RESSALVA Atendendo solicitação do(a) autor(a), o texto completo desta dissertação será disponibilizado somente a partir de 24/02/2020. 0 SÉRGIO HENRIQUE ROCHA BATISTA ANÁLISE DA TEODICEIA NA LITERATURA: Paradise Lost e O Evangelho segundo Jesus Cristo ASSIS 2018 1 SÉRGIO HENRIQUE ROCHA BATISTA ANÁLISE DA TEODICEIA NA LITERATURA: Paradise Lost e O Evangelho segundo Jesus Cristo Tese apresentada à Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, para a obtenção do título de Doutor em Letras (Área de Conhecimento: Literatura e Vida Social) Orientador: Dr. Rubens Pereira dos Santos ASSIS 2018 2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da F.C.L. – Assis – Unesp B333a Batista, Sérgio Henrique Rocha Análise da teodiceia na literatura: Paradise lost e O Evan- gelho segundo Jesus Cristo / Sérgio Henrique Rocha Batista. Assis, 2018. 159 f. Tese de Doutorado – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis Orientador: Dr. Rubens Pereira dos Santos 1 . Literatura comparada - Português e inglês. 2. Literatura comparada - Inglês e português. 3. Teodiceia. 4. Milton, John, 1608-1674. Saramago, José, 1922-2010. I. Título. CDD 809 3 4 AGRADECIMENTOS Um doutorado é um trabalho solitário, só o candidato e a página em branco. Mas nenhum candidato é uma ilha: a despeito de escondermos nossa primeira pessoa ao longo do texto, existimos entre um mar de emoções, projetos, angústias. A ansiedade com o que há de vir nos empurra relutantemente para a frente, e o desapontamento com escolhas seguidas nos ameaça de uma parada completa. No meu caso o período do doutorado foi marcado pelos piores anos da minha vida, e pela lenta batalha para me tornar mais feliz, mais ativo mental, social e fisicamente, mais esperançoso em relação ao futuro, mais forte para enfrentar meus medos. Termino essa etapa com um profundo sentimento de agradecimento dedicado a todos que me cercam. Em primeiro lugar a Deus e a minha família, em especial às diversas mães que eu tive me ensinaram que não é preciso ser perfeito para dar o seu melhor para os outros; me deram vida, alento, afago, proteção. Estiveram e estão sempre presentes, sempre abertas, sempre preocupadas, sempre eu nem sei mais o que dizer. Espero ser digno de seu legado. Agradeço também à Unesp, por permitir que eu pudesse cursar um ensino superior de qualidade sem ter que sair da minha cidade natal, por que na época eu não teria condições de fazê-lo. Espero que ainda haja ensino gratuito de qualidade no futuro. Agradeço à FCL de Assis, seus servidores, sejam técnico-administrativos ou docentes, em especial à Monique e ao restante do pessoal da seção de pós que teve que lidar com as minhas perguntas imbecis. Agradeço ao professor Rubens, meu orientador desde a graduação, um exemplo do poder que há na benevolência. Agradeço nomeadamente também aos professores Altamir e Susana pela presença na banca de defesa, bem como às professoras Cleide e Sandra pela presença na banca de qualificação e defesa. Sua ajuda foi excepcional. Geralmente se agradece aos funcionários da Biblioteca, mas dessa vez é especial, porque eles são meus colegas de trabalho. Esta tese jamais teria sido possível se eu não tivesse a sorte de trabalhar em um lugar onde absolutamente todos, sem faltar ninguém, se dispuseram a me apoiar com meus planos, a me aconselhar, a me acalmar, a trocar de horário comigo, a ler alguma coisa ou dar uma sugestão, a ajudar com bibliografia, a sonhar quando nem eu conseguia que esse dia chegaria. Vocês são os melhores colegas de trabalho que eu poderia desejar. E então vem a parte mais difícil dos agradecimentos, a dos amigos, e basta pensar um pouco nisso para me tocar o quão afortunado eu sou de ter tantos desses que eu teria de usar outra página se eu quisesse só escrever seus nomes, correndo o risco de esquecer de alguém, o que seria imperdoável. Vocês serviram de inspiração para o profissional que eu deveria ser, estiveram comigo em cada momento feliz, estiveram também nos tristes, me ouviram, me fizeram sentir querido e importante, acreditaram em mim até o ponto que eu às vezes acreditava em mim também. Não há palavras para expressar a bênção que é estar cercando de tanta gente incrível, talentosa, carinhosa, de ser alvo de sua positividade. Eu agradeço cada menor sorriso, cada voto, cada olhar. Por favor, continuem comigo que eu ainda tenho muito mundo pela frente. Obrigado. 