UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus de São Paulo - Instituto de Artes Programa de Pós-Graduação em Artes - Mestrado MESTRE GALDINO: o ceramista poeta de Caruaru - PE Rosângela Ferreira de Oliveira Vitorino São Paulo 2013 Rosângela Ferreira de Oliveira Vitorino MESTRE GALDINO: o ceramista poeta de Caruaru – PE Dissertação submetida à UNESP como requisito parcial exigido pelo Programa de Pós-Graduação em Artes, área de concentração em Artes Visuais, linha de pesquisa em Processos e Procedimentos Artísticos, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Geralda Mendes F. S. Dalglish (Lalada Dalglish), para obtenção do título de Mestre em Artes. São Paulo 2013 Ficha catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Artes da UNESP (Fabiana Colares CRB 8/7779) V845m Vitorino, Rosângela Ferreira de Oliveira. Mestre Galdino: o ceramista poeta de Caruaru -PE / Rosângela Ferreira de Oliveira Vitorino. - São Paulo, 2013. 231 f. ; il. Orientador: Profa Dra Lalada Dalglish Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2013. 1. Cerâmica brasileira. 2. Arte popular. I. Mestre Galdino. II. Dalglish, Lalada. III. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. IV. Título CDD 738.0981 Rosângela Ferreira de Oliveira Vitorino MESTRE GALDINO: o ceramista poeta de Caruaru – PE Dissertação submetida à UNESP como requisito parcial exigido pelo Programa de Pós-Graduação em Artes, área de concentração em Artes Visuais, linha de pesquisa em Processos e Procedimentos Artísticos, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Geralda Mendes F. S. Dalglish (Lalada Dalglish), para obtenção do título de Mestre em Artes. Data da defesa: 01 de julho de 2013 BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Presidente: Prof.ª Dr.ª Geralda Mendes F. S. Dalglish UNESP - Universidade Estadual Paulista – Instituto de Artes _____________________________________________ 1º Examinador: Prof. Dr. José Leonardo do Nascimento UNESP - Universidade Estadual Paulista – Instituto de Artes _____________________________________________ 2º Examinador: Prof.ª Dr.ª Zandra Coelho de Miranda UFSJ - Universidade Federal de São João Del Rei Ao Mestre Galdino, por sua poesia, criação e sabedoria popular Figura 1: Mestre Galdino. Galdino como poeta do Alto do Moura, 1996, cerâmica, 47 cm. Acervo: CCSF. Foto: Pedro Oswaldo Cruz. Fonte: FROTA, 2005, p. 21 AGRADECIMENTOS O reconhecimento pela gratidão aqui descrito pode se tornar extenso, mas são tantas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta dissertação - seja pelo incentivo, pela troca de informações ou pela escuta atenta das aflições e dos caminhos que me levaram à finalização desta pesquisa, que a citação de alguns nomes e órgãos relevantes tornam-se indispensáveis para a compreensão do desejo e da intenção destes em ver fomentada uma pesquisa sobre a obra de Mestre Galdino. Inicialmente, agradeço aos moradores do Alto do Moura, pelo acolhimento em seus ateliês-residências, pelos relatos que contribuíram para “costurar” as memórias e as histórias sobre a vida e a obra do Mestre. Alguns desses moradores devem ser relembrados pelo atendimento contínuo durante as idas e vindas a esse bairro: os artesãos Elisvanda, Marliete, Manuel Eudócio e Severino Vitalino, os artesãos e educadores do Memorial Mestre Galdino Thiago e Bárbara, a artesã Teresinha do Ateliê “Bosque das Estrelas”, o Ateliê Artesanato Juazeiro, e, em especial, Joel Galdino, filho do Mestre Galdino. À Associação dos Moradores do Alto do Moura e aos seus administradores: o Presidente da AABMAM, Severino Barbosa da Silva e os secretários, Danielle Nascimento e David Carlos. Ao alicerce de minha vida, minha família, em especial à minha mãe e ao meu pai (in memorian), por me despertarem para a apreciação das tradições da Cultura Popular Nordestina; às minhas irmãs, aos meus cunhados e sobrinhos, pela compreensão de minha ausência; às primas Leleca, Dione e Telma, pelo acolhimento e hospedagem em minhas idas e vindas a Pernambuco; e a Rutinha, pelo acolhimento no Rio de Janeiro. Ao meu esposo Luciano, pelo companheirismo nas viagens de Pesquisa de Campo, pela escuta atenta da produção desta dissertação e pela compreensão de minha ausência em momentos tão importantes de nossas vidas. Ao fotógrafo Carlos Sá (in memorian), à Prof.ª M.ª especialista em cerâmica Luciana Chagas, e à jornalista Luana Barros, por compartilharem seus textos e fotografias. Ao senador Sr. Jarbas Vasconcelos, por contribuir com esta pesquisa cedendo fotos das esculturas de seu acervo. Aos Mestres pelo aprendizado, formação e direcionamento, principalmente àqueles que estiveram mais próximos nesse processo: Prof. Dr. Agnus Valente, Prof.ª Dr.ª Zandra Coelho de Miranda, Prof. Dr. José Leonardo do Nascimento, Prof.ª Mayra L. Carrillo, e à Prof.ª e ceramista Mayy Koffler. Aos escritores César Obeid e Rita de Cássia Bordoni pelo auxílio na compreensão do poema de cordel. À Profª. Drª. Lalada Dalglish, orientadora desta pesquisa, por seu conhecimento e entusiasmo pela arte do barro, estímulo imprescindível na “modelagem” desta dissertação. Às amigas e companheiras de pesquisa e congressos: Camila, Vanessa, Cleide e Patrícia. Muito obrigada também aos Museus e Fundações, e àqueles que intermediaram o acesso às obras e bibliografias do Mestre: RECIFE – PE − FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco − MUHNE – Museu do Homem do Nordeste Aos museólogos: Sr. Henrique Cruz e Sr. Albino Oliveira; à coordenadora da Divisão de Museologia, Sra. Maria Fernanda Pinheiro de Oliveira; ao arquiteto na época lotado na Divisão de Museologia, Sr. Rodrigo Cantarelli; ao Coordenador do Museu do Homem do Nordeste, Sr. Ciema de Mello. − Museu do Estado de Pernambuco Ao Sr. Rinaldo Carvalho e à Sra. Tânia Borges. − FUNDARPE – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco CARUARU – PE − Museu do Barro de Caruaru − Memorial Mestre Galdino − Casa Museu Mestre Vitalino À Sra. Regina Cavalcante, Coordenadora dos Museus de Caruaru. − Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru À Sra. Lúcia Félix, presidenta da Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru. RIO DE JANEIRO – RJ − Museu Casa do Pontal À Sra. Angela Mascelani, Diretora do Museu Casa do Pontal. − Museu do Folclore Edison Carneiro SE CRIA ASSIM Quem cria tem que durmi Pensar bem no passado De tudo ser bem lembrado Tirar do Juízo como louco Ter a voz como um pipoco Ter o corpo com energia Ler o escudo do dia Conservar uma oração Fazer sua oração Ao deus da puizia. Deve durmi muito cedo Bem mais cedo acordar Muito mais tarde sonhar Muito afoito e menos medo Muito honesto com segredo Muito menos guardar Muito mais revelar Pra ter mais soberania Muito poca covardia Não durmi para sonhar Poema de Mestre Galdino RESUMO A dissertação Mestre Galdino: o ceramista poeta de Caruaru – PE refere-se à construção poética desse artista, desde a coleta do barro, tipos de fornos e técnica utilizada. Busca catalogar suas esculturas e poesias, analisá-las quanto ao seu estilo e processo de criação, relacionando-os ao contexto social que influenciou seu trabalho. Mestre Galdino foi poeta, violeiro e ceramista. Viveu no bairro do Alto do Moura, localizado em Caruaru, Pernambuco, local onde se nota a significação e a importância de suas cerâmicas. Logo na entrada do bairro nos deparamos com uma homenagem aos dois ceramistas responsáveis pela tradição do núcleo de ceramistas de Caruaru: Mestre Galdino e Mestre Vitalino. Os ceramistas - descendentes da tradição do barro - consideram e prestigiam esses Mestres, mas, mesmo assim, há poucos estudos publicados sobre a biografia, a poesia e a cerâmica do artista popular Mestre Galdino, falecido em 1996. Suas primeiras peças são bonecos da tradição local, moringas e máscaras e, aos poucos, em seu “escritório”, foi construindo sua poética pessoal. A imitação da realidade não era considerada arte para Galdino, já a expressão do seu universo imaginário foi sua busca para a “transformação” da sua arte e para a construção de sua poética, estabelecendo uma rede com seu meio social, sem separar arte, poesia e vida. Palavras-chave: Mestre Galdino. Cerâmica. Arte Popular. Alto do Moura. Caruaru. Pernambuco. Grande Área: Letras, Linguística e Artes. Área: Artes. RESUMEN La disertación Maestro Galdino: el ceramista poeta de Caruaru – PE se refiere a la construcción poética de ese artista, desde la recolección del barro, tipos de hornos y técnica utilizada. Busca catalogar sus esculturas y poesías, analizarlas por su estilo y proceso de creación, relacionándolos al contexto social que influenció su trabajo. Maestro Galdino fue poeta, violista y ceramista. Vivió en el barrio "Alto do Moura", ubicado en Caruaru, Pernambuco, donde se observa la significación y la importancia de sus cerámicas. Tan pronto se entra en el barrio, encontramos un homenaje a los dos ceramistas responsables por la tradición del núcleo de ceramistas de Caruaru: Maestro Galdino y Maestro Vitalino. Los ceramistas - descendientes de la tradición del barro - consideran y honoran a esos Maestros, pero, todavía, hay pocos estudios publicados sobre la biografía, la poesía y la cerámica del artista popular Maestro Galdino, fallecido en 1996. Sus primeras piezas fueron muñecos de la tradición local, cántaros y máscaras y, a los pocos, en su “oficina”, se construyó su poética personal. La imitación de la realidad no era considerada arte para Galdino, pero la expresión de su universo imaginario fue su ideal para la “transformación” de su arte y para la construcción de su poética, estableciendo una red con su medio social, sin separar arte, poesía y vida. Palabras clave: Maestro Galdino. Cerámica. Arte Popular. Alto do Moura. Caruaru. Pernambuco. Gran Área: Letras, Lingüística y Artes. Área: Artes. ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Mestre Galdino. Galdino como poeta do Alto do Moura, 1996, cerâmica, 47 cm. Acervo: CCSF. Foto: Pedro Oswaldo Cruz. Fonte: FROTA, 2005, p. 21 ..................................................................................... 5 Figura 2: Arte do barro. Foto: Pierre Verger. Fonte: LODY, 2009, p.31 ............................................................24 Figura 3: A evolução da cerâmica de Caruaru. Ilustração: Cristiano Eberle. Fonte: LIMA, 2001, VHS ...............27 Figura 4: Urna Funerária. Datação: aproximadamente 1.500 anos, 45 x 29 cm com opérculo. Acervo: MUHNE. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.29...........................................................................28 Figura 5: Conjunto de utensílios cerâmicos arqueológicos. Datação: aproximadamente 1.500 anos, 12,5 x 18,5; 18 x 20; 35 x 42 cm (da esquerda para a direita). Acervo: MUHNE. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.31 .........................................................................................................................28 Figura 6: Tijolos semicirculares. 25 cm; 16 cm de raio (da esquerda para a direita). Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.71 ..............................................................................................................28 Figura 7: Tijolos de frísia. Primeira metade do século XVII. 3,5 x 8 x 17 cm. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.71 .........................................................................................................................28 Figura 8: Forno a lenha para peças maiores. Ateliê “Bosque das Estrelas”, pertencente à Teresinha e Gonzaga. O ceramista Joel Galdino em 2012 utilizava esse ateliê para queimar suas peças. Foto da autora. ........30 Figura 9: Detalhe do forno a lenha e seus orifícios. Ateliê “Bosque das Estrelas”, pertencente à Teresinha e Gonzaga. Foto da autora. .......................................................................................................................30 Figura 10: Forno a lenha de cúpula aberta, para peças menores. Ateliê “Bosque das Estrelas”, pertencente à Teresinha e Gonzaga. Foto da autora. ....................................................................................................30 Figura 11: Feira de Caruaru. Foto: Marcel Gautherot. Feira de Caruaru faz gosto a gente ver. 1 foto P/B. Fonte: MELLO, 1995, p.5 ........................................................................................................................31 Figura 12: Entrada do bairro Alto do Moura. Nas colunas a representação do Mestre Galdino (à esquerda) e do Mestre Vitalino (à direita). Foto da autora. ......................................................................................33 Figura 13: O Alto do Moura em 1984. Foto de Paulino Cabral de Mello, Foto P/B. Fonte: MELLO, 1995, p. 299 ..............................................................................................................................................................36 Figura 14: Rua Mestre Vitalino, Alto do Moura, 2013. Foto da autora ............................................................36 Figura 15: Vista panorâmica da reserva do barro da AABMAM, localizada a aproximadamente 50 metros de distância do Rio Ipojuca. Foto da autora ................................................................................................41 Figura 16: Vista do Rio Ipojuca, coberto por aguapés popularmente conhecidos como “Baronesa”. Foto da autora ....................................................................................................................................................41 Figura 17: Ao fundo, gado bebendo água no Rio Ipojuca. Foto da autora .......................................................42 Figura 18: Detalhe da água do Rio Ipojuca. Foto da autora .............................................................................42 Figura 19: Detalhe da “parede do barreiro”. Foto da autora ...........................................................................43 Figura 20: Artesão Bio, presidente no ano de 2013 da Associação dos Artesãos e Moradores do Alto do Moura (AABMAM), coletando um pequeno pedaço do barro como “amostra” para a pesquisa. Foto da autora ....................................................................................................................................................44 Figura 21: Mestre Vitalino trabalhando com seus filhos. Foto: Pierre Verger. Vitalino seus filhos meninos. Fonte: LODY, 2009, p.47.........................................................................................................................44 Figura 22: Mestre Vitalino. Foto: Pierre Verger. [s/título]. Fonte: LODY, 2009, p.46 .......................................47 Figura 23: Mestre Vitalino. Queda de Braço, cerâmica. Foto: Pedro Oswaldo Cruz e Celso Brandão. Fonte: FROTA, 1988, p. 62.................................................................................................................................48 Figura 24: Mestre Vitalino. Queda de Braço, cerâmica. Foto: Pedro Oswaldo Cruz e Celso Brandão. Recorte da imagem Queda de Braço. Fonte: FROTA, 1988, p. 63 .............................................................................48 Figura 25: Zé Cabloco na Feira de Caruaru (c. 1950). Foto de Antônio Miranda. Fonte: MELLO, 1995, p.304...50 Figura 26: Zé Cabloco, Lambe-lambe, Alto do Moura, Caruaru – PE. Fonte: MASCELANI, 2011, p.41 ..............51 Figura 27: Manuel Eudócio em seu ateliê. Foto da autora. ..............................................................................52 Figura 28: Manuel Eudócio. Peças diversas, cerâmica. Foto da autora ............................................................53 Figura 29: Ernestina. Foto de Paulino Cabral de Mello, foto P/B. Fonte: MELLO, 1995, p.302 .........................54 Figura 30: Ernestina. A adoração dos anjos. Cerâmica policromada, Museu do Barro, Caruaru - PE. Foto da autora ....................................................................................................................................................55 Figura 31: Mestre Galdino em seu ateliê. Foto: Joaquim Marçal Ferreira de Andrade. [s/título]. Fonte: MONTES, 2012, p. 172 ...........................................................................................................................56 Figura 32: Maria, esposa de Galdino, fazendo renda de bilro. Fonte: Memorial Mestre Galdino ....................58 Figura 33: Fachada da casa-ateliê Cerâmica se cria assim. Foto: José D. A. de Oliveira, “Cerâmica se cria assim”. Fonte: SUDENE/ITEP, 1990, p. 131 .............................................................................................61 Figura 34: Mestre Galdino e Maria Rendeira. Manoel Bernardo, “Galdino e a mulher Maria Rendeira”, Memorial Mestre Galdino. Foto da autora ............................................................................................64 Figura 35: Pare aqui i fale com Galdino. Foto: Carlos Sá, 1 foto. P/B. Fonte: SÁ. 2010 .....................................65 Figura 36: Fachada do Memorial Mestre Galdino. Memorial Mestre Galdino, Alto do Moura, Caruaru - PE. Foto da autora .......................................................................................................................................68 Figura 37: Vista interna do Memorial Mestre Galdino. Memorial Mestre Galdino, Alto do Moura, Caruaru -.PE Fonte: Memorial Mestre Galdino. Disponível em: . Acesso: 28 de jun. 2012, às 00h30. ...................................................................................................................................................69 Figura 38: Galdino criando. Fonte: Memorial Mestre Galdino .........................................................................70 Figura 39: Mestre Galdino, Vendo girimum barato, década 1970, cerâmica. Acervo: Museu Casa do Pontal. Foto da autora .......................................................................................................................................71 Figura 40: Mestre Galdino. Máscara. Foto: Câmara, Ivany. Fonte: Correio Braziliense, 6 de janeiro de 1981. .72 Figura 41: Mestre Galdino, Mané Pãozeiro, cerâmica pintada com cor de barro, 20,5 x 14 x 13 cm. Acervo AABMAM, Caruaru – PE. Foto da autora ...............................................................................................75 Figura 42: Galdino com Mané Pãozeiro e uma das versões da Lobinha. Fonte: Memorial Mestre Galdino .....76 Figura 43: Mestre Galdino e seus arranjos. Fonte: Memorial Mestre Galdino .................................................77 Figura 44: Incisões na modelagem de Mestre Galdino. Recorte de imagem do vídeo: A herança de Mestre Vitalino Fonte: A herança de Mestre Vitalino, TV SESC/SENAC ..............................................................78 Figura 45: Mestre Galdino, A lobinha come a víbora, cerâmica pintada com cor de barro, 30 x 15,5 x 22 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora ...........................................................79 Figura 46: Mestre Galdino, O símbolo de Salomão (frente), cerâmica pintada em cor de barro, 36 x 35 x 33 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora ....................................................80 Figura 47: Mestre Galdino, O símbolo de Salomão (costas), cerâmica pintada em cor de barro, 36 x 35 x 33 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora ....................................................80 Figura 48: Mestre Galdino, Moringa Cangaceiro, cerâmica pintada em cor de barro, 41 x 16 x 16 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora.......................................................................80 Figura 49: Mestre Galdino, Cangaceiro segurando criança, cerâmica pintada em cor de barro, 38 x 22 x 17 cm. Acervo Museu do Homem do Nordeste, Recife - PE. Foto da autora .....................................................80 Figura 50: Detalhe incisões - linhas. Mestre Galdino, Beija-flor voador do Norte, 22 de abril de 1992, cerâmica, 44 x 17 x 23 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora .................80 Figura 51: Detalhe incisões - costura. Mestre Galdino, O galinho de Jesus, cerâmica, 34 x 17 x 35 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora.......................................................................80 Figura 52: Detalhe incisões – furos (pontos). Mestre Galdino, A raposa come o macaco, cerâmica, 18 x 22 x 28 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora ....................................................80 Figura 53: Inscrição da assinatura. Mestre Galdino, Carranca de São Marcos, cerâmica, 28 x 34 x 34 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora ...........................................................81 Figura 54: Inscrição da história da peça. Mestre Galdino, Carranca de São Marcos, cerâmica, 28 x 34 x 34 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora ...........................................................81 Figura 55: Inscrição do local de origem. Mestre Galdino, Carranca de São Marcos, cerâmica, 28 x 34 x 34 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora ...........................................................81 Figura 56: Mestre Galdino, Cerâmica se cria assim, 24 de fevereiro de 1996, cerâmica, 25 x 29 x 38 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru - PE. Foto da autora.......................................................................82 Figura 57: Jociel Galdino de Freitas, filho de Manuel Galdino, armazenando a matéria-prima. Foto: José D. A. de Oliveira “Armazenamento da matéria-prima”. Fonte: SUDENE/ITEP, 1990, p. 131 ...........................84 Figura 58: Preparação da matéria-prima. Foto: José D. A. de Oliveira “Preparação da matéria-prima”. Fonte: SUDENE/ITEP, 1990, p. 132 ....................................................................................................................84 Figura 59: Galdino com seus dois fornos – o grande ao fundo e o pequeno na frente. Foto: José D. A. de Oliveira. “Preparação da matéria-prima”. Fonte: SUDENE/ITEP, 1990, p. 133........................................85 Figura 60: Galdino lendo um dos seus poemas. Fonte: BARRO, 1998, p. 66 ....................................................87 Figura 61: Mestre Galdino, Carranca, cerâmica, 70 cm. Col. Janete Costa. Fonte: FROTA, 2005, p.216............88 Figura 62: Galdino e sua escultura com o poema enrolado numa das cavidades da peça. Foto: Joaquim Marçal Ferreira de Andrade. Fonte: MONTES, 2012, p.171 ................................................................................89 Figura 63: Mestre Galdino, Calango/Déc.90, cerâmica, 13 x 19 x 82 cm, coleção de Jarbas Vasconcelos. Foto: Pedro Ribeiro. Fonte: COSTA et al, 2001 ................................................................................................90 Figura 64: Mestre Galdino, Caçador com caça (detalhe da parte inferior), cerâmica, 66 x 32 x 32 cm. Acervo Museu do Homem do Nordeste, Recife – PE. Foto da autora .................................................................91 Figura 65: Mestre Galdino, A raposa come o macaco, cerâmica, 18 x 22 x 28 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru – PE. Foto da autora ...................................................................................................95 Figura 66: DARCÍLIO LIMA, [s/título] Fonte: ECHOLS, Beate e SHUB, Michael. Darcílio Lima. Disponível em: < http://www.escapeintolife.com/essays/darcilio-lima-artist-prophet-time-traveler/>, acesso em: 30 de ago. de 2012 às 18h00 ...........................................................................................................................99 Figura 67: Mestre Galdino, s/título, cerâmica, década de 1970. Alto do Moura, Caruaru - PE. Museu Casa do Pontal. Foto da autora ...........................................................................................................................99 Figura 68: Mealheiros. Tronco de árvore com pássaro, cerâmica policromada. Bezerros, Pernambuco. 