Unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP PAULA CRISTINA CORREA CAPELOZZA O léxico e o uso do Dicionário Eletrônico dos Cem Verbos Português-Inglês (DED-100VPI) como recurso pedagógico de ensino na educação básica ARARAQUARA – S.P. 2024 PAULA CRISTINA CORREA CAPELOZZA O léxico e o uso do Dicionário Eletrônico dos Cem Verbos Português-Inglês (DED-100VPI) como recurso pedagógico de ensino na educação básica Dissertação de Mestrado, apresentada ao Conselho do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Linha de pesquisa: Estudos do Léxico Orientador: Profa. Dra. Regiani Aparecida dos Santos Zacarias ARARAQUARA – S.P. 2024 IMPACTO POTENCIAL DESTA PESQUISA O impacto desta pesquisa é socioeducacional e busca atender diretamente os objetivos 1, 4, 8, e 10 da ODS. O dicionário, objeto de criação, visa atender 67 milhões de estudantes da educação básica brasileira. O uso do dicionário eletrônico pode, de forma significativa, auxiliar o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes, tornando o ensino mais dinâmico e acessível, uma vez que pode contribuir para os conhecimentos lexicográficos e para o desenvolvimento da competência lexical. O impacto torna-se relevante, pois desenvolve no aluno a habilidade de buscar as informações de forma independente, estimulando sua autonomia. POTENTIAL IMPACT OF THIS RESEARCH The impact of this research is socio-educational and aims to directly meet objectives 1, 4, 8 and 10 of the SDGs. The dictionary, the object of creation, aims to serve 67 million students in Brazilian basic education. The use of an electronic dictionary can significantly help the teaching and learning process for students, making teaching more dynamic and accessible, since it can contribute to lexicographic knowledge and the development of lexical competence. The impact becomes relevant because it develops the student's ability to search for information independently, stimulating their autonomy. PAULA CRISTINA CORREA CAPELOZZA O léxico e o uso do Dicionário Eletrônico dos Cem Verbos Português-Inglês (DED-100VPI) como recurso pedagógico de ensino na educação básica Dissertação de Mestrado, apresentada ao Conselho do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Linha de pesquisa: Estudos do Léxico Orientador: Prof. Dr. Regiani Aparecida Santos Zacarias Data da defesa: 30/04/2024 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Profa. Dra. Regiani Aparecida Santos Zacarias Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Campus de Araraquara. Membro Titular: Profa. Dra. Clotilde de Almeida Azevedo Murakawa Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Araraquara. Membro Titular: Profa. Dra. Rosana Budny Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD. __________________________________________________________________________________ Membro Suplente: Prof. Dr. Odair Luiz Nadin da Silva Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Araraquara. __________________________________________________________________________________ Membro Suplente: Profa. Dra. Lúcia Regiane Lopes Damasio Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Assis. Local: Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras. UNESP – Campus de Araraquara Ao meu marido Nilton José Capelozza, à minha família, à minha orientadora e a todos àqueles que apesar de todas as adversidades sempre acreditaram que eu seria capaz de atingir meus objetivos. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por tornar esse sonho possível. Aos meus pais Luiz Carlos e Maria que sempre investiram em minha educação e meus estudos. Ao meu marido pelo companheirismo e amizade nas horas mais difíceis e pelas contribuições que enriqueceram meu trabalho. Aos meus irmãos Carlos Henrique e Luiz Fernando pelo apoio. À minha professora orientadora Regiani, pela sua disponibilidade e incentivo que foram fundamentais para realizar este trabalho, sem sua orientação, apoio, confiança e amizade, nada disso seria possível. Seus ensinamentos e paciência foram fundamentais nesse percurso. Aos professores que contribuíram com esse percurso formativo e transformador durante a realização das disciplinas oferecidas pela Unesp-SP. Ao professor e amigo Alex Sandro Francisco pela disponibilidade e contribuição na revisão deste trabalho. Às professoras Clotilde e Rosana pelas ricas contribuições na banca de qualificação. Às professoras Clotilde e Lúcia pelas contribuições na banca de Defesa. À FCLAr, que possibilitou a realização do sonho de cursar o mestrado acadêmico. Aos alunos que participaram da pesquisa e à equipe escolar pelo apoio. "Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre." Paulo Freire (1989) RESUMO A Base Nacional Comum Curricular determina o inglês como a única língua estrangeira obrigatória e a legitima como língua franca, ou seja, como meio de amplo acesso ao mundo globalizado. Disso decorre uma demanda por práticas pedagógicas e materiais que possam subsidiar o ensino e a aprendizagem do idioma, sobretudo no mais recente veículo de informação e aprendizado: o ambiente on-line. Neste trabalho trazemos a lexicografia pedagógica bilíngue digital como possível caminho que, associado a uma sequência didática com atividades de produção escrita em idioma estrangeiro ou por iniciativa autônoma do aprendiz, pode elucidar, enriquecer, bem como ampliar o repertório lexical dos alunos da educação básica. Teóricos da Lexicografia como Welker (2004, 2006, 2008), Hartmann (2001), Krieger (2007, 2012), Biderman (1984, 1996, 1998, 1999), Leffa (2000, 2006), Borba (2003), Humblé (2001, 2011), Zacarias (2011) fundamentam a base teórica deste trabalho. Esta pesquisa tem como objetivos gerais contribuir com a validação e revisão do protótipo (proof of concept) do Dicionário dos Cem Verbos português-inglês (DED-100VPI) para fins de aprimoramento da interface e de outros aspectos da obra que se façam necessários e apresentar um modelo de avaliação de protótipo de obra lexicográfica digital. É uma pesquisa de base empírica envolvendo alunos do 6º ano de uma escola pública do interior paulista. A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação de uma sequência didática, de questionários e entrevistas, os quais permitiram chegar a resultados analíticos. Os dados foram de natureza qualiquantitativa onde foi possível constatar o efeito do uso do DED-100VPI na aprendizagem dos estudantes, a interação positiva dos participantes e a usabilidade e funcionalidade do dicionário eletrônico. Palavras-chave: Dicionário Bilíngue; Ensino e aprendizado de inglês; Estudo do léxico; Lexicografia Pedagógica Bilíngue Digital. ABSTRACT The Brazilian Common National Curriculum determines English as the only compulsory foreign language and legitimizes it as a lingua franca, i.e. as a means of broad access to the globalized world. This has led to a demand for pedagogical practices and materials that can support the teaching and learning of the language, especially in the latest means of information and learning: the online environment. In this paper, we present digital bilingual pedagogical lexicography as a possible way forward which, combined with a didactic sequence with written production activities in a foreign language or on the learner's own initiative, can elucidate, enrich and expand the English lexical repertory of basic education students. Lexicography theorists such as Welker (2004, 2006, 2008), Hartmann (2001), Krieger (2007, 2012), Biderman (1984, 1996, 1998, 1999), Leffa (2000, 2006), Borba (2003), Humblé (2001, 2011) and Zacarias (2011) provide the theoretical basis for this work. The general objectives of this research are: (01) to contribute to the validation and revision of the prototype (proof of concept) of the Portuguese-English Hundred Verbs Dictionary (DED-100VPI) in order to improve the interface and other aspects of the work that may be necessary and (02) to present a model for evaluating the prototype of a digital lexicographic work. This is an empirical study involving 6th grade students from a public school in the interior of São Paulo. Data was collected through the application of a didactic sequence, questionnaires and interviews. Keywords: Bilingual Dictionary; Tea ching and learning English; Lexical studies; Digital Bilingual Pedagogical Lexicography. LISTA DE QUADROS Quadro 1: Características do dicionário eletrônico e impresso 31 Quadro 2: Acepções encontradas nos quatro dicionários 49 Quadro 3: Revisão dos verbetes 52 Quadro 4: Questões utilizadas para levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos 66 Quadro 5: Questão adicionada para levamento dos conhecimentos prévios dos alunos 72 Quadro 6: Transcrição das respostas dos alunos participantes 72 Quadro 7: Questões utilizadas para averiguar os conhecimentos adquiridos e avaliar o Protótipo. 90 Quadro 8: Transcrição das respostas da questão 1 – O que você achou positivo no dicionário? 91 Quadro 9: Transcrição das respostas da questão 2.1 – Por quê? 92 Quadro 10: Transcrição das respostas da questão 4 – Você se lembra como fez para encontrar o verbo que queria? 94 Quadro 11: Transcrição das respostas da questão 7 – Que sugestões você tem para melhorar o dicionário escolar eletrônico? 97 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Os quatro protagonistas 26 Figura 2: Tipologia de dicionários 27 Figura 3: Interface Cambridge Dictionary 35 Figura 4: Interface da escolha do idioma de partida 35 Figura 5: Interface da opção de ajuda 36 Figura 6: Tradução do verbo acabar 37 Figura 7: Interface do dicionário on-line Linguee 38 Figura 8: Interface da tradução do verbo acabar 39 Figura 9: Fontes não verificadas 39 Figura 10: Aplicativo do Linguee 40 Figura 11: Interface da página inicial do WordReference 40 Figura 12: Interface do dicionário on-line WordReference 41 Figura 13: Traduções principais equivalente finish. 42 Figura 14: Interface do dicionário digital Michaelis 43 Figura 15: Interface da barra de idiomas 43 Figura 16: Interface do dicionário de inglês 44 Figura 17: Interface de busca do verbo acabar no dicionário Moderno 45 Figura 18: Interface de busca do verbo acabar no dicionário Escolar 46 Figura 19: Interface inicial do dicionário 50 Figura 20: Interface da página inicial do dicionário. 51 Figura 21: Interface do verbete “acabar” 54 Figura 22: Conjugação do verbo acabar na afirmativa 55 Figura 23: Conjugação do verbo acabar na negativa 56 Figura 24: Conjugação do verbo acabar na interrogativa 57 Figura 25: Código QR – QLCPA 62 Figura 26: Estrutura da sequência didática 63 Figura 27: Código QR – QLCAAP 63 Figura 28: Resultado do Questionário - QLCPA. 