UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO ANA MARIA ALVES DE SOUSA PROFESSORES INICIANTES: POSSIBILIDADES E CONFLITOS ENFRENTADOS NO INÍCIO DA ATUAÇÃO DOCENTE Rio Claro 2018 LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA ANA MARIA ALVES DE SOUSA PROFESSORES INICIANTES: POSSIBILIDADES E CONFLITOS ENFRENTADOS NO INÍCIO DA ATUAÇÃO DOCENTE Orientador: Profa. Dra. Laura Noemi Chaluh Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia. Rio Claro 2018 S725p Sousa, Ana Maria Alves de PROFESSORES INICIANTES: POSSIBILIDADES E CONFLITOS ENFRENTADOS NO INÍCIO DA ATUAÇÃO DOCENTE / Ana Maria Alves de Sousa. -- Rio Claro, 2018 58 p. : tabs. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Pedagogia) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro Orientadora: Laura Noemi Chaluh 1. Didática. 2. Formação de Professores. 3. Professores iniciantes. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. Dedico esse trabalho à minha mãe Maria Aparecida A. de Sousa, que nunca poupou esforços para que esse sonho fosse realizado. Você é minha maior força e inspiração na vida. AGRADECIMENTOS À Deus, por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades e lutar pelos meus sonhos. Aos meus pais, Maria Aparecida e Pedro, pelo apoio e o amor incondicional. Sem vocês nada disso não seria possível. Ao meu tio Antônio, minha tia Juraci e meus padrinhos, Tereza e Moacir, que estão comigo e vibram a cada conquista. Vocês são especiais. Ao Carlos Henrique, por toda compreensão, carinho e amor. Às minhas queridas amigas Mariana Mailkut, Iara Ribeiro e Giovanna Picolo, por sempre estarem ao meu lado, torcendo pela minha felicidade e minhas realizações. Às minhas colegas de classe, Ingrid Soares e Emanuele Romão, pelas experiências compartilhadas e por fazerem parte deste momento especial na minha vida. À minha orientadora, Laura, por toda dedicação e paciência ao longo destes quatro anos. Obrigada por acreditar em mim e me incentivar a ser sempre melhor. Ao Grupo de Estudos Escola, Formação e Alteridade (GREEFA), que me acolheu tão bem e me fez acreditar na profissão que escolhi. Aos professores do curso de Licenciatura em Pedagogia da UNESP de Rio Claro, pelos ensinamentos. E agradeço à Universidade Estadual Paulista (UNESP-Câmpus de Rio Claro) pela oportunidade de aprender e me (re)descobrir. À todos vocês, minha eterna gratidão e carinho! Resumo A presente pesquisa objetivou sistematizar e analisar a produção científica que trata do trabalho de professores iniciantes, buscando evidenciar as possibilidades e conflitos enfrentados por estes no período de início da atuação na carreira docente. Para isso foi realizado um levantamento de trabalhos completos localizados: a) nos Anais do EDUCERE (Congresso Nacional de Educação), nos anos de 2011, 2013, 2015 e 2017; b) nos Anais do ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino), nos anos de 2012, 2014 e 2016. Assim, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica (GIL, 1991) de natureza qualitativa para, a partir desta, ampliar a compreensão das perspectivas teóricas que tratam de aspectos que marcam o início da carreira docente. Foram localizados e utilizados 36 artigos, dos quais 30 trazem considerações sobre professores iniciantes no Ensino Básico e apenas 6, acerca de professores iniciantes no Ensino Superior. Os resultados apontam para a necessidade de se estabelecerem políticas públicas educacionais que visem à qualificação e à formação dos professores iniciantes, com base no desenvolvimento de suas práticas pedagógicas, além das potencialidades geradas através da interação com o ambiente escolar e das trocas de experiências com os pares, a fim de contribuir com desenvolvimento destes profissionais. Palavras-chave: – Formação de Professores – Professores iniciantes –Início da carreira LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Seleção de artigos para análise e uso na pesquisa – Anais EDUCERE …………………………………………………………………………... 13 Figura 2 – Seleção de artigos para análise e uso na pesquisa – Anais ENDIPE………………………………………………………………………………. 16 Figura 3 – Artigos encontrados nos Anais EDUCERE utilizando as palavras- chave selecionadas ………………………………………………………………... 19 Figura 4 – Artigos encontrados nos Anais ENDIPE utilizando as palavras- chave selecionadas ………………………………………………………………... 20 Figura 5 – Número de artigos encontrados nos anais EDUCERE em cada ano buscado ……………………………………………………………………………... 21 Figura 6 – Número de artigos encontrados nos anais ENDIPE em cada ano buscado ……………………………………………………………………………... 22 Figura 7 – Temática dos artigos ………………………………………………...... 22 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 7 1. SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO LEVANTAMENTO DE DADOS ........... 12 2. OLHARES SOBRE OS PROFESSORES INICIANTES NA EDUCAÇÃO BÁSICA ......................................................................................................................... 24 3. PERCEPÇÕES SOBRE OS PROFESSORES INICIANTES NO ENSINO SUPERIOR ................................................................................................................... 47 4. CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 52 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 54 7 INTRODUÇÃO Sou graduanda do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela UNESP (Câmpus de Rio Claro), cursando atualmente o 8ª semestre do curso. Participei no ano de 2015 dos encontros de projeto de extensão “Grupo de Formação: Diálogo e Alteridade1”, coordenado pela Profa. Dra. Laura Noemi Chaluh, em que os encontros aconteciam semanalmente. Este grupo era constituído por estudantes do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da UNESP de Rio Claro, buscando promover o diálogo e a parceria entre os próprios estudantes, visto que grande parte destes estavam vinculados a diversos programas de bolsas, como o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), Programa do Núcleo de Ensino (Prograd/UNESP), BAAEI (Bolsa de Apoio Acadêmico e Extensão), BAAE II (Bolsa de Apoio Acadêmico e Extensão), do qual fui bolsista PROEX no referido período, bolsistas de Iniciação Científica (CNPq e FAPESP) e colaboradores. Ressalto que o referido projeto de extensão articulava uma proposta de pesquisa desenvolvida em uma escola de Ensino Fundamental da Prefeitura de Rio Claro e um curso de extensão2 intitulado “Escola: espaço de formação de professores”, (também coordenado pela responsável do projeto de extensão) do qual participam e participavam professores coordenadores, vice-diretores e coordenadores pedagógicos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental da mesma rede de ensino, permitindo então que nós graduandos tivéssemos contato com professores em exercício, gerando a compreensão da complexidade do cotidiano escolar. Esta interação possibilitou minha aproximação e reflexão com os demais participantes, me levando a querer aprofundar sobre a temática da formação de professores. Já no final do ano de 2015, passei a fazer parte do GREEFA3 "Grupo de Estudos Escola, Formação e Alteridade”, da mesma forma coordenado pela Prof.ª. Dra. Laura Noemi Chaluh, constituído por estudantes da graduação e pós-graduandos (orientandos da referida professora, na sua maioria 1 O projeto de extensão foi desenvolvido no período de 2010-2015. 2 O Curso está em continuidade desde 2010. 3 O grupo de estudos GREEFA foi criado em 2015 e está vinculado ao GEPLinguagens (Grupo de Estudos e Pesquisas Linguagens, Experiência e Formação/CNPq) 8 professores) e outros participantes que não têm vínculo com a universidade, colaboradores. Em nossos encontros mensais do GREEFA, é possível perceber a parceria, o ambiente de interlocução que se forma, além da constante possibilidade de trocas, frente a este agrupamento tão heterogêneo. Com o objetivo de promover práticas que favoreçam a autonomia coletiva dos professores, o registro, a sistematização e socialização dos saberes dos professores estão sempre presentes. Além disso, as práticas vividas pelos participantes, socializadas com o grupo, dentro e fora das escolas, apresentam diferentes indícios que nos permitem pensar o que é ser professor e como esta formação se constitui de fato, nos diferentes contextos, com diferentes realidades e influências. Assim, resgato esta experiência de ter participado do referido grupo de estudos, pois este me permitiu presenciar discussões embasadas teoricamente acerca da formação de professores. Por tanto, foi em função deste contato e de vivenciar o quanto a prática do trabalho coletivo contribui para o desenvolvimento dos professores que senti um grande interesse pela temática da Formação Inicial de professores, pois passei a refletir sobre a complexidade de articular e pôr em prática os saberes adquiridos na academia frente às situações desafiadoras do cotidiano na realidade escolar, sentindo uma grande curiosidade pelo assunto. Comecei a questionar: o que marca o início da carreira docente? Quais as dificuldades e dilemas compõem esse momento decisivo e crítico para a continuação ou o abandono da profissão? Sendo assim, estas inquietações desencadearam meu interesse por estudar e aprofundar sobre a temática. Desta maneira, desenvolvo neste trabalho uma pesquisa no campo da Formação de Professores, pensando na figura do Professor Iniciante e sua atuação, tendo como problematização investigar quais são as possibilidades e dificuldades enfrentadas na atuação e no cotidiano escolar durante o início da profissão, a partir da leitura da produção científica selecionada. O objetivo geral da pesquisa foi sistematizar e analisar a produção científica que trata do início da carreira docente e as vicissitudes encontradas por professores iniciantes. Como objetivos específicos, foram definidos os seguintes: a) mapear trabalhos completos que tratam do professor iniciante, 9 evidenciando como estes se sentem neste período de ingresso na profissão; b) identificar aspectos que marcam o início da carreira docente, assim como os dilemas enfrentados, evidenciando as possibilidades e conflitos enfrentados por estes no período de início da atuação na carreira docente. Para atingir os objetivos realizei uma busca de trabalhos completos em Anais de dois eventos brasileiros que tratam da educação. Correspondendo então, a uma busca no período de 2011 –2017. De acordo com Severino (2000) existem considerações e diretrizes a serem aplicadas para a elaboração de um trabalho científico, seja de natureza teórica, cientifica ou filosófica. Na área do pensamento e expressão filosófica e cientifica, certas exigências de organização prévia e de metodologia são impostas para que se alcance o objetivo desejado. Primeiramente é necessário o amadurecimento do raciocínio, pois não se consegue “[...] a elaboração um trabalho científico ao sabor da inspiração intuitiva e espontânea, sem obediência a um plano e aplicação de um método” (SEVERINO, 2000, p. 73). O autor esclarece que se tratando da formação universitária, esta série de exigências irão garantir um bom êxito na aprendizagem. Para isto, uma sequência de momentos visando à preparação metódica e planejada de um trabalho cientifico, compreende: 1- Determinação do tema- problema do trabalho; 2-Levantamento da bibliografia referente a este tema; 3- Leitura e documentação desta bibliografia após seleção; 4- Construção lógica do trabalho; 5-Redação do texto. Gil (1991, p. 19) considera a pesquisa como "procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos". Segundo o autor a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de que permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos mais ampla do que em uma pesquisa direta. Desta forma, para que uma pesquisa bibliográfica seja traçada é preciso considerar e determinar os objetivos e elaborar o plano de trabalho; identificar as fontes, assim como localiza-las e obter o material realizando sua leitura; trazer apontamentos e confeccionar fichas e a redação do trabalho. Segundo tais autores, as pesquisas de natureza qualitativa associam-se pelo processo da ação educativa, sendo que a forma de produzir os significados, é de suma importância do pesquisador. 