RUTE ALVES PINTO Estudo biológico e biossintético com alvo nas amidas pirrolidínicas de Piper arboreum Aublet (Piperaceae) Orientadora: Profa. Dra. Maysa Furlan Araraquara 2015 Tese apresentada ao Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção de título de Doutor em Química. DADOS CURRICULARES DADOS PESSOAIS Nome: Rute Alves Pinto. Filiação: José Dutra Caldeira e Delarcy Alves Caldeira. Nascimento: 13/12/1968 – Rio de Janeiro – RJ, Brasil. Estado Civil: Casada. Endereço residencial: Rua Dinamarca, quadra 01, casa 02, Vila Real, Cáceres – Mato Grosso,78200-000, SP – Brasil. Telefone: (65) 3223-2256. E-mail: rutquimica@gmail.com. Endereço profissional: Instituto de Química de Araraquara – UNESP, Departamento de Química Orgânica, rua Prof. Francisco Degni, S/N Quitandinha – Araraquara, 14800-970, SP – Brasil. Telefone: (16) 3301-6600 – ramal 6788 FORMAÇÃO PROFISSIONAL Pós-Graduação Curso: Doutorado em Química. Área de Concentração: Química Orgânica. Área de concentração: Química dos Produtos Naturais. Instituição: Instituto de Química – Universidade Estadual Paulista “Julho de Mesquita Filho – UNESP. Orientadora: Profa. Dra. Maysa Furlan. Período: março de 2011 a setembro de 2015. Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil. Curso: Mestrado em Química. Área de Concentração: Química Orgânica. Modalidade: Química dos Produtos Naturais. Instituição: Instituto de Química – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Titulo do projeto: “Estudo fitoquímico e biológico em Tabebuia insignis (Bignoniaceae)”. Orientador: Joaquim Corsino. Período: agosto de 2006 a julho de 2008. Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Brasil. Curso: Especialização em Análise Ambiental e Planejamento Urbano. Orientadora: Profa. Dra. Solange Kymie Ikeda Castrilon. Instituição: UNEMAT. Período: 2003- 2005 Graduação Curso: Licenciatura em ciência e complementação em matemática. Instituição: Universidade Estadual de Mato Grosso. Período: agosto de 1989 a de maio 1994. Curso: Bacharelado e Licenciatura em Química. Instituição: Universidade Federal Rural do Rio de Janerio - UFRRJ. Período: agosto de 1997 a julho de 2001. Projeto: Análise de Açúcares Solúveis e Aminoácidos Livres em Folhas de Sombreiro (Cliforia fauchildiana); feijão (Phaseolus vulgaris) carioquinha e milionário e soja (Glycine max) celeste. 2001. Orientador: Laerte da Cunha Azeredo. Monitoria Laboratório de Ciência Biológicas. Instituição: Universidade Estadual de Mato Grosso, UNEMAT. Período: agosto de 1990 a Junho de 1991. Bolsista Institucional Estágio Área de Concentração: Química de produtos naturais. Projeto: “Estudo fitoquímico em espécies de Solanum (Solanaceae). Instituição: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Orientadora: Tânia Maria Sarmento da Silva. Período: Janeiro de 1997 a fevereiro de 1998. Projetos Título: Avaliação da ação microbiana da própolis de Apis mellifera de Cáceres sobre doenças que afetam crianças e idosos. Instituição: UNEMAT (Cáceres, MT). 2010. Orientadora: Profa. Dra. Carla Galbiati. Período: 2010 a 2011. Bolsista: FAPEMAT. Trabalhos apresentados em congressos PINTO, R. A.; FELIPPE, L. G.; BOLZANI, V. S.; ARRUDA, M. S. P.; A. FUSCO- ALMEIDA, A. M.; FURLAN, M. Biological activity of Piper arboreum, ESPCA, Araraquara-SP, 2013. MARCHETTI, C. M.; FRAGA-SILVA, T. F C.; PINTO, R. A.; VENTURINI, J.; FURLAN, M.; ARRUDA, M. S. P. Crude ethanolic extract of Piper arboreum Aub. (Piperaceae) decreases the nitric oxide production by peritoneal phagocytes. XXXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Imunologia. Campos do Jordão-SP, 2012. PINTO R. A.; LEITE, F. S.; FUSCO-ALMEIDA, A. M.; MENDES-GIANNINI, M. J. S. FURLAN, M. Antifungal activity of Piper arboreum extracts. XXII SPMB, Bento Gonsalves, RS, 2012. MIMURA, L. A. N.; MARCHETTI, C. M.; PINTO, R. A.; FELIPPE, L. G.; FINATO, A. C.; FRAGA-SILVA, T. F. C.; MAZZEU, B. F.; BALDOQUI, D. C.; VENTURINI, J.; FURLAN, M.; ARRUDA, M. S. P. Extrato etanólico bruto de espécies da familia piperaceae reduz a produção de óxido nitrico pelos por macrofágos peritoneais e exibem atividade linfoproliferativa. In.15º Encontro Nacional de Biomedicina, Botucatu- SP, 2012. FERREIRA, A.B.; PINTO, R. A; MING, L. C. Medicinal plants usad by tradictional community in Mato Grosso state – BRAZIL. PF93, 8th Joint Meeting of AFERP. New York City, 2012. FERREIRA, A. B.; FERREIRA, M. I.; PINTO, R. A.; MING, L. C. Medicinal Plants Used by Traditional Community in Mato Grosso State Brazil. In: International Congress for Natural Products Research. Nova Iorque. PLANTA MEDICA: Journal of medicinal plant and natural products research. v. 78, 2012. PINTO, R. A.; VENDRUSCULO, T. P. S.; SANTOS, M. C.; MIRANDA, A. A; PINTO, J. M. Evaluation of antifungal activity of essential oils of Byrsonima crassifolia. 3rd Brasilian Conference on Natural Products, Ouro Preto-MG, 2011. FERREIRA, A. B.; MING, L. C.; CHECHETO, F.; PINTO, R. A. Dioscoreáceas cultivadas por agricultores da baixada cuiabana em Mato Grosso- Brasil. Raízes e amidos tropicais, v. 6, p. 201-208, 2010. PINTO, R. A.; PINTO, J.; CARVALHO, A. G.; LUCAS, P. R. S.; ARRUDA, P. P. Freqüência de insetos xilófagos em plantio de teca (Tectona grandis). In: XX Congresso Brasileiro de Entomologia, Gramado, RS. Programa e Livro de Resumos, v. 1. p. 455. 2004 PINTO, R. A.; PINTO, J. M.; CARVALHO, A. G. Aguna megacles megacles (LEP. HESPERIIDAE): Desfolhador de pata-de-vaca (Bauhinia sp.) (LEGUMINOSAE). In: XX Congresso Brasileiro de Entomologia, Gramado-RS Programa e Livro de Resumos, v. 1, p. 245, 2004. PINTO, R. A.; PINTO, J. M.; TEIXEIRA, V. A. Comportamento da beterraba (Beta vulgaris) cultivada em diferentes regimes de adubação. In: 44 Congresso Brasileiro de Olericultura, Campo Grande, MS. Horticultura Brasileira, v. 22. p. 410. 2004. PINTO, R. A.; PINTO, J. M.; TEIXEIRA, V. A. Adubação orgânica e mineral para coentro (Coriandrum sativum). In: 44 Congresso Brasileiro de Olericultura, 2004, Campo Grande, MS. Horticultura Brasileira (Impresso), 2004. v. 22. p. 370-371. PINTO, R. A.; PINTO, J. M. Cochonilhas associadas às plantas cítricas em Cáceres, MT. In: XVIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, 2004, Florianópolis, SC. Resumos do 18 CBF, CD-ROM, 2004. Cursos - Introdução à análise proteômica. Departamento de Farmácia, Laboratório de Micologia. UNESP, 2011. - Informação Tecnológica e formação de patentes. UFMT, 2010. - Seminário de Agroecologia: Manejo produtivo de agroecossistemas. UNEMAT, 2009. - Tópicos Especiais em Domesticação de Plantas. Departamento de agronomia. UFMT, 2009. - Domesticação de plantas. Departamento de agronomia. UFMT, 2009. - Nomes populares e científicos de plantas medicinais aromáticas: Mitos e conexões históricas. UFMT, 2008. - Encontro de divulgação de pesquisas da química. Tema: Estudo fitoquímico da casca do caule de Tabebuia insignis. UFMS, 2006. - II Mostra do despertar para ciência. Tema: destilação seca da madeira. Escola Agrotécnica Federal de Cáceres-MT, 2005. Experiência profissional -Professora de química geral ministrada ao ensino médio, nas redes Estadual e Federal em Cáceres-MT, de 2002 a 2005. -Professora de química geral ministrada ao ensino superior nas universidades: UFGD- MS em 2006 e UNEMAT-Cáceres em 2009. A Deus Aos meus pais José e Delarcy Aos meus irmãos e irmãs Ao meu esposo Jonas Aos meus filhos Abner e Calebe Dedico “(...) dando seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura das nações”. (Apocalipse 22: 2) AGRADECIMENTOS A Deus pela vida, saúde e perseverança. À UNESP e ao Instituto de Química em Araraquara pela oportunidade de aprender um pouco mais. À professora Maysa Furlan, por me aceitar no seu grupo de pesquisa, pela orientação, pelos ensinamentos e apoio em todos os momentos. Aos meus pais, José e Delarcy por estarem ao meu lado mesmo que em dias tão difíceis. A todas as minha irmãs e irmãos pelo incentivo. À minha querida sogra Emília e familiares que me apoiaram em todos os momentos. Ao meu esposo Jonas e meus queridos filhos Abner e Calebe, pelo carinho, compreensão e por estarem tão perto de mim, mesmo que tão distantes. Aos meus queridos amigos Isabel, Luiz e filhas Clarice e Carina, pela acolhida nesta cidade e por fazer parte da família de vocês. A todos os professores e colegas do NUBBE, pelo incentivo, apoio e ensinamentos. Aos meus amigos e colegas do grupo de pesquisa: Vânia, Andrea, Lidiane, Karina, Bruna, Amanda, Amauri, Renan, Fernando, Flávio, pelo companheirismo e ensinamentos. Aos amigos Teresinha, Daniela, Raissa, Alexander, Christiann, Doni, pelo companheirismo, ensinamentos, pelos finais de semana que passamos juntos no laboratório. Ao Nivaldo Borelle, Lucinéia Vizzoto, Juliana Rodrigues, João Bronzel, Bianca Ferreira pela amizade e pelo auxílio em experimentos. Aos funcionários da biblioteca pela gentileza e por estarem sempre dispostos a nos auxiliar. À coordenação da pós-graduação pela atenção e amizade. A todos que me auxiliaram, visitaram meus pais e me deram uma palavra de ânimo. A todos os amigos das repúblicas em que morei. A todos que contribuíram direta ou indiretamente para o execução deste trabalho. Ao CNPq pela bolsa concedida. RESUMO Piper arboreum é conhecida por acumular amidas pirrolidínicas com potente atividade antifúngica, antileishimanicida, inseticida entre outros, sendo, portanto, importantes substâncias alvos para estudos biossintéticos. À partir dos extratos das folhas e frutos desta espécie, foram isoladas três amidas pirrolidínicas e dois precursores fenilpropanoídicos, sendo que piperilina foi utilizada como padrão para os estudos biossintéticos. A proposta biossintética para a formação dessas amidas segue uma biossíntese mista, que deriva da via do chiquimato e via do acetato. Unidades C6-C3, condensam-se com malonil-CoA e a ornitina para a produção destes metabólitos. Os estudos biossintéticos foram iniciados com a incorporação de CH313CO2Na em folhas de P. arboreum. Este experimento teve como objetivo estabelecer a biossíntese da extensão final da cadeia lateral das amidas pirrolidínicas em relação ao derivado fenilpropanoídico. A análise por espectrometria de massas confirmou a incorporação do isótopo 13C na piperilina, indicando que a extensão da cadeia ocorre via acetato. Para verificar se a formação do grupo metilenodioxílico ocorre antes ou depois da formação da porção amídica, foram sintetizados os precursores fenilpropanoídicos: o ácido ferúlico e o 3’,4’-metilenodioxicinâmico, bem como seus análogos marcados com isótopos estáveis: o ácido[1-OD, 2-D]-ferúlico e o ácido[1-OD, 2-D]- 3’,4’- metilenodioxicinâmico. Os precursores sintetizados marcados com deutério foram incorporados, separadamente, na fração enzimática solúvel, juntamente com os precursores L-ornitina, e ácido malônico. Os produtos formados foram monitorados por CLAE-DAD utilizando-se a piperilina como padrão. A formação do produto foi identificado por CLAE-DAD. A análise do extrato protéico das folhas e frutos em gel poliacrilamida permitiu atribuir as bandas mais expressivas as enzimas ribulose- bisfosfato carboxilase oxigenase (RuBisCo; 55 - 14 kDa), fenilalanina amônia-liase (PAL; 77- 83 kDa) e policetídeo sintase (PKS; 45 - 30 kDa). A piperilina isolada de P. arboreum foi submetida à avaliação do potencial de inativação da enzima tirosinase, mostrando potente atividade no ensaio in vivo. O extrato etanólico das folhas de P. arboreum apresentou importante atividade antifúngica, anti-inflamatória e inseticida. Palavras-chave: biossíntese, piperilina, reação enzimática, atividade biológica. ABSTRACT Piper arboreum is known to accumulate amides with potential antitumoral, antimicrobial, antifungal, antileishmanial and insecticidal activities, being targeted compounds for biosynthetic studies. From