67 Figura 29: Resultado do Questionário - QLCPA 68 Figura 30: Resultado do Questionário - QLCPA 69 Figura 31: Resultado do Questionário - QLCPA 69 Figura 32: Resultado do Questionário - QLCPA 70 Figura 33: Resultado do Questionário - QLCPA 71 Figura 34: Código QR – Questão adicionada para levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos 72 Figura 35: Mapa mental das respostas dos alunos 75 Figura 36: Mapa mental dos verbos em português 75 Figura 37: Imagem do registro nos cadernos 76 Figura 38: Mapa mental dos verbos em inglês apontados pelos alunos 77 Figura 39: Interface atualizada do DED-100VPI 77 Figura 40: Diálogos e frases para explorar o protótipo 78 Figura 41: Imagem da atividade desenvolvida pelo aluno O 80 Figura 42: Imagem da atividade desenvolvida pelo aluno G 81 Figura 43: Módulo 3 da sequência didática 82 Figura 44: Aluna que escolheu dois equivalentes 83 Figura 45: Aluna não traduziu para o inglês 84 Figura 46: Módulo III da sequência didática - produção final 85 Figura 47: Registro do desenvolvimento da atividade 85 Figura 48: Atividade desenvolvida pela aluna G 86 Figura 49: Visualizações por título e classe da tela 87 Figura 50: Detalhes de tecnologia: Navegador 87 Figura 51: Detalhes de tecnologia: Plataforma 88 Figura 52: Usuários por plataforma 88 Figura 53: Usuários por sistema operacional 89 Figura 54: Grupo de canais padrão do primeiro usuário 89 Figura 55: Resultado do Questionário - QLCAAP 92 Figura 56: Resultado do Questionário - QLCAAP 94 Figura 57 - Resultado do Questionário – QLCAAP 95 Figura 58: Resultado do Questionário - QLCAAP 96 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BNCC Base Nacional Comum Curricular EF06LI10 Ensino Fundamental 6º ano língua inglesa número 10 EF06LI11 Ensino Fundamental 6º ano língua inglesa número 11 DED-100VPI Dicionário Eletrônico dos Cem verbos português-inglês ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ONU Organização das Nações Unidas CDs Discos compactos TDICs Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação LP Lexicografia Pedagógica PNLD Programa Nacional do Livro Didático WWW World Wide Web CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. DEVPI Dicionário Escolar de Verbos Português-inglês e-DEVPI Dicionário Eletrônico Escolar de Verbos Português-inglês CEP Comitê de Ética em Pesquisa CONEP Conselho Nacional em Pesquisa CAAE Certificado de Apresentação de Apreciação Ética TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TALE Termo de Assentimento Livre e Esclarecido QLCPA Questionário de Levantamento dos Conhecimentos Prévios dos Alunos QLCAAP Questionário de Levantamento dos Conhecimentos Adquiridos e Avaliação do Protótipo QR Quick Response SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 15 1.INTRODUÇÃO .................................................................................................... 16 2. LEXICOGRAFIA: DO PAPEL AO DIGITAL ............................................... 20 2.1 Lexicografia Bilíngue ......................................................................................... 2.2 Lexicografia Pedagógica Bilíngue ..................................................................... 22 23 2.3 Os quatro protagonistas da Lexicografia Pedagógica ........................................ 25 3. O DICIONÁRIO ELETRÔNICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO DE ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA ................................................................... 29 3.1 Dicionário Eletrônico Pedagógico ..................................................................... 34 3.1.1 Dicionário On-line Cambridge ........................................................................ 34 3.1.2 Dicionário On-line Linguee ............................................................................. 38 3.1.3 Dicionário On-line WordReference ................................................................. 40 3.1.4 Dicionário On-line Michaelis .......................................................................... 43 3.1.4.1 Moderno Dicionário Inglês .......................................................................... 44 3.1.4.2 Dicionário Escolar Português-inglês ........................................................... 46 3.2 Processo de elaboração do Dicionário Eletrônico dos Cem verbos português- inglês DED-100VPI ................................................................................................. 48 4. METODOLOGIA ............................................................................................... 59 4.1 Participantes da pesquisa ................................................................................... 59 4.2 Contexto da pesquisa. ....................................................................................... 4.3 Etapas da pesquisa …………............................................................................. 4.4 Testes de usabilidade …………........................................................................ 60 61 64 5. A PESQUISA: COLETA DE DADOS, ANÁLISE E RESULTADOS ......... 66 5.1 Etapa 1 e 3: Aplicação do Questionário de Levantamento dos Conhecimentos Prévios dos Alunos para coleta de dados e comentários …........... 5.1.1 Você sabe o que é um dicionário digital? ....................................................... 5.1.2 Você utiliza dicionário nas aulas de língua inglesa? ...................................... 5.1.3 Você acha que o dicionário pode facilitar sua aprendizagem na língua inglesa? 5.1.4 Você conhece ou já ouviu falar em algum dicionário digital? .......................... 5.1.5 Você já utilizou algum dicionário digital? ....................................................... 5.1.6 Você tem algum aplicativo de dicionário em seu celular? ................................. 66 67 68 69 69 70 71 5.2 Etapa 4: Revisão do aplicativo a ser utilizado e idealização da sequência didática referente ao uso do DED-100VPI …………………………....................... 74 5.3 Etapa 5 - Participação dos alunos no desenvolvimento da sequência didática... 75 5.4 Dados do acesso ao site DED-100VPI segundo o Google analytics................... 5.5 Etapa 6 - Aplicação do Questionário de Levantamento dos Conhecimentos Adquiridos e Avaliação do Protótipo, coleta de dados e comentários....................... 5.5.1 O que você achou de positivo no dicionário? .................................................. 5.5.2 Você achou fácil usar o dicionário eletrônico? ................................................ 5.5.3 Por quê? ........................................................................................................... 5.5.4 Você aprendeu alguma coisa ao consultar o Dicionário Eletrônico dos Cem Verbos português-inglês? ......................................................................................... 5.5.5 Você se lembra como fez para encontrar o verbo que queria? ........................ 5.5.6 Você ficou satisfeito com o que encontrou? ...................................................... 5.5.7 Você acha que o dicionário eletrônico pode ajudar você a ampliar seus conhecimentos sobre a língua inglesa? ...................................................................... 5.5.8 Que sugestão você tem para melhorar o dicionário escolar eletrônico? .......... 86 90 91 92 92 94 94 95 96 97 5.6 Etapa 7: Comentários e resultados pontuais .................................................... 98 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 99 REFERÊNCIAS …………………………………………………………………. 101 APÊNDICES ……………………………………………………………………... 104 APÊNDICE A – Parecer Consubstanciado do CEP ................................................. 104 APÊNDICE B – Anuência da Direção da escola ..................................................... 108 APÊNDICE C – Registro da reunião com os responsáveis ...................................... 110 APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ................ 111 APÊNDICE E – Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) .................. 114 APÊNDICE F – Questionário de Levantamento dos Conhecimentos Prévios dos alunos (QLCPA) ....................................................................................................... APÊNDICE G – Sequência Didática ........................................................................ APÊNDICE H – Questionário Levantamento dos Conhecimentos Adquiridos e Avaliação do Protótipo (QLCAAP) .......................................................................... 116 117 123 15 APRESENTAÇÃO Desde menina nunca tive grandes ambições, meu maior sonho sempre foi estudar e ter uma profissão. Com apenas sete anos de idade, já manifestava aos meus pais o que queria ser quando crescesse e por um tempo minhas brincadeiras de criança, além das bonecas, eram a lousa e o giz. Os anos foram passando e a vontade se concretizando. De repente me vi na faculdade, mesmo em meio às dificuldades, com a inflação lá em cima, ouvindo meus pais dizerem que ir ao mercado estava ficando cada vez mais difícil. Eles tornaram meu sonho possível e me deram minha primeira graduação, porque acreditaram em mim e sempre me apoiaram em minhas escolhas. Passaram-se alguns anos, e me vi formada, com direito a diploma e anel de formatura, que meus pais fizeram questão de escolher, e não posso deixar de citar que, nessa época, com governo progressista, as coisas foram melhorando e, a partir daí, mais pessoas puderam ter acesso à faculdade, uma vez que nem todos tiveram a sorte que tive, de ter pais que me apoiaram, deram um jeitinho para conseguir pagar a faculdade e fizeram questão de me ver formada. Comecei a lecionar em 13 de fevereiro de 2004, lá se vão quase 20 anos de profissão, de desafios, de muito, muito aprendizado, muitas experiências, mais uma graduação, especialização e diversos cursos de curta duração. Sempre gostei de estudar e acredito que temos que nos atualizarmos constantemente. Hoje, me orgulho em dizer que todo o esforço e desafio enfrentado me fortaleceu e me sinto muito mais que uma professora, me considero uma educadora. Como bem aponta Freire (1996), “o educador se eterniza em cada ser que educa” e “a educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”. Hoje, enquanto estudante regular da pós-graduação stricto sensu em Linguística e Língua Portuguesa da Unesp, Campus Araraquara, mais um sonho se torna realidade. Após cursar duas disciplinas como aluna especial, nesta mesma Instituição, me motivei a seguir a linha de pesquisa “Estudos do léxico”, que veio ao encontro de uma inquietação minha, pois há algum tempo observo o pouco uso do dicionário em sala de aula. Concluir esta etapa é concretizar parte de um sonho acadêmico. 