RICARDO BARBOSA POSCH SIQUEIRA EMISSÕES DE POLUENTES EM CENTRAIS HIDRELÉTRICAS: ASPECTOS TÉCNICOS, ECONÔMICOS E ECOLÓGICOS Guaratinguetá 2015 RICARDO BARBOSA POSCH SIQUEIRA EMISSÕES DE POLUENTES EM CENTRAIS HIDRELÉTRICAS: ASPECTOS TÉCNICOS, ECONÔMICOS E ECOLÓGICOS Tese apresentada à Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, para a obtenção do título de Doutor em Engenharia Mecânica na área de Transmissão e Conversão de Energia. Orientador: Prof. Dr. José Luz Silveira Guaratinguetá 2015 S618e Siqueira, Ricardo Barbosa Posch Emissões de poluentes em centrais hidrelétricas: aspectos técnicos, econômicos e ecológicos / Ricardo Barbosa Posch Siqueira - Guaratinguetá, 2015 141 f.: il. Bibliografia: f. 135-141 Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2015 Orientador: Prof. Dr. Jose Luz Silveira 1. Usinas hidrelétricas 2. Água – Qualidade 3. Efeito estufa (Atmosfera) 4. Análise econômico financeiro I. Título CDU 621.311.21 DADOS CURRICULARES RICARDO BARBOSA POSCH SIQUEIRA NASCIMENTO 03.08.1976 – SÃO PAULO / SP FILIAÇÃO José Antônio Posch Siqueira Teresa Barbosa Posch Siqueira 1992/1994 Curso Técnico em Eletrônica Colégio Técnico e Industrial de Guaratinguetá - CTIG – UNESP Campus de Guaratinguetá. 1996/2001 Curso de Graduação em Engenharia Elétrica e Eletrônica Universidade de Taubaté – UNITAU 2003/2006 - Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, nível de Mestrado, na Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista. Publicações: - SIQUEIRA, R.B.P.; SILVEIRA, J.L.; SOBRINHO P.M.; CARVALHO, M.B. Cogeneration Utilising Residual Heat of na Industrial Incinerator. In: LATIN AMERICAN CONGRESS ELECTRICITY GENERATION AND TRANSMISSION, 5., 2003, São Pedro – SP. Proceedings, 2003. - SIQUEIRA, R.B.P.; SILVEIRA, J.L. Construção de Diagramas de Custos de PCH´s. Incorporando Turbinas de Mercado. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS, 4., 2004, Porto de Galinhas – PE, Anais do IV Simpósio Brasileiro de Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas, 2004. - SIQUEIRA, R.B.P.; SILVEIRA, J.L. Análise de Eficiência Energética Aplicada a uma Pequena Central Hidrelétrica aliada ao Retorno de Investimento. In: INTERNATIONAL SODEBRAS CONGRESS, 24., 2010, São Paulo – SP. Sodebras, 2010. - SIQUEIRA, R.B.P.; SILVEIRA, J.L. Eficiência Ecológica Aplicada a uma PCH Em Função da Operação de um Reservatório Hipotético. In: CONFERÊNCIA DE CENTRAIS HIDRELÉTRICAS, 7., 2011, São Paulo - SP. Anais da VII Conferência de Centrais Hidrelétricas, 2011. - SIQUEIRA, R.B.P.; SILVEIRA, J.L. Aspectos Técnicos, Econômicos e Ecológicos de PCH’s: Seleção de Turbinas e Análise de Emissões. In: CLAGTEE - LATIN-AMERICAN CONGRESS ON ELECTRICITY GENERATION AND TRANSMISSION, 9., 2011, Mar de La Plata – Argentina. Anais do 9º Congresso Latino Americano de Geração e Transporte de Energia Elétrica, 2011. Dedico de modo especial, à minha Família e ao meu pai José Antônio Posch Siqueira (em memória), que foi professor do Colégio Técnico desse Campus e me incentivou muito nesta caminhada da vida com grande expectativa de que esse momento acontecesse. Até breve! AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, pelo dom da vida e por ter pessoas que amo ao meu lado, sempre me incentivando. À minha esposa Liziane, pelo infindável companheirismo e a nossos filhos, Carolina e Matheus, por todos os momentos de alegria que passamos juntos. À minha mãe e ao meu pai, por terem me proporcionado tudo o que sou e tenho hoje. Ao meu irmão Rodrigo, pela amizade e palavras de incentivo nos momentos difíceis. Ao Prof. Dr. José Luz Silveira, por ter aceitado ser novamente meu orientador e por ter me auxiliado na elaboração desta Tese. Aos Profs. Drs. Agnelo Marotta Cassula, Daniel Julien Barros da Silva Sampaio, José Rui Camargo, Sílvio Jorge Coelho Simões e Wendell de Queiróz Lamas, pelas críticas construtivas em relação a esta Tese. Aos Colegas do Laboratório de Otimização de Sistemas Energéticos (LOSE), pelo apoio e pelo incentivo. Aos sempre atenciosos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação da FEG. Aos meus ex-gestores, Dr. Manuel Gonçalves, Tadeu Azevedo e César Poletto, pelo grande incentivo que me deram no início de minha pós-graduação. Aos Engenheiros da ALSTOM, em especial aos Engs. Adilson Costilhas, Márcio Oliveira, Ricardo Vasconcellos, Roberto Miranda, Alencar Ribeiro e Maurício Oliveira, pelo grande incentivo que me deram na conclusão de minha pós-graduação. Ao Eng. Fábio Sá, pela amizade e pela oportunidade em continuar meus estudos na Pós-Graduação. Aos amigos Anderson Rodrigues, Fábio Garcia, Fernando Scarparo (em memória) e Darcy Laranjeira, pela amizade e palavras de incentivo. A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste trabalho. “CAMINHADA DA VIDA. Como se despedir de uma pessoa tão especial em um momento tão difícil? Seria... Agradecer por tudo que tem feito, deixado ou realizado? Seria... Lembrar de todos os momentos especiais com a imagem de seu sorriso e de seu carinho com os próximos? Seria... Imaginar que a vida ao lado dele foi muito importante para aprendermos sobre companheirismo, o respeito, o amor, a dedicação da vida pessoal e profissional? Seria... Orar pelo aprendizado da palavra Igreja em nossa Vida? Seria... Admirar o olhar afetuoso e de atenção sempre que um auxílio fosse solicitado? Seria... Chorar de Saudades? Na verdade, podemos sentir que realmente a vida é uma caminhada que não tem fim. Estaremos sempre com ele em pensamentos felizes e convictos que nosso reencontro acontecerá. Então... ATÉ BREVE!” Família Posch SIQUEIRA, R. B. P. Emissões de poluentes em centrais hidrelétricas: Aspectos técnicos, econômicos e ecológicos. 2015. 141 f. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2015. RESUMO Os reservatórios das Centrais Hidrelétricas contribuem para o aumento dos Gases de Efeito Estufa (GEE), emitindo dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), que são nocivos para o aquecimento global. Esse trabalho de tese tem como objetivo desenvolver uma metodologia que permita avaliar as hidrelétricas acerca do aspecto ambiental e de sua eficiência ecológica. Analisar uma planta hidrelétrica sob o ponto de vista da eficiência ecológica implica em determinar o indicador de poluição para verificar quão poluidor é o processo de geração de eletricidade da usina. Inicialmente, utiliza-se um modelo de reservatório que considera o regime operacional da usina, correlacionando-o às variáveis de volume, área alagada, qualidade da água e carga do reservatório. A metodologia baseia-se em modelo estático/computacional, utilizando o Programa Excel® e considerando um reservatório cuja característica de seção e volume é o de uma figura plana trapezoidal. O estudo considera as características das usinas hidrelétricas de Itaipu e de Tucuruí, das quais é possível obter as emissões médias de CO2 e CH4. Desenvolvem-se as equações para a determinação das emissões equivalentes de tC e tCO2, as quais auxiliam no desenvolvimento e validação do modelo e do estudo do impacto ambiental e na determinação da eficiência ecológica da usina hidrelétrica. Essas equações são escritas em função da carga do reservatório e do índice de qualidade da água, que considera o oxigênio dissolvido saturado (ODSat%). Para a determinação da carga do reservatório, considera-se a analogia elétrica (Circuito Resistor- Capacitor), onde o reservatório é considerado equivalente a um capacitor e a turbina hidráulica equivalente a uma resistência elétrica. Na análise ambiental, utiliza-se a emissão equivalente de CO2 (tCO2eq) para determinar o indicador de poluição e a eficiência ecológica da usina hidrelétrica em função do índice de aquecimento global (GWP). Conclui-se, através do modelo desenvolvido, que o regime operacional da usina hidrelétrica e as séries históricas de vazões do rio influenciam no comportamento das emissões de GEE e que o GWP afeta diretamente a viabilidade econômica da usina hidrelétrica. PALAVRAS-CHAVE: Emissões de GEE. Usinas hidrelétricas. Eficiência ecológica. Qualidade da água. Modelo estático computacional. Análise econômica. SIQUEIRA, R. B. P. GHG emissions of power plants: Technical, economical and ecological aspects. 2015. 141 f. Thesis (Philosophy Doctor degree in Mechanical Engineering) – Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2015. ABSTRACT The reservoir of the hydropower plants contributes to increased emissions of greenhouse gases (GHG), emitting carbon dioxide (CO2) and methane (CH4), that are harmful gases to the global warming. This work aims to develop a methodology that assess the hydroelectric powerplants on the environmental aspect and its ecological efficiency. Analyze the hydroelectric to the ecological efficiency considers the pollution indicator to determine how polluter is a process of electricity generation. Initially, used a reservoir model where consider the operating system of the plant, correlating it to the variable volume, flooding area, water quality and load of the reservoir. The methodology is based on the static / computational model using a software tool (Excel®) and considering a reservoir whose characteristic of the section and volume are related to a trapezoidal plane figure. The study considers the characteristics of the hydroelectrics Itaipu and Tucuruí, which can be obtained the average emissions of CO2 and CH4. The equations are developed to tC and tCO2 equivalent emissions, which support in the development and validation of the model and of the environmental impact study, and in the determination of the hydropower ecological efficiency. Those equations are written as a function of the reservoir load and water quality index, that considers dissolved oxygen saturated (ODSat%). To determine the load of reservoir is considered an electrical analogy (Resistor-Capacitor Circuit), where the reservoir is equivalent to a capacitor and the turbine equivalent to electrical resistance. In the environmental analysis, it is used the equivalent emission of CO2 (tCO2eq) to determine the pollution indicators and the ecological efficiency of the hydroelectric plant, including the Global Warming Potential (GWP). Concludes with the developed model that the operating regime of the hydroelectric plant and the historical data of river flow influence the behavior of GHG emissions and that the global warming index (GWP) affects directly the economic viability of the hydroelectric plant. KEYWORDS: GHG Emissions. Hydroelectric plants. Ecological efficiency. Water Quality. Computational/static Model. Economic analysis. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Metodologia básica ................................................................................. 22 Figura 2 – Arranjo geral em planta de uma usina hidrelétrica................................... 35 Figura 3 – Arranjo geral em corte de uma usina hidrelétrica .................................... 36 Figura 4 – Gráfico das faixas de aplicação de turbinas Pelton, Kaplan e Francis. .... 37 Figura 5 – Modelo 3D de uma turbina tipo Pelton com 4 injetores. .......................... 38 Figura 6– Roda de uma turbina Francis em processo de fabricação ........................ 38 Figura 7 – Modelo 3D de uma turbina Kaplan .......................................................... 39 Figura 8 – Esquema típico de geração de energia em baixa queda. ........................ 41 Figura 9 – Esquema típico de geração de energia em alta queda. ........................... 41 Figura 10 – Esquema típico de geração de energia em média queda. .................... 42 Figura 11 – Estrutura típica de usina hidrelétrica em baixa queda – UHE Balbina. .. 43 Figura 12 – Estrutura típica de usina hidrelétrica em alta queda – UHE Henry Borden. .................................................................................................................... 44 Figura 13 – Estrutura típica de usina hidrelétrica em média queda - UHE Itaipu. ..... 