leaves and fruits extracts, three pyrrolidinic amides and two phenylpropanoids precursors were isolated and the piperilina amide was used as standard for biosynthetic studies. The biosynthetic proposal for piperiline precusors formation follows a mixed biosynthesis, which is derived from the shikimate and acetato are which C6-C3 units which condense with malonyl-CoA and ornithine for the production of the amides. The biosyntetic studies were initiated with the incorporation of CH313CO2Na in leaves of P. arboreum. Analysis by mass spectrometry confirmed incorporation of 13C isotope indicating that extention chain of piperilina is product via acetate. To determine formation of the methylenedioxy group occurs before or after the amide portion, were if the synthesized phenylpropanoids precursors ferulic acid and 3’,4’-methylenedioxycynamic acid as well the same compounds labeled with stable isotopes: [1-OD, 2-D]-ferulic acid and [1-OD, 2-D]- 3’,4’-methylenedioxycynamic acid. The synthetized labeled precursors were incorpored into the soluble fraction of the enzymatic extraction, together with precursors L-ornithine and malonic acid. The products were analyzed by liquid chromatography and mass espectrometry using piperline amide as standard. Analysis of the protein extract from de leaves and fruits using 1D polyacrylamide gel allowed to assing the most significant bands: the RuBisCo (55 - 14 kDa), PAL (77- 83 kDa) and PKS (45 - 30 kDa) enzimes. The piperiline amide isolated from P. arboreum were submetted to inativation assay of the enzyme tyrosinase and showed powerful in vitro activity. The etanolic extracts from leaves from P. arboreum showed important antifungal, anti-inflammatory and inseticidal activities. Keywords: biosynthesis, piperiline, enzimatic reaction, biological activities. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Substâncias com propriedades farmacológicas isoladas de plantas. .................... 26 Figura 2: Gêneros da família Piperaceae. ............................................................................ 27 Figura 3: Distribuição geográfica da família Piperaceae. ..................................................... 28 Figura 4: Exemplares de espécies do gênero Piper encontradas no Brasil. ......................... 30 Figura 5: Morcego (Carollia perspicillata). ............................................................................ 38 Figura 6: Piper arboreum ..................................................................................................... 39 Figura 7: Etapas fundamentais para análise do proteôma. .................................................. 42 Figura 8: Biogênese das amidas pirrolidínicas ..................................................................... 43 Figura 9: Proposta biossintética para os precursores fenilpropanoídico em P. arboreum (Dewick, 2009). .................................................................................................................... 44 Figura 10: Ativação dos derivados do ácido cinâmico em derivados tioéster (DEWICK, 2009). ............................................................................................................................................ 45 Figura 11: Formação do grupamento metilenodioxílico (DEWICK, 2009). ............................ 46 Figura 12: Formação do anel pirrolidínico em Piper arboreum ............................................. 47 Figura 13: Estruturas químicas das amidas pirrolidínica e fenilpropanóides isolados de Piper arboreum Aublet (Piperaceae) ............................................................................................. 48 Figura 14: Proposta biossintética de formação da piperilina em Piper arboreum. ................ 50 Figura 15: Incorporação de acetato de sódio marcado em folhas adultas de Piper arboreum. ............................................................................................................................................ 59 Figura 16: Exemplar de Piper arboreum: teste de germinação (A), semeadura em células (B) e mudas em saquinhos (C). ............................................................................................... 60 Figura 17: Curva de calibração utilizando albumina como padrão protéico. ......................... 62 Figura 18: Proposta de mecanismo para reação de Knoevenagel (CUNHA e SANTANA, 2012). .................................................................................................................................. 72 Figura 19: Reação de condensação de Knoevenagel do aldeído piperonal com o ácido malônico, e a formação do ácido 3’,4’-metilenodióxicinâmico. ............................................. 72 Figura 20: Reação de condensação de Knoevenagel do aldeído piperonal com o ácido malônico, e a formação do ácido 3’,4’-metilenodióxicinâmico marcado. .............................. 73 Figura 21: Reação de condensação de Knoevenagel da vanilina com ácido malônico. ....... 73 Figura 22: Reação de condensação de Knoevengel da vanilina com ácido malônico deuterado. ............................................................................................................................................ 74 Figura 23: Cromatograma obtido via CLAE: (A) extrato das folha da planta jovem; (B) extrato dos frutos da planta adulta (C); extrato das folhas da planta adulta (D) padrão isolado dos frutos da planta adulta. Condição de análise: Coluna C18: phenomenex – Kinetex, Eluente: água/metanol – 60% de MeOH. Tempo: 60 min; Fluxo: 1,0 mL/min. ................................... 84 Figura 24: Amida pirrolidínica (1 - 3) presentes nas folhas e frutos de P. arboreum. ........... 85 Figura 25: Espectro de massas (EM-IES (+) da piperilina (1). ............................................. 86 Figura 26: Espectro de EM/EM da piperilina (1). .................................................................. 87 Figura 27: Proposta de fragmentação dos principais íons fragmento da piperilina (1). ......... 89 Figura 28: Estrutura química da piperilina (1)....................................................................... 90 Figura 29: Espectro e expansões de RMN 1H (600 MHz, CD3OD) da piperilina (1). ............. 92 Figura 30: TOCSY 1D da piperilina (1) em CD3OD, 600 MHz (sinal irradiado: δH 3,63). ..... 93 Figura 31: TOCSY 1D da piperilina (1) em CD3OD, 600 MHz (sinal irradiado: δH 6,45). ..... 94 Figura 32: TOCSY 1D da piperilina (1) em CD3OD, 600 MHz (sinal irradiado: δH 6,82). ..... 95 Figura 33 Espectro de RMN 13C (CD3OD, 125 MHz) da piperilina (1). ................................. 96 Figura 34: Curva calibração para quantificação da piperilina (1). ......................................... 98 Figura 35: Cromatogramas (UV 344 nm) para quantificação circadiana da piperilina (1) nos extratos das folhas de P. arboreum. .................................................................................... 99 Figura 36: Cromatogramas (UV 344 nm) para quantificação sazonal da piperilina (1) nos extratos das folhas de P. arboreum. .................................................................................. 100 Figura 37: Gráfico da variação sazonal (A) e gráfico da variação circadiana (B) da piperilina (1) presente nas folhas adultas de P. arboreum. ................................................................ 103 Figura 38: (A) Temperatura média e precipitação média (B) anual em Araraquara-SP, no ano de 2013.............................................................................................................................. 103 Figura 39: Estrutura química de (1). ................................................................................... 104 Figura 40: Precursores envolvidos na rota biossintética da piperilina (1) (DEWICK, 2009).105 Figura 41: Espectro de massas do extrato das folhas enriquecido com CH3 13CO2Na. ....... 107 Figura 42: Espectro de massas das fragmentações do extrato das folhas enriquecido com CH3 13CO2Na. ..................................................................................................................... 108 Figura 43: Proposta de fragmentação da piperilina marcada com CH3 13CO2Na. ................ 109 Figura 44: Gel SDS-PAGE dos extratos enzimáticos da folha jovem (2), folha adulta coletada as 11h (3), folha adulta coletada as 23h (4), fruto (5) de P. arboreum. Gel revelado com nitrato de prata. ............................................................................................................................ 111 Figura 45: 2D SDS-PAGE das folhas (A) e frutos (B) de P. arboreum. Separação entre pI 3- 10 (IPG 3-10 Linear) e padrão de MW entre 14 e 97 kDa. Massa aplicada: 250 μg de proteína total. ................................................................................................................................... 112 Figura 46: Estrutura química do ácido 3’,4’-metilenodioxicinâmico .................................... 113 Figura 47: Espectro e expansão de RMN 1H (300 MHz, DMSO-d6) do ácido 3’,4’- metilenodioxicinâmico. ....................................................................................................... 114 Figura 48: Espectro e expansão de RMN 13C (75 MHz, DMSO-d6) do ácido 3’,4’- metilenodioxicinâmico. ....................................................................................................... 115 Figura 49: Estrutura química do ácido ferúlico .................................................................. 116 Figura 50: Espectro e expansão de RMN 1H (500 MHz, DMSO-d6) do ácido ferúlico. ........ 118 Figura 51: Espectro de RMN 13C (125 MHz, DMSO-d6) do ácido ferúlico. ......................... 119 Figura 52: Estrutura química do ácido [1-OD, 2-D]-3', 4' metilenodioxicinâmico. ................ 120 Figura 53: Espectro e expansão de RMN 1H (500 MHz, DMSO-d6) do ácido [1-OD,2-D]- 3’,4’- metilenodioxicinâmico. ....................................................................................................... 121 Figura 54: Estrutura química do ácido [1-OD,2-D]- ferúlico ................................................ 122 Figura 55: Espectro e expansão de RMN 1H (300 MHz, DMSO-d6) do ácido [1-OD,2-D]- ferúlico. .............................................................................................................................. 123 Figura 56: Reação enzimática utilizando as folhas da planta jovem e os precursores marcados, ácido ferúlico e 3’,4’ metilenodioxicinâmico ........................................................................ 126 Figura 57: Reação enzimática utilizando as folhas planta adulta e os precursores marcados, ácido ferúlico e 3’,4’ metilenodioxicinâmico ........................................................................ 127 Figura 58: Reação enzimática utilizando os frutos planta adulta e os precursores marcados, ácido ferúlico e 3’,4’ metilenodioxicinâmico. ....................................................................... 128 Figura 59: Reação enzimática utilizando as folhas planta adulta e os precursores marcados, ácido ferúlico e 3’,4’ metilenodioxicinâmico. ....................................................................... 129 Figura 60: Atividade inseticida: testemunha (A) e tratamento (B).........................................132 Figura 61: Curva de sobrevivência de operárias Atta sexdens mantidas com dietas artificiais sólidas. .............................................................................................................................. 133 Figura 62: Nova proposta biossintética para formação da piperilina (1). ............................ 135 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Metabólitos isolados do gênero Piper. .................................................................. 