II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores FORMAÇÃO DE PROFESSORES: OS COMPROMISSOS E DESAFIOS DA UNIVERSIDADE PÚBLICA FRENTE AO DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR ENTRE A EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E AS TECNOLOGIAS Maria Da Graca Mello Magnoni Eixo 3 - Formação do professor alfabetizador - Relato de Experiência - Apresentação Oral O presente trabalho tem por objetivo a avaliação, interpretação e proposição de ações e recursos destinados à formação universitária dos(as) pedagogos(as) que atuarão nas redes públicas e privadas de Educação Básica, na condição de alfabetizadores(as) na Educação de Jovens e Adultos. Considerando os conteúdos, a metodologia, os objetivos e os vínculos estabelecidos com o contexto, elementos fundamentais no processo educativo, a formação dos professores para utilizar os recursos e as possibilidades das tecnologias no trabalho educativo escolar é de extrema necessidade e urgência num contexto, marcado pelos avanços tecnológicos e científicos. A formação do professor responsável pelo processo educativo, requer contínua atualização profissional, ou seja, necessita ser “alfabetizado” para as mídias, para o ensino dos conteúdos com o auxílio dos meios. A partir dos conceitos e das práticas pedagógicas desenvolvidas por Paulo Freire, buscamos proporcionar espaço, a partir de uma pedagogia dialógica, para a aquisição de conteúdos e de formação tecnológica que possibilitem autonomia profissional na produção dos conteúdos e dos recursos didáticos, na intenção de superar a defasagem existente entre o modelo de comunicação que vigora, hoje em dia, fora da escola, na sociedade da comunicação e o modelo ainda hegemônico de comunicação no qual se baseia o saber escolar. Palavras chave: Formação de Professores, Educação de Jovens e Adultos, Tecnologias. 6556 FORMAÇÃO DE PROFESSORES: OS COMPROMISSOS E DESAFIOS DA UNIVERSIDADE PÚBLICA FRENTE AO DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR ENTRE A EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E AS TECNOLOGIAS. Maria da Graça Mello Magnoni. UNESP - Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” - Faculdade de Ciências, Campus de Bauru. “Uma das grandes, se não a maior, tragédia do homem moderno, está em que é hoje dominado pela força dos mitos e comandado pela publicidade organizada, ideológica ou não, e por isso vem renunciando cada vez, sem o saber, à sua capacidade de decidir. Vem sendo expulso da órbita das decisões. As tarefas de seu tempo não são captadas pelo homem simples, mas a ele apresentadas por uma “elite” que as interpreta e lhas entrega em forma de receita, de prescrição a ser seguida. E, quando julga que se salva seguindo as prescrições, afoga-se no anonimato nivelador da massificação, sem esperança e sem fé, domesticado e acomodado: já não é sujeito. Rebaixa-se a puro objeto. Coisifica-se”. (Paulo Freire, 1999: 51) “...Contrariamente aos que vêem nos meios de comunicação e na tecnologia de informação uma das causas do desastre moral e cultural do país, ou seu oposto, uma espécie de panacéia, de solução mágica para os problemas da educação, sou dos que pensam que nada pode prejudicar mais a educação que nela introduzir modernizações tecnológicas sem antes mudar o modelo de comunicação que está por debaixo do sistema escolar.” (Jesús Martín Barbero, 2000:52). No artigo “Desafios culturais da Comunicação à Educação”, Barbero, ao tratar da falta de compreensão e preocupação social na concepção e execução das políticas oficiais de cultura na Colômbia, expõe os desafios e as dificuldades da educação escolar que no contexto da sociedade global, no qual a união da ciência e da técnica revigorada pelos recursos da informação sob a égide do mercado não tem seu alcance cerceado pelos limites geográficos dos territórios nacionais. A partir da realidade local retrata o modelo de 1 6557 comunicação predominante na escola; vertical e autoritário na relação professor-aluno, linear seqüencial no aprendizado. O educador brasileiro Paulo Freire, em “Extensão ou Comunicação”, ao observar a prática extensionista predominante na Universidade, defendeu a perspectiva da ação educativa como ação comunicativa a ser estabelecida entre seres concretos numa realidade histórico-social, apontava a necessidade da substituição da Pedagogia da Transferência pela Pedagogia do Diálogo. “A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência do saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” (1983:46). Sendo os significados construídos socialmente, o diálogo se faz através de saberes elaborados a partir do contato imediato com a realidade, das experiências de vida das pessoas, da inserção na realidade local e da sensibilidade às problemáticas diuturnamente colocadas. O diálogo começa quando o educador se pergunta em torno do que vai dialogar com os educandos. Essa “inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático” como registrara Freire em Pedagogia do Oprimido (1987:83). Dessa forma, o educador deseja uma Pedagogia que “sem renunciar à exigência do rigor, admita a espontaneidade, o sentimento, a emoção, como ponto de partida (1991:5). A aprendizagem da vida antecede a escolar, por isso é preciso reconhecer os saberes elaborados das experiências, das vivências; a “leitura do mundo” antepõe-se à “leitura da palavra”. Essa forma de agir do educador, permitindo que os conteúdos escolares sejam abordados e estudados a partir do contexto do educando, possibilita conhecer os saberes elaborados a partir das vivências e dimensioná-los historicamente. De posse do “conhecimento popular”, da “sabedoria de experiência construída”, o educador com base nos saberes científicos elabora os saberes escolares. A prática educativa originada das situações concretas colabora no entendimento de que o espaço, os seus conteúdos e as relações resultam da ação humana, da forma como os homens enxergam, pensam e conduzem as relações sociais. Os conteúdos são estudados não de forma linear, mas em suas contradições e nas relações com outros conteúdos, o que implica visão ampla do educador para abordar as várias dimensões que permeiam os conteúdos e compromisso político para articular-se aos demais profissionais das diversas áreas do conhecimento, envolvidos no trabalho educativo, no âmbito escolar e no extra escolar, material e imaterial, como nas universidades, associações, organizações e demais instituições que possibilitem a articulação da escola à 2 6558 sociedade, à produção do conhecimento científico, ao conhecimento das várias formas de comunicação, das várias linguagens resultantes dos novos meios tecnológicos presentes no cotidiano. A nossa realidade é marcada ou produzida e reproduzida obrigatoriamente a partir da ciência, da tecnologia e da informação. Vivemos segundo o geógrafo Milton Santos (1998:20), o “meio técnico-científico-informacional” o que numa sociedade gerida a partir dos mecanismos da economia de mercado resulta na contínua obsolescência produtiva e profissional, resultante da competitividade e racionalização da produção impulsionada pela automatização da indústria, dos serviços urbanos e até das atividades agropecuárias. Tudo se subordina a um modelo mundial, que suprime postos de trabalho enquanto aumenta seguidamente o volume e a qualidade de produção de mercadorias para um mercado globalizado e dominado por poucos e gigantescos produtores de bens materiais e simbólicos. Pensar a Educação nesse contexto, é pensá-la a partir desses aspectos, incorporando as situações e desafios do atual contexto aos seus conceitos, métodos e finalidades, provendo a formação de um ser humano com visão ampla, sistêmica e global em relação às possibilidades da ciência e da tecnologia no campo da Educação. Nesse sentido, a educação para os meios, para a utilização, adequação e desenvolvimento dos instrumentais, deve caminhar com a educação para os fins; através da formação social e política, que permita a consciência em relação ao envolvimento do conhecimento científico e tecnológico com a sua democratização e finalidade social. Os recursos midiáticos e audivisuais são aliados no trabalho educativo escolar ao proporcionarem metodologias de ensino mais dinâmicas, que permitem a exposição, a observação, a investigação e a compreensão dos conceitos e conteúdos, de forma dinâmica, imagética e contextualizada. No cotidiano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista, câmpus de Bauru, voltado à formação dos professores que atuam nas redes públicas de ensino, através do Projeto PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica), vivemos durante o segundo semestre/2013, na disciplina EJA (Educação de Jovens e Adultos) os desafios da prática educativa aliada aos recursos tecnológicos contemporâneos como instrumentos didáticos na intenção de proporcionar uma prática pedagógica dialógica na universidade, na escola e entre