45 Figura 14 – Curva de permanência - UHE Balbina. .................................................. 46 Figura 15 – Curva de permanência - UHE Henry Borden. ........................................ 47 Figura 16 – Curva de permanência - UHE Itaipu. ..................................................... 47 Figura 17 – Usinas hidrelétricas segundo a área alagada. ....................................... 48 Figura 18 – Vazões mensais do ano típico - UHE Balbina. ...................................... 49 Figura 19 – Vazões mensais do ano típico - UHE Henry Borden. ............................ 49 Figura 20 – Vazões mensais do ano típico - UHE Itaipu. ......................................... 49 Figura 21 – Modelos empíricos de reservatórios - IHA. ............................................ 57 Figura 22 – Modelo geométrico de reservatório - MCT. ........................................... 57 Figura 23 – Modelagem trapezoidal do reservatório................................................. 58 Figura 24 – Ciclo de carbono - Reações nos reservatórios. ..................................... 60 Figura 25 – Ciclo de carbono – Interação entre a superfície terrestre e a bacia hidráulica. ................................................................................................................ 61 Figura 26 – Gráfico - Indicador de qualidade: variação de temperatura. .................. 64 Figura 27 – Gráfico - Indicador de qualidade: oxigênio dissolvido. ........................... 65 Figura 28 – Gráfico - Indicador de qualidade: pH. .................................................... 66 Figura 29 – Gráfico - Indicador de qualidade: coliforme fecal. .................................. 67 Figura 30 – Gráfico - Indicador de qualidade: nitratos. ............................................. 68 Figura 31 – Gráfico - Indicador de qualidade: fosfato. .............................................. 69 Figura 32 – Gráfico - Indicador de qualidade: demanda bioquímica de oxigênio (DBO)....................................................................................................................... 70 Figura 33 – Gráfico - Indicador de qualidade: sólidos suspensos. ............................ 71 Figura 34 – Gráfico - Indicador de qualidade: turbidez. ............................................ 72 Figura 35 – Precipitação anual no país. ................................................................... 73 Figura 36 – Participação das hidrelétricas no total de barragens instaladas. ........... 74 Figura 37 – PDE 2022: evolução da capacidade instalada por fonte. ....................... 75 Figura 38 – Perspectivas de novos reservatórios: caso Belo Monte. ........................ 76 Figura 39 – Estudo energético do médio e alto Tocantins. ....................................... 77 Figura 40 – Volumes e elevações operacionais do reservatório. .............................. 78 Figura 41 – Comportamento típico da área alagada de MCH/GCH. ......................... 79 Figura 42 – Comportamento típico da área alagada de PCH. .................................. 80 Figura 43 – Zonas distintas do reservatório. ............................................................ 82 Figura 44 – Comportamento do pH em função da profundidade (Estação E5). ....... 83 Figura 45 – Estrutura do capítulo. ............................................................................ 84 Figura 46 – Seção típica do reservatório modelo. .................................................... 85 Figura 47 – Volume típico do reservatório modelo. .................................................. 86 Figura 48 – Reservatório: emissões de GEE e perfil vertical. ................................... 87 Figura 49 – Circuito RC: carga e descarga do capacitor. ......................................... 92 Figura 50 – Modelo elétrico do reservatório. ............................................................ 94 Figura 51 – Dados de entrada e de saída da planilha eletrônica. ............................. 96 Figura 52 – Tela da planilha eletrônica dinâmica desenvolvida em Excel® .............. 97 Figura 53 – Área alagada x Volume: Itaipu. ........................................................... 101 Figura 54 – Área alagada x Volume: Tucuruí. ........................................................ 107 Figura 55 – Determinação da equação de tC com GWP-7,6: resultados das interações. ............................................................................................................. 115 Figura 56 –– Determinação da equação de tCO2eq com GWP-28: resultados das interações. ............................................................................................................. 116 Figura 57 – Fluxo de gases nos primeiros anos do reservatório. ........................... 119 Figura 58 – Período de amortização do capital investido: com e sem a eficiência ecológica. ............................................................................................................... 132 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Estruturas e equipamentos típicos de centrais hidrelétricas ................... 35 Tabela 2 – Dados básicos da UHE Balbina. ............................................................. 43 Tabela 3 – Dados básicos da UHE Henry Borden. ................................................... 44 Tabela 4 – Dados básicos da UHE Itaipu. ................................................................ 45 Tabela 5 – Quadro de variação de volume de operação .......................................... 50 Tabela 6 – Seleção de estudos sobre emissões de reservatórios. ........................... 51 Tabela 7 – Densidade de potência dos reservatórios estudados. ............................ 53 Tabela 8 – Emissões equivalentes de tC por reservatórios brasileiros. .................... 55 Tabela 9 – Fatores de influência nas emissões de reservatórios. ............................ 56 Tabela 10 – Fator de ponderação dos parâmetros de qualidade da água. ............... 62 Tabela 11 – Parâmetros de regime de operação da usina hidrelétrica ..................... 89 Tabela 12 – Parâmetros de operação: Itaipu. .......................................................... 99 Tabela 13 – Dimensões do modelo do reservatório de Itaipu. ................................ 100 Tabela 14 – Elevações de jusante e vazões turbinadas: Itaipu. ............................. 102 Tabela 15 – Polinômio: temperatura da água. ........................................................ 102 Tabela 16 – Polinômio: temperatura do ar. ............................................................ 103 Tabela 17 – Polinômio: oxigênio dissolvido. ........................................................... 103 Tabela 18 – Polinômio: oxigênio saturado. ............................................................. 103 Tabela 19 – Polinômio: demanda bioquímica de oxigênio. ..................................... 103 Tabela 20 – Polinômio: sólidos suspensos. ............................................................ 104 Tabela 21 – Polinômio: pH. .................................................................................... 104 Tabela 22 – Polinômio: fosfato. .............................................................................. 104 Tabela 23 – Polinômio: nitrato. ............................................................................... 105 Tabela 24 – Polinômio: turbidez. ............................................................................ 105 Tabela 25 – Parâmetros de operação: Tucuruí. ..................................................... 105 Tabela 26 – Dimensões do modelo do reservatório de Tucuruí. ............................ 106 Tabela 27 – Elevações de jusante e vazões turbinadas: Tucuruí. .......................... 108 Tabela 28 – Polinômio: temperatura da água. ........................................................ 109 Tabela 29 – Polinômio: temperatura do ar. ............................................................ 109 Tabela 30 – Polinômio: oxigênio dissolvido. ........................................................... 109 Tabela 31 – Polinômio: oxigênio saturado. ............................................................. 109 Tabela 32 – Polinômio: sólidos suspensos. ............................................................ 110 Tabela 33 – Polinômio: pH. .................................................................................... 110 Tabela 34 – Polinômio: fosfato. .............................................................................. 110 Tabela 35 – Polinômio: nitrato. ............................................................................... 111 Tabela 36 – Comparação das emissões (tC/Ano) – MCT versus Modelo: Cenários 1 e 2. ......................................................................................................................... 112 Tabela 37 – Diferenças percentuais com relação às emissões do MCT versus Modelo: Cenários 1 e 2. ......................................................................................... 112 Tabela 38 – Comparação das emissões (tC/Ano) – MCT versus Modelo: Cenário 3. ............................................................................................................................... 113 Tabela 39 – Valores médios obtidos da simulação: tC – GWP 7,6. ........................ 114 Tabela 40 – Valores médios obtidos da simulação: tCO2eq – GWP 28. .................. 114 Tabela 41 – Parâmetros de operação: Serra da Mesa. .......................................... 117 Tabela 42 – Parâmetros de operação: Três Marias. .............................................. 118 Tabela 43 – Comparação das emissões - Equação: tC. ......................................... 119 Tabela 44 – Estágios de emissões iniciais de fluxos de gases: polinômios. ........... 120 Tabela 45 – Parâmetros de operação: CH hipotética. ............................................ 128 Tabela 46 – Valores médios obtidos da simulação: tCO2 – GWP 7,6. .................... 129 Tabela 47 – Taxa de emissões iniciais de fluxos de gases nos primeiros dez anos. ............................................................................................................................... 130 Tabela 48 – Parâmetros para cálculo do período de amortização do capital investido. ............................................................................................................................... 130 Tabela 49 – Parâmetros para cálculo da eficiência ecológica. ............................... 