10 Portanto, foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa, através de levantamento e análise bibliográfica (GIL, 1991), com o objetivo de sistematizar a produção científica sobre a temática em questão. Neste Trabalho de Conclusão de Curso, apresento os resultados originados da busca bibliográfica nos: a) Anais do EDUCERE (Congresso Nacional de Educação) nos anos de 2011, 2013, 2015 e 2017 e b) Anais do ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino) dos anos 2012, 2014 e 2016. Ressalto que o EDUCERE é um evento realizado a cada dois anos, com o objetivo de promover uma discussão sobre as relações entre formação, prática e pesquisa educacionais em um contexto globalizado e de forte demanda social, além de socializar os resultados das pesquisas realizadas por acadêmicos da Graduação, da Pós-Graduação e de diferentes profissionais da Área da Educação. Foi criado em 2001 a partir da iniciativa de um grupo de professores da Pós-Graduação e da Graduação em Educação da PUCPR. O evento tem promovido a aproximação entre docentes e estudantes da Educação Superior em geral, com os professores da Educação Básica, ocasionando um grande fórum de discussões de modo a aprimorar a formação inicial e continuada dos profissionais da Educação. Já o ENDIPE é um evento que nasceu a partir de dois seminários realizados nos anos de 1982 e 1983, na PUC/RJ, tendo como objetivo problematizar e discutir questões acerca da Didática, com considerações epistemológicas e políticas das propostas para o campo de ensino. Este é considerado o maior evento acadêmico na área da Educação, com mais de trinta anos, além de uma abrangência nacional, acolhendo produções que discutam teorias e práticas relacionadas ao ensino e pesquisa da Prática de Ensino e de disciplinas ligadas à formação de professores e a organização do trabalho escolar e docente. Desta maneira, foi possível ter uma dimensão ampla do que vem sendo efetivado dentro da temática da pesquisa que apresento. Para localização dos artigos, utilizei como critério aqueles que continham alguma das seguintes palavras nos títulos dos trabalhos de comunicação apresentados nos congressos: professoras iniciantes, professores iniciantes, início da carreira. Foram então, localizados no total 36 artigos a partir destas buscas, e todos foram utilizados e discutidos neste trabalho. 11 A seguir apresento a organização do presente trabalho e o conteúdo de cada capítulo. No capítulo 1, trago os quadros que explicitam a seleção de artigos para análise e uso, apontando a quantidade encontrada, assim como títulos dos artigos, palavras-chave presentes, eixos temáticos e ano de publicação, além dos gráficos que realizam um comparativo entre a quantidade de artigos localizadas em cada em ano pesquisando, em ambos os congressos. No capítulo 2, discuto os artigos que tratam sobre professores iniciantes na Educação Básica e no capítulo 3, dialogo com os artigos que trazem aspectos sobre o trabalho de professores iniciantes no Ensino Superior, através do levantamento bibliográfico anteriormente apresentado e que se referem à aspectos do início da carreira docente. Finalizo trazendo algumas considerações em relação ao trabalho desenvolvido. 12 1. SELEÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO LEVANTAMENTO DE DADOS Na busca por artigos que tratassem da temática foco deste trabalho foram localizados aqueles que continham alguma das seguintes palavras nos títulos dos trabalhos: professoras iniciantes, professores iniciantes, início da carreira. O Congresso ENDIPE, no ano de 2012 contou com três eixos temáticos para submissão e apresentação de trabalhos: 1) Políticas educacionais e impactos na escola e na sala de aula; 2) Políticas de Formação Inicial e Continuada de professores e 3) Didática e práticas de ensino na realidade escolar contemporânea: constatações, análises e proposições. Em 2014, o congresso disponibilizou quatro eixos, divididos em 4 livros: 1) Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola; 2) Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores; 3) Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade e 4) Didática e Prática de Ensino: Diálogos sobre a Escola, a Formação de Professores e a Sociedade. E em 2016, foram três eixos temáticos socializados: 1) Didática e prática de ensino: desdobramentos em cenas na educação pública; 2) Didática, profissão docente e políticas públicas e 3) Didática e prática de ensino nas diversidades educacionais. Já, o Congresso EDUCERE, de modo geral, conforme as informações do site oficial, apresenta 22 eixos temáticos para submissão de trabalhos. Sendo estes: Alfabetização, leitura e escrita; Avaliação da educação; Cultura, currículo e saberes; Didática; Educação ambiental; Educação, arte e movimento; Educação da infância; Educação de jovens e adultos e profissionalizante; Educação e direitos humanos; Educação e saúde; Educação indígena, quilombola e do campo; Educação, tecnologia e comunicação; Ensino e práticas nas licenciaturas; Filosofia e educação; Formação de professores; História da educação; Música e educação; Políticas públicas e gestão da educação; Psicologia da educação; Psicopedagogia, educação especial e inclusão; Representações sociais e educação; Sociologia da educação. Neste ponto irei esquematizar através de tabelas para melhor visualização, os artigos encontrados nos Anais de 2011, 2013, 2015 e 2017 do 13 Congresso Nacional de Educação (EDUCERE) e dos Anais de 2012, 2014 e 2016 do Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino (ENDIPE). As tabelas, nos respectivos anos, apresentam: 1. Título do artigo; 2. Palavra-chave presente no título; 3. Nome (s) do (s) autor (es); 4. Eixo temático do artigo; 5. Ano do artigo. Apresento a seguir dados do EDUCERE. Quadro 1. Seleção de artigos para análise e uso na pesquisa - Anais EDUCERE. SELEÇÃO DE ARTIGOS PARA ANÁLISE E USO NA PESQUISA ANAIS DE 2011/ 2013/ 2015/ 2017 EDUCERE Título Palavra- chave Autor (es) Eixo Ano Professoras Iniciantes Da Educação Infantil: O Que Se Esconde Atrás Do “Sonho” De Trabalhar Com Crianças Pequenas? Professoras Iniciantes Solange Cardoso; Celia Maria Fernandes Nunes Educação Da Infância 2013 Possibilidades De Contribuição De Um Grupo Colaborativo Para A Prática De Professores Iniciantes Professores Iniciantes Marcelina Ferreira Vicente; Mônica Vasconcellos Formação De Professores E Profissionalização Docente 2013 Professores Iniciantes E O "Choque De Realidade - O Que Nos Revelam Algumas Pesquisas Professores Iniciantes Angelita Aparecida Azevedo; Viviane Wiltemburg Araújo Formação De Professores E Profissionalização Docente 2013 As Contribuições Do PIBID Aos Professores Iniciantes Professores Iniciantes Sandra Patrícia Junqueira; Marília Formação De Professores E Profissionalização Docente 2015 14 Lobato Da Silva; Ana Maria Gimenes Corrêa Calil Características Da Profissão Docente De Acordo Com Professores Iniciantes, Egressos Do Curso De Pedagogia Da Puc-Rio Professores Iniciantes Rômulo Loureiro Casciano Formação De Professores E Profissionalização Docente 2015 Os Professores Iniciantes E A Prática Interdisciplinar Na Educação Infantil: Dilemas E Desafios Professores Iniciantes Maria Pina de Souza Santana; Rosinéia Teixeira Ribeiro; Elaine Borges Rodrigues; Izabel Delgado da Silva Matos; Simone Albuquerque da Rocha Formação de Professores e Profissionalização Docente 2015 Uma Atualização Da Pesquisa Brasileira Sobre Professores Iniciantes No Brasil Professores Iniciantes Glaucia Signorelli De Queiroz Gonçalves Formação De Professores E Profissionalização Docente 2015 Professoras Iniciantes E Seu Processo De Inserção Na Carreira Docente Professoras Iniciantes Márcia Socorro Dos Santos França Formação De Professores E Profissionalização Docente 2015 Professores Em Início Da Carreira: Uma Análise Da Produção Científica Sobre Início de Carreira Viviani Dias Cardoso; Lediana Ribeiro de Quadros Formação de Professores e Profissionalização Docente 2015 15 Programas De Mentoria A Formação Continuada De Professores Iniciantes: Possibilidades De Melhorar A Travessia De Estudante A Professor Professores Iniciantes Dulcinete Rodrigues Dos Santos Alves De Souza; Marly Souza Brito Farias; Elizabete Gaspar De Oliveira; Rosana Maria Martins Formação De Professores 2017 Processos Formativos De Professores Iniciantes Na Educação Superior E O Desenvolvimento Profissional Docente Professores Iniciantes Andressa Wiebusch; Eliane Aparecida Galvão Dos Santos; Janilse Fernandes Nunes Formação De Professores 2017 Professores Iniciantes: O Ingresso Na Carreira Docente Universitária Professores Iniciantes Andressa Wiebusch Formação De Professores 2017 A Criação Curricular No Cotidiano De Professoras Iniciantes: Outras Facetas Do Vivido Professoras Iniciantes Joelson De Sousa Morais; Franc-Lane Sousa Carvalho Do Nascimento; Nadja Regina Sousa Magalhães Cultura, Currículo E Saberes 2017 Fonte: Dados levantados pela aluna. Na busca realizada nos artigos EDUCERE foram localizados e utilizados, no total de 13 artigos referentes a temática proposta. Socializo informações referentes a artigos do ENDIPE. 16 Quadro 2. Seleção de artigos para análise e uso na pesquisa Anais ENDIPE. SELEÇÃO DE ARTIGOS PARA ANÁLISE E USO NA PESQUISA ANAIS DE 2012/ 2014/ 2016 ENDIPE Título Palavra- chave Autor (es) Eixo Ano Desenvolvimento Profissional Docente E Necessidades Formativas De Professores Iniciantes Professores Iniciantes Naiara Mendonça Leone; Yoshie Ussami Ferrari Leite A Didática E As Práticas de Ensino E As Condições De Trabalho Docente 2012 Diálogos E Acompanhamento: A Escrita De Professores Iniciantes A Serviço Da Formação Docente Professores Iniciantes Ana Paula Gaspar Melin Programas de Formação de Professores: entre concepções, propostas e experiências 2012 Práticas Pedagógicas De Professoras Iniciantes E Experientes: Contribuições À Formação Continuada Na Escola Professoras Iniciantes Camila José Galindo Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Formação De Professores 2014 As Dificuldades Didáticas Dos Professores Iniciantes De Química Professores Iniciantes Elaine G. M. Furlan Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Escola 2014 Formação De Professores E Exercício Da Profissão: Um Estudo Sobre Os Saberes Mobilizados Por Professores Iniciantes Professores Iniciantes Mônica Vasconcello s Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Escola 2014 Necessidades Formativas De Professores Iniciantes No Ensino Superior Professores Iniciantes Daniele De Jesus Gomes Moreira Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Formação De Professores 2014 Percepções De Professores Iniciantes Da Rede Municipal De Professores Iniciantes Rosemary Freitas Dos Reis Didática E Prática de Ensino Na 2014 17 Ensino Do Rio De Janeiro Sobre A Formação Inicial Relação Com A Formação De Professores Professores Iniciantes E Suas Dificuldades Didáticas No Exercício Da Docência Nas Séries Iniciais Professores Iniciantes Fernanda Oliveira Costa Gomes Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Escola 2014 Professores Iniciantes No Ensino Superior: Desafios Pedagógicos E Institucionais E Dificuldades Da Docência De Formadores De Professores Professores Iniciantes Sandra Regina Lima Dos Santos Silva; Laurizete Ferragut Passos Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Formação De Professores 2014 Professores Iniciantes: Inserção Em Diferentes