UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE ARARAQUARA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA ANÁLISE DE NANOESTRUTURAS POR ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA PARA CÉLULAS FOTOELETROQUÍMICAS MÁRCIO DE SOUSA GÓES Tese de Doutorado 2010 MÁRCIO DE SOUSA GÓES ANÁLISE DE NANOESTRUTURAS POR ESPECTROSCOPIA DE IMPEDÂNCIA PARA CÉLULAS FOTOELETROQUÍMICAS Tese apresentada ao Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Química. Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Bueno ARARAQUARA 2010 AAooss mmeeuuss ppaaiiss,, MMaauurroo ee MMaarriiaa ddoo CCééuu,, ppeelloo aappooiioo ccoonnssttaannttee.. PPoorr mmoossttrraarr qquuee oo eessffoorrççoo vvaallee aa ppeennaa.. AAooss mmeeuuss iirrmmããooss,, MMaarrcceelloo ee MMaarrccooss LLúúcciioo.. AAoo MMaarrcceelloo mmeeuu oouuttrroo eeuu...... mmeettaaddee ddee mmiimm qquuee mmee ccoommpplleettaa.. AAoo MMaarrccooss ppeelloo iinncceennttiivvoo ee aappooiioo.. ÀÀ SSuuhheeiiddee mmeeuu aammoorr,, ppeellaa ccoommpprreeeennssããoo ee ppaacciiêênncciiaa.. EE ppoorr ffaazzeerr mmiinnhhaa vviiddaa mmuuiittoo mmeellhhoorr.. EE aaoo nnoossssoo pprriimmeeiirroo bbeebbêê qquuee nnooss ttrraarráá mmuuiittaass aalleeggrriiaass.. AAmmoo VVooccêêss.. AGRADECIMENTOS Ao orientador, Prof. Dr. Paulo Roberto Bueno, que com paciência, exigência e dedicação guiou-me durante essa etapa de minha vida. Ao Catedrático Juan Bisquert por ter me dado a oportunidade de trabalhar no seu Grupo (Dispositivos Fotovoltaicos e Ópticoeletrônicos) no Depto. de Física, Universidade Jaume I, Castellón de la Plana – Espanha durante 2008/2009. Grupo que me acolheu como parte da equipe. Os meus mais sinceros agradecimentos. Nesse sentido agradeço, em especial, aos meus mentores diretos durante minha vivência na Espanha Prof. Dr. Francisco Fabregat-Santiago e Dr. Thomas Moehl. Com muita paciência e atenção ensinaram-me muito no campo das células solares e espectroscopia de impedância que é possível sim trabalhar/pesquisar com diversão. Aos amigos Sixto Giménez, Lourdes Márquez García (¡qué decir será siempre “La peor”!) e Jorge Cañadas. Os agradeço pelos grandes momentos de alegria e diversão em nossas viagens, jantares e conversas. Enfim, por sua bondade e amizade imensuráveis... Agradecimento que estendo aos amigos e companheiros de trabalho Eva Barea, Iván Mora Sero, Loles Merchán (¡después de ti era yo!), José Maria (Chema), Gèrman Belmonte, Pablo e Fabíola pela partilha e vivência prazerosa no dia-a-dia. Foram pessoas que fizeram a vivência na Espanha prazerosa, divertida e inesquecível... também aos visitantes no grupo que rápido passaram (Luis Otero, Marisa, Xu Xueqing, Pablo Docampo, Jordi, Lledó, Lorena). ¡Muchas Gracias! Agradeço a Alex A. B. Martinson e Tina Li ambos do Grupo do Prof. Dr. Joseph Hupp (Department of Chemistry, Northwestern University, Evanston, Illinois, USA.) e também a Pablo Docampo do Grupo do Prof. Dr. Henry J. Snaith (Department of Physics, University of Oxford, England) pela cooperação e discussão dos trabalhos. A Raluca, Ednan e Rodrigo Parra... O que dizer? Serei eternamente grato por sua amizade, apoio e partilha. Seguramente, esse trabalho esta melhor graças a vocês. A Grazielle, Ailton e Mariele por dividir os obstáculos do doutorado e também por compartilhar as alegrias nesses anos. Aos amigos e colegas do laboratório Gisele Gasparotto, Sayonara, Selminha, Daniela Leite, Naira, Ederson, Manuel, Graça, Thiago, Camila, Márcio Santos e Carla. A Elaine Muniz e Josiel (mesmo que breve) a oportunidade de aprendermos juntos. A Agnaldo Gonçalves pelas primeiras dicas sobre células solares. A Rose Portasio por seu apoio. Ao Prof. Dr. Carlos de O. Paiva Santos por seu apoio, incentivo e amizade... Seus ensinamentos trago sempre comigo. Aos amigos e colegas que fazem sempre a vida ser alegre e menos séria: Samanta Ravazzi, Andreza Mapelli, Edno, Bianca de Campos, Márcia Elis, Carla Segatelli, Romualdo, Aislan Macieira, Fernando Brandão e a Família Bosco (Sr. Bosco, Cristiano e Maria). Também a Fernando Cabeça, João Silvério, Armando Gameiro, Giovanna Gianotto, Josiane Souza e Ricardo Godoy pela vivência sempre prazerosa nesses anos. Ao amigo-irmão Ademir F. dos Santos pela fidelidade e incentivo sempre. A minha família Suheide, Marcelo, Vanessa, Mauro, Maria do Céu, Marcos e Kênia pelo apoio e incentivo sempre e sempre. A minha outra família que mesmo distante estão sempre presentes Sr. Sebastião Oliveira, Sra. Hailta, Suslaine, Juliano, Sildênia, José Borges, Pedro Henrique e Isabella (que acabou de chegar). Deixo aqui registrado o meu agradecimento ao CNPq pela oportunidade de realizar, mediante a concessão da bolsa de estudo, o Doutorado Sanduíche no Exterior (SWE) (Processo: 201516/2007-1). Oportunidade que seguramente me proporcionou enriquecimento profissional e pessoal. Além da bolsa institucional (Processo: 141215/2006-2). Por último, mas não menos importante: Agradeço as pessoas que não foram citadas, mas que durante essa trajetória foram importantes. A essas pessoas minhas mais sinceras desculpas. Às vezes e muitas vezes, a memória nos abandona... "Sem lazer e quietude não existe trabalho criativo, nem cultura, nem civilização". Roy Lewis “O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém permaneça em cima dela, destina-se a sustentar o pé de um homem pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro em um ponto mais alto”. Thomas Hunley RESUMO Diferentes morfologias nanoestruturadas foram estudadas por Espectroscopia de Impedância visando ampliar as suas funcionalidades em células solares. As análises realizadas em células solares sensibilizadas por corante à base de nanotubos de ZnO são reportadas. Essas células exibiram uma alta eficiência para coleta dos elétrons ao longo dos nanotubos de ~64 μm de comprimento. A Espectroscopia de Impedância Eletroquímica, a análise de potencial de circuito aberto e de conversão dos fótons incidentes em corrente elétrica foram usados para estudar o transporte e o tempo de vida das cargas elétricas durante o processo de conversão de energia. Apesar de o fotoanodo ser relativamente extenso, o tempo de extração da carga foi muito mais rápido do que o observado para nanopartículas de TiO2 tradicionais aplicados a esse tipo de célula. A coleta rápida dos elétrons é de importância prática porque permite uma alternativa ao uso do par redox convencional ( / ), uma vez que a dinâmica na intercepção do elétron é mais rápida ocasionando uma significativa redução de perda na fotocorrente. Em outra frente são relatadas as análises efetuadas em células à base de TiO2 recobertas com ZrO2 e que empregam Spiro-OMeTAD como molécula condutora de buracos. Filmes mesoporosos de TiO2 recobertos com ZrO2 foram utilizados como elétrodos ativos para aplicação em células solares do estado sólido, sendo que os dispositivos foram caracterizados por Espectroscopia de Impedância Eletroquímica. A técnica de deposição de camadas atômicas de ZrO2 foi usada com o intuito de passivar os estados de aprisionamento superficiais durante o funcionamento do dispositivo. Isso foi realizado mediante o recobrimento (precisão em Angström) dos filmes mesoporosos de TiO2 com óxido de zircônio. Foi possível verificar que o recobrimento produz um aumento no desempenho geral da célula fotoeletroquímica para dois ciclos de deposição do ZrO2. A técnica de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica mostrou que o recobrimento de ZrO2 reduz o efeito indutivo a baixas frequências, sendo essa redução atribuída a um efeito de passivação dos centros de recombinação presentes na superfície do TiO2. Por fim, mostraremos os resultados do estudo do efeito da variação de Spiro-OMeTAD (5 a 25 %) no desempenho de células solares do estado sólido. As variações na recombinação e capacitância correlacionam com a melhoria no desempenho geral da célula. Esse efeito se deve a redução na resistência de transporte de portadores relacionados aos buracos, aumento da separação de cargas na molécula de corante e, sobretudo, o aumento do fator de transferência na resistência de recombinação, gerando uma redução no fator idealidade do diodo. Palavras-Chave: células solares sensibilizadas, espectroscopia de impedância, nanoestruturas, TiO2, ZnO. ABSTRACT Different nanostructured anode morphologies - aiming at extending the functionality in solar cells - had been studied by Electrochemical Impedance Spectroscopy. The analyses were carried out in dye-sensitized solar cells based on ordered arrays of polycrystalline ZnO nanotubes. These cells exhibit efficient electron collection over the entire photoanode of ~64 μm length. Electrochemical Impedance Spectroscopy, open circuit photovoltage decay and incident-photon-to-current efficiency spectra are used to quantify conductivity and lifetime. Although the photoanode used is relatively long, the extraction time was faster than in traditional photoanodes based on TiO2 nanoparticles. The fast collection of electrons is of practical importance; it allows an alternative to the use of the conventional redox electrolyte ( / ), because electron- interception dynamics is faster, which reduces significantly the photocurrent loss. On the other hand, solid-state dye-sensitized solar cells based on TiO2/ZrO2 core/shell nanoparticles, using a hole transport molecule named Spiro-OMeTAD, were also characterized. The atomic layer deposition technique was used with the intention of passivating the TiO2 surface with ZrO2. It was observed that the coating enhances the general performance of the photoelectrochemical cell after two ZrO2 deposition cycles. The Electrochemical Impedance Spectroscopy measurements provided evidence that the ZrO2 coating reduces recombination losses at the TiO2/Spiro-OMeTAD interface. Besides, the technique showed that the ZrO2 coating reduces the inductive effect at low frequency, this reduction being attributed to the passivation of localized surface states. Finally, results on the study of the effect of the Spiro-OMeTAD concentration (5 to 25 %) in the fabrication of solar cells, are discussed. Variations in recombination and capacitance correlate well with the improvement in the cell performance, which is explained by the reduction in the transport resistance for hole transport, the increase of charge separation in the dye molecule and also by the increase of the transference factor of recombination resistance, that provides a reduction of the diode ideality factor. Keywords: dye-sensitized solar cell, electrochemical impedance spectroscopy, nanostructures, TiO2, ZnO. LISTA DE FIGURAS Figura 2.1. Arquitetura das CSSCs. O óxido inorgânico (semicondutor) e o eletrólito (par redox) são localizados entre dois substratos condutores. OCT = Óxido Condutor Transparente e Pt = Platina. ...................................................................................... 29  Figura 2.2. Esquema de funcionamento da CSSCs. C, C+ e C* são, respectivamente, o corante no estado fundamental, oxidado e excitado. e EBV são as energias da banda de condução e valência do semicondutor, respectivamente. EF é o nível de Fermi da banda de condução do semicondutor. E é a energia redox do eletrólito. .................................................................................................................................. 31  Figura 2.3. Dinâmica de transferência de elétrons nas CSSCs. ................................ 33  Figura 2.4. Circuito equivalente (a) e característica da curva i-V (b) de uma célula solar comparada com um diodo. [Adaptado de (MARKVART, 2006)] ....................... 40  Figura 2.5. Parâmetros da curva j-V. ......................................................................... 