1 Natalia Freitas Rossi Caracterização do fenótipo comportamental e de linguagem na síndrome de Williams-Beuren Tese apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Botucatu, para obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas: área de concentração: Genética Orientadora: Profa. Dra. Célia Maria Giacheti Botucatu – SP 2010 2 “Nossa entrada no mundo da Ciência e da Tecnologia será pela porta de trás, a da Ciência em construção, e não pela entrada mais grandiosa da Ciência acabada” (LATOUR, 2000, p. 16) ii ii 3 À cada um dos indivíduos com a síndrome de Williams-Beuren e seus familiares que, gentilmente, ajudaram na “escrita” desse trabalho. iii Dedico este trabalho 4 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS A Deus, que é o meu orientador divino, e que me guia nesses caminhos, nem sempre fáceis, porém necessários de serem percorridos como parte do meu crescimento espiritual e pessoal. Aos meus pais, Silvia e Luiz, que têm responsabilidade direta sobre o produto final desse trabalho, quando desde a minha graduação incentivaram todo e qualquer movimento no sentido de que eu pudesse continuar na vida acadêmica, mesmo, quando nos momentos mais difíceis parecia que não seria possível continuar. Ao meu marido Rogério, grande incentivador do meu trablho e que soube compreender da forma mais respeitosa e bem humorada possível as minhas ausências, mas, principalmente, por confiar e acreditar nas minhas opções, tomando-as também como dele, mesmo que isso tenha nos levado a uma distância de alguns 7.000 Km. Minha eterna gratidão. Ao meu irmão Gustavo e a minha cunhada Marília, que compartilham comigo a escolha pela vida acadêmica, embora por áreas distintas, mas que damos conta de entrelaçá- las nos momentos de convivência. Aos meus sogros, José Franciso e Ozélia e minha cunhada Ana Olívia, pela paciência, compreensão e incentivo que demonstraram comigo durante a realização desse trabalho. Ao meu tio Eliás (in memoriam), de quem infelizmente eu não pude me despedir, por estar do outro lado do atlântico desenvolvendo parte desse trabalho, e aos meus primos, Raquel, Junior e à minha tia Cecília. iv 5 À minha orientadora, Profa. Dra. Célia Maria Giacheti, que exerce no sentido mais verdadeiro da palavra o papel de orientação, da qual tive o privilégio de desfrutar desde a graduação, depois no mestrado e agora no doutorado. Por esses anos de parceria e convivência minha gratidão e respeito profissional e pessoal. v 6 AGRADECIMENTOS Ao programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Genética) do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” pelos ensinamentos ao longo da minha pós-graduação e por ter acreditado neste trabalho. Ao Dr. Danilo Moretti-Ferreira, que abriu as portas do seu serviço para receber a Fonoaudiologia, e por ter confiado a mim um dos seus temas de investigação, ajudando sempre na viabilização de grandes conquistas. À Deise Helena de Souza, com quem compartilho a realização desse trabalho pelo mesmo programa de Pós-Graduação, e por ter me recebido gentilmente tantas vezes na sua casa. Ao Prof. Dr. Óscar Gonçalves, quem eu tive o prazer de conhecer e ter sido orientada durante os 4 meses de estadia no Laboratório de Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho, Braga, Portugal, e pelo aprendizado nas suas discussões semanais junto aos seus orientandos. À Dra. Adriana Sampaio, exemplo de dinamismo, que contribuiu significativamente para a realização deste trabalho, sendo também uma referência durante a minha estadia no Laboratório de Neuropsifisiologia da Universidade do Minho, Braga. À Dra. Margarida Henriques da Universidade do Porto, Portugal pelas horas de treinamento e ensino para o uso do protocolo de avaliação da narrativa oral. À Dra Helena Garayzábal, da Universidade Autonoma de Madrid, pela parceria de trabalho iniciada no Laboratório de Neurospsicofisiologia da Universidade do Minho, Braga, Portugal. À Juelina Nunes, mãe da Jéssica e presidente da Associação Brasileira da Síndrome de Williams do Brasil, quem eu pude conhecer e admirar pela sua incansável luta na busca pelo respeito e direitos dos portadores da síndrome de Williams. À Dra. Gimol Benzáquem Perosa do Departamento de Neurologia e Psiquiatria Infantil e à psicóloga Partrícia Blumantal pelas avaliações psicológicas dos indivíduos deste trabalho. vi 7 À Profa. Dra. Agnes Fett Conte, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, à Profa. Dra. Vera Lúcia Gil da Silva Lopes e ao Prof. Dr. Carlos Steiner, da Universidade de Campinas, que contribuíram viabilizando seus pacientes para participarem deste trabalho. Ao Dr. Antonio Richieri-Costa pelas ricas discussões sobre os casos deste trabalho. Ao Dr. Adriano Dias pela realização e assistência na parte estatística deste trabalho. À equipe do Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas (LiNC) - Seção de Neuroinformática e Neuroimagem Estrutural da Universidade Federal de São Paulo, Dr. Rodrigo Affonseca Bressan, Dra. Andrea Parolin Jackowski, Dr. Acioly Lacerda e à Stella Maria Malta. À Dra. Isabel Bordin da Universidade Federal de São Paulo, por ter disponibilizado um instrumento de pesquisa importante para a realização deste trabalho, e também pela orientação quanto ao uso e análise. À Dra. Cristiana Ferrari, da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, Unesp, pelas ricas discussões, principalmente nestes momentos finais de fechamento dos dados deste trabalho. Aos queridos amigos de pós-graduação, Gustavo, Carlos Eduardo e Bruno, pela assistência e sempre prontidão que têm para me ajudar. Aos funcinários da Secretaria de Pós-Graduação, Luciene e Herivaldo, pelas orientações constantes ao longo da realização deste trabalho. Ao serviço de revisão bibliográfica e elaboração de ficha catalográfica da biblioteca da Faculdade de Medicina de Botucatu,Unesp. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Programa de Doutorando no Brasil com Estágio no Exterior – PDEE) pelo auxílio financeiro deste trabalho. vii 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 18 1.1. Síndrome de Williams-Beuren: diagnóstico e etiologia ...............................................19 1.2. Síndrome de Williams-Beuren: correlação genótipo-fenótipo .....................................23 1.3. Síndrome de Williams-Beuren: fenótipo comportamental ............................................ 30 1.4. Síndrome de Williams-Beuren: fenótipo cognitivo e de linguagem. ............................ 32 2. JUSTIFICATIVAS ............................................................................................................. 42 3. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 44 4. ASPECTOS ÉTICOS ......................................................................................................... 46 5. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 48 5.1. CASUÍSTICA ................................................................................................................ 48 6. MÉTODOS .......................................................................................................................... 58 6.1. Inventário de problemas comportamentais .................................................................... 58 6.2. Avaliação da linguagem ................................................................................................ 58 ARTIGO CIENTÍFICO 1 ....................................................................................................... 63 ARTIGO CIENTÍFICO 2 ....................................................................................................... 87 ARTIGO CIENTÍFICO 3 – versão submetida ..................................................................... 111 ARTIGO CIENTÍFICO 3 – versão em português ............................................................... 130 CONCLUSÕES GERAIS ...................................................................................................... 148 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 150 viii 9 LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................................22 Figura 1. Representação esquemática da região 7q11.23 indicando o ponto de quebra das deleções de 1.55Mb, entre os blocos B centromérico e medial e deleções de 1.8Mb entre os blocos A centromérico e medial .......................................................................................................................................52 Figura 2. Indivíduos com a SWB do Brasil que compuseram o grupo amostral ix 10 LISTA DE TABELAS .............................................................................................................................................. 50 Tabela 1. Freqüência de sinais clínicos do grupo com a SWB do Brasil .............................................................................................................................................. 53 Tabela 2. Caracterização da casuística composta por indivíduos com a SWB falantes do Português do Brasil do artigo científico 1 .............................................................................................................................................. 55 Tabela 3. Caracterização da casuística composta por indivíduos com a SWB falantes do Português do Brasil e seus respectivos controles do artigo científico 2 (estudo 1) .............................................................................................................................................. 55 Tabela 4. Caracterização da casuística composta por indivíduos com a SWB falantes do Português do Brasil e de Portugal do artigo científico 2 (estudo 2). .............................................................................................................................................. 57 Tabela 5. Caracterização da casuística composta por indivíduos com a SWB falantes do Português do Brasil e seus respectivos controles por idade mental do estudo 3. .............................................................................................................................................. 57 Tabela 6. Caracterização da casuística composta por indivíduos com a SWB falantes do Português do Brasil e seus respectivos controles por idade cronológica do estudo 3. x 11 LISTA DE QUADROS ......................................................................................................................................... 