Redes De Ensino Professores Iniciantes Vanessa Cristina M. Portella; Isabel Alice O. M. Lelis Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Formação De Professores 2014 Professores Iniciantes: O Que Falam As Pesquisas Apresentadas No IV Congresso Internacional Sobre Professorado Principiante E Inserção Profissional À Docência Professores Iniciantes Rodrigo Fideles Fernnandes Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Formação De Professores 2014 Repercussão Das Práticas Formativas No Desenvolvimento Profissional De Professores Iniciantes Da Rede Municipal De Ensino Professores Iniciantes Miriane Zanetti Giordan; Márcia De Souza Hobold Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Formação De Professores 2014 Sindicalização De Professores Iniciantes Na Carreira Docente: Um Diálogo Emergente Professores Iniciantes Deise Ramos Da Rocha Didática E Prática de Ensino Na Relação Com A Formação De Professores 2014 A Complexidade Dos Saberes No Aprender Professoras Iniciante Joelson De Sousa Didática, Profissão 2016 18 E Ensinar De Professoras Iniciantes: Reflexos Cotidianos Morais Docente E Políticas Públicas Quando Os Diários Falam Da Formação... Professoras Iniciantes E Seus Diários De Campo Professoras Iniciante Márcia Roza Lorenzzon Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 Professores Iniciantes Em Processo De Construção Na Docência Universitária: A Formação Em Contexto Professores Iniciante Vera Lúcia Reis Da Silva Didática E Prática de Ensino: Desdobrament os Em Cenas Na Educação Pública 2016 As Pesquisas Sobre Professores Iniciantes Na Educação Infantil Professores Iniciante Rosiris Pereira De Souza Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 Condições De Trabalho De Professores Iniciantes: Mediações Para A Resistência E Desistência Da Carreira Professores Iniciante Deise Ramos Da Rocha Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 Desenvolvimento Profissional De Professores De Matemática Iniciantes: Contribuição Do PIBID Professores Iniciante Francisco Jeovane Do Nascimento; Ivoneide Pinheiro De Lima Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 Professores Universitários Iniciantes: Profissionalidade, Saberes Pedagógicos E Aprendizagens Da Docência Professores Iniciante Lúcia Gracia Ferreira Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 Os Professores Iniciantes E A Escola Em Narrativas: Inserção Ou Exclusão? Professores Iniciante Mendes Solange Lemes Da Silva Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 Possibilidades Formativas Das Narrativas Autobiográficas: Um Estudo Com Professores Iniciante Renata Cristina Da Cunha Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 19 Professores Iniciantes Do Curso De Letras- Inglês Da UESPI Processo De Inserção Profissional: Principais Dificuldades, Desafios E Descobertas De Professores Iniciantes Da Educação Infantil Professores Iniciante Letícia Marinho Eglem De Oliveira Didática, Profissão Docente E Políticas Públicas 2016 Fonte: Dados levantados pela aluna. Já, a busca realizada nos artigos ENDIPE, foram localizados e utilizados, no total 23 artigos referentes a temática proposta, complementando a pesquisa. Apresento também, os quadros que evidenciam a quantidade total de artigos encontrados conforme cada palavra-chave buscada nos a) ANAIS dos anos de 2011, 2013, 2015 e 2017 do Congresso EDUCERE; b) ANAIS dos anos de 2012, 2014 e 2016 do Congresso ENDIPE. Quadro 3. Artigos encontrados nos Anais EDUCERE utilizando as palavras-chave selecionadas. Palavras-chave encontradas Congresso EDUCERE 2011 2013 2015 2017 Professores Iniciantes 0 2 4 3 Professoras Iniciantes 0 1 1 1 Início de Carreira 0 0 1 0 Fonte: Dados levantados pela aluna. Observa-se que nesta busca, a palavra-chave “Professores Iniciantes” totalizou 9 trabalhos encontrados, enquanto “Professoras Iniciantes” contou com 3 trabalhos e “Inicio de Carreira” apenas 1. 20 Quadro 4. Artigos encontrados nos Anais ENDIPE utilizando as palavras-chave selecionadas. Palavras-chave encontradas Congresso ENDIPE 2012 2014 2016 Professores Iniciantes 2 10 8 Professoras Iniciantes 0 1 2 Início de Carreira 0 0 0 Fonte: Dados levantados pela aluna. Neste levantamento, é possível perceber que a palavra-chave “Professores Iniciantes” totalizou 20 trabalhos encontrados, “Professoras Iniciantes” 3 trabalhos e “Inicio de Carreira” com nenhum trabalho localizado. Os gráficos a seguir, fazem um comparativo entre a quantidade de artigos encontrado conforme cada ano pesquisado em ambos os congressos. 21 Gráfico 1. Número de Artigos encontrados nos Anais EDUCERE em cada ano buscado. Fonte: Dados levantados pela aluna. Em relação ao congresso EDUCERE, é possível observar que no ano de 2011 nenhum artigo foi encontrado utilizando os critérios de busca anteriormente citados. Já no ano de 2013, 3 artigos corresponderam a busca. O ano de 2015 representa o ano com o maior número de artigos encontrados e utilizados no presente trabalho e o ano de 2014 conta com 4 artigos localizados. 22 Gráfico 2. Número de Artigos encontrados nos Anais ENDIPE em cada ano buscado. Fonte: Dados levantados pela aluna. Percebe-se em relação à busca realizada no congresso ENDIPE, que no ano de 2012 apenas 2 artigos foram localizados do mesmo modo, conforme os critérios de busca deste trabalho. Em 2014 o número de trabalhos localizados sofre um aumento, acrescentando 11 artigos a presente pesquisa. Já em 2016, foram 10 artigos localizados, complementando o presente trabalho. Gráfico 3. Temática dos artigos Fonte: Dados levantados pela aluna. 23 O gráfico 3 acima aponta que, do total de 36 artigos encontrados, 30 tratam sobre as especificidades de professores iniciantes no Ensino Básico, enquanto apenas 6 artigos correspondem ao início de carreira de docentes no Ensino Superior. No capítulo seguinte, apresento as discussões acerta dos professores iniciantes atuantes na Educação Básica. 24 2. OLHARES SOBRE OS PROFESSORES INICIANTES NA EDUCAÇÃO BÁSICA O início da carreira docente é reconhecido como um período que apresenta características especificas e configura acontecimentos que constituem o desenvolvimento profissional dos professores. Um primeiro momento evidenciado nesta fase é o sentimento do choque com o real (HUBERMAN, 1995, apud CARDOSO; QUADROS, 2015), choque cultural (MARCELO GARCIA, 1999, apud CARDOSO; QUADROS, 2015) ou choque de transição (TARDIF, 2002, apud CARDOSO; QUADROS, 2015). De acordo com estes autores, estes sentimentos representam a etapa em que o professor passa e se deparar com a contradição entre as convicções adquiridas durante o curso de graduação em licenciatura e a realidade “nua e crua” do contexto educacional. Para caracterizar o professor iniciante, Cardoso e Quadros (2015) destacam autores que trazem concepções sobre o tempo de atuação docente para caracterizar o início de carreira: Pacheco e Flores (1999 apud CARDOSO; QUADROS, 2015) que definem o professor iniciante como aquele que se encontra no primeiro ano de docência; já, Huberman (1995 apud CARDOSO; QUADROS, 2015) considera a fase de início da carreira docente até o terceiro ano de atuação; Gonçalves (1995 apud CARDOSO; QUADROS, 2015) considera até o quarto ano de prática profissional; por sua vez, Reali; Tancredi e Mizukami (2010 apud CARDOSO; QUADROS, 2015) e ainda Marcelo Garcia (2009 apud CARDOSO; QUADROS, 2015) destacam os cinco primeiros anos de atuação docente para identificar o professor iniciante; por último, apresentam as considerações de Tardif (2002 apud CARDOSO; QUADROS, 2015) que defende o professor iniciante entre os sete primeiros anos da carreira. Do mesmo modo, Santana et al. (2015) adotam as concepções de professores iniciantes a partir da perspectiva de teóricos como Huberman (1995) e Tardif (2008), classificando esta entrada na carreira como fase de diversificação e lamentações. Sobre os obstáculos, afirmam que “variam de acordo com os professores, pois pode ser fácil ou difícil, entusiasmadora ou 25 decepcionante, e é condicionada pelas limitações das instituições” (TARDIF, 2008, apud SANTANA et al., 2015, p. 29759). Os autores realizaram uma pesquisa com 2 professores iniciantes atuantes na Educação Infantil da rede municipal da cidade de Rondonópolis – MT, egressos do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Campus de Rondonópolis, afim de investigar como estes professores compreendem o termo interdisciplinaridade e de que forma realizam seus planejamentos e práticas educativas. Santana et al. (2015) apresentam no trabalho as análises das entrevistas realizadas, onde observaram nas falas dos sujeitos que há grandes dificuldade enfrentadas no âmbito educacional, ligadas diretamente ao pequeno período de vivência dos estágios obrigatórios das Universidades, acarretando uma não associação entre a teoria e prática, causando insegurança por parte dos professores iniciantes e apresentando obstáculos no momento de planejar interdisciplinarmente as áreas de conhecimento trabalhadas na Educação Infantil. Há também críticas a falta de oportunidade em conhecer e participar de projetos de extensão que complementem as aprendizagens no decorrer da formação. Desta forma, se torna evidente o quão desafiador para o professor em início de carreira é relacionar a teoria e prática, vista durante a formação inicial com a prática diária em sala de aula, comprometendo os planejamentos e a possibilidade de trabalhar interdisciplinarmente os conteúdos. Para Cardoso e Nunes (2013) é evidente que o início da carreira docente é sinalizado pela passagem da condição de aluno para professor, (de estudante para profissional) e que esta etapa é muitas vezes marcada por desafios, angústias, descobertas e tentativas. As autoras consideram a fase de entrada na carreira sendo correspondente aos três primeiros anos da docência e evidenciam que esse ciclo apresenta suas próprias características que nos possibilita compreender o quanto a carreira docente é marcada por diferentes peculiaridades em cada etapa. Desde modo concordam que Essa fase é caracterizada pela “sobrevivência” e pela “descoberta”. A “sobrevivência” relaciona-se com a complexidade do “tatear constante, a preocupação consigo próprio, a distância entre os ideais e as realidades cotidianas da sala de aula, a fragmentação do trabalho, a dificuldade em fazer face, simultaneamente, à relação pedagógica e à 26 transmissão de conhecimentos, a oscilação entre relações demasiado íntimas e demasiado distantes, dificuldades com alunos que criam problemas, com material didático inadequado etc. (HUBERMAN, 2000, apud CARDOSO; NUNES, 2013, p. 24657). Ao apresentarem parte de sua dissertação de mestrado, onde buscaram investigar os dilemas e tensões vivenciados por professoras iniciantes da Educação Infantil, as autoras utilizaram de questionários e entrevistas a um grupo previamente selecionado de professores iniciantes da Região dos Inconfidentes – Minas Gerais, onde identificaram dois temas, sendo eles: o “sonho” e o “amor” por crianças pequenas. Ao longo do trabalho discutem as razões apresentadas pelas professoras, que as levaram a optar pelo segmento da Educação Infantil, concluindo que as motivações pessoais estão intimamente relacionadas com fatores socioeconômicos e culturais, assim como a facilidade de ingressar no mercado de trabalho. Através das falas das professoras, uma grande distância entre a teoria e a prática é sinalizada, visto que as professoras apontam que nos cursos de graduação não aprenderam ao menos o básico para que pudessem realizar sozinhas e seguras o seu trabalho, sendo possível perceber a importância da formação inicial de maneira estruturada e completa. As autoras também pontuam o quão complexo é esta etapa do desenvolvimento profissional e relatam terem identificado, de certo modo, pouca relevância