15,9 x 8,7 x 13 cm. Galo. Cerâmica policromada, Caruaru – PE, 15 x 8,7 x 13 cm. Foto: Rômulo Fialdini. Acervo: MUHNE. Fonte: MUHNE, 2000, p. 253 ................................................................................................. 103 Figura 69: Mestre Galdino, Lampião (telha decorativa) [segunda fase], cerâmica, 40 x 17 x 10 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru – PE. Foto da autora ..................................................................... 104 Figura 70: Mestre Galdino, Moringa cangaceiro [segunda fase], cerâmica, 27 x 14 x 11 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru – PE. Foto da autora .................................................................................... 104 Figura 71: Mestre Galdino, s/ título [segunda fase], déc.70, cerâmica. Acervo: Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro – RJ. Foto da autora ................................................................................................................. 105 Figura 72: Mestre Galdino, Máscara [segunda fase], cerâmica, 28 x 28 cm. Acervo AABMAM, Caruaru – PE. Foto da autora ..................................................................................................................................... 106 Figura 73: Mestre Galdino, Mané Paozeiro rico [terceira fase], cerâmica, 82 x 31,5 x 27,6 cm. Acervo: Museu de Folclore Edison Carneiro (CNFCP/Iphan), Rio de Janeiro.Foto: Germana Monte-Mór. Fonte: MONTES, 2012, p.178 .......................................................................................................................................... 107 Figura 74: Mestre Galdino, s/título [terceira fase – série: Homens do Campo], cerâmica. Acervo: Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro. Foto da autora ............................................................................................ 108 Figura 75: Mestre Galdino, Maria Bonita [terceira fase – série: Guerreiros do sertão], cerâmica, 40 x 12 x 17 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru – PE. Foto da autora .................................................. 109 Figura 76: Mestre Galdino, Galdino: o herói Poeta [terceira fase – série autorretrato], cerâmica, 80 x 23 x 26 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru – PE. Foto da autora ................................................. 110 Figura 77: Figura feminina sentada com vasilhame colocado sobre as pernas para fins cerimoniais / Cultura Tapajó. Santarém (PA). 28,5 X 23 X 31,8 cm. Museu Paraense Emílio Goeldi. Fonte: DANTAS, 2003, p. 127 ...................................................................................................................................................... 111 Figura 78: Mestre Galdino, s/título [terceira fase], cerâmica. Fonte: MARQUES, 1981, p.17 ......................... 111 Figura 79: Mestre Galdino. s/título [terceira fase], cerâmica. Museu Casa do Pontal. Foto da autora .......... 112 Figura 80: Mestre Galdino, s/título [terceira fase], Cerâmica. Museu Casa do Pontal. Foto da autora .......... 113 Figura 81: Carranca de deus peruano, feita por membros do culto ao jaguar entre 200 a. C. e 800 d.C.. Fonte: DELANO, M. et al, 1997, p.112 ............................................................................................................. 114 Figura 82: Vaso cerimonial de gargalo em forma de inseto. Cultura Tapajó, Santarém – PA. 11 x 17 x 13 cm. Museu Paraense Emílio Goeldi. Fonte: DANTAS, 2003, p. 127 ............................................................. 114 Figura 83: Mestre Galdino, Adorando o boi, cerâmica [terceira fase]. Acervo: Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro – RJ. Fonte: MASCELANI, 2011, p.67 ........................................................................................ 115 Figura 84: Mestre Galdino, Burrinho de Moisés [terceira fase], cerâmica. Memorial Mestre Galdino. Foto da autora .................................................................................................................................................. 116 Figura 85: Mestre Galdino, A viagem de Maria ao Egito [terceira fase], cerâmica. Memorial Mestre Galdino. Foto da autora ..................................................................................................................................... 117 Figura 86: Mestre Galdino, O galinho de Jesus [terceira fase], cerâmica. Memorial Mestre Galdino. Foto da autora .................................................................................................................................................. 118 Figura 87: Mestre Galdino, São Pedro [terceira fase], cerâmica. Museu Casa do Pontal. Foto da autora ...... 119 Figura 88: Mestre Galdino, Igreja [terceira fase], cerâmica. Museu Casa do Pontal. Fonte: MASCELANI, 2011, p. 67 .................................................................................................................................................... 119 Figura 89: Mestre Galdino, Carranca de São Marcos [terceira fase], cerâmica, 28 x 34 x 34 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru / PE. Foto da autora. ................................................................... 120 Figura 90: Mestre Galdino, Homem barbudo [terceira fase], cerâmica. Museu Casa do Pontal. Fonte: MASCELANI, 2011, p. 67 ...................................................................................................................... 121 Figura 91: Mestre Galdino, Santo Antônio caminhante [terceira fase], cerâmica. Museu Casa do Pontal. Fonte: MASCELANI, 2011, p. 65 ............................................................................................................ 121 Figura 92: Mestre Galdino, A lobinha sentada [terceira fase], cerâmica, 37 x 12 x 19 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru / PE. Foto da autora .................................................................................... 121 Figura 93: Mestre Galdino, Iszaima [quarta fase], 1978, cerâmica, 52 x 13,5 x 13,5 cm. Coleção: Paulo Sérgio Duarte, Rio de Janeiro. Foto: Germana Monte-Mór. Fonte: MONTES, 2012, p.184 .............................. 122 Figura 94: Caderno da autora. Anotações e estudo sobre a exposição Teimosia da imaginação. Vista de frente ............................................................................................................................................................ 123 Figura 95: Caderno da autora. Anotações e estudo sobre a exposição Teimosia da imaginação. Transcrição das anotações de Galdino na escultura. Vista de costas....................................................................... 123 Figura 96: Ídolo feminino. Hacilar. Anatólia, Turquia/ Milênio V a.C./ Achado em assentamento/ Pedra-sabão / 18,2 x 6,6 x 2,2 cm Museum fur Vor-und Fruhgeschichte, Berlim – Alemanha. Figura feminina opulenta, pintada com listas vermelhas sobre fundo amarelo. Fonte: DANTAS, 2003, p. 18 ................ 124 Figura 97: Mestre Galdino, s/título, [quarta fase – série maternidade], cerâmica. Fonte: BARRO, 1998, p. 35 ............................................................................................................................................................ 124 Figura 98: Mestre Galdino. s/título [quarta fase – série maternidade], cerâmica. Museu Casa do Pontal. Foto da autora ............................................................................................................................................. 125 Figura 99: Mestre Galdino. s/título [quarta fase – série maternidade], cerâmica. Fonte: BARRO, 1998, fig.33 ............................................................................................................................................................ 126 Figura 100: Mestre Galdino, s/título, [quarta fase – série maternidade], cerâmica, coleção: Enmanuel Ponce de Leon Júnior (João de Barro). Fonte: BARRO, 1998, f. 49 .................................................................. 127 Figura 101: Mulher Delta do Rio Niger, Mali, séc. XI – XVII, terracota com traços de argila. Fonte: BARDI, 1989, p.67 ............................................................................................................................................ 127 Figura 102: Mestre Galdino, Lua do luar [quarta fase], cerâmica, coleção: Enmanuel Ponce de Leon Júnior (João de Barro). Fonte: BARRO, 1998, p.22 .......................................................................................... 128 Figura 103: Mestre Galdino, Sonhos [quarta fase], cerâmica. Foto: Breno Laprovítera. Fonte: ROMANI, 2009, p.34 ..................................................................................................................................................... 129 Figura 104: Mestre Galdino, Mulher com corpo de réptil [quarta fase], cerâmica. Museu Casa do Pontal. Fonte: MASCELANI, 2011, p. 66 ............................................................................................................ 129 Figura 105: Mestre Galdino, Avião do Futuro [quarta fase], 1985, cerâmica, 66 cm, CCSF. Fonte: FROTA, 2005, p.216 ................................................................................................................................................... 130 Figura 106: Mestre Galdino, Carranca [quarta fase], cerâmica. Foto da autora ............................................. 132 Figura 107: Mestre Galdino, s/ título [quarta fase], cerâmica. Coleção: Jarbas Vasconcelos. Foto: Josenildo Tenório (imagem cedida pelo colecionador) ........................................................................................ 133 Figura 108: Mestre Galdino, Carranca espantalho dos caboclos ladrãozinhos [quarta fase], 20 de novembro de 1995, cerâmica pintada em cor de barro, 71 x 29 x 28 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru / PE. Foto da autora ............................................................................................................................. 134 Figura 109: Mestre Galdino, O guará [quarta fase], cerâmica, 38 x 25 x 25 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru / PE. Foto da autora ................................................................................................ 136 Figura 110: Mestre Galdino, Os dois se ama [quarta fase], cerâmica, 16 x 52 x 26 cm. Acervo Museu do Barro, Caruaru – PE. Foto da autora .............................................................................................................. 137 Figura 111: Mestre Galdino, Sou infração [quarta fase], cerâmica. Coleção: Enmanuel Ponce de Leon Júnior (João de Barro). Fonte: BARRO, 1998, f.45 ........................................................................................... 137 Figura 112: Mestre Galdino, Escultura Fantástica [quarta fase], cerâmica, 28 x 29 x 15 cm. Coleção: João Maurício de Araújo Pinho, Rio de Janeiro – RJ. Foto: Germana Monte-Mór. Fonte: MONTES, 2012, p.180 ............................................................................................................................................................ 138 Figura 113: Monstro que devora um homem, capitel central da Igreja de Saint-Pierre, séc. XI- XVII, Chauvigny. Fonte: Eco, 2007, p. 113 ....................................................................................................................... 138 Figura 114: Mestre Galdino, s/título [quarta fase], cerâmica. Coleção: Jarbas Vasconcelos. Foto: Josenildo Tenório (imagem cedida pelo colecionador) ........................................................................................ 