16 1. INTRODUÇÃO O conhecimento de línguas estrangeiras constitui um fator essencial à formação do indivíduo. Aprender uma língua estrangeira é uma forma de ampliar a visão de mundo e acessar conhecimentos de diferentes culturas. Ensinar inglês hoje é, sem dúvida, essencial, pois é a língua da ciência, da tecnologia, da política, das negociações internacionais, enfim é a língua mais utilizada no mundo todo. Atualmente, o inglês deixa de pertencer apenas aos nativos e possui o status de ‘língua franca’. Neste contexto, destacamos como sendo de fundamental importância o seu ensino na Educação Básica Brasileira para ampliar as possibilidades de interação dos alunos em diversos contextos linguísticos e socioculturais. Nesta perspectiva, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018), que determina a língua inglesa como obrigatória a partir do 6º ano do ensino fundamental II, afirma que: “aprender a língua inglesa propicia a criação de novas formas de engajamento e participação dos alunos em um mundo social cada vez mais globalizado e plural, em que as fronteiras entre países e interesses pessoais, locais, regionais, nacionais e transnacionais estão cada vez mais difusas e contraditórias. Assim, o estudo da língua inglesa pode possibilitar a todos o acesso aos saberes linguísticos necessários para engajamento e participação, contribuindo para o agenciamento crítico dos estudantes e para o exercício da cidadania ativa, além de ampliar as possibilidades de interação e mobilidade, abrindo novos percursos de construção de conhecimentos e de continuidade nos estudos. É esse caráter formativo que inscreve a aprendizagem de inglês em uma perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na qual as dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas” – (Brasil, 2018, p. 241). A língua inglesa é o idioma no mundo globalizado. Como afirma Paiva (2005), o inglês é uma língua predominante considerada um pré-requisito na sociedade da informação em que estamos inseridos hoje. Aprender inglês no Brasil tornou-se uma necessidade, uma vez que favorece a interação de pessoas de culturas diferentes. É importante destacar que as tecnologias digitais fazem parte do nosso cotidiano e a tendência é que evoluam cada dia mais. No ensino, é possível utilizá-las como integrante de uma cultura digital, como meio para um desenvolvimento mais ativo e relevante de criação e comunicação na sociedade atual. Nesse sentido, recorremos à Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018) que prevê o uso das tecnologias no ensino de línguas, como bem explicita no item Competência: Competência 5: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (Brasil, 2018, p. 9) Em consonância à BNCC, não podemos deixar de citar o Currículo Paulista, já que estamos falando da educação básica paulista. Dentre as competências específicas para o ensino da língua inglesa, destaca-se a Competência cinco: Utilizar novas tecnologias, com novas 17 linguagens e modos de interação, para pesquisar, selecionar, compartilhar, posicionar-se e produzir sentidos em práticas de letramento na língua inglesa, de forma ética, crítica e responsável (Currículo Paulista, 2019, p. 289). O Currículo Paulista apresenta também as habilidades: (EF06LI10)1 Conhecer a organização de um dicionário bilíngue (impresso e/ou on-line) para construir repertório lexical e (EF06LI11) Explorar ambientes virtuais e/ou aplicativos para construir repertório lexical na língua inglesa. A BNCC define habilidades como sendo aquilo que “expressa as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares” (BRASIL, 2017, p. 27). Desse modo, esta pesquisa recai sobre a testagem de um protótipo do Dicionário Eletrônico dos Cem Verbos Português-inglês (DED-100VPI)2. Entendemos que integrar o uso do DED-100VPI como recurso tecnológico no ensino de língua inglesa atende aos propósitos da BNCC, pois pode oferecer aos alunos uma aprendizagem ativa, dinâmica, prática, significativa, inclusiva e contextualizada, além de despertar a curiosidade do estudante, enriquecer e ampliar seu repertório lexical, visto que, o dicionário eletrônico é uma tecnologia educacional e uma ferramenta de pesquisa que, se bem utilizada, pode proporcionar maior dinâmica às aulas de língua inglesa e tornar os alunos protagonistas do próprio conhecimento. Krieger (2012, p. 63) afirma que “o dicionário é um lugar privilegiado de lições sobre a língua, mas também sobre a linguagem, instrumento de grande valor pedagógico e que favorece o desempenho cognitivo do aluno”. Braga (2013, p. 101) afirma ainda que “dicionários sempre foram usados na busca do sentido de palavras desconhecidas, ampliando assim o domínio lexical dos indivíduos”, à vista disso, são ferramentas essenciais e flexíveis para todo indivíduo que deseja expandir e aprimorar seu entendimento de línguas. Trata-se, portanto, de uma atividade que exige muito planejamento na busca, cada vez maior, de aproximar as aulas de língua inglesa da realidade dos alunos, em consonância com o objetivo 4 da ODS, item Educação de Qualidade, premissa estabelecida pela ONU que é “assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de 1 Sendo EF (Ensino Fundamental), 06 (sexto ano), LI (língua inglesa), 10 (número correspondente a habilidade). 2 e-DED-100VPI é objeto educacional que compõe o projeto e trabalho de conclusão de Mestrado do Programa de Educação Básica Docência para a Educação Básica - UNESP/FC-Bauru de autoria da Prof.Me. Giseli Sampaio de Oliveira, sob orientação da Prof. Dra. Regiani A.S. Zacarias. 18 aprendizagem ao longo da vida para todas e todos3”, e integrar o uso de dicionários no ensino de língua inglesa é uma estratégia eficaz para alcançar esse objetivo, e validado por autores como: Krieger (2007). Da mesma forma, o Ministério da Educação legitima o uso do dicionário em sala de aula como estratégia eficaz, pois: pode ser um instrumento bastante valioso para a aquisição de vocabulário e para o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita; e isso, para todas as áreas e para todas as horas, já que ler e escrever, dentro e fora da escola, fazem parte de muitas outras atividades (BRASIL, MEC/SEF, 2012, p. 18). Diante disso, Antunes (2012, p. 145-146) destaca a importância e a necessidade de se perceber que o dicionário na escola pode: - favorecer o fortalecimento da autonomia do aluno, que, nesse caso, decide, ele próprio, empreender uma ação de busca, de procura da informação de que precisa; - promover o acesso a uma gama considerável de informação sobre o léxico da língua, sobretudo no que se refere à possibilidade de plurissignificação das palavras; - possibilitar a identificação dos contextos de uso das palavras; - permitir o conhecimento de expressões complexas, fruto de combinações já sedimentadas no léxico da língua; - desenvolver a competência para o exercício da variação lexical, conforme as exigências dos textos mais formais e de formulação mais precisa e especializada; - levar o aluno a descobrir, nas várias acepções das palavras, vestígios da história da língua e da identidade cultural dos grupos falantes dessa língua; - por fim, o mais óbvio, possibilitar ao aluno o conhecimento de como usar o dicionário, de como e onde procurar a informação que deseja (ANTUNES, 2012, p. 145-146). Cabe destacar também que a autonomia oferecida pelo dicionário coloca o aluno como protagonista de seu ensino e elemento central no processo de produção e interpretação do texto. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivos gerais: (1) contribuir com a validação e revisão do protótipo (proof of concept) do Dicionário Eletrônico dos Cem Verbos português-inglês (DED-100VPI) para fins de aprimoramento da interface e de outros aspectos da obra que se façam necessários; (2) Apresentar um modelo de avaliação de protótipo de obra lexicográfica digital. E como objetivos específicos: (1) identificar, investigar e analisar as características referentes à habilidade de uso do DED-100VPI (interface e funcionalidade); (2) investigar e selecionar aplicativo que possibilite avaliar protótipo de dicionário eletrônico; (3) criar e aplicar uma sequência didática para o uso e testagem do protótipo do DED-100VPI com alunos do Ensino Fundamental II; (4) avaliar o protótipo do DED-100VPI, a partir dos resultados obtidos na fase anterior, e propor questões para a revisão e o aprimoramento do DED-100VPI. 3 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/4 Acesso em 17 de julho de 2023. https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/4 19 Para atender aos objetivos propostos, esta dissertação está organizada em quatro capítulos. No primeiro, apresentamos os conceitos teórico-metodológicos e as características que definem a Lexicografia e a Lexicografia Pedagógica e Eletrônica, perpassando pelo dicionário impresso e eletrônico. No segundo capítulo, trazemos uma reflexão do dicionário como recurso pedagógico de ensino, bem como análise e comentários sobre a interface e conteúdo lexicográfico de quatro dicionários on-line, sendo eles, Cambridge, Linguee, WordReference e Michaelis. O terceiro capítulo contempla a metodologia da pesquisa e informa os/as participantes, o contexto e as etapas da pesquisa. No quarto capítulo, tecemos comentários e o resultado da pesquisa, por meio da coleta de dados e aplicação da sequência didática. Por fim, nas considerações finais, resgatamos a proposta inicial e os objetivos do trabalho, seguidos da bibliografia, apêndices e anexos que comprovam as etapas da pesquisa. 20 2. LEXICOGRAFIA DO PAPEL AO DIGITAL Neste capítulo, abordaremos a Lexicografia e a Metalexicografia, com ênfase na Lexicografia Bilíngue e Pedagógica e na Lexicografia Eletrônica, que resulta da interação dessas disciplinas com outras disciplinas tecnológicas, como a Linguística Computacional e a Linguística de Corpus. A Lexicografia é uma ciência, cujo objeto de estudo está relacionado à elaboração e produção de dicionários (Biderman, 2001, Krieger e Finatto, 2004). Ela abrange o processo de pesquisa, compilação, organização e apresentação de informações lexicais em forma de dicionários, fornecendo aos usuários um recurso linguístico que os auxilie na compreensão e no uso correto das palavras de uma língua específica. Dentre as áreas de pesquisa em Lexicografia, Herbert Welker define o termo Lexicografia em duas vertentes: a Lexicografia Prática, designada como “ciência, técnica, prática ou mesmo arte de elaborar dicionários” e a “Lexicografia Teórica empregando-se o termo Metalexicografia”. (Welker, 2004, p. 11) Pontes (2009, p. 20) define a Lexicografia Prática como a disciplina da confecção de dicionários. Para o autor, devido às contribuições teóricas e tecnológicas “os dicionários deixaram de ser essencialmente normativos para serem mais descritivos, preocupados com os usos da língua e com a educação linguística”. Pontes (2009, p. 20) afirma ainda que a Lexicografia Teórica “serve de fundamento sólido para o fazer lexicográfico e para as discussões relativas à Lexicografia Aplicada, estudo sobre os dicionários em contexto escolar, sobre as atitudes e crenças dos alunos diante do dicionário”, uma vez que fornece os fundamentos teóricos, metodológicos e conceituais necessários para o desenvolvimento de dicionários, bem como para a compreensão do uso e da importância dos dicionários em diferentes contextos, incluindo o contexto escolar. Seguindo a proposta de Wiegand (1984, p. 15, apud Welker, 2008, p. 14), o autor apresenta as divisões da metalexicografia em subáreas que são: - História da lexicografia; - Teoria geral da lexicografia; - Pesquisa sobre o uso do dicionário; - Crítica de dicionário. Dentre as subáreas da Metalexicografia apontadas acima, esta pesquisa repousa sobre o uso de dicionários por sua importância teórica e prática. Nessa temática, Welker (2008) reuniu 21 220 estudos empíricos sobre o uso dos dicionários escolares. Em sua maioria, essas pesquisas foram realizadas com aprendizes de língua estrangeira. Dentre as áreas de pesquisa em metalexicografia, o uso de dicionários tem recebido a atenção por sua importância teórica e prática. Desde a última década do século XX, a ciência da