodos. CCHHAAVVEE PPAARRAA FFAAMMÍÍLLIIAASS DDAA SSUUPPEERRFFAAMMÍÍLLIIAA PPAALLIINNUURROOIIDDEEAA 1. Corpo fortemente achatado dorsoventralmente. Antena curta e achatada; flagelo antenal reduzido a uma única placa (em forma de escama) que forma o sexto e último segmento da antena.................................................................Scyllaridae 1’. Corpo subcilíndrico. Antena e flagelo antenal longos e cilíndricos ........................................................................................................... Palinuridae DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 42 FFaammíílliiaa PPaalliinnuurriiddaaee Latreille, 1802 Palinurini Latreille, 1802: 31. Palinuridae Dana, 1852b: 519; Moreira, 1901: 16; Rathbun, 1901: 98; Borradaile, 1907: 474; Verril, 1922: 7; Faria & Silva, 1937: 6; Barnard, 1950: 535; Dees, 1963: 1; Williams: 1965: 91; 1984: 170; 1986: 7; Felder, 1973: 24; Fischer, 1978: não paginado; Rodriguez, 1980: 199; Coelho & Ramos-Porto, 1983/85: 61; 1998: 389; Burukovskii, 1985: 135; Abele & Kim, 1986: 313; Holthuis, 1987: 303; 1991: 91; Falcial & Minervini, 1992a: 135; 1992b: pl.10; Retamal, 1994: 63; Hendrickx, 1995: 402; D´Incao, 1999: 342; Melo, 1999: 427; Calado & Narciso, 2002: 181; Tavares, 2003: 312; Poore, 2004: 198; Dall´Occo, 2005: 52; De Grave et al., 2009: 23. Synaxidae Bate, 1881: 228; Fischer, 1978: não paginado; Holthuis, 1991: 166; Coelho & Ramos-Porto, 1998: 387; Melo, 1999: 426; Tavares, 2003: 297; Dall´Occo, 2005: 88. Araeosternidae De Man, 1881: 137. DDIIAAGGNNOOSSEE:: Presença de rostro pouco desenvolvido ou ausente. Carapaça subcilíndrica, com numerosos e fortes espinhos ou desarmada e densamente pilosa. Antenas cilíndricas e delgadas, ultrapassando ou não o comprimento do corpo. Olhos móveis e pigmentados. Pereiópodos 1-4 não quelados, podendo estar presente aparente subquela no primeiro pereiópodo dos machos em alguns gêneros. Abdome desenvolvido. Telso arredondado. GGÊÊNNEERROO--TTIIPPOO:: Palinurus Weber, 1795. EELLEENNCCOO DDEE GGÊÊNNEERROOSS:: Jasus, Justitia, Linuparus, Nupalirus, Palibythus, Palinurellus, Palinurus, Palinustus, Panulirus, Projasus, Puerulus e Sagmariasus. OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: Seguindo a classificação proposta por De Grave et al. (2009), que corrobora as sugestões de Davie (1990), Patek e Oakley (2003), George (2006), DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 43 Palero et al. (2009), Bracken et al. (2009) e Tsang et al. (2009), decorrente da descoberta de Palybithus magnificus Davie, 1990 que ao contrário das demais espécies da família Synaxidae apresenta órgão estridulador, considera-se no presente trabalho a família Synaxidae como sinônimo de Palinuridae. CCHHAAVVEE PPAARRAA OOSS GGÊÊNNEERROOSS DDAA FFAAMMÍÍLLIIAA PPAALLIINNUURRIIDDAAEE NNOO AATTLLÂÂNNTTIICCOO 1. Ausência de rostro distinto. Carapaça com numerosos e fortes espinhos. Antena mais longa do que o comprimento do corpo. Presença de fortes espinhos supraorbitais............................................................................................................2 1’. Presença de pequeno rostro formado por uma placa larga e achatada, triangular ou arredondada. Carapaça desarmada e densamente pilosa. Antena mais curta do que o comprimento do corpo. Ausência de espinhos supraorbitais ..............................................................................................................Palinurellus 2. Carapaça ornada com placas em forma de escamas. Abdome com 4 ou 5 sulcos transversais em cada somito........................................................................Justitia 2’. Ausência de placas em forma de escamas na carapaça. Abdome liso ou com até 2 sulcos transversais em cada somito....................................................................3 3. Flagelos antenulares longos, ultrapassando o comprimento do pedúnculo antenular...................................................................................................Panulirus 3’. Flagelos antenulares curtos, menores do que o último segmento do pedúnculo antenular.................................................................................................................4 4. Placa antenular não distinta entre a base das antenas. Somitos abdominais com ornamentações em forma de escama, anteriores ao sulco transversal.........Jasus 4’. Placa antenular distinta ou pouco distinta entre a base das antenas. Somitos abdominais sem ornamentações em forma de escama.........................................5 DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 44 5. Espinhos supraorbitais sem ponta aguda, com margem anterior denteada. Primeiro segmento do pedúnculo antenular ultrapassa o comprimento do pedúnculo antenal...................................................................................Palinustus 5’. Espinhos supraorbitais pontiagudos. Primeiro segmento do pedúnculo antenular não ultrapassa o comprimento do pedúnculo antenal............................................6 6. Margem anterior da carapaça com cerca de 10 dentículos pontiagudos entre os espinhos supraorbitais. Pleura dos somitos abdominais 2-5 com forte dente distal seguido por lobo denticulado na margem posterior..................................Palinurus 6’. Margem anterior da carapaça desarmada ou com pequeno rostro triangular entre os espinhos supraorbitais. Pleura dos somitos abdominais 2-5 terminando em 2 dentes pontiagudos....................................................................................Projasus DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 45 GGêênneerroo JJaassuuss Parker, 1883 Jasus Parker, 1883: 190; Barnard, 1950: 537; Postel, 1966: 403; Paterson, 1968: 7; Burukovskii, 1985: 136; Williams, 1986: 11; Holthuis, 1991: 95; Booth, 2006: 340. Palinostus Bate, 1888: 56. Palinosytus Bate, 1888: 93. DDIIAAGGNNOOSSEE:: Carapaça sem projeções em forma de escama. Presença de distintos espinhos supraorbitais bem separados, permitindo a visualização da margem anterior da carapaça. Flagelo antenal grande e flexível. Placa antenular não distinta entre as bases das antenas. Ausência de órgão estridulador. Flagelo das antênulas mais curto do que o último segmento do pedúnculo antenular. Primeiro par de pereiópodos de tamanho semelhante aos demais e sem pinça. Abdome de coloração variada, com projeções escamiformes. Ausência de pleópodos no primeiro e sexto somitos abdominais em ambos os sexos. EESSPPÉÉCCIIEE--TTIIPPOO:: Palinurus lalandii H. Milne Edwards, 1837 [selecionado por Holthuis (1960)]. OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: O gênero Jasus é composto por espécies de interesse comercial, de ocorrência restrita a zonas temperadas do hemisfério sul, porém nenhum outro palinurídeo apresenta tão ampla distribuição no hemisfério sul. Algumas espécies vivem em pequenos grupos de ilhas remotas como Tristão da Cunha, St. Paul, New Amsterdam e Ilhas Desventuradas. Sendo as únicas grandes massas de terra habitadas por este gênero, o Sul da África, a Austrália e a Nova Zelândia. (HOLTHUIS, 1991; BOOTH, 2006). É encontrado próximo à costa, em recifes de rochas, da zona intertidal até 200m (ocasionalmente 400m), mas também em cordilheiras, bancos e montanhas em alto mar. Forrageiam ao anoitecer e amanhecer, alimentando-se de algas e grande variedade de espécies sésseis ou lentas. As lagostas do gênero Jasus foram separadas em dois grupos: “verreauxi” e “lalandii” e durante muitos anos os espécimes capturados comercialmente em diversas áreas eram todos considerados pertencentes à espécie Jasus lalandii, até DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 46 que Holthuis (1963) separou as espécies do grupo “lalandii” em 6 espécies diferentes com suas respectivas localidades de ocorrência: Jasus edwardsii (Nova Zelândia), J. frontalis (Juan Fernandez - Chile), J. lalandii (África do Sul), J. novaehollandiae (Austrália), J. paulensis (Ilhas St. Paul e New Amsterdam – Oceano Índico sul) e J. tristani (Tristão da Cunha – Oceano Atlântico sul), diferenciando-as pela coloração, variações nos espinhos da carapaça e nos padrões das ornamentações em forma de escama dos somitos abdominais. O grupo “lalandii” foi então subdividido, por Holthuis e Sivertsen (1967) em dois subgrupos, baseados no formato dos espinhos da carapaça, no tamanho da área lisa e na quantidade de ornamentações em forma de escama nos somitos abdominais: o subgrupo “lalandii” contendo J. lalandii, J. edwardsii e J. novaehollandiae e o subgrupo “frontalis” contendo J. frontalis, J. tristani e J. paulensis; corroborado por George e Kensler (1970) que ampliaram a lista de caracteres para distinguir as espécies do grupo “lalandii” e forneceram suporte adicional para a existência dos subgrupos. Análises de DNA confirmaram que J. frontalis, J. lalandii, J. paulensis, J. tristani e J. caveorum (descoberta em 1995 e inclusa no subgrupo “frontalis”) tratam-se de espécies distintas, mas promoveram a colocação de J. novaehollandiae na sinonímia de J. edwardsii (OVENDEN et al., 1997). Essas análises não corroboraram a subdivisão do grupo “lalandii” nos subgrupos, sugerindo que as distinções morfológicas e de coloração entre os adultos desses grupos podem ter menor significado evolutivo do que se pensava (BOOTH, 2006). O grupo “verreauxi” formado por uma única espécie, J. verreauxi, morfologicamente muito distinta das outras espécies do gênero Jasus, levou Holthuis (1991) a reconhecer a necessidade de criar dois subgêneros: Jasus (Sagmariasus) para J. verreauxi (presença de espinho rostral grande, antênulas robustas, presença de exópodo no terceiro maxilípodo, ausência de escamas no abdome, juvenis de coloração verde e adultos de coloração diferenciada) e Jasus (Jasus) para as outras espécies (ausência de espinho rostral grande, antênulas delgadas, ausência de exópodo no terceiro maxilípodo, presença de escamas no abdome, juvenis e adultos de coloração vermelha). Posteriormente, Sagmariasus foi elevado a gênero por Booth et al. (2002), contendo apenas a espécie Sagmariasus verreauxi. Segundo Booth (2006), as larvas das diferentes espécies do gênero Jasus não podem ser identificadas morfologicamente, sendo necessário o uso de DNA DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 47 mitocondrial. A maturidade sexual da fêmea ocorre entre 56,0 e 120,0mm c.c., de 3 a 7 anos após estabelecimento de hábitos bentônicos dependendo da espécie e localidade. Ambos os sexos possuem taxa de crescimento similar até a maturidade sexual onde as fêmeas passam a ter um incremento de muda menor, pois a maioria dos recursos é direcionada para a produção de ovos. Lagostas maduras, usualmente, realizam a ecdise uma vez ao ano ficando menos frequente em espécimes maiores. As espécies deste gênero apresentam importância comercial no Sul da África, Austrália e Nova Zelândia. O gerenciamento pesqueiro é realizado com o estabelecimento de cotas, proibição da captura de fêmeas ovígeras e restrições ao tamanho e período de pesca (defeso) (BOOTH, 