139 Figura 115: Mestre Galdino, Sansão e Dalila, cerâmica. Acervo: Museu Casa do Pontal, Rio de Janeiro. Fonte: MASCELANI, 2011, p.66 ....................................................................................................................... 144 Figura 116: Bonecos com sorriso largo. Cerâmica policromada. Alto do Moura – Caruaru – PE. Foto da autora ............................................................................................................................................................ 144 Figura 117: Mestre Galdino, Monstro Homem-Animal, cerâmica. Museu Casa do Pontal. Fonte: MASCELANI, 2011, p. 66 ........................................................................................................................................... 145 Figura 118: Mestre Vitalino. O vaqueiro que virou cachorro, cerâmica. Fotografias de Pedro Oswaldo Cruz e Celso Brandrão. Fonte: Frota, 1988, p.51 ............................................................................................. 146 Figura 119: Manuel Eudócio, O caçador e o bicho da mata, cerâmica. Foto da autora .................................. 146 Figura 120: Mestre Galdino, Serpente e o justo, cerâmica. Museu Casa do Pontal. Fonte: MASCELANI, 2011, p. 67 ........................................................................................................................................................ 147 Figura 121: Mestre Galdino, São Francisco Cangaceiro, cerâmica pintada em cor de barro, 45 x 21 x 24 cm. Acervo Memorial Mestre Galdino, Caruaru – PE. Foto da autora ........................................................ 147 Figura 122: Zé Caboclo, Hora da Morte, cerâmica policromada. Caruaru – PE. 14,6 x 20,9 x 15,5. Fonte: MUHNE, 2000, p. 242 ........................................................................................................................... 147 Figura 123: Mestre Galdino, Lampião-sereia, cerâmica. Acervo: Museu Casa do Pontal – RJ. Reprodução fotográfica de autoria desconhecida. Mestre Galdino. Disponível em: http://artepopularbrasil.blogspot.com.br/search/label/Mestre%20Galdino. Acesso em: 30 nov. 2011, às 17h45 .............................................................................................................................................. 149 Figura 124: Zé Caboclo, s/tíulo, cerâmica. Acervo Museu de Arte Popular do Recife. Reprodução fotográfica de autoria desconhecida. Zé Caboclo, Disponível em: http://artepopularbrasil.blogspot.com.br/2010/11/ze-caboclo.html, Acesso em: 30 nov. 2011, às 18h00 .................................................................................................................................................. 149 Figura 125: Mestre Vitalino. Lampião, cerâmica policromada, acervo Museu de História e Arte do Estado do RJ. Reprodução fotográfica de autoria desconhecida. Mestre Vitalino. Disponível em: Acesso em: 30 nov. 2011, às 18h40 ...................................................................................................... 149 Figura 126: Manuel Eudócio, Lampião e Maria Bonita, cerâmica. Reprodução fotográfica de autoria desconhecida. Manuel Eudócio, Disponível em: . Acesso em: 30 nov. 2011, às 18h20 .................................................................................................................................................. 149 Figura 127: Antônio Galdino, Zeohao uvelho da rosa, cerâmica pintada com cor de barro, 32 x 15 x 15,5 cm. Acervo AABMAM Caruaru – PE. Foto da autora ................................................................................... 150 Figura 128: Antônio Galdino, s/título, cerâmica, 39,5 x 19,5 x 16,5 cm. Acervo Museu do Homem do Nordeste, Recife – PE. Foto da autora ................................................................................................. 150 Figura 129: Joel Galdino, filho de Mestre Galdino. Foto da autora ................................................................ 151 Figura 130: Joel Galdino modelando no Memorial Mestre Galdino. Detalhes do vídeo gravado pela autora durante entrevista realizada no dia 21 de janeiro de 2012 .................................................................. 152 Figura 131: Vista do jardim do Memorial Mestre Galdino, local onde Joel cria, fica ao fundo do Memorial – Alto do Moura / Caruaru – PE. Foto da autora ..................................................................................... 153 Figura 132: Fachada da casa do Joel Galdino, filho de Mestre Galdino – Alto do Moura / Caruaru – PE. Foto da autora. ................................................................................................................................................. 153 Figura 133: Peças de Joel Galdino expostas para a venda na loja “Artesanato Juazeiro”. Foto da autora ..... 154 Figura 134: Joel Galdino, s/título, massapé (peça não queimada). 2013. Foto da autora .............................. 154 Figura 135: Joel Galdino, s/título, massapé (peça não queimada). 2013. Foto da autora .............................. 154 Figura 136: Luiz Galdino, s/título. cerâmica policromada. Foto da autora .................................................... 155 Figura 137: Mestre Galdino, Viajante Galdino de Caruaru, cerâmica. Foto da autora ................................... 169 Figura 138: Esculturas de Joel Galdino expostas para venda. Essas esculturas estão expostas no ateliê Bosque das Estrelas, org. Teresinha e Gonzaga, localizado à Rua São Sebastião, n.º 88, Alto do Moura, Caruaru – PE. O ateliê fica em frente do Memorial Mestre Galdino. Foto da autora ......................................... 172 Figura 139: Joel Galdino, Lagarto, Peça secando para a fornada. Foto da autora .......................................... 177 Figura 140: Obras do Mestre Galdino na casa de Marliete. À esquerda, obra pertencente à ceramista, presenteada por Galdino, à direita, obra do seu filho Antônio Galdino deixada na casa de Marliete para restauro. Foto da autora ...................................................................................................................... 186 Figura 141: Marliete segurando uma obra do filho do Mestre Galdino. Escultura pertencente a sua coleção. Foto da autora ..................................................................................................................................... 186 Figura 142: Joel Galdino, s/título, cerâmica. Coleção de Marliete Rodrigues. Foto da autora ....................... 188 Figura 143: Marliete observando os bonecos de Zé Caboclo e Manuel Eudócio produzindo. Marliete carrega consigo o aprendizado da infância. Detalhe da ilustração da parede frontal, foto pertencente ao ateliê de Marliete Rodrigues ......................................................................................................................... 192 Figura 144: Vista interna do ateliê de Marliete Rodrigues. Foto da autora ................................................... 192 Figura 145: Parte da coleção de cerâmica de Marliete Rodrigue. Foto da autora .......................................... 193 Figura 146: Prateleiras com peças de Manuel Eudócio, vista interna do ateliê. Foto da autora .................... 195 Figura 147: Manuel Eudócio, explicando os detalhes da peça O caçador e o bicho da mata. Recorte do vídeo gravado pela autora............................................................................................................................. 197 Figura 148: Manuel Eudócio, Caçador e bicho da mata. Cerâmica. Vista de cima. Foto da autora ................. 198 Figura 149: Manuel Eudócio, Caçador e bicho da mata, cerâmica. Vista na frontalidade. Foto da autora ..... 198 Figura 150: Museu Mestre Vitalino. Antiga casa de Mestre Vitalino. Foto da autora .................................... 199 Figura 151: Escultura de Mestre Vitalino exposta ao lado do Museu Mestre Vitalino. Foto da autora .......... 199 Figura 152: Severino Vitalino trabalhando, na Casa Museu Mestre Vitalino. Foto tirada em 2005, quando fui conhecer pela primeira vez o Alto do Moura. Foto da autora .............................................................. 203 Figura 153: Ferramentas e utensílios de trabalho do ceramista Severino Vitalino. Casa Museu Mestre Vitalino, 2012. [No dia da pesquisa de campo o ceramista não estava trabalhando, só atendendo aos visitantes]. Foto da autora ................................................................................................................... 203 Figura 154: Fachada da Associação dos Artesãos e Moradores do Alto do Moura (AABMAM). Foto da autora ............................................................................................................................................................ 207 Figura 155: Caderno da autora. Anotações e estudo sobre a exposição Teimosia da imaginação. Observação sobre Escultura fantástica .................................................................................................................... 212 Figura 156: Mestre Galdino, Escultura fantástica, cerâmica, 28 x 29 x 15 cm. Coleção Jão Maurício de Araújo Pinho – RJ. Foto: Germana Monte-Mór. 1fot. colorida. Fonte: MONTES, 2012, p. 180 ......................... 212 Figura 157: Mestre Galdino, Sem título, Cerâmica. 38 x 24 x 31 cm. Coleção Luís Loureço Rivera, São Paulo – SP. Foto: Germana Monte-Mór. 1fot. colorida. Fonte: MONTES, 2012, p. 187 ..................................... 213 Figura 158: Caderno da autora. Anotações e estudo sobre a exposição Teimosia da Imaginação. Transcrição das anotações de Galdino na escultura ................................................................................................ 213 Figura 159: Caderno da autora. Anotações e estudo sobre a exposição Teimosia da imaginação. Transcrição das anotações de Galdino na escultura Cangaceiro. Ao lado escultura de Lampião (figura 160), em ambas esculturas há a similaridade no olhar, na figura de lampião e do cangaceiro há um olho aberto e outro piscando ..................................................................................................................................... 213 Figura 160: Mestre Galdino, Lampião, cerâmica, 52 x 20,5 x 17 cm. Coleção João Maurício de Araújo Pinho, RJ. Foto: Germana Monte-Mór. 1fot. colorida. Fonte: MONTES, 2012, p. 185 ..................................... 213 Figura 161: Entrevista com Manuel Galdino. MARQUES, J. Um ceramista em Brasília. Correio Braziliense. Brasília, 06 de janeiro de 1981. p.17. Arquivo adquirido da DAPRESS .................................................. 226 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AABMAM Associação dos artesãos em barro e moradores do Alto do Moura CNFCP Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular DAPRESS Diários Associados Press Multimídia S/A FUNDAJ Fundação Joaquim Nabuco FUNDARPE Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ITEP Fundação Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco MUHNE Museu do Homem do Nordeste SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste UFPE Universidade Federal de Pernambuco UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 18 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 20 CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 24 1 PANORAMA DA CERÂMICA DE CARUARU – PE .................................................... 25 1.1 Caruaru – PE .................................................................................................................... 25 1.2 A influência da cerâmica indígena, da africana e da colonização ................................ 26 1.3 A cerâmica utilitária ......................................................................................................... 29 1.4 A Feira de Caruaru e o desenvolvimento urbano .......................................................... 31 CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 33 2 NÚCLEO DE CERÂMICA DO ALTO DO MOURA ..................................................... 