24 Quadro 1 – Apresentação dos 28 genes localizados na região 7q11.23 da SWB com seus respectivos nomes, função e relação com o fenótipo xi 12 LISTA DE SIGLAS ABFW = Teste de Linguagem Infantil ABSW = Associação Brasileira da Síndrome de Williams CA = Chronological Age CBCL = Child Behavior Checklist CNV = Copy Number Variation CPS = Cocktail Party Speech EAS = Estenose Aórtica Supravalvar FAMERP = Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto FISH = Hibridização in situ por Fluorescência FSIQ = Full Scale Intellectual Quotient IC = Idade cronológica IM = Idade mental ITPA = Teste Illinois de Habilidades Psicolinguísticas LCR = Low Copy Repeat MA = Mental Age NAHR = Non Allelic Homologous Recombination QI = Quociente Intelectual QIE = Quociente Intelectual Executivo QIT=Quociente Intelectual Total QIV = Quociente Intelectual Verbal SAG = Serviço de Aconselhamento Genético SWB = Síndrome de Williams-Beuren TDAH = Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade TVIP=Teste de Vocabulário por Imagens Peabody UMINHO = Universidade do Minho UNESP = Universidade Estadual Paulista UNICAMP=Universidade de Campinas WBSCR = Williams Beuren Syndrome Critical Region WS = Williams Syndrome WSCP = Williams Syndrome Cognitive Profile xii 13 RESUMO A síndrome de Williams-Beuren (SWB) é um distúrbio neurodesenvolvimental causado por uma deleção hemizigótica de 1.5Mb na região cromossômica 7q11.23. Essa síndrome é reconhecida pelo comportamento sociável com fala fluente e favorecimento das habilidades auditivas se comparadas às visuais. O objetivo deste estudo foi caracterizar o fenótipo comportamental e da linguagem na SWB. A casuística geral desta pesquisa foi formada por 40 indivíduos com diagnóstico da SWB, positivos para a deleção do gene da Elastina na região cromossômica 7q11.23 confirmado pela técnica de Hibridização in situ por Fluorescência (FISH), sendo 30 falantes do Português do Brasil e 10 falantes do Português de Portugal. Também foram avaliados 30 indivíduos controles falantes do Português do Brasil e 10 falantes do Português de Portugal. Para responder ao objetivo, a pesquisa foi dividida em 3 estudos. O objetivo do estudo 1 foi investigar problemas comportamentais de crianças e adolescentes com a SWB, identificados pelos pais e correlacioná-los ao desempenho intelectual e de linguagem. No estudo 2, o objetivo foi caracterizar o perfil da fluência da fala em indivíduos com a SWB na situação de narrativa, comparando-os com indivíduos com desenvolvimento típico de linguagem e idade mental. O objetivo do estudo 3 foi comparar o desempenho de indivíduos com SWB com controles semelhantes por idade mental e cronológica em tarefas auditivas e visuais, além de investigar o perfil de habilidades auditivas comparadas às visuais. Foi aplicado o inventário comportamental Child Behavior Checklist (CBCL/6-18 anos), provas e testes de linguagem para o estudo 1. Foram aplicadas tarefas em situação de narrativa, com apresentação de figura de ação e figuras sequenciais para análise da fluência no estudo 2. O Teste Illinois de Habilidades Psicolinguísticas foi utilizado no estudo 3. Os resultados dos estudos mostraram que problemas de atenção e problemas com contato social foram os mais referidos pelos pais dos indivíduos com a SWB. A análise de correlação sugeriu que os problemas comportamentais identificados pelos pais estão mais diretamente relacionados ao desempenho da linguagem (estudo 1). Quanto a fluência da fala, verificou-se diferenças significantes, principalmente paras as disfluências comuns da fala e pausas com freqüência mais elevada para o grupo SWB em relação aos controles. Resultado semelhante foi encontrado na comparação entre o grupo SWB de Portugal e seus controles. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre a fluencia da fala do grupo com a SWB do Brasil quando comparada a Portugal (estudo 2). Quanto ao desempenho no ITPA os resultados mostraram diferenças estatisticamente significantes entre o grupo com SWB e controles por idade mental e cronológica para todas as tarefas auditivas e visuais (recepção, v vi vii xiii 14 associação, memória sequencial e closura). O grupo com a SWB apresentou desempenho semelhante entre habilidades auditivas e visuais (memória sequencial e closura); e desempenho superior para habilidades visuais em relação às auditivas (recepção e associação). Os achados sugerem que os comportamentos predominantes, identificados pelos pais de indivíduos com a SWB apresentam correlação com o desempenho na linguagem (estudo 1). Sugere-se que a frequência aumentada das disfluências apresentadas pelos indivíduos com a SWB do Brasil e de Portugal, na situação de narrativa, pode estar relacionada às dificuldades na elaboração e organização da linguagem (estudo 2). Sugerem ainda que tanto as habilidades auditivas quanto as visuais estão prejudicadas na SWB, quando o ITPA foi analisado (estudo 3). Palavras-chave: Comportamento, Cognição, Linguagem, Síndrome de Williams-Beuren xiv 15 ABSTRACT Williams-Beuren syndrome (WBS) is a neurodevelopmental disorder caused by a hemizygous deletion of 1.5Mb in chromosome region 7q11.23. WBS phenotype has been described as social behavior, fluent speech and superior auditory abilities despite visuospatial impairments. The purpose of this study was to characterize the WBS behavioral and language phenotype. The present study was composed of 40 WBS, positive for Elastin gene deletion on chromosome 7q11.23 confirmed by Fluorescent in Situ Hybridization (FISH), involving 30 Portuguese speakers from Brazil and 10 Portuguese speakers from Portugal. Thirty typically development Portuguese speakers’ individuals from Brazil and 10 from Portugal were also involved. To meet the goal, three studies were conducted in this research. In the study 1 the purpose was to investigate behavioral problems according to WBS parents report and to correlate it with the intellectual and language performance. The purpose of the study 2 was to characterize the speech fluency profile of WBS individuals in narrative task and compare to typically development and finally in study 3, was to compare performance of individuals with WBS to chronological aged-matched and mental age matched group on auditory and visual processing. The Child Behavior Checklist (CBCL/6-18 years old) and language tests were applied for study 1. In the study 2, a single-picture and a picture-sequence were applied to assess narrative and speech fluency profile. The Illinois Test of Psycholinguistic Abilities was used in study 3. Results showed that social and attention problems were mentioned by WBS’ parents. The correlation analysis suggested that behavioral problems identified by parents were more directly related to language performance (Study 1). Significant differences were observed in speech fluency profile, especially on common breakdowns (non-stuttered) and pauses often more frequently in the WBS group. A similar pattern was found to WBS from Portugal. No statistically significant differences were found between the speech fluency of the WBS group from Brazil when compared to WBS Portugal (Study 2). The performance on the ITPA results showed statistically significant differences between the WBS group and typically development group for mental and chronological age in all visual and auditory tasks (reception, association, sequential memory and closure). WBS group showed similar performance between auditory and visual abilities (sequential memory and closure), and superior performance for visual skills (reception and association subtests – Study 3). The findings of this research suggested that both prevalent behaviors identified by WBS individuals’ parents have been correlated with the language performance (Study 1). The increased frequency of speech disruption made by WBS individuals from Brazil and Portugal, xv 16 in narrative task may be related to planning and language organization difficulties (Study 2). Additionally, it is also suggested that auditory were not strengths in WBS, according to the ITPA performance (Study 3). Keywords: Behavior, Cognition, Language, Williams-Beuren Syndrome. xvi 17 INTRODUÇÃO 18 1. INTRODUÇÃO O termo "Behavioral Phenotype" ou "Fenótipo Comportamental" foi utilizado, pela primeira vez, por William Nyhan (1972) como uma tentativa de descrever o conjunto de características comportamentais que transcendiam os achados físicos e sistêmicos observados em uma mesma condição genética. A proposta partiu da caracterização fenotípica de dois irmãos do sexo masculino que apresentavam em comum comportamento compulsivo e autodestrutivo, conhecido atualmente como síndrome de Lesch-Nyhan, descrita em 1964 (LESCH; NYHAN, 1964). O termo “Fenótipo Comportamental” é amplamente utilizado, principalmente na literatura internacional, para referenciar o conjunto de comportamentos de uma síndrome genética específica que vai desde comportamentos relacionados ao quadro de déficit de atenção até características da personalidade, dos aspectos cognitivos e de linguagem (DYKENS, 1995, PLOMIN; RENDE, 1991, HODAPP; DYKENS, 1994, HARRIS, 1997; O’BRIEN, 2002). A perspectiva da existência de fenótipos de linguagem para diferentes síndromes genéticas é coerente – mesmo em se considerando que o distúrbio de linguagem possa ser comum a diferentes síndromes genéticas – pois o perfil do distúrbio é delineado de forma distinta para cada uma delas. Como exemplo, pode-se citar a síndrome de Down e a síndrome do Cromossomo X Frágil que partilham da existência de alterações neurofuncionais, de deficiência mental e de prejuízos de fala e linguagem, mas que, no entanto, apresentam perfis neurofuncionais, cognitivos e de linguagem bastante distintos (MILLER, 1999). Na literatura é possível encontrar a terminologia fenótipo comportamental para a descrição das características comportamentais de uma síndrome e o termo “Fenótipo Cognitivo” e “Fenótipo de Linguagem” para descrever não somente um conjunto de características cognitivas e de linguagem, mas principalmente os mecanismos neurocognitivos que levam a uma determinada característica (MILLER 1999, DONNAI; KARMILOFF- SMITH, 2000; FIDLER; PHILOFSKY; HEPBURN, 2007; MARTENS et al., 2008). Segundo Flint e Yule (1994) ao definir-se o fenótipo comportamental de uma síndrome torna-se possível determinar a presença de comportamentos específicos que constituíram parte deste fenótipo. Entretanto, outros pesquisadores assumiram um ponto de vista mais cauteloso a este respeito partindo de uma visão probabilística na qual a presença de comportamentos específicos numa síndrome deve ser entendida como uma probabilidade de constituírem parte do fenótipo da síndrome, a depender da interação entre fatores genéticos e 19 ambientais (DYKENS, 1995, 1999; PLOMIN; RENDE, 1991, HODAPP, 1997, O’BRIEN, 2002; DAL-FARRA; PRATES, 2004. HODAPP; DYKENS, 2007). A proposta de caracterizar perfis comportamental, cognitivo e de linguagem de uma síndrome genética não deve ser vista como uma questão meramente acadêmica, uma vez que o delineamento de perfis de habilidades e dificuldades traz implicações não somente nos estudos de correlação genótipo-fenótipo, como também na conduta e intervenção educacional destes sujeitos (O’BRIEN, 2000; TIERNEY et al., 2001; MERVIS; ROBINSON, 2005). Deste modo, o profissional assume a postura de prevenir e minimizar a expressão destas características fenotípicas (FIDLER; PHILOFSKY; HEPBURN, 2007). Essa linha de investigação pode ser considerada relativamente recente no meio científico. A partir de 1990, houve um aumento considerável no número de publicações sobre o tema, incluindo pesquisadores de várias especialidades empenhados na intersecção entre a genética, a cognição, a linguagem e o comportamento (ARTIGAS-PALLARES, 2002; MAZZOCCO; ROSS, 2007). Estudo retrospectivo realizado por Dykens e Hodapp (2007) traçou um paralelo evolutivo sobre essa linha de investigação, mostrando que o número de estudos sobre o tema quintuplicou no período de 2004-2005, comparativamente ao período entre 1994-1995. Segundo o levantamento apresentado pelos autores a síndrome de Williams-Beuren e a síndrome Velocardiofacial foram as condições genéticas que mais contribuíram para este aumento nas publicações sobre fenótipo em geral. 