Lexicografia, tanto no aspecto prático, quanto no teórico, vem sendo impactada pelo fenômeno da globalização e das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs), tornando-se, indiscutivelmente, parte da Era da Informação. (Campos; Nadin, 2020, p. 108) Ao longo dos anos, a Lexicografia passou por várias fases, no que diz respeito aos seus suportes e formatos de disponibilização dos manuscritos e livros impressos, mais recentemente, disponibilizados eletronicamente em CDs, dicionários on-line, aplicativos de dicionário para smartphones, plataformas e ferramentas de tradução. Diante disso, a expansão e ascensão das mídias digitais são vistas como um grande momento para a Lexicografia, pois possibilitaram uma grande transformação nos trabalhos dos lexicógrafos, como maior facilidade, rapidez, novas possibilidades de produzir diferentes dicionários assim como a evolução das formas de pensar. Os novos conceitos lexicográficos e sua decorrente aplicação em dicionários eletrônicos desenvolvem-se numa perspectiva ampla que exige inicialmente a definição de conceitos como a e-lexicografia e as e-ferramentas lexicográficas. Os termos “e-lexicografia” ou “lexicografia eletrônica” assim como a “e-ferramenta” ou “ferramenta eletrônica lexicográfica” são frequentemente usados para se referir a qualquer obra de referência disponibilizada em plataforma eletrônica. No final dos anos noventa, com o advento da Internet, surge a primeira geração de crianças que tiveram acesso às tecnologias da informação digital. Desde então, o dicionário eletrônico se torna um importante recurso pedagógico para conectar o ensino de Língua Inglesa à cultura digital. Rundell (2015), ao tratar das diferenças entre os dicionários impressos e os digitais, destaca que um dicionário impresso impossibilita uma atualização constante, ao passo que os digitais caminham na direção contrária. A Lexicografia Eletrônica ainda precisa ser explorada, pois evolui à medida que novas tecnologias surgem; o desenvolvimento dos novos recursos tecnológicos permite que as 22 possibilidades do fazer lexicográfico no meio digital cresçam e aprimorem os resultados de busca, a extração de informações lexicais e a análise de corpus4. Atualmente estamos no meio de uma nova transição da base material e tecnológica da lexicografia com a introdução de novas ferramentas e métodos de produção, bem como novas plataformas e meios para apresentar o produto lexicográfico e o uso extensivo de corpora para a coleta de material. O desenvolvimento e a inovação tecnológica estão mais acelerados do que nunca. (...) Sabemos o ponto de partida, mas temos apenas uma vaga ideia de onde chegaremos (Gouws; Tarp, 2017). A utilização das tecnologias atuais na Educação Básica pode possibilitar aos estudantes desenvolverem competências e habilidades que vão desde ações de comunicação, agilidade, pesquisa de informações, até a autonomia individual, ampliando suas possibilidades de integração na sociedade do conhecimento e da informação. A tecnologia hoje está cada vez mais presente na vida do ser humano e tem grande influência na Lexicografia quanto ao design e a facilidade de acesso. Segundo Nadin e Vargas (2016, p. 191), “os e-dicionários fornecem vantagens como: o acesso a uma palavra a poucos cliques; a busca quase instantânea; a rápida interrupção em atividades de leitura ou escrita; o fato de não ocuparem espaço, não pesarem, não terem volume além da gratuidade de uso e da busca por palavra-chave”. São vantagens significativas em relação ao dicionário impresso. Nas próximas subseções, apresentamos a Lexicografia Bilíngue, em seguida a Lexicografia Pedagógica Bilíngue e sua importância no ensino e aprendizado de línguas no contexto educacional. 2.1 Lexicografia Bilíngue Buscamos, nesta subseção discorrer brevemente sobre a Lexicografia Bilíngue (doravante, LB), que se refere à elaboração e ao desenvolvimento de dicionários em duas línguas. Essa atividade frequentemente consiste em listar termos de um idioma e suas respectivas traduções em outro idioma, juntamente com outros dados importantes, como definições, exemplos de uso, pronúncias, entre outros. A LB desempenha um papel fundamental na promoção da comunicação e compreensão entre pessoas que falam línguas diferentes, interferindo com muito préstimo na inovação lexical do português, uma vez que: 4 A Linguística de Corpus ocupa-se da coleta e exploração de corpora, ou conjuntos de dados linguísticos textuais coletados criteriosamente com o propósito de servirem para a pesquisa de uma língua ou variedade linguística. Como tal, dedica-se à exploração da linguagem através de evidências empíricas, extraídas por meio de computador. (Sardinha, 2000) 23 A lexicografia bilíngue intensificou o relacionamento e a intercomunicação com o público brasileiro, contribuiu para o alargamento do espaço editorial e para a convivência linguística, suscitando também a colaboração de autores brasileiros. Além disso, foi um dos factores mais importantes no intercâmbio linguístico e cultural entre o espaço lusófono e a Europa, particularmente a França, concorrendo por esta via, para uma certa actualização no âmbito da ciência, da técnica e do incremento da indústria (Verdelho;Silvestre, 2011, p. 7). Para desempenhar esse papel de comunicação e compreensão de línguas diferentes, não podemos deixar de citar o dicionário bilíngue que tem um papel significativo no estudo de uma língua estrangeira, sendo mais útil nos estágios iniciais de aprendizagem, pois, em vez de apresentar a definição da palavra, apresenta a tradução da palavra em outra língua. Geralmente ele é dividido em língua estrangeira/língua materna e língua materna/língua estrangeira. Para as palavras que apresentam mais de um equivalente, é preciso observar o contexto e escolher o equivalente mais adequado. Zacarias (1997), concluiu, em sua pesquisa, que os dicionários bilíngues dão maior segurança ao aluno; principalmente ao aluno em estágio inicial no aprendizado da língua. As informações existentes nos dicionários bilingues satisfazem o aprendiz porque geralmente não são muito exigentes em sua busca, pois a finalidade é encontrar a tradução de uma palavra. Sua pesquisa evidencia a relevância dos dicionários bilíngues e o importante papel que desempenham no processo de aprendizado de idiomas. 2.2 Lexicografia Pedagógica Bilíngue Buscando elucidar as dificuldades apresentadas nas escolas brasileiras quanto ao ensino de inglês, apoiamos nossa análise nos dados apresentados no relatório de uma pesquisa realizada no Brasil pelo escritório do conselho britânico da cidade de São Paulo. A publicação investigou a realidade do ensino de inglês no Brasil. O referido documento explicita que: Segundo os professores de inglês, os recursos didáticos têm uma relevância maior no ensino de sua disciplina do que em outras matérias. Na opinião desses docentes, o inglês é uma disciplina que requer mais atividades lúdicas, coletivas e interativas para gerar engajamento dos alunos e envolvimento prático com a língua. Por isso, os recursos didáticos, especialmente os tecnológicos, são a principal demanda dos professores (BRITISH COUNCIL, 2014, p.15). As escolas brasileiras necessitam de melhoria no ensino de inglês, além de materiais eletrônicos que atendam aos anseios dos estudantes, em especial o dicionário pedagógico, conforme relatório citado que afirma ainda: Assim, a demanda por materiais complementares e equipamentos tecnológicos para engajar os alunos às aulas está cada vez maior. Os professores percebem que a tecnologia é uma ferramenta fundamental para o processo pedagógico e que os recursos tecnológicos e interativos ajudam a manter a atenção e a motivação dos alunos (BRITISH COUNCIL, 2014, p.17). 24 O cuidado na elaboração de dicionários pedagógicos implica diretamente no aprendizado, uma vez que devem conter características pedagógicas, porém é firmada a posição de que, para ser efetivo, o projeto do dicionário pedagógico deve partir de investigações empíricas sobre as necessidades do aprendiz e de sua habilidade de uso (Tarp, 2010). A Lexicografia Pedagógica (doravante, LP) dedica-se ao estudo e desenvolvimento de dicionários pedagógicos, cujo propósito específico é ajudar um aprendiz de língua nativa ou estrangeira. Os dicionários pedagógicos auxiliam no processo de ensino-aprendizagem de línguas (Zacarias, 2011, p. 63), fornecendo recursos que ajudam os alunos a expandirem seu vocabulário, aprimorar suas habilidades linguísticas e desenvolver uma compreensão mais profunda da língua e cultura que estão estudando. Para Zavaglia e Nadin, A Lexicografia Pedagógica, como disciplina autônoma, vem se firmando nos últimos anos de forma cada vez mais consistente e crítica. Seu foco recai sobre a investigação dos dicionários produzidos com finalidades pedagógicas, ou seja, aqueles para aprendizes e/ou escolares (Zavaglia; Nadin, 2019, p.1921- 1933). A LP é motivada pela compreensão do importante papel didático que os dicionários podem desempenhar no ensino/aprendizagem das línguas (Krieger; Müller, 2009, p. 1950- 1972). A LP brasileira tem avançado tanto no plano de reflexão acadêmica quanto no plano de produção editorial lexicográfica. No campo da edição, é preciso reconhecer que a adoção de políticas públicas que valorizam os dicionários como importantes recursos didáticos explica, em grande parte, o impacto positivo nos modelos lexicográficos. Os estudos sobre a LP são, sem dúvida, muito importantes, pois podem orientar escolhas e práticas didáticas em relação ao uso de dicionários. Nesse cenário, sua tarefa é abrir caminho para o uso produtivo e orientado dos dicionários. É por isso que o dicionário escolar é o principal objeto de pesquisa da LP. Desse modo, registra-se a produção atual da Lexicografia Brasileira voltada para as escolas. Desde 2006, esse segmento vem crescendo quantitativa e qualitativamente na proporção das propostas do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Essa é uma política antiga do Ministério da Educação, que se baseia em um rigoroso processo de seleção para obtenção de livros didáticos na educação básica. Em 2006, o PNLD passou por uma inovação importante ao apontar a seleção de três tipos de dicionários que atendessem às necessidades dos usuários nos diferentes níveis de ensino, como analisa Krieger e Müller (2018): 25 Dicionários de tipo 1 - Número de entradas: mínimo de 1000 e máximo de 3000. Proposta lexicográfica adequada à introdução do alfabetizando ao gênero dicionário. Dicionários de tipo 2 - Número de entradas: mínimo de 3.500, máximo de 10.000. Proposta lexicográfica adequada a alunos em fase de consolidação do domínio da escrita. Dicionários de tipo 3 - Número de verbetes: mínimo de 19.000 e máximo de 35.000. Proposta lexicográfica orientada pelas características de um dicionário padrão, porém adequada a alunos das últimas séries do primeiro segmento do Ensino Fundamental (Krieger; Müller, 2018, p.1955). Embora apresente uma categorização genérica, as autoras enfatizam a relação existente entre proposta lexicográfica e nível educacional. Em relação à nossa proposta lexicográfica, centramos nossos estudos sobre o uso de dicionários pedagógicos nos dicionários eletrônicos. 