131 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIE Agência Internacional de Energia ANA Agência Nacional de Águas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica CIGB Comissão Internacional de Grandes Barragens EPE Empresa de Pesquisa Energética GCH Grande Central Hidrelétrica GEE Gases de Efeito Estufa GHG Green House Gas GWP Global Warming Potential HEA Hydro Equipment Association IHA International Hydropower Association IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change IQA Indicador de Qualidade da Água MCH Média Central Hidrelétrica MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MME Ministério de Minas e Energia MO Matéria Orgânica MOS Matéria Orgânica do Solo MS Ministério da Saúde NA Nível da Água NSF National Sanitation Foundation ONG Organização Não Governamental ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico PCH Pequena Central Hidrelétrica PCI Poder Calorífico Inferior PDE Plano Decenal de Expansão de Energia UHE Usina Hidrelétrica UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change WCD World Commission on Dams LISTA DE SÍMBOLOS A Área [m²] Aop Tempo de concessão [meses] B Base maior [m] b Base menor [m] C Capacitância [F] Ce_ano Emissão de equivalente de tonelada de massa de carbono [tC] CEle Custo da eletricidade produzida [US$/kWh] CF Coliformes fecais na água do reservatório [colônias/100 mL] Cf Capacitância fluídica do reservatório [m²] CH4 Metano [-] CMan Ger Custo para manutenção do gerador [US$/kWh] CMan TH Custo para manutenção da turbina [US$/kWh] CO2 Dióxido de carbono [-] (CO2)e Dióxido de carbono equivalente [kg (CO2)e/kgComb] COper Custo de operação da usina [US$/kWh] DBO Demanda bioquímica de oxigênio na água do reservatório [mg/L] E Elevação a Montante [m-acima do nível do mar] EHid Energia específica da hidrelétrica [MJ/kg de Água] Ep Eletricidade produzida [kW] f Fator de anuidade [-] g Aceleração da gravidade [m/s²] h Altura do reservatório [m] H Queda [m] h* Perda de carga em função da velocidade do escoamento [mca] Hop Número de horas de operação [h/ano] hp Perda de carga em função da vazão turbinada [mca] Hliq Queda líquida da turbina [m] IGWP Índice de potencial de aquecimento global [-] IOD(%) Índice de qualidade da água para oxigênio dissolvido saturado [-] Ipl Custo de implantação da usina [US$] Iq Indicador de qualidade da água [-] K Constante equivalente do circuito hidráulico [-] k Período de amortização do capital investido [anos] k* Coeficiente de perda de carga [-] Kp Constante de perda de carga do circuito hidráulico [s²/m5] L Comprimento [m] mCO2 Fluxo mássico de dióxido de carbono [kg/s] mH2O Fluxo mássico de água [kg/s] NA Nível da água [m-acima do nível do mar] NO-3 Nitratos na água do reservatório [mg/L] OD Oxigênio dissolvido na água do reservatório [mg/L] ODsat Oxigênio Dissolvido Saturado na água do reservatório [%] PCI Poder calorífico inferior do combustível [MJ/kgComb] Pele Preço da eletricidade no mercado [US$/kWh] pH Potencial hidrogêniônico na água do reservatório [-] PO4 Fosfato na água do reservatório [mg/L] q Fator da taxa de juros “r” ao ano [%a.a.] Q Vazão [m³/s] qc Carga no capacitor [C] qr Carga do reservatório [m³] QTurb Vazão turbinada [m³/s] R Receita anual [US$] R² Regressão [-] Rc Resistência elétrica de carga [Ω] Rd Resistência elétrica de descarga [Ω] Rf Resistência fluídica [s/m²] SO-42 Sulfatos [-] ST Sólidos totais [mg/L] T Tempo [d] tC Tonelada de massa de carbono [tC/mês] tCO2eq Tonelada de massa de dióxido de carbono equivalente por mês [tCO2eq/mês] tCO2eq10 Tonelada de massa de dióxido de carbono equivalente nos primeiros dez anos [tCO2eq/ano] tCO2eqANO Tonelada de massa de dióxido de carbono equivalente por ano [tCO2eq/ano] tCO2eq-o Tonelada de massa de dióxido de carbono equivalente incorporando o enchimento do reservatório [tCO2eq-o/mês] td Tempo de descarga do capacitor [s] tr Tempo de residência [dias] UNT Unidades nefeloméricas de turbidez na água do reservatório [-] V Diferença de potencial [V] v Velocidade do escoamento [m/s] Vr Volume do reservatório [m³] SÍMBOLOS GREGOS � Eficiência ecológica [-] �� Eficiência da planta hidrelétrica [-] �T Variação de temperatura na água do reservatório [º C] �g Indicador de poluição em termoelétricas [kg (CO2)e/MJ] �gHid Indicador de poluição em hidrelétricas [kg (CO2)e/MJ] � Ângulo do talude lateral [º] SUMÁRIO CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 19 1.1 MOTIVAÇÃO ............................................................................................................................................. 19 1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................................................ 20 1.3 ESTRUTURA DA TESE ............................................................................................................................. 20 1.4 METODOLOGIA ........................................................................................................................................ 21 CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E O ESTADO DA ARTE SOBRE EMISSÕES DE GEE NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ................................................................................................. 23 CAPÍTULO 3 ASPECTOS GERAIS DAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS ........................................... 34 3.1 COMPONENTES DE CENTRAIS HIDRELÉTRICAS ............................................................................... 34 3.2 TURBINAS HIDRÁULICAS ...................................................................................................................... 37 3.3 ESTRUTURAS HIDRÁULICAS E SUAS RESPECTIVAS ÁREAS ALAGADAS ..................................... 39 3.4 CURVA DE PERMANÊNCIA E O ANO TÍPICO ....................................................................................... 46 CAPÍTULO 4 FATORES QUE INFLUENCIAM NAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA DOS RESERVATÓRIOS ................................................................................................................................ 51 4.1 DENSIDADE DE POTÊNCIA ..................................................................................................................... 51 4.2 FATORES QUE INFLUENCIAM NAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA DOS RESERVATÓRIOS E OS MODELOS GEOMÉTRICOS .................................................................................. 55 4.3 CICLO DE CARBONO E AS REAÇÕES NOS RESERVATÓRIOS............................................................ 59 4.4 QUALIDADE DA ÁGUA NOS RESERVATÓRIOS ................................................................................... 62 4.4.1 Temperatura ........................................................................................................................................... 63 4.4.2 Oxigênio Dissolvido ................................................................................................................................. 64 4.4.3 Potencial Hidrogeniônico ........................................................................................................................ 65 4.4.4 Coliforme Fecal ....................................................................................................................................... 66 4.4.5 Nitratos .................................................................................................................................................... 67 4.4.6 Fosfato ..................................................................................................................................................... 68 4.4.7 Demanda Bioquímica de Oxigênio ......................................................................................................... 69 4.4.8 Sólidos Suspensos .................................................................................................................................... 70 4.4.9 Turbidez .................................................................................................................................................. 71 CAPÍTULO 5 ASPECTOS DE OPERAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS ................................................. 73 5.1 PERPECTIVA DE OPERAÇÃO DOS FUTUROS RESERVATÓRIOS HIDRELÉTRICOS ........................ 73 5.2 REGIME DE OPERAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS HIDRELÉTRICOS................................................... 77 5.3 ÁREA ALAGADA ...................................................................................................................................... 78 5.4 TEMPO DE RESIDÊNCIA .......................................................................................................................... 80 5.5 PERFIL VERTICAL DA QUALIDADE DA ÁGUA .................................................................................... 81 CAPÍTULO 6 EFICIÊNCIA ECOLÓGICA DE CENTRAIS HIDRELÉTRICAS .................................. 84 6.1 METODOLOGIA ........................................................................................................................................ 85 6.1.1 Modelo do reservatório ........................................................................................................................... 85 6.1.2 Qualidade da água pelo perfil vertical ................................................................................................... 87 6.1.3 Parâmetros de regime de operação da usina hidrelétrica ..................................................................... 88 6.1.4 Carga do reservatório: analogia elétrica ................................................................................................ 91 6.1.5 Equacionamento das Emissões de GEE ................................................................................................. 94 6.1.6 Programa Computacional (Planilha Eletrônica) ................................................................................... 95 6.2 MODELAGEM DOS RESERVATÓRIOS ................................................................................................... 98 6.2.1 Modelagem: reservatório de Itaipu ........................................................................................................ 99 6.2.2 Modelagem: reservatório de Tucuruí .................................................................................................. 105 6.2.3 Resultados das Simulações ................................................................................................................... 111 6.3 EMISSÕES EQUIVALENTES DE GEE .................................................................................................... 114 6.4 EMISSÕES DE GEE INCORPORANDO O ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO ................................ 119 6.5 EFICIÊNCIA ECOLÓGICA DE CENTRAIS HIDRELÉTRICAS.............................................................. 122 6.5.1 Indicador de Poluição de Centrais Hidrelétricas ................................................................................. 124 CAPÍTULO 7 ANÁLISE ECONÔMICA INCORPORANDO A EFICIÊNCIA ECOLÓGICA ........... 126 7.1 MÉTODO DE ANÁLISE ECONÔMICA UTILIZADO ............................................................................. 126 7.2 PROPOSTA DE ANÁLISE ECONÔMICA ............................................................................................... 127 7.3 ESTUDO DE CASO DE UMA CENTRAL HIDRELÉTRICA HIPOTÉTICA ............................................ 128 CONCLUSÕES ............................................................................................................................................ 133 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 135 19 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 MOTIVAÇÃO A atividade humana contribui para o aumento das emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEE, em inglês GHG – Green House Gas). Este tema é de interesse mundial e seu estudo tem por objetivo identificar e promover ações mitigatórias futuras com a finalidade da redução do impacto desses gases no aquecimento global. Organismos internacionais têm monitorado o crescimento da taxa de emissões de GEE na atmosfera ao longo dos anos. Na pré-revolução industrial, a concentração de CO2 era de 280 ppm e, em 2010, atingiu 390 ppm (IPCC, 2014). Tendo como parâmetro os altos níveis de emissão de GEE por parte das usinas termoelétricas, é possível considerar que os reservatórios das usinas hidrelétricas influenciam no aquecimento global ao emitirem dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) em níveis relevantes, pois inundam áreas ricas em matérias orgânicas, como florestas, além de mudarem o comportamento de emissão natural do rio. A produção de gases pela biomassa presente no reservatório ocorre por meio da decomposição aeróbica (produção de CO2) e anaeróbica (produção de CH4) (SANTOS et al., 2006). No Brasil, a geração de eletricidade se baseia principalmente em usinas hidrelétricas e seus reservatórios são importantes para a regularização da bacia e para o armazenamento de volume de água a fim de garantir a produção de energia elétrica em períodos secos (menos chuvosos). Nesse contexto, é de suma importância desenvolver uma metodologia que avalie o comportamento do reservatório sob a ótica das emissões de GEE e da eficiência ecológica, a qual relaciona, através de um indicador de poluição, a quantidade de poluentes produzida por unidade de energia específica. Na análise econômica, incorpora-se a eficiência ecológica com a finalidade de impactar o período de amortização do capital investido (pay-back) através do aumento do custo de produção de eletricidade. 