34 2.1 A formação do Núcleo de Cerâmica do Alto do Moura – PE ....................................... 35 2.2 A coleta do barro no Rio Ipojuca .................................................................................... 41 2.3 Um pouco dos ceramistas e ateliês .................................................................................. 44 2.3.1. Mestre Vitalino (Vitalino Pereira dos Santos, 1909-1963) .................................................................... 46 2.3.2 Zé Caboclo (José Antônio da Silva, 1921-1973) ..................................................................................... 50 2.3.3. Manuel Eudócio (Manuel Eudócio Rodrigues, 1931)............................................................................. 51 2.3.4 Ernestina (Ernestina Antônia da Silva, 1919-1997) ................................................................................ 54 CAPÍTULO 3 .......................................................................................................................... 56 3 MESTRE GALDINO: CERAMISTA, VIOLEIRO E POETA ...................................... 57 3.1 Manuel Galdino de Freitas .............................................................................................. 57 3.2 Mestre Galdino: um velho ceramista .............................................................................. 69 3.3 Arranjo de Catrevage ....................................................................................................... 77 3.3.1 Processos e procedimentos artísticos ...................................................................................................... 77 3.3.2 Cerâmica se cria assim ............................................................................................................................ 82 3.3.2.1 Matéria-prima, modelagem e recursos materiais ................................................................................. 83 3.3.2.2 Secagem, forno e queima ...................................................................................................................... 85 3.4 O diálogo entre a cerâmica e a poesia ............................................................................. 86 CAPÍTULO 4 .......................................................................................................................... 91 4 GALDINO, O CRIADOR ................................................................................................... 92 4.1 Estética ............................................................................................................................... 93 4.1.1 A arte do incomum ................................................................................................................................... 93 4.1.2 Os bichos feios de Seu Mané ................................................................................................................... 94 4.2 Estilo .................................................................................................................................. 96 4.3 Transformações do processo criativo ........................................................................... 102 4.3.1 Primeira fase ......................................................................................................................................... 103 4.3.2 Segunda fase .......................................................................................................................................... 104 4.3.3 Terceira fase .......................................................................................................................................... 106 4.3.4 Quarta fase ............................................................................................................................................ 122 CAPÍTULO 5 ........................................................................................................................ 139 5 INFLUÊNCIAS DOS “BICHOS FEIOS DE SEU MANÉ” .......................................... 140 5.1 Pensamentos de Mestres e artesãos ............................................................................... 140 5.2 Estabelecendo um paralelo entre a cerâmica dos artesãos do Alto do Moura e a obra de Mestre Galdino ................................................................................................................ 144 5.2 Mapeamento dos ceramistas descendentes do Mestre Galdino.................................. 150 5.2.1 Antônio Galdino de Freitas ................................................................................................................... 150 5.2.2 Jociel Galdino de Freitas ...................................................................................................................... 151 5.2.3 Joel Galdino de Freitas ......................................................................................................................... 151 5.2.4 Luiz Galdino .......................................................................................................................................... 155 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 156 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 162 APÊNDICES E ANEXOS .................................................................................................... 169 APÊNDICE A ....................................................................................................................... 170 APÊNDICE B ........................................................................................................................ 209 APÊNDICE C ....................................................................................................................... 212 APÊNDICE D ....................................................................................................................... 214 ANEXO A .............................................................................................................................. 220 ANEXO B .............................................................................................................................. 223 ANEXO C .............................................................................................................................. 224 ANEXO D .............................................................................................................................. 226 18 APRESENTAÇÃO Como paulista, cresci no meio dessa diversidade cultural que é São Paulo, sou da região do Grande ABC, onde há um grande número de migrantes nordestinos. Meus pais são do Estado de Pernambuco e carregam com eles a memória dos tempos de infância e de adolescência. Convivi com os valores dessa cultura e, em janeiro de 2005, tive a oportunidade de presenciar e conhecer as manifestações artísticas desse estado, que tanto relatavam. Viajei a Pernambuco e fiquei encantada com tamanha riqueza e diversidade. Orientada por Valdeck de Garanhuns, fui para lá com o endereço dos ateliês que poderia conhecer naquele estado. Visitei os ateliês dos gravadores J. Borges, e M. Borges (filho de J. Borges); do ceramista, pintor e desenhista Francisco Brennand; dos ceramistas descendentes de Mestre Galdino e de Mestre Vitalino em Caruaru; e os ateliês-residências dos mamulengueiros, gravadores e pintores de Olinda. Essa viagem foi o estímulo que estava precisando para me aprofundar e conhecer cada vez mais o Sertão, a cultura popular, os artistas-artesãos e suas técnicas. Ao retornar ingressei no curso lato-sensu Fundamentos da cultura e das artes, ministrado pela UNESP, e por meio dele ampliei meu conhecimento sobre a gravura popular, pesquisando em São Paulo os ateliês dos artistas Valdeck de Garanhuns, Regina Drozina, Jerônimo Soares e Nireuda, com a orientação do Prof. Norberto Stori. Em 2010 ingressei num novo curso de pós, o lato-sensu: Arte terapia/Terapias expressivas, também ministrado pela UNESP. Nesse curso tive maior contato com a cerâmica nas disciplinas desenvolvidas e participando paralelamente de cursos de extensão universitária organizados pela Prof.ª Dr.ª Geralda F.S. Mendes Dalglish (Lalada Dalglish) pude conhecer in loco a cerâmica do Vale do Jequitinhonha e de Cunha. Isso reacendeu a vontade de estudar essa técnica, sob a óptica da cultura popular. Ainda em 2010 matriculei-me como aluna especial no curso Tridimensionalidade: fundamentos da cerâmica, do popular ao contemporâneo, ministrado pela Prof.ª Dr.ª Lalada Dalglish, sendo assim possível estudar mais sobre a cerâmica e rever os trabalhos de dois artistas do Estado de Pernambuco que já havia visitado: Francisco Brennand e Mestre Vitalino. Nesse mesmo ano a Prof.ª Dr.ª Lalada Dalglish organizou uma exposição sobre Mestre Vitalino, na galeria do Instituto de Artes da UNESP e, ao visitarmos a exposição, conversamos sobre os ceramistas do Núcleo de Artesãos do Alto do Moura. Relembrei da viagem que fiz em 2005, em que conheci a obra de Mestre Galdino e questionei-lhe se havia 19 algum livro ou trabalho acadêmico específico sobre esse ceramista. Até aquela data não tínhamos conhecimento de nenhum estudo específico sobre ele, somente alguns artigos e citações textuais. A conversa com a Prof.ª Dr.ª Lalada Dalglish foi responsável pela delimitação do tema de investigação para esta dissertação, tema que buscava há quatro anos entre as aulas como aluna ouvinte e especial, os cursos lato-sensu e as tentativas frustradas para ingressar no curso stricto sensu em Artes. Parece que o destino estava indicando caminhos para que eu conhecesse mais profundamente a obra de Mestre Galdino e os processos e procedimentos cerâmicos da cultura popular do Alto do Moura, na pernambucana Caruaru. 20 INTRODUÇÃO Mestre Galdino é um desses pernambucanos com histórias de buscas incansáveis na tentativa de conseguir o melhor para si e para a família. Aos 51 anos muda-se para o bairro Alto do Moura, em Caruaru, e inicia uma nova profissão, a de ceramista. Nela entregou-se de vez à arte, inovando ao criar um repertório diferenciado para esse local, que eu diria ser a similaridade da literatura de cordel com a imagem no tridimensional, agregando a cada peça moldada um poema que relatava a história de sua criação. Carlos Sá1 diz que, “costuma-se dizer no Alto do Moura que se Vitalino deu vida ao barro, Galdino deu-lhe a alegria”. Quando os turistas chegavam em seu ateliê, Galdino tocava na viola versos para chamar a atenção dos visitantes, que se encantavam com seu jeito descontraído. A trajetória deste estudo sobre Mestre Galdino fundamenta-se numa pesquisa de campo e estudos bibliográficos. Em 2012 retornei a Pernambuco, para ver novamente suas esculturas, escutar relatos de amigos e familiares que conviveram com ele, ampliar a bibliografia estudada e atingir o objetivo principal deste trabalho: documentar sua biografia e obra, conhecendo, investigando e agrupando o maior número de informações. A pesquisa de campo contribuiu para o desenvolvimento e o desenrolar do estudo, ampliando o repertório bibliográfico já previsto. Na pesquisa de campo conheci os acervos do Museu do Homem do Nordeste e do Museu do Barro, e revi o Memorial Mestre Galdino. Pesquisei textos, documentos, livros e vídeos que pudessem contribuir com a dissertação. Na biblioteca da FUNDAJ (Fundação Joaquim Nabuco) e na Biblioteca Central da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) obtive contato com artigos e trabalhos acadêmicos sobre a cerâmica do Alto do Moura e a uma monografia específica sobre o Mestre, onde há poemas do artista. Durante esse processo de investigação foi verificada a necessidade de estender a pesquisa de campo para o Museu Casa do Pontal, localizado no Rio de Janeiro, onde há um importante acervo de sua obra. Nessa instituição deparei-me com mais um referencial teórico, pois vi nos livros da antropóloga Srª. Angela Mascelani informações importantes para a pesquisa. Visitei o acervo, adquiri alguns livros desse museu e fui orientada pela Srª. Angela Mascelani a conhecer o CNFCP (Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular), no Rio de Janeiro. Lá tive acesso a bibliografias importantes para esta dissertação, que estava com dificuldade para encontrar, como o livro de René Ribeiro, Vitalino, um ceramista popular do 1 Fotógrafo e amigo de Galdino. 