UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO unesp PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (ZOOLOGIA) HISTÓRIA NATURAL DE PHYLLOMEDUSA AYEAYE (ANURA, HYLIDAE) NA SERRA DA CANASTRA, MINAS GERAIS MARÍLIA MERLI BORGES Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências do Câmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia) Abril - 2015 Borges, Marília Merli História natural de Phyllomedusa ayeaye (Anura, Hylidae) na Serra da Canastra, Minas Gerais / Marília Merli Borges. - Rio Claro, 2015 63 f. : il., figs., gráfs., tabs., fots. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro Orientador: Cynthia Peralta de Almeida Prado 1. Anuro. 2. Herpetologia. 3. Reprodução. 4. Anfíbios. 5. Bioacústica. I. Título. 597.8 B732h Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP MARÍLIA MERLI BORGES História Natural de Phyllomedusa ayeaye (Anura, Hylidae) na Serra da Canastra, Minas Gerais Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia). Orientadora: Cynthia Peralta de Almeida Prado Rio Claro 2015 MARÍLIA MERLI BORGES História Natural de Phyllomedusa ayeaye (Anura, Hylidae) na Serra da Canastra, Minas Gerais Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia). Comissão examinadora: ____________________________________ Dra. Cynthia Peralta de Almeida Prado (orientadora) ____________________________________ Dra. Cinthia Aguirre Brasileiro ____________________________________ Dr. Délio Pontes Baêta da Costa Rio Claro, 2 de abril de 2015 AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família, pelo suporte, apoio, por acreditarem em mim e sempre me amarem e aceitarem meus defeitos. Especialmente agradeço ao meu pai Claudio, meu irmão Orlando e aos meus avós Irahí e José, por serem meu núcleo sempre. Também gostaria de agradecer à Kátia, pelas conversas e por muitas vezes me entender tão bem, e aos “tudinhos”, João e Luizinho, por serem meus “novos” irmãos e por saber que posso contar com eles. Agradeço à minha orientadora Cynthia Prado, pela orientação, ensinamentos e paciência durante esse processo, e ao professor Célio Haddad, por ter aberto as portas do seu laboratório, onde sempre fui muito bem recebida. Também gostaria de agradecer, especialmente, ao Renato Nali, pela parceria e pelas inúmeras vezes em que me ajudou e corrigiu os meus textos, me deu dicas que foram de extrema importância para que este trabalho fosse realizado. Agradeço também às novas amizades, Cilene e Natália. Obrigada por sempre me receberem tão bem em Jaboticabal. Agradeço a todos do laboratório de Herpetologia da UNESP de Rio Claro, especialmente ao Danilo (Jesus), por ter me ajudado desde a escrita do projeto até o final, e à todos que me ajudaram nos campos: Renato, Cilene, Luíza Cholak, Paulo (Callithrix), Délio Bâeta, João Galharde, Danilo (Jesus) e Bruno Piato. Agradeço aos meus amigos, a família que escolhi em Rio Claro: Lídia (Brê), Luíza, Clara, Tainá, Rafael Borba (Mão), Carol (Baurú), Danilo (Jesus), Rafael (Fii), por estarem por perto desde a graduação, e às “Meninas de Minas”: Aline, Dri, Amanda (Doka), Bruna Rezende, Bruna Santine, Mari, Priscila e Stela por também serem meu porto seguro desde a infância. Agradeço ao meu namorado Guilherme Machado, pelo carinho, companhia e por tentar me ensinar a ser menos ansiosa (o que não é fácil). Finalmente, agradeço ao CNPq, pela bolsa concedida, e à FAPESP, pelo apoio ao projeto e recursos, ao ICMBIO, pela autorização de coleta, e ao INMET, pela disponibilização dos dados meteorológicos da área de estudo. “Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo.” (Manoel de Barros) SUMÁRIO Resumo ....................................................................................................................................... 6 Abstract ....................................................................................................................................... 7 Introdução Geral ......................................................................................................................... 8 Referências ............................................................................................................................... 11 Biologia reprodutiva de Phyllomedusa ayeaye (Hylidae, Phyllomedusinae) na Serra da Canastra, Minas Gerais ............................................................................................................. 18 Resumo ................................................................................................................................. 19 Introdução ............................................................................................................................. 20 Material e Métodos ............................................................................................................... 22 Resultados ............................................................................................................................. 26 Discussão .............................................................................................................................. 32 Referências ............................................................................................................................ 35 Apêndice: The advertisement and release calls of Phyllomedusa ayeaye (Anura: Hylidae), with comments on social context of emission ......................................................................... 44 Abstract ................................................................................................................................. 47 Introduction ........................................................................................................................... 48 Materials e Methods .............................................................................................................. 49 Results ................................................................................................................................... 50 Discussion ............................................................................................................................. 52 Acknowledgments ................................................................................................................. 53 Literature cited ...................................................................................................................... 54 Considerações Finais ................................................................................................................ 62 6 RESUMO No Brasil, até hoje foram descritas 988 espécies de anfíbios anuros. O grupo dos anfíbios é um dos mais ameaçados atualmente, principalmente devido à perda e modificação de habitats e doenças. Este estudo sobre a história natural de Phyllomedusa ayeaye (Anura: Hylidae) foi conduzido no Cerrado brasileiro, provavelmente a savana mais ameaçada do mundo. O riacho estudado está localizado na Serra da Canastra, Estado de Minas Gerais. Foram realizadas expedições mensais de outubro de 2013 à março de 2014 e foram incorporadas observações realizadas em dezembro de 2010, janeiro e fevereiro de 2011, abril à junho de 2011 e dezembro de 2014. Phyllomedusa ayeaye apresentou padrão reprodutivo intermediário entre explosivo e prolongado, amplexo do tipo axilar e modo reprodutivo típico do gênero. O número de machos cantando teve correlação positiva significativa com a temperatura do ar. Dos 41 machos amostrados, 14 foram recapturados entre uma e quatro vezes, totalizando 24 recapturas com um intervalo de tempo de até 13 mesese deslocamento máximo de 40 metros. Não houve diferença significativa no tamanho do corpo de machos capturados uma única vez e machos recapturados. Os machos cantaram sobre diversos substratos ao longo de um riacho temporário, principalmente sobre arbustos de Leandra sp. (Melastomataceae). As fêmeas foram significativamente maiores que os machos. As desovas foram encontradas em folhas dobradas de Leandra sp., contendo ovos amarelados e muitas cápsulas gelatinosas sem ovos. A média do N de ovos/desova foi de 29 ± 2,38 (N = 6) e a média do diâmetro dos ovos foi de 2,84 ± 0,02 mm (N = 109). O investimento reprodutivo (massa gônada/massa corpo*100) das fêmeas foi de 4,25 ± 0,35% (N = 3) e dos machos de 0,35 ± 0,05% (N = 14). Comportamentos agressivos incluindo de brigas e vocalizações foram registrados. Machos emitiram dois tipos de canto de anúncio, um canto simples, composto por uma sequência de notas curtas, e um canto composto, com uma sequência de notas curtas seguida de uma nota longa. Os cantos compostos foram emitidos quando a densidade de machos no local de reprodução foi maior. Sugerimos que a nota longa representa a parte agressiva do canto de anúncio misto. O canto de soltura também é composto por notas curtas, com maior variação de frequência e emitidos a uma taxa maior. A falta de informações sobre a história natural das espécies, como as aqui descritas, é o maior obstáculo na conservação da biodiversidade tropical. Palavras chave: Phyllomedusinae, atividade reprodutiva, sítios reprodutivos, vocalização, Cerrado. 