UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Câmpus de Presidente Prudente Glauber Verner Firmino A Produção de Mapas Geomorfológicos Semi­detalhados e Detalhados em Programas de Pós­Graduação em Geografia no Estado de São Paulo (2001­2018) Presidente Prudente 2022 Glauber Verner Firmino A Produção de Mapas Geomorfológicos Semi­detalhados e Detalhados em Programas de Pós­Graduação em Geografia no Estado de São Paulo (2001­2018) Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mes­ tre em Geografia, junto ao Programa de Pós­Graduação em Geografia, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Presidente Prudente. Financiadora: CAPES ­ Proc. 88887.352341/2019­00 Orientador: Prof. Dr. Livre­Docente João Osvaldo Rodrigues Nunes FCT­UNESP Presidente Prudente 2022 F525p Firmino, Glauber Verner A Produção de Mapas Geomorfológicos Semi-detalhados e Detalhados em Programas de Pós-Graduação em Geografia no Estado de São Paulo (2001-2018) / Glauber Verner Firmino. -- Presidente Prudente, 2022 227 p. : il., tabs. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente Orientador: João Osvaldo Rodrigues Nunes 1. Geografia. 2. Geografia Física. 3. Geomorfologia. 4. Mapas. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Câmpus de Presidente Prudente UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA A Produção de Mapas Geomorfológicos Semidetalhados e Detalhados em Programas de PósGraduação em Geografia no Estado de São Paulo TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: AUTOR: GLAUBER VERNER FIRMINO ORIENTADOR: JOÃO OSVALDO RODRIGUES NUNES Aprovado como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em Geografia, área: Produção do Espaço Geográfico pela Comissão Examinadora: Prof. Dr. JOÃO OSVALDO RODRIGUES NUNES (Participaçao Virtual) FCT / UNESP/Presidente Prudente (SP) Profa. Dra. CENIRA MARIA LUPINACCI (Participaçao Virtual) IGCE / UNESP/Rio Claro (SP) Prof. Dr. LEONARDO THOMASINI (Participaçao Virtual) Geografia / UNESP/ Campus de Presidente Prudente Presidente Prudente, 10 de fevereiro de 2022 Faculdade de Ciências e Tecnologia - Câmpus de Presidente Prudente - Rua Roberto Simonsen, 305, 19060900, Presidente Prudente - São Paulo http://www.fct.unesp.br/pos-graduacao/--geografia/CNPJ: 48.031.918/0009-81. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ­ Brasil (CAPES) ­ Código de Financiamento 001. Agradecimento aos professores, funcionários e colegas do Programa de Pós­Graduação em Geografia da FCT­UNESP. Agradecimento especial ao Professor Dr. e Livre­Docente João OsvaldoRodriguesNunes pela orientação, apoio e acompanhamento desta pesquisa, bem como por seus ensinamentos. Agradecimento especial aos professores Dr. João Osvaldo Rodrigues Nunes, Dra. Ma­ ria Cristina Perusi, Dra. Maria Therezinha Serafim Gomes, Dr. Messias Modesto dos Passos, Dr. Paulo César Rocha e Dra. Renata Ribeiro de Araújo pelos ensinamentos durante as disci­ plinas. Agradecimento especial à professora. Dra. e Livre Docente Cenira Maria Lupinacci e ao professor Dr. Leonardo da Silva Thomazini pela atenção e contribuições dadas durante a pesquisa e pelas contribuições dadas no exame de qualificação. Agradecimento aos colegas do Laboratório de Sedimentologia e Análise de Solos ­ LABSOLOS, do Laboratório de Geologia, Geomorfologia e Recursos Hídricos e do Grupo de Pesquisa Interações na Superfície Terrestre, Água e Atmosfera ­ GAIA. Agradecimento especial aos colegas do Programa de Pós­Graduação doutorando Edmiler José Silva Degrande e mestrando Marco Aurélio Neri Torres pelas pesquisas e publicações realizadas em conjunto. Agradecimento a familiares, amigos e colegas queme apoiaram durante esse percurso. “A natureza é sempre mais sutil, mais complexa e mais elegante do que aquilo que somos capazes de imaginar.” ­ Carl Sagan RESUMO Mapas Geomorfológicos possuem grande importância no direcionamento, na análise e na sín­ tese das pesquisas em Geomorfologia. A Cartografia Geomorfológica, desde as primeiras pes­ quisas e tentativas de sistematização, possuiu uma grande variedade de metodologias e legen­ das desenvolvidas em diferentes países. Apesar dos esforços para a padronização de legendas realizados a partir da década de 1960, a diversidade ainda se faz presente. Essa diversidade pode ser interpretada em função da complexidade inerente aos Mapas Geomorfológicos, a qual se dá, dentre outros fatores, em função da representação de dados morfográficos, mor­ fométricos, morfogenéticos e morfocronológicos, conforme proposto pela União Geográfica Internacional (UGI) em 1968. Essa diversidade também pode ser associada a dificuldades para a realização dos mapeamentos advinda da natureza tridimensional do relevo a ser representado em duas dimensões, bem como da diversidade de formas e de gênese apresentadas por esse ob­ jeto de estudo. Para compreender essa questão, essa pesquisa teve como objetivo compreender como tem sido realizada a produção de mapas geomorfológicos detalhados e semi­detalhados produzidos no Estado de São Paulo, tendo como recorte as produções (dissertações e teses) realizadas em programas de pós­graduação em Geografia de universidades públicas paulistas entre os anos 2001­2018. Para atender a esse objetivo, foram realizados os seguintes procedi­ mentos: Seleção, Revisão e Fichamento de Teses e Dissertações que possuíam como produto ou um de seus produtos ummapa geomorfológico detalhado ou semi­detalhado; Revisão Bibli­ ográfica para contextualização e aprofundamento; Aplicação de Questionários a pesquisadores para contextualização e aprofundamento; Organização dos Dados Levantados; Revisão e aná­ lise das informações; Geração de planilhas e Escrita do Texto. Foi possível identificar uma diversidade de formas de representação cartográfica do relevo. A partir da revisão da litera­ tura, pode se considerar que diversidade possivelmente esteja associada a alguns fatores como: Natureza tridimensional do relevo e bidimensionalidade do mapa; Grande número de atributos de diferente natureza representados; Representação cartográfica de dados qualitativos e dados quantitativos; Emprego dos três modos de implantação da informação em um mesmo mapa; Conflito entre a Legibilidade pelo usuário final e o Interesse Acadêmico; Questões referen­ tes às escalas espaço­temporais; e a diversidade de paisagens no território brasileiro. Pode­se considerar que, apesar da diversidade de legendas possivelmente dificultar a comparação de mapas, ela também pode refletir uma riqueza de formas de abordagem do relevo e permitir reflexões sobre a adequação dos mapeamentos aos objetivos da pesquisa, às características es­ pecíficas de cada área e à escala. Palavras­chave: Cartografia Geomorfológica Detalhada e Semi­detalhada. Geografia. Semi­ ologia Gráfica. ABSTRACT Geomorphological maps are of great importance in the direction, analysis and synthesis of re­ search in Geomorphology. Geomorphological Mapping, since the first researches and system­ atization attempts, has had a great variety of methodologies and legends developed in different countries. Despite efforts to standardize legends carried out from the 1960s onwards, diversity is still present. This diversity can be interpreted as a function of the inherent complexity of Ge­ omorphological Maps, which occurs, among other factors, as a function of the representation of morphographic, morphometric, morphogenetic and morphochronological data, as proposed by the International Geographical Union (UGI) in 1968. This diversity can also be associated with difficulties in carrying outmappings arising from the three­dimensional nature of the relief to be represented in two dimensions, as well as the diversity of forms and genesis presented by this object of study. In order to understand this issue, this research aimed to understand how the production of detailed and semi­detailed geomorphological maps in the State of São Paulo has been carried out, approaching the productions (dissertations and theses) carried out in graduate programs in Geography of public universities in São Paulo between 2001­2018. To meet this objective, the following procedures were carried out: Selection and Review of The­ ses and Dissertations that had as a product or one of their products a detailed or semi­detailed geomorphological map; Literature Review; Application of Questionnaires to four researchers; Organization of surveyed data; Review and analysis of information; Table Generation and Text Writing. It was possible to identify a variety of forms of cartographic representation of the re­ lief. Based on the literature review, it can be considered that diversity is possibly associated with some factors such as: Three­dimensional nature of the relief and two­dimensionality of the map; Large number of attributes of different nature represented; Cartographic represen­ tation of qualitative and quantitative data; Use of the three modes of deploying information on the same map; Conflict between end­user Readability and Academic Interest; Questions regarding spatiotemporal scales; and the diversity of landscapes in the Brazilian territory. It can be considered that, despite the diversity of legends possibly making it difficult to compare maps, it can also reflect a wealth of ways of approaching the relief and allow reflections on the adequacy of the mappings to the research objectives, specific characteristics of each area and scale. Keywords: Detailed and Semi­Detailed Geomorphological Mapping. Geography. Semiology of Graphics. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Metodologia do Estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Figura 2 – Mapa de Ga­Sur, conservado no Museu Semítico de Harvard . . . . . . . 15 Figura 3 – Mapa de gravetos das Ilhas Marshall. As ilhas são representadas por con­ chas presas às tiras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Figura 4 – Uma reconstrução do Mundo de Cláudio Ptolomeu, por Edward Herbert Bunbury . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Figura 5 – Orbis Terrarum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Figura 6 – Planisfério terrestre na projeção de Mercator. . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Figura 7 – Relações Fundamentais entre objetos e suas respectivas Representações Gráficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Figura 8 – Círculo cromático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Figura 9 – Relação da Forma de Ocorrência de Fenômenos Espaciais e Modos de Im­ plantação Gráfica em Mapas Temáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Figura 10 – Implantações Gráficas e Variáveis Visuais, segundo Bertin (2010) . . . . . 28 Figura 11 – Representação do Ciclo Davisiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Figura 12 – Representação do Equilíbrio Dinâmico de Hack . . . . . . . . . . . . . . 37 Figura 13 – Representação do modelo de evolução do relevo, proposto por Walther Penck 40 Figura 14 – Filogênese da Teoria Geomorfológica, proposta por Abreu (2003) . . . . . 42 Figura 15 – Esquema do desenvolvimento da geomorfologia Uspiana, conforme Vitte (2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Figura 16 – Comparativo de simbologia para as formas de relevo de Crista de Morenas e de Terraço Fluvial apresentados nos sistemas de legenda analisados por Otto et al. (2011) e suas respectivas ênfases . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Figura 17 – Etapas de Mapeamento Geomorfológico, segundo Tricart (1965) . . . . . 68 Figura 18 – Etapas de Elaboração do Mapa Geomorfológico no Sistema ITC . . . . . 71 Figura 19 – Representação da Metodologia proposta por Ab’Sáber (1969c). . . . . . . 74 Figura 20 – Taxonomia do Relevo e Estrutura Geomorfológica na concepção metodo­ lógica do Projeto RADAMBRASIL e do IBGE. . . . . . . . . . . . . . . 78 Figura 21 – Representação gráfica da Taxoxomia proposta por Ross (1992). . . . . . . 81 Figura 22 – Mapa de Setores do Planalto Atlântico. Fragmento do Mapa Geomorfoló­ gico do Estado de São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 Figura 23 – Relevo Brasileiro, segundo a Classificação de Orville Derby 1889 . . . . 90 Figura 24 – Classificação do Relevo Brasileiro, segundo Azevedo (1949) . . . . . . . 