2006). EELLEENNCCOO DDEE EESSPPÉÉCCIIEESS:: Jasus caveorum, J. edwardsii, J. frontalis, J. lalandii, J. paulensis e J. tristani. CCHHAAVVEE PPAARRAA AASS EESSPPÉÉCCIIEESS DDOO GGÊÊNNEERROO JJAASSUUSS NNOO AATTLLÂÂNNTTIICCOO 1. Espinhos maiores da carapaça estreitos, quase do mesmo tamanho dos espinhos menores. Somitos abdominais com pequena área lisa anterior e projeções escamiformes pequenas e densas...........................................................J. lalandii 1’ Espinhos maiores da carapaça largos e achatados, muito maiores do que os espinhos menores. Somitos abdominais com extensa área lisa anterior e relativamente poucas projeções escamiformes....................................... J. tristani DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 48 JJaassuuss llaallaannddiiii (H. Milne Edwards, 1837) Palinurus Lalandii H. Milne Edwards, 1837b: 293; 1838b: 168; White, 1847: 69; Dana, 1852b: 519; Pfeffer, 1881: 29. Palinurus Lalandei; Stimpson, 1860: 24; Gruvel, 1910: 1001; 1911b: 10, 1911c: 144. Palinurus (Jasus) lalandii; Parker, 1883: 190; 1884: 304; 1887: 151; Gilchrist, 1913: 1. Jasus lalandii; Ortmann, 1891: 16; Stebbing, 1900: 30; 1902: 38; 1910: 374; 1914: 282; von Bonde & Marchand, 1935: 1; von Bonde, 1938: 143; Barnard, 1950: 538; Paterson, 1968: 8; Burukovskii, 1985: 137; Williams, 1986: 12; Bianchi et al., 1999: 37. Jasus lalandei; Holthuis, 1946: 146. Jasus (Jasus) lalandii; Holthuis, 1991: 99; Udekem d´Acoz, 1999: 142. TTIIPPOOSS:: Dois síntipos conservados a seco (MNHN), sendo o lote Pa 437 escolhido como lectótipo e Pa 433 como paralectótipo, segundo Holthuis (1991). LLOOCCAALLIIDDAADDEE--TTIIPPOO:: Cabo da Boa Esperança, África do Sul. DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO:: Carapaça armada com espinhos de diferentes tamanhos, sendo os espinhos maiores estreitos, quase do mesmo tamanho dos espinhos menores, espinho rostral pontiagudo; espinhos supraorbitais direcionados para cima e curvados para frente, sendo a margem superior pouco mais convexa do que a inferior, seguidos por fileira longitudinal convergente posteriormente, com 4 fortes e largos espinhos de tamanho decrescente, entre as 2 fileiras de espinhos, sendo 1 espinho mediano forte na metade da distância entre o espinho rostral e o sulco cervical e 1 espinho fortemente achatado no lado externo das fileiras, entre o terceiro e quarto espinhos; presença de forte espinho antenal na margem anterior da carapaça, seguido por 2 distintos espinhos achatados; 2 fortes espinhos entre os espinhos pós-supraorbitais e antenais, demais espinhos menores e achatados; sulco cervical bem marcado seguido posteriormente por 2 fileiras submedianas, com cerca de 3 espinhos mais distintos do que os demais; fileira longitudinal de espinhos maiores na região lateral, atrás do sulco cervical; espaços entre os espinhos maiores DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 49 com numerosos espinhos achatados; margem posterior da carapaça armada com fileira transversal de espinhos. Placa antenular não distinta entre as bases das antenas, porém é visível a presença de 2 dentes pontiagudos e paralelos situados de cada lado e ligeiramente abaixo do espinho rostral. Ausência de órgão estridulador. Flagelo da antênula curto, menor do que o último segmento do pedúnculo antenular. Pedúnculo antenal com projeções escamiformes e fortes espinhos; flagelo longo, maior do que o comprimento do corpo. Maxilípodos bem desenvolvidos e com longo flagelo. Esterno torácico com profunda depressão mediana longitudinal, margem anterior triangular, região entre o primeiro e segundo pereiópodos com projeção lateral arredondada, presente, também, entre os demais pereiópodos, porém maior e triangular, margem posterior com 2 projeções lateralmente comprimidas. Primeiro pereiópodo mais robusto do que os demais, ísquio e mero com forte espinho distal na face interna. Faces superior e externa dos pereiópodos com grânulos escamiformes. Quinto pereiópodo da fêmea quelado. Região anterior do primeiro somito abdominal com grande área lisa, seguida por delgada fileira de ornamentações escamiformes anterior ao sulco transversal; região posterior ao sulco cervical com ornamentações em forma de escama. Somitos abdominais 2-6 cobertos por densas ornamentações escamiformes, com estreita área lisa anterior, margem posterior de cada somito com estreita faixa transversal lisa; presença de distinto sulco transversal. Pleura do primeiro somito triangular. Pleura dos somitos 2-5 terminando em 2 dentes pontiagudos, direcionados posteriormente, sendo o dente distal maior e separado do anterior por distinta concavidade na margem posterior da pleura. Pleura do sexto somito terminando em único dente pontiagudo. Pleópodos ausentes no primeiro e no sexto somitos abdominais em ambos os sexos. Telso com fileiras longitudinais de espínulos na região membranosa, exceto na região ao longo da margem posterior; regiões basal e lateral calcificadas. TTAAMMAANNHHOO ((mmmm)):: Maior comprimento total 460,0 c.t. e maior comprimento da carapaça 180,0 c.c., relativo à espécie, de acordo com Holthuis (1991). Segundo Bianchi et al. (1999), as fêmeas atingem maturidade sexual entre 57,0 e 59,0 c.c. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 50 CCOORR:: Corpo de coloração marrom avermelhada; espinhos e ornamentações escamiformes marrom escuro. Pereiópodos de coloração marrom alaranjado, face superior com listra longitudinal mediana mais clara; face externa de coloração mais escura, com aspecto manchado. Pedúnculo antenular e flagelo antenal com listras esbranquiçadas. Presença de delgada mancha longitudinal, arqueada e branca de cada lado dos somitos abdominais 2-6, que no sexto somito une-se à mancha longitudinal mediana através de uma linha transversal, todas de coloração branca. Região proximal do telso com 3 manchas brancas, sendo 1 mediana e 2 laterais. HHAABBIITTAATT:: Espécie encontrada desde águas costeiras (região intertidal) até 100m de profundidade, em fundos rochosos e às vezes em substratos de areia e lama (KENSLEY, 1983; HOLTHUIS, 1991; BIANCHI et al., 1999). Alimentam-se de mexilhões, pepinos-do-mar, cracas, esponjas e algas (MAYFIELD; BRANCH, 2000). DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA:: Atlântico Oriental: da Namíbia (Cape Cross) até a África do Sul (ao redor do Cabo da Boa Esperança, até Algoa Bay, na Cidade do Cabo). OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: A definição sobre a correta grafia do nome específico (lalandii ou lalandei), nome dado em homenagem a Pierre de la Lande, foi definida a favor de lalandii pela International Commission on Zoological Nomenclature (opinion 612). Segundo Udekem d´Acoz (1999), a captura de um exemplar em Portugal, relatada por Guerra e Gaudêncio (1982), trata-se de um espécime acidentalmente transportado pela ação humana. A exploração desta espécie é de grande importância na sua área de ocorrência, sendo tanto consumida localmente quanto exportada; atualmente é considerada superexplotada na Namíbia e África do Sul. Sua pesca é regulamentada com a proibição da captura de fêmeas ovígeras, “pós-muda” e espécimes cujo comprimento da carapaça seja inferior a 85,0mm, pelo estabelecimento do período de defeso e do limite diário de espécimes por pescador (HOLTHUIS, 1991). Apesar de J. lalandii ter sido a primeira espécie de palinurídeo a ser cultivada em aquicultura, levando 10 meses do ovo ao assentamento, ainda não há produção comercial significativa (BOOTH, 2006). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 51 Figura 8. Distribuição geográfica de Jasus lalandii. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 52 Figura 9. Jasus lalandii. A. vista dorsal, B. carapaça (vista dorsal), C. abdome (vista lateral). Fonte: FAO. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 53 JJaassuuss ttrriissttaannii Holthuis, 1963 Palinostus lalandii Bate, 1888: 86. Palinosytus lalandii; Stebbing, 1893: 196. Jasus Lalandei; Gruvel, 1911a: 1350; 1911b: 10. Jasus Lalandii; De Man, 1916: 31. Jasus lalandei frontalis; Holthuis, 1946: 150. Jasus tristani Holthuis, 1963: 57; 1991: 103; Holthuis & Sivertsen, 1967: 7; Roscoe, 1979: 1; Pollock, 1981: 49; Burukovskii, 1985: 137; Williams, 1986: 14. TTIIPPOOSS:: Holótipo macho (MT) e parátipos (MT e RMNH) (HOLTHUIS, 1991). LLOOCCAALLIIDDAADDEE--TTIIPPOO:: Arquipélago de Tristão da Cunha. DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO:: Carapaça armada com espinhos de diferentes tamanhos, sendo os espinhos maiores largos e achatados; espinho rostral pontiagudo e levemente direcionado para cima; espinhos supraorbitais direcionados para cima e curvados para frente, sendo a margem superior pouco mais convexa do que a inferior, seguidos por fileira longitudinal de 4 fortes espinhos, sendo os 2 últimos achatados e largos; entre as 2 fileiras de espinhos 1 espinho mediano forte na metade da distância entre o espinho rostral e o sulco cervical, presença de espinho fortemente achatado no lado externo das fileiras, entre o terceiro e quarto espinhos; espinho antenal seguido por 2 grandes espinhos achatados, sendo o posterior menor; 1 ou 2 fortes espinhos entre os espinhos pós-supraorbitais e antenais, demais espinhos diminutos, achatados e cercados por cerdas curtas; 2 fileiras submedianas com 3-4 espinhos achatados posteriores ao sulco cervical; presença de fileira longitudinal com fortes espinhos achatados na região lateral posterior ao sulco cervical; entre as fileiras submediana e lateral espinhos achatados dispostos em 3 ou 4 fileiras longitudinais; margem posterior da carapaça com fileira transversal de espinhos fortemente achatados. Placa antenular não distinta entre as bases das antenas, porém é visível a presença de 2 dentes pontiagudos e paralelos situados de cada lado e ligeiramente abaixo do espinho rostral. Ausência de órgão estridulador. Flagelo da antênula curto, DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 54 menor do que o último segmento do pedúnculo antenular. Segmento basal do pedúnculo antenal com forte espinho na face externa; face interna com forte espinho na articulação; face externa do segundo segmento com 2 espinhos medianos, seguidos por forte espinho; face interna com 3 fortes espinhos medianos, seguidos por 2 espinhos de tamanho decrescente; face externa do terceiro segmento com 2 fortes espinhos medianos e 3 espinhos regularmente separados, face superior com forte espinho proximal e 2 espinhos maiores seguidos por fileira longitudinal de espinhos posicionados alternadamente. Faces superior e ventral do pedúnculo antenal com ornamentações escamiformes. Maxilípodos bem desenvolvidos e com longo flagelo. Ísquio do primeiro pereiópodo sem espinho anterodorsal, com distinto espinho anteroventral seguido por espínulos; mero com espinho distal na face superior e espinho proximal na face ventral, face externa com espinho distal e pequenas franjas escamiformes, exceto por área longitudinal delgada; região externa da face superior do carpo com raso sulco longitudinal, pequenas