5 BATISTA, Sérgio Henrique Rocha. Análise da teodiceia na literatura: Paradise Lost e O Evangelho segundo Jesus Cristo. 2018. 159 f. Tese (Doutorado em Letras). – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2018. RESUMO Este trabalho analisa como, através da história, a literatura representou um discurso advindo da teologia. Esse discurso é o da teodiceia, palavra vinda das raízes gregas para “Deus” e “justiça” e que dá nome a um tipo especial de apologia cristã, aquela que busca conciliar a noção da bondade e justiça de um Criador onipotente com a aparente existência de males, sofrimento e desconcerto no mundo. A resposta cristã usualmente gira em torno das linhas estabelecidas pelo apóstolo Paulo e por Santo Agostinho de Hipona, nas quais crê-se que Deus criou um mundo perfeito, sem mácula alguma, mas suas principais criaturas, os anjos e os homens, foram feitos com a possibilidade de desviar-se de seu propósito inicial, já que eram livres; ao pecarem, arrastaram o mundo para um estado de desordem, no qual se encontra até hoje. Neste trabalho serão analisadas duas obras ficcionais narrativas, sendo que a primeira delas, Paradise Lost, do poeta inglês John Milton, buscou transformar essa crença em poema épico, tornando-se um dos mais importantes épicos literários. A segunda obra, mais moderna, é o romance O Evangelho segundo Jesus Cristo, do escritor português José Saramago, escrito numa época em que a crença na possibilidade de uma teodiceia tinha sido severamente desafiada, o que resultou em um romance que subverte a crença tradicional. Do diálogo dessas duas obras este trabalho espera avançar o entendimento da relação entre literatura e religião. Palavras-chave: Literatura Comparada. Literatura Inglesa. Literatura Portuguesa. Teopoética. José Saramago. John Milton. 6 BATISTA, Sérgio Henrique Rocha. Analysis of the theodicy in literature: Paradise Lost and The Gospel According to Jesus Christ. 2018. 159 p. Thesis (Doctor in Languages). São Paulo State University (UNESP), School of Sciences, Humanities and Languages, Assis, 2018. ABSTRACT This thesis aims to analyze how, throughout history, literature represented a discourse that came from theology. This discourse is that of the theodicy, a word that comes from the Greek roots for "God" and "justice" and names a special type of Christian apology, one that seeks to reconcile the notion of the goodness and justice of an omnipotent Creator with the apparent existence of evil, suffering and disorder in the world. The Christian response usually revolves around the lines laid down by the apostle Paul and St. Augustine of Hippo, in which it is believed that God created a perfect world, without any blemish, but its main creatures, angels and men, were made with the possibility of deviating from their initial purpose, since they were free; by sinning, they have dragged the world into a state of disorder in which it remains until this day. Here two fictional narrative works will be analyzed, and the first one, Paradise Lost, by the English poet John Milton, sought to transform this belief into an epic poem, becoming one of the most important literary epics. The second work, a more modern one, is the novel The Gospel According to Jesus Christ by the Portuguese writer José Saramago, written at a time when the belief in the possibility of a theodicy had been severely challenged, resulting in a novel that subverts the traditional belief. From the dialogue of these two works this thesis hopes to advance the understanding of the relationship between literature and religion. KEYWORDS: Comparative Literature. English Literature. Portuguese Literature. Theopoetics. José Saramago. John Milton. 7 Sumário 1. 