voltada a estes profissionais e este segmento de ensino, sendo então necessário criar diálogos constantes com autores que estudam essas temáticas, como Garcia, Huberman, Tardif e Raymond, Lima, Kramer e Campos. Vicente e Vasconcellos (2013), trazem os dados de uma pesquisa onde investigaram as contribuições de um grupo colaborativo, constituído por professores em início de carreira, professores experientes e alunos bolsistas do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), para a formação e prática de uma professora iniciante do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Campus de Três Lagoas, que atua como professora nos anos iniciais do ensino fundamental. Segundo as autoras um grupo colaborativo 27 Configura-se, nesse momento, como uma instância de prática de apoio para a fase inicial, ao proporcionar um ambiente de reflexão e de investigação sistemática sobre a prática, não apenas no âmbito individual, mas principalmente coletivo. Importante destacar que, na interlocução com os outros, os professores iniciantes são influenciados e influenciam nesse processo de constituição das identidades individuais e coletivas do grupo. (GAMA; FIORENTINI, 2008 apud VICENTE E VASCONCELLOS, 2013, p. 11686). Os dados coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, foram compostos por 3 blocos de questões, nomeados como: “identificação”, “percepções da professora sobre sua vivência e experiências adquiridas no processo de colaboração no grupo” e "os significados de ser parte do grupo e contribuições para a formação inicial e o exercício da docência”. No primeiro bloco de perguntas, a professora narra suas percepções ao chegar à escola e seu primeiro contato como docente, a partir do papel de professora iniciante em conclusão da graduação de Pedagogia. A professora menciona que ao ingressar na carreira, possuía a formação em nível médio e habilitação para Magistério, e que assumiu uma sala de apoio pedagógico onde atendia crianças com maior dificuldade de aprendizagem (em torno de 10 alunos). A professora relata que as dificuldades que encontrou foram amenizadas por leituras especificas dos assuntos e com o apoio da coordenação da escola e pela participação no grupo de pesquisa, além disso o ingresso no curso de pedagogia foi outra estratégia utilizada para “driblar” os desafios, pois a professora considerou importante relacionar a teoria estudada na universidade com o saber prático da docência. No segundo bloco de perguntas, as autoras destacam as contribuições que o grupo proporcionou em relação à construção da identidade profissional da professora, por meio da troca, reflexões coletivas de experiências e situações de ensino. A professora relata que essa possibilidade fez com que ela adquirisse uma maior segurança e um olhar crítico em relação ao trabalho que realiza, e que a participação no grupo contribuiu muito, uma vez que, por meio das reuniões pôde ter um maior contanto com outros docentes e compartilhar dúvidas, anseios, etc. Assim, é ressaltada a potencialidade de por meio de grupos ter a oportunidade de adquirir conhecimentos ligados à profissão e um maior contato com a prática docente e a articulação entre teoria e prática. 28 [...] é nessa vivência que percebemos a complexidade da prática pedagógica e que entendemos que ensinar não é apenas mostrar aos alunos as respostas certas e os meios de se chegar a ela, mas desenvolver neles a capacidade de questionar, de investigar e buscar também suas próprias questões e seus próprios caminhos. Além disso, quando essa prática nos angustia, é também no grupo que encontramos o apoio para enfrentar os novos desafios que surgem e não desistir no meio do caminho (CRISTOVÃO, 2009, apud VICENTE; VASCONCELLOS, 2013, p.11685). Em relação ao terceiro bloco de perguntas, a Formação Inicial aparece como de extrema importância pois deve proporcionar aos futuros docentes uma formação que garanta condições de enfrentar os desafios com os quais irão se deparar no início da docência, permitindo refletir sobre que farão diferente quando estiverem diante de seus próprios alunos. Portanto, as autoras concluem que cabe aos cursos de licenciatura formar profissionais autônomos e reflexivos, que possam contribuir com a implementação das práticas dos envolvidos. Azevedo e Wiltemburg (2013) apresentam um artigo onde discutem trabalhos inscritos na 28ª, 29ª, 34ª e 35º Reuniões Anuais da ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), dos anos de 2005/2006 e 2011/2012, no GT (Grupo de Trabalho) 8, Formação de professores, que trazem considerações sobre professores iniciantes e o “choque de realidade” vivenciado por eles no início da carreira. Destacam estudos de autores como Huberman (1992), Garcia (1999) que consideram os três primeiros anos como início de carreira, período marcado pela exploração e o choque real, embora não sejam passagens obrigatórias a todos. Segundo Azevedo e Wiltemburg (2013), o levantamento realizado em tal periódico permitiu constatar que as discussões sobre professores iniciantes têm acontecido de maneira incipiente, o que afirma a necessidade de novas pesquisas que abordem o início de carreira docente, buscando compreender este período e servindo de fundamentação para políticas educacionais de apoio a professores nesta fase. As autoras apontam que a inserção na carreira docente é um momento marcado por inúmeras dificuldades e que o “choque de realidade” vivenciado pelos professores iniciantes ao se depararem com a rotina da sala de aula, é 29 conceituado por alguns autores como “a diferença que há entre o que se aprende na formação inicial e o jeito como isso ocorre” (LIMA, 2006 apud AZEVEDO; WILTEMBURG, 2013, p 11870). Ao longo do texto, trazem que sentimentos como solidão, dificuldade no trato com os pais, com o conteúdo e diante da indisciplina e heterogeneidade dos alunos são evidenciados nos artigos discutidos, assim, "choque de realidade" se torna algo presente nos professores em início de profissão, e cada um o vivencia de uma maneira. Porém, é discutido também sobre potencialidades deste período, como sentimento de descoberta e de realização que impulsiona os profissionais a continuar o trabalho mesmo diante diversas dificuldades. Assim, concluem afirmando a importância e a urgência por programas educacionais de apoio a professores iniciantes serem constituídos no Brasil, visto que até os dias atuais, são realizadas apenas ações isoladas. Morais, Nascimento e Magalhães (2017) por meio de uma investigação realizada com 3 professoras iniciantes que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, na rede pública municipal de Caxias-MA, observaram como as professoras iniciantes tecem currículos no cotidiano da prática pedagógica. Os autores analisaram os currículos criados e recriados por professoras iniciantes no dia a dia da prática pedagógica e contribuições destes para o desenvolvimento profissional. Os resultados mostram o potencial dos currículos praticados no cotidiano pelas professoras iniciantes, que não se deixam aprisionar o tempo todo, e assim, ultrapassam os currículos prescritos, contribuindo para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, ficou evidente que os saberes curriculares construídos em meio aos inúmeros contextos, dúvidas e complexidades foram criados e recriados de forma criativamente pelas professoras iniciantes em interação com os sujeitos do cotidiano escolar, sobretudo, seus alunos. As professoras relatam que a participações nos planejamentos e encontros do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), colaboraram para a emancipação social no processo de escolarização, dando ainda abertura às inúmeras possibilidades de mudanças e reflexões que colaboram para tecer suas múltiplas identidades profissionais. 30 Casciano (2015), apresenta um estudo realizado com 33 ex-alunos formados no período de 2009 a 2015 no curso de Pedagogia da PUC-Rio, onde através dos questionários respondidos foi feita uma análise sobre a formação inicial e a atuação profissional nos primeiros anos de carreira dos egressos, partindo do princípio de que o momento de entrada na docência é entendido como um espaço de construção da identidade profissional. Na opinião desses professores, o excesso de teorizações e a falta de exercícios práticos durante a formação inicial causaram o sentimento de insegurança e despreparo para o trabalho, constituindo em desafios para o envolvimento e a satisfação com o magistério/docência como profissão, embora a Pedagogia tenha sido a primeira opção de curso de nível superior para 66,7% dos egressos. Assim, os estágios de observação aparecem como insuficientes para formação por distanciarem a prática da realidade prejudicando a formação dos professores. Os professores afirmam que o isolamento ou desunião dos docentes, além desconhecimento das formas de atuação de sindicatos, também são barreiras enfrentadas. Porém, de modo geral todos professores (87,0%) revelam que comprometimento com a profissão é construída no diálogo e por meio da parceria com toda a equipe pedagógica (gestão e colegas professores), no domínio de metodologias e técnicas didáticas com preparo de aulas e discussões curriculares), e principalmente com a reflexão sobre a prática docente. Além disso, os professores em início de carreira também se mostram resilientes e flexíveis ao apontarem o aprendizado e as descobertas a partir das dificuldades do cotidiano. Concordam Junqueira, Silva e Calil (2015) que a atuação no início da carreira docente tem revelado que muitos alunos egressos das universidades se sentem despreparados para atuar em sala de aula devido à insegurança gerada pelo choque de realidade que sofrem quando passam a ser professores. De acordo com Lima et al. (2007 apud JUNQUEIRA; SILVA; CALIL, 2015), ao ingressarem no ambiente escolar os professores encontram situações difíceis como a falta do apoio institucional, problemas em relação à gestão da classe, falta de colaboração e trabalho coletivo entre os docentes que resulta no mínimo de apoio a professores iniciantes e a grande expectativa 31 das instituições escolares em relação ao desempenho dos professores iniciantes. Sendo assim, há professores que se mantêm equilibrados na profissão, enquanto outros se escondem atrás de mecanismos de fuga para “sobreviverem” aos primeiros anos de carreira. Ressaltam a perceptível necessidade de a formação inicial de professores estar atrelada a um processo de qualidade, para que os procedimentos formadores sejam suficientes para a capacitação do profissional docente. Diante disso, defendem o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) como importante recurso que oferece para os cursos de licenciatura a oportunidade de atuar em escolas públicas durante o curso e relacionar a teoria e prática na realidade das escolas. As autoras realizaram uma pesquisa com 6 professoras iniciantes egressas do curso de Pedagogia da Universidade de Taubaté, e por meio de entrevistas identificaram as reais contribuições do PIBID para a prática das docentes. Os resultados reforçam que a partir da participação no programa as bolsistas ampliaram os conhecimentos acerca da profissão e estruturaram um repertório partindo das práticas observadas e também vivenciadas por elas. As entrevistadas destacam a autonomia e segurança conquistada, pois desde a sua formação inicial já participavam da realidade das escolas, refletindo sobre a relação teoria e prática, dialogando com a Universidade e a escola pública, trazendo experiências na construção de sua identidade profissional. Como confirma a fala de uma das professoras entrevistadas [...] O PIBID foi muito importante pra mim sim. Em questão de planejar as aulas que a gente tinha que fazer constantemente. [...] Questão de entrar na sala de aula e olhar pras crianças