42  Figura 3.1. (a) circuito equivalente de Randles e (b) subdivisão de Z em e ou e . .................................................................................................................... 49  Figura 3.2. Plano da impedância a baixas frequências. ............................................ 53  Figura 3.3. Circuito equivalente para o sistema no qual a impedância de Warburg tem menor importância. ............................................................................................. 54  Figura 3.4. Gráfico de Espectroscopia de Impedância no plano complexo para o circuito equivalente da Figura 3.3. ............................................................................. 55  Figura 3.5. Representação esquemática do gráfico de Nyquist para sistema eletroquímico. As regiões de controle de transferência de massa e cinético são encontradas em baixas e altas frequências, respectivamente. [Adaptado de (BARD; FAULKNER, 2001)]. .................................................................................................. 55  Figura 3.6. Espectro da EIE para diferentes elementos e circuitos equivalentes (em série e/ou paralelo). ................................................................................................... 57  Figura 3.7. Esquema de elétrodo compacto plano (a) e poroso (b). Sendo Rs a resistência em série, Z impedância interfacial, Z impedância do bulk, CE contraelétrodo, ET elétrodo de trabalho, χ e χ são as impedâncias generalizadas para a fase 1 (sólido) e 2 (líquido) e ζ elemento de polarização/transferência de carga na interface sólido/líquido [Adaptado de (BISQUERT et al., 2000)] ................ 59  Figura 3.8. Circuito equivalente para uma CSSC completa (no escuro). Cμ = f(cμL) é a capacitância química que está relacionada à mudança da densidade eletrônica em função do nível de Fermi; Rtr = f(rtL) é a resistência de transporte do elétron; Rtc = f(rtc/L) é a resistência de transferência de carga. Rct é à recombinação na interface semicondutor/eletrólito; Rs é a resistência em série relacionada a resistência de transporte no óxido transparente condutor; RFTO é a resistência à transferência de carga para os elétrons que se recombinam na camada descoberta de FTO em contato com o eletrólito; CFTO é a capacitância do triplo contato FTO/semicondutor/eletrólito; Zd é a impedância de difusão das espécies redox no eletrólito; RPt é a resistência à transferência de carga na interface contraelétrodo/eletrólito; CPt é a capacitância interfacial na interface contraelétrodo/eletrólito; L é a espessura do filme semicondutor. [Adaptado de (FABREGAT-SANTIAGO et al., 2005)] ..................................................................... 62  Figura 3.9. Representação alguns dos parâmetros da linha de transmissão (elemento definidos na Figura 3.8) que representa fisicamente os dados experimentais e o Gráfico de Nyquist para CSSC. O espectro de impedância foi obtido da medida, no escuro, em -0.7V para CSSC de nanotubos de ZnO. ............. 63  Figura 5.1. Simulador solar usado nessas medidas. ................................................. 73  Figura 5.2. Suporte para medidas em configuração com 3 elétrodos. ...................... 74  Figura 5.3. MEV dos filmes de nanotubos de ZnO. (a) seção transversal da membrana. (b) contato entre os nanotubos e AOA e (c) topo da membrana. ........... 75  Figura 5.4. Circuito equivalente para as CSSC com nanotubos de ZnO. .................. 76  Figura 5.5. (a) Espectro de impedância no potencial de -0,3 V sob ausência de luz. (b) Ampliação do mesmo espectro para mostrar a resposta a alta frequência. Nota: Outro Espectro de impedância no potencial a -0,7 V esta representada na Figura 3.9. .................................................................................................................................. 77  Figura 5.6. Variação da condutividade eletrônica com a variação do potencial de nanotubos de ZnO não sensibilizados (configuração com 3 elétrodos) (■) e como CSSCs de nanotubos de ZnO (○) e de filmes de TiO2 (▼). A escala do potential para as medidas com 3 elétrodos (■) em eletrolito inerte foram corrigidos de acordo com o potencial do par redox (I /I ). .................................................................................. 78  Figura 5.7. Capacitância química de ZnO em CSSC e em configuração de 3- elétrodos comparada com a CSSC de np-TiO2. A curva (—●—) representa o deslocamento no eixo horizontal para corrigir o deslocamento da banda de condução como discutido na medida de condutividade. ............................................................ 80  Figura 5.8. Comparação da resistência de transferência de carga de nt-ZnO e np- TiO2 em CSSC. ......................................................................................................... 82  Figura 5.9. Comparação entre o tempo de vida da carga (símbolos quadrados) e o tempo de coleta de carga (símbolos em círculos) de nt-ZnO (vermelho, símbolos abertos) e np-TiO2 (amarelo - símbolos fechados) em CSSCs. ................................ 83  Figura 5.10. Comprimento de difusão efetiva de nt-ZnO e np-TiO2 em CSSCs. O comprimento de difusão das CSSCs de nt-ZnO excede o comprimento do tubos por mais de 1 ordem de magnitude. ................................................................................ 85  Figura 5.11. Tempo de vida do elétron em CSSCs com o aumento do [I ]. ............. 87  Figura 5.12. IPCE para CSSCs de nt-ZnO com aumento da concentração de I . Como referência, a linha pontilhada mostra o do corante em nanotubos de ZnO. .................................................................................................................................. 88  Figura 6.1. Molécula de Spiro-OMeTAD. .................................................................. 92  Figura 6.2. Configuração geral da CSSCES com Spiro-OMeTAD (a) e princípio de operação sob iluminação (b). O dispositivo consiste do FTO, sendo que sobre ele há um filme compacto de TiO2 com espessura de ∼100 nm diretamente em contato com o FTO e o condutor de buracos. Geralmente, o filme ativo (sensibilizado) possui espessura de 2 µm. O contraelétrodo é composto por uma camada de ouro de 30 nm depositado por evaporação. ................................................................................ 93  Figura 6.3. Nanoestrutura do tipo núcleo-camada. ................................................... 94  Figura 6.4. Característica da curva j-V das células solares sensibilizadas em estado sólido de 0 a 3 ciclos de ZrO2. (a) sob iluminação (100 mW/cm2) e (b) no escuro. . 100  Figura 6.5. Espectro de Impedância das CSSCES com diferentes ciclos de deposição de ZrO2 medidos, sob iluminação (100 mW/cm2), no potencial de -0,75V. ................................................................................................................................ 102  Figura 6.6. Diagramas de Bode das CSSCES com diferentes ciclos de deposição de ZrO2 medidos, sob iluminação (100 mW/cm2), no potencial de -0,75V. .................. 102  Figura 6.7. Resistência de transferência de carga das CSSCES com diferentes ciclos de deposição de ZrO2.............................................................................................. 103  Figura 6.8. Capacitância das CSSCES com diferentes ciclos de deposição de ZrO2. ................................................................................................................................ 104  Figura 6.9. Curva j-V sob iluminação (100 W/cm2) (linhas) e curva gerada por EIE (símbolos) das CSSCES com diferentes ciclos de deposição de ZrO2. .................. 108  Figura 7.1. Representação geral de uma CSSCES. ............................................... 111  Figura 7.2. CSSCES com Spiro-OMeTAD. ............................................................. 114  Figura 7.3. Característica da curva j-V das células solares sensibilizadas com concentração de 5 a 25 % de Spiro-OMeTAD. (a) sob iluminação (100 mW/cm2) e (b) no escuro. .......................................................................................................... 115  Figura 7.4. Espectro de Impedância das CSSCES com concentração de 5 a 25 % de Spiro-OMeTAD para potencial de -0,4 V, sob iluminação (100 mW/cm2). (a) Gráfico de Nyquist e (b) Gráfico de Bode. ........................................................................... 116  Figura 7.5. Espectro de Impedância das CSSCES com concentração de 5 a 25 % de Spiro-OMeTAD para potencial de 0,75 V, sob iluminação (100 mW/cm2). (a) Gráfico de Nyquist e (b) Gráfico de Bode. ........................................................................... 117  Figura 7.6. Gráfico da Capacitância Química das CSSCES com concentração de 5 a 25 % de Spiro-OMeTAD, sob iluminação (100 mW/cm2). ....................................... 118  Figura 7.7. Gráfico da resistência de transferência de carga das CSSCES com concentração de 5 a 25 % de Spiro-OMeTAD, sob iluminação (100 mW/cm2). (a) R e (b) β. ..................................................................................................................... 119  LISTA DE TABELAS Tabela 6.1. Parâmetros do desempenho das CSSCES com diferentes ciclos de deposição de ZrO2. ................................................................................................... 99  Tabela 7.1. Parâmetros gerais das CSSCES com diferentes concentrações de Spiro- OMeTAD. ................................................................................................................ 115  LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Símbolos Espessura e/ou comprimento do filme semicondutor Mobilidade das espécies Área dos filmes c Concentração    Capacitância das espécies iônicas adsorvidas na superfície do semicondutor    Capacitância carga espacial Capacitor    Capacitância da camada de Helmholtz Concentração padrão das espécies envolvidas    Capacitância interfacial na interface contraelétrodo/eletrólito    Pseudocapacitância Concentração redox padrão C* Corante excitado C+ Corante oxidado   Capacitância “química” Coeficiente de difusão Vetor de deslocamento Campo elétrico Energia da banda de condução do semicondutor Energia da banda de valência do semicondutor Energia de Fermi Nível de Fermi da banda de condução do semicondutor quasi-Fermi dos elétrons (na banda de condução do semicondutor) Energia do eletrólito redox Potencial redox padrão Densidade de estados Produção de corrente Carregamento da dupla camada Corrente de curto circuito Processo Faradaico Corrente do diodo Intensidade da luz incidente Geração da corrente pela luz Corrente de saturação no escuro Íon Iodeto Íon Triiodeto i-V Corrente vs potencial Densidade de corrente no curto circuito    Densidade de corrente de troca j-V Densidade de Corrente vs potencial   Densidade total de estados localizados Número de elétrons no semicondutor Espécies reduzidas    Resistência à transferência de carga para os elétrons que se recombinam na camada descoberta do FTO    Resistência em série    Resistência de transporte Resistência de transferência de carga ou recombinação    Transferência de carga na interface contraelétrodo/eletrólito   Representa a resistência não compensada Temperatura   Parâmetro com unidade em temperatura    Potencial aplicado    Potencial de circuito aberto Número de cargas de espécies consideradas Número de carga    Impedância do bulk   Impedância de difusão Processo ou impedância faradaico ou ´´ Parte imaginária   Impedância interfacial ou ´ Parte real Impedância de Warburg    Fator de transferência   Elemento de polarização/transferência de carga na interface sólido/líquido    Eficiência   Coleta de cargas Separação de cargas opostas Absorção da luz λ Comprimento de onda da luz incidente Potencial químico Potencial eletroquímico Potencial químico determinado pela vizinhança (independente