7 2. A TEODICEIA 11 3. O ZÊNITE: PARADISE LOST 32 4. O NADIR: O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO 90 5. CONCLUSÃO 146 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 153 8 1. INTRODUÇÃO “Had we but World enough and time1”. Esse é o verso inicial do poema “To his coy mistress”, do poeta inglês Andrew Marvell (1621-1678), um poema no qual a voz lírica contrabalança a necessidade de que o tempo perdure contra a dura lei de sua passagem. Erich Auerbach (1892-1957) escolheu esse verso como epígrafe de seu livro Mímesis, no qual ele se propõe à grande tarefa de contar a história da representação da realidade na literatura ocidental, começando com Homero e a Bíblia até o século XX. Tamanha e tão ambiciosa erudição não podia deixar de lamentar que não há tempo para se falar sobre tudo, que escolhas e recortes devem ser feitos; ainda assim, Auerbach, Curtius, Carpeaux entre outros preclaros autores mostram que é possível estudar a literatura de maneira diacrônica, criando obras ricas e que avançam a causa das humanidades. Esta tese que aqui se apresenta partilha da mesma ânsia diacrônica, embora, como talvez seja de se esperar, só pode almejar resultados muito mais modestos. Ela é orientada pelo desejo de comentar sobre um determinado aspecto da experiência humana através da literatura, mas escolhe apenas dois pontos dela para focar sua atenção. Seu autor a completou com a certeza de que o assunto mereceria uma pena muito mais experiente e capaz, mas aqui fez o que suas faculdades e limitações permitiram. O tema a ser tratado é uma forma específica de representação da divindade pela literatura, a divindade enquanto agente moral. Ora, em culturas não letradas os deuses, espíritos e heróis aparecem nas histórias e mitos quase que na condição de pura agência, sem uma descrição adequada de sua vida interior. Isso começa a mudar, na linha do tempo da civilização ocidental, com os mitos gregos, que chegaram até nós não pela narração seca de um etnógrafo, mas graças aos trabalhos de uma comunidade de rapsodos, dramaturgos e poetas as divindades tomam personalidade própria e interioridade. Por volta dessa mesma época, na Judéia, toma forma na literatura que viria a se tornar a Bíblia a personalidade de um novo Deus, o Deus cristão, visto como possuidor de máxima bondade, poder e conhecimento, profundamente interessado nos seres humanos. O cristianismo, a 1 “Se ao menos tivéssemos mundo suficiente e tempo” numa tradução livre. 9 religião desse Deus, entreteceu suas crenças à cultura do oriente médio, da Europa e das Américas de tal forma que se tornaram quase indistinguíveis entre si, e nessas culturas esse Deus se tornou a mais importante personagem sobre quem algo poderia ser dito. Sendo o Deus cristão o sumo imaginável da benevolência, a existência do mal em seu mundo precisa ser explicada de alguma forma. À defesa da justiça divina Leibniz (1646-1716) chamou “teodiceia”, embora seja possível observar que, muito antes do século XVIII, o mito cristão que narra os motivos do Filho de Deus ter encarnado e morrido na cruz, já traz em si uma teodicéia completa, principiada nas cartas do apóstolo Paulo e desenvolvidas por Agostinho de Hipona dentre tantos outros doutores da Igreja. A teodiceia agostiniana não recebeu grandes ataques durante a Idade Média, um período de notório respeito pelos saberes recebidos ancestralmente, mas, a partir do século XV, o desenvolvimento do humanismo, da ciência e de novas tecnologias colocou as verdades tradicionais em todos os aspectos da atividade humana sob ataque, inclusive na religião. Primeiramente a unidade da Igreja Católica foi questionada; depois, os fundamentos da fé cristã até, por fim, a própria fé. Deus e sua bondade tornavam-se cada vez mais dúbios. Antes que esse processo do descrédito da teodiceia agostiniana começasse de maneira mais plena, ela obteve da literatura sua mais eloquente defesa, sob a forma do poema épico Paradise Lost, escrito por John Milton. Depois dele, as principais obras da literatura que tocavam no tema da moralidade divina o