sem ficar tremendo, porque no começo... Eu entrei no PIBID no começo da faculdade, eu entrava na sala de aula e eu tremia um pouco. Medo de repente as crianças falarem “Ah, o que você está falando não é verdade! ” [...] E o PIBID ajudou nisso assim, de não ter vergonha, de ir na frente, de falar, questão de contar história pras crianças... (JUNQUEIRA; SILVA; CALIL, 2015 P. 39086). Assim, as autoras compreendem que o ingresso na docência é justamente o momento em que o professor decidirá se permanece ou não na profissão escolhida, porém caso esse professor tenha passado por uma formação inicial que tenha proporcionado a base fundamental para sua 32 atuação, em especial promovido espaços e parcerias com programas de inserção à docência como o PIBID, este movimento de entrada na carreira passa a ser menos conflituoso e espantoso, pois o professora terá conhecimentos práticos adquiridos através de ações e orientações das próprias escolas onde atuou durante a formação inicial. Signorelli (2015) apresenta uma atualização de produções sobre professores iniciante no Brasil expondo os resultados do levantamento feito a partir dos encontros nacionais na área de educação: a) Congresso Internacional sobre Professorado Principiante e Inserção Profissional à Docência – CONGREPRINCI, de 2014; b) ENDIPE no período de 2012 a 2013. A autora evidenciou o que vem sendo discutido sobre essa temática e as falhas que ainda persistem. A autora observou que até o ano de 2012 as produções ainda eram incipientes, com poucas produções sobre a temática, mas que nos anos de 2013 e 2014 o interesse em pesquisas com este foco, é crescente, sendo encontradas pesquisas feitas com professores iniciantes da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, com áreas de atuação em Educação Física, Geografia, Biologia, Química, Matemática e Pedagogia. Segundo a autora, a maioria das pesquisas evidenciam descobertas individuais e principalmente as dificuldades enfrentadas pelos docentes iniciantes, sendo estas de natureza pedagógica, em relação à falta de acompanhamento, indisciplina dos alunos, dificuldades em desenvolver os conteúdos e falta de trabalho em equipe; de natureza institucional, que se referem às estruturas físicas das escolas, números de alunos por sala de aula e falta de material didático; e de natureza pessoais, que dizem respeito a diversos sentimentos como o isolamento, medo, ansiedade, inexperiências e desejo por aceitação entre os pares. Sobre as descobertas individuais de cada profissional, conforme sinaliza a pesquisa, os trabalhos destacaram que em meio aos problemas e fragilidades, também são vivenciadas experiências positivas que compões a condição de professor iniciante, sendo [...] a satisfação por se encontrarem no exercício da docência concretizando a formação profissional, a alegria pelo contato com os alunos, o esforço e o talento pessoal de tentar resolver situações problemas do cotidiano. Estes resultados são 33 apontados como propícios ao desenvolvimento profissional dos professores iniciantes, o que pode assegurar sua permanência na carreira. (SIGNORELLI, 2015, p. 4427). Para Signorelli (2015), este estudou mostrou a centralidade que os professores possuem em pesquisas, visto que a maioria delas se preocupa com a pessoa do professor e seu desenvolvimento profissional, enquanto os estudos que tratam propriamente da inserção profissional, voltam-se para os desafios e tensões dos professores iniciantes enfrentam neste momento da carreira, sem que haja diretamente a existência de comunidade e programas estruturados que integrem os profissionais em sua profissão, o que confirma a forma inadequada com que as políticas públicas e as próprias instituições de ensino vêm tratando o início da carreira docente, além de demonstrar a fragilidade com que essa temática é tratada no Brasil. Assim, é possível afirmar a existência de aspectos que colaboram para que os professores iniciantes tenham um início de carreira mais tranquilo são: estratégias de integração para aprendizagens na profissão, participação efetiva em decisões escolares, ambiente institucional acolhedor, espaços coletivos, compartilhamento de experiências e cursos de formação continuada. França (2015), apresenta em seu texto uma pesquisa vinculada ao projeto “Egressos da licenciatura em pedagogia e os desafios da prática em memoriais de formação: a universidade e a escola em um processo interdisciplinar de inserção do professor iniciante na carreira docente”, UFMT/OBEDUC, desenvolvido na Universidade Federal de Mato Grosso/Câmpus de Rondonópolis, onde investigaram e analisaram, por meio de entrevistas semiestruturadas, as percepções de professores iniciantes e dos respectivos coordenadores pedagógicos, acerca da formação continuada em temáticas do interesse dos participantes, sendo: relatórios descritivos e avaliação formativa, patrimônios culturais da educação infantil e sexualidade Infantil. Os dados analisados, correspondentes a duas professoras iniciantes e uma professora coordenadora, revelaram [...] a valorização da proposta de formação continuada desenvolvida pela UFMT/OBEDUC, bem como a importância do trabalho colaborativo entre universidade e escola, pois as experiências de cada uma mostraram-se significativas, tanto da coordenadora que passou a ter um olhar diferenciado ao 34 professor iniciante, quebrando barreiras para o mesmo se sentisse seguro para pedir auxílio sempre que necessário, quanto das professoras, que demonstraram compreensão no que se refere às dificuldades enfrentas, considerando-as ponto de partida de discussões coletivas na busca da melhoria de suas práticas, o que reflete diretamente na construção da identidade como profissional. (FRANÇA, 2015, p.16302). Desta forma, compreende-se a dimensão da formação continuada pensada com professores iniciantes, assim como como o trabalho colaborativo entre universidade e escola. A autora descreve que a formação continuada representa justamente possibilidades para o desenvolvimento dos docentes, sendo um processo que rompe com o individualismo e busca pela superação de desafios encontrados no cotidiano das escolas e das ações pedagógicas, visto que este desenvolvimento profissional não acontece de maneira particular, e sim por meio de ações coletivas. Dando continuidade a esta proposta de pesquisa com projeto UFMT/OBEDUC, a fim de analisar as potencialidades apresentadas por professores iniciantes em participar de encontros de formação continuada, Souza et. al (2017), apresentam um recorte com dados sobre a formação continuada de 3 professores em início de carreira, em escolas públicas municipais de Rondonópolis/MT, onde buscaram responder quais necessidades formativas e dilemas aparecem no início da carreira docente. Acreditando que esta entrada na carreira pode muitas vezes ser um período angustiantes, afirmam que O início da actividade profissional é, para todos os indivíduos, um período contraditório. Se por um lado, o ter encontrado um lugar, um espaço na vida, corresponde à confirmação da idade adulta, ao reconhecimento do valor da participação pessoal no universo do trabalho à perspectiva da construção da autonomia, por outro, as estruturas ocupacionais raramente correspondem à identidade vocacional definida nos bancos da escola. [...]. Assim, é no jogo de procura de conciliação, entre aspirações e projectos e as estruturas profissionais que o jovem professor tem de procurar o seu próprio equilíbrio dinâmico, reajustar, mantendo, o sonho que dá sentido aos seus esforços. (CAVACO, 1999, apud Souza et. al., 2017, p.1714). Diante disso, os resultados das análises das narrativas das professoras, novamente indicam que a formação continuada oferecida no trabalho colaborativo do grupo PPGEdu/UFMT/OBEDUC tem contribuído fortemente para a formação dos professores iniciantes, promovendo reflexões sobre a 35 maneira de pensar, compreende e enfrentar suas dificuldades, influenciando, as práticas de modo positivo. As professoras destacam a necessidade de realizarem novos estudos de formação continuada para sua constituição como profissional, além da busca por apoio de professores experientes, nesta fase da carreira. As narrativas revelaram a valorização da proposta de formação continuada desenvolvida pelo grupo, pois para elas, este o processo colaborativo foi o responsável por acarretar novas aprendizagem e um clima de colaboração entre os professores. Furlan (2014) apresenta parte de uma tese de doutorado na qual discute a Formação de Professores por meio de um estudo na perspectiva do professor iniciante de Química. Investiga a aprendizagem da profissão por 14 professores com experiência docente inferior a sete anos, atuantes no ensino médio, considerando as particularidades desta etapa da educação básica e as dificuldades encontradas durante o trabalho em escolas públicas e particulares de um município do interior de São Paulo, com atenção especial para as dificuldades didáticas. Traz em seu texto as concepções de teóricos que abordam a fase inicial da carreira docente e o professor principiante, tais como, Huberman (1992), Marcelo (1998) e Tardif (2002). Para a autora, existem muitas dificuldades para os iniciantes nesta fase da carreira docente. Tanto os professores de escolas particulares como os atuantes nas escolas públicas atuam em diversos ambientes escolares no início da profissão, passando por muitas escolas e convivendo com muitos colegas, com diferente aceitação em cada local. Toda mudança necessita de uma força de vontade extrema por parte do professor, para a aceitação dos alunos e para continuar um trabalho planejado e regular ao longo do ano, sobretudo na disciplina de Química que, segundo estudos da autora, é novidade para os alunos que iniciam o ensino médio, principalmente das escolas públicas. As análises dos relatos dos professores demonstram as características marcantes desta fase inicial da carreira docente, sendo a presença de 36 motivação, interesses, experimentação, descobertas, dificuldades, além de aspectos explorados por boa parte dos iniciantes como, seus percursos iniciais em busca de certa estabilidade em uma determinada escola. Além disso, os principiantes alertaram para a necessidade de descobrir, explorar e sobreviver por meio de um explorar constante, procurando se adequar às condições de trabalho. Algumas regularidades também foram destacas pelos entrevistados, tais como, a própria condição de iniciante e aspectos de insegurança em relação ao conteúdo da disciplina de química. Os depoimentos, relatam que mecanismos de sobrevivência e descoberta classificados por Huberman (1992 apud FURLAN, 2014) estão marcados nos primeiros anos da docência e incidem sobre aspectos individuais, como o preparo das aulas, aceitação dos alunos e questões coletivas e sociais que permeiam o ambiente escolar. Rocha (2016) critica que as escolas, em vez de aproveitarem o poder criativo dos jovens professores, repletos de ideias inovadoras, tornam-lhes o cotidiano enfadonho, não lhes fornecendo acompanhamento ou facilitando sua socialização. Para a autora, é evidente a necessidade de mudanças na cultura profissional que norteiem a formação inicial e continuada, oferecendo possibilidades, apoio e condições de trabalho para todos os professores. Vasconcellos (2014) apresenta dados de uma pesquisa que teve por objetivo identificar as dificuldades enfrentadas por 3 professores iniciantes, atuantes no Ensino Fundamental, formadas por instituições distintas localizadas na Região Centro-Oeste do Brasil e revelar os saberes que empregam para superá-las. Utilizando de discussões coletivas, registros produzidos nos diários pessoais das professoras envolvidas e de anotações no diário de campo da pesquisadora, foi possível perceber algumas das maiores dificuldades enfrentadas