UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA IGCE – Instituto de Geociências e Ciências Exatas PPGGMA – Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente GESTÃO INTEGRADA DAS ÁGUAS DO SISTEMA AQUÍFERO BAURU NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE / SP Aluno: Emílio Carlos Prandi Orientador: Prof. Dr. Chang Hung Kiang Tese elaborada junto ao Programa de Pós- Graduação em Geociências e Meio Ambiente para obtenção do título de Doutor RIO CLARO - SP 2010 i DEDICATÓRIA Este trabalho dedico a: Pedro, Larissa, Melissa, Daniel, Flávia e Maitê, meus filhos, por quem faço tudo para que estudem; Toninha e Prandi, meus pais, que fizeram tudo para que eu estudasse; A Deus Uno e Trino que, além de ter me permitido chegar até aqui, me deu Sílvia, esposa e amiga inseparável. A todos, muito obrigado. ETA PEIXE Eta Peixe! Rio pulão, nasce lá na Serra Lá perto de Garça e Marília Vera Cruz, café e branca terra E ele vai descendo Já sem tanta alegria Antes fresco, fundo, peixe e mato, bicho e gente Hoje sozinho, esgoto, areia, raso e quente Lá pela Br, encontro alegre Água fresca, limpa do Ribeirão Alegre moleque Dura pouco o frescor De novo areia, esgoto e calor Mesmo não tão limpo, sujo, dá de beber a Marília E ele vai descendo Já com mais água, mas ainda sem alegria Antes, com seu andar lento Quando havia lagoas que malária dava Não era bento, mas encantava Hoje dragas e tratores Arrancam do seu leito areias e dores Dores das cercas que o acompanham para evitar o beber E ele vai descendo Árvores, algumas na margem, na encosta pasto e erosão Algum milho e algodão Mais abandono vai se vendo E ele vai descendo Quando dá suas costas para a Serra Deixando o planalto, vê o largo horizonte das colinas na terra Em Varpa, olhos cansados observam em seu passar o passado De caçadas e pescarias De passeios e confrarias E no presente sujeiras, plásticos e porcarias E ele vai descendo Triste clube de veraneio Às suas margens insiste teimoso Ai duas vias se cruzam: a seca negra e esburacada e a de água rasa, suja e depauperada Já se prepara ai seu grande salto, Quatiara está chegando Mas, o pequeno lago e está domado o salto Resta a energia mandada embora do velho Peixe, não mais saltando E ele vai descendo Ribeirão confusão Dos japoneses de Bastos, Parapuã e Rancharia Japoneses trabalhadores, grandes pescadores Cadê Piau, Dourado, Cachorra e Jurupoca? Nada mais nada, só é transportado pelas águas lentas Areia e águas barrentas Perto de Mariápolis e Pracinha recebe o Mandaguari Tão forte impacto que o Mandaguari faz o Peixe curvar Indo para oeste, vai para o norte E ele vai descendo Já o Paranasão o chama Ele ouve e volta ao seu natural curso De novo para oeste, sul e definitivamente para o colo das águas mãe Já todo ferido, sujo, meio morto, mas não tão torto Tem destino Passa grandes paisagens Grandes várzeas, novos lagos nas margens, mais matas Flancos protegidos, ao norte pelo Ribeirão das Marrecas Ao sul pelo Ribeirão dos Veados Quem já viu uma guarda feita por Marrecas e Veados? Mas é assim E ele vai descendo Cada vez mais lento, mata, bicho e peixe Longe das corredeiras e saltos do rio menino como brincadeiras de crianças Agora velho e lento Cheio de lembranças Vai dormir na Primavera Vivendo seu longo inverno Sem ter a vida que tinha, Mas voltará a ter, com esperança... iii AGRADECIMENTOS O autor agradece aos que, direta e indiretamente, contribuíram para este trabalho. Principalmente ao Professor Dr. Chang Hung Kiang pela atenção, orientação e apoio. Ao Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), minha segunda casa, pela disponibilização dos dados. Ao Centro Universitário de Lins (UNILINS), nas pessoas dos Engenheiros Milton Leo, Luiz Fernando Leo, Emílio Shizuo Fujikawa, Luiz Bernardo Fumio, Ângelo Antônio Sadi e Moises Teodoro Messi, pelo apoio técnico e material. Aos engenheiros João Carlos Polegato e João Augusto de Oliveira Filho, pelos muitos trabalhos desenvolvidos juntos. Ao Engenheiro Edson Geraldo Sabbag, diretor da Bacia do Peixe Paranapanema, do DAEE, pelo apoio. À Engenheira Suraya de Oliveira Modaelli, pela amizade e incentivo. Ao Geólogo Dr. Flávio de Paula e Silva, pelas longas discussões sobre o Sistema Aquífero Bauru. Ao Geólogo Dr. Didier Gastmans, pelas sugestões ao longo do trabalho. À Profa. Dra. Maria Rita Caetano-Chang, pela correção e utilíssimas sugestões para a montagem desta tese. Aos colegas: Técnico Ambiental Cilso Ferreira, Engenheiro Rafael Carrion Montero e Geográfo Carlos Eduardo Camargo, pela ajuda na coleta e tratamento dos dados. Aos Geólogos Pedro Lifter Rodrigues Prandi e Felipe Ferroni, pela ajuda na montagem da tese. Aos colegas do DAEE: Alberto Badiz, Alessandra de Oliveira Davoli, Ana Freitas da Silva, Antônio Feliciano dos Santos, Carlos André Rêmolli, Carolina Mota Aguiar, David Mature Martins, Denis Emanuel de Araujo, Fábio Mascarim, Fernando Antônio Rodrigues Netto, Fernando Rangel, Jéssica Nascimento, João Lennon Freitas, Juliana Martinhão Ignácio, Kátia Juliane Sebastião, Lauro Oshiro, Luiz Antônio do Silva, Luiz Fernando Oliveira, Marcos Montes, Mário Fernando Riekstin, Mário Luiz Modaelli, Mauro Camargo, Milton Laperuta, Osvaldo de Godoi, Paulo Roberto Pereira, Reginaldo Oliveira de Souza, Ricardo Albino de Souza e Ulisses Acarine de Campos, por tudo que temos passado juntos. Aos colegas do Centro Tecnológico de Hidráulica (CTH - USP) Engenheiro Gré de Araujo Lobo, Engenheira Maria Laura Goi e Técnico José Gonçalves de Aguiar, pelo apóio com os dados de hidrometria. Aos colegas da Diretoria de Procedimentos de Outorgas (DPO - DAEE) Engenheira Leila de Carvalho Gomes e Geólogo Sérgio Lúcio Torres, pela ajuda nos assuntos relativos à outorga. Às colegas da UNESP Cristiane Wiechmann e Rosangela Vacello, pela paciência com que me atenderam todas as vezes que delas precisei. Aos colegas do Laboratório de Análise de Bacias (LEBAC), pelo companheirismo, apoio e sugestões, principalmente aos geólogos Márcia Regina Stradioto e Marcio Costa Alberto. À Beatris, minha irmã; Álvaro, meu cunhado; e Marcelo, meu sobrinho, pelo estimulo e por serem exemplo de muito trabalho. v RESUMO O uso racional das águas de uma região depende do entendimento da sua disponibilidade no tempo e no espaço. Nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, Unidades de Gestão de Recursos Hídricos que compõem um Comitê de Bacias Hidrográficas, as principais demandas são atendidas por águas subterrâneas captadas do Sistema Aquífero Bauru (SAB) e subordinadamente por águas superficiais. A avaliação do comportamento das Unidades Aqüíferas que compõem o Sistema Aquífero Bauru e a inter-relação entre as águas destes aquíferos e as águas superficiais foram os focos deste trabalho. Após a verificação da geologia de superfície e de sub-superfície e da análise dos dados de mais de 500 poços, foram estabelecidos os comportamentos dos aquíferos que compõem o SAB sendo possível estabelecer, em função dos fluxos entre os aquíferos e daí para os corpos de águas superficiais, Blocos de Gestão de Recursos Hídricos. Foram propostos quatro Blocos de Gestão, sendo o Bloco de Gestão 1 (alto Aguapeí e Peixe) as áreas onde o aquífero Marília se sobrepõe ao Adamantina. Neste bloco não há fluxo entre os aquíferos e o Aquífero Marília controla os escoamentos dos rios nos períodos de recessão. No Bloco de Gestão 2 (médio Aguapeí e Peixe) ocorre apenas o Aquífero Adamantina que controla os escoamentos de base. No Bloco de Gestão 3 (baixo Aguapeí e Peixe) ocorrem os Aquíferos Adamantina e Caiuá / Santo Anastácio, isolados um do outro, ora pela Formação Araçatuba, ora por fácies pelíticos da Formação Adamantina que funcionam como aquitardos. No Bloco de Gestão 4 (foz dos rios Aguapeí e Peixe), ocorrem as Formações Caiuá e Santo Anastácio, conectadas hidraulicamente e comportando-se como um único aquífero, depositado sobre os basaltos da Formação Serra Geral e condicionando os fluxos superficiais no período de recessão. As disponibilidades totais aumentam de Leste para Oeste, não apenas pela maior área de drenagem dos rios principais, mas também pelas características dos Aquíferos. Palavras chave: Gestão Integrada; Sistema Aquífero Bauru; Aguapeí e Peixe vi ABSTRACT The rational use of waters of an area depends on the understanding of its availability in time and space. In the watersheds of the Aguapeí and Peixe Rivers, the main demands are met by groundwater collected from the Bauru Aquifer System (BAS). The production capacity of the aquifers units that compose the Bauru Aquifer System and the interrelationship between the waters of these aquifers and surface water were the focus of this work. After examining the surface and subsurface geology and incorporating the data from more than five hundred wells, the production of the aquifers that compose the BAS was established and, according to the flows between the aquifers surface waters, it was possible to established the Water Resources Management Blocks. Four Management Blocks were proposed: Management Block 1 (Upper Aguapeí and Peixe) is the areas where the Marília Aquifer overlaps Adamantina Aquifer. In this block there is no cross flow between aquifers and Marília Aquifer controls the river discharge during recession periods. In Management Block 2 (Medium Aguapeí and Peixe) only Adamantina Aquifer controls the flow base. In Management Block 3 (Lower Aguapeí and Peixe) there are Adamantina and Caiuá / Santo Anastacio Aquifers, one isolated from each other, occasionally by the Araçatuba Formation, and at times by pelitic facies of Adamantina Formation that act as aquitard. In Management Block 4 (Mouth of the Aguapeí and Peixe Rivers), there are Caiuá and Santo Anastácio Formations, hydraulically connected and they behave as single aquifer, overlying the basalts of Serra Geral Formation and conditioning the surface flows during the recession periods. The total amount of available water increase from East to West, not only for the largest drainage area of the main rivers, but also due to the aquifers hydraulic characteristics. Keywords: Integrated Management; Bauru Aquifer System; Aguapeí and Peixe Rivers. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe ÍNDICE GERAL DEDICATÓRIA i AGRADECIMENTOS iii RESUMO v ABSTRACT vi ÍNDICE GERAL vii ÍNDICE DE FIGURAS x ÍNDICE DE TABELAS xiv 1. INTRODUÇÃO 1 1.1. Considerações Gerais 1 1.2. Área de Estudo 2 1.3 Justificativa e Objetivos 4 2. MATERIAIS E MÉTODOS 6 2.1 Trabalhos de Escritório 8 2.2 Trabalhos de Campo 8 2.2.1 Poços estratigráficos 8 2.2.2 Poços para medidas de interferência 10 2.2.3 Piezômetros para controle da variação do lençol freático 11 2.2.4 Postos fluviométricos 12 2.2.5 Expedição do Rio do Peixe 13 2.3 Gestão de Recursos Hídricos 14 2.3.1 – Gestão no Brasil e no Estado de São Paulo 14 2.3.1 - Sistema de Outorgas no Estado de São Paulo 16 2.3.2 - Procedimentos para emissão de outorgas de águas subterrâneas. 17 3. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO 19 3.1. Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHIs) 19 3.1.1 Bacia Hidrográfica do Rio Aguapeí 19 3.1.2 Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe 20 3.1.3 Aspectos sócio-econômicos e uso e ocupação dos solos das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 23 4. O MEIO FÍSICO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE 25 4.1. Geomorfologia 25 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 4.2. Geologia 25 4.3. Pedologia 27 4.4. Hidrometeorologia 28 5. GRUPO BAURU 32 5.1. Geologia do Grupo Bauru 32 5.2. Sistema Aquífero Bauru (SAB) 36 6. GRUPO BAURU NAS BACIAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE 40 6.1. Formação Caiuá 42 6.2. Formação Pirapozinho 44 6.3. Formação Santo Anastácio 45 6.4. Formação Birigui 46 6.5. Formação Araçatuba 47 6.6. Formação Adamantina 49 6.7. Formação Marília 50 7. DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES ESTRATIGRÁFICAS DO GRUPO BAURU NAS BACIAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE 53 7.1. Distribuição da Formação Birigui 53 7.2. Distribuição da Formação Araçatuba no Vale do Rio do Peixe 54 7.2.3 - Ocorrência da Formação Araçatuba em superfície no Vale do Rio do Peixe. 56 8. HIDROLOGIA INTEGRADA 61 8.1. Balanço Hídrico de uma Bacia Hidrográfica 61 8.2. Descarga e Recarga dos Aquíferos nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe. 64 8.2.1 Cálculo da infiltração nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 64 8.2.2 Recargas Artificiais 67 8.3. Divisão Estratigráfica e Hidrogeológica do Grupo Bauru 68 8.3.1 Unidade Hidroestratigráfica – uma definição 68 8.4. O Sistema Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe. 68 8.4.1 Aquífero Caiuá 68 8.4.2 Aquitardo Pirapozinho 72 8.4.3 Aquífero Santo Anastácio 72 8.4.4 Aquífero Birigui 75 8.4.5 Aquitardo Araçatuba 76 8.4.6 Aquífero Adamantina 76 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 8.4.7 Aquífero Marília 79 8.4.7.1 - Solos de alteração da Formação Marília e seu comportamento aquífero. 79 9. RESERVAS HÍDRICAS SUBTERRÂNEAS 82 9.1. Reservas Reguladoras ou Renováveis no Sistema Aquífero Bauru 85 9.2. Reservas Permanentes para o Sistema Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 90 10. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS 92 10.1. Outorgas nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 92 10.2. A distribuição das Chuvas nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe e Outorgas de Captação Superficial 94 10.2.1 – O balanço hídrico e as vazões dos rios Aguapeí e Peixe 97 10.3. Sustentabilidade do Sistema Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe100 11. INTER-RELAÇÃO ENTRE AS UNIDADES AQUÍFERAS DO SISTEMA AQUÍFERO BAURU NAS BACIAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE 102 11.1. Relações hidráulicas entre a Formação Caiuá e a Formação Santo Anastácio. 104 11.2. Relações hidráulicas entre o Aquífero Caiuá / Santo Anastácio e o Aquífero Adamantina. 105 11.3. Relações hidráulicas entre o Aquífero Adamantina e o Aquífero Marília. 109 12. MODELO DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE. 113 12.1. Bloco de Gestão 1 - Alto Aguapeí e Peixe 114 12.2. Bloco de Gestão 2 – Médio Aguapeí e Peixe 118 12.3. Bloco de Gestão 3 – Baixo Aguapeí e Peixe 121 12.4. Bloco de Gestão 4 – Barra do Aguapeí e Peixe 125 12.5. A Qualidade dos Recursos Hídricos condicionando a Gestão 128 13. CONCLUSÕES 129 14. RECOMENDAÇÕES 133 15. ANEXOS 145 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Localização da área de estudos 4 Figura 2 – Fluxograma das etapas de desenvolvimento dos trabalhos 7 Figura 3– Equipamento para perfuração de poços estratigráficos (Piacatu) 9 Figura 4– Sondas utilizadas nos poços estratigráficos (Piacatu) 9 Figura 5– Amostras indeformadas dos poços estratigráficos (Piacatu) 10 Figura 6 – Instalação de piezômetro em Herculândia 11 Figura 7 – Poço piezométrico na Bacia do Arrependido 12 Figura 8 – Vertedouro instalado no Ribeirão do Arrependido 13 Figura 9 – Afloramento de siltitos arenosos cinza-esverdeados às margens do Rio do Peixe 13 Figura 10 – Evolução das outorgas no Estado de São Paulo 17 Figura 11 – Mapa topográfico das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 26 Figura 12 – Distribuição das isoietas anuais nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 29 Figura 13 – Chuvas mensais médias na Bacia do Rio Aguapeí 30 Figura 14 - Chuvas médias mensais na Bacia do Rio do Peixe 31 Figura 15 – Estratigrafia do Grupo Bauru, segundo Soares et al. (1980) 34 Figura 16 – Estratigrafia da Bacia Bauru, segundo Fernandes (1998) 35 Figura 17 – Unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru no Estado de São Paulo (PAULA E SILVA, 2003) 36 Figura 18 - Hidroestratigrafia do Aquífero Bauru (PAULA e SILVA, 2003) 39 Figura 19 – Profundidade do topo da Formação Serra Geral nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 40 Figura 20 - Espessura do Sistema Aquífero Bauru nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 41 Figura 21 – O Grupo Bauru em subsuperfície nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe (modificado de PAULA E SILVA, 2003) 42 Figura 22 - Ocorrência da Formação Caiuá nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 44 Figura 23 - Ocorrência da Formação Santo Anastácio nas Bacias Hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe 46 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 24 - Ocorrência da Formação Birigui nas Bacias hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 47 Figura 25 - Ocorrência da Formação Araçatuba nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 48 Figura 26 - Ocorrência da Formação Adamantina nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 50 Figura 27 - Ocorrência da Formação Marília nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 52 Figura 28 – Perfilagem geofísica do poço estratigráfico de Piacatu 54 Figura 29– Perfilagem geofísica do poço estratigráfico de Martinópolis 55 Figura 30 – Afloramento da Formação Araçatuba no Vale do Rio do Peixe 56 Figura 31 - Ocorrência de siltitos cinza-esverdeados da Formação Araçatuba na foz de pequenos afluentes do rio do Peixe 57 Figura 32 - Poços perfurados pelo DAEE na cidade de Marília (zona sul) 57 Figura 33 – Composição dos perfis geofísicos de poços em Marília 58 Figura 34 - Perfil esquemático com a Formação Araçatuba no Vale do Rio do Peixe 59 Figura 35 - Mapa geológico da área das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe 60 Figura 36 – Hidrógrafa com recessão na África (modificado de Fetter, 2001) 62 Figura 37 – Curva de recessão (modificado de Domenico e Schwartz, 1998) 63 Figura 38 - Localização dos postos de fluviometria para cálculo de recarga 65 Figura 39 – Hidrograma do Rio do Peixe adotado para cálculo de recarga 66 Figura 40 – Áreas com cana nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, passíveis de fertirrigação 67 Figura 41 - Poços cadastrados explotando o Aquífero Caiuá 69 Figura 42 – Rebaixamentos nos poços bombeado e monitorado em Panorama 71 Figura 43 - Posição esquemática dos poços em Panorama 71 Figura 44 – Distância entre o poço bombeado e o monitorado em Panorama 72 Figura 45 - Posição dos poços medidos em Dracena 73 Figura 46 - Rebaixamentos nos poços em Dracena 74 Figura 47 - Poços cadastrados explotando o Aquífero Santo Anastácio 75 Figura 48 - Poços cadastrados explotando o Aquífero Adamantina 77 Figura 49– Localização dos poços de Herculândia e os níveis registrados nos piezômetros 78 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 50 – Perfil da coluna de produção do poço Jardim Marajó - Marília 80 Figura 51 - Poços cadastrados explotando o Aquífero Marília 81 Figura 52 - Aquífero em equilíbrio (ALLEY et al. 1999) 83 Figura 53 - Aquífero em desequilíbrio (ALLEY et al. 1999) 84 Figura 54 - Relação entre fonte de água e tempo de bombeamento de um poço (ALLEY et al. 1999) 85 Figura 55 – Poços de monitoramento no Córrego do Arrependido 86 Figura 56 - Variação do nível de água nos poços da Bacia do Arrependido 86 Figura 57 - Variação dos níveis nos poços mais profundos no Alto Aguapeí e Peixe 87 Figura 58 – Variação dos níveis de águas subterrâneas em relação às chuvas 88 Figura 59 - Variação do nível de água nos piezômetros de Garça 89 Figura 60 - Distribuição das outorgas nas bacias dos rios Aguapeí e Peixe 92 Figura 61 – Tipos de outorgas emitidas nas bacias dos rios Aguapeí e Peixe 92 Figura 62 – Usos de águas subterrâneas nas bacias dos rios Aguapeí e Peixe 93 Figura 63 – Poços para abastecimento público sem outorga 93 Figura 64 – Isoietas de chuvas médias mensais (janeiro a junho)em São Paulo (fonte INFOSECA, 2009) 95 Figura 65 – Isoietas de chuvas médias mensais (julho a dezembro) em São Paulo (fonte INFOSECA, 2009) 96 Figura 66 - Vazões no Alto Rio do Peixe (posto 7D010) 98 Figura 67 - Vazões no Alto Rio Aguapeí (posto 7C002) 99 Figura 68 - Relação entre o Aquífero Serra Geral e o Sistema Aquífero Bauru na Bacia do Alto Peixe 103 Figura 69 – Localização e NE em poços nos Aquíferos Caiuá e Santo Anastácio 104 Figura 70 - Variação do NE nos Aquíferos Caiuá / Santo Anastácio e Adamantina 106 Figura 71 – Afloramentos de arenitos cimentados da Formação Adamantina em Irapuru 107 Figura 72 - Variação do NE em poços nos Aquíferos Adamantina e Marília 109 Figura 73 – Representação do poço bombeado e do piezômetro em Pompéia 110 Figura 74 – Níveis estáticos de poços explotando o Aquífero Adamantina no Planalto de Marília 111 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 75 - Blocos de Gestão de Recursos Hídricos para as Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 114 Figura 76 - Localização do Bloco de Gestão 1 115 Figura 77 – Escoamento das águas subterrâneas no Bloco de Gestão 1 116 Figura 78 – Fluxograma para avaliação de Outorgas no Bloco de Gestão 1 117 Figura 79 – Localização do Bloco de Gestão 2 118 Figura 80 – Escoamento das águas subterrâneas no Bloco de Gestão 2 119 Figura 81 – Fluxograma para avaliação de Outorgas no Bloco de Gestão 2 120 Figura 82 – Localização do Bloco de Gestão 3 122 Figura 83 – Escoamento das águas subterrâneas no Bloco de Gestão 3 123 Figura 84 – Fluxograma para avaliação de Outorgas no Bloco de Gestão 3 124 Figura 85 - Localização do Bloco de Gestão 4 125 Figura 86 – Escoamento das águas subterrâneas no Bloco de Gestão 4 126 Figura 87 – Fluxograma para avaliação de Outorgas no Bloco de Gestão 4 127 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Localização dos poços para análise de interferência 10 Tabela 2 – Postos fluviométricos do DAEE nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 12 Tabela 03 - Limites para outorga de captação de águas superficiais 15 Tabela 4 – Municípios com área rural e urbana contidas na Bacia do Aguapeí, mas não inclusos na UGRHI 20 (Fonte – CETEC 2008) 20 Tabela 5 – Municípios com área rural contidas na Bacia do Aguapeí, mas não inclusos na UGRHI 20 (Fonte – CETEC 2008) 21 Tabela 6 – Municípios com áreas rural e urbana contidas na Bacia do Rio do Peixe, mas não inclusos na UGRHI 21 (Fonte – CETEC 2008) 21 Tabela 7 – Municípios com área rural contidas na Bacia do Rio do Peixe, mas não inclusos na UGRHI 21 (Fonte – CETEC 2008) 22 Tabela 8 – Municípios no divisor de águas dos Rios Aguapeí e Peixe 22 Tabela 9 - Balanço Hídrico nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe (LIAZI et al, 2006). 