2.3 Os quatro protagonistas da Lexicografia Pedagógica No contexto da LP, Hartmann (2001) explica a importância de conhecer os principais protagonistas do processo, a saber, o lexicógrafo, o consulente, os professores e os pesquisadores, como elementos básicos da teoria lexicográfica, como mostra a figura abaixo: 26 Figura 1: Os quatro protagonistas. Fonte: Hartmann, 2001, p. 25 Ao lexicógrafo compete a coleta de dados, compilação e pesquisa das informações lexicais, preocupando-se com os aspectos organizacionais da obra, não obstante a elaboração de dicionários passou a exigir conhecimento computacional e respectivas adaptações na estrutura das obras lexicográficas. O usuário parte de suas necessidades e habilidades (reference skills e reference needs) para consulta. O professor é visto como um mediador entre o lexicógrafo e o usuário, enquanto o pesquisador é responsável por fornecer uma visão geral dos protagonistas, assim como os fatores que determinam se o dicionário é um sucesso ou um fracasso. (Hartmann, 2001, p. 25- 26). A Lexicografia Pedagógica e a Lexicografia Eletrônica são áreas novas da Lexicografia. Para Silva (2018, p. 54), a lexicografia eletrônica é um ramo novo e abrangente. Novo, pois ainda existem questões de transição do impresso para digital, e abrangente, pois existem muitos tipos de dicionários que variam em tipologia, finalidades e públicos-alvo. A Lexicografia Pedagógica Eletrônica (doravante, LP Eletrônica) se relaciona ao estudo e desenvolvimento de dicionários pedagógicos utilizados no ambiente educacional e disponíveis eletronicamente para atender às necessidades dos aprendizes. Além disso, também permite uma constante atualização, oportunizando que novas palavras e expressões sejam incluídas, pois a linguagem está sempre em constante evolução. 27 A LP Eletrônica oportuniza a publicação de várias obras, pois caracteriza-se por permitir o acesso pelo computador e até por aplicativos de celulares. Nadin (2019, 2020) apresenta a tipologia dos dicionários como temos atualmente: Figura 2: Tipologia de dicionários Fonte: Ampliação do modelo de Welker (2008, p. 27) a partir de Nadin (2019, 2020). Nadin (2019, 2020), ampliando o modelo de Welker (2008, p. 27), destaca os dicionários pedagógicos como eletrônicos, digitais e on-line, sendo eles destinados a aprendizes de línguas maternas e não-maternas. Devido à quantidade de idiomas que entram na macroestrutura de um dicionário, temos os dicionários monolíngues, bilíngues, semibilíngues e multilíngues. Os monolíngues podem ser classificados como geral, especial ou especializado, com o objetivo de atender às diferentes necessidades dos usuários em termos de vocabulário e terminologia em um idioma específico. O dicionário geral, que contém vocábulos relacionados a diversos temas de uma língua, são dicionários para uso infantil, escolar e de uso, pois têm como objetivo ser acessível e útil para auxiliar crianças e estudantes na ampliação do vocabulário. Rey-Debove (1984), apresenta uma subdivisão do dicionário geral, que “trata de todos os signos duma língua dada ou de todas 28 as coisas duma civilização, e do dicionário especial, que só descreve um setor de uma ou da outra” (Rey-Debove, 1984, p. 64). O dicionário especial se refere a uma área do conhecimento específica e o dicionário especializado é usado por profissionais especializados. Embora prevista na descrição do quadro, não é comum a classificação de dicionários em básico, intermediário e avançado, uma vez que os dicionários são projetados para serem abrangentes e atenderem a um público amplo. Um exemplo de dicionário sob essa classificação é o dicionário monolíngue de inglês para estudantes avançados das livrarias Oxford e Cambridge, intitulados Advanced Learner's Dictionary. A transição de todo o processo de criação do dicionário para um ambiente eletrônico trouxe vantagens sobre as quais os lexicógrafos não tinham pensado anteriormente. As obras lexicográficas em formato eletrônico oferecem um amplo alcance e fácil acesso a qualquer pessoa em quase todos os lugares, a qualquer hora. Além disso, em um ambiente digital, onde as informações se espalham de forma rápida, os dicionários tradicionais e de base científica ganharam mais valor e confiabilidade. O uso de e-dicionários pode promover o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo por meio de atividades interativas. O desenvolvimento tecnológico trouxe benefícios nos campos da ciência, da educação, da comunicação, do lazer, do uso do computador e da promoção da informação, e permitiu adequar o contexto e as situações do processo de aprendizagem à diversidade da sala de aula. Nesta subseção, pudemos constatar que, a partir da Lexicografia Pedagógica e com os dicionários impressos, surge a Lexicografia Pedagógica Eletrônica, graças ao advento da tecnologia, além de entendermos as vantagens que o dicionário eletrônico pode oferecer no ensino e aprendizado do vocabulário e no aprimoramento das habilidades linguísticas dos estudantes. Diante disso, discorreremos, no próximo capítulo, sobre o dicionário como recurso pedagógico de ensino. 29 3. O DICIONÁRIO ELETRÔNICO COMO RECURSO PEDAGÓGICO DE ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA. O dicionário é uma obra lexicográfica e um importante recurso linguístico e cultural, concebido com propósito intrinsicamente pedagógico, uma vez que é uma obra de natureza pedagógica. Entretanto, no contexto do ensino e da aprendizagem de línguas estrangeiras, especialmente da língua inglesa na educação básica, os dicionários são pouco utilizados em sala de aula, já que pesquisas indicam que costumam ficar quietos, esquecidos nas prateleiras (Krieger, 2012). Contudo, é um recurso que fornece informações que podem aprimorar o ensino e a aprendizagem de línguas, uma vez que “várias são as pesquisas e estudos que comprovam como é significativo o desempenho do aluno perante a prática e utilização do dicionário em sala de aula” (Krieger, 2012; Nunes, 2006). Nas aulas de inglês, o material didático básico, além do livro didático, deveria ser também o dicionário. Na verdade, um dicionário é essencialmente uma ferramenta de aprendizagem e uma fonte de consulta, que muitos especialistas consideram importante na aprendizagem de línguas (Pontes, 2008; Höfling, 2004; Krieger, 2007). Embora os dicionários de língua não possam ser classificados como livros didáticos stricto sensu, seu potencial pedagógico é indubitável, pois ajudam o aluno a ler, a escrever, a expressar-se bem, oferecendo- lhe informações sistematizadas sobre o léxico, seus usos e sentidos, bem como sobre o componente gramatical das unidades que o integram (KRIEGER, 2007, p. 236). De acordo com Krieger (2007), a relevância dos dicionários de língua no aprendizado é destacada, embora não se possa equipará-los a livros didáticos. Os dicionários e os livros didáticos são materiais pedagógicos que se complementam. Podemos encontrar, nestes últimos, componentes lexicográficos como glossário e, nos dicionários, conteúdo gramatical e notas explicativas com função didática. Ambos desempenham, pois, um papel crucial no processo de ensino e aprendizagem. O Ministério da Educação, a partir do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), reconhece a importante função do dicionário como ferramenta de ensino e legitima o seu uso em sala de aula, justificando que um dicionário: “… pode ser um instrumento bastante valioso para a aquisição de vocabulário e para o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita; e isso, para todas as áreas e para todas as horas, já que ler e escrever, dentro e fora da escola, fazem parte de muitas outras atividades”. (Brasil, 2012, p. 18). No entanto, como professora de inglês, da rede pública paulista, observo que o dicionário raramente é usado como recurso pedagógico de ensino. 30 Diante desse cenário, este capítulo visa refletir sobre o uso do dicionário nas aulas de língua inglesa, enfatizando a relevância dos dicionários eletrônicos, considerando o avanço tecnológico, a Base Nacional Comum Curricular e o perfil de estudantes que permeiam a educação básica atualmente, pois, segundo Welker (2008), existem poucas pesquisas práticas sobre seu uso, principalmente no Brasil. Ao compararmos o dicionário físico e o dicionário eletrônico é possível observar, vantagens e desvantagens. O dicionário impresso embora apresente vantagens como a portabilidade, a durabilidade e a experiência tátil, traz desvantagens em relação ao eletrônico, uma vez que a pesquisa é mais demorada e a atualização mais limitada, como bem afirma Leffa (2006): O papel em que é impresso não pode ser fisicamente compactado e nem teletransportado de um lugar a outro. Qualquer atualização que precisa ser feita implica uma nova impressão de todo o texto, com altos custos de produção. Não oferece a possibilidade de incluir animação, som ou vídeo. É visível em sua totalidade; mesmo que o leitor esteja interessado em apenas uma palavra, tem que manusear o volume inteiro (Leffa, 2006, p. 324). No cotidiano da sala de aula, o dicionário impresso já não é mais capaz de despertar o interesse do aluno da educação básica devido à rapidez do acesso à informação e à praticidade da internet ao acessar os dicionários online, além de que a interface digital possibilita maior interação. Já o dicionário eletrônico, por sua vez, apresenta quanto à sua funcionalidade vantagens como a atualização constante, a facilidade de pesquisa, pois segundo Leffa (2006): Por ser um arquivo digital, o dicionário eletrônico é extremamente maleável: pode ser facilmente compactado, ampliado e atualizado, sem grandes custos de produção. Além de textos e imagens pode incluir também animação, som e vídeo. Tem finalmente a característica da invisibilidade, só aparecendo ao usuário quando solicitado e mesmo assim mostrando apenas o verbete ou o dado solicitado, ocultando todo o resto dentro do computador ou no suporte que o sustenta (Leffa, 2006, p.323). Vale ressaltar ainda as características mais importantes que um dicionário eletrônico bilíngue deve conter: -Funcionalidade de hipertexto eliminando restrições de texto linear e abrindo o caminho para novos tipos de informação, oferecendo novas formas de apresentá-la; -Nenhuma restrição de espaço além da necessidade de evitar sobrecarregar o usuário; -Nenhuma distorção da descrição do idioma de origem pelas necessidades do idioma de destino; -Compilação flexível liberada da ordem alfabética; - formas alternativas de apresentação da informação, como por exemplos gráficos; -Acesso rápido a grandes quantidades de evidências lexicográficas em corpora; -Personalização do usuário em grande escala. (Atkins,1996, apud Humblé, 2001, p. 51; tradução nossa)5 5 hypertext functionality eliminating linear text restrictions and opening the way to new types of information by offering new ways of presenting it; - no space constraints other than the need to avoid swamping the user; 31 Welker (2008) afirma que a maior vantagem do uso de dicionários eletrônicos por parte de aprendizes de língua estrangeira está na ampla possibilidade de busca, pois, (01) O usuário