ECOLOGIA Tárcio Gustavo da Silva Infernando as ecologias a partir das artes-educações marginalizadas Tárcio Gustavo da Silva Infernando as ecologias a partir das artes-educações marginalizadas. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do grau de Ecólogo. Orientador: César Donizetti Pereira Leite Rio Claro - SP 2021 S586i Silva, Tárcio Gustavo da Infernando as ecologias a partir das artes-educações marginalizadas. / Tárcio Gustavo da Silva. -- Rio Claro, 2021 49 p. : fotos Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Ecologia) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro Orientador: César Donizetti Pereira Leite 1. Educação Libertaria. 2. Ecologia Social. 3. Artes Marginalizadas. 4. Formação de Subjetividade. 5. Subversão. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. Tárcio Gustavo da Silva Infernando as ecologias a partir das artes-educações marginalizadas Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do grau de Ecólogo BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. César Donizetti Pereira Leite (orientador) Profa. Dra. Raquel Fontes Borghi Prof. Dr. Silvio Donizetti de Oliveira Gallo Aprovado em: 13 de Janeiro de 2022 Assinatura do discente Assinatura do(a) orientador(a) “(...) Aos que ousam derrubar a moral e a tradição A todo aquele que abraça a deliqüência A todo aquele que vive a inconseqüência (...)” (FLICTS, 2018) Agradecimentos Agradeço a cada rabisco nos muros, a cada cor na cidade, a cada som que me impulsiona, a cada artivismo que compõe o ambiente urbano, a cada expressão sincera que me atravessa, que me inspira ou que me inquieta. Aos que me cercam e até aos que desconheço, mas suas expressões se fazem mais do que presente na constituição do meu ser. “Dedicado aos invisíveis que abriram meus olhos para o que agora é visível" (ALVAREZ, 2015, 00:04) Muitos nomes para citar, e muitos que nem sei o nome, mas, em especial agradeço aos artivistas que cito repetidas vezes pela constante presença na minha vida e por me impulsionarem tanto nas expressões: Possu, companheira que agradeço por compartilhar tanto comigo, me motivar a escrever esse trabalho, e sempre abrindo meus olhos e me inspirando; Nata’s, amigo de longa data, que fortemente me apresentou os caminhos das expressões e o sentido do vandalismo na arte. E ao meu orientador, César, por acreditar e me dar espaço dentro da universidade para tratar das minhas vivências. Resumo Esta pesquisa estrutura-se em memórias de uma inserção pessoal nos movimentos contraculturais do autor, vivência que justifica o interesse, desejo e importância de pesquisar o tema proposto, de transcrever e explorar essa possibilidade de campo educacional. Memórias e pesquisa representando-as em artes-retalhos que visam explorar as potencialidades das artes marginalizadas como "ferramenta" educacional que podem possibilitar ou até mesmo reverter os quadr(ad)os ecológicos das relações ambientais, sociais e subjetivas. Costurando com linhas de assimilações teóricas no revestimento de revisões bibliográficas. Investigando as (trans)formações de singularidades através da livre expressão artística e a recepção dessas expressividades e, ainda compreendendo-as como potência revolucionária do molecular que expande-se da micropolítica á macropolítica. Palavras-chave: Memórias. Contracultura. Arte-Educação. Três ecologias. Marginalidade. Abstract This research is structured on memories of a personal insertion in the author's countercultural movements, an experience that justifies the interest, desire and importance of researching the proposed theme, of transcribing and exploring this possibility of an educational field. Memories and research representing them in patchwork arts that aim to explore the potential of marginalized arts as an educational "tool" that can enable or even reverse the ecological frameworks of environmental, social and subjective relationships. Sewing with lines of theoretical assimilations in the coating of bibliographic reviews. Investigating the (trans)formations of singularities through free artistic expression and the reception of these expressivities, and also understanding them as a revolutionary power of the molecular that expands from micropolitics to macropolitics. Keywords: Memories. Counterculture. Art Education. Three ecologies. Marginality. Sumário Preliminares 6 Justificativas e propósitos da memória 10 Possíveis caminhos metodológicos 15 (Des)envolvimento? 16 A - Eco-orgia: das múltiplas interações simultâneas 16 B - Crucificados pelo sistema 18 C - Educar e (de)formar 22 D - Micropolíticas enraizadas e sistematizadas 24 E - Infernar, re-existir e inverter: do maior ao menor 27 F - Sonhar e devanear: a liberdade e o tesão! 29 G- A essência da desobediência 30 H - Devaneando e resistindo: as essências e as formas das artes marginalizadas 31 I - Impulsionados pelos fones de ouvido 43 J - Legislação x direitos humanos: expressões violentamente silenciadas 44 (In)conclusões 45 Parâmetros teóricos e sonoros 46 6 1. Preliminares Pedindo a todos que abram a cabeça e o coração para conhecer o que está além das fronteiras do aceitável, para pensar e repensar, para criar novas visões, celebro um ensino que permita as transgressões – um movimento contra as fronteiras e para além delas. É esse movimento que transforma a educação na prática da liberdade (HOOKS, 2013 p. 24) Quando pensamos em ecologia, o que te remete? Acredito que na maioria dos casos, remete a interações entre a fauna, a flora e o ambiente natural abiótico. Realmente, isso é ecologia, mas só isso? Mesmo sabendo que o ser humano faz parte da natureza, por que insistimos em enxergar inconscientemente como exógeno? As relações sociais também não são uma ecologia? As interações do ambiente antrópico com a cultura humana, com a formação subjetiva, com o mundo interior, também não podem ser ecologia? Dentro das ciências ambientais isso é uma discussão antiga e ainda assim, permanece muito mal resolvida. Para esse trabalho, levei em consideração a ideia de Guattari (1990) nas definições das “três ecologias”, sendo elas: a ecologia ambiental, a ecologia social e a ecologia das subjetividades. As três ecologias se atravessam e se transpassam, podemos olhar como uma espécie de monismo (FREIRE, 1981), assim pretendo explorar o quanto o ambiente e o social influenciam na formação de subjetividades. Com tantas fortes influências, existe espaço para singularidade? Quais as (im)possibilidades de pensar e de ser sem o atravessamento de pressupostos? (DELEUZE, 2006) Guattari & Rolnik (1996) consideram os processos de singularização como uma fuga dos processos estabelecidos, de formas de manipulações veladas, atribuindo novas formas para os próprios sentires, como a sensibilidade, as formas de relações, as formas de criatividade. Se tratando de formação de subjetividades, fica impossível não se entrelaçar com a educação. Mas, quantas formas se fazem as educações: as educações institucionalizadas, a sabedoria da ancestralidade familiar, a troca de ideias com o amigo, o pensar fluído, a interpretação de uma expressão artística, entre milhares de outras formas; mas a questão é, e quando a educação impõe verdades ao invés de estimular os pensares? 