1.1. Síndrome de Williams-Beuren: diagnóstico e etiologia. A síndrome de Williams-Beuren (SWB, OMIM 194050) é um distúrbio neurodesenvolvimental causado por uma deleção hemizigótica na região cromossômica 7q11.23 (EWART et al., 1993; OSBORN et al., 1999). Frequentemente, esta síndrome é de origem “de novo”, com ocorrência de 1 a 20.000 nascimentos (MARTIN et al., 1984; MORRIS et al., 1993; BORG et al., 1995; MORRIS; MERVIS, 2000; PANKAU et al., 2001). O primeiro gene associado à base genética da SWB foi o gene Elastina (ELN), descoberto a partir de um estudo familial com segregação da Estenose Aórtica Supravalvar (EAS) onde foi constatada uma translocação recíproca t(6;7)(p21.1;q11.23) (CURRAN et al., 1993; MORRIS et al., 1993). A partir desta descrição o estudo foi replicado nos casos com diagnóstico clínico da SWB, uma vez que a EAS era uma das principais características 20 fenotípicas descritas na síndrome, sendo então confirmada a deleção do gene ELN na região 7q11.23 (EWART et al., 1993). Aproximadamente 95% dos casos com fenótipo positivo para a SWB apresentam o gene ELN deletado (EWART et al., 1993; NICKERSON et al., 1995, PEREZ-JURADO et al., 1996, BAYÉS et al., 2003). O fenótipo da SWB inclui características faciais típicas como: achatamento da região média da face; proeminência e inchaço periorbitário; narinas antevertidas; filtro nasal longo; lábios volumosos; bochechas proeminentes, orelhas salientes e micrognatia (MORRIS et al., 1988; BAYÉS et al., 2003). No entanto, com a idade, as características faciais tendem a modificar-se, como o aumento dos lábios inferiores, a diminuição do inchaço periorbital e o alongamento facial (KOTZOT et al., 1995). A hipercalcemia é uma manifestação comum a SWB e pode estar presente, principalmente na infância, sendo a prevalência deste sintoma bastante variável, uma vez que dependendo da idade do diagnóstico este quadro pode ter revertido (PEREZ-JURADO et al., 1996). O fenótipo da SWB também é marcado pela característica vocal rouca; baixa estatura; hiperacusia; alterações cardiovasculares; e, deficiência mental. Aproximadamente 75 a 80% dos casos com a SWB têm a confirmação de alterações cardíacas, sendo a mais freqüente a estenose aórtica, encontrada em aproximadamente 65% dos casos (JONES; SMITH, 1975; MORRIS et al., 1988; SUGAYAMA et al., 2003). A partir da segunda década de vida, a hipertensão pode acometer os indivíduos com a SWB, exigindo controle medicamentoso e monitoramento constante (LASHKARI et al., 1999). Ao longo dos anos alguns sistemas baseados em escores clínicos foram sugeridos para auxiliar na suspeita diagnóstica da síndrome e no encaminhamento para realização com a técnica de Hibridização in situ por Fluorescência (FISH) para a região 7q11.23, com destaque para o sistema de Lowery et al. (1995), American Academy of Pediatrics (2001) e Sugayama (2001). Dos três sistemas de pontuação, o sistema proposto por Lowery et al. (1995) é o que considera um menor número de sinais relacionados ao aspecto comportamental e do desenvolvimento, incluindo apenas a presença ou ausência do atraso ou deficiência mental à qual é atribuído 1 ponto quando presente, dentre outras características como: fácies típica (3 pontos); estenose aórtica supravalvar (2 pontos); alguns outros tipos de cardiopatia congênita (1 ponto); hérnia inguinal (1 ponto) e hipercalcemia (2 pontos). O sistema de pontuação proposto pela American Academy of Pediatrics (2001) foi subdividido em áreas, a saber: crescimento; comportamento; desenvolvimento; características 21 faciais; problemas cardiovasculares; alterações do tecido conjuntivo e nível do cálcio. Sobre a área de comportamento e desenvolvimento são previstos sinais clínicos como: (1) traço de personalidade amigável; (2) hipersensitividade a sons; (3) ansiedade; (4) atraso no desenvolvimento ou deficiência mental; (5) problemas viso-construtivos e, (6) atraso na aquisição da linguagem seguido por comportamento falante. Na área relacionada ao comportamento deve ser atribuído 1 ponto, caso pelo menos 3 características, das 6 listadas, estejam presentes. A proposta de pontuação apresentada por Sugayama (2001) baseia-se em escores aplicados a 15 características comuns à SWB que inclui baixo peso ao nascimento; dificuldades alimentares; constipação intestinal; fácies típica, estenose aórtica supravalvar; deficiência mental; e, personalidade sociável, às quais são atribuídos 3 pontos caso estejam presentes. Características como estrabismo e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor recebem 2 pontos cada uma, enquanto que sinais como dificuldade para ganhar peso; outra cardiopatia congênita; hipertensão arterial; contraturas articulares; e, hiperacusia recebem 1 ponto cada. A região cromossômica 7q11.23 Williams Beuren Syndrome Critical Region (WBSCR) é flanqueada por regiões repetitivas altamente homólogas, denominadas Low Copy Repeat (LCR) que estão organizadas em 3 blocos (Bloco A, B, C centromérica, medial e telomérica) com aproximadamente 320Kb cada (Figura 1). (ROBINSON et al., 1996). A maioria dos casos com a SWB apresentam deleção entre 1.2Mb a 1.9 Mb (Figura 1), embora também sejam encontradas deleções entre 0.2 Mb a 2.5Mb. As deleções atípicas correspondem à perda de segmentos inferiores ou superiores a 1.5Mb. Deleções de 1.8Mb ocorrem em 5% dos casos com a SWB, com ponto de quebra entre o Bloco A centromérico e medial (PEREZ JURADO et al., 1996; PEOPLES et al., 2000; SCHUBERT, 2008). O mecanismo genético da SWB permaneceu por muitos anos desconhecido até a descoberta das LCRs que favorecem a ocorrência de crossing over desigual durante a meiose, uma vez que estas regiões apresentam alta taxa de recombinação cromossômica levando à deleção da SWB. Este pareamento ocorre entre o cromossomo homólogo não alélico, denominado Non Allelic Homologous Recombination (NAHR) entre os blocos de LCR, especialmente entre o Bloco B centromérico e medial, nos casos de deleção típica de 1.5 Mb (BAYES, 2003). Estudo publicado por Cuscó et al. (2009) mostrou que a região 7q11.23 da SWB apresenta variação no número de cópias de seqüência de DNA conhecida como Copy Number Variation (CNV) predispondo à deleção que causa a SWB. Nesse estudo, os autores 22 identificaram variação no número de cópias na região 7q11.23 em 8 dos 180 pais investigados, sendo em 4,4% dos casos uma variação do tipo deleção e em 2,2% a variação do tipo duplicação. Até o momento, foram descritos 28 genes localizados na região 7q11.23 (BAYES, 2003), sedo que desses 28 genes, 22 estão localizados na região crítica da SWB – Williams Beuren syndrome critical region, entre os blocos de LCR C e B medial (SHUBERT, 2008) (Figura 1). Apenas 5 a 8% dos casos clínicos típicos da SWB apresentam deleção de 1.84Mb e 90 a 95% apresentam a deleção de 1.5Mb (POBER; JOHNSON; URBAN, 2008). Figura 1 - Representação esquemática da região 7q11.23 indicando o ponto de quebra das deleções de 1.55Mb, entre os blocos B centromérico e medial e deleções de 1.8Mb entre os blocos A centromérico e medial. Fonte: modificado de Ferrero et al. (2009). O estudo de deleções atípicas, principalmente inferiores a 1.5Mb, representa um importante aliado na correlação genótipo-fenótipo por permitir ao investigador uma análise mais pontual entre o gene versus o fenótipo; especialmente em relação aos aspectos neuropsicológicos e comportamentais da SWB por serem estas características fenotípicas altamente complexas, uma vez que a sua expressão envolve, tanto fatores genéticos, quanto ambientais (VAN HAGEN et al., 2006). O estudo de rearranjos cromossômicos envolvendo a região 7q11.23 também tem-se revelado um importante aliado na identificação de genes diretamente envolvidos no desenvolvimento da fala e da linguagem (OSBORNE; MERVIS, 2007). Nesta região, atualmente são conhecidas alterações fenotípicas que incluem dentre as suas principais características aspectos relacionados à fala e à linguagem. Se, por um lado, a deleção da região 7q11.23 é responsável por um fenótipo comportamental que inclui a 23 presença de deficiência mental e superioridade para habilidades verbais em relação aos prejuízos visoespaciais; por outro lado a duplicação desta região resulta num fenótipo marcado por prejuízos na produção verbal com desempenho visoespacial aparentemente adequado (SOMERVILLE et al. 2005; MERLA et al., 2006; VAN DER AA et al., 2009). 1.2. Síndrome de Williams-Beuren: Correlação genótipo-fenótipo. O gene Elastina (ELN) é o único gene bem caracterizado quanto a sua correlação genótipo-fenótipo na SWB, sendo que muito pouco se sabe à respeito da deleção dos demais genes sobre fenótipo da SWB, principalmente, em relação ao fenótipo neurocognitivo (POBER, 2010). A seguir serão apresentados os 28 genes localizados na região 7q11.23 da SWB, do sentido centromérico para telomérico, com seus respectivos nomes, símbolos, função e correlações fenotípicas (Quadro 1). 24 Q ua dr o 1 – A pr es en ta çã o do s 2 8 ge ne s l oc al iz ad os n a re gi ão 7 q1 1. 23 d a SW B c om se us re sp ec tiv os n om es , f un çã o e re la çã o co m o fe nó tip o. G en e N om e of ic ia l N om e al te rn at iv o Fu nç ão d a pr ot eí na Fe nó tip o PO M 12 1 PO M 12 1 m em br an e gl yc op ro te in (r at ) M G C3 79 2; P O M 12 1A ; FL J4 18 20 ; K IA A0 61 8; D K FZ p5 86 G 18 22 ; D K FZ p5 86 P2 22 0 C om po ne nt e do c om pl ex o de po ro s n uc le ar es q ue c on tro la o trá fe go b id ire ci on al m ac ro m ol ec ul ar e m c él ul as . R el aç ão d es co nh ec id a. N SU N 5 N O P2 /S un d om ai n fa m ily , m em be r 5 NO L1 ; p 12 0; N O L1 R; M G C9 86 ; N SU N 5A ; W BS C R2 0; F LJ 10 26 7; W BS C R2 0A Pr ot eí na c om u m d om ín io N O L1 /N O P2 /s un . P od e at ua r n a re gu la çã o do c ic lo c el ul ar . R el aç ão d es co nh ec id a. FK BP 6 FK 50 6 bi nd in g pr ot ei n 6, 3 6k D a FK BP 36 ; P PI as e; M G C8 71 79 Pr ot eí na im un of ili na . A tu a na fe rti lid ad e m as cu lin a e pa re am en to de c ro m os so m os h om ól og os n a m ei os e. Es te ril id ad e m as cu lin a, a sp er m ia , al te ra çõ es m or fo ló gi ca s n o es pe rm at oz ói de (C R A C K O W ER e t a l. 20 03 a pu d W ES TE R V EL D e t a l., 20 05 ). R el aç ão d es co nh ec id a co m o fe nó tip o da S W B . FZ D 9 Fr iz zl ed h om ol og 9 (D ro so ph ila ) FZ D 3; C D 34 9 Pr ot eí na s q ue a tu am c om o re ce pt or es p ar a pr ot eí na s si na liz ad or as W nt . P od e es ta r en vo lv id a na p ol ar id ad e e de se nv ol vi m en to te ci du al . Ex pr es sã o pr ed om in an te m en te n o cé re br o, te st íc ul o, o lh os , m us cu la tu ra es qu el ét ic a e rin s ( N C B I) . A lte ra çã o ne ur oa na tô m ic a no h ip oc am po (r at os ), al te ra çã o vi so es pa ci al , m em ór ia e ap re nd iz ag em (Z H A O e t a l. 20 05 ). Su a re la çã o co m o fe nó tip o da S W B a in da nã o es tá c la ra . BA Z1 B Br om od om ai n ad ja ce nt to zi nc fi ng er do m ai n, 1 B W ST F; W BS CR 9; W BS CR 10 É um c om po ne nt e do c om pl ex o W IN A C re m od el ad or d e cr om at in a A TP -d ep en de nt e. C on tro le tra ns cr ic io na l d a vi ta m in a D (Y O SH IM U R A e t a l., 2 00 9) . A h ap lo in su fic iê nc ia d es te g en e po ss iv el m en te a um en ta a c on de ns aç ão cr om os sô m ic a e pr ej ud ic a a at iv id ad e tra ns cr ic io na l d a cé lu la le va nd o a al te ra çõ es m et ab ól ic as q ue in cl ue m a sí nt es e de v ita m in a D e a h ip er ca lc em ia (C U S; M A U R U S; K U H L, 2 00 6) . 