não se lembra da palavra inteira; digitando só uma parte, recebe como resultado todos os lemas que contêm o grupo de letras digitado, o que talvez o ajude a se lembrar da palavra. (02) Esse modo de busca é especialmente útil em pesquisas linguísticas quando se quer obter todas as palavras que, por exemplo, têm determinado prefixo, sufixo ou radical. (03) Também muito útil para pesquisadores é a possibilidade de se obterem lista de palavras pertencentes a determinada classe gramatical ou marcadas diassistematicamente. (04) Há dicionários que acham o verbete correto mesmo que se grafe o lema de modo errado. (05) Muito importante é a possibilidade de o usuário encontrar determinado fraseologismo. (06) Uma outra facilidade de busca é o fato de haver links do verbete que se está consultando para outras informações, por exemplo, para outros dicionários, para abonações não arroladas no próprio verbete, para esclarecimentos gramaticais (por exemplo, tabela de conjugação), para lexemas semanticamente relacionados, para colocações (Welker, 2008, p. 420). Nesse sentido apresentamos, na sequência, as possíveis vantagens que os dicionários eletrônicos possuem comparados aos dicionários impressos, juntamente com as características de ambos. Quadro 1: Características do dicionário eletrônico e impresso. Dicionário eletrônico Dicionário impresso - As formas de apresentação e os elementos são flexíveis, dinâmicos e instantâneos. - Apresentação é estática, rígida e está totalmente ligada à leitura manual. - A constituição da obra realiza-se por meio de bits6, o que permite seu teletransporte. - Obra composta por páginas e volumes impressos, não há teletransporte; - O formato possibilita a inclusão de dicionários técnicos e especiais (sinônimos, antônimos, conjugações verbais etc.). - O desenvolvimento de obras técnicas ou especiais só é realizado pela elaboração específica desses materiais. - Modo de exibição fácil e intuitivo, porém requer conhecimento para com o uso do computador ou da internet7 - O manuseio é feito somente pelo material físico, é necessário que o usuário tenha habilidades específicas para consultá-lo. - As buscas são versáteis e avançadas, pois há obras que permitem várias formas de pesquisa que contemplam a escrita de uma letra, partes da palavra ou unidades fraseológicas. - O dicionário semasiológico possibilita a pesquisa apenas na ordem alfabética, o onomasiológico, pelo conceito, mas nos dois casos a pesquisa é linear. - no distortion of the source language description by the needs of the target language; - flexible compiling liberated from alphabetical order; - alternative ways of presenting the information, as for example graphics; - rapid access to large amounts of lexicographical evidence in corpora; - large scale user customization. 6 “[...] o dicionário eletrônico é constituído de bits, minúsculos pulsos de luz praticamente sem características físicas palpáveis, facilmente transmitidas de um computador a outro por linhas telefônicas, ondas de rádio ou qualquer suporte magnético” (LEFFA, 2006, p. 323). 7 O uso dos DEs requer que o usuário tenha habilidades específicas, que não estão apenas voltadas à Lexicografia. O usuário precisa saber usar, tanto a internet ou os elementos do computador e/ou dos smarthphones quanto saber pesquisar as informações de softwares e hipertextos (ÁGUILA ESCOBAR, 2006). 32 - Permite incluir informações complementares de ordem gramatical (listas de verbos) ou na forma de hipertextos. - A inclusão de muitas informações deixa a obra extensa e complexa, comprometendo seu manuseio e custo. - Pode haver a inclusão de hiperlinks, os quais permitem a realização de saltos textuais com apenas um “click”. - Os saltos textuais são manuais, as remissões os permitem e estão disponíveis apenas por indicações nos verbetes. - Dados multimídias (imagens, textos, sons, vídeos) facilitam a aquisição de informações. - Não é possível incluir sons, vídeos ou hiperlinks, somente imagens. - Os dados podem ser reutilizados, adaptados em editores de textos e integrados em leitores de livros eletrônicos e processadores de texto. - Os dados podem ser reutilizados em outros suportes somente através de imagens ou de citações de partes da obra. - Facilidade e rapidez nas atualizações e nas alterações dos dados inseridos. - A atualização ou alteração dos dados ocorre com a elaboração de novas edições. - A disponibilidade gratuita dos dicionários on-line/aplicativo torna o acesso fácil. Já, as obras em CD-ROM/DVD necessitam da compra do exemplar impresso, uma vez que não são vendidos separadamente. - A aquisição do material impresso é ocorre apenas por meio da compra. Consultas gratuitas podem ser feitas em bibliotecas ou em outros locais que as permitam. - Invisibilidade das informações, a visualização dos dados é feita somente quando requisitada pelo consulente. Observar a extensão da obra é uma tarefa complexa. - A extensão da obra é controlada, todas as informações aparecem descritas nas páginas e por esse motivo ela torna-se compacta. Fonte: Águila Escobar (2006); Leffa (2006), Vargas e Nadin (2016); Campos e Nadin (2020). Notamos que as vantagens oferecidas pelos suportes eletrônicos podem ampliar a realização de consultas e favorecer a aprendizagem do estudante, por ser um importante recurso linguístico e cultural. No entanto, no contexto do ensino e da aprendizagem de língua inglesa na educação básica, esta pesquisa revelou que não apenas os dicionários impressos, como também eletrônicos, são pouco utilizados em sala de aula. Diante disso, consideramos importante estimular o uso de dicionários eletrônicos on- line na tentativa de potencializar a aprendizagem dos alunos, uma vez que o uso das tecnologias facilita a pesquisa, a integração, a interatividade, favorecendo assim uma aprendizagem colaborativa. Desse modo, integrar o uso do dicionário à tecnologia no ensino de língua inglesa pode oferecer aos alunos uma aprendizagem mais ativa, dinâmica e prática, além de despertar a curiosidade do estudante, uma vez que o dicionário é uma tecnologia educacional e uma ferramenta de pesquisa que, se bem utilizada, pode proporcionar maior dinâmica às aulas de língua inglesa e tornar os alunos protagonistas do próprio conhecimento. 33 Braga (2013, p. 58-59) aponta que as tecnologias trazem para a prática pedagógica “formas mais dinâmicas de implementar modos colaborativos ou reflexivos de ensinar e aprender”. Nesse sentido, as tecnologias podem incentivar práticas colaborativas e reflexivas de ensino e aprendizagem, uma vez que tornam as aulas mais interativas, participativas e adequadas às demandas individuais dos estudantes. Leffa (2006) destaca ainda que a internet permitiu ao aluno usar a língua-alvo para se integrar em comunidades autênticas de usuários e trocar experiências com pessoas do mundo todo que estudassem a língua utilizada, contudo as vantagens oferecidas pelos suportes eletrônicos podem ampliar a realização de consultas e favorecer a aprendizagem do estudante. Para Moreira (2009, p. 40), há uma grande tendência de o dicionário digital vir a substituir o dicionário impresso, pois o dicionário digital apresenta “uma arquitetura/estrutura mais dinâmica, interativa e que facilita o acesso à consulta, sendo a busca da informação quase instantânea”. A autora faz uma previsão que atualmente se cumpre, uma vez que dicionários digitais bem como outros materiais pedagógicos já se tornaram comuns no ambiente digital. Cabe-nos esclarecer nosso entendimento em relação aos termos dicionário digital e dicionário eletrônico, pois esses termos não possuem o mesmo significado, uma vez que cada um atribui uma característica e função específica às obras. Rull (2008, p. 4) destaca que: [...] as denominações existentes para se referir aos dicionários não editados em formato tradicional são várias, e convém distinguir entre dicionário eletrônico e dicionário digital. Eletrônico se refere ao suporte em que o dicionário está guardado, enquanto digital alude ao formato ou sistema de codificação da informação, em oposição às obras publicadas em papel13 (Rull, 2008, p. 4, tradução nossa)8. O dicionário digital é aquele que surgiu desde seu projeto em meio digital, ou seja, está fundamentado a partir de textos digitais compilados em um corpus digital criado especificamente para a obra lexicográfica. Entende-se ainda que dicionários dessa natureza podem também estarem fundamentados em um corpus compilado a partir de corpora existentes. Dessa forma, o dicionário digital requer uma linguagem computacional, um sistema de codificação (Rull, 2008, p.04) que possibilitará a extração automática de informações lexicográficas e a montagem automática do verbete mediante a ação de busca. 8 “[…] las denominaciones existentes para referirse a los diccionarios no editados en formato tradicional son varias, y conviene distinguir entre diccionario electrónico y diccionario digital. El electrónico se refiere al soporte en el que se guarda el diccionario, mientras que el digital alude al formato o sistema de codificación de la información, en oposición a las obras analógicas, cuando nos referimos a las publicadas en papel impreso” (RULL, 2008, p. 4). 34 O dicionário eletrônico, por sua vez, diz respeito ao suporte onde está disponível, ou seja, em meio eletrônico ou em papel. Sendo assim, o termo eletrônico, refere-se ao meio de publicação: impresso ou eletrônico e o termo digital refere-se ao sistema de codificação da informação, como software- based ou desenvolvidos em linguagem computacional, como ‘R’ ou ‘Phyton’. Apresentamos a seguir a análise de quatro dicionários eletrônicos. 3.1 Dicionário Eletrônico Pedagógico Para analisar as características pedagógicas do dicionário eletrônico, selecionamos os dicionários on-line Cambridge, Linguee, Wordreference e Michaelis escolar. Esses dicionários on-line são resultado de buscas na plataforma Google “dicionários português-inglês” e selecionados a partir da ordem de aparição, com exceção do Michaelis que foi escolhido por intitular-se escolar. Nossa intenção foi reproduzir uma possível trajetória de busca de aprendizes por dicionários português-inglês na internet. Dos dicionários encontrados, apenas o Dicionário Michaelis intitula-se escolar, não obstante, realizamos um procedimento de avaliação que pudesse evidenciar possíveis características pedagógicas que atendessem à demanda escolar nos quatro dicionários apresentados. Primeiramente, buscamos o verbo “acabar” a fim de observar quais informações lexicográficas eram apresentadas em cada dicionário para, posteriormente, analisá-las quanto ao atendimento às demandas dos aprendizes. 3.1.1 Dicionário on-line Cambridge. O dicionário on-line Cambridge já no início de sua interface apresenta a barra de busca e o aluno poderá rolar a página até o final para conhecer e explorar os mecanismos que ele tem a oferecer. 