7 Foto 1: Educações e ancestralidade (Retirada do zine: recorte e pense grande - um retrato preciso da marginalidade. Arte a partir de colagem manual, do autor, 2020) Na realidade escolar o adestramento desenvolve um pensamento homogêneo entre os alunos, não possibilitando um olhar divergente para o mundo e para as questões com as quais este se confronta no seu cotidiano, e nas aulas esta prática é reforçada nas atividades que buscam uma única resposta para as questões apresentadas pelo professor. É quando o ato de decorar passa a significar aprender. (SALOMÉ, 2011, p. 16) As funções das instituições, é fazer girar as engrenagens da grande máquina capitalística, assim moldam pensamentos a favor do próprio funcionamento, formando funcionários. Então, por que seria interessante para as instituições e o sistema capitalista que as pessoas saibam pensar para além das imposições? Na verdade, é uma grande ameaça! 8 Foto 2: Capa do zine Cultura Marginal vol.1 - Arte a partir de colagem manual - Artista: NATA’s A imposição de verdades tem tido destaque no campo da educação ambiental, deslegitimando outras possíveis perspectivas e com aspectos autoritários, assim existe uma emergência em inverter todas as possíveis formas de educação, passando de imposição de conceitos para fluidez das possíveis perspectivas valorizando a filosofia das diferenças. (BARCHI, 2017) O processo de inversão, pode levar como caráter simbólico perspectivas infernais (CORAZZA, 2002; LARROSA, 2006, BARCHI, 2016), por estar atrelado a valores inversos dos padrões autoritários, valorizando o livre-pensar e a multiplicidade, podendo possibilitar fugir dos padrões homogeneizados, torna-se uma ameaça aos olhos da massificação pela igreja-estado, denominando como perverso e demoníaco, no intuito de amedrontar as proximidades. Algumas formas de expressão artísticas de (contra)cultura, um significativo desempenho na formação de singularidades, dando espaço para operar uma condição mínima de criação de identidades e existencialidade (GUATTARI,1990). Porém, devemos nos atentar às condições das expressões artísticas, pois nem tudo que é tido como arte manifesta essas singularidades que tratamos aqui. 9 Infelizmente o sistema age na estratégia de transformar expressões comerciais, obras passam da fluidez da alma para a mecanização da produção humana para atender fatias de mercado (FREIRE, 1981). Quando deparam com expressões que não conseguem impor esses sistemas, passam estrategicamente a marginalizar as formas de expressão. Em meio ao desejo insano de dominação para composição de suas máquinas, é de uma importância emergencial resgatar os sentidos da alma, contradizendo assim as violências naturalizadas de imposições. Em diálogo com Thoreau (1987), tem mostrado muito sobre a desobediência e subversão como ato de resistência, consistindo assim em discordar e não aceitar ser vítima dessas infinidades de violências naturalizadas e legitimadas pelo estado. Assim penso nos valores atrelados à justiça, percebendo a legislação como fator injusto à minha própria essência, se manifesta em forma de violência legitimada, eis o direito de defender os meus valores quanto a justiça e contrapor, resistir e desobedecer tudo que me agride por infinitas formas. “Não é desejável que se cultive o respeito pela lei, tanto quanto o respeito pela justiça. A única obrigação que tenho o direito de assumir é a de, em todas as alturas, fazer o que julgo justo.” (THOREAU, 1987 p.22) As formas de expressões livres, a serviço das contestações e questionamentos quanto à política e ao cotidiano, como instrumento de comunicação cultural, operam como revoluções moleculares, tendo a potencialidade de agir na mutação das subjetividades, sejam elas conscientes ou inconscientes, singulares ou de grupos sociais. Esses processos podem agir pelas relações sociais, assim como na própria relação do indivíduo – arte/expressão pela pulsão e impulso dado a sensibilidade e a criação. (GUATTARI, 1990) 10 2. Justificativas e propósitos da memória Justifico a escrita desse trabalho baseado nas diversas cores e formas de meus retalhos, possibilitando entrelaçamento da temática com minhas memórias, vivências e experiências e podendo explicar assim a fluidez de costuras. Sob a fluidez de escritas com as vivências e expressões, “para que elas possam, se não compreender plenamente as aparentes estranhezas de minha conduta, ter ao menos uma ideia da necessidade que me impõe tais estranhezas” (SCHREBER, 1984 p.25) Aqui vou costurando uma colcha de retalhos, guiado por diferentes espaços, tempos e pessoas, fundindo memórias, experiências e leituras, explicitando as influências de atravessamentos na (de)formação subjetiva de singularidade. Foto 3: Fragmentos e recortes. Armário de cozinha para alimentar o ser. Com quantos seres se faz uma pessoa? Cada pedaço, cada cor, cada fragmento, são partes distintas de atravessamentos, ao sobrepor a construção singular. (Arte, foto e legenda: Do autor, 2020) Sinto a impossibilidade de delimitar a escrita, da vivência, da memória, e da infinidade de atravessamentos, que formam e deformam, constroem e destroem, em uma sincronicidade inseparável. Seria como impedir o coração de bater para o intestino funcionar, ou seja, paralisar os sentires e a fluidez do sangue por todo corpo para o capricho de defecar. A partir dessa multiplicidade de fatores ocupando o mesmo tempo e espaço, de formas tão distintas, “é assim que somos todos ‘bricouleurs’, cada um com suas pequenas máquinas." (DELEUZE & GUATTARI, 2010 p.11). 11 Quantas tentativas frustrantes de divisões me submeti, a fim de respeitar padrões técnicos de categorizações e catalogações de sentidos. Assim operam as funcionalidades da fantástica fábrica de subjetividades, dadas pela gigantesca máquina capitalista. Automatizando sentidos, na tentativa de forjar humanos em peças de aço, totalmente embrutecidos para operarem na composição dessas máquinas, onde está a condição humana? Ainda posso sentir? Ainda posso pensar? Ainda posso sonhar? Diante de tantas imposições e atravessamentos mecanizados, o que realmente sinto? O que realmente penso? Penso? Ou reproduzo atravessamentos? Deleuze (2006), em ‘diferença e repetição’ propõe uma atividade filosófica de pensamento eliminando pressupostos, que podem possibilitar assim o livre pensar, mas, será possível o livre pensar? Partindo das minhas primeiras (de)formações, quando me esforço para recordar da minha infância, automaticamente está totalmente atrelada a escola, e enganchada fortemente em uma série de frustrações. O meu processo de formação escolar se fez através de um preparo para o mercado de trabalho, assim me formei um operário ‘funcional’. Diante de tentativas de podar meu pensamento crítico, de calar minha voz, de embrutecer (CHALUH, 2011) minha sensibilidade e de invisibilizar minha identidade. Assim agiu a educação institucionalizada pública a favor das instituições privadas mascaradas de públicas, que (de)formaram minha mente, e dela (trans)formando em outra privada, defecando sobre. Sendo me apresentado até então como única possibilidade, o trabalhar. Então trabalhei como operário por 11 anos no setor madeireiro, aprendi muito com as trocas de uma rica multiplicidade cultural, porém surgiam mais inquietações, cada vez mais! Via de perto a exploração da mão de obra humana, a exploração e enganação aos clientes, a exploração de recursos naturais. Para quem você trabalha? Para quem você entrega Seu suor, sua alma? Temos que mudar, mudar! Deixe sua cabeça funcionar! (Cólera, 1986) A válvula de escape era às vezes distorcer o que se explodia em minha mente, mas a revolta é impossível de pausar, e assim percebi que nos momentos 12 “livres” da rotina de trabalho, estava totalmente inserido nos movimentos contra-culturais, em especial primeiramente ao movimento punk, e posteriormente ao movimento de malucos de br (uma reconfiguração do movimento hippie no Brasil). Julgados como inconscientes e inconsequentes, eu os via nitidamente como os mais conscientes de toda realidade do sistema, julgados por representarem perigo a um sistema extremamente injusto e explorador, seres das trevas. Dentro de todo meu trajeto, percebi que sempre que presenciava intervenções artísticas marginalizadas, me causa(va) arrepios! Desde um lambe-lambe num poste ignorado por multidões, eu parava para ler e refletir. Cada pixo e cada picho que olhava, eu parava e refletia muito, tanto sobre a frase/ideia e qual intencionalidade do artista, quanto a cada tag e a identidade, existencialidade, territorialidade, a força, o impacto e a potencialidade de cada palavra escolhida para representar a existência. Lembro dos primeiros stencils que vi no calçadão de Araras/SP, foi como descobrir um novo mundo! Um homem com uma TV enfiada na cabeça, com o símbolo da globo escrito “lixo”, não demorou uma semana para eu também começar a produzir stencils e espalhar por toda cidade, logo percebi que para me expressar era necessário correr da polícia! Borrachas para bater e apagar ideologias. Foto 4: Artivismo contra a repressão policial (Retirada do zine: recorte e pense grande - um retrato preciso da marginalidade. Arte a partir de colagem manual, do autor, 2020) 13 Mais um mundo apareceu quando tive contato pela primeira vez com um zine e outros sentidos implodiram quando meus dedos folhearam e sentiram as páginas fundidas com meus sentimentos! Quanta informação preciosa estava contida ali, na real o conhecimento não tem preço! Naquelas páginas continham desde expressões poéticas, desenhos, colagens, trechos de livros, narrativas… Cabia absurdas expressões que carregavam uma mente e um coração naquela meia dúzia de papéis! Naquele momento todas as minhas inquietações eram contempladas por meia dúzia de papéis. Um tempo depois, tive uma proximidade com o movimento de ‘Malucos de BR’, que consiste, talvez, em uma reconfiguração do movimento hippie no Brasil, se trata de artesãos nômades. Ali aprendi, pelo compartilhamento de experiências, muitas técnicas milenares de artesanato, dando outras formas e outros espaços para expressões singulares e criação de identidades. Isso tudo acompanhava um processo de desfiliação com o bom e velho lema punk: “faça você mesmo!”. Viajei somente 3 estados com o artesanato, nesse movimento nômade de viver daquela arte e conhecimento, mesmo sendo pouco tempo pude aprender e vivenciar mais que anos na universidade, conhecimentos práticos. Essas aproximações me fizeram repensar mais a fundo todas minhas inquietações, desde como eu me relaciono com a sociedade? E o que eu trago pra sociedade? Como impacto a sociedade? Por que impactar a sociedade? Como me relaciono com o meio ambiente? A partir de então, pensei em outras perspectivas para minha vida, ingressei em uma instituição de ensino para tentar reverter toda a problemática vivenciada por mim nos anos de trabalho operário em madeireiras, acreditava estar contribuindo com a destruição do meio ambiente natural. Em 2016 ingressei no curso técnico em meio ambiente oferecido pela ETEC de Araras/SP, frequentando as aulas no período noturno e trabalhando em uma madeireira de manhã e tarde, após a conclusão do curso, ainda instigado em outras possibilidades de conhecimentos e “reverter” a destruição ambiental, ingressei na graduação em Ecologia o pela UNESP campus Rio Claro/SP. Assim posso afirmar que as influências das contraculturas e os seres das trevas, as artes marginalizadas, e as educações inversas não-institucionais me causaram tantas inquietações até eu me inserir em uma universidade pública. Sendo de grande intensidade dos atravessamentos das influências das artes marginalizadas na minha formação subjetiva. Das possibilidades de criação sem 14 limites, fronteiras e podas, das formas autênticas de expressão, então reconheci particularmente a importância e as potencialidades das expressões marginalizadas, senti extrema necessidade de transcrever essa experiência, para possibilitar um (auto)reconhecimento e entendimento desses instrumentos arte-educadores. O objetivo deste trabalho é, a partir das próprias vivências, possibilitar o (re)conhecimento das artes marginalizadas como ferramentas educadoras de livre-expressão e formação singular de subjetividade, atravessando as ecologias. 15 3. Possíveis caminhos metodológicos O presidente Schreber tem os raios do céu no cu. Ânus solar. E estejam certos de que isso funciona. O presidente Schreber sente algo, produz algo, e é capaz de fazer a teoria disso. Algo se produz: efeitos de máquina e não metáforas. (DELEUZE & GUATTARI, 2010, p. 11) Partindo de reflexões de vivências e experiências pessoais, costurar as memórias com referencial teórico, inspirado por narrativas que valorizam os modelos de memoriais (EVARISTO, 1995; BENJAMIN, 1987). E assim, costurar com referenciais de leituras fluidas e sem intenções, na qual extraio ideias a partir da concepção de sentimento de conexão das ideias vividas. O experimento científico presente, é colocado a ‘condições externas’ (FEYERABEND, 1977), onde não cabe dentro de nenhum tubo de ensaio ou erlenmeyer hermeticamente fechado, aqui é onde tudo se atravessa sob condições adversas das esperadas. Assim levo em consideração alguns princípios de pesquisa dadas por Feyerabend (1977), tais como: Violar regras metodológicas, a não delimitação das fragmentações do autor como fragmentos cabíveis na ciência, a impossibilidade de julgamento entre correto e errado, da proibição de um olhar que separa sociedade x ciência, aqui toda opinião tem o mesmo valor, não é comparável. Assim, esse trabalho se baseia em experimentações vividas, onde dentro do tempo da vivência não houve qualquer intencionalidade de relatar. “Os dados que possuo e interpreto são, na maior parte, vivências de pessoas com as quais pude partilhar momentos de suas vidas” (REIGOTA, 1999, p.72 apud BARCHI, 2016 p.30) Ao discorrer sobre artes marginalizadas, penso que apresentando como exemplo minhas próprias obras, e as obras daqueles que me cercam/cercaram, exemplos de expressões para o tema que posso ter uma maior propriedade para discorrer, já que são partes da minha vida. Assim, possibilitando transpassar minhas vivências a partir das artes marginalizadas na formação singular de subjetividade, entretanto não generalizando as artes marginalizadas a homogeneidade das minhas experiências. 16 4. (Des)envolvimento? Eles dizem que é o progresso Mas será que isso deu certo? Se em toda esquina vejo uma criança Caída com fome, sem esperança Deitada na sujeira e na lama (Desordeiros, 1985) A - Eco-orgia: das múltiplas interações simultâneas Cada partícula Célula Átomo Qualquer! Uma orgia Intensa e eterna se faz vida! (Do autor, 2020) Quando pensamos no termo “ecologia”, o que remete? o que pode ser ecologia? o que pode não ser ecologia? o que cabe na ecologia? Em definições, podemos analisar a proposição de Odum (2004 p.4) “a ciência que estuda a estrutura e funcionamento da Natureza, considerando que a humanidade é uma parte dela”, onde Barsano et al (2013) complementa com a ideia de que é o estudo do lugar onde se vive, dos seres que habitam, o comportamento, as relações e as interações. Com o distanciamento da conexão humano-natureza, e sua sede pela dominação, instaurou-se o pensamento que o ser humano não faz parte da natureza. (GONÇALVES, 1990). O modo de produção capitalista altera profundamente a relação do ser humano com a natureza; assim como o modelo de exploração não consiste apenas em explorar e saquear o trabalhador, mas também os recursos naturais (FREITAS et AL. 2012). Se pensarmos que o meio ambiente antropizado também é o meio em que vivemos, e que nós, humanos, somos seres que compõem a natureza, então nossas interações e relações são todas ecologias, afinal de contas, não apenas as relações harmônicas compõem a ecologia. Para Guattari (1990), existem três ‘seções’ das ecologias, no qual se transpassam entre si; sendo elas: a do meio ambiente, que diz sobre as interações dos seres vivos com o ambiente; a ecologia social, que relaciona as interações humanas; e a ecologia das subjetividades, da interação corpo, psique e consciência. 17 Os instrumentos de alienações institucionais banalizaram a ecologia, de tal forma que foi reduzida pela mídia, em certa infantilização como: “feche a torneira para escovar os dentes”, “jogue lixo no lixo” e “economize energia”; e na sala de aula, como um aglomerado de conhecimento científico sobre ciclos e sistemas biológicos. Essa forma de conhecimento é vital para compreensão das formas de vida, porém insuficiente para definir ecologia. (MINC, 1998) Estrategicamente, a humanidade fazendo (des)uso da natureza como matéria prima para seus meios de (in)produções, e distanciando das conexões naturais; acaba-se firmando uma idéia de que a natureza é um bem comercial; modelos vendidos como pacotes turísticos, condomínios ‘em meio a natureza’, CD`s com sons ‘naturais’, remédios ‘naturais’, entre outros. (DUARTE, 2007) Pensando nas três ecologias de Guattari, podemos constatar que os modelos sociais capitalistas afetam diretamente todos esses ciclos ecológicos, impossibilitando a fluidez natural das singularidades. A ecosofia mental, por sua vez, será levada a reinventar a relação do sujeito com o corpo, com o fantasma, com o tempo que passa, com os "mistérios" da vida e da morte. Ela será levada a procurar antídotos para a uniformização midiática e telemática, o conformismo das modas, as manipulações da opinião pela publicidade, pelas sondagens etc. Sua maneira de operar aproximar-se-á mais daquela do artista do que a dos profissionais "psi", sempre assombrados por um ideal caduco de cientificidade. (Guattari, 1990 p.15) A problematização ecológica de todos esses fatores apresentados, de forma alguma tentam se moldar uma conforme as outras, mas opera de modo transversal para todas as linhas fraturadas de interações ecológicas moleculares. Assim os atravessamentos das problemáticas atingem as interações em todos os níveis por igual. (GUATTARI, 1990) Essa grande fábrica, essa grande máquina capitalística produz inclusive aquilo que acontece conosco quando sonhamos, quando devaneamos, quando fantasiamos, quando nos apaixonamos e assim por diante. Em todo caso, ela pretende garantir uma função hegemônica em todos esses campos. (GUATTARI & ROLNIK, 1996. p.16) 18 B - Crucificados pelo sistema Nascer para liberdade E crescer para morrer Crucificados pelo sistema Morrer sem esquecer O povo que ficou Crucificados pelo sistema (Ratos de porão, 1984) As imposições e implicações do sistema nos (de)formam, moldam e nos atravessam numa violência, às vezes imperceptível e naturalizada. Aqui dialogamos superficialmente sobre violências naturalizadas na formação subjetiva, digo superficial por não caber nesse trabalho toda a importância, amplitude e atenção que o tema merece. Foto 5: Critica a colonização e os reflexos de homogeneização das subjetividades (Arte de colagens manuais - Zine Cultura Marginal 2 - NATA’s, 2015) Vamos começar pensando com a ecologia ambiental, podemos pegar como exemplo, o modelo da agricultura, que (des)favorece a (des)estruturação total de 19 ecossistemas, dizimando alternativas econômicas e de alimentos, consequentemente promovendo a miséria, refletindo diretamente na sujeição de dominação pelo trabalho (MINC, 1998). Onde está diretamente ligada a problemática da fome, pois a questão não se trata da quantidade de alimento produzido, mas sim da sua distribuição, já que a fome é um instrumento de manutenção da pobreza, sendo a chave para o (in)desenvolvimento do modelo econômico (BELIK et AL, 2001). Um pequeno fator citado no parágrafo anterior, pode abrir portas para uma amplitude de problemáticas, tendo um destaque a diferença social, Guattari (1990) destaca um declínio das interações sociais contraposto a um intenso crescimento demográfico, tendo numa perspectiva política, de questões relacionadas à diferença de classes, o racismo, o eurocentrismo e a ordem patriarcal, ferramentas de sustento aos pilares do sistema, pela manutenção das desigualdades. Os reflexos dessas estruturas sociais se materializam através das instituições, onde a defesa de interesses próprios e o domínio de uma classe sobre a outra, e as intersecções entre raça e gênero, se dão por meio de políticas e ações discriminatórias, moldadas pela naturalização e normatização (ALMEIDA & RIBEIRO, 2019). Podemos observar no relato de Lélia Gonzalez (1980), a educação institucionalizada como ferramenta de desvinculação da cultura própria a fim de manutenção sistêmica de dominação por meio das intersecções de classe, raça e gênero. Fiz escola primária e passei por aquele processo que eu chamo de lavagem cerebral dado pelo discurso pedagógico brasileiro, porque na medida em que eu aprofundava meus conhecimentos, eu rejeitava cada vez mais a minha condição de negra. E, claro, passei pelo ginásio, científico, esses baratos todos. Na Faculdade eu já era uma pessoa de cuca já perfeitamente embranquecida, dentro do sistema. (GONZALEZ, 1980) Dentre a classificação de coletividades, de forma que homogeneiza as subjetividades das almas, a fim de caberem nos cárceres da ciência, das técnicas e do estado. E ainda, temos uma teoria de subjetividades ancorada em aspectos reducionistas e padronizadores, sustentada pelo modelo colonizador, branco, eurocêntrico, falocêntrico, estruturalista e por uma invisibilidade abissal, que pode-se entender como uma invisibilidade sustentada pelos visíveis através da homogeneização de partes igualmente padronizados. (MARQUES, 2012). 20 Foto 6: Critica aos sistemas de ensino espistemicida que visa manter a homogenização social, por raça, sexo e classe social. (Arte de colagem manual – Zine “Recorte e pense grande: um retrato preciso da marginalidade”, foto e arte: do autor, 2020) Marques (2012) afirma que a partir da organização de comunidades tradicionais, pode ser pensado como forma de contrariar os processos de homogeneização para invisibilidade das identidades e subjetividades. “Não é atoa que 75% da biodiversidade do planeta se encontra em territórios indígenas e de afrodescendentes” (BOAVENTURA, 2008 apud MARQUES, 2012 p.13) 21 Foto 7: Critica a colonização. Zine cultura marginal vol. 2 (Foto e arte: NATA’s) 22 C - Educar e (de)formar Nas escolas, onde a cultura é inútil Nos ensinam apenas A sentar e calar a boca Para sermos massacrados Pelo discurso reacionário De professores marionetes Controlados pelo estado (Garotos Podres, 1988) A historicidade dos processos educacionais mostram-se pautados em palco para lutas de manifestações ideológicas, onde a igreja católica e os setores conservadores usam com instrumento para manutenção de sua hegemonia, afinal "conservadores", conservam seus privilégios, e