7 ABSTRACT A total of 988 species of anuran amphibians are currently known for Brazil. Amphibians are among the most threatened groups nowadays, mostly due to loss and alteration of habitats and diseases. This study describes the natural history of Phyllomedusa ayeaye (Anura: Hylidae) and was conducted in the Brazilian Cerrado, probably the most threatened savanna in the world. The studied stream is located in the Serra Canastra mountain range, Minas Gerais state. Field expeditions were conducted monthly from October 2013 to March 2014 and sporadic observations made in December 2010, January 2011, February 2011, April to June 2011, and December 2014 were considered here. Species´ reproductive pattern was intermediate between explosive and prolonged, amplexus was axillary, and the species exhibited the reproductive mode typical for the genus. The number of males calling was significantly correlated with air temperature. From 41 males sampled, we recaptured 14 individuals from one to four times, totalizing 24 recaptures in a time interval of 13 months and a maximum displacement of 40 meters. There was no significant difference in body size between males captured just once and recaptured males. Males called from a variety of calling substrates along a temporary stream, mainly from shrubs of Leandra sp. (Melastomataceae). Females were significantly larger than males. Clutches were found on folded leaves of Leandra sp., containing yellowish eggs with eggless gelatinous capsules. Mean eggs per clutch was 29 ± 2.38 (N = 6) and mean egg diameter was 2.84 ± 0.02 mm (N = 109). The reproductive investment (gonad mass/body mass*100) of females was 4.25 ± 0.35% (N = 3) and that of males was 0.16 ± 0.05% (N = 14). Aggressive behaviors including fights and aggressive calls were registered. Males emitted two types of advertisement calls: a simple call, composed by a sequence of short notes and a composite call, with a sequence of short notes followed by a long note. The composite calls were emitted at high male density. We suggest that the long note may represent the aggressive part of a mixed advertisement call. The release call is also composed by short notes, with a wider range of frequencies and emitted more rapidly. Lack of natural history information, such as those described here, represents the main problem for tropical biodiversity conservation. Keywords: Phyllomedusinae, reproductive activity, reproductive sites, calling activity, Cerrado 8 INTRODUÇÃO GERAL Até hoje foram descritas 7340 espécies de anfíbios no mundo, sendo 6449 anuros (Frost, 2014). A maior diversidade de anfíbios anuros é encontrada na região Neotropical (Duellman, 1988), onde apenas no Brasil são conhecidas 988 espécies de anuros, representando 19 famílias e 87 gêneros (Segalla et al., 2014). Apesar desta grande diversidade, os anfíbios são atualmente um dos grupos animais mais ameaçados (Cushman, 2006). A perda e modificação de habitats, bem como doenças, estão entre as principais causas do declínio global de anfíbios (e.g. Cushman, 2006; Becker et al., 2007; Skerratt et al., 2007; Becker & Zamudio, 2011). A perda de habitats reduz a diversidade de anfíbios (Cushman, 2006; Becker & Zamudio, 2011), isola populações (Arens et al., 2007; Becker et al., 2007), aumenta a endogamia (Andersen et al., 2007; Becker et al., 2007) e interrompe o ciclo de vida dos anfíbios, quebrando os elos entre os habitats terrestres e aquáticos (Cushman, 2006; Becker et al., 2007; Becker et al., 2009; Becker & Zamudio, 2011). Além disso, perturbações na vegetação natural acarretam em mudanças na estrutura dos ecossistemas, alterando o clima (Costa & Foley, 1998; Becker & Zamudio, 2011) e os ciclos hidrológicos (Webb et al., 2005, Becker & Zamudio, 2011), aumentando a susceptibilidade dos anfíbios a doenças (Patz et al., 2000; Stuart et al., 2004; Becker & Zamudio, 2011). O Brasil possui dois dos 34 “hotspots” mundiais prioritários para a conservação biológica: o Cerrado e a Mata Atlântica (Myers et al., 2000; Mittermeier et al., 2004). O Cerrado, onde este estudo foi realizado, é o segundo domínio morfoclimático em extensão, representando 23% do território nacional (Ratter et al., 1997) e, provavelmente, a savana mais ameaçada do mundo (Ratter et al., 1997; Myers et al., 2000; Silva & Bates, 2002; Klink & Machado, 2005). Uma das principais causas do desflorestamento no Cerrado é o desenvolvimento do agronegócio (Ratter et al., 1997; Klink & Machado, 2005), porém, apenas uma pequena parcela da área deste domínio encontra-se protegida por Unidades de Conservação (Ratter et al., 1997; Klink & Machado, 2005; Araújo & Almeida-Santos, 2011). Segundo Diniz-Filho et al. (2004), os esforços para a conservação dos anuros no Cerrado devem ser concentrados em pelo menos 10 diferentes regiões do Brasil Central, incluindo sete estados diferentes, dentre eles, o estado de Minas Gerais. O efeito das mudanças no habitat sobre as espécies depende de traços da sua história natural (Becker et al., 2007; Loyola et al., 2007), por isso espécies com modos 9 de desenvolvimento diferentes, por exemplo, necessitam de diferentes estratégias de conservação para serem efetivamente protegidas (Loyola et al., 2007). Informações insuficientes para direcionar os esforços de conservação são o maior obstáculo na conservação da biodiversidade tropical (Howard et al., 1998; Loyola et al., 2007; Loyola et al., 2008). Deste modo, destacamos a importância destes estudos na conservação dos anuros, já que traços da história de vida das espécies não somente dependem de particularidades do habitat, mas também podem restringir o uso de habitat como um todo por cada grupo (Loyola et al., 2007). Segundo Salthe & Duellman (1973), modo reprodutivo é a combinação de características que incluem local de oviposição, características do ovo e desova, taxa e duração do desenvolvimento, estágio e tamanho das larvas recém-eclodidas e tipo de cuidado parental, se presente. A maior diversidade de modos reprodutivos é encontrada nos Neotrópicos (Haddad & Prado, 2005). A forte pressão de predação sobre ovos e larvas aquáticas, possibilidade de dessecação dos ovos, imprevisibilidade de chuvas, disponibilidade de oxigênio e recursos alimentares, temperatura adequada ao desenvolvimento de ovos e embriões, entre outros, são apontadas como possíveis forças seletivas relacionadas à evolução de modos reprodutivos especializados em anuros (ver Haddad & Prado, 2005). São conhecidos 39 modos reprodutivos em anfíbios anuros e este grupo exibe a maior diversidade reprodutiva que qualquer outro grupo de tetrápodes (Duellman & Trueb, 1994; Haddad & Prado, 2005). Diferente de modo reprodutivo, uma estratégia reprodutiva pode ser vista como uma combinação de características fisiológicas, morfológicas e comportamentais que agem em conjunto para produzir o número ideal de filhotes em determinadas condições ambientais (Duellman & Trueb, 1994). Dentre as estratégias reprodutivas, temos o padrão de atividade reprodutiva, sendo que espécies diferentes respondem a diferentes estímulos, bióticos e abióticos, ou a uma combinação deles, para iniciar seu período reprodutivo (Oseen & Wassersug, 2002; Steen et al., 2013). Entre os fatores abióticos, estudos apontam que a atividade reprodutiva dos anuros é fortemente influenciada pela pluviosidade e temperatura (e.g. Bertoluci & Rodrigues, 2002; Oseen & Wassersug, 2002; Saenz et al., 2006; Steen et al., 2013; Walls et al., 2013). Nas regiões com clima sazonal, tais como o Cerrado e o Pantanal, a precipitação parece ser o principal fator relacionado à atividade reprodutiva dos anuros (Duellman & Trueb, 1994; Brasileiro et al., 2005; Prado et al., 2005). 