25 Q ua dr o 1 (c on tin ua çã o) G en e N om e of ic ia l N om e al te rn at iv o Fu nç ão d a pr ot eí na Fe nó tip o BC L7 B B- ce ll C LL /ly m ph om a 7B M em br o da fa m íli a de p ro te ín as B C L7 . F un çã o ai nd a de sc on he ci da . R el aç ão d es co nh ec id a. TB L2 tr an sd uc in (b et a) -li ke 2 W BS C R1 3; M G C1 34 73 9; W S- be ta TR P; D K FZ p4 34 N0 24 Pr ot eí na β -tr an sd uc in a co m q ua tro re pe tiç õe s p ro vá ve is W D 40 . P od e at ua r e m v ia s d e si na liz aç ão in tra ce lu la r o u or ga ni za çã o do ci to es qu el et o. R el aç ão d es co nh ec id a co m o fe nó tip o da S W B . H á re la to d e qu e a pr ot eí na tra ns du ci na a tu a co m o su pr es so r tu m or al (L I; W A N G , 2 00 8) . M LX IP L M LX in te ra ct in g pr ot ei n- lik e M IO ; C H RE BP ; M O ND O B; W BS CR 14 ; W S- bH LH ; b H LH d1 4 Fa to r d e tra ns cr iç ão d a gl ic os e qu e ju nt am en te c om o ut ro s g en es e st á en vo lv id o na li po gê ne se h ep át ic a. R el aç ão d es co nh ec id a. VP S3 7D Va cu ol ar p ro te in so rt in g 37 h om ol og D (S . c er ev isi ae ) W BS C R2 4; M G C3 53 52 Tr áf eg o ce lu la r e c om pl ex o en do ss ôm ic o. R el aç ão d es co nh ec id a. D N AJ C 30 D na J (H sp 40 ) ho m ol og , s ub fa m ily C , m em be r 3 0 W BS C R1 8; M G C1 29 43 D om ín io D na J e nv ol vi do n o do br am en to d e pr ot eí na s. R el aç ão d es co nh ec id a. W BS CR 22 W ill ia m s B eu re n sy nd ro m e ch ro m os om e re gi on 22 W BM T; P P3 38 1; H U SS Y- 3; M G C2 02 2; M G C5 14 0; H AS J4 44 2; M G C1 97 09 Pr ot eí na c om m ot if de li ga çã o S- ad en os il- L- m et io ni na . P od e es ta r en vo lv id a co m m et ila çã o do D N A . R el aç ão d es co nh ec id a. ST X1 A Sy nt ax in 1 A (b ra in ) ST X1 ; H PC -1 ; p 35 -1 ; S TX 1A Pr ot eí na si nt ax in a 1A , d es em pe nh a pa pe l c ha ve n o tra ns po rte in tra ce lu la r e li be ra çã o de ne ur ot ra ns m is so r. C ar ac te rís tic a fa ci al tí pi ca ju nt o ao g en e G TF 2I (H IR O TA e t a l., 2 00 3) . AB H D 11 Ab hy dr ol as e do m ai n co nt ai ni ng 1 1 PP 12 26 ; W BS CR 21 D om ín io α -β h id ró lis e. F un çã o po uc o co nh ec id a. R el aç ão d es co nh ec id a. 26 Q ua dr o 1 (c on tin ua çã o) G en e N om e of ic ia l N om e al te rn at iv o Fu nç ão d a pr ot eí na Fe nó tip o C LD N3 Cl au di n 3 RV P1 ; H RV P1 ; C 7o rf 1; C PE -R 2; C PE TR 2 Pr ot eí na c om po ne nt e de ju nç õe s de fi ta “ tig ht ” em c él ul as ep ite lia is d o fíg ad o. A tu a na m an ut en çã o da p ol ar id ad e ce lu la r. R el aç ão d es co nh ec id a. C LD N4 Cl au di n 4 C PE R; C PE -R ; C PE TR ; CP ET R1 ; W BS CR 8; h CP E- R Pr ot eí na c om po ne nt e de ju nç õe s de fi ta “ tig ht ” em c él ul as ep ite lia is d o rim . A tu a na m an ut en çã o na p ol ar id ad e ce lu la r. R el aç ão d es co nh ec id a. W BS CR 27 W ill ia m s B eu re n sy nd ro m e ch ro m os om e re gi on 27 M G C4 01 31 Fu nç ão d es co nh ec id a. R el aç ão d es co nh ec id a. W BS CR 28 W ill ia m s- Be ur en sy nd ro m e ch ro m os om e re gi on 28 M G C2 67 19 Fu nç ão d es co nh ec id a. R el aç ão d es co nh ec id a. EL N El as tin W S; W BS ; S VA S; F LJ 38 67 1; FL J4 35 23 Pr ot eí na e st ru tu ra l, co m po ne nt e de fi br as e lá st ic as . A tu a na m or fo gê ne se a rte ria l. C ar di op at ia , c ar ac te rís tic a vo ca l r ou ca , en ve lh ec im en to p re co ce , d iv er tíc ul os ve si ca is , h ér ni as , f ro ux id ão d as ar tic ul aç õe s ( M IL A e t a l., 1 99 9; D U B A e t a l., 2 00 2; V A U X e t a l., 20 03 ). 27 Q ua dr o 1 (c on tin ua çã o) G en e N om e of ic ia l N om e al te rn at iv o Fu nç ão d a pr ot eí na Fe nó tip o LI M K 1 LI M d om ai n ki na se 1 LI M K Se rin a/ tre on in a qu in as e co m do m ín io s L IM . A tu a na m od el aç ão d o ci to es qu el et o de ac tin a es se nc ia l à m ig ra çã o ne ur on al . Pr ej uí zo v is oc on st ru tiv o (F R A N G IS K A K IS e t a l., 1 99 6) . Fu nç ão a in da q ue st io na da , u m a ve z qu e fo ra m d es cr ito s c as os c om d el eç ão qu e nã o ap re se nt av am d ifi cu ld ad es vi so co ns tru tiv o (T A SS A B EH JI e t a l., 19 99 ; M ER LA e t a l., 2 00 2; K A R M IL O FF -S M IT H e t a l., 2 00 3) . Es tu do d e Sc hi m itt e t a l. (2 00 1) su ge riu pa rti ci pa çã o na s a lte ra çõ es m or fo ló gi ca s d o co rp o ca lo so n a SW B . EI F4 H Eu ka ry ot ic tr an sl at io n in iti at io n fa ct or 4 H W SC R1 ; W BS CR 1; K IA A0 03 8 Pr ot eí na c on té m u m m ot if de re co nh ec im en to d e R N A . A tu a no in íc io d a sí nt es e pr ot ei ca . R el aç ão d es co nh ec id a. LA T2 Li nk er fo r a ct iv at io n of T c el ls fa m ily , m em be r 2 LA B; N TA L; W SC R5 ; W BS C R5 ; H SP C0 46 ; W BS CR 15 R eg ul aç ão d a at iv aç ão d e m as tó ci to s. Fu nç ão p ou co co nh ec id a. R el aç ão d es co nh ec id a. RF C2 Re pl ic at io n fa ct or C (a ct iv at or 1 ) 2 , 40 kD a A1 ; R FC 40 ; M G C3 66 5 C om po ne nt e do c om pl ex o de re pl ic aç ão d o fa to r C , o q ua l é u m at iv ad or d e D N A p ol im er as e du ra nt e a re pl ic aç ão . Fa to r d e cr es ci m en to n eu ro na l. Su ge re - se re la çã o co m p re ju íz os ne ur od es en vo lv im en ta is (M EN G e t a l., 19 98 ; D O N N A I; K A R M IL O FF - SM IT H , 2 00 0) . R el aç ão p ou co co nh ec id a co m o fe nó tip o da S W B . 28 Q ua dr o 1 (c on tin ua çã o) G en e N om e of ic ia l N om e al te rn at iv o Fu nç ão d a pr ot eí na Fe nó tip o C LI P2 CA P- G LY d om ai n co nt ai ni ng li nk er pr ot ei n 2 C LI P; C YL N 2; W SC R3 ; W SC R4 ; W BS CR 3; W BS CR 4; C LI P- 11 5; K IA A0 29 1; M G C1 13 33 Pr ot eí na d e lig aç ão ci to pl as m át ic a. A tu a na re gu la çã o da d in âm ic a de m ic ro tú bu lo s. C ar ac te rís tic as fa ci ai s, ju nt o ao s ge ne s G TF 2I RD 1 (T A SS B EH JI , 20 03 ; T A SS A B EH JI e t a l., 2 00 5; FE R R ER O e t a l., 2 00 9) e ta m bé m pr ej uí zo s m ot or es (V A N H A G EN et a l., 2 00 6, F ER R ER O e t a l., 20 09 ). G TF 2I RD 1 G TF 2I re pe at do m ai n co nt ai ni ng 1 BE N ; W BS ; G TF 3; R BA P2 ; C RE AM 1; M U ST RD 1; W BS CR 11 ; W BS CR 12 ; hM us TR D 1a lp ha 1 M em br o da fa m íli a de fa to re s de tr an sc riç ão G TF 2I c om zi pp er -le uc in a e ci nc o re pe tiç õe s- I. Po de a tu ar n a at iv aç ão /s up re ss ão d a tra ns cr iç ão g ên ic a. Pr ej uí zo m ot or , c ar ac te rís tic as fa ci ai s t íp ic as e p re ju íz o vi so co ns tru tiv o típ ic o da S W B , ju nt am en te c om a d el eç ão d o ge ne G TF 2I (D A I e t a l., 2 00 9; FE R R ER O e t a l., 2 00 9) . D el eç ão pa rc ia l n ão le va a o pe rf il co gn iti vo típ ic o da S W B (D A Í e t a l., 2 00 9) . W BS CR 23 W ill ia m s- Be ur en sy nd ro m e ch ro m os om e re gi on 23 FL J2 23 67 D es co nh ec id a. R el aç ão d es co nh ec id a. 29 Q ua dr o 1 (c on tin ua çã o) G en e N om e of ic ia l N om e al te rn at iv o Fu nç ão d a pr ot eí na Fe nó tip o G TF 2I G en er al tr an sc ri pt io n fa ct or II i W BS ; D IW S; S PI N ; I B2 91 ; BA P1 35 ; B TK AP 1; T FI I- I; W BS CR 6; G TF II -I ; F LJ 38 77 6; FL J5 63 55 Fa to r m ul tif un ci on al d e tra ns cr iç ão . C on té m u m z ip pe r- le uc in a e se is d om ín io s H LH - lik e (I -r ep ea ts ). Fu nç õe s, ta nt o co m o fa to r b as al c om o at iv ad or . D ef ic iê nc ia m en ta l e a lte ra çõ es ne ur ol óg ic as . S ug er e es ta r re la ci on ad o co m o d es en vo lv im en to cr an io fa ci al (H IR O TA e t a l., 2 00 3; M O R R IS e t a l., 2 00 3; TA SS A B EH JI e t a l., 2 00 5) . D es em pe nh o co gn iti vo m ai s pr ej ud ic ad o no s c as os c om d el eç ão co m pl et a e pa rti ci pa çã o no co m po rta m en to so ci al tí pi co c om a fa ci lid ad e pa ra in te ra gi r c om es tra nh os (D A I e t a l., 2 00 9, FE R R ER O e t a l., 2 00 9) . NC F1 N eu tr op hi l c yt os ol ic fa ct or 1 NC F1 A; N O XO 2; p 47 ph ox ; FL J7 94 51 ; S H 3P XD 1A Su bu ni da de d a N A D PH ox id as e, q ue é u m a en zi m a qu e at ua n a pr od uç ão d e ân io n su pe ró xi do . G ra nu lo m at os e cr ôn ic a. R el aç ão po uc o co nh ec id a co m o fe nó tip o da SW B . E st ud o de D el C am po e t a l. (2 00 6) su ge riu re la çã o co m a hi pe rte ns ão d a SW B . G TF 2I RD 2 G TF 2I re pe at do m ai n co nt ai ni ng 2 FP 63 0; F LJ 21 42 3; F LJ 37 93 8; M G C7 52 03 ; G TF 2I RD 2A Se qu ên ci a es tru tu ra l s em el ha nt e ao s g en es G TF 2I e G TF 2I RD 1 G en e co nt en do ta nt o re pe tiç õe s- I q ua nt o um m ot if C ha rl ie 8- lik e tr an sp os as e. Fu nç ão d es co nh ec id a. R el aç ão d es co nh ec id a. In fo rm aç õe s o bt id as c om b as e na li te ra tu ra re fe re nc ia da e n o N at io na l I ns tit ut es o f H ea lth - ht tp :// w w w .n cb i.n lm .n ih .g ov / 30 1.3. Síndrome de Williams-Beuren: fenótipo comportamental O fenótipo comportamental da SWB é marcado pela facilidade de interação social, desinibição, impulsividade, além da atração por pessoas estranhas. A sociabilidade desses indivíduos, por outro lado é apontada como uma característica ambígua, uma vez que de acordo com o julgamento dos pais esta facilidade para interagirem com estranhos e de preferência com idade superior a deles representa uma preocupação social. Entretanto, os próprios pais consideram que o comportamento extrovertido e amigável dos seus filhos são pontos positivos por facilitarem a interação social dos mesmos. Porém, na prática social tais comportamentos frequentemente geram problemas de adaptação uma vez que favorecem o desrespeito de regras sociais básicas (BELLUGI et al., 1994; GOSCH; STÄDING; PANKAU, 1994, GOSCH; PANKAU, 1996). No estudo publicado por Gosch, Städing e Pankau (1994) os autores utilizaram o Child Behavior Checklist (CBCL) e o Vineland Social Maturity Scale, ambos aplicados aos pais. Nesse estudo os autores selecionaram 20 itens, os quais foram respondidos pelos pais como comportamentos presentes (sim) ou ausentes (não). Dentre os comportamentos citados pelos autores incluem-se: hábito de destruir objetos; morder outras crianças; desobediência; obstinação; ansiedade; inquietação; dificuldade para permanecer sentado; hiperatividade; fala excessiva; hiperacusia; dificuldades para dormir; dificuldades para comer; enurese; desinibição com estranhos; hábito de seguir estranhos; mentira; e, vergonha. Os autores concluíram que indivíduos com a SWB são menos inibidos e tem maior tendência para interagirem com pessoas estranhas e, além disso, possuem ainda mais sensitividade a sons e, de um modo geral, são menos ajustados socialmente. Um aspecto interessante no estudo dos autores (GOSCH, STÄDING; PANKAU, 1994) foi que o comportamento falante não apareceu como uma peculiaridade entre estes indivíduos, uma vez que não houve diferença em relação aos controles. No entanto, 79% da amostra foi classificada pelos pais como extrovertidos e amigáveis. Analisando este comportamento em relação a outros estudos, os autores observaram uma porcentagem superior para tal comportamento em relação aos demais estudos, ressaltando que tal resultado pode ter sido influenciado pela média de idade do seu grupo. Segundo os autores, os demais estudos avaliaram indivíduos com SWB com idade média superior, sendo provável uma maior influência de aspectos educacionais e sócioadaptativos. Os autores também verificaram