da concentração) Coeficiente estequiométrico σ Condutividade das espécies σ Condutividade eletrônica   Constante (em termos de frequência) Constante de tempo para o transporte de elétrons    Constante de tempo de vida da carga Potencial elétrico (interno) ou Galvânico Diferença de potencial superficial   Impedância generalizadas para a fase 1 (sólido)    Impedância generalizadas para a fase 2 (líquido) Potencial elétrico externo Frequência angular (rad/s)    Frequência do processo de transferência de carga Abreviaturas Al Alumínio ALD Do inglês Atomic Layer Deposition AM Do inglês Air Mass AOA Anódica de óxido de alumínio AZO Óxido de zinco dopado com alumínio BMII Do inglês N-methyl-N-butyl imidazolium iodide E Eletrólito EIE Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Fator de preenchimento FTO Do inglês Fluorine-doped tin oxide CE Contraelétrodo CIGS Do inglês Copper Indium Gallium Diselenide CSSCs Células solares sensibilizadas por corantes CSSCES Células solares sensibilizadas por corante do estado sólido ET Elétrodo de trabalho HOMO Do inglês Highest Occupied Molecular Orbital IPCE Do inglês Incident Photon-to-current Conversion Efficiency LUMO Do inglês Lowest Unoccupied Molecular Orbital MEV Microscopia Eletrônica de varredura np Nanopartículas nt Nanotubos N719 Do inglês cis-bis(isothiocyanato)bis(2,2’-bipyridyl-4,4’- dicarboxylato)-ruthenium(II)bis-tetrabutylammonium PCE Do inglês Power Conversion Efficiency) OCT Óxido condutor transparente S Semicondutor Spiro-OMeTAD Do inglês 2,2’,7,7’-tetrakis(N,N-di-p-methoxyphenylamine)- 9,9’-Spirobifluorene TBAPF6 Do inglês tetra-n-butylammonium hexafluorophosphate Z907 Do inglês (cis-RuLL´-(SCN)2, sendo L = 2,2´-bipyridyl-4,4´- dicarboxylic acid e L´ = 4,4´- dinonyl-2,2´-bipyridyl) 3-MPN 3-metoxi-propionitrila Unidades e Constantes Velocidade da luz eV Elétron-volt nm Nanômetros Constante de Planck Constante de Boltzmann kW/m2 Kilowatts/por metro quadrado TWh Terawatts/hora SUMÁRIO 1  Introdução _____________________________________________________ 21  2  A  Física  e  as  Características  Gerais  das  Células  Solares  Sensibilizadas  por  Corantes    ______________________________________________________________ 25  2.1  Células Solares Sensibilizadas por Corantes _____________________________ 26  2.2  Princípio de Operação e Características Físicas das CSSCs. _________________ 29  2.2.1  Configuração e modo de operação _________________________________________ 29  2.2.2  Potencial eletroquímico __________________________________________________ 33  2.2.3  Transporte de massa em sistemas eletroquímicos _____________________________ 37  2.2.4  Interface Elétrodo/Eletrólito ______________________________________________ 39  2.2.5  Curva Corrente vs Potencial _______________________________________________ 40  2.2.6  Eficiência de Conversão de Fótons Incidentes em Corrente Elétrica _______________ 45  3  Espectroscopia de Impedância Eletroquímica  _________________________ 47  3.1  TEORIA ‐ Aspectos Gerais  ___________________________________________ 48  3.2  Linha de Transmissão _______________________________________________ 59  4  Objetivos  ______________________________________________________ 68  5  Nanotubos de ZnO em CSSCs _______________________________________ 69  5.1  Introdução  _______________________________________________________ 70  5.2  Parte Experimental  ________________________________________________ 72  5.3  Resultados e discussão  _____________________________________________ 75  5.4  Conclusões _______________________________________________________ 90  6  CSSCs de TiO2 recobertas com ZrO2 com Spiro‐OMeTAD _________________ 91  6.1  Introdução  _______________________________________________________ 92  6.2  Parte Experimental  ________________________________________________ 97  6.3  Resultados e Discussões  ____________________________________________ 99  6.4  Conclusões ______________________________________________________ 109  7  Análise  da  concentração  de  Spiro‐OMeTAD  em  células  solares  do  estado  sólido.    _____________________________________________________________ 110  7.1  Introdução  ______________________________________________________ 111  7.2  Parte Experimental  _______________________________________________ 113  7.3  Resultados e Discussões  ___________________________________________ 115  7.4  Conclusões ______________________________________________________ 122  8  Considerações Finais e Perspectivas ________________________________ 123  REFERÊNCIAS  ______________________________________________________ 125  21 Capítulo I – Introdução 1. Introdução Geral 1 Introdução Durante milhares de anos a humanidade fez uso exclusivamente de fontes de energia renovável. A madeira era usada para o aquecimento, os animais usados para o transporte, e o vento e a água forneciam a energia mecânica. Entretanto, a Revolução Industrial (mecanização da manufatura), iniciada na metade do século XVIII, trouxe novas máquinas e, consequentemente, a necessidade de novas fontes energéticas: naquele momento, o carvão passou a satisfazer à demanda crescente por energia. Já no século XX observa-se a primeira exploração do petróleo, do gás natural e, mais adiante e como solução para dependência daquele combustível fóssil, da energia nuclear como fonte de energética para sustentar e dinamizar - de forma mais consolidada - o crescimento socioeconômico. Por fim, a energia oriunda dos combustíveis fósseis hoje retém 95% (44 % petróleo, 26 % gás natural, 25 % carvão natural) a demanda de energia total no planeta, a qual excede 105 TWh (terawatts/hora) por ano. Os demais 5 % estão distribuídos em 2,5 % hidroelétrica, 2,4 % nuclear e apenas 0,1% de fontes renováveis não hídricas (CHOW; KOPP; PORTNEY, 2003; PLASS, 2004; SØRENSEN, 2004). Como conseqüência, devido à queima dos combustíveis fósseis aliada à agricultura extensiva e a outros fatores para geração de energia, uma série de alterações e efeitos nocivos na biosfera têm sido desencadeados. Essas alterações e efeitos são observados nas correntes marinhas, degelo das calotas polares, efeito estufa e perturbações climáticas em todo o planeta. Por outro lado, além do contexto ambiental, deve-se ressaltar a forte dependência da sociedade em relação a essa fonte energética que, por sua vez, não é renovável. Em virtude disso, há a necessidade de buscar e aperfeiçoar formas de energia alternativa e renovável as quais poderão suprir a demanda global de energia e que, ao mesmo tempo, possam amenizar o impacto ambiental. Neste sentido, desde a descoberta do efeito fotoelétrico, em 1839, pelo francês Alexandre Edmond Bequerel (BECQUEREL, 1839), pesquisadores ao redor do globo têm se dedicado, ao longo dos anos, ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de dispositivos capazes 22 Capítulo I – Introdução 1. Introdução Geral de converter a luz solar em energia elétrica e/ou química (gás H2) de forma cada vez mais eficaz e prática. Isso porque o planeta recebe do sol um fluxo quase constante de radiação, que com céu limpo e ar seco atinge aproximadamente 1kW/m2. Todavia, segundo Leite (LEITE, 2005) para produzir o equivalente a um barril de petróleo com um painel de células solar de 1 m2, nós precisaríamos de mais de 13 anos. Além disso, um poço médio de petróleo produz por dia, aproximadamente, cerca de 50 mil barris e ocupa cerca de 100 m2. Ou seja, por m2 o que é extraído de energia como petróleo em um dia corresponde a sete mil anos de energia solar. Por outro lado, a quantidade de energia fornecida pelo Sol para a Terra é de aproximadamente 3 x 1024 Joules/ano, ou seja, 10.000 vezes mais do que o consumido pela humanidade atualmente. Assim, converter 0,1 % da área do planeta em células solares com uma eficiência de 10 % seria o suficiente para satisfazer as atuais necessidades da humanidade (GRÄTZEL, 2001; SØRENSEN, 2004). Basicamente, há três métodos pelos quais a luz solar pode ser convertida em energia por meio do efeito fotovoltaico. O primeiro é o processo realizado pelas plantas. Este é conhecido como fotossíntese, sendo, portanto, o método natural de conversão e é responsável pelo combustível químico que sustenta a vida no planeta. O processo básico da fotossíntese envolve a conversão de dióxido de carbono (CO2), e água em compostos orgânicos e oxigênio gasoso (O2). Durante a fotossíntese, a radiação fornecida pela luz solar incidente é em parte armazenada na forma de combustível químico, o qual é utilizado pela planta para o seu metabolismo. Um aspecto interessante é que somente de 3-5% do total da energia incidente é armazenada como energia nas plantas, mesmo assim tal eficiência é suficiente para sustentar a vida no Planeta (TAN et al., 1994). Já o segundo método são as chamadas células fotovoltaicas - dispositivos de estado sólido - que convertem luz solar (fóton) em eletricidade (elétrons). Esses dispositivos têm funcionado como fonte alternativa de geração de energia, para diversas aplicações e em qualquer localização na Terra e no Espaço, sendo que a maior parte desses sistemas fotovoltaicos (aproximadamente 99%) tem sido dominada pelas junções do tipo p-n feitos de silício (cristalino ou amorfo). Esse domínio deve-se, basicamente, a sua abundância (é o segundo elemento mais abundante da crosta da Terra) e alto desempenho. Além, da experiência da indústria 23 Capítulo I – Introdução 1. Introdução Geral especializada no processo de fabricação e montagem desse tipo de dispositivo. Fundamentalmente, essas células solares convencionais são dispositivos de cargas minoritárias, isto é, sua eficiência é determinada pela habilidade das cargas minoritárias fotogeradas – elétrons no material do tipo p – escapar de um lado do dispositivo antes de recombinarem com as cargas majoritárias. Assim, propriedades tais como o tempo de vida e o comprimento de difusão dessas cargas minonitárias são essenciais para determinar o mecanismo de funcionamento do dispositivo. Nessas células, a interface embora seja uma característica importante no dispositivo, o crucial para o alto desempenho do dispositivo durante o processo de transporte, separação e recombinação das cargas fotogeradas ocorrem todas no bulk do material. Desta forma, as propriedades do bulk no semicondutor, tais como cristalinidade e pureza química controlam a eficiência dessas células solares fotovoltaicas (GREGG, 2003). Por essa razão, pesquisas têm sido realizadas objetivando substituir o silício, pois para a sua produção há necessidade de grandes quantidades de energia para a purificação do óxido (requer 99,9999 % de pureza). Além disso, uma grande parte de matéria-prima é desperdiçada durante o processo. Outro ponto é que o desempenho de pilhas à base de silício se degrada com o aumento da temperatura, o que requer um sistema refrigerado durante a operação. Esses fatores, entre outros, elevam o custo da produção desse tipo de dispositivo solar. Outros semicondutores, tais como CuInSe2, CuGaSe2, CuInS2 e, mais recentemente, pela tecnologia CIGS (sigla em inglês, Copper Indium Gallium Diselenide) têm sido empregados com a finalidade de substituir o silício nas células fotovoltaicas. Mesmo assim, tais dispositivos requerem uma quantidade de energia considerável para a sua produção fazendo com que muitos esforços sejam realizados em pesquisas para geração de novas técnicas de fabricação e montagem desse tipo de célula solar (NUSBAUMER, 2004; PLASS, 2004). Basicamente, o grande desafio para a indústria e o principal entrave para a difusão dos sistemas fotovoltaicos em larga escala em todo o planeta é o custo de produção. Ao contrário do sistema convencional (à base de silício, por exemplo), na qual o semicondutor assume ambas as tarefas de absorver a luz e transportar a carga, as duas funções são separadas nas chamadas células solares sensibilizadas por corantes (CSSCs) (classe de células fotovoltaicas, conhecidas como células fotoeletroquímicas). Esse tipo de célula esta na categoria do terceiro método de 24 Capítulo I – Introdução 1. Introdução Geral conversão de luz solar. A maioria das CSSCs consiste basicamente de dois elétrodos. Um é o semicondutor (elétrodo de trabalho) sensibilizado por um corante que está adsorvido em sua superfície e, o segundo, metálico (contraelétrodo). Ambos são imersos em um eletrólito e expostos a luz solar. Essas células são conhecidas como células solares cinéticas, pois nenhum campo elétrico está presente para ocasionar a separação de cargas, mas sim diferentes constantes de velocidades para extração dos elétrons (difusão) e recombinação. Nos últimos 19 anos - desde a célula desenvolvida por Grätzel et al. (O'REGAN; GRÄTZEL, 1991) - há uma consciência crescente das vantagens dessa “nova” arquitetura e, também, da possibilidade de fabricação de uma nova classe de dispositivo fotoeletrônicos (fotoeletroquímicos). Isso porque eles oferecem a perspectiva de fabricação a custo mais baixo devido a não haver a necessidade de processos a altas temperaturas e vácuo. Isso resulta numa economia de energia considerável na sua produção (O'REGAN; GRÄTZEL, 1991; NAZEERUDDIN et al., 1993; GRÄTZEL, 2005). Contudo, essas células são fotoativas somente se estiverem na região ultravioleta do espectro eletromagnético que, por sua vez, limita a eficiência de conversão entre 6- 11 % dependendo do tamanho do módulo. 