ornamentações escamiformes, franja de cerdas e fileira longitudinal com 8-12 espínulos; própodo com tubérculos e franja de cerdas na face externa. Pubescência e espinulação do ísquio, mero e carpo dos demais pereiópodos similar ao do primeiro, exceto pela ausência de espinho anteroventral. Quinto pereiópodo da fêmea quelado. Esterno torácico entre a base do primeiro pereiópodo, forma elevação separada em 2 partes por profunda fissura; região anterior termina em 2 dentes triangulares sem ponta, sendo o posterior maior; região posterior termina anteriormente em dente triangular inclinado gradualmente para baixo, com 1 ou 2 dentes adicionais indistintos. Área mediana do esterno lisa e desarmada, elevada na região lateral mediana de cada esternito, áreas intermediárias com tubérculos cercados por cerdas. Primeiro somito abdominal com sulco transversal largo, região anterior ao sulco lisa, região posterior com fileiras de pequenos tubérculos anteriormente cercados por franja de cerdas; região lateral termina em forte dente agudo. Região anterior ao sulco transversal dos somitos 2-5 lisa, exceto pela presença de 1 ou 2 fileiras transversais de ornamentações escamiformes na metade posterior; presença de fileira de pequenas ornamentações escamiformes posteriores ao sulco transversal, margem posterior dos somitos com larga área lisa. Sexto somito com região central escamiforme e áreas lisas ao longo das margens anterior, posterior e na base das DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 55 pleuras, presença de pequenas ornamentações escamiformes antes do sulco transversal; margem posterior denticulada. Pleura dos somitos 2-5 termina em 2 dentes pontiagudos direcionados posteriormente, sendo o inferior maior e separado por distinta margem côncava. Pleura do terceiro somito, e às vezes do segundo e quarto, com margem posterior denteada. Pleópodos ausentes no primeiro e sexto somitos abdominais em ambos os sexos. Telso com fileiras longitudinais de fortes espínulos na região membranosa, exceto na região ao longo da margem posterior; região basal e lateral calcificadas e com fortes espinhos na margem posterior, áreas laterais calcificadas com ornamentações escamiformes. TTAAMMAANNHHOO ((mmmm)):: Maior macho 145,0 c.c. e maior fêmea 100,0 c.c. (HOLTHUIS; SIVERTSEN, 1967). CCOORR:: Carapaça púrpura avermelhada com pequenas manchas brancas; espinhos com uma ou mais manchas grandes dorsais; face interna do espinho supraorbital roxo escuro com pequenas manchas, face externa laranja escuro com manchas. Órbita laranja escuro com grandes manchas brancas. Pereiópodos púrpuras ou laranja escuro com manchas brancas; coloração branca dominante na face ventral do própodo e mero e na região basal interna dos pereiópodos. Abdome roxo com pequenas manchas brancas regularmente espalhadas; presença de 2 curtas manchas longitudinais brancas próximas à margem anterior dos somitos 1-5, direcionadas para trás e para fora, maior e de formato triangular no primeiro somito, no sexto somito essas manchas tornam-se mais alogadas e unem-se com mancha longitudinal mediana através de uma linha transversal. Terminação das pleuras branca (HOLTHUIS; SIVERTSEN, 1967). HHAABBIITTAATT:: Encontrada em profundidades de até 200m, com maior concentração populacional entre 20 e 40m. Presente em fundos de cascalho ou conchas, com preferência por fundos rochosos (HOLTHUIS, 1991). DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA:: Atlântico Oriental: Arquipélago de Tristão da Cunha. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 56 OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: Espécie citada como Jasus, Palinostus, ou Palinosytus lalandii na literatura mais antiga. Segundo Holthuis (1991), a pesca em larga escala só foi iniciada a partir de 1950 com a instalação de companhias pesqueiras. Devido às severas condições climáticas da região do Arquipélago de Tristão da Cunha só é possível pescar por cerca de 70 dias ao ano. Figura 10. Distribuição geográfica de Jasus tristani. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 57 Figura 11. Jasus tristani. A. vista dorsal, B. vista lateral (HOLTHUIS, 1991). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 58 GGêênneerroo JJuussttiittiiaa Holthuis, 1946 Palinurus H. Milne Edwards, 1837b: 294; Barnard, 1950: 541. Justitia Holthuis, 1946: 115; 1991: 107; Postel, 1966: 403; Fischer, 1978: não paginado; Coelho & Ramos-Porto, 1983/85: 61; 1998: 389; Burukovskii, 1985: 136; Melo, 1999: 429; Tavares; 2003: 313; Dall´Occo, 2005: 54. DDIIAAGGNNOOSSEE:: Carapaça ornada com placas em forma de escamas. Presença de órgão estridulador. Espinhos supraorbitais pontiagudos e fortemente comprimidos lateralmente, formando um arco côncavo com a margem anterior da carapaça, composto por 2 ou 3 espinhos dorsais. Flagelo antenular curto. Primeiro par de pereiópodos maior do que os demais, com largas listras vermelhas, sendo subquelado nos machos, onde o dátilo é fortemente curvado para baixo. Abdome sem projeções escamiformes. Somitos abdominais com 4 ou 5 sulcos transversais; coloração vermelha, com manchas e listras amarelas. Presença de pleópodos no primeiro somito das fêmeas. EELLEENNCCOO DDEE EESSPPÉÉCCIIEESS:: J. longimanus e J. mauritiana. EESSPPÉÉCCIIEE--TTIIPPOO:: Palinurus longimanus H. Milne Edwards, 1837b [por designação original]. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 59 JJuussttiittiiaa lloonnggiimmaannuuss (H. Milne Edwards, 1837) Palinurus longimanus H. Milne Edwards, 1837b: 294; 1838b: 171; Guérin- Méneville,1857: xliii; Heller, 1865: 94; von Martens, 1872: 125; Boas, 1880: 91; Lucas, 1883: lvii; Ortmann, 1891: 20; Kingsley, 1899: 823; Young, 1900: 434; Gruvel, 1911a: 1350; 1911b: 17, pl. I, fig. 3; Bouvier, 1913b: 82, 83; 1917: 88; 1925: 442, pl. 8, fig. I; Torralbas, 1917: 543, fig. 47-48; Verril, 1922: fig. 2; Schmitt, 1935: 173, fig. 37; Barnard, 1950: 544. Palinurus longimanus var. mauritianus; Miers, 1882: 540; Bouvier, 1915c: 187. Palinussus [sic] longuimanus [sic] var. mauritianus; Bouvier, 1910: 376 [error]. Palinurus longimanus var. Mauritianus; Gruvel, 1911b: 18. Justitia longimanus; Holthuis, 1946: 115; 1991: 109; Hazlett & Winn, 1962: 741; Baisre, 1969: 182; Fischer, 1978: não paginado; Abele & Kim, 1986: 313; Poupin, 1994: 29; Coelho & Ramos-Porto, 1998: 389; Melo, 1999: 430; Cobo et al., 2002: 156; Tavares, 2003: 315; Dall´Occo, 2005: 55. Justitia longimana; Monod & Postel, 1968: 178; Rodriguez, 1980: 203; Coelho & Ramos-Porto, 1983/85: 61; Burukovskii, 1985: 138. TTIIPPOO:: Lectótipo (MNHN Pa 421), designado por Holthuis (1991). LLOOCCAALLIIDDAADDEE--TTIIPPOO:: Antilhas. DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO:: Espinho rostral forte, entre espinhos de menor tamanho em ambos os lados, seguido por 2 espinhos pós-rostrais, sendo o anterior maior. Carapaça arredondada, coberta por tubérculos em forma de escama; espinhos supraorbitais robustos, pontiagudos e fortemente achatados lateralmente, formando um arco côncavo com a margem anterior da carapaça, com 2 fortes espinhos dorsais; presença de fileira longitudinal com 3 espinhos pós-supraorbitais de tamanho decrescente; presença de 3 espinhos branquiais, o primeiro muito menor do que os demais; 2 espinhos antenais curvados, o primeiro maior e mais achatado dorsoventralmente; sulco cervical profundo e bem definido; fileira transversal com 8 a 10 espinhos pós-cervicais. Epístoma com 3 dentes bem afastados entre si. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 60 Placa antenular desarmada, com elevação lateral desenvolvida onde apoia-se o órgão estridulador. Comprimento da antênula ultrapassa o comprimento do pedúnculo antenal; flagelos antênulares curtos. Antena bem desenvolvida, pedúnculo coberto por tubérculos em forma de escama e armado com fortes espinhos, flagelo mais longo do que o corpo. Esterno torácico das fêmeas com 2 fileiras longitudinais, cada uma com 3 tubérculos; margem posterior do esterno com 2 fortes espinhos submedianos direcionados para trás. Nos machos primeiro esternito com par de tubérculos submedianos; segundo com 2 pares de tubérculos de mesmo formato; terceiro e quarto esternitos com 2 pares de tubérculos, sendo o par posterior muito mais largo; quinto esternito com único par de espinhos; margem posterior do esterno torácico com 4 espinhos direcionados para trás, sendo os 2 espinhos medianos maiores. Primeiro pereiópodo dos machos maior e mais robusto do que os demais; mero achatado lateralmente, face dorsal com 3 pequenos espinhos póstero-medianos e espinho terminal bem desenvolvido, face interna com 2 espinhos terminais e margem externa com espinho terminal; dátilo subquelado e fortemente curvado para baixo. Nas fêmeas o primeiro pereiópodo é mais robusto do que os demais e com dátilo simples. Mero dos pereiópodos com distinto sulco na face externa em ambos os sexos; face superior do carpo com fileira mediana de pequenos tubérculos e espinho terminal; própodo com fileira dorsal de tubérculos e projeção terminal da face ventral com tubérculos arredondados. Somitos abdominais com sulcos transversais delgados; segundo somito com 5 sulcos sendo o primeiro, segundo e quarto contínuos, terceiro mediano e quinto interrompido medianamente; somitos 3-5 com 4 sulcos, sendo o primeiro e terceiro contínuos, segundo mediano e quarto interrompido medianamente; sexto somito com largos sulcos oblíquos. Pleura do primeiro somito com margens retilíneas, terminando em ponta aguda. Pleuras dos somitos 2-5 com margens arredondadas, margem distal côncava terminando em 2 espinhos, o anterior muito maior, margem posterior discretamente denteada. Presença de pleópodo no primeiro somito das fêmeas. Região calcificada do leque caudal com tubérculos em forma de escama, margem posterior com espinhos de diferentes tamanhos, região membranosa com fileiras longitudinais de espínulos; margens laterais do telso e margem lateral externa dos urópodos com dentes escamiformes. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 61 Primeiro esternito abdominal das fêmeas com par de espinhos submedianos, sendo os demais esternitos desarmados. Nos machos primeiro esternito com 4 espinhos, sendo os 2 medianos maiores; esternitos 2-6 com par de espinhos submedianos que tornam-se progressivamente menos afastados entre si; par de espinhos do sexto esternito muito próximos entre si e seguidos posteriomente por 3 espinhos, sendo o mediano mais forte. TTAAMMAANNHHOO ((mmmm)):: Maior macho 65,0 c.c. (MZUSP 12929) e menor fêmea ovígera 42,0 c.c. (MNHN Pa 1400). CCOORR:: A ilustração de Debelius (2001) permite descrever detalhes da coloração sendo predominantemente avermelhada, região lateral da carapaça alaranjada e com sulcos vermelhos. Antênula avermelhada com manchas brancas transversais alongadas. Flagelo antenal avermelhado com largas listras alaranjadas. Primeiro pereiópodo laranja com largas manchas vermelhas e pequenas manchas brancas; face interna do mero, região distal do carpo e própodo vermelha; dátilo branco. Demais pereiópodos