91 Figura 25 – Classificação do Relevo Brasileiro, segundo Ab’Sáber (1964) . . . . . . . 92 Figura 26 – Domínios Morfoclimáticos Brasileiros, segundo Ab’Sáber (1969b) . . . . 93 Figura 27 – Mapa Geomorfológico (Preliminar) do Brasil elaborado por Ab’Saber, 1960 95 Figura 28 – Classificação do relevo brasileiro, segundo Ross (1985) . . . . . . . . . . 97 Figura 29 – Mapa de Unidades do Relevo do Brasil, conforme IBGE (2006) . . . . . . 100 Figura 30 – Legenda extraída do Mapa de Unidades do Relevo do Brasil de IBGE (2006)101 Figura 31 – Classificação do Relevo do Estado de São Paulo, segundo Rego (1932) . . 102 Figura 32 – Classificação do Relevo do Estado de São Paulo, conforme Monbeig (1949) 104 Figura 33 – Classificação do Relevo Paulista, conforme Ab’Saber (1954). . . . . . . . 105 Figura 34 – Perfil topográfico­geológico do Planalto Arenítico­Basáltico, Depressão Periférica e Planalto Atlântico no estado de São Paulo, por Ab’Saber (1956) 106 Figura 35 – Classificação do Relevo Paulista, conforme Almeida (1964) . . . . . . . . 107 Figura 36 – Mapa Geomorfológico do estado de São Paulo, proposto pelo IPT (1981) . 108 Figura 37 – Legenda do Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo proposto pelo IPT (1981) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Figura 38 – Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo de Ross e Moroz (1996) . 111 Figura 39 – Trabalhos selecionados para análise e seus respectivos Programas de Pós­ Graduação em Geografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Figura 40 – Distribuição do número de Mapas Geomorfológicos analisados em cada Escala. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 Figura 41 – Número deMapas Geomorfológicos da FCT­UNESP analisados correspon­ dente a cada Escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 Figura 42 – Legenda extraída do Mapa Geomorfológico do município de Presidente Prudente­SP, elaborado por Nunes e Fushimi (2010) . . . . . . . . . . . . 125 Figura 43 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico do município de Presidente Prudente­SP, elaborado por Nunes e Fushimi (2010) . . . . . . . . . . . . 126 Figura 44 – Número de Mapas Geomorfológicos do IGCE­UNESP analisados corres­ pondente a cada Escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 Figura 45 – Número de Mapas Geomorfológicos da UNICAMP analisados correspon­ dente a cada Escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 Figura 46 – Número de Mapas Geomorfológicos da USP analisados correspondente a cada Escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 Figura 47 – Legenda e Convenções Cartográficas, extraído do Mapa Geomorfológico da Ilha do Maranhão, elaborado por Silva (2012) . . . . . . . . . . . . . . 134 Figura 48 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico da Ilha do Maranhão, elabo­ rado por Silva (2012) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Figura 49 – Matriz de Correlações Geoambientais na Ilha do Maranhão, extraída do Mapa Geomorfológico da Ilha do Maranhão, elaborado por Silva (2012) . 136 Figura 50 – Matriz dos Índices de Dissecação, extraída do Mapa Geomorfológico da Ilha do Maranhão, elaborado por Silva (2012) . . . . . . . . . . . . . . . 137 Figura 51 – Simbologia adotada no Mapa Geomorfológico elaborado por Simon (2007) 137 Figura 52 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico elaborado por Simon (2007) 138 Figura 53 – Simbologia adotada no Mapa Geomorfológico elaborado por Pinheiro (2008)139 Figura 54 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico elaborado por Pinheiro (2008)140 Figura 55 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico elaborado por Souza (2010) 142 Figura 56 – Legenda do Mapa Geomorfológico elaborado por Barbosa (2010) . . . . . 143 Figura 57 – Fragmento do Mapa Geomorfológico elaborado por Barbosa (2010) . . . 144 Figura 58 – Legenda do Mapa Geomorfológico elaborado por Sato (2012) . . . . . . . 145 Figura 59 – Fragmento do Mapa Geomorfológico elaborado por Sato (2012) . . . . . 146 Figura 60 – Legenda dos Mapas Geomorfológicos elaborados por Paschoal (2014) . . 147 Figura 61 – Fragmento de um dos Mapas Geomorfológicos elaborados por Paschoal (2014) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 Figura 62 – Legenda dos Mapas Geomorfológicos elaborado por Souza (2014) . . . . 149 Figura 63 – Fragmentos dos Mapas Geomorfológicos elaborados por Souza (2014) . . 150 Figura 64 – Legenda adotada no Mapa Geomorfológico elaborado por Souza (2017) . 151 Figura 65 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico elaborado por Souza (2017) 152 Figura 66 – Legenda adotada no Mapa de Compartimentos do Relevo elaborado por Folharini (2015) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 Figura 67 – Fragmento extraído de Mapa de Compartimentos do relevo elaborado por Folharini (2015) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 Figura 68 – Legenda Expandida de Carta Geomorfológica elaborada por Lima (2015) 154 Figura 69 – Fragmento extraído de Carta Geomorfológica elaborada por Lima (2015) . 155 Figura 70 – Legenda do Mapa Geomorfológico elaborado por Folharini (2015) . . . . 156 Figura 71 – Fragmento extraído doMapa Geomorfológico elaborado por Folharini (2015)156 Figura 72 – Legenda integrada do Mapa Geomorfológico elaborado por Spörl (2001) . 157 Figura 73 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico elaborado por Spörl (2001) 158 Figura 74 – Legenda Integrada do Mapa Geomorfológico elaborado por Gayoso (2014) 159 Figura 75 – Legenda do Mapa Geomorfológico elaborado por Gayoso (2014) . . . . . 160 Figura 76 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico elaborado por Gayoso (2014) 161 Figura 77 – Extrato de Legenda referente aos divisores de água no 6° Táxon do Mapa Geomorfológico de Gayoso (2014). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162 Figura 78 – Quadrantes das áreas representadas no Mapa Geomorfológico da bacia do Arroio Feijó (RS) elaborado por Rehbein (2011) . . . . . . . . . . . . . . 163 Figura 79 – Legenda Integrada doMapa Geomorfológico ­ Quadrante A, elaborado por Rehbein (2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 Figura 80 – Legenda Integrada doMapa Geomorfológico ­ Quadrante B, elaborado por Rehbein (2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164 Figura 81 – Legenda presente no Mapa Geomorfológico elaborado por Rehbein (2011) 165 Figura 82 – Simbologia para Unidades de Vertentes e Perfis Esquemáticos presente no Mapa Geomorfológico elaborado por Rehbein (2011) . . . . . . . . . . . 165 Figura 83 – Fragmento do Mapa Geomorfológico elaborado por Rehbein (2011) (Qua­ drante A) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166 Figura 84 – Fragmento extraído do Mapa Geomorfológico elaborado por Villela (2011) 167 Figura 85 – Legenda Integrada do Mapa Geomorfológico elaborado por Villela (2011) 168 Figura 86 – Simbologia para Elementos Morfológicos presente no Mapa Geomorfoló­ gico elaborado por Villela (2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 Figura 87 – Convenções Cartográficas presentes no Mapa Geomorfológico elaborado por Villela (2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 Figura 88 – Mapas de Gênese­Morfoestrutura, Formas de Relevo, Hipsometria e Decli­ vidades presentes no Mapa Geomorfológico elaborado por Villela (2011) . 171 Figura 89 – Mapa Mental ­ conceitos e palavras­chave possivelmente relacionadas à decisão dos procedimentos metodológicos e formas de representação do relevo em Mapas Geomorfológicos detalhados. . . . . . . . . . . . . . . 174 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Linha do tempo da Cartografia Geomorfológica detalhada na Europa. . . . 53 Tabela 2 – Panorama da representação dos principais parâmetros geomorfológicos em sistemas demapeamento geomorfológico europeus, segundoGustavsson et al. (2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Tabela 3 – Matriz de Índices de Dissecação do Relevo, adotada pelo IBGE (2009) . . 75 Tabela 4 – Matriz dos Índices de Dissecação do Relevo, conforme Ross (1992) . . . 80 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística UNESP Universidade Estadual Paulista FCT Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista IGCE Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Pau­ lista USP Universidade de São Paulo UNICAMP Universidade Estadual de Campinas PPG Programa de Pós­Graduação PPGG Programa de Pós­Graduação Geografia PPGF Programa de Pós­Graduação em Geografia Física SIG Sistema de Informações Geográficas GPS Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global) ITC International Institute for Aerial Survey and Earth Sciences UGI União Geográfica Internacional IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas CAD Computer Aided Design (Desenho Assistido por Computador) RCP77 Recherche Cooperative sur Programme, nº 77 CNRS Centre du Géomorphologie ­ Centre National de la Recherche Scientifique COVID­19 Doença infecciosa causada pelo vírus SARS­CoV­2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO, OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓ­ GICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.3 Procedimentos Metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.3.1 Apresentação dos Procedimentos Metodológicos . . . . . . . . . . . . . . 2 1.3.2 Seleção da Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.3.2.1 Pré­Seleção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.3.2.2 Seleção de Teses e Dissertações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3.3 Levantamento bibliográfico e análise de informações . . . . . . . . . . . 8 1.3.3.1 Levantamento de dados e fichamentos a partir da bibliografia selecionada 8 1.3.3.2 Interpretação e análise das informações presentes nos mapas . . . . . . . 10 1.3.3.2.1 Semiologia Gráfica ­ Implantações Gráficas e Variáveis Visuais . . . . . . 10 1.3.3.3 Aplicação de Questionários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.3.4 Organização dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.3.4.1 Revisão das informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.3.4.2 Tabela de síntese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2 CARTOGRAFIA, CARTOGRAFIA TEMÁTICA E SEMIOLOGIA GRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.1 Contextualização Histórica: Da Cartografia à Cartografia Temática . 14 2.2 A Cartografia Temática: Conceitos e o Paradigma da Semiologia Gráfica 22 2.2.1 O Paradigma da Semiologia Gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.2.2 Simbologia Cartográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.2.2.1 Simbologia Cartográfica: Implantações Gráficas e sua relação com as Va­ riáveis visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.2.2.2 Nível de Raciocínio: Representações Analíticas e Representações Sintéticas 28 2.2.2.2.1 Representações Analíticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.2.2.2.2 Representações de Síntese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.2.2.3 Estrutura Metodológica para as representações na Cartografia Temática . . 29 2.3 Escala e Generalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.3.1 Escala: Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.3.1.1 Formas de Representar a Escala Cartográfica . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.3.1.1.1 A Escala Numérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.3.1.1.2 A Escala Gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.3.2 Generalização e Precisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.3.2.1 Generalização: Definição e processos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3 A GEOMORFOLOGIA: ESCOLAS DE ANÁLISE E CONTEXTO HISTÓRICO DA GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA . . . . . . . . 35 3.1 Breve Introdução à Geomorfologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 3.2 As Escolas de análise Geomorfológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 3.2.1 A Escola Anglo­Americana: do Paradigma do Ciclo Davisiano ao Equilí­ brio Dinâmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 3.2.2 A Escola Germânica: As posturas naturalistas e a interdisciplinaridade . . 