35 Figura 3: Interface Cambridge Dictionary Fonte: https://dictionary.cambridge.org/us/ No canto superior direito, podemos escolher o idioma de partida que, no nosso caso, é o português. É necessário fazer essa alteração, pois o site já abre com o inglês como língua de partida. Figura 4: Interface da escolha do idioma de partida Fonte: https://dictionary.cambridge.org/us/ Nesse dicionário, não há opções de reconhecimento automático de fala ou alto-falantes que possibilitem aos alunos ouvirem como as palavras são pronunciadas. Nesse caso, o aluno usará a ferramenta de tradução sem ter a chance de ouvir a pronúncia da palavra pesquisada. https://dictionary.cambridge.org/us/ 36 Se os estudantes tiverem dúvidas ao utilizar o dicionário, há uma opção de suporte no final da página. Essa opção de ajuda não deveria estar apenas no final da página, pois pode dificultar caso o estudante tenha dúvidas ao iniciar a pesquisa. Figura 5: Interface da opção de ajuda Fonte: https://dictionary.cambridge.org/us/ Na palavra-entrada “acabar”, o dicionário digital Cambridge oferece a categoria gramatical, a transitividade do verbo, a transcrição fonética e os seguintes equivalentes: to end, to end a relationship e to finish, separados pela linha laranja, contendo a definição da acepção, algumas vezes com indicação de uso e sempre com exemplos em português e em inglês, seguidos de sinônimo em português. A transcrição fonética é sempre a mesma, mas a transitividade do verbo muda de acordo com o significado que atribui no emprego (cf. sinônimos apresentados em inglês e ilustrados em português e inglês: intransitivo – to end/finalizar – inclusive em empregos em campos semânticos diferentes; transitivo – to finish/concluir algo). A figura 6 traz a tradução do verbo “acabar”. 37 Figura 6: Tradução do verbo acabar. Fonte: https://dictionary.cambridge.org/us/ Apesar de o dicionário Cambridge oferecer essas informações de construção para o aprendizado de inglês, ele acaba limitando os alunos brasileiros que não conhecem o nível avançado da língua inglesa, impedindo que aproveitem as opções do site com mais liberdade, uma vez que não traz dados referentes aos tempos verbais dos verbos em inglês, condição essencial para o apoio à função de produção do dicionário. 38 3.1.2 Dicionário on-line Linguee. O dicionário digital Linguee apresenta uma interface simples e prática para um estudante que busca informações rápidas. O site oferece as opções barra de busca, escolha do idioma, tradutor, traduzir texto e a opção de carregar arquivos em word, pdf ou powerpoint para tradução, porém, quando carregado, na versão gratuita, o arquivo não pode ultrapassar 100.000 caracteres. Figura 7: Interface do dicionário on-line Linguee Fonte: https://www.linguee.com.br/ Ao inserir o verbo “acabar” na barra de busca, o consulente irá deparar-se com informações das acepções em cinza end, finish e end up, cada qual seguida da categoria gramatical e de ícones clicáveis para ouvir a pronúncia dos equivalentes e em azul apresenta os exemplos de uso(s) informal(is) da palavra em português e respectiva tradução e inglês. Na sequência, são apresentadas entre parênteses as formas passado e particípio do equivalente em língua inglesa e separadamente, nas linhas abaixo, exemplos em português e inglês. Na mesma entrada, são apresentados equivalentes menos frequentes com informações acessíveis mediante click. Ao final, são apresentados exemplos de fraseologia do mesmo verbo em língua portuguesa, seguidos da tradução em língua inglesa. Existe, ainda, a possibilidade de acesso a outros exemplos e traduções alternativas clicáveis. 39 Figura 8: Interface da tradução do verbo acabar. Fonte: https://www.linguee.com.br/ Observamos que o Linguee traz informações de fontes não verificadas como ilustra a figura 9. Figura 9: Fontes não verificadas Fonte: https://www.linguee.com.br/ O site apresenta também a possibilidade e praticidade de baixar o aplicativo gratuito em seu smartphone mesmo sem acesso à internet. https://www.linguee.com.br/ https://www.linguee.com.br/ 40 Figura 10: Aplicativo do Linguee Fonte: https://www.linguee.com.br/ 3.1.3 Dicionário on-line WordReference. O dicionário on-line WordReference apresenta sua interface dinâmica e em inglês, o usuário, já na página inicial, escolhe o idioma, clica e é direcionado à página do idioma escolhido. Figura 11: Interface da página inicial do WordReference Fonte: https://www.wordreference.com/ https://www.linguee.com.br/ 41 Ao inserir o verbo “acabar” na barra de busca, o consulente irá deparar-se com informações divididas em duas colunas, há seis entradas em português, e, a cada uma delas, suas formas correspondentes em inglês. A transitividade do verbo aparece abreviada em azul tanto na primeira como na segunda coluna. A transitividade é diferente em português e inglês (pt = tr; em inglês = vi), uma vez que não é uma diferença apenas de forma, mas de tipos de transitividade. Figura 12: Interface do dicionário on-line WordReference. Fonte: https://www.wordreference.com/ Ao rolar o mouse na página, é possível clicar em cada equivalente que direciona o aprendiz para outra página, contendo as traduções principais de cada equivalente em inglês e português, com exemplos em inglês e português. Em azul, estão disponíveis as opções de definições em inglês e em espanhol, sinônimos em inglês, colocação de palavras em inglês, conjugação, em contexto e imagens, além da possibilidade de acessar a pronúncia da palavra. https://www.wordreference.com/ 42 Ressaltamos também que, na frente de cada equivalente, há abreviação da transitividade verbal tanto em português como em inglês. Para exemplificar, clicamos no equivalente finish como ilustra a figura 13. Figura 13: Traduções principais equivalente finish. Fonte https://www.wordreference.com/enpt/finish O WordReference disponibiliza todas as ferramentas em inglês, portanto, então o aprendiz só terá conhecimento da maneira de utilizá-las se tiver domínio avançado da língua inglesa 43 3.1.4 Dicionário digital Michaelis - Moderno Dicionário Inglês e o Dicionário Escolar Inglês Este é o único dos dicionários que se intitula escolar. A interface inicial do dicionário Michaelis está direcionada ao português. Para selecionar o dicionário de português para inglês, o usuário deve encontrar a barra de pesquisa na interface do site e selecionar uma das opções na barra de idiomas. Figura 14: Interface do dicionário digital Michaelis Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/ Figura 15: Interface da barra de idiomas. 44 Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-ingles/ Ao acessar a página direcionada ao inglês, o aprendiz se depara com o Moderno Dicionário Inglês e o Dicionário Escolar Inglês, sendo possível, na hora da pesquisa, selecionar em qual deles quer realizar a busca. Figura 16: Interface do dicionário de inglês Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-ingles/ Vejamos agora as características que distinguem o Moderno Dicionário Inglês do Dicionário Escolar Inglês, do Dicionário Michaelis. Para isso, utilizaremos, mais uma vez, como exemplo, o verbo “acabar". 3.1.4.1 Moderno Dicionário Inglês Observamos, na figura 17, que o Dicionário Moderno Inglês disponibiliza dez equivalentes em inglês para o verbo “acabar”, traz a transitividade verbal e não apresenta ferramenta de áudio para que o aprendiz possa ouvir e conhecer a pronúncia das palavras. https://michaelis.uol.com.br/moderno-ingles/ 45 Figura 17: Interface de busca do verbo acabar no dicionário Moderno Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-ingles/busca/portugues-ingles-moderno/acabar/ Apenas no primeiro e no quinto equivalentes do Moderno Dicionário Inglês são encontrados exemplos. Na segunda, terceira, quarta, sexta, sétima, oitava, nona e décima acepção são apresentadas somente os equivalentes em inglês, sem exemplos de uso. 3.1.4.2 Dicionário Escolar Português/Inglês Já o Dicionário Escolar Português/Inglês apresenta seis equivalentes para o verbo “acabar”, também não disponibiliza ferramenta de áudio, mas traz símbolos fonéticos de pronúncia e a transitividade verbal. O que difere no ‘Escolar’ são os símbolos fonéticos que podem auxiliar o aprendiz na pronúncia. Assim como no Moderno Dicionário Inglês, o Dicionário Escolar Português/inglês traz exemplos apenas no primeiro e no quinto equivalente, como ilustramos na figura 18. 46 Figura 18: Interface de busca do verbo acabar no dicionário Escolar Fonte: https://michaelis.uol.com.br/escolar-ingles/busca/portugues-ingles-escolar/acabar/ Na tentativa de entender se o Dicionário, por se intitular escolar, teria alguma relação com o conteúdo previsto na Base Nacional Comum Curricular, fizemos uma consulta ao documento. Está previsto que o eixo dos conhecimentos linguísticos é o mais extenso, apesar de possuir apenas duas unidades temáticas: estudo do léxico e da gramática. O estudo do léxico possui seis objetos de conhecimento: construção de repertório lexical, pronúncia, polissemia, formação de palavras (prefixos e sufixos), usos da linguagem em meio digital e conectores. Já a gramática possui treze objetos de conhecimento divididos por ano, como segue abaixo. A aprendizagem de língua inglesa, no sexto ano, inicia-se com o presente simples e contínuo, nas formas afirmativa, negativa e interrogativa, imperativo, caso genitivo e adjetivos possessivos. No sétimo ano, são tratados o passado simples e contínuo (afirmativa, negativa e interrogativa), pronomes do caso reto e do caso oblíquo e verbo modal can no presente e passado. O oitavo ano aborda verbos para indicar o futuro, comparativos e superlativos, quantificadores (some, any, many, much) e pronomes relativos. O nono ano fecha o ciclo básico com apenas dois tópicos gramaticais: orações condicionais e verbos modais (should, must, have to, may e might) (Marques, 2021). Era de se esperar que o Dicionário Michaelis Escolar, na palavra-entrada “acabar”, apresentasse as formas e usos dos tempos verbais propostos para o aprendizado na BNCC. 47 Constata-se, assim, que, embora intitulado Escolar9, não possui relação ou atendimento ao conteúdo previsto para esse fim. Os dicionários on-line Cambridge, Linguee, WordReference e Michaelis possuem em comum informações gramaticais que auxiliam o aprendiz que quer se aprofundar na língua. Isso é um aspecto positivo, segundo Zacarias (2011). Embora sua tese se embase em dicionários impressos, é possível estabelecer relações entre esses instrumentos de estudo, pois uma das prioridades para a análise das características pedagógicas de dicionários escolares é a observação do atendimento à função ativa ou passiva: O princípio ativo/passivo é fundamental para a compreensão desta proposta, pois aclara o entendimento de que a elaboração de um DB deve considerar a atividade linguística para qual se destina e, consequentemente, determinar sua função. Quando destinado à atividade de produção terá a função ativa, quando destinado à atividade de compreensão terá a função passiva. [...] A elaboração destes dicionários deve considerar o propósito da obra bilíngue para a elaboração dos dicionários bilíngues português-inglês pedagógicos, ou seja, especializados a este propósito (Zacarias, 2011, p. 32). A autora tem como embasamento a Teoria das Funções Lexicográficas de Tarp (2003, p.68) que enfatiza a importância de estabelecer uma função que será atendida pelo dicionário escolar. A partir dessa análise, trazemos, como possível recurso pedagógico para as aulas de língua inglesa na educação básica, o Dicionário dos Cem verbos português-inglês (DED- 100VPI)10. 