que, de acordo com o julgamento dos pais, a facilidade para interagirem com estranhos e de preferência com idade superior a deles representa uma preocupação social, mas, no entanto, 31 os próprios pais consideram que o comportamento extrovertido e amigável de seus filhos é um ponto positivo porque facilita a interação social dos mesmos. Estudo publicado por Greer et al. (1997) utilizou o inventário“Child Behavior Checklist (CBCL)”, para investigar os problemas comportamentais de indivíduos com a SWB, sendo observado que segundo a percepção dos pais, a escala de problemas atenção foi aquela que obteve maior pontuação clínica positiva para os indivíduos com a SWB, enquanto que a área de problemas sociais foi classificada como limítrofe para a maioria dos casos. Grahan et al. (2005) utilizaram as escalas externalizante e internalizante do CBCL para comparar os problemas de comportamento identificados na síndrome de CHARGE, com aqueles observados nos indivíduos com a SWB e a síndrome de Down. Verificaram que os escores obtidos para problemas de comportamento pertencentes à escala externalizante (comportamentos de agressividade, agitação e delinquência) foi semelhante entre as três síndromes. Fobia e ansiedade são sintomas frequentemente descritos como parte do fenótipo comportamental da SWB (DAVIES; UDWIN; HOWLIN, 1998; DYKENS, 2003, LEYFER et al. 2006). Estudo longitudinal realizado por Einfeld; Tonge e Rees (2001) mostrou que o distúrbio da comunicação, problemas comportamentais e emocionais, destacando-se a ansiedade, são manifestações que tendem a persistir como parte do fenótipo dos indivíduos com a SWB. Os indivíduos com a SWB apresentam maior probabilidade para apresentar sintomas de déficit de atenção e hiperatividade se comparados à população em geral (CARRASCO et al., 2005; LEYFER et al. (2006). A hiperatividade está presente em 63-87% dos casos com SWB, sugerindo ser mais frequente na idade escolar, diminuindo na adolescência (MORRIS et al., 1988; GOSCH; STÄDING; PANKAU, 1994; GOSCH; PANKAU, 1996; CARRASCO et al., 2005). Não é incomum adolescentes ou adultos com a SWB apresentarem histórico de tratamento medicamentoso para hiperatividade na infância e nos primeiros anos escolares (BAWDEN et al., 1997; POWER et al., 1997). O prejuízo atencional parece ser um dos fatores que reflete nas dificuldades que os indivíduos com a SWB apresentam no planejamento e na execução de tarefas, inclusive motoras (FARRAN; JARROLD, 2003; HOFFMAN; LANDAU; PAGANI, 2003). Estudo de prevalência de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e do Transtorno de Ansiedade publicado por Leyfer et al. (2006) investigou 119 indivíduos com a SWB, FISH positivo, com idade entre 4 e 16 anos. Para este estudo os autores 32 utilizaram inventários de comportamentos, respondidos pelos pais, com base nos critérios diagnósticos estabelecidos pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth Edition (DSM-IV). Segundo os autores, o diagnóstico de TDAH foi o mais comum dentre os 119 indivíduos avaliados, com ocorrência de 64,7% dos casos, sendo que 68,8% apresentaram o tipo predominantemente desatento, 25,9% o tipo combinado (déficit de atenção e hiperatividade) e 3,9% o tipo predominantemente hiperativo. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes quando considerado o sexo e o nível intelectual dos indivíduos com SWB. No entanto, os autores verificaram que os sintomas de TDAH são fortemente influenciados pela idade cronológica dos indivíduos. Foi constatado que na faixa etária de 7 a 10 anos de idade há uma prevalência para o diagnóstico de TDAH em relação às faixas etárias de 4 a 6 anos ou de 11 a 16 anos, sendo que o tipo combinado prevaleceu para as idades mais jovens (4 a 6 anos) e o tipo desatento prevaleceu para as idades de 11 a 16 anos. Assim, os autores concluíram que apenas a variável idade exerceu influência sobre problemas de comportamento relacionados ao quadro de TDAH. O fenótipo comportamental da SWB tem sido marcado por traços opostos de sociabilidade, uma vez que esses indivíduos são mais susceptíveis às situações sociais, mas que, no entanto falham no seguimento de regras sociais (GOSCH; STÄDING; PANKAU, 1994; GOSCH; PANKAU, 1996; ROSSI; MORETTI-FERREIRA; GIACHETI, 2007; HAAS et al., 2009), incluindo o desrespeito às regras conversacionais (LAWS; BISHOP, 2004; PHILOFSKY et al., 2007; MERVIS; BECERRA, 2007; JOHN; ROWE; MERVIS, 2009). Estudo longitudinal realizado por Elison, Stinton e Howlin (2010) investigou 43 adultos com a SWB mostrando que o nível intelectual tende a manter-se ao longo dos anos e que os problemas de adaptação social tendem a estar relacionados com o nível intelectual dos indivíduos. Neste estudo, 18 dos 43 indivíduos tinham a confirmação para a deleção do gene da Elastina, sendo que os demais tinham o diagnóstico com base nos critérios clínicos da síndrome. O fenótipo comportamental da SWB apresenta a coocorrência de problemas incluindo dificuldade de atenção; hiperatividade; irritabilidade; mudança de humor repentina; mas, ao mesmo tempo também são dotados de uma sociabilidade marcante (POBER, 2010). 1.4. Síndrome de Williams-Beuren: fenótipo cognitivo e de linguagem. A SWB foi reconhecida na literatura mundial pelo intrigante funcionamento 33 neurocognitivo, por apresentar características que sugerem a dissociação entre os domínios cognitivos verbais e não-verbais, denominado Williams Syndrome Cognitive Profile”. Esse fenótipo neurocognitivo inclui também a facilidade para habilidades musicais e para o reconhecimento facial (PAGON et al., 1987; UDWIN; YULE 1990; JARROLD et al., 1998; MERVIS et al., 2000; STILES et al., 2000; SCHMITT, 2001; ATKINSON et al., 2002; GRANT et al., 2002). A característica de fala fluente, bem articulada e gramaticamente correta, contrastando com prejuízos cognitivos, compuseram as primeiras e principais descrições sobre o fenótipo comportamental da SWB (VON ARNIM; ANGEL, 1964; JONES; SMITH, 1975). A partir da década de 1990, surgiram as primeiras pesquisas mais especificamente sobre o fenótipo comportamental desta síndrome, como o estudo “Expressive language of children with Williams syndrome, em 1990, e “A cognitive and behavioral phenotype in Williams syndrome”, em 1991, ambos publicados por Udwin; Yule (1990; 1991) e “Hypotesis for development of a behavioral phenotype in Williams syndrome” publicado por Dilts; Morris; Leonard, (1990). O termo “Cocktail Party Speech” (CPS,) atribuído aos indivíduos com a SWB, foi introduzido no estudo de Udwin e Yule (1990) como uma representação dos comportamentos verbais e aspectos relacionados à personalidade dos indivíduos com a SWB que incluía a presença de fala fluente e bem articulada, condutas sociáveis, uso de frases e comportamentos estereotipados, clichês e o hábito de introduzir experiências pessoais que são irrelevantes e fora do contexto. O estudo das habilidades cognitivas na SWB vem sendo apresentado de forma bastante abrangente na literatura, principalmente internacional. O Quociente Intelectual (QI) dos indivíduos com a SWB frequentemente varia entre 50 e 70, caracterizando prejuízo intelectual entre moderado a limítrofe (JONES; SMITH, 1975; UDWIN et al. 1987; PAGON et al. 1987; STEVENS; KARMILOFF-SMITH, 1997; KOTZOT et al., 1995; BELLUGI et al. 2000), sendo o rebaixamento do QI total atribuído ao prejuízo nas tarefas executivas, suscitando a suposta dissociação entre as habilidades verbais e não-verbais (UDWIN; YULE 1991; JARROLD et al, 1999). Estudo publicado por Crisco, Dobbs e Mulhern (1988) investigou o desempenho de 22 indivíduos com a SWB no Teste Illinois de Habilidades Psicolinguísticas (ITPA) e mostrou que estes indivíduos apresentaram prejuízos significativos para as tarefas visuais em relação às tarefas auditivas. 34 A superioridade verbal, assim como a característica de fala fluente e bem articulada tem sido atribuída ao ótimo funcionamento do circuito articulatório-fonológico baseado no input auditivo da informação (audição) e no output verbal (fala), em detrimento ao circuito visoespacial responsável pelo julgamento e manipulação das informações visuais e espaciais (WANG et al., 1995; BELLUGI et al., 1999; 2000; JARROLD et al., 2001; VICARI et al., 1996; SCHULTZ et al., 2001; NICHOLS et al., 2004; JARROLD; BADDLEY; PHILIPS, 2007). Entretanto, estudos mais específicos sobre o processamento visual da informação em indivíduos com a SWB mostraram que a dificuldade desses indivíduos está na capacidade de integração dos estímulos visuais, de modo que o processamento da informação visual não se faz por completo. Segundo os autores, o processamento visual dos indivíduos com a SWB se atém à fase de análise dos detalhes da imagem e não segue para a etapa seguinte, em que o cérebro realiza a integração visual a fim de gerar uma representação global (JORDAN et al. 2002). Essa dificuldade integrativa ocorre preferencialmente mediante tarefas que requerem rotação e julgamento espacial, mas que estão prejudicadas em ambas as fases (FARRAN; JARROLD, 2003; HOFFMAN et al., 2003; VICARI et al., 2004; FARRAN, 2005). Estudos de neuroimagem correlacionando o desempenho dos indivíduos com a SWB em tarefas de processamento visual tem corroborado a hipótese de um funcionamento dissociativo entre a via visual ventral (anterior) e dorsal (posterior), sendo que as regiões mais posteriores do cérebro são as mais comprometidas (REISS et al., 2000, 2004; GALABURDA et al., 2002; JACKOWSKI; SCHULTZ, 2005). A via visual dorsal, que está relacionada ao processamento de informações espaciais tem sido apontada por vários pesquisadores como uma via eminentemente prejudicada na SWB, tanto em nível estrutural (ATKINSON et al., 1997; 2001; 2003; 2006; NAKAMURA et al. 2002) como funcional (MEYER-LINDENBERG et al., 2004); enquanto que a superioridade para tarefas de reconhecimento facial justificariam a integridade da via visual ventral (ATKINSON et al., 1997; 2001; 2003; 2006; BELLUGI et al., 2000; 2001). A hipótese de dissociação entre funções verbais e visoconstrutivas, linguagem e cognição tem sido questionada por alguns pesquisadores que sugerem um desenvolvimento atípico, atrasado e não dissociado (KARMILOFF-SMITH et al., 1997; KARMILOFF-SMITH et al., 2003; GONÇALVES et al., 2004; CARRASCO et al., 2005; PORTER; COLTHEART, 2005; MERVIS; BECERRA, 2007; SAMPAIO et al.,2008; SAMPAIO et al., 2009) Segundo Sampaio et al. (2009), as diferenças estatísticas encontradas entre o QI Verbal e o QI Executivo para os indivíduos com a SWB podem corresponder, na verdade, a 35 artefatos metodológicos, uma vez que tais diferenças não são consideradas estatisticamente significantes, segundo dados da população em geral. A semelhança de resultados encontrados entre os estudos, cuja população investigada incluía falantes de línguas morfossintaticamente semelhantes, também pôde ser observada quanto à ausência de discrepâncias entre o QI verbal e o QI executivo e a ocorrência de dificuldades de linguagem compatíveis aos déficits intelectuais. Destacam-se os estudos de Gonçalves et al. (2004), Sampaio et al. (2009) que estudaram falantes do Português-Europeu; Carrasco et al. (2005) e Garayzábal et al. (2007) que avaliaram, respectivamente, falantes do Espanhol Latino Americano e Europeu, além do estudo preliminar realizado com falantes do Português-Brasileiro (ROSSI et al., 2005). Martens Wilson e Reutens (2008) publicaram estudo de revisão sobre