64 Tabela 10 - Postos fluviométricos adotados 65 Tabela 11 - Parâmetros hidrodinâmicos do teste em Dracena 74 Tabela 12 - Poços no Aquífero Serra Geral 103 Tabela 13 – Variação do NE e as cotas dos poços em Panorama 105 Tabela 14 – Variação do NE nos poços explotados em Irapuru, Junqueirópolis e Dracena 108 Tabela 15 – Poços de abastecimento público perfurados em Marília 111 Tabela 16 – Variação do NE nos aquíferos Marília e Adamantina, explotados em Garça, Marília, Oriente e Vera Cruz 112 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 1. INTRODUÇÃO 1.1. Considerações Gerais Para Alley e Leake (2004), embora o volume de água em um sistema hidrológico possa ser medido, quantificado ou estimado por vários métodos, a disponibilidade de água é uma questão mais complexa, pois envolve aspectos relativos às estruturas físicas da bacia hidrográfica, dos aquíferos, bem como aspectos legais, sócio- econômicos e normas que regulamentam o seu uso. A necessidade do controle dos usos da água no Brasil levou à implantação de várias ferramentas de gestão desse recurso. Estas foram instituídas tanto pela política nacional quanto pelas políticas estaduais de Gestão de Recursos Hídricos. Uma dessas ferramentas é a Outorga para uso da água. Muitas vezes, no entanto, essas ferramentas não consideram a integração das várias fases do ciclo hidrológico, tratando de maneira dissociada as águas subterrâneas, superficiais e atmosféricas. Se no Estado de São Paulo adota-se como vazão de referência, para a emissão de Outorgas para a captação de águas superficiais, o Q 7.10 (Vazão mínima de 7 dias de duração com um período de retorno de 10 anos), em outros Estados e na União também existem limites bem definidos para a emissão de outorgas para captação destas águas. Para a captação de águas subterrâneas estes parâmetros são vagos. Existem condicionantes para os projetos de captação de águas subterrâneas, mas não há limites bem definidos para os volumes passíveis de serem extraídos e, tampouco, parâmetros que determinem o quanto os volumes captados interferem nos volumes de escoamento das águas superficiais. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Na região oeste do Estado de São Paulo, onde os principais usos de água são para abastecimento público, a principal fonte de abastecimento é o Sistema Aquífero Bauru. Este sistema é formado pelo pacote sedimentar do Grupo Bauru que cobre, segundo DAEE (1990), aproximadamente 117 mil quilômetros quadrados do território do Estado de São Paulo, sendo o principal responsável pelo abastecimento de água, tanto público como privado, além de ser responsável pela vazão dos rios durante os períodos de estiagem. O presente estudo das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe buscou determinar as características de cada Unidade Aquífera do Grupo Bauru, definir os volumes armazenados de águas subterrâneas e a inter-relação entre estas águas e as águas superficiais e propor um modelo para sua gestão. Estabeleceu-se uma ferramenta de apoio a decisões para a emissão de outorgas para captação de águas superficiais, ressaltando a necessidade da análise de licenças de uso de águas subterrâneas, emitidas para a explotação de aquíferos. Mas, sendo a sequência sedimentar que constitui o Sistema Aquífero Bauru bastante heterogênea, em que se intercalam pacotes de sedimentos com alta permeabilidade (aquíferos) com pacotes sedimentares com baixa permeabilidade (aquitardos), foram analisados quais os pacotes aquíferos que interferem no escoamento de cursos de água no local da outorga solicitada. 1.2. Área de Estudo A Bacia Hidrográfica do Rio Aguapeí, segundo CETEC (2008), limita-se a norte com a Bacia do Rio Tietê, a oeste com o Estado do Mato Grosso do Sul, tendo como divisa o Rio Paraná, a leste seu limite é a Serra dos Agudos e ao sul encontra-se a Bacia do Rio do Peixe. É formada pelo Rio Aguapeí (Feio), que nasce a uma altitude de 600 metros, entre as cidades de Gália e Presidente Alves, e pelo Rio Tibiriça, que nasce a uma altitude de 480 metros, junto à cidade de Garça. A bacia possui extensão aproximada de 420 km até sua foz no Rio Paraná, a uma altitude de 260 metros, entre o Porto Labirinto e o Porto Independência. A área dessa bacia, segundo o Plano Estadual de Recursos Hídricos (DAEE, 2006), é de 13.196 km2, sendo sua Vazão Média de Longo Período (QLP) da ordem de 97 m3/s. As vazões mínima média de 7 dias consecutivos e 10 anos de período de retorno (Q7.10) [referência para emissão de outorgas de captação de águas superficiais no Estado de São Paulo] e mínima de 95% de permanência no tempo (Q95%) são, respectivamente, 28 m3/s e 41m3/s. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Por sua vez, a Bacia do Rio do Peixe (CETEC, 2008) limita-se com a Bacia do Rio Aguapeí ao norte, ao sul com a Bacia do Rio Paranapanema, a oeste com o Rio Paraná e a leste com a Serra dos Agudos e a Serra do Mirante. O Rio do Peixe forma-se da junção do Ribeirão da Garça, que nasce na Serra dos Agudos na cidade de Garça, a uma altitude de aproximadamente 670 metros, e do Ribeirão do Alegre, que nasce no Município de Alvilândia, a uma cota média de 680 metros. Percorrendo uma extensão de 380 km, o Rio do Peixe desemboca no Rio Paraná a um altitude de 240 metros. Possui área de drenagem de 10.769 km2 (DAEE, 2006), sendo sua QLP da ordem de 82 m3/s. As vazões mínimas são: Q7.10 de 29 m3/s e Q95% de 38 m3/s. Neste estudo considerou-se o território abrangido pela junção das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. Tais bacias, por serem muito similares sob o ponto de vista do meio físico e por terem seus principais municípios instalados no divisor de águas entre as duas bacias, com profundas interferências nas duas Unidades de Gestão, são geridos pelo Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. A área estudada localiza-se entre os paralelos 20º25’45,17” e 22º25’16,82”, latitude Sul e os meridianos 49º26’16,98” e 52º05’28,36” de longitude Oeste. Seus limites estão apresentados na figura 1. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 1 – Localização da área de estudos 1.3 Justificativa e Objetivos As Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, Unidades de Gerenciamento 20 e 21, respectivamente, compõem o território de abrangência do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. As principais cidades na região são Marília, Tupã, Adamantina e Dracena. A instalação de seus núcleos urbanos se deu a partir da década de 30, ao longo da antiga Ferrovia Paulista, instalada no divisor de águas dessas duas bacias hidrográficas (CETEC, 1998). Esses núcleos urbanos são a principal fonte de consumo de Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe água e, por conta da posição geográfica, as águas superficiais foram preteridas e se capta preferencialmente águas subterrâneas. A principal fonte de água subterrânea para essa região é o Sistema Aquífero Bauru. No entanto, com o desenvolvimento da indústria bioenergética e o aumento da demanda de águas superficiais, principalmente para irrigação, surgem questões de gerenciamento de recursos hídricos da maior relevância, tais como: • Como é a relação de interferência entre as águas subterrâneas e superficiais nestas bacias hidrográficas? • Os volumes de água atualmente extraídos do Sistema Aquífero Bauru provocam alterações nas vazões de base dos recursos hídricos superficiais das Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe? O Sistema Aquífero Bauru é composto por várias formações litoestratigráficas com características de aquíferos e aquicludes, na região das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe. Para o desenvolvimento deste trabalho foram considerados os efeitos da explotação desse sistema, tendo por objetivo determinar os níveis de interferência entre as águas subterrâneas e superficiais e propor um modelo de gestão integrada. Isto porque o Sistema Aquífero Bauru, que aflora na área em estudos, apresenta, segundo Paula e Silva (2003), características muito distintas, em suas várias unidades. As heterogeneidades dessas unidades levam a comportamentos muito distintos na inter-relação com as águas superficiais, exigindo o gerenciamento de cada unidade em relação às águas superficiais. Por exemplo, na região da cidade de Marília onde a Formação Marília, importante aquífero para abastecimento de pequenas necessidades, deve ter as vazões explotadas consideradas na emissão de outorga de captação de águas superficiais desses cursos de água. Isto porque a explotação de água desse aquífero interfere no escoamento de base destes rios. Por outro lado, os poços que captam água do Aquífero Adamantina em Marília, não precisam ser considerados nas outorgas de captação de águas superficiais de rios do Planalto, mas devem ser considerados na outorga de rios que fluam nas porções inferiores do Planalto, pois as águas do Aquífero Adamantina contribuem para o seu escoamento de base. Nesses casos devem ser considerados também os poços explotados na Formação Marília. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 2. MATERIAIS E MÉTODOS Para Sophocleous (2002), águas subterrâneas e águas superficiais não são componentes isolados do sistema hidrológico, e entre elas há uma complexa interação que depende da topografia, geologia e clima. Para Winter (1999) a interação de cursos de água, lagos e áreas úmidas com a água subterrânea é governada pela posição dos corpos de água em relação aos sistemas de fluxo de águas subterrâneas, características geológicas das camadas aquíferas e condições climáticas. Entender essa inter-relação depende do entendimento da hidrogeologia e do clima de uma região e, principalmente, de estudos que permitam compreender os mecanismos condicionadores do fluxo das águas subterrâneas. Para tanto, é necessária a compreensão do aquífero não apenas como um reservatório de água, mas também como um conduto desta água. Com o entendimento então dos processos de escoamento superficial e subterrâneo de uma bacia hidrográfica, condicionados também pela hidrometeorologia, pode-se elaborar um modelo conceitual das inter-relações de águas subterrânea e superficial para a gestão integrada da água nessas Unidades de Gerenciamento. Para o desenvolvimento das ações que levassem ao entendimento destas inter- relações na Bacia Hidrográfica dos Rios Aguapeí e Peixe, planejou-se as etapas de trabalho, apresentadas na figura 2. G es tã o in te gr a d a d a s á gu a s da s U ni d ad es E st ra tig rá fic a s d o A qu ífe ro B au ru n a s B a ci a s d os R io s A gu a p eí e P ei xe F ig ur a 2 – F lu xo gr am a da s et ap as d e de se nv ol vi m en to d os tr ab al ho s G e st ã o d e R e c. H íd ri co s G e o lo gi a O b ra s M e io F ís ic o Le va n ta m en to s d e ca m p o R ev is ão B ib lio g rá fic a H id ro ge o lo gi a H id ro lo gi a E ns a io s e c a d a st ro s C a d a st ro s O ut o rg a s P o ço s p ie zo m . P o ço s e st ra tig . P ro p o st a d e o ut o rg a in te gr a d a M o d e lo c o nc e itu a l d a in te ra çã o á gu a s su b te rr â ne a s / á g ua s su p e rf ic ia is . T e st e s p o ço s p ro nt o s C a d a st ro s Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Para consecução desta tese foram necessários levantamentos para confirmação da geologia em pontos onde estudos anteriores não esclareciam todos os aspectos estratigráficos, levantamento de dados hidráulicos e hidrometeorológicos para composição do balanço hídrico da área, análise de parâmetros hidrodinâmicos dos aquíferos e definição das vazões disponíveis, tanto dos aquíferos, quanto dos recursos hídricos superficiais. 