25 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes 2 A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes Nessa seção serão abordados os aspectos gerais do funcionamento das células solares sensibilizadas por corantes e suas características físicas. Aspectos que são importantes para o entendimento desse tipo de dispositivo com diferentes óxidos, morfologias e arquiteturas. Na primeira parte será feito um esboço geral do desenvolvimento histórico e a evolução das células solares sensibilizadas por corantes. Em seguida, serão discutidos os aspectos do mecanismo de funcionamento e dos conceitos físico- químicos que envolvem esse tipo de dispositivo. 26 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes 2.1 Células Solares Sensibilizadas por Corantes1 O advento de moléculas corantes usadas como absorvedores de luz (fótons) e/ou agentes transmissores para conversão de energia desperta curiosidade e interesse na evolução natural (processo de fotossíntese e mecanismo fotossensível). O seu desenvolvimento/aplicação se deu, principalmente, pela influência direta da implantação e evolução da fotografia ao longo dos anos. Em 1710, Diesbach produziu o primeiro corante sintético, conhecido como Azul da Prússia, um hexacianoferrato, que pode ser reversível em sua coloração, desde o azul intenso ao transparente. Em 1837, um pouco mais de um século, Daguerre fez a primeira imagem fotográfica. Em 1839, Fox Talbot deu continuidade com o processo com a síntese de haletos de prata. Contudo, o domínio na formulação das emulsões para fotografia só se tornou uma ciência com as análises teóricas do processo por Gurney e Mott em 1938 (GURNEY; MOTT, 1938). Depois disso houve progresso nas emulsões sensibilizantes para fotografia, mas a sensibilidade era ruim na região do espectro do verde até o vermelho. Hoje isso pode ser explicado pela natureza semicondutora dos cristais dos haletos de prata usados na fotografia, cuja band gap está na faixa de 2,7 a 3,2 eV. Dessa forma, a fotoresposta era negligenciada para comprimentos de ondas maiores do que 460 nm. Isto foi observado, por exemplo, mudando a gelatina usada como suporte para os grãos de haletos de prata. Assim, se modificou significativamente a sensibilidade da película. Já no século XX, descobriu-se que um composto organosulfuroso presente na pele dos bezerros era responsável pela sensibilidade. Hoje tal efeito é conhecido devido à indução dos sulfetos de prata nanoestruturados em cada grão do haleto de prata. Isto pode ser considerado como o primeiro semicondutor sensibilizado com heterojunção. A fotografia e a fotoeletroquímica convergiram de forma interessante, uma vez que ambas dependem da separação de cargas provocadas pela fotoindução na interface sólido-líquido. Como visto anteriormente, os haletos de prata têm um bandgap na ordem de 2,7 a 3,2 eV, e são, consequentemente, insensíveis a uma faixa grande do espectro 1 Está seção foi fundamentada tendo como base os trabalhos de: H. Tribustsh, Coord. Chem. Rev., v. 248, p. 1511-1530, 2004; R. Plass, Nanoparticle sensitisation of solid-state Nanocrystalline solar cell, Tese de doutorado, Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne, Lausanne, 2004, p. 138. 27 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes visível. Em 1873, Hermann Wilhelm Vogel descobriu que contaminando emulsões de fotografia de haletos de prata com um corante verde tornava o filme muito mais sensível a luz vermelha (WEST, 1974; MCCORMICK-MUSEUM, 2009). Assim, com haletos de prata sensibilizados com corantes encontrou-se uma fotoresposta significativa na região do vermelho e também do infravermelho. Logo depois, Moser (MOSER, 1887) e Rigollot (RIGOLLOT, 1893) foram os pioneiros a sensibilizar, em anos diferentes, um fotoelétrodo usando uma idéia similar. Todavia, somente em 1964, na Conferência Internacional de Sensibilização de Sólidos, reconheceram-se os efeitos do corante em células fotoeletroquímicas, e que ele poderia ser adsorvido em uma monocamada em pacotes fechados nos elétrodos semicondutores a fim de maximizar o seu desempenho, ou seja, sua eficiência. Em 1972, a história da CSSC deu-se de forma efetiva com a sensibilização de elétrodos óxidos de zinco com clorofila e seus derivados. Pela primeira vez fótons foram convertidos em corrente elétrica pela injeção de cargas pelo corante na banda de condução do semicondutor (TRIBUTSCH, 1972). Durante os anos subsequentes, com diversos trabalhos realizados, muitos corantes e semicondutores foram testados. Em 1976, Tsubomura et al. mostraram uma eficiência de conversão de aproximadamente de 1,5% para o óxido de zinco (TSUBOMURA et al., 1976) e, em 1980, o mesmo grupo estudando óxido de zinco mostrou já uma eficiência de 2,5% (MATSUMURA et al., 1980). Depois de diversas pesquisas e desenvolvimento em semicondutores com dimensões nanométricas e corantes orgânicos (a base de Rutênio, principalmente) culminou que Grätzel et al., em 1991, aumentaram a eficiência deste tipo de dispositivo de 2,5 para 7,1% (O'REGAN; GRÄTZEL, 1991). Diante disso, as CSSCs passaram a ser mais interessantes para sua efetiva implementação e aplicação comercial. O elevado desempenho nas CSSCs está diretamente relacionado com a absorção de luz pela monocamada do corante em uma faixa maior do espectro eletromagnético. Além disso, a integração entre o semicondutor poroso, de estrutura nanocristalina e alta rugosidade superficial, proporcionou um aumento considerável da adsorção do corante sensibilizador na superfície do óxido (TRIBUTSCH, 2004). Assim, quando a luz penetra ao longo do filme semicondutor fotossensibilizado, ela cruza centenas de monocamadas do corante adsorvido. Essa estrutura permite o 28 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes espalhamento da radiação e mais injeção de elétrons no semicondutor. O resultado final é uma maior absorção de luz e maior eficiência de conversão em eletricidade. Então, a combinação do TiO2 nanoestrutura e de corantes à base de rutênio, em meio não aquoso, determinou o salto 2,5 para 7,1% de eficiência das CSSCs. Atualmente, o mecanismo de funcionamento das CSSCs é bem compreendido e já possui eficiência, em laboratório, de 11,1% (CHIBA et al., 2006). Sendo que há um desafio para o desenvolvimento - integrados a métodos de caracterização efetivos para o entendimento de funcionamento e mecanismo - de novas arquiteturas para melhorar sua eficiência global (eficiência comparável as células a base de silício amorfo) (GREEN et al., 2006). Outros aspectos limitantes das CSSCs podem ser sumarizados pela baixa estabilidade da corrente a longo prazo e a diminuição da eficiência com o aumento do tamanho das células para esse tipo de dispositivo. 29 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes 2.2 Princípio de Operação e Características Físicas das CSSCs. 2.2.1 Configuração e modo de operação Basicamente, as CSSCs são formadas por óxidos semicondutores que possuem um corante (sensibilizador) sobre sua superfície e um contraelétrodo, e entre eles está o eletrólito (par redox, normalmente / ) (Figura 2.1). Em linhas gerais, as placas de vidro, representadas na Figura 2.1, são conhecidas como Óxido Condutor Transparente (OCT), pois sobre elas há filmes de óxidos condutores depositados. Esses óxidos são, normalmente, óxido de estanho dopado com Flúor (SnO2:F, o qual chamaremos de FTO – Fluorine-doped tin oxide). Para preparação do contraelétrodo é depositado em geral, via decomposição térmica de H2PtCl6, sobre o FTO uma camada de platina (Pt), com finalidade de catalisar a reação do par redox do eletrólito. Em contra partida no outro substrato (elétrodo de trabalho) o óxido semicondutor com tamanho de partículas na ordem de 5-20 nm e, em geral, com espessura de 10 µm é depositado sobre o FTO. Sendo que na superfície do semicondutor é adsorvida uma monocamada de corante. Entre os dois substratos um eletrólito líquido (contendo o par redox) é acrescentado. O eletrólito, em geral, pode penetrar ao longo do semicondutor nanoporoso. Figura 2.1. Arquitetura das CSSCs. O óxido inorgânico (semicondutor) e o eletrólito (par redox) são localizados entre dois substratos condutores. OCT = Óxido Condutor Transparente e Pt = Platina. 30 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes As CSSC são governadas por uma classe especial de cargas majoritárias, na qual os elétrons são encontrados exclusivamente em uma fase e os buracos em outra. Basicamente, o mecanismo cinético geral das CSSCs montadas (Figura 2.1) ocorre da seguinte maneira: a absorção de luz é feita pelo corante (C) adsorvido na superfície do semicondutor. Em seguida, o elétron do corante é excitado do orbital molecular preenchido de mais alta energia (HOMO; sigla em inglês, para highest occupied molecular orbital) para orbital molecular vazio de mais baixa energia (LUMO; sigla em inglês, para lowest unoccupied molecular orbital). Após ter sido excitado por um fóton de luz, o corante (C*) está apto a transferir um elétron para a banda de condução do semicondutor. O transporte de cargas ocorre para banda de condução do semicondutor por pura difusão de elétrons para o elétrodo de OCT. Ao chegar ao OCT, os elétrons são conduzidos para o contraelétrodo via circuito externo. Ao mesmo tempo, o eletrólito (E) aceita os elétrons provenientes do contraelétrodo, no qual está catalisado pela platina presente. Desta forma, os sítios para receber elétrons no eletrólito ( ) recombinam com elétrons, provenientes do contraelétrodo, formando cargas negativas ( 2 3 ). Em seguida, a carga negativa ( ) é transportada, por difusão, de volta e reduz a molécula do corante oxidado (C+) (2 3 2 ), fechando o circuito (Figura 2.2) (MARKVART, 2006). Se o processo de conversão nas CSSCs fosse perfeito, chegar-se-ia a fotovoltagem teórica máxima (1,8 eV) (BISQUERT et al., 2004b) e, assim, a eficiência máxima desse tipo de dispositivo poderia ser alcançada. 