pelas docentes, nos primeiros meses de atuação. As professoras ressaltaram, por diversas vezes, o sentimento de insegurança e despreparo, que levaram à busca por informações em fontes diversas, onde mobilizaram e confrontaram saberes construídos ao longo da trajetória de formação inicial, agindo por tentativa e erro. Diante disso, a autora, tece críticas ao fato de que os cursos de formação docente precisam avançar no sentido de propiciar aos futuros 37 professores condições de ingressar na carreira de uma forma menos conflitante. Consideramos importante destacar que rechaçamos o descaso com o qual professores novatos têm sido tratados neste processo de inserção profissional e ressaltamos que não podemos deixar a cargo dos mesmos a busca solitária pela solução dos problemas que surgem na realização do seu trabalho. Inversamente, julgamos necessário elaborar políticas de acompanhamento do ingresso de professores na carreira do magistério, bem como melhorar as condições de trabalho e de remuneração de todos aqueles que atuam na área da Educação, a fim de reverter a dura situação com a qual nos deparamos em nosso país. (VASCONCELLOS, 2014, p. 02473). Assim, aponta que boa parte dos iniciantes na carreira do magistério desconhecem temas e práticas que poderiam lhes auxiliar a enfrentar as dificuldades que emergem nas escolas, a ensinar seus alunos e a lidar com as exigências cotidianas, uma vez que, nas universidades, a ausência de estudos ligados à realidade escolar tem comprometido a atuação dos iniciantes e os levado a abandonar a profissão. Ademais, na concepção da autora, os formadores de professores devem rever suas práticas, suas perspectivas profissionais, reavaliando as políticas de formação e provocando alterações na situação atual. Concorda com esta ideia, Morais (2016), que afirma em sua pesquisa que o professor iniciante não tem a experiência suficiente para lidar com todas as dificuldades de aprendizagem que emergem em suas salas de aula. O autor defende maneiras para minimizar as dificuldades de aprendizagem destes professores, seja na colaboração de outros profissionais parceiros, na gestão escolar, em grupos de formação continuada e até mesmo no apoio familiar. Leone e Leite (2012) discutem em seu trabalho aspectos relativos à etapa inicial do desenvolvimento profissional docente, partindo da explicitação das necessidades formativas de um grupo de professores em início de carreira que atuavam nos anos iniciais do Ensino Fundamental em escolas públicas da rede municipal de ensino de Rancharia - SP. Assim, a partir da aplicação de questionário e realização de duas entrevistas semiestruturadas de grupo, os autores analisaram a necessidade da formação contínua de professores e o ciclo de vida profissional destes profissionais, enfatizando o período de “entrada na carreira”, destacando as 38 dificuldades, os sentimentos que eles vivenciaram ao ingressarem no magistério e a visão que possuem acerca das contribuições da formação contínua para o seu trabalho. Os relatos indicaram a necessidade de que se desenvolvam ações voltadas à inserção profissional dos professores recém-formados, para que exista o compromisso e a responsabilidade das agências formadoras e das instituições escolares na construção de programas de apoio aos novos docentes, que lhes assegurem assessoria e formação, de maneira estruturada e sistemática. Destacam em seu texto a fundamental importância de que os gestores educacionais trabalhem voltados à formação da equipe escolar como um todo, sobretudo, da coordenação pedagógica no que se refere ao exercício de suas atribuições, com o objetivo de preparar esses profissionais para que estejam em condições de proporcionar orientação e apoio à equipe docente, especialmente, aos que estão no início da carreira. Melin (2012) apresenta as análises dos resultados parciais de sua pesquisa que teve como sujeitos os professores iniciantes da Educação Infantil e os alunos residentes, de uma cidade no interior paulista, onde investigou a construção do trabalho docente, seus desafios e seus fatores determinantes. Por meio das narrativas dos participantes alguns aspectos referentes à formação docente e ao trabalho do professor na fase de inserção na docência foram evidenciados, em especial, o fato de que os diálogos estabelecidos e as trocas de experiências ressaltam questões pertinentes as práticas dos professores iniciantes em salas de educação infantil, confirmado que o processo formativo realiza-se no decorrer do curso inicial, mas que sua consolidação apenas é possível quando o professor se encontra frente à realidade em que atua, convivendo com as crianças, organizando, desenvolvendo sua prática educativa e recebendo o devido apoio para tal, visto que o início de toda atividade profissional tem suas particularidades, desafios e angústias ligadas a inseguranças iniciais. Melin (2012) compreende que o auxílio aos novos docentes acontece de forma desestruturada no ambiente escolar, geralmente com diálogos informais realizados no momento em que os próprios professores iniciantes, diante de suas dificuldades, procuram os colegas de trabalho. 39 Sob estes aspectos, as escolas, enquanto equipe administrativa e pedagógica, precisam estabelecer programas de apoio à inserção profissional desses professores recém-formados, assegurando assessoria e formação, de modo a auxiliá-los na socialização com a cultura escolar e no enfrentamento dos problemas relacionados ao início da docência. Estudos realizados por Galindo (2014) confirmam que os professores em início de carreira apresentam semelhanças em seu perfil profissional experiencial, isto é, necessitam de práticas de formação centradas na escola, já que por meio delas as rotinas relacionadas às atividades escolares ocorrem com mais eficácia, proporcionando uma discussão centrada nos problemas vivenciados particularmente pela escola e os envolvidos no processo. A autora apresenta em seu trabalho um perfil das práticas pedagógicas de quatro professoras, três iniciantes e uma experiente, atuantes no primeiro ano do Ensino Fundamental público municipal do interior paulista. Ao longo do texto a autora discute os dados extraídos de sessões de observação em sala de aula realizadas durante o segundo semestre do ano letivo de 2009 e de intervenções formativas em HTPCs na escola. Os resultados apontam para a importância da formação continuada a partir da compreensão das necessidades formativas inerentes à análise de situações pedagógicas, as quais são favorecedoras de processos reflexivos que podem ter forte repercussão na melhoria do desempenho docente em situações de ensino. Os relatos das trocas realizadas entre as professoras trazem contribuições significativas para que seja possível pensar ações de formação continuada em serviço, novamente destacando o caráter formativo da escola como espaço de aprendizagem dos professores. Segundo Nascimento e Lima (2016), é preciso romper com modelos técnicos, não condizentes com a realidade em que o docente está inserido e direcionar seus princípios de forma a auxiliá-lo em seu contexto educativo, estabelecendo estratégias que possam propiciar mudanças em suas práticas pedagógicas, passando a conviver com as dúvidas e incertezas provenientes das situações divergentes que perpassam o cotidiano educativo. Trata-se de formar o professor como um ser que necessita refletir sobre seus métodos e que busque, através da prática cotidiana, respostas aos seus questionamentos individuais e coletivos. 40 Reis (2014) apresenta alguns resultados de uma pesquisa realizada com 81 professores iniciantes da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, que teve como principal objetivo compreender como esses professores vivem o trabalho docente, além de analisar os significados atribuídos por eles às suas experiências de formação inicial. De forma geral, a análise dos dados dos entrevistados evidenciou que grande parte dos professores participantes avalia positivamente a formação inicial no que se refere às oportunidades de reflexão sobre diferentes aspectos da realidade educacional brasileira, de participação em atividades de pesquisa ou extensão. Porém, os sujeitos ressaltam também a desconexão entre os conhecimentos acadêmicos e a dimensão prática, e relatam as dificuldades que possuíram em se adaptar a sala de aula, à realidade escolar e o pouco auxílio que algumas instituições fornecem para os professores neste período. Deste modo, para a autora, no que se refere à inserção profissional e à formação continuada, constata-se claramente uma ausência de políticas voltadas à inserção dos novos professores. Gomes (2014) relata alguns dados de uma pesquisa sobre as dificuldades de professores que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental, especificamente as dificuldades didáticas. Para ele, as dificuldades enfrentadas pelos professores constituem um tema que vem sendo discutido há alguns anos, entretanto, a maior parte das pesquisas utiliza entrevistas e questionários como procedimentos, em detrimento da observação em sala de aula, que pode trazer um conjunto de dados que não seriam possíveis de se obter somente por meio de relatos. Na concepção do autor (2014), dominar a Didática para ensinar os alunos não é somente conhecer atividades, mas possuir o conhecimento global sobre seu trabalho para organizar todas as ações em sala de aula, fazendo com que os alunos se apropriem do conhecimento. Assim, é necessário conhecer os aspectos didáticos que envolvem o ensino na escola e fora dela, tendo habilidades para organizar a vida na sala de aula e utilizando os demais conhecimentos sobre todas as disciplinas, de modo que os alunos consigam aprender. Para Mendes e Silva (2016) é certo que a maioria dos professores iniciantes chegam nas escolas sem saber quais direções tomar diante das 41 problemáticas que envolvem o processo de ensino e aprendizagem, ao se verem envoltos em situações de indisciplina, desinteresse e, até mesmo, de falta de respeito por parte de muitos alunos. Ao trazerem o recorte de uma dissertação, os autores afirmam que o início da profissão docente é realmente considerado o período de iniciação, devendo ser compreendido como fase de ligação entre a formação inicial e o desenvolvimento profissional durante a carreira docente. Ainda ressaltam que, devido à necessidade de considerá-lo como uma etapa que possui características próprias, esse período precisa também ser analisado de forma singular. Para Portella e Lelis (2014), o modo de organização das redes (municipais) atinge relevantemente o trabalho e a forma de o professor iniciante perceber-se no magistério. Deste modo, de acordo com as condições oferecidas, há variação nas intenções de permanência na carreira e nas redes. Em situações menos favoráveis existe a vontade de deixar a rede e, algumas vezes, até a profissão de professor. As autoras realizaram um trabalho que buscou afirmar aspectos do trabalho, da socialização e do desenvolvimento profissional de professores principiantes em uma perspectiva relacional. Assim, declaram que Entendendo como Papi e Martins (2010 apud PORTELLA; LELIS, 2014) que o início da carreira docente possui demandas e necessidades específicas e que esse momento pode ser vivenciado de modo mais fácil ou mais difícil dependendo do acolhimento, do apoio e do lugar em que atuam os novatos, selecionamos professores de três redes escolares, sendo duas públicas e uma privada, a fim de perceber convergências e discrepâncias nos modos de socialização nos primeiros anos da carreira e de compreender como a forma de organização da rede e da escola em que trabalham vai influenciando a sua constituição como docente. (PORTELLA; LELIS, 2014, 05886). Em seu trabalho, Fernnandes (2014) investiga por meio de uma revisão de