20 1.2 OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho de tese é estudar os efeitos da poluição das Centrais Hidrelétricas, buscando o desenvolvimento de um método que considere as emissões de GEE na geração de energia elétrica nesses tipos de usinas. São objetivos específicos: - Elaborar uma metodologia para determinar as emissões de poluentes e a eficiência ecológica de centrais hidrelétricas que permita estudar os reservatórios, considerando um modelo geométrico que relacione o comportamento no tempo da série histórica de vazões da bacia, a influência do regime operacional da usina e os parâmetros de qualidade da água; - Elaborar uma ferramenta computacional baseada em dados de duas importantes usinas hidrelétricas no cenário nacional (Itaipu e Tucuruí) que permita a interação entre as variáveis de interesse e forneça um estado mensal das emissões de CO2 e CH4 e suas emissões equivalentes em tC e tCO2eq; - Desenvolver o equacionamento para a determinação das emissões equivalentes em tC e em tCO2eq, com base nos resultados obtidos das simulações dos reservatórios reais; - Analisar economicamente o impacto no período de amortização do capital investido, incorporando a eficiência ecológica como forma de avaliar o empreendimento sob a ótica ambiental. 1.3 ESTRUTURA DA TESE O trabalho está dividido em 8 Capítulos, cuja estrutura é apresentada a seguir: No Capítulo 1, intitulado “Introdução”, apresenta-se a motivação, os objetivos, a estrutura da tese e a metodologia básica do trabalho. No Capítulo 2, intitulado “Revisão Bibliográfica e o Estado da Arte sobre Emissões de GEE na Geração de Energia Elétrica”, realiza-se um resumo bibliográfico dos trabalhos relacionados ao tema da tese. Apresenta-se, ainda, uma análise acerca do Estado da Arte. No Capítulo 3, intitulado “Aspectos Gerais das Centrais Hidrelétricas”, mencionam-se as características dos reservatórios hidrelétricos e seus esquemas básicos de geração de energia, classificados como alta, média e baixa queda. No Capítulo 4, intitulado “Fatores que influenciam nas emissões de Gases de Efeito Estufa dos Reservatórios”, apresentam-se as emissões das principais usinas hidrelétricas 21 nacionais e suas relações com a densidade de potência (W/m2). Identificam-se as reações bioquímicas, as emissões de CO2 e CH4, as características do ciclo de carbono e a qualidade da água em reservatórios. No Capítulo 5, intitulado “Aspectos de Operação dos Reservatórios”, analisam-se as perspectivas dos futuros reservatórios e as influências do regime de operação com relação à área alagada, ao tempo de residência e ao perfil vertical de qualidade da água. No Capítulo 6, intitulado “Eficiência Ecológica de Centrais Hidrelétricas”, desenvolve-se a metodologia para determinar a eficiência ecológica da central hidrelétrica, através de um indicador de poluição que se relaciona com a emissão equivalente de tCO2. O método consiste em modelar o reservatório com base na figura plana de um trapézio; relacionar os polinômios da qualidade da água pelo perfil vertical; utilizar a analogia elétrica para a carga do reservatório; elaborar uma ferramenta computacional para interagir entre a série histórica de vazões e o regime de operação, obtendo os resultados das emissões de GEE, qualidade da água (ODSat%) e carga do reservatório e, por fim, aplicar o método matemático da eliminação de Gauss para determinar o equacionamento da emissão equivalente de tCO2. No Capítulo 7, intitulado “Análise Econômica incorporando a Eficiência Ecológica”, vincula-se a eficiência ecológica ao cálculo do custo de produção da eletricidade e analisa-se o tempo de retorno do capital investido para uma central hidrelétrica hipotética, com e sem a eficiência ecológica. Consideram-se dois cenários de emissões com diferentes índices de aquecimento global (GWP) para o metano: GWP igual a 7,6 vezes e GWP igual a 28 vezes. No Capítulo 8, apresentam-se as Conclusões da tese e as sugestões para o desenvolvimento de trabalhos futuros. 1.4 METODOLOGIA Propõe-se como metodologia para desenvolvimento deste trabalho a determinação da eficiência ecológica com base no Indicador de Poluição, o qual é relacionado a uma equação de dióxido de carbono equivalente. A equação é obtida através da utilização de uma modelagem de reservatório, seguindo as seguintes etapas. 22 Figura 1 – Metodologia básica Fonte: Elaborada pelo autor. 23 CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E O ESTADO DA ARTE SOBRE EMISSÕES DE GEE NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Desde o início da década de 90, foram desenvolvidas numerosas pesquisas relacionadas às emissões de GEE em reservatórios, reconhecendo as hidrelétricas como fontes emissoras. Com as informações obtidas em medições de CO2 e CH4 realizadas em reservatórios, através de práticas que utilizem a instrumentação adequada, os autores apresentam formulações que auxiliam na determinação dos gases poluentes. Percebe-se que as plantas termoelétricas são bases comparativas na avaliação do potencial das usinas hidrelétricas como fontes emissoras e que, principalmente, estas são vistas como empreendimentos emissores de GEE. O Painel Intergovernamental Sobre a Mudança do Clima (IPCC, 1990) disponibilizou um relatório científico sobre as mudanças climáticas e abordou o conceito do Potencial de Aquecimento Global (do inglês Global Warming Potential – GWP), o qual considera os diferentes tempos em que os gases permanecem na atmosfera. O indicador define o efeito do aquecimento integrado no tempo devido a uma emissão instantânea por unidade de massa de um determinado GEE na atmosfera, relacionando-o ao dióxido de carbono. Nesse relatório, o metano possuía um potencial de aquecimento global equivalente a 21 vezes o potencial do dióxido de carbono no horizonte de tempo igual a 100 anos; quando observado no horizonte de 20 anos, o potencial aumenta em 63 vezes. Ressaltam-se as diferenças no tempo de vida: no caso do CO2, o tempo de vida é de 50 a 200 anos e, do CH4, é de 10 anos. O índice GWP é atualizado ao longo dos anos através da divulgação de relatórios e o metano iniciou com a equivalência ao CO2 de 21 vezes em 1990, 21 vezes em 1996, 25 vezes em 2007 e 28 vezes em 2014. Rudd et al. (1993) consideram que as emissões de GEE em reservatórios hidrelétricos podem ser significativas quando comparadas às emissões de plantas térmicas a combustível fóssil. Os GEE (CO2 e CH4) são produzidos durante o processo de decomposição da biomassa no interior do reservatório e a quantidade emitida está relacionada à área alagada. Rosa e Schaeffer (1995) propõem o indicador de potencial de aquecimento global para comparar quantitativamente os efeitos das emissões de diferentes gases. A hidroeletricidade contribui menos para o aquecimento global do que a geração de combustível fóssil, quando avaliadas em longo prazo. A maioria das emissões de CH4 de reservatórios hidrelétricos está concentrada em um período de tempo e diminui durante os primeiros anos, enquanto a 24 emissão de CO2 por geração a combustível fóssil permanece contínua durante toda a vida útil do investimento do capital. Fearnside (1997) indica que o impacto das emissões de CO2 e CH4 em reservatórios de usinas hidrelétricas nas áreas de floresta tropical deveria ser calculado e comparado com alternativas de energia que contribuam com o aquecimento global, tais como, o combustível fóssil. O trabalho do pesquisador relaciona a usina de Tucuruí como base para esclarecer as diferenças entre as fontes geradoras, a qual produziu emissões significativas de GEE, sendo, contudo, menor em comparação à geração por combustível fóssil no horizonte de 100 anos. Definiu-se a forma de avaliação por tipo de geração (hidráulica ou térmica) através do impacto na atratividade da hidrelétrica pela taxa de desconto do investimento com base no efeito do tempo de preferência. O tempo de preferência é a taxa de desconto na emissão de GEE e/ou seus impactos sob a aplicação indireta na taxa de juros do investimento, chamada pelo autor de taxa de atratividade. Quando a usina hidrelétrica é ponderada pela emissão e pelos impactos minoritários em relação à termoelétrica, a taxa de juros no financiamento se torna atraente, de tal forma que viabiliza o empreendimento em tempo que justifique o risco do investimento. Além disso, o período entre o início das obras até a operação comercial (início das receitas) é maior que nas instalações das térmicas. Cardu e Baica (1999) estabelecem o conceito de Dióxido de Carbono Equivalente [(CO2)eq] baseando-se na concentração máxima permitida para o CO2 na atmosfera. Para quantificar o impacto ambiental, os autores propõem um indicador, caracterizado como a razão entre o Dióxido de Carbono Equivalente do combustível e seu Poder Calorífico Inferior (PCI), ao qual se deu o nome de “Indicador de Poluição”. Relacionando o dióxido de carbono emitido pelo processo de combustão com seu poder calorífico, foram possíveis as comparações entre combustíveis heterogêneos. Porém, um combustível pode possuir um poder calorífico alto e emitir uma grande quantidade de poluentes na atmosfera, ou ter a emissão de gases nocivos desprezível ou nula, mas não possuir a energia desejada para se obter uma boa eficiência no processo produtivo. Partindo-se da hipótese de que o melhor combustível é aquele que possui o menor Indicador de Poluição, foi proposto um indicador mais complexo e adimensional, que expressasse o impacto ecológico dos componentes dos gases nocivos emitidos na atmosfera após a queima de um combustível em relação à energia útil produzida por usinas termelétricas. Jᴓrgensen (1999) relata dois grandes problemas na modelagem ecológica: (i) como obter parâmetros confiáveis e (ii) como construir propriedades do ecossistema em modelos. O autor apresenta o estado da arte do modelamento ecológico com ênfase no desenvolvimento 25 de modelos dinâmicos e relata problemas, sendo os principais deles: (i) não havia dados suficientes para desenvolver modelos que pudessem fornecer prognósticos confiáveis, (ii) a estimativa de parâmetros era o ponto mais fraco da modelagem e (iii) os modelos não refletiam as propriedades reais dos ecossistemas, particularmente a sua adaptabilidade e a capacidade de atender às mudanças nas funções, forçando a modificação na composição de espécies, tais como, modelos Fuzzy, inteligência artificial, banco de dados de parâmetros ecológicos, desenvolvimento de modelo estrutural dinâmico e uso das teorias do caos e da catástrofe. Várias pesquisas são propostas para resolver esses problemas e conclui-se que os ecossistemas possuem muitas diferenças no aspecto físico, principalmente devidas às suas enormes adaptabilidades. St. Louis et al. (2000) demonstram que os reservatórios são fontes de GEE para a atmosfera e que suas áreas alagadas têm aumentado ao ponto em que elas deveriam ser incluídas em inventários globais de emissões antrópicas de gases de efeito estufa. Os autores esclarecem que a determinação do efeito global de todos os tipos de reservatórios sobre a atmosfera requer duas partes gerais de informação: medições do fluxo de reservatórios, o qual varia em quantidade de carbono orgânico inundada, idade do reservatório e distribuição global; e a área de superfície de todos os reservatórios em nível mundial. As medições realizadas utilizaram câmaras flutuantes e/ou o método camada limite na coleta dos gases em fluxos de difusão e de ebulição. A Comissão Mundial de Barragens (WCD, 2000) disponibilizou um relatório que contempla os aspectos dos reservatórios