21 Nordeste, e de João Cabral de Mello, Vitalino: sem barro, o homem. Foi também possível obter dados sobre o Estudo e pesquisa no setor cerâmico artesanal do Nordeste brasileiro, realizado por ITEP (Fundação Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco) e SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). Essa, aliás, foi a única obra encontrada em que a abordagem é especificamente sobre a análise da matéria-prima, dos recursos materiais e técnica de Mestre Galdino. Quando retornei a São Paulo, entrei em contato com o DAPRESS (Diários Associados Press Multimídia S/A) e adquiri do seu acervo a entrevista com Galdino realizada por Jarbas Marques em 1981 e publicada no Correio Braziliense. Em abril de 2012 visitei a exposição: Teimosia da imaginação sob curadoria da Sr.ª Germana Monte-Mór. O que me possibilitou uma análise do artista e da obra em três vertentes: a exposição com esculturas de colecionadores, a visualização de um curta, e um catálogo escrito por Montes. A sensação ao ler a biografia artística de Galdino nesse catálogo e na entrevista ao jornal Correio Braziliense era de tê-lo bem próximo, relatando sua vida e sua arte. Em 2013, após o Exame Geral de Qualificação, foi constatada a necessidade de retornar a Pernambuco e registrar, sem os vidros de proteção, as esculturas do Mestre, essa foi a última ida a Pernambuco e aos Museus, encerrando assim a pesquisa de campo. O desenvolvimento desta dissertação fundamenta-se no método dialético, estabelecendo um diálogo entre ideias e contraposições de estudiosos da cerâmica popular nordestina, da antropologia, da arte e da cultura. O referencial teórico baseia-se nos estudos da antropóloga Angela Mascelani e da escritora e crítica de arte, Lélia Coelho Frota. Essas estudiosas tornaram-se o sustentáculo principal do texto, por consolidarem a compreensão da vida e obra de Galdino. No entanto, há outros teóricos fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho. No que se refere ao panorama histórico a pesquisa se apoia nos estudos da pesquisadora Sandra Ferreira Lima e nos livros de René Ribeiro e de Paulino Cabral de Mello. Quanto ao contexto artístico de Mestre Galdino temos a compreensão de sua obra no texto de Maria Lúcia Montes, contido no catálogo Teimosia da imaginação, no artigo de Luciana Chagas, O labirinto grotesco de Mestre Galdino, e na monografia de Barro, A escultura grotesco - fantástica de Mestre Galdino: configurações do imaginário na cerâmica popular pernambucana. Para responder às hipóteses e problematizações levantadas no pré-projeto, foi necessário organizar a dissertação em cinco capítulos, divididos da seguinte maneira: 22 I. PANORAMA DA CERÂMICA DE CARUARU O capítulo I apresenta um panorama dos registros históricos da formação da cidade de Caruaru, situa sua localização, suas características sócio-econômicas e relata de forma cronológica o desenvolvimento da cerâmica dessa região, desde os índios Cariris, passando pela influência da cerâmica artística e industrial dos colonizadores e das técnicas trazidas pelos negros no período da escravidão, até a formação da comunidade rural em que surgem as louceiras com a cerâmica utilitária. II. NÚCLEO DE CERÂMICA DO ALTO DO MOURA O capítulo II refere-se à formação da comunidade cerâmica do Alto do Moura após a chegada de Mestre Vitalino, e à transição da cerâmica utilitária das louceiras para a cerâmica figurativa dos artesãos. Também registra a matéria- prima coletada do Rio Ipojuca. Aborda ainda uma pequena biografia de alguns artesãos que, ao lado de Mestre Vitalino, contribuíram para a formação desse local. III. MESTRE GALDINO: ceramista, violeiro e poeta O capítulo III divide-se em dois momentos: a biografia de Manuel Galdino de Freitas e o surgimento do Mestre Galdino. Em Manuel Galdino de Freitas há a descrição da vida desse homem desde o nascimento, passando por: infância, fase adulta, casamentos, o Galdino pai, doença e morte. Em Mestre Galdino há o processo de formação desse artista que aos 51 anos decide ser ceramista. Aborda a relação do Mestre com o barro e com o universo do cordel: viola e poesia, o processo de criação, a técnica, os recursos materiais e o diálogo entre a poesia e a cerâmica. IV. GALDINO, O CRIADOR O capítulo IV descreve as características estéticas da obra de Mestre Galdino, analisando suas esculturas de acordo com a psique do artista e com o universo 23 mítico sob o referencial da arte do incomum encontrado no Museu Casa do Pontal e nos textos da estudiosa de arte popular Angela Mascelani. Esse capítulo também dialoga sobre a denominação popular dos “bichos feios de Seu Mané” com a História da feiúra de Umberto Eco; faz uma análise do seu estilo de acordo com a tendência artística do Mestre, apresentando os questionamentos e estudos já realizados sobre os estilos grotescos e surrealistas relacionados às suas esculturas, e descrevendo as transformações no processo criativo, dividido em primeira e segunda fase, de acordo com os estudos da antropóloga Lélia Coelho Frota, e reelaborado nesta pesquisa em primeira, segunda, terceira e quarta fases. V. INFLUÊNCIAS DOS BICHOS FEIOS DE SEU MANÉ O capítulo V estabelece a relação entre a produção cerâmica de Mestre Galdino e a produção do Alto do Moura, traçando um paralelo entre os dois Mestres, Vitalino e Galdino, e o Núcleo de Ceramistas do Alto do Moura. Também apresenta alguns ceramistas descendentes de Mestre Galdino, levanta o mapeamento de seus ateliês e analisa se os mesmos receberam influência artística do Mestre ou se perpetuam o seu trabalho. Com esta dissertação anseio atingir o objetivo do próprio Mestre, que dizia: “Muito menos guardar/ Muito mais revelar” e desvendar as incertezas de suas formas, texturas e símbolos capazes de nos dar a ideal significação de suas esculturas e do seu estilo que, durante estes anos, foram conhecidos pela população do Alto do Moura como “os bichos feios de Seu Mané” ou, por outros, como a arte surrealista de Galdino, que também é caracterizado, por alguns estudiosos, por seu estilo grotesco, “desenhadas na parede de seu juízo”2 e deslocadas para suas esculturas, poesia e música. 2 Termo utilizado pelo artista (SÁ, 2010). 24 CAPÍTULO 1 PANORAMA DA CERÂMICA DE CARUARU – PE Figura 2: Arte do barro. Foto: Pierre Verger. Fonte: LODY, 2009, p.31 25 1 PANORAMA DA CERÂMICA DE CARUARU – PE A história da humanidade está associada à história da cerâmica, visto que se podem conhecer as culturas já extintas através das obras fabricadas em argila deixadas por povos antigos. (DALGLISH, 2004, p. 214). 1.1 Caruaru – PE O nome da cidade pernambucana de Caruaru remete a uma planta vulgarmente conhecida por caruru, que cobria um poço na margem do Rio Ipojuca, cultivada pelos negros quilombolas fugitivos da Zona da Mata. Por isso, durante anos esse território chamou-se Caruru, sendo renomeado por Fazenda Caruru, depois de Vila Caruru, até ser elevado à condição de município e logo em seguida de cidade, passando a denominar-se Caruaru. O local é também conhecido como “Princesa do Agreste”, “Capital do Agreste” e “Capital do Forró”. Está localizado no Vale do Ipojuca e possui uma área territorial de 921km². É a cidade mais populosa do interior de Pernambuco, com uma população de 314.912 habitantes residentes1. A região de Caruaru foi concedida a duas famílias portuguesas, para ocupação e exploração, por meio da concessão de uma sesmaria. No total foram concedidas a essas famílias 30 léguas de terras compreendidas hoje entre o Rio Ipojuca e a cidade de Serinhaém, conhecida como “Sesmaria do Agreste”. Nos arredores dessas sesmarias foram fundados sítios, como o Sítio da Posse, na ribeira do Ipojuca. Bernardo Vieira de Melo, seus herdeiros e descendentes estabeleceram-se em diversas fazendas da região. Entre eles, Simão Rodrigues demarcou o Sítio do Poço do Caruru, no início do século XVIII e depois seu filho, José Rodrigues de Jesus, fundador de Caruaru, explorou a região como uma fazenda de gado. Os primeiros registros de sua ocupação datam o ano 1681, quando a família Rodrigues de Sá recebeu uma sesmaria por intermédio do governador Aires de Souza de Castro, com o intuito de desenvolver a agricultura e a criação de gado. Na época Caruaru era denominada Fazenda Caruru. Durante algum tempo essas terras ficaram abandonadas, até que, em 1776, José Rodrigues de Jesus assumiu a fazenda. Isso ocorreu depois da morte de seu pai, Simão Rodrigues Duro, filho de Simão Rodrigues de Sá2. José Rodrigues construiu uma capela 1 Dados cadastrados pelo IBGE, relativos ao ano de 2010 2 O fundador da Fazenda Cururu. 26 dedicada a Nossa Senhora da Conceição, atraindo assim um pequeno povoado nos arredores. O neto do desbravador, José Rodrigues de Jesus, e sua mulher, Maria do Rosário de Jesus, receberam do bispo de Olinda, Dom Tomás da Encarnação da Costa Lima, uma Provisão datada de 28 de setembro de 1781, para construírem a primeira capela da Fazenda Caruru, em invocação a Nossa Senhora da Conceição. (FRANÇA, 2007, p.91). Em 1848 Caruaru torna-se município, mas sua formação é repleta de adversidades: em 1853 houve uma grande seca; em 1954 as chuvas intensas provocam enchentes e perdas na lavoura. Nesse mesmo ano registrou-se uma epidemia de cólera, que devastou grande parte da população. Em 1956 a cólera foi controlada, porém, em 1957, surge uma nova epidemia: a da varíola. “A doença, segundo documentos oficiais, transformava aos poucos a pequena vila em deserto, fazendo com que o comércio fechasse as portas, a igreja não funcionasse regularmente e os habitantes dos ‘sítios’ deixassem de freqüentar a ‘Rua da Frente’.” (LIMA, 2001, p. 60). Também há registro de pestes, e a população sobrevivente enfrentou e conviveu com os reflexos políticos da transição do Império para a República. O novo regime era administrado ali pelos coronéis e proprietários de terra, não havendo espaço político e econômico para os novos republicanos. Em 1957 Caruaru é denominada cidade pela Câmara Municipal de Recife. Atualmente, Caruaru destaca-se por ser um importante polo político-econômico e possuir infraestrutura médico-hospitalar, acadêmica, cultural e turística. A atividade ceramista se sobressai nessa região por atrair visitantes, sendo de grande relevância para a economia local. 1.2 A influência da cerâmica indígena, da africana e da colonização Antes da colonização a região de Caruaru era ocupada pelos índios Cariris, descendentes de populações pré-históricas que habitavam em grande parte do sertão do Nordeste brasileiro. Com a chegada dos portugueses o povoado ficou conhecido como o dos índios Tapuias3, pertencentes ao grupo de fala linguística do tronco “macro-jê”. Áreas de influência da cultura Aratu foram assinaladas no resto do Nordeste, no Sudeste e no Centro-Oeste, com formas modificadas do eixo central da Bahia. Como grupo étnico, os Aratu podem ser relacionados com os Jê conhecidos como Tapuia, ou seja, os povos não Tupi históricos, que foram expulsos das áreas litorâneas pelos Tupi, sendo obrigados a adentrarem nos sertões nordestinos. (DANTAS, 2003, p. 38). 3 Denominação dada pelos portugueses aos indígenas dos grupos que não falavam línguas do tronco tupi e que habitavam no interior do país; tapuio. (HOUAISS, 2009, p.1813). 