UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS PARA ESCORES DE AVALIAÇÃO VISUAL, PESO E PERÍMETRO ESCROTAL À DESMAMA DE BOVINOS DA RAÇA CANCHIM Fabiana Barichello Médica Veterinária Jaboticabal – SP – Brasil 2007 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS PARA ESCORES DE AVALIAÇÃO VISUAL, PESO E PERÍMETRO ESCROTAL À DESMAMA DE BOVINOS DA RAÇA CANCHIM Fabiana Barichello Orientador: Prof. Dr. Maurício Mello de Alencar Co-orientador: Dr. Roberto Augusto de Almeida Torres Júnior Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Campus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Genética e Melhoramento Animal. Jaboticabal – SP – Brasil Fevereiro de 2007 Barichello, Fabiana B252e Estimativas de parâmetros genéticos para escores de avaliação visual, peso e perímetro escrotal à desmama em bovinos da raça Canchim / Fabiana Barichello. – – Jaboticabal, 2007 x, 81 f. : il. ; 28 cm Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2007 Orientador: Maurício Mello de Alencar Banca examinadora: Humberto Tonhati, Luiz Otávio Campos da Silva Bibliografia 1. Bovinos de corte. 2. Escores visuais. 3. Herdabilidade. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 636.2:636.082 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. iii DADOS CURRICULARES DO AUTOR FABIANA BARICHELLO - nascida em Cruz Alta - RS, no dia 04 de outubro de 1982, é formada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria – RS, em julho de 2005. Durante o período de janeiro a março de 2004 e janeiro a junho de 2005, realizou estágio na área de Melhoramento Genético Animal na Embrapa Gado de Corte, sob a orientação do Dr. Roberto Augusto de Almeida Torres Júnior. Em agosto de 2005, iniciou o mestrado em Genética e Melhoramento Animal, na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp, Campus de Jaboticabal, sob a orientação do Prof. Dr. Maurício Mello de Alencar e co-orientação do Dr. Roberto Augusto de Almeida Torres Júnior. iv D esafioD esafioD esafioD esafio H á um potro dentro de m im , pedindo cancha. Sinto-lhe o bater do coração inquieto com o um tam bor a rufar em véspera de peleia braba. N o m eu olhar o seu olhar de fogo se confunde na ânsia de devassar a vastidão de todos os cam inhos que os seus cascos de bronze e asas não pisaram . P otro de sangue ancestral, telúrico em seu ím peto selvagem , m aior porque contido no seu lance com o um cartucho que sente o gatilho pronto para o tiro. Tudo o que fica além de m eu passo de nôm ade prisioneiro, tudo o que não alcança o m eu braço de m úsculos dorm idos, tudo o que m eu olhar não pressente na distância - isso tudo a cham á-lo, tudo a cham á-lo com o um toque de cincerro no silêncio da noite. Seus ouvidos de anim al selvagem são sensíveis ao apelo da distância, ao apelo da noite, ao grito dos que rom pem cancelas e aram ados para abrir a golpes de audácia o seu cam inho de aventuras. H á um potro dentro de m im , pedindo cancha... N o laço de chegada, que fica sem pre além , e ainda m ais além , o sol não se põe nunca, para vestir de ouro os que tiveram pata para engolir todo o estirão da raia que é um desafio de léguas pela frente. M as com o custa arrebentar o laço do andarível de partida desta cancha! (A pparicio Silva R illo) v A os m eus tios Izidro e Ivete, por serem além de tios, pais, am igos, conselheiros e estarem sem pre ao m eu lado, em todos os m om entos dessa jornada À m inha irm ã M aysa e m eu cunhado D aniel, por todo o carinho, com panheirism o e com preensão À m inha prim a  ngela, sim plesm ente um ‘anjo’ em m inha vida A o M árcio, por m e ensinar a viver e, indiferente ao tem po e a distância, m e fazer feliz ... “E é prim avera, te am o” (Cassiano e Sílvio R ochael) D edico e O fereço vi AGRADECIMENTOS Aos meus pais Abrilinho e Orilde pela vida, oportunidade e apoio. Ao Dr. Maurício Mello de Alencar pela orientação segura e dedicada, os ensinamentos transmitidos, incentivos e amizade, muito obrigada. Ao Dr. Roberto Augusto de Almeida Torres Júnior pelas constantes orientações e ensinamentos, por me mostrar os encantamentos do melhoramento genético animal, a beleza da pesquisa, pela amizade, por acreditar e investir em mim, minha eterna gratidão. Aos criadores de Canchim pela coleta de dados e à Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN) por sua disponibilização. À Embrapa Pecuária Sudeste pela disponibilização da infra-estrutura e pela atenção e apoio de seus pesquisadores e funcionários. À Prof. Sandra Aidar de Queiroz pelas valiosas considerações prestadas no Exame de Qualificação. Ao Dr. Luiz Otávio Campos da Silva e Prof. Humberto Tonhati pela disponibilidade em participar da banca examinadora e por suas valiosas sugestões que permitiram aperfeiçoar este trabalho. Ao Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento Animal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, pela oportunidade de desenvolver meu mestrado. vii À Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de estudos. Aos companheiros de pós-graduação do departamento de Melhoramento Genético Animal e do departamento de Zootecnia da Unesp, pela amizade, convívio, ajuda e aprendizagem. Aos moradores da República Arueira, Marcelo (Vaga-Lume), Fernanda (Leydi-Dá) e Letícia (Caçulinha) e aos inúmeros agregados, Larissa, Pedro (Bagão), Naiara (Breja), Ana Carolina (Vodka), Natália (Lipo), Franciele, pela amizade, convivência, pelos inúmeros momentos de alegria e loucura. À Sarah Laguna Meirelles pela amizade e agradável convivência na Fazenda Canchim. Ao Fernando Baldi, pela amizade, pelos mates e inúmeras ajudas. Aos amigos da Fazenda Canchim, Paulinho, Leandro, Caio, Gisele, Adriana, João, Marcelo, Gustavo, Aninha, pela amizade e bons momentos de convívio. Aos amigos distantes, mas não menos importantes, Débora Azambuja, Caroline Flores Zielinski, Émerson Bolson Rauber, Lucas Pedroso Colvero, Tatiana Parreira de Oliveira Mello. E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que este trabalho fosse realizado, muito obrigada. viii SUMÁRIO Página CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS..........................................................1 Revisão de literatura ................................................................................................3 Referências Bibliográficas .....................................................................................12 CAPÍTULO 2 – EFEITOS AMBIENTAIS E GENÉTICOS SOBRE PESO, PERÍMETRO ESCROTAL E ESCORES DE AVALIAÇÃO VISUAL À DESMAMA, EM BOVINOS DA RAÇA CANCHIM..................................................22 Resumo .................................................................................................................22 Palavras-chave ......................................................................................................22 Introdução..............................................................................................................23 Material e Métodos ................................................................................................25 Resultados e Discussão ........................................................................................28 Conclusões ............................................................................................................42 Referências Bibliográficas .....................................................................................43 CAPÍTULO 3 – ESTIMATIVAS DE HERDABILIDADE DE PESO, PERÍMETRO ESCROTAL E ESCORES DE AVALIAÇÃO VISUAL À DESMAMA, EM BOVINOS DA RAÇA CANCHIM..................................................48 Resumo .................................................................................................................48 Palavras-chave ......................................................................................................48 Introdução..............................................................................................................49 Material e Métodos ................................................................................................50 Resultados e Discussão ........................................................................................54 Conclusões ............................................................................................................60 Referências Bibliográficas .....................................................................................61 CAPÍTULO 4 – ESTIMATIVAS DE CORRELAÇÕES GENÉTICAS ENTRE O PESO, O PERÍMETRO ESCROTAL E ESCORES DE AVALIAÇÃO VISUAL À DESMAMA, EM BOVINOS DA RAÇA CANCHIM ..............................................66 Resumo .................................................................................................................66 Palavras-chave ......................................................................................................66 Introdução..............................................................................................................67 Materiais e