laranja com manchas brancas transversais e alongadas. Primeiro somito abdominal com 2 distintas manchas brancas submedianas dorsais; região anterolateral dos demais somitos com mancha circular branca, próxima às pleuras. Margens das pleuras com diminutas manchas brancas. Pleópodos e leque caudal rosados, com margens mais escuras e delgada listra branca mais externa. HHAABBIITTAATT:: Presente em profundidades de até 300m, usualmente entre 50 e 100m. Habitante da região externa das barreiras de recifes de coral (DEBELIUS, 2001). MMAATTEERRIIAALL EEXXAAMMIINNAADDOO:: POLINÉSIA: Polinésia Francesa - Arquipélago de Tuamotu (Tenarunga), 21°21’S: 136°32’W, 160m, 1� ov. (MNHN Pa 1400); Tahiti, 62m, 1� (MNHN Pa 1397); Ilha Reunião, 80-100m, 1� (MNHN Pa 93). BRASIL: Bahia - REVIZEE Benthos, est. 10, 17°6´S: 36°44´W, 50m, vii.2001, 1 juvenil (MNRJ 16260); Espírito Santo - TAAF MD 55/ Brasil 1987, est. 10, 20°42’S: 37°49’76’’W, 52m, v.1987, 1� (MZUSP 16094) e 1� (MZUSP 16095); Guarapari, x.2008, 1� (MZUSP 19898); Guarapebes, i.1986, 1� (MZUSP 12929); Jacaraípe, ii.1988, 1� (MZUSP 12930). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 62 DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA:: Atlântico Ocidental: Bermudas, Flórida, Antilhas (desde Cuba à Ilha Margarita na Venezuela), da Colômbia até a Guiana Francesa e Brasil (Fernando de Noronha, Rio Grande do Norte, Bahia e Espírito Santo). OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: Baisre (1969) descreveu uma larva com características da família Palinuridae, encontrada no conteúdo estomacal do peixe Katsuwonus pelamis (“bonito”), coletado ao norte de Cuba, descrevendo-a como um filosoma de Justitia longimanus, tendo como principal característica diagnóstica a presença de quela no primeiro pereiópodo, porém, verifica-se um equívoco na ilustração da face ventral, onde a quela encontra-se no segundo pereiópodo e não no primeiro como descrito. A ocorrência da espécie na costa da Bahia (Brasil) é aqui registrada pela primeira vez. Figura 12. Distribuição geográfica de Justitia longimanus. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 63 Figura 13. Justitia longimanus, macho, Espírito Santo (MZUSP 19898): A. vista dorsal, B. carapaça (vista dorsal), C. abdome (vista lateral). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 64 GGêênneerroo PPaalliinnuurreelllluuss von Martens, 1878 Phyllamphion Reinhardt, 1850: 2. Palinurellus von Martens, 1878: 131; Postel, 1966: 402; Michel, 1969: 1228; Coelho & Ramos-Porto, 1983/85: 61; 1998: 387; Burukovskii, 1985: 135; Holthuis, 1991: 168; Melo, 1999: 426; Dall´Occo, 2005: 89. Synaxes Bate, 1881: 228; 1888: 88. Araeosternus De Man, 1881: 137. DDIIAAGGNNOOSSEE:: Rostro curto e triangular, achatado dorsoventralmente. Corpo densamente coberto por curtas cerdas; margem lateral da carapaça sem fortes dentes posteriores ao dente anterolateral. Ausência de órgão estridulador. Esterno torácico estreito. Comprimento da antênula ultrapassa o comprimento do pedúnculo antenal, flagelo antenular curto. Antena cilíndrica, menor do que o comprimento da carapaça. Primeiro pereiópodo mais robusto do que os demais, com dátilo simples em ambos os sexos. Quinto pereiópodo subquelado nas fêmeas. Somitos abdominais 2-6 com carena mediana baixa e lisa. Presença de pleópodos no primeiro somito abdominal das fêmeas. Margem posterior das pleuras convexa. EELLEENNCCOO DDEE EESSPPÉÉCCIIEESS:: Palinurellus gundlachi; P. wieneckii. EESSPPÉÉCCIIEE--TTIIPPOO:: Palinurellus gundlachi von Martens, 1878 [por monotipia]. OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: Este gênero pertencia a família Synaxidae Bate, 1881, atualmente sinonimizada na família Palinuridae, devido a improbabilidade do surgimento independente do órgão estridulador (presente em Palybithus magnificus Davie, 1990, gênero até então, também, pertencente a família Synaxidae) uma vez na linhagem Silentes e outra nos Synaxidae, o que é corroborado por Davie (1990), Patek e Oakley (2003), George (2006), Palero et al. (2009), Bracken et al. (2009),Tsang et al. (2009) e De Grave et al. (2009). Assim Palybithus foi incluso no grupo dos Stridentes e Palinurellus nos Silentes. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 65 Palinurellus gundlachi von Martens, 1878 Palinurellus gundlachi von Martens, 1878: 131; Holthuis, 1946: 109; 1966: 263; Smith, 1948: 49; 1958: 12; Sims Jr., 1966a: 205; Fausto-Filho & Costa, 1969; 103; Michel, 1969: 1228; Fischer, 1978: não paginado; Rodriguez, 1980: 203; Coelho & Ramos-Porto, 1983/85: 61; 1998: 387; Burukovskii, 1985: 137; Melo, 1999: 466; Coelho & Santos, 2002: 96; Tavares, 2003: 311; Dall´Occo, 2005: 90; Dall´Occo et al., 2007: 48. Synaxes hybridica Bate, 1881: 220; 1888: 88. Palinurellus Gundlachi; Gruvel, 1911a: 1350; 1911b: 7. Palinurellus gundlachi gundlachi; Chace Jr. & Dumont, 1949: 11. Phyllamphion reinhardti Belloc, 1959: 1. TTIIPPOO:: Holótipo fêmea (ZMB 5833). LLOOCCAALLIIDDAADDEE--TTIIPPOO:: Camaricoia (leste de Matanzas), Cuba. DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO:: Rostro curto, triangular e achatado dorsoventralmente, com fileira longitudinal mediana com 8 diminutos dentes. Carapaça comprimida dorsoventralmente, desarmada e densamente coberta por curtas cerdas inseridas em pequenas elevações arredondadas; presença de distinto dente anterolateral; margem lateral da carapaça com dentículos, ausência de fortes dentes antenais; presença de distinta incisão cervical e profundo sulco cervical; margem posterior