Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita” Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Programa de Pós-graduação em Design CAPAs DE ViCEntE Di GrADo nA DéCADA DE 1960: AnálisEs E lEitUrAs Márcio Antonio Fernandes Duarte Bauru 2013 MárCio Antonio FErnAnDEs DUArtE CAPAs DE ViCEntE Di GrADo nA DéCADA DE 1960: AnálisEs E lEitUrAs Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Campus de Bauru, como parte do requisito à obtenção do Título de Mestre em Design – Área de Concentração: Planejamento do Produto. Orientadora: Profª. Drª. Mônica Moura Bauru 2013 Duarte, Márcio A. Fernandes. Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras / Márcio Antonio Fernandes Duarte, 2013 Orientadora: Drª. Mônica Cristina de Moura 146f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de São Paulo. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2013. 1. Design Editorial. 2. Capas de livros. 3. Vicente Di Grado. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título. MárCio Antonio FErnAnDEs DUArtE CAPAs DE ViCEntE Di GrADo nA DéCADA DE 1960: AnálisEs E lEitUrAs Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Campus de Bauru, como parte do requisito à obtenção do Título de Mestre em Design – Área de Concentração: Planejamento do Produto. BAnCA EXAMinADorA _________________________________ Profª. Drª. Mônica Cristina de Moura FAAC - UNESP - Campus Bauru Orientadora _________________________________ Prof. Dr. André Fábio Villas-Boas Escola de Comunicação / ECO-UFRJ _________________________________ Profª. Drª. Paula da Cruz landim FAAC - UNESP - Campus Bauru Bauru, 27 de setembro de 2013 Dedico este trabalho a todos que fizeram parte dele de maneira incondicional e ple- na: a Deus, primeiramente, a Alessandra e Letícia Sayuri, minha vida e meus pais, sempre presentes. v Agradecimentos A Profª. Drª. Mônica Moura, por ter acreditado nesta pesquisa mesmo quando eu já não acreditava, me apoiando desde o início deste trabalho, com muita dedicação e principalmente paciência. Aos docentes e funcionários do programa de Pós-Graduação da FAAC pelo carinho e atenção durante esta etapa. A Capes pelo apoio financeiro na reta final. Aos professores Washington Dias Lessa (ESDI) e Cássia Letícia Carra- ra Domiciano (FAAC-UNESP) pelas valiosas contribuições. A minha esposa Alessandra e filha Letícia Sayuri pela paciência e com- preensão nos momentos de ausência - amo vocês mais que tudo. À minha mãe, pelos lanchinhos e em especial ao meu pai, pelo companheiro de estrada - li- teralmente - e desabafos neste tempo. E todos meus familiares pelo apoio e incentivo. Aos amigos e companheiros de mestrado Andrea, Jamile, Mariana, Pa- trícia, Rosana e Dr. Irajá, que sempre me encorajaram e ajudaram no que foi necessário. Ao Renato que até os últimos minutos discutiu comigo conceitos de design. E ao Dr. Ricardo que, mesmo não sabendo disso, sempre me incentivou à continuar. Aos sebos e livrarias que visitei para a realização deste trabalho. E claro, ao Centro Universitário Belas Artes, por tudo. Muito Obrigado de coração. vi rEsUMo DUARTE, Marcio A Fernandes. Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras. Bauru, 2013. Dissertação (Mestrado) – FAAC-UNESP - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual de São Paulo – Campus de Bauru. Este estudo tem por objetivo, um resgate da obra de Vicente Di Grado e sua participacão como capista na Editora Clube do Livro, existente entre os anos de 1943 e 1976. Para tanto, se observou a evolução história do mercado editorial no Brasil, compreendendo como se deu o início do design editorial. Passando pela estrutura do livro, seu produto final, permeando suas diversas formas de existir, assim como suas formas de percepção pelo leitor. Prendendo-se nas ca- pas, objeto de estudo e reflexão deste trabalho, explorando seus componen- tes, muitas vezes esquecidos e suas composições. Se valendo das ferramentas do Dsign da Informação e de Análise Gráfica, se compreende como o processo de design pode ser utilizado para elaborar estruturas visuais possíveis de leitu- ras. Compreendendo como a construção estético-formal das capas de Vicente Di Grado durante a década de 1960 sofre mudanças e influências, apresentan- do um panorama de seu legado, ainda pouco explorado por estudos. Palavras-chave: Capas de livros, Clube do Livro, Design da informação, Design editorial, Vicente Di Grado vii ABstrACt DUARTE, Marcio A Fernandes. Vicente Di Grado`s covers in the 1960`s: analyzes and readings. Bauru, 2013. Dissertação (Mestrado) – FAAC-UNESP - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual de São Paulo – Campus de Bauru. This study aims, a rescue of the work of Vincent Di Grado and his participation as a cover artist on Publisher Book Club, between the years 1943 and 1976. Therefore, observed the evolution history of publishing market in Brazil, com- prising as it did the start of editorial design. Going by the book’s structure, its final product, permeating its various forms to exist, as well as forms of percep- tion by the reader. Holding up the covers, the object of study and reflection of this work, exploring its components, often forgotten and their compositions. Taking advantage of the tools of the Information Dsign and Graphical Analysis, is to understand how the design process can be used to produce visual struc- tures of possible readings. Understanding how the construction of the formal- aesthetic covers Vicente Di Grado during the 1960s undergoes changes and in- fluences, presenting an overview of his legacy, still unexplored by studies. Keywords: Book covers, Clube do Livro, Editorial design, Information design, Vicente Di Grado vii SUMÁRIO INTRODUÇÃO 17 PANORAMA EDITORIAL BRASILEIRO ATÉ 1960 22 1.1 A indústria editorial brasileira no Século XX 23 1.1.1 A Revolução (Editorial) de 1930 27 1.1.2 Mercado editorial brasileiro na década de 1960 29 1.2 A Editora Clube do Livro 33 1.2.1 A linha editorial do Clube do Livro 35 1.2.2 Evolução gráfica das capas do Clube do Livro 40 1.3 Vicente Di Grado: artista e capista 44 LIvRO: OBjETO DE fAzER PENSAR 48 2.1 Os “livros” do livro 49 Os livros de imagens 49 O livro-objeto 53 O livro de artista 55 2.2 O (objeto) Livro 57 2.3 Projeto Gráfico Editorial 58 2.2.1 Elementos Projetuais do Livro 60 2.2.1.1 Formato 61 2.2.1.2 Tipografia 64 2.2.1.3 Diagramação 67 OLHEM PARA MIM: AS CAPAS 70 3.1 Elementos estruturais da capa de um livro 71 Segunda e terceira capas 72 Quarta capa 73 Orelhas 74 Lombada 76 Sobrecapa 77 3.2 Elementos Compositivos da capa 79 3.2.1 Tipografia 80 3.2.2 Imagens: Ilustração ou fotografia? 81 3.2.3 Cor 85 3.2.4 Acabamentos 86 ix “LENDO” CAPAS: A INfORMAÇÃO COMO PROCESSO DE DESIGN 90 4.1 Design da Informação 92 4.2 Estrutura de análise gráfico-visual 95 4.2.1 Critérios metodológicos de análise 96 AS CAPAS DE vICENTE DI GRADO NA DÉCADA DE 1960 100 5.1 Análise descritiva das capas do Clube do Livro 100 5.2 Grupos de análise: segmentação da amostra 104 5.2.1 Figura humana em destaque 105 5.2.2 Relação entre ilustração e título 107 5.2.3 Profundidade espacial 109 5.2.4 Divisões gráficas e planos visuais 110 5.2.5 Composições tipográficas destacadas 111 5.2.6 Estruturas diferenciadas 114 CONCLUSÃO 117 REfERÊNCIAS BIBLIOGRÁfICAS 120 ANEXOS 127 x LISTA DE fIGURAS Figura 1: “Vergastas” (1889), de Lúcio de Mendonça, com capa desenhada por Raul Pompéia. ............................................................................................................... 20 Figura 2: Capa do livro “Urupês” (1918), de Monteiro Lobato ilustrada por José Wasth Rodrigues. .......................................................................................................... 21 Figura 3: Capas da Collecção de Obras Celebres, para a Editora Americana. A esquerda “Crime e Castigo” (1930), de Dostoiewsky, com capa de Di Cavalcanti. Ao centro “Uma Confissão” (1931), de Gorki com capa de Geraldo Orthof e à direita, “A Mãe” (1931), de Gorki e capa de Oswaldo Teixeira ............................. 22 Figura 4: Capa de Tomás Santa Rosa para a Editora José Olympio, de 1943 ... 24 Figura 5: “O Macaco e a Essência” (1966), capa de Eugênio Hirsch para a Civilização Brasileira ......................................................................................................................... 27 Figura 6: Capas de “Memórias do Cárcere” (1953) de Graciliano Ramos com capa de Tomás Santa Rosa e de “O Segredo” (1966) de Alfred de Musset com capa de Vicente Di Grado ...................................................................................................... 28 Figura 7: Imagem inserida na contracapa dos livros da Editora Clube do Livro . 31 Figura 8: Imagem de anúncio apresentando o Clube do Livro ............................ 32 Figura 9: Nota do Clube do Livro sobre a iniciativa de explicar o texto a seus leitores a fim de um melhor aproveitamento ......................................................... 33 Figura 10: Nota explicativa enaltecendo os valores e objetivos do Clube do Livro ........................................................................................................................................... 33 Figura 11: Anúncio contido na segunda orelha do livro “Prima Belinha” (1957), de Ribeiro Couto, promovendo o curso de desenho do designer Vicente Di Grado ........................................................................................................................................... 35 Figura 12: Capa de “O Guarani” (1943), de José de Alencar ................................ 36 Figura 13: Capa de “A Teoria da Distância” (agosto/1950), de Aristides Ávila ... 37 Figura 14: Capa de “Uma Aventura de Natal” (outubro/1956), de Charles Dickens ........................................................................................................................................... 37 Figura 15: Capa de “O Segredo” (setembro/1966), de Alfred de Musset ......... 38 Figura 16: Capa de “Uma Paixão no Deserto” (1972), de Honoré de Balzac ..... 39 xi Figura 17: Capa de “A Semente” (janeiro/1977), de Marília Fairbanks Maciel ... 39 Figura 18: Capa e ilustrações internas de Vicente Di Grado para “O Califa” (1972), de Machado de Assis .................................................................................................... 40 Figura 19: Escultura de bronze de São Francisco (1962), acervo da Pinacoteca de São Bernardo do Campo ............................................................................................. 41 Figura 20: Imagem do prof. Vicente Di Grado ......................................................... 42 Figura 21: Páginas de “A Fada Afilhada” (2001), de Marilda Castanha ............... 46 Figura 22: “Livro Ilegível” (1955), de Bruno Munari ............................................... 47 Figura 23: “Pré-livros” (1980) de Bruno Munari ..................................................... 48 Figura 24: Reprodução do livro “Na Noite Escura” (1962), de Bruno Munari ... 49 Figura 25: “Poemóbiles” (1974), de Augusto de Campos e Júlio Plaza .............. 50 Figura 26: “Livro de Carne” (1978-1979), de Artur Barrio .................................... 50 Figura 27: “ABC” (1968), Elaine L. Downing. No formato de um acordeão, faz parte da exposição Abecedarium .............................................................................. 51 Figura 28: “Caixa Verde” (1934), de Marcel Duchamp. Considerado um dos primeiros livros de artista ........................................................................................... 52 Figura 29: Capa de Fernando Correia Dias para “Últimas Cigarras” (1915). Poema de Olegário Mariano .................................................................................................... 55 Figura 30: As partes de um livro ................................................................................ 56 Figura 31: Diagrama de montagem de cadernos com imposição de páginas ... 59 Figura 32: As várias capas impressas na Oficina Tipográfica São Paulo de “Coração” (2011), de Edmondo De Amicis, publicado pela Cosac Naify ............ 