Métodos...............................................................................................68 Resultados e Discussão ........................................................................................71 Conclusão..............................................................................................................75 Referências bibliográficas......................................................................................76 CAPÍTULO 5 – IMPLICAÇÕES .............................................................................80 ix ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS PARA ESCORES DE AVALIAÇÃO VISUAL, PESO E PERÍMETRO ESCROTAL À DESMAMA DE BOVINOS DA RAÇA CANCHIM RESUMO – Neste trabalho, avaliaram-se os efeitos de ano e época de nascimento, proprietário, sexo do bezerro, regime alimentar, idade do bezerro e idade da vaca ao parto e os efeitos aditivos direto e materno da raça Charolesa e heterótico materno entre as raças Charolesa e zebu sobre o peso (P225), o perímetro escrotal (PE) e os escores visuais de conformação frigorífica (CF), de umbigo (UM) e de pelagem (PEL) à desmama e estimaram-se parâmetros genéticos para essas características, utilizando-se dados de, respectivamente, 12.103, 5.278, 8.343, 9.111 e 7.986 animais Canchim nascidos de 1999 a 2005. Os resultados indicaram, em geral, efeitos significativos de todas essas fontes de variação sobre as características estudadas. Foram avaliados diferentes modelos estatísticos que incluíram, além de efeitos fixos, os efeitos aleatórios genéticos aditivos direto e materno e de ambiente permanente materno, em diferentes combinações, em análises feitas pelo método da máxima verossimilhança restrita. O modelo completo (efeitos genético aditivos direto e materno e de ambiente permanente) foi o mais adequado para P225, PE, CF e UM, e o modelo sem o efeito de ambiente permanente foi adequado para PEL. As estimativas de herdabilidade direta foram 0,17; 0,13; 0,20; 0,18 e 0,52 para P225, PE, CF, UM e PEL, respectivamente, indicando a possibilidade de se obter progresso genético para essas características, principalmente PEL. As correlações genéticas aditivas diretas entre as características foram, em geral, baixas, com exceção daquelas de P225 com PE (0,38) e CF (0,61), indicando que seleção para P225 proporcionará respostas correlacionadas em PE e CF. Palavras-chave: bovinos de corte, conformação frigorífica, correlação genética, escore de umbigo, herdabilidade, qualidade da pelagem x GENETIC PARAMETER ESTIMATES OF VISUAL SCORES, WEIGHT AND SCROTAL CIRCUMFERENCE AT WEANING IN CANCHIM CATTLE ABSTRACT – Year and season of birth, herd, sex of calf, feeding regime, age of calf and age of dam effects, additive direct and maternal effects of the Charolais breed, and heterotic effects of the Charolais and Zebu breeds on weight (WW), scrotal circumference (SC) and visual scores for slaughter conformation (CON), sheath and navel (SN), and hair coat (HC) at weaning were evaluated, and genetic parameters for these traits were estimated, using data on, respectively, 12,103, 5,278, 8,343, 9,111 and 7,986 Canchim animals born from 1999 to 2005. The results, in general, indicated that all traits were affected by these genetic and non genetic effects. Statistical models, which included fixed effects and different combinations of additive direct, additive maternal, and permanent environmental random effects, in restricted maximum likelihood analyses, were evaluated. The complete model, with all three random effects, was the best one for WW, SC, CON and SN, and the model without the permanent environmental effect was adequate for HC. The direct heritability estimates were 0.17, 0.13, 0.20, 0.18 and 0.52 for WW, SC, CON, SN and HC, respectively, indicating that it is possible to obtain genetic progress for these traits by selection, mainly for HC. The additive direct genetic correlations among the traits were, in general, low, except for WW with SC (0.38) and CON (0.61), indicating that selection to improve WW should result in correlated response in SC and CON. Key Words: beef cattle, hair coat score, sheath and navel score, slaughter conformation, heritability, genetic correlation 1 CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS As mudanças ocorridas nos últimos anos em todo o mundo vêm influenciando todos os setores da economia, inclusive a cadeia produtiva da carne, sendo imprescindível a busca por novas tecnologias que contemplem as mais diversas exigências de mercado. A competitividade imposta por outras carnes, a dificuldade de inclusão de novas áreas para a exploração pecuária e a necessidade de estruturação de sistemas de produção competitivos e sustentáveis têm induzido mudanças no perfil tecnológico da pecuária de corte brasileira (FIGUEIREDO, 2005). Para que o Brasil consiga atender às exigências de mercado, tanto interno quanto externo, é necessária a busca de animais que tenham alto potencial de produção, precocidade e eficiência reprodutiva, e alta capacidade de adaptação ao ambiente. Neste contexto, o melhoramento genético animal é uma das ferramentas que permitem alcançar esses objetivos. Dentre as estratégias do melhoramento genético animal, a seleção procura utilizar as diferenças genéticas existentes entre indivíduos dentro de uma raça, organizando acasalamentos que visam à obtenção da melhor combinação aditiva nos animais do sistema. Antes de se implementar um programa de melhoramento genético, seja para um rebanho ou uma raça, devem-se definir, primeiramente, os objetivos de seleção e, só então, estabelecer quais serão os critérios de seleção a serem implementados, ou seja, quais as características que serão utilizadas para a escolha dos animais. A definição do objetivo de seleção depende, segundo Alencar (2002), basicamente, de dois fatores: do sistema de produção e do mercado. No caso do sistema de produção, o próprio desempenho atual do rebanho determina aquilo que precisa ser melhorado, ou seja, deve-se melhorar aquelas características que estão afetando o desempenho econômico do sistema. Outros fatores importantes que compõem o sistema de produção e que determinam a ênfase a ser dada a determinadas características são o ambiente (clima, solo, topografia), o manejo (reprodutivo, nutricional, sanitário) e a infra-estrutura. No caso do mercado, o cliente 2 determina o tipo de produto necessário, sendo que, cada tipo de cliente apresenta exigências peculiares para o produto final. Como clientes, há, por exemplo, o consumidor final, o frigorífico ou o próprio produtor; o consumidor final busca carne mais macia e saudável, o frigorífico pode buscar um animal com maior carcaça e com bom acabamento, já o produtor pode ter o seu mercado voltado para a produção de reprodutores ou de animais para abate. Para cada um desses clientes, o objetivo de seleção para o produtor pode ser diferente. Segundo Rosa-Perez et al. (1999), as definições dos objetivos de seleção dependem das corretas avaliações dos produtos de interesse, ou seja, a seleção de animais para determinadas características sem o prévio conhecimento dos seus efeitos aditivos, suas correlações com outras características de interesse, ou então, dos efeitos não-aditivos e ambientais que as influenciam, pode colocar em risco o progresso genético esperado. Nas duas últimas décadas, vários programas de avaliação genética foram implementados no Brasil, para várias raças bovinas de corte, visando ao fornecimento de subsídios aos programas de seleção. A avaliação genética dos bovinos da raça Canchim em nível nacional é feita pela parceria da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Canchim (ABCCAN) com o Programa Embrapa de Melhoramento de Gado de Corte - Geneplus, desde 1999. Essa avaliação genética é feita para várias características, entre elas, peso, perímetro escrotal e conformação frigorífica à desmama. São estimadas diferenças esperadas na progênie (DEP) para efeitos diretos e maternos. Duas outras características registradas, muito importantes, principalmente, para uma raça sintética como a Canchim, por se tratarem de características adaptativas, são os escores de umbigo e de qualidade da pelagem à desmama. O estudo de parâmetros genéticos dessas características é importante para verificar a viabilidade de sua inclusão no programa de avaliação genética da raça. O objetivo neste estudo foi avaliar as características peso, perímetro escrotal e escores visuais de conformação frigorífica, umbigo e qualidade de pelagem de bovinos da raça Canchim, medidas à desmama, com potencial de serem incluídas como 3 critérios de seleção, por meio de estimativas de parâmetros genéticos, levando-se em consideração a magnitude e a direção de efeitos ambientais e genéticos não-aditivos. Revisão de literatura A raça Canchim Segundo Rosa (2005), as raças zebuínas evoluíram em condições mais desfavoráveis e sua seleção remete a um passado mais recente, quando comparadas com as raças européias, e apresentam, em relação