de outro lado, liberais e progressistas da esquerda revolucionária, propondo um maior acesso à educação e sempre novos ideais inseridos na educação. (BITTAR & BITTAR, 2012) Muitos intelectuais com receio de discordâncias de suas teorias, declararam que o acesso à educação deve ser limitado, pois as massas poderiam modificar os pensamentos por eles estruturados. Não conseguindo impedir o aumento da alfabetização, visto que as mudanças econômicas e o modo de trabalho começavam a exigir certas instruções, usaram da estratégia de ‘sofisticar’ a linguagem dos escritos, para que os alfabetizados não conseguissem ter acesso. Enxergando as massas como instrumento de poder, julgando incapazes de se direcionarem, e servindo de manobras manipuladas para atingir interesses estatais. (MÁXIMO, 2000). Nitidamente se vê o uso dos conservadores para manutenção de suas hegemonias históricas, porém ressalta-se que os próprios intelectuais autointitulados revolucionários, não tem uma afinidade real com as massas, onde visivelmente usam da mesma estratégia de manipulação para alcançar seus interesses e seguidamente descartá-las após alcançar seus objetivos. Na história intelectual, é explícito, que ambos os lados, tratam as massas, principalmente quando se trata de classes desprivilegiadas, como inferiores e repugnantes (MÁXIMO, 2000) Assim como se faz nítido os processos sistêmicos de homogeneização de subjetividades, nota-se uma bipolaridade, dado pela formação de uma padronização, e do outro lado, um antagonismo homogeneizado. A manipulação mental oferecida opera na produção coletiva de subjetividades. (GUATTARI, 1990) 23 As políticas de acesso à cultura, formam uma legislação totalmente não funcional, onde a ‘sofisticação’ das linguagens e formas de expressões inviabilizam intencionalmente o acesso e entendimento a toda humanidade, privilegiando o acesso apenas às elites reforçando a heterogeneidade. E quando acontece por ‘falha’ do sistema de segurança quanto ao acesso dessas informações, a reação, seja ela crítica, é invisibilizada e desprezada quando parte de pessoas que não são autoras/es famosas/os e ‘consagradas/os’; o que pode tornar a cultura como instrumento de poder. (GUATTARI & ROLNIK, 1996) A educação maior se constitui como uma grande máquina de controle que forma subjetivações, transformando crianças em engrenagens da máquina para operar o sistema (GALLO, 2002). 24 D - Micropolíticas enraizadas e sistematizadas Se os bens são propriedades como é que os proprietários não seriam reis e reis despóticos. reis na proporção das suas faculdades de posse? E se cada proprietário é senhor absoluto na esfera da sua propriedade, como é que um governo de proprietários não seria um caos e uma confusão? (PROUDHON, 1975 p.241) Podemos pensar em quantos atravessamentos as violências naturalizadas podem nos moldar inconscientemente? Partindo do princípio que somos formados por atravessamentos dados por vivências, e assim nos constituímos a partir de fragmentos de outros seres. Quando falamos em individualidade, não se resume a discussão de ‘um indivíduo’, pois as coletividades são formadas a partir de indivíduos, onde as identidades coletivas podem sobrepor outras coletividades, de caráter abstrato e simbólico dado por funções, relações e sentidos. Além dessa discussão, o que realmente é a individualidade? Os atravessamentos que constituem a formação do ser individual, é uma coletividade totalmente indivisível (MARQUES, 2012). Foto 8: Singularização e atravessamentos, há multidões em mim, meu uno já é em si uma coletividade. (Arte e foto: Do autor, 2021) 25 Segundo Guattari & Rolnik (1996), quando falamos de micropolítica, tratamos de protestos do inconsciente, ou seja, é aquele que não tem uma consciente influência de interesses assemelhado a uma campanha eleitoral; operando a partir das diferentes alternativas traçadas pela cartografia desejante. Assim podemos pensar que as micropolíticas podem agir inconscientemente, pois se tratam de influências de fragmentos sociais que agem na ecologia subjetiva, interferindo até no campo emocional. A perda da sensorialidade da espontaneidade do prazer, refletem uma compensação psicopatológica perversa, manifestada como uma compulsão por poder, em todos os meios e formas imagináveis, desde o micro ao macro. Assim cria-se uma naturalização de comportamento sadomasoquista, de satisfação e prazer quando operando a dor alheia, dada pela ilusão da aprovação social e sentimento de superioridade. O que pode resultar num ciclo vicioso de naturalizações das dores oferecidas e recebidas pelos opressores e oprimidos (FREIRE, 1990). A naturalização dos aspectos sadomasoquistas, se tornam tão corriqueiras, que passam imperceptíveis a maioria inserida nesse jogo de poderes, resultando na institucionalização dessas violências, que podemos notar na conceituação de Thoreau (1987) o discernimento da diferenciação entre lei e justiça, afirmando que não é o respeito à lei que faz de uma pessoa justa, muito pelo contrário, a lei muitas vezes é o oposto da justiça. Roberto Freire (1990) observa que a humanidade passou a adotar o jogo de poderes entre o domínio, ao prazer da convivência criativa e amorosa entre si, quando se iniciou a agricultura e a domesticação de animais, isso surgiu junto com as origens da propriedade privada e a escravização humana. Com isso surgem os adventos de família, do capital, do estado, e de todo autoritarismo euro-falocêntrico. Com o início do autoritarismo patriarcal, nota-se que as estratégias de dominações se operam das mais diversas formas. É notória a tentativa de invisibilidade das mulheres, Lerner (1986) mostra como na historia as mulheres sempre foram peças centrais para toda humanidade, representando sempre uma parte igual ou até maior que o numero de indivíduos do sexo masculino, porém toda memória, história e produção de pensamento das mulheres foi invisibilizada, omitida 26 e além das tentativds de destruições de arquivos históricos, além da proibição de participação em qualquer forma de educação institucional, restando muitas vezes o cuidado do lar. Dentre as formas de dominação e a institucionalização dessas formas de violências, a transição dos processos de sociedades compostas pela matrilinearidade para o patriarcado, surge como alicerce da propriedade privada, a apropriação sexual, reprodutiva das mulheres pelo homem (LERNER, 1986). Emma Goldman (2006) questiona os processos de dominação matrimonial e a tentativa frustrante da comercialização de sentimentos. Podemos pensar no amor como pulsões interiores sendo exteriorizadas e manifestadas pelo tesão, sendo assim, tem a mesma intencionalidade de calar as espontaneidades e prazeres, como manutenção da instigação ao aspecto sadomasoquista de dominação. Foto 9: Arte stencil com a imagem de Emma Goldman, com a intencionalidade de visibilidade epistemológica. (Foto e arte: do autor, 2016) 27 E - Infernar, re-existir e inverter: do maior ao menor “Isto devo fazer, imprimindo o método infernal, com corrosivos, que no Inferno são salutares e medicinais, derretendo superfícies aparentes e mostrando o infinito que estava escondido.” (BLAKE, 2004 p.24) Quem é você, quem é você O resto da raça humana Já não quer pensar Vê o mundo em cifras Corta e não quer plantar Usufruem da sorte De um planeta gentil Olho pra essas amebas Como gado sem direção Sem direção! (Cólera, 1998) Foto 10: Critica as homogeneizações e classificações de singularidades (Arte de colagem manual – Zine “Recorte e pense grande: um retrato preciso da marginalidade”, foto e arte: do autor, 2020) Uma educação menor é um ato de revolta e de resistência. Revolta contra os fluxos instituídos, resistência às políticas impostas; sala de aula como trincheira, como a toca do rato, o buraco do cão. Sala de aula como espaço a partir do qual traçamos nossas estratégias, estabelecemos nossa militância, produzindo um presente e um futuro aquém ou para além de qualquer política educacional. Uma educação menor é um ato de singularização e de militância. (GALLO, 2002 p.173) 28 A educação menor é baseada em rizomas, fazer conexões, agenciar conexões, multiplicidades: desterritorialização, ramificação política e valor coletivo. Sempre atento ao menor não se tornar nova máquina de controle ao invés de máquina de resistência (GALLO, 2002), apenas modificando a direção e não criando infinitas possibilidades. “Ecologias e educações menores como sistemas próprios, criadores de suas próprias perspectivas, que põe para correr as universalidades totalizantes para estabelecer suas medidas” (BARCHI, 2016) Os processos de inversões do maior ao menor, leva como princípio ir contra toda homogeneização cultural, assim como os dogmas dados por um Estado cristão, penso nas possibilidades de negações, para transformações dos cárceres mentais do céu para o inferno das libertações, sem prisões nem amarras, sem dogmas. O princípio de contracultura pode remeter a negação do que, e como é caracterizado como cultura. Segundo Guattari & Rolnik (1996), o conceito de cultura é totalmente reacionário, pois se trata de categorização e remetem a princípios de padronização. Refletem drasticamente na produção de controle da subjetivação, sendo produto de uma dinâmica capitalista de controle, tal como, o capital como sujeito econômico e a cultura como sujeito subjetivo, onde a tomada de poder não são apenas os aspectos econômicos e políticos. A historicidade do termo, tem como concepção originária, o ser que tem cultura é o que está inserido no meio denominado ‘culto’, e os incultos, sem cultura. Porém, em uma concepção denominada como ‘cultura das massas’, tudo se enquadra como cultura e não há uma categorização de valores ou subdivisões. Com essas definições, penso como se distingue as denominações de culto ao inculto? Quem impõe e embasado em que os valores para legitimação de saberes? E a forma como se define a ‘cultura das massas’ por que tem um aspecto generalista? Faz parte da intencionalidade dos “cultos” e “intelectuais” a homogeneização de subjetividades em massa? Para Busanello (2018) na década de 50, os beatnicks citavam a necessidade de opor a cultura padrão ocidental, e as manifestações expressivas de compensações às necessidades, ocorrendo pelo surgimento de uma cultura que se opunha aos costumes e culturas padrões. 29 F - Sonhar e devanear: a liberdade e o tesão! As naturalizações se diferem drasticamente das naturalidades, e o resgatar as naturalidades, estas vindas das entranhas do ser, tem o poder de tocar o despertar do ser. Trataremos então do principal aspecto que impulsiona as expressões da arte-educação marginal, o tesão como fundamento principal da revolução. Roberto Freire (1990) afirma que estudar o tesão é rever e quantificar o que nos resta de liberdade e as possibilidades de esperança. “Nessa conceituação ampla de vida pulsando no tempo e no espaço, na duração e no ritmo de cada ser, representaria o que produz no homem o seu desejo-prazer essencial: a liberdade.” (FREIRE, R. 1990 p.15) Consultando os dicionários, Roberto Freire (1990) se depara com definições da palavra ‘tesão’ totalmente reducionista, sexista e falocêntrica. Porém, nota-se o uso cotidiano do termo remetendo a encantos, intensidade, prazer, beleza, importância, e todo o caráter envolvedor e desejante . O autor constata nitidamente nos movimentos sociais e no vapor contra o autoritarismo, a presença do tesão como combustível principal. O tesão, assim, tanto o de fundo inconsciente (individual e coletivo na pessoa) quanto o consciente, é a principal arma que dispomos para lutar contra todas as tentativas de nos imporem as dependências, as limitações e as culpas que impedem as mutações existenciais e culturais, que fazem do homem um ser revolucionário. (FREIRE, R. 1990 p.28-29) 30 G- A essência da desobediência O anarquismo é a um só tempo diversificado e inconstante e, à perspectiva histórica, apresenta a aparência, não de um curso d'água cada vez mais forte, correndo em direção ao mar do seu destino (uma imagem que bem poderia ser aplicada ao marxismo), mas de um fio de água filtrando-se através do solo poroso - formando aqui uma corrente subterrânea, ali um poço turbulento, escorrendo pelas fendas, desaparecendo de vista para surgir onde as rachaduras da estrutura social possam lhe oferecer uma oportunidade de fluir. (Woodcock, 2007 p.16-17) Foto 11: Stencil feito a partir de chapa de raio-x (Foto e arte: do autor, 2016) Uma possível história do anarquismo, se faz por uma conjuntura indefinida e indefinitiva, pois as oposições são atemporais, operando em função de ideias e práticas da vida (NORTE, 1994). Em uma diversidade temporal e espacial, a lei age em múltiplas formas, como instrumento para legitimação da violência e do roubo, se opondo totalmente ao conceito de justiça (THOREAU, 1987). Assim se faz a necessidade de reconhecer o direito de recusar e resistir ao governo quando tirano e ineficaz, a qual não cabe a justiça. Quando percebe-se a injustiça institucional, é o momento de todo ser honesto se rebelar e passar a desobedecer essas imposições (THOREAU, 1987). 31 H - Devaneando e resistindo: as essências e as formas das artes marginalizadas Em todas as escalas individuais e coletivas, naquilo que concerne tanto à vida cotidiana quanto à reinvenção da democracia – no registro do urbanismo, da criação artística, do esporte etc. - trata-se, a cada vez, de se debruçar sobre o que poderiam ser os dispositivos de produção de subjetividade, indo no sentido de uma re-singularização individual e/ou coletiva, ao invés de ir no sentido de uma usinagem pela mídia, sinônimo de desolação e desespero. (Guattari, 1990. p.15) Em quantas formas é (im)possível devanear? Inúmeras são as formas possíveis para expressar, seja nossos sonhos ou nossa indignação. Podemos começar pensando em papéis em branco, nele podemos desenhar, escrever, fazer colagem… um espaço livre para expressão, e a partir de então, tomar formas ou formatos por modelos de divulgação dessas artes. Um desses modelos no papel é o que chamamos de ‘zine’, que se tratam de publicações independentes como instrumento de comunicação, geralmente em formatos que lembram pequenas revistas caseiras, com pouca tiragem, repassado de mão em mão ou por meios postais, hoje com advento da digitalização pode ser divulgado na internet. Quase sempre se tratam de assuntos pouco ou nunca abordados pela imprensa, e destinado a trocas de informações entre coletividades que fogem aos padrões convencionais. Surgiu na década de 30, porém foi fortemente impulsionado a visibilidade pelo movimento punk na década de 70. O surgimento se deu devido a necessidade de expressão de certas coletividades, criando um espaço totalmente livre para experimentação tanto gráfica quanto escrita (LUNA, 2008; CHAKAL & ROSATTI, 2020). Podemos considerar que se trata de uma forma de expressão artística descentralizada quanto a informação e a própria criatividade. É um potente recurso para liberdade de expressão (BUSANELLO, 2018). Como as coletividades descentralizadas poderiam se fazer localmente distantes, uma forma de mitigar esse empecilho que deu origem a uma nova forma de compartilhamentos de expressões, surgiu a arte postal (BUSANELLO, 2018). Dentro do papel, a liberdade de criação é bem grande, podendo citar algumas formas de fanzines, tais como, quadrinhos, poesias, colagens, arte digital, desenho livre tendo também bastante uso de mimeógrafos, porém atualmente este último 32 substituído por fotocópia ou xerox (CHAKAL & ROSATTI, 2020; BUSANELLO, 2018; OLIVEIRA, 2006). Embora aparenta ter pouca visibilidade, é uma forma bem corriqueira de expressão dentre os movimentos contraculturais, onde existem eventos e exposições nacionais e internacionais, além de repositórios como fanzinotecas. (CHAKAL & ROSATTI, 2020) Fotos 12: Exemplos de capas de zines produzidas a partir de colagens de revistas. (Cultura marginal, do artista NATA’s; Recorte e pense grande, 2020, do autor) Foto 13: Capas de zines (do autor, 2013) 33 A partir dessas livres expressões artísticas, (re)conheço a potencialidade tanto para a recepção dessas expressões, quanto a mim, o próprio autor pelo espaço de expressão e desenvolvimento da criatividade a partir da singularidade. Podemos pensar sobre a importância dessas ferramentas para jovens e adultos que cumprem medidas do sistema carcerário, uma série de relatos sobre a implantação de oficinas de zines podem ser encontrados no livro recentemente publicado chamado “Zines no cárcere" (FEITOSA et al. 2020), podendo observar a partir dos autores, a dificuldade de implantação de projetos que possibilitam um livre pensar e livre expressar dentro dos cárceres, mesmo de acordo com as políticas e da legislação, os próprios funcionários presentes se incomodam e temem, tentando de qualquer forma calar as vozes e expressões dos jovens. Outro fator interessante apresentado no livro, é sobre as expressões de zines na Casa de Privação Provisória de Liberdade III, no Ceará, onde através desses instrumentos, a voz de LGBTQIA+ onde conquistou uma melhor visibilidade, assim esse (re)conhecimento das dificuldades expressas refletiu numa maior atenção quanto a assistência dessa coletividade e assegurou garantir políticas de direitos humanos. “O primeiro fanzine punk buscava socializar ideias, propostas e experiências e, finalmente interferir junto à opinião pública (...)” (OLIVEIRA, 2006 p.22). E complementa, que no Brasil, a falta de informações sobre os movimentos e a cultura underground eram escassas e o único material disponível eram as revistas importadas,muito caras, com isso, passaram a se comunicar e repassar informes através de fanzines. Ainda pensando no papel, temos um espaço de transição das artes manifestadas nos papéis e ocupando os muros urbanos, assim é a expressão artística conhecida como ‘lambe-lambe’, onde os papéis são colados nos espaços públicos. Os lambe-lambe tem a forma física de operar como cartazes e pôsteres, porém cartazes geralmente são propagandas comerciais, pôsteres são de caráter estético e geralmente ocupam espaços privados, já o lambe-lambe ocupa espaços públicos pensados na maior visibilidade possível, operam como propagandas críticas, estimulando pensamentos por meio de desenhos, pinturas, poesias, textos, artes digitais, colagens, e o que mais couber no papel (OLIVEIRA, 2015). Propõe 34 reflexões se opondo a atitudes, normas e desigualdades sociais (NASCIMENTO et al, 2017). “Os fatos estéticos e políticos que acontecem nos espaços urbanos se apresentam como “galerias” não institucionalizadas, pois se organizam em uma condição de democracia urbana” (REIS, 2018 p.2). Foto 14: Lambe-lambe relatando contracultura pelo cenário urbano (Fonte: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Ftwitter.com%2Facacio1871%2Fstatus%2F12 33352322274729986&psig=AOvVaw3Bgh6Te0Ecb1fDxDmTcKCU&ust=1636116500735000&source=i mages&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCJiSxOHe_vMCFQAAAAAdAAAAABAD) Fotos 15: Lambe-lambe de contestação e reivindicação social (Foto e arte: do autor, Araras/SP, 2013) 35 Fotos 16: Colagem manual a partir de imagens de revistas que se tornaram lambe-lambe (Do autor, 2013) Do papel passado às paredes, agora podemos pensar nas paredes como papéis, moldando toda a existencialidade marginalizada no contexto urbano. Os centros construídos por aqueles que estão à margem, a cidade movimenta-se financeiramente por depender dos que estão nessa margem, da classe trabalhadora em sua maioria, posta como minoria invisibilizadas. E a arte, graffiti e pixação estampadas nos muros, formando a “sujeira” nos olhos do senso comum, é a voz, é a voz do povo, diante do caos (ARRUDA, 2019 p.50). Segundo Arruda (2019), a pixação e o graffiti são espaços de criação de identidade e reivindicações a territorialidade e pertencimento. A quem pertence o espaço público? Ao público que detém maior poder aquisitivo e suas propriedades comerciais? Ou aqueles que compõe esse espaço cotidianamente? Assim a pixação e o graffiti são movimentos de transgressão e agressão, reivindicando espaços públicos que são tomados pelo privado. Assim, cada identidade criada e reconhecida, é dada como uma ‘TAG’ (que do inglês vem daquilo que usamos para identificar algo através de signos), assim, 36 cada TAG demarca o ambiente com a identidade e sua existencialidade, contrariando as imposições higienistas. Foto 17: Folhinha de TAG’s, onde coletividades de pixadores se reúnem e assinam suas identidades. (Foto de: NATA’s, Rio Claro/SP, 2020) As identidades vão sendo inseridas na constituição do espaço urbano, rompendo com a paisagem, obrigando olhares e diálogos entre quem gosta e quem tenta apagar.. Quanto maior a marca e o espaço, maior a visibilidade, por exemplo, as zonas centrais das cidades, as rodovias devido ao trânsito intenso, e também os vagões ferroviários, transportando essas existencialidades para outros espaços. 37 Fotos 18: Pixações do artista NATA’s, Araras/SP e Rio Claro/SP (Foto e arte: NATA’s) Foto 19: Graffiti do artista NATA’s (Foto e arte: NATA’s) 38 Foto 20. Graffitis no formato ‘bomb’ com as TAG’s ‘Sub-Cultura’ e ‘OverDose’ (foto: do autor, arte: do autor & NATA’s) As manifestações de identidade, podem ser também marcadas por desenhos, as quais criam-se personagens singulares, e as características se mantém como uma marca da/o artista. 