essas e a comunidade. No entendimento de que a Universidade tem que dispor de conhecimentos e de métodos atualizados, para que esteja em 3 6559 condições de enfrentar os diversos desafios educacionais e culturais da sociedade contemporânea. Afinal, os cursos universitários são concebidos e organizados para responder aos contínuos pleitos de sociedades e de estados modernos, ambos sempre tangidos pela imperiosa necessidade de formar crianças, jovens e adultos. Os cursos de graduação, com o lastro dos repertórios técnico-científicos e culturais nacionais e universais de que são depositários e também produtores, deverão realizar a árdua tarefa para assegurar aos indivíduos em formação, condições objetivas e subjetivas, para que eles possam participar regularmente do instável mundo do trabalho, da cultura e da própria educação (MAGNONI e MAGNONI, 2012:94) Paulo Freire (1989:9), ao pensar os trabalhos voltados à alfabetização de jovens e adultos, propôs iniciá-lo a partir de palavras que são “chaves” para o indivíduo e para o grupo. As ”palavras geradoras”, buscadas no universo vocabular dos alunos a partir do diálogo, são o ponto inicial para a alfabetização. O processo de alfabetização é realizado a partir da palavra, cujos significados serão descobertos pela análise, pela discussão no grupo, a partir do diálogo; dessa forma a “palavramundo” é carregada da visão de mundo dos que fazem a leitura dessa palavra. Paulo Freire, numa compreensão crítica do ato de ler, considerou a “leitura do mundo anterior à leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele”(1989:9). A linguagem e a realidade se prendem dinamicamente e a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. Esse primeiro momento proposto pelo educador Paulo Freire para os trabalhos voltados à alfabetização de adultos é também o primeiro momento entre os professores do Curso de Pedagogia matriculados na disciplina Educação de Jovens e Adultos. Ao expormos os nossos nomes impressos, nos apresentamos relatando as nossas experiências de vida, nossa formação, os motivos que nos trouxeram à Universidade na situação de docente ou discente, nosso cotidiano nos espaços de atuação profissional e no contexto pessoal. Assim iniciamos os trabalhos, nos organizando coletivamente para as atividades que envolveram a pesquisa na internet das letras manuscrita e bastão que seriam utilizadas para a grafia dos nomes. Enquanto alguns imprimiam as letras e confeccionavam os cartões “dos nomes”, outros sob orientação, fotografavam os colegas. 4 6560 Ao expormos as imagens e os nomes com grafias diferentes em sala de aula, disponibilizados também em arquivo digital, tivemos a intenção de, além da elaboração de um quadro de referência para os alunos em relação aos tipos de letras a serem utilizadas pelos alfabetizadores e identificadas pelos alfabetizandos nos vários momentos do processo, quando expostas nas salas de aula em que atuarão, proporcionamos espaço para a comunicação entre os alunos, para o conhecimento e o reconhecimento de suas identidades, dos seus valores, da comunidade onde vivem, das histórias de vida. As primeiras “palavrasmundo” foram então, os nomes dos professores cursistas. A possibilidade de disponibilizar computador e uma impressora na sala de aula dos cursos de alfabetização, poderá ter efeitos muito positivos entre os jovens e os adultos que ao buscarem no teclado as letras que compõem as palavras, estarão em contato com um equipamento, no caso, uma ferramenta, que produz principalmente entre os mais velhos, o sentimento de incapacidade, de impotência frente às exigências da máquina. A oportunidade de manusear, de digitar letras e números poderá provocar, por exemplo, o entendimento do processo de registro e memorização das senhas para utilização dos cartões que permitem a retirada dos valores correspondentes aos salários depositados pelo sistema de previdência social aos adultos na situação de aposentados das atividades profissionais. Da mesma forma, entender os valores que representam as moedas e o papel moeda, além das intenções pedagógicas do domínio da leitura e da escrita, primordiais na educação dos jovens e adultos, possibilitará a independência, a autonomia entre as demais decorrentes conseqüências autoafirmativas para os indivíduos. As “fichas” elaboradas a partir dos retratos dos alunos, com a identificação individual logo abaixo, compuseram um calendário, que exposto em sala de aula permitiu o contato com