31 Tabela 2: Classificação botânica geral de acordo com o arranjo de Cronquist (1981). ........ 39 Tabela 3: Massa dos extratos etanólicos de Piper arboreum Aublet. ................................... 55 Tabela 4: Gradiente de eluição utilizados para as análises por CLAE ................................. 58 Tabela 5: Concentração proteica dos extratos enzimáticos das folhas e frutos de Piper arboreum. ............................................................................................................................ 62 Tabela 6: Padrão protéico de soro de albumina bovina, utilizado no experimento de eletroforese e suas respectivas massas moleculares (KDa). ............................................... 64 Tabela 7: Protocolo de focalização isoelétrica. .................................................................... 70 Tabela 8: Reagentes necessários para preparar 100 mL de gel poliacrilamida 12,5%......... 70 Tabela 9: Quantidade de reagentes utilizados para reação enzimática. .............................. 76 Tabela 10: Dados de RMN de 1H (600 MHz, CD3OD) e 13C (125 MHz, CD3OD) da piperilina (1). ....................................................................................................................................... 91 Tabela 11: Dados da quantificação da análise sazonal da piperilina (1). ........................... 102 Tabela 12: Dados da quantificação da análise circadiana da piperilina (1). ....................... 103 Tabela 13: Dados de RMN de 1H (300 MHz, DMSO-d6) e 13C (75 MHz, DMSO-d6) do ácido 3’,4’- metilenodioxicinâmico comparados com dados da literatura (FERREIRA, 2006). ..... 113 Tabela 14: Dados de RMN de 1H (500 MHz, DMSO-d6) e 13C (125 MHz, DMSO-d6) do ácido ferúlico comparados com os dados da literatura (REGASINI et al, 2008). ......................... 117 Tabela 15: Dados de RMN de 1H (500 MHz, DMSO-d6) e 13C (125 MHz, DMSO-d6) do ácido [1-OD,2-D]- 3’,4’-metilenodioxicinâmico. ............................................................................ 120 Tabela 16: Dados de RMN de 1H (300 MHz, DMSO-d6) do ácido [1-OD,2-D]- ferúlico. ...... 122 Tabela 17: Atividade antifúngica dos extratos de Piper arboreum. ..................................... 131 LISTA DE ESQUEMAS Esquema 1: Extração em etanol e partição líquido-líquido das folhas de Piper arboreum................................................................................................................................56 Esquema 2: Fracionamento cromatográfico do extrato etanólico dos frutos de Piper arboreum................................................................................................................................57 Esquema 3: Extração enzimática das folhas de Piper arboreum...........................................75 SÍMBOLOS E ABREVIATURAS AcOEt - acetato de etila BSA - bovine serum albumin CC - cromatografia em coluna CCDC - cromatografia em camada delgada comparativa CDCl3 - clorofórmio deuterado CD3OD - metanol deuterado C3H - p-cumarato 3-hidroxilase C4H - cinamato 4-hidroxilase CHAPS - 3-[(colamidopropil)-dimetilamônio]-1-propanosulfonato CLAE - cromatografia líquida de alta eficiência CLAE-EM - cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrometria de massas CoA - coenzima A ConA - concanavalina d - dupleto DAD - detector de arranjo de diodo dd - duplo dupleto DMSO - dimetilsulfóxido DMSO-d6 - dimetilsulfóxido deuterado DTT - 1,4-ditiotreitol EDTA - ácido etilenodiaminotetracético EI - abreviatura do inglês “electron ionization” (impacto eletrônico) EM - espectrometria de massas ESI - electrospray ionization EtOH - etanol Hex - hexano Hz - hertz IAA - iodoacetamida IEF - focalização isoelétrica IPG - gradiente de pH imobilizado J - constante de acoplamento KDa - kilodalton L-DOPA - L-3,4-dihidroxifenilalanina LPS - lipopolissacarídeo [M]+ - íon molecular m - multipleto M - molar (mol.l-1) mA - miliampére MeOH - metanol MgCl2 - cloreto de magnésio min - minutos MHz - mega-hertz mL - mililitro mM - milimolar mm - milímetros m/v - relação massa-volume m/z - relação massa-carga NADH - nicotinamida adenina dinucleotídeo NADPH - fosfato de nicotinamida adenina dinucleotídeo OMT - o-metiltransferase PA - padrão analítico PAL - fenilalanina amônia-liase pH - potencial hidrogeniônico PHA - fitoemaglutina pI - ponto isoelétrico PKS - policetídeo sintase PLP - fosfato de piridoxal PMA - acetato de forbol-miristato PSA - persulfato de amônio m/v - relação massa volume PVPP - polivinilpolipirrolidona RMN - ressonância magnética nuclear RMN de 1H - ressonância magnética nuclear de hidrogênio um RMN de 13C - ressonância magnética nuclear de carbono treze RPM - rotação por minuto RUBISCO - ribulose-bisfosfato carboxilase oxigenasse s - simpleto SAM - s-adenosil metionina SDS-PAGE - eletroforese em gel poliacrilamida e dodecil sulfato de sódio TEMED - tetrametiletilenodiamina TMS - tetrametilsilano TRIS - tris(hidroximetil)aminometano tR - tempo de retenção u.m.a - unidade de massa atômica UV - ultravioleta δ - deslocamento químico SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 25 1.1 Química de produtos naturais ................................................................................................ 25 1.2 Família Piperaceae .................................................................................................................. 27 1.3 Gênero Piper ............................................................................................................................ 29 1.4 Espécie Piper arboreum ......................................................................................................... 38 1.5 Classificação botânica geral .................................................................................................. 39 1.6 Elucidação de vias biossintéticas .......................................................................................... 40 1.7 Proposta biossintética para formação das piperamidas em espécies Piper. ................. 43 1.7.1 Formação dos fenilpropanoides (C6-C3) ....................................................................... 43 1.7.2 Formação do grupo metilenodioxílico ........................................................................... 45 1.7.3 Formação do anel pirrolidínico. ...................................................................................... 46 2 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 51 3 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................................. 51 3.1 Solventes e equipamentos básicos ...................................................................................... 51 3.2 Cromatografia em camada delgada ...................................................................................... 51 3.3 Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) ................................................................. 52 3.4 Ressonância magnética nuclear (RMN) .............................................................................. 52 3.5 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Espectrometria de massas (CLAE-EM) ...................................................................................................................................... 52 3.6 Eletroforese mono e bidimensional ....................................................................................... 53 3.7 Material vegetal ........................................................................................................................ 53 4 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ........................................................................................... 54 4.1 Preparo, extração e análise das folhas e frutos de Piper arboreum. .............................. 54 4.2 Análise sazonal e circadiana da piperilina (1) ..................................................................... 58 4.3 Estudos biossintéticos ............................................................................................................. 59 4.4 Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) .......................................................... 61 4.4.1 Obtenção do extrato enzimático .................................................................................... 61 4.4.2 Dosagem protéica – Ensaio de Bradford modificado ................................................. 61 4.4.3 Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) ................................................... 62 4.4.3.1. Soluções e reagentes necessários ..................................................................... 62 4.4.4 Preparo das amostras e dos padrões ........................................................................... 63 4.4.5 Preparo, desenvolvimento e revelação do gel ............................................................. 64 4.4.6 Eletroforese em gel de poliacrilamida (2D SDS-PAGE) ............................................. 66 4.4.6.1 Soluções ................................................................................................................... 66 4.4.6.2 Limpeza das amostras ........................................................................................... 68 4.4.6.3 Reidratação das tiras de IPG (Immobilized pH Gradient) ................................ 69 4.4.6.4 Primeira dimensão: focalização isoelétrica ......................................................... 69 4.4.7 Segunda dimensão: SDS-PAGE .................................................................................... 70 4.4.7.1 Preparo do gel de poliacrilamida 12,5% ............................................................. 70 4.4.7.2 Equilíbrio das tiras .................................................................................................. 71 4.4.7.3 Aplicação das tiras e desenvolvimento da SDS-PAGE .................................... 71 4.5 Síntese de precursores biossintéticos .................................................................................. 71 4.5.1 Síntese do ácido 3’,4’-metilenodioxicinâmico .............................................................. 72 4.5.2 Síntese do ácido 3’,4’-metilenodióxicinâmico marcado com deutério ...................... 73 4.5.3 Síntese do ácido ferúlico ................................................................................................. 73 4.5.4 Síntese do ácido ferúlico marcado com deutério ........................................................ 74 4.6 Reações enzimáticas .............................................................................................................. 74 4.6.1 Ensaio enzimático ............................................................................................................ 77 5 ATIVIDADE BIOLÓGICA ............................................................................................................... 77 5.1. Atividade antifúngica .............................................................................................................. 77 5.2 Atividade antiinflamatória........................................................................................................ 78 5.2.1 Bioensaios in vivo ............................................................................................................. 78 5.2.2 Sacrifício e coleta do material. ....................................................................................... 79 5.2.3 Obtenção de macrófagos peritoneais e de células esplênicas. ................................ 79 5.2.4 Cultura de células. ............................................................................................................ 79 5.2.5 Determinação da produção de H2O2. ............................................................................ 