10 A comunicação acústica possui um papel central no comportamento reprodutivo dos anuros (Brenowitz & Rose, 1999) e, devido ao complexo repertório vocal frequentemente encontrado, é um dos tópicos mais estudados nesse grupo (Wells, 2007). Machos de uma única espécie, geralmente, emitem vários tipos de canto, cada um com um papel social diferente (Costa & Toledo, 2013; Toledo et al., 2014). O canto de anúncio, por exemplo, é emitido por machos de muitas espécies de anuros que se agregam durante a noite na estação reprodutiva para formar um coro estável. As fêmeas visitam os coros e escolhem os machos baseadas nas características das vocalizações (Brenowitz & Rose, 1999). Além disso, vocalizações também são importantes para defesa de território e para evitar conflitos e, consequentemente, evitar injúrias (Bastos & Haddad, 2002). A subfamília Phyllomedusinae, atualmente com 59 espécies (Frost, 2014), constitui uma das linhagens filogenéticas mais distintas dentre os Hylidae neotropicais, principalmente pela sua pupila vertical, colorido dorsal sempre verde, geralmente com cores vivas nas partes ocultas dos membros e da região inguinal (Caramaschi & Cruz, 2002). O gênero mais especioso da subfamília é Phyllomedusa, com 30 espécies (Frost, 2014), sendo que 22 ocorrem no Brasil (Segalla et al., 2014). A espécie do presente estudo, Phyllomedusa ayeaye pertence ao grupo de P. hypochondrialis, composto por nove espécies de pequeno porte: P. ayeaye, P. azurea, P. centralis, P. hypochondrialis P. megacephala, P. nordestina, P. oreades, P. palliata e P. rohdei (Caramaschi, 2006; Faivovich et al., 2010). A distribuição de P. ayeaye era conhecida como restrita à sua localidade tipo no Morro do Ferro (21°48' S, 46°35' O; 1400-1540 m), município de Poços de Caldas, em Minas Gerais, Brasil (Araújo et al., 2007). Porém, foram encontrados indivíduos adultos no município de Pedregulho, no estado de São Paulo, e em São Roque de Minas, em Minas Gerais (Araújo et al., 2007), ambas localidades na Serra da Canastra e imediações. Estes novos registros demonstraram que a espécie está distribuída a 175 km ao norte e à 200 km a noroeste da localidade tipo (Araújo et al., 2007). Estas duas novas localidades de ocorrência estão inseridas em Unidades de Conservação, a primeira no Parque Furnas do Bom Jesus e a segunda no Parque Nacional da Serra da Canastra (Araújo et al., 2007; Giovanelli et al., 2008). Apesar de Phyllomedusa ayeaye constar como criticamente ameaçada na Lista Vermelha da IUCN (IUCN, 2014), estes novos registros, juntamente com a sinonimização da espécie P. itacolomi (Caramaschi et al., 2006) à P. ayeaye (Baêta et al., 2009), fizeram com que a espécie fosse retirada da nova Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (ICMBIO, 2014). 11 Apesar de existirem muitos trabalhos sobre biologia reprodutiva de espécies do gênero Phyllomedusa (e.g., Vaira, 2001; Abrunhosa & Wogel, 2004; Wogel et al., 2005; Costa et al., 2010; Venancio & Melo-Sampaio, 2010; Oliveira et al., 2012), estudos sobre Phyllomedusa ayeaye são raros (e.g., Caramaschi, 2006; Araújo et al., 2007; Giovanelli et al, 2008; Monteiro et al., 2011) e informações detalhadas sobre a ecologia, o comportamento e a distribuição desta espécie ainda são escassas (Giovanelli et al., 2008). Desta forma, este estudo teve como objetivos principais descrever o uso de hábitat, a biologia reprodutiva e o repertório vocal de P. ayeaye. O estudo foi realizado em um riacho temporário, localizado na área rural do município de Sacramento (19°51’S; 47°26’O), no estado de Minas Gerais, a aproximadamente 60 km do limite do Parque Nacional da Serra da Canastra. Tivemos como objetivos determinar o período de atividade reprodutiva da espécie, descrever os sítios de canto, uso de habitat, sítios de oviposição, bem como medir o investimento reprodutivo (IR), o número de ovos por desova, tamanho dos ovos e verificar dimorfismo sexual em tamanho de machos e fêmeas. Também fizemos alguns registros de comportamento reprodutivo e territorial. No apêndice, apresentamos a descrição dos cantos de anúncio e de soltura de P. ayeaye. REFERÊNCIAS ABRUNHOSA, P. A; WOGEL, H. 2004. Breeding behavior of the leaf-frog Phyllomedusa burmeisteri (Anura: Hylidae). Amphibia-Reptilia, v. 25, n. 2, p. 125 - 135. 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A espécie possui amplexo axilar e modo reprodutivo típico do gênero. Alguns indivíduos foram capturados mais de uma vez, em um intervalo de até 13 meses e ocorreu o deslocamento máximo de 40 metros. Não houve diferença significativa no tamanho de machos capturados apenas uma vez e dos machos recapturados. Machos vocalizaram sobre substratos variados ao longo de um riacho temporário, principalmente sobre arbustos de Leandra sp. (Melastomataceae). O CRC e a massa das fêmeas foram significativamente maiores que os dos machos. Encontramos desovas em folhas dobradas de Leandra sp., contendo ovos amarelados e muitas cápsulas gelatinosas vazias. A média do N de ovos por desova foi de 29 ± 2,38 (N = 6) e a média do diâmetro dos ovos foi de 2,84 ± 0,02 mm (N = 109). O investimento reprodutivo das fêmeas (massa das gônadas/massa do corpo*100) foi de 4,25 ± 0,35% (N = 3) e dos machos de 0,35 ± 0,05% (N = 14). Observamos comportamento agressivo, incluindo brigas ou vocalizações agressivas. Estudos sobre a história natural dos anfíbios anuros são extremamente importantes para podermos direcionar melhor as estratégias de conservação. Palavras-chave: Anura, história natural, comportamento reprodutivo, sítios de reprodução, Cerrado 20 INTRODUÇÃO A região Neotropical abriga a maior diversidade de anfíbios anuros do mundo (Duellman, 1988), a qual está associada a uma grande diversidade de modos reprodutivos (ver Haddad & Prado, 2005). O Brasil é o país com a maior riqueza de anuros do mundo, atualmente com 988 espécies descritas (Segalla et al., 2014). Apesar disso, muito pouco se conhece sobre as espécies brasileiras, cuja história natural continua sendo descrita em pleno século XXI (e,g., Nali & Prado, 2012; Camurugi & Juncá, 2013). Aliado a esse desconhecimento, os anfíbios atualmente estão entre os animais mais ameaçados de extinção em decorrência, principalmente, de perda e modificação de habitats, bem como doenças (e.g. Cushman, 2006; Becker et al., 2007; Skerratt et al., 2007; Becker & Zamudio, 2011). O efeito das mudanças no habitat sobre as espécies depende de traços da sua história de vida (Becker et al., 2007; Loyola et al., 2007), por isso espécies com modos de desenvolvimento diferentes necessitam de diferentes estratégias de conservação para serem efetivamente protegidas (Loyola et al., 2007). Desta forma, informações insuficientes para direcionar os esforços de conservação são o maior obstáculo atual para a conservação da biodiversidade tropical (Howard et al., 1998; Loyola et al., 2007; Loyola et al., 2008). No contexto das histórias de vida, uma estratégia reprodutiva pode ser vista como uma combinação de características morfológicas, fisiológicas e comportamentais que agem em conjunto para produzir um número ótimo de filhotes em determinadas condições ambientais (Duellman & Trueb, 1994). Alguns dos principais componentes das estratégias reprodutivas incluem o controle extrínseco e intrínseco do ciclo reprodutivo, fecundidade, incluindo número e tamanho dos ovos, e investimento reprodutivo (Duellman & Trueb, 1994). Em anfíbios anuros, o investimento reprodutivo, número e tamanho dos ovos são fortemente influenciados pelo tamanho da fêmea e o modo reprodutivo da espécie (e.g., Crump, 1974; Prado & Haddad, 2005). Além disso, tais medidas reprodutivas têm sido usadas para se estimar o custo energético da reprodução em fêmeas, bem como para se verificar as consequências desse investimento sobre a sobrevivência da prole e aptidão (e.g., Crump & Kaplan, 1979; Lemckert & Shine, 1993; Räsänen et al., 2005; Dziminski & Roberts, 2006). Em relação aos machos de anuros, tamanho do corpo, comportamento territorial, fidelidade ao sítio de canto, persistência na atividade de vocalização, bem como o investimento em gônadas, são características relacionadas a variações na aptidão (e.g., sucesso reprodutivo) e sobrevivência, devido à exposição a predadores (e.g., Wells, 1977a; Wells, 1979; Hinshaw & Sullivan, 1990; Roithmair, 1992; Lemckert & Shine, 1993; Prado & Haddad, 2003). 