31 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes Figura 2.2. Esquema de funcionamento da CSSCs. C, C+ e C* são, respectivamente, o corante no estado fundamental, oxidado e excitado. e são as energias da banda de condução e valência do semicondutor, respectivamente. é o nível de Fermi da banda de condução do semicondutor. é a energia redox do eletrólito. O que se deve ter claro é que o processo nas CSSCs baseia-se no princípio de que os processos de absorção de luz e separação de cargas ocorrem de uma maneira diferenciada. A absorção de luz é feita por uma monocamada de um corante (C) adsorvido quimicamente na superfície do material semicondutor (S). Após ter sido excitado (C*) por um fóton de luz, o corante está apto a transferir um elétron para a banda de condução (bc) do semicondutor (S) (Eq. I). Este processo é chamado de injeção (Eq. II). O campo elétrico presente no seio do semicondutor permite a extração do elétron que fica separado do buraco pela interface semicondutor/corante. Cerca de 60% dos elétrons são injetados no estado singleto e os outros 40% no estado tripleto. A correspondente constante de velocidade de injeção é na ordem de femtossegundos (estado singleto) e, aproximadamente, uma ordem de magnitude menor que o estado tripleto (KARTHIKEYAN et al., 2007). Em contra partida, este processo compete com um processo conhecido como relaxação (Eq. III). Por outro lado, há um processo de recombinação que é a transferência do elétron do semicondutor para o corante (Eq. IV). Na presença do par redox presente 32 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes no eletrólito (E) há transferência de elétrons ao corante oxidado (C+). Assim, o C+ é reduzido no contraelétrodo pelo elétron que sofreu o processo de injeção (Eq. V). O transporte de carga pelo eletrólito nos poros do filme semicondutor para o contraelétrodo e os elétrons injetados no filme nanocristalino devem ser suficientemente rápidos para competir com reação de recaptura (Eq. VI) (NUSBAUMER, 2004). C / S + hν → C* / S Excitação (fs) (I) C* / S → C+ / S + (S) Injeção (fs) (II) C* / S → C / S Relaxação (ps) (III) C+ / S + (S) → C / S Recombinação (µ-ms) (IV) C+ / S + E→ C / S + E+ Regeneração do corante (ns) (V) E+ + (S) → E Reação de recaptura do elétron (µ-ms) (VI) Durante mecanismo cinético nas CSSCs a mais significante perda de elétrons no processo de conversão dos fótons em corrente elétrica é a recombinação dos elétrons durante a difusão no S com os buracos no eletrólito ( ) (PETER; WIJAYANTHA, 2000). Normalmente, este é o motivo pelo qual a concentração do triiodeto nas CSSCs é pequena. Por outro lado, essa concentração deve ser alta o suficiente para fornecer padrões de recombinação dos elétrons no contraelétrodo de platina, caso contrário, a corrente máxima será limitada durante a difusão, isto é, limitada pela difusão do triiodeto. A Figura 2.3 ilustra este processo de transferência dos elétrons nas CSSCs. 33 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes Figura 2.3. Dinâmica de transferência de elétrons nas CSSCs. Todos os processos envolvendo as cargas elétricas – fotogeração, separação e recombinação – nas CSSCS ocorrem primariamente, ou exclusivamente, nas interfaces pela criação de um par elétron-buraco. Assim, diferentemente das células convencionais do tipo n-p, as propriedades nas interfaces possuem importância primordial, ou seja, a propriedade do bulk no semicondutor é menos crítico (GREGG, 2003). 2.2.2 Potencial eletroquímico Uma propriedade importante nas CSSCs é o potencial eletroquímico. Essa propriedade pode ser considerada como equivalente a diferença entre a energia de Fermi de um metal (ou semicondutor) e a energia redox do eletrólito. Essa visão geral faz-se necessária nas CSSCs, já que o processo de transferência de carga ocorre entre diferentes meios (semicondutor, metal e eletrólito). Porém, faz-se necessário antes da definição do potencial eletroquímico uma pequena introdução do potencial eletrostático, que é dado por: 34 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes , , , , Ψ χ 2.1 Esse potencial eletrostático é definido como o trabalho necessário para mover, sem interação de matéria, uma unidade de carga positiva do infinito até um ponto , , no interior da fase. Sendo que o e são, respectivamente, o campo elétrico e o vetor deslocamento, sendo esse ultimo infinitesimal e tangente a trajetória. Já Ψ é o potencial externo, que é definido com potencial eletrostático na parte externa da superfície e é a diferença de potencial superficial devido à presença de orientação de dipolos ou pela distribuição heterogênea de cargas na superfície (BARD; FAULKNER, 2001). Vale ressaltar que em todos os pontos no interior da fase condutiva (metal, eletrólito, etc.) o campo elétrico ( ) é igual a zero, pois nenhuma carga está em fluxo, ou seja, não há movimento de partículas carregadas. Assim, a diferença de potencial entre dois pontos no interior da fase deve também ser zero. Por último, é conhecido como potencial elétrico (interno) ou Galvânico e é um dos elementos que define o potencial eletroquímico. O potencial eletroquímico2 ( ) é dividido em dois termos. O primeiro vem da contribuição química à tendência de escape. A contribuição química (denominaremos aqui de potencial químico, ) é gerada pelo meio químico, no qual se situa a espécie carregada. Já o segundo termo vem da contribuição elétrica (aqui de potencial elétrico, ), ou seja, dependência da condição elétrica da fase. Logo, o potencial eletroquímico é representado por: 2.2 2 Alguma confusão pode ser ocasionada para as diferentes definições do potencial eletroquímico para as “duas” abordagens padrões: a tradicional (termodinâmica) e a moderna (física). Porém, as duas abordagens levam aos mesmos resultados de maneiras diferentes. De qualquer forma, recomenda-se que se faça uma leitura detalhada do trabalho S. Trasatti em The Electrode Potential. Comprehensive Treatise of Electrochemistry. Ed. Brockris, J. O´M; Conway, B. E. e Yeager, E. Plenum Press. New York and London, Vol. 1, 1980. 35 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes O é a carga elementar; e , o número de cargas de espécies consideradas. Vale a pena ressaltar que o potencial elétrico tem dimensão de potencial. Isso se deve as distribuições macroscópicas das cargas. O potencial químico das espécies envolvidas no processo é determinado pela concentração , isto é: 2.3 o é determinado pela vizinhança (independente da concentração), é a constante de Boltzmann, é a temperatura e é a concentração padrão das espécies envolvidas. Obviamente, é o valor do potencial químico, fazendo a consideração que as espécies presentes estão abaixo da concentração padrão. O potencial eletroquímico corresponde em termos de energia ao que é requerido para trazer uma partícula da espécie considerada de um lado do sistema de interação para um ponto livre de interação no infinito (nível do vácuo). Esta definição é equivalente à definição da energia de Fermi ( ) ou a função de trabalho de um metal ou semicondutor. Portanto, o potencial eletroquímico e o nível de Fermi são propriedades equivalentes 2.4 No caso das propriedades físicas dos semicondutores a energia de quasi- Fermi dos elétrons ( ) na banda de condução do semicondutor é dada por: 2.5 o é a energia do nível da banda de condução, o é a densidade de elétrons na banda de condução e o é a densidade de estados eletrônicos na banda de 36 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes condução. O nível de quasi-Fermi ocorre quando uma voltagem externa é aplicada em um elétrodo semicondutor, proporcionando uma diferença de potencial eletroquímico na solução (nível de Fermi para o sistema redox) e no elétrodo (o nível de Fermi no semicondutor). Ou seja, o segundo nível é o relacionado às cargas majoritárias. Assim, pode-se considerar somente esse nível se somente as cargas majoritárias são transferidas através da interface. A diferença no nível de Fermi para ambos os lados da interface é, termodinamicamente, a força conduzida para corresponder a reação. Porém, se nenhuma reação ocorre, as cargas minoritárias estão ainda em equilíbrio com as cargas majoritárias; que é o nível de quasi-Fermi de buracos e elétrons restante da expressão ( , , )(MILLER; MEMMING, 2003). A situação, porém, é diferente se as cargas minoritárias estão envolvidas. Nessa situação os elétrons e buracos não estão em equilíbrio e, portanto, os níveis de quasi-Fermi tornam-se diferentes. Por exemplo, no caso do semicondutor do tipo- n o , pode se localizar acima ou abaixo do , , dependendo do processo das cargas minoritárias, isto é, se essas cargas são extraídas ou injetadas dentro do semicondutor. Outra relação para o nível de Fermi é possível para eletrólito. De acordo com a reação geral do par redox tem-se: 2.6 O par redox pode aceitar e doar elétrons. Nesse caso, o e o são as espécies oxidadas e reduzidas, respectivamente. E o é o coeficiente estequiométrico e o é o número de elétrons transferidos. A energia redox é a energia requerida para remover um elétron do eletrólito com par redox, similarmente a energia de Fermi de um metal. Portanto, a energia redox do eletrólito ( ) é equivalente ao potencial eletroquímico de um elétron no eletrólito. 37 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes 2.7 Assim, pela equação de Nernst é possível calcular o potencial redox da concentração das espécies redox: c c 2.8 No qual potencial redox padrão e c e c são a concentração das espécies oxidadas e reduzidas, respectivamente. 2.2.3 Transporte de massa em sistemas eletroquímicos De um modo geral, necessitamos considerar dois modos de transporte de massa em sistemas eletroquímicos. O primeiro é o gradiente do potencial eletroquímico (relacionado ao transporte e a difusão de espécies – gerado pela diferença de concentração de íons e de potencial elétrico) e, o segundo, a convecção. Neste último o movimento das espécies se dá por uma força mecânica, ou seja, ocorre devido à movimentação da solução (devido a um agitador magnético e uma barra magnética, por exemplo). Assim, esse processo não é uma forma importante no transporte de massa neste trabalho, desde que a camada do eletrólito nas CSSCs sejam finas (< 50 µm). Nessa espessura, a difusão domina o processo e nenhuma região de convecção é observada na CSSC. Em um sistema, o qual consiste de muitos subsistemas, é possível impor um potencial eletroquímico constante durante o transporte de massa e carga - característica definida como estado de equilíbrio. Nesta condição, nenhum processo de transporte de massa e carga elétrica que ocorre no sistema em questão. Por outro lado, se o potencial eletroquímico não é igual ao longo de todo o sistema, o transporte de massa pode ocorrer para compensar a diferença de potencial 38 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes eletroquímico. A densidade de corrente elétrica (j) é determinada pelo gradiente do potencial eletroquímico (NEWMAN; THOMAS-ALYEA, 2004). 2.9 sendo σ a condutividade das espécies e pode ser determinada por: 2.10 o e são, respectivamente, a mobilidade e concentração das espécies, no qual está incluído o número de cargas ( ), o é a carga elementar. Em resumo a corrente é determinada pela soma da corrente conduzida por campo (migração) e difusão. Migração, ou seja, a corrente conduzida por campo, é o movimento das espécies carregadas devido ao gradiente de potencial elétrico; e sua origem é, geralmente, proveniente do transporte de massa e cargas através do eletrólito. A corrente de elétrons por meio do circuito externo muitas vezes pode ser balanceada pela passagem de íons através da solução entre os elétrodos. Entretanto, isto não é, necessariamente, um importante mecanismo de transporte de massa para as espécies do par redox ativo, mesmo que carregadas. As forças importantes para a migração são puramente eletrostáticas; por isso, a carga pode ser transportada por alguma espécie iônica na solução (BARD; FAULKNER, 2001). Como consequência, se há um excesso de eletrólito inerte, isto é, pares redoxes inativos em solução, haverá, nesse balanço de cargas, pouca espécie ativa do par redox a ser transportada por migração. O eletrólito inerte em uma CSSC é o cátion do sal do iodeto, normalmente Li+ ou íon de imadazol+. Estas cargas inertes protegem o interior do eletrólito das forças eletrostáticas pela formação de uma camada nos elétrodos, conhecida como dupla camada de Helmholtz (Seção 2.2.4). Deve-se notar que no eletrólito das CSSC as espécies do par redox reduzidas e oxidadas são 39 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes negativamente carregadas. No caso do buraco ( ) a migração trabalharia consequentemente, de encontro ao sentido do transporte de massa. Por outro lado, a difusão é o movimento das espécies sob um gradiente de concentração, e todas as vezes que isso ocorre há uma mudança química na superfície. Em um eletrólito com par redox, especialmente nas CSSCs, a difusão é dominante no que se refere ao transporte de massa. 