27 O sertão do Nordeste brasileiro é conhecido por seu clima semiárido, com baixos índices pluviométricos, chuvas esparsas e constantes períodos de seca. Esse clima fez com que os índios Cariris ou Tapuias se tornassem um grupo nômade, por percorrerem grandes áreas de deslocamentos a procura de melhores condições para sobrevivência. Viviam em abrigos de pedra e pertenciam ao grupo de caçadores-coletores. A ausência de um território fixo não permitiu o registro da cerâmica desse povo. Lima afirma que: “no caso da cerâmica, existem registros apenas de uma produção rústica, sem estilo definido e não decorada.” (2001, p.55). Assim como os povos pré-históricos, os índios Cariris utilizavam a cerâmica somente para fins utilitários: no cozimento dos alimentos, armazenamento de água e caças. O registro mais próximo ao Alto do Moura da cerâmica desse período são as urnas funerárias encontradas em Bom Jardim – PE, que fica acerca de 78 quilômetros de Caruaru e a cerâmica Aratu está relacionada aos índios Tapuias antigamente conhecidos como Cariris. Sobre a cerâmica Aratu sabe-se que: São características básicas da cultura Aratu: A cerâmica roletada, sem decoração, com a superfície alisada ou engobo (um tipo de verniz) de grafite; (...) Urnas funerárias piriformes, com e sem tampa, de 70-75cm de altura, e tigelas menores empregadas como opérculo para cobrir os vasilhames funerários. (DANTAS, 2003, p. 37-38). A coleta do barro, a preparação e a modelagem das peças utilitárias eram uma tarefa das mulheres do grupo indígena. A produção era modelada à mão, sem utilização de moldes ou torno. Sobre o processo de queima sabe-se que os índios desse período queimavam as peças em grandes fogueiras a céu aberto. Figura 3: A evolução da cerâmica de Caruaru. Ilustração: Cristiano Eberle. Fonte: LIMA, 2001, VHS 28 Figura 4: Urna Funerária. Datação: aproximadamente 1.500 anos, 45 x 29 cm com opérculo. Acervo: MUHNE4. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.29 Figura 5: Conjunto de utensílios cerâmicos arqueológicos. Datação: aproximadamente 1.500 anos, 12,5 x 18,5; 18 x 20; 35 x 42 cm (da esquerda para a direita). Acervo: MUHNE5. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.31 Figura 6: Tijolos semicirculares. 25 cm; 16 cm de raio (da esquerda para a direita)6. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.71 Figura 7: Tijolos de frísia. Primeira metade do século XVII. 3,5 x 8 x 17 cm7. Foto: Rômulo Fialdini. Fonte: MALTA et al, 2009, p.71 Caruaru também recebeu influência dos negros fugitivos da Zona da Mata. Eles acrescentaram à cerâmica popular suas formas distintas de “talhas, púcaros, bilhas, porrões, moringas e resfriadeiras” (SOUZA, p.195 apud MELLO, 1995, p.19) e trouxeram para o Brasil a tradição do barro queimado. Lima (2001, p.57) afirma que outra possibilidade do 4 Com tampa, tipo brocotó simples, usada em enterramento secundário. Encontrada na Fazenda Campinas, Monte do Angico, Bom Jardim, Pernambuco, em 1973. Grupo cultural: horticultores incipientes filiados à tradição Pedra do Caboclo. (MALTA et al, 2000, p. 29). 5 Cerâmica ritual de uso funerário, encontrada na Fazenda Campinas, Monte do Angico, Bom Jardim, Pernambuco, em 1973. Grupo cultural: horticultores incipientes filiados à tradição Pedra do Caboclo. (MALTA et al, 2000, p. 30). 6 Utilizados nas colunas dos alpendres das casas-grandes ou capelas. A alvenaria de tijolos maciços é registrada em Pernambuco desde o século XVI, convivendo com construções em taipa de pau a pique ou de pilão. Os engenhos de certa importância possuíam suas próprias olarias. (MALTA et al, 2000, p.71). 7 Assim denominados por serem de origem da Frísia, Holanda, de onde eram transportados como lastro de navios. Uma vez em terra, voltavam a cumprir suas funções originais de material de construção, principalmente como revestimento para pisos e ruas, em virtude de suas pequenas dimensões. (MALTA et al, 2000, p.71). 29 barro queimado ter chegado a Caruaru é por meio dos grandes deslocamentos realizados pelo povoado Cariri, que pode ter introduzido na região a influência da cerâmica das missões jesuíticas que já existiam nas regiões fronteiriças com Pernambuco, como Alagoas e Sergipe. Já a influência dos colonizadores ocorreu no século XVII, quando os portugueses ocuparam a região do interior de Pernambuco, logo após a expulsão dos holandeses, e trouxeram com eles suas porcelanas, azulejos e tijolos semicirculares e de frísia (vide figuras 6 e 7). Os holandeses dominaram Pernambuco entre 1630 e 1654: foi um curto período, mas deixou principalmente em Olinda um cenário de grande desenvolvimento na formação econômica e social do Brasil. Bem próximo a Caruaru foram encontradas as primeiras esculturas modeladas em barro no Brasil, produzidas pelos colonizadores, como as de Frei Francisco dos Santos, entre 1585 e 1616, para as igrejas de Olinda e de Salvador. Por volta do ano de 1640, o Mosteiro de São Bento, em Olinda, recebeu uma peça de barro cozido de Agostinho da Piedade. Paralela à arte decorativa, havia uma indústria de telhas, ladrilhos, louças e azulejos desenvolvendo-se na Bahia, dirigida pelo jesuíta Amaro Lopes. Nesta época, já influenciados pelos artesãos portugueses, começam a se destacar os ceramistas da própria terra, inicialmente produzindo imagens religiosas de pequeno porte, com destino aos oratórios domésticos e capelas, e para a decoração de presépios e lapinhas. (MELLO, 1995, p. 18). A proximidade de Olinda (PE) e Bahia à cidade de Caruaru fez com que esta região recebesse referências da cerâmica artística e da industrial trazidas pelos colonizadores, que foram mescladas à influência da cerâmica nativa dos índios Cariris e à cultura ceramista do período escravista trazida pelos negros. Surge assim um novo formato para a cerâmica local, moldada agora pelas mãos das louceiras da região. 1.3 A cerâmica utilitária A cerâmica utilitária das conhecidas “paneleiras ou louceiras8” desenvolveu-se a partir do século XVII, junto às populações agrícolas e ribeirinhas presentes na região do Vale do Ipojuca. Como na tradição indígena, a prática ceramista restringia-se às mulheres e às crianças, e desenvolvia-se paralelamente às atividades do lar. A extração do barro também era realizada na época da seca e o processo de tratamento do barro era feito retirando-se as 8 As mulheres se determinavam ‘loiceira’ com ‘i’ – “arcaísmo de nítida etimologia portuguesa, que documenta também pela linguagem uma das raízes da arte do barro – ocupavam-se, ali, como se observou, do fabrico de utensílios domésticos”. (FROTA, 1988, p.121). 30 impurezas, amassando-se o barro com os pés, deixando-o macio e liso. As peças visavam o próprio consumo e o excedente destinava-se à comercialização. No início do século XX aumentou consideravelmente a produção e a comercialização da cerâmica utilitária realizada pelas louceiras. Figura 8: Forno a lenha para peças maiores. Ateliê “Bosque das Estrelas”, pertencente à Teresinha e Gonzaga. O ceramista Joel Galdino em 2012 utilizava esse ateliê para queimar suas peças. Foto da autora. Figura 9: Detalhe do forno a lenha e seus orifícios. Ateliê “Bosque das Estrelas”, pertencente à Teresinha e Gonzaga. Foto da autora. Figura 10: Forno a lenha de cúpula aberta, para peças menores. Ateliê “Bosque das Estrelas”, pertencente à Teresinha e Gonzaga. Foto da autora. O processo de queima da cerâmica utilitária realizada entre o século XVII e o século XX é o mesmo usado ainda hoje. As peças, depois de modeladas, ficavam secando vários dias na sombra, para não trincarem. Os fornos desse período são semelhantes aos utilizados atualmente pelos ceramistas do núcleo de artesãos do Alto do Moura: Após este período, ao contrário dos costumes indígenas, as peças eram colocadas dentro de um forno de forma redonda, com duas aberturas, uma embaixo, utilizada para a colocação da lenha, e outra em cima, utilizada para a arrumação das peças e fechada no momento da queima. As peças não entravam em contato direto com o fogo. Eram colocadas de maneira a receber somente o calor das chamas. (LIMA, 2001, p. 58) O período de queima demorava de cinco a oito horas, podendo ocorrer variações dependendo do tamanho do forno e da quantidade de peças inseridas. O forno descrito é vertical, de cúpula fechada, e como as peças não entram em contato direto com o fogo, o calor passa pelos orifícios feitos na base do forno (figura 9). Este é um dos modelos mais comum e mais encontrado no Brasil. 31 Segundo Lima (2001, p.58), a comercialização das peças era realizada nos períodos de seca, quando havia uma escassez na produção agropecuária e as comunidades rurais recorriam à venda da cerâmica utilitária como fonte alternativa de renda para a família. A pesquisadora argumenta ainda que a tradição da organização familiar das louceiras, de retransmitir o conhecimento da cerâmica utilitária de mãe para filha, e a tradição oral característica das comunidades rurais foram responsáveis para que a cultura da cerâmica utilitária se perpetuasse por tantos anos. 1.4 A Feira de Caruaru e o desenvolvimento urbano A história da Feira de Caruaru inicia-se no século XVIII, por iniciativa do herdeiro e proprietário das terras, o capitão José Rodrigues da Cruz. Seu surgimento ocorreu nos festejos religiosos, assim como surgiram as feiras medievais portuguesas e de grande parte da Europa. Primeiro foi a Festa de Zé Rodrigues, depois a Festa da Mãe de Deus e a cada ano atraía-se mais e mais visitantes. Na metade do século XIX, a Feira de Caruaru tornou-se uma atividade importante para a região, sendo necessária a construção de uma estrada e uma ferrovia para facilitar o acesso entre Caruaru, a capital, a Zona da Mata, o agreste e parte do sertão. “As pequenas propriedades, de roças ou roçados, sobreviveram como propulsoras da policultura e principais produtoras de cereais, de plantas leguminosas, de frutas, do algodão, dos queijos” (LIMA, 2001, p.61) e encontravam na feira um canal de comercialização. Ao final do século XIX a feira aumentou de forma desordenada, principalmente após a construção de estradas e ferrovias de acesso, e, como a feira medieval portuguesa, comercializava uma vasta variedade de produtos, desde tecidos, calçados até comidas e louças. A facilidade de acesso à cidade atraiu compradores, intelectuais e visitantes, transformando Caruaru numa cidade comercial. Esse fator incentivava as louceiras a produzirem cada vez mais, para conseguir uma renda “extra” com a comercialização de peças utilitárias na Feira de Caruaru. Com a ascensão da arte figurativa de Mestre Vitalino, ela Figura 11: Feira de Caruaru. Foto: Marcel Gautherot. Feira de Caruaru faz gosto a gente ver. 1 foto P/B. Fonte: MELLO, 1995, p.5 32 também tornou-se um espaço responsável para a comercialização e a divulgação dos bonecos de barro. Pela feira passaram, além de Mestre Vitalino, ceramistas como Manuel Eudócio, Zé Cabloco e muitos outros. Atualmente a feira concentra uma variedade de produtos e está subdividida da seguinte forma: Feira Livre, Feira da Sulanca, Feira do Artesanato, Feira dos Importados e Feira do Gado, mas nem sempre foi assim. Até a década 1990 todos esses produtos eram comercializados de forma desordenada num único local, como cantava Luiz Gonzaga: “De tudo que há no mundo/ Nela tem pra vendê/ Na Feira de Caruaru”. Como exemplo de sua abrangência temos a Feira Livre, onde é possível encontrar todos os tipos de produtos: frutas e verduras, carne, feijão e farinha, troca-troca, passarinhos, flores, panelas, calçados, roupas, raízes e ervas, comidas típicas e ferro-velho. Em 1992 a feira foi transferida do Largo da Igreja da Conceição para o Parque 18 de Maio, também localizado na parte central da cidade. A Feira de Caruaru é um importante polo econômico da região do Agreste Nordestino. Em 2006 recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, concedido pelo Ministério da Cultura, por meio de seu Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 33 CAPÍTULO 2 NÚCLEO DE CERÂMICA DO ALTO DO MOURA Figura 12: Entrada do bairro Alto do Moura. Nas colunas a representação do Mestre Galdino (à esquerda) e do Mestre Vitalino (à direita). Foto da autora. 