38 3.3 A Geomorfologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3.3.1 Breve História da Geomorfologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4 CARTOGRAFIA GEOMORFOLÓGICA . . . . . . . . . . . . . . . . 50 4.1 Contextualização Histórica do Desenvolvimento da Cartografia Geo­ morfológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 4.2 Questões da Cartografia Geomorfológica: Representação de atributos, Simbologia, Legibilidade e Escala de Espaço­Tempo . . . . . . . . . . 54 4.2.1 Representação de Elementos Geomorfológicos . . . . . . . . . . . . . . . 54 4.2.1.1 Simbologia, Legenda e Legibilidade dos Mapas Geomorfológicos . . . . . 55 4.2.2 Tipos de Mapas Geomorfológicos e Suas Finalidades . . . . . . . . . . . 60 4.2.2.1 A Escala na Geomorfologia e na Cartografia Geomorfológica e os Tipos de Mapas Geomorfológicos conforme sua Escala . . . . . . . . . . . . . . . 60 4.2.2.2 Tipos de Mapas Geomorfológicos a partir de suas abordagens e objetivos . 62 4.3 Diversidade de Legendas e de Concepções Metodológicas na Cartogra­ fia Geomorfológicas: Um panorama geral de referências utilizadas no estado de São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 4.3.1 A metodologia francesa e a concepção de Tricart (1965) para o Mapea­ mento Geomorfológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 4.3.1.1 Influência da metodologia francesa da RCP77 na Cartografia Geomorfoló­ gica brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 4.3.2 O Sistema ITC de Pesquisa Geomorfológica (VERSTAPPEN; ZUIDAM, 1975) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 4.3.3 A abordagem do relevo de Ab’Sáber (1969c) . . . . . . . . . . . . . . . . 72 4.3.4 Metodologia do Projeto RADAMBRASIL e do IBGE (2009) . . . . . . . 74 4.3.5 A Cartografia Geomorfológica e a taxonomia na abordagem Ross (1992) . 79 4.4 Breve Panorama da Cartografia Geomorfológica no Brasil . . . . . . 84 4.4.1 Breve contextualização histórica da Cartografia Geomorfológica no Brasil e no Estado de São Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 4.4.2 A Cartografia Geomorfológica no Brasil no Século XXI . . . . . . . . . . 87 4.5 Mapas de Escalas Nacional e Estadual: Classificações e Mapeamentos no Território Brasileiro e no Território Paulista . . . . . . . . . . . . . 89 4.5.1 As Classificações do Relevo Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 4.5.1.1 Primeiras Classificações do Relevo Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . 89 4.5.1.2 O Relevo Brasileiro, segundo Azevedo (1949) . . . . . . . . . . . . . . . 91 4.5.1.3 Classificação do Relevo Brasileiro, segundo Ab’Sáber (1964) . . . . . . . 92 4.5.1.3.1 Classificação do Relevo através dos Domínios Morfoclimáticos, segundo Ab’Sáber (1969b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 4.5.1.3.2 Mapa Geomorfológico Preliminar do Brasil de Ab’Saber (1960) . . . . . 94 4.5.1.4 A Classificação do Relevo Brasileiro segundo Ross (1985): Taxonomia e Conceitos de Morfoestrutura e Morfoescultura . . . . . . . . . . . . . . . 96 4.5.1.5 As Unidades de Relevo no Brasileiro, segundo IBGE (2006) . . . . . . . 98 4.5.2 Classificações do Relevo Paulista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 4.5.2.1 Aspectos Geomorfológicos do Estado de São Paulo, segundo Rego (1932) 102 4.5.2.2 A Classificação de Monbeig (1949) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 4.5.2.3 O Relevo Paulista, segundo Ab’Sáber (1956) . . . . . . . . . . . . . . . . 104 4.5.2.4 A Classificação da Geomorfologia do Estado de São Paulo de Almeida (1964)106 4.5.2.5 O Mapa Geomorfológico do estado de São Paulo do IPT (1981) . . . . . . 107 4.5.2.6 O Mapa Geomorfológico do estado de São Paulo de Ross e Moroz (1996) 109 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 5.1 Visão Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 5.1.1 Conhecendo a visão dos Pesquisadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 5.1.1.1 Síntese e apontamentos dos questionários . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 5.1.2 Trabalhos desenvolvidos no PPGG da FCT­UNESP . . . . . . . . . . . . 123 5.1.3 Trabalhos desenvolvidos no PPGG do IGCE­UNESP . . . . . . . . . . . 127 5.1.4 Trabalhos desenvolvidos no PPGG da UNICAMP . . . . . . . . . . . . . 129 5.1.5 Trabalhos desenvolvidos no PPGF da FFLCH­USP . . . . . . . . . . . . 130 5.2 A representação cartográfica do relevo nos mapas analisados: Agru­ pando os mapas pelo uso da implantação gráfica de área associada à variável visual de cor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 5.2.1 Complexidade e Diversidade dos Mapas Geomorfológicos Detalhados ana­ lisados e fatores associados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 APÊNDICES 185 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A A.1 Questionário Aplicado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A APÊNDICE B – QUADRO­SÍNTESE DE MAPAS EM TESES E DIS­ SERTAÇÕES ANALISADOS . . . . . . . . . . . . . D 1 INTRODUÇÃO, OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 1.1 Introdução No contexto da Geomorfologia, os Mapas Geomorfológicos são ummeio de represen­ tação gráfica e espacial utilizados como instrumento de análise e síntese dos fenômenos geo­ morfológicos (FLORENZANO, 2011). Para Ross (2007), o Mapa Geomorfológico, ao mesmo tempo, direciona a pesquisa e, ao ser concluído, representa uma síntese dessa pesquisa, de modo a fornecer elementos descritivos do relevo, identificar a natureza geomorfológica do terreno e datar suas formas. A Cartografia Geomorfológica se coloca como um ramo compartilhando entre a Car­ tografia e a Geomorfologia, objetivando a interpretação, o mapeamento e a representação car­ tográfica de sistemas morfológicos a partir de sua gênese, cronologia e dinâmica, e um viés classificatório, que categoriza o relevo conforme sua gênese ou o designa a partir de sua espa­ cialidade (NETO, 2020). Segundo Klimaszewski et al. (1982), o Mapa Geomorfológico deve representar um panorama completo da paisagem, informando distribuição e correlação das formas e incluindo dados morfográficos, morfométricos, morfogenéticos e morfocronológicos. Assim, esses mapas são considerados mapas temáticos complexos, considerando que, para representar esses elementos, empregam, ao mesmo tempo, dados qualitativos e quantita­ tivos e o uso dos três modos de implantação da informação (linear, pontual e zonal) em um mesmo mapa (CUNHA, 2011). Além disso, também é importante mencionar as dificuldades para o mapeamento em razão da representação bidimensional do relevo ­ um objeto tridimen­ sional ­ e da diversidade de formas e de gênese presentes nesse objeto de estudo (CUNHA, 2011). A partir da complexidade colocada, uma grande variedade de legendas foram desen­ volvidas ao longo do tempo em diferentes países (VERSTAPPEN, 2011). Desde a década de 1960, esforços têm sido realizados no intuito de unificar as legendas empregadas em vários países ou, ao menos, torna­las mais facilmente comparáveis (VERSTAPPEN, 2011). No en­ tanto, ainda em dias atuais, há a inexistência de um método unificado nacional e internacional­ mente e de um padrão predefinido de mapeamento geomorfológico (FLORENZANO, 2011; ARGENTO, 2009), demonstrando uma diversidade de abordagens e de representações carto­ gráficas do relevo. Para Verstappen (2011), uma padronização completa só é necessária em casos de ela­ boração de uma série de mapas em nível nacional ou internacional, sendo, assim, em situações distintas dessa, mais apropriado aplicar conceitos gerais com certa flexibilidade, de forma que a elaboração do mapa melhor se adéque aos objetivos da pesquisa e às características específicas 2 da área mapeada. A partir das questões colocadas, essa pesquisa, buscando uma melhor compreensão da diversidade e da complexidade na produção de Mapas Geomorfológicos no contexto do estado de São Paulo, no início do século XXI, realizou um levantamento bibliográfico de pro­ duções acadêmicas realizadas em Programas de Pós­Graduação em Geografia de universida­ des públicas entre os anos 2001 e 2018, que tiveram como produto ou um de seus produtos um Mapa Geomorfológico detalhado (escala de referência mais detalhada que 1:50.000) e/ou semi­ detalhado (escala mais detalhada que 1:100.000 e menos detalhada que ou igual a 1:50.000). 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral O Objetivo Geral da pesquisa foi de compreender como tem sido realizada a produção de mapas geomorfológicos detalhados e semi­detalhados produzidos no Estado de São Paulo, tendo como recorte as produções realizadas em programas de pós­graduação em Geografia de universidades paulistas entre os anos 2001­2018. 1.2.2 Objetivos Específicos Considerando o objetivo geral, os objetivos específicos da pesquisa foram: • Contextualizar a produção científica da Cartografia Geomorfológica detalhada. • Compreender aspectos teórico­metodológicos da Cartografia Temática, da Geomorfolo­ gia e da Cartografia Geomorfológica. • Identificar e analisar a presença de concepções teórico­metodológicas da Cartografia Geomorfológica presentes na elaboração de Mapas Geomorfológicos detalhados e semi­ detalhados em produções acadêmicas (teses e dissertações) realizadas em Programas de Pós­Graduação em Geografia em universidades paulistas entre os anos 2001­2018. • Analisar e comparar os Mapas Geomorfológicos detalhados e semi­detalhados analisa­ dos quanto a metodologia, objetivos e representação cartográfica a partir do paradigma da Semiologia Gráfica. 1.3 Procedimentos Metodológicos 1.3.1 Apresentação dos Procedimentos Metodológicos Os procedimentos metodológicos sintetizados na Figura 1 são apresentados e deta­ lhados nas subseções seguintes. Esses procedimentos podem ser compreendidos em: Seleção 3 e Revisão de Bibliografia; Aplicação de Questionários; Organização dos Dados; Revisão e Análise de Informações; e Geração de Tabelas, Mapa Mental e Escrita da Dissertação. Figura 1 – Metodologia do Estudo Elaborado pelo autor (2021). 1.3.2 Seleção da Bibliografia 1.3.2.1 Pré­Seleção Para realizar a seleção da Bibliografia, foram estabelecidos alguns procedimentos an­ teriores a essa seleção, para melhor delimitação das obras analisadas. Estes procedimentos dizem respeito a pesquisas quanto aos autores e orientadores das teses e dissertações, e através de qual programa de Pós­Graduação suas pesquisas foram realizadas. A primeira etapa adotada para a pré­seleção foi, então, de realizar uma busca, através da Plataforma Sucupira (https://sucupira.capes.gov.br), dos Programas de Pós­Graduação em Universidades públicas atuantes no Estado de São Paulo. Para isso, utilizou­se a ferramenta de busca da Plataforma Sucupira chamada ”Dados Cadastrais do Programa”. Para refinar a pesquisa, foram incluídos como critérios a Área Básica (Geografia), a Modalidade (Acadêmico) e a Unidade Federativa (São Paulo). Essa pesquisa retornou os seguintes resultados: 4 1. Programa de Pós­Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Ca­ ribe ­ UNESP, Câmpus de São Paulo 2. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ UNICAMP 3. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ FCT­UNESP, Câmpus de Presidente Pru­ dente (SP) 4. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ IGCE­UNESP, Câmpus de Rio Claro (SP) 5. Programa de Pós­Graduação em Geografia, ­ PUC/SP 6. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ UFSCAR 7. Programa de Pós­Graduação em Geografia (Geografia Física) ­ USP 8. Programa de Pós­Graduação em Geografia (Geografia Humana) ­ USP A tabela gerada pela plataforma retorna, junto aos nomes dos Programas e Instituição de Ensino, outros dados: Código, Área de Avaliação, Área Básica, Situação (Em Funciona­ mento ou EmDesativação), Modalidade, Nota CAPES deMestrado Acadêmico, de Doutorado Acadêmico, de Mestrado Profissional e de Doutorado Profissional. Foram considerados aptos os programas a possuir dissertações que: 1. Estivessem na Situação definida como Em Funcionamento 2. Possuíssem ao mesmo tempo Nota CAPES para Mestrado Acadêmico e Doutorado Aca­ dêmico 3. Contemplassem linhas de pesquisa em Geografia Física Para analisar o critério das linhas de pesquisa, foram consultadas, individualmente, a descrição das linhas de pesquisa presentes em cada um dos programas, através de suas respec­ tivas páginas online, buscando por palavras­chave que indiquem que aquela linha de pesquisa esteja na área do conhecimento de Geografia Física / Geografia Ambiental. Alguns exemplos dessas palavras­chave foram: Paisagem, Natureza, Geosssistema, Meio Ambiente, Cartografia, Geociências, Geomorfologia, Relevo, Geografia Física. Assim, foram excluídos quatro dos oito programas retornados pela plataforma, sendo eles: 1. Programa de Pós­Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Ca­ ribe ­ UNESP, Câmpus de São Paulo 2. Programa de Pós­Graduação em Geografia, ­ PUC/SP 5 3. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ UFSCAR 4. Programa de Pós­Graduação em Geografia (Geografia Humana) ­ USP Os Programas incluídos, assim, foram: 1. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ UNICAMP 2. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ FCT­UNESP, Câmpus de Presidente Pru­ dente (SP) 3. Programa de Pós­Graduação em Geografia ­ IGCE­UNESP, Câmpus de Rio Claro (SP) 4. Programa de Pós­Graduação em Geografia (Geografia Física) ­ USP Posteriormente, foram consultadas, no site dos programas incluídos, a partir das listas de Docentes, o resumo e as áreas de interesse relatadas em seus respectivos Currículos Lattes (http://lattes.cnpq.br/). Nessa etapa, foram buscadas palavras­chave no Currículo como: Geomorfologia; Car­ tografia; Relevo;Mapeamento; Paisagem;Ambiental;MeioAmbiente; Natureza; Zoneamento; Planejamento; Sustentabilidade; Bacias; Ecologia, entre outras. O próximo critério de seleção, foi analisar se, na seção Orientações, sub­seção de Orientações e Supervisões concluídas, haviam dissertações de mestrado e teses de doutorado que: 1. Apresentaram palavras­chave relativas à Geomorfologia, ao Planejamento Ambiental, ao estudo de Paisagens, Mapeamento Geomorfológico, entre outras. 2. Foram publicadas entre os anos 2001 e 2018 3. Puderam ser acessadas através dos repositórios online de teses e dissertações de suas respectivas universidades A partir dessa seleção, foram selecionados quatro docentes. Após a seleção dos docen­ tes, seus Currículos Lattes foram novamente consultados. Através dessa consulta, foi realizada a transcrição a transcrição das seguintes informações para um documento de texto: 1. Nome 2. Endereço Profissional 3. Formação Acadêmica/titulação 4. Livre Docência (se aplicável) 6 5. Vínculo Institucional 6. Projetos de Pesquisa (Período e Título do Projeto) 7. Orientações e Supervisões Concluídas a) Dissertações de Mestrado b) Teses de Doutorado A partir da transcrição das Dissertações de Mestrado e as Teses de Doutorado trans­ critas, foram realizados os downloads através dos portais: • Repositório Institucional UNESP (https://repositorio.unesp.br) • Repositório da ProduçãoCientífica e Intelectual daUnicamp (http://repositorio.unicamp.br) • Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP (https://teses.usp.br) Todos os documentos referentes às dissertações e teses foram baixados, desde que possuíssem sua data de publicação ou data de defesa entre os anos 2001 a 2018 e estivessem disponíveis para download nos portais online. Os downloads foram organizados em pastas separadas pelo nome da Universidade (dividindo­a pelos câmpus, no caso da UNESP) e pelo nome dos docentes. A partir dessa etapa, foi possível realizar a seleção das Teses e Dissertações para análise. 1.3.2.2 Seleção de Teses e Dissertações Ao todo, foram baixados 101 itens, correspondentes às Teses e Dissertações, distri­ buídos da seguinte forma: 1. IGCE­UNESP, Rio Claro ­ 27 itens 2. FCT­UNESP, Presidente Prudente ­ 27 itens 3. USP ­ 26 itens 4. UNICAMP ­ 21 itens Tendo esses documentos salvos, foi iniciada a etapa de seleção. Os critérios de seleção para trabalhos aptos a serem analisados nessa pesquisa foram: 1. Ter sido publicado e/ou defendido entre os anos 2001­2018 2. Ter produzido um Mapa Geomorfológico detalhado ou semi­detalhado (considerado aqui, de escala mais detalhada que 1:100.000) 7 3. O Mapa Geomorfológico deveria estar incluso no documento PDF ou como anexo pos­ sível de ser baixado através dos portais do repositório ou biblioteca digital de teses e dissertações de sua universidade 4. O Mapa Geomorfológico detalhado ou semi­detalhado apresentado deveria estar em re­ solução que tornasse legível, sobretudo em relação à legenda. 5. Os procedimentos metodológicos para a elaboração doMapa Geomorfológico deveriam estar relatados na seção de Metodologia (ou seções análogas) do trabalho. Para realizar esse procedimento, foi utilizada uma consulta de índices e sumários, além de uma busca por palavras­chave como: Mapa(s) Geomorfológico(s); Carta Geomorfoló­ gica; Mapa de Relevo; Morfologia; Forma de Relevo; Escala; entre outras. Além disso, foram consultados osmapas geomorfológicos de cada trabalho, no intuito de verificar sua legibilidade e se sua escala é compatível. O critério para classificação do mapa a partir de sua escala, como semi­detalhado e detalhado, utilizado nessa pesquisa segue os critérios de IBGE (2009), que os classifica da seguinte forma: 1. MapasMurais: aqueles de escalas menores que 1:1.000.000 e têm como objetivo uma ou mais unidades da federação. Escalas preferenciais: 1:2.500.000, 1:5.000.000 e 1:10.000.000. 2. Mapas Básicos: Resultam de levantamento geomorfológico em qualquer segmento do território brasileiro e escala de referência entre 1:1.000.000 e 1:50.000 (incluindo estas escalas). São subdivididos em: a) Mapas Regionais: Levantamentos geomorfológicos em escala menos detalhada que 1:250.000 e mais detalhada que 1:1.000.000, com escalas preferenciais de tra­ balho 1:250.000, 1:500.000 e 1:1.000.000. b) Mapas de Reconhecimento: Levantamentos geomorfológicos em escala mais deta­ lhada ou igual a 1:100.000 e mais detalhada que 1:250.000. c) Mapas de Semidetalhe: Levantamentos geomorfológicos em escala mais detalhada que 1:100.000 e menos detalhada que 1:50.000 3. Mapas Detalhados: Levantamentos geomorfológicos em qualquer segmento do território brasileiro, com escala de referência > 1:50.000, com escalas preferenciais de 1:25.000 e 1:10.000. Nessa seleção, foram considerados aptos para análise, correspondendo a cada orien­ tador: 1. IGCE­UNESP, Rio Claro ­ 19 itens 8 2. FCT­UNESP, Presidente Prudente ­ 3 itens 3. USP ­ 4 itens 4. UNICAMP ­ 5 itens Em razão do prazo estabelecido para essa pesquisa, foi estabelecido um número ideal de 5 a 7 itens a serem analisados, por cada orientador. A escolha considerou a ordem cronoló­ gica (as análises foram feitas das produções mais antigas às mais recentes), a legibilidade dos mapas e de suas legendas e a clareza da exposição dos procedimentos metodológicos em seus textos. Além disso, após as análises das produções do Programa de Pós­Graduação em Ge­ ografia, da FCT­UNESP, campus de Presidente Prudente, foram incluídos dois itens (tese de doutorado (NUNES, 2002) e trabalho completo publicado em anais de evento científico), para melhor compreensão da elaboração da legenda dos mapas deste Programa . Assim, os números de trabalhos analisados, correspondentes a cada orientador, são: 1. IGCE­UNESP, Rio Claro ­ 7 itens 2. FCT­UNESP, Presidente Prudente ­ 5 itens 3. USP ­ 4 itens 4. UNICAMP ­ 5 itens 1.3.3 Levantamento bibliográfico e análise de informações 1.3.3.1 Levantamento de dados e fichamentos a partir da bibliografia selecionada O levantamento de dados e fichamentos a partir da bibliografia selecionada foi reali­ zada em três grandes etapas para cada uma das teses e dissertações levantadas. 1. Levantamento de Informações básicas 2. Fichamento de Resumo, com ênfase nos procedimentos metodológicos da pesquisa 3. Extração e classificação de informações representadas do mapa A primeira etapa de levantamento de dados foi dividida em dois procedimentos, sendo eles: 1. Leitura rápida da tese / dissertação, para identificar sua estrutura e organização e princi­ pais assuntos abordados 9 2. Leitura mais atenta da tese / dissertação para identificar e transcrever informações espe­ cíficas As informações coletadas e transcritas no segundo procedimento se referem a: • Nome da publicação • Autor • Co­Autor (Caso se aplique) • Orientador • Programa de Pós­Graduação • Ano de Publicação • Recorte Espacial e área mapeada • Características Geomorfológicas principais da área mapeada • Escala de Trabalho e de Representação • Objetivos da Pesquisa: – Geral – Específicos • Referências Principais citadas para elaboração dos Procedimentos Metodológicos • Principais fontes de dados • Softwares Utilizados (Caso se aplique) • Instrumentos Analógicos Utilizados (Caso se aplique) Na segunda etapa de levantamento, foi realizado um fichamento de resumo, com ên­ fase nos procedimentos metodológicos e nos objetivos da tese/dissertação analisada. As prin­ cipais perguntas que orientaram a leitura e o fichamento de resumo foram: • Qual a finalidade para a elaboração do Mapa Geomorfológico no contexto dessa pes­ quisa? • Quais foram as fontes de dados utilizadas? • Quais dados representados foram levantados pelo autor e quais derivam de um levanta­ mento bibliográfico e cartográfico? 10 • Quais foram as publicações utilizadas como referência para o levantamento de informa­ ções? • Como as informações mapeadas foram levantadas? • Qual foi a simbologia utilizada na elaboração do mapa? • Quais foram as publicações utilizadas como referência para escolha da simbologia utili­ zada? • A simbologia utilizada tem como referência um oumais sistemas de mapeamento ou me­ todologias de cartografia geomorfológica detalhada pré­existentes (i. e. Tricart (1965), Demek (1972), IBGE (2009), Klimaszewski et al. (1982), entre outros)? Qual(is)? Por quê? • Qual foi a escala utilizada? Por quê? • Quais foram os instrumentos utilizados? São instrumentos digitais ou instrumentos ana­ lógicos? Por que foram utilizados estes instrumentos? • O Mapa Geomorfológico, após sua finalização, foi incluído em outro procedimento me­ todológico da pesquisa? Qual procedimento? Por quê? Há de se considerar a limitação de que, apenas através da leitura das teses e disserta­ ções não é possível responder, da formamais correta e objetiva possível, questões concernentes àmotivação da escolha de determinados procedimentos e de determinadas referências, uma vez que tais justificativas não são, necessariamente, relatadas nos procedimentos metodológicos. Nesse sentido, procedimentos como a aplicação de questionários e/ou a realização de entrevistas para a complementação de informações, permitindo se chegar à respostas mais cor­ retas, coerentes e objetivas a essas perguntas, são recomendáveis. A aplicação de questionários foi adotada e está relatada na sub­subseção 1.3.3.3. 1.3.3.2 Interpretação e análise das informações presentes nos mapas 1.3.3.2.1 Semiologia Gráfica ­ Implantações Gráficas e Variáveis Visuais Após essa etapa, foi realizada a etapa de levantamento de informações representadas no Mapa Geomorfológico presente na pesquisa. Esse levantamento procurou classificar as in­ formações indicadas na legenda do mapa e sua simbologia pelos conceitos de implantações gráficas e de variáveis visuais, de Bertin (2010). Assim, a implantação gráfica de cada símbolo presente na legenda foi classificada a partir das definições de Bertin (2010), mostradas a seguir: 11 • Ponto ­ Representa a localização no plano, mas não apresenta comprimento ou área da informação. • Linha ­ Representa um fenômeno no plano, com comprimento mensurável, mas não representa sua área • Área ­ Representa no plano um fenômeno com tamanho mensurável. As variáveis visuais associadas às implantações gráficas foram classificadas a partir de Bertin (2010), sendo elas: • Tamanho • Valor • Textura • Cor • Orientação • Forma Os elementos da Semiologia Gráfica de Bertin (2010) utilizados estão melhor detalha­ dos no Capítulo 2 dessa dissertação. Há de se considerar, também, que em alguns dos mapas geomorfológicos analisados, há dados que são representados com outras variáveis visuais além das mencionadas, como a combinação de algarismos alfanuméricos para indicar a gênese e os índices de dissecação do relevo de uma dada unidade, e dados dispostos em tabelas inclusas no mapa que indicam a taxonomia do relevo como forma de organizar a legenda e incluir informa­ ções adicionais. A esse respeito, informações mais aprofundadas se encontram nos Capítulos 4 e 5. 