a SWB no qual foram analisados 178 estudos datados de 1975 a 2006 incluindo aspectos da cognição em geral, linguagem, aspectos visoespaciais e habilidades para reconhecimento de faces; comportamentos sociais; habilidades musicais; e, aspectos neuroestruturais e funcionais. Dos 178 estudos revisados pelos autores, 47 abordavam aspectos gerais da cognição; 56 abordavam aspectos relacionados a linguagem; 53 avaliavam aspectos sobre habilidades visoconstrutivas e reconhecimento facial; 31 investigavam aspectos comportamentais; 8 descreviam sobre habilidades musicais; e, 29 abordavam aspectos neuroestruturais e neurofuncionais. A respeito dos aspectos cognitivos gerais, os 47 estudos revisados por Martens, Wilson e Reutens (2008) mostraram que o debate sobre a real discrepância entre os escores encontrados para o Quociente Intelectual Verbal (QIV) versus escores do Quociente Intelectual Executivo (QIE) ainda permanece. Dentre os instrumentos para avaliação a avaliação cognitiva, a Escala Wechsler de Inteligência e a escala Stanford-Binet foram os mais citados nos estudos que apresentaram uma casuística média de 22 indivíduos, desde descrição de caso único até uma amostra máxima de 118 indivíduos com SWB. Os dados compilados pelos autores mostraram que 57% dos estudos foram compostos por uma casuística de menos de 15 indivíduos com SWB, destacando que, no estudo com 118 indivíduos publicado por Levitin et al. (2005), não foi especificado quantos indivíduos da amostra tinham diagnóstico citogenético positivo para a SWB. Referente ao diagnóstico da síndrome SWB, Martens, Wilson e Reutens (2008) destacaram que dos 47 estudos revisados, 19 (40,4%) incluíram na amostra indivíduos com diagnóstico clínico e citogenético molecular para a SWB pela técnica de FISH, sendo que os demais 28 estudos informavam apenas o diagnóstico clínico da síndrome. Vale destacar que dos 19 estudos que citaram a técnica de 36 FISH para confirmação diagnóstica da síndrome, 9 (47,3%) apresentavam a informação de que todos os indivíduos eram positivos para a deleção na região cromossômica 7q11.23. Nos demais estudos havia tanto sujeitos positivos quanto negativos para a deleção do gene ELN no lócus 7q11.23. A respeito dos escores encontrados para o QI Total, Martens, Wilson e Reutens (2008) verificaram que esse escore variou de 42 a 68 (média de 55). Em apenas um dos estudos revisados foi encontrado QI Total de 82, o que, segundo os autores, deve ser visto com cautela, uma vez que correspondia a um caso que vinha recebendo intervenção fonoaudiológica há 4 anos consecutivos, o que pode ter favorecido o desempenho cognitivo global superior em relação à média encontrada nos demais estudos. Quanto às discrepâncias entre o QI Verbal e o QI Executivo, Martens, Wilson e Reutens (2008) mostraram que as controvérsias encontradas na literatura quanto à existência ou não de discrepâncias entre estas habilidades cognitivas sugere estar relacionada com o fato de que, embora as análises estatísticas empregadas pelos estudos apontem para diferenças estatisticamente significantes entre o QI Verbal e o QI Executivo, quando tal diferença é analisada segundo as normas de análise do próprio teste, tal diferença deixa de existir. Vários estudos relacionaram a característica de fala fluente e bem articulada dos indivíduos com a SWB à participação efetiva da memória de trabalho fonológica como responsável pelo favorecimento na retenção e manipulação de informações verbais (WANG; BELLUGI 1994; VICARI et al., 1996; SCHULTZ et al., 2001; NICHOLS et al., 2004; VICARI et al., 2001; SOMERVILLE et al., 2005) o que favoreceria também o domínio sintático da linguagem nesta síndrome (MERVIS et al., 2000; BELLUGI et al., 2000; JARROLD; BADDELEY; HEWES, 2001; VOLTERRA et al. 2003). Entretanto, dificuldades na aquisição e desenvolvimento do sistema fonológico tem sido frequentemente encontradas no desenvolvimento da linguagem dos indivíduos com a SWB (NAZZI; PATERSON; KARMILOFF-SMITH, 2003). A sintaxe – entendida como a habilidade no uso de regras que governam a combinação de palavras em unidades de significado mais complexas (ACOSTA et al., 2003) – é uma habilidade que foi descrita inicialmente como íntegra para os indivíduos com a SWB (VON ARNIM; ANGEL, 1964; JONES, SMITH, 1975). Estudos posteriores mostraram que a habilidade sintática é uma das habilidades adquiridas de forma relativamente favorável na SWB, embora ocorra de forma atípica em relação às etapas do desenvolvimento típico de linguagem (CAPIRCI, SABBADINI, VOLTERRA, 1996; JARROLD et al. 1998; BELLUGI et al., 2000; VOLTERRA et al. 2003; PEROVIC; WESLER, 2007; JOFFE; VARLOKOSTA, 37 2007), principalmente para domínios mais complexos (CLAHSEN; ALMAZAN et al., 1998; MERVIS et al., 2000; BROCK et al., 2005). Estudos com indivíduos com a SWB falantes de línguas morfossintáticamente mais complexas, quando comparadas ao Inglês, mostraram que a habilidade sintática pode estar mais prejudicadas, para falantes de línguas mais complexas como o Francês (KARMILOFF- SMITH et al., 1997), Húngaro (LUKÁCS et al., 2001), Hebraico (LEVY; HERMON, 2003) e falantes do Português Europeu (GONÇALVES et al., 2004). Reilly et al. (2005 apud JÄRVINEN-PASLEY, et al., 2008) publicaram estudo transcultural com indivíduos com a SWB e mostraram que quando os indivíduos foram submetidos a uma mesma metodologia para avaliação da linguagem as dificuldades sintáticas apresentadas foram diferentes para indivíduos falantes do Inglês Americano, do Italiano e do Francês da França. Segundo dados da pesquisa publicada pelos autores, os indivíduos falantes do Francês apresentaram menos dificuldades sintáticas, quando comparados aos falantes do Inglês e do Italiano, ainda que a língua Francesa também seja de origem Românica como a Italiana e considerada morfossintaticamente mais complexa do que o Inglês. Outro achado interessante apresentado pelos autores foi que os indivíduos com SWB Italianos apresentaram escores superiores para o uso social da linguagem. Assim, os autores concluíram que há variabilidade tanto no aspecto estrutural quanto funcional da linguagem de indivíduos com SWB falantes de línguas distintas. A habilidade semântica – que abrange o conteúdo da linguagem e representa o significado e as combinações de palavras (ACOSTA et al., 2003) – tem sido frequentemente investigada na SWB e achados divergentes podem ser encontrados, a depender da metodologia utilizada e do nível de complexidade da tarefa para avaliar tal habilidade. Nos primeiros anos de vida é comum relatos de prejuízos na aquisição do vocabulário (MERVIS et al., 2003). Várias pesquisas foram realizadas com indivíduos com a SWB para avaliar habilidades semânticas receptivas e expressivas. A comparação do desempenho entre indivíduos com a SWB e indivíduos controles de mesma idade mental mostrou que o vocabulário receptivo-auditivo dos indivíduos com a síndrome era semelhante aos controles (EWART et al.,1993; MERVIS; KLEIN-TASMAN, 2000). No entanto, os instrumentos utilizados para avaliar o vocabulário receptivo-auditivo dos indivíduos com a SWB, na sua maioria das vezes utilizou tarefas que medem a habilidade que esses indivíduos têm para reconhecer uma sequência sonora que corresponde a uma representação de significado correspondente a um vocabulário básico, o que não quer dizer que a habilidade semântica 38 esteja adequada (CLAHSEN; ALMAZAN, 1998; KARMILOFF-SMITH et al., 2003; YPSILANTI et al., 2005). Quanto ao vocabulário expressivo, pesquisadores mostraram que é comum aos indivíduos com a SWB a presença de prejuízos de acesso ao léxico em tarefas linguísticas complexas como a narrativa oral (BELLUGI et al. 2001; KARMILOFF-SMITH, et al. 2003; REILLY et al., 2004). Segundo Bellugi et al. (1994), os indivíduos com a SWB apresentam prejuízos léxico- semânticos, caracterizados por falhas na seleção lexical, de modo que a fluência verbal fica comprometida (VOLTERRA et al., 1996), devido à dificuldade para acesso ao repertório lexical (VICARI et al., 1996). O acesso a representações semânticas de indivíduos com a SWB utilizando a tarefa de fluência verbal foi investigado no estudo de Pezzini et al. (1999), no qual verificaram que os indivíduos com a SWB apresentaram dificuldades em tarefas de nomeação, entretanto, tais dificuldades não foram encontradas na tarefa de fluência verbal quando comparados a controles de mesma idade mental. Resultados semelhantes foram corroborados nos estudos de Jarrold et al. (2000) e Vicari et al. (2004). A tarefa de fluência verbal semântica é amplamente utilizada nos estudos neuropsicológicos e de linguagem por fornecer informações referentes à recuperação de palavras (memória semântica) com base numa categoria semântica específica (e.g. nomes de animais) ou de palavras que iniciam com o mesmo som ou letra em um tempo limite previamente determinado (BINETTI, 1996). Entretanto, prejuízos léxico-semânticos foram descritos como parte das dificuldades de linguagem na SWB, principalmente em tarefas que requerem maior demanda do processamento cognitivo e linguístico, como a narrativa oral (BELLUGI et al., 2000; KAMIRLOFF-SMITH et al., 2003; REILLY et al., 2004). Nestes estudos, os autores observaram a presença de rupturas na fala, decorrentes das dificuldades semânticas apresentadas pelos indivíduos. Entretanto, tais rupturas não foram caracterizadas pelos autores quanto à tipologia e freqüência de ocorrência na fala. Achados preliminares sobre o perfil da fluência da fala de 12 indivíduos com a SWB falantes do Português do Brasil, publicado por Rossi et al. (2009) mostrou que esses indivíduos apresentaram uma freqüência aumentada para hesitações e repetições de palavras quando comparados a controles com idade mental semelhante. Embora, tais disfluências sejam encontradas na fala da população em geral, os autores verificaram que a frequência de ocorrência foi significativamente superior para a amostra com a SWB em relação aos 39 controles. Tais achados corroboraram a presença de falhas de ordem léxico-semântica na SWB (BELLUGI et al., 2000; KAMIRLOFF-SMITH et al., 2003; REILLY et al., 2004), mostrando que o estudo da fluência da fala pode ser um importante indicador da maturidade linguística desses indivíduos, necessitando-se de estudos mais abrangentes a este respeito. Estudo recente publicado por Marini et al. (2010) investigou a fluência verbal e a habilidade de narrativa oral de 9 indivíduos com a SWB que foram comparados a um grupo com idade mental semelhante. A fluência verbal foi avaliada em situação de nomeação, sendo verificado desempenho semelhante aos controles. Já a narrativa oral foi obtida com o uso de pranchas de figuras em sequência e uma prancha única (prancha do roubo dos biscoitos). Os resultados mostraram que os indivíduos com a SWB apresentaram desempenho diferente quanto aos aspectos macro e microlinguísticos da narrativa. Os autores verificaram que os indivíduos com a SWB foram capazes de produzir o mesmo número de palavras com velocidade de fala semelhante em relação aos controles, mas com prejuízo significativo quanto à coerência global da narrativa, principalmente, no instrumento de figuras em sequência. Esses achados sugeriram que o estímulo utilizado para avaliar a narrativa pode ter influenciado no desempenho dos mesmos, considerando que o uso de figuras em sequência requer uma narrativa mais elaborada, se comparada à figura única que leva a uma