fizeram de maneira cada vez mais descolada do mito cristão, chegando, por vezes, a conscientemente se interpor a ele. Isso está em acordo com a mudança do paradigma ideológico da civilização ocidental,no qual o cristianismo aos poucos dá lado, pelo menos dentro da intelectualidade, a formas mais laicas, agnósticas ou francamente atéias de pensamento. O presente trabalho analisa dois momentos da história da representação da teodiceia na literatura. O primeiro deles é o próprio Paradise Lost, obra fundamental da literatura inglesa, escrita por um autor não apenas religioso, mas para quem a religião era o centro do mundo, a única luz capaz de iluminar uma vida de trevas, o dever de todo homem com um mínimo de racionalidade. A obra diz que sua função era justificar os caminhos de Deus perante os homens, o que em si já mostra que a estrutura do edifício da fé andava abalada no século XVII: as diversas seitas 10 paraprotestantes que surgiam, somadas ao avanço da ciência e de sua filosofia, colocaram Milton e sua ideologia religiosa na defensiva. Ainda mais interessante para a discussão da representação da teodiceia é o fato de que em Paradise Lost já estão ativas as sementes da ideologia vindoura, a, por falta de nome melhor, cientificista. Assim, essa obra não só é um dos melhores exemplos de literatura genuinamente cristã como também é o testemunho de uma imensa mudança de paradigma. Dentro da voga dessa mudança de paradigma vieram várias obras literárias que, quando retratavam algum tipo de divindade ou de relação entre ela e o ser humano, elegiam formas muito menos reverentes à tradição cristã. Fausto (publicado em 1808, de Goethe), Vida de Jesus (1863, de Renan), A relíquia (1887, de Eça de Queirós), A última tentação de Cristo (1966, de Kazantzákis) gozam de mais liberdade ao retratar Deus e suas ações para com os humanos. Sendo um corpus extenso, esta tese decidiu restringir-se a apenas uma obra, deixando a análise de outras para momento oportuno. Essa obra é O Evangelho segundo Jesus Cristo2, de José Saramago, escritor que havia já sido objeto da dissertação do autor do presente trabalho. Nela percebe-se que a teodiceia não só é apresentada como impossível, mas também é ativa e programaticamente denunciada. A obra de Saramago, além de sua condição literária e artística, apresenta, assim, também uma face política, que intenta denunciar os males causados pela religião cristã. Esta tese apresenta uma obra literária influenciada pela teodiceia, e outra que conscientemente a nega: por um lado, a eloquente defesa que carregava em si as sementes de sua negação; do outro, essa mesma negação, agora já vindicada pela vitória do discurso científico, reutiliza os mitos cristãos para potencializar sua crítica. Para tanto, divide-se em três capítulos, o primeiro dos quais está destinado à explanação do conceito de teodiceia, bem como dois exemplos de seu uso na origem mais básica de todo o mito cristão, a Bíblia. O segundo, focado em Paradise Lost, apresenta uma pequena contextualização histórica da obra, seguida de uma análise da forma como a bondade de Deus se encontra estabelecida na obra. Por último, comentar-se-á sobre O Evangelho segundo Jesus Cristo e seu realinhamento da história sagrada. 2 Seguindo o hábito da crítica saramaguiana, o título deste romance será abreviado para EJC nesta tese. 147 5. CONCLUSÃO A fim de melhor entender a função da teodiceia dentro da literatura este trabalho propôs-se a examinar mais de perto uma narrativa teodiceica e uma antiteodiceica. Com isso, ganha-se a possibilidade de uma compreensão de um tipo de literatura, que é a ideologicamente motivada. Em seu tratamento do tema, as obras são, entre si, tão diferentes quando a noite do dia. O mito cristão que fundamenta qualquer tentativa de teodiceia agostiniana tenta reconciliar a narrativa do Gênesis e a necessidade de salvação por Cristo. Milton, cuja obra é, em parte, dedicada a adaptar trechos da Bíblia para o gosto estético de sua época, cria um poema épico a partir do imaginário tradicional de como deveria ser