1.3.3.3 Aplicação de Questionários A aplicação de questionários a pesquisadores e professores orientadores de programas de pós­graduação teve como intuito coletar novas informações, verificar informações obtidas a partir do levantamento bibliográfico e melhor contextualizá­las, além de compreender com maior profundidade as visões dos pesquisadores quanto à Cartografia Geomorfológica, dos pontos de vista teórico e metodológico. Este questionário abordou os seguintes temas: 1. Informações gerais sobre os orientadores e os programas de pós­graduação 2. Experiências prévias com a Geomorfologia e o Mapeamento Geomorfológico 12 3. A importância da Geomorfologia e do Mapeamento Geomorfológico e suas principais referências teóricas 4. Desenvolvimento e adaptações de metodologias e etapas de produção do Mapa Geomor­ fológico 5. Escalas, Níveis de Grandeza, Taxonomia e Dados representados nos Mapas 6. Aspectos gráficos e técnicos e aspectos do relevo que influenciam na produção dos Ma­ pas 7. Tecnologias e técnicas mais utilizadas pelos pesquisadores 8. Perspectivas para a Cartografia Geomorfológica no Brasil As perguntas que foram realizadas aos professores estão transcritas de forma completa noApêndice da dissertação. Este questionário foi aplicado a quatro pesquisadores e professores orientadores dos programas de Pós­Graduação selecionados. Uma observação a ser realizada sobre esse procedimento é de que, no projeto inicial de pesquisa, era pretendido realizar entrevistas semi­estruturadas, combinando perguntas abertas e fechadas, com a possibilidade de maior desenvolvimento por parte do entrevistado (BONI; QUARESMA, 2005), e presenciais, com cada um dos professores orientadores selecionados. Além disso, também era planejada a visita aos laboratórios das universidades nos quais esses profissionais atuam, permitindo melhor contextualização e um maior número de informações quanto à metodologia das pesquisas realizadas. No entanto, em razão do isolamento social, necessário para o controle da Pandemia de COVID­19 no Brasil, ao longo dos anos de 2020 e 2021, estes procedimentos não puderam ser realizados. Apesar dessa limitação, os questionários aplicados foram de grande utilidade para a pesquisa, contextualizando e aprofundando as informações coletadas a partir da revisão bibli­ ográfica, além de darem maior suporte teórico­metodológico para a análise desses resultados. 1.3.4 Organização dos Dados 1.3.4.1 Revisão das informações Após a coleta das informações através de revisão bibliográfica e da aplicação dos questionários, as informações coletadas foram revisadas, no intuito de verificar eventuais erros de coleta e/ou incompreensões de leitura que pudessem eventualmente ter ocorrido. Assim, informações incorretas ou imprecisas puderam ser corrigidas, antes da análise e síntese dos dados. 13 1.3.4.2 Tabela de síntese A partir das informações coletadas e revisadas nas etapas de trabalho anteriores, foi elaborado um quadro­síntese, através do softwareMicrosoft Excel®, que incluía as seguintes informações de cada tese e dissertação: • Autor • Orientador • Programa de Pós­Graduação • Título • Ano de publicação • Tipo de Publicação (Tese ou Dissertação) • Área Mapeada • Escala do Mapa Geomorfológico • Objetivo Geral da Pesquisa • Softwares Utilizados • Referências principais de Cartografia Geomorfológica • Dados representados no Mapa Geomorfológico Além disso, também foram elaborados diagramas através da versão browser do soft­ ware Diagrams.net (antigo draw.io), combinando ferramentas de desenho e de texto para re­ presentar os resultados obtidos na pesquisa. 2 CARTOGRAFIA, CARTOGRAFIA TEMÁTICA E SEMIOLOGIA GRÁFICA 2.1 Contextualização Histórica: Da Cartografia à Cartografia Temática Desde a pré­história, variados povos têm produzido mapas. A importância desses ins­ trumentos é tamanha que Duarte (2008, p. 19) afirma que “história dos mapas confunde­se com a própria história da humanidade”. Na época, os mapas eram usados como uma forma de armazenar conhecimento sobre a superfície da Terra e para gerenciar e racionalizar o uso do espaço. Essas tecnologias, que ainda estavam em sua infância, seriam o primeiro passo para a Cartografia tal como é entendida atualmente (DUARTE, 2008). Os mapas, enquanto construções sociais, confeccionados por estes variados povos re­ fletiam aspectos culturais próprios, suas concepções de espaço e de tempo (DUARTE, 2008). Assim, uma revisão história da produção dos mapas produzidos por cada sociedade, em cada momento histórico, pode refletir aspectos como a cultura, a filosofia, a mitologia, a religiosi­ dade, a economia, a geopolítica, entre outros. Segundo Martinelli (2005), os primeiros tipos de mapas feitos pela humanidade eram gravados em pedras ou argilas, pintados em peles animais ou armados em estruturas, represen­ tando a prática de suas relações espaciais e sociais. Dentre os mapas mais antigos conhecidos, o Mapa de Ga­Sur, confeccionado por Ba­ bilônios, em época estimada entre 2500 a 4500 a.C., que se trata de uma placa de barro cozido pequena, provavelmente representando a região daMesopotâmia, com o rio Eufrates e sua área circunvizinha (DUARTE, 2008), pode ser tomado como exemplo de mapa gravado em argila (Figura 2). 15 Figura 2 – Mapa de Ga­Sur, conservado no Museu Semítico de Harvard Fonte:vici.org (2018, acesso em 15/12/2020) No Oceano Pacífico, a nordeste da Austrália, há outro exemplo de mapa rudimentar antigo, confeccionado pelos indígenas das Ilhas Marshall, que foi feito com conchas e tiras de palha, representando as ilhas de seu arquipélago (DUARTE, 2008) (Figura 3). 16 Figura 3 – Mapa de gravetos das Ilhas Marshall. As ilhas são representadas por conchas presas às tiras. Fonte:OLIVEIRA (1983 citado por DUARTE, 2008) Ambos exemplos citados acima refletem sobre aspectos como a interpretação de terri­ tórios e do domínio dos mares vinham a satisfazer as necessidades humanas e sobre os mapas como formas de saber socialmente construído (MARTINELLI, 2005). Na Antiguidade Clássica, a Cartografia e a Geografia se relacionam fortemente no pensamento grego (MARTINELLI, 2005). Na Grécia Antiga, os estudos de Cartografia esta­ beleceriam as bases científicas da Cartografia ocidental moderna, marcando a evolução das técnicas cartográficas (DUARTE, 2008). Dentre os pensadores que desenvolveram esses trabalhos está Anaximandro deMileto (611­547 a.C.), que desenvolveu ummapa representando omundo conhecido até então (regiões da Europa e Mar Mediterrâneo), e Hecateu, que aperfeiçoou o mapa citado (DUARTE, 2008). Em torno do século IV a.C., a consideração da forma da Terra como esférica influen­ ciou a confecção dos mapas, e as definições das linhas da rede geográfica (Equador, trópicos, círculos polares e meridianos) foram firmada (DUARTE, 2008). Posteriormente, Erastótenes de Cirene (276­196 a.C.) abriu horizontes para a Carto­ grafia ao conseguir calcular o valor aproximado da circunferência da Terra, bem como elaborou 17 um mapa do mundo, representando suas áreas habitadas, e que foi posteriormente modificado por Hiparco de Nicéia (161­126 a.C.) (DUARTE, 2008). A esse respeito, Aujac (1987) complementa que: Está absolutamente claro que em dois esforços científicos, Erastótenes supe­ rou seus antecessores e seus contemporâneos. O primeiro desses esforços foi a mensuração da circunferência da Terra (...). O segundo foi sua construção de um mapa mundial baseado tanto em paralelos quanto em meridianos, o que foi de suma importância não só para o desenvolvimento subsequente de projeções cartográficas, mas também para o eventual uso científico e prático dos mapas. (AUJAC, 1987, p. 154, tradução nossa) Ainda na Grécia, Cláudio Ptolomeu (90­168 d.C.), um dos autores mais conhecidos, elaborou uma obra abordando as ciências da Terra e a Astronomia, incluindo a Cartografia (DUARTE, 2008), na qual estavam inclusos mapas em atlas, um mapa­mundi e “vinte e seis representações elaboradas com dados do mundo conhecido da época” (MARTINELLI, 2005, p. 2) (Figura 4). Figura 4 – Uma reconstrução do Mundo de Cláudio Ptolomeu, por Edward Herbert Bunbury Fonte: Bunbury (1883) citado por Dilke (1987) De acordo com Dilke (1987): É difícil negar a influência extraordinária de Ptolomeu no desenvolvimento da cartografia Européia, Árabe e mundial. Através da obra Sintáxis Matemá­ tica (um tratado de matemática e astronomia em treze livros, posteriormente chamado de o Almagesto) e da obraGeografia (em oito livros), pode­se dizer 18 que a influência de Ptolomeu foi predominante tanto na astronomia quanto an geografia ­ e, portanto, suas manifestações cartográficas ­ por mais de catorze séculos. (...) Na história da transmissão das ideias cartográficas é certamente seu trabalho, estendendo­se à Idade Média Européia, o que forneceu a mais forte conexão no elo entre os conhecimentos de Cartografia nos mundos da Antiguidade e do início da Modernidade. (DILKE, 1987, p. 177, tradução nossa) A decadência da Cartografia viria a ocorrer na IdadeMédia ­ período no qual a própria obra de Ptolomeu seria proibida, no mundo ocidental, por representar conhecimentos que não se enquadravam nos pensamentos da Igreja Católica Romana (DUARTE, 2008). Assim, a Cartografia cristã na baixa Idade Média era caracterizada por sua pobreza. Um exemplo disso é a obra do frade Cosmas Indicopleustes Topografia Cristã, datada de por volta do ano 535 d.C., que nega a existência de antípodas e a ideia de esfericidade do planeta ­ consideradas incompatíveis com os ensinamentos bíblicos (DUARTE, 2008). Nesse período, havia um grande número de mapas de formatos circulares conhecidos como Orbis Terrarum (ou mapas “T”no “O”), que eram simples e simétricos na distribuição das terras e que representavam a Terra Santa ao centro, o Mar Mediterrâneo como o “T”e o oceano como o “O”(DUARTE, 2008) (Figura 5). 19 Figura 5 – Orbis Terrarum Fonte: Duarte (2008) Por volta dos séculos XIII e XIV, o portulano ­ um tipo de mapa mais científico e utilitário ­ passou a circular na Europa, elaborado principalmente militares de Gênova, que era um dos principais centros europeus de atividade marítima (DUARTE, 2008). Estes mapas representavam as regiões doMar Mediterrâneo, do Mar Negro e parte do Oceano Atlântico, e eram caracterizados por possuírem orientação ao norte magnético, nomes de acidentes geográficos litorâneos, pouca informação sobre os continentes e sistema detalhado de rosa­dos­ventos e rumos (DUARTE, 2008). Ainda nesse contexto, durante o Renascimento, a obra de Ptolomeu foi traduzida para o latim e atualizada e a Cartografia também viria a ser impulsionada pela exploração de novas terras, havendo a formação de especialistas na confecção de mapas e de estabelecimentos que fabricavam cópias manuais, e, posteriormente, impressas, de mapas (DUARTE, 2008). Neste período, marcado pelo aperfeiçoamento, barateamento e popularização do uso dos mapas, se destaca um dos cartógrafos europeus mais importantes, chamado Gerhahrd Mer­ cator (1512­1594), que tem a projeção cartográfica com meridianos retos e equidistantes e 20 paralelos retos, mas cada vez mais afastados dos polos (Figura 6), como um de seus trabalhos mais conhecidos e é utilizada ainda nos dias atuais (DUARTE, 2008). Figura 6 – Planisfério terrestre na projeção de Mercator. Fonte: Fletcher (2017) Na França, os nomes da família Sanson ganham sua importância na história da Car­ tografia através da publicação de mapas e atlas e o envolvimento francês nos “grandes desco­ brimentos”impulsionou em grande medida o desenvolvimento da Cartografia na França (DU­ ARTE, 2008). Outros países europeus, também envolvidos nas atividades coloniais deste período, influenciaram fortemente o desenvolvimento da Cartografia nas áreas colonizadas (DUARTE, 2008). Como exemplo disso, a Cartografia de Portugal no período colonialista, fortemente utilitária, se caracterizava pela produção de mapas marítimos que mostravam a configuração e o delineamento do litoral dos continentes e ilhas, e teve forte influência na cartografia do 21 Brasil, ainda que se desenvolvesse um estilo original a partir da vinda da família real no século XIX (DUARTE, 2008). Em 1808, o governo imperial adota medidas visando organizar­se adminis­ trativamente, criando, desta forma, a Academia da Marinha (Aviso de 05/05/ 1808), o Arquivo Militar (Decreto de 07/04/ 1808), a Tipografia Régia (De­ creto de 13/05/ 1808) e a Academia de Artilharia e Fortificação (Carta de Lei de 04/12/ 1810). Com isso, começa o rompimento da Cartografia luso­ brasileira, surgindo uma Cartografia Imperial, quando a Academia da Mari­ nha e a Escola de Artilharia e Fortificação ficariam com a incumbência de preparar os técnicos especialistas que dariam andamento aos trabalhos de or­ dem geográfica e cartográfica. Com a implantação da Imprensa Régia come­ çam os trabalhos de edição de mapas nacionais, enquanto que o Real Arquivo Militar estaria responsável pela preservação de nosso acervo, com isso apoi­ ando a impressão de novos mapas, como foi o caso da planta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1812. (DUARTE, 2008, p. 42) Na Europa do Século XVIII, com a instituição das academias científicas houve signi­ ficativo avanço na Cartografia (MARTINELLI, 2005). Porém, tal avanço na Cartografia seria ainda mais potencializado com a sistematização de áreas de estudos que operavam através da divisão do trabalho científico, no fim do século XVIII e início do século XIX, e também do avanço Imperialismo, no fim do século XIX: (...) o maior impulso imprimido aos mapeamentos, como apoio aos novos conhecimentos, se dá com o avanço do imperialismo, no fim do século XIX. Cada potência necessitaria de um inventário cartográfico preciso para as no­ vas incursões exploratórias, incorporando assim, também esta ciência, às suas investidas espoliativas nas áreas de dominação. (MARTINELLI, 2005, p. 1­ 2) Esse processo histórico fez com que se desenvolvesse a Cartografia Temática e a incorporação de representações quantitativas da sociedade à elaboração dos Mapas (MARTI­ NELLI, 2005). Concomitantemente, no século XIX, ocorria a sistematização do conhecimento geográfico, que muito se beneficiou do aprimoramento da Cartografia, em cada uma das distin­ tas áreas da Geografia ­ as quais demandavam mapas temáticos específicos (MARTINELLI, 2005). No início da segunda metade do Século XIX, ocorre o Terceiro Congresso Internacio­ nal de Estatística, em Viena, no ano de 1857 (MARTINELLI, 2005). Nesse Congresso, o qual consolidou uma postura metodológica mais consistente para a Cartografia Temática: Temos convicção que, em base a todas as contribuições que vieram desde o evento internacional de 1857 até a atualidade, podemos assumir uma proposta de orientação metodológica com uma estrutura lastreada na seguinte postura: os mapas temáticos podem ser construídos levando­se em conta vários méto­ dos; cada um mais apropriado às características e às formas de manifestação (em pontos, em linhas, em áreas) dos fenômenos da realidade considerados em cada tema, seja na abordagem qualitativa, ordenada ou quantitativa. Po­ demos empreender também uma apreciação sob o ponto de vista estático, 22 constituindo a cartografia estática, ou dinâmico, estruturando a cartografia dinâmica. Devemos salientar, ainda, que os fenômenos que compõem a re­ alidade a ser representada em mapa podem ser vislumbrados dentro de um raciocínio analítico ou de síntese. Neste sentido teremos, de um lado uma cartografia analítica – abordagem dos temas em mapas analíticos, atentando para seus elementos constitutivos, mesmo que cheguem à exaustão, através de justaposições ou superposições –, e de outro, uma cartografia de síntese – abordagem temática em mapas de síntese, tendo em vista a fusão dos seus elementos constitutivos em “tipos”. (MARTINELLI, 2005, p. 4­5). 2.2 A Cartografia Temática: Conceitos e o Paradigma da Semiologia Gráfica Segundo Duarte (1991, p. 138), a Cartografia Temática: (...) é um ramo da Cartografia que diz respeito ao planejamento, execução e impressão de mapas sobre um Fundo Básico, ao qual são anexadas informa­ ções através de simbologia adequada, visando atender as necessidades de um publico específico. Os Mapas Temáticos têm como objetivo a representação convencional de fenômenos localizáveis e de suas correlações através de símbolos qualitativos e/ou quantitativos dispostos sobre uma base de referência (JOLY, 2008). Em diferenciação à Cartografia Geral, Duarte (1991) compreende que a Cartografia Temática: • Atende a um público especializado e reduzido • Aborda assuntos mais restritos • Representa qualquer elemento, incluindo aqueles mais abstratos (i.e. densidade demo­ gráfica) • Possui menor durabilidade de informação (dados superados mais rapidamente) • Podem apresentar tanto dados quantitativos quanto qualitativos • Geralmente exige conhecimento especializado do leitor • Os Documentos podem ser elaborados por não­especialistas em Cartografia • As cores podem ter significado quantitativo e/ou qualitativo 2.2.1 O Paradigma da Semiologia Gráfica Queiroz (2007), analisando a origem e a evolução da Cartografia Temática, aborda as principais linhas de pensamento no estudo da Cartografia, sendo as principais a Teoria da Informação, a Teoria da Modelização, a Teoria da Metaciência, a Semiologia Gráfica, a Teoria Cognitiva e a Visualização. 23 No paradigma da Semiologia Gráfica, aqui tomado como base de nossa pesquisa, foi uma importante referência na Geografia brasileira, especialmente relacionada à Geografia Am­ biental e ao Paradigma Sistêmico, conforme destacado por Barbosa e Santos (2017), e tem Bertin (2010) como um de seus pensadores de maior destaque. Bertin foi o primeiro pesquisador a organizar um quadro de variáveis visuais, com as propriedades perceptivas da linguagem gráfica. Ele enfatizou a trans­ crição da linguagem escrita para a visual, considerando as relações apresen­ tadas entre os dados. Assim a sistematização de tais relações e sua represen­ tação gráfica são o ponto de partida na caracterização da linguagem gráfica. (BARBOSA; SANTOS, 2017, p. 288) A Semiologia Gráfica é centrada no conhecimento das propriedades perceptivas da linguagem cartográfica (JOLY, 2008). Nesse paradigma, a informação visual demanda conhe­ cimentos prévios do leitor para suamelhor compreensão (ARCHELA, 1999). Na representação gráfica, temos a linguagem gráfica: A linguagem gráfica como um sistema de signos gráficos é formada pelo sig­ nificado (conceito) e significante (imagem gráfica). As três relações (similari­ dade/diversidade, ordem e proporcionalidade) consistem nos significados da representação gráfica e são expressas pelas variáveis visuais (tamanho, valor, textura, cor, orientação e forma), que são significantes (ARCHELA, 1999, p. 6) Compreendendo que as relações entre objetos são transcritas nas representações gráfi­ cas através das três relações fundamentais (diversidade, ordem e proporcionalidade), podemos compreender que (MARTINELLI, 2016): • A diversidade de objetos é transcrita pela diversidade visual (̸=) • A ordem dos objetos é transcrita por uma ordem visual (O) • A proporcionalidade dos objetos é transcrita por uma proporcionalidade visual (Q) (MAR­ TINELLI, 2016) Dessa, forma, podemos compreender conforme demonstra a Figura 7: 24 Figura 7 – Relações Fundamentais entre objetos e suas respectivas Representações Gráficas Fonte: Martinelli (2016) A partir das relações fundamentais, na construção de mapas na Geografia, deve­se atentar para duas questões ­ as variáveis visuais disponíveis e suas propriedades perceptivas (MARTINELLI, 2016). As variáveis visuais são (MARTINELLI, 2016): • Duas dimensões do Plano (X, Y) • Tamanho • Valor • Granulação • Cor • Orientação • Forma As variáveis visuais podem ser divididas em Variáveis da Imagem e Variáveis de Se­ paração (MARTINELLI, 2016). As Variáveis da Imagem são as duas dimensões do plano, o tamanho e o valor e essa denominação se dá por estas variáveis construírem a imagem (MAR­ TINELLI, 2016). 25 As Variáveis de Separação são a Granulação, a Cor, a Orientação e a Forma, e essa denominação se dá pois estas variáveis separam os elementos da imagem, mas não revelam a figura construída por seu conjunto (MARTINELLI, 2016). As variáveis visuais possuem propriedades perceptivas, as quais são levadas em con­ sideração na transcrição das três relações fundamentais entre objetos (diversidade (̸=), ordem (O) e proporcionalidade (Q) (MARTINELLI, 2016; ARCHELA, 2001): • Percepção Dissociativa (̸=): Afastando­se da vista, elementos desaparecem sucessiva­ mente (variável visual: tamanho) • Percepção Associativa (=): Categorias se confundem, e, afastando­se da vista, não desa­ parecem (variável visual: orientação) • Percepção Seletiva (̸=): Olho consegue isolar os elementos (variável visual: orientação) • Percepção Ordenada (O): Categorias se ordenam espontaneamente (variável visual: va­ lor ­ do claro ao escuro) • Percepção Quantitativa (Q): Relação de proporção imediata (variável visual: tamanho) Para a compreensão da variável visual cor, deve­se considerar suas três dimensões (MARTINELLI, 2016): • Matiz: “nuança cromática na sequencia espectral. (...) É uma cor pura. Corresponde a um único comprimento de onda bem definido na faixa do visível”(MARTINELLI, 2016) (Ver Figura 8) • Saturação: Variação em ummesmomatiz, do neutro absoluto (cinza) à cor pura espectral (MARTINELLI, 2016) • Valor: Quantidade de energia refletida (compõe uma ordem visual ­ sequência de cinzas do branco até o preto) (MARTINELLI, 2016) Na prática das cores, é cômodo dispor de um círculo cromático ou círculo das cores. Para construí­lo consideramos uma série de pastilhas coloridas se­ gundo a sucessão espectral de acordo com os comprimentos de onda. (...) Também neste, temos duas ordens visuais crescentes opostas entre as cores: de um lado, as frias, de outro, as quentes. (MARTINELLI, 2016, p. 19) 26 Figura 8 – Círculo cromático. 0◦ 30◦ 60◦ 90◦ 120◦ 150◦ 180◦ 210◦ 240◦ 270◦ 300◦ 330◦ Vermelho Amarelo Verde Ciano Azul Magenta Código­fonte (LATEX): Midtiby (2008). Modificado pelo autor (2021). 2.2.2 Simbologia Cartográfica Na Cartografia Temática, conforme a Semiologia Gráfica, os objetos são transcritos através de grafismos ou símbolos, os quais resultam de convenção proposta ao leitor, lembrada num quadro de sinais ou legenda do mapa (JOLY, 2008). Esses símbolos podem ser categori­ zados dessa forma (JOLY, 2008): • sinais convencionais ­ centrados em posição real. Identificam objeto cuja superfície é muito pequena pra ser tratada em projeção • sinais simbólicos ­ signos evocadores, localizados • pictogramas ­ símbolos figurativos facilmente reconhecíveis • ideograma ­ pictograma representativo de um conceito ou ideia • símbolo regular ­ estrutura constituída por repetição regular de um elemento gráfico sobre uma superfície delimitada • símbolo proporcional ­ símbolo quantitativo cuja dimensão varia com o valor do fenô­ meno representado (JOLY, 2008) 27 2.2.2.1 Simbologia Cartográfica: Implantações Gráficas e sua relação com as Variáveis visu­ ais A Simbologia Cartográfica consiste em um arranjo convencional das manchas signi­ ficativas localizadas em implantação pontual, linear ou zonal (JOLY, 2008). Esses modos de implantação são escolhidos conforme a extensão do objeto (JOLY, 2008): 1. Pontual ­ superfície ocupada insignificante, porém localizável com precisão 2. Linear ­ largura desprezível em relação ao comprimento, porém traçável com precisão 3. Zonal ­ cobre superfície suficiente para representação por superfície proporcional homó­ loga Em conceituação semelhante e mais recente, voltada à Cartografia Temática no meio Digital, Sampaio e Brandalize (2018) consideram que: Um dos passos necessários para a adequada produção do material gráfico consiste em estabelecer a correta relação entre a forma de ocorrência dos elementos no espaço e de sua representação cartográfica. (...) Cada elemento e tema a ser cartografado remetem ao usuário uma imagem mental prévia que será procurada, em um primeiro momento, na representação cartográfica. (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018, p. 161) A relação entre a Forma de Ocorrência dos Fenômenos Espaciais e Modos de Im­ plantação Gráfica, segundo Sampaio e Brandalize (2018), encontra­se sintetizada na Figura 9 Figura 9 – Relação da Forma de Ocorrência de Fenômenos Espaciais e Modos de Implantação Gráfica em Mapas Temáticos Fonte: Sampaio e Brandalize (2018) 28 A relação entre as Implantações Gráficas e as Variáveis Visuais consideram as rela­ ções fundamentais já abordadas anteriormente. Essa relação, para Bertin (2010), encontra­se sintetizada na Figura 10: Figura 10 – Implantações Gráficas e Variáveis Visuais, segundo Bertin (2010) Fonte: Bertin (2010), Adaptado por Oliveira e Nascimento (2011). 2.2.2.2 Nível de Raciocínio: Representações Analíticas e Representações Sintéticas 2.2.2.2.1 Representações Analíticas Os mapas Analíticos são utilizados para representar a distribuição de elementos de um fenômeno Archela e Théry (2008), ou conforme considera Martinelli (2016, p. 43) “repre­ sentação dos elementos constitutivos ­ lugares, caminhos ou áreas caracterizados por atributos ou variáveis (qualitativos, ordenados, quantitativos)”. As representações da cartografia analítica são aquelas que envolvem uma lu­ cubração dirigida à análise do espaço geográfico, mobilizando procedimentos de registro, classificação, de combinação e de busca de uma possível explica­ ção dos fatos ou fenômenos observados. (...) Os mapas analíticos, em grandes linhas, permite ­ quando a relação entre os componentes tratados em cada tema revelar mediante o arranjo do padrão espacial exibido o conteúdo da informação ­ formular hipóteses sobre o que explicaria a geografia dos fenômenos. Entretanto, eles, por si só, seriam in­ capazes de sugerir as causalidades ou de dar as explicações. (MARTINELLI, 2016, p. 113) 29 2.2.2.2.2 Representações de Síntese Os Mapas de Síntese representam a relação entre mais de uma variável, ou seja, a “(...)integração de fenômenos, feições, fatos ou acontecimentos que se interligam na distribui­ ção espacial” (ARCHELA; THÉRY, 2008, p. 18). Podemos ter como exemplos: “(...)mapas de uso do solo, mapas de sensibilidade e mapas de zoneamento, mapas geomorfológicos e mapas tipológicos diversos”(ARCHELA; THÉRY, 2008, p. 18). Assim, na elaboração de Mapas de Síntese, deve­se considerar que: O mapa resultante deve evidenciar conjuntos espaciais de síntese, os quais têm de ser internamente homogêneos e bem distintos uns dos outros. (MAR­ TINELLI, 2016, p. 115) O raciocínio de síntese na Cartografia, segundo Martinelli (2016), é coerente com al­ gumas das correntes da Geografia, como, por exemplo, a Geografia Regional de La Blache. Ainda segundo o autor 2016, ainda haveriam confusões sobre a cartografia de síntese na Geo­ grafia: Muitos a concebem, ainda, mediante mapas ditos de síntese, porém não como sistemas lógicos, e sim como superposições ou justaposições de análises. Re­ sultam, portanto, mapas muito confusos, nos quais se acumulam uma mul­ tidão de hachuras, cores e símbolos, até mesmo índices alfanuméricos, ne­ gando a própria ideia de síntese. Na síntese, não se pode mais ter os elementos em superposição ou em jus­ taposição, mas, sim, a fusão deles em tipos. Isso significa que, no caso dos mapas, deve­se identificar e delimitar agrupamentos de lugares, caminhos ou áreas, tidos como unidades elementares de análise, caracterizados por agru­ pamentos de atributos ou variáveis. (MARTINELLI, 2016, p. 114­115) 2.2.2.3 Estrutura Metodológica para as representações na Cartografia Temática Tendo a compreensão das Formas de manifestação dos fenômenos, da Apreciação e abordagem dos fenômenos com seus métodos de representação, do Nível de raciocínio e do Nível de apreensão, Martinelli (2016) apresenta uma estrutura metodológica para articular as representações da cartografia temática e indica os métodos apropriados para cada situação. Essa estrutura metodológica se organiza da seguinte forma: 1. Forma de manifestação dos fenômenos: • em ponto; • em linha; • em área. 2. Apreciação e abordagem dos fenômenos com seus métodos de representação: • apreciação estática: – Representações qualitativas: método dos pontos diferenciados, método das linhas dife­ renciadas e método corocromático ordenado; 30 – representações quantitativas: método das figuras geométricas proporcionais, método dos pontos de contagem, método coroplético e método isarítimico; • apreciação dinâmica: – representações das transformações de estados e das variações quantitativas absolutas e relativas no tempo: método corocromático qualitativo, método corocromático ordenado, método das figuras geométricas proporcionais e método coroplético; – representação dos movimentos no espaço: método dos fluxos. 3. Nível de raciocínio • representações analíticas: representação dos elementos constitutivos ­ lugares, caminhos ou áreas caracterizados por atributos ou variáveis (qualitativos, ordenados, quantitativos); • representações de síntese: representação da fusão dos elementos constitutivos em “tipos­ agru­ pamentos de lugares, caminhos ou áreas unitárias de análise caracterizadas por agrupamentos de atributos ou variáveis (qualitativos, ordenados, quantitativos). 4. Nível de apreensão • mapa exaustivo: todos os atributos ou variáveis sobre o mesmo mapa ­ leitura, análise e inter­ pretação em nível elementar (só responde à questão “O que há em tal lugar?”); • coleção de mapas: um mapa por atributo ou variável ­ visão de conjunto (responde a todas as questões, inclusive a “Onde está tal atributo ou variável?”; “Quais agrupamentos se forma­ ram?”) (MARTINELLI, 2016, p. 42­43) Ainda nesse sentido, o mapa temático também deve apresentar um título ­ que de­ clara o tema trabalhado ­ e uma legenda ­ estruturada a partir do raciocínio, da reflexão e da organização mental feita pelo autor do Mapa Temático (MARTINELLI, 2016). Outros elementos importantes e que são apresentados no mapa temático são: orienta­ ção, coordenadas geográficas, escala, projeção e a fonte de dados (MARTINELLI, 2016). A orientação indica que a leitura do mapa deve ser feita considerando que o Norte está na direção e sentido apontados pela respectiva flecha. A aposição das coordenadas geográficas, mesmo comparecendo de forma mais discreta, confirma o posicionamento da área representada no contexto do globo terrestre. (...) Como elemento pouco mencionado, a projeção possibilita saber quais qualidades da base cartográfica foram preservadas, colaborando para uma leitura mais acurada do assunto representado, quando este leva em conta di­ reções, distâncias ou superfícies. Por último, deve­se citar a fonte dos dados utilizados na elaboração do mapa com a respectiva data. (MARTINELLI, 2016, p. 44­45) A Escala se encontra discutida com maior detalhamento na subseção a seguir. A le­ genda, por sua vez, será melhor discutida na subseção 4.2.1, já no contexto da Cartografia Geomorfológica propriamente dita. 2.3 Escala e Generalização 2.3.1 Escala: Definições Para (MONTELLO, 2001), a Escala envolve vários temas fundamentais para os geó­ grafos e possui vários significados. 31 A princípio, na Geografia, a Escala se refere ao espaço (Escala Espacial), podendo, no entanto, também se referir à Escala Temporal (dimensões das unidades temporais) e à Escala Temática (agrupamento de entidades ou atributos) (MONTELLO, 2001). Ainda segundo o autor, focando na Escala Espacial, podem ser atribuídas três diferen­ tes categorias de Escala (MONTELLO, 2001): 1. Escala Cartográfica: Se refere à dimensão do atributo representado no mapa relativa à dimensão do atributo na realidade (MONTELLO, 2001) 2. Escala de Análise: Se refere à dimensão em que um problema é analisado (i.e. nível municipal ou estadual) (MONTELLO, 2001) 3. Escala de Fenômeno: Se refere à dimensão de estruturas ou processos (físicos ou hu­ manos) existentes, independentemente da forma como são estudados ou representados (MONTELLO, 2001) Segundo Joly (2008), na perspectiva da Cartografia, a Escala é uma relação constante entre distâncias lineares medidas sobre o mapa e distâncias lineares correspondentes medidas no terreno. Dessa forma, o enfoque dos estudos cartográficos se dão conforme diversas ordens de grandeza (JOLY, 2008). Para a escolha da Escala a ser utilizada em um Projeto, Queiroz­Filho (2005) define questões a serem consideradas: 1. Tamanho do objeto de estudo 2. Forma de tratamento da ocorrência (distribuição espacial do fenômeno e como será ana­ lisado) 3. Forma de representação do fenômeno (elementos pontuais, lineares ou zonais) 4. Possível mudança de escala no meio digital Segundo Martinelli (2016): Apresentada, preferencialmente de forma gráfica, a escala proporciona a no­ ção clara de quantas vezes a realidade foi reduzida para caber no papel, ou em outro meio de divulgação, exigindo, para tanto, decisões em termos de escolha do que incluir ou não na representação. Além disso, a escala permite ao leitor avaliar o tema coerentemente com a representação. A adequação da escala tem a ver com a categoria de estudo, a parte da reali­ dade de interesse, evidentemente compatível com a resolução dos fenômenos nela enquadrados, os quais, por sua vez, demandam certo tempo para a sua organização e consequente manifestação espacial característica. Assim, tal ajuste estaria correspondendo à sugestão correta de uma escala para a respec­ tiva representação. (MARTINELLI, 2016, p. 44­43) 32 Em uma definição, podemos compreender que “Escala é a relação entre a medida de um objeto ou lugar representado no papel e sua medida real” (IBGE, 1999, p. 23), assim, “Escala é definida como a relação existente entre as dimensões das linhas de um desenho e as suas homólogas” (IBGE, 1999, p. 24). Assim, é expressa pela fórmula (IBGE, 1999): E = d D (1) Em que: • D = distância real natural (comprimento tomado em terreno) • d = distância prática (comprimento homólogo no desenho) Podemos compreender que escalas menos detalhadas acarretam emmaior síntese e es­ quematização, ao passo que escalas mais detalhadas estão mais associadas uma maior precisão (JOLY, 2008). 2.3.1.1 Formas de Representar a Escala Cartográfica A Escala Cartográfica pode ser expressa, tradicionalmente, em uma dessas três formas (IBGE, 1999; JOLY, 2008): 1. Enunciado Verbal: a relação entre uma distância na representação e uma distância na superfície terrestre é expressa através de um enunciado (i.e. “Um centímetro equivale a um quilômetro”) 2. Fração Representativa: a escala é expressa por uma razão numérica, entre a distância no mapa e a distância na superfície terrestre (i.e. “1:50.000”) 3. Escala Gráfica em Barra: se utiliza de uma linha desenhada no mapa, acompanhada de uma anotação da distância na superfície terrestre equivalente à dimensão do desenho. Aqui, abordaremos em maior detalhe duas dessas formas de expressão: Escala Numé­ rica e Escala Gráfica (JOLY, 2008). 2.3.1.1.1 A Escala Numérica A Escala Numérica é expressa por uma fração em que o numerador é a medida no mapa e o denominador é a medida correspondente no terreno (JOLY, 2008). 33 Para IBGE (1999, p. 25), a Escala Numérica “Indica a relação entre os comprimentos de uma linha na carta e o correspondente no terreno, em forma de fração com a unidade para numerador”. Teríamos, assim, que (IBGE, 1999): E = 1 N (2) Considerando que N = D/d, sendo (IBGE, 1999): • E = Escala • N = denominador da escala • d = distância da carta • D = distância real 2.3.1.1.2 A Escala Gráfica Por sua vez, a Escala Gráfica é representada por um ábaco. Este ábaco é formado por uma linha graduada, a qual é dividida em linhas de mesmo comprimento, representando a unidade escolhida para o terreno (ou um de seus múltiplos) (JOLY, 2008). 2.3.2 Generalização e Precisão 2.3.2.1 Generalização: Definição e processos De acordo com Montello (2001), a Generalização se refere à quantidade de detalhe presente na informação, incluindo, assim, a simplificação e aspectos de seleção e a ênfase em atributos de interesse. Segundo Joly (2008), a Generalização é uma operação, na qual os elementos do mapa são adaptados ao desenho de um mapa em escala menor, acarretando, também, em certa defor­ mação e/ou deslocamento de objetos. A Generalização Cartográfica requer “senso geográfico” e uma interpretação lógica dessa redução (JOLY, 2008) e compreende os seguintes processos: • Seleção de detalhes necessários a serem conservados, em função: – Assunto do mapa; – Valor significativo; ou – Seu papel como referência 34 • Generalização estrutural (esquematização do desenho) ­ apagamento ou atenuamento de características desprezíveis e acentuação de características mais importantes. • Harmonização da posição relativa de elementos conservados, esquematizados ou defor­ mados, com o objetivo de preservar relações espaciais observadas em levantamento de campo (JOLY, 2008) Para D’Alge e Goodchild (1996, p. 1­2), a Generalização Cartográfica: (...) envolve muita intuição e pouca formalização. Devido à redução de es­ cala, o cartógrafo seleciona, classifica e padroniza; executa simplificações e combinações intelectuais e gráficas; enfatiza, aumenta e reduz ou elimina fei­ ções representadas num mapa, quase sempre de modo predominantemente intuitivo, criativo. Generalização cartográfica compreende um processo de seleção de objetos que leva em conta uma certa hierarquia de importância, seguido de um outro processo no qual ocorrem simplificações de forma e estrutura. 3 AGEOMORFOLOGIA:ESCOLASDEANÁLISEECONTEXTOHISTÓRICODA GEOMORFOLOGIA BRASILEIRA 3.1 Breve Introdução à Geomorfologia A Geomorfologia tem como seu objeto de estudo as formas do relevo, objetivando o conhecimento dos tipos de relevo e dos processos a eles associados e, mais recentemente, bus­ cado o conhecimento de questões como a articulação dos processos, as dinâmicas evolutivas do relevo e seus significados ambientais e o controle dos processos geomorfológicos (MAR­ QUES, 2009). Compreendendo essa área do conhecimento e seu objeto de estudo, nesse Capítulo, serão revisadas as Escolas de análise e as Teorias da Geomorfologia, a História da Geomorfo­ logia no Brasil e serão apontadas algumas possíveis tendências na Geomorfologia brasileira no início do século XXI, enfatizando, quando possível, as contribuições de pesquisadores de universidades públicas paulistas nos debates colocados. 3.2 As Escolas de análise Geomorfológica 3.2.1 A Escola Anglo­Americana: do Paradigma do Ciclo Davisiano ao Equilíbrio Dinâmico Na Geomorfologia, é possível reconhecer dois principais centros de origem de sis­ temas conceituais que marcaram a geomorfologia no século XX, que levaram à formação de duas diferentes linhas epistemológicas, sendo elas: a) Linha Anglo­Americana; e b) Linha Ger­ mânica (ABREU, 2003). À Escola Anglo­Americana se incorporam a maior parte da produção de obras em inglês e francês até a Segunda Guerra Mundial (1939­1945), apoiada, sobretudo, no paradigma do Ciclo Geográfico proposto porWilliamMorris Davis, segundo o qual “o relevo surgia como uma função da estrutura geológica, dos processos operantes e do tempo, dando este último a tônica em um modelo que valorizava particularmente o aspecto histórico” (ABREU, 2003, p. 54) Esse sistema é fundamentado no conceito de nível de base, sugerindo que o processo de denudação, iniciado a partir de um abrupto soerguimento da litosfera, produz um gradiente elevado, levando a um forte entalhamento dos talvegues, originando canyons, caracterizando o primeiro estado de evolução do relevo, chamado de juventude (CASSETI, 2005). Esse processo de denudação, característico do estágio seguinte, chamado de maturi­ dade, levaria ao rebaixamento do relevo, tendendo, no final do estágio, a atingir a horizontali­ zação topográfica, em um estágio final chamado de senilidade, em que o relevo seria caracteri­ zado por “peneplanos”, que, esporadicamente, poderiam apresentar formas residuais, em razão 36 da resistência litológica, chamadas monadnocks, e possuiriam uma hidrografia caracterizada por cursos meandrantes e calhas aluviais inumadas (CASSETI, 2005). Figura 11 – Representação do Ciclo Davisiano Fonte: Rice (1982) citado por Casseti (2005) Segundo Christofoletti (1988), a influência de Davis se espalhou por grande parte dos países europeus, em especial na França, tendo Emmanuel de Martonne e Henri Bauling como seus maiores divulgadores. Ainda segundo Christofoletti (1988), como consequência da teoria davisiana, houve o desenvolvimento da Geomorfologia estrutural, na qual as pesquisas “(...) procuravam rela­ cionar as formas topográficas com a estrutura geológica e discernir a evolução do modelado” (CHRISTOFOLETTI, 1988, p. 17). A quantidade de trabalhos elaborados sob a perspectiva estrutural é enorme, e as recentes contribuições de Pierre Birot, Morphologie Structurale (1958), e de Jean Tricart, Géomorphologie Structurale (1968), fornecem panorama geral sobre esse vasto campo dos estudos geomorfológicos. Entre as obras de caráter regional, avulta a deWilliam Thornbury, Regional Geomorphology of the United States (1965), um estudo detalhado da morfoestrutura dos Estados Unidos. (CHRISTOFOLETTI, 1988, p. 17­18) 37 O modelo de Davis receberia, no entanto, pouca aceitação em países como a Ale­ manha, Polônia e URSS (CHRISTOFOLETTI, 1988), e contestações da escola alemã, tendo como um de seus principais críticos Walther Penck, que enfatiza o estudo das vertentes e os processos que a elas se associam (ABREU, 2003). A incorporação do modelo penckiano à linha epistemológica anglo­americana viria a ganhar força nos anos seguintes, sobretudo pela obra de Lester King e sua teoria da pediplanação (ABREU, 2003; CASSETI, 2005). No entanto, a escola anglo­americana ainda se encontrava em uma fase de crítica e de busca por um novo paradigma (ABREU, 2003). Nesse contexto histórico, está uma fase de divulgação e aplicação da “(...) teoria das redes, da teoria dos gráficos, da teoria dos conjuntos, da teoria da informação, através da cibernética (...) e com o uso generalizado da quantificação, através de computadores.” (ABREU, 2003, p. 55). Segue­se, assim, para a elaboração do modelo de John T. Hack, focado no conceito de “equilíbrio dinâmico” e fundamentado na teoria geral dos sistemas (CASSETI, 2005). Essa teoria entende o relevo como um sistema aberto, em constante troca de matéria e energia com os demais sistemas terrestres, considerando, assim, o modelado como produto da relação entre a resistência dos materiais da crosta terrestre e o potencial das forças denudacionais (CASSETI, 2005). Figura 12 – Representação do Equilíbrio Dinâmico de Hack Fonte: Casseti (2005) 38 Algumas outras importantes características da corrente Anglo­Americana, além das já mencionadas e dos modelos citados, enfatizadas por Abreu (2003), são: 1. é caracterizada por nomes de maior destaque, como Davis 2. trabalha com conjunto de conceitos próximos ou já ao nível da teoria 3. teorias e métodos de análises quantitativas se dão como importantes instrumentos de pesquisa 3.2.2 A Escola Germânica: As posturas naturalistas e a interdisciplinaridade A corrente Alemã de Geomorfologia tem como referência inicial o trabalho do pes­ quisador Von Richtofen, cujos antecessores eram naturalistas, que tinham Goethe como impor­ tante referência, contrastando com a escola Anglo­Americana, a qual foi precedida e embasada por geólogos (ABREU, 2003). Uma diferença destacada sobre essa corrente em relação à corrente americana é o fato de que as posturas naturalistas direcionaram a geomorfologia à observação e análise dos fenô­ menos com maior interdisciplinaridade com disciplinas como a petrografia, química do solo, hidrologia e climatologia e a importância da cartografia, como um dos principais instrumentos para a pesquisa (ABREU, 2003) Além da obra de Von Richtofen, a obra de Alfred Penck também possui importante papel na orientação da geografia alemã, sendo que a do primeiro autor teve, sobretudo, a função de fornecer um conjunto de informações metodológicas quanto à observação dos fatos, ao passo que a de Penck foi de sistematizar teorias e formas de relevo (ABREU, 2003). Nessa corrente, se fez de grande importância a pesquisa do espaço com natureza cli­ mática diversificada, permitindo a A. Penck estabelecer relações entre as formas de relevo e os cinturões climáticos da Terra, que, junto a anteriores trabalhos de zoneamento de fenômenos da natureza em relação ao clima, como o trabalho de Dokouchaiev sobre os solos da Rússia e a classificação do Clima de Köppen, explicaria o predomínio dessa postura na Europa Centro­ Oriental, em comparação ao paradigma davisiano (ABREU, 2003). Três autores da escola Alemã tiveram destaque no início do século XX, sendo eles: A. Hettner, S. Passarge e S. Günther (ABREU, 2003). O primeiro autor se destaca pela crítica ao método da proposição davisiana, ao passo que a importância de Passarge se dá pela propo­ sição de novos conceitos, que trabalha em uma visão geográfica da paisagem, e de um novo método de trabalho, baseado na cartografia geomorfológica (ABREU, 2003). Apesar da pouca repercussão, a importância de Günther está no desenvolvimento de uma abordagem processual moderna e uma crítica pertinente ao paradigma de Davis (ABREU, 2003). Posteriormente, um dos principais críticos de Davis na escola alemã, Walther Penck, apresentaria seu modelo de evolução do relevo, baseado na noção de que emersão e denuda­ 39 ção eram processos concomitantes (CASSETI, 2005). O autor buscou demonstrar a relação entre entalhamento do talvegue e efeitos denudacionais com o comportamento da crosta ­ este comportamento poderia ter manifestações intermitentes e com intensidade variável (CASSETI, 2005). Esse modelo compreendia que fortes soerguimentos de crosta levariam à aceleração dos efeitos denudacionais, causada pelo aumento da incisão da vertente (CASSETI, 2005). A forma da vertente seria resultado da relação entre o efeito denudacional e a intensidade do entalhamento do talvegue, podendo levar a três cenários distintos (CASSETI, 2005): 1. alta intensidade do entalhamento do talvegue em relação ao efeito denudacional, origi­ nando vertentes convexas 2. intensidade do entalhamento do talvegue e efeito denudacional proporcionais, levaria a uma compensação equilibrada, originando vertentes retilíneas 3. baixa intensidade do entalhamento do talvegue e superior denudação, originando verten­ tes côncavas 40 Figura 13 – Representação do modelo de evolução do relevo, proposto por Walther Penck Fonte: Casseti (2005) Na ex­U.R.S.S., a proposta de W. Penck foi retomada por Guerassimov e usada como base conceitual para a análisemorfoestrutural e na cartografia geomorfológica (ABREU, 2003). Penck também influenciaria autores como Büdel, Whilelmy, Mortensen e Machatscheck na elaboração de uma abordagem climática e climatogenética na geomorfologia, que incorporou as noções de depósitos correlativos para análise das formas (ABREU, 2003). Em relação à abordagem climática, Christofoletti (1988) considera a existência da “Geomorfologia climática: O termo de “Geomorfologia Climática” provavelmente foi empregado pela primeira vez em 1913 por E. de Martonne. Esse autor, trabalhando no Bra­ sil, publicou em 1940, (transcrito em 1943 para a língua portuguesa), uma contrbuição clássica sobre as paisagens e os processos atuantes nos trópicos úmidos. (...) Entretanto, a contribuição mais substancial para a sistematização da Geo­ morfologia climática é devida a Jean Tricart e André Cailleux que, no decor­ 41 rer da década de cinquenta, redigiram vários fascículos preliminares, os quais amplicados e atualizados vêm constituindo os volumes do Traité de Géo­ morphologie que, planejado para doze volumes, representa a maior e mais importante obra de caráter geomorfológico. (CHRISTOFOLETTI, 1988, p. 18) Já as pesquisas baseadas no conceito de paisagem, na corrente Alemã, evoluíram e se consolidaram em estudos de geoecologia e ordenação ambiental do espaço, com importante papel de pesquisadores como Troll, Barthel, Hasse, Klink, entre outros, que também estão apoiadas na teoria sistêmica de Bertalanffy (ABREU, 2003). Sobre a Escola Alemã, ainda é de grande importância ressaltar a importância da Carto­ grafia Geomorfológica, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial (1939­1945), que emergia como método primordial para a análise do relevo, destacando os esforços na Polônia, Tchecos­ lováquia e ex­U.R.S.S. (ABREU, 2003). As elaborações de Abreu (2003) quanto à evolução da Teoria Geomorfológica foram sintetizadas pelo autor conforme representadas a seguir: 42 Figura 14 – Filogênese da Teoria Geomorfológica, proposta por Abreu (2003) Fonte: Abreu (2003) 3.3 A Geomorfologia no Brasil 3.3.1 Breve História da Geomorfologia no Brasil As escolas de pensamento geomorfológicomencionadas anteriormente