e seus impactos e expõe mundialmente a contribuição desses nas emissões de GEE, reforçando a importância dos mesmos nas áreas da regularização do rio, pesca, energia, dentre outros. A natureza dos impactos das grandes barragens sobre os ecossistemas era geralmente bem conhecida pelos cientistas, ONGs e grupos profissionais, tais como a Comissão Internacional de Grandes Barragens (CIGB), Associação Internacional de Hidrelétricas (IHA) e a Agência Internacional de Energia (AIE), os quais têm escrito extensivamente sobre os reservatórios. Os impactos no ecossistema foram classificados de acordo com as seguintes categorias: (i) impactos de primeira ordem, os quais envolvem consequências físicas, químicas e geomorfológicas de bloqueio de um rio, alterando a distribuição natural e o regime de vazões; (ii) impactos de segunda ordem, que abrangem mudanças na produtividade biológica primária dos ecossistemas, incluindo os efeitos sobre ribeirinha e ripícola planta-vida e no habitat a jusante, tais como zonas úmidas; ou (iii) impactos de terceira ordem, os quais incluem alterações na fauna (como peixes) causadas por 26 um efeito de primeira-ordem (como a migração de bloqueio), ou por um efeito de segunda ordem (como a diminuição na disponibilidade de plâncton). A Associação de Equipamentos de Usinas Hidrelétricas (HEA, 2001), mencionou sua contribuição inicial dentro do IHA desde 2001 (ano de fundação) como associação dos fabricantes de equipamentos voltados para hidrelétricas e apresentou a importância do desenvolvimento de equipamentos que sejam mais eficientes e com menor impacto ambiental. Além disso, visou atender às soluções que modernizassem as hidrelétricas existentes e que integrassem plantas menores na rede. A associação é composta pelos principais fabricantes mundiais, tais como ALSTOM, VOITH, IMPSA e ANDRITZ. Fearnside (2004), em relação à controvérsia dos reservatórios de hidrelétricas serem considerados fontes de energia limpa, expôs que a coluna d’água contém metano em níveis que podem atingir a entrada da tomada d’água para as turbinas e para os vertedouros. Os reservatórios se tornam fábrica de metano com a alteração na elevação da coluna d’água e alagamento de grandes áreas através da inundação de terras ao seu redor, na zona litorânea. Quanto maior a profundidade, maior é a concentração de metano. Rosa et al. (2004) realizaram pesquisa de campo através de medições nas principais usinas do país e referiram-se às emissões de GEE de reservatórios hidrelétricos em regiões tropicais. Os casos estudados no Brasil, entre o período de 1992 a 2002, foram: Tucuruí (PA), Balbina (AM), Samuel (AM), Curuá-Una (AM), Serra da Mesa (MG), Itaipu (SC), Miranda (MG), Três Marias (MG), Barra Bonita (SP), Segredo (PR), Xingó (AL/SE) e Samuel (RO). Os autores indicam que as emissões de GEE pelas turbinas hidráulicas quando tomada a água na região da estrutura de adução, localizada na parte mais profunda do reservatório, em que a concentração de metano é maior. Com relação às emissões a jusante da usina hidrelétrica, afirmam que o impacto da emissão do metano por unidade de área é muito menor quando comparado com a do reservatório (milhar). Destacou-se uma importante observação com relação à baixa relação com as emissões e a idade do reservatório, possivelmente pela decomposição não ser somente pela biomassa existente no reservatório, mas, também, pela arrasto da matéria orgânica de bacias de drenagens a montante. Em termos gerais, sugeriram que o risco de emissões de GEE pode ser reduzido se evitada uma baixa relação da densidade de potência (W/m²), sendo essa razão da potência instalada da usina com a área alagada pelo reservatório, na ordem de 0,1 W/m², juntamente com a realização da limpeza prévia da biomassa na região a ser alagada. Fearnside (2005) compara as emissões de GEE da barragem da hidrelétrica de Curuá- Una com as emissões que seriam liberadas se a mesma geração de eletricidade fosse feita por 27 usinas termoelétricas. A usina apresentava uma grande área de deplecionamento, ou seja, a variação sazonal do nível da água (entre a máxima e a mínima elevação) representa 6 metros. Em Itaipu, por comparação, essa variação é de 20 a 40 centímetros. Dessa forma, as grandes áreas expostas no período seco se tornariam fonte de matéria vegetal verde para zonas anóxicas (sem oxigênio) quando do alagamento destas áreas em períodos chuvosos. O trabalho conclui que o impacto de Curuá-Una, em relação a uma mesma quantidade gerada em térmica é 3,7 vezes maior. Santos et al. (2006) apresentam resultados de medições de CO2 e CH4 em vários reservatórios brasileiros e comparam com as emissões de termoelétricas hipotéticas de mesma potência. A “emissão bruta de GEE” é aquela que não exclui a emissão no pré-reservatório, ou seja, emissões naturais desses gases da própria bacia antes da construção da barragem. Apesar das medições de gases serem consideradas como “emissões brutas”, as hidrelétricas apresentaram melhores resultados na maioria dos casos estudados. As usinas estudadas foram: Miranda, Barra Bonita, Segredo, Três Marias, Xingó e Tucuruí. Dados adicionais referentes aos reservatórios das hidrelétricas de Itaipu e Serra da Mesa foram obtidos e indicados no trabalho em questão. Dependendo do tipo da tecnologia, as eficiências de uma planta térmica a ciclo combinado ou simples eram de 30% e 50%, respectivamente. Conclui-se que as hidrelétricas que superaram nas emissões em relação às térmicas foram: Samuel, Serra da Mesa e Barra Bonita. Xingó obteve desempenho inferior quando comparada à tecnologia de ciclo combinado a gás. Tucuruí obteve desempenho superior em todas as tecnologias, exceto para ciclo combinado a gás, no qual se verificou a mesma quantidade de emissão de tC. Ferreira et al. (2006) demonstram que a construção e a operação de usinas hidrelétricas geram inúmeros impactos ambientais, alguns deles denominados externalidades negativas, cujos custos não são repassados aos consumidores e são pagos pela sociedade. Os projetos cotejados pelo setor elétrico contemplam a análise das emissões de GEE. Uma forma de mitigação é a retirada da vegetação das áreas a serem submersas, sendo esse processo raramente efetuado devido aos custos adicionais envolvidos. O trabalho apresenta custos para as externalidades negativas com base em emissões de oito reservatórios de Minas Gerais: Três Marias, Nova Ponte, Camargos, Emborcação, Miranda, Salto Grande, Itutinga e Piau. O cálculo foi realizado pelo produto do preço estimado da tonelada de massa de carbono de 5 dólares (o preço estimado pelo Banco Mundial era de 5 a 15 dólares) com a emissão de tCO2 equivalente, utilizando um potencial de aquecimento global para o metano de 20,1 vezes em relação ao CO2. Em sequência, realizaram um comparativo do impacto do custo de externalidades pela geração com o preço da tarifa de energia elétrica, todos em R$/MWh. O 28 resultado maior foi em Três Marias, em que o custo de externalidades representou 35% do custo da tarifa, porque a razão da produção de GEE pelo MWh gerado foi a maior dentre os oito reservatórios. Villela e Silveira (2007) utilizam o conceito de eficiência ecológica em plantas termoelétricas como sendo um número que permite avaliar o impacto ambiental das emissões gasosas de um sistema mediante uma comparação entre emissões de poluentes integrados hipoteticamente (emissões equivalentes de CO2) com os padrões existentes de qualidade do ar. Eles determinaram a eficiência ecológica em duas plantas térmicas de tecnologias diferentes, gás natural e diesel, e verificaram que a planta termoelétrica a gás possui uma eficiência de 94,4%, enquanto a planta diesel alcançou 91,4%, resultando a última tecnologia como a menos atrativa sob a ótica do impacto ambiental. O Ministério de Minas e Energia (BRASIL, 2006b) preparou o primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa em reservatórios nacionais, relatando as emissões de CO2 e CH4 pelos reservatórios de importantes usinas hidrelétricas e relacionando uma avaliação através de comparativos com diversas tecnologias de plantas termoelétricas equivalentes. Os resultados e os reservatórios estudados foram os mesmos apresentados por Santos (2006). O inventário concluiu que a energia hidrelétrica não é uma fonte isenta de emissões atmosféricas e as emissões de CO2 e CH4 são de origens biogênicas. As emissões são variantes no tempo e podem alterar de acordo com a profundidade e com a distribuição da biomassa submergida. Ainda de acordo com o inventário, há um provável aumento brusco nas emissões logo após a submersão e, posteriormente, estas seguem com uma taxa desconhecida. As hidrelétricas foram comparadas com as alternativas de geração térmicas e os resultados foram melhores na maioria dos casos estudados, o que as reforçou como uma solução de geração viável para minimizar os efeitos do aquecimento global. O risco pode ser reduzido quando utilizada uma baixa relação de densidade de potência com a área alagada (W/m²) e desmatando-se o reservatório antes da inundação. Santos et al. (2008) apresentam os efeitos e as variáveis nas emissões de gases de efeito estufa por reservatórios de hidrelétricas. Foram analisadas questões relacionadas às emissões a jusante do reservatório, à extrapolação de um dado para outra área do reservatório e de um reservatório para outro, ao comportamento das emissões no tempo, às emissões líquidas versus emissões brutas e a origem da matéria orgânica. Em resumo, destacam que: (i) a emissão a jusante de metano é influenciada pela vazão de água que passa pela turbina, tomada na região de água profunda do reservatório, em que a concentração de CH4 é maior; (ii) a recomendação do uso de extrapolação por faixas de profundidade (de forma ponderada) 29 com o emprego de um modelo geométrico ou de um modelo matemático polinomial do tipo elevação versus área ou, em melhor caso, o uso de um modelo digital de dados batimétricos. Com relação à extrapolação entre diferentes reservatórios, um dos maiores desafios era obter um valor de emissões para cada um deles e para um conjunto de todos os existentes; (iii) de acordo com experiências empíricas existiam duas fases distintas nas emissões de GEE nos reservatórios hidrelétricos: o primeiro estágio referia-se ao enchimento até seus primeiros anos de existência (3 a 5 anos), em que as emissões atingem seus altos valores e, no segundo estágio, as emissões alcançam o regime permanente, sendo que as principais fontes dos gases são as biomassas formadas no próprio reservatório, as que chegam pelo afluente com a contribuição ao longo da bacia e uma pequena parcela da biomassa residual; (iv) as emissões brutas eram aquelas que não descontavam as emissões naturais anteriores à construção do reservatório e, quando descontadas, passaram a ser líquidas; (v) a fonte de matéria orgânica podia ser a biomassa inundada pré-existente, carbono orgânico dissolvido e particulado trazido da área terrestre circunvizinha (escoamento superficial, água subterrânea, chuva) e a biomassa gerada dentro do reservatório (produção primária). Os pesquisadores concluíram que a variação das emissões dos gases inter e intra-reservatórios pode ser atribuída a distintos regimes de circulação de águas, os quais proporcionam condições diferenciadas de qualidade de água e geração de matéria orgânica. Notou-se que o regime operacional também pode influenciar nas emissões de gases quando o reservatório depleciona de maneira rápida, expondo os braços e/ou áreas mais rasas ao crescimento de vegetações que, ao serem inundadas, dão origem a intensa metanogênese e, consequentemente, emitem GEE. Fearnside (2008) recomenda calcular as emissões de GEE de barragens hidrelétricas como meio de tomada de decisão em investimentos públicos em várias opções para geração de energia elétrica. Ao contabilizar as emissões de um reservatório, seria necessário excluir as já existentes na água do rio sem a construção da barragem. À época do estudo, existiam poucas medidas diretas e o método de aproximação mais utilizado naquele momento era a extrapolação; a vantagem era a de não requerer nenhuma informação detalhada sobre as características de cada reservatório. O autor esclarece que um método exigente inclui uma série de cálculos baseados no perfil de concentração de metano, ciclos sazonais em concentração, profundidade das turbinas e vertedouros, juntamente com os níveis de água do reservatório, as posições da tomada d’água (turbinas) e do vertedouro (comportas), com os respectivos fluxos de água nessas estruturas. O enchimento provoca altas emissões nos primeiros anos, devido ao CH4 gerado pela decomposição da biomassa herbácea inundada, bem como ao CO2, originado pela decomposição da parte acima d’água das árvores da 30 floresta mantidas na região do reservatório. Passada a fase dos primeiros anos, as emissões permanentes ficam por conta da vegetação exposta no deplecionamento do reservatório e de macrófitas. Realizou-se uma analogia do efeito da baixa pressão na tomada de água pela turbina com a abertura de uma garrafa de refrigerante, apresentando o efeito da solubilidade do gás através da Lei de Henry, ou seja, quando a água emergir das turbinas, a pressão cai imediatamente, liberando os gases dissolvidos. A facilidade com que o gás sai da solução é determinada pela constante da Lei de Henry: no caso do CH4 esta constante é maior do que no caso do CO2, fazendo com que as bolhas de metano sejam desprendidas com maior facilidade. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2008) disponibilizou um relatório sobre o status das emissões de GEE (CO2 e CH4) de reservatórios com o apoio de um grupo de trabalho internacional e multidisciplinar. Nesse relatório, destaca-se a importância dos reservatórios no controle de vazões e seu multiuso, tais como o abastecimento de água, irrigação, mitigação de enchentes, proteção contra o efeito da seca, navegação e geração de energia. Indica-se que a emissão de metano está em função do tipo e da densidade da biomassa alagada, do crescimento de macrófitas aquáticas, da velocidade do vento, da temperatura, da saturação do oxigênio e do nível da água. Os fatores que poderiam direcionar as emissões de GEE são as temperaturas da água e do ar, pluviosidade ou os parâmetros chaves, sendo esses, o conteúdo de oxigênio dissolvido, a carga de carbono, tempo de residência ou produção primária. Jᴓrgensen (2008) realiza um trabalho de visão geral dos tipos de modelos disponíveis para desenvolvimento de modelagem ecológica através de um levantamento estático de modelos apresentados em trabalhos científicos nos seguintes períodos: (i) 1975-1982: modelos estocásticos, modelos de distribuição espacial e modelos estruturalmente dinâmicos, modelos baseados na utilização de estatísticas, modelos Fuzzy, modelos usando teoria da catástrofe, modelos dinâmicos da população e modelos biogeoquímicos; (ii) 2000-2006: modelos estocásticos, modelos estruturalmente dinâmicos, modelos estatísticos, modelos Fuzzy, modelos baseados no uso da teoria da catástrofe, modelos dinâmicos da população, modelos biogeoquímicos, modelos de distribuição espacial, modelos baseados no indivíduo, modelos de redes neurais artificiais, modelos desenvolvidos pelo uso da inteligência artificial, modelos que usam a teoria do caos e modelos estáticos. Com predominância no primeiro período do modelo biogeoquímico, seguido pelo tipo de dinâmica da população, e no segundo período ainda liderado pelo biogeoquímico, e na sequência os tipos dinâmica da população e distribuição espacial. Cada modelo apresentou suas vantagens e desvantagens, destacando-se a necessidade de informações disponíveis e/ou grandes banco de dados, ou seja, modelos 31 estatísticos tinham a vantagem de não exigir um banco de dados sofisticado, ao contrário de todos os outros modelos apresentados, que precisavam de várias informações para as interações dentro dos elementos internos aos próprios modelos. A Associação Internacional de Usinas Hidrelétricas (IHA, 2010), elaborou dois documentos, sendo um para avaliação de sustentabilidade da usina hidrelétrica e outro para guiar as medições de GEE de reservatórios. O primeiro documento foi direcionado para as diversas questões envolvidas na avaliação dos impactos sob a ótica do planejamento do reservatório, qualidade da água, regime de fluxos a jusante, biodiversidade, erosão e sedimentação, preparação e enchimento do reservatório, dentre outros. Cada questão foi avaliada por uma pontuação entre 1 (mínimo) a 5 (máximo), sendo o mínimo uma pontuação em que o reservatório não cumpre os requisitos ou possui lacunas que indicam a existência de impactos negativos na avaliação do mesmo e o máximo atende os requisitos abordados no guia. Por exemplo, no que tange ao planejamento e ao enchimento do reservatório, levantaram-se questões sobre o atendimento das boas práticas e do gerenciamento aos requisitos de construção, de meio ambiente e de aspectos sociais. Cada resultado relacionado ao tema permite avaliar a pontuação média final do empreendimento e qualificá-lo como sustentável ou não. O segundo documento foi divido em três partes principais: (i) conceitos e processos: apresentaram-se os assuntos relativos às emissões e às variáveis do processo, tais como os parâmetros chave que podem predizer a emissão dos GEE ou a vulnerabilidade para elevadas emissões, sendo esses a concentração de oxigênio dissolvido, a temperatura da água, o estoque de matéria orgânica, a fonte de nutrientes, a luz, a biomassa (plantas, algas, bactérias e animais, etc), os sedimentos, a estratificação do corpo do reservatório, a velocidade e a direção do vento, a área alagada, a pluviosidade, as velocidades de corrente de água, as profundidades, as reduções nas pressões hidrostáticas (quando a água é tomada em baixas profundidades) e o aumento da turbulência a jusante do reservatório associadas com as estruturas auxiliares (vertedouro); (ii) manual de campo: incluiu instruções de como conduzir as medições de GEE nos ecossistemas terrestre e aquático. Analisaram-se os equipamentos de medições, tais como, a câmara flutuante (emissões de superfície) e o funil (emissão por bolhas); (iii) manual de cálculo: incluem equações de suporte às medidas obtidas em campo e metodologia para extrapolação de dados. Siqueira e Silveira (2010) analisam a eficiência energética com a utilização das vazões mínimas da curva de permanência juntamente com a avaliação econômica do investimento. O empreendimento é dimensionado para atender uma série de vazões através de duas unidades geradoras, porém, quando utilizadas as vazões mínimas do projeto para dimensionar a terceira 32 unidade geradora, a energia produzida aumenta, juntamente com o custo e com o período de amortização do capital investido. Siqueira e Silveira (2011) realizam a análise da eficiência ecológica considerando um modelo de reservatório hipotético trapezoidal. A emissão média de tCO2eq foi obtida através de um modelo de volume e seção de uma Figura plana trapezoidal. Aplicou-se o efeito da série histórica de vazões mensais do empreendimento e as emissões de CO2 e CH4 mensais foram determinadas segundo o comportamento da área alagada, juntamente com os limites operacionais da hidrelétrica. Com base no indicador de poluição e eficiência da usina, determinou-se a eficiência ecológica do projeto. Economicamente, certificou-se o impacto no período de amortização do capital investido (pay-back) sob dois cenários: com e sem aplicação da eficiência ecológica. Mäkinen e Khan (2010) abordam considerações políticas sobre as emissões de GEE pelos reservatórios, afirmando que a distância entre um impacto global sobre o clima e a necessidade de medidas de mitigação local enseja a busca por mecanismos apropriados para combater essas emissões. Eles mencionam que a demanda sociopolítica é chave para a construção de barragens. A restrição de projetos hidrelétricos com base no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) se baseia no relatório da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) de 2006. Para identificar as hidrelétricas como potenciais emissoras de GEE, o MDL realizou verificação pela densidade de potência, a qual é a razão da potência instalada da usina com sua respectiva área alagada (W/m²). Isto significa que um baixo valor para a densidade de potência indica que a usina hidrelétrica precisa de uma grande área alagada para produzir energia elétrica. O oposto é o desejado, ou seja, quanto maior a densidade de potência menor será área a ser alagada para produção de eletricidade. Os mesmos autores expõem que projetos em que a densidade de potência está na razão inferior a 4 W/m² devem ser desconsiderados do ambiente de MDL, ao contrário dos que possuem valores superiores a 10 W/m², estando esses dentro do MDL e caracterizados como projetos com emissões de GEE a serem desprezadas. Quando a densidade estiver compreendida entre 4 e 10 W/m², o projeto deve ser caracterizado dentro de uma emissão de 90 gCO2-eq/kWh. A IHA (2012) disponibilizou uma ferramenta, na versão beta, norteada pelo próprio guia emitido em 2010 (IHA, 2010). Nessa ferramenta foram apresentados os três modelos empíricos de reservatórios com as seções típicas denominadas de U, V e Y e as superfícies de área alagada nos formatos 1 (oval), 2 (circular) e 3 (irregular). As emissões são relacionadas com a idade do reservatório, a temperatura, a precipitação anual e as áreas inundadas pela sazonalidade do reservatório. 33 Kumar e Sharma (2014) mencionam o impacto da qualidade da água sobre as emissões de reservatórios hidrelétricos e apontaram que, de acordo com a mudança climática, as emissões de gases de efeito estufa (GEE), como CO2 e CH4, a partir de reservatórios artificiais, especialmente em regiões tropicais, estão resultando no aquecimento global. O CO2 e CH4 em reservatórios hidrelétricos são produzidos devido à decomposição da matéria orgânica na parte inferior. Com a finalidade de encontrar a relação entre as emissões de CO2 e CH4 com a qualidade da água, 10 parâmetros de qualidade da água foram avaliados. Segundo os autores, a análise indicou que as emissões de CO2 dos reservatórios Indianos estudados foram, principalmente, em função do pH, alcalinidade e OD. As emissões de CH4 não foram encontradas, devido à natureza superficial do reservatório. Conclui-se que o tema é amplamente discutido por diversos setores e há consenso entre os pesquisadores e cientistas de que as emissões de GEE pelos reservatórios são atuais e devem ser cada vez mais trabalhadas com o propósito de encontrar um denominador comum que auxilie na determinação dos gases, seja pelo aumento de campanhas de medições em campo, buscando fortalecer as equações empíricas, ou por modelos e teorias que relacionem as reações e a interdependência dos componentes que atuam na usina hidrelétrica. Constata-se que o estado da arte para medições em campo considera tipos de instrumentos, os quais, na maioria dos casos, são equipamentos típicos, como o da câmara flutuante na coleta dos gases do processo de difusão (água-ar) e do funil na coleta dos gases emitidos por bolhas (água-sedimento). Com relação ao modelo, este pode ser de vários tipos, dependendo da condição de contorno, do número de dados de entrada e de saída e do tamanho do banco de dados. Nesse trabalho, considera-se o modelo estático, utilizando uma ferramenta de Software (Excel®), com variações mensais correspondentes às quantidades de meses da série histórica de vazões e verifica-se o comportamento das emissões de GEE ao longo do período em função do regime operacional da usina hidrelétrica. 