2.2.4 Interface Elétrodo/Eletrólito Se um metal (ou algum corpo sólido) é imerso em um eletrólito, é chamado de elétrodo. Em geral, o potencial eletroquímico de um metal e um eletrólito não é igual. Em contato, o equilíbrio seria estabelecido por uma troca de espécies. No caso do eletrólito com par redox em contato como elétrodo de metal nobre, somente ocorre transferência pelos elétrons. Ou seja, nenhum íon do metal, em particular, vai para dentro da solução. Este metal é conhecido como elétrodo redox. A troca de elétrons conduz a uma diferença de potencial elétrico entre a interface e o bulk do elétrodo, efeito conhecido como potencial “embutido” (do inglês, built-in potential). Desde que as cargas no eletrólito sejam livres para se mover, as cargas opostas se arranjam por si mesmas na interface elétrodo/eletrólito. Esta camada interna é conhecida como dupla camada compacta, de Helmholtz, ou de Stern (BARD; FAULKNER, 2001). O potencial elétrico, em particular, fica sobre a dupla camada de Helmholtz. Assim, no interior do eletrólito nenhum campo elétrico existe. Em um eletrólito contendo um par redox, o campo elétrico pode, de forma eficiente, ser selecionado. É importante destacar que em eletrólitos com par redox há espécies carregadas, os quais não participam na reação redox (inativas ou espécie inerte). Essas espécies podem arranjar-se em uma camada de Helmholtz, a fim de modular ou compensar alguma diferença de potencial elétrico na superfície do semicondutor. No caso das CSSCs, o cátion do iodeto, por exemplo, o Lítio (Li+), é a espécie inativa. Assim, uma separação de cargas dipolo é formada de um lado e outro da camada de Helmholtz entre esses cátions e as espécies negativas. A queda no potencial elétrico através 40 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes da camada de Helmholtz será amenizada pela separação de cargas e redução da recombinação com os cátions do corante e o par redox. Sob iluminação, esse potencial será diminuído, uma vez que com a injeção de elétrons no semicondutor algumas dessas cargas positivas serão neutralizadas na superfície (ARAKAWA; HARA, 2003). 2.2.5 Curva Corrente vs Potencial Antes das características de uma curva corrente-potencial (i-V), veremos sucintamente a relação entre as células solares e o diodo3. A característica da curva i-V de uma célula pode ser obtida por meio de um circuito equivalente do dispositivo (Figura 2.4). A geração da corrente ( ) pela luz é representada por um gerador de corrente em paralelo com o diodo, o qual representa a junção p-n. Figura 2.4. Circuito equivalente (a) e característica da curva i-V (b) de uma célula solar comparada com um diodo. [Adaptado de (MARKVART, 2006)] 3 Diodo são dispositivos que permitem a passagem de corrente com facilidade num sentido e oferece uma grande resistência à sua passagem no sentido contrário. 41 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes A produção de corrente ( ) é igual à diferença entre a corrente gerada pela luz ( ) e a corrente do diodo ( ). Ou seja, 1 2.11 Sendo que em termo matemático, a curva i-V de um diodo é dado pela equação de Shockley: 1 2.12 Na qual, é a corrente; é a corrente de saturação no escuro; o potencial; é a constante de Boltzmann; é a magnitude da carga do elétron; e o a temperatura absoluta. Observando a Figura 2.4 nota-se que sob potencial de circuito aberto, isto é, quando 0, toda corrente gerada pela luz passa através do diodo. Por outro lado, em corrente de curto circuito ( 0) toda corrente passa através do circuito externo. A curva i-V de uma célula solar contêm diversos pontos importantes, sendo que quatro parâmetros são possíveis de serem extraídos diretamente (Figura 2.5). São eles: 42 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes Figura 2.5. Parâmetros da curva j-V. = corrente de curto circuito. É a corrente da célula quando nenhum potencial é aplicado, isto é, 0. A corrente de curto circuito ( ), medida em condições de luz mono ou policromática é limitada pela resistência interna (Rint) de acordo com a lei de Ohm. Pela Eq. 2.12 a corrente em curto circuito é igual a . Normalmente, a é representada na forma de densidade corrente ( ) que é simplesmente / , no qual é a área exposta do elétrodo à luz. A densidade de corrente fornece a medida de eficiência na coleta de cargas fotogeradas pela célula fotoeletroquímica. = potencial de circuito aberto. É o potencial da célula quando a corrente é zero. O segundo parâmetro, potencial de circuito aberto ( ), é a diferença de energia entre o nível de Fermi do semicondutor e o potencial do eletrólito, ou seja, o medido experimentalmente é uma característica cinética. 43 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes 2.13 o e o são, respectivamente, o fluxo de elétrons e número de elétrons no semicondutor; [A] representa a concentração de receptores de elétrons e o é a velocidade de recombinação entre os dois (semicondutor e eletrólito), ou seja, na interface. O exibe uma dependência logarítmica com a razão do número de elétrons injetados no semicondutor pelo número de elétrons que se recombinam com as espécies oxidadas na superfície ou em solução eletrolítica (Eq. 2.13). Isso porque ele aumenta logaritmicamente com a intensidade da luz, uma vez que o é linearmente proporcional ao fluxo de fótons absorvidos. Outro ponto é que o do sistema aumenta (logaritmicamente) com a diminuição do . Quimicamente, tal forma é razoável, pois o representa a tendência do sistema retornar ao equilíbrio no processo de transferência de carga. Por outro lado, o valor mais baixo de implica menor velocidade para que o equilíbrio na interface seja alcançado. Por essa, razão é mais possível obter um alto valor de fotovoltagem para um pequeno valor de . Por último, a Eq. 2.13 mostra que um entendimento mecanístico de é crucial para controlar o . Somente por meio das mudanças em pode-se, sistematicamente, controlar quimicamente o em diferentes tipos de junções semicondutor/liquido (TAN et al., 1994). Medidas de também são úteis para estudar o desempenho de novos corantes, características de novos óxidos semicondutores e propriedades do eletrólito. As curvas de corrente-potencial fornecem uma estimativa de como a célula solar pode se comportar sob a ação de várias demandas de corrente. Um dos métodos para a obtenção destas medidas fundamenta-se na utilização de uma resistência variável colocada em série com o circuito. Para construir a curva i-V, a célula solar é iluminada e a corrente e o potencial são medidos enquanto a resistência é variada na condição de curto circuito ( 0) até a condição de circuito aberto ( ∞), no qual não existe fluxo de elétrons. 44 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes η = eficiência. É a relação entre o potencial máximo ( · ) da célula solar e a energia da radiação incidente. (Eq. 2.14). · 100 2.14 no qual é a intensidade da luz incidente. Nenhuma energia é produzida por uma célula fotoeletroquímica em circuito aberto ( 0) ou curto circuito ( 0), pois a energia máxima ( ) produzida pelo dispositivo é alcançada em um ponto característico em que o produto i-V é máximo (Figura 2.5). Por conveniência, o é tomado como sendo uma quantidade positiva, ainda que o sinal para a fotovoltagem e para fotocorrente sejam dados sem nenhuma convenção. Logo, a eficiência é dada pela relação entre o sob condições padrões, dividido pela . Estas são: intensidade da luz incidente 100 mW/cm2, espectro padrão de AM 1,5 (AM sigla em inglês para air mass) e temperatura de 25ºC. O uso dessas condições padrões é importante desde que a eficiência em porcentagem é então numericamente igual à produção de energia da célula em mW/cm2. = fator de preenchimento (“Fill Factor”). É a razão entre o potencial máximo ( · ) e o produto de corrente de curto circuito ( ) e o potencial de circuito aberto ( ) (Eq. 2.15). · · 2.15 O FP quantifica o quanto melhor se comporta uma curva de energia máxima, na forma de um retângulo máximo (definido pela I e V ) para uma interface particular semicondutor/eletrólito líquido. O FP tem um valor típico entre 0,7-0,8 para uma relação i-V descrita para Eq. 2.11. Contudo, perdas de corrente por resistividade ou recombinação diminui esse valor durante a operação do sistema (TAN et al., 1994). 45 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes 2.2.6 Eficiência de Conversão de Fótons Incidentes em Corrente Elétrica O desempenho da célula solar também pode ser investigado por meio da eficiência de conversão de fótons incidentes em corrente elétrica, conhecida como IPCE (sigla em inglês, para Incident Photon-to-current Conversion Efficiency) versus comprimento de onda, definida pela Eq. 2.16. é ó . 1 â ó 2.16 o é a constante de Planck, o é a velocidade da luz, o é a carga elementar e o λ é o comprimento de onda da luz incidente. As constantes , e podem ser combinadas em um único termo de conversão de energia. O resultado é mostrado na Eq. 2.17. 1240 . . â . 2.17 O IPCE monocromático é, em suma, uma função de pelo menos três processos microscópicos distintos (Eq. 2.18): . . 2.18 = absorção da luz; = separação de cargas opostas e = coleta de cargas. No IPCE, a unidade de aproximação para o pico de absorbância é mais eficiente nas CSSCs quando quase todos os fótons incidentes, neste comprimento de onda, são recolhidos/absorvidos, na excitação limite da área superficial do 46 Capítulo I – Introdução 2. A Física e as Características Gerais das Células Solares Sensibilizadas por Corantes elétrodo ( ~1), pelo corante. Além disso, o corante fotoexcitado deve injetar com eficiência todos os elétrons na rede do semicondutor ( ~1). Finalmente, pelo menos no curto circuito, os elétrons injetados passam através da rede nanoparticulada para, enfim, serem coletados no elétrodo transparente sem recombinar com o corante oxidado ou serem interceptado pelos equivalentes oxidantes adjacentes ( ) na solução ( ~1). Vale ressaltar que a absorção e reflexão da luz pelo OCT são mais significativas na região do visível do espectro eletromagnético; e pode ser entre 10 a 20% dependendo do comprimento de onda. Isso causa, consequentemente, uma redução do número de fótons incidentes que atingem a área ativa da célula solar. Em alguns casos, a irradiância na Eq. 2.17 é medida após colocar um pedaço de vidro condutor entre a fonte de luz e o detector, a curva resultante é chamada PCE (sigla em inglês, para Power Conversion Efficiency). Em uma típica medida de IPCE, o dispositivo em estudo é colocado perto da saída de fenda do monocromador. O comprimento de onda é variado por toda a região do visível, sendo a corrente medida com um eletrômetro sensível. O gráfico IPCE versus comprimento de onda é conhecido como espectro de ação e assemelha-se muito ao espectro de absorção do corante na superfície dos óxidos semicondutores, com uma alta contribuição da excitação direta do semicondutor em região de alta energia. O espectro de ação fornece uma fácil comparação entre os vários corantes utilizados, diferentes preparações dos semicondutores, condições de solvente e doadores de elétrons. A região máxima dessa curva fornece uma estimativa indireta de como os elétrons são efetivamente injetados e transportados através do semicondutor até o contato ôhmico. Sendo essa relação que determina o desempenho da célula em condições de luminosidade. 