descrição. Os autores concluíram que as dificuldades apresentadas pelos indivíduos com a SWB na narrativa oral, utilizando instrumentos visuais devem-se a prejuízos na organização e ao processamento das informações e não às dificuldades da análise perceptual do estímulo. Segundo vários estudos, o prejuízo na habilidade pragmática apresentada pelos indivíduos com a SWB está relacionado ao fato desses indivíduos não se inibirem perante interlocutores desconhecidos, terem o hábito de chamar a atenção para si a todo o momento e utilizarem frases com conteúdo confuso e repetitivo, com dificuldade para manter e dar continuidade a um mesmo assunto (LAWS; BISHOP, 2004; STOJANOVIK, 2006; PHILOFSKY et al., 2007; MERVIS; BECERRA, 2007; ROSSI et al., 2007). A habilidade pragmática é entendida como o uso funcional da linguagem em contextos sociais, situacionais e comunicativos, de modo que trata de regras que explicam ou regulam o uso intencional da linguagem, considerando que correspondendo a um sistema social compartilhado e com normas para a sua correta utilização (ACOSTA et al., 2003). Uma característica que parece contribuir para o conceito de comportamento falante e extrovertido dos indivíduos com a SWB é o uso de recursos sonoros e prosódicos nas situações de conversa e narrativa oral. Alguns estudos mostraram que o uso desses recursos pelos indivíduos com a SWB confere ao ouvinte um alto grau de envolvimento comunicativo 40 (BELLUGI et al., 1990; GONÇALVEZ et al., 2004; REILLY, et al., 2004; SETTER et al., 2007), sendo tal envolvimento não correspondente ao nível de desempenho linguístico do indivíduo (STOJANOVIK; SELTER; EWIJK, 2007). No estudo de revisão publicado por Martens, Wilson e Reutens (2008) foram analisados 12 estudos que versavam sobre aspectos da linguagem na SWB. Estes estudos abrangeram a faixa etária de desenvolvimento da linguagem entre 1 e 5 anos de idade, incluindo desde relato de caso até grupos com 54 indivíduos. Também foram analisados 37 estudos que se detiveram na investigação de habilidades específicas, destacando os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos da linguagem com faixa etária variável entre 4 e 38 anos, sendo que 68% desses estudos foram compostos por casuística inferior a 15 indivíduos com SWB. Dentre os estudos revisados pelos autores (MARTENS; WILSON; REUTENS, 2008) e que apresentaram maior casuística, isto é 54 indivíduos com a SWB publicado por Singer et al. (1997), não foram apresentadas informações sobre diagnóstico citogenético da síndrome e a investigação dos aspectos da linguagem ocorreu apenas com base em inventário respondido pelos pais. Por outro lado, o estudo realizado por Vicari et al. (2004) com 69 indivíduos com diagnóstico clínico e citogenético molecular positivo para a SWB foi apontado por Martens, Wilson e Reutens (2008) como um dos estudos mais robustos tanto do ponto de vista da casuística como da metodologia aplicada, que incluiu comparações múltiplas entre os grupos (idade mental e cronológica). Em relação à metodologia empregada nos estudos sobre a linguagem na SWB, Martens, Wilson e Reutens (2008) observaram que a mesma é bastante variável incluindo desde o uso de um único teste padronizado para avaliar uma habilidade específica, como um conjunto de instrumentos para avaliar diferentes habilidades de linguagem. O uso de inventários respondidos pelos pais ou pelos próprios indivíduos com a SWB também foi utilizado para caracterizar a comunicação na SWB. Outro aspecto metodológico, que também foi variável nesses estudos, foi a definição do grupo controle. Alguns foram definidos pela idade cronológica e/ou idade mental, enquanto outros pela idade linguística ou pela presença de distúrbios específicos de linguagem, com desempenho intelectual normal. Segundo os autores, estudos compilados sobre os aspectos da linguagem na SWB, durante o período de 1996-2005, apontaram para resultados heterogêneos e demonstraram que ainda não há consenso quanto à trajetória de desenvolvimento da linguagem nesta síndrome. 41 JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS 42 2. JUSTIFICATIVAS O estudo do fenótipo comportamental, cognitivo ou de linguagem na síndrome de Williams-Beuren tem despertado interesse dos pesquisadores, apesar, de ser considerada, uma síndrome rara. Seu valor científico deve-se ao fato de ter sido reconhecida como um modelo interessante nas investigações das bases neurobiológicas do comportamento, da cognição e da linguagem por trazer inerente ao seu fenótipo a hipótese de dissociação entre cognição e linguagem. Hipótese essa pautada pela supremacia das habilidades auditivas e verbais em detrimento das dificuldades cognitivas executivas, principalmente visoconstrutivas denominado “Williams Syndrome Cognitive Profile” (WSCP) (PAGON et al., 1987; UDWIN; YULE 1990; CAPIRCI et al., 1996, HOWLIN et al., 1997, JARROLD et al., 1998; MERVIS et al., 2000; ATKINSON et al., 2001). A superioridade para habilidades verbais nessa síndrome tem sido questionada por pesquisadores que defendem a hipótese de um desenvolvimento atípico, mas não dissociado entre habilidades verbais e não verbais (DONNAI; KARMILOFF-SMITH, 2000; GONÇALVES et al., 2004; CARRASCO et al., 2005; PORTER; COLTHEART, 2005; MERVIS; BECERRA, 2007; SAMPAIO et al., 2009), e que também questionam a existência de um fenótipo comportamental, cognitivo e de linguagem único e peculiar para esta síndrome (CATERRAL et al., 2006; STOJANOVICK; PERKINS; HOWARD, 2006; VICARI; CARLESIMO, 2006). Este intrigante contexto de investigação que envolve o fenótipo comportamental e de linguagem na SWB, somado à escassez de estudos em âmbito nacional para esta população específica, motivaram a realização dessa tese que teve como objetivo geral caracterizar o fenótipo comportamental e de linguagem de indivíduos com a SWB. A partir desse objetivo geral, a presente tese desdobrou-se em 3 artigos científicos a fim de responder as hipóteses levantadas no início desta pesquisa. Para a realização do artigo científico 1 ponderamos que, embora a SWB seja amplamente caracterizada quanto ao fenótipo comportamental, cognitivo e de linguagem, ainda é escasso o número de estudos que correlacionaram essas características. Nossa hipótese de investigação foi que encontraríamos correlação entre tais características, uma vez que o fenótipo da SWB é marcado, exatamente, pelo conjunto de características inerentes aos fenótipos comportamental, cognitivo e de linguagem. A segunda hipótese de pesquisa, direcionada para o artigo científico 2, foi pautada na investigação sobre a fluência da fala dos indivíduos com a SWB. A fluência da fala é um 43 tópico ainda pouco explorado nessa síndrome, e, portanto, não foram encontrados estudos que se propuseram a realizar uma análise quanto ao perfil da fluência da fala, apesar da “fala fluente” ser aventada como uma das principais características do fenótipo de linguagem da SWB. Nossa hipótese foi que o perfil da fluência da fala na SWB apresentaria diferenças quanto à frequência e tipologia de rupturas quando comparado ao perfil de controles com idade mental semelhante e desenvolvimento típico de linguagem, numa situação de narrativa oral, uma vez a deficiência intelectual é uma característica do fenótipo da SWB e a narrativa é uma tarefa cognitiva e linguística complexa. Por fim, a terceira hipótese de pesquisa, que resultou no artigo científico 3, foi pautada na divergência encontrada na literatura quanto ao processamento das informações auditivas e visuais na SWB. A hipótese desse estudo considerou a possibilidade de encontrar habilidades visuais superiores ou igualmente prejudicadas quando comparadas ao desempenho nas habilidades auditivas; além de um desempenho prejudicado para ambas as habilidades, auditivas e visuais, quando os indivíduos com a SWB são comparados aos controles com idade mental e cronológica semelhante e desenvolvimento típico de linguagem. A seguir serão apresentados os objetivos específicos desta pesquisa com base nos 3 artigos científicos que compuseram os resultados e a discussão desta tese. 44 3. OBJETIVOS Para responder ao objetivo principal deste estudo que foi caracterizar o fenótipo comportamental e de linguagem na síndrome de Williams-Beuren, foram propostos três objetivos específicos que nortearam os 3 artigos científicos desta tese: 1. Investigar problemas comportamentais segundo informação dos pais dos indivíduos com a síndrome de Williams-Beuren e correlacioná-los ao desempenho intelectual e de linguagem; 2. Comparar o perfil da fluência da fala de indivíduos com a SWB do Brasil a controles com idade mental semelhantes em tarefa de narrativa (estudo 1) e replicar o estudo 1, com uma amostra de indivíduos com a SWB do Brasil e de Portugal comparados aos seus respectivos controles e também comparar indivíduos com a SWB falantes de línguas semelhantes, porém culturalmente distintos (estudo 2); 3. Comparar o desempenho de indivíduos com a síndrome de Williams-Beuren a controles semelhantes por idade mental e idade cronológica e investigar o perfil de habilidades auditivas comparadas às visuais. 45 ASPECTOS ÉTICOS 46 4. ASPECTOS ÉTICOS Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu – Campus da UNESP, segundo OF. 256/2006-CEP-FMB-UNESP (Anexo 1). Os pais dos indivíduos, sujeitos de pesquisa, autorizaram a participação dos seus filhos mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), elaborado seguindo as recomendações da Resolução CNS 196/96 (BRASIL, 1996) que dispõe sobre as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Ministério da Saúde. 47 MATERIAL E MÉTODOS 48 5. MATERIAL E MÉTODOS Nesta parte serão apresentadas informações referentes à casuística desta pesquisa com base na distribuição dos indivíduos com a SWB e seus respectivos controles, para cada um dos 3 artigos científicos que serão apresentados como resultado e discussão desta tese. 5.1. CASUÍSTICA A casuística geral desta pesquisa foi formada por 40 indivíduos com diagnóstico da SWB, positivos para a deleção do gene da Elastina na região cromossômica 7q11.23 confirmado pela técnica de Hibridização in situ por Fluorescência (FISH), sendo 30 falantes do Português do Brasil com idade cronológica de 6 a 27 anos (M=14,7, DP=4,6) e 10 falantes do Português de Portugal, com idade cronológica de 10 a 18 anos (M=13,6; DP=3,2). Também foram avaliados 30 indivíduos controles falantes do Português do Brasil e 10 falantes do Português de Portugal. Dos 30 indivíduos com a SWB do Brasil, 3 eram alfabetizados e 2 dos 10 indivíduos com a SWB de Portugal. O artigo científico 1 “Fenótipo comportamental na síndrome de Williams-Beuren: correlação com a cognição e a linguagem” foi formado por 27 dos 30 indivíduos com a SWB do Brasil. O artigo científico 2 “Fluência da fala de indivíduos com a síndrome de Williams- Beuren em tarefa de narrativa” foi subdividido em estudo 1 e estudo 2. A casuística do estudo 1 foi formada pelos 30 indivíduos com a SWB do Brasil e 30 controles. O estudo 2, foi composto por 10 indivíduos com a SWB do Brasil, 10 com a SWB de Portugal e 10 controles para cada um dos grupos com a SWB do Brasil e de Portugal. O artigo científico 3 “Informação auditiva e visual: há uma via preferencial de entrada na síndrome de Williams-Beuren?” foi composto por 12 dos 30 indivíduos com a SWB e 12 dos 30 indivíduos controles também do Brasil. Este artigo científico contou também com a participação dos dados de 8 indivíduos com a SWB falantes do Espanhol, pesquisa esta desenvolvida em parceria com pesquisadora da Universidade Autônoma de Madrid e pesquisadores do Laboratório de Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho de Portugal. 