literatura, o processo de inserção profissional dos professores iniciantes nos trabalhos apresentados no IV Congresso Internacional sobre Professorado Principiante e a Inserção Profissional à Docência (IV CONGREPRINCI) realizado em Curitiba – PR. Para o autor, o período de início da carreira é compreendido entre os três até os cinco primeiros anos de magistério, podendo ser identificado como a 42 fase mais difícil no processo de profissionalização docente, justamente por ser a fase de transição de aluno a professor, no qual é comum o sentimento de insegurança, medo e de despreparado profissional. Através das considerações de Huberman (2000), o autor salienta que (…) este momento do início profissional da docência é caracterizado pelos estágios de sobrevivência, desistência e descoberta. O momento de sobrevivência está relacionado com o choque de realidade como o colapso das ideias missionárias forjadas durante o curso de formação de professores, em virtude da dura realidade da vida quotidiana na sala de aula. No qual entre tantas experiências, o professor passa por um tatear constante, percebe distância entre os seus ideais e as realidades cotidianas da sala de aula, oscila entre relações demasiado íntimas e demasiado distantes, enfrenta dificuldades com os alunos que criam problemas. (…) o professor só consegue enfrentar este primeiro aspecto por acontecer paralelamente à descoberta, que é o entusiasmo do professor por estar em uma situação de responsabilidade. Entretanto, pode ser também vivenciado um conflito tão forte que provoque a saída, ou seja, a desistência da carreira do magistério. (HUBERMAN, 2000, apud FERNNANDES, 2014, p. 05898). A revisão de literatura realizada pelo autor reitera estas colocações, e evidencia a necessidade de investir em pesquisas sobre o início da docência, acrescentando outras constatações, ou seja, pontua o quanto é preciso ampliar os estudos na área, de modo a propiciar a permanência e apoio aos professores iniciantes, com as suas dificuldades, descobertas e realizações que marcaram a carreira no desenvolvimento de sua profissionalização. Do mesmo modo, para Giordan e Hobold (2014) é necessário dar voz aos professores iniciantes, identificando as práticas formativas do início da docência, para se pensar em uma formação que lhes proporcione as aprendizagens necessárias para o seu desenvolvimento profissional e a realização do seu trabalho na sala de aula. Tendo como base os autores Marcelo Garcia (1999), Vaillant e Marcelo Garcia (2012), Cochran-Smith e Lytle (1999), Tardif (2011), Romanowski (2012) e Romanowski e Martins (2013), as autoras apresentam a repercussão das práticas formativas no desenvolvimento profissional dos professores iniciantes da Rede Municipal de Ensino, por meio de uma pesquisa com 6 professores iniciantes nos anos finais do Ensino Fundamental (1 a 3 anos de docência na Rede Municipal). Foram realizadas entrevistas, a partir das quais 43 foi possível compreender as necessidades e dilemas vivenciados pelos docentes foram sinalizados. Os resultados indicaram que as práticas formativas, muitas vezes, são repetitivas ou distantes da realidade das escolas e da prática docente em sala de aula e, portanto, contribuem muito pouco para o desenvolvimento profissional do professor. Os professores relatam também, não se sentirem preparados, em sua formação inicial, para trabalhar com estas novas demandas escolares, sendo assim, destacam a urgência por uma formação continuada que seja pautada na troca de ideias e experiências, por meio do diálogo com outros professores, tratando de questões reais de sua prática e do cotidiano da escola. Além disso, os professores pedem mais cursos, indicando que há pouca oferta de formação continuada para estes professores que se encontram em estágio probatório, mesmo este sendo um período em que o professor mais é demandado em termos de aprendizagem, pois está exposto a desafios característicos do início da docência. De acordo com Rocha (2014), o professor possui um compromisso social extremamente importante. A autora traz o recorte de um trabalho que indica proposições da sindicalização do professor em início de carreira, a partir do entendimento dos sindicatos como espaços de formação de intelectuais autores de uma ação pedagógica contra hegemônica e ciente do significado de seu trabalho. A autora, coloca que o sindicato é na verdade um espaço que propõe ao professor, uma estrutura de formação de âmbito político e pedagógico, devido ao próprio caráter pedagógico da luta política, para que o docente se insira ao participar desta instância de organização profissional, sendo na direção sindical ou como afiliado. Destaca também a falta de conhecimento e de experiências sindicais, que podem apontar caminhos na relação da iniciação à docência como campo profissional e político. Conclui que é preciso reconhecer e relatar a perspectiva de transformação da realidade que os sindicatos trazem, impactando as perspectivas de ações político-pedagógicas, tomando-as como um processo social de busca permanente do ser, pois a educação é carregada de benefícios, mas também de desafios. 44 Já o trabalho de Lorenzzon (2016), apresenta os registros dos diários de campo de três professoras iniciantes, que narram sua participação na formação continuada, oferecida especificamente para docentes iniciantes de escolas municipais, desenvolvida pelo Projeto do Observatório da Educação OBEDUC/CAPES/INEP/SECADI, do Campus Universitário de Rondonópolis – MT. A autora defende a ideia de que a cada dia de formação, o professor precisa constituir-se como docente, enfrentando desafios que lhe são postos, pois ser professor é estar aberto ao conhecimento, ao desenvolvimento e aos novos saberes profissionais, visto que uma característica muito presente na vida pessoal e profissional do professor iniciante é sentir que não está preparado totalmente para encarar os acontecimentos no ambiente de trabalho. O professor iniciante é considerado como o profissional que passa por momento delicado que é o início de carreira e, muitas vezes, sem ter com quem partilhar suas dificuldades no ambiente de trabalho. Este docente, inserido neste espaço e tempo na escola, necessita de apoio e acompanhamento pedagógico, pois os desafios para ele são maiores. (LORENZZON, 2016, p. 5522). A investigação da autora colabora para a reflexão sobre os estudos e referenciais teóricos discutidos, pois análises dos registros, indicou as individualidades de escrita das professoras e os fatos de cada dia de formação, apontando o que foi relevante para o aprimoramento profissional de cada uma delas. Também em uma pesquisa sobre narrativas, Cunha (2016) relata as falas de uma professora iniciante colaboradora, onde menciona que o exercício da profissão docente necessita de uma sólida formação, não apenas nos conteúdos científicos próprios da disciplina, como também nos aspectos correspondentes à sua didática e ao encaminhamento das diversas variáveis que caracterizam a docência. Sendo assim, o professor deve sempre investir em sua formação para continuar questionando, refletindo, reconstruindo, recriando suas práticas para produzir novos saberes e conhecimentos. Souza (2016) realizou um levantamento bibliográfico de produções elaboradas no contexto do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Atuação de Professores/Pedagogos (GEPFAPe/UnB) dentro de um recorte temporal de 14 anos (2000 a 2014), investigando professores iniciantes na 45 educação infantil e mapeando a produção acadêmica que aponte aspectos e dimensões que vêm sendo destacados e em periódicos, congressos e eventos da área dentro da temática. Estes estudos revelaram que as pesquisas sobre professores iniciantes vêm sendo intensificadas no Brasil, porém, com pouca ênfase para os desafios, dificuldades e especificidades dos professores iniciantes que atuam na educação infantil. Os dados também indicam que professoras iniciantes que atuam na educação infantil necessitam de maior acompanhamento e atenção em relação a alguns fatores, tais como: acolhimento ao ingressar, apoio das profissionais mais experientes, choque de realidade, relação família/escola, formação inicial insuficiente, necessidade de criar programas de iniciação à docência e a realidade social e econômica dos alunos. Em seu trabalho, Oliveira (2016) apresenta os estudos realizados por meio de levantamento bibliográfico, tendo como banco de dados os trabalhos apresentados em grandes eventos como ANPed, ENDIPE e CONGREPRINCI, no período entre 2000 a 2014, onde foi possível obter um mapeamento teórico sobre como o processo de inserção profissional, a profissionalização e a educação infantil estão sendo caracterizadas e discutidas nas produções acadêmicas, onde a autora totalizou 19 artigos localizados e utilizados. A autora destaca por meio do levantamento de dados que o início da docência é realmente um período de grandes conflitos, tensões e desafios aos iniciantes, porém, vale ressaltar que esta fase da carreira não é marcada somente por desafios e dificuldades, os professores iniciantes também vivenciam grandes descobertas que, por muitas vezes, permitem a esses profissionais enfrentarem os aspectos negativos dessa etapa. Deste modo, chama atenção ao fato de que [...] não somente de desafios e dificuldades o início da docência é feito, os iniciantes também vivenciam grandes descobertas que por muitas vezes permitem a esses profissionais enfrentarem os aspectos negativos dessa etapa. Da mesma forma como ocorreu anteriormente, foi possível identificar descobertas comuns entre as pesquisas selecionadas. A necessidade de continuar a formação e sua busca, a percepção da importância em partilhar ideias, dúvidas e dificuldades para o desenvolvimento profissional, o estágio como uma rica e poderosa ferramenta para a inserção profissional, conseguindo até mesmo suavizar o choque de realidade tão comum nessa etapa da docência, percepção que 46 a formação inicial não proporcionou recursos suficientes para início da carreira e a necessidade de organizar programas de iniciação à docência, foram alguns dos elementos apontados pelos sujeitos dos trabalhos selecionados no levantamento. (OLIVEIRA, 2016, p. 7606). 47 3. PERCEPÇÕES SOBRE OS PROFESSORES INICIANTES NO ENSINO SUPERIOR Partindo agora para a segunda dimensão, em relação ao trabalho dos professores iniciantes no Ensino Superior, 6 artigos trazem importantes discussões. Wiebusch, Santos e Nunes (2017) apontam que a inserção na carreira universitária acarreta nos profissionais de diversas áreas, inúmeros desafios que vão desde o saber fazer na prática docente universitária ao entrelaçar de conhecimentos específicos, mostrando que a inserção na carreira docente demanda uma formação uma gama de conhecimentos pedagógicos e de políticas públicas, além de outras complexidades como saber desenvolver, avaliar, planejar e autogerir. Assim, as autoras discutem em seu trabalho os processos formativos de professores iniciantes na educação superior, assim como as necessidades de formação pedagógica para o desenvolvimento desses profissionais e trazem reflexões acerca da inserção dos professores iniciantes nas Instituições de ensino superior, criticando a falta de políticas públicas direcionadas a esta formação, afirmando que os processos formativos precisam partir destas necessidades emergências dos professores, visto que No Brasil, o número de professores iniciantes é elevado, muitos não possuem formação adequada e assumem a docência em condições precárias. Esta situação é agravada pela falta de políticas e programas direcionados a este período de iniciação e para o desenvolvimento profissional do professor, em que se intensificam as incertezas das escolhas feitas e as primeiras sistematizações práticas, conforme apontam estudos realizados a este respeito (ROMANOWSKI, 2012, apud WIEBUSCH; SANTOS; NUNES, 2017, p. 3891). Nesse sentido, trazem alguns dados referentes a formação de professores, partindo de um estudo realizado em dois grupos de pesquisa: “Grupo de Pesquisa Educação a Distância e Redes de Formação e Desenvolvimento Profissional” (GPKOSMOS) e “Grupo de pesquisa formação de professores e práticas educativas: ensino básico e superior (GPFOPE) ”, que realizam pesquisas articuladas à temática da constituição de professores na Educação superior e Ensino básico. 