as personagens e suas motivações. Ao escrever seu épico ele cria uma ordem: como os eventos da história sagrada se desenrolaram e quais eram as motivações dos seus personagens, quais foram as consequências dessas ações e porque isso importa aos seus contemporâneos. Como essa narrativa diz respeito às origens e natureza do Mal, esta tese a considera uma narrativa ponerológica; por se tratar da posição da divindade em relação ao Mal, de maneira a isentá-la de qualquer culpa, trata-se de uma narrativa teodiceica. No caso específico de Milton, essa defesa da justiça divina é feita através da confirmação da teodiceia agostiniana, na qual as criaturas caídas devem ser culpadas por sua queda, já que agiram de acordo com a liberdade que Deus lhes deu. Em Saramago é possível ver o oposto. EJC trata-se, também, de uma obra que lida com o Mal e qual é sua relação da divindade, embora as conclusões a que tenha chegado sejam radicalmente diferentes. A elencar-se aqui essas diferenças, a primeira e mais notável é o próprio gênero e época em que ambos foram escritos. Paradise Lost é um dos últimos épicos literários da Idade Moderna, escritos para recuperar a tradição clássica; neles, há uma intenção enciclopédica de enfeixar e ordenar o conhecimento humano. Milton, sentindo-se um enviado por Deus, faz, do seu épico, uma forma de labutar na obra divina, um protesto e testemunho da fé cristã que possuía e advogava. Saramago, um ateu, escreve um romance fantástico no qual as mais importantes crenças cristãs são viradas ao avesso, trabalhando sobre suas inescapáveis contradições internas. 148 Paradise Lost narra a origem e a corrupção do Universo, de acordo como são entendidos pelo mito cristão. Nele, Deus glorifica seu Regente perante a corte celeste, incitando o despeito do arcanjo que se tornaria Satanás; este arregimentou um terço das falanges numa tentativa mal sucedida de destronar seu Mestre. Por fim, foram todos expulsos em direção ao Inferno, mas Satanás conseguiu escapar e perverter o primeiro casal humano, mas Deus, antevendo tal queda, preparou o sacrifício vicário de seu Filho para que alguns dentre os homens pudessem ser salvos. Neste épico, a história original encontrada na Bíblia, que não se estende muito sobre tais assuntos, e suplementada por algumas ideias de cunho amplo advindas da tradição cristã, é reformulada de modo a oferecer um todo coeso e coerente. O tom épico marca, para o leitor de sua época, a importância desta narrativa que pretende justificar, para os homens, os caminhos de Deus. EJC começa rememorando que está contando uma história já muito conhecida, a do Evangelho. E então prossegue contando a história do nascimento, ministério e morte de Jesus, de um ponto de vista mais humano, já que está menos preocupado com a ordem cósmica, como era o caso de Milton, e mais com os seres perdidos nessa ordem cósmica. Assume-se as principais crenças cristãs: Deus enviou seu Filho à terra para morrer e fundar uma nova religião; contudo, o romance prefere analisar o que o plano de salvação divino custa para os seres humanos que são seu alvo, e chega à conclusão de que esse plano é maligno, imaginado por um ser mesquinho e sem preocupação com o bem estar das suas criaturas. Em outras palavras, Deus e seus planos são egoístas, e seu mundo não é bom. De todas as versões de Deus disponíveis na Bíblia, desde o trickster de J até a mística Prosopopéia do Amor das cartas joaninas, Milton optou pelo Deus deuteronomista, opção que se observa com frequência entre protestantes. De longe Ele é o mais bem delineado na Bíblia, Aquele sobre Quem mais é dito e o que mais interage com os homens. Dele Milton retirou a ideia de um Imperador Celeste sentado em seu trono, recebendo a constante adoração de incontáveis legiões angélicas, que criou seres livres para que livremente o exaltassem, capazes de cair porque de outra forma não seriam totalmente livres. Cercou Adão e Eva de tudo que havia de bom com um único interdito, para testa-los, e, mesmo sabendo que iriam fraquejar, permitiu que sua queda acontecesse