80 5.2.6 Determinação dos níveis de óxido nítrico (NO). .......................................................... 80 5.2.7 MTT (Brometo de (3-(4,5-dimetietiazol-2yl)-2,5-difeniltetrazolio bromido). ............. 80 5.3 Atividade antioxidante ............................................................................................................. 81 5.3.1 Ensaio frente a enzima tirosinase .................................................................................. 81 5.4 Atividade inseticida frente a Atta sexdens ........................................................................... 82 5.4.1 Atividade dos extratos via ingestão ............................................................................... 82 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................... 83 6.1 Perfil cromatográfico dos extratos das folhas e frutos de Piper arboreum. .................... 83 6.2 Identificação estrutural da piperilina (1) ............................................................................... 85 6.3 Dinâmica sazonal e circadiana da Piper arboreum ............................................................ 97 6.4 Experimentos biossintéticos em Piper arboreum. ............................................................ 103 6.5 Análise por eletroforese monodimensional do extrato enzimático do fruto e folhas de Piper arboreum (SDS-PAGE) ..................................................................................................... 110 6.6 Análise por eletroforese bidimensional (2D SDS-PAGE) do extrato enzimático das folhas e frutos de Piper arboreum. ............................................................................................ 111 6.7 Síntese de precursores biossintéticos ................................................................................ 112 6.7.1 Determinação estrutural dos precursores sintetizados. ........................................... 112 6.7.1.1 Ácido 3’,4’-metilenodioxicinâmico ...................................................................... 112 6.7.1.2 Ácido ferúlico ......................................................................................................... 116 6.7.2 Determinação estrutural dos precursores marcados. ............................................... 120 6.7.2.1 Ácido [1-OD,2-D]- 3’,4’-metilenodioxicinâmico ................................................. 120 6.7.2.2 Ácido [1-OD,2-D]- ferúlico ................................................................................... 122 6.8 Reação enzimática ................................................................................................................ 124 6.9 Atividade biológica ................................................................................................................. 130 7 CONCLUSÕES ............................................................................................................................. 134 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 136 Introdução ___________________________________________________________________ 25 1 INTRODUÇÃO 1.1 Química de produtos naturais O conhecimento sobre as plantas medicinais e seu uso é tão antigo quanto a espécie humana, sendo muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos (MACIEL et al, 2002). As primeiras descrições sobre plantas medicinais feitas pelo homem estão registradas nas escrituras sagradas e no papiro de Ebers. Durante o período anterior à era cristã muitos filósofos se destacaram por suas obras sobre a história natural. Hipócrates, considerado o pai da medicina moderna, utilizou os recursos naturais como guia na escolha de remédiosTeofrasto (372 a.C) escreveu vários livros sobre a história das plantas sendo responsável pelo registro da utilização da espécie botânica Papaver somniferum, cujo princípio ativo é a morfina. O isolamento das primeiras substâncias puras do reino vegetal, principalmente ácidos orgânicos e alcalóides ocorreram nos séculos XVIII e XIX, com o isolamento da morfina, quinina e estricnina. No entanto foi no século XX que ocorreu a primeira síntese dos alcaloides, quinina, estricnina e reserpina (PINTO et al, 2002). Os recursos naturais têm sido utilizado, até os dias atuais, como fonte de novas drogas. Devido suas propriedades estruturais, tem papel importante para a descoberta e desenvolvimento de processos para obtenção de fármacos. A modificação estrutural nos esqueletos dos produtos naturais ativos, tem levado à formação de novos agentes que desempenham importantes atividades biológicas. (NEWMAN e CRAGG, 2012). Segundo Cragg e Newman (2013) 65% da população mundial utilizam plantas para curar suas enfermidades. O estudo químico e farmacológico das plantas medicinais possibilitou a obtenção de novos compostos com propriedades relevantes, como o taxol (anticancerígeno), a forscolina (anti-hipertensivo), a artemisinina (antimalárico), a morfina (analgésico), a emetina (anti-protozoário), a galangina (antibacteriano), a colchichina (antiiflamatório) (figura 1, p.26). Apesar do grande avanço científico, das 300 mil espécies existentes no planeta, apenas 6% foram investigadas e descritas quanto ao seu potencial farmacológico, e 15% delas tem sido estudadas do ponto de vista fitoquímico. Uma menor porcentagem, é avaliada sob os aspectos biológicos (CRAGG e NEWMAN, 2013; CSEKE et al., 2006; CECHINEL FILHO e YUNES, 1998). Introdução ___________________________________________________________________ 26 Figura 1: Substâncias com propriedades farmacológicas isoladas de plantas. NH OO O O O O O O OH O O HO OH taxol O OH O OH H OH O O O O O O O H HH artemisina O HO HO H N morfina N O O HN O O H H H O O OH OH HO galangina HN O O O O O O foscolina colchichina emetina Introdução ___________________________________________________________________ 27 O estudo sistemático de plantas medicinais envolvendo diversas áreas do conhecimento possibilita a elucidação dos metabólitos presentes na espécie vegetal, sua constituição genética e os fatores que interferem na variação do teor de princípios ativos (CASTRO et al, 2004; Di STASI, 1996). Com o uso de ferramentas biotecnológicas associadas aos métodos de química medicinal novas moléculas com atividades biológicas podem ser planejadas e desenvolvidas (GUIDO et al, 2010). 1.2 Família Piperaceae Considerada uma família predominantemente tropical, a Piperaceae é considerada uma das mais primitivas entre as Angiospermas, pertencente à ordem Piperales e ao clado Magnoliídeas. Esta família foi descrita no século XVIII por Linnaeus, que lhe atribuiu quatro gêneros, sendo o gênero Piper descrito em 1737 (KATO e FURLAN, 2007). Atualmente, são reconhecidos cinco gêneros (Figura 2), subdividos em três subfamílias: Peperomia Ruiz & Pavon e Piper L. (Piperoideae). Verhuellia Miq. (Verhuellioideae), Manekia Trel.e Zippelia Blume. (Zippelioideae), com mais de 3.600 espécies e distribuição pantropical (QUIJANO-ABRIL et al., 2006; WANKE et al., 2007; SAMAIN et al. 2008; SMITH et al 2008). Figura 2: Gêneros da família Piperaceae. Com exceção do gênero monotípico Zippelia, que ocorre predominantemente na Ásia tropical, todos os demais gêneros estão bem representados na região neotropical (MELO et al., 2014; SUWANPHAKDEE e CHANTARANOTHAI, 2009; TEBBS 1993). Peperomia Ruiz & Pavon e Piper L., são os gêneros mais representativos da família, com aproximadamente 1500 espécies cada, encontradas principalmente na América do Sul (Figura 3, p. 28), em florestas úmidas e região amazônica (SAMAIN et al., 2008; GUIMARÃES et al., 2015). Piper Peperomia Manekia Zippelia Verhuellia Introdução ___________________________________________________________________ 28 Figura 3: Distribuição geográfica da família Piperaceae. Estudos taxonômicos de espécies de Piperaceae têm sido desenvolvidos no Brasil e, com isso, estabelecida as diretrizes para o entendimento das diferenças morfológicas desta família (ALBIERO et al., 2006; GUIMARÃES & GIORDANO, 2004). Esta família representada por aproximadamente 450 táxons, distribuídos em quatro gêneros, apresenta maior diversidade na Mata Atlântica e Amazônia com cerca de 280 e 230 táxons, respectivamente (GUIMARÃES et al., 2015). As espécies desta família, são geralmente arbustivas e herbáceas, podendo ocorrer em diversas formas, sendo observadas também como pequenas árvores. As folhas podem ser simples, alternadas, opostas ou verticiladas, de margem inteira e geralmente com odor característico. As inflorescências são em espigas, solitárias ou não, axilares, terminais ou opositifoliais (GUIMARÃES et al., 2015; DYER e PALMER, 2004; JARAMILLO et al., 2004; PARMAR et al., 1997; CRONQUIST, 1981). Muitas espécies da família Piperaceae são economicamente importantes, sendo cultivadas para fins ornamentais (Peperomia pellucida), para culinária, como especiarias (Piper nigrum), como fitoterápico (Piper methysticum), sendo ainda de grande importância para a indústria farmacêutica de cosméticos e de defensivos agrícolas (PESSINI et al., 2003; SILVA e MACHADO, 1999). Introdução ___________________________________________________________________ 29 A investigação fitoquímica de espécies de Piperaceae tem revelado uma grande variedade de compostos bioativos. As principais classes de compostos descritos são as lignanas/neolignanas (PARMAR et al., 1997; BENEVIDES et al. 1999; FELIPPE et al, 2008; FELIPPE et al, 2011), derivados do ácido benzóico (LAGO et al., 2004; BALDOQUI et al., 1999; BERGAMO et al., 2005; MORANDIM et al., 2005; LOPES et al., 2008), cromanos e cromenos prenilados (BALDOQUI et al. 1999; BATISTA JUNIOR et al., 2008; MOTA et al., 2009), amidas alifáticas e aromáticas (SILVA, et al., 2002; NAVICKIENE et al., 2000; COTINGUIBA et al. 2009), policetídeos (CHENG et al., 2003) e piperolídeos (LAGO et al., 2004; MARQUES et al., 2008), além de produzir óleos essenciais compostos por monoterpenos, sesquiterpenos e arilpropanóides (SANTOS et al., 2001; NAKAMURA et al., 2006; POTZERNHEIM et al., 2006). Os metabólitos secundários isolados da família Piperaceae mostraram potente atividade frente ao Trypanossoma cruzi (REGASINI et al, 2009b; BATISTA JUNIOR et al., 2008; SAÚDE-GUIMARÃES e FARIA, 2007), antifúngica (MORANDIM et al., 2010; REGASINI et al., 2009a; NAVICKIENE et al., 2006; SILVA et al., 2002; NAVICKIENE et al., 2000), antibacteriana (CUNICO et al., 2006), antileishmania (ESTEVEZ et al., 2007; NAKAMURA et al., 2006), ansiolítica (AMORIM et al., 2007) anticonvulsante e anti-inflamatória (BARBOSA-FILHO et al., 2006; QUINTANS- JÚNIOR et al., 2008), contra hepatite C (JARDIM et al., 2015). 