as letras dos nomes e a imagem dos colegas, o registro dos aniversários, das atividades a serem desenvolvidas, das datas e situações de interesse da turma. No momento do diálogo dos Professores cursistas com a realidade do EJA, através das visitas aos cursos noturnos das escolas públicas de Bauru, foram levantadas pelos Professores cursistas, “palavrasmundo” que expressavam a realidade. Para facilitar a relação educação-comunicação, através dos meios, os alunos do Programa de Mestrado em TV Digital, na disciplina “A Educação para os meios e os fins”, colaboraram com os Professores, ministrando oficinas destinadas a despertar para as possibilidades e, ao mesmo tempo, capacitar os Professores para o uso de algumas ferramentas úteis para o trabalho de transpor os conteúdos cotidianos para os conteúdos e práticas escolares. Os alunos mestrandos, pensando e discutindo os recursos e as estratégias a serem disponibilizados no 5 6561 ensino e na aprendizagem dos conteúdos, tiveram também a oportunidade de colocar em prática os ensinamentos de Freire que estão entre os conteúdos da disciplina por eles cursada na pós graduação. Durante as visitas foram utilizadas máquinas fotográficas digitais (com função de gravação de vídeo), celulares ou smartphones com função de gravação de vídeo, gravador de som portátil computador com acesso à internet. Em sala de aula, o contexto cotidiano, expresso nas “palavras geradoras” foi analisado, discutido. Nesse momento a disponibilidade do computador em sala de aula, facilitou as pesquisas de textos complementares, o acesso às obras de Paulo Freire. Da mesma forma, a digitalização dos textos produzidos pelos Professores, bem como troca de arquivos de textos entre os professores. Nesse momento exploramos as possibilidades dos softwares editores de texto BrOffice (opção para o Word), Publisher, ou ainda o Power Point. Para oportunizar a pesquisa segura para crianças de menor idade, o serviço exclusivo de busca e pesquisa que é o Zuggi (www.zuggi.com.br). Este portal, que é o primeiro portal brasileiro para pesquisa escolar infantil, bloqueia todo o conteúdo inadequado para crianças. Para o registro dos textos foram propostos os microblogs, como o Twiiter (www.twitter.com), cuja finalidade é exercitar textos curtos, com o máximo de 140 caractéres e outras ferramentas de edição de texto o BrOffice, www.br-pt.openoffice.org/ (opção de software livre para o Word) ou o Google Drive, https://drive.google.com/ que permite a criação, edição e compartilhamento de escrita colaborativa entre várias pessoas ao mesmo tempo. Como a intenção fora estudar a obra pedagógica de Paulo Freire buscando a fundamentação teórica para os conteúdos e para a metodologia dialógica, mediada pelos atuais meios, ferramentas e linguagens de comunicação e de informação a serem desenvolvidos na Disciplina, consequentemente, instrumentalizando nossos alunos para as futuras práticas entre jovens e adultos alfabetizados e não alfabetizados, iniciamos a leitura e discussão dos livros e textos que permitiram conhecer os fundamentos filosóficos do pensamento de Paulo Freire ou “as questões gnosiológicas que serviram de base para as considerações pedagógicas” do educador na expressão de Vale (1998:62). Ao estudarmos o conceito de teoria em Freire, exercitamos a prática através da identificação das “palavras geradoras” nos textos do educador. Para as pesquisas nas obras do autor e das obras referentes ao autor, bem como dos locais mencionados consultamos espaços virtuais, o que possibilitou ao Grupo conhecer e 6 6562 http://www.zuggi.com.br/ http://www.twitter.com/ https://drive.google.com/ explorar novas possibilidades para as pesquisas voltadas à organização das aulas e à produção dos materiais didáticos, ampliando a autonomia do educador, preocupação tantas vezes manifesta por Freire, que tomou o conceito como título de uma da suas obras “Pedagogia da Autonomia” (2011). Entre os espaços para as pesquisas exploramos: • Art Project (www.googleartproject.com/pt-br/): com versão em português, é possível acessar coleções de todo o mundo com milhares de obras fotografadas em altíssima resolução. • Era Virtual (http://www.eravirtual.org/pt/) : agrega diversos museus online, entre eles: Cora Coralina, Museu do Oratório, Museu da República e muitos outros. • Google Earth (www.earth.google.com.br): software para ser instalado no computador, com ele é possível viajar para qualquer lugar da Terra e pode ver