pois seus decretos não mudam; porém, seu plano não foi de todo malogrado porque do que parecia ser uma falha 149 Deus foi capaz de tirar, através do futuro sacrifício de seu Filho, um acerto, garantindo o perdão e santificação de um contingente fiel. Para Milton as ações de Deus são plenamente justificadas já que Seu direito como Excelso Soberano foi ultrajado, tornando necessário que o Homem, verdadeiro culpado, tivesse de sofrer e buscar a Graça divina caso quisesse ser salvo. Em Saramago Deus passa por duas fases de representação, uma naturalista, a outra fantástica. Durante a naturalista, ele é visto como pelos olhos de um ateu, ou seja: uma ficção em que se acredita, uma ausência que não consola, uma ilusão em nome da qual tudo se faz e muito se comete. O sobrenatural existe no romance apenas na vida de Jesus, e, ainda assim, não é Deus mas o Diabo quem o performa. Na segunda fase, iniciada com a teofania do deserto, Deus se torna, finalmente, um personagem, mas ainda assim ele é marcado pela contradição entre a bondade que deseja representar e suas ações, totalmente distantes dela. Longe do Deus deuteronomista, cujas decisões são eternas e não estão sujeitas a mudanças, o Deus de Saramago assemelha-se mais a um vilão de histórias em quadrinhos, criador de um complexo plano que irá dispor das vidas e dores de milhões de pessoas, incluindo seu próprio filho, apenas para conseguir mais poder. Não há, paralelo bíblico algum, já que esse Deus funciona como uma acusação ateia voltada contra a Igreja Católica e suas ameaças teocráticas; o mais semelhante que se poderia pensar é o Yahweh de J, pelo seu caráter de trickster, e o Deus do livro de Jó, pela vaidade dos motivos que fazem com que ele permita o sofrimento, além da relação mais íntima com a figura do Diabo. Em Milton, Satanás é, de longe, sua personagem mais interessante e também a de mais controversa interpretação. Apresentado de maneira múltipla, ele passa de anti-herói shakespeariano a rebelde sedicioso, disso a bajulador e por fim é humilhado sob a forma de uma serpente. Nele se agita a exponenciação dos sentimentos humanos que o classicismo tentou expurgar mas que os românticos abraçaram e tornaram o centro do seu cosmo. É notável que um autor tão religioso tenha desenhado uma personagem que iria seduzir as gerações futuras de tal maneira, se tornando um prenúncio das revoluções dos próximos séculos. Milton, ele mesmo um revolucionário, escrevendo seu épico após um tirano absoluto ter posto os republicanos no exílio ou cadafalso, não parece ter percebido o quanto ele mesmo era análogo ao seu Diabo, criando assim uma ironia que dominaria as 150 discussões de literatura inglesa por anos sem conta. Seu antagonista cumpre tão bem o papel de fomentador da queda humana que na mente de muitos críticos acabou tornando-se algo próximo de um protagonista. Se uma possível subversão dos papéis no drama sagrado são problemáticas em Milton devido a seus interesses no religioso, em Saramago tal subversão é desejada e planejada, ao ponto de se tornar uma verdadeira identificação. Seu Diabo serve o propósito de anjo da anunciação, de pastor que alimenta Maria, de tutor para Jesus e até, por fim, ser revelado como de igual propósito com Deus; ambos estavam trabalhando juntos o tempo todo para executar sua visão para o futuro da humanidade. Tanto em aparência quanto em intenções, a semelhança e cooperação entre Deus e o Diabo está ali, posta em contradição com a visão cristã. Contudo, são as diferenças que formam a mais pungente crítica que Saramago quer tecer ao mito cristão, já que o Diabo se distancia de Deus em dois aspectos: o primeiro dos quais é seu respeito pela individualidade e liberdade de Jesus, já que todos os seus colóquios tentam libertar seu pupilo das amarras da religião, tornando- o mais autônomo. O segundo é sua oferta altruísta de abrir mão do poder que irá conquistar com a fundação da Igreja Católica; assim como o Filho na mitologia cristã mostra seu amor ao desistir de sua existência gloriosa ao lado de Deus para se tornar