47 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica 3 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Nessa etapa uma pequena introdução da Espectroscopia de Impedância Eletroquímica e o seu uso nas na CSSCs será abordado. Assim, a presente seção elucida, sucintamente, as características gerais e algumas aplicações da técnica de Espectroscopia de Impedância Eletroquímica no estudo das CSSCs. Tal técnica permite a análise tanto dos aspectos estruturais da interface sólido/eletrólito como dos aspectos cinéticos dos processos eletroquímicos que envolvem o processo de conversão de luz solar em energia elétrica e/ou química. 48 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica 3.1 TEORIA - Aspectos Gerais A Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE) é uma técnica de caracterização elétrica. Ela possibilita estudar e analisar o comportamento de um sistema quando um grande número de processos intercorrelacionados ocorre em diferentes velocidades. Diversas áreas, tais como, corrosão (determinação da velocidade de corrosão, investigação da camada passiva, etc.), baterias (seleção de materiais, projeção do elétrodo, etc.), eletrodeposição (pré-tratamento da superfície, mecanismo de deposição, etc.), sínteses eletro-orgânicas (adsorção/desorção, mecanismo de reação, etc.) e semicondutores (efeito fotovoltaico, distribuição de dopantes, etc.), têm utilizado a EIE para o estudo do fenômeno eletroquímico que envolve essas áreas (RAISTRICK, 1986). De um modo geral, a técnica pode ser aplicada em sistemas eletródicos em equilíbrio, onde a perturbação senoidal proporciona uma mudança na concentração de ambos os componentes que compõem o par redox. Em outra aplicação da EIE a perturbação senoidal pode também ser sobreposta a uma corrente contínua, desde que um estado estacionário possa ser alcançado para um dado valor da corrente direta. Há na literatura dois métodos para o tratamento dos dados experimentais obtidos por EIE: um deles é um tratamento matemático no qual são usadas expressões-padrão de Nernst-Planck e de Poison, que estabelecem as condições analíticas para as várias características do sistema como, por exemplo, a resistência de transferência de carga e o coeficiente de difusão (BISQUERT et al., 1999; LASIA, 2001). A outra forma é atribuir aos componentes de um circuito elétrico (capacitores, resistores e indutores) aos processos eletroquímicos, construindo assim, um circuito que simule uma resposta de corrente semelhante à produzida pelo sistema eletroquímico em estudo. Na maioria dos casos, a célula eletroquímica é melhor representada por uma rede complicada de resistências, capacitores e indutores, chamada de circuito equivalente. Aqui, o circuito é chamado de circuito equivalente de Randles (BARD; FAULKNER, 2001) (Figura 3.1), no qual e representam, respectivamente, o processo faradaico e o carregamento da dupla camada. O carregamento da dupla camada é próximo da capacitância pura, desta forma pode ser representada por 49 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (capacitor). O processo faradaico ( ) pode se representado somente por uma impedância geral. O Ω representa a resistência não compensada, isto é, a resistência existente entre os elétrodos de trabalho e de referência ou por outras fontes de resistências em série. Figura 3.1. (a) circuito equivalente de Randles e (b) subdivisão de em e ou e . A impedância faradaica ( ) pode ser subdividida em resistência em série ( ) e pseudocapacitância ( ). A divisão pode também ser feita entre a resistência pura, a resistência de transferência de carga ( ) e impedância geral chamada de impedância de Warburg ( W), a qual representa um tipo de impedância que exprime a dificuldade de transferência de massa das espécies eletroativas nas vizinhanças do elétrodo (Figura 3.1b). Os elementos Ω e são elementos praticamente ideais para o circuito geral. Já os componentes da impedância faradaica não são ideais, uma vez que variam com a frequência. Assim, o objetivo dos experimentos de EIE é descobrir qual é dependência de e com a frequência. Desta forma, simular a resposta de uma cela eletroquímica, por meio de um dado circuito equivalente, em faixa de frequência. Vale ressaltar, que ambos os termos resistência e impedância (faradaica) mostram a oposição ao fluxo de elétrons ou corrente. Em circuitos de corrente direta, somente o resistor produz esse efeito. Contudo, em corrente alternada, os outros elementos do circuito (capacitor e indutor) também impedem esse fluxo. Em virtude disso, a impedância Z é uma propriedade complexa e é normalmente representada 50 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica por uma parte real ( ou ´) e outra imaginária ( ou ´´) que se referem ao efeito da resistência e da capacitância e indutância, respectivamente. 3.1 no qual √ 1 e = frequência angular (rad/s). A parte real da impedância é representada por uma resistência, , e a parte imaginária por uma reatância capacitiva (oposição de uma capacitância à passagem da corrente elétrica) 1⁄ . A impedância do circuito equivalente (usando e para ) é representada na Figura 3.1b e pode ser representada por: Ω · 3.2 sendo, Ω Ω Ω 0 3.3 0 1 3.4 1 3.5 A parte real e imaginária de pode ser calculada pelas Equações de 3.2-3.4. Assim, a parte real de pode ser representada por: 51 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Ω 3.6 e a parte imaginária por: 1 3.7 no qual 1 e . Sendo e igual a: 3.8 1 3.9 sendo uma constante (em termos de frequência) dependente, por exemplo, da concentração, difusão e temperatura. Substituindo as Eq. 3.8 e 3.9 nas Eq. 3.6 e 3.7 tem-se: Ω 1 3.10 e a parte imaginária por: 52 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica 1 1 3.11 As informações químicas podem ser extraídas por meio da relação vs. em diferentes frequências ( ). Para simplificar a complicada forma das Eq. 3.10 e 3.11 podemos investigar o comportamento limitante a altas e baixas ω. Assim, a baixas frequências, 0, as Eq. 3.10 e 3.11 aproximam-se de suas formas limitantes: Ω 3.12 2 3.13 eliminando destas equações tem-se: Ω 2 3.14 Assim, o gráfico de vs. deve ser linear e com inclinação igual a 1 (Figura 3.2). Extrapolando o cruzamento do eixo real tem-se Ω 2 . 53 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Figura 3.2. Plano da impedância a baixas frequências. Por meio das Eq. 3.10 e 3.11 pode-se observar que a dependência da frequência nesse caso vem somente dos termos da impedância de Warburg. Logo, a correlação linear de e é característica do processo controlado pela difusão no elétrodo. Com o aumento da frequência, a resistência na transferência de carga ( ) e da capacitância da dupla camada se torna muito mais acentuadas. Desta forma, em altas frequências, a difusão torna-se demasiada lenta para reagir às mudanças rápidas na célula eletroquímica e a impedância de Warburg torna-se menos importante. O resultado da impedância será: Ω 3.15 As partes reais e imaginárias são: 54 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Ω 1 3.16 1 3.17 e eliminando e combinando estas equações tem-se: Ω 2 2 3.18 Figura 3.3. Circuito equivalente para o sistema no qual a impedância de Warburg tem menor importância. Desta forma, o gráfico de vs. deve ser um gráfico de circulo centrado em Ω 2⁄ e 0 e tendo o raio de 2⁄ (Figura 3.4). 55 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Figura 3.4. Gráfico de Espectroscopia de Impedância no plano complexo para o circuito equivalente da Figura 3.3. A Figura 3.5 mostra o comportamento na combinação entre a impedância em baixas e altas frequências. A representação é conhecida como o gráfico de Nyquist. Figura 3.5. Representação esquemática do gráfico de Nyquist para sistema eletroquímico. As regiões de controle de transferência de massa e cinético são encontradas em baixas e altas frequências, respectivamente. [Adaptado de (BARD; FAULKNER, 2001)]. 56 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Em um sistema real, contudo, ambas as regiões (Fig. 3.5) podem não ser bem definidas no meio estudado. Em geral, a característica determinada é a resistência no processo de transferência de carga e a sua relação com a impedância de Warburg, a qual é controlada pela difusão. Se o sistema químico é cineticamente lento, isto mostrará um grande, e pode indicar somente uma região de frequência muito limitada, no qual a transferência de massa é um fator significante no processo. Por outro lado, pode ser muito pequeno em comparação a resistência ôhmica e a impedância de Warburg tendo, portanto, um destaque sob toda a escala disponível da . Então o sistema é cineticamente simples, mas a transferência de massa passa a desempenhar um papel importante no sistema e a região semicircular não é bem definida (BARD; FAULKNER, 2001). Assim, coletando os dados em diferentes pontos, isto é, em distintas faixas de frequência se obtêm um espectro característico para EIE. A interpretação do espectro de impedância é usualmente feita pelo modelo físico – esse modelo é expresso por uma equação matemática e, por sua vez, essa equação é representada por um circuito equivalente. Os valores dos componentes elétricos do circuito são associados com as propriedades físicas e/ou químicas na interface semicondutor/eletrólito. Contudo, a impedância experimental, como já salientado acima, não é um semicírculo bem definido e alguma dispersão em uma determinada faixa de frequência é encontrada. Nesse caso, o chamado elemento de fase constante (CPE, sigla inglês para constant phase elements) é utilizado, mas nem sempre é fácil atribuir um significado físico a esse elemento (BARCIA et al., 2002). Dessa forma, dependendo da combinação (em série ou em paralelo) dos elementos (resistores, capacitores, elemento de fase constante, indutores, etc.) do circuito equivalente o espectro de impedância experimental pode ser ajustado (Figura 3.6). 57 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Figura 3.6. Espectro da EIE para diferentes elementos e circuitos equivalentes (em série e/ou paralelo). 58 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Em geral, o estudo de reações que envolvem elétrodos se dá em promover no sistema uma alta ou baixa perturbação. Assim, direcionando o elétrodo a uma condição para longe do equilíbrio pode-se, assim, observar uma resposta, o qual é normalmente um sinal transiente. Outro caminho é perturbar a célula com sinal alternado de pequena magnitude e observar o caminho no qual o sistema segue a perturbação em estado estacionário. A utilização desse tipo de tratamento possui uma série de vantagens, dentre elas estão: (i) capacidade experimental para fazer medidas com alta precisão, uma vez que a resposta pode ser indefinidamente estável, (ii) capacidade de tratar a resposta teoricamente por linearização da corrente-potencial e (iii) medida sobre uma ampla faixa de tempo (ou frequência) (104 a 10-6 ou 10-4 a 106 Hz, por exemplo). Estas vantagens conduzem a simplificações importantes no estudo cinético e de difusão em diversos sistemas eletroquímicos. O que possibilita pela técnica EIE obter informações sobre as diferentes constantes de tempo associadas aos processos eletroquímicos (ou fenômenos físicos) que ocorrem no sistema, isto é, nas interfaces do elétrodo. 