1.3 Gênero Piper O gênero Piper teve o seu primeiro estudo químico em 1819 (ZACHARIAH et al., 2008), quando foi isolada a piperamida piperina, um princípio ativo pungente de Piper nigrum (pimenta-do-reino). Este gênero apresenta aproximadamente 2.000 espécies (QUIJANO-ABRIL et al., 2006; WANKE et al., 2007), distribuídas em regiões tropicais e subtropicais, comum em matas de galerias. Encontradas como arbustos ou árvores, sublenhosos com espigas opostas às folhas e que podem ser reconhecidas em seu estado vegetativo pela presença de nós foliares geniculados. As folhas apresentam base bastante assimétrica e os frutos uma drupa, séssil ou pedicelado (GUIMARÃES e GIORDANO, 2004). Exemplares de Piper são mostrados na Figura 4, página 30. Introdução ___________________________________________________________________ 30 Figura 4: Exemplares de espécies do gênero Piper encontradas no Brasil. As semelhanças morfológicas encontradas entre espécies de Piper dificultaram a identificação, permitindo a troca e até mesmo falsificação quando as espécies são coletadas e comercializadas como medicinais (PESSINI et al., 2003; ALBIERO, 2005; ALBIERO, 2006), Desta forma, as características quimiotaxonômicas podem corroborar para o estudo de taxonomia, ecologia e controle de qualidade desta espécie (SOUZA et al., 2009). Um número significativo de espécies do gênero Piper tem aplicações medicinais, importância comercial e econômica devido à produção de óleos essenciais (MONZOTE et al., 2010; POTZERNHEIM et al., 2006), que são utilizados na indústria de condimentos, farmacêutica e inseticidas. A análise de algumas espécies mostrou a presença de compostos com importantes atividades biológicas, como atividade antileshimania (BOSQUIROLI et al, 2015; CONDE-HERNÁNDEZ e GUERRERO BELTRÁN, 2014; RUIZ et al., 2011; MONZOTE et al, 2010; MISRA et al.; 2009), tripanocida (HAMEDT et al., 2014; REGASINI et al., 2009b), antifúngica (SPEROTTO et al., 2013; REGASINI et al. 2009a; GUERRINI et al., 2009; PESSINI et al., 2005; SILVA et al, 2002), antibacteriano (NASCIMENTO et al, 2015; NOVAES et al.,2014; MALAMI et al., 2014; SILVA JUNIOR et al, 2014; SOUZA, 2010; BENÍTEZ et al., 2009), antiparasitária e antioxidante (PARMAR et al., 1997; NAVICKIENE et al., 2000; Piper umbellatum Piper arboreum Piper tuberculatum Piper aduncum Piper longum Piper auritum Piper nigrum Piper crassinervium Introdução ___________________________________________________________________ 31 KATO e FURLAN, 2007; COTINGUIBA et al., 2009), anti-inflamatória (PERAZZO, et a.l, 2013; LIMA et al., 2012), antiviral (JARDIM, et al, 2015), antidepressivo e antinoceptivo (XIE et al., 2011; YAO et al., 2009), antiveneno (SHENOY et al, 2014), antitumoral (BEZERRA et al, 2013), larvicida (KANIS et al., 2013), schistossomicida (MORAES et al., 2012), antituberculose e antiplaquetária (CHEN et al, 2013). A investigação fitoquímica do gênero Piper levou ao isolamento de metabólitos secundários pertencentes às classes das amidas (NAVICKIENE et al., 2000; SILVA et. al, 2002; NAVICKIENE et al., 2006), derivados de ácido benzóico e hidroquinonas, cromenos, lignanas, neolignanas, flavonóides e alcalóides (LAGO et al., 2004; FELIPPE et al., 2008; RAMOS E KATO, 2009; BALDOQUI et al., 2009) e óleos essenciais como monoterpenos e sesquiterpenos (MONZOTE et al., 2010; POTZERNHEIM et al., 2006; MUNDINA et al, 1998; GOTTLIEB et al, 1981). Alguns exemplos de metabólitos isolados de Piper, estão descritas na Tabela 1. Tabela 1: Metabólitos isolados do gênero Piper. Nome Espécie Atividade biológica Referências N O O O piperetina Piper arboreum antifúngico antimicrobiano NASCIMENTO et al., 2015. O O N O piperilina P. arboreum antifúngica REGASINI et al., 2009a; SILVA et al., 2002. N O O O N-[7-(3’,4’-metilenodiox)-2(Z),4(Z)-heptadienoil] pirrolidina P. hispidum antifúngica ALÉCIO et al., 1998. Introdução ___________________________________________________________________ 32 O O N O piperina N O O O O O diidropiplartina P. tuberculatum antifúngica tripanocida antiúlcera SILVA et al., 2002; NAVICKIENE et al., 2000; BURCI et al., 2013. O O H N O piperlonguminine P. ovatum tripanocida inseticida KANIS et al., 2013; SANTOS et al., 2013. O O H H H N H H H O pipiaiina P. longum larvicida MADHU et al., 2011. O O H N O laetispicina P. laetispicum antinociceptivo antidepressivo YAO et al., 2009. O O N O kaousina O O O N Z-antiepilepsirina P. capense antimalárico KAOU et al., 2010. Introdução ___________________________________________________________________ 33 N N O O O O O O chabamida P. chaba citotóxica antimalárico antituberculose RAO et al., 2011; RUKACHAISIR IKUL et al., 2002. H O HO OH Aldeído trans-caféico P. taiwanense antituberculose CHEN et al., 2013. O O O desmetoxiangonina (5,6-deiidrokavaína) P. fuliginum antiviral JARDIM et al., 2015. OH OH O 1,4-diidroxi-2-(3’,7’-dimetil-1’-oxo-2’,6’- octadienil)benzeno P. crassinervium antifúngica, antioxidante tripanocida DANELUTTE et al., 2003; LÓPEZ et al., 2010; YAMAGUCHI et al., 2006. Introdução ___________________________________________________________________ 34 O O OMeO MeO OMe rel-(7R,8R,7’R,8’R)-3’,4’-metilenodioxi-3,4,5,5’- tetrametoxi- 7,7’-epoxilignana P. solmsianum tripanocida MARTINS et al., 2003. O HO O 2-metil-2-(4’-metil-3’-pentenil)-8-(3’’-metil-2’’- butenil)-2H-1- cromeno-6-carboxílico P. gaudichaudianum tripanocida BATISTA JUNIOR et al., 2008. O HO O ácido 2,2-dimetil-2H-1-cromeno-6-carboxílico P. aduncum tripanocida BATISTA JUNIOR et al., 2008. OMeO MeO O O H 5-hidroxi-2-(1’-hidroxi-4’-oxo-ciclohex-2’-en-1’-il)- 6,7 dimetoxi-2,3-diidro-4H-cromeno-4-ona P. carniconnectivum antileucêmica FREITAS et al., 2014. Introdução ___________________________________________________________________ 35 O O OMe HO MeO OMe OH OMe H H (–)-siringaresinol P. wallichii antitrombótica SHI et al., 2015. O O OH OH O O sesamina P. umbellata - BALDOQUI et al., 2009. OH O HO O ácido 4-hidroxi-3 (E)--(3,7-dimetil-1-oxo-2,6 octadienil)-5-(3-metil-2-butenil)benzóico P. cf. cumanense antifúngica PARRA et al., 2013 Introdução ___________________________________________________________________ 36 O O O eupomatenóide-3 P. reganelli antituberculose SCODRO et al., 2013 O HO O ácido-2,2-dimetil-8-(3’,7’-dimetil-octa-2’,6’- dienil)-2H-1-benzopirano-6-carboxilico P. cf. cumanense antifúngica PARRA et al., 2011. OH Eremoligenol P. arboreum - CYSNE et al., 2005. HO (E)-Nerolidol P. arboreum P. claussenianum leishimanicida MARQUES et al., 2011. Introdução ___________________________________________________________________ 37 H3C CH3 Biciclogermacreno P. arboreum - GOTTLIEB et al., 1981. H H (E)-cariofileno P. arboreum P. ottonoides - GOTTLIEB et al., 1981. O O safrol P. marginatum P. collossum P. hipidinervum P. auritum - MONZOTE et al., 2010; GOTTLIEB et al., 1981. O O O O dilapiol P. aduncum inseticida SILVA et al., 2007 α-pineno β-pineno P. ottonoides P. crassinervium - GOTTLIEB et al., 1981. Introdução ___________________________________________________________________ 38 Plantas do gênero Piper têm como principal polinizador e dispersor de sementes o morcego Carollia perspicillata (Figura 5). Os morcegos usam uma combinação de ecolocalização (forma, estrutura da superfície) e olfação (aroma) para localizar os frutos maduros. Os frutos de Piper permanecem esverdeados quando maduros, são moles, exalam odor característico e são rapidamente consumidos pelos morcegos. Através sucessivas coletas do fruto maduro durante à noite, a maior parte das sementes ingeridas são defecadas e dispersadas propagando, desta forma, a espécie (CAMPOS et al., 2012; DYER e PALMER, 2004; THIES et al., 1998), sendo então, um importante recurso alimentar para esse quiróptero, rico em proteínas e com baixo teor de fibras, correspondendo a aproximadamente 70% de sua dieta (MIKICH, 2002). Figura 5: Morcego (Carollia perspicillata). 1.4 Espécie Piper arboreum Piper arboreum (Figura 6, p. 39) é um arbusto com aproximadamente 2 a 4 metros de altura, com hastes cilíndricas e nodosas de coloração marrom claro e folhas com base bastante assimétrica (SOUZA et al., 2009; GUIMARÃES e GIORDANO, 2004), é conhecida popularmente como pimenta longa, condorcillo (DUKE e VASQUES, 1994), alecrim-de-angola ou pau-de-angola (GUIMARÃES e GIORDANO, 2004). Na Amazônia, P. arboreum é popularmente utilizada sob a forma de chá para bronquites, resfriados e gripes fortes. Nessa região sua raiz é conhecida como raiz- de-pahim (VAN DEN BERG, 1993). Fonte: Dyer e Palmer, (2004) Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/carollia Introdução ___________________________________________________________________ 39 1.5 Classificação botânica geral A classificação botânica geral de Piper arboreum segue o sistema de arranjos de Cronquist (1981) (Tabela 2). Tabela 2: Classificação botânica geral de acordo com o arranjo de Cronquist (1981). Reino Plantae Divisão Angiosperma A. Braun & Doill (Magnoliophyta) Classe Dicotiledonae Subclasse Magnolidae Ordem Piperales Família Piperaceae Agardth Gênero Piper Espécie Piper arboreum Estudos anteriores realizados por SILVA (2004), mostraram que P. arboreum acumula amidas pirrolidínicas, sendo, portanto, consideradas marcadores na espécie. Foram também identificados monoterpenos e sesquiterpenos nos óleos essenciais da espécie (NAVICKIENE et al., 2006). Recentemente, Nascimento e colaboradores (2015) isolaram a amida piperetina das raízes desta espécie e avaliaram a atividade dos extratos das frações e óleos essenciais frente à bactéria Staphylococcus aureus e aos fungos Microsporum gypseum e Epidermophyton floccosum, mostrando potente atividade antibacteriana e antifúngica. Fonte: arquivo pessoal. Figura 6: Piper arboreum Introdução ___________________________________________________________________ 40 As amidas pirrolidínicas apresentam diversas atividades biológicas, destacando-se a atividade antifúngica frente aos fungos oportunistas Cladosporium sphaerospermum (SILVA et al, 2002), Candida albicans, C. krusei, C. parapsilosis e Cryptococcus neoformans (REGASINI, et al., 2009a). Apresentam também atividades carminativa e emoliente (DUKE E VASQUEZ, 1994). 1.6 Elucidação de vias biossintéticas A biotecnologia nas suas mais diferentes abordagens tem criado novas perspectivas para o melhoramento vegetal visando a produção em grande escala de metabólicos com potencial famacológico, utilizando técnicas de transferência de genes em plantas, contribuindo significativamente para o aumento da qualidade, produtividade, resistência a doenças e pragas, e tolerância as condições ambientais (SANTARÉM, 2000). O desenvolvimento de novas biotecnologias para produção ou modificação de produtos, o aperfeiçoamento de plantas ou animais e a descoberta de microorganismos para usos específicos abriu inúmeras oportunidades para o investimento sustentável dos recursos genético nas áreas de interesse químico, farmacêutico, agrícola e industrial (ALBAGLI, 1998). A elucidação das vias metabólicas de espécies vegetais tem despertado grande interesse da comunidade científica, pois permite o entendimento dos mecanismos de formação de inúmeras substâncias biologicamente ativas (ENGLARD e SEIFTER, 1990). Quando a estrutura de um metabólito secundário é elucidada, usualmente é possível propor a biogênese para a formação do mesmo a partir de substâncias derivadas do metabolismo primário, tais como acetato, mevalonato, chiquimato e/ou ácidos aminados (DEWICK, 2009). A confirmação da rota biossintética proposta, pode ser feita por dois caminhos. Um deles é através da incubação de precursores (marcados ou não) em extratos enzimáticos (in vitro). Nesta técnica, as enzimas que atuam na formação do metabólito de interesse são extraídas do organismo em estudo e incubadas com os possíveis precursores (BACHER et al., 1999). Outro caminho é a incorporação de precursores (isotopicamente marcados ou não) em organismos intactos, tais como plântulas, órgãos vegetais e cultura de células (in vivo). Neste procedimento, a enzima responsável pela síntese do metabólito de interesse utiliza todo o maquinário celular para produzi-lo. Sendo assim, não é necessário fornecer condições especiais para Introdução ___________________________________________________________________ 41 que a enzima expresse sua atividade, sendo necessário apenas manter o organismo vivo durante o estudo (BACHER et al., 1999). Uma das formas de confirmação da incorporação dos precursores marcados, pode ser realizada pela análise dos espectros de RMN de 13C, que apresenta o sinal aumentado do carbono que foi marcado. Outra forma de confirmação pode ser realizada pela análise dos espectros de massas (MACEDO JÚNIOR, 2007; LOBO e LOURENÇO, 2007). Após o estabelecimento do caminho biossintético, a próxima etapa é identificar as enzimas envolvidas na biossíntese proposta. Muitas vezes, esta etapa é limitante, pois muitas enzimas apresentam baixa atividade, ou são difíceis de serem extraídas