imagens de satélite, mapas, terrenos e construções em 3D, desde galáxias do espaço e muito mais. A partir das “palavras geradoras” levantadas, reduzimos o conjunto às palavras que possibilitariam maior relação com o nosso contexto e interesse. A segunda fase da proposta de Freire “a escolha das palavras selecionadas do universo vocabular pesquisado” foi se concretizando na prática cotidiana do grupo, ao considerarmos as orientações do autor em relação aos critérios a serem observados durante a seleção: “...a — o da riqueza fonêmica; b — o das dificuldades fonéticas (as palavras escolhidas devem responder às dificuldades fonéticas da língua, colocadas numa seqüência que vá gradativamente das menores às maiores dificuldades); c — o de teor pragmático da palavra, que implica numa maior pluralidade de engajamento da palavra numa dada realidade social, cultural, política, etc. “Hoje”, diz o professor Jarbas Maciel, “nós vemos que estes critérios estão contidos no critério semiótico: a melhor palavra geradora é aquela que reúne em si maior ‘percentagem’ possível dos critérios sintático (possibilidade ou riqueza fonêmica, grau de dificuldade fonética complexa, de ‘manipulabilidade’ dos conjuntos de sinais, as sílabas, etc.), semântico (maior ou menor ‘intensidade’ do 7 6563 http://www.googleartproject.com/pt-br/ http://www.eravirtual.org/pt/ http://www.earth.google.com.br/ vínculo entre a palavra e o ser que designa), maior ou menor adequação entre a palavra e o ser designado e pragmático, maior ou menor teor de conscientização que a palavra traz em potencial, ou conjunto de reações socioculturais que a palavra gera na pessoa ou grupo que a utiliza.” (1967:113) Ao mesmo tempo que estudávamos as obras do educador relacionadas ao método, norteávamos a nossa prática cotidiana pelos princípios e práticas do educador. A partir do tema Educação foram destacadas pelo grupo as “palavrasmundo”: cultura, conhecimento, opressão, diálogo, conscientização. As discussões em torno do conceito, expresso na “palavra geradora”, permitiram a elaboração de um “mapa conceitual”, organizado a partir da problematização dos conteúdos relacionados a cada uma das palavras. Dessa forma, o terceiro momento cotidianamente se configurava, ou seja, buscávamos “descodificar” na expressão de Freire, as situações contidas nas “palavrasmundo” destacadas. Descodificar no sentido de descobrir os códigos contidos, desfazê-los, desconstruí-los e substituí-los por novos códigos; necessários, concretos. Representando um aspecto da realidade concreta dos camponeses, a codificação tem escrita em si a palavra geradora a ela referida ou a algum de seus elementos. Ao descodificarem a codificação, com a participação do educador, os camponeses, analisam a sua realidade e expressam, em seu discurso, os níveis de percepção de si mesmos em suas relações com suas objetividades. Revelam os condicionamentos ideológicos a que estiveram submetidos em sua experiência na “cultura do silêncio, nas “estruturas do latifúndio” FREIRE(1989, p. 23) . A terceira fase consiste na criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar. Estas situações funcionam como desafios aos grupos. São situações-problemas, codificadas, guardando em si elementos que serão descodificados pelos grupos, com a colaboração do coordenador. O debate em torno delas irá, como o que se faz com as que nos dão o conceito antropológico de cultura, levando os grupos a se conscientizarem para que concomitantemente se alfabetizem. São situações locais que abrem perspectivas, porém, para a análise de problemas nacionais e regionais. Nelas vão se colocando os vocábulos geradores, na gradação já referida, de suas dificuldades fonéticas. Uma palavra geradora tanto pode englobar a situação toda, quanto pode referir-se a um dos elementos da situação” (FREIRE, 1967:113). Durante as aulas, as situações registradas pelos Professores no “roteiro de visita” às Escolas, ilustrava e provocava discussões no grupo, dessa forma, os conteúdos trabalhados, as metodologias, os recursos materiais utilizados bem como a prática cotidiana dos 8 6564 professores nas salas da EJA eram avaliados e propostas alternativas, embasadas nas “concepções freireanas” eram apresentadas. Ao oportunizarmos aos professores cursistas as experiências nas escolas que mantêm a Educação de Jovens e Adultos, concretizamos o objetivo de desenvolver o processo de formação a partir das situações concretas, logo conteúdos carregados