60 Figura 33: Tipografias sem serifa e com serifa ........................................................ 62 Figura 34: Estrutura da capa de um livro .................................................................. 67 Figura 35: Capa de Márcia Mattos para o livro “A Coruja de Minerva” (2010), de Nelson Sanjad ................................................................................................................ 68 Figura 36: Segunda capa do livro “Vozes da Cidade” (2011), de Fred Góes, Editora xii Senac. Projeto gráfico LESTE ..................................................................................... 69 Figura 37: Exemplo de uma quarta capa. Fonte: “Paranormal uncensored: a raw look at Louisiana ghost hunting” (2008), de Brad Duplechien ............................. 70 Figura 38: Capa de “Os Sentidos da Paixão” (1987), organização de Adauto Novaes para a Companhia das Letras, Capa Moema Cavalcanti .......................... 71 Figura 39: Capa do livro “Tudos” (1990), de Arnaldo Antunes: capa e orelha/ marca-página (destacada), capa e projeto gráfico de Arnaldo Antunes e Zaba Moreau ........................................................................................................................... 71 Figura 40: Exemplos de livros com as várias disposições de lombadas ............. 72 Figura 41: Sobrecapa do livro “Arte Brasileira: Arte Moderna e Contemporânea” (Projeto acadêmico). Projeto gráfico de Nathalia Cury ........................................ 73 Figura 42: Livro “Me Dê um Conselho” (2012), de Daniel Motta, editora Altamira Editorial .......................................................................................................................... 74 Figura 43: Livro “Panelinha | Receitas que funcionam” (2000), de Rita Lobo, Editora: Senac São Paulo ............................................................................................. 74 Figura 44: “Ali Smith’s Supersonic 70s” (2005), de Ali Smith, Designer: Katie Gibb, Art director: Jim Stoddart & John Hamilton, Typeface: FGroove ........................ 75 Figura 45: Capas tipográficas. “No Country For Old Men” (1999), de Cormac McCarthy, designer: David Pearson, e “Man Alone With Himself” (1999), de Friedrich Nietzsche, designer: Phil Baines .............................................................. 76 Figura 46: “The Annotated Uncle Tom’s Cabin” (2006), de Harriet Beecher Stowe. Designer: Chin Yee Lai .................................................................................................. 77 Figura 47: “Urupês” (1918), de Monteiro Lobato, com capa ilustrada por Wasth Rodrigues ....................................................................................................................... 78 Figura 48: Capas de “Urupês” (1918), de Monteiro Lobato, ilustrada por Wasth Rodrigues; “Memórias do Cárcere” (1953), de Graciliano Ramos, com capa de Tomas Santa Rosa para a Livraria José Olympio, e “O Macaco e a Essência” (1966), de Aldous Huxley, com capa de Eugênio Hirsch para a Civilização Brasileira .... 79 Figura 49: “The Secret Life Of Emily Dickinson” (2010), de Jerome Charyn, Designer: Gabriele Wilson, Ilustrador: Silja Goetz .................................................. 80 xiii Figura 50: “Do Me” (2007), de Steve Almond. Designer: Sean Tejaratchi, Typeface: Torino .............................................................................................................................. 80 Figura 51: Percepção das cores .................................................................................. 81 Figura 52: “A Clockwork Orange” (1999), de Anthony Burgess. Designer: David Pelham, Typeface: Eurostile ....................................................................................... 82 Figura 53: “Secrets of Dungeon Mastery” (1988 ), Software Heaven, Inc. “The Silver Palace Restaurant” (2005), de Mark Abey .................................................... 83 Figura 54: “Curiosity: How Science Became Interested in Everything” (2012), de Philip Ball ....................................................................................................................... 84 Figura 55: Processo de comunicação estética do livro .......................................... 87 Figura 56: Interdisciplinaridade do design da informação permeia cinco áreas de influência ....................................................................................................................... 88 Figura 57: Quadro demonstrativo da divisão de elementos de análise gráfica 93 Figura 58: Detalhes de capas, respectivamente, de “A insídia” (junho/1968) de Joan Tenzate e “O enfermeiro” (julho/1968) de Machado de Assis, mostrando a mudança de identificação da editora ....................................................................... 97 Figura 59: Capa e orelhas de título do Clube do Livro, de fevereiro de 1962, desenvolvida por Vicente Di Grado. É possível perceber o padrão visual da editora ............................................................................................................................ 98 Figura 60: Gráfico de distribuição das características existentes nas capas da amostra ........................................................................................................................ 100 Figura 61: Capa de “Pôrto do Remanso” ,de Geraldina Marx (abril de 1960). O triângulo representa o sentido de ação da narrativa. Em vermelho as divisões gráficas ......................................................................................................................... 101 Figura 62: Capa de “A Provinciana”, de Vicente Ragognetti (março de 1962) . 102 Figura 63: “Os Rubis”, de J. M. Forman (junho de 1964) ..................................... 103 Figura 64: “A muralha da China”, de Franz Kafka (março de 1968) ................... 104 Figura 65: “Os encontros”, de Zuzu Ferreira (junho de 1965) ............................ 105 xiv Figura 66: “A Feiticeira”, de Massimo D’Azeglio (novembro de 1961) ............. 106 Figura 67: “A rainha sem nome”, de J. E. Harzenbuch (março de 1964) ........... 107 Figura 68: “Adolescência”, de Máximo Gorki (maio de 1964) ............................. 108 Figura 69: “O Medalhão”, de Machado de Assis (julho de 1965) ....................... 109 Figura 70: “O espião”, de P. E. Oppenheim (junho de 1960) ............................... 110 Figura 71: “O Cordão dos Milagres”, Mário Gracioti (1966) ............................... 111 xv “o objeto livro na prateleira de uma livraria oferece ao leitor potencial uma série de informações que o conduzirão, ou não, ao cerne do objeto, o texto do autor.” IINTRODUÇÃO O mercado editorial, mesmo com as inúmeras adversidades por que passa atualmente, está cada dia mais firme em suas raízes e mais estabilizado como veículo de disseminação de informação e conhecimento. Dentro desse panorama, o presente trabalho busca, por meio de uma pesquisa bibliográfica e documental, traçar um perfil de como se de- ram as mudanças na forma de se pensar a capa do livro no Brasil, considerando a atuação da Editora Clube do Livro e seu principal artista gráfico, Vicente Di Grado, além de observar alguns dos nomes que influenciaram essas mudanças. Tendo em vista a relevância do resgate e registro histórico sobre o de- sign brasileiro, esta pesquisa dá enfoque ao design editorial a partir da reflexão e análise da obra de Vicente Di Grado, durante a década de 1960, levando em conta sua importância histórica para o design nacional e como um período de interessante participação da editora no mercado. Esta abordagem faz refletir sobre como o mercado editorial sempre proporciona motivação para estudos e discussões. Este estudo busca respon- der as seguintes questões: Quais eram os elementos gráficos e os diferenciais explorados na capas desenvolvidas por Vicente Di Grado para a Editora Clube do Livro? Como esse autor estabelecia as relações entre os elementos de infor- mação/comunicação? Vicente Di Grado em sua atuação na Editora Clube do Livro desenvolveu uma mudança gráfica significativa na década de 1960? 18Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras objetivos Gerais Estabelecer uma coleta de dados visuais sobre o tema, a fim de criar uma análise das capas produzidas por Vicente Di Grado durante a dé- cada de 1960, bem como seu estilo de ilustração e características tipo- gráficas; Identificar parâmetros gerais de apresentação estética, enquanto pro- jeto de design, estabelecendo assim uma leitura visual da obra de Vi- cente Di Grado; Analisar e interpretar os elementos das capas utilizando os princípios do design da informação e técnicas de design gráfico. objetivos específicos Relacionar os elementos informacionais utilizados e suas relações sígni- cas com a percepção das capas; Verificar possíveis mudanças visuais promovidas por Vicente Di Grado, durante o período abordado; O design gráfico brasileiro é um tema pouco explorado pelos pesqui- sadores até o momento. Em sua grande maioria, as referências existentes se valem da história mundial do design para criar um paralelo de estilos e tendên- cias. No Brasil, comenta-se que a atividade se iniciou na década de 1960 com a instalação da Escola Superior de Desenho Industrial - ESDI, no Rio de Janeiro, porém, artistas de todos os segmentos sempre foram influenciados pelos mo- vimentos artísticos e já apresentavam seu potencial para o desenvolvimento de projetos de design, mesmo antes da ampla utilização do termo. Visto a falta de referências sobre vários designers e artistas nacionais, e por se tratar de um assunto muito pertinente, um estudo sobre a atividade edi- torial no Brasil nas primeiras décadas do século XX, aprofundando-se no perío- do entre 1950 e 1970, origina um pano de fundo adequado para a compreensão dos acontecimentos e mudanças ocorridas no segmento editorial. Traçar o per- fil do Clube do Livro, editora que atuou no país entre as décadas de 1940 e 1980 e examinar sua expressão gráfica peculiar, finalizando com a análise da obra de Vicente Di Grado, seu principal capista e ilustrador, cuja obra é caracterizada 19 Introdução por ilustrações e tipografias únicas, criadas para cada título exclusivamente, o que a torna bastante interessante, completam o estudo. Para tanto, pretende-se estabelecer uma coleta de dados visuais sobre o tema a fim de criar um catálogo das obras de Vicente Di Grado, que servirá de suporte para a análise das capas, seu estilo de ilustração, características tipo- gráficas, assim como realizar uma leitura visual de sua obra, traçando parâme- tros gerais de apresentação estética, enquanto projeto de design. Metodologia Este estudo pretende basear-se nas capas criadas por Vicente Di Gra- do, entre 1950 e 1970, com um número próximo de 250 títulos. Esta pesquisa foi desenvolvida, em um primeiro momento, de forma eletrônica, organizando imagens, títulos e datas. A abordagem documental buscou extrair as informa- ções aleatórias existentes que foram agrupadas em um rol de estudo cronoló- gico. A partir dessa ação foi possível estabelecer o real objeto da pesquisa - as capas da década de 1960. A revisão de literatura foi aplicada no embasamento teórico no qual serão ponderadas as informações necessárias para se alcançar os resultados esperados. Subsequentemente a esses períodos de estudo e análises, foi pre- parado o texto que apresentará esta investigação e seus resultados. A realização da pesquisa de campo afim de buscar todas as capas não localizadas anteriormente foi importante, especialmente para o acesso ao ma- terial de pesquisa, observando e percebendo suas impressões, aspectos físicos e o conjunto de obras agrupados. Para isso, visitas com coletas a sebos e livra- rias foram realizadas periodicamente para acesso ao material. Estudo de caso e análises: após a fase de coletas das informações vi- suais, um estudo analítico foi desenvolvido estabelecendo um paralelo entre o trabalho de Di Grado e seu período de atuação, visando entender a linguagem utilizada para assim, desenvolver uma análise baseada em no enfoque de sua obra segundo os parâmetros desta pesquisa. 20Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Estrutura da dissertação Este trabalho está dividido em 5 capítulos, detalhados da seguinte for- ma: No capítulo 1: Panorama editorial brasileiro até 1960 é apresentado um histórico da indústria do livro, desde sua chegada ao Brasil até a década de 1960, foco deste estudo. No capítulo 2: livro: objeto de fazer pensar são descritas as partes de um livro, sua estrutura formal e como ela evoluiu até os formatos diferenciados atuais de livros objetos. Enquanto o capítulo 3: olhem para mim: as capas exploram a estrutu- ra formal das capas, enfocando sua composição. Já o capítulo 4: “lendo” capas: a informação como processo de de- sign traz as ferramentas que serão utilizadas no processo de análise. Ferramen- tas decorrentes do Design da Informação e da Análise Gráfica. Finalmente, o capítulo 5: As capas de Vicenti Di Grado na década de 1960 apresenta as análises das capas desenvolvidas neste estudo e extraídas da obra de Vicente Di Grado, respeitando os aspectos definidos no capítulo an- terior. “D. João VI criou a Imprensa Nacional. Monteiro Lobato criou o livro no Brasil. O mais foi Idade Media.” TRAVASSOS (1978, p. 177) 1PANORAMA EDITORIAL BRASILEIRO ATÉ 1960 A produção de livros no Brasil se inicia com a chegada da Família Real, em 1808, quando, ao se instalarem na cidade do Rio de Ja- neiro, então Capital Federal, introduzem a Imprensa Oficial, res- ponsável pelas impressões oficiais, antes realizadas em Portugal. A produção literária decorrente desse período se dá por pequenas tiragens de títulos da literatura lusitana e mundial, sendo ampliada apenas no final do século XIX, com a chegada ao Brasil de casas editoriais vindas da Inglaterra e França, como a Laemmert. Anterior à vinda da Corte Portuguesa, houve interesse dos portugue- ses em implantar prelos de impressão em algumas colônias, porém, no Brasil, os livros não se faziam necessários pelas características extrativistas. Somente em 1630, com a invasão holandesa na região Nordeste, é que se passa a ter documentos que comprovam a existência de uma imprensa funcional no país. Antes, havia apenas indícios de que os jesuítas se valiam de prelos espanhóis em seus colégios e também da produção de materiais através da técnica da xi- logravura1 para a composição e impressão de seus materiais de evangelização (HALLEWELL, 1985). Após 1840 ocorrem modificações significativas, inclusive no número de leitores, através de uma migração do Nordeste do Brasil para o Rio de Janeiro e São Paulo, iniciando-se um desenvolvimento industrial nessa região, inclusive editorial. A partir de então, vemos uma grande evolução comercial e industrial no mercado editorial no país, como apresenta Hallewell (1985), havendo ati- vidades de incentivo à produção literária nacional. Durante a década de 1840, várias casas editoriais se instalaram no Brasil, visto que os autores até então 1 Técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado, em um processo muito parecido com um carimbo. 23 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 cuidavam de escrever e editar seus próprios livros, normalmente em pequenas tiragens – em torno de 1000 exemplares – deixando a comercialização a cargo de vendedores locais de livros. De maneira geral, o centro produtivo passou a ser o Sudeste, principalmente o Rio de Janeiro – Capital Federal, com a cidade de São Paulo ganhando muita expressão até o final de 1890. 1.1 A indústria editorial brasileira no século XX A implantação de fábricas de papel no final do século XIX, promoveu uma baixa nos preços praticados pelo mercado, haja vista que antes as taxas dos livros importados era menor do que a do papel de impressão. Muitas vezes eram tratados nas alfândegas como papel para jornal, com taxas extremamen- te baixas, e outras como papel para escrita, cujas taxas eram mais altas, até mesmo se comparadas às dos livros (Hallewell, 1985). Após a implantação de indústrias, como a Melhoramentos e a Klabin, os valores praticados no Brasil se tornaram bem mais acessíveis, o que aqueceu o mercado e incentivou a produ- ção editorial pelas décadas seguintes. A passagem do século XIX para o século XX se caracterizou pelas casas editoriais existentes em São Paulo e no Rio de Janeiro, e filiais de livreiros europeus, como a Laemmert, na cidade do Rio de Janeiro. Cardoso (2005) discorre sobre o panorama do Brasil editorial nesse pe- ríodo, em que a Livraria Quaresma inaugura novas formas de comercialização de livros, mais baratos, em formato brochura – as encadernações encareciam o processo – e mais atraentes, com um formato mais parecido com um alma- naque, contendo elementos diversos que enalteciam valores culturais, e a in- clusão de capas ilustradas, que já eram práticas utilizadas, mesmo em edições populares. Também Nicolau Alves merece destaque por inaugurar, em 1854, a Li- vraria Clássica, no Rio de Janeiro. Mais tarde, comprada pelo sobrinho, Fran- cisco Alves, em 1897, quando começa sua maior empreitada, transformando a venda de livros didáticos em foco dos negócios, tornando-se a maior editora do gênero no Brasil. As capas ilustradas, no final do século XIX, estiveram sempre presen- tes no universo editorial de grande parte do mundo, e, no Brasil, esse período popularizou tal prática com capas atrativas, buscando uma forma de aumentar as vendas, ainda escassas, tentando ampliar o incentivo ao mercado editorial e 24Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras gerar mais leitores. No início do século XX, embora elas existissem, não eram a maioria nas prateleiras até meados da década de 1920. No Brasil há bons exemplos desse procedimento incipiente, como a capa do livro Vergastas (1889), de Lúcio de Mendonça, desenhada pelo escritor Raul Pompéia, gravada pelo xilógrafo Alfredo Pinheiro e impressa na empresa Typographia e Litographia, de Carlos Gaspar da Silva (Cardoso, 2005, p. 165). Figura 1: “Vergastas” (1889), de Lúcio de Mendonça, com capa desenhada por Raul Pompéia. Fonte: Cardoso, 2005. São procedimentos resultantes da construção de uma massa de artistas que se aventuraram por ilustrar capas para livros e revistas durante o final do século XIX. Um dos primeiros artistas, segundo Cardoso (2008), a trabalhar efe- tivamente com capas diagramadas e pensadas, juntamente com a ilustração, foi o português Fernando Correia Dias (1896-1935). Quando em sua vinda ao Brasil, em 1914, se instalou entre os artistas e logo se iniciou no mercado de livros, com sua primeira capa datada de 1917 para o livro de poemas Nós de Guilherme de Almeida. Outros livreiros e casas editoriais surgiram durante a década de 1910. Em 1914, Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, jornalista português que se mu- dou para São Paulo, iniciou a Livraria Acadêmica, vendendo livros jurídicos aos alunos da Academia Jurídica de São Paulo. A livraria se tornou, em 1944 a Livra- ria Saraiva, uma das editoras mais tradicionais do país em funcionamento até hoje. Em 1917, a Livraria Leite Ribeiro passou a ser a principal editora do Rio de Janeiro ao ter em seu catálogo os maiores escritores da época. Sinais de uma urbanização causada pela modernização das cidades, que se tornaram centros urbanos, com destaque para São Paulo, eclodindo em um aquecimento socio- cultural nos anos 1920. 25 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 Nesse período, com a Primeira Guerra Mundial, as importações de in- sumos para a indústria gráfica diminuíram, forçando as indústrias nacionais a buscarem formas de se manter, fortalecendo-se, o que acabou por registrar um crescimento de 25% ao ano, em São Paulo, que também se tornou o maior cen- tro editor da década (PAIXÃO, 1998). Foi nesse contexto, em funcionamento entre 1919 e 1925, que a edito- ra de Monteiro Lobato inaugura uma nova etapa para o mercado de livros no Brasil, introduzindo equipamentos tipográficos importados, agilizando o pro- cesso produtivo e inserindo novas formas de representação. Inicia a utilização, de forma sistêmica, de ilustrações nas capas de seus títulos, trazendo ao univer- so gráfico imagens desenvolvidas por artistas gráficos, ampliando as formas de percepção das capas e, posteriormente, do próprio livro. Época do Movimento Modernista, o cenário cultural em São Paulo, esta- va agitado, principalmente com os preparativos para a Semana de Arte Moder- na, em 1922, no Teatro Municipal, o que favoreceu o aparecimento de muitos artistas que se dedicavam a ilustrar capas de livros, entre eles, Anita Malfat- ti (1889-1964), Di Cavalcanti (1857-1976), Tarsila do Amaral (1886-1973), Vic- tor Brecheret (1894-1955) e José Wasth Rodrigues (1891-1957), este último, chamado por Monteiro Lobado para ilustrar suas capas, incluindo a de Urupês (1918), que foi reconhecido como um marco para o design de livros. Figura 2: Capa do livro “Urupês” (1918), de Monteiro Lobato ilustrada por José Wasth Rodrigues. Fonte: Cardoso (2005) 26Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Dentre os capistas nesse período, vemos os nomes de Antônio Paim Vieira (1895-1988), Juvenal Prado – ou J. Prado (1895-1980) e Fernando Correia Dias (1896-1935) como os mais significativos pelo volume de obras realizadas. Outro ponto a ser considerado é o cuidado com a composição do interior dos livros publicados no período. Um exemplo são os projetos de Paim, para várias editoras, entre elas a Leite Ribeiro. Cardoso (2005) sugere o que pode ser o pri- meiro indício de um projeto gráfico, com uma identidade visual, concebido por Di Cavalcanti, em 1930 para a Editora Americana: É de sua autoria o projeto da capa do romance Crime e Castigo, pu- blicado pela Editora Americana em 1930. Percebe-se a tentativa de situar a ilustração dentro de uma malha diagramática que divide o espaço em blocos geométricos estruturados em torno das palavras como elementos construtivos (CARDOSO, 2005, p. 192). Provavelmente em razão da inferioridade dos materiais e acabamentos utilizados e do sistema produtivo ter sido “nacionalizado” em virtude da dificul- dade das importações, os projetos gráficos dos livros se mostraram importan- tes para suprir a falta de qualidade impressa. Mais tarde seguidos por outros capistas que trabalhavam para a Waissman Reis & Cia – editora que, conforme Cardoso (2005), depois adquiriu a Americana –, possivelmente pelas semelhan- ças estéticas das capas para a mesma Collecção de Obras Célebres. É surpreendente a semelhança entre essa capa e outra criada no ano seguinte por Geraldo Orthof para o romance Uma confissão (...). O romance A mãe, de Gorki, publicado na mesma coleção, ostenta capa de Oswaldo Teixeira que também segue, em linhas gerais, a estrutura gráfica estabelecida por Di Cavalcanti, embora com muito menos fide- lidade que o projeto de Orthof (CARDOSO, 2005, p. 192). Figura 3: Capas da Collecção de Obras Celebres, para a Editora Americana. A esquerda “Crime e Castigo” (1930), de Dostoiewsky, com capa de Di Cavalcanti. Ao centro “Uma Confissão” (1931), de Gorki com capa de Geraldo Orthof e à direita, “A Mãe” (1931), de Gorki e capa de Oswaldo Teixeira. Fonte: Cardoso (2005). 27 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 Em 1925, com a falência da Monteiro Lobato & Cia., este se juntou a Octalles Marcondes Ferreira para fundar a Companhia Editora Nacional, a qual foi responsável por várias décadas de sucessos editoriais. 