21 Em relação ao controle extrínseco do ciclo reprodutivo, características fisiológicas, tais como a ectotermia e uma pele altamente permeável, e a alternância, na maioria das espécies, de uma fase larval aquática e uma adulta terrestre (Wells, 2007), faz com que a atividade reprodutiva dos anfíbios seja extremamente influenciada por fatores abióticos, tais como precipitação, umidade e temperatura (e.g. Bertoluci & Rodrigues, 2002; Oseen & Wassersug, 2002; Saenz et al., 2006; Steen et al., 2013; Walls et al., 2013). Nas regiões com clima sazonal, tais como o Cerrado e o Pantanal, a precipitação parece ser o principal fator relacionado à atividade reprodutiva dos anuros (Duellman & Trueb, 1994; Brasileiro et al., 2005; Prado et al., 2005). Modos reprodutivos nos quais ovos são depositados em ambiente terrestre, e posteriormente girinos completam seu desenvolvimento na água, evoluíram independentemente em diferentes famílias de anuros (Haddad & Prado, 2005; Wells, 2007). Espécies de pererecas pertencentes ao gênero Phyllomedusa, por exemplo, depositam seus ovos sobre folhas pendentes acima da vegetação, as quais são enroladas ou dobradas sobre os ovos pelo casal, e os girinos caem na água, onde completam seu desenvolvimento (modo 24 sensu Haddad & Prado, 2005; Faivovich et al., 2010). Apesar de existirem trabalhos sobre biologia reprodutiva de espécies do gênero Phyllomedusa (e.g. Vaira, 2001; Abrunhosa & Wogel, 2004; Wogel et al., 2005; Costa et al., 2010; Venancio & Melo-Sampaio, 2010; Oliveira et al., 2011), e sobre distribuição e taxonomia da espécie (e.g. Caramaschi, 2006; Araújo et al., 2007; Giovanelli et al, 2008), informações detalhadas sobre a ecologia e o comportamento reprodutivo de Phyllomedusa ayeaye são inexistentes. Diante do exposto, neste estudo, investigamos a biologia reprodutiva de uma população de Phyllomedusa ayeaye em um riacho da Serra da Canastra, no estado de Minas Gerais. Nossos objetivos foram: (i) determinar o período de atividade reprodutiva e a influência de fatores abióticos (temperatura, precipitação e umidade relativa do ar); (ii) descrever e caracterizar os sítios de canto por parte dos machos; (iii) caracterizar os sítios de oviposição; (iv) medir o investimento reprodutivo (IR) em machos e fêmeas, número e tamanho dos ovos; e (v) verificar a existência de dimorfismo sexual em tamanho. 22 MATERIAL E MÉTODOS A espécie de estudo A espécie Phyllomedusa ayeaye pertence à família Hylidae, subfamília Phyllomedusinae, atualmente com 59 espécies (Frost, 2014). O gênero Phyllomedusa reúne 30 espécies (Frost, 2014) divididas em quatro grupos monofiléticos (Faivovich et al., 2010). Phyllomedusa ayeaye pertence ao grupo de P. hypochondrialis, composto por nove espécies de pequeno porte: P. ayeaye, P. azurea, P. centralis, P. hypochondrialis, P. megacephala, P. nordestina, P. oreades, P. palliata e P. rohdei (Caramaschi, 2006; Faivovich et al., 2010). A distribuição de P. ayeaye era conhecida como restrita à sua localidade tipo, no Morro do Ferro (21°48' S, 46°35' O; 1400-1540 m), município de Poços de Caldas, em Minas Gerais (Araújo et al., 2007). Porém, foram registrados indivíduos adultos no município de Pedregulho, no estado de São Paulo, e em São Roque de Minas, em Minas Gerais (Araújo et al., 2007). Estas novas localidades estão inseridas em Unidades de Conservação, a primeira no Parque Furnas do Bom Jesus e a segunda no Parque Nacional da Serra da Canastra (Araújo et al., 2007; Giovanelli et al., 2008). Além disso, a espécie P. itacolomi descrita por Caramaschi et al. (2006) da localidade de Lagoa Seca, Parque Estadual do Itacolomi, município de Ouro Preto, estado de Minas Gerais, foi sinonimizada a P. ayeaye (Baêta et al., 2009), ampliando sua distribuição até outras duas Unidades de Conservação: Parque Estadual do Itacolomi (PEI) e Reserva Particular do Patrimônio Natural Ovídio Pires (Baêta et al., 2009). Área de estudo O estudo foi realizado na área rural do município de Sacramento, MG (19°51’S; 47°26’O), em fazendas próximas à Represa de Peixoto, área localizada a aproximadamente 350 km da localidade-tipo, e 60 km do limite do Parque da Serra da Canastra (Figura 1A), o qual se encontra na mesma cadeia montanhosa e apresenta características fitofisionômicas e climáticas muito semelhantes às da área de estudo. As principais fitofisionomias encontradas são florestas mesófilas de encosta, capões, cerradão, cerrado, campo cerrado, campo limpo e campo rupestre (Romero & Nakajima, 1999). O clima da região é mesotérmico de inverno seco, com temperaturas variando entre 18 e 32°C no verão, e entre 3 e 13°C no inverno (Araújo et al., 2009). As chuvas se concentram entre os meses de outubro e março, com precipitação total anual variando entre 1300 - 1700 mm (Queirolo & Motta-Junior, 2007). O relevo apresenta topos achatados e arredondados na parte superior, com encostas escarpadas em forma de cuestas e cânions, predominando os latossolos (Araújo et al., 2009). 23 Figura 1. (A) Vista geral da área de estudo, mostrando a represa de Peixoto ao fundo, município de Sacramento, Minas Gerais. (B) Margens do riacho amostrado (dezembro de 2014), município de Sacramento, Minas Gerais. A biologia reprodutiva de P. ayeaye foi estudada em um riacho temporário (20°13’09,9”S; 47°06’21”O; altitude 880 m; Figura 1B), localizado a aproximadamente 7 km em linha reta da Represa de Peixoto. O riacho apresenta água cristalina, com leito rochoso, onde se formam poços. A vegetação nas margens é composta principalmente por vegetação herbácea e arbustiva, não ultrapassando 2,0 m de altura, e algumas árvores mais altas esparsas. O riacho permanece com água corrente por boa parte do ano, mas na seca é comum formarem-se poços de água parada. O riacho encontra-se em área elevada com leve declive, sendo mais estreito na parte superior e formando um alagado um pouco maior mais abaixo, próximo à estrada (Figura 1B). As amostragens foram realizadas ao longo do riacho, em um trecho de aproximadamente 75 metros. Coleta de dados Atividade reprodutiva, uso de habitat e fidelidade aos sítios de canto As coletas e observações em campo foram realizadas em cerca de três noites por mês (2 – 4 noites), entre dezembro de 2010 e junho de 2011 e de outubro de 2013 a março de 2014, principalmente no período de chuvas, quando se concentra a atividade reprodutiva da espécie. 24 As observações começavam no entardecer, a partir das 18 h, e continuavam até que a atividade dos indivíduos diminuísse, entre 24 h e 1 h da manhã. Os indivíduos foram localizados no local de reprodução, a partir de buscas auxiliadas pela vocalização dos machos, utilizando lanternas, evitando que o foco central fosse direcionado diretamente aos indivíduos (e.g., Nali & Prado, 2012; Toledo, 2004). O número de machos em atividade de vocalização foi registrado a cada visita ao campo, sempre no mesmo horário, entre 20:30 h e 21:00 h. No momento do registro, foram medidas as temperaturas do ar e da água, com termômetro de mercúrio com precisão de 0,5°C, e a profundidade dos riachos, com trena com precisão de 0,5 cm. Dados de umidade relativa do ar, temperatura média mensal e precipitação total mensal foram obtidos a partir da estação meteorológica de Sacramento, fornecidos pelo INMET – Instituto Nacional de Meteorologia. A ocupação de habitat pelos indivíduos de P. ayeaye foi registrada por caracterização dos microambientes utilizados para reprodução, tais como os sítios de vocalização e oviposição (e.g. Nali & Prado, 2012). Os sítios de canto utilizados pelos machos foram caracterizados de acordo com o tipo de substrato utilizado (e.g., folhas, galhos, solo), altura do poleiro e distância do poleiro até a margem do riacho. Os riachos foram também visitados durante o dia à procura de desovas. Para verificar a fidelidade dos machos aos sítios de canto, a cada visita ao local de estudo, no período entre outubro de 2013 e março de 2014 e em dezembro de 2014, os machos (N = 33) eram capturados e pesados com dinamômetro (0,1 g) e medidos no comprimento rostro-cloacal (CRC) com paquímetro (0,01 mm). Os machos foram então fotografados com câmera digital NIKON Coolpix L310 para posterior reconhecimento individual feito por meio de marcas naturais nas coxas e nos flancos (Bradfield, 2004; Kenyon et al., 2010). Os sítios de canto foram marcados com fita adesiva para facilitar as buscas nas noites subsequentes. Investimento reprodutivo, desovas, ovos e dimorfismo sexual em tamanho As desovas (N = 7) foram coletadas e fixadas em formalina 5%. O número de ovos por desova foi determinado e o diâmetro de todos os ovos de cada desova medidos sob estereomicroscópio Nikon SMZ 1500, utilizando o programa NIS-Elements AR. Adicionalmente, fêmeas grávidas foram capturadas, sacrificadas com xilocaína 10%, fixadas em formalina 10% e preservadas em álcool 70%, para contagem e medida dos ovócitos maduros (Prado & Haddad, 2005). Fêmeas capturadas no campo e não coletadas foram pesadas com dinamômetro (0,1 g) e medidas no comprimento rostro-cloacal (CRC) com paquímetro (0,01 mm). No laboratório, 25 além do CRC, as fêmeas preservadas tiveram sua massa do corpo e ovários maduros pesados em balança de precisão (0,001 g) (Prado & Haddad, 2005). A porcentagem da massa dos ovários em relação à massa corporal foi utilizada como medida de investimento reprodutivo (IR). O mesmo procedimento foi feito para os machos, com relação aos testículos (Prado & Haddad, 2003; Prado & Haddad, 2005). Análises Estatísticas A normalidade dos dados foi testada