34 CAPÍTULO 3 ASPECTOS GERAIS DAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS As centrais hidrelétricas cumprem papel dominante na geração de energia elétrica dentro da matriz energética brasileira, alcançando, em 2012, uma participação em torno de 75% do total de potência instalada no Brasil. Porém, o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE-2022) do Ministério de Minas e Energia (BRASIL, 2013b) propõe a redução da participação das hidrelétricas para 68,8% e um maior destaque à energia eólica no complemento da matriz energética, assumindo 9,5%, contra uma discreta participação de 1,5% em 2012. A maior parte do potencial hídrico nacional a ser explorado está na Região Amazônica. Sabendo-se da importância da diversificação e da integração de tecnologias na geração de energia elétrica dentro da matriz, aliada a uma produção ambientalmente correta, torna-se necessário verificar os empreendimentos no contexto da responsabilidade dos impactos causados ao meio ambiente. Setores governamentais, privados e pesquisadores têm buscado desenvolver uma metodologia com a finalidade de identificar os tipos de fontes geradoras, que minimizem a contribuição negativa referente às emissões de poluentes. Atualmente, fontes que emitem GEE têm sido evitadas ou têm a participação reduzida na matriz energética, a fim de diminuir os efeitos do aquecimento global. Sabe-se que as hidrelétricas contribuem com as emissões de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). Estudos foram realizados em diversos reservatórios de usinas hidrelétricas brasileiras obtendo resultados empíricos, porém, existe a necessidade de encontrar uma metodologia que determine, de modo geral, as emissões pelas hidrelétricas. Sendo assim, torna-se essencial entender os aspectos gerais inerentes às usinas hidrelétricas, para relacionar as estruturas hidráulicas ao tipo de tecnologia, de baixa, média e alta queda. 3.1 COMPONENTES DE CENTRAIS HIDRELÉTRICAS Tipicamente, as estruturas e os equipamentos relacionados às centrais hidrelétricas são classificados em civis, mecânicos, elétricos e de transmissão, conforme Tabela 1. 35 Tabela 1 – Estruturas e equipamentos típicos de centrais hidrelétricas Equipamentos civis Equipamentos Mecânicos Equipamentos Elétricos Transmissão Barragem Turbinas hidráulicas Geradores elétricos Subestação elevatória Vertedouro Válvulas Equipamentos de média tensão Linha de transmissão Tomada D’água Comportas Serviços auxiliares elétricos Subestação abaixadora ou coletora Órgãos adutores de água e tubulação forçada Ponte rolante Sistema de supervisão, controle e proteção Câmara de carga e chaminé de equilíbrio Serviços Auxiliares Mecânicos Casa de Força Fonte: Elaborada pelo autor. A Figura 2 mostra o arranjo típico em planta de uma central hidrelétrica após a construção da barragem, juntamente com as estruturas auxiliares (vertedouro e tomada d’água). O corte típico da hidrelétrica e a conexão com o sistema externo até o consumidor são apresentados na Figura 3. Figura 2 – Arranjo geral em planta de uma usina hidrelétrica Fonte: Adaptado foto GOOGLE MAPS (2015) RESERVATÓRIO VERTEDOURO CASA DE FORÇA BARRAGEM CANAL DE FUGA TOMADA D’ÁGUA 36 Figura 3 – Arranjo geral em corte de uma usina hidrelétrica Fonte: Adaptado de FURNAS (2013a) onde: 1- Reservatório; 2- Comporta da tomada d’água; 3- Barragem; 4- Conduto forçado (tubulação de alta pressão); 5- Turbina hidráulica; 6- Gerador elétrico; 7- Canal de fuga; 8- Transformador elevador; 9- Linha de transmissão; 10- Subestação abaixadora; 11- Rede de distribuição; 12- Transformador abaixador; 13- Medidor; 14- Consumidor. Em síntese, produz-se energia elétrica a partir do armazenamento do volume de água no reservatório, que, em seguida, é conduzido pelos circuitos hidráulicos de adução (tomada d’água, tubulação de baixa e alta pressão) até as turbinas hidráulicas que transformam as energias de pressão e cinética em energia mecânica no eixo da turbina. As turbinas estão 37 acopladas aos geradores elétricos que, por sua vez, convertem a energia mecânica em energia elétrica, a qual será transmitida à rede de transmissão do sistema elétrico, passando pelos transformadores elevadores, subestação elevatória, linha de transmissão, subestação abaixadora, rede de distribuição, transformador abaixador, medidor e consumidor. Os demais sistemas associados (equipamentos mecânicos e elétricos) possuem a função de auxiliar e de proteger os principais equipamentos de produção (turbina, gerador, transformador, etc.) e de conexão da planta hidrelétrica ao sistema elétrico. Dentre os componentes citados, analisa-se o comportamento da central hidrelétrica sob o aspecto do reservatório e do dimensionamento de unidades geradoras, pois esses são a base para determinar o regime de operação e a área alagada. 3.2 TURBINAS HIDRÁULICAS Basicamente, as turbinas hidráulicas podem ser do tipo reação ou do tipo ação. As turbinas do tipo reação são aquelas que convertem a energia mecânico-hidráulica, das formas cinética e de pressão, em energia mecânico-motriz, enquanto as do tipo ação transformam somente a energia cinética da água. Dentre outros tipos, a turbina Pelton é do tipo ação e as turbinas Francis e Kaplan têm maior notoriedade dentre as do tipo reação. A Figura 4 apresenta um gráfico com as faixas de aplicação das Turbinas Pelton, Kaplan e Francis, sendo possível selecionar a mais adequada ao projeto. Figura 4 – Gráfico das faixas de aplicação de turbinas Pelton, Kaplan e Francis. Fonte: VOITH (2008) apud MIRANDA (2009) 38 O rotor Pelton é constituído de uma coroa circular ao redor da qual são fixadas pás ou conchas. Essas conchas têm o formato de uma colher dupla, como se fossem montadas lado a lado, formando um septo central. A altura topográfica do aproveitamento e a potência mecânica da turbina definem o número de conchas do rotor Pelton, seu diâmetro e rotação (SIMONE, 2000). A Figura 5 ilustra a turbina mencionada, juntamente com seu respectivo rotor. Figura 5 – Modelo 3D de uma turbina tipo Pelton com 4 injetores. Fonte: ALSTOM (2014a). O rotor tipo Francis é constituído por certo número de pás com perfis de curvaturas especiais, fixas e estruturadas entre as coroas interna e externa. Nesse tipo de turbina, o fluxo d’água é direcionado e distribuído igualmente na direção radial, por toda a periferia da entrada do rotor, saindo em sua direção axial (SCHREIBER, 1978). A Figura 6 ilustra o rotor de uma turbina tipo Francis durante o processo de fabricação. Figura 6– Roda de uma turbina Francis em processo de fabricação Fonte: ALSTOM (2014b). A A 39 O desempenho deficiente da turbina Francis sob quedas baixas conduziu à invenção das turbinas hélices, nas quais o rotor é constituído por um núcleo central, um cubo hidrodinâmico fixo à extremidade da árvore principal que sustenta um pequeno número de pás em forma de hélice. Nesse tipo de turbina, o fluxo d’água é orientado de maneira que, tanto na entrada quanto na saída do rotor, sua direção coincida com a da árvore. As turbinas hélices podem ser de pás fixas ou ajustáveis, sendo estas conhecidas como turbinas Kaplan (SCHREIBER, 1978). A Figura 7 ilustra o rotor de uma turbina tipo Kaplan. Figura 7 – Modelo 3D de uma turbina Kaplan Fonte: ALSTOM (2014c). 3.3 ESTRUTURAS HIDRÁULICAS E SUAS RESPECTIVAS ÁREAS ALAGADAS O reservatório hidrelétrico tem uma importante função no armazenamento de água para regularização da geração de energia ao longo do tempo. No período chuvoso, a produção de energia está em seu ponto mais alto e o armazenamento de água fica garantido com o volume a ser consumido em períodos secos (não chuvosos) pelas turbinas hidráulicas. O tipo de reservatório é idealizado com base em estudos do aproveitamento hidrelétrico e de sua localização geológica, sendo o aproveitamento classificado em três tipos de queda: alta, média e baixa. Observa-se que as estruturas entre a barragem e a casa de força funcionam com a seguinte concepção: - Baixa queda, a qual tende a possuir estrutura de barragem próxima da casa de força; - Alta queda, a qual tende a possuir estrutura de barragem longe da casa de força; 40 - Média queda, a qual tende a possuir distâncias intermediárias entre os tipos citados anteriormente. Verifica-se, também, que os aproveitamentos têm características típicas no que diz respeito à série de vazões, sendo que projetos com grandes vazões referem-se às estruturas instaladas em baixa queda, e projetos com vazões menores, referem-se às estruturas instaladas em alta queda. Conforme mencionado anteriormente, pode-se correlacionar os tipos básicos de turbinas hidráulicas aos tipos de queda, como segue: - Baixa queda: turbinas Kaplan; - Alta queda: turbinas Pelton; - Média queda: turbinas Francis. Com base no exposto, pode-se determinar três esquemas básicos de geração de energia, mostrados nas Figuras 8, 9 e 10. Para melhor identificar os trechos das estruturas, deve-se considerar a seguinte legenda: - BR: Barragem; - TDA: Tomada d’Água; - CKT-H: Circuito Hidráulico de adução; - CF: Casa de força; - CFG: Canal de fuga. Observa-se que cada esquema de geração considera uma tecnologia de turbina hidráulica determinada pela queda do empreendimento. As estruturas de barragem possuem dimensões diferenciadas quanto à vazão do projeto. 41 Figura 8 – Esquema típico de geração de energia em baixa queda. Fonte: Elaborada pelo autor Em empreendimento de baixa queda, a experiência mostra que as estruturas de barragem (BR) e de tomada d’água (TDA) ficam próximas à casa de força (CF) e o circuito hidráulico (CKT-H) possui um trecho muito curto, quase inexistente, praticamente conectado diretamente à turbina hidráulica. Normalmente, a adução de água não é feita por tubulação de aço, mas incorporada pela própria estrutura da barragem. A característica da turbina Kaplan é operar com baixa queda e com altas vazões. Dessa forma, as estruturas de barragem, o circuito de adução e o volume do reservatório ficam em tamanhos maiores e, consequentemente, a área alagada será maior. Figura 9 – Esquema típico de geração de energia em alta queda. Fonte: Elaborada pelo autor 42 Em empreendimento de alta queda, as estruturas de barragem (BR) e de tomada d’água (TDA) ficam distantes da casa de força (CF) e o circuito hidráulico (CKT-H) possui um trecho muito longo. Devido às distâncias entre elas, normalmente, a adução é feita desde a barragem em canal aberto e/ou com trecho de tubulação em baixa pressão até uma estrutura intermediária de tomada d’água, quando inicia o trecho do circuito hidráulico com tubulação em alta pressão até a entrada do conjunto válvula-turbina hidráulica. A característica da turbina Pelton é operar com alta queda e com baixas vazões. Dessa forma, as estruturas de barragem e o circuito de adução ficam em menores tamanhos, inclusive o volume do reservatório e, consequentemente, a área alagada será menor Figura 10 – Esquema típico de geração de energia em média queda. Fonte: Elaborado pelo autor Em empreendimento de média queda, as estruturas de barragem (BR) e de tomada d’água (TDA) encontram-se não tão distantes da casa de força (CF) e o circuito hidráulico de adução (CKT-H) possui um trecho de comprimento intermediário aos abordados em baixa e alta queda. Devido às distâncias entre elas, normalmente, a adução é feita por tubulação de aço em alta pressão até a entrada da turbina hidráulica. A característica da turbina Francis é operar com média queda e com vazões intermediárias às tecnologias de baixa e de alta queda. Dessa forma, as estruturas de barragem e o circuito de adução ficam também em tamanhos intermediários, inclusive o volume e a área alagada do reservatório. Pode-se citar como exemplos algumas estruturas relacionadas às principais plantas hidrelétricas, juntamente com suas características básicas. Observa-se que o volume do reservatório de cada planta possui sua área alagada, a qual é influenciada pela regularização de vazões, pelos parâmetros de potência instalada, pela queda e pela vazão. 