da planta matriz. Para aquelas etapas da via biossintética nas quais não se conhecem os intermediários, a determinação da atividade enzimática pode ser dificultada. Nestes casos, o estudo das proteínas (proteoma) pode ser o caminho que fornecerá novas perspectivas na identificação das enzimas envolvidas em determinadas etapas do metabolismo secundário (CORSINO et al., 2000, MORANDIM et al., 2005). O crescente interesse pelo proteoma está associado às informações geradas pelos diferentes programas de sequência genômica, informações estas que promovem subsídios para antecipar os elementos estruturais relacionados a um dado metabólico cognato e descodificar seu maquinário biossintético. O uso da sequência genômica tornou-se uma ferramenta de rotina em todos os laboratórios do mundo permitindo a identificação de um grande número de clusters de genes biossitéticos com potencial para direcionar a produção de novos produtos naturais, além de possibilitar a elucidação de inúmeras vias biossintéticas. Com base nessas ferramentas, Oliveira e colaboradores (2013) relataram a importância do estudo interdisciplinar, envolvendo a química e biologia, principalmente a biologia molecular, para um melhor entendimento da química de produtos naturais, em especial de micro- organismos. As principais técnicas utilizadas para separar uma mistura complexa de proteínas são a eletroforese bidimensional em gel de poliacrilamida (2D-PAGE), e a espectrometria de massas. A eletroforese bidimensional foi desenvolvida inicialmente por O’FARREL (1975). Nesta técnica as proteínas são separadas em duas dimensões de acordo com duas propriedades independentes. Na primeira dimensão, focalização isoelétrica (IEF), as proteínas são separadas de acordo com seus pontos isoelétricos (pI). Na segunda dimensão, eletroforese em gel poliacrilamida com dodecil sulfato de Introdução ___________________________________________________________________ 42 sódio (SDS-PAGE) separa as proteínas de acordo com suas massas moleculares. Uma vez determinado o complexo protéico, este pode ser comparado com programas já disponíveis para análise de gel, onde as manchas visualizadas são analisadas por espectrometria de massas, utilizando a técnica MALDI-TOF (PASTERNAK, 2012; ROCHA et al, 2005). A identificação das proteínas é baseada na análise da sequência de aminoácidos, ou no mapeamento da cadeia peptídica através da digestão de polipeptídeos (impressão digital). Para tanto, os pesos moleculares e a sequência dos peptídeos obtidos são utilizados como base de dados para busca em um banco, permitindo a identificação de proteínas já conhecidas (CANTÚ et al, 2008; WILKINS et al., 1998; WILM et al., 1996). Muitas vezes é possível identificar e determinar a função de uma determinada proteína, sendo que a informação da sequência de aminoácidos pode ser utilizada para clonagem de genes. As principais etapas envolvidas na análise do proteoma estão descritas na Figura 7. Figura 7: Etapas fundamentais para análise do proteôma. tecidosExtração e remoção dos interferentes Revelação com Commassie blue e nitrato de prata Amostra de cultura de células ou Eletroforese SDS- PAGE Focalização isoelétrica; ponto isoelétrico Banco de dados Sequenciamento Espectrometria de massas Introdução ___________________________________________________________________ 43 1.7 Proposta biossintética para formação das piperamidas em espécies Piper. As amidas pirrolidínicas apresentam biogênese baseada em uma via mista envolvendo o chiquimato na formação das unidades C6-C3, o acetato, responsável pelo grupo acetil no final da extensão da cadeia carbônica, e a ornitina que fornece o anel pirrolidínico. As enzimas oxidoredutases do tipo citocromo P450 e S-adenosil metionina estão envolvidas na formação do grupo metilenodioxílico (Figura 8). 1.7.1 Formação dos fenilpropanoides (C6-C3) O ácido chiquímico é um intermediário chave na biossíntese de aminoácidos aromáticos, sendo a fenilalanina importante na formação dos fenilpropanóides e precursor de diversas classes de metabólitos secundários como flavonóides, ácido hidroxicinâmicos, antocianinas, dentre outros metabólitos, que desempenham diversas funções na biologia e ecofisiologia das plantas. O ácido cinâmico foi o primeiro precursor fenilpropanoídico, obtido pela trans-desaminação da L-fenilalanina pela ação da enzima fenilalanina amônia liase (PAL). Esse ácido é convertido para ácido p-cumárico pela ação da enzima cinamato 4-hidroxilase (C4H), em reação dependente da enzima citocromo do tipo P450. Em uma série sequencial de reações, outros fenilpropanóides, são obtidos por meio de reações de hidroxilações e metilações controladas pela hidroxilases, SAM O-metiltransferases, e deidratases (LANDOLINO e COOK, 2010; DEWICK, 2009), (Figura 9, p. 44). Figura 8: Biogênese das amidas pirrolidínicas N O O O P450 SAM fenilpropanóides acetil-CoA L-ornitina Introdução ___________________________________________________________________ 44 Figura 9: Proposta biossintética para os precursores fenilpropanoídico em P. arboreum (Dewick, 2009). CO2H HO OH OH NH2 CO2H CO2H CO2H OH CO2H OH E1 E2 E3 ácido chiquimico L-fenilalanina ácido cinâmico ácido p-cumárico ácido ferúlico CO2H HO OH ácido caféico MeO E1- fenilalanina amônia liase E2- cinamato 4-hidroxilase E3- p-cumarto 3-hidroxilase E4- ácido caféico O-metiltransferase O2/NADPH O2/NADPH E4 SAM 1.7.2 Extensão da cadeia lateral A ativação dos derivados hidroxicinâmicos e acetato livre, pela ação das enzimas ligases e transferases, em seus derivados tioéster, se configura no substrato para biossíntese de uma diversidade de metabólitos secundários. À partir de uma unidade iniciadora, malonil-CoA, via enzima poliacetil sintase (PKSs), a cadeia é extendida. A enzima poliacetil sintase é responsável por catalisar as reações de hidrólise e descarboxilação (DEWICK, 2009) (Figura 10, p. 45). E1- fenilalanina amônia liase E2- cinamato-4-hidroxilase E3- cumarato 3-hidroxilase E4- ácido caféico O-metiltransferase Introdução ___________________________________________________________________ 45 1.7.2 Formação do grupo metilenodioxílico O grupo metilenodioxílico, muito comum na classe dos fenilpropanoides (C6- C3), resulta da interação entre um grupo metoxila e um grupo hidroxila vicinal. As enzimas que participam da formação do anel metilenodioxílico são: a monoxigenase do tipo citocromo P450 e S-adenosilmetionina que utilizam NADPH e O2 como cofatores (LOBO e LOURENÇO, 2007). Primeiramente, a enzima citocromo P450 SCoA O SCoA O OO HO SCoA acetil-CoA malonil-CoA Figura 10: Ativação dos derivados do ácido cinâmico em derivados tioéster (DEWICK, 2009). -CO2 NADPH -H2O SCoA HO O O SCoA OO H SCoA HO O O SCoA HO OH O SCoA HO O HO O SCoA CoAS O Introdução ___________________________________________________________________ 46 hidroxila o metoxi formando um intermediário hemiacetal, posteriormente cicliza formando a ponte metilenodioxi (DEWICK, 2009) (Figura 11). 1.7.3 Formação do anel pirrolidínico. A proposta de formação da porção amídica das amidas pirrolidínicas é baseada na formação do anel pirrolidínico a partir da ornitina e posterior condensação ao tioéster obtido após a extensão da cadeia lateral. A formação do anel pirrolidínico a partir de ornitina é dependente de piridoxal fosfato (PLP), cofator de todas as aminotransferases. Para isso, a ornitina acopla com PLP, seguida da eliminação concertada de CO2 com a captação de um próton. Posteriormente, ocorre a hidrólise da base de Schiff para formar putrescina e restabelecer o piridoxal fosfato (2). Em seguida, a putrescina sofre desaminação oxidativa para formar o aldeído. A partir do aldeído, ocorre a formação da base de Schiff, seguida de uma redução, que vai gerar o anel pirrolidínico (3) (Figura 12, p. 47). Figura 11: Formação do grupamento metilenodioxílico (DEWICK, 2009). R R HO R HO HO R HO O R O O H O O R O2 NADPH O2 O2 O2 NADPH NADPH -H2O -H+ P450 R HO OHO H Introdução ___________________________________________________________________ 47 . Figura 12: Formação do anel pirrolidínico em Piper arboreum COOH NH2H H2N N CHO OHPOH2C Me H H2N N OHPOH2C Me O O H N H N OHPOH2C Me N H H H2N H N OHPOH2C Me N H H2N H N OHPOH2C Me N H H2N H H2O H N OHPOH2C Me N H H2N H H2O H N OHPOH2C Me NH2 H H2N H HO H2N NH2 L-ornitina piroxidal fosfato putrescina N N H desaminação oxidativa formação da base de Schiff N CHO OHPOH2C Me PLP H2N H O + -CO2 [H] anel pirrolidínico Introdução ___________________________________________________________________ 48 Experimentos in vivo utilizando ácido malônico marcado com radioisótopo, e ornitina marcada com carbono quatorze (SILVA, 2004) confirmaram que o anel pirrolidínico presente nas amidas pirrolidínica tem origem na via ornitina 1 – 4 (Figura 13). Fonte: SILVA et al., 2004. O O N O O O N O O O N O 5- R=CH3 6- R=H O O N O 1 2 3 4 Figura 13: Estruturas químicas das amidas pirrolidínica e fenilpropanóides isolados de Piper arboreum Aublet (Piperaceae) O O O O O Introdução ___________________________________________________________________ 49 Esses experimentos permitiram postular novas questões em relação à biossíntese das amidas, cruciais para o entendimento da sequência das reações envolvidas e consequente modulação enzimática das mesmas. A primeira questão está relacionada às etapas de oxidação do anel aromático, se acontecem na etapa anterior à condensação da unidade fenilpropanoídica e malonil-CoA, ou após. A mesma questão também permanece sem resposta em relação à condensação da ornitina. Todos esses aspectos serão fundamentais para determinar não somente a sequência de reações, mas também os sistemas enzimáticos envolvidos. A proposta biossintética de formação da piperilina está inserida na Figura 14, p. 50. Introdução ________________________________________________________________________________________________________________ 50 Figura 14: Proposta biossintética de formação da piperilina em Piper arboreum. OH NH2 O OH O OH O OH O HO HO OH O HO H3CO OH O O O O O N O N O H3CO HO N O HO PAL P450 P450 NADPH NADPH fenilalanina ácido cinâmico ácido p-cumárico ácido caféico ácido ferúlico ácido 3’,4-metilenodioxicinâmico P450 NADPH P450 P450 SAM SAM malonil-CoA pirrolidina piperoiltransferase piperilina Material e Métodos ___________________________________________________________ 51 2 OBJETIVOS - Determinar a sequência biossintética envolvida na formação da amida pirrolidínica pela administração de precursores marcados e avaliação dos produtos formados, por técnicas cromatográficas e espectrométricas; - Caracterizar as enzimas envolvidas nas etapas biossintéticas da amida pirrolidínica por eletroforese (SDS-PAGE 1D e 2D); - Avaliar a ação dos extratos e amidas pirrolidínicas em diferentes matrizes biológicas. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Solventes e equipamentos básicos Para extração e análises das substâncias foram utilizados solventes padrões analíticos (PA) das marcas Synth, Dinâmica, Vetec, água ultra-pura obtida no sistema Milli-Q Plus e solventes J. T. Baker para análises via CLAE. Os extratos e frações foram concentrados em evaporador rotatório (Buchi R-114), sob pressão reduzida. A dissolução dos extratos e frações foi realizada em banho de ultrassom (Unique), e as massas medidas em balança analítica (Kern 410 e Digimed KN5000L) ambas da Marconi. Para extração das enzimas foi utilizada centrífuga refrigerada e para armazenamento freezer – 80. 3.2 Cromatografia em camada delgada As placas utilizadas para cromatografia em camada delgada comparativa (CCDC) foram Alugram (Macherey-Nagel), 0.2 mm, sílica gel 60 com indicador fluorescente UV254, tamanho 20x20 cm, que foram posteriormente recortadas no tamanho 5x5 cm. Para revelação das substâncias as cromatoplacas foram expostas a vapores de iodo, irradiação de luz ultravioleta em 254 e 366 nm em gabinete CAMAG, nebulização com anisaldeído sulfúrico e dragendorff. O aquecimento das cromatoplacas borrifadas com reveladores foi realizado em estufa Gehaka G4023D à temperatura de 100°C por 5 min. Para cromatografia em coluna (CC) foi utilizada sílica gel 60 Mesh. Material e Métodos ___________________________________________________________ 52 3.3 Cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) Para análise via CLAE foram utilizados os sistemas Varian ProStar (sistema ternário modelo 410 e detector UV-Diodo Array modelo 330) e Shimadzu LC-10AD, nos modos analíticos e preparativos (sistema binário com auto injetor Shimadzu SIL- 10A e detector UV-Diode Array). Foram utilizadas colunas Phenomenex Gemini C18 analítica (250 mm x 4,60 mm, 5 μm); Phenomenex Luna C18 analítica (250 mm x 4,60 mm, 5 μm); Phenomenex Kinetex C18 analítica (250 mm x 4,60 mm, 5 μm) e Phenomenex Luna preparativa (250 mm x 21,20 mm, 10 μm). O clean-up das amostras para injeção em CLAE foi realizado utilizando cartuchos preenchidos com sílica de fase reversa (C18), seguido de filtração em membrana de teflon (0,20 µm) e as soluções das amostras foram acondicionadas em frascos de 2,0 mL. 3.4 Ressonância magnética nuclear (RMN) Os espectros de RMN foram obtidos nos espectrômetros Varian Inova, operando nas frequências de 500 e 300 MHz para o núcleo de 1H e de 125 e 75 MHz para o núcleo de 13C, respectivamente. Os solventes deuterados utilizados na dissolução das amostras foram DMSO-d6, CDCl3 e CD3OD, sendo utilizado TMS como referência interna. 3.5 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Espectrometria de massas (CLAE-EM) As análises por CLAE-EM foram realizadas em um cromatógrafo Shimadzu CBM-20 com as seguintes especificações: detector de UV (Shimadzu SPD-M20A), bombas de alta pressão (Shimadzu LC-20AD), desgaseificador (Shimadzu DGU-20A- 5) e bomba de infusão Cole Parmer acoplado ao Espectrômetro de Massas LCQ FLEET (Thermo Scientific®), equipado com dispositivo de inserção direta da amostra via análise por injeção em fluxo contínuo (FIA). A condição cromatográfica utilizada foi em gradiente de 60-100% MeOH em 60 minutos, coluna Phenomenex C18-Luna (250 x 4,6mm, 4μm) a temperatura ambiente, fluxo de 1,0 mL min-1, volume de injeção de 20 μL. As matrizes estudadas foram analisadas no modo de ionização por electrospray (ESI) e as fragmentações em múltiplos estágios (MS2, MS3, MSn) realizadas em uma interface do tipo ion-trap. A faixa de aquisição foi de m/z 50-1000, com dois ou mais eventos de varredura Material e Métodos ___________________________________________________________ 53 realizados simultaneamente no espectrômetro de massas LCQ. O primeiro evento foi uma varredura completa (full-scan) do espectro de massas para adquirir os dados de íons na faixa m/z estabelecida. O software Xcalibur (Thermo Scientific®) foi utilizado durante a aquisição e processamento dos dados espectrométricos. As análises por CLAE EM/EM foram realizadas em um cromatógrafo Agilent 1200 Series, autosampler 1200 Series, detector DAD 1260, bomba quaternária 1200, e forno para coluna 1200 Series. A coluna utilizada foi Phenomenex Kinetex C18 (250 x 4.6 mm) 5 μm, e os solventes utilizados como fase móvel foram H2O + 0.1% de ácido fórmico e metanol. O tempo de análise foi de 55 min, volume de injeção de 20 μL, fluxo de 1 mL.min-1 e temperatura da coluna 40 °C. Os espectros de massas foram obtidos em espectrômetro de massas 3200 QTRAP (Quadrupolo-íon trap linear), AB SCiex. Ionização por eletrospray (Turbo Íon Spray) modo positivo. Parâmetros da fonte de ionização no modo positivo: Íon Spray: 5500 V, Curtain gás:15 psi, temperatura: 550°C, gás 1: 45 psi, gás 2:40 psi, Interface heater: ON, DP (Declustering Potencial), 56.0 V, EP (Entrance Potencial) 4.5 V. Modo de varredura de íons: 150-550 Da. Energia de colisão: 25.0 V. 3.6 Eletroforese mono e bidimensional A análise de eletroforese SDS-PAGE 1D foi realizada utilizando-se a cuba Hoefer Mightly Small Mini-vertical Units SE 260. Para eletroforese 2D foi utilizando o sistema o Multiphor II para a focalização das proteínas. As tiras de gradiente de pH imobilizados (IPG) foram comercialmente obtidas na forma desidratada (GE Healthcare) e reidratadas em bandeja específica (DryStrip Reswelling) Tray, antes de serem utilizadas. Na segunda dimensão foi utilizada uma cuba de eletroforese SE 600 Ruby system. 3.7 Material vegetal Os frutos e as folhas da espécie Piper arboreum Aublet são materiais utilizados como fonte de enzimas e foram coletadas nas dependências do Instituto de Química, UNESP- Araraquara. A identificação da espécie foi realizada pelo Prof. Dr. Guillermo E.D. Paredes da Universidade Pedro Ruiz Gallo (Peru). Uma exsicata (Cordeiro-1936) está depositada no Herbário do Instituto de Botânica, São Paulo, SP. Procedimento Experimental____________________________________________________ 54 4 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 4.1 Preparo, extração e análise das folhas e frutos de Piper arboreum. O estudo fitoquímico das folhas e frutos da planta adulta de Piper arboreum foi realizado com o objetivo de isolar a piperilina, que foi utilizada como padrão cromatográfico nos experimentos de biossíntese. Para verificação do acúmulo da piperilina, foram utilizadas folhas e frutos in natura, coletados nas dependências do Instituto de Química em Araraquara. O material vegetal foi macerado em nitrogênio líquido e extraído com acetato de etila, utilizando banho ultrassom. Em seguida o solvente da fração acetato de etila foi evaporado à pressão reduzida. Os extratos das folhas e frutos foram analisados em cromatografia em camada delgada (CCD) utilizando diferentes sistemas de eluição, com a finalidade de se observar a presença da amida de interesse. Para revelação das placas, foram utilizados reveladores como vapores de iodo, ninhidrina e Dragendorff. Após verificação do acúmulo da amida por cromatografia planar, realizou-se análise por CLAE-UV-DAD, utilizando um gradiente exploratório com a finalidade de avaliar o perfil cromatográfico dos extratos das folhas e frutos. Para isto, fez-se uma extração em fase sólida (SPE), em cartuchos (Supelco®) de fase reversa (C18), ativados com 3,0 mL de MeOH e ambientados com 3,0 mL de MeOH 95%. Em seguida, as frações foram filtradas em discos de 0,2 µm de poro (Millipore®) e analisadas em CLAE-DAD, utilizando um gradiente 5-100% MeOH em 60 min., fluxo: 1,0 mL.min-1, volume de injeção, 20,0 μL; ʎ = 254 nm; Coluna C18, Phenomenex- Kinetex (4,6 x 250 mm, 5 μm). O pico de interesse (piperilina) nos extratos das folhas e frutos, foi analisado utilizando uma nova metodologia, que consistiu das seguintes condições: injeção da amostra: 20,0 μL, modo isocrático MeOH/H2O, fluxo: 1,0 mL.min-1, ʎ = 254 nm; Coluna C18, Phenomenex-Kinetex (4,6 x 250 mm, 5 μm). A partir da otimização do método cromatográfico foram coletadas folhas e frutos com o intuito de obter maior massa do padrão. Esses materiais foram secos em estufa a 30 ºC, triturados em moinho e extraídos por maceração em etanol. Foram feitas três extrações em aproximadamente sete dias. O extrato etanólico, depois de filtrado e solvente evaporado à pressão reduzida, foi colocado em capela de exaustão até que estivesse completamente seco. Posteriormente, o extrato etanólico das folhas foi Procedimento Experimental____________________________________________________ 55 submetido a partição líquido-líquido e o extrato dos frutos, submetido a coluna cromatográfica utilizando-se como suporte gel 60 eluída com solvente Hex:AcOEt em gradiente de polaridade. A quantidade de material fresco, seco e extrato etanólico está descrita na Tabela 3. Tabela 3: Massa dos extratos etanólicos de Piper arboreum Aublet. Parte da planta Massa fresca (g) Massa seca (g) Massa do extrato (g) Rendimento (%) Folha 3000,00 690,00 39,55 5,73 Fruto 250,00 35,00 4,11 11,74 Dos 39,55 g provenientes do extrato etanólico das folhas, 20,00 g foi então solubilizada em MeOH:H2O (4:1) e submetida a uma partição líquido-líquido com hexano, acetato de etila, metanol, hidroalcoólico. Foram obtidos 1,85 g de fração hexânica; 0,88 g de fração acetato de etila, 1,85 g de fração metanólica e 2,33 g de fração hidrometanólica. A fração hexânica (1,85 g) foi submetida a coluna cromatográfica, utilizando como fase estacionária sílica gel 60 mesh e sistema de solvente Hex:AcOEt em gradiente. Foram recolhidas 52 frações, sendo as frações 19- 36, (m = 79,6 mg), provenientes do sistema Hex:AcOEt (2:3), reunidas por apresentarem o mesmo perfil quando analisadas em CCD. Esta fração foi submetida a CLAE-preparativo no modo isocrático (condições: coluna Phenomenex C18, 10 µm (250 x 21,2 mm); eluente: MeOH:H2O (3:2); fluxo: 10 mL.min-1; tempo de análise: 60 min e ʎ = 254 nm). Foram coletadas 7 frações, as quais foram analisadas em CLAE- DAD modo analítico, sendo que a fração 4 (7,0 mg), apresentou-se pura quando analisada por CCD (Esquema 1, p. 56). O extrato etanólico dos frutos (4,0 g), foi submetido à coluna cromatográfica, utilizando-se como suporte, sílica gel 60 mesh e eluente Hex:AcOEt em gradiente de polaridade. Foram preparadas duas colunas, na primeira, foram recolhidas 38 frações, que após análise por CCD, foi observada a presença da piperilina, porém, em mistura. Foi preparada então uma nova coluna com as frações 13-16 (0,5806 g), onde foram recolhidas 35 frações. Após análise em CCD, verificou-se uma única mancha que foi atribuída a amida, nas frações 11-17. Estas frações foram reunidas e após secagem apresentou massa de 0,0448 g (Esquema 2, p. 57). Procedimento Experimental____________________________________________________ 56 A piperilina isolada das folhas e frutos de P. arboreum foi confirmada pelas análises de RMN e EM e comparação com dados da literatura (SILVA et al, 2002). Extrato etanólico das folhas m = 20 g Fr. Hexânica m = 1,85 g Fr. acetato de etila m = 0,88 g Fr. metanólica m = 1,85 g Fr. hidroalcoólica m = 2,33 g - MeOH:H2O (4:1) -Partição líquido-líquido - 300 mL x 3 -CC sílica gel 60 (70-230 mesh) Hex/AcOEt em gradiente Fr. (19-36) Hex/AcOEt 2:3 m = 0,075 g Fr. 4 (m = 0,007g) O O N O Esquema 1: Extração em etanol e partição líquido-líquido do extrato etanólico das folhas de Piper .arboreum. MeOH:H2O (3:2) F = 1ml/min, λ = 254nm Coluna C18 CLAE-preparativo 52 frações piperilina Procedimento Experimental____________________________________________________ 57 O O N O Extrato bruto etanólico m = 4,0 g Fr. 13-16 m = 0,5806 g CC sílica gel 60 (70-230 mesh) Hex/AcOEt em gradiente V= 500 mL Fr. 11-17 m = 0,0448 g CC sílica gel 60 (70-230 mesh) Hex/AcOEt em gradiente piperilina Esquema 2: Fracionamento cromatográfico do extrato etanólico dos frutos de Piper arboreum. 