usando o teste de Kolmogorov-Smirnov (Zar, 1999). Para testar a influência dos fatores climáticos sobre a atividade reprodutiva da espécie, utilizamos a análise não-paramétrica de correlação múltipla de Kendall (Zar, 1999). O número de machos observados em atividade reprodutiva a cada visita, por 33 noites, foi correlacionado com a temperatura da água e do ar medidos nas noites de coleta. O número máximo de machos em atividade a cada mês, totalizando 12 meses, foi correlacionado com a precipitação total mensal, temperatura média mensal e média da umidade relativa do ar mensal (e.g., Nali & Prado, 2012). Para verificar a existência de dimorfismo sexual em tamanho, as médias de CRC e massa de machos e fêmeas foram comparadas por meio do teste não-paramétrico de Mann-Whitney (Zar, 1999). Para verificar a influência do tamanho do corpo na fidelidade ao sítio de canto, comparamos o tamanho médio de machos (CRC e massa) recapturados no mesmo local, ou proximidades (aprox. raio de 2 m), com aquele de machos capturados apenas uma vez, utilizando o teste não-paramétrico de Mann-Whitney (Zar, 1999). Os indivíduos (CFBH32772 - CFBH32779, CFBH36024 - CFBH36027, CFBH 36030 - CFBH36032, CFBH36050 - CFBH36052), gravações, desovas e girinos foram depositados na coleção de anfíbios CFBH do Departamento de Zoologia, I.B., UNESP de Rio Claro, São Paulo. 26 RESULTADOS Atividade reprodutiva e influência de fatores climáticos Machos cantaram de outubro de 2013 a fevereiro de 2014, mas houve um pico de atividade em novembro de 2013, o qual foi decrescendo até fevereiro de 2014 (Figura 2). O número de machos cantando por mês variou de dois indivíduos (fev/2014) a 13 indivíduos (nov/2013; Figura 2). Figura 2. Abundância de machos de Phyllomedusa ayeaye cantando por mês, município de Sacramento, Minas Gerais. Também foi observado um evento de reprodução explosiva de 14 a 16 de dezembro de 2010, onde encontramos uma fêmea e um casal em amplexo axilar (Figura 3). 0 2 4 6 8 10 12 14 N M ac h o s Meses 2010 2011 2013 2014 27 Figura 3. Casal de Phyllomedusa ayeaye em amplexo axilar, município de Sacramento, Minas Gerais. O número máximo de machos em atividade por mês amostrado teve correlação positiva significativa com a temperatura média mensal (Coeficiente de Kendall r = 0,50; P < 0,05; N = 12). Também houve correlação positiva entre o N de machos vocalizando a cada noite com a temperatura do ar na noite do registro (Coeficiente de Kendall r = 0,35; P < 0,05; N = 33). Não houve correlação entre número máximo de machos em atividade por mês amostrado e precipitação total mensal (Coeficiente de Kendall r = 0,17; P > 0,05; N = 12), bem como não houve correlação entre o número máximo de machos ativos por mês amostrado e média da umidade relativa do ar mensal ( Coeficiente de Kendall r = 0,016; P > 0,05; N = 12). Também não houve correlação entre o número de machos ativos a cada noite com a temperatura da água registrada no local (Coeficiente de Kendall r = 0,14; P > 0,05, N = 33). Caracterização do sítio de canto Os machos de Phyllomedusa ayeaye cantaram principalmente sobre a vegetação às margens do riacho. Machos diferentes foram observados vocalizando no mesmo arbusto, mas nunca no mesmo galho. Os sítios de vocalização da espécie foram galhos, folhas, gramíneas, sobre o solo e sobre bromélias, principalmente galhos e folhas, incluindo gramíneas, localizados logo acima da água (Figura 4). A altura média acima da água foi de 62,19 ± 4,72 cm (amplitude = 0 - 164 cm; N = 68) e a maioria dos machos encontrava-se em poleiros na vegetação logo acima da água e com distância que variou de 0 cm a 1,5 m em relação à margem. Porém, encontramos dois indivíduos mais distantes da margem, um encontrado a 5,5 m da margem e outro a 8,3 m. Também observamos que os machos tenderam a cantar a partir de galhos e folhas de um arbusto da família Melastomataceae, do gênero Leandra (54,41%, N = 37), ou próximos de um desses arbustos, em um raio de aproximadamente dois metros (45,48%, N = 31). 28 Figura 4. Utilização de substratos como sítios de vocalização por machos de Phyllomedusa ayeaye durante este estudo, município de Sacramento, Minas Gerais. Foram amostrados 47 machos adultos, três fêmeas maduras e uma imatura. A partir dos métodos de amostragem, foi possível identificar cada indivíduo. Recapturamos um total de 14 machos entre uma e quatro vezes, totalizando 26 recapturas durante a estação reprodutiva (Tabela 1). Não houve recaptura de fêmeas. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Outras spp Leandra sp. Chão Capim Bromélia N m ac h o s e n co n tr ad o s Substratos 29 Tabela 1: Datas, substrato e número de capturas de machos de Phyllomedusa ayeaye (números 1 a 14) durante este estudo, sendo B = bromélia, C = capim, L = Leandra sp. e O = outros substratos. Diferentes expedições de campo se alternam no sombreamento. Datas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 19/10/2013 L 21/10/2013 L C 05/11/2013 C C L L L L C L L 06/11/2013 C L C L L C L 16/12/2013 B C O 17/12/2013 O 18/12/2013 O L L C 21/01/2014 C C C 22/01/2014 O C 23/01/2014 L C 18/02/2014 L L L C 01/12/2014 C 03/12/2014 C 04/12/2014 L Total capturas 5 3 2 2 2 2 3 2 5 2 4 2 3 4 Dentre os indivíduos recapturados, os indivíduos 1, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 13 e 14 foram recapturados apenas na mesma expedição, em dias subsequentes, mas outros foram recapturados por até quatro meses consecutivos (indivíduo 9 em novembro/2013, dezembro/2013, janeiro/2014, fevereiro/2014) (Tabela 1). O maior intervalo entre a primeira e a última captura foi do indivíuo 14, capturado em novembro de 2013 e recapturado em dezembro de 2014 (Tabela 1). O indivíduo 9 (Tabela 1), foi recapturado quatro vezes e manteve um mesmo arbusto de Melastomataceae, gênero Leandra, como território, porém o encontramos no final da estação reprodutiva a cerca de 2,20 m de distância deste arbusto. Dois machos (indivíduos 1 e 14) se deslocaram cerca de 40 metros, de um ponto onde o riacho forma um remanso até outro ponto próximo a uma fenda na rocha que margeia o riacho, que utilizamos para marcar o transecto. Não houve diferença significativa entre CRC e massa dos machos que foram capturados uma vez vs. machos que foram recapturados entre uma e quatro vezes (Tabela 2). 30 Tabela 2. Média ± DP do comprimento rostro-cloacal (CRC) e massa do corpo de machos capturados e recapturados de Phyllomedusa ayeaye, município de Sacramento, Minas Gerais, Brasil. Amplitude e N entre parênteses. U o resultado de teste não-paramétrico de Mann- Whitney e P o nível de significância. Machos Capturados Machos Recapturados U P N 33 14 __ __ CRC (mm) 33,48 ± 0,33 32,93 ± 1,02 225 0,88 (28,7 - 37,4; 33) (21,62 - 37,9; 14) Massa (g) 2,30 ± 0,08 2,28 ± 0,14 208 0,59 (1,1 - 3,4; 33) (1,7 - 3,7; 14) Investimento reprodutivo, desovas e ovos e dimorfismo sexual em tamanho Phyllomedusa ayeaye apresentou o modo reprodutivo número 24 (sensu Haddad & Prado, 2005). Os ovos foram depositados sobre folhas na vegetação logo acima de riachos, em ninhos compostos por uma folha dobrada; após a eclosão, as larvas completaram seu desenvolvimento no riacho, em remansos que formavam poços. O CRC médio de fêmeas de Phyllomedusa ayeaye foi significativamente maior do que o dos machos, tendência também observada para massa corpórea (Tabela 3). Coletamos cinco desovas depositadas sobre folhas dobradas de Leandra sp. e uma que foi depositada no saco plástico por um casal coletado. As desovas tinham ovos ligeiramente amarelados e muitas cápsulas gelatinosas vazias (Figura 5A). Em alguns casos, eram visíveis embriões em estágios de pré-eclosão, sendo que alguns recém-eclodidos se encontravam na mesma folha (Figura 5B). A média do número de ovos por desova, do diâmetro dos ovos e do investimento reprodutivo (IR) de machos e fêmeas são mostrados na Tabela 3. 