43 A Figura 11 mostra a estrutura da usina hidrelétrica de Balbina, localizada no Estado do Amazonas, a qual é classificada como um empreendimento de baixa queda e de altas vazões. Figura 11 – Estrutura típica de usina hidrelétrica em baixa queda – UHE Balbina. Fonte: Elaborada pelo autor com base em ELETRONORTE (BRASIL, 2014) e GOOGLE MAPS (2015). A Tabela 2 relaciona os dados básicos da usina hidrelétrica de Balbina. Tabela 2 – Dados básicos da UHE Balbina. Balbina Descrição Valor Unidade Potência Instalada Total 250,00 [MW] Número de Máquinas 5,00 [-] Queda Líquida 21,85 [m] Vazão Unitária 245,54 [m³/s] Tipo de Turbina Kaplan [-] Classificação Baixa Queda [-] Área Inundada 2360 [km²] Fonte: Elaborada a partir de dados de ETTERN/IPPUR/UFRJ (2014). RESERVATÓRIO: 2360 km² BARRAGEM CASA DE FORÇA TOMADA D’ÁGUA CASA DE FORÇA + TOMADA D’ÁGUA CIRCUITO DE ADUÇÃO NO CORPO DA BARRAGEM 44 A Figura 12 mostra a estrutura da central hidrelétrica de Henry Borden, localizada no sopé da Serra do Mar, no município de Cubatão – São Paulo, a qual é classificada como um empreendimento de alta queda e aproveitamento com baixas vazões. Figura 12 – Estrutura típica de usina hidrelétrica em alta queda – UHE Henry Borden. Fonte: Elaborada pelo autor com base em SÃO PAULO (2014) e GOOGLE MAPS (2015). A Tabela 3 relaciona os dados básicos da usina hidrelétrica de Henry Borden. Tabela 3 – Dados básicos da UHE Henry Borden. Henry Borden Descrição Valor Unidade Potência Instalada Total 889,00 [MW] Número de Máquinas 14,00 [-] Queda Líquida 719,50 [m] Vazão Unitária 9,47 [m³/s] Tipo de Turbina Pelton [-] Classificação Alta Queda [-] Área Inundada 100-200 [km²] Fonte: Elaborada a partir de dados de ETTERN/IPPUR/UFRJ (2014). RESERVATÓRIO 100-200 km² TOMADA D’ÁGUA TOMADA D’ÁGUA CASA DE FORÇA 45 A Figura 13 mostra a estrutura da usina hidrelétrica de Itaipu, classificada como um empreendimento de média queda e aproveitamento com vazões intermediárias. Figura 13 – Estrutura típica de usina hidrelétrica em média queda - UHE Itaipu. Fonte: Elaborada pelo autor com base em ITAIPU (2014) e GOOGLE MAPS (2015) A Tabela 4 relaciona os dados básicos da usina hidrelétrica de Itaipu. Tabela 4 – Dados básicos da UHE Itaipu. Itaipu Descrição Valor Unidade Potência Instalada Total 14700,00 [MW] Número de Máquinas 20,00 [-] Queda Líquida 117,00 [m] Vazão Unitária 674,00 [m³/s] Tipo de Turbina Francis [-] Classificação Média Queda [-] Área Inundada 1350 [km²] Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados de ETTERN/IPPUR/UFRJ (2014). TOMADA D’ÁGUA CASA DE FORÇA RESERVATÓRIO 1350 km² TOMADA D’ÁGUA BARRAGEM CASA DE FORÇA 46 Verifica-se que as usinas possuem potências instaladas diferenciadas, além das estruturas de barragem e da área alagada. Balbina é considerada de baixa queda e de potência inferior em relação às demais hidrelétricas, possuindo um reservatório de grandes distâncias entre as margens e a maior área alagada dentre as citadas (2350 km²). Considerada de média queda, Itaipu possui uma potência instalada muito superior a Balbina e resulta em uma área menor (1350 km²). Nas de alta queda, como Henry Borden, apesar de significativa potência instalada, a área alagada é a menor (100-200 km²). 3.4 CURVA DE PERMANÊNCIA E O ANO TÍPICO As hidrelétricas mencionadas possuem curvas de permanência que refletem as séries de vazões do aproveitamento ao longo de vários anos, sendo estas representadas através de gráficos nas Figuras 14, 15 e 16. A curva indica quanto tempo cada vazão do aproveitamento está disponível dentro de uma série de vazões. Figura 14 – Curva de permanência - UHE Balbina. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados do ONS (BRASIL, 2011). 47 Figura 15 – Curva de permanência - UHE Henry Borden. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados do ONS (BRASIL, 2011). Figura 16 – Curva de permanência - UHE Itaipu. Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados do ONS (BRASIL, 2011). Um dos critérios no dimensionamento das hidrelétricas é identificar o ano típico, o qual representa a aproximação de todas as vazões históricas registradas através dos anos pelas estações de medição de vazões instaladas na bacia. Geralmente, as vazões são médias mensais e o ano é identificado através da somatória da diferença quadrática mensal, sendo que essa diferença é a vazão do mês em referência menos a média mensal desse mesmo mês ao longo dos anos, elevado ao quadrado. Quando identificado o ano típico, iniciam-se os estudos de dimensionamento do volume do reservatório versus a motorização da usina hidrelétrica, com base no tipo de regularização (diária ou mensal) e na verificação do limiar entre o número de máquinas e a 48 quantidade de energia produzida. Ajustes no projeto do reservatório podem ser realizados em função dos custos calculados, os quais podem vir a impactar a viabilidade econômica do projeto. Diminuem-se as estruturas de barragem de forma a não afetar significativamente a energia produzida, identificando, assim, o melhor custo versus benefício do investimento e melhorando as condições de viabilidade do empreendimento. De acordo com o Atlas de Energia da ANEEL (BRASIL, 2008), identificam-se na Figura 17 as usinas hidrelétricas segundo sua área alagada. As usinas analisadas nesse Capítulo estão destacadas e pode-se observar a representação da área alagada das mesmas, sendo que Balbina está localizada no Estado do Amazonas, Itaipu no Paraná, no trecho de fronteira entre o Brasil e o Paraguai, e Henry Borden está localizada na Serra do Mar, em Cubatão – SP. Figura 17 – Usinas hidrelétricas segundo a área alagada. Fonte: Atlas de Energia da ANEEL (BRASIL, 2008). Verifica-se que os reservatórios possuem diferentes sazonalidades quando selecionado o ano típico do empreendimento com base na série histórica de vazões, conforme apresentado nas Figuras 18, 19 e 20. Balbina Henry Borden Itaipu 49 Figura 18 – Vazões mensais do ano típico - UHE Balbina. Fonte: Elaborada a partir de dados do ONS (BRASIL, 2011) Figura 19 – Vazões mensais do ano típico - UHE Henry Borden. Fonte: Elaborada a partir de dados do ONS (BRASIL, 2011) Figura 20 – Vazões mensais do ano típico - UHE Itaipu. Fonte: Elaborada a partir de dados do ONS (BRASIL, 2011). 50 Observa-se a existência de uma sazonalidade nas vazões mensais da bacia de cada hidrelétrica, identificando os períodos secos e chuvosos. Para compensar essas diferenças, em períodos chuvosos o reservatório armazena água suficiente para aumentar a disponibilidade da produção de energia elétrica em períodos secos. Quando analisado o efeito da sazonalidade entre os reservatórios, sob o âmbito nacional, conclui-se a importância do gerenciamento da disponibilidade de volumes entre os mesmos. Por uma questão hidrológica momentânea, algumas regiões podem ser impactadas por períodos de secas prolongadas que necessitem de uma diminuição no fornecimento de energia para armazenamento de água no reservatório, e em outras regiões, com chuva acima da média histórica ou com o armazenamento completo da capacidade, é possível gerar mais energia, de forma a compensar a produção da região afetada em determinado momento pela seca. A Tabela 5 demonstra a variação do volume de operação máximo e mínimo das Usinas Hidrelétricas de Balbina, Henry Borden e Itaipu. Tabela 5 – Quadro de variação de volume de operação Hidrelétrica Volume mínimo de operação [hm3) Volume máximo de operação [hm3) Balbina 9.735 19.391 Henry Borden 0,44 116,590 Itaipu 10.000 29.000 Fonte: Elaborada pelo autor com base em HYDROBYTE (2014). Atualmente, os reservatórios estão recebendo críticas relacionadas aos impactos socioambientais. Para diminuir os impactos associados à área alagada do reservatório hidrelétrico, opta-se pela diminuição do tamanho dos mesmos. Porém, é preciso refletir sobre os riscos que uma diminuição no acúmulo da água pode trazer ao sistema elétrico em um cenário de escassez de chuvas. 51 CAPÍTULO 4 FATORES QUE INFLUENCIAM NAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA DOS RESERVATÓRIOS 4.1 DENSIDADE DE POTÊNCIA Mäkinen e Khan (2010) apresentam a seleção de estudos sobre o tema e relacionam os pesquisadores, conforme Tabela 6. Tabela 6 – Seleção de estudos sobre emissões de reservatórios. Autor Ano Local do estudo Principal Pesquisa / Conclusão Rudd et al. 1993 Canadá “Fluxos de GEE vindos de hidrelétricas podem ser significativos comparados à emissão de geração elétrica por combustível fóssil.” St. Louis et al. 2000 Global: Inclui estudos do Canadá , Estados Unidos, Finlândia, Brasil, Guiana Francesa e Panamá “Superfícies dos reservatórios são fontes de GEE e suas áreas são muito grandes, sendo que estas emissões deveriam ser incluídas no inventário global de emissões antrópicas.” Fearnside 2002 Brasil “Barragens de hidrelétricas em área de floresta tropical produzem níveis substanciais de emissões de GEE, os quais precisam ser considerados para uma balanceada avaliação de opção de energia.” Rosa et al. 2004 Brasil “Barragens de hidrelétricas não são culpadas em termo de GEE. Maiores experimentos e monitoramento de longo prazo são requeridos para aumentar a certeza de extrapolações devido a significantes variações espaciais e temporais em registros de níveis de emissão.” Guérin et al. 2006 Guiana Francesa e Brasil “Importância das emissões a jusante.” Santos et al. 2006 Brasil “Reservatórios hidrelétricos com baixa densidade podem ter níveis de emissões comparados às plantas térmicas” Lima et al. 2008 Brasil, Índia e China “Emissões de metano em reservatórios podem ser significativass e constituem uma potencial fonte de energia.” 52 Siqueira e Silveira 2010 Brasil “Emissões de GEE devem ser analisadas incluindo-se o comportamento de um modelo de reservatório com características de figura geométrica trapezoidal, considerando o comportamento da série histórica de vazões e o regime de operação da hidrelétrica.” Fonte: Elaborada pelo autor com base em MÄKINEN e KHAN (2010, tradução nossa); SIQUEIRA e SILVEIRA (2010) incorporado pelo autor. Mäkinen e Khan (2010) recomendam a restrição de projetos hidrelétricos com base no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), no qual se baseia o relatório da Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) de 2006. Para identificar as hidrelétricas como potenciais emissoras de GEE, o MDL determina uma verificação pela densidade de potência, a qual é a razão da potência instalada da usina com sua respectiva área alagada (W/m²). Isso significa que um baixo valor para a densidade de potência indica que a usina hidrelétrica precisa de uma grande área alagada para produzir energia elétrica. O oposto é o desejado, ou seja, quanto maior a densidade de potência menor será a área a ser alagada para produção de eletricidade. Os mesmos autores classificam que projetos com a densidade de potência inferior a 4 W/m² são desconsiderados do ambiente de MDL, ao contrário dos que possuem valores superiores a 10 W/m², cujas emissões de GEE são desprezadas. Quando a densidade estiver compreendida entre 4 e 10 W/m², o projeto é caracterizado dentro de uma emissão de 90 gCO2-eq/kWh. Outros autores analisam as hidrelétricas pela densidade de potência, classificando-as como fontes emissoras de GEE de acordo com sua potencialidade. Rosa et al. (2006) apontam o risco de emissões de GEE, podendo esse ser reduzido quando evitada a densidade de potência abaixo de 0,1 W/m² e com a limpeza da biomassa antes da inundação do reservatório. Dentro das pesquisas mencionadas na Tabela 6, destacam-se os trabalhos de Rosa et al. (2004) e Santos et al. (2004), por figurarem entre os autores que trabalharam na elaboração do inventário brasileiro de emissões antrópicas em reservatórios nacionais. As conclusões dos dois autores direcionam, respectivamente, para o maior monitoramento a longo prazo, com a finalidade de aumentar a confiabilidade dos dados obtidos em campo e dos estudos empíricos, e para a possibilidade de reservatórios de hidrelétricas emitirem gases superiores a uma planta térmica equivalente. 53 Quanto maior for o registro do histórico no monitoramento dos parâmetros relacionados às emissões de poluentes, maior será a confiabilidade e o embasamento para a tomada de decisões para mitigação dos impa