a essas últimas, alguns índices produtivos mais baixos, tais como, menor precocidade reprodutiva. Por outro lado, apresentando características anatômicas distintas do gado europeu, toleram melhor o calor, a umidade e os endo e ectoparasitas. Estas características de adaptabilidade constituem o grande trunfo das raças zebuínas para sistemas de produção em meio ambiente tropical. Ainda segundo Rosa (2005), a maioria das raças do continente europeu são de grande porte e a principal característica dessas raças é a presença de grandes massas musculares, razão pela qual, apresentam excelente conformação de carcaça e elevado rendimento ao abate. Comparativamente às raças britânicas, no entanto, são mais tardias do ponto de vista sexual e em termos de acabamento de carcaça; são, entretanto, superiores nestas características quando comparadas às raças zebuínas. São também muito sensíveis aos efeitos de clima, como os verificados em regiões tropicais, apresentando, ainda, maiores custos de mantença. Nestas condições, elas são indicadas para utilização em cruzamentos com raças locais ou raças mais adaptadas ao ambiente. Vários são os usos do cruzamento entre raças na bovinocultura de corte, entre eles, a formação de base genética ampla para o desenvolvimento de nova raça, na qual se inicia o processo de seleção. No Brasil, buscou-se desenvolver uma nova raça bovina de corte que tivesse na sua constituição genes de alguma raça européia, que lhe conferissem elevada produtividade, e genes de raças zebuínas, que lhe 4 habilitassem viver sob os rigores do clima tropical (ALENCAR, 2000). Com o objetivo de unir as características de adaptabilidade aos trópicos dos zebuínos às características de precocidade e de rendimento econômico dos bovinos de origem européia iniciaram- se estudos de cruzamento que posteriormente deram origem a nova raça Canchim (VIANNA et al., 1978). A raça européia utilizada foi a Charolesa e, segundo Alencar (1988), no início, a raça zebuína que mais contribuiu para a formação do gado Canchim foi a Indubrasil, mas também foram utilizados animais das raças Guzerá e Nelore. Hoje existem rebanhos Canchim localizados de norte a sul do País e, atualmente, a raça zebuína mais utilizada na obtenção de animais Canchim é a Nelore. A constituição da raça, em média, é de 5/8 de genes de Bos taurus (Charolês) e 3/8 de genes de Bos indicus (zebu). A raça, segundo Barbosa (2000), vem demonstrando boa capacidade de ganho de peso a pasto e em confinamento, boa habilidade materna e fertilidade, tanto para machos quanto para fêmeas. A Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN) reconhece quatro esquemas de acasalamentos (Tabela 1) para obtenção de animais Canchim, que são: I – Alternado, II – Absorvente, III – Cruzado e Absorvente e IV – UEPAE (ALENCAR, 1988). Os diferentes esquemas de acasalamentos permitem a manutenção e ampliação da base genética da raça, que é fundamental para o sucesso de programas de melhoramento genético (BARBOSA, 2000). De acordo com Alencar (1988), o esquema Alternado produz animais Canchim, em média, com 62,5% dos genes de Charolês e 37,5% dos genes do Zebu, em quatro gerações, e tem a vantagem de aumentar a diversidade genética da raça pela utilização constante de novos animais da raça Charolesa. O esquema Absorvente utiliza continuamente touros Canchim, com o objetivo de absorver a raça zebuína (ou Charolesa) e produz Canchim, em média, com 58,59% (ou 64,84%) dos genes do Charolês e 41,41% (ou 35,16%) dos genes do zebu, em quatro gerações, e apresenta a vantagem de utilizar touros Canchim selecionados e facilitar o manejo por trabalhar com touros de apenas uma raça. O esquema Cruzado e Absorvente permite a utilização de touros Charolês, Canchim e Zebu, dependendo de como é iniciado, e produz animais, em média, com 59,37% de genes do Charolês e 40,63% de genes zebuínos, em três 5 gerações, permitindo a obtenção de Canchim em menor tempo e o aumento da diversidade genética pela utilização de novos animais Charolês e de touros Canchim selecionados. O esquema de acasalamento UEPAE produz animais Canchim que apresentam 3,12% a mais de genes da raça Charolesa, quando comparado aos outros sistemas de acasalamento, e apresenta a vantagem de produzir animais Canchim em três gerações e de possibilitar o aumento da diversidade genética pelo uso de novos animais Charolês e zebuínos. Tabela 1. Esquemas de acasalamento para a formação do gado Canchim. I - Alternado II - Absorvente Touro X Vaca Touro X Vaca Charolês Zebu Canchim Z1 ou C2 ↓ ↓ Zebu ½ C + ½ Z Canchim “A” 3 ↓ ↓ Charolês ¼ C + ¾ Z Canchim “T1” 4 ↓ ↓ 5/8 C + 3/8 Z 5/8 C + 3/8 Z Canchim V5 ↓ ↓ Canchim Canchim III – Cruzado e Absorvente IV – UEPAE Touro X Vaca Touro X Vaca C ou Z Z ou C Canchim Zebu ↓ ↓ Canchim “T2” 6 Charolês “A” ↓ ↓ Canchim “V” “MA”7 “MA” ↓ ↓ Canchim Canchim 1Zebu; 2Charolês; 3 5/16 Charolês e 11/16 Zebu; 4 15/32 Charolês e 17/32 Zebu; 5 35/64 Charolês e 29/64 Zebu; 6 ½ Charolês + ½ Zebu; 7 21/32 Charolês + 11/32 Zebu. Adaptado de Alencar (1988). 6 Características estudadas Peso à desmama Dentre as características de crescimento, os pesos em diferentes idades integram a maioria das avaliações genéticas efetuadas no Brasil, por serem de fácil obtenção e apresentarem herdabilidade de média a alta, sugerindo elevado progresso genético pela seleção, sendo usualmente utilizadas como critérios de seleção pelos produtores. O peso à desmama, segundo Alencar (2002), é utilizado para avaliar a habilidade materna das vacas e o mérito genético do bezerro para crescimento, e é uma característica diretamente relacionada com o produto final carne. No Brasil, as estimativas de herdabilidade direta para o peso à desmama na raça Canchim variaram de 0,36 a 0,69 (ALENCAR et al., 1993; MASCIOLI et al., 1996 e 1997; MELLO et al., 2002; ALENCAR et al., 2005b), e em outras raças bovinas de corte de 0,07 a 0,54 (MARTINS et al., 2000; MAIWASHE et al., 2002; GARCIA et al., 2003; KOURY FILHO et al., 2003; BERTAZZO et al., 2004; CYRILLO et al., 2004; DIAS et al., 2005; GRESSLER et al., 2005; LIMA et al., 2005), sugerindo a possibilidade de obtenção de progresso genético nessa característica pela seleção. A herdabilidade materna apresenta valores entre 0,01 e 0,27 (MAIWASHE et al., 2002; GARCIA et al., 2003; KOURY FILHO et al., 2003; MUCARI et al., 2003; BERTAZZO et al., 2004; CYRILLO et al., 2004; DIAS et al., 2005; LIMA et al., 2005). As correlações genéticas com outros pesos são elevadas e positivas (0,57 a 0,83) (FERRAZ FILHO et al., 2002; MAIWASHE et al., 2002; MALHADO et al., 2002; MUCARI et al., 2003), indicando que a seleção baseada no peso à desmama também levará a incrementos nos demais pesos. Perímetro escrotal O perímetro escrotal nos machos, comumente avaliado ao ano e ao sobreano, apresenta herdabilidade de média a alta (0,30 a 0,77) (ALENCAR et al., 1993; BERGMANN et al., 1996; PEREIRA et al., 2000; SILVA et al., 2000; CYRILLO et al., 2001; GARNERO et al., 2001). De acordo com Silva (2000a), é a medida mais simples e usual na avaliação da eficiência reprodutiva, em razão da sua alta correlação com os 7 demais parâmetros da reprodução. É uma característica indicadora, de fácil medição, e está correlacionada positiva e favoravelmente com características de peso (ALENCAR et al., 1993; CYRILLO et al., 2001; GARNERO et al., 2001) e negativa e favoravelmente com a idade ao primeiro parto de fêmeas (MARTINS FILHO et al., 1991; PEREIRA et al., 2000), sugerindo que a seleção para essa característica, além de apresentar resposta direta, deve resultar em mudanças nos pesos de machos e fêmeas e na precocidade reprodutiva das fêmeas. Escores de avaliação visual Segundo Nicholson et al. (1986), as avaliações por escores visuais permitem a avaliação de um grande número de animais sem haver a necessidade de contenção individual, o que pode agilizar o processo de coleta de dados e diminuir o estresse dos animais, além de ser uma técnica de baixo custo de implementação. Embora este tipo de avaliação apresente caráter subjetivo, a prática do avaliador aumenta a confiabilidade das medidas. Escore de conformação frigorífica Segundo Dal-Farra et al. (2002), os programas de melhoramento animal têm buscado um animal mais precoce e de bom acabamento e, com este intuito, têm lançado mão de avaliações por escores visuais. As características que têm sido consideradas para a avaliação visual são a conformação (C), em que se procura avaliar o potencial de produção de carcaças adequadas à produção de carne, a precocidade (P), em que se busca o potencial de terminação com menor peso e idade, e a musculosidade (M), em que se avalia o desenvolvimento das massas musculares do animal. As estimativas de herdabilidade para os escores de C, P e M à desmama encontrados na literatura variam de 0,18 a 0,37; de 0,19 a 0,39; e de 0,19 a 0,35, respectivamente (ELER et al., 1996; CARDOSO et al., 2001a; VAN MELIS et al., 2003; KIPPERT et al., 2006). Segundo Cardoso et al. (2001a), embora haja certo grau de subjetividade na