34 2 NÚCLEO DE CERÂMICA DO ALTO DO MOURA Porque de Deus é que eles recebem esta inspiração, que eu chamo simplesmente divina. Que não é só Vitalino, Mestre de todos os que trabalham no barro no Nordeste. Deus continua a inspirar tantos outros seguidores de Vitalino, e outros criadores à parte. É de fato participar do Gênese, é chegar em pleno ato da Criação, já agora do Homem, continuando a Criação de Deus! – Dom Helder Câmara (MELLO, 1995, trecho da epígrafe de apresentação). A cultura popular e a erudita se intercruzam durante a formação histórica do Núcleo de Artesãos do Alto do Moura. Assim como no livro Cultura Popular na Idade Moderna, de Peter Burke, muito do que se tem como referência da cultura popular e suas transformações entre 1500 e 1800 na Europa nos lembra o que ocorre em Caruaru e no seu grupo dos artesãos do barro. No início do período moderno, na Europa, a cultura erudita (da classe dominante) e a popular (do povo) eram partilhadas. A maioria dos integrantes da cultura erudita participava do que se chamava de “subcultura”: as festas populares de rua, o teatro, a música e a poesia dos camponeses e artesãos. Os eruditos tomavam parte ativamente desses movimentos, porém o advento da Renascença, da Reforma e da Contrarreforma, da Revolução Científica e do Iluminismo, fez com que a cultura erudita se transformasse e se distanciasse das tradições populares, criando-se assim uma cultura dita “culta”. Em contrapartida, a cultura popular manteve-se estática e não se transformou com tanta rapidez. Com isso há a separação da cultura entre as classes: a da classe da elite e a da classe do povo. A cultura popular passa a ser conhecida como um movimento ligado à ascensão do nacionalismo, sendo uma referência de identidade nacional. De maneira bastante irônica, a idéia de uma “nação” veio dos intelectuais e foi imposta ao “povo” com quem eles queriam se identificar. Em 1800, artesãos e camponeses tinham uma consciência mais regional do que nacional. (BURKE, 1989, p. 40). Nesse contexto, relacionando a Europa daquele período com os artesãos do Alto do Moura, temos a contribuição de um grupo de intelectuais, que se interessa pelos bonecos de Mestre Vitalino, tendo contato com o seu trabalho na Feira de Caruaru. Esse grupo vê nele uma referência nacional. O que acontecia todos os dias em Pont-Neuf acontecia em muitas partes da Europa nos dias de mercado ou durante as feiras. A importância econômica das feiras na Europa pré-industrial é sabida: eram centros de compra itinerantes, o complemento do mascate, mas em escala gigantesca. Numa determinada região, a feira era programada de modo a coincidir com uma grande festa: a festa de Ascensão, em Veneza (com uma feira de quinze dias), a festa de Santo Antônio, em Pádua (outra feira de quinze dias), e assim por diante. Nas feiras, os camponeses teriam a oportunidade de comprar livretos ou figuras de cerâmica que, de outra forma, talvez nunca chegassem a ver. (BURKE, 1989, p. 135). 35 Os ceramistas da região do Alto do Moura são conhecidos como artesãos por exercerem uma prática de ofício de trabalhos manuais. Já alguns desses artesãos populares do Alto do Moura, apesar de não serem de uma cultura erudita, merecem ser destacados como artistas, por irem além dos trabalhos manuais e criarem um repertório carregado de habilidade artística. Um deles é Mestre Galdino, que buscava na cerâmica um processo de criação, em que a originalidade e a criatividade eram determinantes em seu trabalho. 2.1 A formação do Núcleo de Cerâmica do Alto do Moura – PE O núcleo dos artesãos do Alto do Moura, considerado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) o maior centro de artes figurativas da América Latina, localizado próximo ao Rio Ipojuca, faz parte do território de Caruaru e concentra grande parte dos ceramistas da região. Seu topônimo refere-se à ocupação local, diz respeito a uma família que construiu casebres na parte alta da vila. Naquela época somente a parte baixa, próxima ao rio, era ocupada por um povoado chamado Bernardo. Galdino relata a Mello que há uns 160 anos aquela região era chamada Alto da Fedorenta, por causa de uma lagoa com mau cheiro, até que a família Moura apossou-se dessas terras e construiu casebres na parte alta: “Chega aí, atrás desse alto, tão falado, tinha uma propriedade naquela época, não tinha dono, né? Se você cercasse 200 hectares de terra, era dono. Então, chamava-se Antônio Moura, esse véio.” (MELLO, 1995, p.2). A região recebeu o nome de Alto dos Mouras e com o tempo seu nome passou a ser somente Alto do Moura. As condições geográficas e socioeconômicas da região, principalmente a proximidade do rio, favoreceram o desenvolvimento da agricultura e contribuíram para o surgimento das louceiras que coletavam o barro e produziam peças utilitárias, como panelas, moringas, potes, alguidares, chaleiras, jarras e quartinhas. Na década 1920 o Alto do Moura passa a ser conhecido como “lugar de oleiros”. Já desde a ocupação dos portugueses e dos holandeses, Caruaru começa a ter uma organização política, social e econômica e a Feira de Caruaru contribui com o crescimento e o desenvolvimento da cidade, tornando-se assim um dos seus polos econômicos. Atualmente pode-se considerar o núcleo dos artesãos do Alto do Moura como outro polo da economia local, que atrai turistas ao longo do ano. São quase sete quilômetros de distância entre o centro de Caruaru e o bairro do Alto 36 do Moura. Entramos no bairro pela Rua Mestre Vitalino, onde se localiza a Casa Museu Mestre Vitalino, e temos contato com casas-ateliês de diversos artesãos. “Por todos os lados anúncios de artesanato. Em quase todas as casas, pessoas fazendo bonecos. Realmente uma paisagem humana de extrema beleza.” (MELLO, 1995, p.297). Ao descer a Rua Mestre Vitalino chega-se à parte baixa do bairro e depara-se com o Memorial Mestre Galdino, localizado na Rua São Sebastião, n.º 181. Mais adiante avista-se o Rio Ipojuca. Em 1984, Mello, em uma de suas visitas ao Alto do Moura, percebeu que o bairro apresentava precárias condições físicas e de desenvolvimento. Só existiam duas escolas primárias na área urbana e outras duas na área rural, ambas com grande índice de evasão escolar, sendo que grande parte dos moradores dessa região é analfabeta ou não terminou o primário, atual fundamental I. Somente as Ruas Mestre Vitalino e São Sebastião possuíam calçamento. As casas apresentavam condições difíceis. Das 312 residências, apenas 185 moradias tinham sanitário dentro de casa, e somente 52% da população possuía televisores, geladeiras e aparelhos de som. Não existia nessa época rede de esgoto no Alto do Moura. Figura 13: O Alto do Moura em 1984. Foto de Paulino Cabral de Mello, Foto P/B. Fonte: MELLO, 1995, p. 299 Figura 14: Rua Mestre Vitalino, Alto do Moura, 2013. Foto da autora Atualmente as Ruas Mestre Vitalino e São Sebastião são asfaltadas e na entrada do bairro há um arco indicando o reconhecimento aos dois Mestres desse local, Mestre Galdino e Mestre Vitalino, com os seguintes dizeres: “Bem-vindos ao Alto do Moura, o maior Centro de Artes Figurativas das Américas” (vide figura 12). Os artesãos do Alto do Moura convivem com as diferenças, discutem dificuldades e estilos sempre que necessário. Para tanto contam, desde 1982, com uma associação que se reúne toda última segunda-feira do mês. 37 É uma associação que a gente luta muito, a luta dos direitos a gente já conseguiu muita coisa através dela que antes a gente tinha dificuldade para conseguir. Vamos dizer tinha um problema aqui mesmo na rua da gente, não tinha calçamento, a gente não tinha água nas casas, depois da associação foi mais fácil conseguir. Porque é assim, é uma associação que está pedindo não é uma pessoa. Quando a gente ia uma pessoa só a procura de buscar algumas coisas para melhorar o Alto do Moura tinha muita dificuldade e depois que a gente formou essa associação foi diferente, porque é uma associação, é uma força, é um grupo né? Então facilitou muito a gente conseguiu muita coisa, a gente conseguiu um grupo, um clube dos artesãos que a gente já fizemos muitos eventos a gente já participou de muitas coisas lá, no clube reuniões, a gente faz também assembléia, tudo se movimenta lá no clube dos artesãos, a gente conseguiu também um posto de saúde muitas coisas assim para melhorar o Alto do Moura e tudo depois da associação. – Marliete.1 Sobre a valorização dos artesãos da região e da venda da cerâmica, Chico Matuto, um dos criadores da Fundação de Cultura de Caruaru, em entrevista à jornalista Luana Barros (2008, p.85), relata a falta de atenção aos artesãos do Alto do Moura, que têm sua importância reconhecida e são homenageados somente depois de sua morte. Expõe, ainda, a dificuldade em executar os projetos idealizados para a região e a falta de recursos financeiros destinados aos artesãos, que deixam de trabalhar com o barro para serem atravessadores: A comercialização de parte significativa da produção acontece via intermediário, que se encarrega de exportar ou abastecer pontos de venda, como a Casa de Cultura e o Aeroporto dos Guararapes, no Recife, Rio, São Paulo, Europa, Ásia, Austrália, Américas são alguns dos destinos. Acontece, ainda, embora de modo não significativo tendo em vista o volume de visitantes, o comércio diretamente ao consumidor final, no próprio ateliê do artista e na Feira de Caruaru. (CIRANO, 2000, p.19). Assim como nos dias de hoje, na década de 1980, Mello presenciou na região do Alto do Moura o artesanato como principal atividade econômica: dos 900 moradores que lá habitavam, 560 eram artesãos, em sua maioria de cerâmica figurativa, e apenas 36 se dedicavam à cerâmica utilitária. Existiam 100 fornos nessa época, todos à lenha e a comercialização era realizada nas casas-ateliês, na sede da associação e na Feira de Caruaru. A associação, que congregava aproximadamente 270 sócios, tentava impedir a exploração feita pelos atravessadores, que chegavam a vender uma peça por até cinco vezes mais o valor conseguido direto com o artesão. Havia também nessa fase 12 olarias, que eram responsáveis por delimitar o espaço da coleta do barro pelos artesãos. (1995, p.298-9). A arte figurativa no Alto do Moura advém da cerâmica de “brincadeira” e se intensifica quando Mestre Vitalino muda-se para o bairro. Na cultura Cariri não há “registros” de cerâmica figurativa2, porém não se pode negar a influência dos colonizadores portugueses, que trouxeram ao Brasil o “culto” às imagens, que posteriormente foram reproduzidas por 1 Pesquisa de campo, entrevista concedida por Marliete Rodrigues à pesquisadora, no dia 21 de janeiro de 2012. 2 “A cerâmica figurativa entre os povos indígenas brasileiros já existia antes da chegada dos primeiros colonizadores ao Brasil. (...) Pode-se citar o povo Carajá, os habitantes da Ilha de Marajó e alguns povos da chamada cultura Santarém”. (LIMA, 2001, p. 64) 38 alguns ceramistas da região do Nordeste brasileiro. Mestre Vitalino sustenta-se vendendo bonecos de cerâmica na Feira de Caruaru. Em 1948 percebe a necessidade de se mudar para o Alto do Moura, após um fato ocorrido na feira, que o fez refletir sobre o lugar de sua moradia e sua condição: Depois que um cliente do Sul3 procurara-o por toda parte e chegara a sua casa ‘às duas horas da tarde, no pingo do sol, morrendo abrazado’ dizendo que ele parecia bicho por viver no meio do mato. ‘Tomei um choque grande, porque na classe de pobre, eu sei pensar...’, diz Vitalino. O primeiro ano foi muito áspero: ‘Foi seco, que não comi um cozinhado de feijão de roçado’. No ano seguinte trocou de morada e acredita que ‘foi a casa que me deu sorte’. ‘Vinha quebrando pau, morando no que era dos outros’ mas resolveu confiar as economias à mulher na medida em que as vendas de bonecos aumentavam (‘dinheiro bateu em mão de mulé pobre, ela não sorta mais nunca’, diz judiciosamente) e pode assim adquirir a casa onde hoje mora4 (RIBEIRO, 1972, p.2). Nessa época Vitalino já hav