1.1.1 A revolução (Editorial) de 1930 O mercado editorial no Brasil sempre foi visto com destaque e pionei- rismo por sua produção muito significativa, especialmente a partir da década de 1930, tendo passado por grande mobilização ao iniciar a produção em larga escala de livros didáticos a partir desse período, influenciando o surgimento de novas companhias editoras. Segundo Paixão (1998), o livro produzido no país se tornou mais barato que o importado, incentivando as editoras a investirem em traduções de clássi- cos da literatura mundial e nacional, tornando o momento bastante propenso, com um crescimento no número de editoras em atividade no país de quase 50% entre 1936 e 1944, refletindo em um número de títulos publicados em 1950 quatro vezes maior que na década de 1930. Essa movimentação já havia sido iniciada por Monteiro Lobato, em 1919, ao adquirir equipamentos para a criação de sua editora. Nessa evolução, vemos as décadas seguintes alavancar o desenvolvimento definitivo da produ- ção editorial no Brasil e principalmente a evolução gráfica das capas dos livros publicados posteriormente. Após as mudanças gráficas ocorridas nas décadas anteriores e a possibi- lidade de novos rumos para o país, a década de 1930, no Brasil, foi marcada por sucessos editoriais, além de um aquecimento no mercado de livros tanto em sua comercialização quanto em sua estrutura visual. A Companhia Editora Nacional estava em amplo desenvolvimento e, mesmo com a Revolução deflagrada em 1930, não sofreu interferências pelos acontecimentos, ao contrário, graças ao Programa de Educação Básica, o go- verno de Getúlio Vargas ampliaria significativamente o mercado editorial. Com a desvalorização econômica em virtude das taxas de câmbio, o livro nacional passa a ser mais barato que o importado, oferecendo um cenário perfeito para seu crescimento. Um marco importante do mercado editorial, segundo Paixão (1998), foi a Livraria José Olympio Editora, aberta em 1931 por José Olympio, ao adquirir 28Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras uma biblioteca particular com as economias que juntou durante o período em que trabalhou na Casa Garraux, elegante livraria, frequentada por intelectuais, escritores e autoridades de São Paulo. Como diferencial, a José Olympio apostou no acabamento cuidadoso de seus títulos, contratando artistas para realizar as ilustrações e as capas, além de iniciar uma cultura de projetar o livro como um todo, detalhando inclusive partes da diagramação em um projeto editorial específico. Ao longo de sua carreira, José Olympio fez muito: lançou nomes qua- se desconhecidos do grande público – 90% deles brasileiros; investiu na apresentação gráfica quando isso era novidade; teve ilustradores e capistas como Portinari, Luís Jardim, Tomás Santa Rosa, Poty; inaugu- rou o método da crítica nas “orelhas” dos livros; modificou o formato usual dos volumes, que era de 18 x 12 cm, para 21,5 x 13,5 cm; adotou o sistema domiciliar de vendas, que chegou a responder por 75% dos negócios da empresa; e foi o primeiro editor brasileiro a colocar ações nas bolsas de valores (PAIXÃO, 1998, p. 84). Outra editora de destaque foi a Livraria Schmidt Editora, que influen- ciou de forma ímpar as produções de obras de autores iniciantes, com trata- mento gráfico diferenciado. Foi para a Schmidt, segundo Cardoso (2005), que Tomás Santa Rosa surge no cenário editorial, ilustrando a capa de Caetés, de Graciliano Ramos, em 1933. Em 1937 a Livraria Schmidt Editora foi vendida, ou- tras editoras de destaque são a Civilização Brasileira e a Ariel, esta última se valendo do talento de Santa Rosa para assinar suas capas e projetos gráficos. Figura 4: Capa de Tomás Santa Rosa para a Editora José Olympio, de 1943. Fonte: Paixão (1998) 29 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 O contexto de renovação do interesse no Brasil e o nacionalismo é o grande ponto de atração ao mercado editorial nesse período. Aliado à criação de várias companhias editoras, estas, com a oportunidade de explorar o merca- do que estava aquecido pelas Revoluções e, posteriormente, entre 1940 e 1944, pela Segunda Guerra Mundial, se multiplicavam pelo país. Hallewell (1985) cita, porém, que após o grande alvoroço editorial desse período, na década de 1950 havia no Brasil menos editoras que em 1936. Vale incluir que no ano de 1943, em plena efervescência da Segunda Guerra, a sede de informação pela população torna o segmento editorial uma grande oportunidade de negócios. Se valendo dessa demanda, surge a Editora Clube do Livro, responsável pela difusão de um modo de comercialização de livro inovador no país até então, entregando em domicílio os volumes publica- dos. E foi nesse contexto que o Brasil vive um pós-guerra otimista e com sua industrialização florescendo. Várias empresas se instalam no “Eixo Rio-São Paulo”, promovendo um maior incentivo ao consumo. Até que houve o Regime do Estado-Novo e tudo se modifica novamente, com a nova forma de governo – ditatorial – as dificuldades começaram a aparecer, inclusive fechando várias das editoras por não sobreviverem às taxas de câmbio. O novo presidente, Getúlio Vargas, em 1945, mudou a forma de ver o mundo, antes nacionalista, agora, com os olhos no avanço econômico dos Es- tados Unidos e, com isso, durante a década de 1950, vemos o grande culto ao capitalismo americano, com o país tomado por um modo de vida “plástico” in- fluenciado pelo Rock’n’roll, o chiclete e a Coca-Cola. Um balanço dessa mudan- ça de visão: um crescimento de 143% durante a década de 1950 no setor gráfico do país (Paixão, 1998). 1.1.2 Mercado editorial brasileiro na década de 1960 O ano de 1960 inicia-se com a inauguração e mudança da Capital Fe- deral – deixa o Rio de Janeiro e se instala em Brasília. Advindos de toda uma transformação que estava ocorrendo, não só no Brasil, mas no mundo, as visões político-sociais se voltaram para o industrialismo tecnológico e a instituciona- lização do ensino. Em 1962 foram inseridas as áreas de formação em Desenho Industrial, a partir das sequências em Desenho Industrial e Comunicação Visual na FAU USP, mas somente em 1967 foram incluídas, no currículo do curso, as 30Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras cadeiras de desenho industrial (estudo do objeto e sua utilização) e de comuni- cação visual. Entretanto, em 1963, surge o ensino específico do Desenho Industrial, com a ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial, no Rio de Janeiro. Alexan- dre Wollner (1928-), Aloísio Magalhães (1927-1982), Geraldo de Barros (1923- 1998), Karl Heinz Bergmiller (1928-) e mais tarde Décio Pignatari (1927-2012) fizeram parte do quadro de docentes da ESDI. Visando o projeto como foco do ensino, eles colaboravam com a ABDI – Associação Brasileira de Desenho Indus- trial, (1963) e com a revista Produto e Linguagem, entre outras ações. A década de 1960 foi bastante generosa para o mercado do design na- cional, principalmente para o segmento editorial, em que várias editoras, entre elas, a Livraria José Olympio, em atividade desde a década de 1930, a Civiliza- ção Brasileira, que promoveu um crescimento no número de leitores bastante significativo, e, em especial, a Editora Clube do Livro, que originou uma nova forma de atuação no mercado de livros, trouxeram contribuições importantes para chegarmos ao livro como hoje. Nesse período, o aumento da industrialização e a modernização dos equipamentos, incluindo os processos de impressão, em virtude do crescimen- to promovido pelo momento político e econômico que o país sofria influenciou, segundo Chico Homem de Melo (2006), os aspectos da mudança, neste período, na “linguagem visual mais do que nos quarenta anos seguintes”. A Editora Civilização Brasileira marcou outra mudança no design dos livros, criando para a empresa uma identidade bastante peculiar, estendida aos projetos dos livros que publicava, impactando não somente aos profissionais do ramo, mas aos leitores, que percebiam as mudanças e expressavam reações positivas às capas e, consequentemente, aos seus livros. A Editora Civilização Brasileira, na figura de Eugênio Hirsch, alterou os padrões para a composição das capas, se valendo de recursos diversos para chocar, ou segundo Chico Ho- mem de Mello, como o próprio Hirsch afirmava: “uma capa é feita para agredir, não para agradar” (MELO , 2006, p. 62). 31 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 Figura 5: “O Macaco e a Essência” (1966), capa de Eugênio Hirsch para a Civilização Brasileira. Fonte: MELO (2006). Considerado por Hallewell (1985), “quase tão importante, em seu tem- po, quanto haviam sido as inovações de Monteiro Lobato”, Ênio Silveira, editor da Civilização Brasileira, promoveu verdadeira revolução no mercado editorial, trabalhando com artistas que apresentavam linguagens visuais diversas, mo- dernizando por completo a imagem da empresa. O apoio do Regime Militar, em vigor no país, foi promissor para o ce- nário editorial da década de 1960, o qual se favoreceu de ações engajadas dos editores na redução de impostos para a importação de papel, considerando as consequências vividas, em virtude da censura imposta. A época caracterizou-se também por um grande incentivo à produção: de um lado, o governo atuou como investidor em áreas geradoras de infraestrutura para a indústria, como transporte e comunicações; de outro, decretou medidas que viabilizaram subsídios, reduziram im- postos e taxas de importação. (PAIXÃO, 1998, p. 142) Além da Civilização Brasileira, outras editoras apostaram nas mudan- ças gráficas de suas obras, visto que as influências estrangeiras já se faziam perceber no hábito de leitura brasileiro. Chico Homem de Melo (2006, p.60) ressalta as mudanças nos padrões do “diagrama consagrado de autor, título, ilustração e editora, dispostos um sobre o outro e centralizado em relação ao eixo da capa” (Figura 6). 32Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Figura 6: Capas de “Memórias do Cárcere” (1953) de Graciliano Ramos com capa de Tomás Santa Rosa e de “O Segredo” (1966) de Alfred de Musset com capa de Vicente Di Grado. Fonte: Cardoso (2005) e arquivo do Autor. Com a implantação e incentivo à educação, o livro começa a ser tratado de maneira diferente, após um longo tempo sem modificações significativas e com o aumento de um público leitor mais exigente. Até mesmo visualmente, os cuidados com a produção do livro se tornam necessários e é neste contexto que o marketing entra no mercado editorial alavancando as mudanças nos projetos gráficos que se tornam mais ousados e, por consequência, mais apreciados pelo novo perfil dos leitores. Não se pode deixar de mencionar que o Governo, principalmente na figura de seu Órgão Censor esteve com as atenções voltadas às editoras, que eram consideras como meios de subversão e ideais contestadores, tendo vários títulos apreendidos e muitos autores e editores presos. Em contrapartida, o incentivo governamental à produção industrial e os subsídios e reduções das taxas de importação facilitaram, novamente, o crescimento do setor editorial. No final da década, registrou-se outro boom editorial, com o Brasil ficando en- tre os dez países que mais produziam livros no mundo. A década de 1960 foi, sem precedentes, a que mais teve influências e produções; mesmo com o sistema ditatorial, a liberdade na criação de projetos de design se mostrou bastante livre de amarras, até mesmo com o início do AI52, de dezembro de 1968, instaurando os piores anos da ditadura no Brasil. Enquanto as editoras eram vigiadas e suas obras apreendidas ou censu- 2 Em 13 de dezembro de 1968 é baixado o Ato Institucional nº 5 que decreta o recesso do Congresso, das Assembleias Legislativas e Câmara dos Vereadores. O AI5 foi responsável por instaurar no país, a pesada ditatura militar, que controlava tudo que era produzido com pesada censura. 33 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 radas, por causa da ideologia nacionalista, o Clube do Livro buscava, desde sua fundação em 1943, uma formação ideológica sociocultural baseada nos princí- pios de seu idealizador, Mário Graciotti, com sua proposta de oferecer “o livro limpo, bom e barato, a domicílio” (Graciotti, 1986), ou seja, acesso à literatura para todos, conforme Milton (2002) afirma: Monteiro Lobato influiu significativamente no Clube do Livro com sua tentativa de ampliar o mercado editorial brasileiro para um público maior, buscando popularizar o livro fazendo com que fosse vendido como mercadoria em lojas e bancas de jornais, produzindo capas atra- entes e reduzindo muito da aura que o circundava. (MILTON, 2002, p. 25) A ideia de Graciotti era tão boa que o próprio Lobato, conforme conver- sa relatada pelo primeiro, concordou que seu fracasso editorial, entre outros pontos, se deu em virtude da distribuição, que o Clube do Livro resolveria de maneira inteligente (Graciotti, 1986). 