avaliação, os escores visuais relacionados às características de 8 carcaça podem ser utilizados na seleção direta, quando criteriosamente utilizados por avaliadores qualificados. Os escores de C, P e M apresentam correlações genéticas com o peso à desmama de moderadas a altas (ELER et al., 1996; CARDOSO et al., 2001a) evidenciando a associação genética entre peso à desmama e os escores visuais na mesma fase de crescimento e indicando que essas características são determinadas, em grande parte, pelos mesmos conjuntos de genes, seguindo a mesma tendência ao sobreano. As correlações genéticas entre os escores de C, P e M são de médias a altas magnitudes (ELER et al., 1996; CARDOSO et al., 2001a) o que indica, segundo Eler et al. (1996) e Cardoso et al. (2001a), que eles podem ser reunidos em um só escore, descrevendo o potencial para produção de carne do animal como um todo. Dentro da idéia de avaliação visual, o Programa Embrapa de Melhoramento de Gado de Corte - Geneplus, utiliza a avaliação de conformação frigorífica com nota única, que combina as qualidades do animal para C, P e M, buscando simplificar a coleta de dados (TORRES JÚNIOR et al., 2005). A avaliação da conformação frigorífica (CF), segundo Silva (2000a), é feita com notas de 1 a 6 (1 – pior; 6 – melhor) dentro de grupo de contemporâneos, de forma relativa. A conformação frigorífica leva em conta a quantidade de carne terminada produzida pelo animal, e é uma forma de avaliar a composição do ganho obtido. Escore de umbigo No Brasil, a grande maioria do rebanho bovino de corte é criada em grandes áreas de pastagens e, tratando-se de reprodutores, o tamanho e posicionamento do umbigo e prepúcio são características importantes, pois umbigos mais pronunciados ou pendulosos apresentam maior predisposição a lesões e traumatismos ocasionados pela vegetação, podendo levar à perda do reprodutor (LAGOS et al., 1970). Outro aspecto a ser considerado, segundo Viu et al. (2002), é a ocorrência de prolapso prepucial, em que sua etiologia está relacionada com a hereditariedade, ambiente e fatores infecciosos. 9 A avaliação por escores visuais, por meio de notas atribuídas conforme o tamanho e a forma do umbigo, é uma das maneiras utilizadas para classificar os animais (VIU et al., 2002). As notas dos escores variam de acordo com as associações de raça, sendo mais comum escores de 1 a 5 ou de 1 a 6, em que as maiores notas são atribuídas para os umbigos maiores, mais pendulosos (TORRES JÚNIOR et al., 2003). Para escore de umbigo, os valores estimados de herdabilidade encontrados na literatura variam de 0,06 a 0,75 (LAGOS et al., 1970; KRIESE et al., 1991; ALENCAR et al., 1994; VIU et al., 2002; KOURY FILHO et al., 2003). Essa grande amplitude de valores relatados deve-se em parte às metodologias empregadas na mensuração da característica, às metodologias de análise dos dados e também às diferenças genéticas entre raças e populações estudadas. Escore de qualidade de pelagem Nas regiões de clima tropical, em que as temperaturas e a radiação solar são elevadas, com flutuação sazonal na produção de forragem e com infestação de parasitas, a exploração comercial bovina depende, entre outros fatores, do potencial de produção dos animais e da capacidade de adaptação ao ambiente, muitas vezes estressante (ALENCAR et al., 2005a). Várias características do pelame são desejáveis para bovinos que vivem em clima tropical, como pêlos curtos e assentados, alta densidade numérica de pêlos, maior diâmetro dos pêlos e pelame claro, entre outras. Essas características permitem maior proteção contra a radiação solar e o estresse térmico, contribuindo para maior conforto dos animais e, conseqüentemente, melhor desempenho zootécnico em condições de campo (Silva, 2000b). Existem evidências de a capa do pelame dos animais estar relacionada também à resistência a ectoparasitas. Fraga et al. (2003 e 2005) verificaram, na raça Caracu, que as infestações por carrapatos e moscas-dos-chifres aumentavam com o aumento da espessura do pelame dos animais. 10 No programa de melhoramento da raça Canchim, a característica qualidade de pelagem é avaliada com escore de 1 (pior; peludo, sem brilho e de baixa densidade) a 6 (melhor; pêlos lisos, brilhantes e de alta densidade), segundo Silva (2000a), como medida da adaptabilidade do animal. Fontes de variação sobre características avaliadas à desmama Efeitos ambientais Em bovinos de corte, vários são os fatores que interferem no desempenho ponderal e nos escores de avaliação visual dos animais do nascimento à desmama, devendo ser considerados por ocasião da estimação de valores genéticos. Alguns efeitos de ambiente que devem ser considerados são a idade do bezerro ao desmame, a idade da vaca ao parto, o mês de nascimento ou a data juliana de nascimento (CARDOSO et al., 2001b; JORGE JÚNIOR et al., 2001; DAL-FARRA et al., 2002; PELICIONI et al., 2002; JORGE JÚNIOR et al., 2004; KIPPERT et al., 2006), o sexo do bezerro (MASCIOLI et al., 1997; CARDOSO et al., 2001b; BOCCHI et al., 2004), a época ou estação de nascimento (CARDOSO et al., 2000; BOCCHI et al., 2004) e o ano de nascimento (PONS et al., 1989; MARTINS et al., 2000). Viu et al. (2002) relataram efeitos significativos de ano, época de nascimento, fazenda, idade à desmama e grupo genético sobre os escores de umbigo, sendo recomendado o ajuste para essas variáveis. Efeitos aditivos e não-aditivos O efeito aditivo pode ser definido como a ação individual do gene sobre uma característica e, no caso de animais cruzados ou de raças sintéticas, este efeito estará também relacionado com a proporção de genes de uma dada raça no indivíduo (TEIXEIRA, 2004). Segundo Cunningham (1987), este componente de desempenho é proporcional à contribuição gênica de cada raça. 11 A heterose pode ser definida como a superioridade dos animais cruzados em relação à média das raças puras de origem. Segundo Hohenboken (1985), este grau de superioridade varia conforme os graus de heterozigoses maternas e individuais nos animais, a distância genética entre as raças cruzadas, as freqüências gênicas nas populações de base e, também, a característica considerada. Na literatura, é possível encontrar trabalhos estimando os efeitos aditivos diretos e maternos e os efeitos heteróticos individuais e maternos em cruzamentos entre várias raças. Dependendo das raças utilizadas, dos ambientes considerados, das características de interesse (pesos, ganhos em peso, reprodutivas, avaliação visual), da população ou rebanho, do ambiente e de diferentes formas de avaliação desses efeitos, é possível encontrar as mais variadas estimativas: positivas, negativas, lineares e não- lineares, entre outras (DILLARD et al., 1980; PEACOCK et al., 1981; TREMATORE et al., 1998; ARTHUR et al., 1999; PEROTTO et al., 2000; ROSO e FRIES, 2000; DAL- FARRA et al., 2002; TEIXEIRA et al., 2005). Diante do exposto, fica explícita a importância do conhecimento do comportamento dos efeitos ambientais, genéticos aditivos e genéticos não-aditivos, das estimativas dos parâmetros genéticos dentro de cada população de interesse e suas inter-relações, para características de importância econômica, visando subsidiar os programas de avaliação genética de bovinos de corte. 12 Referências Bibliográficas ALENCAR, M.M. Bovino – Raça Canchim: origem e desenvolvimento. 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Neste trabalho, avaliaram-se os efeitos de ano e época de nascimento, proprietário, sexo do bezerro, regime alimentar, idade do bezerro e idade da vaca ao parto e os efeitos aditivos direto e materno da raça Charolesa e heterótico materno entre as raças Charolesa e zebu sobre o peso (P225), o perímetro escrotal (PE) e os escores visuais de conformação frigorífica (CF), de umbigo (UM) e de pelagem (PEL) à desmama, em bovinos da raça Canchim, pelo método dos quadrados mínimos. Foram utilizados dados de 12.334 animais Canchim nascidos de 1999 a 2005. Os resultados indicaram efeitos significativos de ano e época de nascimento, de proprietário, de regime alimentar e de idade da vaca (efeitos linear e quadrático) sobre todas as características estudadas, de sexo sobre P225 e UM, de idade do bezerro sobre P225, PE, CF e PEL, das proporções de Charolês no bezerro e na mãe sobre P225, CF e PEL e da heterozigose materna sobre P225, PE, CF e UM. Os efeitos aditivos diretos e maternos da raça Charolesa como desvio da zebu foram negativos e positivos, respectivamente, sobre P225, CF e PEL. Os efeitos heteróticos maternos foram positivos sobre P225, PE, CF e UM. Os resultados indicam que, em geral, essas fontes de variação devem ser consideradas por ocasião da obtenção de estimativas de parâmetros genéticos e das avaliações genéticas dos animais Canchim, para as características estudadas. Palavras-chave: bovinos de corte, efeitos aditivos, efeitos de meio, efeitos heteróticos 23 Introdução A cadeia produtiva da bovinocultura de corte vem sofrendo constantes alterações para se adaptar às mais diversas exigências de mercado. Nesse contexto, melhorias do potencial genético dos animais e sua adequação ao ambiente e ao manejo são pontos importantes para se alcançar maior eficiência dos sistemas de produção. Para tal, a pesquisa e a implantação de novas tecnologias se tornam indispensáveis, e uma das ferramentas de que se dispõe é o melhoramento genético animal. Por muitos anos, a seleção dos animais foi realizada, basicamente, utilizando medidas de peso e de ganhos em peso nas diversas idades, ou características altamente correlacionadas com peso, como critérios de seleção, o que proporcionou substancial incremento na produção de carne. No entanto, este tipo de seleção pode provocar desequilíbrio entre as exigências de mantença e os sistemas de produção utilizados. Em razão disso, muitos programas de melhoramento têm utilizado escores visuais na tentativa de buscar animais mais equilibrados e adaptados às condições de criação em pastagem tropical. Algumas dessas medidas são os escores visuais de conformação (capacidade de predizer quanto o animal produziria de carne se fosse abatido no momento da avaliação), precocidade (capacidade do animal chegar a um mínimo de acabamento de carcaça) e musculosidade (presença de massas musculares). Outra forma de avaliação visual que apresenta objetivo semelhante é a conformação frigorífica (CF), que utiliza apenas um escore visual para predizer a capacidade produtiva do animal como um todo. Na pecuária de corte brasileira predomina o uso da monta natural, sendo que apenas cerca de 6% do rebanho de corte faz uso da inseminação artificial (TORRES JÚNIOR et al., 2003) e, tratando-se de reprodutores, o tamanho e posicionamento do umbigo e prepúcio são características importantes, pois umbigos mais pronunciados ou pendulosos apresentam maior predisposição a lesões e traumatismos ocasionados pela vegetação, podendo levar à perda do reprodutor (LAGOS et al., 1970). Segundo Viu et al. (2002), a avaliação por escore visual, por meio de notas atribuídas conforme o 24 tamanho e a forma do umbigo, é uma das maneiras utilizadas para classificar os animais. No Brasil, a grande maioria do rebanho bovino de corte é criada em grandes áreas de pastagens e a maior concentração de produção se encontra em áreas de clima tropical. A viabilidade da atividade depende, entre outros fatores, do potencial de produção dos animais e da capacidade de adaptação ao ambiente. Várias características do pelame são desejáveis para bovinos que vivem em climas tropicais, como pêlos curtos e assentados, alta densidade numérica de pêlos, maior diâmetro dos pêlos e pelame claro, entre outras. Essas características permitem maior proteção contra a radiação solar e o estresse térmico, contribuindo para maior conforto dos animais e, conseqüentemente, melhor desempenho zootécnico em condições de campo (Silva, 2000). A avaliação visual por meio de escores de qualidade de pelagem pode ser uma forma de classificar animais mais adaptados ao sistema de produção. No entanto, a seleção de animais com base em características sem o prévio ajuste para fatores ambientais e genéticos que as influenciam pode colocar em risco o progresso genético esperado. Vários trabalhos na literatura relatam a influência de fatores ambientais (MASCIOLI et al., 1996; JORGE JÚNIOR et al., 2001; DAL-FARRA et al., 2002; JORGE JÚNIOR et al., 2004) e heteróticos (TREMATORE et al., 1998; PEROTTO et al., 2000; ROSO e FRIES, 2000; DAL-FARRA et al., 2002) sobre escores visuais de conformação, precocidade, musculosidade e, ou, características de crescimento, havendo carência de estudos sobre os escores visuais de conformação frigorífica, qualidade de pelagem e umbigo. Os objetivos neste estudo foram identificar possíveis fontes de variações ambientais, assim como avaliar os efeitos aditivos direto e materno da raça Charolesa em relação ao zebu e da heterozigose materna sobre o peso, o perímetro escrotal e os escores visuais de conformação frigorífica, de umbigo e de qualidade de pelagem, avaliados à desmama, em bovinos da raça Canchim pertencentes ao programa de avaliação genética da raça. 25 Material e Métodos Os dados utilizados neste trabalho foram provenientes de bovinos da raça Canchim criados no Brasil, participantes da avaliação genética executada pelo Programa Embrapa de Melhoramento de Gado de Corte – Geneplus. Foram utilizados dados de peso, de perímetro escrotal e de escores visuais, obtidos à desmama, de 12.344 animais Canchim nascidos no período de 1999 a 2005. As notas dos escores foram atribuídas individualmente para cada animal, sendo cada escore avaliado sob metodologia própria, descrita a seguir. Para a atribuição do escore de conformação frigorífica (animais harmônicos entre desenvolvimento de musculatura, deposição de gordura subcutânea e tamanho de carcaça), inicialmente foi feita uma inspeção geral dentro do lote a ser avaliado e, nesse procedimento, procurou-se visualizar o melhor animal (cabeceira), o pior animal (fundo) e o animal médio (meio), para então serem dados os escores individualmente, mas em relação ao grupo. Os escores de conformação frigorífica variaram de 1 a 6, sendo que o escore 6 representa a expressão mais desejável da característica. O escore de umbigo foi atribuído a cada animal em relação a um padrão absoluto, sendo que este variou de 1 a 6, em que o escore 1 é atribuído àqueles animais com umbigo maiores, mais pendulosos e de angulação superior a 450 em relação ao ventre, e o escore 6 representa os animais com umbigo curto e colado ao ventre. A característica foi considerada como a mesma em machos e fêmeas, sendo empregado apenas o termo escore de umbigo. Para as análises, foi realizada a seguinte transformação UMobUM −= 7 (UM é o escore de umbigo transformado e UMob é o escore de umbigo observado), ou seja, o escore 1 passou a ser atribuído para os animais de menores umbigos e o escore 6 para os animais de maiores umbigos. A qualidade de pelagem também foi avaliada com referência a um padrão absoluto. A característica teve notas variando de 1 a 6, sendo que o escore 1 representou aqueles animais com pêlos compridos, sem brilho e com baixa densidade, 26 não sendo desejado, enquanto o escore 6 se referia aos animais com pelagem considerada adaptada ao clima (pêlos lisos, brilhantes e com alta densidade). O peso à desmama foi padronizado para 225 dias de idade, média de idade à desmama dos bezerros, utilizando-se o ganho de peso médio diário do nascimento à desmama. A edição e consistência dos dados foram realizadas pelo emprego do software SAS (2002/2003). Na Tabela 1 são observadas as medidas descritivas que auxiliam a caracterização do banco de dados utilizado. Na Tabela 2 encontram-se os grupos genéticos dos touros e vacas dos acasalamentos que resultaram no produto Canchim, a proporção de Charolês (PCM) e a heterozigose (PHM) materna para cada grupo genético de vaca, e a proporção de Charolês no animal (PCA), proporcionada pela combinação de grupos genéticos maternos e paternos. A heterozigose materna foi calculada de acordo com a seguinte fórmula: ( )∑ −= i ii vpH 1 em que ip = fração da raça i (Charolesa e zebu) no pai; e iv = fração da raça i (Charolesa e zebu) na mãe. Os dados de peso, perímetro escrotal e escores visuais foram analisados pelo método dos quadrados mínimos utilizando-se modelos estatísticos que incluíram os efeitos de ano e época de nascimento (1 - dezembro a fevereiro; 2 - março a maio; 3 - junho a agosto; e 4 - setembro a novembro), criador-proprietário, regime alimentar (1 - pasto; 2 - pasto adubado; 3 - suplementado e 4 - confinado ou exposição), sexo do bezerro e as covariáveis PCA, PCM, PHM e idade do bezerro, efeitos linear, e idade da vaca ao parto, efeitos linear e quadrático, além do resíduo. Outros dois regimes alimentares (pasto adubado e manejo rotacionado e pasto irrigado), também existentes, foram desconsiderados nessa análise pelo baixo número de observações. A proporção de heterozigose no animal não foi considerada nas análises por ter apresentado pequena variação, com valores mínimo e máximo de 0,4512 e 0,4927, respectivamente, e coeficiente de variação de 1,90%. 27 Tabela 1. Número de observações (N), média, valores mínimo (Min) e máximo (Max), desvio-padrão (DP) e coeficiente de variação (CV) para as características peso (P225), perímetro escrotal (PE), conformação frigorífica (CF), umbigo (UM) e qualidade de pelagem (PEL) à desmama e as covariáveis idade do bezerro à desmama (ID), idade da vaca ao parto (IVP), proporção de Charolês no animal (PCA), proporção de Charolês materna (PCM) e proporção de heterozigose materna (PHM), proporção de heterozigose no animal (PHA). Característica N Média Min Max DP CV% P225 (kg) 11.563 208,77 80,64 399,00 40,02 19,08 PE (cm) 5.020 18,78 11,00 30,00 2,40 12,80 CF (escore) 7.846 4,43 1 6 1,19 26,84 UM (escore) 8.598 1,99 1 6 1,07 21,33 PEL (escore) 7.476 4,39 1 6 1,33 30,44 ID (dias) 12.334 230,06 165 285 21,79 9,09 IVP (dias) 12.334 2225,00 730 7910 1046,18 46,22 PCA 12.334 0,6223 0,5625 0,6563 0,0179 2,88 PCM 12.334 0,6216 0,5313 0,6563 0,0262 4,25 PHM 12.334 0,5185 0,4512 0,7500 0,0891 17,65 PHA 12.334 0,4698 0,4512 0,4927 0,0090 1,90 Tabela 2. Grupos genéticos do pai (GGPai), da mãe (GGMãe) e do bezerro (GGBez), número de acasalamentos (N), valores mínimos (Min) e máximos (Max) para a proporção de Charolês materna (PCM), proporção de heterozigose materna (PHM) e proporção de Charolês no animal (PCA) PCM PHM PCA GGPai GGMãe GGBez N Min Max Min Max Min Max CN1 V2 CN 708 0,5313 0,5781 0,5000 0,5087 0,5625 0,6094 5/8Ch3 5/8Ch CN 146 0,6250 0,6250 0,7500 0,7500 0,6250 0,6250 CN 5/8Ch CN 100 0,6250 0,6250 0,7500 0,7500 0,6055 0,6406 CN CN CN 9.137 0,5586 0,6563 0,4512 0,4941 0,5723 0,6563 CN MA4 CN 1.537 0,6465 0,6563 0,6875 0,7070 0,6133 0,6563 MA MA CN 706 0,6465 0,6563 0,6875 0,7070 0,6514 0,6523 1CN: Canchim; 2 35/64 Charolês + 29/64 Zebu; 3 Ch: Charolês; 4 21/32 Charolês + 11/32 zebu. 28 Resultados e Discussão Na Tabela 3, são apresentados os resumos das análises de variância resultantes do modelo empregado. Observa-se que os efeitos de ano e época de nascimento, regime alimentar, proprietário e idade da vaca ao parto influenciaram (P<0,01) todas as características estudadas. O sexo do bezerro influenciou (P<0,01) P225 e UM, e a idade do bezerro influenciou (P<0,01) P225, PE, CF e PEL. Os efeitos de ano de nascimento e de proprietário sobre as características P225, PE, CF, UM e PEL são, provavelmente, conseqüência de diferenças na disponibilidade de alimentos e no manejo dos animais entre os vários anos e proprietários. Esses efeitos foram observados também por outros autores (MARTINS et al., 2000; SARMENTO et al., 2003). Tabela 3. Resumo das análises de variância do peso (P225), do perímetro escrotal (PE) e dos escores visuais de conformação frigorífica (CF), umbigo (UM) e qualidade de pelagem (PEL), à desmama Graus de Quadrados médios Fonte de Variação liberdade P225 PE CF UM PEL Ano de nascimento 6 26.762** 44,7** 10,7** 10,4** 13,7** Proprietário 651 28.390** 64,6** 51,9** 48,9** 128,0** Regime alimentar 3 650.693** 580,6** 94,4** 8,3** 82,1** Época de nascimento 3 216.920** 90,3** 25,4** 6,4** 16,8** Sexo 1 638.457** - 0,3 66,3** 2,2 PCA 1 6.789** 3,0 5,1* 1,1 32,9** PCM 1 7.572** 4,3 3,5* 0,7 27,1** PHM 1 146.567** 102,3** 32,2** 24,7** 0,3 Idade à desm., linear 1 235.499** 1.477,0** 25,2** 0,0 34,9** Idade da vaca, linear 1 765.060** 505,8** 188,0** 16,7** 8,2** quadrático 1 615.816** 387,9** 136,5** 11,1** 4,6* Resíduo 11.4782 977 4,0 0,9 0,8 0,8 ** P<0,01; * P<0,05 1 graus de liberdade = 54, 46, 50 e 47 para PE, CF, UM e PEL, respectivamente. 2 graus de liberdade = 4.947, 7.780, 8.528 e 7.409 para PE, CF, UM e PEL, respectivamente. Quanto aos efeitos de época de nascimento, os bezerros nascidos de junho a agosto foram mais pesados e apresentaram maior perímetro escrotal e melhor conformação (Tabela 4). A ausência de problemas sanitários durante as primeiras 29 semanas de vida e a desmama em época mais favorável com maior disponibilidade de forragens, provavelmente foram responsáveis pelo melhor desempenho dos bezerros nascidos no período seco do ano. Alencar et al. (1982 e 1993) e Mascioli et al. (1996) também verificaram a importância desses efeitos na raça Canchim. Tabela 4. Médias estimadas do peso (P225), do perímetro escrotal (PE) e dos escores visuais de conformação frigorífica (CF), umbigo (UM) e qualidade de pelagem (PEL) à desmama, de acordo com a época de nascimento, o sexo do bezerro e o regime alimentar Época P225 PE CF UM PEL dez. - fev. 214 ± 1,35 19,16 ± 0,13 4,17 ± 0,05 2,35 ± 0,04 3,87 ± 0,05 mar. - mai. 218 ± 1,58 19,77 ± 0,16 4,25 ± 0,06 2,48 ± 0,05 3,98 ± 0,06 jun. - ago. 237 ± 1,32 19,92 ± 0,13 4,48 ± 0,05 2,44 ± 0,04 4,07 ± 0,05 set. - nov. 230 ± 1,27 19,63 ± 0,13 4,28 ± 0,05 2,35 ± 0,04 3,86 ± 0,05 Sexo Macho 232 ± 1,27 - 4,29 ± 0,05 2,49 ± 0,04 3,96 ± 0,05 Fêmea 217 ± 1,25 - 4,30 ± 0,05 2,31 ± 0,04 3,93 ± 0,05 Reg. alimentar Pasto 202 ± 0,99 18,88 ± 0,10 4,10 ± 0,04 2,39 ± 0,03 3,59 ± 0,03 Pasto adubado 214 ± 2,83 18,36 ± 0,29 3,78 ± 0,14 2,64 ± 0,10 3,89 ± 0,16 Suplementado 222 ± 1,91 19,52 ± 0,19 4,39 ± 0,08 2,40 ± 0,07 3,96 ± 0,07 Conf. - Expos. 261 ± 1,62 21,72 ± 0,16 4,91 ± 0,06 2,18 ± 0,05 4,33 ± 0,05 Os machos foram mais pesados do que as fêmeas, Tabela 4, corroborando com a literatura (ALENCAR et al., 1982; ELER et al., 1989; MASCIOLI et al., 1996 e 1997; GUIMARÃES et al., 2003; BOCCHI et al., 2004). A ausência de efeito de sexo sobre o escore de conformação frigorífica difere das demais literaturas, mas pode ser pelo fato de as avaliações serem relativas aos lotes, que consideraram o sexo na sua formação. Cardoso et al. (2001) estudaram outros escores visuais (conformação, precocidade, musculatura e tamanho), também relativos aos grupos de contemporâneos, e relataram a presença do efeito de sexo sobre eles. Não houve diferenças entre os sexos para o escore de pelame, enquanto para o escore de umbigo os machos apresentaram escores maiores do que as fêmeas (Tabela 4). Viu et al. (2002) também relataram maiores escores para machos. 30 O efeito de época de nascimento sobre o escore de pelame observado neste trabalho pode ser reflexo do efeito de época sobre o desempenho ponderal dos bezerros, ou seja, bezerros mais desenvolvidos e de melhor conformação em razão da melhor época de nascimento apresentavam a pelagem mais lisa e assentada (Tabela 4). Essa explicação, entretanto não pode ser dada para o efeito de época sobre o escore de umbigo. Os bezerros confinados (exposição) e os suplementados foram os mais pesados, com maior perímetro escrotal e melhor conformação (Tabela 4). O efeito de regime alimentar sobre a característica PEL pode ser reflexo dos efeitos sobre as características de crescimento, fato que não explica o efeito sobre o escore de umbigo. Entretanto, é possível que o tamanho do umbigo tenha sido um dos critérios utilizados na escolha de animais a serem confinados, explicando a menor média de tamanho de umbigo para esse grupo. Os valores estimados de P225, de PE e dos escores CF, UM e PEL em função da idade da vaca ao parto são apresentados nas Figura 1 e 2. Analisando-se as Figuras 1 e 2, observa-se que o efeito da idade da vaca ao parto apresentou comportamento quadrático semelhante para todas as características estudadas. Para P225, PE, CF, UM e PEL, o bezerro apresentou desempenho crescente com o aumento da idade da vaca, até esta atingir a maturidade fisiológica, tendo o pico ao redor dos oito anos de idade (3.000 dias), vindo a decrescer gradativamente com seu envelhecimento. Resultados semelhantes foram relatados por outros autores que trabalharam com peso à desmama (ALENCAR et al., 1982; MASCIOLI et al., 1996; PELICIONI et al., 2002; GUIMARÃES et al., 2003). Verificou-se que as vacas ao redor dos 5.500 dias de idade (aproximadamente 15 anos) começaram a desmamar bezerros mais leves que as novilhas, tendência essa também observada por Pelicioni et al. (2002) com vacas da raça Gir quando estas alcançaram 12 anos, e por Bocchi (1999), citado por Pelicioni et al. (2002), com vacas Guzerá aos nove anos, Tabapuã aos 11 anos, Indubrasil aos 12 anos e Nelore aos 15 anos. Esses resultados mostram não ser interessante a manutenção de vacas depois de alcançada determinada idade. 31 Figura 1. Valores estimados para o peso à desmama e o perímetro escrotal em função da idade da vaca ao parto. 32 Para o escore CF não foi encontrado relato na literatura sobre o seu comportamento em função da idade da vaca ao parto, no entanto, existem alguns trabalhos com escores visuais de conformação, precocidade e musculosidade (JORGE JÚNIOR et al., 2001; CARDOSO et al., 2001; DAL-FARRA et al., 2002; JORGE JÚNIOR et al., 2004; KIPPERT et al., 2006), em diferentes raças bovinas, que apresentaram comportamento semelhante ao aqui encontrado para CF. Para o escore PEL, não foram encontrados trabalhos que permitam a comparação. É possível que os efeitos de idade da vaca sobre CF e PEL sejam reflexo de seus efeitos sobre o peso à desmama, ou seja, os bezerros mais pesados apresentavam melhor CF e possuíam pelame mais assentado e curto. Para o escore de umbigo, o bezerro apresentou menor umbigo no início e no final da vida produtiva da vaca, tendo seus maiores escores quando a vaca se encontrou em idade mediana, quando atinge a maturidade fisiológica, não sendo Figura 2. Valores estimados para os escores de conformação frigorífica (CF), umbigo (UM) e qualidade de pelagem (PEL) em função da idade da vaca ao parto. 33 encontrados relatos na literatura sobre o comportamento desta característica em função da idade da vaca ao parto. O efeito da IVP sobre todas as características encontra-se coerente, em que as características P225, PE e CF aumentam de acordo com a idade da vaca, chegam a um valor máximo e depois decrescem com o envelhecimento da vaca. Nas Figura 3 e 4, observa-se o comportamento das características P225, PE, CF e PEL em função da idade do bezerro à desmama. O efeito linear negativo da idade do bezerro sobre P225 é justificado pela padronização que a característica recebeu pelo ganho de peso médio diário do nascimento à desmama, assumido constante, em que os bezerros desmamados mais novos foram favorecidos em relação aos desmamados mais velhos. Mascioli (1995), ao padronizar o peso à desmama para 240 dias de idade de bezerros Canchim, também encontrou coeficiente de regressão negativo da idade do bezerro à desmama. Para as demais características, todas apresentaram aumento de expressão com o incremento de idade, ou seja, animais mais velhos apresentaram maiores escores de conformação frigorífica e de pelagem, além de maior perímetro escrotal. Corrêa et al. (2006) também encontraram efeito significativo apenas linear da idade sobre o peso à desmama de bovinos Devon, no entanto, como seus dados não sofreram pré-ajuste, este efeito foi positivo. Ortiz Peña et al. (2000), trabalhando com características ao sobreano, relataram a influência linear positiva da idade sobre o perímetro escrotal. Dal-Farra et al. (1999) relataram efeito linear e quadrático da idade sobre o perímetro escrotal ao sobreano, indicando que o perímetro escrotal apresenta desenvolvimento semelhante ao de peso. O comportamento do escore de conformação frigorífica se assemelha ao comportamento de outros escores visuais (conformação, precocidade, musculosidade e tamanho), segundo Jorge Júnior et al. (2001 e 2004), Kippert et al. (2006) e Cardoso et al. (2001), em que os maiores escores visuais foram atribuídos aos indivíduos desmamados mais velhos e, os menores, aos animais que desmamaram mais cedo, ou seja, animais mais velhos tenderam a ser maiores e mais pesados, levando a confundimento do avaliador, que emitiu melhores escores para esses animais. 34 Figura 3. Valores estimados para o peso a desmama (P225) e perímetro escrotal (PE) em função da idade à desmama. 35 Nas Figuras 5 e 6 encontram-se os valores estimados para o peso à desmama e para os escores de conformação frigorífica e de qualidade de pelagem em função da proporção de Charolês no animal (PCA) e na mãe (PCM), respectivamente. O efeito aditivo direto da raça Charolesa (PCA) como desvio do zebu foi negativo e significativo apenas para P225, CF e PEL, sendo responsável por 4,64% (9,68 kg), 8,35% (0,37 unidades de escore) e 16,00% (0,70 unidades de escore) da variação em P225, CF e PEL, respectivamente. Estes resultados indicam que bezerros com maior proporção de genes da raça Charolesa apresentaram piores desempenhos na fase de cria, independentemente dos outros fatores. Figura 4. Valores estimados para os escores de conformação frigorífica (CF) e qualidade de pelagem (PEL) em função da idade à desmama. 36 . Figura 5. Valores estimados para o peso à desmama e para os escores de conformação frigorífica (CF) e de qualidade de pelagem (PEL), em função da proporção de Charolês no animal. 37 Para o escore de qualidade de pelagem este resultado era esperado, visto que, a raça Charolesa apresenta pêlos maiores e mais grossos, diferentemente de animais de Figura 6. Valores estimados para o peso à desmama e para os escores de conformação frigorífica (CF) e de qualidade de pelagem (PEL), em função da proporção de Charolês materna. 38 raça zebuína, em que a pelagem característica é justamente aquela mais lisa, curta e assentada, sendo este, também, um dos fatores para os animais de raças zebuínas serem melhores adaptados ao clima tropical. Também, menores escores de pelagem com o aumento da proporção de Charolês no bezerro pode ser reflexo do efeito sobre o peso à desmama. Este efeito aditivo direto negativo sobre o peso à desmama do bezerro discorda dos trabalhos de Dillard et al. (1980), Peacock et al. (1981) e Trematore et al. (1998), que relataram maior desenvolvimento do bezerro quanto maior a proporção de genes da raça Charolesa como desvio das raças Hereford, Brahman e Nelore, respectivamente. Trematore et al. (1998) justificaram este comportamento pelas características inerentes à raça Charolesa, que é de grande porte e apresenta elevado potencial para crescimento, quando comparada com a Nelore. Borba et al. (2000) também relataram efeitos observados semelhantes aos de Trematore et al. (1998), trabalhando com animais Blonde D’Aquitaine como desvio da raça Nelore. Teixeira et al. (2005), estudando bezerros cruzados Nelore x Hereford e Nelore x Angus, encontraram efeito aditivo direto para a raça Nelore superior ao da raça Hereford e inferior ao da raça Angus, o que levou os autores a creditarem a utilização de touros Nelore de qualidade superior aos Hereford. Uma possível explicação para o efeito aditivo direto negativo do Charolês em relação ao zebu, talvez seja o fato de os touros do grupo genético MA, que foram os responsáveis pelas proporções mais elevadas de Charolês nos bezerros (Tabela 2), terem, provavelmente, sofrido menor pressão de seleção comparados com os do grupo Canchim, resultando em filhos com desempenhos inferiores. As menores notas de conformação frigorífica com o aumento da proporção de Charolês no bezerro podem ser conseqüência do efeito semelhante sobre o peso à desmama. O efeito aditivo materno da raça Charolesa (PCM) como desvio do zebu foi significativo e positivo para as características P225, CF e PEL, sendo responsável por 5,03% (10,51 kg), 5,67% (0,25 unidades de escore) e 11,50% (0,50 unidades de escore) das variações sobre P225, CF e PEL, respectivamente. Estes resultados 39 indicaram que quanto maior a proporção de genes da raça Charolesa na mãe, maior será P225 e melhores escores de CF e PEL serão atribuídos ao bezerro. Este efeito positivo da proporção de genes da raça Charolesa na vaca pode ser resultado do maior potencial leiteiro da raça Charolesa em relação à raça zebuína. Estes resultados diferiram dos encontrados por Trematore et al. (1998) e Teixeira et al. (2005) que relataram efeitos aditivos maternos negativos das raças Charolesa, Hereford e Angus, como desvio da raça Nelore, respectivamente, para o peso à desmama. A pequena amplitude dos valores de PCA (0,5527 a 0,6563) e de PCM (0,5313 a 0,6563) nos animais deste estudo impediu interpretação mais profunda dos resultados, pois extrapolar estes valores para animais puros não seria correto, isto é, se houvesse valores variando entre os extremos (0 a 1), animais puros e vários níveis de cruzamento, o comportamento das características em função das frações de genes das raças poderia não ser o aqui estimado. Nas Figura 7 e 8 encontram-se os valores estimados para o peso, o perímetro escrotal e os escores de conformação frigorífica e de umbigo em função da heterozigose materna (PHM). Os valores dos efeitos heteróticos, associados à heterozigose materna, correspondem a 7,31% (15,27 kg), 3,56% (0,67 cm), 6,52% (0,29 unidades de escore) e 3,88% (0,19 unidades de escore) para P225, PE, CF e UM, respectivamente. Estes resultados indicam que quanto maior a porcentagem de heterozigose materna, maior será P225, PE, CF e UM. Dillard et al. (1980), trabalhando com cruzamentos entre animais Charolês, Angus e Hereford, Peacock et al. (1981), que trabalharam com cruzamentos de animais Charolês e Brahman, e Trematore et al. (1998), estudando cruzamento de animais Charolês x Nelore, também obtiveram efeito positivo da heterozigose materna sobre o peso à desmama. 40 Figura 7. Valores estimados para o peso à desmama e o perímetro escrotal em função da proporção de heterozigose materna. 41 Dal-Farra et al. (2002) relataram valores estimados de heterose, associados a heterozigose materna, em animais cruzados Angus x Nelore e Hereford x Nelore, para escores visuais de conformação, precocidade e musculosidade, variando de 8,5% a 10,9%. Gregory et al. (1980) relataram que 60% ou mais da heterose em características que contribuem para o peso ao desmame é atribuída à heterose materna, e relataram aumento de 23% na quantidade de quilos de bezerros desmamados por vaca colocada em reprodução, em razão dos efeitos heteróticos na fertilidade, na produção de leite, na sobrevivência e no desenvolvimento do bezerro. Koch et al. (1989), citados por Roso e Fries (2000), também relataram incremento de 23% na produção por vaca em cruzamentos Bos taurus x Bos taurus, em áreas temperadas e incremento de 50% em cruzamentos Bos indicus x Bos taurus, quando em áreas subtropicais, em conseqüência do efeito de heterose. Figura 8. Valores estimados para os escores de conformação frigorífica (CF) e umbigo (UM) em função da proporção de heterozigose materna. 42 Conclusões Efeitos de ambiente, como ano e época de nascimento, proprietário, sexo do bezerro e regime alimentar devem ser considerados por ocasião da obtenção de parâmetros e valores genéticos para peso, perímetro escrotal e escores visuais de conformação frigorífica, de umbigo e de pelagem à desmama na raça Canchim. Também devem ser consideradas nos modelos estatísticos as covariáveis porcentagem de Charolês no bezerro e na mãe para o peso e os escores de conformação frigorífica e de pelagem e de heterozigose materna para o peso e os escores de conformação frigorífica, de pelagem e de umbigo. 