de significados, pois elaborados a partir da concretude das situações diárias, das dificuldades postas. “Procurávamos uma metodologia que fosse um instrumento do educando, e não somente do educador, e que identificasse o conteúdo da aprendizagem com o processo mesmo de aprender” (Freire, 1979:22). Se para o ensino da leitura e da escrita ou dos demais conteúdos, as “palavras geradoras” constituíram o ponto de partida, o método para o alcance do conhecimento científico foi a investigação da realidade, a partir do diálogo sobre a realidade. Logo após as visitas, as gravações organizadas em arquivos foram postados durante oficina elaborada com o objetivo de expor aos professores as possibilidades para a divulgação dos conteúdos através das redes sociais. Assim exploramos o: • Youtube para “carregar e compartilhar os vídeos em formato digital, • Sound Cloud para compartilhar os áudios, • Audacity para a gravação edição de áudio, ideal para quem quer registrar faixas de música ou realizar modificações nelas. Em torno das palavras geradoras, uma rede de relações foi organizada e exposta na forma de painel. Para exemplificar, a palavra geradora “conscientização”, central na concepção freireana, foi rodeada por novas palavras surgidas da sua problematização, partindo da prática cotidiana dos Professores, dos alunos do EJA e reinterpretadas, relidas através do referencial teórico estudado. crítica realidade reflexão transformação ação alienação domesticação descaso CONCIENTIZAÇÃO compromisso Mudança conhecimento conteúdos problemas participação 9 6565 ´`A palavra “conscietização” foram relacionada várias outras palavras relacionadas pelos professores, articulando-as a partir das situações cotidianas na sociedade, na escola. A elaboração do painel, a partir da palavra geradora, expôs a ampliação dos conhecimentos e das vivências significativas de cada dia, através do registro das palavras, na forma de textos ou desenho. Escrito pelo professor ou pelos próprios alunos, esta técnica permite uma avaliação diária do desenvolvimento coletivo em relação aos conceitos abordados. Na intenção de valorizar a produção dos materiais didáticos pelo professor em substituição aos manuais e apostilas, incentivamos a produção individual e coletiva de textos quando a rede de relações contava com número satisfatório de palavras. Nesse trabalho utilizamos para a leitura e eleboração conjunta dos textos o correio eletrônico, e-mail e o google docs e demais serviços gratuitos, com opções de diversas configurações e personalizações, amplamente encontrados na web. O quarto momento consiste na “elaboração de fichas roteiro, que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho”. Estas fichas-roteiro que subsidiam os debates, entre o grupo de Professores do Curso foram pensadas para orientar e organizar as análises e discussões dos vídeos, filmes, textos, artigos variados, imagens, gráficos, esquemas, poesias, relatos, visitas às escolas, também a realização das entrevistas e a interpretação das informações levantadas. As fichas com o alfabeto em letras maíusculas, minúsculas, manuscritas, bastão, bem como as fotos foram organizados em arquivos digitais. As fichas roteiro foram ilustradas com imagens das escolas visitadas, do bairro, da cidade, trechos de textos históricos sobre a cidade, fotografias, citações de obras referentes à ocupação da região, pessoas, objetos e lugares do contexto de Bauru, que ilustram os conteúdos abordados. Todos os arquivos digitais foram distribuídos aos Professores cursistas na intenção de muni-los de referências metodológicas e de conteúdos para as suas futuras aulas. Para socializar a técnica e os resultados, foi desenvolvida a oficina destinada a capacitar para organização e utilização dos Blogs Educacionais através dos quais os recursos produzidos são socializados e pode ser administrado pelo professor. Os Blogs foram explorados como “ponto de encontro” para realização de atividades e discussão de temas diversos que complementassem os conteúdos abordados. Entre os serviços online que dispõem recursos para realização de tal técnica foram demonstrados: 10 6566 • Blogger (www.blogger.com): O Blogger surge no topo das preferências dos utilizadores. O serviço é gratuito e não coloca limites de utilização (não tem limite de posts, de visitas, etc.). • Wordpress – (http://pt-br.wordpress.com/) O WordPress.com assume-se como a concorrência do Blogger. A criação do seu Blog WordPress é