1.2 A Editora Clube do livro A Editora Clube do Livro foi fundada em 1943, em São Paulo, e tinha a proposta de ampliar o número de leitores com uma logística de distribuição de títulos em domicílio e por um custo baixo. Durante sua instalação, se utilizava de títulos de domínio público, o que barateava a publicação, por não necessitar pagamentos de direitos autorais. Como o cenário editorial na década de 1940 estava aquecido em razão do grande interesse pela leitura que se instaurava no país, e tendo consequên- cia, o alto preço dos livros. Mário Graciotti, narra em seu livro “Caro Senhor Ar- canjo, cheio de estrelas, por que não me escutais?” (1986) conversas mantidas com Monteiro Lobato, em 1942, nas quais apresenta sua ideia “acerca da funda- ção de uma editora sui generis, com a incumbência de levar o livro – limpo, bom e barato – a domicílio” (GRACIOTTI, 1986). Assim nasceu a Editora Clube do Livro que trazia em sua filosofia o espí- rito de igualdade que a cultura provê, contida em uma variação livre da frase do político romano, da Antiguidade, Marco Túlio Cícero que dizia: “Uma casa sem livros é como um corpo sem alma”, inserida na quarta capa de todos os títulos publicados pela editora. Mas essa não foi a primeira investida editorial de Graciotti que, em 1934, lançou a Revista inteligência – Mensário da Opinião Mundial –, publicada 34Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras entre 1935 e 1941 em São Paulo, direcionada para o público jovem com o intui- to de promover notícias internacionais dos diversos setores de relevância: Polí- tica, Ciência, Economia, Artes. Em 1938, tornou a editar uma revista, dessa vez na área da saúde e do bem-estar, a Revista Viver! — Mensário de Saúde, Força e Beleza – vendidas, em 1942, para Octaviano Alves de Lima – diretor da Folha da Manhã – e Luiz L. Reid, respectivamente. Mário Graciotti sempre esteve à frente dos movimentos humanistas. Médico por formação e, por convicção sempre se propunha a “servir”. Ele foi um dos fundadores da Sociedade de Estudos Políticos (SEP), em 1932. Foi nomeado diretor da Assistência Social do Estado de São Paulo, que ajudou a organizar em 1933, colaborando com o setor público da saúde com ideias e iniciativas para promover o bem comum da população, assim foi o idealizador do 1º Censo Hospitalar de São Paulo, em 1934. Foi o responsável pela criação do Hospital Sanatório do Mandaqui, em São Paulo, e por mudanças na forma de lidar com a saúde pública no Estado. Como escritor, publicou vários títulos entre romances, contos e crônicas, recebendo diversos prêmios e honras, inclusive da Academia Brasileira de Letras. A editora foi idealizada para ser uma rede de leitura, oferecendo em sistema de assinatura, mensalmente e em domicílio, um título de literatura – nacional ou estrangeira, com qualidade e preço acessível, sendo a editora res- ponsável pelas maiores tiragens de livros populares no país – iniciativa inovado- ra na época. Inicialmente pensada para tiragens em torno de 2.000 exemplares – o que já era algo grandioso, visto que as tiragens se davam em torno de 500 a 1.000 exemplares. Iniciaram através de anúncio nos jornais das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro contendo uma ficha de cadastro com sua proposta. Foram recebidas cerca de 9.000 fichas de associação, o que proporcionou uma tiragem inicial de 10.000 exemplares de O Guarani de José de Alencar, em julho de 1943. Hallewell (1985) comenta que em 1969 a editora chegou a ter um qua- dro de mais de 50.000 sócios, o que garantia a possibilidade de manter, inclusi- ve com porte pago para envio, o fluxo de publicações mensais. O projeto inicial era para publicação de obras de domínio público para que não houvesse custos com direitos autorais, os primeiros volumes progra- mados foram, além de “O Guarani”, de José de Alencar, “Manon Lescaut”, de Abade Prévost; “Pais e Filhos”, de Ivan Turgueniev; “Uma Página de Amor”, de Paulo Mantegazza; “O Abismo”, de Charles Dickens; “Amor de Perdição”, de Ca- milo Castelo Branco (GRACIOTTI, 1986). Depois, por 40 anos, sempre com um 35 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 título por mês, seguiu com sua proposta de oferecer livros de qualidade para seus associados, chegando à marca de mais de 10 milhões de livros durante sua existência e, muitas vezes, atingindo o patamar de 35.000 exemplares distribu- ídos – como por exemplo o título “Uma Lágrima de Mulher” (1956), de Aluízio Azevedo. Durante esse período de atividade, a Editora Clube do Livro publicou uma relação de títulos que traziam nomes da literatura internacional e nacional para as coleções populares. Tal sucesso incentivou Mário Graciotti a fundar, em 1960, a EDIBRA – Editora e Distribuidora Brasileira Ltda., responsável por editar e publicar jovens autores com um custo baixo, cobrando-lhes os valores de produção gráfica acrescidos de uma pequena comissão. 1.2.1 A linha editorial do Clube do livro Com um quadro diverso de sócios – faziam parte do rol de associados, além de domicílios, escolas, quartéis, consultórios, oficinas – o Clube do Livro se utilizava de uma frase do poema “Livro e a América”, contido no livro “Espumas Flutuantes”, de 1870, de Castro Alves, como lema de trabalho (Figura 7): “Oh! Bendito o que semeia Livros ... livros à mão cheia ... E manda o povo pensar! O livro caindo n’alma. É gérmen – que faz a palma! É chu- va – que faz o mar!” Castro Alves. (PEIXOTO, 1976, contracapa)3 Figura 7: Imagem inserida na contracapa dos livros da Editora Clube do Livro. Fonte: Autor. Mas o apelo nacionalista é o destaque para o projeto editorial do Clu- be do Livro, se valendo de apelos patrióticos nas páginas iniciais para, além de promover a própria editora e seus títulos, ampliar a rede de sócios para que 3 PEIXOTO, Afrânio. sinhazinha. São Paulo: Clube do Livro, 1976. Vale ressaltar que os textos extraídos dos livros da Editora Clube do Livro se farão referenciados em notas de rodapé, para não conflitarem com a bibliografia utilizada durante a realização do corpus deste trabalho. 36Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras pudesse se manter comercialmente ativo. Com o propósito declarado de “favo- recer o gosto pela leitura e a formação de bibliotecas econômicas, selecionadas e padronizadas” (DICKENS, 1947, verso folha de rosto) , buscava-se títulos que pudessem enaltecer a cultura dos autores renomados mundialmente. Em texto explicativo contido nos títulos editados, pode-se perceber a visão de trabalho bastante objetiva que a editora trazia desde sua fundação a seus sócios (Figura 8): O Clube do Livro publica há 34 anos boa leitura, exclusivamente para os sócios, praticamente a preço gráfico. O programa abrange todos os gêneros literários, dos melhores escritores nacionais e estrangeiros. Com trânsito livre em todos os lares e nos estabelecimentos de ensi- no. Capa em cores, plastificada. Papel Bouffant, formato padrão com 160 páginas. Inscreva-se agora, veja condições à pág. 160. Bem-vindo ao Clube do Livro. (PEIXOTO, 1976, p. 159) Figura 8: Imagem de anúncio apresentando o Clube do Livro. Fonte: Autor. As notas explicativas na abertura dos livros sempre buscavam enaltecer o espírito da literatura como um prazer, assim como os valores que cada autor e sua obra proporcionavam aos leitores. Em vários momentos, chegando a expli- car o texto aos seus leitores a fim de manter seus propósitos de oferecer livros para todos, como podemos ver nesta nota impressa no livro “O Misterioso Caso de Ritinha”, de Leo Vaz, de 1969 (Figura 9). 37 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 Como as nossas edições, desde 1943, na condição de livro a preço mí- nimo, circulam, livremente, em todos os lares e vêm sendo adotadas, pela sua linguagem correta, por inúmeros estabelecimentos de ensi- no, procuramos, sempre que a ocasião se nos oferece, através de pre- fácios, introduções e notas de pé das páginas, respeitando o caráter de nossa linha editorial, comentar e explicar o texto, a fim de que a literatura cedida aos nossos distintos associados e leitores de todo o País tenha o tríplice objetivo: recrear-lhes o espírito, ilustrá-los e, quando possível, elevá-lo. Para esse efeito, está o volume acompanhado de um calepino . (Nota do “Clube do Livro”) (VAZ, 1969, verso da folha de rosto)4 Figura 9: Nota do Clube do Livro sobre a iniciativa de explicar o texto a seus leitores a fim de um melhor aproveitamento. Fonte: Autor. Em outro volume, “Os Lobos” (1965), de Barros Pereira, Corypheu de Azevedo Marques finaliza a nota explicativa com uma exposição dos valores e missão do Clube do Livro, inclusive com os “louros” de uma empresa que faz história na “expansão do livro em nosso País”. Figura 10: Nota explicativa enaltecendo os valores e objetivos do Clube do Livro. Fonte: Autor. 4 VAZ, Leo. O misterioso caso de Ritinha. São Paulo: Clube do Livro, 1969. 38Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Todas as características das edições seguiam definições bastante rígi- das para que os custos pudessem ser controlados. Os volumes publicados pelo Clube do Livro sempre seguiram um mesmo padrão de impressão e constru- ção formal. Livros com formato de 13 x 21cm e capa impressa em duas cores, normalmente o texto em preto e a ilustração em cor, na maioria das vezes, em papel opaco. Apenas na década de 1970 é que se passou a utilizar mais cores e plastificação nas capas. A utilização de papéis isentos de impostos garantiam também o baixo custo de produção, além de uma diagramação simples, sem variações de miolo, aproveitando ao máximo as dimensões da página a fim de manter o padrão determinado de 160 páginas por livro, mantendo o orçamento sob controle. Com pequenas variações, os miolos das edições eram constituídos de uma diagramação simples, com letras tipográficas organizadas na extensão da página, em uma única coluna. No cabeçalho das páginas ímpares era inserido o nome do autor e nas páginas pares o título da obra, ambos centralizados e em caixa-alta – maiúsculas – com a numeração das páginas alinhadas à esquerda e à direita, respectivamente, não havendo ilustrações internas até a década de 1970. Essa obrigatoriedade de formato também era responsável por algumas modificações em títulos traduzidos, conforme aponta Milton (2002), reduzindo suas páginas ou mesmo cortando trechos das obras, e em outros casos, a publi- cação de títulos era feita em mais de um mês, com volumes sequenciais. Tudo isso para que se pudesse manter o Clube do Livro funcionando, até mesmo por estar sob o Regime Militar, situação que promovia uma autocensura às editoras – em especial ao Clube do Livro que possuía como clientes/assinantes as biblio- tecas e escolas públicas. Vendo a necessidade do mercado em possuir livros mais atrativos, Gra- ciotti convidou o artista Vicente Di Grado para ilustrar as capas de sua editora. Di Grado foi aluno do escultor Nicola Rollo, amigo de Graciotti. A parceria entre Graciotti e Di Grado durou até 1976, quando, em razão de mudanças editoriais, o projeto gráfico do livro foi alterado completamente, sendo a primeira mudan- ça dessa proporção na história da Editora. O formato do livro foi ampliado, a diagramação interna sofreu mudan- ças estruturais, e a montagem das capas passou a ser com ilustrações ou ima- gens fotográficas. Antes, apenas pequenas mudanças visuais nas capas ou mu- 39 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 danças na quantidade média de páginas tinham sido realizadas. Nos anos 1970 ocorreu a introdução das ilustrações, no interior do livro, como complemento visual ao texto. Outra situação presente em alguns volumes é o apelo comercial a que se dá a utilização das orelhas das capas. Em 1957, o livro “Prima Belinha”, de Ribeiro Couto, apresenta, na segunda orelha, um anúncio de um curso de dese- nho por correspondência, ministrado por Vicente Di Grado, seu capista (Figura 11). No título “O Anjo Negro” (1961), de Guglielmo Giannini, Mário Graciotti apresenta seu livro de viagens “Europa Tranquila”, como oferta aos associados. Em “Os Lobos”, há o anúncio de um lançamento da Livraria José Olympio Edito- ra do livro “O pássaro da escuridão”, coincidentemente de sua esposa. Figura 11: Anúncio contido na segunda orelha do livro “Prima Belinha” (1957), de Ribeiro Couto, promovendo o curso de desenho do designer Vicente Di Grado. Fonte: Autor. Como uma alternativa comercial, foram criados concursos literários, como cita Hallewell: A partir de 1968, o Clube começou a estimular deliberadamente a pro- dução de novos autores com a instituição de concursos nacionais, a cada dois ou três anos, para romances inéditos. O concurso de 1972 atraiu 108 concorrentes, contra 52 e 76 nos dois primeiros (HAL- LEWELL, 1985, p. 498). Na década de 1970 a Editora foi transferida para a Editora Revista dos Tribunais, que assumiu a publicação – até mesmo por ser a maior gráfica da época e já responsável pela impressão dos livros – até ser vendida para a Edi- tora Ática, que conservou o nome com a alteração Estação Liberdade/Clube do Livro. Assim se manteve até o encerramento das atividades do Clube em 1989 (MILTON, 2002). 40Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras 1.2.2 Evolução gráfica das capas do Clube do livro O projeto gráfico adotado pela Editora Clube do Livro não se alterou com frequência, mas podemos observar que algumas mudanças criaram fases de desenvolvimento, ou amadurecimento, advindas do perfil editorial e das melhorias tecnológicas contemporâneas a ela. Assim, vê-se que em pequenos ciclos, as capas foram ganhando corpo e importância dentro do perfil editorial, fato que se tornou essencial para o sucesso do Clube do Livro por mais de 40 anos. A Editora nasceu em julho de 1943, e a grande maioria das capas adota- va um padrão puramente tipográfico, sem imagens, o que tornava a sua impres- são simples e barata – característica inerente à editora –, normalmente em uma cor para os adornos e o preto para o texto, composto em sua maioria por fontes sem serifas (Figura 12). A moldura era um padrão visual aos títulos, sendo alteradas somente as cores. Algumas capas apresentavam uma combinação de fontes com serifa no título, mas as outras informações textuais eram em fonte sem serifa. Figura 12: Capa de “O Guarani” (1943), de José de Alencar. Fonte: Autor. Em julho de 1950, se inicia o uso de ilustrações nas capas, provavelmen- te com a chegada de Vicente Di Grado. Os padrões de texto se mantêm, com o título em destaque e na parte superior o nome do autor em menor dimensão. A moldura é retirada e uma ilustração ganha destaque ocupando grande parte da capa com tipografias desenhadas, integrando sua composição. 41 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 De modo geral, se mantém o alinhamento centralizado das informa- ções textuais, a assinatura “Clube do Livro – São Paulo – Ano”, porém, esta se apresenta no rodapé com variações de peso, família tipográfica e tamanho da fonte utilizada (Figura 13). Figura 13: Capa de “A Teoria da Distância” (agosto/1950), de Aristides Ávila. Fonte: Autor. Na segunda metade da década de 1950 se inicia uma padronização das informações textuais: o nome do autor na parte superior com uma fonte pa- drão, sem serifas e em caixa-alta (maiúsculas) e a mesma fonte e tamanho se repete na assinatura, localizados no rodapé, ambos centralizados – na maior parte das vezes em relação ao eixo vertical da capa. As ilustrações ganham qua- se toda a dimensão da capa e os títulos se apresentam desenhados, mas não caligráficos (Figura 14). Figura 14: Capa de “Uma Aventura de Natal” (outubro/1956), de Charles Dickens. Fonte: Autor. 42Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Percebe-se a utilização de uma cor mais o preto para a impressão, assim criando uma produção barata, mas com qualidade gráfica e estética exclusiva, que auxilia a identificar os livros dessa Editora. A partir da década de 1960, tem início uma mudança gráfica nos pa- drões das capas, percebe-se uma leve redução nas dimensões das ilustrações, que começam a dialogar mais com os títulos, as palavras ganham “vida“, por fazerem parte da construção e composição visual da capa enquanto elemento de comunicação (Figura 15). Figura 15: Capa de “O Segredo” (setembro/1966), de Alfred de Musset. Fonte: Autor. Podemos também perceber a utilização de cores criando manchas que tomam a extensão das capas, compondo uma inversão, onde os fundos deixam de ser brancos (cor natural do papel de impressão), tornando-os parte das ilus- trações ou mesmo as informações textuais. Em 1968 é iniciada a utilização de uma marca para identificar a editora, movendo as informações de data para a quarta capa. Ainda no final da década de 1960 a padronização na estrutura visual em detrimento dos processos de impressão off-set é perceptível. A tipografia, de maneira geral no título e no nome do autor, é utilizada com peso constante em sua maior parte, sem redu- ção de tamanho para o nome do autor. Podemos perceber também a utilização de cores fortes e traços simples, derivados dos movimentos artísticos, como o Pop Art americano que perdurará até o final de 1976 (Figura 16). 43 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 Figura 16: Capa de “Uma Paixão no Deserto” (1972), de Honoré de Balzac. Fonte: Autor. Em 1977 o padrão gráfico é completamente alterado, desde seu for- mato, ficando maior em sua altura, até o padrão de ilustração e impressão, se valendo inclusive de fotografias (Figura 17). Figura 17: Capa de “A Semente” ( janeiro/1977), de Marília Fairbanks Maciel. Fonte: Autor. Provavelmente, a diminuição dos trabalhos de Di Grado na Editora e o fato de ela ter sido integrada ao Grupo Ática proporcionou essa mudança editorial. Outra mudança no projeto gráfico, agora no miolo, ocorreu no início 44Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras da década de 1970 quando os títulos começaram a utilizar ilustrações internas, entre três ou quatro por volume, também desenhadas por Vicente Di Grado (Figura 18). Figura 18: Capa e ilustrações internas de Vicente Di Grado para “O Califa” (1972), de Machado de Assis. Fonte do autor.. Fonte: Autor. As ilustrações eram colocadas dividindo-se a quantidade de páginas por 3 ou 4, conforme a quantidade de ilustrações, inserindo uma quebra no ritmo de leitura, pois as ilustrações vinham acompanhadas de uma frase, extraída das páginas anteriores da história, de forma a integrar o leitor ao texto, estimulan- do e explorando a imaginação e o envolvimento com a obra. 1.3 Vicente Di Grado: artista e capista Vicente Di Grado nasceu em 1922, formou-se em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes, em São Paulo, onde foi aluno do escultor ítalo-brasileiro Nicola Rollo (1889-1970), juntamente com Tereza D’Amico, Alfredo Oliani, Joa- quim Figueira e Raphael Galvez, entre tantos. Atuou como artista gráfico no setor de publicidade e como artista plás- tico. Sua obra compreende pinturas e esculturas, com obras expostas em di- versos locais. Sua escultura em bronze, denominada “São Francisco”, datada de 1962, pertence ao acervo da Pinacoteca de São Bernardo do Campo (Figura 19). Na década de 1950 iniciou como capista da Editora Clube do Livro de- senvolvendo as ilustrações e a diagramação das capas para os títulos da editora e recebeu o Prêmio Jabuti em 1963 por seu trabalho na editora. 45 Capítulo 1 - Panorama editorial brasileiro até 1960 Figura 19: Escultura de bronze de São Francisco (1962), acervo da Pinacoteca de São Bernardo do Campo. Fonte: Pinacoteca de São Bernardo do Campo5. Durante o período que atuou no Clube do Livro, Di Grado foi seu princi- pal capista, contribuindo para a identidade dos livros da editora e desenvolven- do suas capas e ilustrações em mais de 200 títulos, além das ilustrações inter- nas que levavam sua assinatura e das capas para edições especiais publicadas, esporadicamente, pela editora. Retornou à Escola de Belas Artes6 como docente em 1966, tendo como alunos Roberto Stavale, Dante Velloni e Célio Rosa – estes últimos convidados mais tarde por Di Grado a voltar como docentes. Em 1968, integrou a admi- nistração da instituição, atuando no cargo de diretor-geral. Nos anos 1970, foi membro da Associação Paulista de Belas Artes, entidade mantenedora da Fa- culdade Belas Artes (mais tarde Centro Universitário) e do muBA – Museu Belas Artes de São Paulo. Em 1988, foi o responsável pela supervisão editorial da edi- ção brasileira do livro “Arte e Percepção Visual”, de Rudolf Arnheim. Faleceu em 14 de abril de 2005, aos 76 anos. Atualmente, uma das gale- rias do Centro Universitário Belas Artes homenageia seu nome. Uma exposição de seu trabalho para a Editora Clube do Livro foi realizada no final do ano de 2010, pelo muBA – Museu da Belas Artes. 5 Disponível em . Acessado em 30/set/2012. 6 A Escola de Belas Artes, atual Centro Universitário Belas Artes, passou por diversas modificações durante sua evolução, sendo transformada em Faculdade de Belas Artes durante a década de 1980 e, mais tarde, em Centro Universitário. 46Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Figura 20: Imagem do prof. Vicente Di Grado. Fonte: www.belasartes.edu.br Enquanto artista gráfico, suas capas para o Clube do Livro eram sintéti- cas – não possuíam logotipo identificando coleções ou séries, apenas as infor- mações de autor e editora permanecem com alterações na tipografia e posi- ção. É perceptível uma identificação desses volumes como coleção e a capa, em apenas duas cores – sempre o preto junto a outra cor –, serviu ao projeto como riqueza expressiva, além da variação da tipografia utilizada para os títulos e ta- manhos para a ilustração, que se altera conforme a obra e o enredo. Segundo Chico Homem de Melo (2006), pode-se afirmar que Vicente Di Grado em seus variados trabalhos “aposta todas as fichas na síntese: um título e uma imagem”. Além disso, a quarta capa permanece a mesma em praticamen- te todos os volumes do Clube do Livro e na lombada constam as informações de autor, título e uma cor correspondente ao desenho de capa em uma estrela de cinco pontas na parte superior e no título da obra – até o final da década de 1960, época em que se altera o projeto gráfico para produções com caracterís- ticas mais industrializadas. “Num mundo em que o livro deixasse de existir, eu não gostaria de viver”. José E. Mindlin 2LIvRO: OBjETO DE fAzER PENSAR O livro em sua estrutura básica, pode ser entendido como um agrupamento de páginas dispostas sequencialmente que apre- sentam uma narrativa composta por elementos textuais, po- dendo estar acompanhados por ilustrações ou imagens, contribuindo para o imaginário do leitor, inter-relacionando seu repertório pessoal às informações visuais e à narrativa, transformando suas impressões e combinando-as com as ideias do autor, oferecendo suporte para que se possa compreender o enredo e acompanhar o ritmo da narrativa apresentada. Mas nem sempre os livros tiveram o formato que conhecemos atual- mente. Partindo da necessidade de registrar os fatos cotidianos desde as so- ciedades primitivas, o homem sempre foi responsável por “armazenar” conhe- cimentos coletivos, iniciando com os desenhos rupestres, evoluindo para os símbolos pictográficos e ideogramas, passando pelos primeiros sistemas de escrita cuneiforme até o desenvolvimento do alfabeto fonético. O suporte de registro do livro também se modificou, passando dos blo- cos de argila na Suméria do século 4.000 A.C. aos rolos de fibras vegetais do papiro, planta de origem oriental, e também aos pergaminhos produzidos com peles de animais até chegar às folhas encadernadas com organização de pági- nas e seções, os códices. Os papiros e pergaminhos apresentavam limitações relacionadas ao conforto da leitura e ao manuseamento da obra e, também, por não permiti- rem que o leitor fizesse anotações durante a leitura, pois necessitava das duas mãos para segurar e manusear os rolos escritos. Já o códice, por sua estrutura de páginas, possui limites definidos para o texto escrito e sua leitura podia ser retomada ou interrompida para anotações, facilitando sua utilização em pes- quisas. Esse modelo foi utilizado pelos monges copistas até a Idade Média e surge como o formato mais próximo do que conhecemos hoje como livro. 