59 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica 3.2 Linha de Transmissão Um exemplo clássico para a dispersão de frequência com um significado físico foi descrito para elétrodos porosos por Levie, em 1967 (LEVIE, 1967). Ele considerou que a impedância de elétrodos porosos poderia ser descrito por um esquema de poros cilíndricos idênticos. Desta forma, a impedância de cada poro foi calculada pela técnica de linha de transmissão, assumindo as seguintes “regras”: (i) a resistividade da solução é independente das coordenadas ao longo dos poros no eixo-x; (ii) a condutividade da fase sólida é infinita (comportamento de elétrodo metálico) e (iii) a impedância local é independente do eixo x. A Figura 3.7 ilustra uma perspectiva geral de elétrodos compactos e porosos com duas fases (líquida e sólida) com os circuitos equivalentes representados. Figura 3.7. Esquema de elétrodo compacto plano (a) e poroso (b). Sendo a resistência em série, impedância interfacial, impedância do bulk, CE contraelétrodo, ET elétrodo de trabalho, e são as impedâncias generalizadas para a fase 1 (sólido) e 2 (líquido) e elemento de polarização/transferência de carga na interface sólido/líquido [Adaptado de (BISQUERT et al., 2000)] No caso das CSSCs a estrutura é uma complexa rede de óxidos semicondutores – que podem ser partículas, fios, tubos, etc. de dimensões nanométricas – depositados e/ou crescidos em um OCT e permeados com um eletrólito redox e corante. Isso significa que esses elétrodos porosos operam em contato com eletrólitos com transporte de elétrons e espécies iônicas, simultaneamente, em fases sólidas e líquidas, respectivamente. Assim, nas CSSCs 60 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica há uma crescente busca na identificação, descrição e no entendimento dos processos físicos – como injeção, transporte, acúmulo e recombinação de cargas – que determinam e limitam o desempenho desse tipo de dispositivo. Desta forma, há um grande desafio no sentido de aperfeiçoar o processo de preparação dos filmes semicondutores com diferentes arquiteturas e morfologias. Além disso, acredita-se também que a rápida propagação dos elétrons na interface semicondutor/corante/eletrólito e a lenta recombinação são igualmente importantes para atingir uma eficiência de conversão mais elevada. Essas são etapas que determinam a flutuação da eficiência para mesmas as CSSCs com diferentes filmes e eletrólitos. Porém, a grande dificuldade em se avaliar os elétrodos, nas CSSCs, reside na separação das diferentes contribuições das etapas dos mecanismos cinéticos que, por sua vez, são compostos por diferentes tempos característicos e contribuem para a corrente elétrica global no processo de absorção da luz. Nesse aspecto a EIE tem sido uma ferramenta importante de caracterização das CSSCs (PETER; WIJAYANTHA, 2000; BISQUERT, 2002; BISQUERT; VIKHRENKO, 2004). O seu uso é “simples”, mas para a interpretação correta dos resultados há necessidade do uso de um modelo apropriado para que se possa obter informações e resultados coerentes. Em 2000, J. van de Lagemaat et alii (VAN DE LAGEMAAT; PARK; FRANK, 2000) analisaram a influência do transporte de carga e da recombinação na eficiência de conversão das CSSCs pela técnica EIE e fotocorrente modulada4. As análises de EIE e de outros dados indicaram que o fotopotencial da célula e a diminuição do potencial elétrico na interface do FTO/TiO2 são causadas pelo acúmulo de fotoinjeção de elétrons no filme de TiO2. Nakade et alii, em 2003, avaliaram a influência do tamanho das nanopartículas de TiO2 na difusão e recombinação dos elétrons nas CSSCs. Verificaram que o coeficiente de difusão aumentou com o tamanho de partícula entre as amostras preparadas pelos mesmos materiais precursores. O aumento foi relacionado à diminuição da área de superfície da película e à condição de contorno do grão. Os valores obtidos para o tempo de vida do elétron na recombinação diminuíram com aumento o tamanho de partícula, no qual segundo os autores está relacionada à taxa de transporte do elétron nos 4 Espectroscopia de Intensidade Fotocorrente Modulada é uma técnica no qual o elétrodo de trabalho é iluminado por uma fonte modulada senoidal. 61 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica elétrodos de TiO2 (NAKADE et al., 2003). Nestes casos apresentados podemos verificar que as análises estão restritas as condições de trabalho ou aplicação somente a partes separadas da célula. Um dos primeiros trabalhos no qual a célula é analisada completa, por meio EIE, foi realizada por Frabregat-Santiago et al., em 2005 (FABREGAT-SANTIAGO et al., 2005). Nesse trabalho, os autores analisaram qual é a influência do eletrólito no transporte e na recombinação de carga, na ausência de luz (escuro) e sob iluminação, nas CSSCs. A interpretação foi realizada com sucesso, por meio de um modelo de impedância fundamentada na linha de transmissão (modelo de poros) (BISQUERT, 2002; HOSHIKAWA; KIKUCHI; EGUCHI, 2006) que descreve o transporte, o acúmulo e a recombinação do elétron na fase semicondutora e interfaces da célula. Já em 2006 Wang et al. (WANG et al., 2006) estudaram a característica da alta eficiência das CSSCs via impedância. Concluíram que a eficiência elevada das células estava atribuída ao excelente transporte e à baixa taxa de recombinação dos elétrons no TiO2. Mostrou-se que uma alta condutividade na banda de condução que mantém a excelente injeção dos elétrons provenientes do corante é razão para alta eficiência nas CSSCs. Pode-se verificar que EIE permite a análise tanto dos aspectos estruturais da interface sólido/eletrólito como dos aspectos cinéticos dos processos eletroquímicos que envolvem o processo de conversão de luz solar em energia elétrica e/ou química nas CSSCs. Isso significa que é possível avaliar o transporte dos elétrons no filme nanoestruturado, a recombinação do elétron na interface semicondutor/eletrólito e da difusão das espécies redox no eletrólito. Todos estes processos podem ser distinguidos de acordo com a forma do espectro de resposta de impedância em função da frequência e o modelo matemático coerentemente utilizado. Além disso, é possível estudar e analisar o comportamento do sistema quando um número grande de processos inter-correlacionados ocorre em diferentes velocidades (BISQUERT; VIKHRENKO, 2004; FABREGAT-SANTIAGO et al., 2005). A Figura 3.8 representa o circuito equivalente para uma CSSC completa medida sob ausência de luz. 62 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Figura 3.8. Circuito equivalente para uma CSSC completa (no escuro). Cμ = f(cμL) é a capacitância química que está relacionada à mudança da densidade eletrônica em função do nível de Fermi; Rtr = f(rtL) é a resistência de transporte do elétron; Rtc = f(rtc/L) é a resistência de transferência de carga. Rct é à recombinação na interface semicondutor/eletrólito; Rs é a resistência em série relacionada a resistência de transporte no óxido transparente condutor; RFTO é a resistência à transferência de carga para os elétrons que se recombinam na camada descoberta de FTO em contato com o eletrólito; CFTO é a capacitância do triplo contato FTO/semicondutor/eletrólito; Zd é a impedância de difusão das espécies redox no eletrólito; RPt é a resistência à transferência de carga na interface contraelétrodo/eletrólito; CPt é a capacitância interfacial na interface contraelétrodo/eletrólito; L é a espessura do filme semicondutor. [Adaptado de (FABREGAT-SANTIAGO et al., 2005)] A relação do modelo de linha de transmissão e as características da EIE, por meio da relação " vs pode ser representada da seguinte forma (nem todos os parâmetros estão representados. Alguns deles serão discutidos nos resultados e discussões) (Figura 3.9): 63 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Figura 3.9. Representação alguns dos parâmetros da linha de transmissão (elemento definidos na Figura 3.8) que representa fisicamente os dados experimentais e o Gráfico de Nyquist para CSSC. O espectro de impedância foi obtido da medida, no escuro, em -0.7V para CSSC de nanotubos de ZnO. Há aspectos importantes que devem ser definidos e, dessa forma, obter o que há de “relevante” na Figura 3.8 para uma análise completa nas células solares. Primeiramente pode-se observar que no modelo de linha de transmissão há dois canais em paralelo. Um representa o transporte através do semicondutor e, o outro, a espécie redox no eletrólito que preenche os poros. O processo de transferência de carga dos elétrons com os íons ocorre na interface semicondutor/eletrólito, que por sua vez conecta esses dois canais (WANG et al., 2006; BISQUERT et al., 2008). Sendo essa interface representada pelo processo de resistência de transferência de carga ( ) e uma capacitância “química” ( ). Capacitância é um importante conceito em processos eletroquímicos. Ela é usada quando um acúmulo de carga toma lugar na fase do sistema. Há diversos tipos de capacitâncias, variação essa que é dependente da natureza da fase e como a carga é distribuída e onde é acumulada. Quando o material é diferente de um metal, por exemplo, um elétrodo (tal como, TiO2, ZnO, WO3, etc.), especialmente, o 64 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica nível de Fermi, (ou ), muda. Assim, cargas são acumuladas dentro do material quando nenhuma transferência ocorre, originando a capacitância que depende da natureza química do elétrodo. Esse acúmulo de carga pode ser balanceado por diferentes caminhos, tais como mudança na dupla camada da interface elétrodo/eletrólito, intercalação de íons, entre outros. Em geral, a pode ser representada por: 3.19 Sendo a densidade de partículas carregadas. Normalmente isto é dependente da densidade de estados no material, no qual o fator de ocupação é dado pela distribuição de Fermi-Dirac (BISQUERT, 2003). Em suma, a reflete a mudança de densidade eletrônica sob uma pequena variação do potencial químico. Assim, para um determinado nível de Fermi, isso é dado por (BISQUERT et al., 2004a; WANG et al., 2006): 3.20 No qual representa o fator de ocupação e é dado pela distribuição de Fermi-Dirac e a densidade de estados. Em semicondutores de TiO2 em CSSC o comportamento encontrado é na forma de uma distribuição exponencial de estados localizados no bandgap (FABREGAT-SANTIAGO et al., 2003), de acordo com a seguinte equação: NL kBT kBT 3.21 65 Capítulo I – Introdução 3. Espectroscopia de Impedância Eletroquímica Sendo NL a densidade total de estados localizados e T é o parâmetro com unidade em temperatura que determina a profundidade de distribuição abaixo da menor borda da banda de condução ( ). De fato, a capacitância medida pela EIE é a soma, ou melhor, a contribuição da capacitância eletrônica ( ) e carga espacial ( ) no lado do semicondutor e da camada de Helmholtz ( H e das espécies iônicas adsorvidas na superfície ( ) no lado do eletrólito. No sistema de análise a e ; H e estão em paralelos, respectivamente. Em geral, nas CSSCs não há nenhuma carga espacial dentro da faixa de potencial analisado. Logo, o pode ser negligenciado. Por sua vez, capacitância da dupla camada ( H ) tem somente uma pequena contribuição para capacitância total (WANG et al., 2006). Uma característica que se espera de uma célula com propriedades elevadas é que . Significando, que há uma menor perda de elétrons – durante o processo de difusão – pelo processo conhecido como recombinação. Nesse sentido a transferência de carga não é dependente da concentração dos íons redox na interface, ou seja, é dependente somente do potencial aplicado. Nesse caso, a recombinação ou transferência de carga na interface semicondutor/eletrólito é governada pela relação Buttler-Volmer (NEWMAN; THOMAS-ALYEA, 2004): jB V j 1 3.22 Sendo j a densidade de corrente de troca ou de intercâmbio (depende da composição da solução adjacente ao elétrodo, da temperatura e a natureza da superfície do elétrodo), o fator de transferência ( 0 …