como os homens, em EJC é o Diabo que escolhe uma vida humilde, se sua abnegação puder salvar as vítimas a serem mortas no altar da vaidade divina. Com isso Saramago reforça, de forma chocante, a ideia de que Deus não é bom e nem se importa pelas suas criaturas, se até mesmo o Diabo pode ter atitudes mais humanas do que ele. A representação dos humanos em ambas as obras está condizente com a ideologia de cada uma. Em Paradise Lost eles ocupam o pináculo da criação, apresentando um porte régio e moderado próprio da criação perfeita que obtiveram por parte de Deus, a quem, mesmo não tendo contato, adoram com coração humilde e venerador. Para seu melhor convívio, encontram-se divididos em dois gêneros, o homem, mais perfeito e racional, responsável pela proteção do casal, e a mulher, um pouco inferior porém exuberantemente bela, criada para tornar a vida do homem mais agradável. Entre eles o sexo não é algo proibido, mas um laço que os une em maior intimidade. Sua desgraça apenas acontece quando a mulher quietamente se rebela contra sua posição inferior ao homem, desejando ser livre, o que a faz vítima 151 fácil das lisonjas de Satanás. Uma vez caída, ela tenta o homem, e Adão cede aos seus pedidos porque colocou o amor que tinha por sua mulher acima do dever que tinha com seu Deus. O castigo dado ao primeiro casal é ser expulso do paraíso e perder sua condição imortal: eles e o mundo de que são mestres conhecerão marcescência e a morte, o trabalho e a agrura, o pecado e a dor. Como pais da humanidade, passarão sua condição decaída para todos os seu descendentes, explicando a obra, com isso, a razão da existência do Mal sobre a terra: a desobediência de Adão e Eva. Em EJC contempla-se a humanidade já decaída, espalhada pela face do planeta, devotada aos seus próprios fins mesquinhos, dividida em facções que oprimem umas às outras; por todo lado imperam a ignorância, a arrogância, o sofrimento e a culpa. Em sua condição miserável clamam constantemente a Deus por auxílio, mas os céus mantêm-se mudos a qualquer tipo de apelo. As mulheres são sistematicamente excluídas, silenciadas, vilipendiadas e consideradas impuras, como se fossem inimigas do homem, um animal bruto para ser dominado, tudo isso em nome da religião. Não parece haver nenhuma condição de superioridade exercida sobre a natureza: antes, a humanidade é constantemente assemelhada a um rebanho de ovelhas, o que diz muito não só da visão mais naturalista do que seja ser humano como também menos presumida. O homem não recebe nenhuma importância ou carinho especial por parte do seu Pastor. A figura do Filho é aquela que faz a interface entre a inacessível divindade e a humílima humanidade. No caso de Paradise Lost o Filho (chamado the Son) é visto ainda quando subsistia em sua forma glorificada, anterior à sua encarnação na pessoa de Jesus Cristo. Embora o autor não fosse trinitariano, o texto deixa a situação ambígua o suficiente para que um cristão calcedoniano o leia sem maiores escândalos, mostrando um caráter um pouco mais universalista da obra não só em seu aspecto literário como também teológico. Nela, o Filho é apresentado como um poderoso chanceler celeste, capaz de, sozinho, derrotar a rebelião de Satanás, que havia bravamente mantido suas fileiras contra as hostes celestes. Contudo, nele não habita apenas a potência tipicamente associada ao divino, mas também o amor: em todo o Céu ele foi o único a prontamente atender o chamado do Pai e aceitar se rebaixar encarnando-se como homem para morrer na cruz e, assim, cumprir os originais planos de Deus. É em sua voz que o épico faz ouvir as palavras mais 152 convincentemente doces, é dele que vem a vitória contra os anjos desviados, é ele quem passa o julgamento sobre Adão e Eva; em suma, o Filho é o braço direito de Deus, o perfeito executor de Sua vontade, e, portanto, digno de toda honra sobre a terra. Jesus em EJC não compartilha dessas características. Não há evidência de vida celeste anterior, ele nasce e cresce como qualquer outro homem, e sua condição de filho de Deus é apenas