2.1 Trabalhos de Escritório Foram levantados dados bibliográficos da área de estudo, sua infra-estrutura hídrica, levantamentos de dados pluviométricos e fluviométricos de postos instalados. Também, com base em estudos anteriores, foi definido seu substrato geológico e hidrogeológico básico. Para a definição da máxima alimentação da vazão dos rios pelos aquíferos, adotou-se nove postos de medidas fluviométricas, sendo quatro na Bacia do Rio do Peixe, quatro na Bacia do Rio Aguapeí e um em um afluente direto do Rio Paraná, a norte da Bacia do Aguapeí. Obteve-se a hidrógrafa destes pontos. Os dados de captação de águas superficiais e subterrâneas foram obtidos dos arquivos de outorga do DAEE para as Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe. 2.2 Trabalhos de Campo 2.2.1 Poços estratigráficos Para a confirmação dos dados geológicos foram perfurados, por limitação de recursos, apenas dois poços estratigráficos dentro dos limites da área estudada. Estes poços foram perfilados para verificação de parâmetros geológicos e testados para verificação dos parâmetros hidrodinâmicos. Os poços estratigráficos foram perfurados nos municípios de Piacatu e Martinópolis. A perfuração foi executada pelo método rotativo direto (Figura 3), com utilização de fluido à base de polímeros orgânicos e sem sólidos em suspensão. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 3– Equipamento para perfuração de poços estratigráficos (Piacatu) Nos poços estratigráficos foram corridas as ferramentas de Resistividade e SP (IEL), Raios Gama (API GR) e Sônico / Porosidade (BCS), com as sondas mostradas na figura 4. Figura 4– Sondas utilizadas nos poços estratigráficos (Piacatu) Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Com a utilização de brocas construídas com tubos e cortadores cônicos, foram recuperadas amostras indeformadas (Figura 5). Figura 5– Amostras indeformadas dos poços estratigráficos (Piacatu) 2.2.2 Poços para medidas de interferência Para determinação do comportamento das unidades hidroestratigráficas que compõem o Sistema Aquífero Bauru, foram perfurados cinco poços piezométricos, ao lado de poços em operação, distribuídos na área em estudo de forma a representarem as diferentes zonas aquíferas explotadas. Os poços piezométricos perfurados para verificação de interferência entre camadas aquíferas estão apresentados na tabela1. Tabela 1 – Localização dos poços para análise de interferência Poço Coord. N/S Coord. E/W Prof. (m) Aquífero Perfurado Aquífero Controlado Marília 7537,45 608,90 60 Adamantina Serra Geral Pompéia 7557,16 583,53 60 Marília Adamantina Herculândia 7566,23 563,08 60 Adamantina Adamantina Adamantina 7603,95 491,95 60 Adamantina Adamantina Panorama 7637,40 410,19 60 Sto Anastácio Caiuá Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Tentou-se manter a menor distância possível entre o poço bombeado e o poço observado. Esta distância nunca foi maior que 30 metros, como verificado na figura 6. Figura 6 – Instalação de piezômetro em Herculândia 2.2.3 Piezômetros para controle da variação do lençol freático Foram utilizados, para definição das variações sazonais dos níveis do aquífero, vários piezômetros localizados principalmente na região de afloramento das formações Marília, Adamantina e Araçatuba. Esses poços estão principalmente no Alto Rio do Peixe, área compreendida entre as nascentes do Rio do Peixe e o ponto de captação de água para abastecimento de Marília, na Bacia do Córrego do Arrependido, que é usado como fonte de abastecimento para o Município de Marília. Foram perfurados 5 poços em Garça e 3 poços em Marília com diâmetro de revestimento de 4 polegadas. Além disso, foram utilizados 19 poços, perfurados a trado pelo convênio DAEE/IPT, com diâmetro de revestimento de 2”, para o controle do lençol freático,. A figura 7 mostra um desses poços na Bacia do Arrependido. Poço bombeado Piezômetro Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 7 – Poço piezométrico na Bacia do Arrependido Foram usados poços abandonados para acompanhamento dos níveis freáticos regionais, sendo 3 em Herculândia, 4 em Pompéia e dois em Marília. 2.2.4 Postos fluviométricos Para a análise dos dados de vazão dos rios ao longo das bacias dos rios Aguapeí e Peixe, foram avaliados dados de nove postos operados pelo DAEE. A tabela 2 apresenta as características dos postos fluviométricos considerados. Tabela 2 – Postos fluviométricos do DAEE nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Município Prefixo Município Latitude Longitude Área controlada (Km2) Andradina 8C-009 Nova Independencia 21°00'12" 51°25'11" 398 [Pequena Bacia (BAG)] Luisiania 7C-002 Fazenda Bom Retiro 21°42'52" 50°17'27" 3670 [Médio Aguapeí (BMP)] Valparaiso 8C-004 Adamantina 21°25'53" 51°00'54" 8643 [Baixo Aguapeí (BBA)] Bastos 7C-015 Granja Ono 21°56'05" 50°39'49" 65 [Pequena Bacia (MPX)] Guaimbe 6C-005 Nova Fatima 21°46'49" 49°48'33" 1092 [Alto Aguapeí (BAA)] Echapora 7D-009 Oscar Bressani 22°16'00" 50°08'52" 1061 [Médio Peixe (BMP)] Marilia 7D-010 Marília 22°18'25" 50°01'38" 734 [Alto Peixe (BAP)] Flora Rica 8C-003 Flora Rica 21°44'38" 51°26'41" 7422 [Baixo Peixe (BBP)] Marília 7D-004 Marília 22°22'22" 50°00'12" 32 [Pequena Bacia (APX)] Para análise da vazão de rios de pequena área de drenagem, foi instalado o sétimo posto, um medidor de vazão tipo vertedouro, no Córrego Arrependido (Figura 8). Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 8 – Vertedouro instalado no Ribeirão do Arrependido 2.2.5 Expedição do Rio do Peixe Foram utilizados dados da expedição de reconhecimento do Rio do Peixe (CETEC, 2007), onde foram feitos levantamentos das condições ambientais do Rio do Peixe e verificadas as rochas que compõem o leito do rio (Figura 9). Figura 9 – Afloramento de siltitos arenosos cinza-esverdeados às margens do Rio do Peixe Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 2.3 Gestão de Recursos Hídricos Segundo Cunha et. al. (1980), principalmente nos países de língua inglesa, desenvolveu-se sistema de gestão em que prevalecia o direito de propriedade da água para aqueles que habitavam as margens dos rios. Nos Estados Unidos, este sistema evoluiu nos estados do Oeste, dada a escassez de recursos hídricos, para a doutrina que concede o direito sobre a água para o primeiro usuário que dela se apropriar, sendo que este direito é privado e pode ser herdado, trocado ou vendido. Em alguns países, como na Austrália, e Chile, são utilizados leilões para alocação de água para casos em que haja maior demanda do que oferta. Estes casos são para usuários particulares que usam a água para usos que não usam de abastecimento público (LEE E JOURAVLEV, 1998). Na França, cujo modelo foi inicialmente a inspiração para os modelos desenvolvidos no Brasil, existem vários domínios: águas particulares, dentro de propriedades e onde os direitos do proprietário são totais; águas comuns, em rios em cujas margens existe população ribeirinha; e águas públicas cujo uso depende de outorga pelo governo (BRASIL, 1997). 2.3.1 – Gestão no Brasil e no Estado de São Paulo A Constituição Federal, quando institui em seu artigo 20, inciso III, que os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais são bens da União e, em seu artigo 26, inciso I, que as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União, incluem-se entre os bens dos Estados e do Distrito Federal, cria uma dicotomia que interfere grandemente na gestão integrada das águas. Com foram estabelecidos dois domínios para a Gestão de Recursos Hídricos no Brasil, houve a necessidade da instalação de instrumentos legais que determinassem a autorização do uso destes recursos hídricos na forma de uma concessão denominada Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos. A outorga é, então, o instrumento que tem como objetivo assegurar o controle pela federação e pelos estados de fatores quantitativos e qualitativos dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Segundo a Lei Federal nº 9.433/97, a outorga, que é um instrumento de comando e controle, está condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos planos de bacias e deve respeitar a classe de uso em que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção das condições adequadas ao transporte aquaviário. Segundo Lanna (2000), a função da outorga será ratear a água disponível entre as demandas existentes ou potenciais, de forma a que os melhores resultados sejam gerados para a sociedade. Existem, graças à dominialidade, sistemas correlatos a cada um destes domínios. No caso dos recursos hídricos de domínio federal, a Agência Nacional de Águas (ANA), com base na Lei nº 9.433, determina os critérios para emissão desta outorga, mas apenas para recursos hídricos superficiais. Com relação aos critérios adotados para emissão de outorga de uso de águas superficiais pelas entidades gestoras nacional, estaduais e do Distrito Federal, Brasil (2005) indica uma grande diversidade de vazões de referência adotadas, bem como percentuais considerados outorgáveis. Para captações superficiais, os critérios adotados para outorga são aprovados por legislação. Os critérios de vazões permissíveis para outorga em alguns estados (BRASIL, 2006) são mostrados na tabela 3. Tabela 03 - Limites para outorga de captação de águas superficiais ENTIDADE OUTORGANTE LIMITES PARA CAPTAÇÃO SUPERFICIAL ANA 70% da Q95 SRH-BA 80% da Q90 SRH-CE 90% da Q90reg SEMARH-GO 70% da Q95 IGAM-MG 30% da Q7,10 AAGISA-PB 90% da Q90reg. SUDERHSA-PR 50% da Q95 SEMAR-PI 80% da Q95 DAEE-SP 50% da Q7,10 A utilização da água pode ser classificada em : uso consuntivo, em que a água captada ou derivada pode ser totalmente consumida, incorporada a um produto ou perder-se na atmosfera e não mais retornar ao corpo hídrico em que foi captada, ou seja, há perdas entre o que é derivado e o que retorna ao curso natural do corpo hídrico; e uso não consuntivo, em que a água é apenas derivada de seu curso natural, podendo ser lançada de volta posteriormente, não havendo efetivamente um consumo deste recurso. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe As águas subterrâneas, por serem de domínio dos Estados, conforme determina a Constituição Federal de 1988, têm a outorga emitida pelos estados. Mas, no geral, não existem critérios consolidados para estas outorgas. A falta desses critérios se deve principalmente ao desconhecimento do comportamento dos aquíferos e principalmente pelo não entendimento das inter-relações águas subterrâneas e águas superficiais. Para Brodie et al. (2007) as interações águas superficiais e subterrâneas são complexas e de difícil entendimento. Para estes autores, as medidas do nível dos aquíferos são usadas para definir o gradiente hidráulico e a direção do fluxo de águas subterrâneas em direção aos rios; já as medidas de vazão ao longo dos rios podem estimar a magnitude dos ganhos e das perdas de água com os aquíferos limítrofes. Podem ser usadas várias técnicas para verificação desta interação, inclusive piezômetros nos leitos dos rios. Liazi et al. (2005) mencionam que dado ao aumento da demanda de água e à forte interferência entre águas subterrâneas e superficiais, este recurso deve ser gerido em conjunto, de forma a permitir sua manutenção. Trabalhos realizados pelo DAEE (1979, 1987) dão conta da impossibilidade da gestão isolada de cada um destes recursos e da necessidade desta análise para o cálculo das disponibilidades hídricas totais numa determinada bacia hidrográfica. 