49 Capítulo 2 - Livro: objeto de fazer pensar Assim como os formatos, as técnicas de reprodução se tornaram mais práticas com o desenvolvimento dos tipos móveis, em 1440, por Johannes Gut- tenberg, que ofereceria uma forma prática e barata de reprodução de impres- sos, tornando a construção das páginas muito mais rápida e flexível, suprindo a crescente necessidade por conhecimento. A informação escrita deixou de ser exclusividade dos nobres e do clero, o que viria a se tornar um marco para a disseminação da informação. Com o início das impressões em tipos móveis, a expansão da produção de livros ganha espaço em diversos países, recebendo prensas e imprimindo li- vros. Por volta do ano de 1500 já existiam tipografias operando por toda a Euro- pa. Isso fez com que o livro se tornasse uma peça de convívio com a sociedade, passando a ser um disseminador de informação e conhecimento. 2.1 os “livros” do livro Atualmente, não se pensa em um livro apenas como um retângulo ver- tical de dimensões mais ou menos definidas e com as páginas agrupadas pela sua lateral, mas há um conceito diferenciado sobre sua constituição formal que permeia diversos campos de conhecimento e de prática profissional. Ao longo do tempo, os livros ganharam expressões variadas, capazes de passar por formas, materiais e interpretações diversas. Possuindo somente texto, ou integrando textos e imagens, havendo somente imagens ou mesmo sem qualquer tipo de referência explícita, o livro pode ter significações e transmitir ao leitor experiências únicas ao manuseá-lo e ao interagir com esse objeto, envolvendo-se em sua narrativa ou contexto. O leitor ganha uma nova forma de ver e de pensar o livro, utilizando não somente as páginas sequenciais, mas também formas que se desdobram, saltam, se mo- vem no processo de leitura, seja ele linear ou não linear. os livros de imagens A ausência de texto nos livros de imagens oferece uma narrativa consti- tuída apenas por imagens, criando uma representação de um enredo, apresen- tando-se de maneira clara e direta. A leitura da imagem possui características próprias e um modo distin- to de ver, ler e interpretar seus significados: é no mesmo tempo total 50Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras e particular, temporal e atemporal; pode-se ler as partes sem enten- der o todo. No caso das palavras, ocorre uma sucessão temporal de letra, sílabas e vocábulos, que formam conceitos e ideias. (OLIVEIRA, 2011, In: LINDER, 2011, primeira orelha) A ampla fluência que as imagens oferecem proporciona uma riqueza de significações muito mais ampla que o texto verbal, linear, criando inter-re- lações variantes sobre um mesmo foco da narrativa, diretamente dependente do repertório do leitor. Necyk (2006) comenta que no século XIX as ilustrações serviam para guiar a informação e controlar o entendimento das teorias peda- gógicas, mas com as imagens a interpretação se dá pelo próprio leitor, que é responsável pela história e seu desenrolar. Esse formato é comum no universo infantil, em que os livros ilustrados são uma constante, até mesmo para intro- duzir o hábito nas crianças de se relacionar com os livros. Figura 21: Páginas de “A Fada Afilhada” (2001), de Marilda Castanha. Fonte do autor. Os livros sem palavras são sinônimos de livros de imagens, álbum de figurinhas, e outras denominações citadas por Camargo (apud DOMICIANO, 2007) se valem desse recurso para criar estímulos ao leitor que será o coautor da estória, ordenando as imagens e atribuindo significados às páginas. Da mesma forma, a ideia do livro sem texto não quer dizer que ele ne- cessariamente precisa possuir imagens. O designer Bruno Munari, em seu “Livro 51 Capítulo 2 - Livro: objeto de fazer pensar Ilegível” (1955), nos apresenta um livro sem texto no qual é levado em conside- ração apenas o suporte – o papel – e suas possibilidades. Com cortes, ângulos e texturas, narram às percepções de quem manuseia o livro-objeto, possível de ser “lido” a partir de qualquer página e em qualquer ordem. Uma relação direta pode ser feita com os livros de poemas, em que é possível que se abra em qual- quer ponto, sem a necessidade de uma leitura linear, sequencial. É importante destacar que livros podem ser lidos de forma não linear por causa de sua estru- tura gráfica e projetual, tais como os livros infantis de Munari, bem como pela sua estrutura textual, tal como o livro “Jogo da Amarelinha”, de Júlio Cortázar. Nesse romance de 1963, Cortázar explora a não linearidade a partir de vários encaminhamentos possíveis e das diferentes sequências de leitura. A questão principal é a relação com o objeto livro, com o próprio livro. O autor indica os caminhos possíveis de leitura, como em um jogo de amarelinha, explorando as relações subjetivas do leitor. Figura 22: “Livro Ilegível” (1955), de Bruno Munari. Fonte: Estudesign (Blog). Disponível em . Acessado em: 20/7/2011. Os pré-livros são caracterizados por serem constituídos em sua totali- dade de formas e texturas, objetos que isolados não possuem um significado literário, mas ao serem trabalhados conjuntamente ao seu contexto formal ad- quirem um conjunto de informações possível de verbalizações infinitas, sendo limitada apenas pelo seu interlocutor. 52Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Esses livros, assim chamados pela sua forma, buscam explorar o reper- tório e a experimentação criando situações abstratas, sensoriais, imaginativas e únicas, sugerindo direções e narrativas inusitadas cada vez que se folheia, ou melhor, que se manuseia o livro. Elaborados por Bruno Munari, os 12 livros – todos com o título LIVRO na capa – ousam ao apresentar texturas e objetos inseridos de tal forma que for- çam o leitor-usuário a interagir com o que lhes é apresentado, um dos volumes apresenta um botão que instiga a ser fechado, outro possui uma linha atraves- sando todas as suas páginas. Figura 23: “Pré-livros” (1980) de Bruno Munari. Fonte: Achados e Perdidos (Blog). Disponível em: . Acessado em 28/7/2011. Domiciano (2007) narra suas experiências desenvolvendo com seus alu- nos o conceito de pré-livros, os quais foram, inclusive, ferramentas de análise junto às suas pesquisas. O instinto de investigação está amplamente inserido nesse conjunto de formas e elementos que superam as barreiras da linearidade e coerência, criando a cada página um novo enredo, uma nova significação. A construção do livro enquanto objeto é algo que transcende as ima- gens puras e converge em formas e outros recursos capazes de transmitir, ins- tigar e interagir com o leitor, a ponto de não precisar de texto verbal ou mesmo 53 Capítulo 2 - Livro: objeto de fazer pensar imagens. Ao mesmo tempo em que se podem inserir informações visuais que narrem uma história, a própria combinação de objetos podem exercer esse pa- pel. Assim como no livro “Na Noite Escura” (1962), de Bruno Munari, no qual uma das formas inovadoras de apresentar uma narrativa se dá com a caverna recortada em seu interior, e a cada página uma nova informação é apresentada (Figura 24). Os formatos inseridos instigam o leitor a olhar dentro, ou seja, a virar cada página esperando alguma surpresa. Figura 24: Reprodução do livro “Na Noite Escura” (1962), de Bruno Munari. Fonte: O Bicho dos Livros (Blog). Disponível em . Acessado em: 20/7/2011. Esse conceito de interação integra a proposta de um livro-objeto que oferece ao leitor formas de participar do entendimento da narrativa existente, seja de forma textual, visual, texto-visual, seja com linguagens únicas e abstra- tas. o livro-objeto Os livros-objetos por serem mais próximos de obras de arte são ruptu- ras na forma convencional do livro, porém, mantendo sua leitura possível, seja por pequenos textos, seja por sua estrutura formal e interpretativa. Geram pra- zer não somente pelo texto que possuem – e muitas vezes não o possuem – mas por uma percepção sensorial de elementos e materiais diferenciados provocan- do no leitor experiências, muitas vezes inusitadas. Buscam uma relação entre algo concreto – o objeto livro – e sua abstração – o ato da leitura. 54Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras No Brasil, temos no movimento concretista uma grande influência para essa forma de livro, visto as experimentações ocorridas na poesia concreta, propondo uma nova forma de se perceber as palavras e sua construção espa- cial, como os “Poemóbiles” (1974), de Augusto de Campos e Júlio Plaza. Figura 25: “Poemóbiles” (1974), de Augusto de Campos e Júlio Plaza. Fonte: Google Images. Disponível em . Acessado em 12/03/2013. Os livros-objetos são possíveis de existir até mesmo quando seu supor- te extrapola qualquer experiência imaginada. A intervenção de Artur Barrio com seu “Livro de Carne” (1979), por exemplo, retrata um corte realizado em formato de páginas em um pedaço de carne. Barrio não fez um livro de carne apenas para se referir a um livro, o que ele fez foi uma instalação efêmera, o livro serviu de mote. Figura 26: “Livro de Carne” (1978-1979), de Artur Barrio. fonte: Museu Virtual. Disponível em . Acessado em: 16/3/2013 55 Capítulo 2 - Livro: objeto de fazer pensar Os livros-objetos possuem características de obras de arte, assim como demonstram tais características também os livros de artista. Tais livros são ide- alizados para causarem estranheza e reflexão aos seus leitores, vislumbrando uma interpretação crítica. o livro de artista Livro de artista é o “livro em que o artista é o autor”, e livro-objeto é “obra de arte dependente da estrutura de um livro” (Silveira, 2001). Figura 27: “ABC” (1968), Elaine L. Downing. No formato de um acordeão, faz parte da exposição Abecedarium. Feito com apenas uma folha de papel. Disponível em . Acessado em: 21/3/2013. Os livros de artistas tratam o formato, a estrutura gráfica e textual e as imagens internas como suporte e expressão de arte. Há uma proximidade com o campo da poesia visual na concepção desses livros, dessas obras de arte. Mas os limites entre livro de artista e livro-objeto não são claros nem precisos. E existem definições diferentes, variando de autor para autor, sobre as reais construções formais. Assim, o livro de artista pode assumir diversos formatos; como o for- mato de códice, o rolo, a sanfona, a caixa, o envelope com folhas sol- tas, a pasta de arquivamentos, o caderno, etc., tornando-se extrema- mente difícil encaixá-los em sua forma e plasticidade dentro de um mesmo contexto artístico. Por isso, o recurso a uma série de classi- ficações: livro de arte, livro de artista, livro-obra, livro-objeto, livro- poema, poema-livro etc. (TERSARIOLLI, 2008). 56Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras E mais detalhado ainda é o conceito que Fabris e Costa (1985, p.3) apre- senta: Mesmo, na acepção mais ampla, o livro de artista constitui um veículo para ideias de arte, uma forma de arte em si, apresentando pouca ou nenhuma relação com as monografias, os livros-museu imaginário, as edições de luxo (que muitos artistas costumam fazer em colaboração com escritores e poetas), os álbuns de gravura, de reproduções, etc. E, muito embora, neste caso, se possa falar em “ilustração”, é neces- sário, porém, definir o significado peculiar que o termo adquire em obras que não têm como objetivo estabelecer uma relação mecânica, descritiva, entre texto e imagem. (FABRIS E COSTA, 1985, p.3). Figura 28: “Caixa Verde” (1934), de Marcel Duchamp. Considerado um dos primeiros livros de artista. Disponível em . Acessado em: 21/3/2013. Dessa forma, vê-se que em qualquer cultura o livro possui um papel determinante para o crescimento intelectual de uma nação e no Brasil essa re- alidade não é diferente. Haslam (2007) acrescenta que o livro está “intimamente ligado à histó- ria da humanidade”. Monteiro Lobato, escritor brasileiro e um dos responsáveis pelo desenvolvimento editorial do país no início do século XX, imortalizou a frase “um país se faz com homens e livros“, mostrando a importância de se fa- zer um resgate histórico sobre esse segmento pouco explorado pelos pesquisa- dores, preenchendo as lacunas existentes a fim de criar um referencial teórico para o projeto gráfico e editorial de livros. 