bastante simples. O serviço coloca à sua disposição centenas de templates (modelos prontos) para facilitar sua montagem. • Tumblr – (www.tumblr.com) O Tumblr (lê-se Tamblêr), foi fundado em 2007, tem um funcionamento semelhante às plataformas Blogger ou WordPress, permitindo partilhar artigos, vídeos, músicas, etc. A “feitura de fichas com a decomposição das famílias fonêmicas correspondentes aos vocábulos geradores”,constitui o quinto momento na alfabetização dos adultos, quando se lançam na aventura da descoberta das novas letras, do significado social das novas palavras, o que “ “pressupõe o processo dialético de análise e síntese, isto é, a articulação do método que denomino regressivo (que, no processo investigativo, pela análise, caminha do todo genérico para a parte determinada) com o método que digo progressivo (que, no processo de pesquisa do saber sistematizado, caminha da parte para o todo visto, agora, como concreto pensado, "síntese de múltiplas determinações". (VALE, 1998:62) Na intenção de proporcionar aos futuros pedagogos espaço para avaliar o processo, para retomar os princípios teóricos e as vivências individuais e coletivas, o momento da criação pelo alfabetizando será para o alfabetizador, na situação e no cotidiano de educadores da Educação Básica de Bauru e região, espaço para a recriação de todo o processo de formação a partir da proposta de Paulo Freire. Tomamos como referência a palavra Bauru, como “palavra geradora” e os Professores foram desafiados a criar uma rede de relações a partir do seu cotidiano, de forma a proporcionar a “leitura da palavra a partir da leitura do mundo”, da nossa realidade. No último encontro do grupo, dialogamos, tendo por assunto, a nossa cidade, a sua história, a história dos kaingangs, a “marcha do café”, a ferrovia, os trabalhadores, a economia e a política... ilustrada por recursos pesquisados e coletados pelos professores. Desse diálogo novas necessidades e novos desafios surgiram como a produção do jornal, a organização do jornal on line o JOL, utilizado por profissionais e serviços de comunicação para divulgação de notícias, através do Blogger (www.blogger.com), Wordpress – (http://pt- 11 6567 http://www.blogger.com/ http://pt-br.wordpress.com/ http://www.tumblr.com/ http://www.blogger.com/ http://pt-br.wordpress.com/ br.wordpress.com/) e Tumblr – (www.tumblr.com) e a aprendizagem de outras “novas tecnologias”que possibilitem a comunicação na escola e da escola com a comunidade com a finalidade de proporcionar o ensino e a aprendizagem dos conteúdos socialmente significativos e relevantes. O desafio consiste em articular os instrumentos, os conteúdos, a realidade escolar e o entorno num processo. O objetivo fundamental é a comunicação do saber socialmente construído, do saber científico e tecnológico, de modo que permita mudanças tão necessárias no processo comunicacional no interior da própria escola, na relação do professor com os seus alunos, na forma de abordar e transpor os conteúdos científicos em conteúdos escolares. Referências bibliográficas: BARBERO, Jesús Martín (2000).. Desafios culturais da comunicação à Educação. Comunicação & Educação, Vol. 6, N. 18. FREIRE, Paulo. (1967). Educação como prática de Liberdade. São Paulo, Paz e Terra. ____________. (1983). Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra. FREIRE, Paulo; CAMPOS, M. O. (1991). Leitura da palavra... leitura do mundo. Correio da UNESCO, Rio de Janeiro, vol. 19, n. 2. ____________.(2011). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43. ed., São Paulo: Paz e Terra. MAGNONI, Maria da Graça Mello: MAGNONI, Antonio Francisco (2012). A educação para os “meios e os fins”: a informação, o conhecimento e a comunicação na Educação Básica e Universitária. Revista Ciência Geográfica , Ano XVI, N.1, jan./dez. SANTOS, Milton (1998) Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico- informacional. São Paulo: Hucitec. VALE, José Misael Ferreira do. (1998). Ensino e gnosiologia na obra pedagógica de Paulo Freire. Revista Ciência Geográfica, Ano IV, N. 10, maio/agosto. 12 6568 http://www.tumblr.com/ Maria da Graça Mello Magnoni. UNESP - Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” - Faculdade de Ciências, Campus de Bauru. descaso CONCIENTIZAÇÃO compromisso Mudança conhecimento conteúdos Trabalho Completo: Button5: Ficha Catalográfica: Abertura: Boas Vindas: Tema do Congresso: Comissões: Sessões de Apresentação: Programação: Áreas: Títulos: