UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP Faculdade de Ciências Humanas e Sociais - Campus de Franca-SP PATRICIA CARNEIRO DE BRITO SOUSA PAINEL DE INFORMAÇÃO FUNDO A FUNDO DO FUNDO NACIONAL DE SAÚDE (FNS): Avaliação da Transparência e da Gestão Financeira do Sistema Único de Saúde no ano de 2022 Franca-SP 2024 PATRICIA CARNEIRO DE BRITO SOUSA PAINEL DE INFORMAÇÃO FUNDO A FUNDO DO FUNDO NACIONAL DE SAÚDE (FNS): Avaliação da Transparência e da Gestão Financeira do Sistema Único de Saúde no ano de 2022 Dissertação apresentada à Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Franca (SP), para obtenção do título de Grau acadêmico de Mestre em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. Área de Concentração: Desenvolvimento Social Orientador: Prof. Dr. José Roberto Gnecco Coorientadora: Prof. Dra. Carla Manuela Crispim Nascimento Franca-SP 2024 Sousa, Patrícia Carneiro de Brito S725p PAINEL DE INFORMAÇÃO FUNDO A FUNDO DO FUNDO NACIONAL DE SAÚDE (FNS): Avaliação da Transparência e da Gestão Financeira do Sistema Único de Saúde no ano de 2022 / Patrícia Carneiro de Brito Sousa. -- Franca, 2024 99 p.: tabs. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Franca Orientador: José Roberto Gnecco Coorientadora: Carla Manuela Crispim Nascimento 1. Dashboards (Sistemas de informação gerencial). 2. Saúde pública - Brasil - Administração. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Franca. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. IMPACTO POTENCIAL DESTA PESQUISA Este trabalho se propõe a enriquecer para literatura acadêmica no que concerne à utilização de bancos de dados em painéis de informação bem como, trazer luz a aplicabilidade na promoção de transparência e eficiência na Administração Pública. Neste contexto, o estudo também incentiva a realização de futuras investigações acadêmicas que abordem especificamente a publicação dos dados financeiros relacionados ao Sistema Único de Saúde (SUS). A disseminação dessas informações faz-se importantes para intensificar o controle social dos fundos públicos, o que pode desencadear uma série de benefícios relevantes para população. Principalmente, porque com a disponibilização de dados de forma clara e acessível amplia a transparência na gestão dos recursos financeiros, proporcionando à sociedade uma compreensão mais acurada sobre a alocação das transferências. Isso favorece uma gestão mais aberta e responsável, alinhada com os princípios de boa governança. Ademais, a análise meticulosa desses dados financeiros é capaz de revelar informações relevantes para a formulação de políticas públicas mais assertivas. Assim, é possível atender de maneira mais eficaz às necessidades da população, ao poder alocar adequadamente os recursos disponíveis dentro das demandas apresentadas. Por fim, o desenvolvimento de ferramentas de gestão, como dashboards e sistemas de monitoramento, para apoiar os gestores públicos na realização de escolhas mais informadas e estratégicas. Tal avanço contribui para a consolidação de um sistema de saúde mais robusto e adaptado às exigências dos cidadãos. Portanto, este estudo não apenas sublinha a importância da transparência e eficiência na gestão pública através do uso de dados de painéis, mas também estimula a continuidade da pesquisa acadêmica nesta área vital, visando a constante melhoria da Administração Pública e o bem-estar social. POTENTIAL IMPACT OF THIS RESEARCH This work aims to enrich the academic literature regarding the use of databases in information dashboards and shed light on their applicability in promoting transparency and efficiency in public administration. In this context, the study also encourages future academic investigations specifically addressing the publication of financial data related to the Unified Health System (SUS). The dissemination of this information is important for enhancing social control of public funds, which can trigger a series of significant benefits for the population. Mainly, because the availability of data in a clear and accessible manner increases transparency in financial resource management, providing society with a more accurate understanding of the allocation of transfers. This favors a more open and accountable management, aligned with the principles of good governance. Moreover, the meticulous analysis of this financial data can reveal relevant information for the formulation of more assertive public policies. Thus, it is possible to more effectively meet the needs of the population by adequately allocating available resources according to the demands presented. Finally, the development of management tools, such as dashboards and monitoring systems, supports public managers in making more informed and strategic decisions. This advancement contributes to the consolidation of a more robust healthcare system adapted to the citizens' demands. Therefore, this study not only underscores the importance of transparency and efficiency in public management through the use of panel data but also encourages the continuation of academic research in this vital area, aiming at the constant improvement of public administration and social well-being. PATRICIA CARNEIRO DE BRITO SOUSA PAINEL DE INFORMAÇÃO FUNDO A FUNDO DO FUNDO NACIONAL DE SAÚDE (FNS): Avaliação da Transparência e da Gestão Financeira do Sistema Único de Saúde no ano de 2022 Dissertação apresentada à Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Franca (SP), para obtenção do título Mestre em Planejamento e Análise de Políticas Públicas. Área de Concentração: Instituições Cidadania e Políticas Sociais Data da defesa: 31/10/2024 Banca Examinadora: ______________________________________ Prof. Dr. Prof. Dr. José Roberto Gnecco UNESP - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Franca (SP) ______________________________________ Prof. Dr. Eduardo Kokubun UNESP - Instituto de Biociências de Rio Claro – SP ______________________________________ Prof. Dr. Rodolfo Franco Puttini Faculdade de Medicina de Botucatu/FMB - UNESP ______________________________________ Prof. Dr. Roberto Louzada FCHS/UNESP ______________________________________ Prof. Dr. Carlos José Martins DEF/IBRC/UNESP Dedico este trabalho à minha mãe, Denise Iara e ao meu marido, Cícero Jader, pelo incentivo durante todo processo AGRADECIMENTOS Este trabalho não teria sido possível sem a sustentação constante da minha família: meu irmão Francisco Flávio de Sousa Júnior, minha cunhada Daniela Abreu dos Santos, e, especialmente, minha mãe Denise Iara Carneiro de Brito e meu marido Cícero Jader da Silva Soares. Também sou profundamente grata à minha amiga, Mayara Paz, uma irmã da vida, sempre disponível para apoiar meus projetos e contribuir com sua amizade e generosidade. Eles sempre estiveram ao meu lado, proporcionando incentivo e suporte, mesmo quando isso significava renunciar a valiosos momentos em família. Agradeço também aos colegas e amigos que fiz no Fundo Nacional de Saúde. Existem laços que se desfazem quando deixamos de fazer parte do quadro de funcionários, mas há outros que se fortalece ainda mais. Listar nomes seria leviano, pois poderia esquecer alguém. No entanto, cada pessoa que me fortaleceu e ajudou neste processo sabe que sou grata. Agradeço pela oportunidade de ter trabalhado com elas, recebido sua ajuda e, sobretudo, adquirido lições e amizades valiosas. Ressalto que, enquanto fiz parte da equipe de trabalho, pude conhecer a dedicação desses profissionais ao Sistema Único de Saúde, bem como todo o esforço para que os recursos chegassem aos estados e municípios. Durante o tempo que estive debruçada nesta dissertação, tive o apoio de amigas e amigos que me acompanharam há décadas. Confesso falar disso com certo orgulho, pois tenho a sorte de ter amizades consistentes que apoiam "loucuras", como outra pós-graduação ao mesmo tempo que escrevo uma dissertação de mestrado. Agradeço também a minha psicóloga Bárbara Lopes, que também preparou minha mente para lidar com os desafios. Para vocês, minha gratidão e a garantia de que farei uma pausa em empreitadas como esta. Agradeço aos professores, professoras e colegas do curso de pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas da UNESP de Franca, São Paulo. Em especial à Profa. Dra. Camila Fernanda Bassetto Sampaio e o Prof. Dr. Roberto Prof. Dr. Louzada. Levo no coração todas as aulas, conversas e vivências compartilhadas em nossos encontros. Agradeço também ao meu orientador, Prof. Dr. Jose Roberto Gnecco, pelas conversas e discussões, e à minha amiga, parceira e coorientadora, Prof.ª Dra. Carla Manuela Crispim Nascimento, que me dedicou cuidado especial, destravando muito minha mente no universo da pesquisa acadêmica. A todos e todas vocês, meu mais sincero agradecimento. “Lembre-se: seu foco determina a sua realidade.” (WARS, STAR. Episódio I – A Ameaça Fantasma. Direção: George Lucas. Produção: George Lucas Rick McCallum. EUA: Twentieth Century Fox, 1999.) RESUMO Este estudo tem como objetivo avaliar o Painel de Saldo de Repasses do Fundo Nacional de Saúde (FNS) como uma ferramenta de gestão financeira para o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, bem como demonstrar como essas informações podem ser aplicadas na formulação de políticas públicas de saúde. A pesquisa utiliza uma abordagem metodológica mista, combinando revisão bibliográfica e análise quantitativa de dados relativos ao ano de 2022 para identificar padrões e tendências nos repasses. Esse estudo visa preencher uma lacuna na literatura científica sobre a aplicação do Painel de Saldo de Repasses para a gestão financeira do SUS, contribuindo para o fortalecimento do controle social, o aumento da transparência na administração dos recursos públicos e a melhoria das políticas públicas de saúde no país. A melhoria da gestão financeira do SUS e o desenvolvimento de políticas públicas de saúde mais eficazes, por meio da transparência de dados e eficiência na gestão pública, são essenciais para o aprimoramento do sistema de saúde no Brasil. Dessa forma, a pesquisa busca fornecer subsídios para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde oferecidos à população brasileira. Esta dissertação pretende contribuir para a literatura científica, oferecendo uma base consistente e relevante para gestores públicos, pesquisadores e a sociedade em geral, para a análise e tomada de decisões na formulação de políticas públicas baseadas em dados. Palavras-chave: Dashboards (Sistemas de informação gerencial); Saúde pública - Brasil - Administração. ABSTRACT This study aims to evaluate the Balance of Transfers Dashboard of the National Health Fund (FNS) as a financial management tool for the Unified Health System (SUS) in Brazil, as well as to demonstrate how this information can be applied in the formulation of public health policies. The research uses a mixed methodological approach, combining a literature review and quantitative analysis of data from 2022 to identify patterns and trends in transfers. This study seeks to fill a gap in the scientific literature regarding the application of the Balance of Transfers Dashboard for the financial management of the SUS, contributing to strengthening social control, increasing transparency in the administration of public resources, and improving public health policies in the country. Improving the financial management of the SUS and developing more effective public health policies through data transparency and efficiency in public management are essential for enhancing Brazil's health system. Thus, the research seeks to provide support for improving the quality of health services offered to the Brazilian population. This dissertation aims to contribute to the scientific literature by providing a consistent and relevant basis for public managers, researchers, and society in general for the analysis and decision-making in the formulation of data-driven public policies. Keywords: Dashboards (Management Information Systems); Public Health - Brazil - Administration. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Simplificação Visual do Sistema de ETL 38 Figura 2 – Resumo dos tipos de repasses do Governo Federal 48 LISTA DE IMAGENS Imagem 1 – Página principal do Portal de Painéis do FNS 61 Imagem 2 – Painel de Repasses Fundo a Fundo (Acesso em 27/12/2023) 63 Imagem 3 – Painel de Repasses Fundo a Fundo - Gráfico valor bruto por bloco, UF e município (Acesso em 27/12/2023) 64 Imagem 4 – Print do Painel sobre o valor investido em 2022 69 Imagem 5 – Print do gráfico com a proporção de investimento financeiro por Componente em 2022 71 Imagem 6 – Resultado da Regressão Linear Simples 76 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Distribuição dos pagamentos por órgão do governo federal 19 Tabela 2 – Contagem por Componente financiado 71 Tabela 3 – Resultado do teste de correlação de variáveis numéricas 75 Tabela 5 – Resumo da Clusterização por Município e UF 81 Tabela 6 – Grupos por Bloco 83 Tabela 7 – Distribuição de Componentes por Clusters 83 Tabela 8 – Componentes Principais 88 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Proporção de Repasses por Bloco 75 Gráfico 2 – Valores acumulados em Saldo em conta por UF 79 Gráfico 3 – Percepção das distribuições de grupos dentro das Unidade Federativas 82 Gráfico 4 – Grupos Populacionais presentes nos Clusters 84 Gráfico 5 – Acúmulo por UF 85 Gráfico 6 – Mapa de Calor das Correlações entre População, Valor Bruto, Valor Líquido e Valor de Saldo em Conta 87 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CGU Controladoria Geral da União FNS Fundo Nacional de Saúde LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias LGPD Lei Geral de Proteção de Dados LOA Lei Orçamentária Anual LRF Lei de Responsabilidade Fiscal PPA Plano Plurianual SEI Sistema Eletrônico de Informações SUS Sistema Único de Saúde TICs Tecnologias da Informação e Comunicação SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 15 1.1 APRESENTAÇÃO DAS SEÇÕES DA DISSERTAÇÃO ....................... 18 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................. 21 2.1 ACCOUNTABILITY E TRANSPARÊNCIA DE DADOS NO BRASIL ... 21 2.2 INDICADORES SOCIAIS E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO ........ 29 2.3 TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO SETOR PÚBLICO: GOVERNANÇA E INOVAÇÃO ORIENTADAS POR DADOS ............................................................ 30 2.4 DASHBOARDS E PAINÉIS DE INFORMAÇÃO: CONCEITOS E APLICAÇÕES NO CONTEXTO GOVERNAMENTAL BRASILEIRO ....................... 33 2.5 USO DE DASHBOARDS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................ 38 3 ESTUDO DE CASO .............................................................................. 41 3.1 O FINANCIAMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA ANÁLISE ESTRUTURAL E LEGAL ......................................................................... 41 3.2 DADOS NO GOVERNO FEDERAL ...................................................... 49 4 ANÁLISES............................................................................................. 52 4.1 PORTAL DA TRANSPARÊNCIA .......................................................... 52 4.2 PAINÉIS DO FUNDO NACIONAL DE SAÚDE ..................................... 57 4.2.1 Análise Descritiva Geral ........................................................................ 59 4.2.2 Análise do Ponto de Vista da Transparência de Dados ......................... 62 4.2.3 Análise da Estatística por Saldo Bancário ............................................. 66 4.2.4 Análise Integrada de Correlação, PCA e Regressão Linear .................. 86 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 92 5.1 SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS ......................................... 94 6 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 96 ANEXO A – PROTOCOLO NUP Nº 25072.068884/2023-81 ................................. 103 ANEXO B – SCRIPT PARA ANÁLISE DO COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA) 104 ANEXO C – SCRIPT PARA REGRESSÃO LINEAR .............................................. 108 15 1 INTRODUÇÃO No cenário brasileiro, a formulação de políticas públicas, especialmente no setor da saúde, apresenta desafios complexos que evoluíram ao longo do tempo em resposta a demandas sociais crescentes. Com o marco da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), foi estabelecida uma estrutura para assegurar o provimento do atendimento público universal. Para enfrentar os desafios inerentes a essa complexidade e adaptar-se às mudanças demográficas e epidemiológicas, torna-se imperativo aperfeiçoar metodologias de análise e incentivar a participação social efetiva na criação e implementação de políticas. Para superar esses desafios, é essencial desenvolver metodologias de análise e promover a participação da sociedade na formulação e implementação de políticas públicas. Este envolvimento é particularmente relevante no contexto da saúde, onde o SUS se beneficiou de amplas discussões e negociações político-sociais, abrindo possibilidades para monitoramento e avaliação das políticas implementadas. Contudo, torna-se necessário abordar os desafios na implementação dessas políticas, como a necessidade de aprimorar as metodologias de análise e aumentar a participação social. Este aspecto é vital para assegurar o acesso e a qualidade dos serviços de saúde à população brasileira (Hochman; Arretche; Marques, 2006). A implementação de painéis de informação surge como uma ferramenta estratégica para assegurar a transparência e nortear as tomadas de decisões no setor público. Esses dashboards permitem uma visualização clara e objetiva de dados, facilitando análises comparativas e embasando a promoção de políticas baseadas em evidências. O uso desses instrumentos reflete uma tendência de valorização da informação qualificada como suporte para decisões governamentais responsáveis (Rêgo, 2013). A legislação brasileira, através de marcos como a Emenda Constitucional n.º 19 de 1999 e os Decretos n.º 8.777 e n.º 12.527 de 2011, tem fortalecido a tendência à transparência. Em especial, o art. 5º da Lei n.º 12.527/2011 afirma claramente que “é dever do Estado garantir o direito de acesso à informação, que será franqueado, mediante procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão”. Este princípio fortalece o papel dos painéis de informação como fundamentais para promover transparência e eficiência na comunicação governamental. 16 Jannuzzi (2002) salienta a importância dos indicadores sociais para a formulação e avaliação de políticas públicas. Para serem eficazes, esses indicadores devem atender a critérios específicos, incluindo adequada cobertura populacional, sensibilidade a políticas implementadas, especificidade para programas setoriais, inteligibilidade, atualização periódica a custos razoáveis e ampla desagregação geográfica e sociodemográfica. Com a adoção dos princípios de Open Government Data (Tauberer, 2007) e as vantagens destacadas pela Open Knowledge Brasil (Ávila, 2022), os governos que adotam dados abertos melhoram a eficiência da gestão pública e a qualidade das políticas públicas. Este conceito se alinha com o de accountability, destacado por Rocha (2011), enfatizando a importância do acesso a informações precisas e confiáveis para permitir a participação ativa da sociedade nas decisões governamentais. O Fundo Nacional de Saúde (FNS), ao disponibilizar os Painéis de Informações, busca contribuir para a gestão dos recursos destinados à saúde, aumentando a transparência e eficiência na aplicação desses recursos e, consequentemente, melhorando o sistema de saúde brasileiro (Ministério Da Saúde, 2022). Esses Painéis são disponibilizados livremente, abrangendo temas diretamente relacionados ao financiamento do SUS. Apesar desses avanços, persistem desafios relacionados à estruturação e ao aproveitamento efetivo dos dados disponibilizados, que são críticos para a formulação e implementação de políticas públicas eficazes. A falta de estruturação adequada e de uma análise eficiente dos dados limita o potencial dessas ferramentas, especialmente no contexto da gestão financeira do SUS, onde a capacidade de analisar e interpretar informações relevantes é fundamental. Neste cenário, surge a necessidade de pesquisas acadêmicas que analisem a aplicação de painéis de informação na dos recursos financeiros federais encaminhados ao SUS. Por isso, esta dissertação propõe a analisar o Painel de Saldos e Repasses desenvolvido pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS), com o objetivo de avaliar sua eficácia como instrumento de apoio à tomada de decisões na saúde pública. Através de uma abordagem metodológica mista, combinando revisão bibliográfica e análise quantitativa de dados, o estudo visa identificar padrões e tendências nos repasses financeiros nas principais capitais brasileiras. 17 A principal finalidade deste estudo é realizar uma análise detalhada do Painel de repasses Fundo a Fundo, que representa grande parte dos recursos financeiros do Sistema Único de Saúde, desenvolvido pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS), a fim de avaliar sua eficácia como ferramenta no acompanhamento dos repasses financeiros realizados tendo como foco a compreensão do funcionamento deste painel no contexto de transparência e eficiência na gestão dos recursos destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil e também nas possibilidades de análises para avaliar a eficiência destes repasses. Para alcançar esse objetivo, será realizada uma análise minuciosa dos dados disponibilizados pelo Painel, incluindo as variáveis relacionadas aos repasses e dados populacionais para trazer uma visão dos recursos Fundo a Fundo repassados para estados e municípios em 2022. Além disso, serão aplicadas técnicas de análise estatística para uma compreensão mais aprofundada dos dados e a identificação de padrões consideráveis, com ênfase na regressão linear e análise dos componentes principais. Essa análise nos ajudará a identificar correlações entre diferentes variáveis do Painel, permitindo uma melhor compreensão de como os repasses são distribuídos e quais fatores influenciam essa distribuição. A regressão linear será aplicada para modelar e entender as relações entre as variáveis dependentes e independentes, fornecendo caminhos para a tomada de decisão e formulação de políticas bem como aplicar um algoritmo para análise envoltória de dado para comparar a eficiência dos repasses em conta. Através de uma metodologia analítica, busca-se demonstrar como a publicação de dados de qualidade e podem otimizar processos, aumentar a transparência e elevar a eficiência no serviço público. Este estudo visa contribuir significativamente para o corpo de conhecimento acadêmico acerca da utilização de bancos de dados em painéis informativos, enfatizando sua relevância na promoção de transparência e eficiência nas gestões públicas. A propagação efetiva dessas informações é fundamental para ampliar o controle social sobre os recursos públicos. Tal expansão do acesso à informação pode acarretar uma série de vantagens substanciais para a sociedade, dentre as quais se destaca a elevação no padrão e na qualidade dos serviços públicos de saúde. 18 1.1 Apresentação das Seções da Dissertação Nesta dissertação a revisão bibliográfica é fundamental por abordar os principais conceitos relacionados à transparência de dados, à gestão financeira do Sistema Único de Saúde (SUS) e análise de dados. Além disso, revisa trabalhos prévios contextualizando e estabelecendo uma base sólida para a presente pesquisa, bem como fornecendo subsídios para a elaboração das análises propostas, estando presente em todos os capítulos desse trabalho com o objetivo de trabalhar os conceitos que são tratados no decorrer das análises. Fontes diversificadas e atualizadas foram consultadas, incluindo artigos científicos, livros, legislação e outras publicações de órgãos governamentais. Essa abordagem possibilita o desenvolvimento de uma pesquisa embasada e rigorosa, contribuindo significativamente para o avanço do conhecimento na área. Um dos conceitos abordados neste trabalho é o de Indicador Social, que desempenha um papel fundamental na formulação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas. Esses indicadores, baseados em dados quantitativos de diversas fontes, fornecem informações importantes para a gestão pública, permitindo a avaliação da eficiência das políticas implementadas. Também é apresentado o conceito de transparência de dados, destacando a importância da Política de Dados Abertos do Poder Executivo Federal, que promove a publicação de bases de dados por órgãos governamentais. Essa política incentiva o controle social, o desenvolvimento de tecnologias e a realização de pesquisas científicas baseadas em evidências sobre a gestão pública. No contexto do Sistema Único de Saúde, o controle social desempenha um papel importante na participação da sociedade na gestão e avaliação do SUS. No entanto, ainda existem obstáculos a serem superados, como a falta de participação da população e a baixa capacitação técnica dos conselhos. Para superar esses obstáculos, é sugerido fortalecer a capacitação técnica, fomentar o engajamento da população e ampliar a transparência das informações sobre a gestão do SUS. A transformação digital no setor público também será abordada neste trabalho, destacando a importância da governança e da inovação orientadas por dados. A administração de dados no governo evoluiu para uma governança de dados intraorganizacional, garantindo a qualidade do sistema de troca de dados. 19 Outro tema explorado é o uso de dashboards na Administração Pública, como ferramentas de apoio à accountability. Esses dashboards auxiliam na tomada de decisões e melhoram a eficiência dos serviços, contribuindo para a transparência e responsabilização na gestão pública. Estudos de casos são apresentados para exemplificar a relevância dos dashboards no planejamento de políticas públicas. Por fim, é realizado um estudo de caso do Painel de Repasses Fundo a Fundo, com foco nos repasses financeiros realizados no ano de 2022. O Portal da Transparência é mencionado como parte das ferramentas que promovem a transparência na gestão pública, fornecendo dados provenientes de diferentes fontes de informação. Os painéis de informação do FNS são apresentados como uma ferramenta para o monitoramento e gestão dos recursos financeiros do SUS para depois tratar especificamente da análise do Painel de Repasses Fundo a Fundo. Para avaliar a usabilidade do sistema, foi realizada uma análise detalhada do Painel de Saldos e Repasses Fundo a Fundo onde são realizadas análises estatísticas, como a descrição estatística, análise de correlação, análise dos principais componentes e regressão linear, para complementar a pesquisa e obter a análise dos dados. Este enfoque multifacetado assegura uma compreensão holística dos mecanismos de repasse de fundos federais e municipais ao Sistema Único de Saúde, bem a discussão acerca das políticas públicas associadas à estes recursos, contribuindo significativamente para a literatura existente no campo da gestão pública e transparência de dados. Com esta abordagem multidisciplinar, este estudo se propõe a avaliar não apenas os aspectos técnicos e funcionais do Painel de Repasses Fundo a Fundo, mas também a analisar sua aplicabilidade dentro do cenário mais amplo da gestão de saúde pública no Brasil. A análise dos fluxos de repasse financeiro através do Painel proporciona uma visão sobre a distribuição de recursos, evidenciando potenciais áreas de eficiência e de desafios dentro do SUS. Esta dissertação se propõe a explorar as intersecções entre os fluxos financeiros e os indicadores populacionais com o objetivo de estabelecer a relação entre a alocação de recursos e o impacto direto destes recursos na saúde pública. Ao fazer isso, busca-se não apenas entender melhor essas relações, mas também fornecer subsídios para a formulação de políticas públicas mais eficazes, que respondam com precisão às necessidades da população. 20 Este estudo tem como objetivo preencher uma lacuna existente no campo da gestão pública e na análise de dados financeiros do SUS, ao concentrar-se na exploração dos painéis de informação, como o Fundo a Fundo, disponibilizado pelo Fundo Nacional de Saúde. É essencial destacar que esses painéis contêm informações valiosas que, apesar de sua riqueza, são frequentemente subutilizadas e pouco conhecidas por muitos interessados em dados financeiros. Ao realizar a análise e a divulgação dessas informações, este trabalho contribui de maneira significativa para o domínio das políticas públicas, tornando os dados mais acessíveis e úteis para gestores, pesquisadores e para a sociedade em geral. Ademais, a disponibilização de painéis como os de repasses financeiros do SUS representa uma importante conquista social, pois favorece a transparência e a formulação de políticas públicas de saúde. É importante enfatizar a importância da transparência e da acessibilidade dos dados neste contexto. Dados abertos não apenas reforçam o controle social e a accountability das instituições, mas também promovem uma cultura de inovação essencial para o avanço da pesquisa acadêmica e científica. Neste sentido, esta análise contribui para a promoção de uma gestão de dados mais transparente, eficiente e responsável no setor público. Através de um rigor analítico, esta dissertação visa oferecer uma visão profunda dos processos de gestão de saúde, atuando como uma ferramenta para a melhoria contínua das políticas de saúde. Consequentemente, espera-se que este estudo possa servir como um catalisador para o desenvolvimento de um sistema de saúde mais justo, eficaz e equitativo. 21 2 REVISÃO DA LITERATURA Neste estudo, a revisão bibliográfica é etapa fundamental, ao abordar os principais conceitos relacionados à análise de dados e à gestão financeira do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, revisa trabalhos prévios relevantes, contextualizando e estabelecendo uma base sólida para a presente pesquisa, bem como fornecendo subsídios para a elaboração das análises propostas, estando presente em todos os capítulos desse trabalho com o objetivo de trabalhar os conceitos que são tratados no decorrer das análises. Fontes diversificadas e atualizadas são consultadas, incluindo artigos científicos, livros, relatórios, manuais e outras publicações de órgãos governamentais. Essa abordagem possibilita o desenvolvimento de uma pesquisa embasada e conduzida com o devido rigor científico, que busca contribuir significativamente para o avanço do conhecimento na área. 2.1 Accountability e Transparência de Dados no Brasil Neste item são abordados os conceitos de accountability e sua aplicação no contexto brasileiro, com o objetivo de investigar sua relação com a transparência de dados e as ferramentas utilizadas para alcançá-la. Além disso, é tratada a relação entre a accountability e a transparência de dados, bem como o papel das ferramentas tecnológicas nesse contexto. São apresentados exemplos de casos em que a transparência de dados foi promovida com sucesso no Brasil, com o intuito de identificar as melhores práticas e oportunidades de aprimoramento. A palavra accountability, amplamente utilizada em diferentes áreas do conhecimento, refere-se à responsabilização de indivíduos e instituições por suas ações e decisões. Como não há uma tradução direta para o português, esse conceito tem sido adotado na literatura especializada. Schedler (1999) discute o conceito de accountability política, que pressupõe a existência do poder e a necessidade de controle sobre ele. Nessa perspectiva, a prestação de contas é uma exigência decorrente da suposta 'opacidade' do poder. O autor apresenta diferentes tipos de accountability e constrói tipologias a partir das metas para o exercício, abrangendo políticas públicas implementadas, questões administrativas, profissionais, financeiras, morais, legais e constitucionais. 22 Dessa maneira, a accountability está intimamente relacionada à transparência, ética e responsabilidade social, implicando na geração de dados para prestação de contas e responsabilização por decisões tomadas. No campo da Administração Pública, a accountability pode ser compreendida como a obrigação dos agentes públicos de prestarem contas de suas ações e decisões para a sociedade. Assim, cada campo apresenta diferentes mecanismos e objetivos específicos para o controle do poder, tais como a disponibilização de informações, justificação e punição. Desta forma, é observado que accountability é um conceito multidimensional, que envolve diferentes tipos de prestação de contas e diferentes níveis de responsabilidade, e deve ser aplicado em todas as áreas da Administração Pública. Com estas definições, Pinho e Sacramento (2009) apontam formas para identificar os seguintes meios para garantir a accountability na administração pública: • Transparência de Dados: A divulgação de informações sobre atividades e decisões tomadas permite que a sociedade monitore e avalie o desempenho de uma organização ou governo. • Auditorias: A transparência possibilita a realização de auditorias internas e externas, que avaliam a eficácia e eficiência das atividades e decisões, além de identificar possíveis problemas e áreas de melhoria. • Participação Social: O envolvimento da sociedade civil no processo decisório garante que as decisões tomadas reflitam as necessidades e interesses da população. • Canais de Comunicação e Denúncias: É importante criar canais para que as pessoas denunciem irregularidades e abusos, garantindo que os responsáveis sejam responsabilizados por suas ações. • Revisão de Desempenho: O acompanhamento constante do desempenho é essencial para garantir a transparência e responsabilização. Por um outro lado, os autores citam ser fundamental que essas ferramentas de accountability devem ser adaptadas ao contexto específico e às necessidades de cada organização ou governo, a fim de garantir sua efetividade e promover a transparência e responsabilidade na Administração Pública, por outro lado eles destacam os seguintes desafios relacionados à accountability: • Falta de Transparência: Quando há falta de divulgação ou obscuridade na publicação dos dados. 23 • Participação Pública Inadequada: A falta de interesse ou engajamento da sociedade civil pode resultar em decisões que não reflitam as necessidades e interesses da população. • Corrupção: A corrupção pode prejudicar a eficácia da prestação de contas, pois os responsáveis por ações e decisões podem tentar encobrir atividades ilegais. • Falta de Recursos: A escassez de recursos financeiros e humanos pode dificultar a implementação de mecanismos eficazes de prestação de contas. • Falta de Vontade Política: A ausência de vontade política dos líderes e autoridades pode impedir a implementação de mecanismos eficazes de responsabilização. • Cultura Política: A cultura política de um país ou organização pode afetar a eficácia da prestação de contas, podendo haver uma cultura de impunidade ou falta de responsabilização. • Complexidade da Estrutura Organizacional: A complexidade da estrutura organizacional pode dificultar a implementação de mecanismos eficazes de responsabilização, devido a desafios na identificação e atribuição de responsabilidades. Esses são alguns dos principais desafios que podem ser encontrados na implementação efetiva da prestação de contas. Ressaltando que a superação desses desafios requer esforços contínuos e a colaboração de diferentes atores, incluindo a sociedade civil, lideranças, governos e organizações da sociedade civil (Pinho; Sacramento, 2009). Dentro do conceito de accountability, Bianchi e Silva (2022) destacam os dois modos de controle: o vertical e o horizonta. No controle vertical, a população avalia as atividades dos serviços públicos, dos funcionários do governo e outros funcionários públicos para determinar se atuam de acordo com os interesses da população. No Brasil, esse controle é exercido por meio da ação popular, que permite a qualquer cidadão propor uma medida que vise a retirada de um ato que prejudique o bem público ou o Estado, a moralidade da Administração Pública, o meio ambiente e a vida histórica e cultural. Já a accountability horizontal é exercida pela fiscalização de outros órgãos, , que no que tange à Administração Pública, destacam-se a Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Congresso Nacional, que fiscalizam 24 outros órgãos. Essa supervisão é essencial para a transparência e a prestação de contas na Administração Pública, soma-se a estes o acompanhamento pelos conselhos com a participação da sociedade civil (Bianchi; Silva, 2022). Pelo exposto, pode-se dizer que a accountability é um conceito em constante evolução. A aplicação desse conceito é influenciada por fatores políticos, sociais e institucionais em constante mudança. No Brasil, importantes marcos legais foram estabelecidos a partir da Constituição Federal de 1988 e da Reforma do Aparelho do Estado de 1995, que criaram as bases para a promoção da accountability no país. No entanto, a realidade brasileira ainda enfrenta desafios significantes para a efetiva prestação de contas, tais como a falta de transparência, a corrupção, a escassez de recursos e a falta de vontade política (Pinho; Sacramento, 2009). A Constituição Federal de 1988 estabeleceu importantes diretrizes para a promoção da accountability no Brasil, sobretudo no artigo 5º, inciso LXXIII, assegurando o direito de todo cidadão propor ação popular e impugnar individualmente atos que causem danos ao patrimônio material, moral, cultural ou histórico do Estado ou de suas entidades. Essa disposição é fundamental para a possibilidade de se propor ações populares com o objetivo de anular atos lesivos ao erário ou entidades em que o Estado participe, bem como à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (Brasil, 1988). No Brasil, existem mecanismos para monitorar a prestação de contas, sendo um deles a accountability horizontal, que envolve a fiscalização de órgãos públicos por outros órgãos, tais como a Controladoria Geral da União (CGU), o Congresso Nacional e o Tribunal de Contas da União (TCU). A CGU é responsável por promover a transparência pública e combater a corrupção, além de supervisionar as contas e finanças do governo. O Portal da Transparência, mantido pela CGU, permite que a população acesse informações sobre a Administração Pública federal, incluindo despesas, receitas, convênios e contratos. Para monitorar outros órgãos, o Congresso Nacional cria leis e mecanismos legais, como os relacionados à legislação orçamentária, como o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O Plano Plurianual (PPA) é um plano quadrienal que define as metas, objetivos e orientações da Administração Pública federal, sendo uma das leis relacionadas à legislação orçamentária, juntamente com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a 25 Lei Orçamentária Anual (LOA). Seu objetivo é orientar a elaboração do orçamento anual e a execução de políticas públicas ao longo de quatro anos. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é o planejamento anual que faz a ligação entre o Plano Plurianual (PPA) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), definindo as metas e prioridades do governo para o ano seguinte e orientando a elaboração da LOA. Complementar ao PPA e à LDO, a Lei Orçamentária Anual (LOA) apresenta detalhadamente onde será gasto o dinheiro público e qual é a sua origem, sendo elaborada anualmente pelo Poder Executivo e aprovada pelo Poder Legislativo. É uma das leis relacionadas à legislação orçamentária, juntamente com o Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), e é importante para garantir a transparência e a responsabilidade na Administração Pública, permitindo que a população saiba como o dinheiro público está sendo utilizado. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) Lei complementar n.º 101/2000 impõe a todos os entes federais, estaduais e municipais, a responsabilidade de equilibrar as receitas e as despesas, estabelecendo normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, garantindo a transparência e a responsabilidade na Administração Pública. Nela são estabelecidos os limites para as despesas com pessoal, dívida pública, operações de crédito, entre outros, e prevê sanções em caso de descumprimento das normas estabelecidas, sendo importante para garantir a sustentabilidade das finanças públicas e evitar o endividamento excessivo do Estado (BRASIL, 2000). Desta forma, é observado que a transparência de dados na Administração Pública Federal do Brasil é sustentada por um conjunto abrangente de leis e políticas. A interação desses dispositivos legais cria um ambiente onde o acesso à informação é um direito garantido, ao mesmo tempo em que se resguarda a segurança das informações sensíveis e a privacidade dos indivíduos. Essa estrutura normativa é fundamental para uma gestão pública transparente, responsável e participativa. O conceito de transparência de dados na gestão pública tem adquirido cada vez mais importância no Brasil, particularmente no âmbito da Administração Pública Federal. Entre os principais instrumentos legais e políticas que estruturam o acesso à informação e a proteção de dados no país estão a Política de Transparência e Acesso à Informação, a Lei de Acesso à Informação (LAI), a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e o Decreto nº. 7.724/2012 (BRASIL, 2012). 26 Com a promulgação da Lei de Acesso à Informação, Lei n.º 12.527/2011, consolida-se a obrigatoriedade da divulgação de contas públicas por todos os órgãos, inclusive sociedades de economia mista e entidades sem fins lucrativos que recebam recursos públicos. A lei descreve quais informações devem ser divulgadas e quais devem ser solicitadas, e define quem tem o poder de classificar as informações sigilosas (Pinho; Sacramento, 2009). Esta Política de Transparência e Acesso à Informação da Administração Pública Federal brasileira estabelece um marco regulatório para a divulgação e acesso a dados e informações produzidos pelo governo. Esta política enfatiza a importância da transparência ativa e passiva na gestão pública, promovendo a integridade, a responsabilidade e a eficácia nas administrações públicas. Essa abordagem é essencial para assegurar a participação cidadã, o controle social e a melhoria contínua das políticas públicas. A Lei n.º 12.527/2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), é um marco para a accountability no Brasil. Ela abrange todos os órgãos e entidades da Administração Pública, incluindo os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como autarquias, fundações públicas e empresas públicas e sociedades de economia mista. A LAI estabelece a obrigatoriedade da prestação de informações, exceto em casos específicos de sigilos e segredos de justiça previstos em lei (BRASIL, 2011). Assim a Política de Transparência e Acesso à Informação da Administração Pública Federal brasileira estabelece um marco regulatório para a divulgação e acesso a dados e informações produzidos pelo governo. Esta política enfatiza a importância da transparência ativa e passiva na gestão pública, promovendo a integridade, a responsabilidade e a eficácia nas administrações públicas. Essa abordagem é essencial para assegurar a participação cidadã, o controle social e a melhoria contínua das políticas públicas. Essas informações englobam dados sobre a estrutura organizacional, como endereços, telefones e horários de atendimento. Além disso, a LAI traz a relevância do acesso às informações sobre as competências e atribuições do órgão, bem como informações sobre programas, projetos, obras e serviços realizados por ele. Outro aspecto importante é conhecer o quadro de servidores, incluindo a lotação, cargo e salário dos funcionários. Desta maneira com a Lei de Acesso à Informação vem a garantia do acesso aos dados de licitações, contratos e convênios celebrados pelos órgãos públicos. A LAI 27 fornece informações detalhadas sobre os processos licitatórios, contratos firmados, valores envolvidos e outras informações relevantes. Além disso, também estabelece as informações que devem ser disponibilizadas de forma proativa, sem a necessidade de solicitação prévia, para garantir a transparência (BRASIL, 2011). A classificação das informações em graus de sigilo é uma ferramenta para equilibrar a necessidade de acesso público à informação com a proteção da segurança nacional e outros interesses sensíveis. Desta maneira, o Decreto n.º 7.724/2012 e a LAI estabelecem critérios claros para essa classificação, definindo prazos máximos para cada grau de sigilo e priorizando o interesse público na determinação do grau de restrição. Lembrando que perpassando sobre estas leis e regulamentos está a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei n.º 13.709/2018, um marco legal para a proteção de dados pessoais no Brasil. Ela regula o tratamento de dados pessoais por entidades públicas e privadas, equilibrando a necessidade de transparência e acesso à informação com a proteção da privacidade e liberdade individuais. Definindo os papéis para os agentes de tratamento de dados, traçando diretrizes rigorosas para a coleta, uso e compartilhamento de dados pessoais (BRASIL, 2018). No Brasil, os dados de acesso à informação estão presentes em diversas plataformas: • E-SIC: O Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão foi criado para que os cidadãos possam requisitar informações sobre os órgãos do governo. • Audiências e Consultas Públicas: Alguns entes públicos adotam essa modalidade para realizar discussões abertas sobre políticas públicas, ouvindo sugestões e contribuições da sociedade. • Portal da Transparência do Governo Federal: Este website disponibiliza informações sobre a gestão pública federal. Isso inclui dados sobre despesas, licitações, contratos e outros assuntos relacionados. Lançado em 2004 pela Controladoria-Geral da União (CGU), o Portal da Transparência tem evoluído para fornecer acesso livre às informações sobre o uso do dinheiro público. Em 2018, o Governo Federal lançou uma nova versão com diferentes formas de apresentação de dados, um mecanismo de busca integrado e intuitivo, mais recursos gráficos, integração com redes sociais e uma ampliação da oferta de dados abertos. As ferramentas de notificação também foram incluídas, permitindo aos 28 usuários estarem informados sobre os temas de seu interesse. O novo Portal da Transparência reforça, assim, com novos recursos e mais informações, sua razão de ser uma ferramenta que permita ao cidadão fiscalizar e assegurar a boa e correta aplicação dos recursos públicos federais (CGU, 2018). O Portal da Transparência traz na página principal blocos com temas como Auxílio Brasil, Benefícios ao Cidadão, Cartões de Pagamento, Convênios, Despesas e Receitas, Emenda Parlamentar, Estados e Municípios, Licitações e Contratos, Notas Fiscais, Recursos Transferidos, Servidores e Pensionistas, Viagens, Orçamento, Pessoas Físicas e Jurídicas, Sanções e Imóveis Funcionais. Ao clicar em cada bloco, no verso há opção de acessar dados ou um painel de informação sobre aquele assunto. A análise do contexto brasileiro no que tange à transparência de dados e accountability na Administração Pública Federal revela um quadro robusto de legislação e políticas que promovem uma cultura de transparência, ética e responsabilidade. Esses mecanismos garantem o direito ao acesso à informação e asseguram a proteção de dados sensíveis e da privacidade individual. O Decreto n.º 7.724, promulgado no ano de 2012, consolida um marco relevante em prol da transparência ativa e passiva no âmbito da administração pública brasileira. Além de instituir os princípios para a classificação de informações sob sigilo, fortalece os pilares de uma gestão pública caracterizada pela transparência e pela participação cidadã. Complementarmente, o referido Decreto detalha procedimentos específicos para o acesso e a classificação de informações, considerando aspectos de segurança nacional e outros interesses de caráter sensível. Assim, a LAI, a LGPD e o Decreto n.º 7.724 são regulamentações complementares e podem ser interprestadas como um esforço legislativo para equilibrar direitos. Podendo ser interpretados como um caminho para a transparência e a accountability na gestão pública, por meio de um arcabouço legal e político que aponta para o processo de acesso à informação pública, ao mesmo tempo em que assegura a privacidade referente à informações pessoais sensíveis. Essas iniciativas, se vistas de forma positiva, representam forma legais para fomentar uma possível confiança na Administração Pública, o incentivar a participação cidadã e garantir uma governança pública efetiva e responsável. 29 2.2 Indicadores Sociais e Tecnologias da Informação O conceito de Indicador Social desempenha um papel fundamental na formulação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas. Esses indicadores, quantitativos e baseados em dados de diversas fontes, oferecem informações para a gestão pública. Eles revelam tendências e direcionam o planejamento de ações, permitindo a avaliação da eficiência das políticas implementadas (Jannuzzi, 2000). De acordo com Jannuzzi, os indicadores sociais são variáveis quantificáveis que refletem a realidade social e possibilitam o acompanhamento de mudanças ao longo do tempo. São ferramentas essenciais tanto para a pesquisa acadêmica quanto para a operacionalização do planejamento e avaliação das políticas públicas implementadas. No entanto, para que sejam eficazes, esses indicadores devem atender a pressupostos específicos que permitam a generalização dos resultados quando tomamos o todo pela amostra, como cobertura populacional adequada, sensibilidade a políticas públicas, desagregação geográfica e sociodemográfica, entre outros. Desta forma, os indicadores sociais desempenham um papel de destaque na formulação de políticas públicas e no planejamento governamental em todo o mundo. Eles fornecem informações sobre diversos aspectos da sociedade, como educação, saúde, renda, habitação e qualidade de vida. Essas métricas são essenciais para avaliar o progresso de um país em direção a metas específicas e para identificar áreas que requerem intervenção ou investimento prioritário. Ao longo dos anos, os indicadores sociais no Brasil evoluíram e se diversificaram, abrangendo uma ampla gama de tópicos e áreas de interesse. Eles são frequentemente usados não apenas para fins de planejamento governamental, mas também como ferramentas de advocacy, pesquisa acadêmica e análise de políticas públicas por parte de organizações da sociedade civil e instituições acadêmicas (Santagada, 2007). A relevância dos indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas é inegável. Eles fornecem uma base sólida para a tomada de decisões informadas e orientadas por dados. Além disso, a integração das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na gestão pública oferece a oportunidade de processar e disponibilizar esses indicadores de maneira eficiente, aproveitando os 30 avanços tecnológicos para melhor atender às necessidades da sociedade e alocar recursos públicos de forma mais estratégica (Santin, 2019). As TICs desempenham um papel relevante e municiam meios para o aprimoramento do uso de indicadores sociais. Dentre as ferramentas tecnológicas destacam-se dashboards também conhecidos como painéis de informação, que permitem a visualização e análise de dados de indicadores sociais de forma acessível e interativa. Além dos painéis, outras ferramentas, como sistemas de informação geográfica (SIG), aplicativos móveis, softwares de análise de dados e plataformas de compartilhamento de informações online, são igualmente importantes na coleta, processamento, análise e disseminação de indicadores sociais. Esses meios possibilitam uma abordagem mais dinâmica e aberta na utilização de dados sociais, facilitando a tomada de decisões informadas e promovendo a transparência na divulgação dessas informações. 2.3 Transformação Digital no Setor Público: Governança e Inovação Orientadas por Dados A administração de dados no governo evoluiu de uma gestão intrínseca de dados para uma governança de dados intraorganizacional. Os autores Van Donge, Bharosa e Janssen (2021) trazem o caso da Autoridade Fiscal Holandesa, que passou a depender de uma infraestrutura compartilhada de informações governamentais e de um ecossistema de provedores de software e intermediários financeiros. Essa mudança exige uma nova abordagem na administração de dados, estendendo seu escopo para incluir a governança e a garantia da qualidade do sistema de ponta a ponta no processo de troca de dados. Os autores destacam três configurações principais de ecossistemas de dados emergem nesse contexto: ecossistemas liderados pelo governo, ecossistemas liderados por governos e empresas e ecossistemas liderados por regulamentações. Cada configuração apresenta suas vantagens e desvantagens específicas, refletindo diferentes abordagens na alocação de responsabilidades, direitos de decisão e garantia da qualidade dos dados e do sistema. A configuração liderada pelo governo, por exemplo, se concentra principalmente na parte governamental do processo de troca de dados, com modelos financeiros 31 centralizados e sistemas robustos, mas com pouco espaço para inovações. Por outro lado, a configuração liderada por governos e empresas é altamente flexível e interoperável, permitindo uma maior liberdade para provedores de serviços e uma participação mais ativa de todas as partes interessadas no desenvolvimento do ecossistema. Essas configurações demonstram que as agências governamentais orientadas por dados têm mais opções em como organizar a troca de dados e efetivar as responsabilidades de administração de dados do que as apresentadas anteriormente na literatura. Esta flexibilidade, no entanto, pode levar a uma menor robustez e a desafios na tomada de decisões, especialmente quando vários atores estão envolvidos com interesses divergentes (Van Donge; Bharosa; Janssen, 2021). A adoção de práticas orientadas por dados nos setores públicos representa uma transformação significativa na governança e na prestação de serviços públicos. Esta abordagem enfatiza a importância da gestão ética e responsável dos dados governamentais, garantindo ao mesmo tempo a qualidade e a utilidade desses dados. A governança de dados tem se mostrado fundamental para o avanço das políticas públicas, garantindo transparência, eficiência e confiabilidade nas tomadas de decisão. Nesse contexto, faz-se necessário que as instituições públicas adotem uma postura ativa na governança de dados, buscando aprimorar suas práticas e contribuir para uma gestão mais eficaz e responsável dos recursos públicos. Desta forma já um estabelecimento da legitimidade e, como ganho, vem a confiança pública já que os cidadãos entendam as bases das decisões que afetam suas vidas, mas também envolve a implementação de mecanismos eficazes para explicar o papel dos algoritmos nessas decisões. Paralelamente, a proteção da privacidade dos cidadãos é um desafio considerável, com governos enfrentando a necessidade de equilibrar interesses econômicos com as crescentes expectativas de proteção de dados pessoais. A transparência no tratamento de dados e o estabelecimento de direitos sobre os mesmos são aspectos cada vez mais importantes, à medida que cresce a preocupação sobre como os dados são utilizados e protegidos legalmente. Os riscos de segurança digital, como ataques de malware e violações de dados, também exigem uma governança clara e esforços proativos por parte dos governos para garantir a segurança das informações dos cidadãos. 32 Para implementar é necessário um enfoque estratégico coerente que abranja várias áreas, como governo digital, dados abertos do governo, inovação no setor público, gestão de recursos humanos e gerenciamento de riscos. A governança de dados do setor público deve ser abrangente e alinhada com estratégias mais amplas para garantir a coerência das políticas. Além disso, é essencial que os governos desenvolvam e implementem os habilitadores para que os dados fluam através do ciclo de valor dos dados, beneficiando organizações públicas, políticas, serviços e, em última instância, a sociedade (Ooijen; Ubaldi; Welby, 2019). A inovação orientada por dados no setor público, especialmente por meio do uso de Dados Governamentais Abertos, revela-se como uma abordagem estratégica para a geração de valor econômico e social. A abertura dos dados é um facilitador chave para geração de valor, combinando disponibilidade irrestrita, acessibilidade e interoperabilidade técnica. Assim a governança dos recursos de dados envolve não apenas a gestão, mas também a promoção de sua provisão equitativa e sustentável. Este caso também destaca a importância da conectividade técnica, permitindo que organizações públicas e privadas integrem, analisem e consumam um crescente volume de dados disponíveis. O mecanismo de inovação orientada por dados da demonstra como a geração de valor econômico e social pode ser alcançada, criando um ciclo virtuoso de abertura, inovação e geração de valor. Nesse sentido, a governança de dados desempenha um papel fundamental na garantia de uma abordagem ética e eficaz na utilização dos Dados Governamentais Abertos (Jetzek; Avital; Bjorn-Adersen, 2014). O panorama atual da Administração Pública está sendo profundamente transformado pela digitalização e pelo uso estratégico de dados. A transição para uma governança de dados intraorganizacional demonstra um compromisso crescente com a eficiência, transparência e responsabilidade no setor público. As diferentes configurações de ecossistemas de dados, sejam lideradas pelo governo, por parcerias público-privadas ou por regulamentações, refletem uma abordagem multifacetada e adaptável na administração de dados, visando otimizar a prestação de serviços públicos e a tomada de decisões políticas. Este cenário reforça a necessidade de uma governança de dados ética e eficaz, que equilibre a proteção da privacidade dos cidadãos com o aproveitamento dos benefícios econômicos dos dados. O desafio reside em manter a confiança pública enquanto se explora o potencial transformador dos dados na gestão pública. A 33 governança de dados do setor público, portanto, não é apenas um aspecto técnico, mas um pilar para o avanço das políticas públicas, garantindo uma Administração Pública mais produtiva, inclusiva e confiável. 2.4 Dashboards e Painéis de Informação: Conceitos e Aplicações no Contexto Governamental Brasileiro Atualmente, a quantidade excessiva de dados gerados por pessoas e organizações tem popularizado o uso de termos em inglês que antes eram comuns somente em ambientes corporativos ou em áreas técnicas da tecnologia. Entre esses termos, podemos incluir o Big Data, que ganhou força com o excesso de dados gerados, criando oportunidades para avanços tecnológicos no processamento de grandes volumes de dados. Outro termo que tem se tornado cada vez mais comum é o dashboard, que em português também é encontrado como painel de informação. Essa ferramenta de Business Intelligence (BI), ou seja, de inteligência de negócios, vem a substituir os tradicionais relatórios e planilhas é atender a necessidade das organizações em demonstrar, de forma rápida e eficiente, as informações claras e com o apelo visual. Esta evolução de ferramentas também encontra as várias transformações significativas nos modelos de Administração Pública. Entre essas mudanças, é observa-se o advento do modelo gerencial, que representou uma ruptura com o modelo burocrático tradicional. Essencialmente, o modelo gerencial enfatizou a importância de alinhar a gestão pública com práticas adotadas pelo setor privado, visando a redução de despesas e a melhoria da qualidade dos serviços oferecidos aos cidadãos (Bresser-Pereira, 2001). Empregar abordagens de tentativa e erro nas organizações indubitavelmente constitui uma ineficiência, acarretando não apenas na subutilização de recursos financeiros, mas também de tempo. A utilização estratégica da informação, visando à aquisição de vantagens competitivas, emerge como uma opção altamente favorável tanto para as empresas quanto para seus altos executivos. Nesse contexto, o Business Intelligence se vale de um conjunto de ferramentas concebidas para converter o vasto volume de dados inerentes às corporações em informações de relevância, caracterizadas pela prontidão em análise visual, 34 viabilizando, por conseguinte, a proatividade na antecipação das dinâmicas de negócios. As ferramentas pertencentes ao domínio do Business Intelligence têm como propósito principal a representação gráfica da convergência dos dados submetidos à análise. Essas ferramentas, por si só, não exercem o papel de tomada de decisões, contudo, desempenham uma função primordial ao desencadear a produção de elementos que se revelam dados e tendências que embasam as deliberações dos gestores e analistas empresariais. Estes meios somados a uma a análise criteriosa dos dados municiam os gestores e analistas a conceberem métricas e estratégias destinadas à otimização ou preservação da integridade do empreendimento organizacional. Do ponto de vista estratégico, as organizações percebem a imperatividade de voltar sua atenção para instrumentos que simplifiquem a obtenção, o tratamento e a avaliação de volumes substanciais de informações dispersas no interior da instituição. Essas ferramentas se erigem como um alicerce robusto, proporcionando a capacidade essencial para a descoberta de novos saberes, como enfatizado por Olszak e Ziemba (2007). Por meio da incorporação de sistemas de Business Intelligence (BI) nas estruturas organizacionais, torna-se viável a visão de todo o conjunto de informações coletadas e disponibilizadas pela instituição. Ferramentas como dashboards atuam como elementos habilitadores para apoiar os diversos processos de tomada de decisão. Dessa forma, possibilitam a construção de perspectivas históricas, presentes ou prognósticas, proporcionando, de maneira célere e transparente, o acesso integral a todos os dados agregados aos tomadores de decisão conforme Valacich e Schneider (2017). Para Coker (2016), as atividades relacionadas à área de Business Intelligence (BI) abrangem uma análise detalhada de conjuntos volumosos de dados, o processamento analítico em tempo real e a geração de relatórios e consultas. Atividades conhecidas por demandarem um considerável investimento de tempo e recursos humanos, principalmente quando lidamos com grandes volumes de informações. No entanto, a utilização de representações visuais simplifica e o uso de ferramentas adequadas reduzem significativamente esses processos, tornando os dados apresentados mais compreensíveis. O objetivo final é alcançar as metas estabelecidas pelo nível estratégico da organização. No que diz respeito ao 35 processamento e visualização de dados, os sistemas de BI oferecem a capacidade de realizar análises de forma intuitiva, acessível até mesmo para usuários não técnicos. Porém, antes da apresentação destes painéis de informação é necessário considerar o processo da geração de dados que são a base para a construção, afinal com para uma boa apresentação é necessário se considerar a origem dos dados utilizados. Este processo é conhecido como ETL (extração, tratamento e limpeza), essencial para demonstrar todo o caminho percorrido até que o dado seja transformado em informação e disponibilizado de forma correta, real, atrativa e direta (Ramos, 2016). Somente com dados confiáveis é possível tomar decisões acertadas e aproveitar todo o potencial da ferramenta de Business Intelligence. Para tal, vem a etada da extração de dados quando há a coleta de informações e pode ter origem em diversas fontes, como sistemas de computador, publicações em sites ou redes sociais. Esses dados são geralmente armazenados em bancos de dados em sua forma original, e, para que possam ser utilizados em análises, é necessário que sejam mapeados e preparados nas etapas seguintes: de transformação e limpeza. A importância do processo de ETL está diretamente relacionada à qualidade da análise que será realizada. Uma vez que os dados são preparados corretamente, a análise pode ser mais precisa e confiável, garantindo a tomada de decisões mais efetivas e acertadas. Portanto, o processo de ETL é fundamental para garantir que as informações sejam devidamente tratadas e estejam prontas para serem utilizadas na análise de dados (Kimball; Caserta, 2011). 36 Figura 1 – Simplificação Visual do Sistema de ETL Fonte: Autora (2023). Outro ponto a se destacar é a diferença entre um relatório e um dashboard. Os relatórios são documentos estáticos, estruturados em seções e divididos por tópicos, que geralmente são utilizados para documentar ou comunicar informações específicas. Por outro lado, os dashboards são focados na visualização de dados, compostos principalmente por gráficos e outras formas de demonstrar informações em uma única tela. Eles são projetados para fornecer rapidamente os principais indicadores de desempenho, permitindo aos usuários monitorar o status atual de uma organização ou processo de forma rápida e atualizada em tempo real ou em períodos especificados de acordo com a necessidade da visualização (Few, 2012). A próxima etapa para a criação de um painel de informação é unir o processo de ELT com técnicas estatísticas para identificar padrões e tendências relevantes. Desta forma será possível apresentar as informações de maneira apropriada, destacando os elementos mais importantes e apresentando as informações de maneira atraente e facilmente compreensível para o usuário. Com isso nota-se a necessidade de profissionais de dados e analistas de negócios que compreendam a importância da união do processo de ELT com técnicas estatísticas e de visualização para a criação de dashboards com visualizações de dados eficazes e que possam trazer valor para os usuários e as organizações (Kelleher; Tierney, 2018). Além disso, o uso de ferramentas adequadas para a criação de visualizações de dados pode contribuir para a comunicação efetiva das informações contidas no painel de informação, permitindo que os usuários entendam os dados de maneira clara e 37 objetiva. Entre estas ferramentas estão o Excel, Tableau, Power BI, Qlik Sense, entre outras, que permitam comunicar adequadamente as informações contidas no painel de informação e que atendam às necessidades dos usuários que irão consultá-los (Sue; Griffin, 2015). Os objetivos subjacentes à criação de visualizações interativas compreendem a contextualização dos dados, a capacidade de os usuários explorarem as informações de maneira mais profunda e a habilidade de identificar padrões que possam emergir nos dados apresentados (Nascimento; Ferreira, 2011). Percebe-se a relevância dos painéis de informação e do Business Intelligence (BI) na Administração Pública moderna, especialmente no que tange à gestão eficiente de dados. A implementação de dashboards permite uma apresentação eficaz das informações, abrangendo não apenas a coleta e processamento de dados, mas também a escolha meticulosa de elementos gráficos, a incorporação de recursos interativos e a adequada contextualização das informações para variados públicos- alvo. A capacidade de mergulhar nas informações detalhadamente e discernir padrões nos dados municiam a administração para os trabalhos tanto para a análise quanto para a tomada de decisões estratégicas. Neste contexto, os painéis de informação e o Business Intelligence são ferramentas de destaque para o processo de formulação e implementação de políticas públicas. Eles permitem que gestores e analistas explorem ao máximo o potencial dos dados disponíveis, fundamentando decisões críticas, aprimorando a qualidade dos serviços oferecidos à população e promovendo a transparência na gestão de informações. O crescente uso dessas ferramentas reflete a necessidade contínua de adaptação e aprimoramento por parte da Administração Pública, em resposta às demandas e complexidades do cenário contemporâneo. Ademais, os painéis de informação capacitam a gestão pública a tomar decisões informadas e a fomentar a transparência dos dados, elementos comuns para a construção de uma administração eficaz e responsável. 38 2.5 Uso de Dashboards na Administração Pública As aplicações dos dashboards na Administração Pública de forma geral são ferramentas de apoio a accountability e podem ser utilizadas para auxiliar na tomada de decisão e na melhoria da eficiência dos serviços, contribuindo para a transparência e responsabilização na gestão pública. Neste trecho é apresentada e discutida a relevância dos dashboards para o planejamento de políticas públicas e como este conceito pode ser incorporado em ferramentas de gestão para fortalecer a accountability, por meio da apresentação de estudos de casos. O ponto inicial para tal é a Emenda Constitucional n.º 19/98 marco por ser meio de uma reforma administrativa que visa a modernização da Administração Pública por meio do aumento da eficiência do Estado. Estra trada das questões organizacionais, que envolvem a estrutura dos cargos, a limitação do número de cargos comissionados e a instituição de regras mais rígidas para a concessão de benefícios e vantagens aos servidores públicos, a Emenda criou melhores condições para novos formatos organizacionais e institucionais voltados para a participação dos usuários e a eficiência dos serviços prestados à população (BRASIL, 1998). Para Motta e Pereira (1982) a eficiência como a capacidade de utilizar de forma coerente os meios para alcançar as metas, ou seja, é a maximização dos resultados com o menor uso possível de recursos. No entanto, no setor público, muitas vezes não há transparência sobre o que deve ser produzido ou prestado à população, o que dificulta a avaliação da eficiência. Para Chaparro e Jiménez (1998), existem duas abordagens para criar indicadores de eficiência: a primeira é utilizar indicadores parciais que avaliam aspectos específicos do serviço e a segunda é criar um índice global de eficiência, que requer uma metodologia mais complexa e considera fatores externos. Os autores destacam que a avaliação de eficiência varia conforme o serviço público em questão: enquanto serviços mais simples, como o recolhimento de lixo, são facilmente avaliados, serviços complexos, como a educação, apresentam desafios adicionais. Além da eficiência, outro conceito importante na gestão organizacional é a eficácia, que está diretamente ligada aos objetivos da organização. Enquanto a eficiência está relacionada à utilização adequada dos recursos disponíveis para alcançar determinado objetivo, a eficácia está relacionada à escolha correta do que 39 fazer e à capacidade de alcançar os objetivos traçados de forma mensurável e acompanhá-los ao longo do tempo para avaliar o grau de alcance das metas estabelecidas (Alcantara, 2009). A eficácia está presente na Constituição Federal: Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: [...] II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; A eficácia um elemento importante para acompanhamento das organizações, sejam elas públicas ou privadas. Como método de avaliação, a eficácia de uma organização requer a definição clara dos objetivos, a criação de indicadores de desempenho e a mensuração sistemática dos resultados alcançados em relação a esses indicadores. Dessa forma, é possível acompanhar o progresso da organização, identificar eventuais desvios e tomar medidas corretivas para garantir o alcance dos objetivos traçados. No entanto, é fundamental ressaltar a distinção entre os conceitos de eficiência e eficácia. A eficiência refere-se à habilidade de realizar uma atividade com o menor custo de recursos possível, ou seja, diz respeito à forma como o processo de execução é realizado. Por outro lado, a eficácia está relacionada à capacidade de alcançar os objetivos estabelecidos, ou seja, está ligada ao resultado do serviço prestado. Por exemplo, um hospital público pode otimizar os atendimentos para diminuir fila de espera, o que está ligado à eficiência. Porém, a eficácia em um hospital pode ser medida pelo grau de satisfação dos pacientes e pela qualidade do atendimento. Dessa forma, é importante ressaltar que a eficiência por si só não garante a eficácia na prestação de serviços, mas juntas aprimoram a prestação de serviços. Ao se falar de indicadores como os anteriormente citados, remete ao desenvolvimento e a popularização das soluções de tecnologia da informação deram origem a um novo tipo de gestão, que tem ganhado adesão do poder público, que possui metas e mecanismos estabelecidos em normas e leis para maximizar o bem-estar da sociedade. As ferramentas de Business Intelligence visam analisar e utilizar informações para beneficiar as organizações, gerenciando o alcance de metas e objetivos organizacionais. De acordo com Souza, Ribeiro e Isoton (2009), essas análises podem ser utilizadas em três níveis: operacional, tático e estratégico. No nível operacional, 40 podemos analisar e verificar os dados e detalhes do cliente. No nível tático, é possível simular as melhores condições de compra e venda. Em termos de estratégia, podemos controlar as metas e objetivos da empresa. Essa abordagem atinge todos os níveis da organização proporcionando aos tomadores de decisão insumos para atuarem. As ferramentas tecnológicas têm impactado novas formas de administração, exigindo adaptação em um ambiente de mudanças contínuas, com a predominância da criatividade e inovação (Tarapanoff, 2006). Isso aumenta a capacidade de resposta à mudança, proporcionando um aumento da eficiência e competitividade organizacional. Assim como no setor privado, as organizações públicas são incentivadas a buscar as melhores práticas, mas com um novo enfoque adaptado à Administração Pública. Isso requer uma transformação da Administração Pública e uma adaptação quando esta adota uma evolução de maior modernidade e eficiência a médio prazo. Nesse sentido, o conceito de eficiência da Administração Pública segue as definições da administração privada, enfatizando a realização e satisfação do bem-estar social (Pereira, 2015). Um estudo conduzido durante os meses de março e abril de 2022, com foco nos registros bibliográficos das plataformas Science Direct, Google Scholar e CAPES, investigou a utilização de ferramentas de Business Intelligence (BI) enquanto mecanismos de apoio à tomada de decisões, abrangendo tanto o setor privado quanto o público. Os resultados do estudo indicam que, a partir de 2014, registrou-se na Administração Pública brasileira um incremento considerável na adoção de sistemas de Business Intelligence, conforme documentado por Barbosa et al. (2022). Esta tendência reflete uma crescente valorização do potencial estratégico que as ferramentas de BI oferecem para a eficiência e eficácia administrativa. Como o exposto, a utilização de ferramentas como dashboards tem se tornado cada vez mais comum, permitindo aos gestores o acompanhamento de indicadores de desempenho e a tomada de decisões mais assertivas, se utilizados para criar ações que visam a eficiência e eficácia na Administração Pública, os conceitos relevantes para o acompanhamento da evolução das organizações, sejam elas públicas ou privadas, conforme preconizado na Constituição Federal brasileira. 41 3 ESTUDO DE CASO Este segmento do trabalho explora a legislação e as modalidades de financiamento federal do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Inicialmente, contextualiza-se a relevância dos repasses financeiros e da sua supervisão no âmbito da saúde pública brasileira. Prosseguindo, detalham-se as bases legais e normativas que estruturam o SUS. Em seguida, é descrita a estrutura de gestão financeira nas esferas federal, estadual e municipal, destacando o papel desempenhado pelos Fundos de Saúde e os procedimentos relativos ao repasse de fundos. A importância do controle social e da transparência na administração dos recursos é enfatizada, com especial atenção para o papel dos conselhos de saúde, as leis de acesso à informação e as políticas de dados abertos. As modalidades de repasse fundo a fundo são apresentadas, incluindo a transferência direta de recursos do Fundo Nacional de Saúde para os fundos estaduais e municipais. Além disso, aborda-se a descentralização e o uso de contratos de repasse, com ênfase no Termo de Execução Descentralizada como um instrumento vital nesse processo. O texto também inclui uma discussão sobre a Emenda Constitucional nº 29, que assegura o financiamento para ações e serviços públicos de saúde, e examina os critérios para as despesas no setor. A ênfase recai sobre a garantia de acesso universal, igualitário e gratuito aos serviços de saúde, em conformidade com os planos de saúde de cada ente federativo. Por fim, analisa-se o impacto da Lei de Acesso à Informação (Lei n.º 12.527/2011) na transparência governamental e na disponibilização de dados. Também se examina como a Política de Dados Abertos (Decreto n.º 8.777/2016) fomenta uma cultura de dados abertos e amplia o acesso à informação, promovendo o controle social e o desenvolvimento de pesquisas baseadas em evidências sobre a gestão pública. 3.1 O Financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS): Uma Análise Estrutural e Legal Este trecho aborda o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) e a supervisão dos repasses no Brasil. Começando com a base legal estabelecida pela 42 Constituição de 1988, o trecho especifica o papel das normas e portarias na organização do SUS, incluindo a Lei n.º 8.080 e a Lei Complementar 141/2012. A estrutura de gestão financeira em âmbito federal, estadual e municipal é analisada, destacando os Fundos de Saúde e o processo de repasse de fundos. Adicionalmente, o trecho investiga a importância do controle social e da transparência na gestão dos recursos, discutindo o papel dos conselhos de saúde, leis de acesso à informação e políticas de dados abertos. A Constituição brasileira de 1988, em seu Capítulo II, discute sobre a Seguridade Social, que compreende os campos da saúde, auxílio social e previdência social. O documento trata, primeiramente, as provisões gerais sobre a alocação de recursos para o sistema único de saúde e o auxílio social, determinando padrões e compensações entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Assim como a Carta Magna determina que a saúde é um direito de todos e uma obrigação do Estado. Para assegurar essa prerrogativa, são requeridas políticas sociais e financeiras que tenham como objetivo a diminuição de enfermidades e outras questões de saúde, além do acesso irrestrito e equitativo a ações e serviços de incentivo, defesa e restauração da saúde. As ações e serviços de saúde são considerados de relevância pública e cabe ao Poder Público regulamentar, fiscalizar e controlar essas atividades, podendo ser executadas diretamente ou por meio de terceiros, tanto por entidades públicas quanto por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. A ferramenta gerencial conhecida como orçamento público é uma ferramenta que consiste em um conjunto de atividades planejadas para serem realizadas em um período específico, visando a estimativa de recursos que serão arrecadados por instituições e entidades governamentais. Além disso, determina os investimentos necessários para a execução dos programas de trabalho, com o propósito de preservar ou ampliar os serviços públicos e efetuar obras que satisfaçam as demandas comunitárias. Proposto pelo Poder Executivo, o orçamento público é caracterizado como uma lei que estipula as políticas públicas para o exercício financeiro em questão. Sua elaboração baseia-se no plano plurianual, obedecendo às diretrizes orçamentárias definidas pelo Poder Legislativo. Essencialmente, o orçamento compreende a estimativa de receitas e a autorização de despesas, registradas contabilmente através do método de partidas dobradas. 43 Além disso, o orçamento público se destaca como um procedimento contínuo e dinâmico de planejamento, empregado pelo Estado para a apresentação de seus planos e programas de trabalho, além de permitir a avaliação da execução desses planos ao longo do tempo. Esse documento é muito relevante para a gestão das finanças e da contabilidade pública. No que se refere ao Orçamento Geral da União (OGU), este abrange todos os recursos e despesas do Governo Federal, incluindo os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Os recursos financeiros obtidos pelo Governo Federal provêm majoritariamente da coleta de impostos nacionais, como o Imposto de Renda (IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Além destes, contribuições significativas incluem a da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), calculada com base no faturamento mensal das empresas, abrangendo tanto a comercialização de bens quanto a prestação de serviços de diferentes naturezas. Adicionalmente, uma parcela relevante da arrecadação é derivada dos descontos realizados diretamente na folha de pagamento dos trabalhadores assalariados, destinados a financiar suas futuras aposentadorias. Finalmente, os governos estaduais e municipais também elaboram seus orçamentos próprios para financiar suas respectivas despesas. Cada ente federativo possui atribuições distintas, sendo suas receitas oriundas de impostos e transferências da União (Santos, 2011). O orçamento público é um plano que expressa em termos financeiros, para um período definido, o programa de operações do governo e os meios de financiamento desse programa. Essa importante peça orçamentária desempenha um papel fundamental tanto como instrumento administrativo das ações do governo quanto como meio de controle sobre a gestão pública. Por meio dele, é possível estabelecer as diretrizes e prioridades das políticas públicas, definindo como serão alocados os recursos financeiros para atender às necessidades da sociedade. Dessa forma, o orçamento público se torna essencial para garantir a transparência e a eficiência na condução das ações governamentais (Giacomoni, 2004) A Lei n.º 4.320, de 17 de março de 1964, estabelece normas gerais que regem a elaboração e o controle do orçamento e do balanço da União aborda diversos tópicos importantes, como a definição de tributos, a classificação das despesas e a apresentação da proposta orçamentária. Destaca-se a importância da discriminação 44 detalhada da receita e despesa no orçamento, bem como a evidenciação da política econômico-financeira e do programa de trabalho do Governo. Além disso, são ressaltados os princípios de unidade, universalidade e anualidade que devem ser observados na elaboração desse documento (Brasil, 1964). A Lei Orçamentária Anual (LOA) ganhou importância como um instrumento de transparência no planejamento das ações do governo, especialmente com a concepção moderna do Orçamento Público, conhecida como orçamento- desempenho. Nessa abordagem, o orçamento não apenas lista os recursos disponíveis para as ações governamentais, como no paradigma antigo conhecido como Lei dos Meios, mas também informa o plano de ação do governo. Secchi (2012) destaca em seu trabalho o processo de elaboração de uma política pública, que envolve diversas fases, desde a identificação do problema até a extinção da política. Esse processo pode ou não ser seguido de forma sequencial, dependendo das circunstâncias e da complexidade do problema a ser enfrentado. Uma vez identificado um problema, ele pode entrar na agenda pública e requerer a formação de um programa governamental para a sua solução. Nesse contexto, a disponibilização de dados abertos pode ser uma ferramenta para subsidiar a tomada de decisão e a formulação de políticas públicas mais efetivas, que atendam às necessidades da população. A alocação dos recursos nas diferentes áreas, como segurança, saúde, educação, reflete as prioridades da agenda política e constitui o próprio plano de ação. Portanto, a transparência no planejamento e execução das despesas públicas é essencial para o controle social e a responsabilização do governo. A transparência orçamentária e dos gastos governamentais é fundamental para promover a transparência pública e permitir o controle cidadão das atividades do governo (Alves, 2015). A Lei n.º 8.080 estabelece como princípios do SUS a universalidade, a acessibilidade, a continuidade do cuidado, a integralidade da atenção, a responsabilização, a humanização e a equidade no atendimento à saúde, além de buscar o mais alto grau de descentralização e capilaridade com a adesão dos municípios para levar os atendimentos para o local mais próximo da vida das pessoas (BRASIL, 1990). A Constituição estabelece que a União, os Estados e os Municípios devem destinar recursos mínimos para ações e serviços públicos de saúde, de acordo com percentuais calculados sobre suas receitas correntes líquidas. Também são 45 estabelecidos critérios de rateio dos recursos da União para os Estados e Municípios, visando à redução das disparidades regionais, além de normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde (Brasil, 1988). Em cada ente federativo, há um Fundo de Saúde responsável pela gestão financeira dos recursos. No âmbito federal, o Ministério da Saúde administra os recursos por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS), criado antes da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) em julho de 1969 pelo Decreto-lei n.º 701 e presente em todas as fases da política de saúde pública no Brasil (Brasil, 1969). Nos estados, os Fundos Estaduais de Saúde (FES) gerenciam os recursos por meio das Secretarias Estaduais de Saúde. Já nos municípios, os Fundos Municipais de Saúde (FMS) são os gestores financeiros por meio das Secretarias Municipais de Saúde. A fiscalização do financiamento do SUS e o uso dos recursos são realizados pelos Conselhos de Saúde de cada ente (municipal, estadual e nacional), pelos Órgãos de Fiscalização e Controle, como os Tribunais de Contas e pelos conselhos da sociedade civil. Para receberem o repasse de recursos na área da saúde, estados, municípios e o Distrito Federal devem cumprir alguns requisitos, como possuir um Fundo de Saúde, um Conselho de Saúde com composição paritária, um atendimento de saúde, relatórios de gestão que permitam o controle financeiro, contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento e uma Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS). Caso os municípios não cumpram essas condições, os recursos provenientes do financiamento do SUS serão administrados pelo estado correspondente ou pela União até que as condições sejam cumpridas. O repasse financeiro dos recursos do SUS é feito diretamente pelo Fundo Nacional de Saúde para os fundos dos Estados e Municípios, ou de forma complementar, dos Fundos Estaduais para os Fundos Municipais, através do repasse fundo a fundo (Ministério Da Saúde, 2022). A Lei Complementar n.º 141/2012 determina os montantes mínimos a serem investidos anualmente pelo Governo Federal, pelos estados e municípios na saúde. Os fundos federais devem representar ao menos 15% da coleta anual, enquanto os fundos estaduais devem ser de ao menos 12% e os fundos municipais de ao menos 15% da coleta com tributos. O planejamento orçamentário dos recursos deve ser realizado com base nas necessidades de saúde da população, levando em consideração o perfil 46 epidemiológico, demográfico e socioeconômico de cada região. Esse planejamento deve obedecer aos planos plurianuais de saúde, às leis de diretrizes orçamentárias (LDO), às leis orçamentárias anuais (LOA) e aos planos de aplicação dos recursos dos fundos de saúde (BRASIL, 2012). O FNS, como parte da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, é responsável pela gestão financeira com base no Plano Nacional de Saúde e no Planejamento Anual do Ministério da Saúde. Os recursos são transferidos para estados, municípios e Distrito Federal de forma descentralizada nos serviços, na cobertura assistencial e hospitalar, organizados em blocos de financiamento conforme a Portaria n.º 828/2020. A descentralização envolve a redistribuição de responsabilidades entre os vários níveis de governo, enfatizando o papel do executivo em todas as esferas na gestão da saúde com o intuito de fortalecer os governos locais, incentivando a democracia e melhorando a eficiência, a eficácia e a fiscalização de políticas públicas. Contudo, devido às variadas condições de saúde pelo país, surge a necessidade de organizar uma rede de serviços de saúde. Isso permite uma abordagem coordenada e diversificada, adaptando-se às necessidades locais e mantendo uma estrutura hierárquica nos serviços de saúde (Ibiapina, 2020). As transferências financeiras são realizadas nas modalidades de Convênio, Contratos de Repasses, Termos de Cooperação e Fundo a Fundo. Segundo a Portaria Interministerial n.º 424, de 30 de dezembro de 2016, o Convênio é um instrumento que regula a transferência de recursos financeiros de órgãos ou entidades da Administração Pública Federal, direta ou indireta, para órgãos ou entidades da Administração Pública Estadual, Distrital ou Municipal, direta ou indireta, consórcios públicos ou entidades privadas sem fins lucrativos. Esse convênio tem como objetivo a execução de projetos ou atividades de interesse mútuo, em um regime de cooperação mútua (Brasil, 2017). Já o Contrato de Repasse é documento administrativo pelo qual a transferência de recursos financeiros ocorre por meio de uma instituição ou agente financeiro público federal, atuando como representante da União. Para colocar esse documento em prática, o ministério responsável assina um Termo de Cooperação com a instituição ou agência financeira oficial federal escolhida, que passa a atuar como representante da União (Brasil, 2023). O Termo de Execução Descentralizada é um instrumento definido pelo Decreto n.º 10.426, de 16 de julho de 2020, que permite a transferência de créditos entre 47 órgãos e entidades do governo federal para a execução de ações específicas. Esse instrumento substituiu o Termo de Cooperação, que era utilizado anteriormente para a transferência de créditos entre órgãos federais. A descentralização de crédito é feita de acordo com o Programa de Trabalho e a ação orçamentária, garantindo assim a execução das ações de interesse da unidade orçamentária descentralizadora (Brasil, 2020). As transferências Fundo a Fundo são caracterizadas pelo repasse direto de recursos de fundos federais para fundos estaduais, municipais e do Distrito Federal por meio da descentralização. A Emenda Constitucional nº 29, promulgada em 2000, garantiu o financiamento das ações e serviços públicos de saúde, estabelecendo que as três esferas de governo devem destinar anualmente recursos mínimos com base em percentuais das receitas. Para que essa emenda seja aplicada, consideram-se despesas com ações e serviços de saúde todas aquelas relacionadas a pessoal, custeio e capital, financiadas pelas três esferas de governo, desde que atendam aos critérios de acesso universal, igualitário e gratuito, estejam de acordo com os planos de saúde de cada ente federativo e sejam específicas do setor de saúde (Brasil, 2000). Para complementar, no final de 2017, foi publicada a Portaria n.º 3.992/2017, para organizar e transferir os recursos federais para as ações e serviços de saúde do SUS em apenas dois blocos: custeio e investimento na rede de serviços públicos de saúde. Desta forma as transferências fundo a fundo passaram a ser feitas em conta única e específica para cada bloco. Para isso a aplicação destes recursos deve estar de acordo com as ações de saúde públicas e a programação anual de saúde de cada ente federativo, além de seguir o objeto e o compromisso pactuados nos atos normativos do Sistema Único de Saúde. A prestação de contas deve ser feita por meio do Relatório de Gestão, que deve ser elaborado anualmente e submetido ao Conselho de Saúde para aprovação (Brasil, 2017). A Portaria n.º 3.992/2017 trouxe impactos positivos, como uma gestão financeira mais flexível, permitindo o remanejamento dos recursos de acordo com o fluxo de pagamento. Além de fortalecer os instrumentos de planejamento, monitoramento e avaliação da política de saúde, substituiu o controle focado nos saldos financeiros por controle das despesas efetuadas e aprimorou a governança do SUS. Conclui-se que a gestão financeira do SUS descentralizada, com fundos específicos em cada nível de governo busca garantir a alocação de recursos de 48 financeiros de maneira distribuída. Deixando a fiscalização e controle dos recursos para os Conselhos de Saúde e Órgãos de Fiscalização e Controle, garantindo transparência e responsabilidade na gestão dos fundos. Como o descrito anteriormente, com esta descentralização da gestão do SUS busca-se promover a eficiência e a eficácia na oferta de serviços de saúde, adaptando-se às necessidades locais e mantendo uma estrutura hierárquica. A Lei Complementar n.º 141/2012 define os mínimos a serem investidos por cada nível de governo, garantindo um financiamento contínuo e adequado para a saúde. Destaca- se que a transferência financeira no SUS ocorre principalmente através do modelo Fundo a Fundo, garantindo uma distribuição direta. Nota-se que o orçamento destinado à saúde é uma ferramenta importante para conhecer o funcionamento da alocação de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Sendo relevante salientar que esse orçamento sofreu alterações nos últimos anos. Em 2021, por exemplo, foi de R$ 189,4 bilhões, enquanto em 2022 o valor foi de R$ 155,50 bilhões, representando uma queda de cerca de 21,81%. Esse orçamento é distribuído em diferentes blocos, como assistência hospitalar e ambulatorial (R$ 62,1 bilhões), atenção básica (R$ 34,9 bilhões), suporte profilático e terapêutico (R$ 13,2 bilhões), vigilância epidemiológica (mais de R$ 13 bilhões), administração (R$ 7,1 bilhões) e outros (R$ 5,8 bilhões) (Controladoria-Geral da União, 2023). Figura 2 – Resumo dos tipos de repasses do Governo Federal Fonte: Autora 2024. 49 3.2 Dados no Governo Federal O site do Ministério da Saúde, órgão do governo federal responsável pela elaboração de planos e políticas públicas no Brasil, informa que a tarefa do Ministério da saúde é criar as condições para a proteção e restabelecimento da saúde da população a redução. combate doenças, controle de endemias e parasitoses e melhoria da vigilância sanitária, proporcionando melhor qualidade de vida aos brasileiros. I - Missão: Promover a saúde e o bem-estar de todos, por meio da formulação e implementação de políticas públicas de saúde, pautando-se pela universalidade, integralidade e equidade; II - Visão: Sistema de Saúde Público efetivo e reconhecido por todos; III - Valores Institucionais: Inovação, Comprometimento, Empatia, Transparência, Ética, Eficiência e efetividade, Sinergia e Sustentabilidade; (Ministério Da Saúde, 2021). No Brasil, seguindo a tendência de abertura de dados, foram publicadas normas legais que permitem a disponibilização de dados governamentais. Em 2011, foi sancionada a Lei n.º 12.527, conhecida como Lei de Ace