43 Referências Bibliográficas ALENCAR, M.M.; BARBOSA, P.F. Fatores que influenciam os pesos de bezerros Canchim ao nascimento e à desmama. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.17, n.10, p.1535-1540, 1982. ALENCAR, M.M.; BARBOSA, P.F.; BARBOSA, R.T.; VIEIRA, R.C. 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Neste trabalho, utilizaram-se dados de 12.103 pesos (P225), 5.278 perímetros escrotais (PE), 8.343 escores de conformação frigorífica (CF), 9.111 escores de umbigo (UM) e 7.986 escores de qualidade de pelagem (PEL) à desmama de bovinos da raça Canchim, para estabelecer o melhor modelo para avaliação genética de animais. Além dos efeitos fixos (grupo de contemporâneos, idade do bezerro e da vaca), os modelos incluíram os efeitos aleatórios genéticos aditivos direto e materno e de ambiente permanente materno, em diferentes combinações, e as análises foram feitas pelo método da máxima verossimilhança restrita livre de derivadas. O modelo completo (efeitos genético aditivos direto e materno e de ambiente permanente) foi o mais adequado para P225, PE, CF e UM, enquanto que o modelo que incluiu os efeitos aditivos direto e materno foi o mais adequado para PEL. As herdabilidades diretas e maternas estimadas foram 0,17 e 0,09; 0,13 e 0,07; 0,20 e 0,08; 0,18 e 0,04; e 0,52 e 0,06 para P225, PE, CF, UM e PEL, respectivamente, indicando a possibilidade de se obter progresso genético para essas características, principalmente PEL. As correlações entre os efeitos aditivos diretos e maternos foram - 0,17 (P225); 0,00 (PE); -0,59 (CF e UM); e -0,68 (PEL), indicando antagonismos entre esses efeitos para P225, CF, UM e PEL. Palavras-chave: bovinos de corte, conformação frigorífica, efeito direto, efeito materno, pelagem, umbigo 49 Introdução A avaliação e a seleção de animais em idades mais precoces requerem alguns cuidados. Características avaliadas no período pré-desmama são influenciadas não apenas pelo genótipo do indivíduo, mas também pelo genótipo da sua mãe para características maternas e pelos efeitos de ambiente permanente materno. Para estabelecer as estratégias de seleção e alcançar o progresso genético esperado, é necessário o conhecimento prévio dos parâmetros genéticos das características de interesse, sendo que estes parâmetros diferem entre populações e ambientes. Para obter esses parâmetros, é necessária a definição do modelo de análise. Estão disponíveis, na literatura, para a raça Canchim, diferentes estimativas de herdabilidade para o peso à desmama. Assim, para um mesmo rebanho Canchim, Alencar et al. (1998 e 2005) e Mello et al. (2002 e 2006) obtiveram estimativas que variaram de 0,29 a 0,48, utilizando diferentes modelos estatísticos, que variaram do mais simples, com apenas o efeito aleatório aditivo direto ao mais completo, com os efeitos aleatórios aditivos direto e materno e de ambiente permanente. No entanto, ao se tratar de características como o perímetro escrotal avaliado à desmama ou mesmo os escores de avaliação visual, percebe-se carência de estudos para animais da raça Canchim. Os objetivos neste trabalho foram definir o modelo mais adequado para obter estimativas de parâmetros genéticos para as características peso, perímetro escrotal e escores de avaliação visual de conformação frigorífica, de umbigo e de qualidade de pelagem à desmama para bovinos da raça Canchim criados no Brasil, e verificar a possibilidade de inclusão dos escores de umbigo e de qualidade de pelagem na avaliação genética da raça Canchim. 50 Material e Métodos Os dados utilizados neste trabalho são provenientes de bovinos da raça Canchim criados no Brasil, participantes da avaliação genética executada pelo Programa Embrapa de Melhoramento de Gado de Corte - Geneplus. Foram utilizados dados de peso, de perímetro escrotal e de escores visuais, obtidos à desmama, de 18.452 animais nascidos no período de 1999 a 2005. As notas dos escores foram atribuídas individualmente para cada animal, sendo cada escore avaliado sob metodologia própria, descrita a seguir. Para a atribuição do escore de conformação frigorífica (animais harmônicos entre desenvolvimento de musculatura, deposição de gordura subcutânea e tamanho de carcaça), inicialmente foi feita uma inspeção geral dentro do lote a ser avaliado e, nesse procedimento, procurou-se visualizar o melhor animal (cabeceira), o pior animal (fundo) e o animal médio (meio), para então serem dados os escores individualmente, mas em relação ao grupo. Os escores de conformação frigorífica variaram de 1 a 6, sendo que o escore 6 representa a expressão mais desejável da característica. O escore de umbigo foi atribuído a cada animal em relação a um padrão absoluto, sendo que este variou de 1 a 6, em que o escore 1 é atribuído àqueles animais com umbigo maiores, mais pendulosos e de angulação superior a 450 em relação ao ventre, e o escore 6 representa os animais com umbigo curto e colado ao ventre. Para as análises, os dados foram transformados, ou seja, o escore 1 passou a ser atribuído para os animais de menores umbigos e o escore 6 para os animais de maiores umbigos. A qualidade de pelagem também foi avaliada com referência a um padrão absoluto. A característica teve notas variando de 1 a 6, sendo que o escore 1 representou aqueles animais com pêlos compridos, sem brilho e com baixa densidade, não sendo desejado, enquanto o escore 6 se referia aos animais com pelagem considerada adaptada ao clima (pêlos lisos, brilhantes e com alta densidade). 51 O peso à desmama foi padronizado para 225 dias de idade, média de idade à desmama dos bezerros, utilizando-se o ganho de peso médio diário do nascimento à desmama. A edição e a consistência dos dados foram realizadas pelo emprego do SAS (2002/2003). A matriz de parentesco foi formada a partir de animais informativos, ou seja, apenas constaram aqueles animais que apresentavam parentesco com os animais que continham observação, permitindo assim análise mais rápida e sem perda de informação. A matriz de parentesco continha 37.346 animais e coeficiente médio de endogamia de 0,017. Os animais com observação foram provenientes de 345 a 503 touros e de 3.070 a 4.975 avôs maternos distintos, dependendo da característica. Na Tabela 1 são observadas as medidas descritivas que auxiliam na caracterização do banco de dados utilizado. Tabela 1. Número de observações (N), de vacas (V) e de vacas com dois ou mais filhos (VD), média de filhos por vaca (F/V), média, valores mínimos (Min) e máximo (Max), desvio-padrão (DP) e coeficiente de variação (CV) para as características peso (P225), perímetro escrotal (PE) e escores de conformação frigorífica (CF), umbigo (UM) e qualidade de pelagem (PEL) à desmama e as fontes de variação idade do bezerro à desmama (ID), idade da vaca ao parto (IVP), proporção de Charolês no animal (PCA), proporção de Charolês na mãe (PCM) e heterozigose materna (PHM) Caract. N V VD F/V Média Min Max DP CV% P225 (kg) 12.103 7.191 3.179 1,68 208,8 80,6 399,0 39,7 19,08 PE (cm) 5.278 4.063 994 1,30 18,76 11,00 30,00 2,40 12,80 CF (escore) 8.343 5.076 2.187 1,64 4,42 1 6 1,19 26,84 UM (escore) 9.111 5.646 2.335 1,61 1,98 1 6 1,07 21,33 PEL (escore) 7.986 4.936 2.091 1,62 4,36 1 6 1,33 30,44 ID (dias) 18.452 - - - 230,6 165,0 285,0 22,0 9,09 IVP (dias) 18.452 - - - 2.200 730 7.910 1.030 46,22 PCA 18.452 - - - 0,622 0,553 0,656 0,018 2,88 PCM 18.452 - - - 0,621 0,531 0,656 0,026 4,25 PHM 18.452 - - - 0,517 0,451 0,750 0,088 17,65 As análises estatísticas foram realizadas sob quatro modelos, diferentes apenas no que se refere aos efeitos aleatórios. O primeiro modelo (M1) constou apenas do 52 efeito aleatório genético aditivo direto. O segundo modelo (M2) incluiu, além do efeito genético aditivo direto, o efeito genético aditivo materno. O terceiro modelo (M3) contemplou o efeito genético aditivo direto e o efeito de ambiente permanente, enquanto que o quarto modelo (M4), ou modelo completo, continha todos esses efeitos aleatórios. Todos os modelos incluíram o efeito de grupo de contemporâneos e as covariáveis proporção de Charolês no animal (PCA; linear), proporção de Charolês na mãe (PCM; linear), proporção de heterozigose na mãe (PHM; linear), idade da vaca ao parto (IVP; efeitos linear e quadrático) e idade do bezerro à desmama (ID; linear). A proporção de heterozigose no animal não foi considerada nas análises por ter apresentado pequena variação (0,4512 a 0,4954). Foram formados grupos de contemporâneos pela junção das variáveis criador- proprietário, ano e época (1 – dezembro a fevereiro, 2 – março a maio, 3 – junho a agosto e 4 – setembro a novembro) de nascimento, regime alimentar (1 – pasto, 2 – pasto adubado, 3 – pasto adubado e rotacionado, 4 – pasto irrigado, 5 – suplementado e 6 – confinado ou exposição) e sexo. Essa configuração da junção das variáveis resultou em 934 (P225), 416 (PE), 637 (CF), 722 (UM) e 642 (PEL) grupos de contemporâneos para a estimativa dos parâmetros. Os modelos podem ser representados