48 O estudo de caso com 8 professores iniciantes de duas Instituições de Ensino superior, uma pública e uma comunitária, localizadas no interior do Rio Grande do Sul (RS), permitiram reafirmar que é essencial o investimento em políticas públicas institucionais que beneficiem a formação pedagógica de professores para a docência universitária. Os professores iniciantes investigados revelam ter vivenciado uma formação para a pesquisa em detrimento da formação docente e tiveram que realizar cursos de pós-graduação stricto sensu e inserção na docência universitária. Declararam que por não haver formação específica para atuação na Educação Superior, reproduzem as práticas a partir de modelos de exemplos de professores que tiveram durante a graduação e a pós-graduação. Do mesmo modo, reconhecem as necessidades em participar de formações, envolvendo-se em discussões, na escuta dos parceiros de trabalho, cursos de formação continuada para o compartilhamento de experiências e diálogo acerca dos desafios. Os professores iniciantes são nutridos pela necessidade de buscar novas alternativas para o desempenho de sua atividade docente, a qual impulsiona a autoformação que é permeada por novas ideias e perspectivas. Isto pressupõe relações de caráter interativo, de reciprocidade e de engajamento em ações conjuntas com vistas a produção, contribuindo para o redirecionamento e a qualificação no modo de pensar e agir na docência. Para tanto, se faz necessário refletir sobre quais processos formativos são capazes de favorecer a construção de conhecimentos para que possam constituir-se a uma atividade docente mais autônoma. (WIEBUSCH; SANTOS; NUNES, 2017, p. 3900). Portando, concluem que o processo de formação é de fato um mecanismo essencial para o desenvolvimento do profissional docente e que este necessita estar organizado de modo que traga condições de construção de aprendizagens e reflexões, o que implica em responsabilidades coletivas e individuais, políticas e institucionais, ambos voltados a melhoria das práticas pedagógicas. Wiebusch (2017) complementa esta ideia. Ao realizar uma investigação com 6 professores iniciantes de uma Universidade Pública, no interior do Rio Grande do Sul (RS), por meio de entrevistas semiestruturadas, evidenciou que grande parte dos impactos que os professores iniciantes vivenciaram ao ingressarem nas universidades foram decorrentes das lacunas que existem 49 entre a formação inicial acadêmica e a formação solicitada para atuar na docência universitária, visto que pois não basta somente possuir a titulação de doutor para ingressar na carreira docente, a formação pedagógica é indispensável para atuação na Educação Superior. Moreira (2014) apresenta os resultados de uma pesquisa que buscou examinar as necessidades formativas de professores iniciantes de uma instituição de Ensino Superior, no campo pedagógico, com vistas ao desenvolvimento profissional. Ao aplicar um questionário, à 49 docentes com até cinco anos de trajetória profissional na instituição, emergiram nos depoimentos dos sujeitos necessidades formativas de diferentes naturezas. Estes dados sinalizam a necessidade de ações sistemáticas e institucionais, no que diz respeito à formação pedagógica dos docentes, verificando que os docentes apresentaram inconsistência em sua formação, especialmente referente aos seguintes aspectos didáticos e pedagógicos: técnicas de ensino, avaliação da aprendizagem, planejamento de ensino, heterogeneidade dos estudantes e uso de novas tecnologias da comunicação e da informação. Essas necessidades comprovam a necessidade de uma formação docente no ensino superior envolvendo ensino e pesquisa, incentivando a criticidade e criatividade, além do domínio de novas tecnologias da comunicação e da informação, incorporando afeto, posicionamento político, dentre outros fatores que façam com que os docentes em início de carreira estejam conscientes dos processos e se apropriem continuamente da pluralidade de saberes que envolvem sua profissão. Moreira (2014) explicita que Nesse contexto, parece que uma conclusão é apropriada: se quisermos a melhoria da qualidade do ensino e das aprendizagens dos estudantes universitários, é necessário que as políticas de desenvolvimento profissional docente prevejam ações formativas contínuas, que possibilitem, a partir de subsídios teóricos, críticas aprofundadas da realidade da educação superior, incluindo a reflexão sobre as bases epistemológicas, ontológicas e metodológicas que orientam a prática pedagógica (MOREIRA, 2014, p. 04322). Concordam Silva e Passos (2014), ao demonstraram que em relação ao domínio de novos conteúdos, grande parte dos formadores recorre aos colegas que já ministraram as disciplinas e declaram que receberam grande 50 contribuição dos colegas de trabalho em relação à orientação sobre a dinâmica da instituição e sobre o uso de materiais didáticos que auxiliariam a superar as dificuldades na hora de ensinar. Para as autoras, o início da docência no ensino superior é de fato uma etapa significativa para aprendizagem da docência e o desenvolvimento profissional dos formadores de professores. Ao analisarem os desafios enfrentados por 14 professores formadores dos cursos de Licenciatura em Matemática em início de carreira, de uma universidade particular, notarem que a maior dificuldade dos iniciantes é lidar com os alunos que chegam à Licenciatura com ausência de conhecimentos prévios de Matemática e revelam que sua experiência na Educação Básica ajuda a estruturar seu trabalho docente e a lidar com as demandas desses novos alunos, além das dificuldades de natureza institucional e a exigência de ministrar diferentes disciplinas no mesmo curso. Do mesmo modo, Ferreira (2016) compartilha parte de sua dissertação, realizada na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB, em que realizou na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, entrevistas com 3 professores universitários, com até cinco anos de docência afim de refletir sobre a formação e a aprendizagem desses docentes. Através da análise dos dados foi possível constatar que, nas formações dos docentes universitários iniciantes há uma lacuna didático-pedagógica, destacada pelos próprios docentes, em suas formações. O que repercute em suas práticas, muitas vezes, intuitiva, sem o devido aporte científico na Pedagogia e nas Ciências da educação. Silva (2016) apresenta o recorte de sua pesquisa de doutorado, onde também teve como foco os professores iniciantes na docência universitária, buscando compreender o processo de construção docente de professores iniciantes que foram inseridos no contexto da expansão e interiorização de uma universidade pública no Sul do Amazonas. Por meio de narrativas de quatro professores de diferentes áreas do conhecimento, a autora pontua questões relacionadas aos percursos de formação; estímulos para a escolha profissional; influências da condição de estudantes a partir das aprendizagens com ex- professores; o impacto da formação acadêmica para a docência, bem como, o 51 valor atribuído à didática e a autoanálise das práticas de cada um dos docentes. Ao longo do trabalho, Silva (2016) menciona que o processo de inserção profissional é um momento de grande importância para todo indivíduo que inicia uma carreira. É o momento de entrar em contato com a realidade profissional, talvez vista somente em textos, aulas e discussões durante sua formação inicial e no caso da profissão docente, apresenta características marcantes que necessitam ter uma maior atenção nos vários lócus de formação desse profissional. As entrevistas com os professores, revelaram que estes sentem fragilidades no processo de formação para a docência, em especial na falta de acompanhamento institucional nos aspectos didático-pedagógicos no ambiente acadêmico que afeta a construção docente. Novamente, fica claro que a formação específica, por si só, não dá condições de reverter na prática questões mais complexas relacionadas ao ensinar e ao aprender, para as quais, muitas vezes, se apela para a improvisação de ações não refletidas. 52 4. CONSIDERAÇÕES O objetivo da realização desse trabalho foi evidenciar as possibilidades e conflitos enfrentados pelos professores no período de início da atuação na carreira docente, por meio de um lavamento bibliográfico, realizado nos Anais do EDUCERE (Congresso Nacional de Educação), nos anos de 2011, 2013, 2015 e 2017; b) nos Anais do ENDIPE (Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino), nos anos de 2012, 2014 e 2016. Ao todo, 36 artigos foram localizados e utilizados, porém, destes 30 trazem considerações sobre professores iniciantes no Ensino Básico, enquanto apenas 6 apontam reflexões sobre o início de carreira docente no Ensino Superior. Embora, não haja exatidão em relação ao número de anos que corresponde à essa fase, diversos estudos apontaram características comuns a esse período. As leituras e análises dos textos evidenciaram importantes aspectos vivenciados nesta inserção profissional, apontando que este momento é permeado por desafios, angústias, dilemas e contradições que necessitam ser enfrentados para que o docente construa sua identidade. Os artigos indicaram questões como, a necessidade de vencer a insegurança que a falta de experiência acarreta, desenvolvimento da autonomia aprender a lidar com a heterogeneidade dos educandos que chegam hoje às escolas de Educação Básica e às Universidades, salas de aula numerosas, dificuldades em relação à avaliação da aprendizagem. Nesse processo, a qualidade da formação inicial completa e estruturada, aparece como um elemento que favorece a inserção profissional. Portanto, algumas discussões apontam a necessidade de se estabelecerem políticas públicas educacionais que visem à qualificação e à formação dos professores iniciantes, com base no desenvolvimento de suas práticas pedagógicas é sinalizada, como o oferecimento de cursos, palestras e propostas favoreçam a relação entre a teoria e a prática, bem como a interação entre os professores e os formadores no contexto escolar. 53 A pesquisa, também deixou em evidência a necessidade de uma formação pedagógica específica para atuação no ensino superior, desde o início da carreira, bem como a continuidade dessa formação para a qualidade do ensino. Além disso, foram apontadas as potencialidades geradas através da interação com o ambiente escolar e das trocas de experiências com os pares, por meio do diálogo e o trabalho coletivo, que se mostram como alternativas para estes profissionais. Por essa razão, considero essencial que a temática apresentada e discutida seja ampliada e aprofundada, que hajam debates acerca destas junto a professores e gestores escolares e municipais de educação, subsidiando a construção de propostas formativas que visem às necessidades dos professores que estão iniciando a carreira docente. 54 REFERÊNCIAS AZEVEDO, Angelita Aparecida; WILTEMBURG, Viviane Araújo. Professores Iniciantes E O "Choque De Realidade" – O Que Nos Revelam Algumas Pesquisas. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, XI, 2013, Curitiba. Formação docente e sustentabilidade: um olhar transdisciplinar. Curitiba, PUCPR, 2013. p. 11871 – 11884. CASCIANO, Rômulo Loureiro. Característ