31 Tabela 3. Média ± DP do comprimento rostro-cloacal (CRC), massa do corpo e investimento reprodutivo (IR) de machos e fêmeas de Phyllomedusa ayeaye, bem como o tamanho da desova e dos ovos coletados no município de Sacramento, Minas Gerais, Brasil. Amplitude e N entre parênteses. U o resultado do teste não-paramétrico de Mann-Whitney e P o nível de significância. Machos Fêmeas U P CRC (mm) 33,32 ± 0,35 48.96 ± 1,34 4 0,001 (21,62 – 37,9; 47) (36,75 – 42,7; 4) Massa do corpo (g) 2,28 ± 0,07 3,44 ± 0,61 44,5 0,06 (1,1 – 3,7; 50 ) (1,89 – 4,9; 4) IR (%) 0,35 ± 0,05 4,25 ± 0,35 __ __ (0,16 - 0,80; 14) (3,65 - 4,88; 3) N ovos por desova __ 29 ± 2,38 __ __ (20 – 35; 6) Diâmetro dos ovos (mm) __ 2,84 ± 0,02 __ __ (2,19 – 3,70; 109) Figura 5. (A) Desova de Phyllomedusa ayeaye, evidenciando os ovos amarelados e as cápsulas gelatinosas vazias, município de Sacramento, Minas Gerais. (B) Ninho com embriões de Phyllomedusa ayeaye em avançado estágio de desenvolvimento e alguns já eclodidos, município de Sacramento, Minas Gerais. Note que ambas as desovas foram depositadas sobre 32 folhas de Leandra sp., as quais possuem tricomas. As folhas ficam dobradas, mas foram abertas para a visualização dos ovos e embriões. DISCUSSÃO Nossas observações sugerem que o padrão reprodutivo de Phyllomedusa ayeaye é intermediário entre explosivo e prolongado, pois apesar de os machos permanecerem cantando por muitos meses, observamos um evento explosivo de 14 a 16 de dezembro de 2010. O mesmo padrão intermediário também foi descrito para P. megacephala (Oliveira et al., 2011), que pertence ao grupo de P. hypochondrialis, o mesmo de P. ayeaye. Diferentemente, Phyllomedusa azurea, outra espécie do grupo de P. hypochondrialis, apresenta padrão reprodutivo prolongado, já que ela se reproduz por seis meses seguidos (Prado et al., 2005, referida como P. hypochondrialis; Freitas et al., 2008). Embora muitas espécies de anuros possuam padrões reprodutivos claramente explosivos ou prolongados (e.g., Rodrigues et al., 2004; Prado et al., 2005), estes padrões representam extremos de um contínuo (Wells, 1977b) e muitas espécies apresentam características intermediárias (e.g., Bastos & Haddad, 1999; presente estudo). Apesar de não termos encontrado correlação positiva entre o número de machos de P. ayeaye em atividade reprodutiva e o total de precipitação mensal nos meses de coleta, encontramos correlação positiva com a temperatura. A combinação de fatores sazonais, endógenos e condições ambientais a curto prazo influenciam a atividade de vocalização, sendo que em espécies de região tropical sazonal, com pronunciada estação seca, as espécies de reprodução prolongada são mais prováveis de serem influenciadas pela precipitação e temperatura (Aichinger, 1987; Donnelly & Guyer, 1994; Prado et al., 2005). Phyllomedusa ayeaye e outras espécies do gênero se reproduzem no período mais chuvoso do ano (e.g., De la Riva, 1999; Abrunhosa & Wogel, 2004; Freitas et al., 2008), onde geralmente a temperatura e umidade são mais elevadas devido à maior precipitação (Duellman & Trueb, 1994). No caso do presente estudo, onde a região apresenta estação seca pronunciada, esperávamos encontrar tanto efeito da temperatura quanto da precipitação sobre a atividade de P. ayeaye. Porém, o fato do período de estudo ter se concentrado durante a estação chuvosa, aliado aos baixos índices pluviométricos na estação chuvosa de 2013/2014 (obs. pess.), poderiam explicar a ausência de efeito da precipitação aqui observada. Os sítios de canto de Phyllomedusa ayeaye variaram quanto ao substrato, porém observamos uma maior frequência de machos sobre galhos e folhas do arbusto Leandra sp. 33 (Família Melastomataceae), geralmente pendentes sobre a água. A maior ocorrência sobre poleiros localizados logo acima da água também foi observada em outras espécies do gênero, como P. centralis (Brandão et al., 2009), também pertencente ao grupo de P. hypochondrialis. Machos de P. azurea utilizam arbustos e árvores (Freitas et al., 2008), porém também podem utilizar gramíneas do gênero Brachiaria como sítio de canto e oviposição, de acordo com o tipo de vegetação e sua disponibilidade no habitat (Costa et al., 2010; Dias et al., 2014). Também observamos alguns indivíduos de P. ayeaye utilizando gramíneas como sítio de vocalização, porém nenhuma desova foi encontrada em gramíneas (discutido mais adiante). Em anuros, estudos mostram que machos que defendem sítios reprodutivos de melhor qualidade ou que permanecem no mesmo território por mais tempo podem obter um maior sucesso reprodutivo, características que podem ser influenciadas pelo tamanho do corpo (e.g., Wells, 1977a, Howard, 1978; Roithmair, 1992). Apesar de não termos encontrado diferenças significativas entre o tamanho de machos capturados e recapturados, obtivemos um grande número de recapturas, o que sugere que alguns machos de P. ayeaye tendem a permanecer em seus territórios. Machos foram recapturados de uma a cinco vezes e alguns foram capturados em até quatro meses consecutivos. Para Phyllomedusa megacephala também houve uma grande taxa de recaptura, o que foi atribuída a uma maior duração de vida dos indivíduos (Oliveira et al., 2011). Antunes (2007) também obteve um maior número de recapturas de machos do hilídeo Hypsiboas caipora (Antunes, 2007) em comparação às fêmeas, provavelmente pelo fato dos machos serem territoriais. No presente estudo, o fato de ter ocorrido recapturas apenas de machos e nenhuma de fêmeas também pode estar relacionado ao comportamento territorial e de vocalização, ou ainda maior taxa de sobrevivência dos machos. Estudos futuros com esta espécie devem avaliar a relação entre permanência dos machos nos sítios reprodutivos, qualidade do sítio e sucesso reprodutivo (e.g., sucesso no acasalamento e/ou número de desovas). A subfamília Phyllomedusinae é relativamente diversa em caracteres associados à reprodução. Apesar de todos os membros da subfamília possuírem desova terrestre, ocorre variação considerável em termos de onde a desova é depositada, incluindo troncos, fendas de rochas, raízes penduradas, lianas cobertas por musgos, folhas abertas ou folhas dobradas pelo casal durante a oviposição (Faivovich et al., 2010). O modo reprodutivo observado aqui para Phyllomedusa ayeaye, com desovas depositadas sobre folhas enroladas acima da água e com girinos que se desenvolvem na água corrente (modo 24, sensu Haddad & Prado, 2005), é característico de espécies do gênero Phyllomedusa (Haddad & Sawaya, 2000; Haddad & Prado, 2005; Araujo et al., 2007; Brandão et al., 2009). Todas as desovas de P. ayeaye foram 34 depositadas sobre folhas de Leandra sp. (Melastomataceae), as quais contem tricomas. A escolha do substrato adequado para reprodução parece ser importante para a o sucesso reprodutivo de espécies deste gênero (Freitas et al., 2008). Por exemplo, diferentes espécies tem sido reportadas desovando sobre folhas de plantas que contem estruturas como tricomas, acúleos e espinhos, tais como as das famílias Melastomataceae e Solanaceae (e,g., Pombal & Haddad, 1992; Rodrigues et al., 2007; Costa et al., 2010; Dias et al., 2014). Tais estruturas poderiam auxiliar na fixação da desova sobre as folhas, além de prover proteção e isolamento pelo aprisionamento de ar e manter a umidade para os ovos em embriões (Dias et al., 2014). Desta forma, o uso de folhas com tricomas parece ser importante para garantir o desenvolvimento e a sobrevivência de ovos e embriões de espécies de Phyllomedusa (Dias et al., 2014). Porém esta hipótese ainda precisa ser testada por meio de experimentos. Dentro da subfamília Phyllomedusinae, ocorrem variações quanto ao local de desenvolvimento dos girinos, que pode ocorrer em lagoas, riachos, água entre raízes de árvores ou depressões em árvores caídas (Faivovich et al., 2010). Phyllomedusa ayeaye se reproduz em riacho, onde posteriormente os girinos se desenvolvem, mas a maioria das espécies do gênero Phyllomedusa não mostra associação com riachos (Faivovich et al., 2010). A reprodução em riachos parece ser uma característica restrita a um subclado dentro do grupo de P. hypochondrialis, formado pelas espécies P. megacephala, P. centralis e P. oreades, além de ocorrer em P. vaillanti (Faivovich et al.,2010). Também ocorrem variações dentre espécies de Phyllomedusinae em relação às desovas, que podem ou não conter cápsulas gelatinosas vazias (Faivovich et al., 2010). As desovas de P. ayeaye aqui observadas continham uma massa de cápsulas gelatinosas sem ovos, como observado também em outras espécies do gênero (Pyburn, 1980; Wogel et al., 2005; Costa et al., 2010; Oliveira et al., 2011). Dentre as funções sugeridas para essas cápsulas, as principais seriam manter as superfícies das folhas dobradas, atuar na regulação dos níveis de umidade da desova antes da eclosão, evitando a desidratação e reduzindo a concentração de resíduos metabólicos, além de proteger os ovos contra radiação UVB (Pyburn, 1980; Faivovich, 2010; Oliveira et al., 2011). Shine (1979) sugeriu que machos são maiores que as fêmeas, ou de tamanho aproximado, quando ocorre combate físico. Porém, estudos recentes sobre evolução de dimorfismo sexual em tamanho em anuros indicam que a pressão para o aumento do corpo é maior nas fêmeas quando comparado aos machos, ainda que estes apresentem sinais de territorialidade, como observado aqui (Han & Fu, 2012; Nali et al., 2014). Em Phyllomedusa ayeaye, apesar da pequena amostragem, fêmeas foram maiores e mais pesadas que machos, como também observado para outras espécies do grupo, como P. megacephala (Oliviera et al., 35 2011) e P. azurea (Costa et al., 2010). O fato de as fêmeas serem maiores e mais pesadas que os machos pode estar relacionado a uma maior pressão para o aumento do corpo da fêmea devido a "hipótese da vantagem da fecundidade"; i. e., um maior tamanho das fêmeas estaria relacionado à uma maior fecundidade (e.g., produção de mais ovos ou ovos maiores) (Shine, 1989; Nali et al., 2014). REFERÊNCIAS ABRUNHOSA, P. A; WOGEL, H. 2004. Breeding behavior of the leaf-frog Phyllomedusa burmeisteri (Anura: Hylidae). Amphibia-Reptilia, v. 25, n. 2, p. 125-135. AICHINGER, M. 1987. Annual activity patterns of anurans in a seasonal Neotropical envirtonment. Oecologia, v. 71, p. 583 - 592. ANTUNES, A. P. 2007. Descrição taxonômica e história natural de uma nova espécie de Hypsiboas da Mata Atlântica do alto da Serra do Paranapiacaba, estado de São Paulo (Amphibia, Anura, Hylidae), Dissertação (Mestrado em Zoologia), Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP. ARAÚJO, C. O.; CONDEZ, T. H.; HADDAD, C. F. B. 2007. 