adjetiva ao seu papel de vítima que seu Pai determinou. Ao longo da obra Jesus é mostrado como um ser humano particularmente sábio e compassivo, um jovem exemplar dentro de sua comunidade religiosa que, paulatinamente, é introduzido ao modelo mental mais próximo daquilo que, nesta tese, é comparada ao discurso da Serpente do Éden: o questionamento das verdades sagradas. Tragicamente, porém, a caminhada de Jesus por esse caminho não é suficiente para salvá-lo da tirania de seu Pai, o decretou que ele perderá a vida em sacrifício. Jesus se torna, assim, o representante de uma humanidade vivendo em um mundo ruim, que, mesmo quando toma consciência de sua condição, ainda assim não pode modificá-la, comovendo por sua incapacidade de agir, de maneira semelhante ao que acontece com outros personagens de Saramago, que também não podem modificar o seu meio, como Baltazar e Blimunda ou Ricardo Reis. Em Paradise Lost acredita-se na dignidade da existência: Deus, o Homem e o Universo são, por princípio, bons, perfeitos e bem ordenados; a relação entre estes três entes, mesmo que hierarquizada, foi planejada pelo primeiro deles para funcionar bem, de maneira que todas as suas partes fossem beneficiadas. Que algumas delas, de sua própria vontade, escolham perverter esse bom estado das coisas, não perverte de modo alguma a perfeição do todo, já que Deus instaurou uma ordem que a liberdade não pode arruinar. Parece haver uma dissonância cognitiva impedindo o narrador de antever problemas de ordem lógica em sua visão de mundo. Mas talvez isso não importa, se apenas for permitido considerar as teodiceias, bem como qualquer outro discurso apologético da teologia, se utilizam de argumentos para convencer a razão, mas seu objetivo final é acalmar a fé. O exato oposto do que EJC parece intentar. Nessa obra Deus, o Homem e o Universo não são bons, nem é pacífica ou ordenada a relação entre eles. Mas também não é má, já que, em nenhuma das obras, o mal é uma realidade em si: na 153 primeira ele é a ausência ou desvio dos planos originais do Criador; nesta, ele aparenta ser parte da natureza dos seres, uma parte que não age em benefício deles. Deus quer poder, e vai atrás dele sem se preocupar se isso causa sofrimento ou dor; isso pode fazer dele um ser mau em relação a outros, mas ele não é O Mal. Mais abaixo, no mundo dos homens, várias relações são mantidas entre cada um deles, por vezes fazendo o mal uns para os outros sem sequer perceber, ou sem se importar muito, já que no jogo da sobrevivência há que se pensar em si próprio antes do bem coletivo. Acompanhar a defesa da teodiceia em literatura permite observar a passagem de uma visão de mundo que sai da ordem em direção à naturalização do caos. Em suma, todas as características dessas duas obras fortalecem sua visão de mundo. Paradise Lost confirma sua posição enquanto obra cristã, mesmo havendo nele uma semente do modelo de pensamento futuro. Já em EJC vê-se esse mesmo modelo já liberto das amarras confessionais, utilizado como uma arma de denúncia dos males da religião. Contudo, como grandes obras de arte que são, ambas ultrapassam sua intenção confessional ou anticonfessional, explorando, através da teodiceia ou da sua negação, o que significa ser humano. 154 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AUERBACH, E. Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2001. AGUILERA, F.G. Prefácio. In: SARAMAGO, J. As palavras de Saramago. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 11-20. ARNAUT, A. P. José Saramago. Lisboa: Edições 70, 2008. BALMES, J. Psicologia e teodicéia. São Paulo: Cultura Moderna, c1950. BARBÉRIS, P. A sociocrítica. In: BERGEZ, D. et al. Métodos críticos para a análise literária. Trad. Olinda Maria Rodrigues Prata; rev .trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 143-182. BASTAZIN, V. Mito e poética na literatura contemporânea: um estudo sobre José Sara- mago. Cotia: Ateliê, 2006. BEIJO, M. O viés ensaístico na ficção de José Saramago. 2012. 163 f. 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