57 Capítulo 2 - Livro: objeto de fazer pensar 2.2 o (objeto) livro Segundo diversos autores, entre eles, Dondis (1997), Domiciano (2007), Haslam (2007) e Samara (2010), o processo de construção visual do livro, atual- mente, é atribuído ao designer, visto que as etapas de criação e execução são partes de um projeto que deve ser elaborado por um profissional capaz de nor- tear as escolhas de materiais, formatos e organização da linguagem gráfico- visual. Faz parte das atribuições do designer o acompanhamento da constru- ção da mensagem tornando-a possível e facilitando a leitura e compreensão pelo leitor, adequando-a ao contexto do mercado e do público a quem se pre- tende alcançar. Através das relações identificadas é possível compreender o que se sente e, assim, o repertório do leitor poderá atuar influenciando na per- cepção visual do livro, proporcionando o entendimento necessário decorrentes desse processamento de informações. Complementando, Cândido (2003) diz que: “A capacidade de percepção pode ser desenvolvida através de estí- mulos. O esquimó, por exemplo, percebe variados tons de branco na neve. Sabe que as nuances representam diferentes espessuras de neve, o que facilita, assim, a localização de caminhos menos perigo- sos. A percepção acurada da cor branca foi desenvolvida por um estí- mulo advindo de uma necessidade vital” (CÂNDIDO, 2003). Isso demonstra a forma como as imagens podem ser percebidas e pro- cessadas por nós, de modo a compreender o que elas transmitem no seu entor- no. Dessa maneira, o design editorial se torna responsável por criar formas de apresentar uma mensagem, através das palavras e elementos que compõem, entre outros materiais impressos, um livro. O design de livros é diferente de todos os outros tipos de design gráfico. O trabalho real de um designer de livro não é fazer as coisas parecerem legais, diferentes ou bonitinhas. É descobrir como colocar uma letra ao lado da outra de modo que as palavras do autor pareçam saltar da página. O design de livro não se deleita com sua própria en- genhosidade; é posto a serviço das palavras. Um bom design só pode ser feito por pessoas acostumadas a ler – por aquelas que perdem tempo em ver o que acontece quando as palavras são compostas num tipo determinado (HENDEL, 2006, p. 3). Dito isso, vemos que a imagem simbólica e a realidade podem ser clara- mente distinguidas por uma criança, mesmo que ela se perca em pensamentos fantasiosos. É obrigação dos profissionais de design editorial encontrar a har- monia entre o texto, a imagem e os elementos que permitam expressar clara- 58Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras mente o conteúdo, equilibrando os valores estético e comercial da publicação. Com a inserção dos tipos móveis no século XV até os processos evolu- tivos dos sistemas de impressão tipográficos, que se iniciam no final do século XIX com a utilização de prensas mais velozes e com a introdução do sistema Linotipo, possibilita-se um grande desenvolvimento na indústria editorial, inte- grando-se a outras técnicas, como a da utilização da fotografia. Assim, confor- me Araújo (2008), o apelo visual tornou-se cada vez mais forte, além da tipogra- fia passar a ser um elemento compositivo, com textos apresentando variações em suas linhas de base, agora sinuosas, margens irregulares, vários corpos e famílias de tipos misturados. 2.3 Projeto Gráfico Editorial Os autores Necyk (2006), Haslam (2007) e Ambrose (2009f) tratam a construção do livro como uma apresentação de páginas impressas contendo informações textuais – ou imagético-textuais – que possuem uma organização formal planejada para ser compreendida e, de maneira intrínseca, formando uma imagem mental do que é o objeto livro. Esse planejamento das informações é conhecido como projeto gráfico editorial e traça uma linha de conduta estabelecida pela editora para cada pu- blicação, norteando sua forma de ação e seus aspectos gráfico-formais. Comu- mente utilizado em periódicos, o projeto também é estabelecido para os livros no que diz respeito ao perfil editorial da companhia editora e define a forma como se pretende atingir seus objetivos comerciais. O que torna estas funções comerciais bastante evidentes, como defendia Monteiro Lobato, já na década de 1920, é a forma de apresentação gráfica dos livros, inserindo cores fortes e figuras nas capas, tratando-os como produtos “embalados”. Com essas modificações no perfil editorial, os primeiros projetistas grá- ficos começam a aparecer, amparados em um “vocabulário visual” embasado no que ocorriam nas revistas da época, se valendo de ilustrações e elementos vindo das artes plásticas como elementos orgânicos característicos da Art Nou- veau. Dessa forma, a imagem do profissional gráfico começa a se formar no mercado editorial, aparecendo ilustradores, em sua maioria artistas, responsá- veis por ilustrar não só as capas, mas toda a publicação. O principal nome é do português Fernando Correia Dias, que se des- taca pelo conjunto vasto e versátil de soluções, pelo domínio do dese- nho, assim como Antonio Paim, em projetos originais. (NASCIMENTO, 2008) 59 Capítulo 2 - Livro: objeto de fazer pensar Figura 29: Capa de Fernando Correia Dias para “Últimas Cigarras” (1915). Poema de Olegário Ma- riano. Fonte: . Acessado em: 13/11/2012. Segundo Cardoso (2005), desde o final do século XIX a utilização de capas ilustradas já era frequente em diversos países, principalmente com a am- pliação do uso da linotipia, que oferecia possibilidade de inserir imagens nas impressões, dando origem ao uso comercial e publicitário de peças gráficas. A partir do século XX se iniciou o uso de ilustrações nas capas para apresentar partes do conteúdo ampliando a visibilidade nas prateleiras das livrarias. Com essa nova conotação, a elaboração das configurações visuais do livro – capa e miolo – começou a fazer parte do projeto gráfico, responsável por definir tudo o que seja referente ao livro desde o formato da página ao tipo de letra utilizado, localização de numeração, vinhetas e tudo mais. Essa estrutura principal de um livro se dá pela sequência de páginas de papel ou outro suporte possível de impressão, capaz de armazenar informações textuais e imagens a fim de construir um volume, seja ele parte ou não de uma coleção. É constituído por páginas agrupadas em cadernos, geralmente costu- rados, utilizando uma capa para proteção das páginas internas, cuja função é apresentar a identificação dos livros, seu título, nome do autor e a casa editora que confeccionou o volume. 60Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Figura 30: As partes de um livro. Fonte do autor. 2012. Araújo (1986) descreve a estrutura dos livros, em quatro partes: Pré- textual: são elementos que antecedem o texto principal. Como elementos mí- nimos, que devem aparecer em uma obra, na seguinte ordem – falsa folha de rosto, folha de rosto, dedicatória, epígrafe, sumário, lista de ilustrações, lista de abreviaturas e siglas, prefácio e agradecimentos; textual: o texto correspon- dente ao conteúdo da obra, o livro propriamente dito; Pós-textual: localiza-se depois do texto principal, elementos que a constituem podem ser as referên- cias bibliográficas, os anexos, o posfácio, a errata, o glossário, os índices – re- missivo e/ou onomástico – e o colofão e Extratextual: a capa e sua formatação específica (capa, segunda capa, terceira capa, quarta capa e orelhas). 2.2.1 Elementos Projetuais do livro O projeto de um livro contempla a melhor organização estético-formal para representar a mensagem proposta pelo autor. Uma combinação de ele- mentos capazes de representar graficamente a ideia central do título. Silveira (2006) coloca o papel do designer como fundamental para que a experiência da leitura seja “um encontro do leitor com a expressão sensorial e textual de determinado universo de ideias proposto pelo autor”, apoiando o conceito de um projeto que atenda as necessidades da obra em transmitir as sensações de época, lugar, linguagem entre outros aspectos que irão compor a narrativa. 61 Capítulo 2 - Livro: objeto de fazer pensar E é através do projeto gráfico que as formas e elementos visuais ga- nham força e estabelecem as diretrizes da linha editorial desejada, estes ele- mentos projetuais são definidos por Araújo (2008) e compreendem, além da estrutura formal (papel, sistema de impressão, acabamentos, entre outros), os quesitos estéticos envolvidos no desenvolvimento visual tratando de questões que envolvem a análise e correta escolha de tipos, cores, formas tanto para o miolo do livro quanto para a capa que “deve ser visualmente agradável e coe- rente com o conteúdo da obra”. Dessa maneira, ao se projetar um livro, é necessário que se resolvam questões compositivas para que se possa refinar a forma como a mensagem chegará ao seu leitor. Para isso, são utilizados elementos que fazem com que as ideias sejam compreendidas e traduzidas para estruturas onde será possível identificar essa mensagem. Hendel (2003) reforça esse modo de pensar ao expressar o conceito de design invisível para o livro, considerando que o leitor não está preocupado com o tipo de letra utilizado ou como a diagramação auxilia no fluxo da leitura. Com isso os elementos devem ser muito bem planejados, de forma a tornar sua apresentação o mais natural possível. Hoje, não é mais viável considerar essa argumentação como única possibilidade de construção do livro, visto que, enquanto livro-objeto, suas características básicas se perdem, mas a mensagem – agora conceitual – continua a existir e ser transmitida de maneira clara e na- tural. 2.2.1.1 Formato Hendel (2003) afirma que o design do livro começa pelo formato. Has- lam (2007) cita que o termo “formato” muitas vezes é aplicado apenas ao tama- nho do livro (altura e largura) e são publicados, basicamente, em três formatos definidos, conforme a orientação do papel que servirá de suporte: retrato, pai- sagem ou quadrado. Partindo da frase de Hendel (2003) que diz que “os designers estão para os livros assim como os arquitetos estão para os edifícios”, vemos que, as- sim como a diagramação, o formato do livro deve ser pensado cuidadosamente. Os menores detalhes do projeto editorial são minuciosamente pensados – e o formato está incluído nele – para poder ser confortável ao leitor tanto como objeto de leitura quanto para seu manuseio. 62Capas de Vicente Di Grado na década de 1960: análises e leituras Mas o designer precisa saber como calcular essas dimensões para o for- mato do livro. Hendel (op. cit.) fala que o conceito de Proporção Áurea, baseado na Sequência de Fibonacci7, foi utilizado largamente por Gutemberg e seus con- temporâneos para a produção das páginas dos livros naquele período. Atualmente o livro pode ter qualquer formato que o designer imaginar, mesmo sendo o retângulo vertical como mais usual. Essa relação tem a ver com o custo do projeto como um todo, em razão dos padrões gráficos adotados nas dimensões do papel, que já predeterminam alguns tamanhos para que haja economia na impressão. Ambrose (2009f) afirma que “dois fatores principais afetam o tamanho final de uma página em um livro: o tamanho da folha origi- nal do papel e o número de vezes que a folha de papel é dobrada antes de ser refilada”. Ambrose (2009d), assim como Hendel (2003), argumentam que a defi- nição do formato do papel para impressão se dá através de normas internacio- nais que regem as fabricações das folhas industrializadas, o que dificulta for- matos diferenciados de livros pois seu custo aumenta por causa do consumo de papel. P