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Prado2 1 Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Instituto de Biociências, Departamento de Zoologia, Rio Claro, São Paulo, Brazil. 2 Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, São Paulo, Brazil. * Corresponding author, e-mail: r_nali@yahoo.com.br 47 Abstract Male calls play different roles in anuran social organization, such as female attraction, territoriality, and spacing between males. However, calls and associated behaviors remain poorly described for many anuran species. Here we describe the advertisement and release calls of the treefrog Phyllomedusa ayeaye and report on social context of emissions and a physical combat. Approximately 35 minutes of digital recordings from 34 hours of observations were obtained at one breeding site in the state of Minas Gerais, southeastern Brazil. Bioacoustic analysis showed that males emitted two types of advertisement calls: (1) simple call (a sequence of short pulsed notes) and (2) composite call (a sequence of short pulsed notes followed by a long pulsed note). Composite calls were emitted more frequently during more intense chorus activity, with various active males at the breeding site. The release call was also composed by short pulsed notes, with a wider spectrum of frequencies and emitted more rapidly than the advertisement calls. Our observations on the species' behavior indicate that the composite call may be a mixed advertisement call, with an aggressive component directed to males (long notes), and an advertisement component directed to females (short notes). However, future studies need to be conducted to test this hypothesis. The description of P. ayeaye calling repertoire in the light of social context will be useful for further behavioral and taxonomic studies on this poorly known species. Keywords: Aggressive behavior, bioacoustics, Cerrado, composite call, Phyllomedusinae. 48 Introduction Calling activity is one of the most remarkable topics in anuran behavior because of the complex vocal repertoire often found (WELLS 2007). Males of a single species generally emit more than one type of call, and each one can be associated with different social roles (TOLEDO et al. 2014, BRUNETTI et al. 2015). The opposite situation is also possible, in which a single type of call may carry more than one message, i.e., a mixed call (WELLS 1988, GERHARDT 1992). For instance, the advertisement call, the most studied reproductive call (TOLEDO et al. 2014), may attract females, warn conspecifics about the male’s position, signal body size, and serve for individual recognition (LESBARRÈRES & LODÉ 2002, NALI & PRADO 2014a). Moreover, in species with extensive calling seasons, the advertisement call may stimulate the reproductive physiology of females, maintaining their reproductive condition (LEA et al. 2001). The release call is another type of reproductive call, and it signals lack of reproductive receptivity (TOLEDO et al. 2014). In general, anuran males emit release calls when mistakenly amplexed by other males during reproductive events (WELLS 2007), but they can also emit release calls during physical aggressive interactions (BASTOS & HADDAD 1995; BRUNETTI et al. 2015). In some species, both males and non-receptive females may display release vibrations when amplexed by other males, rather than producing audible sounds (BOGERT 1960, PENNA & VELOSO 1982). Release calls can be used as a diagnostic character in closely related species (GRENAT & MARTINO 2013). Moreover, it has been suggested that advertisement calls of frogs may have evolved from simple release calls (RAND 1988, SCHMIDT et. al. 1990), but scarce information on anuran release calls have precluded a phylogenetic analysis of this hypothesis (WELLS 2007). Altogether, the description of both advertisement and release calls for anuran species is highly relevant (GRENAT & MARTINO 2013, TOLEDO et al. 2014). The genus Phyllomedusa (Anura: Hylidae) currently includes 30 recognized treefrogs (FROST 2014). The species Phyllomedusa ayeaye (LUTZ 1966) belongs to the P. hypochondrialis group (sensu FAIVOVICH et al. 2010), and was described from Morro do Ferro (21°48' S, 46°35' W; 1400-1540 m elevation), municipality of Poços de Caldas, state of Minas Gerais, southeastern Brazil. This species occurs at the Atlantic forest and adjacent Cerrado, among the most threatened formations in Brazil, suffering from major threats such as habitat loss caused by deforestation, fire, mining and pollution (SILVA & BATES 2002, HADDAD & SAZIMA 2008, RIBEIRO et al. 2009). Currently, there is a discrepancy in the 49 conservation status of P. ayeaye, since it is classified as Critically Endangered (CR) by the IUCN (CARAMASCHI et al. 2010), while it is no longer considered endangered by the new List of Threatened Species of the Brazilian Fauna (ICMBIO, 2014). Indeed, an ecological niche modeling uncovered a theoretical broader geographic distribution for the species (GIOVANELLI et al. 2008). Following, P. itacolomi CARAMASCHI, CRUZ & FEIO 2006 and P. ayeaye were synonymized based on morphology, which expanded P. ayeaye distribution area (BAÊTA et al. 2009). However, little is known about the natural history of this species, including calling behavior and repertoire, precluding inference on the real population status. Thus, herein, we describe the advertisement and release calls of Phyllomedusa ayeaye recorded from the state of Minas Gerais, southeastern Brazil, and report on male-male fight and social functions of the different notes emitted. Materials and Methods The study was conducted in the municipality of Sacramento, Minas Gerais state, southeastern Brazil, in the Cerrado of the Serra da Canastra mountain range. The region has a markedly seasonal regime, with a dry winter (April − September) and a hot and rainy summer (October − March); the topography is mountainous (up to 1,500 m elevation), with deep valleys and many streams, and the landscape is composed of savannas, grassland fields, gallery forests alongside streams, and small regions of semideciduous forest (DIETZ 1984). Individuals of P. ayeaye were active in a pond associated with a temporary stream (20º13’09.9”S; 47º06’21”W; 880 m elevation), distant ca. 180 km in straight line from the type locality. Fieldwork was conducted from October 2010 to January 2011, and in February 2014, obtaining approximately 35 minutes of digital recordings from 34 hours of direct observations. Males were located at night at the breeding site guided by their calls and focal males were observed to investigate social functions of the calls emitted (e.g. NALI & PRADO 2014a). Six males were collected, anesthetized with 10% lidocaine, fixed in 10% formalin, preserved in 70% ethanol (MCDIARMID 1994), and deposited at Coleção de Anfíbios Célio F. B. Haddad, Departamento de Zoologia, I.B., Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, São Paulo state, Brazil (voucher numbers: CFBH32772 − 32775, CFBH32777, CFBH32779). Body sizes (snout-vent length, SVL) of these six specimens were measured with a digital caliper to the nearest 0.01 mm, as well as the body sizes of five other males captured in the field and released at the same site. Air temperature was measured every night with a digital thermo-hygrometer to the nearest 0.1°C. 50 For the recordings, we used a Marantz Professional PMD-660 digital recorder, with unidirectional microphone Sennheiser ME66, at 16 bit resolution and 44,100 Hz sampling rate. Bioacoustic analyses were made in the software