2.3.1 - Sistema de Outorgas no Estado de São Paulo No Estado de São Paulo, a entidade responsável pela emissão de outorgas é o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), criado pela Lei nº 1.350, de 12/12/51. O sistema de outorga foi regulamentado pelo Decreto nº 52.636, de 3/2/71. A Constituição Paulista de 1989 determinou o estabelecimento de uma Política Estadual de Recursos Hídricos que foi implantada pela Lei nº 7.663, de 31/12/91. Tal lei estabelece normas e orientação para a Política Estadual de Recursos Hídricos, bem como para o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. O Decreto Estadual nº 41.258/96 regulamenta os artigos da Lei nº 7.663/91 que tratam da outorga, e as Portarias DAEE nº 717/96 e nº 1/98, que estabelecem normas para outorga e para a fiscalização dos recursos hídricos. São passiveis de outorga no Estado de São Paulo as seguintes atividades: • Implantação de empreendimento que demande a utilização de recursos hídricos superficiais e subterrâneos; • Obras hidráulicas; Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe • Barramentos para: 1-Regularização de vazão, 2-Controle de cheias, 3- Geração de energia, 4- Aquicultura, 5- Outros; • Poços profundos; • Canalizações, retificações e proteção de leito; • Travessias; • Serviços; • Desassoreamento, limpeza de margens e proteção de leito; • Extração de minérios; • Captações e lançamentos de efluentes líquidos para: 1-Saneamento urbano, 2-Industrial, 3-Irrigação, 4-Geração de energia, 5-Rural, 6-Outros Foram emitidas mais de 35.000 outorgas desde 1992, sendo que existe uma estagnação na evolução das emissões desde o início da década, como fica evidente na figura 10. Figura 10 – Evolução das outorgas no Estado de São Paulo 2.3.2 - Procedimentos para emissão de outorgas de águas subterrâneas. Para a obtenção de outorgas para captação de águas subterrâneas no Estado de São Paulo são várias as exigências, tanto de ordem burocrática quanto de ordem técnica. Os detalhes são obtidos no “site” www.daee.sp.gov.br. É exigido um Relatório Final de execução de obras que contemple profundidades e diâmetros de perfuração, em que devem constar testes de bombeamento com especificação de vazão explotada, níveis estático e dinâmico, vazão e rebaixamento específico. Devem ser indicados nesse Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe relatório os aquíferos explotados. Além disto, é exigido um relatório de avaliação de eficiência do uso da água (R.A.E.). Para a definição da potabilidade da água requer-se análise, segundo a portaria 518 do Ministério da Saúde. Poços que não sejam atestados por estas análises como de água potável não recebem outorga de uso. Apenas quando o elemento encontrado na água, que a torna não potável, é proveniente do próprio aquífero, por exemplo, Bário nas águas subterrâneas do Sistema Aquífero Bauru, a outorga poderá ser emitida. O principal motivo que impede a emissão de outorgas em um ponto específico, ou a cassação de outorgas já emitidas para poços, está vinculado a fatores de qualidade de água. Poços com água que não atendam à portaria 518 MS, ou que estejam próximos de áreas contaminadas estão sob estas condições. Existem condições especiais que definem Áreas de Restrição para emissão de outorgas. Por exemplo, por determinação do DAEE, quando em uma Bacia Hidrográfica os volumes outorgados superam 50% do Q 7.10, está bacia é declarada, por decisão do Comitê de Bacias Hidrográficas daquela região, como Bacia Crítica. Para o caso de águas subterrâneas, áreas contaminadas são declaradas áreas de restrição à perfuração de novos poços, como é o caso da região do Jurubatuba, onde foi definida “Área de Restrição e Controle Temporário” da água subterrânea na região do Aquífero Jurubatuba, delimitada pela Portaria DAEE n.º 1594, de 05/10/2005. Também se caracterizam como áreas de restrição à perfuração aqueles locais onde haja uma concentração de poços em uma área restrita. Isto pode levar a uma somatória de rebaixamentos provocados pelas interferências, gerando um extenso e profundo cone de interferência. Consequentemente, a construção de novos poços agravaria a situação, alterando as características hidrogeológicas da região. Foi o que aconteceu em Ribeirão Preto, levando o Comitê de Bacias Hidrográficas do Pardo a emitir uma Deliberação (Deliberação n.º 004/06 do CBH-Pardo de 09/06/2006), definindo critérios técnicos para novas perfurações e áreas de restrição. Não há, no entanto, procedimentos que estabeleçam as interferências entre as águas superficiais e subterrâneas, nem em caso de Bacias Críticas, nem em caso de Áreas de Restrição à perfuração de poços. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 3. CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO 3.1. Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHIs) A Lei nº 9034 de 1994, que estabelece o Plano de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, definiu as Unidades de Gerenciamento dos Recursos Hídricos e inseriu como municípios componentes das unidades apenas aqueles cujas sedes estivessem incluídas na área da UGRHI. No entanto, para o escopo deste trabalho e para efeitos da emissão de outorgas no Estado de São Paulo, a área de abrangência das UGRHIs 20 e 21 coincide com a área de abrangência das bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe. 3.1.1 Bacia Hidrográfica do Rio Aguapeí São 32 os municípios que segundo a Lei nº 9034, de 1994, pertencem à UGRHI 20 (Aguapeí) por terem suas sedes dentro da Bacia do Rio Aguapeí (CETEC, 2008). Vinte têm sede e 100% do território contidos nessa bacia hidrográfica: Álvaro de Carvalho, Arco Íris, Clementina, Gabriel Monteiro, Getulina, Guaimbê, Julio Mesquita, Luiziânia, Monte Castelo, Nova Guataporanga, Nova Independência, Paulicéia, Piacatu, Queiróz, Rinópolis, Salmourão, Santa Mercedes, Santópolis do Aguapeí, São João do Pau D’Alho, Tupi Paulista. Outros 12 municípios têm a sede nessa bacia hidrográfica, mas apenas parte do território contido na mesma: Dracena, com 37,11% do território contido na Bacia do Aguapeí; Garça, com 53,27%; Herculândia, com 67,86%; Iacri, com 86,16%; Lucélia, com 71,14%; Pacaembu, com 70,37%; Panorama, com 36,57%; Parapuã, com 29,18%; Pompéia, com 70,45%; Quintana, com 23,91%; Tupã, com 43,02% ; e Vera Cruz, com 39,45%. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Existem ainda municípios que, apesar de possuírem área contida na bacia hidrográfica e, por consequência, exercerem alguma interferência na área da bacia, não pertencem, segundo a Lei 9034, à UGRHI 20. Os que possuem área rural e urbana contida na Bacia Hidrográfica do Aguapeí estão indicados na tabela 4, bem como as características destas áreas que interferem nos recursos hídricos da Bacia do Rio Aguapeí. Tabela 4 – Municípios com área rural e urbana contidas na Bacia do Aguapeí, mas não inclusos na UGRHI 20 (Fonte – CETEC 2008) Município % Área Contida Interferências na Bacia do Aguapeí Alto Alegre UGRHI (19) 81,37 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Captações e lançamentos de água Mirandópolis UGRHI (19) 39,17 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Vulnerabilidade dos aquíferos / Captações e lançamentos de água Valparaíso UGRHI (19) 47,86 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Captações e lançamento de água A tabela 5 indica os municípios onde apenas parte da área rural pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Aguapeí. 3.1.2 Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe Conforme define a Lei nº 9034 de 1994, a UGRHI 21 (Peixe) é composta por 26 municípios, sendo que 13 possuem 100% de seus territórios inseridos na Bacia do Rio do Peixe: Alfredo Marcondes, Bastos, Borá, Caiabu, Emilianópolis, Flora Rica, Lutécia, Mariápolis, Oscar Bressane, Pracinha, Ribeirão dos Índios, Sagres e Santo Expedito. Outros 13 possuem a sede na bacia hidrográfica, mas apenas parte do território municipal: Adamantina, com 22,00% do território contido na Bacia do Rio do Peixe; Álvares Machado, com 32,66%; Flórida Paulista, com 26,22%; Indiana, com 75,33%; Inúbia Paulista, com 36,58%; Irapuru, com 28,18%; Junqueirópolis, com 32,25%; Marília, com 41,48%; Martinópolis, com 50,02%; Oriente, com 48,66%; Osvaldo Cruz, com 26,76%; Ouro Verde, com 68,63%; e Piquerobi, com mais de 20% (CETEC, 2008). Municípios que possuem área contida na Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe, inclusive parte da área urbana mas que segundo a Lei 9034 não pertencem à UGRHI 21 são: Echaporã, Lupércio, Presidente Bernardes, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Quatá, Rancharia, Regente Feijó, Santo Anastácio. As áreas contidas e as interferências desses municípios sobre a bacia estão descritos na tabela 6. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Tabela 5 – Municípios com área rural contidas na Bacia do Aguapeí, mas não inclusos na UGRHI 20 (Fonte – CETEC 2008) Município % Área Contida Interferências na Bacia do Aguapeí Bento de Abreu UGRHI (19) 75,25 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Vulnerabilidade dos aqüíferos Bilac UGRHI (19) 21,01 Áreas susceptíveis à erosão Braúna UGRHI (19) 72,96 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Vulnerabilidade dos aqüíferos Cafelândia UGRHI (16) 18,30 Áreas susceptíveis à erosão / Vulnerabilidade dos aquíferos Castilho UGRHI (19) 14,13 Vulnerabilidade dos aquíferos Guaiçara UGRHI (16) 11,34 Áreas susceptíveis à erosão Guaraçaí UGRHI (19) 44,56 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana, Vulnerabilidade dos aqüíferos Guarantã UGRHI (16) 48,24 Áreas susceptíveis à erosão Guararapes UGRHI (19) 37,56 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Lançamentos / Vulnerabilidade dos aquíferos Lavínia UGRHI (19) 45,47 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana Lins UGRHI (16) 14,46 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Lançamentos / Vulnerabilidade dos aqüíferos Murutinga Sul UGRHI (19) 7,71 Áreas susceptíveis à erosão Pirajuí UGRHI (16) 28,70 Áreas susceptíveis à erosão / Captações e lançamentos / Vulnerabilidade dos aquíferos Presidente Alves UGRHI (16) 28,78 Áreas susceptíveis à Erosão Promissão UGRHI (19) 20,37 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Vulnerabilidade dos aquíferos Rubiácea UGRHI (19) 61,02 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana / Vulnerabilidade dos aqüíferos Tabela 6 – Municípios com áreas rural e urbana contidas na Bacia do Rio do Peixe, mas não inclusos na UGRHI 21 (Fonte – CETEC 2008) Município % Área Contida Interferências na Bacia do Rio do Peixe Echaporã UGRHI (17) 30,42 Captação e lançamento / Áreas susceptíveis à erosão Lupércio UGRHI (17) 36,73 Captação e lançamento / Áreas susceptíveis à erosão Presidente Bernardes UGRHI (22) 29,92 Áreas susceptíveis à erosão / Lançamento de esgotos Presidente Prudente UGRHI (22) 80,84 Captação e lançamento / Áreas susceptíveis à erosão / Áreas com cana Presidente Venceslau UGRHI (22) 68,53 Captação e lançamento / Vulnerabilidade dos aquíferos Quatá UGRHI (17) 77,09 Captação e lançamento / Áreas susceptíveis à erosão / Áreas com cana / Vulnerabilidade dos aquíferos Rancharia UGRHI (17) 44,01 Áreas ocupadas por cana / Vulnerabilidade dos aquíferos Regente Feijó UGRHI (22) 20,91 Áreas susceptíveis à erosão / Áreas ocupadas por cana Santo Anastácio UGRHI (22) 24,46 Áreas susceptíveis à erosão / Vulnerabilidade dos aquíferos Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Na tabela 7 estão indicados os municípios que possuem parte do território rural inserido na Bacia do Rio do Peixe, e as interferências desses municípios sobre a bacia. Tabela 7 – Municípios com área rural contidas na Bacia do Rio do Peixe, mas não inclusos na UGRHI 21 (Fonte – CETEC 2008) Município % Área Contida Interferências na Bacia do Rio do Peixe Caiuá UGRHI (22) 50,86 Vulnerabilidade dos aquíferos Gália UGRHI (17) 10,75 Áreas susceptíveis à erosão João Ramalho UGRHI (17) 35,74 Captação e lançamento / Vulnerabilidade dos aquíferos Ocauçu UGRHI (17) 28,15 Áreas susceptíveis à erosão Presidente Epitácio UGRHI (22) 27,82 Vulnerabilidade dos aquíferos / Inundação Muitos municípios dessas duas Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos têm área nas bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe, com áreas urbanas no divisor de águas, localizado ao longo da Companhia Paulista de Estrada de Ferro. Ao longo desta ferrovia os municípios exercem forte influência em ambas as bacias hidrográficas, captando águas e/ou lançando efluentes. A tabela 8 indica os municípios que estão nos divisores de águas, em quais unidades de gerenciamento estão inseridos e qual a área do município em cada uma das bacias hidrográficas. Tabela 8 – Municípios no divisor de águas dos Rios Aguapeí e Peixe Município Ugrhi % área no aguapeí % área no peixe Adamantina Peixe 78,00 22,00 Dracena Aguapeí 37,11 62,89 Flórida Paulista Peixe 73,78 26,22 Garça Aguapeí 53,27 46,73 Herculândia Aguapeí 67,86 32,14 Iacri Aguapeí 86,16 13,84 Inúbia Paulista Peixe 63,42 36,58 Irapuru Aguapeí 28,18 71,82 Junqueirópolis Peixe 67,75 32,25 Lucélia Aguapeí 71,14 28,86 Marília Peixe 58,52 41,48 Oriente Peixe 51,34 48,66 Pacaembu Aguapeí 70,37 29,63 Panorama Peixe 63,43 36,57 Parapuã Aguapeí 29,18 70,82 Pompéia Aguapeí 71,45 28,55 Quintana Aguapeí 23,91 76,09 Osvaldo Cruz Peixe 73,24 26,76 Ouro Verde Peixe 31,37 68,63 Tupã Aguapeí 43,02 56,98 Vera Cruz Aguapeí 39,45 60,55 Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 3.1.3 Aspectos sócio-econômicos e uso e ocupação dos solos das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe A ocupação e o crescimento demográfico registrados nas duas bacias hidrográficas são muito semelhantes. Segundo CETEC (2008), a região em estudo é composta por municípios com pequena densidade demográfica, com pequenas taxas de crescimento populacional e tendência, nas últimas décadas, de diminuição da população. Dos 32 municípios da UGRHI do Rio Aguapeí, 21 possuem menos que 10 mil habitantes. Em 8 deles a população está entre 10 e 20 mil habitantes e somente Dracena, Garça e Tupã têm mais que 20 mil habitantes. Tupã é o município com maior população, com 67.704 habitantes. O crescimento populacional na bacia como um todo, no período entre 1980 e 2007, foi de 6,13%, passando de 339.592 habitantes para 361.763 habitantes; sua densidade demográfica é de 33,85 hab/km2, segundo dados do SEADE (2007). O crescimento populacional na UGRHI do Rio do Peixe, no mesmo período considerado, cresceu 27,69%, passando de 328.103 habitantes para 453.749 habitantes. Sua densidade demográfica é de 40,23 hab/km2. Dos 26 municípios que integram a bacia, Flórida Paulista e Junqueirópolis têm população entre 10 mil e 20 mil habitantes; Álvares Machado, Bastos e Martinópolis possuem população entre 20 mil e 30 mil habitantes. Adamantina e Osvaldo Cruz possuem população entre 30 mil e 40 mil habitantes, e Marília é o maior município, com mais de 225.259 habitantes. Todos os outros 18 municípios têm menos de 10 mil habitantes. As atividades econômicas da região dos rios Aguapeí e Peixe estão, conforme CETEC (2008), baseadas na prestação de serviços, na exploração da pecuária extensiva, suinocultura, avicultura e na produção de algodão, amendoim, arroz, cana-de-açúcar, feijão, mamona, mandioca, milho, tomate, abacate, banana, borracha, café, caqui, coco, laranja, limão, maracujá, tangerina, uva, dentre outras. A atividade industrial está concentrada em torno das maiores cidades (Dracena, Garça, Marília e Tupã), destacando-se as indústrias de alimentos, metalúrgica, química e moveleira. Os indicadores sociais expressos pelo Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) enquadram a maioria dos municípios nas Classes 3 e 4, indicando baixos níveis de riqueza e níveis intermediários de longevidade e escolaridade (SEADE, 2007). Com relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) (IBGE, 2000), as bacias são caracterizadas como de médio desenvolvimento humano, com índices que Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe vão de 0,500 a 0,800. A média dos IDHM dos municípios integrantes da UGRHI do Aguapeí foi de 0,762, com o município de Arco Íris recebendo a menor “nota”, 0,708, e o município de Pompéia a maior, 0,816. A UGRHI do Peixe obteve média de 0,769, com os municípios de Sagres e Ouro Verde apresentando o menor índice da bacia, 0,723, e Marília o maior, 0,821. Da população da Bacia do Aguapeí, 83,72% vivem nas cidades, e da Bacia do Peixe, 82,66%, o que reflete um alto índice de urbanização (SEADE, 2007). Essas altas taxas de urbanização são um reflexo do uso do solo agrícola na região, com cerca de 31,54% da área da UGRHI-20 e 32,10% da UGRHI-21 ocupadas por pastagens, segundo dados do Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (LUPA, 2008). As áreas ocupadas por culturas temporárias representam 14,64% e 11,45% das UGRHIs 20 e 21, respectivamente, sendo que a área ocupada por cana corresponde a 20,68 % e 19,69% dessas áreas em cada bacia, indicando a expressiva ocupação dessa cultura e o avanço das usinas de álcool na região. Já as culturas perenes e áreas com reflorestamento por pinus e eucalipto correspondem, respectivamente, a 2,22% e 0,38% da área da Bacia do Rio Aguapeí e 0,87% e 0,36% da área da Bacia do Rio do Peixe. As áreas com cobertura vegetal nativa cobrem pouco mais de 2,59% do território da Bacia do Rio Aguapeí e 2,49% da Bacia do Rio do Peixe. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 4. O MEIO FÍSICO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE 4.1. Geomorfologia Segundo CETEC (1998), as UGRHI 20 e 21 estão inseridas na unidade morfológica do Planalto Ocidental. Este planalto constitui a continuidade física do reverso das Cuestas Basálticas, sendo que o relevo desta província guarda forte obediência à estrutura regional, onde as camadas sub-horizontais, com suave caimento para oeste, constituem uma plataforma nivelada em cotas próximas a 500 metros nos limites orientais, atingindo na foz do Rio do Peixe 247 metros de altitude (Figura 11). A drenagem da região caracteriza-se por ser organizada predominantemente por rios consequentes, com desenvolvimento essencialmente dentro dos limites da província. A rede de drenagem principal é paralela à direção NW-SE e são comuns planícies aluviais de dimensões variadas. O Planalto Ocidental apresenta relevos de colinas e morrotes, com destaque para a região mais acidentada de Marília-Garça-Echaporã, que foi individualizada por Ponçano et al. (1979) como Planalto de Marília, dentro do Planalto Ocidental. 4.2. Geologia O substrato geológico aflorante nas Bacias dos Rios do Peixe e Aguapeí é constituído por rochas vulcânicas e sedimentares da Bacia do Paraná, de idade mesozóica, e por depósitos aluvionares cenozóicos (IPT, 1980). G es tã o in te gr a d a d a s á gu a s da s U ni d ad es E st ra tig rá fic a s d o A qu ífe ro B au ru n a s B a ci a s d os R io s A gu a p eí e P ei xe F ig ur a 11 – M ap a to po gr áf ic o da s B ac ia s H id ro gr áf ic as d os R io s A gu ap eí e P ei xe Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe A Formação Serra Geral (Grupo São Bento) é composta por rochas vulcânicas juro-cretácicas que compreendem um conjunto de derrames de basaltos toleíticos, entre os quais se intercalam arenitos com as mesmas características dos pertencentes à Formação Botucatu. Corpos intrusivos (diques e sills) de mesma composição que os basaltos cortam rochas mais antigas. Nas UGRHI 20 e 21, a Formação Serra Geral ocorre em áreas restritas; na calha do Rio Aguapeí, entre os municípios de Guararapes e Salmourão e entre Piacatu e Rinópolis; na calha do Rio do Peixe, no ponto onde está instalada a PCH Quatiara, ocorre entre os municípios de Parapuã e Rancharia. No final dos eventos deposicionais e vulcânicos generalizados na Bacia do Paraná, ocorreu, segundo IPT (1980), um soerguimento epirogênico em toda a Plataforma Sul-Americana em território brasileiro. A porção norte da Bacia do Paraná, entretanto, comportou-se como área negativa relativamente aos soerguimentos marginais e à zona central da bacia, marcando o início de uma fase de embaciamentos localizados em relação à área da bacia como um todo. Nessa área deprimida, acumulou- se o Grupo Bauru, no Cretáceo Superior, que aparece em grande parte do Estado de São Paulo recobrindo as lavas basálticas do Planalto Ocidental. Recebem a designação de Depósitos Cenozóicos as deposições em terraços suspensos e as deposições recentes de encostas e associados às calhas atuais. Cobrindo os atuais divisores de água e as encostas, ocorrem colúvios com espessuras e composições variáveis ao longo da área. São mais profundos nos relevos mais aplainados, atingindo algumas dezenas de metros nas porções planas com influência do Rio Paraná. 4.3. Pedologia Os tipos de solos das UGRHIs foram indicados por IPT (1987), a partir da compilação do Projeto Radam-Brasil, Folha do Rio de Janeiro, em escala regional 1:250.000. Na área de estudo são encontradas as seguintes associações pedológicas mais expressivas: Latossolo Vermelho Escuro, Podzólico Vermelho Amarelo, Litólico, Planossolo, Glei Pouco Húmico e Areias Quartzosas (CETEC, 1997). O Latossolo Vermelho Escuro compreende solos minerais não hidromórficos com horizonte B latossólico e coloração vermelha escura. A textura varia de argilosa a média, sendo sempre acentuadamente drenados. A textura desses solos apresenta íntima Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe relação com as características granulométricas e mineralógicas do substrato pedogenético. Nesse sentido, quando subordinados a arenitos adquirem textura média, e quando associados a siltitos, argilitos, folhelhos e rochas cristalinas feldspáticas e micáceas, apresentam textura argilosa. O Podzólico Vermelho Amarelo é um solo moderadamente drenado, variando de raso a profundo e textura variando de arenosa média a argilosa e muito argilosa. A relação textural é também muito variável, ocorrendo solos com mudança textural abrupta entre os horizontes A e B, até solos com pequena variação de teor de argila ao longo do perfil. Na região estudada, segundo IPT (1987), ocorrem subordinados a materiais de diversas origens, só não ocorrendo onde predominam rochas básicas ou rochas muito ricas em ferro. Distribuem-se em relevos com encostas declivosas, predominando relevos de colinas médias e morrotes alongados. Em geral, observa-se certa relação entre a profundidade dos perfis, textura e declividade de encostas. Os solos do tipo Litólico são pouco desenvolvidos, com aproximadamente 20 cm a 40 cm de profundidade, sobrepostos a rochas consolidadas, com pouco intemperismo. Os Planossolos são solos com B Textural, em que ocorrem constantes mudanças texturais. A coloração dos horizontes subsuperficiais é variada, predominando cores marrons e acinzentadas. Tais cores refletem a condição da drenagem imperfeita do perfil, decorrente da situação topográfica baixa, com excesso de umidade durante as chuvas. Ocorrem também solos hidromórficos, mal drenados, caracterizados pela intensa redução de ferro durante o seu desenvolvimento, evidenciado por cores naturais ou próximo de neutras na matriz do solo, com ou sem mosqueamento. Restringem-se a planícies aluviais, limitados a áreas de aporte de sedimentos. As Areias Quartzosas são solos arenosos pouco desenvolvidos, constituídos essencialmente por minerais de quartzo, excessivamente drenados, profundos e de baixa fertilidade natural. Sua ocorrência na região estudada limita-se a planícies aluviais, próximas às drenagens atuais (OLIVEIRA, 1999). 4.4. Hidrometeorologia A região do extremo sudoeste do Estado de São Paulo, na qual se localizam as UGRHIs em estudo, encontra-se sob a influência das massas de ar Tropical Continental, seca e quente, e Polar Antártica, fria e úmida, segundo CETEC (1978). Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe O regime pluviométrico e térmico é tropical típico, com um período chuvoso iniciando em outubro e findando em abril, e um período de estiagem de maio a setembro. O período de inverno, quando a atividade da massa de ar polar é mais intensa, é geralmente seco, com quedas de temperatura, variando entre 14ºC e 22ºC nos períodos em que a atuação da massa polar é mais intensa. O verão, geralmente sob influência da massa Tropical Atlântica, é quente e úmido, com chuvas fortes. Os valores de temperatura média oscilam entre 24ºC e 30ºC, observando-se que nas áreas mais elevadas os valores são menores. A pluviosidade média anual varia no Estado de São Paulo, por consequência também nas Bacias Hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe (Figura 12), de leste para oeste. A chuva anual média na UGRHI 20 é da ordem de 1.250 mm/ano (512 m3/s) e na UGRHI 21 1.300 mm/ano (515 m3/s), enquanto para o Estado de São Paulo tem-se uma média de 1.380 mm/ano (10.840 m3/s). As distribuições médias anuais de chuvas ao longo das duas bacias hidrográficas estão mostradas nas figuras 13 e 14. Figura 12 – Distribuição das isoietas anuais nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe (modificado de CETEC, 1998) Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 13 – Chuvas mensais médias na Bacia do Rio Aguapeí Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 14 - Chuvas médias mensais na Bacia do Rio do Peixe Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 5. GRUPO BAURU 5.1. Geologia do Grupo Bauru Segundo Coimbra et al. (1981, apud PAULA E SILVA, 2009), os sedimentos do Grupo Bauru estão distribuídos sobre, aproximadamente, 370.000 km2 do território brasileiro. A espessura máxima preservada desses sedimentos é de 300 metros, sendo a média de espessura em torno de 100 metros. É composto principalmente por arenitos de granulometria variando de fina a grossa, esparsamente conglomerático, pouco argiloso e contendo cimento calcítico, segundo DAEE (1976, apud PAULA E SILVA, 2009), que podem estar intercalados por siltitos, folhelhos e calcários arenosos. Existe ainda, no Estado de São Paulo, segundo Coimbra et al.(1981, apud PAULA E SILVA, 2009), um corpo do rochas analcimíticas, representando atividade de vulcanismo alcalino contemporâneo. A não ser por pequenas áreas de ocorrência de basaltos nos médios cursos dos Rios Aguapeí e Peixe, em toda a área de estudos afloram os sedimentos do Grupo Bauru. Desde Campos (1905, apud IPT, 1981) que o denominou “Grés de Bauru”, e os “delta-like sandstones” ou “Cayuá sandstone” de Baker (1923, apud IPT, 1981) e Washburne (1930, apud IPT, 1981), o Grupo Bauru sofreu várias mudanças em sua hierarquia estratigráfica, principalmente na tentativa de se estabelecer a inter-relação das diversas unidades sedimentares supra basálticas cretáceas. Setzer (1943, apud MEZZALIRA,1981) apresenta a subdivisão da "Formação Bauru" em Bauru Superior e Bauru Inferior, a partir de estudos sobre solos da região noroeste do estado. Almeida e Barbosa (1953), estudando a “Série Bauru” na região das serras de Rio Claro, Itaqueri, Santana, São Carlos e Cuscuzeiro, propôs sua divisão em Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Formação ltaqueri (inferior) e Formação Marília (superior). Freitas (1955, apud PAULA E SILVA, 2003) distingue o membro inferior ou Itaqueri e o membro superior ou Bauru. Em estudos realizados no Pontal do Paranapanema, Mezzalira e Arruda (1965, apud IPT,1981), foram os primeiros a admitir a possibilidade do Arenito Caiuá vir a ser considerado como fácies do Grupo Bauru. Segundo IPT (1981), os mapeamentos geológicos regionais do oeste do estado, realizados a partir de 1975, permitiram uma melhor definição da estratigrafia dos depósitos suprabasálticos. Suguio et al. (1977) subdividiu a "Formação Bauru" em três litofácies distintas. Landim e Soares (1976) utilizaram pela primeira vez a denominação Santo Anastácio, referindo-se a sedimentos encontrados no vale do Rio Santo Anastácio, considerados como pertencentes a uma fácies de transição entre as formações Caiuá e Bauru. Soares et al. (1979) e Stein et al. (1979) redescreveram os “Arenitos Santo Anastácio” e os mapearam por grande extensão da porção oeste do Estado de São Paulo. Soares et al. (1980) e Almeida et al. (1980) propuseram que a designação Grupo Bauru abarcasse as formações Caiuá, Santo Anastácio e Adamantina. Para Suguio (1980), o Grupo Bauru seria constiutido pelas seguintes unidades litoestratigráficas: Formação Caiuá (WASHBURNE 1930), Formação Santo Anastácio (LANDIM E SOARES 1976), Formação Araçatuba (SUGUIO et al. 1977), Formação São José do Rio Preto (SUGUIO et al. 1977), Formação Uberaba (HASUI 1968) e Formação Marília (ALMEIDA E BARBOSA 1953). Almeida et al. (1980, apud IPT,1981).adotou a subdivisão do Grupo Bauru com quatro formações: Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília (com a Formação Itaqueri em sua base) e utilizando a subdivisão da Formação Adamantina em três unidades de mapeamento, quais sejam Litofácies Taciba, Ubirajara e São José do Rio Preto, conforme a figura 15. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 15 – Estratigrafia do Grupo Bauru, segundo Soares et al. (1980) A Formação Araçatuba descrita inicialmente como litofácies Araçatuba por Suguio et al. (1977), foi redefinida por Batezelli et al. (1999), que atribuíram a este pacote rochoso, constituído por siltitos arenosos cinza esverdeados, uma extensão maior que a originalmente definida e a incluíram no Grupo Bauru. Contrapondo-se a teorias anteriores, quanto à gênese do Grupo Bauru, Fernandes (1992) considerou a correlação cronológica das fácies dos sedimentos em questão, tratando-os como formados em ambientes específicos de um mesmo trato de sistemas deposicionais. Esse autor dividiu a unidade Caiuá em formações Goio Erê e Rio Paraná, elevando-a à categoria de Grupo. Fernandes e Coimbra (1994, 2000) estabeleceram, no Estado de São Paulo, o Grupo Caiuá como sendo composto pelas formações Rio Paraná e Santo Anastácio. O Grupo Bauru, para esses mesmos autores, seria formado pelas formações Vale do Rio do Peixe, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Araçatuba e Echaporã, incluindo os analcimitos Taiuva (rochas magmáticas intrusivas na Formação Vale Rio do Peixe) e excluindo a denominação Formação Adamantina. A figura 16 indica as relações Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe estratigráficas estabelecidas para a sequência que compõe a Bacia Bauru de Fernandes (1998). Figura 16 – Estratigrafia da Bacia Bauru, segundo Fernandes (1998) Em análise utilizando dados de poços e perfis geofísicos, Paula e Silva (2003) estabeleceu o arcabouço estratigráfico e hidroestratigráfico do Grupo Bauru. Segundo esse autor a deposição dos sedimentos do Grupo Bauru foi condicionada pelas migrações controladas pela tectônica dos depocentros estabelecidos sobre a Formação Serra Geral. Paula e Silva (2003) e Paula e Silva et al. (2005, 2009) mantiveram a subdivisão proposta para o Grupo Bauru por Soares et al. (1980), com inclusão da Formação Araçatuba, e reconheceram duas novas unidades litoestratigráficas denominadas formações Pirapozinho e Birigui (Figura 17). Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 17 – Unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru no Estado de São Paulo (PAULA E SILVA, 2003) 5.2. Sistema Aquífero Bauru (SAB) O Grupo Bauru, segundo Rebouças (1976), é um sistema hidrogeológico de rochas sedimentares, de comportamento predominante granular livre, sobreposto a rochas cristalinas magmáticas, com interações hidráulicas inexistentes ou muito localizadas. As inter-relações entre o Sistema Aquífero Bauru e os aquíferos subjacentes, no sentido de estabelecer fluxos ascendentes, são mencionadas por Mezzalira (1974), que relata o aumento de vazão de poços que atingem os basaltos, e por Carvalho (1980), que menciona uma comunicação hidráulica entre os sistemas aquíferos Guarani e Bauru, através de fraturas no basalto. Considerando os limites, condições de armazenamento e circulação de água e a abrangência regional, o DAEE (1979) separou as rochas do Sistema Aquífero Bauru em Bauru Médio / Superior, composto pelas unidades geológicas Fácies Marília e Fácies Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Taciba, e Bauru Inferior / Caiuá, composto pelas unidades geológicas Fácies Taciba, Fácies Santo Anastácio e Formação Caiuá. Para a Unidade Aquífero Bauru Médio/Superior, atribuiu valores de permeabilidade aparente variando de 0,1 a 0, 4 m/dia e transmissividade aparente variando de 10 a 50 m2/dia, variando de livre a localmente confinado. Para a Unidade Bauru Inferior/Caiuá atribuiu permeabilidade aparente variando de 1 a 3 m/dia e Transmissividade Aparente variando de 100 a 300 m2/dia. Com relação à geometria, DAEE (1974, 1976 e 1979) refere-se a um controle duplo para o Sistema Bauru / Caiuá. Tanto a topografia de superfície, com adelgaçamento da espessura em vales e espessamento nos interflúvios, quanto o substrato basáltico, com embaciamentos e altos, determinados nesses trabalhos como altos estruturais, condicionam a espessura do sistema aquífero. Interessantes considerações são feitas nesses trabalhos, já denotando as diferenças hidrogeológicas condicionadas não apenas pelas diferenças de espessuras, mas pelas características hidrodinâmicas verificadas pelos pacotes sedimentares em subsuperficie. Mencionam que nas regiões do Médio Vale do Rio Aguapeí, próximo a Queiroz, embora haja diminuição da espessura saturada, as características hidrogeológicas do pacote são favoráveis, com a capacidade específica média para poços superiores a 0,4. Barcha (1980), analisando amostras coletadas de poços perfurados no Sistema Aquífero Bauru, no município de São José do Rio Preto, indicou para a Formação Santo Anastácio valores de porosidade maiores que 25%. De acordo com a classificação de Chilingar et al. (1972, apud BARCHA, 1980) esses valores indicam porosidade muito alta a alta. Foram encontrados também valores de permeabilidade muito variáveis nas amostras analisadas, variando de 100 a 1000 milidarcies, o que é considerado bastante alto. Para Barcha et al. (1981), a variação da produtividade dos poços perfurados no SAB deve-se prioritariamente às variáveis naturais deste aquífero, tais como porosidade, permeabilidade da rocha, teor de cimento, entre outras, e menos a fatores que condicionam o resultado final da obra de captação, como condições técnicas e construtivas. Porcentagens de silte e argila acima de 10% são suficientes para reduzir consideravelmente a permeabilidade das rochas, tornando-as impermeáveis do ponto de vista prático. De modo semelhante, o cimento carbonático exerce influência sobre a permeabilidade, sendo que concentrações acima de 10% podem representar uma eficaz barreira à movimentação da água. Denson, Shindale e Fenn (1968, in CUSTÓDIO E Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe LLAMAS, 1983) ressaltam que um teor de apenas 3% de argila montmorilonítica pode reduzir em 50% a permeabilidade de um arenito. Utilizando dados de testes de bombeamento realizados pelo DAEE entre 1973 e 1982, Iritani (2000) apresentou mapas de isolinhas de capacidade específica e transmissividade para o Grupo Bauru. Os valores de transmissividade obtidos variaram de 1 a 20 m2/dia para as porções mais a leste e, na área de ocorrência dos Arenitos da Formação Cauá, para oeste, foram obtidos valores muito superiores, da ordem de 300 m2/dia Para o DAEE (1990), o Sistema Aquifero Bauru é separado do Aquifero Caiuá, constituído de arenitos finos e mal selecionados na base, e de arenitos argilosos e calcíferos no topo. Caracteriza uma unidade hidrogeológica de extensão regional, contínua, livre a semiconfinada, com espessura média de 100 metros, mas que pode chegar aos 250 metros. Estima-se que venha sendo explotado por cerca de 10 mil poços tubulares, utilizados basicamente para o abastecimento público, em propriedades rurais e pelo setor industrial; na área mais extensa, onde predomina a sedimentação intermediária e de topo, a vazão varia de 3 a 20 m 3 /h e, em áreas mais restritas, onde predomina a sedimentação da base do Grupo Bauru, com espessura da ordem de 100 metros, a vazão atinge valores mais significativos, variando de 20 a 50 m 3 /h. Para esta sequência estima-se que a vazão média geral dos poços é de 8 m 3 /h. Para DAEE (1990), no extremo sudoeste do Estado de São Paulo, o SAB ocorre interdigitado ao Aquífero Caiuá, composto por arenitos finos a médios, bem selecionados, apresentando boa permeabilidade. Sua capacidade de produção é maior que a do SAB e as vazões variam de 20 a 200 m 3/h, com média de 30 m 3/h. A espessura saturada é, em média, de 80 metros. Na elaboração do Mapa de Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo (DAEE, 2005), o estudo da superfície de contato com os basaltos da Formação Serra Geral, espessura saturada, potenciometria e potencialidade, baseou-se nos dados de 1099 poços extraídos de cadastro do DAEE. O mapeamento da superfície de contato com o basalto deveu-se à análise de 827 poços que apresentaram penetração total no Sistema Aquífero Bauru, atingindo a Formação Serra Geral. Segundo esse trabalho, o resultado está em concordância com dados de CAMPOS et al. (2000). As cotas topográficas da base do SAB são de aproximadamente 600 m de altitude nas áreas próximas às Cuestas Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Basálticas, com tendência de diminuição no sentido oeste da área de ocorrência, atingindo até 100 m na região de Presidente Epitácio. Para Paula e Silva (2003), a definição das características hidrodinâmicas do Grupo Bauru devem ser avaliadas a partir do arcabouço litoestratigráfico de subsuperficie. As particularidades litológicas presentes em cada unidade e usadas para determinar a litoestratigrafia governam as propriedades hidráulicas das unidades que compõem o Grupo Bauru. Com isto, o autor admitiu uma correspondência entre unidades litoestratigráficas e hidroestratigráficas e subdividiu o Sistema Aquífero Bauru em unidades hidroestratigráficas regionais, distinguidas em perfis geofísicos de poços tubulares profundos perfurados para captação de água subterrânea no Estado de São Paulo. Assim, subdividiu o Sistema Aquífero Bauru nos aquíferos Marília, Adamantina, Birigui, Santo Anastácio e Caiuá, e aquitardos Araçatuba e Pirapozinho (Figura 18). Figura 18 - Hidroestratigrafia do Aquífero Bauru (PAULA e SILVA, 2003) Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 6. GRUPO BAURU NAS BACIAS DOS RIOS AGUAPEÍ E PEIXE Adotando-se a estratigrafia do Grupo Bauru de Paula e Silva (2003), o Sistema Aquífero Bauru é composto pelos aquíferos Caiuá, Santo Anastácio, Birigui, Adamantina e Marília e pelos aquitardos Pirapozinho e Araçatuba. Considerando-se que a disponibilidade de água está intrinsecamente relacionada à distribuição superficial dessas unidades e às suas espessuras e posições relativas em subsuperfície, o conhecimento da distribuição espacial do conjunto é fundamental. As rochas do Grupo Bauru na área de estudo têm como substrato as rochas basálticas da Formação Serra Geral, segundo informações obtidas por Paula e Silva (2003), a partir da análise de poços perfurados na área (Figura 19). Figura 19 – Profundidade do topo da Formação Serra Geral nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe (modificado de Paula e Silva, 2003) Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe As maiores profundidades do topo do basalto ocorrem na região do Planalto de Marília, enquanto no Vale do Rio Aguapeí, entre o Canal do Inferno (municípios de Salmourão e Guararapes) e o Salto Botelho (municípios de Lucélia e Rubiácea), e no Vale do Rio do Peixe no Salto de Guatiara (municípios de Parapuã e Rancharia), os basaltos afloram. Quando se cruza o mapa ipsométrico com o mapa do topo do basalto da figura 19, tem-se a espessura média do Sistema Aquífero Bauru (Figura 20). Figura 20 - Espessura do Sistema Aquífero Bauru nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe (modificado de Paula e Silva, 2003) Apesar de em superfície ocorrerem apenas as Formações Marília, adamantina, Araçatuba, Santo Anastácio e Caiuá, em subsuperfície ocorrem também as Formações Birigui, no centro norte da área estudada, e a Formação Pirapózinho, no sudoeste da área. Todas estas Unidades foram identificadas na área, através de estudos de Paula e Silva (2003) que analisou perfis geofísicos em poços perfurados no Sistema Aquífero Bauru. A seção apresentada na figura 21 estende-se ao longo do divisor de águas, entre as bacias hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 21 – O Grupo Bauru em sub-superfície nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe (modificado de PAULA E SILVA, 2003) A distribuição espacial e as espessuras das Formações que compõem o Sistema Aquífero Bauru nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe foram obtidas tanto dos levantamentos do SAB em sub superfície (PAULA E SILVA, 2003), quanto dos poços listados no Anexo I. 6.1. Formação Caiuá Depositada diretamente sobre os basaltos da Formação Serra Geral, a Formação Caiuá, definida por Soares et al. (1980), é composta essencialmente de arenitos e representa a base do Grupo Bauru. Apresenta, em afloramentos, notável uniformidade litológica, sendo constituída predominantemente por arenitos de coloração arroxeada, causada por cimentação ferruginosa, com marcante estratificação cruzada de grande porte, tangencial na base, de granulação fina a média, bem selecionados ao longo do mesmo estrato, com grãos arredondados a subarredondados (LANDIM E SOARES, 1976; MELO, STEIN E ALMEIDA, 1982; CAMPOS, BLAKE E ROMANO, 1982; RICCOMINI et al., 1981). Os arenitos apresentam quartzo, feldspatos, calcedônia e opacos, definindo tipos Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe quartzosos, ocasionalmente com caráter subarcoseano (MELO, STEIN E ALMEIDA, 1982 e RICCOMINI et al, 1981). É muito comum ocorrer pequena quantidade de matriz fina, enquanto só ocasionalmente apresenta cimento carbonático ou silicoso. Segundo Landim e Soares (1976), estes arenitos possuem fácil desagregação devido à elevada porosidade e pouco cimento. A espessura máxima conhecida da Formação Caiuá no Estado de São Paulo é de cerca de 200 m no Morro do Diabo, segundo Almeida et al. (1981). Considerando a homogeneidade textural e as estratificações cruzadas de grande porte, Soares et al. (1980) identificaram ambiente de deposição eólico para a Formação Caiuá. Fernandes e Coimbra (1996) também atribuíram à unidade origem eólica, em que as estratificações cruzadas de grande porte indicariam uma provável área de paleodeserto. Em análises de subsuperfície, Paula e Silva (2003) verificou que o pacote de rochas que ocupam as depressões de Presidente Bernardes e Dracena, está limitado na base pelo substrato basáltico e, na porção superior, por uma superfície de descontinuidade denominada S1, que a coloca em contato com a Formação Santo Anastácio, conforme mostrado na figura 21. Da avaliação de perfis geofísicos o autor verificou uma sequência de fácies em padrão fining upward, inferindo dessas evidências uma origem subaquosa, em sistemas fluviais. Esse pacote sedimentar apresenta uma variação faciológica em direção a leste, gradando para sedimentos com termos mais síltico-argilosos que, por não se encaixarem na definição clássica da Formação Caiuá, foram denominados Formação Pirapozinho. A Formação Caiuá ocorre, em superfície, restrita ao extremo sudoeste da área, às margens do Rio Paraná, ao sul da confluência deste rio com o Rio do Peixe e em uma faixa bastante estreita, conforme IPT (1981) e Paula e Silva (2003, 2009). Em subsuperfície, ocorre em todo o sudoeste da Bacia do Rio do Peixe e em seu limite norte coincide com o divisor de águas das Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe. No extremo oeste segue de sul a norte em um eixo com espessura máxima em Nova Independência, segundo Paula e Silva et al. (2009). Sua espessura atinge 40 metros em Panorama. Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe Figura 22 - Ocorrência da Formação Caiuá nas Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe (modificado de Paula e Silva, 2003) 6.2. Formação Pirapozinho Conforme Paula e Silva (2003, 2009), esta unidade é correlata à Formação Caiuá e está limitada na base e no topo pelos mesmos elementos que limitam a Formação Caiuá. Em subsuperfície esta formação estende-se em uma faixa norte-sul, entre Pacaembu e Parapuã, com espessura máxima de 40 metros na altura de Lucélia, conforme mapa de isópacas apresentado por Paula e Silva et al. (2009). A Formação Pirapozinho é constituída por uma sucessão clástica com predomínio das fácies pelíticas sobre as fácies arenosas, de ocorrência restrita à subsuperfície. Trata- se de uma sucessão sedimentar composta preponderantemente por espessos pacotes de siltitos, lamitos arenosos e argilitos, de cores vermelha e castanha e tons acinzentados a esverdeados, em geral carbonáticos. Ocorrem intercalações de camadas lenticulares de arenitos finos, raramente médios a grossos, em parte sílticos, marrom-acastanhados a vermelhos, argilosos, compondo padrões granulométricos do tipo fining upward, indicativos de depósitos de transbordamento de pequenos canais ou de rompimento de diques marginais (PAULA E SILVA et al., 1992, 1994). Gestão integrada das águas das Unidades Estratigráficas do Aquífero Bauru nas Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe 6.3. Formação Santo Anastácio Soares et al. (1979) estendem a área de ocorrência dos termos litológicos englobados sob a denominação de Santo Anastácio por uma grande porção do extremo oeste do estado. A total extensão deste pacote sedimentar está representada no mapa do DAEE (1979). A formação é constituída predominantemente de arenitos de granulação muito fina a média, com pouca matriz (inferior a 15%), grãos arredondados a subangulares, cor marrom-avermelhada, cimentação ferruginosa e localmente carbonática. A seleção dos arenitos é de regular a boa, com pouca variação textural. Predominam estratos maciços com espessuras métricas a decimétricas, com incipiente estratificação plano- paralela ou cruzada de baixo ângulo (5º a 10º), planar tangencial na base (SOARES et al., 1980, ALMEIDA et al., 1980 e FERNANDES E COIMBRA,