3.2 Processo de elaboração do e-Dicionário Eletrônico dos Cem Verbos português- inglês (DED-100VPI) A criação do Dicionário passou por várias fases. Iniciou-se em 2014 com a ideia de elaborar um dicionário pedagógico impresso, de verbos português-inglês. O projeto foi aprovado com Auxílio Pesquisa no País - FAPESP e tem como principal característica e embasamento a pesquisa empírica sobre as necessidades dos alunos brasileiros, e estudos e análises sobre a contrastividade das línguas, a partir das teorias da linguística contrastiva. A Linguística Contrastiva (LC) estuda e contrasta duas línguas com a finalidade de facilitar o processo de aprendizagem e propiciar ao aprendiz ser capaz de identificar as 9 Em busca de justificativa para sua intitulação como Escolar, o grupo de pesquisa entrou em contato com dicionário digital Michaelis por e-mail no intuito de solicitar uma explicação mais clara sobre os critérios que utilizaram para intitular-se como escolar, porém não obtivemos resposta. 10 O DED-100VPI é obra elaborada pela Me. Giseli Sampaio de Oliveira com apoio do Grupo de Pesquisa Tradução, Léxico e Interculturalidade – UNESP FCL/Assis e PPGLLP/FCLAr. 48 semelhanças e as diferenças entre elas, sendo assim uma aliada para o aperfeiçoamento das metodologias em sala de aula. Segundo Zacarias (2011), em sua tese de doutorado, “a LC é uma área que se revela importante para o ensino e aprendizado de línguas estrangeiras porque a LC lida com as diferenças e as semelhanças entre as línguas, em especial, entre a língua materna (LM) e a língua estrangeira (LE) alvo de aprendizagem. A LC preocupa-se, dentre outros assuntos, em analisar os erros dos aprendizes, em situações reais de aprendizagem, além de analisar, contrastivamente, duas línguas, em busca de diferenças, que possam interferir de forma negativa na aprendizagem de um novo idioma.” (Zacarias, 2011, p. 39) Compreendemos que é crucial estabelecer contrastes entre a língua portuguesa e a inglesa para que o aluno possa construir e ampliar seu conhecimento, pois toda a bagagem linguística que tem pode servir como base para aprender uma segunda língua. A princípio, como mencionado no início desse subtópico, a ideia era criar um dicionário físico chamado Dicionário Escolar de Verbos português-inglês (DEVPI), que contou com a participação e realização de pesquisas de alunos bolsistas da Iniciação Científica. O dicionário limitou-se aos verbos, uma vez que a pesquisa de Zacarias (2011) revelou que os verbos são o ponto mais crítico e deficitário no aprendizado de inglês. A pesquisa aponta que, em português, essa classe gramatical se modifica em relação ao tempo (presente, pretérito e futuro), bem como às formas particípio presente e particípio passado, modo (indicativo, subjuntivo e imperativo), à pessoa (primeira, segunda, terceira) e quanto ao número (singular ou plural), em frases afirmativas, negativas e interrogativas, diferenciando-se do inglês que, embora tenha os verbos divididos nos tempos verbais presente, passado e futuro, distingue-os em simples, perfeito e contínuos. O critério de inclusão dos verbos teve como base os mais frequentes em língua portuguesa, revelados pela pesquisa feita por Bay and Davies (2009). A publicação, intitulada Dicionário das Palavras mais Frequentes em Língua Portuguesa (Frequency Dictionary of Portuguese), apresentou 685 verbos. Posteriormente, com o surgimento da plataforma Sketch Engine11, foi realizada nova consulta e outros verbos foram incluídos, totalizando 940 verbos. Para o Dicionário dos 100 verbos português-inglês, foram escolhidos os cem primeiros. O corpus para análise foi construído a partir da consulta dos verbetes de cada um dos verbos em quatro dicionários bilíngues escolares português-inglês, Longman, Oxford, Michaelis e Collins. Os resultados foram registrados manualmente em documento word e avaliados por meio de uma análise linguístico-conceitual para avaliar dentre os equivalentes quais seriam os 11 Sketch Engine é uma ferramenta para extração de corpus (Arcos; Matte, 2020). Disponível em https://www.sketchengine.eu/user-guide/lexicographers/ . Acesso em 09 de abril de 2024. https://www.sketchengine.eu/user-guide/lexicographers/ 49 candidatos à inclusão no DEVPI que se norteou por atender às necessidades dos aprendizes da educação básica. Foram considerados como critérios de exclusão: - os equivalentes com mais de uma unidade lexical; - os equivalentes correspondentes a outro verbo; - os que não contribuíram com clareza de informações. Para elaborar a análise linguístico-conceitual foi utilizada a seguinte legenda: amarelo – para as acepções; rosa – para os phrasal verbs; cinza – para as collocations e vermelho – para os que serão excluídos. Apresentamos no quadro 2 a análise linguístico-conceitual do verbo “acabar”. Quadro 2: Acepções encontradas nos quatro dicionários português-inglês ACABAR Longman Oxford Michaelis CDE To finish To finish To finish To finish To run out To run out - To run out To go off To go off - - To end - To end - To stop sth - - - To finish off sth - - To finish off To ruin To ruin - - To put a stop to sth - - - To end in sth To end in sth - - To end up doing sth To end up doing sth - To end up doing To finish doing sth - - To have just done sth To have just done sth - - - To be the death of sb - - - To break up - - To put an end to sth - To put an end to - To use sth up - To use up - - To conclude - To complete To complete - - To accomplish - - - To achieve - - - To cease - - - To come to an end - - - To be over To be over - - To put out - - - To give the final touch - - - To destroy - - - - To expire 50 - - - To have just arrived Fonte: Elaborado pelo Grupo de Pesquisa (2014). A análise teve por objetivo selecionar os equivalentes que atendessem ao público escolar e, portanto, que seriam viáveis para compor o DEVPI. Em 2016, quando as análises estavam em fase de conclusão, surgiu a necessidade de publicar o dicionário em formato eletrônico, porém não avançou como o esperado, devido à dificuldade em encontrar profissionais na área computacional. O projeto foi contemplado em uma chamada universal CNPq com duas bolsas para Iniciação Científica, em 2018. Nessa fase, foi criado um software para hospedar os dados levantados, porém foi preciso revisar o trabalho pelos membros do grupo de pesquisa. Nesse processo de revisão, o projeto passou a ser chamado de e-Dicionário Escolar de Verbos Português-inglês, e-DEVPI, os verbetes foram lançados em um site pago para acesso on-line chamado ‘locaweb’. Figura 19: Interface inicial do dicionário. Fonte – https://interlex.pro.br Em 2018, a equipe contou com a assessoria de uma especialista na criação técnico- lexicográfica e passou a ser repensado como projeto a ser desenvolvido totalmente on-line. A nova fase trouxe novas perspectivas ao trabalho e essa versão do projeto passou a ser chamada de Dicionário Escolar Digital de Verbos português-inglês (DEDVPI), destinado a https://interlex.pro.br/ 51 estudantes brasileiros da educação básica, favorecendo o letramento digital por integrar a tecnologia on-line ao ensino de línguas. Figura 20: Interface da página inicial do dicionário. Fonte:https://lexicografiaunesp.shinyapps.io/DicionarioEscolarDeVerbosPortuguesIngles/ A fase de testagem teve início com a revisão desse protótipo a fim de averiguar se os verbetes estavam armazenados corretamente. Nessa revisão, constatamos algumas inconsistências no conjunto de informações obrigatórias e facultativas, pois alguns verbos constavam sem as devidas informações lexicográficas, não apresentando os exemplos e os equivalentes que foram levantados na análise linguístico-conceitual. https://lexicografiaunesp.shinyapps.io/DicionarioEscolarDeVerbosPortuguesIngles/ 52 Quadro 3: Revisão dos verbetes. Fonte: Produzido pela pesquisadora. A revisão apontou que a última versão on-line se encontrava em estágio inicial de seu desenvolvimento. Sendo assim, esta pesquisa teve como objeto de testagem, estudo e análise o Dicionário dos Cem Verbos português-inglês, até então o protótipo mais completo. O DED-100VPI foi elaborado em 2021, como produto educacional das Dissertações de Mestrado de Giseli Sampaio de Oliveira, intitulada Lexicografia Pedagógica: e-dicionário escolar de verbos português-inglês e Alex Sandro da Silva Polizer, intitulada Proposta de verbetes para um e-dicionário de verbos da língua inglesa: foco no aprendiz brasileiro da educação básica, participantes do Grupo de Pesquisa Tradução, Léxico e Interculturalidade. A obra apresentou-se mais viável para a realização desta pesquisa por atender ao público-alvo e por disponibilizar boa parte das informações lexicográficas a serem contempladas na obra final. A tese de doutorado da pesquisadora Regiani Aparecida Santos Zacarias (2011), após tabulação dos dados para a sua pesquisa, constatou nove categorias de erros (verbos modais, concordância, tempo, colocação, erro nas frases interrogativas e negativas, uso do verbo to have no sentido de existir, uso do gerúndio, uso do infinitivo e regência nominal). Dentre as necessidades identificadas, na pesquisa de Zacarias, as que podem ser atendidas por informações lexicográficas foram levantadas: 53 - Uso do ‘s’ na terceira pessoa; - Diferenças entre o singular e o plural no presente, no passado simples e no presente perfeito; - Uso do do e does na interrogativa do presente simples; - Uso do did na interrogativa do passado simples; - Uso do will ou be going to na interrogativa do futuro; - Apresentação das formas reduzidas nas negativas; - Modais não são flexionados nem quanto ao tempo verbal nem quanto à pessoa, com exceção do verbo have to. - Ainda em relação aos modais, diferentemente da maioria dos verbos que, em sua forma original, são escritos com o to (exemplos: to go, to dance, to study), os verbos modais são sempre utilizados sem o “to”, com exceção do verbo "ought to" que é o único acompanhado pelo "to". - Não existe infinitivo para os verbos modais, nem particípio, nem gerúndio (Zacarias, 2011). Dentre as suas características principais, o DED-100VPI busca contemplar tais informações, indicar e distinguir os diferentes usos dos equivalentes que fornece, oferecer notas sobre usos, apresentar o verbo nos tempos verbais do inglês, em formato semelhante às conjugações dos verbos em português, e fornece exemplos na direção português-inglês. Podemos observar, na figura 21, a interface do DED-100VPI quando buscamos pelo verbo “acabar”: quatro equivalentes são apresentados finish, end, complete e accomplish, cada um com sua finalidade de uso. 54 Figura 21– Interface do verbete “acabar”. Fonte: https://interlex.pro.br/acabar O dicionário traz também a possibilidade de consultar a conjugação verbal de cada equivalente juntamente com um exemplo. Observamos, nas figuras 22, 23 e 24, a conjugação do equivalente finish, na forma afirmativa, negativa e interrogativa e seus respectivos tempos verbais: https://interlex.pro.br/acabar 55 Figura 22– Conjugação do verbo acabar na afirmativa. Fonte – https://interlex.pro.br/aplicar