38 frações 35 frações Procedimento Experimental____________________________________________________ 58 4.2 Análise sazonal e circadiana da piperilina (1) Os estudos de análise sazonal e circadiana foram realizados visando determinar a época do ano e o horário de maior produção da amida, piperilina (1). Esses dados são importantes para a extração enzimática e análise da biossíntese. Folhas de P. arboreum foram coletadas mensalmente nas dependências do Instituto de Química, em Araraquara, de janeiro a dezembro de 2013, sempre no período da manhã. A variação circadiana foi monitorada no mês de junho nos horários de 8, 11, 14, 17, 20, 23, 2 e 5 h. Os dados de temperatura e precipitação foram obtidos do Instituto de Pesquisa Meteorológica de Bauru – SP. Amostras contendo aproximadamente 2,0 g de material vegetal foram trituradas em nitrogênio líquido, e extraídas em banho de ultrassom por 20 min., utilizando-se como solvente acetato de etila (200 mL). Depois de filtrado o solvente foi evaporado à pressão reduzida. Os extratos (10 mg) foram solubilizados em 3 mL de MeOH/H2O 4:1, e submetidos a um clean up em cartucho de extração em fase sólida (SPE). Para análise em CLAE foram utilizadas amostras com concentração de 1 mg.mL-1, filtradas em membrama de teflon (0,2 µm) e acondicionadas em frascos do auto-injetor do sistema CLAE-DAD, utilizando-se as seguintes condições: injeção da amostra: 20,0 μL, modo gradiente MeOH/H2O (3:2), fluxo: 1,0 mL.min-1, ʎ = 254 nm; Coluna C18, Phenomenex-Kinetex (4,6 x 250 mm e partículas de 5 μm). O tempo e porcentagem de MeOH estão descritas na Tabela 4. Tabela 4: Gradiente de eluição utilizados para as análises por CLAE Tempo (min) Percentagem de B 0,01 60 15 70 25 85 37 100 42 100 45 60 55 60 Procedimento Experimental____________________________________________________ 59 Para quantificar a piperilina nos extratos, foi preparada uma curva de calibração utilizando uma solução de 1,0 mg.mL-1 do padrão (piperilina). A partir desta solução, foram realizadas diluições seriadas em solução MeOH/H2O 4:1, obtendo-se soluções nas concentrações de 300, 200, 100, 80, 60, 40, 20, 10 e 5 µg/mL. As análises cromatográficas foram feitas em triplicata utilizando as condições descritas anteriormente para as demais amostras. A linearidade foi avaliada nos meses de janeiro à dezembro e durante 24 h, estimada pela análise de regressão linear através do método dos mínimos quadrados. A partir dos cromatogramas obtidos, calculou-se a concentração da amida em cada mês (análise sazonal) e durante um dia (análise circadiana). Para tanto, utilizou- se as áreas dos picos cromatográficos referentes a amida presente na amostra. A equação obtida na curva de calibração foi y = 202411x – 791903. 4.3 Estudos biossintéticos Para a realização do experimento de incorporação (Figura 15) foram utilizadas folhas da plantas adultas de P. arboreum, coletadas no período da manhã nas dependências do Instituto de Química. Em cada folha foi realizado um corte transversal no pecíolo e colocadas em um eppendorf contendo 200 µL de uma solução de CH313CO2Na/H2O (1,0 mg.mL-1). O experimento foi realizado em triplicata e mantido por 8, 24, 48 e 72 h., adicionando-se água sempre que necessário para manter o sistema hidratado. Figura 15: Incorporação de acetato de sódio marcado em folhas adultas de Piper arboreum. Fonte: Arquivo pessoal. Procedimento Experimental____________________________________________________ 60 Após o tempo previamente estabelecido, as folhas foram maceradas em N2 líquido, extraídas com acetato de etila utilizando banho de ultrassom (20 min.), em seguida o solvente foi filtrado e concentrado. Depois de seco em capela, os extratos foram submetidos a clean-up utilizando cartucho de C18 e analisado por CLAE- analítico. A piperilina foi isolada por CLAE-preparativo, e analisada por massas, não apresentando a incorporação de acetato marcado para esta análise. Desta forma, um novo experimento foi montado, seguindo o protocolo anterior. O extrato obtido desta análise, (66,7 mg) foi submetido à coluna cromatográfica de sílica gel 60 (70-230 mesh), utilizando como eluentes hexano/acetato de etila em gradiente de polaridade. Foram recolhidas 64 frações, sendo reunidas as frações 35-45, por apresentarem o mesmo perfil quando analisadas em CCD. Depois de seca em capela de exaustão, a amostra (5,3 mg) foi analisada por RMN e EM, confirmando a estrutura da piperilina, bem como a sua incorporação com acetato marcado. Em outro momento, foi realizado um experimento com a planta na fase jovem. Para isso sementes de P. arboreum foram coletadas nas dependências do Instituto de Química e colocadas em placa de Petri para verificar a viabilidade das sementes. Observou-se que as sementes estavam viáveis com 60% de germinação. Após a germinação, foi feita a semeadura em bandeja de isopor apropriada para produção de mudas e, posteriormente, transferidas para saquinhos apropriados (Figura 16). Mensalmente foram coletadas folhas e raizes das mudas e submetidas a análise em CLAE-DAD para verificação do acúmulo da amida por um período de 8 meses. Figura 16: Exemplar de Piper arboreum: teste de germinação (A), semeadura em células (B) e mudas em saquinhos (C). Fonte: Arquivo pessoal. A B C C Procedimento Experimental____________________________________________________ 61 4.4 Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) 4.4.1 Obtenção do extrato enzimático As folhas e frutos de P. arboreum, utilizadas para análise de eletroforese em gel de poliacrilamida, foram coletadas nas dependências do Instituto de Química- UNESP - Araraquara. Para a extração enzimática foram utilizadas três soluções tampão: acetato de amônio, 10 mM, pH = 6,8; fosfato de sódio 0,1 M, pH = 7,0 e borato de sódio, 0,1 M, pH = 8,8. A solução extratora foi preparada a partir de 30 mL de tampão contendo polivinilpirrolidona (PVPP 20%), ditiotreitol (DTT 10 mM), ácido etilenodiaminotetracético (EDTA 1 mM). Esta solução foi adicionada ao material vegetal (m = 6 g) previamente triturado em presença de nitrogênio líquido. A solução foi agitada em banho de gelo por aproximadamente 15 min e, após completa homogeneização, filtrada em gaze. O material foi transferido para um frasco apropriado, centrifugado por 10 min a 10.000 rpm, e temperatura de 4 ºC. O sobrenadante contendo o extrato enzimático foi utilizado como fonte de enzimas. 4.4.2 Dosagem protéica – Ensaio de Bradford modificado A determinação da concentração de proteína total das folhas jovens, adultas e frutos (Tabela 5, p. 62) foi realizada utilizando o método de Bradford modificado. O reagente foi preparado utilizando 500 mL de HCl 0,6 M pela adição de Coomassie Brilliant Blue G-250 suficiente para alcançar um valor de 1,3-1,5 unidades de absorbância em 465 nm (branco de H2O). Para a construção da curva de calibração foram preparadas diluições sucessivas, partindo de uma solução padrão de albumina bovina comercial contendo 1 mg.mL-1. Desta forma, foram avaliadas soluções de 1,00; 0,50; 0,25; 0,125; 0,062; 0,031 e 0,016 mg.mL-1. Em cubetas de poliestireno foram adicionados 50 µL destas soluções, e misturados com 1 mL de H2O deionizada e 1 mL do reagente de Bradford. Após homogeneização por inversão, e transcorridos 5 min. de incubação à temperatura ambiente, foi determinada a absorbância em 595 nm. A calibração do valor 0 foi realizada com a mistura do reagente de Bradford e H2O. A curva de calibração apresentou boa linearidade (R2 = 0,9927) como demonstrado na Figura 17, p.62). Procedimento Experimental____________________________________________________ 62 Tabela 5: Concentração proteica dos extratos enzimáticos das folhas e frutos de Piper arboreum. 4.4.3 Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE) 4.4.3.1. Soluções e reagentes necessários - Tampão de Separação (pH 8,8) - Tampão de Concentração (pH 6,8) TRIS 1,5 M SDS 0,4% p/v TRIS 0,5 M SDS 0,4% p/v Figura 17: Curva de calibração utilizando albumina como padrão protéico. Fração Solúvel Concentração mg.mL-1 Folha jovem 0,4690 Folha adulta (11 h) 0,3110 Folha adulta (23 h) 0,3235 Fruto 0,3127 y = 0,0116x + 0,0076 R² = 0,9927 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0 20 40 60 A b so rb â n c ia Concentração (mg.mL-1) Procedimento Experimental____________________________________________________ 63 - Solução Acrilamida-Bisacrilamida - Bisacrilamida 2% p/v 5. Solução tampão de corrida (pH 8,3) - Loading buffer Reagente Quantidade TRIS 0,83 mL (1,5 M - pH 6,8) glicerol 4 mL SDS 4 mL EDTA 37,2 mg azul de Bromofenol 0,4 mg H2O deionizada Completado com 10 mL Esta solução foi armazenada a -20 °C em alíquotas de 290 μL, sendo que antes do uso foram adicionados 13,5 μL de uma solução 0,5 M de DTT. 4.4.4 Preparo das amostras e dos padrões Após a determinação da concentração protéica nas folhas e frutos, as amostras foram submetidas à análise por eletroforese em gel de poliacrilamida. Inicialmente, as frações foram diluídas para uma concentração próxima a 1 mg.mL-1. As amostras foram preparadas misturando-se 20 μL destas com 10 μL de solução tampão de corrida (loading buffer) e aquecidas a 100 oC, durante 5 min. Estas soluções foram então centrifugadas a 9.000 rpm por 30 s e aplicadas ao gel. Como padrão foi utilizado 5 μL de uma solução de soro albumina bovina (Tabela 6, p. 64). A esta solução foram adicionados 25 μL de H2O deionizada e 10 μL de loading buffer. Os mesmos acrilamida 30% p/v bisacrilamida 0,8% p/v TRIS 3,025 g/L (0,025 M) Glicina 14,4 g/L (0,192 M) SDS 1 g/L Procedimento Experimental____________________________________________________ 64 procedimentos de aquecimento e centrifugação descritos para as amostras foram realizados para a solução padrão. O volume de cada aplicação no gel foi de 5 μL para as amostras e de 10 μL (eletroforese 1D) e 10 μL (eletroforese 2D) para os padrões. Tabela 6: Padrão protéico de soro de albumina bovina, utilizado no experimento de eletroforese e suas respectivas massas moleculares (KDa). 4.4.5 Preparo, desenvolvimento e revelação do gel Foram utilizados dois tipos de géis, o gel de concentração e o gel de separação. As proporções dos reagentes necessários para a preparação do gel estão listadas a seguir. 1 - Gel de separação Reagente Gel 12% Tampão de separação 1,25 mL Solução acril-bisacrilamida 2 mL H2O 1,72 mL PSA (10% p/v)* 50 μL TEMED 7 μL * Preparou-se no momento da utilização. Enzima MM (KDa) Fosforilase 97,0 Albumina sérica 66,0 Ovalbumina 45,0 Anidrase carbônica 30,0 Inibidora de tripsina 20,1 α-lactalbumina 14,4 Procedimento Experimental____________________________________________________ 65 2 - Gel de concentração Reagente Quantidade Tampão de concentração 375 μL Solução acril-bisacrilamida 150 μL H2O 770 μL bisacrilamida 2% 100 μL PSA (10% p/v)* 15 μL TEMED 2,5 μL * Preparou-se no momento da utilização. Cada gel foi transferido para a cuba de eletroforese 1D e foi adicionado o volume necessário da solução tampão de corrida, sendo aplicada uma intensidade de corrente de 40 mA (20 mA para cada gel). A voltagem utilizada foi de 300 V constante até o final da corrida, o qual foi verificado quando a linha de frente do corante (azul de bromofenol, para o caso de migração anódica, polo positivo) atingiu quase o final do gel de separação (tempo estimado de 2 hora e 30 min). Posteriormente, o gel foi retirado da cuba eletroforética e iniciou-se o processo de revelação com nitrato de prata (AgNO3). Para revelação o gel foi colocado em uma solução de 10% de ácido tricloroacético (etapa de fixação), na qual permaneceu por 60 min sob agitação. Esta solução foi então descartada e o gel lavado três vezes com água destilada (etapa de lavagem) permanecendo sob agitação por aproximadamente 30 min. A solução foi então descartada e adicionou-se uma solução de DTT (0,5 M), na qual o gel ficou sob agitação por mais 30 min (etapa de redução). Posteriormente, esta solução foi descartada e adicionou-se uma solução 0,1% de nitrato de prata, a qual foi descartada após 30 min. Em seguida, foi adicionada uma solução de carbonato de sódio 3%, contendo 0,085% de formaldeído (etapa de revelação), sendo que após 10-30s esta solução foi descartada, adicionando-se outra vez a mesma solução. Após o aparecimento das bandas relativas às proteínas, a reação foi finalizada adicionando-se uma solução 2,3 M de ácido cítrico (etapa de interrupção) até não se observar mais o desprendimento de CO2. A solução foi descartada, o gel lavado com Procedimento Experimental____________________________________________________ 66 água destilada por três vezes, e posteriormente digitalizado no equipamento Image Scanner. 4.4.6 Eletroforese em gel de poliacrilamida (2D SDS-PAGE) Para a análise por eletroforese em gel bidimensional (2D–PAGE), as proteínas foram submetidas a dois processos consecutivos (duas dimensões) de separ