49 5.1.1. Avaliação diagnóstica No Brasil, a investigação citogenética molecular dos indivíduos com as características clínicas da SWB foi realizada pela técnica FISH, no Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp) – Campus de Botucatu, São Paulo, com sonda LSI (Identificação Específica do Locus) da síndrome de WILLIAMS-BEUREN (gene da elastina), sonda controle para a região 7q31 da VYSIS� e sonda para a região da síndrome de Williams- Beuren (7q11.23) com sonda controle (centrômero 7) da CYTOCELL�. Em Portugal, a investigação citogenética molecular foi realizada pelo Instituto de Genética Médica Doutor Jacinto de Magalhães, cidade do Porto e disponibilizada pelo Laboratório de Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho, Braga, Portugal. Já a investigação citogenética dos pacientes da Espanha foi disponibilizada pelo pesquisador colaborador desta pesquisa, responsável pela investigação na Universidade Autônoma de Madrid. O local da coleta de dados desta pesquisa, com os indivíduos com a SWB do Brasil, foi no Serviço de Aconselhamento Genético (SAG) do IBB-UNESP, em Botucatu, na Associação Brasileira da Síndrome de Williams (ABSW) no município de São Paulo-SP, no serviço de genética da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), e no serviço de genética da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Em Portugal os indivíduos foram atendidos no Laboratório de Neuropsicofisiologia da Universidade do Minho (UMINHO), Braga, Portugal (CAPES-Processo: 1551/08-6) e os dados da Espanha foram trabalhados em equipe no próprio laboratório de Portugal com a presença da investigadora responsável da Universidade Autônoma de Madrid, Espanha. Os indivíduos que compuseram o grupo controle desta pesquisa apresentavam desenvolvimento típico de linguagem, sendo selecionados segundo sexo e idade mental semelhante aos grupos com a SWB, dos seus respectivos países. Para compor o grupo controle os indivíduos não poderiam apresentar histórico de dificuldades de fala, linguagem/aprendizagem, prejuízos neurológicos e/ou sensoriais, história pregressa de intervenção fonoaudiológica, pedagógica ou psicológica, história familial de distúrbio de fala e linguagem. 50 5.1.2. Caracterização da casuística 5.1.2.1. Diagnóstico clínico da síndrome de Williams-Beuren As informações referentes à avaliação genética clínica do grupo com a SWB do Brasil incluindo aspectos físicos, sistêmicos e neurodesenvolvimentais estão representadas na Tabela 1. Na Figura 2 é possível observar as características faciais dos 30 indivíduos do grupo com a SWB do Brasil. A história clínica dos indivíduos com a SWB do Brasil indicou que a idade do diagnóstico genético foi bastante variável ocorrendo de 1 a 16 anos de idade (M=6,6; DP=4,1). Tabela 1 - Frequência de sinais clínicos do grupo com a SWB do Brasil. Características clínicas SWB Brasil (n=30) % Facial Edema periorbital 23 76,7 Prega epicântica 29 96,7 Narinas antevertidas 27 90,0 Bochechas proeminentes 29 96,7 Estrabismo 18 63,3 Íris estrelada 3 13,3 Alterações dentárias 27 90,0 Palato duro arqueado 24 83,3 Boca grande 27 90,0 Lábios volumosos 27 90,0 Lábio inferior evertido 27 90,0 Lábios entreabertos 18 60,0 Retrusão de mandíbula 26 89,3 Alterações dentárias 27 90,0 Cardiológica Estenose aórtica supravalvar 17 56,7 Estenose pulmonar 9 33,3 Hipertensão 8 26,7 Gastroentestinal e renal Refluxo (1os meses) 18 60,0 Vômito (1os meses) 5 16,7 Dificuldade para se alimentar 28 94,7 Dificuldade para ganhar peso 26 89,5 Constipação 15 53,3 Alteração renal 6 20,0 51 Tabela 1 (continuação) Audiológica Hiperacusia 20 66,7 Perda auditiva neurosensorial (leve a moderada) 2 7,5 Perda auditiva condutiva 1 2,5 Otite média recorrente 15 50,0 Neurodesenvolvimental Hipotonia 28 93,3 ADNPM 29 96,7 Início de fala > 2 anos 30 100,0 Quociente intelectual <70 27 90,0 Loquacidade 27 90,0 Sociabilidade excessiva 27 90,0 Outra característica Rouquidão 16 55,2 52 5.1.2.2. Aspectos audiológicos Todos os indivíduos com a SWB do Brasil e de Portugal bem como seus respectivos controles realizaram investigação quanto à presença ou não de queixa audiológica e sintoma de hiperacusia. Informações quanto à acuidade auditiva foram obtidas por meio de consulta a prontuários, solicitação de resultados de exames realizados anteriormente e encaminhamentos para avaliação audiológica. Dos 30 indivíduos com a SWB do Brasil, 3 (10%) apresentaram perda auditiva, sendo um diagnosticado com perda auditiva do tipo condutiva de grau leve e bilateral e dois com perda auditiva do tipo neurosensorial de grau leve e unilateral; e, 20 (66,7%) apresentaram sintoma de hiperacusia. No grupo com a SWB de Portugal dos 10 indivíduos apenas um apresentou perda auditiva do tipo neurosensorial de grau leve e unilateral e todos apresentavam sintoma de hiperacusia. 5.1.2.3. Caracterização do desempenho intelectual A avaliação do desempenho intelectual dos indivíduos com SWB falantes do Português do Brasil e de Portugal, bem como dos seus respectivos controles foi realizada por psicólogo do Brasil e de Portugal, segundo país de origem dos indivíduos. Para tanto foi utilizada a escala Wechsler de Inteligência. Para indivíduos com idade inferior á 6 anos foi utilizada a versão para Pré-Escolares WPPSI-R (WECHSLER, 1989). Para indivíduos com idade cronológica entre 6 e 16 anos foi aplicado o WISC-III (WECHSLER, 1991), adaptação brasileira de Figueiredo (2001), e para os indivíduos com idade maior ou igual a 17 anos foi utilizado o WAIS-III (WECHSLER, 1997), adaptação brasileira de Nascimento (2004). A aplicação deste procedimento foi realizada em uma ou duas sessões, conforme necessidade. A escala Wechsler foi utilizada pelos diferentes centros de investigação por fornecer parâmetros quanto à escala verbal e executiva e uma escala geral derivada destas duas escalas: Quociente Intelectual (QI) Verbal (QIV) e de Execução (QIE) e o Total (QIT). Os parâmetros de desempenho previsto pelo teste, segundo classificação de Wechsler (1991) são: desempenho dentro da média QIT de 90 a 109, média inferior de 80 a 89, limítrofe 70 a 79 e intelectualmente deficiente menor ou igual a 69. 53 A idade mental foi utilizada nesta pesquisa como um artifício metodológico para fins de comparações estatísticas entre o grupo amostral e um grupo controle. A idade mental não é uma medida básica de inteligência, mas sim um artifício aritmético para avaliar e comparar os testes em termos de meses e anos. Esta medida foi obtida pela fórmula onde o Quociente Intelectual Total (QIT) é igual á razão entre a idade mental, multiplicada por 100, dividida pela idade cronológica em meses (TERMAN, 1916). A seguir será apresentada a caracterização da casuística que compôs os 3 artigos científicos desta tese. 5.1.2.4. Artigo científico 1: Fenótipo comportamental na síndrome de Williams-Beuren: correlação com a cognição e a linguagem. A casuística deste estudo foi composta por 27 indivíduos com diagnóstico da SWB falantes do Português do Brasil, sendo 13 do sexo masculino e 14 do sexo feminino com idade de 6 a 17 anos e 11 meses (M=12,9, DP=3,5) e idade mental de 4 a 14 anos (M=7,2; DP=2,5). O critério de inclusão para este estudo foi a faixa etária prevista pela metodologia adotada. Tabela 2. Caracterização da casuística composta por indivíduos com a SWB falantes do Português do Brasil do artigo científico1. SWB Brasil M DP Min.-Máx. Percentil 25th 50th 75th IC 12,9 3,2 6,0-17,0 10,0 14,0 17,0 IM 7,2 2,5 4,0-14,0 5,6 6,8 7,6 QIV 57,3 11,2 45,0-76,0 46,0 52,0 68,0 QIE 54,3 10,7 35,0-78,0 35,0 51,0 61,0 QIT 54,3 10,8 35,0-78,0 46,0 51,0 63,0 Legenda: IC=Idade cronológica; IM=Idade mental; QIV=Quociente Intelectual Verbal; QIE=Quociente Intelectual Executivo; QIT=Quociente Intelectual Total; M=média; DP=Desvio Padrão; Mín=Mínimo; Máx.=Máximo. 5.1.2.5. Artigo científico 2: Fluência da fala de indivíduos com a síndrome de Williams- Beuren em tarefa de narrativa. Neste artigo científico foram realizados dois estudos. A casuística do estudo 1 foi composta por 30 indivíduos com a SWB do Brasil, sendo 15 do sexo masculino e 15 do sexo 54 feminino com idade cronológica de 6 a 27 anos (M=14,7, DP=4,6) e idade mental de 4,8 a 15,1 anos (M=8,2; DP=3,1), os quais foram comparados a 30 indivíduos com desenvolvimento típico de linguagem, falantes do Português do Brasil selecionados segundo sexo e idade mental semelhantes ao grupo com a SWB do Brasil (Tabela 3). A casuística do estudo 2 foi composta por 20 indivíduos com a SWB, sendo 10 falantes do Português do Brasil, 5 do sexo masculino e 5 do sexo feminino com idade cronológica de 9 a 17 anos (M=14,5, DP=2,6) e idade mental de 5,4 a 11,0 anos (M=7,3, DP=2,0) e 10 falantes do Português de Portugal, sendo 5 do sexo masculino e 5 do sexo feminino com idade cronológica de 10 a 18 anos (M=13,6; DP=3,2) e idade mental de 4,6 a 9,7 (M=6,7; DP=1,8) (Tabela 4). Os grupos com a SWB do Brasil e de Portugal foram comparados aos seus respectivos controles selecionados segundo nacionalidade, sexo e idade mental semelhantes. 55 Ta be la 3 - C ar ac te riz aç ão d a ca su ís tic a co m po st a po r in di ví du os c om a S W B f al an te s do P or tu gu ês d o B ra si l e se us re sp ec tiv os c on tro le s d o ar tig o ci en tíf ic o 2 (e st ud o 1) . SW B B ra si l (n =3 0) C on tr ol es B ra si l (n =3 0) M D P M in .-M áx . Pe rc en til M D P M in .-M áx . Pe rc en til 25 th 50 th 75 th 25 th 50 th 75 th IC 14 ,8 6, 7 6, 0- 27 ,0 11 ,0 15 ,0 17 ,0 8, 1 3, 3 3, 2- 15 ,3 5, 8 7, 4 10 ,5 IM 8, 2 3, 1 4, 8- 15 ,1 6, 2 7, 0 9, 3 7, 9 3, 3 2, 9- 15 ,1 5, 8 7, 1 10 ,9 Q IV 59 ,6 11 ,1 45 ,0 -7 8, 0 47 ,7 61 ,5 67 ,5 98 ,2 3, 1 92 ,0 -1 06 ,0 97 ,0 98 ,0 10 0, 0 Q IE 56 ,8 11 ,3 35 ,0 -7 8, 0 47 ,0 58 ,0 66 ,0 98 ,3 3, 2 91 ,0 -1 05 ,0 97 ,0 99 ,0 10 0, 0 Q IT 56 ,2 10 ,9 35 ,0 -7 8, 0 46 ,0 56 ,5 66 ,5 97 ,8 3, 5 91 ,0 -1 06 ,0 95 ,0 97 ,0 10 0, 0 Le ge nd a: I C =I da de c ro no ló gi ca ; IM =I da de m en ta l; Q IV =Q uo ci en te I nt el ec tu al V er ba l; Q IE =Q uo ci en te I nt el ec tu al E xe cu tiv o; Q IT =Q uo ci en te In te le ct ua l T ot al ; M =m éd ia ; D P= D es vi o Pa dr ão ; M ín =M ín im o; M áx .= M áx im o Ta be la 4 - C ar ac te riz aç ão d a ca su ís tic a co m po st a po r i nd iv íd uo s co m a S W B fa la nt es d o Po rtu gu ês d o B ra si l e d e Po rtu ga l do a rti go c ie nt ífi co 2 (e st ud o 2) . SW B (n =1 0) C on tr ol es (n =1 0) M D P M in .-M áx . Pe rc en til M D P M in .-M áx . Pe rc en til 25 th 50 th 75 th 25 th 50 th 75 th Brasil IC 14 ,5 2, 6 9, 0- 17 ,0 13 ,5 15 ,0 16 ,0 7, 7 1, 9 5, 0- 11 ,0 6, 0 8, 0 10 ,0 IM 7, 3 2, 0 5, 4- 11 ,0 5, 7 7, 1 9, 7 7, 4 2, 2 4, 5- 11 ,0 5, 7 7, 5 9, 5 Q IV 60 ,7 10 ,9 45 ,0 -7 6, 0 47 ,0 64 ,0 68 ,0 98 ,0 1, 4 95 ,0 -1 01 ,0 97 ,0 98 ,0 99 ,0 Q IE 58 ,1 12 ,2 35 ,0 -7 8, 0 48 ,0 58 ,0 69 ,0 97 ,3 2, 3 94 ,0 -1 00 ,0 95 ,0 97 ,0 10 0, 0 Q IT 57 ,2 11 ,9 35 ,0 -7 8, 0 47 ,0 58 ,0 67 ,0 97 ,0 2, 0 95 ,0 -1 01 ,0 95 ,0 97 ,0 98 ,0 Portugal IC 13 ,6 3, 2 10 ,0 -1 8, 0 5, 8 7, 4 10 ,5 6, 9 1, 7 4, 0- 9, 0 5, 0 7, 0 8, 0 IM 6, 7 1, 8 4, 6- 9, 7 5, 4 6, 4 8, 7 6, 7 1, 4 4, 0- 8, 3 5, 0 6, 6 8, 2 Q IV 55 ,9 7, 6 46 ,0 -6 9, 0 48 ,7 55 ,0 62 ,0 97 ,0 2,