Raven Pro 1.3 (Cornell Lab of Ornithology), using FFT = 512 (Fast Fourier Transformation). Short notes of the simple call, short notes of the composite call, and long notes were analyzed separately. We gently simulated an axillary amplexus, characteristic of the species (R. C. NALI, pers. obs.), to record the release calls of each male either in the field at the same night or in the laboratory the day after male collection. We adopted the following terminology (adapted from MARTINS & JIM 2003, TOLEDO et al. 2014): (1) call: a sequence of sounds produced and emitted in a temporal pattern; (2) note: temporally discrete vocalization units composing the call; (3) pulse: subdivision of the note in smaller temporal units. We measured the following bioacoustic parameters: number of short notes emitted in sequence, number of pulses/note, note duration (s), interval between notes (s), and minimum, maximum and dominant frequencies (Hz). We then tested for statistical differences between parameters of the short notes of the simple and composite calls using Student's t-tests (ZAR 1999). Additionally, to evaluate male aggressive responses, we stimulated resident males acoustically and visually. The acoustic stimulus was a recording in WAV format (approximately one minute), containing four simple advertisement calls with an average of 9 short notes emitted in sequence (air temperature of recording = 21.8°C). This recording was broadcasted to a resident calling male at a distance of 40 cm, using a digital recorder connected to a mini-speaker. The visual stimulus consisted on placing an intruder male ca. 15 cm distant from the resident male; in this case, a video was recorded using a Canon 7 digital camera. Results Males of Phyllomedusa ayeaye had an average SVL of 33.17 ± 1.94 mm (31.28 − 36.6 mm; N = 11), and mostly called from leaves and branches of small trees and bushes surrounding the stream, about 1.5 to 2 m above water or soil. We recorded the advertisement calls of two collected males (10 Oct 2010, air temperature = 18.5°C; 15 Dec 2010, air temperature = 21.4°C) and four uncollected males (17 Nov 2010, air temperature = 22.2°C; 19 Feb 2014, air temperature = 23.5°C). Males of P. ayeaye emitted (1) simple advertisement calls with an average of six short pulsed notes, or (2) composite advertisement calls with a sequence of an average of six short pulsed notes followed by one long pulsed note (Fig. 1, Table 1). We noticed that the composite calls were mostly emitted during more intense chorus 51 activity, with various active males at the breeding site. Short notes of the simple call were statistically different from those of the composite call regarding N pulses/note (Student's t116 = 9.1, P < 0.001), note duration (t131 = 3.8, P < 0.001), maximum frequency (t112 = 16.9, P < 0.001), minimum frequency (t112 = 7.3, P < 0.001), and dominant frequency (t112 = 5.2, P < 0.001; Table 1); on the other hand, the two types of short notes were similar regarding N notes emitted in sequence (t44 = -0.7, P = 0.49) and interval between notes (t121 = 1.4, P = 0.16; Table 1). We recorded the release calls of five collected males (14−15 Nov 2010, air temperature = 23°C; 17 Jan 2011, air temperature = 21°C) and one uncollected male (10 Oct 2010, air temperature = 18.5°C). The release call of P. ayeaye was also composed by short pulsed notes, but somewhat different from the short notes of the advertisement call (Fig. 2, Table 2). For instance, the mean interval between the short notes of the advertisement calls was about three times longer than that of the short notes of the release call. In general, spectral parameters of the release calls varied more and showed a wider spectrum of frequencies than the advertisement calls. We did not count the number of short notes emitted in sequence for the release calls, because it depended on how long we stimulated the male. This type of call was audibly more vigorous than the short notes of the advertisement calls. We concentrated on behavioral observations on 18 Feb 2014 (air temperature = 23.2°C). We observed a fight already in progress between two uncollected males (SVLs = 36.6 and 33.1 mm, Fig. 3). At 9:26pm, they were found hanging from a branch and holding each other, remaining still for 7 minutes. Afterwards, one of the males started moving towards a nearby branch, and 2 minutes after reaching this branch with its front limbs, it managed to escape from the opponent. No calls were emitted during the time we observed the fight. The acoustic stimulation of one resident calling male (SVL = 35 mm) triggered an aggressive response, in which the individual moved towards the speaker and responded vigorously with short notes followed by long notes (composite call). When we visually stimulated a resident male (SVL = 36.38) by placing another male (SVL = 33.2 mm) on the same branch, they started moving around the branches, first quietly, then calling aggressively to each other, using the composite call. No physical interactions were observed at this time, but males emitted approximately three short notes followed by a long note, rather than six short notes followed by a long note (Table 1). Similar acoustic aggressive interactions were observed in natural conditions, in which two males called vigorously to each other using both short and long notes. 52 Discussion At the beginning of the calling activity or when individuals called isolated, simple advertisement calls (short notes only) were commonly emitted. During more intense chorus activity, with various active males at the breeding site, males emitted mostly composite advertisement calls (short and long notes). The short notes of both simple and composite calls were similar in number of notes emitted in sequence and interval between notes, but differed in number of pulses per note, note duration, maximum, minimum and dominant frequencies. We suggest that the composite advertisement call emitted by P. ayeaye is a mixed call, with one part possibly directed to females (short notes, advertisement) and the other directed to males (long notes, aggressiveness; see below). Male territoriality and reproductive success are often related in anurans (e.g. WELLS 1977; URSPRUNG et al. 2011), even though the emission of aggressive territorial signals might represent energy expenditure that could be used to attract females (WELLS 1988, LINGNAU et al. 2004). Males of P. ayeaye tend to maintain territories along the stream (M. M. BORGES, unpublished data), so mixed calls could be an efficient strategy used by males to convey messages on both female attraction and spacing between males, mainly in situations of high density (WELLS 1988; NALI & PRADO 2014a). We observed one physical combat in progress between males of P. ayeaye, a behavior known for other species in this genus (ABRUNHOSA & WOGEL 2004, WOGEL et al. 2004, COSTA et al. 2010, VILAÇA et al. 2011). Fighting calls are common during anuran male fights, but they can be emitted sporadically and/or at the beginning of the fight (COSTA et al. 2010; NALI & PRADO 2014b; TOLEDO et al. 2014); thus, we may have failed to observe this type of call for this species. Acoustic aggressive interactions have also been reported for other congeners; for instance, P. nordestina has a territorial call emitted intercalated with advertisement calls (VILAÇA et al. 2011), which is very similar to the long note of the composite call described here for P. ayeaye. A similar long note was also described for P. centralis, emitted by males as a response to playbacks (BRANDÃO et al. 2009). Males of P. ayeaye did not emit long notes alone, but always after a sequence of short notes (fig 2B), and that was observed (a) without our interference, (b) when we acoustically stimulated a resident male, and (c) when we placed an intruder male next to a resident male, in which case they emitted less short notes and more long notes to each other. These evidences support that in P. ayeaye (1) the long note of the composite advertisement call is probably aggressive and directed to males, and (2) this type of note might be a part of a mixed advertisement call, and not an aggressive call itself. We encourage further systematic experiments in the field using 53 acoustic and visual stimulation on males to confirm social function of notes, and test whether their parameters can change in escalated aggressive interactions (e.g. MARTINS & HADDAD 1988, NALI & PRADO 2014a). Release call descriptions are scarce compared to those of advertisement calls (TOLEDO et al. 2014). The release call of P. ayeaye was composed by short pulsed notes, which are similar to those of the advertisement c