da carapaça com cerdas somente em sua porção mediana. Pedúnculo ocular pequeno e órbitas bem delimitadas, com pequenos dentes em toda a margem. Maxilípodo com epípodo bem desenvolvido. Ausência de órgão estridulador. Antênula pilosa, primeiro segmento do pedúnculo com cerca do dobro do tamanho dos demais; flagelos curtos. Antena pilosa, distintamente mais curta do que a carapaça; flagelo desarmado e com longas cerdas. Esterno torácico estreito e desarmado em ambos os sexos. Pereiópodos de tamanho decrescente, face ventral com densas fileiras de cerdas. Primeiro pereiópodo maior e mais robusto do que os demais; base e ísquio DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 66 curtos e fusionados, formando um único segmento triangular; mero longo, achatado lateralmente e com margens denticuladas; carpo triangular e pouco menor do que o própodo, sendo este curto; dátilo curvado para baixo, terminando em aguda ponta. Quinto pereiópodo subquelado nas fêmeas. Abdome coberto por cerdas, com carena mediana baixa e lisa nos somitos 2-5, menos visível no sexto somito; margem posterior do sexto somito discretamente denticulada. Pleuras abdominais dos somitos 2-5 denteadas e com margem posterior convexa; pleura do segundo somito com expansão anterior que alcança a diminuta pleura do primeiro somito. Presença de pleópodos no primeiro somito abdominal das fêmeas, sendo estes submedianos, unirremes e delgados; demais pleópodos birremes e de tamanho decrescente, endópodo delgado e exópodo foliáceo. Leque caudal bem desenvolvido. Telso retangular, com 2 discretas carenas paralelas que se prolongam até a margem posterior da região calcificada. Nas fêmeas, primeiro e segundo esternitos abdominais com dente mediano voltado para trás; esternitos 3-5 liso e último esternito com projeção convexa denteada. Nos machos, primeiro esternito apresenta espinho mediano; segundo e terceiro com espinho mediano maior entre fileira transversal de espínulos; esternitos 4 e 5 com espinhos de tamanhos similares e sexto esternito com projeção convexa denteada. TTAAMMAANNHHOO ((mmmm)):: Maior macho 78,0 c.c. (COELHO; SANTOS, 2002), maior fêmea 60,0 c.c. (MZUSP 12968) e menor fêmea ovígera 46,0 c.c. (COELHO; SANTOS, 2002). CCOORR:: Detalhes da coloração não são fornecidos na literatura, sendo apenas descrita por alguns autores como uniformemente laranja-brilhante ou vermelho-coral, o que é corroborado pela foto apresentada por Debelius (2001) e pela breve descrição de Coelho e Santos (2002), onde nota-se a predominância da coloração alaranjada, sendo distintamente amareladas as cerdas e as elevações onde estas estão inseridas; face ventral do corpo vermelho-alaranjada. A observação da coloração nos exemplares examinados não foi possível devido à perda da cor, causada pela conservação em etanol. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 67 HHAABBIITTAATT:: Encontrada em profundidades entre 1,5 e 35m. Presente, principalmente, em lugares inacessíveis entre rochas e corais, sendo considerada muito rara (HOLTHUIS, 1991). Em substratos de areia, rocha, cascalho e areno-lamosos (COELHO; RAMOS-PORTO, 1994/95; COELHO; SANTOS, 2002). MMAATTEERRIIAALL EEXXAAMMIINNAADDOO:: BRASIL: Rio Grande do Norte - Atol das Rocas, 6m, viii.1996, 1� (MZUSP 12968); Espírito Santo - Baía de Vitória, vii. 2002, 1� (MZUSP 17377); Ilha Escalvada, Guarapari, 20m, 1� (MML 11). Sem localidade - 1� (MNRJ 15671). DDIISSTTRRIIBBUUIIÇÇÃÃOO GGEEOOGGRRÁÁFFIICCAA:: Atlântico Ocidental: Bermudas, sul da Flórida, Bahamas, Yucatán, Caribe (de Cuba a Barbados), Curaçao e Brasil (Atol das Rocas, da Paraíba até Alagoas, Bahia e Espírito Santo). OOBBSSEERRVVAAÇÇÕÕEESS:: Holthuis (1966) elevou as subespécies Palinurellus gundlachi gundlachi von Martens, encontrada no Atlântico Ocidental e Palinurellus gundlachi wieneckii De Man, encontrada no Indo-Pacífico, a duas espécies distintas, denominando-as de Palinurellus gundlachi e Palinurellus wieneckii, sendo as características diagnósticas destacadas por Gruvel (1911b) e Chace e Dumont (1949). Segundo Sims Jr. (1966a) e Holthuis (1991), a larva atribuída ao gênero Phyllamphion por Reinhardt (1850) revela fortes indícios de tratar-se de um estágio larval do gênero Palinurellus; sendo que se esta suspeita for confirmada, o gênero Palinurellus deverá ser substituído por Phyllamphion, de acordo com as normas de nomenclatura zoológica. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 68 Figura 14. Distribuição geográfica de Palinurellus gundlachi. DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 69 Figura 15. Palinurellus gundlachi, fêmea, Atol das Rocas (MZUSP 12968): A. vista dorsal, B. carapaça (vista dorsal), C. abdome (vista lateral). DALL´OCCO, P. L. TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO DAS LAGOSTAS NO OCEANO ATLÂNTICO 70 GGêênneerroo PPaalliinnuurruuss Weber, 1795 Pallinurus Weber, 1795: 94. Palinurus Fabricius, 1798: 376; Holthuis, 1956: 109; 1991: 115; Postel, 1966: 403; Burukovskii, 1985: 136; Williams, 1986: 12. DDIIAAGGNNOOSSEE:: Espinhos supraorbitais robustos, pontiagudos e fortemente achatados lateralmente, formando um arco côncavo com a margem anterior da carapaça; margem anterior da carapaça visível entre os espinhos supraorbitais, com cerca de 10 pequenos e pontiagudos dentes. Ausência de projeções escamiformes na carapaça. Placa antenular estreita e desarmada, entre as bases das antenas. Presença de órgão estridulador. Primeiro segmento do pedúnculo antenular não ultrapassa o pedúnculo antenal; flagelos an