39 Foto 21: Personagens autênticos e singulares como fator identitário. Arte e foto de ARRUDA, V. S., São Paulo/SP, 2020 40 Foto 22: Personagens e artes em grafitti a partir de uma coletividade no processo criativo, foto do departamento de educação da UNESP Rio Claro. Arte de: ARRUDA, V. S.; HIRICH, V. e o autor, Rio Claro/SP, 2020 As TAGs também são utilizadas em intervenções artísticas chamadas de ‘stickers’, que segundo Bornhausen (2010), são adesivos colados em elementos que compõem a paisagem urbana, com potencial de ocupação visual e praticidade na aplicação, onde considera-se uma variante mais atual do lambe-lambe. Além de TAGs, há espaço para uma diversa gama de signos que podem representar tanto identidades, quanto questionamentos, ou a diversidade das formas de expressões, que tem sido muito vinculado às artes gráficas. (BORNHAUSEN, 2010) 41 Fotos 23: Stickers demarcado TAG’s e identidades (Foto e arte: NATA’s) Foto 24: Intervenção de sticker ressaltando a importância das pulsões de singularidades dos sonhos (Arte e foto: do autor, Araras/SP, 2012) 42 Ainda dentro dos muros como grandes telas públicas, também são espaços para as repetições de artes pelo stencil, possibilitando diferentes suportes e contextos para a mesma obra (CASTRO, 2012). O stencil possibilita uma certa agilidade no processo de aplicação da técnica, já que se leva a chapa cortada e aplica spray sobre ela, sendo bem vantajosa devido a criminalização dessas expressões artísticas. Foto 25: Stencils aplicados sob porta de madeira. (Foto e arte: do autor, Rio Claro/SP, 2020) 43 I - Impulsionados pelos fones de ouvido Façam da música Uma forma de cair por terra a sua mordaça queremos subverter a ordem burguesa que existe na música e na arte (Garotos Podres, 1993) As expressões artísticas que tratamos nos capítulos anteriores, se enlaçam com movimentos contra-culturais, assim existem infinitas ramificações que expressam as subjetividades desses movimentos e artistas. Uma potente forma é a música, ou até em alguns casos, podemos chamar de anti-música (ramificações do punk rock que contradizem a linearidade e sonoridade limpa). Traduzem realidades vividas e sonhos compartilhados, assim trago duas ramificações que têm relações totalmente diretas com as expressões tratadas anteriormente,o punk e o rap/hip hop. Também friso que aqui pretendo apenas tentar introduzir a existência e importância desses movimentos e expressões, pois são extremamente amplos e com infinitas ramificações. Segundo Henn & Rodrigues (2019) as ideologias punk contidas nas músicas tem um caráter contestador quanto ao conservadorismo e autoritarismo, age como uma forma de união entre juventudes periféricas na rebeldia e de ataques ao capitalismo e a sociedade burguesa. O punk rock foi a maior ruptura e fragmentação entre o rock psicodélico e até mesmo espiritualizado, para com uma ferramenta de contestação social; o principal impulso que levou a esse feito, foi a capitalização do rock, no qual a livre espontânea criatividade e expressão, se tornaram produtos de mercado através do surgimento da indústria cultural. Logo o distanciamento dos poderes de expressão para com a naturalização de necessidade de técnicas musicais “sofisticadas”, o punk mostrou que a agressividade crua de três acordes surtia uma expressividade autêntica (MELÃO, 2010). O rap se mostra também totalmente anti-sistema, partindo de críticas a história "oficial", críticas à ordem social, ao racismo e a alienação midiática. O hip hop surgiu por jovens afroamericanos e caribenhos nos anos 70 no Bronx em Nova 44 York, hoje é presente nos mais diversos espaços, sendo forte influência educativa para jovens. Faz parte da composição do hip-hop 4 elementos: A música (rap - ritmo e poesia), a dança (o break), a arte visual (graffiti e pixação) e DJ (discer jokers) (SILVA, 1999). As descrições e histórias contadas no rap, são baseados nas tradições africanas da oralidade, do compartilhamento de conhecimentos por meio das vozes, da palavra, possibilitando maiores trocas de experiências e representatividades nas expressões (GUIMARÃES, 1999). J - Legislação x direitos humanos: expressões violentamente silenciadas A lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967, o artigo 1º diz: “É livre a manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de informações ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer.” Mas será que esses direitos são garantidos? As “livres” expressões são modeladas conforme as potencialidades, através da proibição. Já no primeiro inciso se é vetado o direito de subversão à ordem política e social, ou seja, toda indignação contra as injustiças legitimadas e acobertadas pelo Estado devem ser silenciadas? No artigo 2, é citado que fica proibido a circulação de publicações sem permissão ou concessão federal, também não podem ter posicionamentos políticos e que contrariem a “moral e os bons costumes”. Segundo o artigo 65 da lei nº9.605 de 12 de fevereiro de 1998, a pixação se enquadra como um crime ambiental. Um crime contra o meio ambiente urbano? Mas quem constitui o meio ambiente urbano? Quem pode pertencer ao ambiente urbano e quem não pode? Talvez aqui podemos voltar a pensar sobre “A essência da desobediência" (Capitulo G deste trabalho) 45 5. (In)conclusões O ambiente urbano, por apresentar um complexo conjunto de relações históricas, políticas, econômicas, culturais e estéticas mostra se pleno de articulações, segregações e rupturas, e constantemente é alvo de diversas abordagens que, ao percorrerem estes locais, buscam evidenciar as relações causais das transformações do espaço social, bem como as significações contidas na própria dinâmica espacial. (BORNHAUSEN, 2010 p.1) Podemos pensar nas possibilidades de conclusões e de inconclusões deste trabalho, pois o processo experimental se dá por múltiplas possibilidades, impedindo concluir como um ponto final. Porém, partindo das particularidades das minhas vivências que compartilho, ouso afirmar que a marginalidade e as expressões artísticas criminalizadas podem agir como potentes ferramentas de educação libertária, agindo incessantemente nas (trans)formações de subjetividades e singularidades. Expressões e contestações podem agir como um devir revolucionário, atravessando seres, seja por incômodos ou satisfações, enunciando e denunciando sentimentos Ainda inconcluo que através da minha experimentação, essa se limita às palavras que tentam descrever sentidos, onde se restringe as possibilidades e atravessamentos dado pelo tempo e espaço. Então, de forma alguma, pode-se generalizar os aspectos aqui tratados como qualquer espécie de absoluto, ainda que se trate de uma memória falha. Assim pretendo continuar a inconcluir esse trabalho em uma possível dissertação, onde aqui ainda exclui três capítulos: Educação Ambiental Marginal?; O artesanato como criação de singularidade e o processo de desfiliação; Ecologia urbana e social: a potência das expressões na composição do ambiente. 46 5. Parâmetros teóricos e sonoros ALMEIDA, S. & RIBEIRO, D. Racismo Estrutural; Feminismos Plurais, Editora Pólen. São Paulo – SP, 2019 ALVAREZ, E. H. The invisibles. video, 2015. 07:02. Disponível em: ARRUDA, V. S. As potencialidades das artes marginalizadas para jovens da periferia de São Paulo. (2019) Monografia. 91p. Unesp Rio Claro - SP BARCHI, R. Poder e resistência nos diálogos das ecologias licantrópicas, infernais e ruidosas com as educações menores e inversas (e vice-versa) - Tese de doutorado - UNICAMP, Campinas - SP. 2016. 321p. BARCHI, R. Educações inversas e ecologias infernais: Experiências para pensar as educações ambientais a partir dos contos de horror do Heavy Metal de King Diamond. - FURG; Rev. Eletr. Mestr. Educ. Ambient. v.34 no1, p.311-329, jan/abr 2017 BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P.; JAPIASSÚ, V. Biologia Ambiental. Ed. Érica. 1ºed. 120p. 2013 BENJAMIN, W. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Walter Benjamin: obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. Traduzido por Sérgio Paulo Rouanet, 3.ed São Paulo: Brasiliense, 1987, p.197-221 BELIK, W.; SILVA, J. G.; TAKAGI, Maya. – Políticas de combate à fome no Brasil. – São Paulo em perspectiva. Ed15, ano 4 – São Paulo – SP, 2001 BITTAR, M. & BITTAR, M. – História da educação no Brasil: a escola pública no processo de democratização da sociedade. - Acta Scientiarum. Education, vol.34, nº2 – p. 157-168, jul-dez 2012. Maringá – PR BLAKE, W. - O matrimônio do céu e do inferno. Tradução de Julia Vidili. Ed. Madras. 2004 BORNHAUSEN, D. 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